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Autora: Mari McLair

Beta-Reader: Capítulo 1 ao 13: Annie Brissow.


Restantes: Duda Wimmer

Capítulo 01.
O pouco que sobrou.

Londres, Inglaterra, 2005. Thalita’s POV.

Então era assim que uma garota acabada se sentia. Olhava para fora da janela de
casa como quem pedia para ser resgatada. Meus olhos estavam marejados e faziam
companhia ao coração apertado que levava. O violão repousava em meu colo enquanto o
caderno estava ao meu lado junto a uma caneta aberta. Papéis amassados estavam
dispersos no chão. Bufei, desviando a atenção da noite escura que observava para o
telefone que tocava alto. Cruzei os braços protestante, deixando-o tocar até o som
desaparecer. E sorri feliz, limpando as lágrimas que estavam quase transbordando
dos meus olhos.
- Não Cracky, não adianta, eu não vou te soltar. – disse. Cracky era meu pássaro
fazia muitos anos e sempre odiou ficar preso na gaiola. – Da última vez você nos
deu um susto. Não vou soltar.
Cracky, como se entendesse, abaixou a cabeça e voltou até o poleiro.
- Bom garoto.
Mais uma vez o telefone tocou. Mas será possível? Irritada, fui foi até o telefone,
atendendo com a voz mais rude que consegui encontrar.
- Alô.
“Thay?”
- Ela. Quem é?
“Codys”.
- Desculpa, foi engano.
“Não Thay, eu...”
Respirei fundo e desliguei o telefone. Era Cody, meu ex-namorado. Ele havia partido
meu coração em inúmeros pedaços e agora se dizia arrependido. É incrível a
capacidade que uma pessoa tem de, um dia para o outro, conseguir acabar com toda a
felicidade que você jurava ter. É uma grande responsabilidade que o ser humano
carrega e não tem a mínima noção de como lidar.
- Nunca confie nos homens, Cracky. Nem se eles te derem do melhor alpiste, ok? -
ele olhou fixo pra mim.
- Nunca. – repeti. Peguei meu celular e ignorei as 15 ligações perdidas, dando
valor a apenas a uma mensagem que havia recebido fazia alguns minutos, era da Nics.
i>Thay, está tudo bem? Tô preocupada. Bom, me liga, ok?”
Olhei mais uma vez para o caderno com algumas frases escritas, rasguei a folha e
joguei no chão para que juntasse com as outras.
- Lixo! Tudo lixo, não consigo escrever nada que preste, absolutamente nada. Como
vou terminar essa música até quarta? Estou completamente ferrada. – disse sozinha,
em tom de frustração. O telefone tocou novamente. Passei pelos papéis amassados em
direção a ele e o atendi furiosa.
- QUE FOI?
- Thalita? Thay, está tudo bem em casa? – respirei fundo, passando os dedos
trêmulos pelos cabelos.
- Sim mãe, me desculpa. Tive uma briga com Codys e...
- Thay, não preciso repetir, né? Sem garotos enquanto eu estiver fora.
- Sim, eu já entendi.
- Não, você não entendeu...
- Sim, eu já entendi. – disse, rudemente. – Desculpa mãe, é que as coisas estão
meio complicadas e eu fico nervosa.
- Tá tarde... vá dormir. Não se esqueça de trocar a água do Cracky.
Era incrível a capacidade de Louise, minha amável mãe, em não dar a mínima para
qualquer coisa que envolvesse nossa família. Ela tentava, claro, assim como todas
as pessoas que fingem se importar. Nossa família era completamente fragmentada. A
não tão amável, uma eterna adolescente rebelde sem casa, viajando pelo mundo. Seu
marido, mais conhecido como pai, um riquíssimo empresário que não dava valor à
família, apenas às suas posses. Abrira um escritório em outro estado e desde então
suas voltas pra casa eram menos freqüentes; quase nulas. O coitado do meu
irmãozinho, vítima do desentendimento dos nossos pais, Gabe, com 7 anos, não sabia
o que é um natal em família, muito menos o que é frequentar uma escola “normal”.
Era sempre uma escola integral, lotada de atividades e coisas que ele nunca usaria
no futuro. É lógico que eu sentia por isso, mas fazia o que estava ao meu alcance.
Com 17 anos, não há muita coisa que você possa fazer. Até cuido dele quando eu
estou por perto... E ele sabe o que eu acho. Tudo vai melhorar, um dia.
Respirei fundo e desliguei o telefone.
Olhei mais uma vez para os papéis no chão, completamente absorta em meus
pensamentos. Três dias para terminar a música. Três. E nenhuma inspiração. É
lógico... É fácil escrever sobre coisas alegres quando sua vida está em perfeita
ordem. Tenta escrever quando seu namorado dorme com uma das suas melhores amigas.
Correção: ex-melhor amiga. Tenta, vai. Eu te desafio. Como eu, tudo que você vai
conseguir escrever é: você é um filho da puta e quero que você morra. Ela é uma
vadia e quero que ela morra também. E quer saber? Foda-se que “morra” e “também”
não rimam. É o que eu tenho pra escrever hoje. E ah, esqueci de dizer: Prazer, meu
nome é Thalita e eu escrevo algumas letras pra uma banda inglesa. McFly. Talvez
vocês conheçam, estão começando a fazer sucesso pela Inglaterra. Talvez conheçam
meu ex-namorado também. Codys faz parte da banda. E foi ele que, literalmente,
fodeu com a minha vida ao foder a minha melhor amiga. Bom, acho melhor eu contar a
história do começo. Era uma linda sexta-feira. Calma. Era para ser uma linda sexta-
feira, há duas semanas atrás...

- Não, não e não. Codys, eu já te disse mil vezes, não gosto desse tipo de coisa,
poxa. A gente fica chapado, ninguém lembra do que fez no dia seguinte e depois é só
problema. – eu dizia enquanto fitava os olhos do meu namorado. Estávamos na rede da
casa dele discutindo sobre uma rave que aconteceria no dia seguinte. Eu já tinha
ido a algumas e a minha opinião se mantinha: fu-ra-da. Muita droga, muito álcool e
muita gente problemática em um lugar só. E estando ali, bom, você já está na merda,
então cai de cabeça.
- Mas Thay, olha, todo mundo vai. Eu sei que você não gosta, mas eu não quero ir
sem você, além do mais não seria certo. – revirei os olhos quando o ouvi tentando
me comprar com aquela chantagem emocional. – A gente não precisa ficar até o fim.
Pô, suas amigas vão, meus amigos vão... – bufei e levantei da rede.
- Por que você faz tanta questão de ir? Será possível que nem ao menos uma vez você
consegue fazer o que eu te peço? É tão difícil assim, Cody? – cruzei meus braços
enquanto o encarava, irritada.
- Não, não é. – ele disse, por fim. – Mas dude...
- Olha dude - eu disse, irritada. - Quer saber? Vai. Eu não vou.
- Eu não quero ir sem você.
- Mas eu não vou e também não vou te proibir de ir. Vai e me liga quando chegar em
casa. Só quero saber se chegou bem. Se você tiver bem, eu tento mudar minha visão
sobre essas festas. – dei um beijo na testa dele.
- Tudo bem, mas não importa muito, está tudo bem pra mim se continuar não gostando.
– revirei os olhos e fui até a sala de estar de sua casa. – É brincadeira, Thalita!
Merda! – pude ouvir seus gritos ao longe. Afastei a porta da sala que estava
encostada. Lá estavam três garotos jogados no sofá jogando videogame. Dividiam uma
casa em Londres. Uniam o útil ao agradável. Eles eram melhores amigos e precisavam
estar juntos a maior parte do tempo devido a banda, que necessitava de atenção
total. Era muito mais fácil terem controle de tudo quando estavam todos juntos. E
bom, os pais molengas (e ricos) deles aceitaram facilmente a ideia. Bando de
frouxos. Dei uma risadinha abafada da cena.
- Podem avisar que eu estou saindo, meninos? – ninguém me respondeu, é claro. Era
necessário que avisassem, porque precisaria passar por muitos portões para ir
embora. A segurança não perdoava. Pigarreei.
- Pede pro Codys. – Wills me respondeu, sem nem ao menos tirar os olhos da tela da
televisão enorme que estava pendurada na parede.
- Brigamos. Preciso que algum de vocês faça isso por ele.
- Mas estamos todos ocupados. – respirei fundo buscando por paciência. Fiquei mais
alguns minutos plantada ao lado da televisão esperando qualquer movimento da parte
deles. Em vão, até que chegou o momento do meu limite. Abri a porta e bati com
força para que eles prestassem atenção em mim.
- DA PRA ALGUM DE VOCÊS AVISAREM A MERDA DA PORTARIA QUE EU ESTOU SAINDO? – berrei
sem dó. Jones pausou o jogo e todos me fitaram assustados.
- Eu vou. – Harry disse, simplesmente.
- Obrigada. – sorri tentando ser gentil e compensar o fato de ter sido rude. Peguei
minha bolsa que estava em cima de uma mesinha de centro e me despedi. – Tchau, vejo
vocês daqui dois dias.

Entrei no meu carro e liguei o som, estava com um CD do McFly e já começou a tocar.
“Room on the third floor, not what we asked for…” Room on the 3rd Floor. Primeiro
álbum da banda e eu tinha uma das primeiras cópias do CD. Nós estudávamos juntos
desde que eu me conheço por gente e bom, a banda acabou sendo formada devido a uma
aposta entre Harry e Codys. Eu entrei de bicão, porque as letras deles nem sempre
eram boas. Quando eu não escrevia, normalmente era Codys e Wills que compunham. Às
vezes juntava a banda toda e alguma coisa saía... Enfim, era meio bagunçado, mas no
fim tudo dava certo. Harry era meu melhor amigo desde sempre, nossas mães se
conheciam e a gente meio que era obrigado a se engolir, não que fosse um grande
esforço.
- Rave. – murmurei sozinha dentro do carro, ao passar pela portaria. - É
simplesmente um absurdo. Cadê o responsável por esses meninos? Eles estão ficando
famosos, porra. Não podem sair fazendo esse tipo de coisa.

A casa deles era um pouco isolada da cidade. Demorei pra chegar até a minha - não
que alguém lá esperasse por mim. Primeiro que todos tinham ido viajar e segundo
que, mesmo se estivessem lá, não dariam a mínima.
Estacionei na rua, sem muita vontade de entrar na garagem, e abri a porta de casa.
Estava uma zona. Cracky piava muito alto e eu, que havia chegado há 5 minutos, já
estava perturbada.
- Quer ficar quieto? – fui até a gaiola e fiz carinho em sua cabecinha. – Eu sei
que não estou te dando muita atenção, me desculpa. – o pássaro piou em resposta e
se acalmou. Troquei sua comida, água e limpei a gaiola. – Pronto, criança. Está
tudo bem agora.
Peguei meu celular da bolsa e mandei uma mensagem pra Nics. Em poucos instantes
obtive uma resposta.
“Daqui 10 minutos no ED, estou na área de massagem. XOXO, Nics.”
Bufei e tirei da bolsa um maço de cigarros. Peguei um e acendi, dando uma longa
tragada.
- Senti sua falta, amigo. – disse. Não era muito de fumar, mas às vezes
simplesmente me dava vontade. Peguei meus óculos escuros em cima da mesa e um
chapéu, fui até meu quarto buscar um cachecol (o frio londrino é terrível) e abri a
porta de casa. Atravessei um pequeno caminho que tinha até a rua. Respirei fundo e
dei passos largos para chegar mais rápido até meu carro, pois uma fina chuva caía.
O caminho até o clube foi tranquilo. Um pouco de trânsito, mas pra quem estava com
a cabeça em outro lugar foi razoavelmente bom ter esse tempo pra pensar. Eu o d i a
v a brigar com o Codys e ultimamente era o que mais fazíamos. Tudo era motivo de
briga. No geral, sou uma pessoa calma, entendam. Já ele é: teimoso, irritante,
petulante e irresponsável. Aliás, todos eles são. Pisquei forte por alguns segundos
para que esses pensamentos fossem para um lugar da minha cabeça que eu não pudesse
acessar e estacionei o carro pela quarta vez do dia. Peguei minhas coisas e fui em
direção ao Elemis Day, o mais famoso SPA de Londres.
- Boa tarde senhorita, em que posso ajudá-la? – uma mulher que aparentava ter seus
20 e poucos anos perguntou. Ela usava um coque alto e seus olhos azuis eram
brilhantes. Por um momento senti inveja deles.
- Estou procurando uma amiga, ela está fazendo massagem e provavelmente marcou um
horário pra mim também. – sorri.
- Senhorita Bernardi? – afirmei com a cabeça. – Acompanhe aquela moça, ela te
levará até a sua amiga.
- Obrigada. – agradeci. Costumávamos vir para o Elemis, mas não para fazer massagem
e derivados. Apenas ficávamos na jacuzzi falando besteira, bebendo champagne e
fingindo que éramos socialites ricas e famosas. Toscas, eu sei.
- Querida, cheguei. – disse, vendo Nics de bruços recebendo massagem de uma mulher
asiática.
- Finalmente, Thalita. Estava quase desistindo de te esperar. – pude ouvir sua voz
meio abafada pelo fato de estar com o rosto virado para o lado na mesa. – Deita aí
e vamos conversar. Olhei para a mesa e depois para minha amiga.
- Certo. – fui até o banheiro me trocar e voltei com um roupão. Deitei e fiquei a
espera da massagista.
- Me diz Thay, você vai à rave hoje, certo? – pronto. Começou o assunto dessa
maldita rave.
- Não estou muito afim, Chubby. - respondi, já recebendo a massagem – que massagem
– de um homem com mãos abençoadas.
- Como assim, não está afim? – ela parecia ofendida. – Combinamos isso por um bom
tempo e...
- Não. – a interrompi. – Você combinou isso com a Joanna, não comigo.
Joanna era uma das nossas melhores amigas. Ela era bem diferente de nós, diferente
entende-se por uma versão exagerada de nós. Com a Jojo era tudo 8 ou 80. Ou ela
estava muito chata, ou muito chapada, muito feliz. No geral era suportável, mas
quando ela implicava com alguém ou com alguma coisa... Nem ficávamos perto.
- Ô amiga, não precisa ter ciúmes da Jojo. Você é a melhor de todas, sabe disso.
- Não é ciúmes Nicole, não pira. Eu só não quero ir e, sinceramente, não acho
responsável da parte de vocês motivarem os meninos a irem. – disse, virando meu
rosto para poder olhar pra ela. – Eles são uns tontos e vocês contribuem com a
insanidade deles.
- Thay, eles precisam se divertir! – ela exclamou. Virei os olhos.
- Há muitos conceitos para diversão. Eu acho essa festa uma puta de uma má ideia.
- Prometo que vai dar tudo certo, ok? A gente vai até espalhar seguranças, eles
ficarão bem. Você confia em mim? – hesitei por alguns instantes, mas acabei dizendo
aquilo e que de maneira alguma deveria ter dito.
- Confio. Mas não é só isso que me preocu... – ela me interrompeu.
- Certo. – levantou e apertou o roupão que vestia. – Eu terminei a massagem.
Preciso escolher minha roupa e resolver algumas coisas pra festa. Tenho que ir,
você ficará bem?
- Sim. – sorri forçado. – Eu ficarei bem. – sussurrei, de modo que só eu pude
ouvir.
Essa situação toda era ridícula. Vesti meu roupão e dispensei o resto da massagem,
indo direto pra casa. Então fui direto pro meu quarto. Odiava aquele sentimento
ruim que ficava preso na garganta, querendo pular fora. Suspirei e fui tomar um
banho. Olhei rapidamente pro visor do meu celular e tinha um alerta de mensagem.
Deixei pra ler depois. Durante o banho aceitei o fato de que aquele sentimento ruim
poderia ser apenas uma nóia da minha cabeça. Fechei a torneira, me enrolei na
toalha e fui até a gaiola de Cracky.
- Oi meu amorzinho. – ele piou em resposta, sorri. – Essa casa está tão silenciosa
sem o Gabe, não é? Eu sei. – Sentei no sofá e passei as mãos pelos meus cabelos
presos. Sentia falta daquele pestinha. Enrolei na televisão um pouco e quando já
estava completamente saturada de programas sem noção, fui para o meu quarto e vesti
minha camiseta dos Beatles, ficando de calcinha. Deitei na cama, enfim pegando meu
celular para ler a mensagem. Era de Codys. “Me desculpa. Não quero mais brigar. Só
vou ficar um pouco na festa, assim que eu chegar te ligo. Eu amo você, minha linda.
Dorme bem.”
Vi o horário de envio: 22:32. Já era quase meia noite, ele já devia ter ido.
Repousei o celular no meu criado-mudo e deitei. Depois de muito tempo sonhando de
olhos abertos, os fechei e dormi. Ouvia meu celular apitando bem de longe, mas isso
não fazia meus olhos se abrirem e minha vontade de fazer isso acontecer era nula.
Era quase onze horas quando eu acordei com a Joanna sentada nos pés da minha cama.
Tomei um susto.
- Jo? - disse, com a voz meio fraca. – O que você está fazendo aqui, como entrou
aqui mulher? – ela estava com a roupa de ontem. Seu cabelo estava bagunçado e sua
boca roxa. Assustei. – Tá tudo bem?
- Thalita, eu... eu não sei o que te dizer. – franzi o cenho e sentei na cama para
olhar pra ela direito. Estava realmente acabada. – Eu vim direto da casa da Trudy
pra cá, eu não sei o que aconteceu Thay...
- Eu não estou entendendo nada. Na casa da Trudy? Vocês não iam para aquela rave no
campo, sei lá aonde? Alguém te machucou? – ela balançou a cabeça em negação. Aquela
garota estava me deixando cada vez mais confusa. – Joanna, como você entrou na
minha casa?
- O Codys me emprestou a chave. – disse, chorosa.
- Por que o Codys te daria a chave da minha casa? Isso não faz o menor sentido! Não
tem como esperar até eu acordar, Jojo? Eu realmente... – e foi aí que ela me
interrompeu.
- EU DORMI COM ELE!
- Ahn? – não tinha entendido.
- Eu dormi com o Codys, Thalita. – ela chorava. O que aquela maluca estava dizendo?
Meu namorado não faria uma coisa dessas, ele não teria coragem. – Eu sinto muito,
muito mesmo. Então ela saiu correndo e eu pude ouvir o barulho da porta batendo
atrás de si. Eu não sabia o que pensar a respeito da informação que acabara de
receber. Aquilo era uma piada de mau gosto, só podia ser. Peguei meu celular, ainda
descrente. 20 mensagens de texto. Arregalei os olhos e abri a primeira.
“Thay, precisamos conversar.” Era da Joanna.
A segunda.
“Eu vi tudo. Não se desespera, já conversei com o Codys...” Harry.
Terceira.
“To bebadi, precxiso de vcx...” Codys.
Desisti de ler. Joguei o celular longe e enterrei meu rosto no travesseiro. Eu
havia sido traída. Pelo meu namorado e por uma das minhas melhores amigas.

Agora que todos já conhecem a minha linda história de amor, posso voltar de onde
parei.

Respirei fundo e olhei para o bloco de folhas que estava novamente no meu colo.
Relembrar da cena e dos sentimentos que tomaram conta de mim naquela noite, de uma
maneira completamente distorcida, me inspirou. Comecei a escrever:

One by one / Dreams are gone / Do I have to stay? / Hate the sound of one more
pound / As it rolls away / Why did I need your proof/ When I knew the truth?
(Um por um / Sonhos se vão / Eu tenho que ficar? / Odeio o som, de mais uma libra /
Enquanto ela vai embora / Porque precisei que você provasse / Quando eu sabia a
verdade?)

Senti algumas lágrimas caindo e as enxuguei rapidamente, não podendo perder a


inspiração, continuei escrevendo.

And I don't know why / I just let slip by / Me all the time / I just wish you had
tried. / I don't want to know your game / Let alone her name / No matter what you
say to me / We are not the same / Why do you make me cry / And try to justify? /
Don't right your wrong with my mistakes/ Cause my head's held high.
(Eu não sei por quê / Eu deixei passar despercebido / O tempo todo / Eu só queria
que você tivesse tentado. / Eu não quero conhecer o seu jogo / Deixe ela fora disso
/ Não importa o que você diga pra mim / Não somos iguais / Porque você me faz
chorar / E tenta justificar? / Não acerte seus errados com os meus erros / Porque
minha cabeça está erguida.)

Fechei o caderno com força e desabei a chorar. Traição pra mim não fazia sentido
algum. Aliás, era incrível como uma mulher tem realmente o sexto sentido. Ela sabe
quando alguma coisa ruim tá pra acontecer. Mais uma vez enxuguei as lágrimas com as
costas da mão, abri o caderno e finalizei a letra. Recorde. Terminei em menos de
meia hora. Fui até meu notebook e digitei para enfim imprimir. Em seguida abri uma
gaveta onde estavam uns envelopes e guardei o papel lá dentro. O fechei e escrevi
em letras de forma grandes: Don’t Know Why. (Não sei por quê). Era o nome da
música. Sorri, por fim satisfeita. Afinal, ao menos meu trabalho estava em perfeita
ordem, ao contrário da minha vida amorosa (e do meu emocional).

Capítulo 02.
Assim será.

Eu estava decidia de três coisas: A primeira era que eu não podia deixar de jeito
algum Codys destruir a minha carreira como compositora e, muito menos, a minha
felicidade; A segunda era que eu deveria escolher melhor meus amigos; A terceira
era que eu ia levantar da cama e não iria mais chorar. E bom, eu não chorei.
Coloquei um casaco e saí de casa a pé, ignorando dois paparazzi. Eles mal eram
famosos e já tinham paparazzi os perseguindo? Me perseguindo?
- É verdade que seu namoro com Codys acabou, Thalita? – ele perguntava com aqueles
gravadores irritantes apontados no meu rosto. Fingi que não ouvi, é claro.
- Não a vi saindo com os McFly nas últimas semanas, aconteceu alguma coisa? –
bufei. Seu amigo acabou de responder essa pergunta, idiota.
- Ela terminou com o McGuy, Mark. Deixa de ser burro. – ele respondeu. Obrigada,
quem quer que você seja. Tanta coisa acontecendo no mundo e esses caras me amolando
pra saber por que eu não saí com o McFly. Legal. Cheguei à casa da Nics depois de
alguns minutos, pois era bem perto da minha. A porta se abriu na hora que eu toquei
a campainha e nesse instante dei passos largos para entrar. Nicole veio correndo em
minha direção e me deu um abraço.
- Thay! Como você está? Me desculpa, amiga. Eu ando tão sem tempo. Esses testes
estão me deixando louca. Agora está mais calmo, mas com o fim do ano e agora o
último ano pra começar, me inscrevi para o cursinho à noite e bom, já faz duas
semanas que... – ela me apertava e o ar em meus pulmões já estava escasso.
- Nics, está tudo bem. – respondi a procura de oxigênio. – Pode me soltar um pouco,
por favor? Está me sufocando.
- Oh, me desculpe. – sorri. Essa era minha melhor amiga. Atrapalhada.
- Tudo bem. Bom... Eu estou ótima.
- Mesmo? – ela perguntou meio em dúvida, me fitando com aqueles olhos enormes ainda
maiores pelo delineador preto.
- Mesmo. Eu só queria te perguntar uma coisa...
- Diga.
- Bom, é que até agora eu não entendi onde o resto da galera estava que não impediu
essa atrocidade. – dei de ombros, sorrindo falso. – Era pra vocês estarem por
perto, certo?
- É... Eu estava com o Wills. – arregalei os olhos e senti minha boca se abrindo. –
Que foi? Você já sabia vai.
É. Eu realmente sabia, mas agora que eu havia terminado com o meu namorado, era
meio estranho que outras pessoas namorassem.
- Aham. – resmunguei. – E vocês estão... – arrisquei a pergunta.
- Namorando?
- É.
- Não amiga, ainda não, calma. É tudo muito novo.
Tudo muito novo. Ela tinha razão. De repente tudo era novo de um jeito não muito
bom.
- E ah, o que estavam fazendo na casa da Trudy? Isso foi uma coisa que eu não
entendi. – ela suspirou.
- A gente foi pra lá fazer um esquenta pra rave. – revirei os olhos.
- Esquenta pra rave Nicole? Que tipo de idéia foi essa? Faz-se esquenta pra ir à
balada, onde a bebida é cara e você não tem dinheiro pra pagar, pra isso se faz
esquenta. Não pra uma rave onde é open bar e você paga 10 libras pra entrar. –
respirei. Tinha falado tudo muito rápido.
- Foi idéia da Trudy. – ela respondeu, simplesmente.
- Que seja. Não quero mais saber de nada relacionado a isso, pode ser? É o fim
desse assunto pra mim e espero que pra toda a galera. Teremos que conviver como
seres civilizados, sem brigas e sem alfinetadas. Pelo menos é isso que farei. – ela
sorriu.
- Você me mata de orgulho sabia? – soltei uma risada fraca. – É por isso que você
não vai brigar comigo quando eu disser que está todo mundo lá fora. – fiquei em
choque e ela percebeu. - Calma, não surta, somos amigas.
- Nics?
- Sim? – ela cerrou os olhos com medo da minha reação.
- EU VOU TE MATAR, CORRE. – sai correndo atrás dela e rindo. Quando eu quase a
alcancei, ela se escondeu atrás de uma cadeira. Parei antes que batesse e virei meu
rosto para trás. Lá estavam todos. Joanna, Julie, Harry, Codys, Jones e Wills.
Sorri forçado e fui em direção a eles.
- Oi, Thay. – o Harry disse e me abraçou forte. Senti saudade desse abraço. – Como
você está? Anda sumida, menina. – me recusei a soltar aquele abraço delicioso que
recebia. Harry era, sem dúvida, meu melhor amigo.
- Precisava por as ideias no lugar, você sabe. Agora estou bem. – sorri e olhei em
seus olhos. Ele passou o polegar em minha bochecha e eu fechei os olhos sentindo
seu toque. Era bom estar em “casa”. Foi a vez de Jones e Wills me abraçarem de uma
vez só, fazendo um sanduíche de mim.
- Sentimos sua falta – disseram em uníssono, me fazendo rir.
- Meu Deus! Como eu senti a falta de vocês também, duas semanas fazem muita
diferença.
- Só isso? Pareceu um mês, Thay. – Wills disse sorridente. Sorri de volta e desviei
meu olhar para a única pessoa daquele grupo que não havia se levantado. Ele estava
olhando em minha direção e nossos olhares se cruzaram. Rapidamente olhou para
baixo, quebrando aquele momento desconfortável. Codys estava sentado na mesa onde
antes o resto dos meninos estava. E estava lindo. Meus olhos urgentes a procura de
Jojo relaxaram quando a encontrei. Ela estava conversando com a Julie, sozinha em
uma mesa na frente da churrasqueira. Pude ver que chorava, mas não dei à mínima.
- É. - respondi, por fim. - Parece que foi mais. Ah! Quase que me esqueço. – abri
minha bolsa e tirei de dentro um envelope. – Está aqui, a música. - eles pareceram
surpresos.
- Thay, não precisava. Digo, poderia demorar um pouco mais, a gente está sem pressa
e...
- Harry, relaxa. Eu não vou parar de compor pra vocês. Jamais. Só espero que gostem
dessa letra, está bem, digamos... – procurei pela palavra certa. – Profunda.
- A gente vai adorar, como sempre. Acho até que dessa vez você poderia nos ajudar
com a melodia. – sorri com vontade.
- Sério? Eu iria adorar! – pulei em seu pescoço e ouvi alguém bufando. Voltei para
o chão e notei que era Codys.
- Oi. – disse, sem mais nenhuma palavra. - Thalita, a gente precisa conversar. Você
não pode ficar me evitando pro resto da sua vida e...
- Codys? – o interrompi.
- Eu.
- Vai se ferrar. – fui em direção aos meus amigos que tinham saído de fininho e
sentei-me à mesa. – E aí galera, qual é a nova? – Codys me seguiu, mas sentou do
outro lado, ao lado de Julie, que estava ao lado da Joanna, a fofa.
- Bom, a parada é a seguinte: nós temos uma novidade. – Jones respondeu, parecendo
um pouco mais animado do que o normal.
- Uma grande novidade. – foi a vez de Harry dizer. – Na verdade é uma novidade que
acompanha um pedido.
- Um convite. – Wills corrigiu.
- Nós vamos sair em turnê daqui duas semanas. – Codys permanecia quieto, apenas
sorrindo e observando a empolgação dos amigos, não deixando de me observar pelo
canto dos olhos.
- Isso é sensacional! A primeira de vocês! Vocês devem estar se sentindo
extremamente... – Nics dizia, empolgada até ser interrompida.
- O máximo? – Jones perguntou, fazendo todos rirem.
- Ok, essa é a novidade sensacional, agora o convite. – eu e as meninas esperávamos
compenetradas pelo tal convite. – Bom, Thay já é obvio que estaria convidada para
ir conosco. – soltei uma risadinha abafada. Era óbvio mesmo. Ai deles se me
tirassem dessa. – Mas o convite é basicamente para todas as outras meninas. – Harry
dizia, sem deixar de sorrir. – Vocês estão mais do que convidadas para ir com a
gente. Vai ser demais.
- Nossa primeira turnê. – disse Wills e todos sorriam. Seria um momento ainda mais
mágico se Codys não estivesse com aquela cara de quem comeu e não gostou, a Joanna
não estivesse me encarando com aqueles olhos de cachorrinho sem dono e eu não
estivesse pensando nesse tipo de coisa enquanto uma notícia tão legal havia sido
dada. Mas tudo bem. Isso era uma coisa que a gente precisaria superar. Afinal,
passaríamos um bom tempo juntos.
- Jones? – perguntei, mordendo meu lábio inferior. – Quanto tempo de turnê?
- Dois meses, mais ou menos. Alguém tem algum problema com isso? Qual é galera. Eu
sei que tem o colégio, mas a gente vai entrar de férias, é só daqui duas semanas,
não é como se quiséssemos sair nesse exato momento daqui.
- Eu topo. – disse. – Sem nem pensar duas vezes. Não é como se meus pais fossem me
impedir de ir... – revirei os olhos.
- Já eu tenho esse problema. Mesmo com 18 anos eu preciso da autorização deles, não
seria certo. – Julie disse, fazendo bico. – Mas acredito que eles deixem, até
porque eu estarei com os McGuys, porra! - todos riram. Julie era assim. Era meio
porra louca, meio sem noção, mas nós nos divertíamos demais com ela. Ela usava as
roupas que queria, dizia o que pensava, namorava quem dava na telha. Eu até sentia
certa inveja dela. Não que eu fosse uma dessas neuróticas com tudo, mas eu ainda me
importava com o que os outros diziam... o que era um erro.
- E você, Jojo? – perguntou Jones.
- Bom, eu tenho que ver e...
- Tem que ver nada, você vai. Eu sei que provavelmente terão outras
oportunidades... – as meninas bufaram com a humildade de Jones – Mas dude, é a
primeira! Nenhuma de vocês pode perder. – ele sorriu, bagunçando o cabelo da
Joanna.
- E você, Nics? Acha que seus pais vão liberar? – ela levantou da cadeira e colocou
as mãos na cintura.
- Meu querido Wills, eu já tenho meus 18 (muito bem feitos) anos, acha que alguém
me impede de fazer alguma coisa?
- Acho? – franzi o cenho e respondi, como se a pergunta tivesse sido direcionada
para mim.
- É... Realmente. Falarei com eles hoje à noite e ligo pra vocês. – Wills soltou
uma gargalhada gostosa e ficou sorrindo igual um besta para ela, que corou. A Nics
tinha esse problema. Todos nós éramos brancos, pela falta de sol freqüente em
Londres, mas ela conseguia atingir um tom de branco que nenhum de nós conseguia,
era muito clarinha.
- Bom, já que todos estão praticamente dentro da minha incrível oferta, já podemos
começar a deixar claro certas coisas. – Jones começou e eu já estava aflita com as
regras que estavam por vir.
- Primeira regra: – Wills complementou. - Nada de brigas. – Olhou para mim, para
Joanna e em seguida para Codys, sem nem hesitar. – É para ser uma coisa agradável e
assim será. Estamos entendidos?
- Sim. – todos responderam e pude ver Codys virando os olhos.
- Segunda regra: tudo que a gente disser, é regra. – Nics riu. - Wills, você está
fazendo uma regra para criar regras? – ele afirmou com a cabeça.
- É claro, assim teremos uma longa viagem, sem nenhum problema, já que nossa
palavra será lei.
- Eu não concordo com isso não. – disse Julie, enquanto acendia um cigarro.
- Então Dona Julie, você está desconvidada para nossa viagem. – ela fitou Harry por
alguns segundos e suspirou, derrotada.
- Mudei de idéia, acho essa regra absolutamente genial. – e por fim jogou um pano
de prato que estava em cima da mesa na cabeça de Harry. – Eu te odeio. – Harry fez
um coração com as mãos em resposta à garota.
E assim a tarde passou tranquilamente. Ficamos lá à toa, jogando conversa fora,
fazendo planos para a turnê e decidindo quem ficaria com quem nos quartos de hotel.
Estávamos todos muito empolgados, seria realmente uma grande oportunidade, até para
eu me acostumar com o Codys-não-namorado. É claro, eu o estava ignorando e
ignorando também a Joanna, mas o que eles esperavam? Que eles iriam transar e mesmo
assim eu ficaria contente, sorrindo para eles como se nada tivesse acontecido? Bom,
pelo menos entre eles era o que parecia. Eles mal se olhavam no olho e a Joanna
fazia questão de se manter longe dele. Por um momento isso me fez querer ouvir a
versão de Codys, mas passou rapidinho. Tão rapidinho que eu quase não consegui
sentir.

Capítulo 03.
Casa pré-fabricada.

Duas semanas depois, Londres, Inglaterra, Casa dos McFly.

- É sério isso? A gente realmente vai de trailer? E as limusines, aquele luxo de


gente famosa, cadê? – Joanna dizia.
- Eu achei o trailer bem legal. – disse Julie, com os olhos brilhando. – Fora o
quanto ele é grande, deve ter de tudo aí dentro.
- Devo confessar que meu sonho era andar em um trailer. – eu disse, por fim. –
Nunca pensei que seria em um desse tamanho, né? Olha isso, esse trailer é maior do
que a minha casa. – os meninos riram e Harry estendeu a mão vazia para Jones, que
colocou lá uma nota de cinco libras.
- O que foi isso? – Nics perguntou e eles riram.
- Eu apostei com o Jones que a primeira coisa que alguém falaria sobre o trailer
viria da Jojo e seria uma reclamação. – Joanna cruzou os braços em protesto e o
resto de nós riu.
- Isso é muito injusto! – ela rebateu.
- Não meu amor, isso é ganhar dinheiro fácil. – Jones foi até a menina e a abraçou,
a fazendo rir.
O que era aquilo? Agora todo mundo resolveu virar casal? Bufei. Se continuasse
nesse ritmo, essa viagem seria tudo, menos divertida. Codys veio em minha direção,
com o guitarra nas costas. Engoli em seco ao sentir o perfume dele e o fato do meu
coração ter batido mais rápido me irritou profundamente. Ele parou do meu lado e
aquele aroma tornou-se constante. Fiquei incomodada.
- O que foi? – perguntei.
- Você precisa me ouvir, Thalita. Eu sei que você está magoada, mas você precisa me
ouvir. Ficaremos dois meses juntos, vai ser uma overdose de convivência. Por favor,
foxy.
Ótimo. Agora ele estava usando dos nossos apelidos para me atingir. Codys me
chamava de foxy devido a música do Jimi Hendrix, Foxy Lady. Nosso primeiro beijo
aconteceu ao som dessa música. O significado era mais ou menos compatível com a
tradução “gata sexy”. Pois é, essa sou eu, sexy pra caralho.
- Codys, eu não quero, não estou preparada pra ouvir nada que venha de você, ok? –
suspirei e passei as mãos pelos cabelos, nervosa com aquele cheiro embriagante. –
Faz um favor para a minha saúde mental e me deixe em paz. É tudo que eu peço.
- Tudo bem, Thay. É que... Eu sinto muito a sua falta.
Fechei os olhos. Eu também sentia muito a falta dele; mesmo. Com o término do nosso
namoro, era como se tivessem arrancado uma parte de mim, como se agir naturalmente
não fosse mais possível porque eu simplesmente não era eu mesma naquele momento.
Senti uma lágrima caindo e rapidamente a limpei, abrindo os olhos. Codys me
observava, chorando em silêncio.
- Ei, Thay! – Nics gritava na porta do trailer. – Vem, estamos guardando as malas.
Dei uma última olhada nele e corri em direção a minha amiga, que mais uma vez me
salvou de fazer qualquer coisa que eu pudesse me arrepender depois. Todos já
estavam lá dentro, menos nós dois. Entrei e u-a-u. Lá dentro era maior do que
aparentava. Tinha dois sofás que pareciam ser bem confortáveis, TV ultima geração,
cozinha bem equipada e duas portas que eu desconfiei que fossem uma que dava para o
banheiro e a outra para o quarto. Claro que oito pessoas por mais de um dia naquele
trailer, não dava. Não mesmo.
- Vocês capricharam, hein. – Nics dizia. Era com certeza a mais empolgada de todas.
– Mal posso esperar pra essa aventura começar! É muito surreal.
- Amiga, calma, respira. – eu disse, bagunçando o cabelo dela. Ela odiava. A porta
do trailer se abriu e um Codys com os olhos vermelhos entrou. Senti aquela sensação
estranha na boca do estomago de novo. Nics percebeu e apertou a minha mão.
- Estão todos dentro do veículo? – Wills perguntou, brincalhão. – As malas
guardadas? – todos nós confirmamos. – Ótimo.
- Posso avisar o Johnny que podemos ir? – Harry perguntou.
Johnny era o motorista. Ou acharam que aqueles quatro sairiam em turnê sozinhos? Na
parte da frente estava Johnny, o motorista, e Michelle, a empresária. Bom, uma das
empresárias. Ou acharam também que eles faziam tudo por conta própria? Aqueles
garotos não sabem nem se trocar. O bom era que a parte da frente era separada do
resto do trailer. Então tínhamos certa... Privacidade. O trailer começou a andar.
No começo foi meio estranho, porque parecia que minha casa tinha pernas, mas depois
fui logo acostumando.
- Ae galera, começou! – disse Jones, se jogando no sofá. Ao seu lado tinha um
violão. – Tive uma idéia, que tal a gente começar a por melodia naquela sua música,
Thay?
Arregalei meus olhos. Pude ver Codys desviando a atenção da sola do seu sapato para
Jones. Era mais do que obvio que a letra seria pra ele.

Capítulo 04.
Deixa estar, que um dia vigora.

Codys’s POV
Aquilo estava me matando, me corroendo, me destruindo. Era óbvio que a Thalita não
ia falar comigo tão cedo, nem eu falaria comigo tão cedo... Mas uma parte de mim
ainda tinha esperanças. Afinal, se eu não tivesse quem teria por mim? O maior
problema era que todo mundo parecia não estar nem aí para o que estava acontecendo,
para o que tinha acontecido. Como eles conseguiam pensar em uma turnê com tanta
merda acontecendo com a gente? Digo, comigo. Não sei se estou sendo completamente
egoísta, mas porra!
Parei de ficar olhando para o meu tênis (eu sei, sou praticamente um autista),
quando ouvi Jones comentando da música de Thay.
- Jones, eu não acho que seja uma boa idéia. Quer dizer, sei lá... Não prefere em
um lugar mais calmo e... – as mãos da Thalita estavam confusas e ela mexia no
cabelo sem parar. Estava nervosa, me fazendo suspeitar que aquela letra pudesse ser
pra mim. De repente minhas mãos começaram a suar, com medo do que ela tinha
escrito.
- Não Thay, acho o momento perfeito. – Jones disse, tirando de dentro de uma
mochila um envelope. – Vocês não concordam comigo, caras?
- Com certeza. – Wills disse. – Eu estou curioso pra saber o que a dona Thalita
aprontou dessa vez com sua genialidade. – Thay soltou um sorriso fraco, me fazendo
sorrir também. – Harry, você não quer ver a letra da . Codys, o que você acha?
Todos olharam pra mim enquanto eu fazia papel de bobo fitando os olhos da Thalita.
- Claro, por que não? – desviei minha atenção para Harry enquanto dava tempo, e foi
só isso que eu falei. Nada mais.
- Tudo bem, Jones-Jones. – Thay disse daquele jeito... Tem como dizer fofo sem
parecer gay? - Abre isso aí logo e vamos ver no que dá.
- One by one, dreams are gone, do I have to stay? – Jones leu o primeiro verso e eu
senti minhas mãos tremerem mais do que nunca. Era pra mim, com certeza aquela
música era pra mim e, infelizmente, não era o que eu queria ouvir. Cerrei meus
olhos e apoiei os cotovelos nos joelhos para, enfim, apoiar minha cabeça nas mãos e
ouvir a letra da música com atenção.
- Calma. Não fala mais nada que eu tenho uma idéia. – Wills pegou o violão e
dedilhou um sol sustenido, seguido por fá sustenido. – Isso aí, Harry. – Judd pegou
as baquetas e improvisou uma bateria nas cadeiras.
- Finaliza com um dó sustenido, sozinho. – Jones arriscou.
- Acho que vai ficar melhor se voltar pro sol sustenido e finalizar. – eu disse,
ainda fitando o chão.
- Codys tem razão.
- Vai do começo, Wills. Vou cantar. - One by one, dreams are gone, do I have to
stay? Hate the sound of one more pound, as it rolls away. Why did I need your
proof, when I knew the truth? – ele cantou, acompanhando os acordes de Wills e a
bateria de Harry. Julie, Joanna, Nics e Thalita estavam no sofá da frente deitadas.
Nics estava ao lado de Jojo, que estava ao lado de Julie e Thalita deitada com a
cabeça apoiada no colo da Nics. Ela estava de olhos fechados e eu não conseguia
parar de observá-la.
- Muda para um dó sustenido na entrada do refrão. – arrisquei de novo. Wills fez
exatamente o que eu disse e em seguida mudou pra dó sustenido com sétima.
- Agora sol, fá, dó sustenidos Wills. – Jones arriscou. – E depois a parte da
estrofe, só que com metade do tempo.
- Porra galera, ficou bem foda. – disse Harry. – Imagina com todos os instrumentos.
Passa o refrão aí que eu não ouvi a letra.
Thalita abriu os olhos de repente e eu percebi que sua atenção voltou para mim.
- And I don't know why, I just let slip by me all the time, I just wish you had
tried. – Jones parou de cantar. – Agora entra outra estrofe. I don't want to know
your game, let alone her name, no matter what you say to me, we are not the same.
Why do you make me cry and try to justify? Don't right your wrong with my mistakes…
- Eu era um imbecil. Apertei meus olhos levando meus pensamentos pra longe e voltei
para Jones e Wills, que finalizou gritando. – CAUSE MY HEAD’S HELD HIGH!
Riram com o grito de Wills, mas depois se entreolharam. E pelo olhar que davam uns
aos outros e por fim paravam em mim, tinham percebido o porquê da Thalita ter
relutado em mostrar a música. O que eles esperavam, afinal? Que a música fosse
tratar de borboletas? Bufei. Depois de segundos a Joanna levantou correndo em
direção ao banheiro. Ótimo começo de viagem. Valeu aí, caras. Thay e Nics se
olhavam como se conseguissem conversar sem falar. E isso me incomodava.
- Acho melhor terminarmos essa música mais tarde, certo? – arriscou Jones,
guardando a letra novamente no envelope. – O clima de repente ficou pesado, quem
quer vodka?
- Eu não.
- Nem eu.
- Não to na vibe não, cara.
- Vocês são uns merdinhas. Deixa-me reformular: vou pegar vodka e todo mundo vai
beber. – Jones corrigiu.
- Nem vem Jones, a gente simplesmente não quer. – disse Nics. Julie e Joanna ainda
estavam no banheiro, fazendo sei lá o que. O que as mulheres fazem quando vão
juntas ao banheiro é uma eterna incógnita para mim.
- Queridas amigas, esqueceram que o que a gente diz é lei? – Wills disse
sorridente, já com copos na mão.
- Elementar meu caro Wills, obrigado por refrescar a memória das nossas convidadas.
- Isso não é justo! Não estou acostumada a beber assim, cedo. – Thay disse,
enquanto acendia um cigarro. - Beber não, fumar tudo bem? – Harry respondeu,
provocando Thalita. – Deixa de ser careta e toma logo, pequena – ele entregou uma
dose de vodka para ela virar.
- Ah, que se dane. – ela virou, fazendo cara feia. – Odeio vodka pura.
- Agora você, Codys. – peguei o copinho e virei. – Mais um.
- Por que mais um? Ela só tomou um!
- Mas você é homem, porra. Toma mais um. – virei o segundo. Algo me dizia que não
iria sair coisa boa daquela “viagem”. Todo mundo tomou mais de uma dose, inclusive
a Thay que tanto reclamava. Ficamos lá, bebendo, até chegar ao nosso destino, a
primeira cidade da turnê: Portsmouth. Michelle já nos passava ordens para que tudo
decorresse bem e sem atrasos. Nós ficamos dentro do trailer enquanto ela e Johnny
faziam nosso check in. Para meu espanto e dos outros caras, havia uma multidão na
frente do hotel. Uma multidão de meninas. Era incrível, e a sensação era
completamente nova. Arrisquei colocar a cabeça para fora da janela, mas logo me
arrependi quando arremessaram um rolo de cartolina em minha direção.
- Que merda é essa? – Wills disse, pegando o papel que havia caído dentro do
trailer.
- Abre, deve ser uma carta. – Thay disse. Wills e Jones abriram a cartolina e para
nossa surpresa, muitos “EU AMO VOCÊ” haviam sido escritos, mas não era nem pra um,
nem pra outro. Era pra mim. Meu nome estava escrito em todos os cantos da folha.
- O quão é legal é isso, hein? – peguei da mão deles e li.
- É até começar a ser normal e acontecer toda hora. – Thalita cruzou os braços, me
deixando feliz com aquela pequena demonstração de ciúmes vinda da parte dela.
Depois de alguns minutos, Michelle entrou no trailer.
- Estão prontos, garotos?
- Nasci pronto, Chelle. – disse Wills.
- E vocês meninas? Podem esperar eles entrarem se quiserem.
- Está tudo bem Chelle, vamos todos juntos. – Julie respondeu, logo depois de
apagar o cigarro que fumava. Aquela garota fumava pra caramba.
Saímos do trailer e, com ajuda de Chelle e Johnny, passamos pela multidão até
entrarmos no hotel.
- WTF essas meninas! – Thalita disse, arrumando os cabelos. – Histéricas!
- Dá um tempo, Thay. – Jones disse. – Elas sabem o que é bom.
- Elas estão precisando de namorados, isso sim. – completou Joanna, contrariando
Jones.
- Concordo. E urgente. – disse Julie. Eu e os caras riamos das meninas. É claro que
elas sentiam ciúmes, era uma coisa natural. Até porque se fosse ao contrário, seria
pior.
- Acho melhor a gente entrar, sabe? Evitar que as meninas de dentro do hotel saiam
na porrada com as de fora do hotel. – eu disse, tirando sarro. Pude ver Thalita
revirando os olhos e saindo de perto de mim. Bom, se ela não queria ouvir o que eu
tinha a dizer sobre o que tinha acontecido e ia agir feito uma criança mimada,
desafio aceito. Não me importava como ou quando ela iria me perdoar, mas ela iria.
Eu iria fazer de tudo pra conseguir essa garota de volta, porque ela não era
qualquer garota.
- Está vendo isso, Codys? – Harry me cutucava. – Nós perdemos essas garotas de
vista por alguns minutos e elas já nos dão o bote. – então ele apontou para elas,
conversando com três caras que eu não fazia idéia de que lugar haviam saído.
- Inacreditável. – murmurei. – Nós somos os famosos e elas que recebem atenção. –
encarava os intrusos com fúria no olhar. Estavam arrumados e ao mesmo tempo
aparentavam estar sujos. Concorrência, ótimo.

Thalita’s POV
- Então vocês resolveram fazer uma turnê pelo Reino Unido? – eu dizia, empolgada.
Estávamos conversando com os integrantes da banda NeverShoutNever, (N/A: A banda
começou em 2007 com Chris e 2011 completa. O ano da fanfic é 2005, mas podemos
abrir uma exceção para deixar a autora feliz, certo?) uma das minhas bandas
preferidas. O fato é que eu sempre tive uma queda pelo Christopher Drew, o
vocalista, e vê-lo ali, na minha frente, sem poder gritar histericamente, era
torturante.
- Sim, sempre quisemos vir para cá. – ele me respondeu, ajeitando um chapéu
extremamente sexy que estava vestindo. – Está uma loucura lá fora. Quem são seus
amigos? Porque fãs nossas com certeza não são, não avisamos a ninguém que viríamos
para esse hotel.
- McFly. Estão em turnê pela primeira vez. – Julie respondeu de imediato.
- Eu já ouvi falar deles.- Hayden Kaiser, baterista da banda, respondeu. – Eles
estão começando agora, não é? Já os ouvi no rádio.
- Começando agora sim. – respondeu Joanna, super interessada.
Em meio à conversa, o último integrante da banda se aproximou.
- Ei, não vão me apresentar para as nossas novas amigas? – Caleb Denison,
guitarrista, perguntou. Senti Julie se interessar mais pela conversa.
- Essas são Thay... – Chris começou a dizer. – Desculpa meninas, só lembro do nome
da Thalita. – senti meu rosto corar. Christopher Drew sabia meu nome.
- Julie, Jojo e Nics. – completei, sorrindo.
- Prazer, Caleb. – o último disse de um jeito simples. – O que vão fazer hoje?
Estamos presos nesse hotel para o show de amanhã.
- Nós estamos com os nossos amigos, eles são do McFly. – Nics apontou para os
garotos que nos observavam sem dó alguma. Por um único momento tinha me esquecido
da existência de Codys, até vê-lo me fitando com aquele olhar assassino. Os garotos
do NeverShoutNever acenaram para eles, que não foram nada receptivos. Apenas Harry
acenou de volta.
- É, acho que deixamos “alguéns” com ciúmes. – disse Taylor, o baixista, brincando.
– Bom, visto que estão com eles, acho que não estão disponíveis hoje à noite. Estou
certo?
Suspirei. É claro que eu estou disponível, me leva com vocês e me tirem desse
inferno astral que me encontro.
- É, infelizmente. – disse Nics, dando-se por vencida e me dando uma cotovelada.
Ouch!
- Ah, isso é uma merda. – Chris me olhou, fazendo mais uma vez minhas bochechas
queimarem. – Mas ei Thay, me passa seu celular, quem sabe a gente não se esbarra em
outra cidade, sei lá. Até quando vocês ficam aqui?
- Até amanhã. Sairemos depois do almoço. – respondi, Chris me estendeu seu celular.
Peguei e gravei o número do meu. – A gente vai se falando.
Minhas amigas me olhavam descrentes do que eu estava fazendo, principalmente
Joanna. Qual era o problema, afinal? Eu estava solteira, não estava? E isso não
acontece todo dia.
- Claro, eu te ligo. – ele se aproximou de mim e me deu um beijo na bochecha,
soltei um riso fraco. Nos despedimos e fomos em direção aos... como era mesmo o
nome da banda deles? Ah, é! McFly. Quando chegamos perto deles fomos completamente
ignoradas.
- Wills, empresta o isqueiro? – Julie perguntou. Sem resposta.
- Ô Codys, qual o número dos quartos? – Nics perguntou, sem resposta.
- Harry, que horas a gente vai embora amanhã? – perguntei, também sem resposta.
- Vocês não vão mesmo nos responder? – Joanna perguntou, cruzando os braços. –
Deixem de ser mimados, a gente estava apenas conversando com eles.
- Mudaram rapidinho o foco da viagem. – Harry respondeu, deixando transparecer seus
ciúmes.
- A Thalita parecia que ia pular no pescoço daquele loirinho sem noção. – Codys
arriscou, me deixando mais do que puta da vida. Qual moral ele tinha em me falar
qualquer coisa? Por que todo mundo estava agindo como se ele não tivesse transado
com a minha melhor amiga, porra?
- Fica na sua, Codys. – respondi, sentindo fumaça sair das minhas orelhas.
- Que seja. – ele respondeu, desviando a atenção para outra coisa.
- As crianças podem, por favor, calar a boca? – Nics elevou o tom de voz. Nics era
na maioria das vezes doce, mas quando ela ficava brava, sai de perto. Ninguém
desejava ver aquela baixinha brava, muito menos eu.
- Tudo bem. – respondi, derrotada. – Mas Wills, por favor, as chaves. Eu estou
muito cansada, um pouco bêbada ainda da viagem e preciso urgentemente de um banho.
- Fiz aquela carinha de cachorro pidão e o convenci. Ele me deu uma chave, que
seria onde eu dormiria com Nics. Julie e Joanna dividiriam outro quarto, já a
distribuição de quarto entre eles eu não fazia idéia de como ficaria. Os
funcionários do – nada humilde – hotel nos ajudaram a descarregar as malas do
trailer e levá-las para nossos quartos. Quando finalmente entramos, me joguei na
cama sem nem pensar duas vezes. Nics havia ficado para trás, conversando com o
Wills, disse ela. Fiquei encarando o teto por alguns minutos, fazendo a
retrospectiva daquele dia, de tudo que estava acontecendo comigo e da reviravolta
que minha vida havia dado em tão pouco tempo. Se eu me sentia assim, imagina eles?
Sorri sem ao menos perceber quando a imagem de Codys passou pela minha cabeça.
Aqueles olhos, aquele cabelo, aquelas mãos me tocando. Eu sentia muita falta dele,
mas meu orgulho era maior, ele era grande e Codys o havia ferido profundamente.
Acho que acima de qualquer coisa, uma garota deve se valorizar, se não quem o fará?
Abri os olhos e observei o quarto em que estava. Era lindo. Duas camas de solteiro,
televisão última geração, DVD, frigobar e tapetes felpudos. A decoração era em tons
claros, nada muito chamativo. Levantei da cama para abrir minha mala e peguei
roupas limpas. Entrei no banheiro, liguei o chuveiro e comecei a cantar uma música
que me pareceu adequada para a situação, do NSN.

- Well you sure broke my heart last week when you said you had slept with HER…
(Você com certeza partiu meu coração semana passada quando disse que havia dormindo
com ela...)

Cantava animadamente, rindo de vez em quando.

- I know you called, I got them all, La La da da...


(Eu sei que você ligou, eu recebi todas, La La da da...)

Costumavam dizer que eu tinha uma voz bonita. Não sei se eu concordava, mas dá pra
aguentar me ouvir cantando. Tirei o condicionador do cabelo e desliguei a torneira,
me enrolando em uma toalha.
- Thalita? – Nics gritou do quarto. – Você está aí?
- Aqui, Nics. – gritei em retorno. – Acabei de sair do banho.
É claro que ela não me esperou sair do banheiro e foi logo entrando.
- Amiga, eu acho que estou apaixonada. – ela simplesmente vomitou as palavras em
cima de mim, me deixando sem reação. – Eu sinto meu estômago revirando, minhas
pernas tremem, meu rosto queima feito brasa e minhas mãos não param de tremer,
olha! – ela me mostrou. – Eu estou apaixonada, Thay! Nunca achei que isso fosse
acontecer. – ela falava e eu fitava o nada. - Thay? Thalita você está me ouvindo?
Eu tinha ficado quieta porque simplesmente não sabia o que achar daquilo tudo. Ela
não havia dito que era uma coisa nova, para não ir com pressa e blá blá blá? Para
mim parece tudo muito apressado.
- Eu estou feliz por você, Nics. – eu disse, forçando o melhor sorriso que eu pude
encontrar.
- Mentirosa. Eu sei que é difícil pra você, mas calma amiga, é questão de tempo até
vocês se acertarem. – fiquei confusa por um instante.
- Acertar? Não tem nada para acertar.
- Quer parar de ser cabeça dura, Thay? Você nem ouviu o que ele tem pra dizer.
- Me diz então uma boa justificativa para traição, Nicole.
- Não é justificativa, Thalita, sim uma prova de quem ele quer mesmo é você. Deixa
de ser orgulhosa, isso é um defeito enorme, sabia?
É claro que eu sabia, só não queria dar o braço a torcer.
- Então quer dizer que você andou tendo uma conversinha com Codys? – mudei de
assunto.
- É claro que sim, nós somos amigos. – fechei a cara e respirei fundo. – Olha, sai
desse banheiro que eu também preciso tomar banho. O show é em duas horas e nós
precisamos sair daqui a vinte minutos.
Me dei por vencida e fui me arrumar. Vesti uma saia preta, meia calça preta, blusa
personalizada de uma das minhas bandas favoritas (The Cure) e meu coturno no pé.
Peguei meu nécessaire com maquiagem e fiz algo bem pesado, com os olhos delineados
pretos e na boca batom nude. Fiquei pronta antes mesmo da lerdinha da Nicole sair
do banho, então resolvi dar uma volta pelo hotel. Saí do quarto de fininho antes
que ela pudesse tentar me impedir. Andava pelo corredor passando os olhos a procura
de qualquer coisa que pudesse chamar minha atenção, foi então que, não meus olhos,
mas meus ouvidos reconheceram uma voz. A de Codys. Ele conversava com Wills e eu,
como uma curiosa de carteirinha, parei na frente do quarto para ouvir a conversa.
- Não Codys, muda de acorde. Se você for direto pra esse, não vai ficar legal.
Presta atenção. – Wills dizia um pouco irritado. – Dude, você quer me foder fazendo
a gente tocar essa música de última hora.
- Eu já te pedi, implorei, até falei que lavo suas roupas. Você sabe que eu preciso
disso. – encostei meu rosto na porta para ouvir melhor.
- I’ve got you... – Codys cantava.
Eu nunca tinha escutado aquela música antes, aparentemente era nova e essa com
certeza eu não havia escrito. Ouvi barulho de passos vindos de dentro do quarto e
saí correndo feito louca. Quando finalmente cheguei numa distância segura,
desembestei a rir, não sei por quê. Talvez porque aquela situação toda era
ridícula! Olha o que eu estava fazendo, escutando atrás de portas, correndo em
corredores de hotéis. Eu era uma boba mesmo. Respirei fundo e fui andando na mesma
direção de onde eu havia corrido, dando de cara com Codys.
- Desculpa, eu... – ele disse, atrapalhado, segurando o guitarra.
- Está nervoso? – perguntei como quem não quer nada.
- Bastante. Primeiro show da turnê é foda.
- Boa sorte, Codys.
- Obrigada Thay... – ele disse, me fitando. – Você está linda.
Meus olhos encontraram com os dele e eu me perdi completamente. Minhas pernas
tremeram da mesma forma que tremiam quando nos conhecemos. De repente eu era aquela
garota vulnerável de alguns anos atrás, era como se tudo tivesse começado do zero,
como se tudo que eu sentisse pelo Codys tivesse sido renovado. Meus joelhos cederam
um pouco e eu me desequilibrei. Aproveitei a vergonha para sair dali o mais rápido
possível, sem nem ao menos respondê-lo. Era só o que me faltava, meus joelhos
cedendo depois da palhaçada que ele me aprontou. Thalita Thalita, você realmente
não é mais a mesma. Perdida em pensamentos, entrei no quarto e me deparei com a
Nics vestindo o casaco.
- Pensei que a tivesse perdido, garota! – ela suspirou e pegou a bolsa que estava
em cima da cama. – Vamos, estamos super atrasadas.
Peguei minha bolsa e a segui pelo corredor.
Nics usava um vestido preto básico (porém lindo), sapatilha e um casaquinho leve
rosa pink. Estava linda, como sempre. O bom de ser melhor amiga da Nics quando
saiamos juntas, era que nossos estilos eram completamente diferentes. Usávamos as
mesmas peças de roupa muitas vezes, mas em diferentes combinações.
- Pois é... – respondi enquanto corríamos pelos corredores do hotel para chegar até
o saguão. – Quase que me perco mesmo...
- Onde vocês estavam? A gente está aqui há horas esperando. – Jones disse, aflito.
- Cala a boca, dude. Você acabou de chegar. – Codys nos defendeu e me lançou um
daqueles olhares que estavam fazendo meu coração acelerar. Merda de garoto. Enfim,
fomos. Entramos em uma mini-van que estava a nossa espera na frente do hotel.
Lembram da quantidade de garotas que estavam lá quando chegamos? Agora multiplica
por dez. Aquela rua transbordava fãs. E me diz se os meninos estavam achando ruim?
- Ei Codys. – Harry o cutucava. – Codys. – mais uma vez. – O que deu nele, galera?
Codys fitava o nada, nervoso. Sua perna não conseguia se manter parada e sua mão
batucava impaciente o guitarra.
- Codys! – Jones gritou. – A gente está falando com você, caralho.
Então ele acordou; saiu daquela dimensão que ele se encontrava.
- Que foi?
- O que te deu, cara?
- Nada pô, estou nervoso, só isso. – disse, voltando para a posição em que se
encontrava.
Por um momento suspeitei que o nervosismo de Codys pudesse estar relacionado com
aquela música que ele e Wills ensaiavam há meia hora, mas me pareceu uma idéia um
tanto quando absurda. Meus pensamentos, que já estavam altos demais, foram
ofuscados quando chegamos à casa de shows e os gritos das garotas eram tudo que se
podia ouvir. Abri um pouco a janela e a quantidade de pessoas na rua do hotel não
era nada comparada a que estava ali. Nada, absolutamente nada parecia ser real.

Capítulo 05.
De onde vem a calma.

Codys’s POV

Eu estava uma pilha de nervos e não encontrava maneira nenhuma de disfarçar aquela
frustração. Minha perna parecia ter ganhado vida própria e meus dedos inquietos me
deixavam ainda mais impaciente. Quando finalmente chegamos ao destino final, aquilo
não me parecia verdade. A fila para entrar na casa de shows estava enorme e tudo
aquilo era pra ver os McFly tocarem. De repente, uma confiança tomou conta do meu
corpo e eu tive certeza de que era ali onde eu deveria estar. Olhei para a Thay.
Ela estava sorrindo, enquanto conversava animadamente com Julie. Respirei fundo e
também sorri, esperando que pelo menos por algum momento ela tivesse tido a mesma
realização que eu, que ela também estava no lugar certo.
- A gente vai entrar por trás, é lógico Wills. – Michelle dizia. - Mas eu não quero
Chelle. Quero entrar pela frente, como qualquer outra pessoa normal. – Wills
contrariava a nossa empresária. Ele conseguia ser um pé no saco quando queria.
- Meu querido Wills, vocês não são pessoas normais, vocês são os famosos que vão se
apresentar ali dentro.
Estava mais do que na cara que Michelle estava perdendo a paciência com todos nós.
- Chelle, eu te respeito, mas vou entrar pela frente. – Wills cruzou os braços,
igualzinho uma criança mimada. Esse era o porra do meu amigo.
- Ô caralho Wills, a Chelle está certa. – Jojo disse.
Desde aquela noite, eu e a Joanna não tínhamos conversado direito, porque a
vergonha era maior. Afinal, nada do que aconteceu era para ter acontecido, foi tudo
um grande erro. Senti minha garganta coçar só de me lembrar do assunto. Acendi um
cigarro desviando minha atenção da conversa e senti a mão de Jones me puxando pelo
braço.
- Certeza que quer ficar sozinho no palco?
Respirei fundo antes de responder.
- Sim, mas preciso que vocês toquem, a gente tem que dar um jeito da cortina fechar
vocês para trás e eu ficar na frente. – roí a unha do meu dedão que já estava mais
fodida do que meu psicológico há dez minutos atrás.
- Deixa comigo, eu dou um jeito nisso ai. – ele respondeu e me deu um tapinha nas
costas.
- Valeu, cara. – sorri e fechei os olhos, pensativo. - Ei, Jones.
- Diga.
- Me desculpa.
- Pelo que? - franziu o cenho.
- Pela Joanna, eu sei...
Ele sorriu, com se esperasse por aquele momento.
- Tudo bem. Obrigada, por... Você sabe.
- Eu sei. – ninguém havia percebido, mas eu sim. Estava mais do que na cara que
Jones gostava da Joanna e eu traí não somente a minha namorada, como um dos meus
melhores amigos. Ele se afastou e eu percebi que Wills e Michelle estavam ainda
discutindo sobre se iríamos ou não entrar pela porta da frente, então tive que
fazer alguma coisa a respeito.
- Chelle, você que manda, esse merda não manda em nada; sem ofensas Wills. – ele
deu de ombros, com sinal de que não se importava. – Falta meia hora e a gente nem
instalou os instrumentos, então a gente pode entrar nessa porra e começar a fazer
alguma coisa?
- Will, pelos fundos. – ela disse, dando a palavra final e eu sorri satisfeito. –
Johnny, pode dar a volta pelo quarteirão que entraremos pela garagem, como qualquer
banda normal faz.
É claro que o bebezão do Wills resmungou mais um pouco, mas ele sabia que teria que
ser assim, até por questão de segurança. Demos a volta no quarteirão como Michelle
havia ordenado e entramos pela garagem do lugar, até chegarmos ao camarim. A
quantidade de pessoas que já estava lá dentro me surpreendeu. Uma coisa é você
tocar na sua cidade, outra é sair da sua cidade e mesmo assim existir pessoas ali
que te conhecem e estão trabalhando para você. Não dá pra descrever, não.
- Quero a luz no Wills na faixa número 4. – dizia uma mulher, que estava mais
atrapalhada e nervosa do que qualquer um de nós. – Assim que ele terminar, muda
para a cor 5 e não esquece de equalizar o som, Frederic. – deu ordens para o cara
da iluminação, do som, sei lá quem era aquele pobre ser. Jones se aproximou da
mulher e começou a explicar o que deveria ser feito de última hora, fazendo a
mulher soltar um suspiro de desespero.
- Vocês garotos querem me ferrar ou o que?
- Dá pra fazer? – ele perguntou. – É muito importante... Qual seu nome?
- Emily.
- Então Emily, eu iria agradecer muito se tudo desse certo pro meu amigo. – ele
completou, sorrindo de um jeito filho da puta pra ganhar a dedicação da pobre
mulher. Ri sozinho enquanto via a cena.
- Vou fazer o possível, ok?
- Obrigado, linda.
E se afastou vindo em minha direção.
- Você me deve uma. – eu nem respondi nada, só conseguia rir. Fui para o camarim,
onde o resto dos caras já estava, junto com as meninas. Não era nada muito luxuoso
e também não fazíamos a mínima questão que fosse, desde que tivesse comida. E
tinha. As meninas estavam no sofá jogando conversa fora com Wills e Harry. Olhei
para eles sentindo inveja, mas de repente me desesperei.
- Porra, sabem do que me dei conta? – todos olharam pra mim. - Nós não passamos o
som. – Harry levantou e me deu um empurrãozinho.
- Você fica aí pensando e eu já estou fazendo. Falei com a Chelle ontem, ela disse
que alguma outra banda ia passar o som pra gente, mesmo eu não gostando muito da
ideia. A gente chegou meio tarde e não tinha como... Mas diz ela que eles fizeram
do jeito que a gente sempre faz.
- Mas o meu (minha) guitarra tá aqui caralho, como ele iria saber o tom...
- Quer relaxar, dude? Vai dar tudo certo. – Harry sorriu e se jogou no sofá ao lado
de Thay mais uma vez. É claro que ia dar tudo certo, não era ele que ia ficar
sozinho no palco, isso nunca tinha acontecido antes com nenhum de nós. Mas pra tudo
sempre tem uma primeira vez, certo?
- Vocês entram em 5 minutos. – aquela mesma mulher, Emily, veio nos avisar no
camarim.
- Acho que devemos já ir pra trás do palco, garotas. – Thay disse, se levantando do
sofá toda animada. – GO MCFLY!
- GO MCFLY! – elas repetiram, dando um beijo na bochecha de cada um de nós como
“boa sorte”. Se a Thalita me desse um beijo na boca aí sim me daria sorte. Não.
Foco, Codys. Elas saíram e bateram a porta atrás de si.
- Repassando setlist. – Harry disse.
- Começa com Saturday Night, certo? – perguntei, mais animado do que nunca.
- Isso, depois That Girl e a partir daí a gente segue o papel, mas acho que está
tudo certo. – completou Jones.
- E vai terminar com o Codys?
- Não, deixa I’ve Got You (1) em penúltimo e a gente finaliza com outra, sei lá. –
disse Harry.
- Concordo. Tem que terminar o show com todo mundo junto, porra. Não só com esse
pamonha aí.
- Vamos lá, então?
- É nossa deixa.

Thalita’s POV
Eu estava nervosa esperando o início do show. Parecia que era eu que iria me
apresentar. Minhas mãos tremiam e minha boca estava completamente seca. Quando ouvi
o primeiro acorde ecoando soltei um grito, que foi completamente abafado pelos
outros muitos gritos das garotas que estavam na pista. Dei uma espiada escondida
atrás da cortina e o lugar estava lotado, me deixando muito orgulhosa dos meus
amigos. Olhei para as minhas amigas e elas estavam exatamente iguais a mim. Bobas,
maravilhadas, orgulhosas. O mais engraçado foi que pela primeira vez eu notei que
cada uma delas dedicava mais atenção para um dos McGuys. Joanna só faltava babar
enquanto Jones tocava. Nics batia palmas freneticamente enquanto encarava Wills.
Julie, um pouco mais discreta que as outras, lançava olhares singelos para Harry,
meu melhor amigo. E eu, é claro, não conseguia desviar minha atenção de Codys. Eles
abriram o show com uma das minhas músicas favoritas e pelo que parecia, favorita
das garotas também. Quando tocaram That Girl, que era a música em que chamavam uma
garota para o palco, eu senti que o lugar fosse desabar. Elas gritavam mais do que
nunca. Quem estava escolhendo a garota era Codys, o que me deixou com um ciúmes
insano.
- Chegou a hora deles escolherem a garota, meninas. – Julie gritou, rindo. - É
agora que ficamos com ciúmes? – perguntou Nics, diminuindo um pouco o peso que eu
estava sentindo por ser tão possessiva.
- Com certeza é a hora que sentimos ciúmes! – concordou Joanna, aos gritos.
Depois de um tempo escolhendo a garota, ela finalmente subiu ao palco. Aproveita aí
menina, que é seu momento de conhecer os caras mais legais da história. Sorri
enquanto ela tentava cantar com eles, num tom completamente errado e desafinado.
Enfim aquele momento passou e ela desceu do palco, chorando feito uma criança.
Tocaram mais uma música e de repente uma cortina cobriu a maior parte da banda,
deixando só o Codys no palco. Franzi o cenho, sem entender o que estava
acontecendo.
- O que eles estão aprontando? – perguntei para Nics, que deu de ombros.
- Sei lá, vamos ver né.
Cruzei meus braços e fiquei atenta no que Codys estava dizendo.
- Essa música é nova. – ele dizia, ofegante. – É a primeira vez que tocamos e eu
espero que gostem. E que entendam.
Então eles começaram. Todos estavam tocando e os vocais não eram só dele.

The world would be a lonely place


(O mundo seria um lugar solitário)
Without the one that puts a smile on your face
(Sem aquela que põe um sorriso em seu rosto)
So hold me 'til the sun burns out
(Então me abrace até o sol se apagar)
I won't be lonely when I'm down
(Eu não vou estar sozinho quando estiver para baixo)

Senti meu estômago embrulhar. Nics percebeu e foi até mim, me abraçando de lado e
sorrindo sem parar.
- Você sabe que é pra você, não sabe? – ela gritou em meu ouvido, devido ao
barulho. Eu apenas confirmei com a cabeça e voltei minha atenção total à música.

'Cause I've got you


(Porque eu tenho você)
To make me feel stronger
(Para me fazer me sentir mais forte)
When the days are rough
(Quando os dias são difíceis)
And an hour seems much longer
(E uma hora parece muito mais longa)

Me aproximei do palco e senti algumas lágrimas caindo dos meus olhos fixos em
Codys. Ele tocava com vontade, como se estivesse determinado a alcançar um destino.
Olhou por um segundo em minha direção e nesse exato momento nossos olhares se
encontraram.

I never doubted you at all


(Eu nunca duvidei de você de forma alguma)
The stars collide, will you stand by and watch them fall?
(As estrelas colidem, você estará presente e assistirá elas caírem?)
So hold me 'til the sky is clear
(Então me abrace até o céu ficar limpo)
And whisper words of love right into my ear
(E sussurre palavras de amor bem no meu ouvido)

A verdade era que o que eu mais desejava naquele momento era entrar naquele palco e
abraçá-lo, mas as coisas não eram tão simples assim. Eu entendo, as pessoas merecem
uma segunda chance, porque errar é comum, é universal. Mas ele precisava sofrer um
pouco, precisava valorizar aquilo que tinha, pra que o nosso relacionamento desse
certo mais uma vez. O refrão se repetiu, em seguida, uma nova letra.

Looking in your eyes


(Olhando em seus olhos)
Hopping they won't cry
(Esperando que eles não chorem)
And even if you do
(E mesmo se você chorar)
I'll be in bed so close to you
(Eu vou estar na cama bem perto de você)
Hold you through the night
(Para te abraçar pela noite)
And you'll be unaware
(E você vai estar inconsciente)
That if you need me I'll be there
(De que se você precisar de mim, eu estarei lá)

O refrão se repetiu mais uma vez e quando a música terminou, eu abracei Nics com
toda força que eu encontrei, sem chorar. Ela me abraçou de volta, sabia o que eu
queria dizer, mas ao mesmo tempo não dizia. A música foi muito bem aceita pelas
fãs, é claro. Era uma das melhores que eles já haviam tocado e não era porque eu
era suspeita não. As meninas concordaram comigo. Finalizaram com outra faixa,
agradeceram a platéia e saíram do palco, completamente em êxtase. - Você viu isso?
– Wills gritava. – Esse show foi épico, PORRA!
- Ainda não estou acreditando. Elas sabiam cantar todas as músicas! – Jones sorria
constantemente.
- Elas adoraram sua música, você viu Codys? – Harry bateu nas costas de Codys, que
riu freneticamente.
- Eu não tinha ideia de que seria tão bem aceita.
- Cuidado hein Thay, o Codys aqui vai tirar seu cargo na banda com essas letras
pica das galáxias. – Jones bagunçou meu cabelo. Eu ainda não estava naquele
universo, estava muito longe com a música de Codys ainda dentro de mim.
- Que? – respondi e os garotos riram.
- Nada não. – ele desconversou - E ai Jo, gostou do show? – ele foi até ela.
- Foi demais, Jones! – ela respondeu, passando a mão no braço dele. Inacreditável.
Por que não ficou com ele antes de dormir com o meu namorado?
- Garotos, me desculpem, mas vocês têm que voltar pro camarim, pois as vencedoras
de uma promoção já estão lá esperando. – Michelle apareceu, convocando os McGuys. –
A propósito, parabéns, vocês destruíram. Continuem assim e eu vejo um futuro mais
do que brilhante pela frente. E antes que eu me esqueça: adorei a música nova,
Codys. – senti meu rosto queimar e vi Codys sorrindo satisfeito.
Eu e as meninas ficamos para trás enquanto eles iam pro camarim. Iríamos dar um
tempo para as outras garotas ficarem com eles, para terem o gostinho que tínhamos
sempre. Eu era ciumenta, mas o que mais queria era que a carreira dos meus melhores
amigos desse certo; eles mereciam. Fechei os olhos por um instante e idealizei o
que seria da vida deles em cinco anos. Consegui ver um “futuro brilhante”, como
Chelle havia dito. Na realidade, eu via muito mais do que isso e naquele momento,
meu maior medo era não fazer parte dele.

Codys’s POV
Eu não estava decepcionado, não mesmo. É claro que eu gostaria que a Thalita
tivesse tido uma melhor reação a minha música, ou que tivesse demonstrado mais. Era
normal eu desejar aquilo, não era? Mas eu não estava com pressa, eu estava
completamente disposto a fazer o que fosse preciso, esse era o plano e eu seguiria
com ele. Enquanto eu conversava comigo mesmo em minha mente, Chelle nos chamou para
que fossemos até o camarim tirar fotos com algumas ganhadoras da promoção de M&G.
Eu estava super animado, mas o que eu queria mesmo era ficar perto da Thay, vai que
ela resolvesse dizer alguma coisa que não pudesse esperar e eu estava longe? Ok,
não vou ficar pirando. Quando eu e os caras entramos no camarim, lá estavam
aproximadamente seis garotas. Duas estavam em silêncio, três estavam estáticas e a
outra gritava feito uma doida.
- E aí, garotas. – disse Wills, cumprimentando cada uma delas. – Gostaram do show?
- Se a gente gostou? – a loira e histérica respondeu. – Vocês são demais!
- Melhor show da minha vida! – a que antes estava quieta se pronunciou. – Posso
tirar uma foto com você, Codys? – aceitei. Por que não? Fiz uma careta olhando pra
ela enquanto ela tirava a foto, deixando-a mais feliz ainda. – Obrigada, eu amo
você.
- Harry, você pode assinar no meu CD? – a terceira garota pedia. – Você é, tipo
assim, meu favorito, entende? Eu gosto dos outros, mas você é meu favorito!
- Eu prefiro o Jones. – contradisse a quarta garota. – Ele é o mais fofo. -
Obrigado, linda. – ele respondeu, sem graça.
- Podemos tirar uma foto, todos juntos? – uma quinta garota perguntou e todos nós
aceitamos. Tiramos uma e muitas outras fotos com elas e ficamos conversando um
pouco, até que o tempo delas terminou, deixando-as muito frustradas.
- Vocês vão embora hoje? – a última garota perguntou, fazendo bico pra Wills, que
riu.
- Amanhã. Viajar hoje não... Puxado demais. Somos seres humanos no fim do dia. –
ela soltou uma risada forçada e agarrou Wills, deixando o coitado do meu amigo sem
reação.
- Obrigada pela atenção, vocês são muito simpáticos. A carreira de vocês daqui pra
frente vai decolar. – a mais normal delas disse para todos nós. Eu sorri, aliviado
com o fato de que no meio das doidas, tínhamos fãs normais.
- Obrigado vocês! Até mais.
Depois de muito enrolarem na saída, as garotas finalmente saíram e as nossas
verdadeiras garotas entraram. Poderíamos dizer o que realmente queríamos.
- Eu to acabadasso. – Wills disse, se jogando no sofá.
- Eu ainda estou pilhadão. Não sei o que colocaram na minha cerveja durante o show,
mas que fez efeito fez. – disse Jones, andando de um lado para o outro do camarim.
- Eu queria mesmo era dormir aqui. Só de pensar em entrar naquela van de novo me dá
uma preguiça... – eu disse, me jogando no sofá ao lado de Wills.
- Parem de ser preguiçosos! – Julie disse, pulando em cima de nós dois. – Imaginem
que ainda tem 25 shows pra fazer e...
- Puta merda! Acho que não aguento. – desabafou Harry.
- Vocês estão parecendo um bando de velhos. – Thalita disse e sentou no braço da
poltrona em que Harry estava sentado. – Podem mudar o nome da banda para Velhos
Reclamões. – Joanna, Julie e Nics concordaram fervorosamente.
- Ou Jovens Acabados. – arriscou Nics.
- Também pode ser... – eu interrompi Julie antes que ela pudesse dizer mais um nome
tosco para a banda.
- Não. Somos McFly e pronto.
- Ajam devidamente então, seus molengas.
- Dá um descontinho, vai Julie. A gente bebeu pra caralho hoje no trailer, eu mal
dormi e já estou de ressaca, não sabia que isso era possível.
- Você tirou as palavras da minha boca, dude. - Jones disse, sentando em outra
poltrona. – Acho que o efeito do tal energético na minha cerveja passou.
Eu estava em silêncio, observando Harry e Thay conversando na maior intimidade. Se
querem saber a verdade, eu sempre tive um pouco de ciúmes misturado com inveja de
Harry em relação à Thalita. Ela se sentia completamente confortável perto dele,
qualquer um podia notar e às vezes - não digo sempre porque sempre é muita coisa –
mas, às vezes eu me sentia meio perdido no meio dessa amizade deles. Parecia que
Thay precisasse só dele, eu era um mero detalhe ali na rotina dela. E agora mais do
que nunca eu sentia aquilo, pois afinal, quem estava ali com ela era ele, não eu.
Era ele que estava brincando com as mechas do cabelo dela, enquanto ela ria de
alguma piada que provavelmente ele havia contado para animá-la. Meus pensamentos me
dominavam quando Chelle e Johnny entraram no camarim nos chamando, pois havia chego
a hora de ir embora. Levantei satisfeito que aquela amostra de tortura terminara e
estava indo na frente, sozinho, quando senti um braço se entrelaçando ao meu.

Capítulo 06.
Sentimental?

- Força, amigo.
Era Nicole. Desde que o ocorrido tinha me separado da Thay, por algum motivo – que
por sinal, até agora não sei qual foi – deixei de falar com Nics. Talvez fosse
porque as duas andavam muito grudadas e conversar com a Nics ficava impossível.
- O que quer dizer? - tentei disfarçar.
- Eu sei que você está sofrendo, Codys, mas faz parte. – mordi meu lábio inferior.
- Eu sei, Nics, mas é tão difícil... – olhei pra trás e vi Thalita nas costas do
meu amigo Harry, de cavalinho. – Parece que ela está tão bem que nós terminamos, eu
não sei, às vezes me sinto confuso.
- Feliz, Codys? Vê se cresce garoto. – ela encostou a cabeça em meu ombro, nós dois
ainda andando. – Aquela música. A sua. Foi pra ela, não foi?
Arregalei os olhos. Havia ficado alguma dúvida de que a música era pra ela?
- É óbvio Nics! Que pergunta. – minha voz falhou um pouco, saindo rouca.
- É muito linda, Codys. Muito mesmo. - Nics?
- Sim?
- Ela gostou?
Vi que ela hesitou um pouco, me fitando por alguns instantes, por fim sorriu.
- É claro que sim. Sabe Becker, eu ainda não entendi porque você ferrou seu
relacionamento por causa da Joanna. . Não que ela seja pouca coisa, longe de mim
dizer isso, amo minha amiga. É só que... Você e a Thay se amam, sabe? – havia
desespero em sua voz e, enquanto ela falava, eu sentia meu coração apertar. – Por
que você fez isso? Fora que eu nem deveria estar falando com você pra proteger
minha amiga, só não acho justo, já que você também é meu amigo.
- Nics, eu...
Então fomos interrompidos por seis pessoas completamente descontroladas. Harry
carregava Thay de cavalinho, Jones carregava Jojo e Wills, Julie. Os três, com as
garotas nas costas, corriam apostando uma corrida até o estacionamento e, ao
passarem por nós, quase nos derrubaram.
- TROUXAS! – Nics gritou, gargalhando. Ela deu um soquinho no meu braço. – Deixa
essa conversa para depois, agora vamos cavalinho porque quero brincar também.
Então Nicole pulou nas minhas costas e fomos correndo atrás dos outros. Ter
conversado com ela, mesmo que por pouco tempo, me fez muito bem. Ela me fazia fazia
sentir bem. É claro que eu e Nics não pegamos primeiro lugar na super corrida, mas
também não ficamos por último. Harry e Thay haviam ganho. Entramos na mini-van e o
caminho até o hotel foi o mais completo silêncio, ninguém nem conseguia dizer nada,
estávamos todos muito cansados - do show, da adrenalina, da própria viagem em si,
que é cansativa. Chegamos ao hotel depois de alguns minutos, nos despedimos e cada
um foi para seu respectivo quarto.
- Noite doida, hein? – ele disse, tirando os sapatos para dormir. – Se todos os
shows da turnê forem assim precisaremos de mais energia do que temos.
- Porra, doida é pouco. – tirei meus tênis, a camisa e a calça, ficando só de samba
canção. - Não consigo encontrar um adjetivo para descrever o que eu senti hoje.
- Ainda mais com a música da Thay, né? – confirmei. De repente me lembrei de uma
coisa.
- Wills, você sabe que eu entrarei com uma música nova a cada show da turnê, não
sabe? – ele assentiu. – Dá uma olhada na que eu tenho pro próximo.
Pulei da cama, fui até a minha mochila e tirei de lá de dentro um caderno do Star
Wars, meu filme favorito. Podem zoar, nem to ligando. Folheei até encontrar a
página que eu queria.
- Sorry’s not good enough. – Wills leu o título da música e continuou com a
leitura. Parou em uma determinada parte e a leu para mim:
“Don't stop all those things you do, I'm a believer and that's what gets you
through.” (Não pare todas essas coisas que você faz, eu sou um "acreditador" e isso
é o que te faz continuar...)
- Gostei muito, cara. – disse, por fim. – Você já tem os acordes, melodia pronta, e
afins?
- É claro, Wills. – peguei o caderno da mão dele e joguei na minha cama. – Eu venho
trabalhando nisso desde muito tempo atrás, só não sabia que eu teria que usar com
esses propósitos. – sorri, meio sem graça.
- Você sabe que é um babaca, não sabe? – confirmei com a cabeça. Peguei uma caneta
dentro da mochila, sentei na cama e dei total atenção a uma letra que estava
inacabada.

“So won't you show me your love devotion? To heal my aching heart, It's like a
neutron bomb explosion…”

Faltava alguma coisa. O que rima com heart? Pensa Codys. Batia a caneta na minha
cabeça como se isso fosse me ajudar a finalizar o verso. Apart.
“... tearing us me apart.”
Perfeito. Sorri satisfeito com o resultado. Wills já roncava ao meu lado. Olhei
para o relógio. 02h10min AM. Wow, era melhor eu dormir. Levantei da cama novamente,
apaguei a luz, guardei meu caderno na mochila e me joguei na cama, pronto para uma
curta – porém satisfatória – noite de sono.

x x x
Parecia que eu havia dormido uma hora, no mínimo. Enganei-me muito feio quando
disse que a noite seria satisfatória. Satisfatória my ass, precisava dormir no
mínimo mais umas cinco horas. Joguei um travesseiro na cara do Wills, porque aquele
cara não acordava de jeito algum com o despertador. Era sempre a mesma coisa. Eu
acordava, resmungava, reclamava, fazia birra e o Wills nem se mexia. Aí chegava o
momento que eu precisava mesmo levantar, então para me sentir menos mal, acordava o
Wills e ele sofria junto comigo. Amigo é pra essas coisas.
- Caralho Codys, que porra. – ele reclamou, enquanto esfregava seus olhos as mãos.
– Que horas são? Cinco da madrugada? – soltei uma risada debochada.
- Antes fosse, dude. São nove já. Precisamos sair do hotel e ir pro trailer, amanhã
a gente toca em Sheffield. – guardei umas roupas que estavam no chão dentro da
minha mala. – Ao menos hoje o dia é parcialmente livre, temos umas duas
entrevistas, mas acho que é só.
- Entrevista? – ele enterrou o rosto no travesseiro. – Mas eu nem acordei.
- Anda Wills, daqui a pouco a Chelle baixa aí e eu que não vou ficar aqui vendo
você tomar bronquinha.
Bastou citar o nome da Chelle que Wills levantou em segundos da cama, trocou de
roupa e pegou suas malas.
- Está pronto ou vai demorar mais um pouco? – ele abriu a porta, deu de cara com a
Michelle e olhou pra trás. – Caralho Codys, como você enrola. Desculpa a demora
Chelle, eu estou há horas tentando acordar esse cara e ele nem se mexe.
- Se eu não te conhecesse Jones, diria que está falando a verdade, mas como não é o
caso...
Peguei minha mala do chão e ri da cara dele. Ele deu risada.
- Otário. – disse ao passar por ele. – ‘Vambora.
Quando descemos, todos já estavam no saguão com as respectivas malas. Thay
conversava com Julie, e Nics com Joanna, as quatro pareciam muito felizes.
- Acordou, dorminhoco? – Nics foi até Wills e deu um beijo na bochecha, que a
abraçou. Aproveitei o momento e sorri pra Thalita, que virou a cara pra mim. Vai
imbecil, toma na cara mesmo. Pra aprender.
- Todos estão aqui, certo? – Michelle perguntou, dando uma geral pelo saguão. – Não
quero deixar ninguém pra trás.
- Acho que deixamos sim alguém pra trás. – disse Julie.
- Quem? – perguntei.
- Os gatos dos caras do NSN.
É claro que eu e os caras nem comentamos essa infeliz fala da Julie. Às vezes ela
conseguia tirar todo mundo do sério e ser extremamente inconveniente. Fechei a
cara, lógico.
- Nossa! Vocês não sabem brincar mesmo, hein? Credo! Tomem um chá de camomila, ou
sei lá. Estressadinhos.
Deixei passar. Entramos no trailer e antes que alguém pudesse falar qualquer coisa,
Wills correu para o quarto e de lá não saiu mais. Era um urso mesmo.
- Otário. – repeti, com a voz num tom que só eu mesmo pude ouvir.

Thalita’s POV
Era mais do que óbvio que ter ouvido aquela música no show de ontem tinha mudado
muita coisa dentro de mim, mas não o suficiente pra eu querer ouvir a letra sem
melodia. Não o suficiente pra eu ouvir o que ele tinha a dizer. Já estávamos dentro
do trailer a caminho de Sheffield e Wills tinha corrido para o quarto dormir.
Aquele garoto só dormia. Olhei para os lados e a galera realmente estava acabada.
Jones escrevia em um caderno, Codys fazia a mesma coisa, Harry dormia encostado no
ombro de Julie e Joanna estava sentada me olhando, enquanto eu fingia que não
percebia.
- Codys? – ouvi Jones sussurrando. – Me fala uma palavra que rima do “eyes.”
- Fly? – Codys arriscou, Jones olhou para o caderno e balançou a cabeça. – My? Shy?
Try? – mais negações vindas de Fletcher. – Porra cara, sei lá então, tá querendo
demais.
- Que tal die? – arrisquei, me intrometendo na conversa. - Meio mórbido, eu sei,
mas vai que encaixa aí no que você precisa.
Jones olhou para o caderno e assentiu feliz. Veio até mim, me abraçou com força e
por fim voltou para seu lugar.
- Die, perfeito. – e voltou a escrever. Soltei uma risadinha abafada pela expressão
de frustração no rosto de Codys. Jones conseguiu finalizar a música e Jojo havia
dormido. Quando me dei conta, só eu e Codys estávamos acordados, me deixando um
pouco desconfortável. Pelo que parecia, ele não havia percebido, pois ainda
escrevia freneticamente naquele caderno do Star Wars, que eu sabia que era de
músicas. Um dia, na casa dele (ele tinha ido tomar banho), deu tempo de dar uma
espiadinha rápida. Ele desviou a atenção do caderno para mim, que fui pega no
flagra encarando.
- Gostou da música de ontem? – ele fechou o caderno rapidamente quando percebeu que
eu estava interessada em saber o que tinha ali.
- Sim.
- Eu achei que pequei um pouco na letra. Não ficou tão boa quanto as suas, mas...
Tive que o interromper, não me aguentei.
- A letra é perfeita, Codys. Vocês nem precisam de mim como compositora, o que me
preocupa muito. – dei de ombros, minha voz havia saído meio rouca.
- Lógico que precisamos. McFly não seria o que é se não fosse por você, e você sabe
disso. – ele deu um daqueles sorrisos que aumentavam o ritmo do meu coração.
Eu voltei à realidade e confirmei com a cabeça, dando atenção total às minhas
cutículas.
- Sabe Thay, eu vou respeitar o seu tempo. – prestei atenção no que ele dizia sem
desviar os olhos dos meus dedos. – Vou mesmo.
Quis socar aquele rosto que parecia ter sido esculpido por deuses. Quis falar
palavrões e xingar Codys de todos os nomes feios que vinham em minha mente. Quis
fugir dali e voltar pra casa, porque era mais do que óbvio que eu não seria forte o
bastante pra mais um momento daqueles. Ao invés de fazer qualquer uma dessas
coisas, eu respirei fundo, contei até 5, fitei aqueles olhos brilhantes e disse
apenas “Obrigada.” Virei para o lado e passei a encarar a paisagem que passava
enquanto o trailer se movimentava. Comecei a relembrar as últimas semanas com Codys
e percebi que minha raiva por ele não era só pela traição. Era pelo seu desdém, sua
frieza. Ele andava agindo como se fossemos amiguinhos de escola e eu estava mais do
que puta com aquela situação toda. Encostei minha cabeça no braço e acabei pegando
no sono.

Capítulo 07.
Aquilo que não convém.

- Não adianta Wills, você não é um animal, eu já te disse! – Nics gritava.


- Então eu sou um ator, porra!
- ISSO! – Julie gritou. .
- Meu Deus, como vocês gritam.
Me espreguicei e fiz uma análise da situação dos meus amigos naquele exato momento.
Wills, com uma carta escrita “JIM CARREY” colada na testa. Julie bebendo
diretamente de uma garrafa de tequila, que só de olhar fez a minha garganta arder.
Jones estava completamente bêbado e dava em cima de Joanna sem pudor algum, o que
me fez rir. Harry estava dormindo no meu colo e Codys ao lado de Julie, também com
uma garrafa na mão, só que de vodka.
- E mesmo assim vocês demoram horas pra acordar! Olha o Harry, ainda babando no seu
colo. – Julie ria, sem ao menos o ter sido engraçado o que disse.
- Ei baby, já sabe quem você é? – Nics perguntou para Wills. Baby? Quanto tempo eu
dormi, afinal?
- Eu sou um sapo! – ele respondeu.
- Mas que merda Wills, já disse que você NÃO é um animal! Desisto. – ela se deu por
vencida e se jogou em cima dele. Eu estava dormindo ainda ou eles estavam se
pegando na frente de todo mundo? Get a room. – Tá todo mundo bêbado nesse lugar? –
eu perguntei e ninguém me respondeu, o que me levou a acordar o Harry.
- Harry? – cutuquei. – Harry?
Ele acordou, me encarando com aquela cara amassada. Fiquei feliz de tê-lo naquele
momento, sóbrio, babando no meu colo. - Oi Thay, aconteceu alguma coisa? Acho que
dormi demais. – ele esfregou os olhos. – Por que o trailer está parado?
Boa pergunta. Eu estava tão desnorteada que nem havia percebido que o trailer tinha
parado de andar. Me movi e Harry se levantou.
- Vamos lá fora comigo ver o que aconteceu. – Ao levantar, ele percebeu que Wills e
Nics se beijavam com vontade deitados no chão e de repente acordou por completo.
- Mas que porr...
- Pois é. – eu ri e o abracei de lado. – Vamos lá.
Desci do trailer com Harry e, pelo que parecia, estávamos em um acampamento para
trailers. Isso não era tipo, perigoso? Olhei para os lados e vi Chelle e Johnny
conversando sentados em duas cadeiras.
- Ei, o que houve? Vamos passar a noite aqui? – Harry perguntou, me abraçando ainda
mais devido ao frio que fazia. Fiquei grata por aquilo.
- Um pequeno problema no motor, mas daqui a pouco o mecânico chega. – Johnny
respondeu. – Seus amigos estão mais pra lá do que pra cá, nem repararam que o
trailer havia parado. Também não quis acordar vocês dois, estavam dormindo muito
bem. Para não pegarmos estrada de madrugada, achamos melhor acamparmos por aqui
mesmo e amanhã bem cedinho continuamos nossa rota. - Esse era Johnny, todo
preocupado.
- Tudo bem, John. – eu disse sorridente. – Um pouco de ar livre faz bem às vezes,
certo?
- Com certeza, senhorita.
- Ei Thay, tenho uma ideia. Vamos dar uma volta por aí? Faz tempo que não
conversamos só eu e você. – ele sugeriu.
- Adorei! – abri um sorriso ainda maior do que o anterior.
- Tenham cuidado vocês dois. Qualquer coisa, liguem. – disse a preocupada Michelle.
– Não quero perder dois membros importantes para que eu receba salário no fim do
mês.
- Pode deixar que o seu salário vai durar muito tempo ainda, Chelle. – Harry
respondeu.
E então nós nos afastamos deles aos poucos. Harry, ainda abraçado comigo, às vezes
me lançava um certo olhar para que eu desembestasse a falar logo. Ele me conhecia
mais do que eu mesma e estava mais do que na cara que eu precisava conversar com
alguém. Paramos de andar e ele se colocou na minha frente, me encarando.
- Fala, Thay.
- O que, Juddy?
- Primeiro: para me chamar disso, faz eu parecer um gay. – soltei uma risada
abafada – Segundo: eu te conheço, Thalita. Sei que tem alguma coisa pra me falar.
- É, hm...
É claro que eu tentei pensar em qualquer coisa pra dizer que não fosse a verdade,
mas eu conhecia a figura do Judd e ele não me deixaria em paz até ter certeza que
eu estava falando a verdade.
- Hm, hm. – ele me imitou, me fazendo rir.
- Sabe, eu ando meio perdida. – comecei.
- Perdida? Como assim?
- Perdida, ué. Eu... Eu estou com uma coisa aqui. – passei a mão pela minha
garganta e em seguida no coração.
- É normal, né?
- Como assim, Juddy?
- Ah Thalita, você foi traída. – ouch. Ouvir esse fato vindo dele fazia a situação
toda parecer mais real. – Mas cara, não é o fim do mundo. Você já ouviu o que ele
tem a dizer?
Neguei.
- Então, da uma chance pro coitado, você não vai morrer.
- Não é questão disso. – bufei. – A questão é que ouvir o que realmente aconteceu
só vai piorar as coisas, porque eu vou ter certeza que ele não só me traiu, como
fez todas as outras coisas que eu tinha pedido, se não implorado pra ele não fazer.
Convenhamos Harry, ele estava chapado.
Ele sorriu pra mim e me puxou para sentar em um banco que tinha ali por perto. -
Todos estávamos, mas ele exagerou. Thalita, fugir da situação não vai fazê-la ficar
mais fácil de encarar. – confessou. – A Joanna competia com ele pra saber quem
estava pior, eles não faziam idéia do que estavam fazendo, linda. – ele disse,
tirando do meu rosto uma mecha de cabelo que havia grudado devido ao frio. Senti
uma lágrima escorrendo pela minha bochecha e ele limpou com o dedão.
- Quando eu fico perto deles, eu... – engoli em seco. – Eu os imagino... Em uma
cama qualquer. Uma melhor amiga transando com o meu namorado. – e as lágrimas
tornaram-se constantes. – Fora que ele foi um cuzão com o Jones também, que está na
cara que está extremamente gamado na Jojo.
- Também pensei nisso. – ele declarou, com pena no olhar.
- Sabe, esse tempo todo... – enxuguei as lágrimas – Eu imaginei o Codys como alguém
que nunca pudesse me machucar. É idiota, infantil, eu sei. O problema... Quer
dizer, sei lá se é um problema, mas o fato é que eu confiava nele demais. E
agora...
- Parece que você não sabe mais quem ele é. – ele finalizou a minha frase e eu
concordei com a cabeça. – Eu te entendo.
- Então sei lá, não menosprezem minha dor, não me chamem de fraca. – pedi. – Eu
estou lidando com essa situação da única maneira que eu sei.
- Vem cá.
Então ele me abraçou. O abraço foi tão bom que eu decidi que não queria mais sair
dali tão cedo. Decidi que congelaria aquele momento até estar pronta pra fazer
qualquer coisa a respeito daquele tal fato. Harry encostou seu nariz no meu e eu
senti uma coisa engraçada na barriga, mas ignorei. Nossos lábios estavam muito
próximos e eu conseguia ouvir sua respiração mudando de ritmo. Ele era meu melhor
amigo, seria ridículo.
- Vamos voltar, Juddy? – arrisquei, quebrando aquele momento embaraçoso. Ele
pareceu, assim como eu, ter percebido o clima estranho que tinha se formado entre
nós. – Está ficando meio tarde, não está?
- É, melhor voltarmos. – se afastou e sorriu nervoso. – Ma lady? – levantou do
banco e sorriu, estendendo a mão para que eu o acompanhasse. Sorri para ele e
caminhamos em silêncio até o trailer, um silêncio um pouco constrangedor, eu diria.
O jeito que eu vou falar provavelmente não é a melhor maneira mais “direita” de
dizer, mas é o que melhor descreve. De repente, uma tensão sexual dominou a
atmosfera que nos rodeava. Tratei de correr pra dentro do trailer quando chegamos e
não troquei mais nenhuma palavra com Harry. Fui pega de surpresa. Aquilo era novo e
completamente desnecessário.

Capítulo 08.
Confusão.

- Onde vocês estavam? Posso saber? – perguntou uma Julie um tanto quanto bêbada. –
Harry, Harry... Eu procurei por você por todo o trailer, meu amor.
Meu amor? Sério, eu não estava entendendo mais nada que acontecia com meus amigos.
Vamos fazer uma pequena retrospectiva. Em primeiro lugar, Codys e Joanna. Depois
Wills e Nics. Aí Harry e eu. E então Harry e Julie. Is this real life?
- E ai cara! – Codys versão bêbada disse. – Estava fazendo o que com a minha mulher
lá fora, hein? – franzi o cenho. Mulher dele? Ele estava falando de mim?
- Fomos dar uma volta e vocês dois precisam de um banho. – Harry disse e eu não
pude concordar mais, os dois fediam a álcool.
- Um banho juntos? – Julie fez bico. – Mas eu não quero o Codys, Harry. Eu quer...
Ela parou de falar e vocês já conseguem imaginar o que veio em seguida. Um belo de
um vômito. Senti o cheiro forte subindo.
- Eu vou ter que cuidar disso, não vou? – virei os olhos, vendo o estado em que a
minha amiga se encontrava. – Cuida do Codys, eu cuido da Julie.
Peguei Julie pelo braço e fui até o banheiro do trailer colocá-la embaixo da água
fria.
- Abusou, hein amiga? – ela riu.
- É. – ela respondeu com o sorriso meio fraco. - Com certeza abusei.
- Acontece.
- É que eu tava tão entediada. – eu ri.
- Agora que você tá melhorzinha, se enxuga e vá dormir.
Saí do banheiro, encostando a porta atrás de mim. Dei uma última olhada para Julie,
para ter certeza de que ela estaria bem ali sozinha. Passei pela sala e lá estava
Codys, Harry, Jones, Wills e, é claro, Nics. Meus olhos encontraram os vermelhos de
Codys.
- Thay linda, você veio nos fazer companhia? – Codys me chamava pra dormir com ele
no sofá. Harry ocupava o outro, enquanto Wills e Nics dormiam em um colchão no
chão. Jones dormia de uma maneira um tanto quanto desconfortável em uma poltrona.
Varri o lugar com os olhos a procura de um lugar para dormir. Com Codys era claro
que eu não iria. Wills e Nics não gostariam de um candelabro em meio a eles. Havia
uma poltrona livre, mas não queria mesmo ficar ali, isso me levou a olhar pra
Harry. Ele me olhou por um instante e depois sorriu, puxando a coberta para baixo e
depois abriu os braços para que eu me acomodasse por ali. Sem pensar duas vezes,
tirei meu all star e em seguida minha calça jeans, ficando apenas de calcinha e
camiseta. Todos ali dentro faziam parte da minha família, então não tinha por que
ter vergonha. Encaixei-me nos braços de Harry e ele me abraçou de uma maneira que
eu fiquei de costas para ele, estilo conchinha.
- Tá bom assim pra você? – ele me perguntou, com o rosto na minha nuca. Senti um
arrepio e fiz que sim com a cabeça, tentando não me mover muito.
- Tá ótimo.
A respiração dele estava forte e eu consegui sentir a mudança de ritmo quando me
movi um pouco. Ri para mim mesma.
- Boa noite, Thay.
- Boa noite, Juddy.
Alguns minutos passaram e eu ainda não havia conseguido dormir. Me virei um pouco.
- Tá acordada? – ele me perguntou, com a voz rouca.
- Uhum. – resmunguei.
- Também não consegue dormir? – virei para que ficássemos de frente um para o
outro.
- Não. – minha cabeça doía de sono e meus olhos estavam pesados.
- O frio aqui é pior do que em Londres.
- Também achei. – olhei para a coberta e a apertei mais contra mim.
- Quer saber de um segredo? – ele me perguntou, respondi com os olhos que sim.
– Promete não contar pra ninguém, chatona?
- Prometo. – ri baixinho.
- Às vezes, quando eu não consigo dormir, eu fecho os olhos e imagino como teria
sido aquele dia se eu tivesse agido diferente, mesmo se tudo que aconteceu tivesse
sido da maneira que eu desejava. – ele disse, depois de tirar uma mecha de cabelo
que estava atrapalhando minha visão.
- Obrigada. O que está imaginando, agora? Quer dizer, você não consegue dormir e...
- Sei lá. – ele respondeu, sorrindo. Respirou fundo e mais uma vez eu virei de
costas para ele.
- Thalita?
- Sim?
- Obrigado por estar comigo em todos os momentos.
Virei mais uma vez e beijei a testa dele. Sorrimos um para o outro e finalmente,
consegui pegar no sono. Pelo silêncio que se formou um pouco antes que eu apagasse,
ele também.

x x x
Abri os olhos com o sol batendo no meu rosto e o barulho da estrada.
- Pensei que nunca fossem acordar. – ouvi uma voz familiar. Codys. Bufando.
- Minha cabeça está me matando. – disse Nics, com um copo de café na mão.
- A SUA cabeça? – Wills estava completamente despenteado, apertando seu rosto com
as duas mãos. – Eu nem tenho mais cabeça.
- Ninguém mandou. – rebateu Joanna, que estava completamente bem disposta.
- Que horas são? – perguntei.
- Quase uma. – Jones disse. Estava sentado no chão. – Daqui a pouco chegamos em
Sheffield. Lembrando que o nosso show é às seis da tarde.
- SEIS? – Harry, afobado, levantou e acabou me empurrando pro chão, me fazendo cair
em cima de Jones. Todos nós rimos.
- É, a gente vai curar a ressaca com mais cerveja, galera.
- Vodka pro Codys. – corrigi.
- E tequila pra Julie. – Harry complementou.
– Caras, vocês precisavam ter visto Julie e Codys ontem. Estavam hilários.
- Eu dormi cedo. – Joanna rebateu. – Desisti de ficar presente quando vi Wills e
Nics rolando pelo chão do trailer. - Nics olhou pra mim e escondeu o rosto com as
duas mãos, rindo. Wills deu de ombros e abraçou minha amiga, que estava
completamente corada.
- Acontece. – Wills defendeu.
- Cara, quando a Michelle ver o estado de vocês...
Eu e minha boca maldita.
- Alguém pode me explicar o que é isso? – Chelle saiu da cabine de motorista
naquele exato momento, com as mãos na cintura, segurando duas garrafas de tequila.
- Acho que isso pertence a Julie. – Wills respondeu e todos gargalharam.
- Não vejo a mínima graça. Quando vocês vão parar de agir como adolescentes mimados
e perceber que isso é importante?
Sabia que isso aconteceria. Michelle não era fácil, mas os garotos com certeza
davam brecha.
- Eu entendo que as amigas de vocês estão aqui, mas isso não é férias. – ela andava
pelo corredor do trailer com um saco de lixo, recolhendo a sujeira de ontem à
noite. – Isso é trabalho. – deu um nó no saco e voltou a encarar meus amigos, um
por um.
- Se vocês não quiserem isso realmente, me avisem, eu estarei ali cuidando da
carreira de vocês. – então ela foi mais uma vez até a cabine de motorista.
- Essa doeu. – disse Jones, fazendo cara de dor.
- Ela pegou pesado dessa vez. – Harry disse.
- Vocês pegaram pesado dessa vez, meninos. – Joanna disse, fitando o chão.
- Devem pedir desculpas à ela antes do show. – eu olhei para Codys.
- Thalita tem razão.
- É, quando chegarmos no hotel falamos com ela, agora não adianta.
- Ela é meio que nossa mãe, não é?
E os meninos começaram a conversar sobre o quando Michelle era importante na vida
deles. Nem Johnny, o motorista, escapou dos elogios dos McGuys. Eu encostei na
janela do trailer, vendo a entrada da cidade de Sheffield. Nics me abraçou.
- E aí Srta Willy. – eu disse, sorrindo com os lábios juntos.
- E aí, garota.
- A noite foi boa pra você? – eu perguntei me fazendo de desentendida.
- Se eu me lembrasse de tudo, gostaria mais.
- Você só me da orgulho, Nicole.
- Eu sei. – ela respondeu, ficando mais uma vez corada.
Eu queria contar sobre o que tinha acontecido ontem com Harry, mas achei que ela
não entenderia. Até porque, nem eu entendia. Decidi que o melhor a ser feito, era
esquecer completamente.
- Você está bem, Thalita? Parece distante. - Eu até ia responder, mas desisti
quando o trailer parou.
- Chegamos! – ouvi Wills gritando e, quando meus olhos o fitaram, vi o mesmo
correndo de um lado para o outro no corredor do trailer, fazendo a amiga que estava
ao meu lado rir.
Saímos do trailer e entramos no hotel. Mais uma vez Chelle e Johnny faziam o check-
in enquanto esperávamos no saguão.
- Ei, querem ouvir uma piada? – Wills perguntou, enquanto brincava com uma bolinha
de papel que tinha achado no chão.
- Não. – Julie respondeu. A garota estava de mau humor desde a hora que acordara.
- Ei, caras.
- Fala, Wills.
- Ei, caras! – ele repetiu, Codys bufou e respondeu mais uma vez.
- Que foi, Wills?
- EI, CARAS! – Harry levantou da poltrona, pegou uma almofada e jogou na cara de
Wills.
- Na boa? Cala a boca.
- Por que vocês estão tão mal humorados? A gente tem um show pra fazer hoje.
- Não é porque temos um show que a ressaca vai embora e a gente tem que aguentar a
sua versão da laranja irritante. – Jones respondeu, rindo.
- Ei, caras.
Todos olharam pra Wills com raiva.
- Calma! Eu só ia dizer que a Chelle já acabou de falar com a recepcionista, vamos
lá?
Os garotos levantaram do sofá e foram falar com Michelle. Eu, Nics, Joanna e Julie
ficamos por ali mesmo, esperando eles voltarem. Nos entreolhamos e eu dei de
ombros.

Codys’s POV
Deixamos as meninas sentadas nos sofás e fomos até Michelle levar aquele papo
cabeça que deveríamos levar. Eu estava em primeiro da fila, mas me atrasei um pouco
para que Wills passasse, ele passou e empurrou Jones na frente, que empurrou Harry,
que foi pra trás e claro, me empurrou.
- Chelle? – disse, apreensivo. – Nós queremos levar um papo com você.
- É, conversar. – Harry disse.
- Nos desculpar. – completou Jones.
- Não, implorar pelo seu perdão. – confessou Wills.
- É, tipo isso. – conclui.
Michelle riu e passou as mãos pelo cabelo, parecia exausta.
- É claro que eu os perdôo. Peço desculpa por ter sido uma velha chata, mas vocês
precisam de alguém que fale o que é certo ou errado. – ela sorriu. – Querendo ou
não, ainda são crianças.
- Também não exagera vai, a maioria de nós tem 18 anos. – eu disse.
- Você ainda nem fez 18, Poynter, fica na sua. – rebateu Jones.
- Só porque você já fez, não vem querer encher o meu saco.
- Vou ficar quieto. – disse Wills, antes de ser zoado por um de nós. Eu não, claro,
já que era o mais novo e mais aloprado da galera.
- É, olha o outro aí que ainda nem fez 18. – Harry apontou para o amigo, o
censurando.
- Ei! Eu faço esse mês, ok?
- Não importa, você tem a mesma moral que Codys. - Jones cruzou os braços, com um
sorriso de vencedor e maroto no rosto.
- Tá vendo como alguém precisa cuidar de vocês?
Nos olhamos sérios por um momento e acabamos rindo. Ela nos encarou a nos acolheu
em um abraço. Michelle era mãezona mesmo, cuidava da gente quando ficávamos
doentes, nos aconselhava e como podem ter percebido, nos dava bronca quando
necessário. Todos nós tínhamos (sem dúvida alguma) duas mães. E quem disse que a
gente reclamava? A gente adorava.

Capítulo 09.
Desculpa não é bom o bastante.

- Tô querendo ir lá no quarto da Thalita falar com ela. – eu disse pro Wills, que
estava na cama do lado afinando um violão.
- Cala a boca, cara.
- Por quê?
- Porque está muito claro que ela não quer conversar com você ainda, para de
pressionar, assim a garota vai ficar fugindo de você.
- Ela já está fazendo isso. – resmunguei. – E pra você é fácil, que se entendeu com
a Nicole ontem, todo agarrado nos cabelos da coitada. – Wills riu, sem graça.
- Eu sei lá o que me deu, pra falar a verdade. Fora o álcool, né? – eu ri alto.
- É, fora o álcool.
- Tava mais do que na cara que eu gostava dela e ela gostava de mim. Aí eu vi
aquilo tudo como uma oportunidade e BOOM.
- Boom? – perguntei confuso.
- É porra, boom, a gente tava se pegando no chão do trailer.
- Quem no trailer, o que? – Harry e Jones abriram a porta do nosso quarto e
entrarem sem nem ao menos bater.
- E aí, caras! Podem entrar. – brinquei. – A casa é de vocês.
- Valeu aí, Codys. – Harry respondeu, se jogando na minha cama.
- Cadê as garotas? – Wills perguntou.
- Ué, você está pegando uma delas e não sabe onde estão? – Jones disse, recebendo
uma travesseirada na cara. - Ouch.
- Agora a viagem toda vai ser isso? Piadas sobre mim e Nics? – ele olhava assustado
para nós, que concordamos com muita animação e certeza. – Ótimo.
- O papo está bom, mas a gente veio aqui avisar que a Chelle daqui a pouco vai
passar nos quartos para irmos para a van, que por sinal daqui uma hora estará aí
para buscar a gente, precisamos passar o som. – Harry disse, já levantando da cama.
- Uma hora?
- Mas eu nem dormi.
- Pois é galera, eu sei, faz parte. Bora lá, Jones. – ele puxou Jones pelos cabelos
e lá se foram os dois mais uma vez.
- Vai tomar banho primeiro. – Wills disse pra mim.
- Vai você. – rebati.
- Vai você.
- Porra, a gente é um bando de moleque mesmo, tenho que dar razão pra Michelle.
Wills riu e é óbvio que eu perdi a causa, eu sempre perdia, o que era uma grande
injustiça da parte dos meus amigos. Tomei o banho sem reclamar e antes que eu
pudesse sair do banheiro, Wills entrou pelado.
- Que porra é essa? – perguntei, meio assustado, se me permitem dizer. Não que eu
nunca tenha visto Wills sem as boxers, mas que porra era aquela?
- Chelle...daqui a pouco...chega...eu...morto...banho. – ele estava ofegante e já
dentro do chuveiro.
- Michelle daqui a pouco chega e você estará morto se ela te pegar sem ter tomado
banho? É isso?
- É, doido, agora sai do banheiro que isso aqui já tá gay demais.
- MAS FOI VOCÊ QUE ENTROU! – berrei, rindo, antes de fechar a porta atrás de mim.
Abri minha mala e bufei. Tirei de dentro uma calça jeans rasgada, uma blusa preta
de manga curta e um gorro também preto. Peguei uma jaqueta xadrez e um cachecol pra
me aquecer dessa merda de frio que fazia lá fora. Me vesti rapidamente e em
segundos estava pronto, sentado na cama, esperando a noiva. Fui até o banheiro e
bati forte na porta.
- Anda logo, ô noiva!
Para meu espanto, Wills saiu do banheiro já vestido.
- Mas que merd...
- Minha roupa já estava aqui dentro, coloquei antes de você entrar. – ele deu de
ombros. – A Chelle já bateu aqui?
- Ainda não, antes que ela bata, a música inédita de hoje é Sorry’s Not Good
Enough, lembra? Eu li pra você ontem.
- Ah é, não esqueci não. – ele deu um tapinha nas minhas costas.
- Essa você vai tocar na frente comigo.
- O que? Tá louco, cara? Eu nem sei como que é.
- É fácil Wills, você pega rápido, não tem uma música que você não tire na hora,
nem vem dizer o contrário. – enchi um pouco a bola do meu amigo para que ele
aceitasse minha proposta. – Então, posso contar com você? Segunda música do meu
plano de 26 passos.
- VINTE E SEIS PASSOS? – ele parecia surpreso. Por quê? É claro que eu não esperava
ter que usar os 26 passos, mas caso isso fosse necessário, eu estaria disposto.
- É. – respondi, sem dar muito valor para o empenho que seria necessário.
- Você pirou de vez, cara.
- Você diz isso porque sua vida está em perfeita ordem. – roí a unha do meu dedo
médio.
- Sua vida está essa bagunça porque você quis assim, cara, nem vem com esse tipinho
de vítima aí. – passei a roer a unha do dedo indicador. – Mas agora não é hora de
chorar pelo leite derramado, precisamos encontrar a Chelle.
Nesse exato momento, como quem soubesse, Michelle bateu no nosso quarto, abrimos a
porta sorrindo da melhor maneira que pudemos. Ela também já estava pronta para o
show. Sua bolsa, como sempre quase explodindo, estava pendurada no seu braço
direito e seus cabelos arrumados num perfeito coque.
- Estávamos indo até o saguão agora mesmo, Chelle. – Wills disse, arrumando a
jaqueta que estava jogada em seus ombros. – Estamos prontos e você nem precisou dar
um escânda... – pisei no pé dele discretamente. – Ouch Codys, por que pisou no meu
pé?
- Você é patético. – eu disse entre dentes, ainda sorrindo. Chelle percebeu e riu
alto.
- Vocês são uns fofos tentando me agradar, sabia? – ela foi até Wills e apertou
suas bochechas, depois até mim e fez o mesmo. – Mas agora vão até a van porque seus
amiguinhos também estão a caminho. Vou chamar as meninas.
Concordamos e saímos correndo pelos corredores do hotel apostando corrida. Eu
ganhei, claro. Quando se tratava do quesito esportes, eu era o melhor entre eles.
Não querendo me gabar nem nada, sou muito humilde se querem saber. Saímos correndo
do hotel com olhares nos acompanhando (principalmente do gerente) e quando
finalmente estávamos do lado de fora, me dei conta da burrada que tínhamos
cometido. Eu estava no meio de uma multidão e Wills já nem era mais visto.
- Meninas, por favor, me dêem licença, estamos atrasados.
Eu disse, beirando o fracasso. Algumas saiam da frente, outras nem se davam o
trabalho. Perdi meu gorro antes de conseguir entrar na van, seguido de Wills.
- Elas roubaram meu gorro! – eu disse, aflito.- Meu gorro! Eu adorava aquele gorro.
- Vocês são imbecis de saírem pela frente. – Jones me disse, rindo. – Nem se
tocaram, né?
- Óbvio que não. Você realmente acha que se eu tivesse me tocado eu estaria sem meu
gorro favorito nesse exato momento? – era isso, eu estava agindo feito uma criança
e não estava nem aí.
- É só comprar outro gorro, Codys. – Harry deu de ombros.
- Merda. – murmurei. Meu humor melhorou quando quatro garotas entraram na van. Ou
melhor, quando uma garota entrou na van. Thalita.
- Aí eu falei pra ele: você está louco? Elas não podem ser inglesas, com certeza
são americanas. – Julie dizia rindo para Thalita, que também ria com vontade. - O
jeito que ele ficou inconformado foi impagável. – ela finalmente parou de rir e
suspirou, deixando uma onda de prazer liberada pela risada tomar conta do seu
corpo.
- O que é tão engraçado, posso saber? – perguntou Harry.
- É, conta a piada. – eu sorri, olhando pra Thalita. Ela foi até Harry e o abraçou
de lado. Ele a olhou e apertou suas bochechas. Eu nem estava com inveja mesmo.
- Não é nada demais. É só a Julie sendo boba, como sempre. – Joanna respondeu e
recebeu em resposta a língua estirada de Julie.
A mini-van já estava em movimento e todos nós ficamos em silêncio até chegarmos no
Hall Sheffield. Entramos como no primeiro show pelos fundos e dessa vez Wills não
fez menção de reclamar, visto que estávamos tentando (pelo menos durante aquele
dia) agradar Michelle. O diferencial do show de hoje foi que quando chegamos lá
tudo estava calmo e silencioso. Nos dirigimos para o palco calmamente, sem que
ninguém gritasse conosco, nem a Chelle. Mas, sinceramente? Acho que ela teve que se
controlar bastante para isso.
- Vocês têm aproximadamente uma hora pra deixar tudo em ordem, certo? – ela disse,
enquanto as meninas sentavam na ponta do palco, deixando os pés soltos. – Estarei
ali atrás conversando com o responsável pela iluminação se precisarem de mim. E
vocês garotas – ela apontou para as meninas. – tentem não distraí-los muito. –
soltou um risinho fraco e então, sem nem esperar por uma resposta, se foi.
- Olha, acho melhor todo mundo afinar cada um seu instrumento no tom certo, depois
a gente vê a harmonia e arruma os microfones. – sugeriu Harry.
- Concordo, cara. Vamos lá.
O barulho começou. Não falo do som dos instrumentos e sim dos gritos das garotas
que estavam do lado de fora do Hall, que provavelmente tinham nos ouvido passando o
som. Sorri achando graça daquilo tudo e os outros também. Aquilo nos motivava -
motivaria qualquer músico. Passamos os próximos trinta minutos sendo egoístas,
deixando o som de cada instrumento individualmente perfeito. Cada um parou de tocar
e nos encaramos por alguns instantes, assentindo com a cabeça. Os microfones por
fim foram regulados e era hora da passagem geral.
- Qual? – eu perguntei olhando pra Harry, que daria a batida para o início da
música.
- Room on the 3rd floor? – ele perguntou e bateu as baquetas uma nas outras.
- Um, dois. Um, dois, três...
O som começou. Os gritos de fora se tornaram ainda mais altos. A gente se olhava
sorrindo, empolgados e as meninas fingiam ser dançarinas na frente do palco,
fazendo todas a mesma coreografia. Quando por fim a música terminou, elas bateram
palmas e foram nos abraçar. E adivinha quem foi correndo em direção a bateria? Para
minha infelicidade, Thay. Bufei e recebi um abraço caloroso de Julie, que sorria
meio aflita.
- Eu também sinto um pouco de ciúmes. – ela deu de ombros, falando no meu ouvido. –
Nós não temos nada, mas sabe como é... – me soltou e olhou pra Harry e Thalita,
ainda abraçados. – Eu acho que posso gostar dele. Muito.
- Eu sei. – e foi tudo que respondi. Soltei o (a) guitarra, deixando ele encostado
em uma das caixas de som e fui sozinho para o camarim. Eu sei, agi errado e
provavelmente meus amigos ficaram com a maior cara de tacho sem entender nada. Mas
era melhor sair de perto antes que eu agisse de forma imprudente. Abri a porta do
camarim com força, fazendo a mesma voltar e fechar bruscamente.
- Paciência, Codys. – disse baixo para mim mesmo. – Paciência, tem muito chão pela
frente.
Ouvi baterem na porta e em seguida Joanna entrou. Ela sorria, sem deixar os dentes
a mostra.
- Sabe, você tem que procurar se manter mais calmo. – sentou-se no sofá, esticando
as pernas em uma mesinha de centro. – Thay só faltou bater o pé quando você saiu
desse jeito.
Arqueei a sobrancelha.
- Por quê?
- Não sei, mas ela ficou bem irritada. – ela passou as mãos pelos cabelos e depois
fitou meus olhos. – Codys, a gente precisa conversar sobre o que aconteceu.
- Jojo, eu não quero ser chato nem nada, mas tudo que tínhamos pra conversar já
conversamos. – fitei os olhos dela de volta, ela parecia nervosa.
- Praticamente tudo que você fez foi jogar a chave da casa da Thay em cima de mim e
gritar comigo. – seus olhos desgrudaram dos meus e fitaram o chão, perdidos. – Eu
poderia te ajudar a se entender com ela, mas como você quer que isso ocorra sendo
que você se recusa a aceitar o que aconteceu, Becker? Está me tratando como se nada
tivesse acontecido! Eu sei que você tem que esconder alguns fatos por minha causa,
mas...
Ela estava certa, mas eu não daria o braço a torcer, pelo menos não naquela noite,
não naquele momento. Havia mil coisas passando pela minha cabeça, milhões de
maneiras que eu poderia responder aquela garota, mas eu não conseguia. Eu não
poderia dizer a verdade pros meus amigos pra defender ela e, consequentemente, o
sentimento do saco de batatas do Jones.
- Preciso ficar sozinho. Se importa? – foi o máximo que minha garganta conseguiu
expelir. Ela fechou os olhos por um instante, derrotada. Saiu do camarim sem dizer
mais nenhuma palavra.
Abri o frigobar e tirei uma cerveja de lá de dentro. Deixei-a em cima da mesinha de
centro e procurei por um maço de cigarros dentro da minha jaqueta. Tirei um e o
acendi, o colocando na boca para dar uma longa tragada. Ainda com o cigarro na
boca, peguei novamente a cerveja e os troquei de posição. Fiquei revezando até meus
amigos entrarem no camarim. Sem as garotas.
- O que foi aquilo, Codys? – Harry perguntou. Parecia puto.
- Sei lá. – respondi, omitindo um pouco o verdadeiro motivo do meu sumiço.
- A gente ficou preocupado. – Jones me encarou.
- Tá tudo bem, cara? – Wills foi até mim e bateu na minha perna.
- Uhum. – murmurei.
- Então ainda vamos fazer um show sensacional, sem que você desapareça do palco? –
Harry cruzou os braços, me encarando. – As garotas estão lá fora esperando. Os
portões já foram abertos.
Saímos do camarim e fomos andando por um corredorzinho que dava para o palco. Varri
o lugar com meus olhos a procura delas e nada. Nada da Julie, Joanna, Nics, muito
menos da Thalita, que era o rosto que eu mais gostaria de ver. Confesso que fiquei
um pouco decepcionado em entrar para tocar antes de vê-la, mas não iria deixar nada
daquilo atrapalhar meu desempenho no show. Olhei pros meus amigos, que estavam
preparando-se pra entrar no palco e respirei fundo.
- Sorry’s Not Good Enough (2), só pra lembrar. – ressaltei. – Wills conversou com
vocês, certo? Certo, Wills?
Olhei para meu amigo e ele fez aquela cara de:ops. A minha vontade naquele momento
era de pegar um taco de baseball e dar na cara daquele idiota.
- Merda, Wills! Foi mal caras, agora vocês que se virem, preciso que dê certo.
Bufei, nada satisfeito com absolutamente nenhuma das coisas que tinham acabado de
acontecer. Entrei no palco meio desanimado, até que a pude ver. Lá em cima, em um
dos camarotes da casa de show. O que dava bem de frente do palco. Lá estavam elas.
Lá estava ela. Ria da situação toda e segurava um cartaz com a seguinte frase:
MCFLY, LOVE YOU ‘TILL I DIE. (McFly, amo você até morrer). Não consegui evitar
sorrir e olhei para os meus amigos, que sorriram de volta. Lá estavam nossas
garotas. O show já havia começado e nós tocávamos animadamente, até que chegou o
momento em que eu e Wills tocaríamos a música nova para a platéia. Em meio a
gritos, anunciei:
- Essa é uma nova música para aqueles que se arrependem de algo que fizeram. –
gritei, sentindo o suor salgado escorrendo do topo da minha cabeça e tocando meus
lábios. Olhei, entusiasmado – e ao mesmo tempo nervoso – para Wills, dando o sinal
que começaria. O resto dos caras já estavam atrás da cortina, tocando “escondidos”
e muito bem para quem não sabia de nada da música. Não que eu estivesse surpreso,
eles destroem. Então começou. Olhei para cima por alguns instantes e pude ver que
Thalita, antes agitada e sorridente, adquiriu uma expressão dura, impenetrável, e
eu não sabia o que tirar daquilo. Quando a música já estava chegando ao fim, deixei
o (a) guitarra soar um último acorde junto com o de Wills e cantamos juntos, a
capella*.

For you, said you'd never leave me


(Para você, disse que nunca iria me deixar)
Be there to hold and please me
(Esteja lá para me segurar e agradar)
Sorry's just not good enough for you
(Desculpa apenas não é bom o bastante para você)
But everybody makes mistakes and that's just what we do
(Mas todos cometem erros e isso é o que nós fazemos)

Finalizamos a música, que foi muito bem acolhida pelas fãs – e pelo que eu pude
notar pelas nossas amigas igualmente – e nos despedimos com uma última pedida pela
platéia. E, novamente, lá estava ela. O sorriso que antes dançava em seus lábios
não era tão mais despreocupado. Era terno. E me aquecia.

*A capella: termo italiano muito utilizado em partituras. Significa,


aproximadamente, “sem instrumento”.

Capítulo 10.
Com benefícios?

Thalita’s POV

- Mas é sério Thalita. – já dentro do trailer, eu e Nics conversávamos animadas no


único quarto que lá havia. O resto dos meus amigos estavam na salinha vendo um
filme de terror. Nós também estávamos, mas eu precisei ir ao banheiro e a Nics veio
atrás, uma coisa levou a outra e quando me dei conta estávamos no quarto
conversando. Coisa de amiga, sabe como é. – Então é assim que vai ser? Ele vai
tocar uma música nova pra você em todo show da turnê?
Eu soltei uma gargalhada nervosa que saiu bem do fundo da minha garganta.
- Perdeu a cabeça, Nicole ? O Codys não é esse tipo de cara, ele nem ao menos é
romântico assim. – eu fitava o teto do trailer. – Sabe de uma coisa, amiga?
- O que?
Levantei da cama e puxei-a pela mão.
- Está na hora da gente voltar lá pra TV. One, two, Freddy is coming for you...
three, four, better lock your door... (Um, dois, Freddy está vindo para você… três,
quarto, melhor trancar sua porta). – cantei a música do filme ‘A hora do pesadelo’
que assistíamos, e eu fiz isso porque sabia que ela odiaria.
- Quer parar de cantar essa música assustadora? – ela me empurrou. – Freddy Krueger
me dá arrepios. – eu ri num tom debochado. – É sério, garota.
Saímos do quarto e rumamos em direção a “sala”. Harry estava deitado em um colchão
sozinho, onde eu estava antes de levantar. Wills em um sofá com Nics, que nem
esperou o filme ser pausado e já passou por cima de todo mundo pra deitar com ele
novamente. Julie estava com Codys no outro sofá. Joanna estava em uma poltrona e
Jones em outra.
- Senta logo Thay, tá atrapalhando. – Jones disse, compenetrado.
Fui até meu lugar no colchão ao lado de Harry e me deitei. Ele passou os braços por
baixo de mim, me trazendo para mais próximo de si e eu deitei no peitoral do mesmo.
Começou a me fazer cafuné e mais uma vez uma coisa estranha aconteceu. Os pêlos da
minha nuca se eriçaram. Tentei fazer com que aquilo fosse embora, mas foi
completamente em vão. Quando me dei conta, eu não estava prestando atenção no
filme, só na minha respiração e na de Harry, que parecia cada segundo que passava
ficar mais intensa. Senti um calafrio e puxei a coberta, que antes estava em nossos
pés, para mim, cobrindo nós dois. Estava imaginando desenhos animados, minha mãe,
meu irmão, quando de repente senti sua mão deslizando devagar pelas minhas costas
por fora do meu moletom. Sem me mover, chequei se minhas costas estavam cobertas (e
estavam), fazendo eu me sentir menos “nervosa”. O que era aquilo, afinal? O trailer
estava completamente escuro, todos estavam vendo filme e eu estava com meu melhor
amigo sentindo coisas estranhas. Foi no meio desses meus pensamentos, que senti a
mão de Harry em contato com a minha pele por baixo do moletom e também da blusa.
Seus dedos dançavam - subiam e desciam sem pudor algum. E eu não me incomodei, fiz
pior, fiz o mesmo. Subi a camiseta dele e passei a ponta dos dedos pela sua
barriga, tirando um suspiro do meu melhor amigo. Vi que ele olhou para o lado e eu
fiz o mesmo. Jones, que antes estava super empolgado com o filme, roncava. Joanna
também. Julie e Codys dormiam encostados um no outro. Wills e Nics se beijavam,
lógico. Eu estava encarando meus amigos, quando senti um hálito quente na minha
orelha.
- O que estamos fazendo? – ele me perguntou, com nervosismo na voz.
Sinceramente, eu não sabia o que responder. Poderia ser carência, ou sei lá o nome
que preferem chamar. Eu não gostava de Harry, nadinha. Eu amava Codys. Só que, de
uma hora para outra, me senti desejando meu melhor amigo. E não era um desejo
sentimental, não. Era carnal. Era pele com pele. Corpo com corpo. Boca com boca.
Mordi meu lábio inferior e suspirei.
- Melhor eu sair daqui. – falei baixinho.
- Não Thalita, fica.
Ele deslizou os dedos, que antes estavam nas minhas costas, para minha barriga e
ficou me fazendo carinho por baixo da blusa. Brincou com o cós da minha calça por
um momento e depois subiu os dedos mais uma vez. Meu coração estava acelerado,
dando a impressão de que o som das batidas acordaria qualquer um que estivesse no
sono mais pesado. Ele me olhou fixamente. Nossos olhares explodiam vontade. Decidi
fechá-los para que aquilo pudesse ir embora e senti os lábios de Harry em minha
testa. Abri os olhos, ele sorriu, me fazendo sorrir também. Novamente, ele beijou
meu nariz e me encarou. Sorri de novo, ele também. Então ele beijou minha bochecha,
me fazendo soltar um risinho abafado. Eu também beijei a bochecha dele. Em resposta
ele beijou meu queixo e quanto me dei conta, estávamos envolvidos em um beijo
calmo, porém urgente. Separei-me rapidamente, dando um pulo do chão e tirando a
atenção de Wills e Nics deles mesmos.
- Ei Thay, o que foi?
Minhas mãos tremiam.
- Assustei com o filme, só isso.
Nics fitou a TV e arqueou as sobrancelhas.
- Mas o filme já acabou, Thalita.
- É, mas... – e agora, como eu sairia dessa? Olhei para Harry pedindo por socorro.
- Eu fiquei cantando a musiquinha do Krueger quando ela estava quase dormindo. –
ele passou as mãos pelos cabelos, quase tão nervoso quanto eu. – Aí ela pulou.
- Entendi. – ela acreditou. – Falei Thalita, essa música é apavorante. – soltou um
risinho. – E você discordando.
- É. Eu sou uma boba, mesmo. – olhei para Harry, que sorriu para mim. – Eu sou uma
boba.
x x x

- Já estamos em Manchester? – Jones perguntou para Wills, enquanto o mesmo devorava


um pedaço de pizza em um restaurante que paramos no meio da estrada. – É pra lá que
estamos indo, não é?
- É, cabeção. – Harry respondeu com a boa cheia e bateu na cabeça de Jones, rindo.
- Não fala assim comigo, não tenho culpa de não saber. – e assim voltou atenção
total a sua pizza.
Eu e as meninas estávamos em uma mesa ao lado. Comíamos em silêncio, ao contrário
dos nossos amigos escandalosos. Eu observava Harry. Desde a noite passada nossas
conversas não tinham durado mais de dois minutos, e esperava (realmente) que nenhum
dos nossos amigos tivesse percebido isso.
- Ei Jones. – pude ouvir Wills sussurrando. – E aquela música lá... que você estava
escreven...
- Cala a boca, Wills. – ele censurou o amigo, também aos sussurros. Eu olhava
fixamente para meu prato, fingindo que não estava ouvindo e muito menos interessada
no assunto. – E sim, eu terminei.
- A gente pode ver como a músi...
- Cala a boca, Wills. – Jones o censurou de novo. – Aqui não é o lugar certo de
falar sobre isso, ok? Vê se fica quieto.
De canto de olhar, pude ver Wills cruzando os braços protestante, fazendo meus
amigos rirem. Pra quem Jones havia feito uma música? Joanna talvez. Desviei minha
atenção para o copo de suco, que estava em minha frente, e bebi um pouco. Nics me
encarava.
- E aí, Thay. Tudo bem? Você parece distante.
Joanna brincava com a pizza do prato com um garfo desinteressada, e Julie
participou da conversa.
- É Thalita, você está tipo, em outro mundo.
- Oi?
Respondi, meio absorta em pensamentos.
- Oi Thay. – Nics sorriu pra mim. – Você está bem?
- Ótima. – sorri. Era verdade, eu estava ótima, só um pouco confusa. Não sabia se
havia chego o momento de contar para minha amiga o que tinha acontecido, muito
menos na frente da Julie. Eu tinha certeza que ela gostava do Harry e mesmo assim
me deixei fazer essa coisa estúpida. Toda essa história fez eu me sentir um tanto
hipócrita, sabe? Não que sexo possa ser comparado com um beijo, ou que gostar possa
ser comparar com um relacionamento sério, mas eu havia traído a minha amiga.
Suspirei e olhei para a mesa ao lado a procura dos olhos de Harry, que por sorte
(ou um pouco de azar) estavam sobre mim. Senti uma onda de calor tomar conta do meu
corpo, fazendo eu tirar um dos casacos que usava.
- Nossa Thay, está com calor? – Nics franziu o cenho, me encarando desconfiada.
- Uhum. – resmunguei. Pendurei o casaco na cadeira em que estava e voltei minha
atenção para a pizza. Desisti de comer e voltei meu olhar para Harry, que, como se
sentisse, também olhou para mim.
- Vou ao banheiro. Alguém sabe onde é? – perguntei, fitando minhas unhas.
- Do lado de fora do restaurante. – Julie me respondeu.
- Ei garotos, estou indo ao banheiro, alguém quer ir também? – perguntei, rezando
para que ninguém aceitasse (fora o Harry).
- Eu vou. – Harry disse de imediato. Mais uma vez o calor tomou conta do meu corpo
e eu pude sentir meu coração batendo mais rápido.
- Vamos então, cabeção.
Demos os braços e antes que saíssemos do restaurante, dei uma checada nas mesas que
havíamos deixado para trás. Ninguém nos olhava. Ninguém. Menos Nics, que me fitava
com um ar de dúvida no olhar e com uma das mãos apoiando a cabeça na mesa. Paramos
na frente do banheiro feminino, que se localizava em um cantinho escondido do tal
lugar.
- Harry? – perguntei, sentindo meu coração explodir e o calor subindo.
- Melhor não falar. – ele colocou o dedo indicador nos meus lábios e aproveitou
para fazer o contorno dos mesmos. Suspirei.
- Calma. – minha voz saiu rouca e antes que ele pudesse me segurar, entrei no
banheiro feminino para checar se alguém estava lá. Percebendo que a barra estava
limpa, saí e o chamei. – Entra, rápido.
Harry entrou e eu tranquei a porta, ficando com as costas encostadas na mesma. Eu
não era eu mesma naquele momento, porque se fosse, não estaria fazendo aquilo.
Harry veio lentamente em minha direção e apoiou os braços um de cada lado do meu
corpo e eu não protestei. Vendo que ele poderia continuar, colou nossos corpos,
pressionando o seu contra o meu. Suspirei com seu toque e, antes que ele pudesse
fazer qualquer outro movimento, passei meus braços pelo seu pescoço e dei um
pequeno pulo para que minhas pernas pudessem se fechar em torno de seu tronco. Ele
segurou meus cabelos com força e os puxou para trás, deixando meu pescoço livre
para que pudesse beijá-lo. Senti os pêlos da minha nuca se eriçando e meu
autocontrole indo embora. Ele andou um pouco, comigo ainda em seu colo e me
pressionou contra a parede, fazendo nossos corpos se unirem mais. Deixei um gemido
fraco escapar dos meus lábios. Mordi seu ombro por cima da camiseta enquanto ele
apertava minha cintura.
- Cheg... – não consegui terminar a frase, pois ele voltou a me beijar. – Harry,
chega... – minha voz saia fraca e eu mal conseguia interromper o que estava
acontecendo.
- Você está me enlouquecendo, Thay. – ele soltou minha cintura aos poucos e minhas
pernas se relaxaram, fazendo eu sair do seu colo.
- O que estamos fazendo, Harry? – perguntei, em tom de desespero. – O que é isso?
- Eu não sei. – ele parecia tenso. – Desejo?
- Vontade.
- Necessidade.
Passei a língua pelos meus lábios ainda úmidos e arrumei a alça da minha blusa que
estava fora do lugar. Harry me deu as costas, passando as mãos pelos cabelos e
andando de um lado para o outro.
- Nós somos melhores amigos, não podemos fazer isso. – ele me olhava com desejo. –
Não é certo, mas você...
- O que?
- Eu não sei o que você fez comigo, você me dá vontade de sair por aí quebrando
tudo. – ele me encarava sem piscar. – E eu não te amo.
- Ei! – soltei uma risadinha, como se me sentisse ofendida.
- Boba. Você sabe que eu te amo, mas não desse jeito.
- Eu sei. Eu sinto o mesmo. – me direcionei até a pia e sorri, sentando lá mesmo. –
Me sinto dentro daquele filme do Justin Timberlake.
Ele soltou uma gargalhada alta e concordou fervorosamente.
- Eu também! Juro que eu estava pensando nisso agora mesmo. – ele foi até mim e
selou nossos lábios. – Minha amizade colorida. – bagunçou meus cabelos. - Ei. Temos
que voltar, só estava puxando esse papinho porque meu “amigo” precisava de um tempo
pra espairecer.
Eu tampei meu rosto com as mãos, envergonhada. Olhei pra ele, que estava com cara
de paisagem e gargalhei.
- Vem, vamos embora. – destranquei a porta e saímos juntos do banheiro, rezando
para que ninguém nos visse. Fomos caminhando até o restaurante, onde os nossos
amigos estavam pagando a conta.
- Nossa, que demora! Até tinha esquecido que vocês estavam com a gente. – foi Nics
(claro) a primeira que fez um comentário.
- Harry teve dor de barriga. – respondi de prontidão.
- Dor de barriga? – Wills encarou o amigo. – Fique longe de mim dentro do trailer,
já deixo dito. Quero chegar à nossa próxima cidade ainda cheiroso.
- Cheiro de pum não pega, idiota. – Jones retrucou, fazendo um “L” com o dedo
indicador e polegar. – Aliás, ninguém me disse se estávamos chegando em Manche...
- Nós estamos chegando em Manchester sim, Jones. – Joanna respondeu por fim,
sorrindo para o amigo, que sem nem tentar disfarçar, suspirou só da garota dirigir-
lhe a palavra. Ri baixinho ao lado de Harry, que me abraçou.
Capítulo 11.
Gato mia, bigode e ciúmes.

Sinceramente, eu não fazia ideia do que eu estava fazendo e deixando de fazer. Se


eu fosse parar pra pensar em todas as coisas que eu fiz sem entender, minha vida
seria uma eterna incógnita, o que não é muito bom. Sentada no chão, fitava, dentro
do banheiro, minhas cutículas mal feitas, enquanto meus amigos jogavam algum jogo
de tabuleiro na sala do trailer. Fazia dez minutos que estávamos lá dentro e aquilo
já estava me sufocando. Pensar em Harry como uma distração não era algo que pode se
denominar “saudável”. Ouvi alguém batendo na porta e apertei a descarga sem nem ao
menos ter usado.
- Já estou saindo. – alertei. Fingi lavar as mãos abrindo a torneira e saí, com um
sorriso falso dançando em meus lábios. Era Joanna.
- Me desculpe, não sabia que estava aí.
- Fica tranquila, eu já terminei.
Nossos olhares se cruzaram e, contra minha vontade, percebi dor em seus olhos. No
fundo daqueles olhos azuis de Joanna, havia dor, arrependimento. Eu sentia falta da
minha amiga, mas era tudo muito recente. Eu não conseguia sair daquele lugar, não
conseguia fazer o jogo começar. Meu peão perdeu a largada. Abri a porta
completamente para ela entrar e saí, sem dizer mais nada. Ela fechou a porta e tudo
que eu consegui pensar depois foi em como eu queria ser uma mosquinha pra saber
qual foi a expressão no rosto dela depois que entrou no banheiro. Fechei meus olhos
e respirei fundo, me preparando para entrar naquela sala lotada de amigos que – eu
esperava – que me fizessem mais feliz.
- Olha Jones, assim não dá de jeito algum. – Julie dizia, com o cigarro na boca. –
Se você comprar esse imóvel, você vai foder meu esquema de casas.
- Mas você acabou de destruir o meu comprando o Brooklyn.
Suspirei e me aproximei mais.
- Querem parar de discutir? – Codys dizia. – Joguem logo porque eu quero comprar
meu primeiro hotel.
- Você diz isso porque está ganhando. – Julie revirou os olhos, irritada. Ri
baixinho e ela me notou. – Ei Thay, vem aqui jogar com a gente.
Meus lábios forçaram um sorriso fechado.
- Estou tranquila, Julie. Quem sabe outro dia.
Fui até minha bolsa, que estava encostada em uma das poltronas, e tirei de lá um
caderno do tamanho de uma agenda. A capa, feita a mão e já um pouco destruída,
tinha muitos nomes de bandas, como: The Cure, The Smiths, The Shins, Belle &
Sebastian, Mumford And Sons... E, em meio a tais nomes, muitas letras de músicas.
Não só das citadas, mas muitas outras. Algumas minhas mesmo, outras não. Fitei a
capa por alguns instantes e abri, indo até uma das últimas páginas. Tirei também de
dentro da bolsa uma caneta preta. Encostei-me à poltrona e comecei a escrever.

Just tell myself yourself: I, I'll be ok. Just tell yourself: I, I'll be ok. Won't
you tell yourself?

Ri debochando do meu próprio verso. Batia a caneta na cabeça inúmeras vezes, como
se aquilo fosse me fazer conseguir qualquer coisa a mais do que aquilo. Desisti,
por fim, quando Nics espiou curiosa pelo meu ombro.
- O que você está escrevendo aí? – ela tentava ler, mas fechei o caderno. – Ué,
nunca foi de esconder as letras de mim, por que não me mostra essa?
Tirei dos meus olhos uma mecha de cabelo que pendia e me irritava.
- Eu ainda nem escrevi uma estrofe inteira, é só um verso. – dei de ombros e
guardei o caderno dentro da bolsa antes que ela me fizesse mais perguntas. – Como
está o jogo? Quem está ganhando? – desconversei.
- Thalita Bernardi, o que a senhorita está aprontando? Eu te conheço.
- Nada. – neguei na cara de pau mesmo, não estava afim da Nics me dando sermão,
ainda não. Ela ia encontrar uma maneira de fazer eu me sentir culpada ao extremo e
contar a verdade pra todos os “possivelmente envolvidos” na situação.
- Sei.
- É sério. – insisti na mentira.
- Que seja. Só toma cuidado.
Melhor amiga parece mãe. Você nega uma vez, nega duas, nega três e quantas vezes
você quiser. Mesmo assim ela desconfia, ou melhor, sabe que você está
escondendo/fazendo alguma coisa de errado. Encarei minha amiga, agora encostada no
ombro de Wills, enquanto o mesmo lhe dava beijinhos na testa. Essa cena me fez
sentir uma saudade imensurável do meu (ex)-namorado e eu fechei meus olhos,
tentando fazer com que esse sentimento fosse logo embora.

Codys’s POV

- Será que ela vai ficar irritada se a gente acordá-la? - Julie perguntou para
Nics, olhando pra Thalita, que dormia feito um anjo na poltrona.
- Eu acho melhor esperar chegar. – respondi. – Ela parece tão calma.
- Concordo com o Codys. – Harry disse, se metendo na conversa que ele nem havia
sido chamado. Arqueei uma sobrancelha quando me dei conta dos pensamentos rudes que
estava tendo com meu amigo.
- A gente podia desenhar um bigode nela. – Jones sugeriu. – Com aquelas canetas que
só aparecem no escuro, sabe? – balancei a cabeça em negação.
- Nada disso.
- Por que não, cara? – Harry perguntou, rindo. – Vai ser legal, ela não vai nem
perceber e a gente vai dar umas boas risadas.
- Porque não é legal, só isso. – bufei.
- Tá de TPM, princesa? – Harry foi até mim e bagunçou meu cabelo, me deixando puto.
Tentei disfarçar, mas foi em vão. – Que foi cara? A gente tá só brincando, relaxa.
- Que saco, Harry, não amola. – arrumei meu cabelo e saí de perto deles, entrando
no quarto. O que estava acontecendo comigo? Estava tratando mal as pessoas (lê-se:
Harry) devido a uma provável neurose. Eles eram melhores amigos e os meses que eu
havia passado ao lado da Thalita tinham me mostrado isso. Quer dizer, passamos
muito mais tempo que isso, juntos, mas como namorados bem menos. Senti-me um total
idiota agindo como um perfeito babaca. Abri a porta do quarto e ao me aproximar da
sala senti olhares sendo voltados para mim.
- Foi mal. – disse para Harry, que sorriu.
- Sabia que você ia voltar atrás.
- Você tem sorte que eu ainda te amo, cara. – eu ri e empurrei o ombro dele
devagar.
- Ao menos a gente chegou a Manchester. – Jones espiava com a cabeça pra fora da
janela do trailer. – Finalmente.

x x x
- Por que isso, Deus? – Joanna reclamava, enquanto todos nos estávamos em apenas um
quarto no hotel. Michelle havia se esquecido de fazer as reservas no hotel em
Manchester e depois de pedir um milhão (aproximadamente) de desculpas, ela se
acalmou. – O que eu fiz pra merecer isso? Um quarto com oito pessoas. Great.
- Quer parar de reclamar um pouco, Jojo? – Julie tentava guardar a mala em cima de
um armário que lá tinha. Eu e os caras estávamos sentados no chão, esperando que os
colchões chegassem.
- Que seja. – ela bufou.
- Eu estava esperando que algo assim acontecesse. – Wills olhou malicioso para
Nics, que deu uma risadinha em resposta. Olhei pra Thay e depois para Harry. Eles
trocavam olhares, mas eu não iria ficar criando teorias, não mesmo. Elas iriam me
fazer, no mínimo, muito mal.

- O que vamos fazer nesse fim de tarde e início de noite? – perguntei, tentando
cortar aquilo que estava acontecendo entre Thay e Harry.
- Acho que a gente podia ficar aqui dentro do quarto, pedir comida e jogar alguma
coisa legal. – sugeriu Jones.
- Eu topo. – curti a ideia. – O que sugerem?
- A gente pode brincar de mímica. – Jojo disse, entusiasmada.
- Ah não, nem a pau. – Thay contradisse, negando com a cabeça. – Diz outra coisa
aí, Julie.
- Tenho uma ideia. – disse Wills. – Vamos brincar de gato mia.
- Gato mia? Eu não brinco disso desde quando eu tinha sei lá, dez anos de idade. –
Nics arqueou a sobrancelha. – Mas gostei da ideia.
- Então todos concordam? – Wills sorriu.
- Por mim tudo bem. – respondi. As garotas também concordaram e em poucos minutos
tínhamos nossa programação formada. Lanches, amigos e gato mia. Isso poderia dar
certo.
- Eu peço os lanches! – Thay avisou, pulando em cima das duas camas de casal que
ali estavam para chegar até o telefone. – Vão falando aí.
- X-salada.
- Dois.
- Três.
- X-bacon.
- Dois.
- X-Egg.
- Eca. Um só. – Joanna riu.
- Mais um X-bacon, vai. – disse Nics. – Eu ia pedir só um misto quente, mas a fome
tá forte.
- Certo. – Thay dizia, já com o telefone na orelha. – Quatro x-salada, três x-bacon
e um x-egg. Isso. Uhum. Quanto tempo? Okay. Ah! E duas cocas de dois litros, por
favor. Obrigada.
Ela desligou o telefone e olhou sorridente para Nicole, que estava deitada em uma
das camas de casal com Wills apoiado com a cabeça em suas pernas.
- Até o lanche chegar, o que faremos? Ainda são seis horas da tarde. – Harry disse,
agora com Julie encostada em si. Thay havia se instalado entre Nics e Wills, como
um belo de um candelabro.
- Quem tem alguma música nova pra mostrar? – Wills sorriu malicioso para Jones, que
eu vi ficar desconfortável.
- É, quem? – Jones disse, nervoso. – Thay? Codys?
- Eu não tenho nada ainda, garotos. – Thalita deu de ombros. – A última foi aquela
que eu mostrei antes da gente vir pra cá.
- Eu... – gaguejei. Havia sim, muitas coisas que eu tinha escrito, mas elas
precisavam ser mostradas no momento certo. Na hora certa. Para a pessoa certa. – Eu
não tenho. – disse, simplesmente. Pude ouvir uma bufada vinda de Wills e soltei uma
risada baixa.
- Então vamos fazer alguma coisa agora. – Wills pegou um violão e dedilhou um
acorde. – Pai, essa é pra você.

He's drinking cold Corona


(Ele está bebendo uma Corona gelada)
Feels like is getting older
(Sentindo como se estivesse envelhecendo)
Now and noticing how he's finding
(Agora e percebendo como ele tem achado)
Grey hairs left in the shower
(Cabelos grisalhos deixados no banho)
Tattoos fade by the hour
(Tatuagens sendo apagadas pelo tempo)
And he can´t understand these feelings
(E ele não consegue entender esses sentimentos)

Nós rimos alto com a música que Wills estava compondo sobre o pai dele. Era verdad,
tudo aquilo que ele estava cantando. A família dele estava passando por uma
situação bem difícil, pois ele tinha brigado com seu pai e, desde então, o mesmo
não aceitava nada que vinha do meu amigo Jones. Puro orgulho, eu sei, mas era assim
mesmo que funcionava por lá. Paramos de rir quando notamos uma expressão mais séria
tomando conta do rosto de Wills.
Why life is getting him down
(Porque sua vida o coloca para baixo)
He used to smile now he frowns
(Ele costumava sorrir, agora ele é rabugento)
And cries inside
(E chora por dentro)
It’s been this way for a while
(Tem sido assim a algum tempo)
And he can´t seem to put things right
(E ele não parece ser capaz de melhorar isso)

Seus olhos se fecharam e ele parou de tocar. Thalita se aproximou dele e tirou o
violão de suas mãos, o abraçando. Nics fez o mesmo, mas o abraçou de lado. Eu e
resto dos caras não sabíamos como agir, apenas ficamos em silêncio.
- Você falou com ele hoje, não falou? – Nics perguntou, arrumando os cabelos de
Wills. Ele concordou com a cabeça. – Eu disse para não falar.
- Que seja, quero que se foda. – desviei minha atenção para Joanna, que havia
anotado a letra da música em um pedaço de guardanapo.
- Guarda, um dia você a termina. – entregou pra ele. – Estava ficando boa.
- Não sei não. Paul não merece minha atenção. – lá vai ele chamando o pai pelo
nome. – Quero mais que ele apodreça.
- Então, que tal a gente mudar de assunto?
Como num passe de mágica, a campainha tocou com o serviço de quarto. Pegamos os
lanches, nos ajeitamos (no chão) e começamos a comer, quase retirantes.
- Querem saber de uma coisa? – Jones disse, de boca cheia.
- Não enquanto ainda existir bacon dentro da sua boca. – Joanna retrucou, fazendo
cara de nojo. Nós rimos.
- Para de ser fresquinha, meu bem. – ele riu e mandou um beijo pra ela. – Bom, já
que ninguém mais se pronunciou, eu vou dizer mesmo assim. A companhia de vocês está
sendo ótima. Obrigado, galera.
- Gay.
- Bixinha.
- Maricas.
- Quero que vocês vão se foder. – Jones encheu a boca para dizer e nós não demos a
mínima. – Ignorem o que eu falei.
- E eu achando que quem tava de TPM era o Codys... – Harry disse.
- Muito engraçado, Hazz. – eu disse, ameaçando jogar catchup no sanduíche dele (ele
detestava).
- Não apela, Codys... – Harry escondeu o lanche atrás de si. – Catchup é sacanagem
das grandes. – Thalita riu e jogou um guardanapo nele.
- Você é muito estranho. Imagina só, não gostar de catchup!
- Tem gosto de alguma coisa que venho tentando descobrir durante anos. Alguma coisa
que não me apetece. – ele fez-se pensativo.
- Molho de tomate, talvez? – chutou Julie, fazendo piada com Harry.
- Nossa, realmente engraçadíssima sua piada, Julie. – ele respondeu, estirando a
língua para a amiga.
- Sabe uma coisa que eu estou super chateado? – Wills disse, comendo o último
pedaço de seu lanche. – A gente já fez dois shows e ainda não demos uma entrevista.
- Eu pensei nisso logo que acordei hoje. – Harry franziu o cenho. – Michelle não
está nos ajudando. Ela tinha que cuidar disso, não tinha?
- Talvez ela esteja deixando vocês curtirem um pouco mais. – Joanna disse, tentando
defender nossa empresária. – Eu sei lá, vai que ela achou que vocês estão muito
sobrecarregados.
Olhei para os caras com uma expressão debochadora no rosto e rimos juntos.
- A Chelle nunca tem dó de nós, Jojo. – Jones respondeu, seguido de uma gargalhada
de Wills.
- Nunca. – eu enfatizei. – Ela sempre acha que podemos fazer mais alguma coisa.
- Mesmo quando não podemos. – Harry complementou.
- Não está mais aqui quem falou, então. – ela sorriu e voltou para o silêncio que
antes a dominava.
Havíamos terminado nossos lanches. Ríamos e falávamos qualquer besteira, quando
bateram pela segunda vez na porta do nosso quarto aquela noite. Os colchões haviam
chego e atrás deles duas garotinhas curiosas. Soltei uma risada abafada.
- Eu cuido disso.
Fui até a porta, anteriormente aberta por Joanna e dei uma gorjeta para o homem que
carregava dois colchões e tentava obstruir a visão de duas garotinhas, que tentavam
dar uma espiada dentro do nosso quarto.
- Pode deixar. – dei sinal para que ele saísse da frente. As duas de repente
ficaram imóveis e me olhavam assustadas. Eu daria uns dez ou onze anos para as
duas. – Oi. - O-o-oi. – a menor delas respondeu, ainda assustada. – V-você é-é Cody
, Jones, Harry, Julie, Joanna, Thay e Nics. – eu apontava um por um.
- Oi, meninas. – Thay disse, seguido por alguns acenos das outras.
- E ai, lindas. – Harry disse. As garotas se entreolharam e riram.
- Nós adoramos a banda de vocês. – a mais velha disse. – Essa é minha irmã e ela se
chama Savannah. Meu nome é Kelsey.
- Prazer, Codys. – dei um beijo na bochecha de cada uma delas. Mais uma vez elas
riram uma para a outra. – É melhor vocês voltarem, não? Os pais de vocês devem
estar preocupados.
- É verdade. Tchau, pessoal! – a mais velha segurou a mão da outra e foram as duas
correndo pelo corredor do andar. Fechei a porta, sorrindo.
- Que fofo, Codys. – Nics disse, apertando minhas bochechas quando me sentei ao
lado dela. – Adorei o que você fez.
- Que fofo Codys, adorei o que você fez. – um Wills enciumado imitou Nics com voz
fina.
- Ai meu Deus, como é ciumentinho, né? – ela pulou em cima dele e o beijou.
Suspirei.
- Vamos brincar de gato mia OU NÃO? – Joanna disse, recolhendo os lixos do chão.
- VAMOS! – Julie gritou e todos se levantaram do chão.

Capítulo 12.
Complicações, revelações e suco azul.

- Então tá! Presta atenção dessa vez. – fui até o interruptor e apaguei a luz pela
segunda vez da noite. – É com você, Harry. - Guiei Harry até a porta do quarto,
pois o mesmo estava com uma venda nos olhos. Estava tudo muito escuro, mas nós
conseguíamos enxergar um pouco, ele não.
- Todo mundo se escondeu? – ninguém falou nada. Eu estava embaixo da cama e tinha
alguém ao meu lado, que eu não sabia quem era. – Estão espertinhos, né?
A pessoa que estava ao meu lado soltou uma risada baixinha, eu consegui perceber
que era Thay. Nossos braços se tocaram e eu senti um arrepio. Virei em direção a
ela e tive certeza que ela sabia que era eu que estava ali, pois a respiração dela
ficara pesada. Suspirei.
- GATO MIA! – Harry gritava. – Se ninguém responder fica impossível de brincar.
- Miau. – Julie disse. Harry foi cego (literalmente) em direção a Julie.
- Gato mia. – ele repetiu.
- Miau. – ela respondeu, mais uma vez.
- O Poderoso Harry está chegando para te pegar... – Harry dava passadas pesadas e
longas. Julie não aguentou e riu. – JULIE! Eu sei que é você, ganhei.
- Que merda, Harry! – ela gritou, rindo. Thalita aproveitou que ainda estava escuro
e saiu correndo de baixo da cama para não ser vista comigo. Doeu.
- Agora é você que procura, Julie. – Harry disse, tirando a venda e acendendo a
luz. – Esse negócio de ficar totalmente no escuro não é pra mim não. Gosto de ter
noção das coisas. Toma. – ele colocou a venda na garota e depois deu um beijo
estalado na bochecha da mesma. – Não é nada pessoal, linda.
- Vai se foder, vai Judd. – ela estirou a língua, já sem enxergar nada.
- Espera, isso é pra demorar mais. – Joanna foi até ela e a rodou por alguns
segundos. – Assim você perde a noção de onde está.
- Nossa Jojo, era tudo que eu queria. Muito obrigada.
- Magina, amiga, estou aqui para isso. – ela riu e se escondeu atrás do armário.
Harry e Thalita riam de alguma coisa e se esconderam, juntos, entre o colchão (que
estava encostado na parede) e a parede, fazendo-me perder o controle do que ali
acontecia. E mais uma vez senti aquela “coisa”. Aqueles ciúmes. Aquela inveja.

Thalita’s POV
- Shiu. – eu coloquei o dedo indicador nos lábios dele, para que ficasse quieto.
Estava tudo escuro e ali, atrás daquele colchão, nada se via. Ele estava encostado
em um dos cantos do quarto, então o esconderijo era perfeito. Liberei os lábios
dele e me aproximei. – Fica quietinho, Juddy. – mordisquei seu lábio inferior e
senti uma mão apertando forte a parte interna da minha coxa, suspirei.
- Só se você também ficar.
Ele pressionou nossos corpos com força um contra o outro e eu senti um choque
percorrendo meu corpo. Encostei-o na parede, com intuito de ficar no comando da
situação. Sorri, vitoriosa.
- Gato mia! – Julie gritou. – Só porque você já foi, não quer dizer que não tenha
que responder, Harry. – voltei o dedo indicador na boca dele e mordi o lóbulo de
sua orelha.
- Miau. – Joanna respondeu.
- Miau. – Jones.
- Miaaaaaaau. – Codys.
- Assim não vale, vocês estão atrapalhando minha audição felina.
Julie protestou, fazendo todos rirem, menos eu e Harry, que estávamos compenetrados
em outra coisa. Ele, com beijos, fazia o caminho do meu pescoço até onde o decote
da blusa que eu usava permitia. Mordia meu próprio lábio.
- Thay, eu sei muito bem que você ainda não respondeu! – Julie protestava.
- Miau! – falei baixinho.
- Mais ALTO. – ela disse e eu tive que desviar minha atenção de Harry.
- MIAU! – eu gritei e saí correndo pelo quarto, deixando meu melhor amigo sozinho
atrás do colchão. Julie tentou correr atrás de mim através dos barulhos que eu ia
deixando pra trás, mas não consegui. Acabei parada atrás dela.
- Boo! – dei um pequeno empurrãozinho na minha amiga e voltei a correr em círculos,
deixando-a completamente irritada.
- Thalita, assim não vale. – ela choramingava. – Fica parada para que eu possa te
tocar! – fiquei com dó da minha amiga e sentei no chão, no meio do quarto.
- Gato mia. – ela disse.
- Miau.
E então eu fui pega. Jogamos mais algumas (cinco vezes), quando finalmente cansamos
o suficiente para irmos dormir. Eu estava em uma das camas de casal com Harry e
antes que eu pudesse fechar o olho, Nics me cutucou.
- Thay.
- Que foi? – perguntei, virando pra ela, que estava na cama ao lado, dormindo com
Wills.
- Preciso falar com você.
- Pode ser depois? – meus olhos se fecharam automaticamente e mesmo se eu quisesse
ter ouvido a resposta da minha amiga, eu não ouviria.

- Então o que é? O que vai ser? Eu ou ele? – Codys apontava o dedo no meu rosto e
eu chorava feito uma criança. – Eu não acredito que você fez isso comigo Thalita!
Você não tinha o menor direito...
- Eu tinha sim! – eu gritava com toda força que conseguia arrancar dos pulmões. –
Você fez isso comigo antes, se lembra? – uma chuva fina caía sobre nós dois e eu
conseguia sentir meus cabelos molhados grudando nas minhas costas.
- Não com o meu melhor amigo.
- Deixa de ser hipócrita. – rebati, praticamente cuspindo as palavras na cara dele.
- Então você quer falar de hipocrisia agora? Jura mesmo? – seus olhos estavam
vermelhos e eu conseguia ver a veia de seu pescoço saltada.
- Eu...
- Você é uma falsa. – ele dizia, entre dentes. – A pior delas.
- Não ouse falar assim de mim, depois de tudo...
- Depois de tudo, O QUE? Você só queria alguém pra te ouvir choramingar pelos
cantos sobre sua família que não te dá a mínima atenção. – ele era rude, era
áspero, era quente. Senti lágrimas caindo dos meus olhos.
- Codys, não fala assim.
- Eu falo porque é verdade. Eu sinto NOJO de você.

- Hipocrisia... – eu me revirava pela cama. – Nojo... Falsa. - ouvi um murmúrio e


depois senti mãos ao redor do meu corpo me chacoalhando. Acordei.
- Pesadelos, amiga? – Nics me acordara, sorrindo.
- Acho que sim. – passei as mãos pela minha nuca e senti suada. – Eca.
- Eca mesmo. – ela me analisou. – Ei. Todos já desceram pra tomar café e precisamos
liberar o quarto para limpeza e para recolherem as nossas malas. Hoje eles têm uma
entrevista antes do show, então quando sairmos de lá, iremos direto para o trailer.
- Por que ninguém me acordou? – franzi o cenho, sem entender.
- Codys não deixou, disse que você fica mal humorada quando o fazem. – ela riu,
balançando a cabeça. – Ele tem razão. Aliás, Thay, tem um assunto que eu queria
muito...
- Depois, pode ser? – eu a interrompi. – Preciso muito de um banho.
Ela suspirou, dando-se por vencida e saiu do quarto, me deixando mais uma vez
sozinha. Esperei alguns minutos e me levantei. Fui até o banheiro fazer minha
higiene matinal, vesti uma jeans rasgada, meus coturnos, uma blusa podrinha (n/a: é
o tecido pra quem não sabe hahaha), uma jaqueta, óculos de sol e saí. Antes de me
encontrar com meus amigos, lembrei-me do sonho. Ou melhor, do pesadelo que eu havia
tido com Codys aquela noite. Eu não sabia o que tinha para ser “absorvido” daquele
sonho, ou sabia e era muito teimosa para aceitar. Aquelas escapadas que eu estava
tendo com Harry, com certeza eram erradas, eu sabia que eram. E, mesmo não
querendo, eram sim uma forma de hipocrisia da minha parte, eu estava sendo
hipócrita. Respirei fundo (duas vezes) antes de sair de dentro do hotel. Eles
estavam tomando café na sacada, todos juntos. Tirei meu celular dos bolsos da calça
para checar que horas eram. 9h34. Ainda era madrugada. O que eu estava fazendo em
pé mesmo?
- Qual o problema em espirrar com wasabi? – Jones ria, debatendo com Harry, que
gargalhava. – Cara, eu duvido que vocês nunca cheiraram wasabi e espirraram na
mesma hora.
- Não. – Codys respondeu, também rindo.
- Eu já, Jones. – Joanna disse e mandou um beijo pra ele. – Sei exatamente o que
você quer dizer.
- A Jojo não vale Becker, ela é suspeita. – Harry disse, fazendo Joanna ficar sem
graça. – Você ainda está sozinho nessa.
- Deixa eu te pegar desprevenido, vou te fazer cheirar wasabi e aí veremos quem
está realmente certo.
Fiz meu prato do lado de dentro do hotel (o Buffet estava maravilhoso), peguei uma
xícara de café e me juntei aos meus amigos.
- Hellow. – disse, sorrindo. – Juddy, nunca durma com uma garota e a abandone na
manhã seguinte.
- Desculpa, Thay. Não irá mais se repetir. – ele riu, me dando um beijo na testa.
Nics me fitava com a sobrancelha arqueada, o que eu achei um tanto quanto estranho.
O que era aquilo que ela queria me falar, mesmo?
- Então quer dizer que vocês têm uma entrevista hoje? – Joanna perguntou, enquanto
comia um pedaço de bacon.
- Uhum. – Codys respondeu com a boca cheia.
- Depois daqui a gente vai pra um tipo de rádio local. – Wills tomava um copo de
suco azul. Que merda era aquela? Dei risada. – Vai ser legal falar naqueles
microfones grandes, sempre quis.
- Will e seus cinco anos de idade. – Nics foi até ele e apertou suas bochechas. –
Tão fofo e inocente, né Wills?
- Uhum. – ele mordia um pão. – Vai ser demais, combinamos de cantar uma música
inédita e... Huh.
Wills fez cara de paisagem e parou de falar. Nesse exato momento os garotos
fecharam a cara, talvez eu soubesse o por que. Pelo visto, não era pra ninguém
saber e Wills deixou escapar. Se Codys tivesse visão laser, ele com certeza teria
furado a testa do meu amigo.
- Garotos. – salvos pelo gongo. Michelle apareceu na mesa, já com a bolsa de sempre
nos ombros. – Precisamos ir, já terminaram?
- Sim, sim. – Wills deu um último gole no seu suco estranho e levantou, seguido dos
outros três garotos.
- Meninas, se vocês quiserem mais tempo para comer, podem ficar que depois eu mando
um carro para buscá-las.
A gente se olhou e no fim acabamos aceitando. Eu havia acabado de me sentar à mesa
e estava realmente faminta. Cada um dos garotos deu um beijo na bochecha de cada
uma de nós e foram atrás de Michelle. Nics me encarava e eu não havia notado até
desviar minha atenção da waffle em meu prato para os olhos da minha amiga.
- Que isso, garota! Que foi? – tomei um susto.
Julie e Joanna se levantaram para ir ao banheiro e Nics aproximou sua cadeira da
minha. Eu sentia que coisa boa dali, não sairia.
- O que tá rolando, Thalita? – ela disse duramente. – Por que você não me contou?
- Contou o que, tá doida Nicole?
- Harry.
Uma palavra. Um segundo. Senti o sangue do meu rosto indo embora e meus lábios
secarem. Como ela sabia? Achei que eu tivesse sido tão meticulosamente cuidadosa.
Tão perfeita em não deixar rastros. Meus músculos se enrijeceram todos no mesmo
instante e senti uma falta de ar terrível. Me faltava ar nos pulmões.
- Fala, Thalita. – ela insistiu na ideia.
- Eu... Eu...
- Não adianta gaguejar. O que você está fazendo? O que você tem na cabeça?
- Nics, não era pra ninguém saber, nem eu sei, nem ele sabe, nós...
- VOCÊS PERDERAM O JUIZO! – ela gritou. Ok, agora ela pegou pesado.
- Ei! Dá pra não me julgar? – cruzei os braços e a encarei, irritada. – Aconteceu,
ok? Eu não sei explicar, nós não temos nada. A gente só anda se provocando, só
isso. - Embaixo dos narizes do Codys e da Julie. – ela parecia magoada. – Você está
agindo feito uma garotinha de 15 anos, Thay, que quer se apaixonar pelo melhor
amigo para curar um coração parti... – eu a interrompi.
- Ei, quem aqui disse em se apaixonar? Eu falei em provocações. Ele me diverte, o
beijo é bom, não vejo problema. – dei de ombros, tentando acreditar naquilo que eu
mesma havia dito.
- Ah é? Não vê problema? Francamente.
- Como você ficou sabendo, aliás? Os outros sabem?
- Não. – ela disse, fria. – Eu ouvi no gato mia, estava escondida ao lado de vocês.
E dava pra ver alguma coisa também. Achei no começo que era Joanna e Jones,
finalmente se entendendo. Mas não. Era você e Harry.
- Não sei o que te dizer.
- Não diga nada. – ela suspirou e afastou a cadeira para se levantar. – Se ao menos
você tivesse me contado, se tivesse compartilhado...
- Você o que? – elevei o tom da minha voz e logo em seguida voltei aos sussurros. –
Teria dito o que está falando agora? Esse super apoio?
- Apoio, Bernardi? Vê se cresce. Você está apaixonada pelo Codys ainda e resolveu
agora usar seu melhor amigo para matar tempo. – ela colocou a bolsa no ombro e os
óculos de sol saíram da bolsa para seu rosto. - Se acha que o que está fazendo é
certo, eu não sei mais quem você é. Quando minha melhor amiga voltar, avisa que eu
a estou esperando. Vou ver Julie e Joanna, estaremos lá na frente. Pode deixar que
eu ligo pra Chelle. – então ela se afastou.
Eu tinha muito a falar e pouco a dizer. Meus olhos automaticamente se encheram de
lágrimas e eu consegui ter noção do que eu estava fazendo. Por que, afinal? O que
eu ganharia com isso? Entre mim e Harry era óbvio que era só diversão, mas eu
estava brincando com os sentimentos de outras pessoas, eu estava brincando com o
meu sentimento pelo Codys. Ele não merecia, eu sei que ele não merecia, ele não
MERECE meu amor. Ué, eu ainda o amo, não há muito que se possa fazer a respeito. E
se houver alguma coisa a ser feita... A maneira que eu estava agindo (tendo como
cúmplice o Harry), não ajudaria em absolutamente nada. Eu estava sendo ridícula e
ainda mais ridícula por não ter contado sobre aquilo para minha melhor amiga,
fazendo-a descobrir do pior jeito. Tomei o último gole do meu café e fui em direção
ao saguão do hotel, onde Julie, Joanna e uma Nics cem por cento emburrada, me
esperavam.

O caminho até nosso destino final foi muito difícil. Nics mal conseguia me olhar e
tanto Julie, como Joanna pareceram perceber. Sinceramente eu não dava a mínima para
o que elas estavam pensando que poderia ter acontecido no momento, só queria
conversar com Nics e tentar acertar as contas com a minha melhor amiga. Aquele
clima (e aquela nuvem negra) que estavam se estabelecendo ao redor das nossas
cabeças estava me fazendo mal. Tirei da bolsa um cigarro.
- Vai fumar, mesmo? – Nics me encarou. – A gente já tá praticamente chegando e você
vai acender essa merda? Suspirei. Não queria brigas. Voltei o cigarro pra dentro da
bolsa e desviei minha atenção para a janela do carro. Quando o motorista anunciou a
chegada ao tal lugar, não pude ficar mais feliz. Saltei do carro em instantes e
quando me dei conta já estávamos dentro de um lugar fechado, com vários microfones
em cima de uma mesa redonda, meus amigos espalhados pela mesma e em suas cabeças
largos fones de ouvido. Eu e as garotas nos sentamos (em silêncio) no canto da
sala, para observamos o que ali acontecia. O único cara que eu não conhecia,
provavelmente o entrevistador da tal rádio, fez gestos engraçados com as mãos e
percebi que eles estavam gravando. - Estou aqui com os garotos da banda mais quente
do momento, McFly. - banda mais quente. Segurei para não rir. – Podem se
apresentar?
- Oi, meu nome é Wills.
- Jones.
- Codys.
- Harry. Nós somos o McFly e estamos muito felizes por estarmos aqui, Oliver. – ele
finalizou. Oliver, esse era o nome do cara.
- Sejam bem vindos a nossa cidade. - Oliver disse. – Estão curtindo? Quando
chegaram?
- Nós chegamos ontem, no fim da tarde. – Codys respondeu, olhando para os amigos
que concordaram com murmúrios. – Fomos direto para o hotel. Como estamos em turnê,
não tem muito tempo para “passear”. – ele desenhou duas aspas no ar, como se alguém
pudesse ver. Tive vontade de rir de novo.
- A agenda está apertada. – Harry complementou. – Mas estamos adorando o carinho
das fãs e o suporte que estamos recebendo da nossa equipe.
Michelle deveria estar corando nesse exato momento. Meus olhos tentaram encontrá-
la, mas sem sucesso.
- E eu ouvi que vocês trouxeram garotas com vocês. – era mais do que óbvio que ele
tocaria nesse assunto. – É verdade?
- É sim. – Jones respondeu. – São nossas amigas há muito tempo, achamos justo que
elas viessem, que dividissem um pouco dessa fase da nossa vida.
- Que só tende a melhorar, Jones. – o entrevistador brincou. – Então para a
felicidade de suas fãs estão todos solteiros?
- Basicamente. Wills tem alguém. – Harry deu entre dentes. Olhei para o lado e vi
que Nics sorria.
- Uma namorada, Wills? – Oliver perguntou.
- Alguém especial. – Wills complementou e olhou para minha amiga. Eles eram
terrivelmente fofos juntos.
- Entendi... – acho que ele percebeu que meus amigos não soltariam mais nenhuma
informação a respeito, então mudou de assunto. - Estão prontos para atenderem três
ligações de três garotas sortudas?
- Manda ver! – Codys respondeu sorridente.
- Vamos começar, então... Alô?
“Alo? AHHHHH! Não acredito, Marrie, eu fui atendida! Oi, Manchester!”
Uma garota completamente fora de si dizia, do outro lado da linha.
- Olá! – Oliver, rindo. – Qual seu nome e idade?
“Jess, tenho 15 anos.”
- Daqui de Manchester mesmo?
“Sim, e eu vou ao show hoje! Estou super ansiosa para ver meus amores.”
Opa, pera lá. Amores? Quem ela pensava que era?
- Claro, acredito que eles também estejam. Qual sua pergunta e para quem é, Jess?
“É para Codys. Ei, Codys, qual a maior qualidade física de uma garota?”
- Física? Hm... O sorriso. – ele disse, convicto. Lembrei que ele sempre elogiava o
meu e bastava eu sorrir para que ele se derretesse todo. – Um sorriso verdadeiro
sempre muda tudo. E se for bonito... Bom, um sorriso rende muitas coisas.
Os garotos riram, tiraram um pouco de sarro do garoto e finalmente a ligação foi
finalizada. Não antes, é claro, da garota tentar convencer Codys que tinha o
sorriso mais bonito de Manchester. Oliver atendeu a próxima.
- Com quem eu falo?
“Prudence, tenho 18 anos.”
- Dear Prudence... – Wills cantou no microfone.
“Não a Prudence dos Beatles, mas não foi por falta de desejo.” Ela riu do outro
lado da linha. “Bom, a minha pergunta vai pro Jones.”
- Manda lá, gata. – ela riu de novo.
“Jones, se você tivesse que escolher entre uma amizade e um romance, qual
escolheria?”
Que foi? Tava todo mundo conspirando contra mim naquele dia? Só podia ser
brincadeira. Ashton Kutcher, apareça e diga que “I just got PUNK’D.”
- A amizade sempre vem acima de tudo, Prudence. Eu acho que quando chegamos a uma
situação onde é necessário escolher entre um ou outro, é que provavelmente a gente
fez merda. – Jones riu e continuou. – Isso se for entre duas pessoas diferentes.
Mas se for em relação a mesma pessoa, o romance sempre fica melhor quando existe
amizade, né?
“Concordo com tudo que disse, Jones. Obrigada! Vejo vocês no show.”
- E agora a última pergunta. Com quem eu falo?
“Megan, 17 anos.”
- Oi Megan. – os guys disseram em uníssono.
“Oi. Minha pergunta é para o Harry... Harry! Como você consegue ser incrivelmente
sexy o tempo todo?”
Dei risada e pude ver os olhos de Julie me censurando por isso. Levei minhas mãos
até a boca para reprimir a próxima que já viria.
- Bom, er... – ele havia ficado com vergonha. Queria ir lá apertar aquelas
bochechas rosadas. – Ser sexy faz parte do meu charme. - Jones e Wills vaiaram. –
Na verdade... O segredo é não tomar banho. – ele completou e dessa vez quem riu foi
Jojo.
Depois da entrevista, das ligações e de mais um pouco de conversa jogada fora,
Oliver os convidou a cantar uma música para os espectadores.
- Vamos lá, então? – Wills olhou para os amigos e tirou um violão de trás da
cadeira. Parou por alguns segundos os olhos em Codys.
- Essa música se chama I Wanna Hold You (3). – então ele olhou pra mim, não pude
evitar sorrir em retorno.

I wanna hold you


(Eu quero te abraçar)
My skies are turning black
(Meus céus estão ficando negros)
Feels like a heart attack
(Parece um ataque cardíaco)
And I'd do anything you ask
(E eu faria qualquer coisa que você pedisse)
I wanna hold you bad
(Eu quero muito te abraçar)

I'd melt the polar ice caps baby


(Eu derreteria as calotas polares, baby)
And watch them flood the earth
(E as assistiria inundar a terra)
I'd do anything to show you
(E eu faria qualquer coisa pra mostrar)
What our love is worth
(O quanto vale o seu amor)
So won't you show me your devotion?
(Então você não vai me mostrar sua devoção?)
To heal my aching heart
(Pra curar meu coração doído)
It's like a neutron bomb explosion tearing me apart
(É como uma explosão de bomba atômica acabando comigo)

Ainda fitava os olhos de Codys quando a música acabou. Ele estava acabando comigo.
Era ele. Suspirei e em alguns segundos cheguei a uma conclusão. Eu iria dar uma
nova chance para Codys, mas como meu amigo. Eu faria isso por mim e por ele, faria
isso por nós dois, para chegarmos finalmente em um consenso. Apenas o parei de
fitar quando meus olhos encontraram o da Nics.
- Posso falar com você lá fora, por um instante? – ela confirmou e saímos do
estúdio para a calçada da frente do mesmo.
- Fale. – ela disse num tom ríspido.
- Eu andei pensando e. Você está certa. Eu vou falar com Harry e dizer que perdemos
o juízo. Além do mais quero conversar com Codys e acima de tudo não quero brigar
com você. – Nics suspirou e segurou as minhas mãos.
- Mas Thay, você não tem que fazer isso por mim, tem que fazer porque é o certo. Eu
queria poder contribuir com essa insanidade de vocês... – ela riu baixinho – Mas
você sabe que não dá.
- Eu sei. – eu ri junto.
- Mas então. O Harry, como é?
- Que? – fiquei assustada. – Nicole!
- Ué. Você faz merda agora compartilha, né? Amiga é pra isso, poxa.
- Bom... foi tudo bem intenso. – eu escondi o rosto com as mãos e depois prendi meu
cabelo em um rabo alto. – Sei lá, foi diferente, bem físico mesmo.
- Hmmm físico...
- Cala a boca, Nics. – dei um empurrãozinho nela. – Eu tava carente, ele também e
enfim. Você tem que me prometer que não vai contar isso pra ninguém.
- Contar o que? – Wills e os garotos saíram, seguidos por Julie e Joanna. Olhei pra
Nics pedindo por socorro e ela logo tratou de dizer alguma coisa. Minhas cordas
vocais tinham congelado.
- Ué, não posso contar, é segredo de garotas.
- Se é segredo de garotas a gente precisa saber então. – Jones disse. – Quando não
podemos ficar sabendo aí é que queremos saber MESMO.
- Não manda essa, Becker. Não vamos contar. – me senti a vontade de dizer e olhei
para Harry, que logo entendeu o que ali se passava.
- Deixa elas, Jones. – ele se dirigiu a nós e senti meu coração voltando ao ritmo
normal. – Coisa de garota a gente não se mete.
Abracei Harry.
- Precisamos conversar. – sussurrei em seu ouvido.
- Assim que chegarmos à casa de show, linda. – ele beijou minha bochecha e entramos
no carro, que nos levaria direto ao lugar que o show aconteceria.

Capítulo 13.
Alguém tem que ceder.

Chegamos ao Apollo Manchester depois de aproximadamente vinte minutos, visto que o


trânsito não colaborou muito com o nosso desempenho. Os McGuys e as garotas saíram
correndo pela porta dos fundos e foram direto para o palco para passarem o som.
Todos eles foram, menos eu e Harry. Segurei a mão dele e ele ficou para trás
comigo.
- Ei, pequena. – ele passou a mão pelos meus cabelos. – O que aconteceu?
- Harry. – eu o abracei. – Não quero que você entenda errado, mas a gente tem que
parar de fazer o que estamos fazendo. – ele franziu o cenho e me fitou por uns
segundos em silêncio.
- Por quê?
- Porque não é certo. – eu disse, simplesmente. – Não é certo comigo, com você, com
o Codys, com a Julie...
- O que tem a Julie? – ele perguntou com os olhos arregalados.
- Juddy, não tenta me enganar, eu sei que você gosta dela. – sorri sem mostrar os
dentes. – A gente já se divertiu, certo?
- Certo. – ele me abraçou forte. – Só achei que eu fosse conseguir te levar pra
cama antes de você me cortar.
- Harry Judd! – gritei, apreensiva.
- Estou brincando né, bobinha.
- Não teve graça, idiota.
- Bravinha linda. – ele mordeu minha bochecha e nós fomos para o palco, juntos,
como amigos, sem beneficio algum; exatamente da maneira que deveria ser. Entramos
no backstage para entrarmos no palco, onde já estava rolando um som muito alto.
- HARRY... ATÉ... QUE... ENFIM! – Jones gritava as palavras pausadamente para que
pudéssemos ouvir. Harry foi até a bateria já montada e começou a acompanhar os
amigos com a batida. Fui até onde minhas amigas estavam e sentei ao lado delas, ou
melhor, ao lado da Nics.
- Tudo resolvido? – ela perguntou baixinho pra mim, com o barulho eu quase não
consegui ouvir. Fiz um joia com o polegar e ela me abraçou.
- Obrigada. – eu falei e ela assentiu com a cabeça. Aproximou-se do meu ouvido.
- Vai falar com ele? – ela apontou pro Codys, que tocava animadamente seu (sua)
guitarra. – Aliás, vai falar o que com ele?
- Quero resolver essa situação. – ela arregalou os olhos e sentou de frente pra
mim. – Que foi, ué?
- Vai dar uma segunda chance pra ele, Thalita? Não sabia que...
- Calma lá. – interrompi. – Eu não disse em dar uma segunda chance, eu só quero que
ele saiba que podemos continuar amigos. Esses dias, essa convivência, está me
fazendo perceber que não dá pra continuar do jeito que está com ele. Já a Joanna...
– olhei de canto de olho pra ela, que fitava o nada. – Ela eu não quero ouvir, não.
Até porque ela que tem que vir falar comigo e em momento algum ela veio.
- Talvez ela esteja esperando pelo seu momento.
- Acredita mesmo no que está dizendo, Nics?
- Talvez? – ela deu de ombros, voltando ao seu lugar de origem e esticou as pernas.
– É tudo uma questão de ponto de vista. – eu gargalhei.
- Você sabe que ela está errada. Agora fica quietinha e vamos ouvir o ensaio, até
as garotas lá fora estão curtindo.

- Vai ter que começar com outra dessa vez. No outro show eu fiquei meio perdido com
a mudança da setlist. – Codys coçava a cabeça, minutos antes de entrarem no palco.
- Mas a gente combinou que em cada show iríamos mudar as ordens das músicas, se
lembra? Fora que tem essa putaria aí que o Codys inventou... – Wills, mais uma vez,
falou o que não devia. Soltei uma risadinha.
- Quer calar a boca, cara? Você não dá uma dentro, caralho viu. – Harry deu um tapa
na cabeça do amigo, que fez bico.
- Desculpa.
- Tá, que seja. – Codys encarou Wills, bravo. – Já acostumei. Então muda a porra
toda e a gente vai de improviso, acho que funciona.
- Você está doido? Nós temos que...
- MCFLY! – uma voz desconhecida gritou. Estava na hora de entrar no palco. Os
garotos se olharam desesperados e Jones perdeu toda a cor que tinha nas maçãs do
rosto. Eu quis rir, claro, mas estava muito ocupada sentindo pena da cara deles.
- Boa sorte. – disse para eles, que nos deixaram sozinhas atrás do palco. Abriram o
show e eu fui até a cortina dar aquela espiadinha de sempre. O lugar estava
completamente lotado, o que me assustara. Eram meninas por toda parte, gritando,
suando, sendo histéricas. O camarote, assim como a pista, estava lotado, mas lá as
garotas eram um pouco mais comportadas. Nós ficamos comportadinhas no backstage
enquanto o show rolava, só admirando o talento dos nossos amigos. Até que chegou a
hora que, subconscientemente, eu estava esperando.
- Uma música inédita para a melhor plateia que já tivemos! – Codys gritou, o suor
escorrendo. – Essa chama Lonely (4), espero que gostem.

It's only been a day


(Só se passou um dia)
But it's like I can't go on
(Mas parece que eu não consigo seguir em frente)
I just wanna say
(Eu só quero dizer)
I never meant to do you wrong
(Que nunca foi minha intenção te fazer mal)
And I remember you told me baby
(E eu me lembro que você me disse, baby)
Something's gotta give
(Alguém tem que ceder)
If I can't be the one to hold you baby
(Se eu não posso ser aquele que te abraça, baby)
I don't think I could live
(Eu não acho que poderia viver)

Olhei pra Nics e ela sorria sem parar me encarando. Que foi? Eu estava com cara de
boba, certeza. Coloquei as mãos para cima como quem não tem culpa do que está
acontecendo e dei risada. O que Codys estava fazendo? Parecia que as músicas que
ele escrevia, diziam aquilo que ele não conseguia expressar, ou melhor, que eu não
o deixava dizer.

Now I'm so sick of being lonely


(Agora eu estou muito cansado de ficar sozinho)
This is killing me so slowly
(Isso está me matando tão lentamente)
Don't pretend that you don't know me
(Não finja que não me conhece)
That's the worst thing you could do
(Essa é a pior coisa que você poderia fazer)
Now I'm singing such a sad song
(Agora eu estou cantando uma música tão triste)
These things never seem to last long
(Essas coisas nunca parecem durar muito)
Something that I never planned, no
(Algo que eu nunca planejei, não)
Help me baby, I'm so sick of being lonely
(Ajude-me baby, eu estou muito cansado de ficar sozinho)

A verdade é que desde a primeira música ele já tinha me reconquistado. Eu era, sei
lá, muito orgulhosa, teimosa, tonta.

Your stuff's in my house


(Suas coisas estão na minha casa)
So many things I can't ignore
(Muitas coisas que eu não consigo ignorar)
Your clothes still on the couch, yeah
(Suas roupas continuam no sofá, yeah)
Your photo's on my freezer door
(Sua foto está na porta do meu freezer)
Tá. A Nics precisaria me segurar, se não eu não iria me aguentar e entraria naquele
palco naquele exato momento. Eu não acredito que ele ainda tinha aquela foto minha
(horrorosa) na porta do freezer...

- Volta aqui, Becker! – eu gritava, rindo. A gente corria em um parque temático (o


tema era selva, tosquinho, eu sei) que tinha em Londres. Meus cabelos estavam
soltos, formando cachos enormes, saia jeans e blusa básica branca. Nos pés, nada.
Ele tinha roubado meus chinelos e eu estava tentando recuperá-los.
- Se você corresse mais rápido, teria chance contra mim. – ele jogou meus chinelos
pra trás e eu abri a boca, inconformada.
- Seu idiota! – fui até ele e dei leves soquinhos em seu braço.
- Vai apelar, é? – ele prendeu meus braços ao redor do meu próprio corpo, me
segurando forte. – Agora pede desculpa.
- Jamais. – eu ria.
- Então vai ficar assim comigo pra sempre. – com apenas uma mão ele ainda me
segurava, pegando com a outra o celular no bolso dos shorts. – Agora faz uma careta
linda pra eu guardar uma foto desse momento.
- Bleh. – fechei os olhos e mostrei a língua num sorriso. Senti o flash e
gargalhei. – Você tirou mesmo, não acredito. Nada de publicar essas fotos, hein?
- Carregamentos móveis... e depois pra porta do meu freezer. – ele publicou a foto
diretamente no facebook.
- Porta do freezer? Você é doido, louco, esquisito. – sorri, me rendendo as
gracinhas do meu namorado. – As pessoas não vão mais me cumprimentar na rua depois
dessa foto.
– Sim senhora, na porta do meu freezer. E ei! Você vai ver, elas vão curtir e
comentar esse momento lindo e essa modelo mais linda ainda. – ele beijou meus
lábios e me soltou. Eu não saí dali, não me movi nem um centímetro. Apenas joguei
meus braços ao redor do seu ombro.
- Eu te amo. – ele se afastou de mim, agora com o nariz encostado no meu.
- Eu também te amo, Codys.
Aquela lembrança fez uma risada fraca escapar dos meus lábios. As coisas mudaram.
Lembro-me desse dia como se fosse ontem e ainda assim parecia ter sido há muitos
anos atrás, não fazia sentido. Fiquei tão absorta em minhas memórias, que ativei o
automático. Quando me dei conta, estava dentro do camarim, sentada no sofá com
Codys ao meu lado, que ria de uma piada de Wills.
- Você fica mais imbecil a cada dia que passa, Willy. – ele ria. Virei para o lado
e fiquei encarando aqueles dentes incrivelmente brancos, aquela pele perfeita, o
cabelo desarrumado propositalmente e aqueles lábios que eu tanto adorava.
- Thay. – Nics pulou do meu lado no sofá e sussurrou em meu ouvido. – Quer parar de
encarar o Codys? Está todo mundo vendo e, sinceramente? É meio assustador.
Acordei daquele transe em que tinha me enfiado e fitei os olhos da minha amiga.
- Obrigada. – disse completamente sem jeito e totalmente envergonhada. Eu havia
ficado quanto tempo babando nele? Esperei que não tivesse sido muito.
- Mas então, gostaram da música nova? – Jones perguntou, sorrindo maliciosamente e
parando o olhar em... Mim.
- Eu adorei. – Joanna respondeu. – Achei muito legal a parte da foto no freezer,
genial. Quem escreveu isso?
- Fui eu. – Codys deu de ombros.
- Tudo? – ela voltou a perguntar.
- Tudo.
- Parabéns, Becker. – ela disse sorridente. Vê-los conversando me deu ânsia de
vômito, tratei logo em disfarçar, não podia deixar nada relacionado a ela mudar a
decisão que eu havia tomado.
- E você, Thay, gostou?
Ele estava falando comigo? Senti meu almoço voltando pra minha garganta quando o
ouvi dizendo meu nome.
- Eu... – olhei fundo nos olhos de Codys, que levava um sorriso torto. – É
realmente tocante. – não era exatamente aquela palavra que eu queria dizer, nem
chegava perto do que eu sentia, mas foi o que saiu na hora.
- É, tocante. – ele disse, deixando o sorriso perder um pouco do brilho. – Ei
caras, podemos ir pro trailer, né? Estou realmente cansado.
- Com certeza. – Harry disse já se levantando. – Vamos carregar os instrumentos e
pegar estrada para Oxford.
A viagem seria curta, aproximadamente três horas. É claro que comparada a anterior
que durou um pouco mais de uma hora, essa pareceria durar uma eternidade. Mas pra
quem tá num trailer com tudo dentro, não há nada para se reclamar.

Capítulo 14.
Jardim, garotas e sorrisos.

Betado por: Bella Marçal

- Quando você vai falar com ele, Thalita? Tô morrendo de curiosidade. – Nics estava
deitada no meu colo enquanto eu lixava a unha do meu dedo indicador. Era quase onze
horas da noite e ainda faltava duas horas para chegarmos em Oxford. Ri da ansiedade
da minha amiga.
- Acho que quando chegarmos no hotel. – mordi meu lábio inferior demonstrando
nervosismo. – Ainda não sei o que ou dizer, faz quase um mês que não conversamos
direito, sabe? E...
- E o que?
- E que eu não vou conversar com ele sobre a traição. – Nicole levantou num pulo do
meu colo.
- Como não, Thalita?
- Não, ué. Basicamente vou dizer que podemos começar do zero, se ele aceitar a
minha vontade de não tocar no assunto do término do nosso namoro. – cruzei as
pernas. – Simples.
- Simples? Em que mundo você está achando que esse plano vai dar certo? – apoiei
meu rosto na minha mão direita e fechei os olhos.
- Num mundo onde as coisas tendem a dar certo. – suspirei.

Codys’s POV
Nicole e Thalita conversavam no sofá do trailer enquanto eu discutia animadamente
com a Julie e com o Jones sobre Star Wars.
- Meu sonho é ter todos os sabres de luz. – Jones dizia para Julie.
- Eu queria mesmo era ser a Princesa Léia. – ela dividiu o cabelo em duas partes,
fazendo os coques iguais aos da personagem. – Ainda não desisti do meu sonho.
- Darth Vader é rei. "Daqui em diante, serás conhecido como Darth… Vader!" –
proclamei a frase do filme.
- Por que você sempre gosta do lado podre das coisas, Becker? – Julie indagou,
rindo e me fazendo rir também.
- Eu gosto do que é diferente. – olhei pra Thalita, que estava sentada numa posição
engraçada ao lado de Nics. – Eu gosto do que faz a diferença. E outra, Darth Vader
não é completamente podre. Existe um lado bom.
- E por que o Luke não faz a diferença no filme?
- Faz, mas ah... Você me entendeu. – me dei por vencido.
Ficamos ali conversando sem propósito algum até finalmente entrarmos em Oxford.
Michelle saiu do trailer para checar se estava tudo certo para nossa entrada no
hotel, as malas foram descarregadas e finalmente saímos daquela casa com pernas. Eu
fui o último a sair porque não encontrava meus óculos de sol e, quando desci as
escadinhas do trailer, me deparei com Thalita encostada na lateral de fora.
- Podemos conversar?
Ela estava falando comigo? Olhei pra trás para ter certeza de que a pergunta tinha
sido feita para mim e fitei seus olhos.
- Quer conversar... – engoli em seco. – Comigo?
- Uhum. – ela me respondeu com um sorriso se formando nos lábios. – Podemos dar uma
volta pela área de lazer do hotel. Se você quiser, claro.
- É óbvio que eu quero. – respondi quase no mesmo segundo, me sentindo meio idiota.
Eu não sabia onde estávamos indo, eu apenas a estava seguindo. Meu coração já quase
pulava boca a fora e eu não conseguia pensar direito. Se ela queria conversar, eu
estava disposto. Se ela quisesse qualquer coisa, eu estaria disposto. Se ela
impusesse um milhão e meio de condições para voltarmos a nos falar, eu as aceitaria
sem titubear. Eu faria qualquer coisa para tê-la de volta.
- Acho que aqui está bom. – ela disse e sentou-se em um banco de uma espécie de
jardim que existia no hotel. Agora, se vocês me perguntarem como foi que eu fui
parar ali, não saberei responder. Olhei ao meu redor e era um jardim muito bonito.
Muitas flores, um chafariz, vários canteiros. Bem romântico. Fiquei imaginando
quantos casais já tinham se assumido lá e quantos haviam se formado. Deixei os
pensamentos que me dominavam irem embora e encarei Thalita.
- Sobre o que exatamente vamos conversar? – ela mordeu o lábio inferior, abriu a
boca para falar e ficou em silêncio. Mais uma tentativa e por fim falou alguma
coisa. - Eu... Estive pensando. – ela desviou a atenção do meu rosto para o
horizonte. – Que eu quero voltar a falar com você.
- Isso seria realmente sensacional Thay, eu nem acredito que você me perdoou, eu...
– é claro que ela teve que me interromper.
- Quem disse em perdoar, Codys? – então ela voltou a me olhar. – Eu estou propondo
uma trégua, uma nova realidade.
Ok, isso não passou nem perto do que eu esperava que acontecesse.
- O que quer dizer? – não consegui esconder meu desapontamento. Mas para quem não
tinha nada, aquilo já era muito.
- Quero dizer que eu quero voltar a conversar com você. – enquanto falava, ela
prendia o cabelo em um nó, eu fui acompanhando seus movimentos com os olhos e
tentando ao máximo me concentrar no que ela dizia. – Quero dizer que quero voltar a
sua amiga, desde que o assunto que começa com T não seja posto à mesa. Entendeu?
- Então quer dizer que você quer que voltemos a ser amigos, sem levar em conta tudo
que eu fiz, ou tudo que você fez, tudo que nós fizemos? - ela concordou com a
cabeça e eu senti minha sobrancelha subir automaticamente. – E tem total confiança
de que isso vai funcionar, pelo jeito. – bufei.
- Olha, se você vai ficar reclamando, eu...
- Não, não estou reclamando. – respirei fundo e a encarei. – Se você quer assim,
assim será, mas tenha em mente que eu ainda te a...
- Não diga isso. – sua expressão mudou de serena para fria. – É uma das condições.
- Pensei que as condições só englobassem a trai...
- Tá vendo? Palavra com T. Corte-a. – bufei pela segunda vez em menos de cinco
minutos. Seria assim o tempo todo? Em que mundo ela achava que aquilo iria dar
certo? Será que Nics não a avisou que isso não existe? Segurei-me para não bufar
pela terceira vez.
- Desculpa. – foi tudo que eu disse.
- Então... o que me diz?
- É, né. – sorri, sem muitas forças para ela. – Temos um acordo.
- Ótimo. – ela veio até mim e me deu um abraço não muito apertado e com zero
sentimentalismo. Aquilo foi forçado e vazio. – Obrigada, sabia que entenderia.
Deu um beijo em minha bochecha e foi embora, me deixando naquele jardim
estupidamente gay. Olhei ao redor e nem os grilos estavam se manifestando naquela
noite silenciosa. Ela queria com certeza me destruir e eu aceitei fazer parte do
plano de execução da minha própria pessoa. O quão otário eu estava sendo naquele
exato momento? Permiti-me bufar pela terceira vez e varri o céu com meus olhos a
procura da lua. Ela brilhava fracamente, mas ainda assim linda.
- Dizem que a lua é dos românticos. – uma garota se aproximou de mim e sentou-se ao
meu lado. Seu cabelo era loiro em um tom escuro, bem liso. Seus olhos mesmo na
noite negra davam facilmente para serem vistos como verdes.
- É, dizem... – eu confirmei, voltando minha atenção pra lua.
- O que faz aqui, nesse jardim, sozinho, em uma noite como essa? – ela me encarava,
eu encarava a lua, a lua encarava a todos, brilhando pro mundo inteiro. Olha como
são as coisas. E eu aqui, falando como se fosse um poeta da época medieval. Porra,
Codys.
- Eu estou pensando.
- Pensando no que?
- Na vida. – ela riu. – Que foi?
- Roonie. – ela estendeu a mão e ficou ali, esperando eu apertar. Fiquei com medo
de deixar a garota sem graça e fiz o mesmo, ela sorriu. Ela tinha um sorriso
bonito.
- Codys. – rebati, não muito interessado. Ela ficou me olhando por alguns
instantes.
- Ei! Você é daquela banda... Qual o nome mesmo? – fechou os olhos como se aquilo
fosse ajudá-la a lembrar. – MCFLY!
- Isso mesmo. – eu sorri verdadeiramente pela primeira vez. – Não que faça muita
diferença.
- Claro que faz. Minha prima tem ingressos para o show de vocês amanhã e eu vou com
ela, ela é doida pela banda! Será que tem algum jeito de você conseguir colocá-la
no camarim, só para se conhecerem e... Ai! Eu sei que estou sendo completamente
abusada e você provavelmente deve estar com medo de mim, pensando em como sua cama
quente seria um lugar melhor para estar nesse exato momento, mas... – eu a
interrompi, rindo.
- Tá tudo bem, relaxa. Não te acho doida e com certeza sua prima poderá entrar. Eu
falo com a minha empresária. – ela sorriu de orelha a orelha.
- Muito obrigada! – me abraçou. – Ops, desculpa. Sou assim mesmo, atrapalhada,
abusada e maluca. – ela olhou as horas no relógio de pulso que usava. – Nossa,
preciso muito ir. – se levantou e quando já estava um pouco longe de onde eu me
encontrava, gritou. – Roonie Sparks! Não esquece!
- Roonie Sparks. – disse baixo para mim mesmo. – Garota do jardim.
Penei um pouco para sair daquele jardim e encontrar o caminho certo para o meu
quarto, já que não fazia a mínima idéia de onde era. Parei na recepção, eles me
auxiliaram e me deram meu cartão. Ainda estava com a minha mochila nas costas e
quando abri a porta do quarto e acendi a luz, lá estavam Wills e Nics, na cama dele
se pegando. Legal, cara. Muito legal.
- Cara, foi mal. – Nics escondeu o rosto embaixo do travesseiro e Wills a cobriu.
- Que timing hein, Becker. – Wills riu pra mim e eu dei de ombros.
- Precisava de um banho e da minha cama.
- Não quer dar uma volta pelo hotel e depois voltar? – bufei. Qual o número de
vezes dessa noite mesmo?
- Dude, foi mal, mas eu to cansado pra caralho e quero muito descansar. Podem
apagar a luz, fazer o que quiserem, eu vou tomar meu banho e capotar.
Nem esperei meu amigo responder e entrei no banheiro. Liguei o chuveiro e deixei as
gotas caírem sobre meu rosto, tentando digerir o que Thay tinha me dito no jardim.
Me peguei sorrindo quando aquele jardim me levou a lembrar de um dia que eu e
Thalita estávamos em um lugar muito florido em Londres, jogando conversa fora...

- Sabe de uma coisa? – ela estava deitada com a cabeça no meu colo, com uma flor
rosa atrás da sua orelha, e eu apoiado em uma das árvores do jardim, o único lugar
com sombra naquele (raro) dia ensolarado em Londres. – Eu acho que não acredito em
promessas.
- Por que não, Thay? – eu fazia carinho em seu rosto e ela fechava os olhos a cada
toque meu.
- Promessas podem ser facilmente comparadas com um empréstimo no banco. – arqueei a
sobrancelha e deixei uma risada escapar.
- Agora explica a comparação.
- É simples. Você promete, mas ainda não pode cumprir, não tem dinheiro pra pagar.
Então o que acontece? Vai levando a promessa pros cantos, vai adiando enquanto dá,
esconde embaixo do tapete, tenta fazer esquecer. – ela sorria. – E quando você se
dá conta, aquela pequena promessa se transformou em uma enorme dívida que você não
consegue pagar.
- Mas se for igual uma dívida, você vai ter que pagar um dia, por bem ou por mal. –
ela sorriu e abriu os olhos, fazendo um estalinho com a boca.
- Exatamente. Por bem ou por mal. E meu amor, quando qualquer coisa tem que ser
feita desse jeito...
- Não dá certo. – eu a interrompi e a beijei os lábios.
- Isso. Por isso nunca me prometa nada, tá ouvindo?
- Sim, foxy. Mas se um dia eu quiser te prometer o céu e o mar...
- Você não vai. – então ela fechou os olhos mais uma vez e eu voltei com os meus
inúteis pensamentos sobre como o amor era engraçado.

Comecei a rir sozinho com essa lembrança. Desliguei o chuveiro e prendi a toalha na
minha cintura, deixando meu tronco desprotegido. Enxuguei meu cabelo com outra
toalha e deixei-o daquele jeito mesmo. Abri a porta do banheiro deixando o vapor
sair e quando entrei no quarto, Wills estava sozinho dedilhando alguma coisa no
violão.
- Desculpa, cara. – disse sinceramente para Willy, que estava com a cara mais
melodramática de toda a história.
- Relaxa. – ele respondeu. – Aconteceu alguma coisa, né? A Nics saiu correndo
quando viu que você tinha chego pra conversar com a Thalita.
- Foi bizarro... – sentei ao lado dele e contei tudo que havia acontecido naquela
noite. Desde Thay me fazendo aquela proposta que eu particularmente achava
ridícula, até ponto em que aquela doida apareceu do nada no jardim puxando assunto
comigo. Tava me sentindo uma garota escrota, chegando em casa a noite e fofocando
com a melhor amiga.
- Vish, a porra ficou séria. – ele deixou o violão de lado e me encarou. – Foi do
nada, isso?
- Do nada. Parece que ela decidiu a vida dela em alguns minutos e precisou urgente
falar comigo. – vesti minha samba canção e deitei na cama ao lado da de Wills. –
Vomitou aquele bando de palavras, que juntas não fazem sentido algum. Velho, na
boa... Não sei o que fazer.
- Aceite. – ele disse com um sorriso malicioso nos lábios. – Aceite, mas não
desista. Ela disse que queria que agissem iguais amigos, não disse? Aja, seja o
melhor amigo do mundo, mas não desista de ficar com ela de novo. Continue esse seu
plano de vinte e quatro...
- Vinte e seis. – corrigi.
- De vinte seis músicas aí... – ele continuou. – E torça para que tudo dê certo no
final.
- Você é um gênio, sabia disso? – coloquei os braços atrás da minha cabeça, já
deitado. – Uma merda de gênio, mas é. – ele riu.
- Quando dá eu sirvo pra alguma coisa.
- É, tem razão.
E eu peguei no sono.

Acordei com o ronco do Wills na manhã seguinte. Olhei para o visor do celular:
08:30h, estava cedo, mas a gente teria que fazer muita coisa hoje. Não teríamos um
dia “livre”, o show aqui em Oxford seria no fim da tarde e já pegaríamos o trailer
para a próxima cidade. Resmunguei um pouco pra sair da cama, tomei um banho,
escovei os dentes, vesti uma roupa qualquer e larguei Wills dormindo. Eu que não ia
acordá-lo não, vou deixar ele se foder um pouco hoje. Andava pelos corredores do
hotel a procura de alguém acordado e ouvi uma voz que eu conhecia, vinda daquele
jardim de ontem. Sem pensar duas vezes, fui até lá.
- Such a long, long way to go... Where I'm going I don't know… - A música era
calma, o dedilhado era envolvente e a voz... Doce. Quando vi os cabelos da Thalita,
não fiquei surpreendido, lógico que era ela. Aproximei-me mais e pude ver seu
caderno de músicas, uma caneta atrás da orelha e um sorriso no rosto. Resolvi ficar
escondido ali atrás da árvore e observar mais um pouco.
- I'm just following the road, through a walk in the sun, through a walk in the
sun… - ela sorriu mais uma vez e escreveu no caderno. – Eles vão adorar essa
música.
Eu ainda a observava em silêncio. Ela pegou o violão novamente e cantou mais um
trecho.
- I wonder how they put a man on the moon, I wonder what it's like up there. I
wonder if you'll ever sing this tune, all I know is the answer is in the air. – por
que ela não era famosa? Ela compunha, ela tocava violão, ela tinha a voz linda. Por
que nós nunca fizemos um show com ela...? Isso me deu uma idéia, mas vou deixar pra
mais pra frente. Tudo estava indo perfeitamente bem, eu a observando, ela tocando,
até que eu cometi a atrocidade de espirrar.
- Quem está aí? – ela parou de cantar na hora e eu tive que me revelar. – Ah, oi
Codys. O que estava fazendo ali atrás?
- Oi. – passei as mãos pelos cabelos. – Bem, eu estava te observando.
- Isso eu percebi. – ela riu. – Por quê?
- Porque estava legal, tava bonito. – eu respondi meio desajeitado. Ela soltou uma
risada baixa.
- É pra vocês, se quiserem usar. – ela deu de ombros e me encarou ainda sorrindo. –
Eu acordei cedo, perdi o sono e esse jardim me inspira. É bonito, não é?
- É lindo. – eu respondi perdido nos olhos dela. Sou muito imbecil. – Os outros já
acordaram?
- Não sei. – ela respondeu, levantando do banco. – Não vi ninguém, acho que vou no
quarto ver se a Nics acordou antes que a Chelle vá até lá e acorde ela com muitos
gritos. – ela colocou o caderno embaixo dos braços. – Daqui a pouco nos vemos,
Codys. - E pela segunda vez ela me largou sozinho naquele jardim. Aquilo estava
ficando chato.
Depois de ficar mais ou menos uma meia hora sem fazer nada naquele lugar, resolvi
subir pro quarto. Quando eu abri a porta, adivinhem? Wills estava dormindo. Ainda.
- Porra, Willy! Eu tenho que te acordar toda hora? – joguei o travesseiro da minha
cama na cara dele. – Se depender de você a gente tá na merda. Acorda.
- HumHum. – ele resmungou e trocou de posição.
- Não vai acordar? – eu o ameacei. Enchi um copo de água e joguei no rosto dele. –
Eu avisei que não ia perdoar.
- Que caralho, Becker! – ele berrou e num pulo levantou da cama. – Sua delicadeza
de elefante nunca muda.
- Se eu for delicado. – parei por um instante. Até dizer a palavra “delicado” era
gay. – Se eu for isso aí... – corrigi. - Você não acorda é NUNCA.
- Vá se foder. – ele mostrou o dedo do meio pra mim e eu ri.
- Você é a pessoa mais ingrata da face da terra, Willy.
- E você é a mais otária.
- Imbecil.
- Beleza, agora me deixa tomar banho, falow. – ele entrou no banheiro e eu me
joguei na cama. Pensei na minha vida amorosa por alguns segundos e resolvi parar
por ali porque tava uma tremenda de uma bosta. Saí do quarto e quando eu tava
distraído, no meio do corredor, trombei em alguém.
- Nossa, me desculpa. – uma garota disse, recolhendo as coisas que haviam caído da
sua bolsa. – Eu tava distraída e... Oi Codys!
Era Roonie, a garota do jardim.
- E aí, Roonie. – ela sorriu pra mim.
- Tá perdido, guri?
- Não. Eu tava indo pro restaurante tomar café.
- Eu também, podemos ir juntos... Se não se importar.
- Pô, claro que não. – ela já ia caminhando e eu ia seguindo seu ritmo. – Bora.
Quando chegamos no restaurante os únicos que estavam lá eram Jones e Harry. Eles
devoravam sem o menor pudor muitas panquecas com tudo que tinham direito em cima,
fiquei com inveja pra ser bem sincero. Cheguei perto deles com Roonie.
- E aí caras, essa é Roonie. – apresentei.
- E aí, linda. – Harry (tentando seduzir) disse.
- Ei. – Jones falou simplesmente, sem desviar muito a atenção das suas panquecas.
- Oi garotos. – ela sorria. Essa garota não parava de sorrir nem por um minuto?
- Eu a conheci ontem no jardim.
- Tava fazendo o que no jardim? – Jones perguntou, agora sim prestando atenção em
mim.
- Ué, conversando com ela.
- Mas antes disso, como foi parar lá? – Harry perguntou, também interessado.
- Longa história. Logo vocês saberão, agora tchau que eu vou ali tomar café com
ela, to verde de fome.
- Eu também. – ela disse. – Prazer conhecê-los, meninos.
- Idem. – Harry e Jones responderam de boca cheia.
- Ela parece legal. – ouvi Harry dizendo pra Jones enquanto me afastava.
- Ela tem um sorriso bonito. – E não é que tinha mesmo? Eu disse pra vocês.

Thalita’s POV
Nics havia acordado de mau humor. Ela era um saco quando ficava assim. Tudo a
incomodava, tudo a irritava e o pior de tudo: a sua sinceridade aumentava em cem
por cento. Imaginem uma pessoa que já é sincera ficando mais sincera ainda. Pois é,
agora percebam onde estou metida. A gente descia as escadas em direção ao
restaurante do hotel.
- Isso não acaba nunca? – ela resmungava.
- Já tá chegando, Nics. Calma.
- Calma?
- É, calma.
- Não vem me pedir calma não hein, Thalita. Já me basto.
- Que seja, eu hein. – ela bufou e eu quis rir, mas sabia que se eu risse, a
situação pioraria. Entramos no restaurante e eu me deparei com uma cena que não me
agradou em nada. E quando eu digo nada, é nada mesmo. Codys estava conversando com
uma garota e ele ria. RIA. Quem era aquela piranha e o que ela estava fazendo com
meu namorado? Argh. Ex-namorado. O que ela estava falando de tão engraçado assim?
Eu também queria rir. Há. Há. Há.
- Se você olhar mais um pouco seus olhos pularão pra fora do seu rosto. – Nics
disse, me olhando.
- Ele se recuperou rapidinho, hein. Que graça.
- Thalita, pode parando.
- Não amola, Nicole. – fui até uma mesa e puxei uma cadeira pra sentar, sem nem por
nada no prato.
- Já basta eu de cu virado, agora você também? To vendo que hoje o dia vai ser
difícil.
- Difícil? A gente vai ter uma amostra grátis do inferno. – minhas mãos batiam
impacientemente na mesa. – Principalmente se essa garota não sair de perto do
Codys.
Nics me olhou feio e foi colocar comida em nossos pratos. Colocou algumas panquecas
em um e pães de queijo em outro, deixando na mesa para depois buscar café. Quando
finalmente voltou, eu fiquei a encarando em silêncio por alguns minutos.
- Fala, Thay. – ela por fim se rendeu.
- To puta. – eu disse, nada mais.
- Mas Thay...
- Eu não achei que ele fosse desistir de mim, Nics. – lotei minha boca de panquecas
com muito mel e tomei café em cima. – Achue quew fusse tjenta aute conxeguier.
- Engole. – ela disse, sem entender uma palavra do que eu havia dito.
- Eu achei... – dei mais uma mordia na comida e por fim engoli. – Que ele fosse
tentar me reconquistar até me conseguir de volta.
- Pelo amor de deus amiga, ele só está conversando.
- Em uma mesa, sozinho e com ela. – tomei mais um gole do meu café. – Quer saber?
Vou lá me apresentar.
- Mas não vai é mesmo. – ela fechou a cara pra mim, séria. – Thalita Bernardi, se
eu te ver levantando dessa mesa agora, eu não sei do que sou capaz.
- Já eu sei exatamente do que sou capaz se essa vadia encostar no braço do Codys de
novo.
Ela riu de mim e eu fiz bico, segurando minha cabeça com as duas mãos e os
cotovelos apoiados na mesa.
- Que merda. – choraminguei. – Não quero mais panqueca, cansei desse dia.
- Acabou de começar. – ela ria da minha desgraça.
- Engraçado né? – tomei o último gole do café. – Acabou de começar e eu já quero
que termine. – bufei e deixei minha cabeça cair, encostando-se à mesa.

Capítulo 15.
Vacas, meia arrastão e homens.

Eu estava lá, aproveitando meu momento “kill me now”, quando ouvi a voz de Codys
soando amigável em meus ouvidos.
- Julie, Thay, Nics, quero apresentar a Roonie. – Nics me cutucou e levantei
automaticamente com um sorriso forçado nos lábios. Tinha exagerado? Fiquei por um
momento com medo de ficar com cara de maníaca, mas aí passou. Essa garota que
tivesse medo de mim mesmo.
- Oi, meninas. – ela disse, docinha. Já quis socar a cara dela.
- Oi Roonie. – Nics respondeu toda simpática. Ela tava do lado de quem, afinal?
- Oi. – respondi.
- Eu conheci a Roonie ontem no jardim, eu estava lá quando você me...
Quer dizer então que a culpa foi minha? Quando o ouvi falando que a conheceu no
jardim, não consegui prestar atenção em mais nada. Só fui considerando a idéia de
como e quando eu iria me livrar dela.
- Então – ela ria. – a gente se trombou no corredor de novo e viemos tomar café. –
Nics prestava uma atenção forçada aos dois. – Codys é bem legal.
- É, eu sei. – respondi, com o ciúmes querendo pular fora e, pra ajudar, Codys
percebeu e riu.
- Roonie ficará com vocês e com a prima dela no backstage hoje. – ele disse,
parecendo se divertir com a situação. – Ela é uma grande fã do McFly.
- Hum, sei.
- Então a tratem bem. – outro sorriso ameaçava se formar em seus lábios. Ele estava
se divertindo com meus ciúmes? Era isso?
- Claro, que outra maneira a gente trataria amigas dos nossos melhores amigos, não
é mesmo? – Nics respondeu.
Codys não se convenceu muito, mas o suficiente pra largar a loira do banheiro ali
com a gente.
- Sente-se, Roonie. – eu convidei, com malícia no olhar.
- Obrigada.
- Então, qual deles você prefere? – perguntei.
- O que quer dizer?
- Dos McFly. Qual deles?
- Erm, não sei se tenho um preferido, quer dizer, eu nem sou muito fã assim, quem
é, é minha prima e ela ama o Harry.
- O Harry. – repeti e sorri sem mostrar os dentes. – Harry é meu melhor amigo.
- Jura? Que legal, ele é muito engraçado.
- Sim, ele é meu melhor amigo.
- É, você disse.
Nics percebeu que o clima estava ficando um pouco, “confuso”, e resolveu trocar de
assunto.
- Qual o nome da sua prima?
- Ellie.
- Que nome lindo. – ela disse, tentando ser simpática.
- Eu também acho, sempre digo pra ela. – ela sorriu com aqueles dentes de cavalo. –
Agora tente se chamar Verônica. Demorou muito tempo pra eu conseguir sair do Vê
para Roonie, que eu particularmente acho um trilhão de vezes melhor.
- Eu nunca tive problema com apelidos, graças a Deus. – suspirou Nics, que
conversava animadamente com o inimigo. Eu apenas observava.
- E você, Thay? Gosta do seu apelido?
Fiquei em silêncio.
- Thay, a Roonie está falando com você.
- Oi?
- Ela perguntou se você gosta do seu apelido.
- Ah sim, gosto. – forcei um sorriso pela trigésima vez em dez minutos.
Quase pulei de alegria quando Jones interrompeu aquela linda conversa.
- Garotas, temos que ir. Chelle já está nos cobrando, terminaram seus cafés?
Jones era um cara muito bonito. Ele estava usando um chapéu fedora preto, cardigan
xadrez com uma básica branca por baixo, jeans rasgada e nos pés um vans também
preto.
- Que lindo, Becker. – eu disse, sorrindo de verdade. – Caprichou hoje, hein?
- É. – ele disse dando uma voltinha e fazendo nós três rirmos. – Tem um certo
alguém – apontou para Joanna. – que eu estou tentando impressionar.
- Aposto como ela já reparou, olha lá. – Nics disse, olhando em direção a Joanna
que nos observava.
- Espero que seja verdade. Enfim, chega de papo furado e vamos entrar na van.
Levantamos e fomos para a van que estava na frente do hotel. As malas já haviam
sido levadas para o trailer, pois quando o show terminasse já iríamos direto para
Margate, a próxima cidade da turnê. O caminho até o New Theater de Oxford foi
estranho. Joanna conversava em particular com Jones, eu com Nics e Julie, e os
garotos babavam em cima de Roonie, que contava as aventuras dela e da prima pelo
mundo. Grande merda, não é mesmo? Eu também acho, mas o que me deixou mais irritada
foi quando já estávamos no backstage, dentro do camarim conversando. Pra falar a
verdade, eles estavam conversando, eu estava mais interessada nas minhas cutículas
mal feitas.
- Então, nós vamos para Margate conhecer uma balada que a Ellie quer muito e depois
não faço idéia.
- Margate? – Codys perguntou entusiasmado e de repente eu já estava prestando
atenção naquela conversa sem graça. – Nós vamos pra lá também!
Vocês só podem estar brincando comigo.
- Mentira! – ela berrou. Precisava? – Não acredito.
- É inacreditável mesmo. – eu murmurei de modo que só Nics conseguiu ouvir, que
riu.
- Você pode ir no trailer com a gente. – Harry convidou, secando a garota. – Nós
vamos de trailer, estamos indo de trailer de uma cidade para outra, você pode ir
com a gente.
- Sério? Não tem problema? Estou com a minha prima e sei lá, não quero atrapalhar,
tem as garotas... – ela olhou pra mim e eu disfarcei mudando o foco.
- Elas gostaram de você. – Wills disse.
- Não tenho muita certeza disso, a Thalita não foi muito com a minha cara. – ela
tentou falar baixo, mas eu consegui ouvir.
- Deve ser coisa da sua cabeça. – Codys disse. – Ela gostou de você sim.
- Eu acho que não, Becker. – voltei a olhar pra ela e a vi dando de ombros. – Mas
tudo bem, eu vou aceitar o convite.
- Aí sim, senti firmeza. – Harry bagunçou o cabelo dela, que riu.
- Mas prometam que falarão com elas?
- Prometemos.
- Prometemos.
- Então já era. – ela disse feito um homem. Dai-me forças, Deus. Olhei pra Nics
pedindo socorro e tudo que ela fez foi rir. De novo.
- Thalita, nem vem, sério. Não começa.
- Mas...
- Shiu, olha quem tá vindo.
Então ele se aproximou, todo sorridente e irritantemente bonito.
- Oi, ladies. – era Codys. – Tenho boas noticias.
- Estou realmente precisando de uma. – rebati.
- Roonie vai viajar com a gente, não é demais? Mais uma pra zona.
- Agora a boa notícia, Becker.
- Essa é a boa noticia, Bernardi.
- Ah. – suspirei.
- Por quê? Você não gosta dela?
- Não, claro que gosto... É só que... – Nics pisou discretamente em cima do meu pé.
– Ouch!
- Só que? – ele perguntou, sem entender.
- Nada, eu gosto dela sim. – me dei por vencida.
- Legal, porque se não gostasse a convivência ficaria bem difícil. – ele foi até
mim e sussurrou no meu ouvido. – Eu fiquei muito feliz com a nossa conversa de
ontem e fico mais feliz ainda de estar conversando com você assim. – senti minha
nuca arrepiar. – Fico muito feliz mesmo.
Ele se afastou e foi falar com Jojo e Julie sobre aquela garota sem sal ficar a
viagem com a gente. Julie, assim como eu, não gostou nada da idéia, visto que Harry
estava quase comendo a outra com os olhos. Mulher não é burra, mulher sabe o que
acontece. Pega coisa no ar. A maior prova disso foi eu ter desconfiado que Codys ia
aprontar naquela rave e o que aconteceu? Pois é. Enfim, os garotos tiveram que sair
do camarim para passar o som e nós, garotas, ficamos lá dentro porque ninguém quis
sair, principalmente eu e Julie, que tínhamos um bico na cara maior do que de um
pato. O silêncio naquele camarim estava começando a ficar constrangedor, mas pra
mim era perfeito. Joanna olhava o teto como se ali tivesse alguma coisa legal, eu e
Nics nos encarávamos trocando pensamentos por telepatia e Verônica (sim, eu a
chamarei desse jeito, não sou amiga dela para chamar de Roonie, olhava pra gente
como se nós tivéssemos algum tipo de obrigação de falar com ela.
- Então... – ela puxou assunto, quebrando o silêncio maravilhoso que antes
dominava. – Vocês se conhecem faz tempo? – não me atrevi a responder.
- A gente estuda junto, tipo, desde sempre. – Joanna respondeu.
- Legal. Cresceram juntas?
- Nics e Thay sim, eu e Julie entramos para a turma um pouco depois. – ela sorriu
para Verônica que sorriu de volta (com dentes não tão brancos e aquele cabelo não
tão brilhante). – Mas é, pode-se dizer que crescemos juntas.
- E namoram algum deles?
Ela tocou exatamente no ponto delicado da situação. Joanna, que antes estava
curtindo a conversa, adquiriu um tom pálido no rosto.
- Nics está praticamente casada. – dessa vez eu respondi com um sorriso forçado. –
Eu e Codys terminamos recentemente.
- Oh, desculpe. – falsa.
- Tudo bem.
- Muitas brigas?
- Traição. – cuspi o fato e desviei meu olhar pra Joanna, que parecia me ouvir
xingá-la das palavras mais feias que eu consegui lembrar.
- Oh. – e mais uma vez ela soltou o “Oh, sou uma dama em perigo, alguém venha me
salvar”. – Deve ter sido terrível.
- E foi.
- Que tal mudarmos de assunto? – Nicole se pronunciou e eu dei de ombros, voltando
a minha posição inicial.
- E vocês duas, namoram? – ela insistiu, perguntando pra Julie e Jojo.
- Não. – Julie respondeu, sem desviar a atenção pra garota. Abriu a bolsa e tirou
um cigarro. – Alguém tem isqueiro?
- Toma. – tirei da minha bolsa e estendi a mão. – Você precisa urgentemente comprar
um.
- Eu sei. – então ela arrancou as botas pretas que usava com a meia arrastão e
cruzou as pernas em cima do sofá. Já disse que ela era meio porra louca, né? Então.
Nics com certeza era a mais, digamos, “ajeitada” da turma e Jo era a que mais
reclamava de tudo. Roonie era a típica loira que você olha e acha que é burra e
fútil. Ela não parecia, pelo pouco que tínhamos conhecido dela, ser tão ruim assim.
Eu apenas a queria longe dos meus amigos. Só isso, é pedir muito? Ela usava uma
calça jeans desbotada, all star claro e uma blusa com uma frase que não consegui
ler e sinceramente, não fiz muita questão de entender. - Eu acho que vou lá ver o
ensaio. – Verônica nos olhou, já levantando. – Alguém quer ir comigo?
- Eu vou. – Joanna se pronunciou e em poucos segundos as lindas não estavam mais
com a gente. Impressão minha ou o ar daquele lugar havia acabado de ficar mais
leve?
- Eu não engoli essa garota. – Julie disse, com certeza. – Eu acho que ela tá com
segundas intenções pra cima deles. Esse tipinho...
- Sei lá. – respondi. – Não gostei dela também, mas não sei se ela seria capaz
disso que você está dizendo.
- Não sei, não quero julgar mal também.
- Eu acho que estão sendo paranóicas só porque ela chamou atenção das pessoas que
gostam. – Nics sorriu convencida.
- Não tem nada a ver.
- Não mesmo. – confirmei. – É só que ela... Me irrita.
- Por causa do Codys. – ela teimou.
- Nicole, você é um saco. – Julie soprou fumaça na cara dela, que tossiu.
- Que merda Julie, você sabe que eu detesto essa bosta.
- Merda, bosta, vai usar mais algum sinônimo para fezes, querida amiga?
- Ih... – eu suspirei e me joguei no sofá, fechando os olhos.
Serei sincera. Eu não estava com vontade alguma de assistir show hoje. Não sei,
perdi o tesão. Eu não queria uma intrusa atrapalhando meus planos e se aquela
garota se colocasse no meu caminho, eu não responderia pelos meus atos. Grava,
escreve, tatua pra não sair nunca mais: É bom ela ficar longe. É bom ela manter
distância.
Acordei depois de quinze minutos achando que eu tinha dormido cinco dias no mínimo
e que o mundo tinha acabado. Pulei do sofá e vi minhas amigas me encarando e rindo.
- Calma, seu nome ainda é Thalita.
- Obrigada, era tudo que eu precisava ouvir. – ri com elas.
- Acho que é melhor nós irmos lá fora, sei lá. Fazer social. – Nics disse, olhando
o relógio. – Quero garantir meu almoço.
- Realmente, isso é importante. – eu disse, passando as mãos pela minha barriga
vazia.
- Comeria um bom burger king agora, daqueles grandes. – Julie segurou e mordeu um
sanduíche imaginário. – Delícia.
- Certeza que eles vão chegar aqui com aquelas comidas tipo de avião. – Nics
reclamou. – Se me mandarem comer uma salada...
- Que tal a gente sair daqui e então pensamos no que vamos comer? – sugeri, com a
mão já na maçaneta.
- De acordo. – Nics levantou a mão e nós saímos ao encontro dos nossos amigos.
As pessoas deveriam ser avisadas de duas regras básicas na vida. A primeira era que
não deve deixar uma garota na TPM com ciúmes. Não mesmo. E a segunda era deixar de
oferecer comida quando existe a possibilidade da mesma existir. Quando chegamos no
palco, lá estavam meus amigos no chão. Comendo, conversando, rindo e se amando. E
adivinhem comendo o que? Enormes lanches do burger king. Tentei não demonstrar a
minha raiva, meu nervosismo e minha frustração, mas não teve jeito.
- Vocês são uns imbecis. – senti meu rosto ficando vermelho. – Quem deixou comerem
sem a gente? Nem pra avisar? Que tipo de amigos vocês são?
Harry me conhecia mais do que ninguém e sabia que aquilo, aquele meu ataque de
nervos era conseqüência dos meus hormônios. Ele veio até mim com seu saquinho de
batata, me oferecendo uma.
- Come, Thay. – me abraçou bem pertinho e colocou uma batata na minha boca.
- Não quero. – bufei. – Não acredito que pediram comida sem nem ao menos falar com
a gente. – ele riu baixinho.
- Você acha que ia te deixar sem? – ele foi até o saquinho que estava ao lado de
onde estava sentado, tirou um outro saquinho, foi até mim e me entregou. – Do jeito
que você gosta, sem picles.
Tive vontade de chorar, é claro. Ele era o melhor amigo do mundo todo.
- Te amo, te amo, te amo, te amo, TE AMO. – eu pulei no pescoço dele e o abracei,
como se ele tivesse me dado uma coroa de diamantes. – Pediu exatamente o que eu
estava morrendo pra comer. – ele gargalhava e correspondia ao meu carinho.
- Não precisa de tudo isso também, bobinha. – mordeu de leve minha bochecha e eu o
encarei sorridente. – Ei, lembra que eu tenho que te mostrar uma coisa muito legal
depois.
- Muito legal? – eu repeti do mesmo jeito que ele havia falado.
- Muito legal.
- Já que é assim, também tenho uma coisa muito legal pra te mostrar.
- Hmmm, duvido que seja mais legal que a minha.
A gente andou até o lugar que ele anteriormente estava e nos sentamos. Tirei meu
lanche do saco e comecei a comer com vontade.
- A gente vê então. – respondi de boca cheia.
Eu havia ficado tão entusiasmada com o lanche, que nem lembrava mais das minhas
amigas, da loira-do-banheiro ou do Codys. Tudo que importava naquele exato momento
era o meu sanduíche sem picles, batata frita e coca cola. Eles nunca me fariam
chorar, não me cobrariam nada, me satisfariam e nem pediriam nada em troca. Esse
combo é ou não é demais? Reprimi uma risada que estava quase escapando devido aos
meus pensamentos e tomei um gole do meu refrigerante.
- Que horas que é o show, garotos? – Verônica perguntou.
- Daqui umas duas horas, acho. – Codys respondeu. Quatro garotos, quatro bocas e
foi da boca de Codys que saiu a resposta. Percebi que depois de responder, Codys se
aproximou de Wills e falou algo em seu ouvido. Arqueei a sobrancelha
automaticamente sentindo a curiosidade crescer dentro de mim. O que eles estavam
aprontando? Tomei o último gole da minha cola-cola e fitei os olhos de Nics, que
sorriu pra mim.
- Está mais calma, meu bebê?
- Sim. – respondi, fazendo bico.
- Que bom. – ela foi até mim e apertou minhas bochechas, me fazendo rir.
- Ei Thay. – ouvi a voz que eu sabia muito bem de quem era me chamar. – Pode vir
aqui comigo, rapidão?
Nem preciso dizer a cara que meus amigos fizeram. Nics foi a mais indiscreta.
Talvez porque ela não acreditasse que daquilo sairia qualquer coisa que pudesse ser
considerada “boa”. Eu a ignorei, quer dizer, ignorei aquele olhar assassino que ela
me mandou e segui meu ex-namorado por um corredor até entrarmos em uma sala que
tinha somente um violão apoiado em um sofá. Franzi o cenho e o encarei como quem
não entendia nada.
- Que isso, Codys?
- Sente-se, por favor.
Se ele fosse tocar uma música olhando nos meus olhos, seria compleamente apelativo
e contra as regras do just friends, que ele havia me prometido que iria cumprir.
Sentei e cruzei minhas pernas no aguardo de qualquer movimento vindo da parte dele.
- Bom, quero que você ouça essa música.
- Codys, nós havíamos combinado que...
- Thalita, relaxa. É como amiga e compositora, quero sua opinião.
Ah tá, Codys. Me engana que eu gosto.
- Hm. – resmunguei. – Se é assim... Ok.
- Certo. – ele disse e dedilhou algumas notas. – Presta atenção na letra, essa
chama Silence Is A Scary Sound (5).
E então ele começou a cantar.

I look into the sky


(Eu olho para o céu)
And I have to ask why
(E eu gostaria de perguntar porque)
She'd go and leave me
(Ela iria embora e me deixaria)
Oh why do feelings have to die?
(Ah porque esses sentimentos precisam morrer?)
Was it all just a sign?
(Isso é tudo um sinal?)
Of what its meant to be
(Do que era para ser)

Well I'm just too excited


(Bom, eu estou muito empolgado)
Everything has got me tiding
(Tudo se foi com a correnteza)
She's only doing for a break out
(Ela só está fazendo isso para terminar)
Better go she blows my brains out
(Melhor ela ir antes que estoure meu cérebro)
Silence is a scary sound
(Silencio é um som assustador)
Funny feeling happened today
(Sentimento engraçado eu senti hoje)
Somewhere buried in the past
(Enterrado em algum lugar do passado)
Didn't mean much that much anyway
(Não significou tanto assim)
I know that love will never last
(Eu sei que o amor nunca vai durar)

Ouvir Codys cantando aquela música para mim não podia ter me confundindo mais.
Opinião de amiga, opinião de compositora. Ele acha o que, que eu nasci ontem? Eu
sabia muito bem o que ele queria, e eu digo pra vocês: me deixar doida. É, isso
mesmo. Codys tinha essa mania, ele sempre gostou de me deixar sem saber o que
fazer, me deixar meio sem chão, pra poder sempre me ajudar. Pra poder ser aquilo
que me daria consistência na vida, que não me deixaria cair. Pode parecer fofo
comigo dizendo assim, mas eu juro que de fofo isso não tem nada, é apenas uma forma
dele me manipular, mas eu não deixaria isso acontecer. Fiquei em silêncio quando
ele terminou a música, o que pareceu deixá-lo um pouco irritado, pois seus pés
ficaram impacientes.
- Não vai dizer nada?
- Eu gostei. – disse rapidinho. Força, Thalita.
- Nenhuma critica?
- Não, está bem boa.
- Bem boa? – ele pareceu meio descrente.
- É, ué. – dei de ombros. – Não acredita no potencial dela?
- Eu... Eu... – eu fiz Codys Becker gaguejar? – Eu acredito sim, só achei que como
profissional você teria críticas construtivas.
- Se tivesse alguma coisa que eu achasse que você pudesse mudar, eu falaria. –
sorri para ele, sem que meus dentes fossem mostrados. – Mas como não tem nada que
me faça gostar menos da música, então sem críticas.
- Certo, então.
- Era só isso? – perguntei fazendo muito esforço pra que lágrimas não formassem no
canto dos meus olhos e deixassem transparecer os verdadeiros sentimentos que aquela
música tinha me causado.
- Uhum. – ele resmungou.
- Bom, então eu estou indo. – eu disse, quase inaudível. – Você vem?
- Eu vou ficar mais um tempo aqui, encontro vocês daqui a pouco.
- Tudo bem então.
Saí daquele lugar rapidinho, mas não consegui ir longe. Encostei minhas costas na
porta do quarto em que ele estava e senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto,
quentes e cheia de dor. Meu coração estava acelerado. E confuso.

Codys’s POV
Ela foi embora e me deixou ali sozinho. O engraçado era que eu realmente achei que
dessa vez fosse funcionar, mas de uma maneira que eu não compreendia, Thay estava
completamente imune a mim, as minhas musicas e ao meu amor. Eu não quero saber se
estou parecendo um gay dizendo esse tipo de coisa, é só o que eu sinto, entende?
Quando ela virou as costas eu perdi a noção. O violão que antes estava no meu colo
foi parar no chão e eu fui até a porta para ir atrás dela. Mas não o fiz. Fiquei
com as costas apoiadas na porta do quarto e fechei os olhos, tentando fazer com que
idéias melhores passassem pela minha cabeça, idéias que me fizessem... Melhorar.

Fiquei uns minutos ali pensando na merda que minha relação com a Thay estava,
quando enfim resolvi sair do quarto e fui em direção ao camarim, depois de ir até o
palco e não encontrar meus amigos lá. Quando entrei, notei uma pessoa diferente em
meio aos meus amigos. Provavelmente era Ellie, prima da Roonie. Eles conversavam
animadamente sobre alguma coisa. Todos, menos Thay, que escrevia no seu caderno sem
nem ao menos piscar. Se curiosidade matasse, eu tava com um pé na cova já.
- Ei Codys, vem cá. – Roonie me chamou e sem protestar obedeci. – Essa aqui é
Ellie, minha prima. Ellie, Codys Becker.
A garota era bonita, mas não tão bonita quando Roonie. Sorriu de orelha a orelha e
me envolveu em um abraço apertado, me fazendo rir sem muita força.
- Desculpe. – ela me soltou com as bochechas rosadas. – É um grande prazer te
conhecer.
- Sem problemas. – tentei parecer simpático, ainda com a cabeça naquele caderninho
da Thalita. – E aí, vai ficar pra ver o show né?
- É claro! – ela praticamente gritou. – Quando Roonie me disse que havia conhecido
vocês, eu quase tive um surto. – ela mexia nos cabelos os jogando de um lado para o
outro a cada aproximadamente cinco segundos, aquilo estava me deixando meio tonto.
- Ah é? – foi o que eu consegui dizer, ainda hipnotizado pelo cabelo.
- Uhum. – notei que ela usava um mini shorts e uma blusa super colada e decotada.
Não me julguem, posso ser um idiota apaixonado, mas não sou um idiota gay.
Definitivamente eu não era um idiota gay.
– Tenho uma crítica para fazer, Codys. – Roonie chamou minha atenção.
- Crítica? – então a pessoa que não deveria ter uma crítica tem? Thalita deveria
passar algum tempo com ela, ver se aprende.
- Sim. – ela se aproximou de mim, me abraçando mais uma vez e eu senti seu hálito
quente na minha nuca. – Acho que você tem que parar de ser assim.
- Assim como? – minha voz saiu rouca, engoli em seco.
- Assim... Irresistivelmente gostoso.
Deixei meu maxilar inferior cair, surpreso. Não havia visto Roonie desse jeito
desde que a conhecera, mas até que não seria má idéia. Ela era linda, com belas
curvas... Meus amigos me olhavam curiosos para saber o que estava acontecendo e as
garotas já haviam desistido de presenciar a cena, conversavam entre si num canto do
camarim. Mordi meu lábio inferior e fechei os olhos. Aquela garota estava me
provocando. Harry percebeu e riu da minha cara.
- Temos que nos trocar para o show. Falta meia hora. – ele disse, ainda rindo. –
Estou impressionado que a Chelle não entrou aqui causando ainda.
- É, eu estava pensando nisso agora mesmo. – Jones disse, levantando do sofá e
deixando a caneca de café que tomava em cima da mesa de centro.
- Bom, isso quer dizer que temos que sair? – Roonie fez biquinho. Incrivelmente
sexy.
- Não queremos. – Ellie choramingou. Ouvi alguém pigarreando.
- Mas temos que ir, não temos Wills? – Nics foi até nós e fitou Willy com os olhos
semicerrados.
- Depois desse olhar. – ele sussurrou pra mim e voltou a atenção para Nics. – Sim
linda, vocês devem ir. Daqui a pouco nos veremos de novo.
Nics foi até ele e o beijou. Thalita abraçava Harry desejando boa sorte e lhe deu
um beijo estalado na bochecha. Arqueei a sobrancelha e olhei para Roonie, que
estava parada ao meu lado sorrindo sem parar. Ao menos alguém me dava a devida
atenção.
- Muito boa sorte, Codys.
Essa garota adorava me abraçar pelo visto. Senti seu corpo grudado no meu e como se
eu já não estivesse em choque o suficiente, ela deu uma leve mordida na minha
orelha, tive que extravasar o que eu senti. Envolvi sua cintura e a empurrei forte
contra mim. Ela soltou um suspiro e depois se afastou.
- Eu vou lembrar disso.
Thay foi até mim e desejou boa sorte, sem nenhum contato físico, apenas um esboço
de sorriso no rosto. Era mais do que eu esperava, se querem saber. Eu não sabia se
eu estava (ou não) solteiro, ou se eu podia (ou não) fazer certas coisas, só
realmente esperava que ela não tivesse visto nada que havia acontecido. De novo:
não me julguem, ok? Vocês sabem... Homem é homem.
Capítulo 16.
Diga-me com quem andas.

Harry batia as baquetas freneticamente na mesa de centro do camarim enquanto eu


vestia uma camisa. Wills trocava mensagens com Nics pelo celular.
- Quer lagar esse celular, porra? – Harry foi até ele e tirou da mão dele.
- Agora nem tem como eu largar não é?
- Idiota. – Wills murmurou e bateu na cabeça de Judd.
- Qual vai ser a música de hoje, Becker? – Jones perguntou.
- Corrupted. (6)
- Certeza?
- Sim, tenho certeza. – eu afinava o baixo enquanto conversava.
- Mas achei que usaríamos essa música só mais pra frente.
- Não precisamos gravar, Willy. É só uma vez, em um show qualquer. E outra, a
música é minha. – Wills fez cara de ofendido.

- Pensei que nós todos tivéssemos trabalhado nela.


- Você entendeu, nem começa de doce vai. – rolei os olhos. – A gente pode então
tocar essa música ou não?
- Podemos, vossa majestade Codys Becker. – Jones respondeu enquanto afinava seu
instrumento.
- Obrigado, otários.
- Ainda me xinga o filho da puta. – Wills foi até mim com os braços abertos. – Quer
um abraço meu amor? Tá de mal com a vida tá?
- Sai daqui, velho. – me afastava rindo do meu amigo.
- Vem cá, vem que eu to querendo um abraço gostosinho. – Jones e Harry riam da
nossa cara.
- Tá bom vai, posso apertar sua bundinha?

- Meu deus, vocês são nojentos. – Jones, rindo, jogou uma almofada em mim.
- Wills? – eu perguntei.
- Yo.
- Acho que o Becker tá querendo um abraço, vai lá.
- Deixa comigo.
A gente ficou falando e fazendo merda até faltar cinco minutos pro show começar. Eu
não estava tão animado, mas tinha que fazer aquilo direito, meu futuro praticamente
dependia daquilo. Quando saímos do camarim, um segundo antes do show começar, Wills
me puxou com uma expressão desesperada.
- Esqueci onde estamos. Que cidade é essa mesmo?
- Oxford. Caralho, Willy.
- Deu branco. Entra logo.
Apareci no palco com o baixo levantado e a gente se posicionou. As garotas gritavam
e eu notei que duas que estavam encostadas na grade não usavam blusa, só estavam de
sutiã. Arregalei os olhos e sorri, quando elas perceberam que eu estava olhando. O
show estava muito bom, como sempre. Até que chegou a minha hora.
- E aí, Oxford, estão gostando do show?
As garotas gritaram em resposta.
- Essa música que nós tocaremos chama-se Corrupted e é inédita! Espero que gostem.
- Quem gostar, no fim da música da um GRITO! – Jones complementou e as garotas
automaticamente gritaram. Respirei fundo e comecei.

Crashing into walls


(Batendo nas paredes)
Banging on your door
(Batendo na sua porta)
So why'd you let me in
(Então por que você me deixou entrar?)
Falling through the floor
(Caindo pelo chão)
Diving in too deep
(Mergulhando muito profundamente)
Underneath your skin
(Por baixo da sua pele)

Olhei para o lado onde Thay estava e sorri para ela, voltando logo em seguida a
atenção para a platéia, sem ter conseguido ver sua reação.

So good you've got to abuse it


(Tão bom que você teve que abusar)
So fast that sometimes you lose it
(Tão rápido que às vezes você perde o controle)
It chews you up when you feed it
(Te mastiga quando você o alimenta)
But everyone needs to eat
(Mas todo mundo precisa comer)
Am I too much for you?
(Eu sou demais para você?)
'Cause you're too much for me.
(Porque você é demais pra mim)
Still wanna be, corrupted.
(Ainda quer ser corrompido)

(...)

Do you remember how it started?


(Você se lembra como isso começou?)
The fairytale got twisted and decayed,
(O conto de fadas se tornou distorcido e podre)
The innocence has all been broken,
(A inocência foi toda violada)
How did we get this way?
(Como nós nos metemos nessa?)

Tentava encontrar os olhos de Thalita para acompanhar sua reação, mas Roonie estava
ali, bem em frente a ela, pulando feito doida. Soltei uma risada no microfone sem
querer e isso me constrangeu. “Como nós nos metemos nessa?” Eu sabia. Eu havia
colocado a gente naquela situação, mas a música onde admitíamos os erros não era
aquela. Toda música tem seu propósito... Enfim. Terminamos Corrupted e mais cinco
músicas vieram em seguida finalizando o show, finalmente. Eu estava realmente muito
cansado e tudo que eu queria era a cama daquele quarto no trailer...

xxx

- Quer tirar a mão daí, Jones? – Joanna gritava com Becker.


- Desculpa, Jo, a mão é minha. – Nics respondeu, rindo.
Já estávamos no trailer e adivinha? Todo mundo teve a mesma idéia que eu de dormir
no quarto. Era apenas oito da noite e geral já estava babando de sono. Lógico que
nem todo mundo conseguiu ficar na cama, o resto ficou em dois colchões (que foram
enfiados dentro daquele quarto não sei como). Roonie e Julie ficaram na cama
comigo. Thay, Harry e Ellie em um colchão e Nics, Wills, Jones e Joanna no outro.
Colchão dos casais. Julie estava deitada com o corpo na horizontal da cama e eu e
Roonie na vertical, um ao lado do outro. Eu tentava não olhar fixamente para ela,
mas era meio em vão. Aqueles olhos provocantes me fitavam com desejo.
- Eu gostei daquele abraço. – ela sussurrou, de modo que só eu pude ouvir. – Eu
quero mais.
- Posso te dar outro. – respondi, também sussurrando.
- Não. Eu quero ver o que mais você sabe fazer.
Uma coberta cobria nossos corpos e eu senti a mão dela deslizando pela parte
interna da minha coxa. Senti eletricidade correndo as minhas veias. Ela passou os
dedos pela minha virilha e eu acabei me “animando” com a situação. Roonie percebeu
e soltou um riso abafado, em seguida mordeu seu próprio lábio inferior.
- Meu sonho era te ver assim.
Engoli em seco.
- Você está me provocando.
- E você gosta?
- Ei, Codys. – Harry gritou do colchão de baixo, fazendo-me despertar daquela
transe na qual aquela garota louca (porém gostosa) havia me enfiado. - Hm?

- Ellie está dizendo para dormirmos e quando chegássemos no hotel, a gente se


arrumasse para irmos lá na balada que elas querem tanto ir. – ele sentou no colchão
de modo que pudesse me ver. - Por mim tudo bem. – Roonie sorriu pra mim... Eu,
maliciosamente, sorri de volta. Harry bufou em reprovação.
- Vocês topam, garotas?
- Sim.
- Whatever.
- Paguem pra mim que eu topo tudo.
- Desde que tenha whisky.
Joanna respondeu primeiro, Thay segundo, Nics terceiro e obviamente, Julie em
quarto. Harry sorriu satisfeito e depois de alguns minutos em silêncio, caímos no
sono.

- Você acha normal isso? – fui acordando aos poucos com a voz de Nics ecoando pelos
meus ouvidos.
- Sei lá. Não quero pensar. – consegui reconhecer a voz de Thay respondendo.
- Você tem que pensar.
- Mas eu não quero, Nicole. – tentei abrir meus olhos, mas a preguiça estava
dominando meu corpo.
- Tá explicito! É uma falta de respeito inacreditável...
- Nics desencana, eu to ok. – Thay respondeu e eu não me movi, querendo ouvir mais
da conversa entre elas. Entreabri os olhos e vi que somente elas estavam ali no
colchão, não fazia idéia de onde os outros haviam se metido.
- Você não consegue me enganar. – Nics olhou pra mim e eu fechei meus olhos
rapidamente. – Ele se mexeu.
- Que? – Thay disse com uma voz desesperada. – Pelo amor de Deus, vamos sair daqui.
E então ouvi o barulho de pessoas se levantando da cama e a porta batendo em
seguida. Do que elas estavam falando e por que eu não poderia saber? Abri meus
olhos por completo e fiquei fitando o teto, pensativo. Deixei um sorriso escapar
quando me lembrei de Roonie e em como ela era cara de pau. Fiquei ali, alternando
meus pensamentos entre Roonie e Thay até passar o tempo necessário para que não
desse na cara que eu havia ouvido a conversa da Nics e da Thay. Saí do quarto
vestindo apenas minha samba canção do bob esponja e notei que todos comiam waffles
na mesinha da sala do trailer e conversavam. Conversavam muito alto. - Olha lá, a
Bela Adormecida. – Jones tirou sarro, jogando mais chocolate no seu prato.
- Por que ninguém me acordou? – perguntei, tentando arrumar meu cabelo.
- Aparentemente as pessoas odeiam acordar umas as outras. – Thay respondeu. –
Experiência própria.
- Pelo visto. – desisti do meu cabelo e sentei ao lado dela. – Isso aí tá bom? Quem
fez?
- Eu mesma.

- Então passa pra cá que suas waffles são as melhores. – ela sorriu pra mim e meu
coração correspondeu.
- Estão ótimas mesmo. – Roonie interrompeu. – Parabéns, Thalita.
- Obrigada. – Thay sorriu.
- Bom, não sei se estão interessados em saber, mas daqui quinze minutos
aproximadamente estaremos em Margate. – Harry disse, comendo seu último pedaço de
waffles.– Então eu os aconselho a arrumarem suas coisas, meus caros amigos.
- Talvez seja uma boa idéia. – Julie levantou, vestindo apenas calcinha e uma blusa
do The Doors. Ellie arqueou a sobrancelha.
- Que foi Ellie? Algo errado com a comida? – Harry perguntou, passando as mãos
pelos cabelos dela.
- Não. – ela respondeu confusa. – É que vocês ficam seminus na frente uns dos
outros sem pudor nenhum.
Todos nós rimos.
- Depois de muitas festas onde normalmente acordávamos completamente nus no chão da
casa da Thay, desistimos da vergonha. – Wills respondeu, rindo.
- É. Chega uma hora que o ser humano se rende a humilhação total. – Jones
complementou, de boca cheia.
- E aí a gente acabou entrando pra brincadeira. – Joanna disse, sorrindo. – Mas não
completamente nuas.
- Entendi. – Ellie disse, achando graça da situação. – Vocês são bem íntimos, isso
é legal.
- É perfeito. – Julie praticamente rosnou. – Nós nos damos extremamente bem. -
Harry percebeu o ciúmes na voz de Julie e riu sozinho. – Tá rindo do que?
- Nada. – ele automaticamente ficou sério. – Nada.
- Acho bom. – ela cruzou os braços e o silêncio reinou no lugar. Até, claro,
Michelle aparecer e entrar em crise nos vendo daquele jeito sendo que já havíamos
chego em Margate e estávamos na porta do hotel.
- Eu nem preciso dizer nada. Preciso? – ela disse entre dentes, fazendo todos nós
levantarmos da mesa e recolhermos as coisas jogadas pelo trailer. Todos menos Ellie
e Ronnie, que ficaram paradas ali sem entender nada. – Vocês duas também, andem,
andem.
Elas levantaram e foram atrás de nós, guardando algumas coisas que também estavam
jogadas e, quando tudo estava em seu devido lugar (ou simplesmente socado) dentro
da mala, entramos no hotel. Thay saiu correndo na frente e eu nem pude ver onde ela
se meteu. Todos pegaram as chaves na recepção e foram correndo para os quartos se
arrumar. Confesso que a minha vontade para ir pra balada era a mesma vontade que eu
tinha de voltar pra casa. Nula. Tentei convencer Wills de que a idéia de sair do
hotel era meio absurda, mas o que ele considerou absurda foi a minha tentativa de
convencê-lo a desistir da saída. Depois de resmungar, bufar, bater o pé, eu estava
lá, pronto. Não sei por que eu ainda não havia me acostumado ao fato de que se
alguma festa rolasse, eles iriam sem nem pensar duas vezes. E ai de quem quisesse
impedir. Eu tinha acabado de sentar na cama, quando bateram na porta. Wills tomava
banho, então eu mesmo tive que abrir e digamos que não me arrependi de ter o feito.
- Oi. – Roonie sorria para mim. Ela estava linda. Usava uma saia curta preta, com
uma blusa brilhante (sei lá o que era aquilo, só sei que estava bonito) e salto
alto. Seu cabelo estava solto e liso, como sempre. – Está pronto?
- Uhum. – resmunguei, fitando descaradamente as pernas desprotegidas da garota. –
Vamos dar uma volta?
- Claro. – peguei minha carteira que estava em cima da cômoda, enfiei no bolso da
calça e fui atrás dela no corredor, sem nem olhar pra trás.
- Eu gostei muito do show. – ela dizia, ainda andando, me guiando até um lugar
qualquer. – Você é demais.
- Obrigado. – respondi, agora olhando sem parar para (...) dela.
- Disponha. – ela parou em frente a uma porta que estava entreaberta. – Chegamos.
- Chegamos aonde? – franzi o cenho.
- Aqui, no lugar onde eu queria te trazer. Entra. – ela abriu a porta pra mim e eu
entrei atrás dela, notando que era um quarto. Mais humilde, menor, quase sem nada,
apenas a cama e um frigobar.
- Mas por quê? – perguntei ainda não muito certo do que aquela doida estava
fazendo.
- Por isso.
Ela foi se aproximando com um olhar malicioso e eu fui me afastando, até dar de
encontro com a parede e ficar sem saída. Aqueles olhos verdes perfuravam os meus e
me fizeram esquecer do resto do mundo.
- O que está fazendo, Roonie? – fazer minha voz sair naquele momento foi uma tarefa
extremamente difícil de ser realizada.
- Uma coisa que venho querendo. – ela passou os dedos frios pelo meu rosto e parou
em minha frente, colocando as duas mãos nos meus ombros. – E eu sei que você quer a
mesma coisa.
- Eu não...
Ela interrompeu selando nossos lábios. No início tentei me esquivar, mas depois
cedi. Ela apertava seu corpo contra o meu enquanto me beijava como se fosse a
última coisa que pudesse fazer na vida. Era urgente, era quente e eu gostei. Durou
alguns minutos, até a minha consciência falar mais alto do que minha “voz
masculina”.
- Não posso, Roonie. Me desculpa.
- Ei. – ela mordiscou meu lábio. – Está tudo bem, você está bem.
- O que? – arqueei a sobrancelha sem entender.
- Se Thalita não quer cuidar de você, eu cuido. – ela deslizou a mão até o cós da
minha calça e desceu até o meio das minhas pernas, ficando com a mão ali por alguns
instantes.
- Não, Roonie. – dei um leve empurrão na garota e saí fora dali, antes que eu
cometesse um grande erro. Digo, maior do que eu já havia cometido. Saí correndo do
quarto e dei de cara com a última pessoa que eu gostaria que me visse ali. Thay.
- Oi. – ela disse rindo da minha expressão desesperada e da minha respiração
ofegante. – Tudo bem?
- Tudo. – respondi procurando me recuperar.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Onde estava saindo com tanta pressa? – ela ainda sorria.
- Correndo do Harry. – dei de ombros, mentindo na cara dura. Ela arqueou uma
sobrancelha, ficando sem expressão alguma no rosto.
- Por quê?
- Porque... – demorei alguns segundos para bolar uma desculpa. – Porque ele queria
pegar meu caderno de músicas. – Ela me olhou de cima abaixo.
- E cadê o caderno?
- Bom... – engoli em seco. – Ele pegou.
- Ah. – ela disse simplesmente, cruzando os braços. – Entendi.
- E você? – perguntei, notando que ela ainda nem havia se arrumado. – Não está
pronta ainda?
- Eu não vou. – ela deu de ombros. – Não estou afim.
- Como assim, Thay?
- Sei lá. – a notei suspirando e em seguida arrumou os cabelos com as mãos. – Não
estou com muita vontade desse monte de diversão. – ela sorriu, irônica e não com
tanta vontade como havia feito anteriormente.
- Hm... Está tudo bem?
- É claro, por que não estaria? Ei Codys, vou indo pro meu quarto, boa balada. –
ela fez um tchau com a mão e seguiu direção contrária a minha, sem dizer mais
nenhuma palavra. Eu não estava entendendo nada, cada hora era uma pessoa diferente
que me fazia ficar completamente confuso. Cocei a cabeça, olhei pra trás pra
garantir que Roonie não estava por ali e rumei para o meu quarto com passos largos,
de onde eu não deveria ter saído. Quando entrei, Wills estava pronto, no telefone.
- Como assim? Você disse que ia. – ele parecia puto. – Não. Mas eu não quero ir
assim. Aham. Ele vai, eu acho. – ele olhou pra mim. – Tá bom. Tá bom, ué, eu vou.
Fica com ela então, fazer o que. Beijo. Aham, pode deixar. Não sai do hotel, Nics.
– ele desligou e olhou puto pra mim. – Você aprontou alguma com a Thay?
- Eu? – assustei. – Eu não.
- Então por que ela não quer mais sair?
- E eu que sei, Willy? Esbarrei com ela no corredor e ela já estava estranha,
dizendo que não ia. – me joguei na cama, ligando a TV. - Sei. Nics não vai sair pra
ficar com ela.
- Quer que eu faça o que?
- Sei lá. – ele bufou. – Agora só vai eu, você, Harry, Jones, Joanna, Julie, Ellie
e Roonie.
- E não tá bom? Só a Thay e a Nics que não vão.
- É, minha garota e a sua garota. – ele foi até o banheiro e voltou com uma toalha
nas mãos secando o cabelo. – Mas que seja, né.
- Cara, você tá puto comigo por um motivo escroto.
- Fiquei irritado, faz tempo que eu e a Nics não ficamos sozinhos se é que me
entende. Fora que a gente teve uma pequena discussão ontem quando você tava lá
cantando pra Thay.
- Como assim? – perguntei, mudando sem muita vontade de canal.
- Ela disse que eu fico olhando pra bunda da Roonie. – ele soltou uma risada
nervosa. – O problema é que eu fico mesmo e você sabe que eu não consigo mentir, aí
agora ela tá toda encanada.
- Você é um babaca.- eu disse, gargalhando.
- Se fosse só eu que olhasse...
- Mas eu não tenho namorada. – rebati.
- Mas não sou eu quem precisa reconquistar a pessoa que ama. – ele tirou da mochila
um perfume e passou. – Mas cara, não sou ninguém pra dizer qualquer coisa
relacionada a isso, você sabe muito bem o que faz.
- É... Eu deveria saber. – bufei e nós dois saímos do quarto para encontrar o resto
da galera no saguão do hotel. No meio do caminho o Wills foi falar com uma “fã” que
estava hospedada e uma Joanna transtornada me parou.
- Precisamos conversar.
- Sobre? – olhei pra baixo, sem a encarar nos olhos.
- É sério Codys. Sem joguinhos. Presta atenção. Eu vou te contar e quero que não se
preocupe e não conte pra ninguém. A parada das drogas que a gente usou aquele dia é
lixo perto do que eu tenho pra te dizer.
- Como assim, Jo? – levantei o rosto e vi que ela estava chorando. Meu coração
acelerou e minha garganta secou.
- Eu só vou te contar e quero que esqueça. Delete. Finja que nada aconteceu. É que
é um direito seu saber... E guardar esse segredo está me enlouquecendo.
- Do que você está falando? Está me assustando.
- É o seguinte...

xxx

- Codys, o que você fez pra Thay dessa vez? – Julie perguntou. Nós já estávamos
dentro de um dos camarotes da balada de Margate. Tínhamos sido reconhecidos e
manter aquela galera longe foi um sufoco para os seguranças, mas deu tudo certo no
fim. Harry havia fechado champanhe e duas garrafas de vodka, então bebida não
faltava. Apenas, quem sabe, um pouco de semancol e uma boa dosagem de vergonha na
cara. Pra mim, lógico. Não estava entendendo o porquê das pessoas acharem que eu
tinha feito alguma coisa para Thalita. Será que alguém tinha me visto com Roonie
naquele quarto? Impossível e eu não ia me arriscar.
- Eu não fiz nada, caralho. – gritei, já meio alterado pela bebida... E por mais
algumas coisas. Aquilo que a Joanna havia me contado era pior do que eu imaginava.
Muito pior. Mas como ela mesma disse, eu teria que deletar. Fingir que nada tinha
acontecido. Bom... Eu faria isso do meu jeito. – Perguntem pra ela, não para mim.
- Calma, cara. – Jones foi até mim, dando leves tapinhas nas minhas costas. – Foi
só uma pergunta inocente.
- Inocente? – ri debochado. – Ah tá.
- O que você tem? – Harry se aproximou, segurando em meu ombro. – Seus olhos estão
vidrados, Codys. O que você usou?
Droga. Tudo bem, eu havia tomado umas pílulas.
- Nada. – rebati imediatamente.
- Mentira. – Joanna foi até mim, me fitando com aqueles olhos azuis enormes.
- Não se mete. – eu disse, virando a cara pra ela. Vi os olhos dela se encherem de
lágrimas e ela correu pra longe, seguida por Julie. Essa garota só chora?
- Becker, você vai pro hotel. Agora. – Wills disse, me puxando pelo braço.
- Por quê? Porque eu fui grosso com aquela ali? – apontei para Joanna que estava
apoiada em uma parede sendo consolada pela amiga. – Ela merece. Ela é a culpada.
- Culpada de que? – Roonie se aproximou com um copo na mão, cambaleando. – O deixem
em paz.
- Não se mete, Roonie. Culpada de que, Codys? – Harry perguntou, com os olhos
urgentes. – O que ela fez?
- A culpa é dela que a Thalita não quer mais nada comigo.
- Não fala mais nada Codys. Vem comigo.
Senti um braço me puxando pra longe dos meus amigos e depois de alguns minutos; que
pareciam mais uma eternidade, me encontrei dentro de um taxi ao lado de Roonie.
Sentia meu estomago revirando, querendo por pra fora alguma coisa que havia me
feito mal; provavelmente a bebida combinada com as pílulas que eu havia conseguido
com Greg, um cara que eu tinha conhecido na entrada da balada. A idéia naquele
momento parecia ser boa. Mas agora que sentia meu café da manhã dançando dentro da
minha barriga, me sentia um idiota. Saímos do taxi e o caminho até meu quarto do
hotel foi tão calmo que eu não consigo nem lembrar como fui parar na minha cama.
- Codys... Poderia me aproveitar dessa sua situação pra conseguir o que eu quero
né? – ouvi a voz dela, fraca e baixa. – Você fica tão lindinho chapado. – ela riu.
- Roonie, é melhor você ir. – falei sem forças, tentando sentar na cama, mas
infelizmente sem resultados.
- Fica quietinho. – ela me empurrou de volta pra que eu deitasse. – Essa história
aí que você me contou, tensa não?
- Que história? – abri meus olhos.
- Da Joanna, você e ela...
- Para de blefar. – eu ficava mais sóbrio a cada segundo. – Eu não te contei nada.
- Então como eu saberia que você não estava somente bêbado aquele dia? – ela riu,
amarrando o cabelo. Senti minha cabeça girar.
- Qualquer um deduziria isso. – continuava girando.
- Vou dizer duas palavras bem baixinho...
Ela se aproximou do meu ouvido e disse o que eu não queria ouvir. Merda, ela
realmente sabia. Senti meu almoço fazendo o caminho contrário, sentei na cama e sem
nem dar tempo de levantar, curvei a cabeça em direção ao chão e vomitei.

Capítulo 17.
Segredos pequenos e sujos.

Thalita’s POV
Era dez da manhã quando eu acordei. Olhei pro lado e vi que a cama de Nics estava
desarrumada, mas ela não estava mais lá, provavelmente tomando café da manhã. Fiz
minha higiene matinal, coloquei uma roupa qualquer (pois não sabia o que faríamos
hoje antes do show) e desci para o restaurante. Para o meu espanto não só Nics
estava ali, como Codys estava com ela. E não estava com as melhores caras.
- E aí, gente. – me aproximei da mesa e dei um beijo na bochecha de cada um. – O
que faz aqui tão cedo, Codys?
- Voltei antes e acordei cedo. – ele me respondeu, comendo o bacon que estava em
seu prato com cara de dor. Desistiu e afastou de si, tomando um longo gole do café
que estava a sua direita.
- Ressaca?
- Pois é.
- Então exagerou demais em pouco tempo.
- Tipo isso. – ele olhou pra Nics, que desviou o olhar antes nele para o prato de
ovos mexidos. Franzi o cenho.
- Perdi alguma coisa?
- Perdeu. – minha amiga estendeu um prato pra mim. – Quer dizer, está quase
perdendo. Coma logo antes que acabe, porque o ovo mexido está sensacional.
- Hm. – peguei o prato da mão dela e fui até o banquete, me servindo de algumas
coisas. Inclusive do ovo que não estava nem perto de acabar. Desviei minha atenção
para os dois e Codys olhava pra ela enquanto ela balançava a cabeça em negação.
Alguma coisa tinha acontecido e ela iria ter que me contar depois. Tomamos café sem
conversar muito. Nics toda hora tentava cortar o silêncio com alguma piada sem
graça, ou contando alguma coisa inútil que tínhamos feito na noite anterior pra
Codys, mas parecia que nada iria fazê-lo sorrir. Ouvi passos se aproximando e dei
de cara com Ellie e Roonie (cansei de chamá-la de Verônica).
- Bom dia, amigos.
Amigos? De quem? Dela? Eu que não.
- E aí, Roonie. – Codys respondeu, sem fitar os olhos dela. – Podemos conversar?
Arqueei a sobrancelha e encarei os dois. Conversar. Sozinhos? Ela fez que sim e
saíram do restaurante para um lugar mais reservado, provavelmente. Bufei. Ellie
substituiu o lugar de Codys.
- Bom dia garotas. – roubou o bacon do prato que ali ficara. – Beijei muito o Harry
ontem.
- Sério?
- Sério. – ela sorria.
- Mas e a... – Nics chutou minha perna por baixo da mesa e eu entendi como um sinal
pra calar a boca. – Esquece. Ele beija bem? – é claro que eu não perderia a
oportunidade de brincar com a situação.
- O beijo dele é simplesmente... Sensacional.
Soltei uma risada abafada. Não era tudo isso.
- E vocês estão juntos? – Nics me olhou querendo rir.
- Acho que estamos apaixonados, sabe? – ela suspirou e eu queria gargalhar. – Ele é
o meu tipo de homem.
Tadinha.
- Entendi. – respondi, dando de ombros. – Queridas, vou procurar um banheiro nesse
hotel enorme e já volto.
- Acho que tem um ali passando a entrada, Thay. – Ellie me respondeu, sorrindo.
- Obrigada.
Essa garota era no mínimo engraçada. Levantei e fui em direção a entrada do lugar,
observando as pessoas. Bem vestidas, sem tirar ninguém. Estava feliz no geral, mas
um pouco desconfiada. E ver o que eu estava vendo (e ouvindo) naquele momento não
me ajudou em nada.
- Eu não quero prejudicá-la. Envolve todo mundo, eu não sabia, ela não me
consultou, eu... – Codys dizia, encostado na parede e Roonie em sua frente. – Meus
amigos, eles...
- Eles entenderiam.
- Mas não me entenderiam! – ele olhava pro chão. – Explicar exatamente o que
aconteceu... E complicado, não se mete Roonie.
Não queria mais ouvir nada do que eles estavam falando. Resolvi fazer algum barulho
para que eles vissem que eu passaria por ali e parariam de falar.
- Oi Thay. – Roonie se virou pra mim, com aquele sorriso ridículo no rosto. –
Estava aí faz tempo?
- Não, acabei de chegar, estou procurando um banheiro.
- É logo ali. – ela apontou e eu fui, sem nem olhar pra trás.
Meu sangue só poderia ter subido todo para meu rosto, porque eu sentia minhas
bochechas arderem. Do que eles estavam falando? Eu não sei. Sinceramente? Nem
queria saber. Estava curiosa? Estava. Mas pelo que eu havia entendido, o assunto
envolvia Joanna, e esse era um nome que eu não estava nem um pouco a fim de ouvir.
A porta do banheiro se abriu e dei de cara com a Roonie enquanto lavava as mãos.
- Acho que algumas coisas mudarão por aqui. – ela disse, tirando da pequena bolsa
que levava um gloss.
- Oi? – arqueei a sobrancelha pra ela.
- Eu seguirei em turnê com vocês, acredita? – minha sobrancelha continuava nas
alturas.
- Ahn?
- Não é demais? – ela bateu palminhas freneticamente enquanto pulava. – Codys me
convidou, eu e a minha prima. Nós nos divertiremos tanto, Thay.
E então ela me abraçou, me deixando em choque. O que aquela garota pensava que era
minha? Se ela fizesse aquilo de novo com certeza levaria um chute na cabeça.
- Oba. – vibrei falsa. – Tchau. – passei por ela e fui até o restaurante mais uma
vez. Todos já haviam acordado e conversavam animadamente sobre a noite anterior,
até Johnny e Michelle estavam sentados na mesma mesa que o resto da galera.
- Thay, sente-se com a gente. – Chelle convidou, sorridente.
- Estamos contando pra Nics sobre ontem. – Wills ria. – Vocês perderam as cenas
mais engraçadas da história.
- Justo quando não vamos. – Nics fez biquinho e eu também, enquanto sentava ao lado
dela.
- Enfim, como eu estava dizendo... – continuou Wills. – Aí ele subiu em uma
poltrona que tinha dentro do camarote, arrancou a blusa, começou a girar e a jogar
palhetas pra galera da pista. – ele ria, apontando pro Jones, que tentava se
esconder atrás de Joanna.
- Eu não acredito! – eu disse gargalhando.
- Acredite. Ele ficou doidão. E o Harry aqui... – ele apontou, gargalhando ainda
mais. – Pediu pra casar com a Ellie na frente de todo mundo, pediu pros seguranças
serem as testemunhas e a Julie ser o padre, imagina só. – Julie revirou os olhos e
olhou feio pro Harry, que estava com a cabeça baixa murmurando alguns palavrões.
- Inacreditável, né Thay? – Julie rosnou, tomando um gole do suco.
- Muitas coisas são inacreditáveis. – parei de rir finalmente e suspirei. – E você,
Wills? O que aprontou?
- O Wills se comportou, né? – Nics fitou os olhos dele e ele fez uma careta.
- Mais ou menos...
- Ele beijou o Codys. Um selinho, mas foi hilário.
Todos nós não conseguíamos parar de rir da cara dos dois. E foi então que o resto
das pessoas sentiu falta de Codys e Roonie na mesa de café da manhã.
- Onde está Codys e Roonie? – Ellie perguntou. – Eles deveriam ter voltado.
- Eu a vi no banheiro antes de sentar aqui.
- E Codys? – Wills voltou a perguntar.
- Não sei. – finalizei.
- Enfim, Chelle... – Jones começou. – O que faremos hoje antes do show?
- Bom. – ela tomou o último gole do café. – Tarde de autógrafos.
- Legal. – Harry sorriu. – Estava esperando chegar esse momento. Antes de sairmos
de Londres treinei diferentes tipos de assinaturas, não foi Wills?
- Foi. Foram vinte e duas. Ele me fez ver. Todas. Todinhas.
Eu gargalhei e empurrei Harry.
- Por que é sempre você que faz esse tipo de absurdo, hein? – dei um beijo estalado
na bochecha dele. – Poderemos ir com vocês?
Chelle foi quem respondeu.
- Infelizmente não meninas. – todas nós suspiramos em sinal de decepção. – Terão
que arrumar alguma coisa pra fazer aqui pelo hotel mesmo. Darão conta?
- Se estivéssemos em um lugar ruim, eu faria um escândalo, mas esse lugar é demais.
– Joanna disse, rindo. – Não reclamarei nem um pouco.
- Eu também não. Fora que a gente daria muito ciúmes nas garotas se ficássemos ao
lado dos Guys. – Julie jogou os cabelos para um lado e depois para o outro,
fazendo-nos rir.
- É quase por isso, Julie. – Michelle ria, concordando. – Alguém encontre o Codys
por favor?
- Eu vou. – Jones respondeu e levantou da mesa no mesmo instante, correndo pelo
restaurante. Correndo. Pelo restaurante. Cinco estrelas. Mas quem era eu pra
julgar, não é?

xxx
- Finalmente, sozinhas. – eu tirava o monte de casacos que vestia para colocar um
biquíni. Iríamos pro SPA do hotel. Tô fraca? Nics fazia o mesmo e tentava ignorar
meus olhares (que ela sabia) que imploravam por informações. No fundo minha amiga
tinha em mente, que uma hora outra, a conversa das minhas cobranças viria a tona e
ela teria que me contar o que estava acontecendo com Codys. Até porque, desde o
café da manhã estava agindo estranhamente não só comigo, como com o resto da
galera.
- É, mas não por muito tempo. Julie disse que viria aqui daqui a pouco encontrar
com a gente. Prende aqui pra mim. – virou de costas me dando as tiras do biquíni
para amarrar.
- Então é melhor eu aproveitar esse tempo que tenho com você. – dei um laço e ela
virou pra mim, sorrindo. Era o típico sorriso nervoso da Nics, que eu tanto
conhecia. – Sabe, eu queria te fazer umas pergun...
E é claro que fui interrompida por batidas frenéticas na porta do quarto. Nics foi
correndo (me ignorando completamente) abrir a porta e deu de cara com Roonie,
Ellie, Joanna e Julie, que trazia consigo a pior das expressões já vista. Ri pra
mim mesma.
- Elas quiseram vir junto. – ela bufou e entrou no quarto, com a cara amarrada.
- Maravilha. – sussurrei de modo que só eu mesma pude ouvir.
- Isso não é demais? Uma tarde só das amigas. – Roonie batia palmas frenéticas.
- E das intrusas. – Julie disse e eu não pude deixar de rir, o que a fez sorrir
também. Ellie fez cara de quem se sentia insultada e depois olhou para Nics, que
estava só com roupas de banho.
- Tem um belo corpo. – ela disse com desdém.
- Obrigada. – Nics logo vestiu sua calça jeans com medo do olho gordo da garota, me
encarando com o olhar desesperado a procura de socorro. Encontrei a minha deixa e
peguei meu biquíni para vestir dentro do banheiro. Ou acharam que eu ia me arriscar
com aquela doida no quarto? Me vesti e já saí com a calça jeans e um moletom por
cima. Sai de mim, macumba.
- Prontas? – Nics perguntou, olhando pra Julie que estava parecendo que ia pra um
enterro.
- Esse dia vai ser demais. – disse Roonie, me fitando com aqueles olhos verdes e em
seguida Joanna, que estava encolhida em um canto do quarto.
- Esse dia vai ser um saco. – murmurei.

Codys’s POV
- Esse dia vai ser um saco. – eu disse, vestindo a jaqueta de couro dentro de uma
salinha já no Shopping de Margate prestes a começar a tarde de autógrafos.
- Por que diz isso, Becker? – Wills fazia o mesmo, ajeitando aquele cabelo que não
parecia querer obedecer.
- Porque eu to de mau humor. – bufei.
- Mau humor deveria estar eu, devido ao showzinho que você deu ontem. – Wills
respondeu, puto da vida. Eu tinha causado tanto assim? – O que você usou?
- Sei lá, tomei umas pílulas que um cara me deu. – dei de ombros.
- Você é muito otário, dude.
- Vocês costumavam fazer isso sempre! – debati.
- Em casa, onde a gente confia nas pessoas. – Harry se intrometeu na conversa. – E
não é sempre, mas foda-se. A gente da vacilo sempre caras, ele nunca diz nada e
sempre ajuda.
- O que eu fiz de tão ruim assim? – eu realmente não conseguia lembrar.
- Depois de ter beijado o Wills... – Harry ria, enquanto arrumava o cabelo gay
dele. – Você deu um vacilo com a Joanna, mas nada demais.
- Nada demais? – Jones interrompeu. – Ela saiu chorando. Aliás Codys, você tem que
valorizar mais tudo que a gente está fazendo por você. Tudo que essas duas garotas
estão fazendo por você. Ou você acha que deve ser fácil para a Thay encarar a
Joanna todos os dias?
- E foi porque a gente fez merda. Eu e ela.– interrompi, suspirando. Pra quem já
estava de mau humor, eles não estavam sendo nem um pouco solidários.
- Ela é legal, Becker. Não fica querendo jogar a culpa nela.
- Eu... Caras, me deixem em paz. – abri a porta da sala sem pensar e dei de cara
com muito fotógrafos e jornalistas do lado de fora.
- O que estavam discutindo aí dentro, Codys?
- Onde suas amigas foram parar?
- Por que elas não vieram com vocês?
- Vocês tiveram uma briga muito feia?
Inacreditável. Me arrependi de ter saído e voltei pra salinha que antes estava.
- Falei que ele voltava. – Jones riu, enquanto vestia os sapatos. – To pronto.
- Todos estão, só faltava você, lady.
- Avisa a Chelle que estamos saindo então. Já que era o que deveríamos fazer quando
fossemos sair. Ela disse isso antes de entrarmos aqui, tava com a cabeça aonde
Becker? – Wills ria.
- Num lugar onde eu tenho amigos menos babacas. – brinquei e eles acabaram rindo.
- É muito amor, puta que pariu. – Wills disse.
E então, com a ajuda da Chelle e de alguns seguranças que estavam com ela, nós
chegamos até a loja onde daríamos os autógrafos. Não direi que a chegada foi
tranqüila, porque não foi. Eu ainda não tinha muita noção da dimensão da fama que o
McFly estava cativando, pra falar a verdade; então cada lugar que íamos era uma
coisa a mais que eu descobria. Soltei uma gargalhada quando roubaram um lenço que
estava pra fora do bolso de Harry. Sentamos nas cadeiras atrás de uma longa bancada
(nós e os seguranças nas pontas) e a fila das garotas e alguns garoto (acreditem ou
não) começou a andar.
- Quem vai ser a primeira sortuda a tirar foto comigo? – olhei pra Wills movendo as
sobrancelhas pra cima e para baixo repetidamente. Eu estava ao lado dele, que
estava ao lado de Harry, que estava ao lado de Jones. Eu era o primeiro na ordem
que as garotas enfrentariam. Começou.
- Ai meu Deus é o Codys Becker mesmo! – ela gritava em uma freqüência que irritava
os meus ouvidos. – Assina minha camiseta? Não, assina meu Cd. Não, assina minha
revista. Você pode assinar tudo?
Eu ri fraco, um pouco envergonhado e ao mesmo tempo com um pouco de medo.
- Claro. Qual seu nome?
- Nics.
- É o nome de uma das minhas melhores amigas. – respondi, tentando parecer o mais
simpático que conseguia. – Pronto, Nics.
Ela sorria sem parar.
- Podemos tirar uma foto agora? É rapidinho, prometo.
- Só se for com careta. – me diverti, pondo a língua pra fora na hora que o flash
quase me cegou.
- Obrigada, eu te amo. – ela saiu dando pulinhos até meu amigo. Cheguei a olhar
para o lado, curioso para saber se aquela empolgação da garota havia sido só
comigo, mas para meu desapontamento, ela foi até pior com o Wills, que ria da
atitude da coitada. A tarde seguiu daquele jeito. Algumas mais loucas que outras,
algumas tímidas, outras tão quietas que nem tinham coragem de pedir pra tirar foto,
nós mesmos que nos propúnhamos a tirar. Ficamos um pouco preocupados quando uma das
garotas da fila desmaiou, mas logo nossa equipe a atendeu e ela acabou ganhando um
ingresso para nosso show que iria acontecer daqui duas horas. Não preciso nem dizer
que depois disso várias meninas fingiram que desmaiaram né? Era óbvio. Fomos do
shopping até a casa de show de Margate dentro da mini van e para nossa não tão mais
surpresa, quando chegamos na frente do lugar: mais fãs. Wills havia colocado a
cabeça pra fora e eu já estava protegendo minha cabeça com o caderno de músicas do
Jones a espera de uma cartolina voadora, mas para minha sorte nada adentrou nossa
esfera protetora. Wills acenava para fora da janela e as fãs gritavam cada vez
mais, me deixando cada vez mais surdo.
- Meu Deus, essas garotas sabem mesmo como gritar. – reclamei, apertando as
laterais da minha cabeça com as mãos, numa tentativa frustrada de abafar o som.
- Pra mim esses gritos podem ser interpretados como os barulhinhos de moedas caindo
dentro de um cofrinho. – Michelle riu, brincando.
- Que horror, Chelle. – Harry disse, tentando não rir.
- Brincadeiras a parte, uma hora vocês acostumam.
- Se eu não acostumar, eu to é fodido. – Wills disse, fechando o vidro antes. –
Essas garotas tem as gargantas de uma cantora de ópera. Dera eu ter esse fôlego.
- Pra poucos, Willy. – rebati, como se cantasse como uma cantora de ópera.
Entramos finalmente pelos fundos do lugar e fizemos a alegria das garotas que
estavam por ali, dando autógrafos da janela mesmo. Quando entramos finalmente no
camarim para um pouco de descanso depois daquela tarde, demos de cara com seis
garotas jogadas nos sofás (algumas delas no chão).
- Os mendigos vieram nos visitar? – Harry disse e pulou em cima de Thay, que estava
deitada de barriga pra cima no chão.
- Você é um bruto, Juddy. – ela reclamou, jogando ele pro lado e acabando por ficar
em cima dele. Fechei a cara.
- Vocês demoraram tanto... – Ellie disse com uma voz manhosa. – Harry, vem aqui meu
amor.
Soltei uma risada abafada. Sério, como ficar de cara fechada com uma coisa tosca
dessas acontecendo naquele momento?
- É Harry, vai lá. – tirei sarro, querendo aproveitar o momento pra ele sair de
cima da minha garota.
- Já vou falar com você, Ellie.
- Não seja grosso, Harry. – Roonie se intrometeu. Ela usava um shorts mais curto do
que nunca e pela cor que estava, no dia de SPA, havia incluído um pequeno
bronzeamento artificial. Estava meio... Estranha. Harry olhou torto para ela e
levantou, deixando Thay com um biquinho triste no chão, fazendo manha. Por que ela
estava fazendo aquilo comigo? Era torturante.
- Então seus molengões, como foi hoje a tarde? – Nics perguntou. Ela estava deitada
no sofá, mas sentou-se, dando espaço para que Wills se juntasse a ela.
- Foi bem gratificante. – Jones respondeu. Estava dividindo o outro sofá com
Joanna, que fazia cafuné nele.
- Gratificante como? – Thay perguntou, sentando-se de pernas cruzadas no chão.
- Bom, recebemos muito carinho das fãs. – Wills respondeu.
- Claro que vimos mais coisas que gostaríamos... – completei, dando com a língua
entre dentes.
- Ei cuzão, a gente tinha combinado que não ia falar sobre isso. – Wills fez cara
feia pra mim, mas eu não me arrependi, a história era bem engraçada.
- Foi mal, mas agora vamos contar, né?
- Com certeza vão contar. – Nics me interrompeu, com o olhar fixo em Wills. – O que
vocês aprontaram?
- Nada. É que uma garota tirou a blusa no meio da fila hoje. – dei de ombros.
- Ah, não é nada demais. – ela riu fraco, voltando a se encostar no sofá.
- Se ela não tivesse enfiado os peitos na cara do Willy, com certeza não seria. –
Jones desabafou, gargalhando e fazendo todo mundo rir, menos Wills, é claro.
- Como assim? – Nics levantou-se num salto.
- Não foi minha culpa. – ele cruzou os braços. – Ela pulou em cima de mim, do nada.
Os seguranças a tiraram e tudo terminou bem.
Nics arqueou a sobrancelha e depois sorriu com malícia.
- Bom, enquanto eu tiver com a cena dos peitos dela na sua cara, você pode esquecer
a imagem dos meus.
- Uh! – todos zombaram, rindo da cara do pobre do meu amigo.
- Foi mal, Willy. Não sabia que ela seria tão radical a respeito. – dei um tapinha
nas costas do meu amigo em sinal de arrependimento.
- Vá se foder. – ele deu um soco no meu braço, que doeu.
Ouvimos um barulho alto de porta se abrindo e quem apareceu no camarim foi
Michelle, com uma cara não muito agradável. Todos arregalamos os olhos com medo do
que viria.
- Posso saber o que está acontecendo aqui?
- Estamos relaxando antes do show. – Jones deu de ombros.
- Entendi. – ela cruzou os braços e o lábio dela tremeu do jeito que aterroriza
todos nós. – E vocês sabem que falta uma hora pro show?
Olhei pro relógio para confirmar.
- Sei. E aí?
- E aí que vocês não passaram o som.
- Puta que pariu. – Harry levantou correndo e foi a procura das suas baquetas.
Jones fez o mesmo, mas abriu a mala a procura das palhetas que havíamos trazido.
Wills saiu correndo, nos deixando com cara de tacho pra trás. Enquanto as garotas
nos olhavam assustadas e Michelle ria da nossa cara.
- Garotos... – ela murmurou, ainda rindo.

Capítulo 18.
Verão, o verão...

- Ei, Thay. – fui até ela quando estávamos saindo do camarim e indo até o palco.
Ela virou-se pra mim, com aquele sorriso lindo de sempre estampado no rosto.
- Oi, Codys.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Lembra quando ficamos juntos pela primeira vez?
Ela sorriu.
- Era uma noite de verão...

- Me belisque, eu devo estar sonhando. – eu disse, enquanto ela distribuía beijos


pelo meu rosto e enfim finalizando nos meus lábios.
- Não vou te beliscar, seu bobo.
- Gosto do jeito que você está me fazendo sentir agora. – abracei-a de lado. Nós
estávamos na areia, vendo as ondas baterem nas pedras.
- E como eu estou te fazendo sentir?
- Não sei. – dei de ombros. Era meia noite, o céu estava estrelado e o som das
nossas vozes era tudo que se podia ouvir.
- As noites de verão são tão longas, não são Codys? – ela se estirou na areia,
fitando as estrelas.
- Não longas o bastante. – fiz o mesmo e virei o rosto, ela fez o mesmo. Ficamos
ali, fitando os olhos um do outro.
- É, mas acho que tudo na vida é assim. Nunca estamos satisfeitos. – ela riu fraca,
passando a mão pelo meu rosto.
- A vida não é o bastante. – filosofei, fechando os olhos ao sentir o toque dela.
- Ao seu lado eu acho que estou satisfeita.
- Eu não. – ela fez cara de ofendida e eu logo tratei de continuar. – O perto com
você nunca é perto o bastante.
- Você não existe, Becker.
Sorrimos.

- Exatamente. – ela continuava sorrindo e eu fiz o mesmo, tratando de sair em


seguida do camarim. Acho que ela não entendeu muito a que ponto queria chegar, mas
iria. Segui meus amigos na passagem de som (que foi razoavelmente rápida devido a
falta de tempo), mas o suficiente. Em exatos cinquenta minutos tudo estava pronto e
preparado para que o show começasse; e, para agradar a Chelle, acabamos deixando os
seguranças abrirem o portão antes do horário estimado. Não agradamos tanto a ela
quanto agradamos as fãs, que surtaram com o fato.
- Digam aí, Margate! Estão prontos para o melhor show da vida de vocês? – Jones
gritava, levantando o instrumento que carregava.
- Divirtam-se! Porque nós vamos. – Harry gritou da bateria e a música começou.
- Vamos começar com uma música especial. – Wills disse, olhando pra mim.
- Ultraviolet! (7) – gritei.

Nothing goes to plan


(Nada segue o plano)
It's all a game of chance they say in Wonderland
(É tudo um jogo de chances, eles dizem em Wonderland)
There's magic in the air
(Tem magia no ar)
A tragic love affair that I don't understand
(Um trágico caso de amor que eu não entendo)

Lembrei exatamente do dia em que eu havia escrito aquela música. Dois dias depois
do pequeno incidente ter ocorrido. Olhei pra trás e sorri para meus amigos, que
tocavam a minha música animadamente.

These summer girls are really


(Essas garotas do verão são realmente)
Something else
(Incríveis)
Our lives are short
(Nossas vidas são curtas)
But the nights are long
(Mas as noites longas)

Mrs Halloween
(Senhora Halloween)
Is drinking at the bar again in New Orleans
(Está bebendo no bar de novo em Nova Orleans)
She throws another dart
(Ela arremessa outro dardo)
It narrowly avoids my lonely broken heart
(E por pouco evita meu solitário coração quebrado)
Torn apart
(Rasgado em pedaços)

A música terminou e o show foi seguindo seu caminho natural. Hora ou outra eu
tentava espiar por trás das cortinas em busca da Thalita, mas em nenhum momento
meus olhos encontraram o que desejavam. Aliás, eles não encontraram nenhuma das
garotas. Perdi uma das notas, me distraindo, mas logo voltei a atenção total ao
show que estava acontecendo naquele momento. Era aquele meu presente. Aquilo que eu
estava tentando finalizar, era apenas um obstáculo que o passado colocou no meu
antigo presente, afetando meu futuro. Finalizamos o show. Estava um pouco aliviado
de estar me despedindo daquela cidade que não havia trazido tantas coisas boas para
minha vida, mas não era uma coisa que as fãs precisariam saber. Nos despedimos.
Respirei fundo e senti o ar preenchendo meus pulmões com sensação de dever
cumprido.

xxx
- Folkestone que me aguarde. – Julie disse, já dentro do trailer, acendendo um
cigarro. – Se querem saber eu tava enjoada daquela outra cidade, aconteceu muita
coisa estranha.
- Concordo. – bufei, com a cabeça encostada no vidro da janela.
- Mas vocês tiveram o primeiro dia da tour com a gente, legal não é? – Roonie
sorria maliciosa para mim.
- Exatamente. Coisas estranhas. – Julie virou os olhos e eu pude ouvir uma risada
saindo da boca de Thay, que estava um pouco longe de nós, sentada na mesinha da
“cozinha” comendo um lanche.
- Quanto tempo de viagem? – Joanna perguntou ao lado de Julie.
- Aproximadamente uma hora. – Jones respondeu, sorrindo pra ela.

Thalita’s POV
Eu estava fingindo prestar atenção no meu lanche de peito de peru, mas a verdade
era que a conversa que rolava ali na sala estava muito mais divertida. Julie estava
muito incomodada pela presença daquelas duas primas infernais e acabava soltando a
língua. Não que eu não estivesse, eu estava. Cada vez mais. Eu só era muito
boazinha e idiota pra dizer o que eu pensava. Porque se eu dissesse, cabeças com
certeza iriam rolar. Nics sentou no banquinho ao lado do meu, sorrindo.
- Gostou da música do dia? – disse, rindo, depois roubou um pedaço do meu
sanduíche.
- Ei! – protestei, mas cedi. – Gostei, as letras são cada vez mais divertidas.
- Concordo. – ela respondeu. – Sabe, na hora quis te perguntar uma coisa.
- O que?
- A segunda parte da música, eu não entendi direito. Desde quando você arremessa
dardos? Aquilo foi pra você?
Comecei a rir, até me engasgar com um pedaço do meu lanche e precisar de água pra
empurrar.
- Foi uma vez só, Nics.
- Não vai me contar?
- É constrangedor, poxa. – escondi meu rosto com as mãos.
- Até parece, já te vi nas piores situações. – soltei um suspiro. Era verdade.
- Ok. Você vai rir.

- A gente deveria procurá-los... – eu estava pendurada nos ombros de um Codys não


tão bêbado quanto eu, mas quase lá. Ele ria de tudo que eu falava, como se
entendesse alguma coisa. Tudo bem. Minha língua era mais rápida que meu cérebro.
- Procurar quem, doida?
- Meus sapatos.
Ele gargalhava tentando não me deixar cair. Estávamos perdidos em algum lugar de
uma rua desconhecida em New Orleans, depois de uma festa de 18 anos de um dos
nossos amigos. O resto da galera havia ficado por lá. E no momento, eu não
conseguia me recordar o porquê de termos fugido de um lugar que estava extremamente
animado.
- Seus sapatos estão comigo, Thay.
- Olha! – eu gritei. – Você os achou, Codys. Você é o meu eterno herói.
- É, eu os achei! Sabe outra coisa que eu achei? Um bar. – ele apontou e começou a
correr em direção ao bar, me fazendo rir cada vez mais. Quando finalmente chegamos,
atraímos a atenção de todos que ali se encontravam. Eu pulei do colo dele, quase
perdendo o equilíbrio e indo pro chão no mesmo instante.
- Eu to legal, to legal. – murmurei, sorrindo. – Dardos! – gritei, indo em direção
ao alvo que estava pendurado na parede. – Vamos jogar Codys? Vamos, vamos?
- Desde quando você é fã de dardos, Bernardi?
- Desde que eu vi esses aqui. Eles são tão lindos. – tirei-os do (sei lá o nome
daquilo que estava pendurado na parede) e me posicionei para acertar.
- Você vai errar. – ele ria e foi ao lado da minha mira pra poder me ajudar. – Você
está errada. Um pouco pra direta, esquerda. Isso. Vai.
Eu atirei o dardo e ele bateu a dois centímetros do peito de Codys. Meus olhos se
arregalaram e ele paralisou.
- Oh meu Deus, eu quase te matei. – corri até ele e o abracei forte. – Quase matei
um amigo, quase matei um amigo.
- Já quase matou desconhecidos também?
- Engraçadinho. – o soltei e olhei em seus olhos. Ele sorriu pra mim, antes de me
puxar pela mão e me levar até os bancos do bar. Pediu duas canecas de cerveja e em
seguida me mostrou as identidades falsas que trazia consigo, rindo. Nós éramos
amigos e nossa! Como nos dávamos bem. Era quase como se... Se a partir daquele
momento alguma faísca tivesse saído de nós dois, como se fosse a faísca que
precisava ter sido liberada para uma história de amor começar.
- Eu falei que iria rir. – eu estava com um dos cotovelos apoiados na mesa para dar
suporte a minha cabeça, que lateja um pouco. Nics e Julie, que havia se juntado a
nós no meio da história, riam fortemente.
- Então era isso que vocês dois estavam aprontando aquele dia. Por que não nos
contaram? – Julie perguntou, rindo.
- Sei lá, vocês nem chegaram a perguntar. – dei de ombros. – Aquele dia foi
realmente engraçado. E aí vocês sabem o final. Nós dois acordamos extremamente
bêbados, cheirando a cerveja na frente da casa da Lucy.
- Sim! – Nics ria. – Eu lembro direitinho quando o Jones foi buscar o jornal para o
pai da Lucy e encontrou vocês dois jogados na escada.
- O filho da puta foi chamar todo mundo para nos ver antes de nos acordar. – fechei
os olhos, relembrando a cena. – Eu perdi uma jaqueta que eu adorava aquela noite.
- Você deu para um mendigo. – Codys apareceu ao meu lado, sem fazer barulho e
sentou em um dos bancos vazios. Arregalei os olhos. Ele estava ouvindo esse tempo
todo?
- Está de brincadeira! – exclamei e as minhas amigas riram ainda mais.
- Não, você disse que ele precisava dela mais do que você. – ele sorria de lábios
selados.
- Bêbado é foda. – cruzei os braços e ri fracamente.
- Aquele dia foi doido. – ele disse e eu pude ver minhas amigas se afastando
rapidinho de nós dois, nos largando ali. Me largando ali, completamente vulnerável
ao momento.
- Muito.
- Eu acho que comecei a gostar de você dentro daquele bar. – ele olhou para baixo,
com medo de me encarar.
- Eu também. – respondi quase que imediatamente.
- A gente não chegou a se beijar, né?
- Não...
- Demoramos.
- Bastante. – virei meu corpo em direção a ele enquanto sorria. – Lembra daquele
dia que...
É claro que tudo que é bom dura pouco. Roonie chegou pulando e o abraçou por trás,
rindo de qualquer coisa.
- Oi lindos da minha vida. O que estão fazendo? – sentou-se na cadeira que nos
separava. Bufei.
- Nada demais, Roonie. – ele respondeu, dando a entender que estava com mesmo nível
de paciência com aquela garota que eu.
- Ops, interrompi alguma coisa?
- Não. – eu respondi, me levantando. Os olhos de Codys encararam os meus com ar de
suplício e eu os ignorei, deixando os dois pombinhos e seus segredinhos ali mesmo.
Fui até Nics que estava sentada em um dos sofás observando Joanna e Jones
conversando.
- Sabe, você não precisa ignorá-la. – virei minha cabeça em direção a Joanna.
- Eu não a ignoro. – ela sorriu pra mim.
- Você não a trata igual. A briga é minha, não sua. Ela também é sua amiga. Nenhum
dos outros ficou de birra com ela por causa do que aconteceu.
- É, eu sei... Mas o que é errado é errado. Não sei, eu fico com mais raiva dela do
que dele às vezes.
- Eu entendo. – encostei minha cabeça no ombro dela.
- Acho que Julie a adotou.
- Eu tenho certeza. Alguém tinha que ficar com ela.
- Deve ser barra pra ela também. – ela começou a mexer no meu cabelo e eu fechei os
olhos.
- Uhum. – murmurei. Senti meus olhos pesados me levando pra cada vez mais longe
daquele lugar e só acordei quando senti o trailer parando e ouvi o barulho da porta
do mesmo se abrindo.

- Ela já acordou. – ouvi a voz da Nics dizer, enquanto eu esfregava os meus olhos
com as mãos. – Oi bela adormecida.
- Oi. – respondi, sorrindo.
- Chegamos, os garotos já desceram.
- Não quero sair daqui. – resmunguei.
- O que houve, Thay?
- To de saco cheio amiga. – sentei, cruzando minhas pernas. Johnny, que esperava
com a porta do trailer aberta, a fechou, entendendo o recado. – Não sei se aguento
mais.
- Como assim? Você estava super bem ontem. – ela rebateu, com um olhar preocupado.
- Eu sei, eu estava mesmo, mas acordei estranha.
- Estranha como?
- Estranha querendo meu namorado de volta. – cobri o rosto com as mãos e solucei
baixo.
- Ah Thalita... Vem cá. – ela me abraçou e eu encostei o rosto em seu ombro,
deixando duas ou três lágrimas caírem. – Me fala, o que você está sentindo?
- Saudade, ciúmes, raiva dessa menina que invadiu nossa diversão de um jeito
completamente tosco. Eu não sei mais o que eu quero, o que eu devo fazer, como eu
devo agir. Eu queria um pouco de apoio da Joanna que nem ao menos tentou falar
comigo de novo, queria um pouco de apoio dos meus amigos que nem perguntam como eu
estou levando tudo isso. Eu estou me sentindo mal.
- O que? – ela ergueu a sobrancelha. – Está me dizendo que eu não te apoiei nisso?
- Não estou falando de você, Nicole. Digo os outros.
- Ahn.
- Eu estou tão cansada... – levantei, arrumei a saia que vestia, calcei meus
coturnos e desamassei minha blusa. – Vamos?
- Eu... – ela me fitou por alguns instantes e suspirou. – A gente conversa depois,
então.
- Isso. – sorri pra ela e descemos do trailer. Ao entrarmos no hotel, ninguém mais
estava lá, todos já haviam ido para os respectivos quartos. Passamos pela recepção,
pegamos nossos cartões de acesso e, no meio do caminho indo para o nosso quarto,
desisti. - Vai indo na frente, vou dar uma volta.
- Quer que eu vá com você? – ela se ofereceu.
- Não, não precisa. Vá descansar.
- Certo, qualquer coisa me liga.
Ela pegou minha mala e seguiu o resto do caminho sem mim. Eu não sabia onde ficavam
as coisas naquele lugar, mas eu não me importava muito, precisava colocar minhas
idéias no lugar. Aquela turnê, por um momento, me pareceu completamente errada. O
que eu estava fazendo aqui, afinal? Comecei a me sentir idiota e completamente
vulnerável. A minha única vontade era de bater na porta do Codys e dizer o quanto
eu sentia sua falta, o quanto eu queria que tudo voltasse a ser como era antes, mas
eu não o conseguia. Era muito orgulho da minha parte? Eu estava sendo a pior pessoa
do mundo com o meu ex-namorado? Eu caminhava pelos corredores enquanto refletia.
Cheguei a conclusão que não, eu não estava, depois de lembrar dos olhares trocados
entre ele e Roonie. Eu não me surpreenderia nem um pouco se um certo dia ela
acordasse com uma caneta enfiada na jugular. Eu faria cara de paisagem, é claro.
Garota insuportável. Pra ajudar, fica guardando segredos com o Codys bem na minha
cara, sem nem querer esconder, sem nem se dar o trabalho. Arqueei a sobrancelha
quando vi um garoto sentado pra fora de um dos quartos e o reconheci. Codys.
- O que faz aqui? – perguntei.
- Wills dormiu e me trancou pra fora. – ele deu de ombros e eu sorri.
- Não pensou em ir dizer isso na recepção ou ir pro quarto dos outros?
- Na hora me pareceu certo sentar aqui e esperar a morte passar.
Eu ri sem muita força. Estendi a mão para ele segurar e se levantar. Senti
eletricidade passando pelo meu corpo com seu toque.
- Entendi.
- E você? De certo passou por aqui, mas não é a morte. Está perambulando pelos
corredores sozinha de novo? É um tipo de ritual seu? – ele riu.
- Não... – lembrei do dia em que nos esbarramos em outro hotel e sorri. - Lugares
grandes assim me fazem querer refletir.
- Eu também. – ele respondeu de imediato. – E no que estava pensando?
- Na vida, no geral. – a gente andava rápido, como se quiséssemos chegar em algum
lugar com urgência.
- Qual parte da vida?
- Ah Codys... – suspirei, ainda andando rápido e fitando meus coturnos. Alcançamos
a área de lazer, onde ficava um pátio enorme com vários bancos, mesas, árvores.
Faltava só o jardim do outro hotel pra ficar perfeito. Sentei em um dos bancos sem
responder mais nada e ele sentou ao meu lado.
- Olha pra mim. – ele disse, mas eu não o fiz. – Thalita, olha pra mim.
- Não quero. – murmurei, sentindo choro na minha garganta. Ele segurou meu queixo e
o virou em sua direção, me forçando a fitar seus olhos.
- Eu estou jogando o seu joguinho. – ele não havia largado o meu queixo ainda e
aquilo estava fugindo completamente do meu controle. – Exatamente do jeito que você
me pediu. – engoli em seco. – Mas eu não consigo estar aqui, sozinho com você,
sem...
- Sem o que? – minha voz saiu sem força e consequentemente rouca.
- Sem fazer isso.
Ele puxou meu queixo para mais perto e dali sua mão deslizou para a lateral do meu
rosto. Seus olhos fitavam os meus com paixão, saudade, eu sentia isso. Nossos
narizes se tocaram e ele movimentou o rosto de modo que déssemos um beijinho de
esquimó, e isso me fez sorrir. Ele mordeu o próprio lábio.
- Eu amo esse sorriso.
Fechei os olhos e senti a boca dele grudando na minha. Ficou ali, parada por alguns
segundos e depois senti sua língua pedindo espaço para entrar. Abri minha boca e
iniciamos um beijo calmo, sem pressa para acabar. Meus dedos se entrelaçaram no seu
cabelo e ele, com a outra mão nas minhas costas, me trouxe para mais perto de si.
Separei-me dele em um salto quando notei o que estávamos fazendo e parei em pé, na
frente dele, com uma das mãos tocando meus lábios.
- O que houve? – ele perguntou, com a boca vermelha, ofegante. Uma das luzes que
iluminava o lugar, iluminava também o rosto de Codys, que me olhava assustado. Seus
olhos brilhavam e um sorriso ousou dançar em meus lábios. Ele arqueou a sobrancelha
sem entender. – Está tudo bem?
Sorri e andei em direção até ele. Ainda em pé, passei as mãos pelos seus cabelos
limpos e em seguida pelo seu rosto. Ele fechou os olhos. Sorria. Senti meu coração
batendo mais rápido a cada movimento que eu fazia. Passei as mãos pelo seu pescoço
e quando ele finalmente abriu os olhos, me sentei em seu colo, com uma perna de
cada lado do seu corpo, de frente pra ele. Ele soltou um suspiro alto quando o fiz
e me apertou completamente contra si, fazendo, dessa vez, eu suspirar.
- Você tem noção do quanto eu senti falta disso? – ele perguntou, enquanto
distribuía beijos pelo meu pescoço. – Senti falta do seu cheiro em mim, do seu
toque, dos seus beijos. Senti tanta falta da gente.
Eu não falava nada, só me deixava levar. Suas mãos percorriam pelo meu corpo e
suspiros não paravam de escapar dos meus lábios. Uma delas passou por dentro da
minha blusa e senti um arrepio se formar. Eu queria aquele momento pra sempre, era
verdade. Tudo bem, ele tinha os segredos dele, mas eu também tinha os meus, a gente
ia se ajeitar.
- Eu senti muita falta disso também. – desabafei, sorrindo e finalizando nosso
beijo com uma mordida de leve em seu lábio inferior.
- Agora tudo que a gente tem que fazer é...
- Codys? – a voz da Roonie invadiu meus tímpanos e eu quis socar a cara dela. O que
aquela imbecil estava fazendo estragando meu momento de novo? Quem deixou ela
aparecer? – Podemos conversar? – ele a ignorava e eu sentia um calor que
simbolizava a vitória percorrendo pelo meu corpo. – Acho melhor a gente conversar.
Você sabe. – ela pareceu séria na última frase e os músculos de Codys congelaram
embaixo de mim. Arqueei a sobrancelha.
- Sabe do que? Do que ela está falando? – perguntei meio aflita. Se ele me deixasse
ali, se me trocasse por ela, eu não sabia do que seria capaz.
- Eu... – ele suspirou, olhou pra baixo e então fitou meus olhos. – Me desculpa.

Capítulo 19.
Sorte no jogo, azar no amor.

- Codyszinho, pode me passar a manteiga? – Roonie dizia imitando um bebê pedindo a


mamadeira. Codys estava ao seu lado com cara de poucos amigos e ela sorria
vitoriosa, hora olhando pra mim fazendo birra, hora distribuindo beijos pelo rosto
do dito cujo.
- O que está acontecendo mesmo? – Nics foi até mim e sussurrou, abismada com aquela
situação se passando diante dos seus olhos.
- Uma grande bola de merda, é isso que está acontecendo. – respondi de dentes
cerrados.
- Você não vai mesmo me contar o que aconteceu ontem à noite? – cochichávamos como
se as nossas vidas dependessem daquilo.
- Já te fiz o resumo.
- Mas é que não faz sentido algum. – ela respondeu e deixou, no momento seguinte,
cair o garfo que repousava em seu prato, no chão, causando um barulho alto e
desnecessário.
- Nós sabemos do que estão cochichando e tenho certeza que todos queremos saber que
porra está acontecendo aqui também. – Julie disparou, pegando o garfo do chão e
estendendo pra mim.
- Obrigada. – murmurei.
- Então, algum de vocês dois podem nos explicar o que está acontecendo? – ela
voltou a dizer, queimando principalmente Codys com o olhar.
- Nós estamos juntos, não é óbvio? – Roonie respondeu.
- Ok, eu acho melhor eu reformular. Codys, que porra é essa?
Ele me olhou e depois encarou o resto dos amigos. Os olhos dele estavam distantes,
tristes e vazios. Wills tinha uma das sobrancelhas quase que grudada na testa,
Jones estava de braços cruzados com cara de quem comeu e não gostou, Joanna me
olhava apreensiva, Nics também. Harry, que estava do meu outro lado, segurou minha
mão fortemente.
- Bem, nós...
- Nós estamos juntos. – a loira aguada o interrompeu.
- Quer parar de ser insuportável e deixar o garoto falar? – Julie praticamente
rosnou e me fez ficar mais feliz do que nunca por ser sua amiga.
- É isso mesmo que ela disse.
Harry bateu na mesa com a mão fechada e olhou para Codys incrédulo.
- É sério isso?
- A gente já não deixou claro, querido?
- Querida, se você abrir essa sua boca mais uma vez, a coisa vai ficar bem feia pro
seu lado. Há tempos você e sua querida prima estão me tirando do sério e agora eu
não tenho mais vontade de esconder isso. Eu desprezo vocês duas e espero que vocês
tenham seus estômagos devorados por um zumbi verde faminto. Tchau.
Ela se levantou e empurrou a cadeira para a mesa.
- Isso foi... – Harry começou.
- Genial. – sussurrei.
- Completamente incoerente. Eu e minha prima somos ótimas pessoas.
- Na verdade, Roonie, Julie tem razão. Na verdade, quem é a insuportável é você, a
Ellie ainda tem uma salvação. – Harry sorria.
- Codys, vai deixá-lo falar assim comigo, meu amor?
- Roonie...
- Vai deixar, Codys?
- Harry, não fale assim com ela.
- Ah, beijem minha bunda. – ele levantou da mesa e tomou o mesmo caminho que Julie.
Sorri.
- Você não tem mais jeito não, cara. – Jones levantou da mesa. – Hazz, me espera.
E assim sobrou eu, Wills, Codys, Nics, Roonie, Ellie e Joanna na mesa do café da
manhã. Era legal perceber que meus amigos ao menos me defenderam nessa situação.
Codys estava bem encrencado, dessa vez. O mais triste é que eles nem ao menos
sabiam o que havia acontecido entre mim e ele na noite anterior, e mesmo assim
agiram daquela maneira. É claro, eu me sentia como um lixo, anteriormente revirado
por gambás e dado por eles inútil. A minha vontade era de ter saído bem antes de
Julie, mas meu orgulho falava mil vezes mais alto. Se eu saísse provaria ao imbecil
do Becker que ele vencera uma guerra que eu acabara de declarar iniciada. Enganam-
se se pensaram que eu usaria armas, vingança.
Não. A minha guerra era inspirada na Guerra Fria.
Sem contato.
De longe, eu com certeza o atingiria.
Do meu jeito.
Depois do pequeno show que meus amigos mais do que lindos haviam dado, Codys perdeu
a língua de vez. Olhava o prato onde uma torrada havia sido largada, enquanto
Roonie o encarava esperando alguma reação. Joanna, quando me dei conta, já não
estava mais ali. É que ela fazia tanta diferença, não é?
- Gente, se não se importam, eu tenho umas coisinhas pra fazer... – Nics arriscou,
tentando me tirar dali. – Thay, quer me acompanhar?
- Claro, já terminei meu café.
Codys levantou o rosto no mesmo instante pra mim e eu virei meu rosto, demonstrando
desprezo. Nojo.
- Bom fim de café pra vocês. – ela disse, finalizando e me puxando dali.
Andamos alguns metros, até que ela se colocou na minha frente.
- Pode me explicar o que está fazendo?
Franzi o cenho.
- O que quer dizer, Nics?
- Isso aí. Essa pose. – ela apontou pra mim da cabeça aos pés fazendo careta. – Não
está com vontade de desmoronar não? Pelo que me contou, extremamente por cima,
aliás, ontem você ficou com o Codys e...
- E foi um erro. – concluí. – E quanto mais você insistir nesse assunto, mais eu
vou ter que falar em voz alta, fazendo desse fato mais verdade do que já é. Se
importa? – roí a ponta da unha do meu dedão da mão direita.
- Não. – ela voltou a andar. Depois de aproximadamente dez passos, parou mais uma
vez. – Sabe o que me instiga?
- O que? – bufei.
- Todas aquelas músicas. Todo aquele esforço. Pra isso?
- Pois é. As pessoas podem ser surpreendentes às vezes. – ri da minha ingenuidade
da noite anterior, lembrando de como fui fraca e disse exatamente aquilo que aquele
idiota queria ouvir.
- Repito: isso não faz sentido algum.
Quando estávamos quase entrando no nosso quarto, fomos interrompidas por Michelle,
com seus milhões de agendas e folhas soltas nas mãos.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Está cada um em um canto desse
lugar e eu não agüento mais ficar de um lado para o outro igual uma barata tonta. –
ela respirou fundo e entregou umas folhas pra mim e pra Nicole.
- Briga interna envolvendo Codys, Roonie e Thay. – Nics respondeu.
- Ah, entendo. Sabia que isso não daria certo desde o princípio. Essas duas garotas
não me parecem confiáveis, mas quem sou eu pra dizer quem é ou não digna de
confiança, não é mesmo? – ela ajeitava as folhas que haviam sobrado dentro de uma
das agendas. – Fique calma, querida. Tudo tende a melhorar.
- Ou a piorar. – resmunguei, fitando uma das folhas que ela havia nos dado. Era um
cronograma do que teríamos que fazer. Estava cheio e os garotos com certeza não
teriam tempo para nada, em Folkestone a coisa seria mais “punk”. Logo de manhã eles
dariam uma entrevista para um jornal local, iriam tirar fotos com fãs, fariam um
“pocket show” em seguida, voltariam para o hotel, tomariam banho, iriam para a casa
de shows, passariam o som e finalmente fariam o que tinham que fazer: o show.
Franzi o cenho com a quantidade de coisas que teríamos que acompanhar naquele dia e
estirei a língua pra fora.
- Isso vai ser maçante.
- Não fala assim Thay, vai ser legal.
- Pra você. Aliás, Nicole, preciso te perguntar uma coisa.
- Diga, amiga. – Michelle já havia ido embora e eu estava trocando de roupa para
uma mais adequada aos lugares que teríamos que ir, Nics fazia o mesmo.
- Sabe, eu havia esquecido, mas me lembrei que você me deve uma explicação. Na
verdade não acredito que me esqueci disso, é um assunto extremamente importante
e...
Fui interrompida por duas garotas escancarando a porta do nosso quarto. Joanna e
Julie.
- E ela não vai embora! – Julie berrou e se jogou na minha cama. – Eu pedi pra
Chelle se livrar dela, mas ela disse que não pode. E agora temos isso. – tirou da
bolsa o papel que havia nos sido dado e apontou para o mesmo freneticamente. – O
que é isso? Teremos que ficar com elas o tempo todo! Quer saber? Cansei.
- Respira, Julie.
- Respira é o caralho. Thay, você pode por favor reagir a isso?
- Eu estou reagindo. – respondi, indiferente.
- Ah é? Como?
- Sendo indiferente?
- Isso não é reagir.
- Pra mim é.
- Ei, moças, vamos parar de discutir? – Nics interveio de braços cruzados.
- Não Nics, eu ouvi o Codys contando para Jones ontem a noite que tinha beijado a
Thay. – bufei. Não era pra ninguém saber disso.
- O que ele falou?
- Não consegui ouvir mais nada, isso já foi o suficiente. Aí ele dá dessas? Aparece
com a outra no café da manhã? Como já não bastasse o que fez com a Jo... – Nics
pigarreou a fim de interromper a minha amiga que já falara demais. – Desculpe-me.
- Tudo bem. – respondi mais uma vez indiferente. – Eu não sei o que sentir, então
escolhi não sentir nada. Não quero falar sobre isso, não quero falar sobre nada que
envolva ele e suas garotas. – Julie revirou os olhos.
- Como quiser, mas acho que uma hora você explode.
- Não conte com isso.
- Entrevista, então, huh? Quem aqui está animada?
Nics perguntou, sentada no chão do quarto. Eu jogada na cama, Julie também, Joanna
em pé com os braços cruzados. Trocamos olhares e soltamos, juntas, um longo
suspiro. Animação. Essa palavra existe?

xxx
- Vamos mudar um pouco a pergunta relacionada ao estado civil de vocês. – a
jornalista, que anotava as respostas dos garotos em um bloco de papel, disse. –
Quero saber qual de vocês já encontrou o verdadeiro amor?
Codys, Wills e Jones levantaram uma mão tímida e a jornalista riu.
- É, o Codys, pelas músicas novas que estamos ouvindo nos shows das turnês
demonstra que encontrou. Fale-nos um pouco dela, Becker.
- Sério? – ele perguntou, meio nervoso. Eu estava sentada um pouco afastada deles,
junto com as meninas e quando eu digo meninas, isso incluiu as primas pesadelo. Só
observando.
- Claro, a não ser que ache pessoal demais.
- É um pouco sim. – ele sorriu amarelo, mas prosseguiu. – Ela é demais. Faz tudo
parecer simples, me faz querer ser uma pessoa melhor, querer ser alguém.
- Então quer dizer que estão namorando?
- Não necessariamente...
- Isso era pra fazer algum sentido? – ela riu.
- Não. – ele respondeu, derrotado.
- E na sua cabeça faz?
- A minha cabeça é a pior bagunça que ninguém jamais conseguirá ver.
- Enquanto isso fica fazendo merda com a sanidade dos outros. – murmurei um pouco
alto demais. Codys e a jornalista me fitaram por alguns segundos.
- Oi? – ela perguntou, interessada no que eu havia falado.
- Oh, me desculpe.
- Qual seu nome?
- Thalita.
- Thalita... – ela rabiscou uma coisa qualquer naquele maldito bloco e voltou a
atenção pro Codys.
- Não vai me perguntar o nome? – Roonie se intrometeu, sorrindo. – Eu sou a
namorada.
- Mas ela acabou de dizer que não necessariamente estava namorando. Eu ouvi errado,
Becker? – ela voltou a atenção pra Codys e eu senti uma pontada de receio na boca
do estomago.
- Não, bem, é que é...
- Complicado?
- Isso, é complicado. – ele riu sem graça e a jornalista entendeu o que estava
acontecendo. Anotou mais algumas coisas e sorriu para eles, por fim.
- Muito obrigada garotos pela maravilhosa entrevista, a participação especial das
outras duas garotas e espero que consigamos nos encontrar mais vezes.
- Obrigado você, esperamos que sim.

Estava muito claro pra quem sabia o que estava acontecendo, que aquele ambiente
estava com a atmosfera mais pesada do planeta. Tudo bem que meu copo de paciência
estava começando a faltar espaço para tanta merda que estava acontecendo. Eu estava
começando a ficar preocupada com o momento e a situação em que estaria quando isso
acontecesse. Me lembrei que teria que acompanhá-los até o shopping para uma sessão
de fotos com as fãs e só de pensar nisso minha cabeça latejou. Gritos. Histeria.Eu.
Morta.
- Tá pensativa demais. – Harry chegou ao pé do meu ouvido e me abraçou.
- E tem como não estar? – sorri fraca.
- Complicado.
- Não acha que estamos usando demais essa palavra? – retruquei.
- Talvez, não sei. Melhor do que falar merda né? – eu ri e ele sorriu de volta.
- Com certeza, Juddy. Você sempre sabe o que dizer.
- Eu estou um pouco preocupado com você, só isso. – esperávamos a carona sentados
no saguão do jornal. O resto dos garotos falavam com alguns profissionais e as
garotas haviam saído porque Julie queria fumar, como sempre.
- Eu ficarei bem, juro.
- Promete?
- Uhum. – resmunguei. Não tinha tanta certeza assim.
- Vamos lá com os garotos?
Respirei fundo. Sorri.
- Vamos lá.
Caminhamos juntos até onde o resto dos garotos estavam e ao chegarmos o assunto
parou. Por quê? Arqueei a sobrancelha sem entender, mas deixei pra lá. Negócios são
negócios.
- Cadê o Becker? – Harry perguntou ao perceber que Codys não estava lá.
- Saiu com a Nics. – Wills disse enciumado.
- Ué, por quê? – foi a minha vez de pronunciar.
- E eu é que sei, Thay? – Jones me respondeu, dando de ombros e em seguida me
abraçando de lado. – Pensei que estivesse brava com ele.
- Eu não.
- Não? – ele pareceu incrédulo. Bufei.
- Podemos não falar sobre? Eu realmente quero deletar essa parte da minha vida.
- Você não pode estar... – Jones começou, mas foi interrompido por um Harry
irritado.
- Não ouviu a garota, Becker? Ela não quer falar a respeito.
- Foi mal, poxa. – Jones fez bico. – Desculpa, Thalita.
- Tudo bem, Jones. Tá tudo bem. – dei de ombros e ele sorriu de canto.

Codys’s POV

- Quer dizer que você está sendo chantageado. – Nics levava uma expressão incrédula
no rosto enquanto conversávamos encostados em uma parede do lado de fora do lugar.
- É... Nics, você não pode contar pra ninguém sobre isso. Eu me sinto um merda,
você não tem idéia de como é difícil levar adiante, mas ela não quer que ninguém
saiba, eu não posso deixar... E agora todos me odeiam, meus amigos me odeiam... –
ela me interrompeu no momento que uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
- Para, Codys. Para de se torturar.
- Mas eu fui um merda com ela, Nics. Eu fui a pior pessoa do mundo. – sequei as
lágrimas que agora escorriam constantemente com as costas da mão.
- Você não tinha como saber. – ela me olhava com pena.
- E não é só esse segredo, sabe? Eu tinha tomado umas drogas pesadas, eu estava
fora de mim, foi tudo um grande absurdo. Quando ela tinha pedido pra eu guardar um
segredo, eu achei que fosse apenas isso, que ela tinha usado drogas. Mas depois de
uns dias ela me contou isso e... E agora chega essa garota, que parecia ser legal
no começo, mas tornou-se o maior dos meus pesadelos. – eu estava soluçando igual
uma garota.
Ela se aproximou mais e me abraçou.
– Eu vou te ajudar em tudo, vou te ajudar a superar isso, a reconquistar a Thay,
vou te ajudar a se livrar dessa mala da Verônica e sua capanga. Vai dar tudo certo,
amigo.
- Promete? – fechei os olhos, imaginando um mundo melhor.
- Prometo.
Ficamos alguns segundos abraçados e eu me senti melhor. Ela sorriu pra mim e
seguimos ao encontro dos nossos amigos.
- Demoraram. – Wills bufou e puxou Nics pra perto dele, que riu.
- Ciumentinho. Estávamos conversando, desculpa. – ela olhou pra mim e eu sorri. Na
mesma hora senti uma pessoa se agarrando no meu braço direito. Roonie, é claro.
Meus olhos procuraram por Thay e a encontrei conversando com Julie e rindo. Eu a
amava, droga. Soltei-me rapidamente de Roonie que resmungou, mas ignorei. Fui até
Jones e parei ao seu lado.
- Está tudo bem? – ele me perguntou, estranhando.
- Não. Minha vida está uma merda.
- Cada um escolhe o que quer, cara. – ele deu de ombros. Queria dizer que não, eu
não tinha escolha. Suspirei. – O que está acontecendo com você? A gente pode te
ajudar, eu e os caras.
- Ninguém pode, Jones. – dei um soquinho em seu ombro e fui até Roonie novamente,
ela me olhava fula da vida.
- Me trata desse jeito de novo na frente deles que seu segredo já era. – ela disse,
sorrindo falso. – E aí, vamos acabar logo com esse dia? Quero ficar sozinha um
pouco com meu namoradinho. – ela apertou minhas bochechas e me deu um selinho
barulhento. Nojo. Ninguém respondeu Roonie. Continuaram conversando entre si e
ignorando a garota. Não poderia pedir uma reação diferente dessa depois da
palhaçada que eu e ela fizemos, né? Eu entendia. E adorava.
Fizemos a tarde de fotos com as fãs tranquilamente, as garotas ficaram junto com
Michelle no canto do lugar e se divertiam com nossas fãs desesperadas. Na verdade,
todos pareciam se divertir, menos Thay que não me enganava com aquele sorriso.
Aquele era o sorriso que ela usava comigo quando alguma coisa que eu fazia não a
agradava e ela não queria brigar. Entramos na van em silêncio, não estávamos
trocando muitas palavras desde o ocorrido na manhã, nem mesmo entre as garotas.
Havia momentos que desatavam a falar, mas outros em que tudo que podia-se ouvir era
o som das nossas respirações. Chegamos no local onde faríamos o pocket show. 5
músicas e então voltaríamos para o hotel.
- Faremos quais músicas? – Harry perguntou brincando com as baquetas atrás do palco
em que entraríamos dentro de dez minutos.
- São quatro antigas e uma inédita do Codys. – Jones respondeu.
- Não cantaria uma em cada show da turnê? – Harry rebateu.
- Acho que na situação em que me encontro terei que cantar o mais rápido que eu
puder.
- Por que ainda tá fazendo isso? Você está com a Roonie! Que direito você tem de...
- Ei, vocês dois, não comecem. – Wills interrompeu. – Depois vocês conversam,
discutem, se batam, mas agora concentrem-se e vamos fazer esse pocket direito,
fechado? – Harry revirou os olhos e eu respirei fundo.
- Falou.
- Qual é a inédita, Codys? – Wills voltou a atenção pra mim.
- Not Alone (8).
- Essa é uma das que eu mais gostei da letra quando você mostrou, cara. – Wills
respondeu e eu sorri sem vontade. – Você está escolhendo bem a ordem das músicas.
- Vamos lá? – Harry disse e todos afirmamos com a cabeça. Subimos no palco e
fizemos nosso pequeno show. Para encerrar, Not Alone começou.

Life is getting harder day by day


(A vida está ficando mais dificil a cada dia que passa)
And I don't know what to do, what to say, yeah
(E eu não sei o que fazer, o que dizer)
And my mind is growing weak every step I take
(E minha mente está crescendo fraca a cada passo que eu dou)
So uncontrolable now they think I'm fake, yeah
(Desconfortável, agora eles acham que sou falso)

Cause I'm not alone, no no no


(Porque eu não estou sozinho, não não não)
But I'm not alone, no no no
(Mas eu não estou sozinho, não não não)
Not alone
(Não sozinho)

And I, I get on the train on my own


(E eu, eu peguei o trem por conta própria)
Yeah my tired radio keeps playing tired songs
(Meu radio cansado continua tocando músicas cansadas)
And I know that there's not long to go, oh
(E eu sei que não falta muito)
When all I wanna do is just go home
(Quando tudo que eu quero é ir para casa)

Quando finalizamos a música e o último acorde pode ser ouvido, virei minha atenção
para Harry, que me encarava. Eu sabia que dos caras ele seria o que mais pegaria no
meu pé em relação a toda aquela situação. Ele era o melhor amigo da Thalita, no fim
das contas, no fim do dia. E eu era o otário que havia feito merda. De novo. Eu
também sabia que na real todos estavam putos comigo. Eu estava puto comigo. Mas o
que eu poderia fazer? Deixar um segredo que não era só meu escapar? Não era justo.
Pelo menos era o que eu pensava. Ou não pensava.
- Mandamos bem até. – Jones disse animado ao lado de Wills, que sorria. – Essa
música é muito boa, Becker.
- Valeu. – respondi, quase num sussurro. Harry estava mudo. – Hazz, o que você
achou?
- Ruim. Música só é música quando tem significado. – Ele ergueu as duas
sobrancelhas pra mim e disparou na nossa frente, rodando as baquetas. Senti meus
olhos arderem.
- Caras, eu... – tentei começar, mas Wills me interrompeu.
- Depois, ok?
E então seguiu Harry. Jones ficou ao meu lado em silêncio.
- Agora é voltar pro hotel e depois ir pra casa de shows, né? – me perguntou,
tentando ser “amigável”.
- Você não precisa ser legal comigo se não quiser, Jones. – respondi rudemente.
- Não é isso. – ele suspirou. – Você não é de fazer isso cara, o que está
acontecendo? – ele desviou a atenção para mim. – Somos amigos, eu, você, Hazz e
Wills. A gente pode conversar, você sabe. Mesmo que pra isso precisamos ficar um
pouco mais gays.
- Eu sei. – concordei com a cabeça. – Mas é que eu não posso.
Os passos de Jones ficaram mais pesados e eu vi sua calma indo embora
repentinamente.
- A única coisa que te impede de ser feliz é você mesmo, Becker.
E então ele repetiu os movimentos dos meus amigos.
Eu fui o último a entrar na van de volta para o hotel. O ambiente havia mudado sim.
Agora a conversa fluía, só eu que estava excluído. Roonie e Ellie conversavam entre
si e o resto da galera ria de alguma piada que Jones havia contado. Encostei minha
cabeça no vidro e senti minha garganta ardendo. Eu não ia chorar na frente deles.
Não. Eu Não ia chorar e ponto. Senti alguém sentando ao meu lado e quando me virei
para xingar dei de cara com a Nics sorrindo.
- Oi. – ela disse, simples como sempre. – Vim aqui ver como você tava.
- Um lixo. – sorri forçado. – Mas pelo menos ela não tá me enchendo o saco. –
apontei com a cabeça em direção à Roonie.
- É um ponto positivo.
- Com certeza. – reafirmei. – E ela parece estar bem agora.
- Ela quem? Roonie?
- Thay. – Nics soltou uma risada forçada e me olhou séria.
- Me recuso a falar sobre a reação da Thalita. Mas se está funcionando pra ela,
ótimo. – ela passou a mão no meu cabelo. – Você tá acabado.
- Obrigado, eu sei. – de repente senti meus olhos doendo pela falta de uma boa
noite de sono. – Eu deveria dormir, provavelmente.
- Sim, provavelmente.
- Pode voltar lá, Nics. Não quero te arranjar problemas.
- Eu estou bem aqui. – ela encostou a cabeça no meu ombro. Me senti melhor. Mas o
aperto... O aperto ainda estava bem ali.

Capítulo 20
Verdades, perdas e mudanças.

"I feel like I've been put on trial with you. I know that's something's wrong and
I'm the one accused. When the verdict's in, it's us that's gonna lose, I can't wait
for you to finally hear the truth.'Cause I shouldn't have to plead my case. So much
love to save."

Chegamos ao hotel depois de alguns minutos parados no trânsito de Folkestone. Minha


cabeça latejava e a minha real vontade era de dormir. Mas eu não podia desistir.
Não agora.
- A gente se fala depois? – Nics colocou a mão no meu ombro.
- Com certeza. – sorri.
Entramos no hotel, peguei minha chave sem trocar nenhuma palavra com ninguém e subi
para o meu quarto. Em silêncio. Joguei a mochila em um canto qualquer e me afundei
na cama. Eu e meus pensamentos suicidas. Meus olhos estavam pesados e quando meu
cérebro finalmente estava se desligando do mundo real, ouvi o barulho da porta se
abrindo.
- Codys? – era a voz de Wills. Levantei o corpo num salto e esfreguei meus olhos.
- Diga aí.
- Tá tudo bem, cara? – ele parecia preocupado.
- Tá tudo legal. – menti.
- Codys, me fala, o que tá acontecendo? Eu juro pela nossa escrota amizade que nada
vai jamais sair daqui. – eu engolia em seco.
- Willy, é complicado. – deixei um longo suspiro escapar. – Não cabe apenas à mim,
entende?
- Eu já entendi essa parte. Eu só acho que o que quer que esteja te afastando desse
jeito da Thalita, que é a garota que você ama, é sério. Se tem alguma coisa séria
acontecendo, seu melhor amigo deveria saber.
- Cara... – levantei-me da cama e senti as lágrimas começarem a descer do meu
rosto. Pronto. O gay chorando na frente do amigo, de novo. Essa merda estava
ficando constante.
- Porra, não chora. – ele arregalou os olhos. – Caralho, Becker. Nunca te vi
chorar.
- A Roonie... Ela sabe de um segredo meu. – eu andava de um lado para o outro na
frente da cama que Wills estava. – E a filha da puta está me chantageando.
- Como assim? – seus olhos ainda estavam arregalados.
- Ela sabe de um segredo meu e está me chantageando pra continuar na turnê e ficar
comigo. – dei um soco na parede. – O quão doente isso é? Essa garota é doente,
Wills. Doente! – minha voz havia se alterado.
- Que segredo é esse, Codys? – a voz dele saiu falha.
- Tudo começou quando eu fui imbecil e traí a mulher da minha vida. – respirei
fundo e encarei meu amigo. – Eu fiz merda e fui pra cama com a Joanna. E aí esse
meu erro ocasionou um erro ainda maior.
- Você quer dizer que... – eu o interrompi.
- É. É isso mesmo.
- Cacete.
- Você entende? Ninguém sabe. Ninguém. E ela não quer que ninguém saiba. Eu não
sabia. Estava no começo e ela descobriu sem querer. Foi fazer um exame rotineiro,
nem deu tempo de “desconfiar”... Tem um mês só, caralho! Como isso é possível? Eu
nem sei se isso é possível! – eu havia voltado a andar de um lado para o outro e
falava sem parar. – Ela fala que já “deu um jeito no problema”, mas como isso
funciona? Eu nem ao menos sei. Eu não sei de nada! Minha cabeça está a mil, Wills.
Eu não sei o que fazer. A Roonie descobriu e agora ela tá ameaçando contar pra
Thay. O que eu faço? – me joguei no chão como se minhas pernas tivessem sido
partidas ao meio.
- O negócio é mais sério do que eu pensava. – Wills fechou os olhos por um momento
e me fitou. – Eu não sei o que faria no seu lugar. Já tentou conversar com a
Joanna? Eu também não entendo nada disso...
- Eu fui um babaca. Todo esse tempo eu não tenho conseguido nem olhar para ela, nem
me preocupei. Se ela estiver ainda com “isso”... – ele me interrompeu.
- “Isso” é um filho seu, Becker. Como pôde ser tão imbecil? – sua expressão ganhou
vida. – A gente vê na televisão sempre, exemplos de coisas assim. A gente é educado
numa sociedade sem censura pra esse tipo de informação e você mesmo assim consegue
fazer merda. – ele levantou da cama inquieto.
- Eu não preciso de sermão agora cara, muito obrigado. – e então ele voltou a se
sentar.
- Presta atenção em mim, Becker. Se você não for conversar com a Joanna e procurar
saber se ela ainda tá com esse filho seu na barriga, eu não movo uma palha pra te
ajudar nisso. Você tá entendendo? Eu não sei o que você falou pra Nics sobre isso,
não sei mesmo. Mas comigo as coisas funcionam assim. O que é certo é certo. – ele
segurou a cabeça com as duas mãos enquanto os cotovelos estavam apoiados nos
joelhos.
- Você tem razão. – fechei os olhos. – A minha vida está uma piada. Eu preciso dar
um jeito nisso e a Thalita... – ele me interrompeu.
- A Thalita é a última coisa que deve passar pela sua cabeça agora. Você tem que
resolver o que precisa ser resolvido com a Joanna. É isso que você precisa fazer.
Depois se livrar desse encosto que é a Roonie. E aí eu deixo você pensar na
Thalita. Você está me entendendo, Codys? – eu sentia a raiva de Wills
transparecendo a cada palavra dita. Meu estômago estava revirado.
- Mas as músicas...
- As músicas podem continuar. Mas sinceramente? Você vai precisar muito mais do que
isso quando a Thay descobrir sobre esse segredinho. – levantei do chão no mesmo
instante sentindo meu coração pular pela boca.
- Saber? Ela nunca vai saber. Ela não pode saber. – falei desesperado.
- Você planeja esconder isso dela até quando?
- Isso não cabe à mim, você não tá entendendo. A Joanna escolheu não contar. Eu não
posso simplesmente ignorar tudo que ela disser. O erro não foi apenas meu.
- Nem apenas dela. – ele levantou mais uma vez. – A gente precisa se arrumar pro
show. Faz o que eu falei. Conversa com a Joanna e então eu farei de tudo pra te
ajudar. – ele deu tapinhas nas minhas costas. – Vai dar tudo certo.
- Espero. – suspirei e a porta do banheiro se fechou. Me joguei mais uma vez na
cama, querendo que existisse um botão de avançar algumas partes da vida.

Thalita’s POV
Eu fitava a ponta do meu slipper vermelho com a mente lá em casa. Gabe. Eu sentia
falta daquele pestinha. Eu sentia falta de Cracky e da minha cama. Eu precisava
voltar pra casa. Fechei os olhos e respirei fundo deixando um pouco de ar adentrar
meus pulmões. Esperando que isso fosse me dar um pouco de coragem, ou sei lá o que.
- No que está pensando? – Nics saiu do banho com uma toalha enrolada na cabeça e o
corpo em um roupão.
- Em Gabe. – respondi, simples. – Acho que está chegando a hora de eu voltar pra
casa, Nics.
- Quê? – ela me olhou com o cenho franzido. – Está falando sério?
- Uhum. – resmunguei. – Sei lá. Estou meio cansada, acho que deu pra mim.
- Como assim, Thay? – ela deixou os lábios se curvarem para baixo. – Você não pode
me deixar aqui sozinha.
- Você tem o Wills, Julie e a Jojo. Mas é só uma ideia, não é certeza. Não há com
que se preocupar... Por enquanto. – sorri fraca.
- É por causa do Codys, né?
- Não... – falei baixo. Nem eu acreditava muito naquilo.
- Thay? - Talvez seja. Mas eu estou bem Nics, juro. Eu só estou tendo um pouco de
dificuldade para ficar feliz. – suspirei. – Mas eu ficarei bem. Vai se arrumar,
vai. Estamos atrasadas. – ela levantou a sobrancelha direita e sorriu.
- Sim senhora.
Nicole demorou um pouco mais de vinte minutos para se arrumar. Eu tinha desistido –
por hora – de ir pra Londres. Eu não queria que Codys achasse que era por causa
dele que eu estava deixando a turnê.
Mesmo que fosse.
Saímos do quarto e fomos direto para o saguão, onde todos esperavam por nós.
- Desculpem-nos galera... A culpa foi da Thay. – Nics disse na maior cara de pau.
- Ei! – me manifestei, rindo. – Você é uma mentirosa.
- Não preciso dizer, eles sabem que eu sempre enrolo. Convivência com Wills. – ele
foi até ela e beijou sua testa. Fofos.
Codys me encarou com aqueles olhos culpados. Meu coração doeu.
- Tentem não atrasar da próxima, né garotas? – Roonie latiu.
- Graças a Deus. – Chelle apareceu um pouco atrapalhada. – Todos para a van. Agora.

xxx
- Wills eu te amo! – uma fã histérica gritava batendo no vidro do veículo. Soltei
uma risada abafada.
- É Willy, fazendo sucesso.
- Sucesso até demais pro meu gosto. – Nics grunhiu.
- Ela não fica linda quando fica com ciúmes, Thay? – Wills apertou as bochechas da
minha melhor amiga. Revirei os olhos.
- Ela é linda sempre. – Nics sorriu pra mim e mandou um beijo. Willy nos deixou e
foi sentar ao lado de Becker. Desviei minha atenção para a poltrona da frente.
Wills sussurrava para Codys alguma coisa e aquilo me incomodava. Mordi meu lábio
inferior e deixei escapar um suspiro. – Ei Nics, tá sabendo de alguma coisa que eu
não sei? Algo que tenha a ver com aquele assunto que você e Codys conversavam
animadamente aquele dia no café da manhã, lá na outra cidade?
- Do que está falando, Thalita?
- É que eu estou sentindo que andam escondendo alguma coisa de mim. Não sei... –
olhei para os meus amigos. – Deve ser coisa da minha cabeça.
- Provavelmente. – Nicole olhou para baixo, desviando o olhar de mim. Aquilo foi a
prova de que sim, ela estava me escondendo alguma coisa. E eu iria descobrir cedo
ou tarde.
- Chegamos! – Ellie gritou, fazendo-me despedir dos meus devaneios.
Saímos da van com um pouco de dificuldade e finalmente entramos na casa de show. O
lugar era diferente de qualquer outro que havíamos ido. Leas Cliff Hall.
Comportadinho.
- Garotos, corram que estamos super atrasados. – Michelle estava a frente, com a
voz falha, mas com o coque nos cabelos sem nem um fio rebelde. Como ela consegue? –
Acho que nem vai dar tempo de passar o som direito. Garotas, platéia ou backstage?
- Plateia.
- Backstage.
- Backstage.
- Plateia.
- Backstage.
- Backstage.
- Certo. Vão aonde quiserem desde que não me deem dor de cabeça. É a última coisa
que eu preciso. Ok? – ela nos encarou, esperando resposta.
- Ok. – respondemos em uníssono, sem protestar. Quando Michelle demonstrava sinais
de irritação, era melhor ninguém se colocar em sua frente. Eu e Nics fomos as que
optaram pela plateia. Gostávamos de observar os meninos do mesmo ângulo que as fãs.
Além do mais, a ideia de estar no mesmo lugar que meninas que dariam a vida para
ficar com os nossos amigos - tendo eles todos os dias para a gente - era no mínimo
gratificante. Respirei fundo. Uma. Duas. Três vezes. Vamos, Thalita. Você consegue
ser forte. Eu sei que consegue. Folkestone, não pode ser muito pior que Margate,
certo? Os garotos saíram correndo e nós acabamos ficando um pouco pra trás. Quando
adentramos o local, a fila já existia, mas, como dito, o lugar era mais comportado
e as meninas também. Não muito mais comportadas.
- Aquelas vadias saíram do mesmo carro que os Guys! - uma menina gritou da fila. -
Elas estão os acompanhando pela turnê. Isso é tão injusto!
- É mesmo, quem elas pensam que são? Avisa elas, Holly. Avisa que eles são nossos
maridos! - uma garota com a ponta dos cabelos azuis gritou.
- Não perde tempo com elas, Grace. Nós somos muito melhores.
Soltei um risinho abafado e olhei pra Nics, que parecia se divertir assim como eu.
Julie, Roonie, Ellie e Joanna seguiam atrás, em silêncio.
- Eu tenho quase certeza que aquela ali é a namorada do Wills. - a garota dos
cabelos azuis gritou, apontando para Nics.
- Eu odeio ela! - a que respondia por Grace reforçou.
Olhei de novo para Nics, dessa vez um pouco assustada. Apertamos o passo,
atravessando a multidão e entramos na casa de shows quase correndo. Michelle, que
estava atrás de nós, mostrou-nos o caminho até o camarim dos garotos - que estavam
passando o som.
- Thalita? - Joanna dirigiu-se até mim. Arqueei a sobrancelha. - Podemos conversar
um minutinho?
- Claro. - sorri sem muita força e fui com ela até o sofá que tinha no canto do
camarim. - Pode falar.
- Bom, primeiramente... - ela suspirou com força e eu pude perceber que suas mãos
tremiam em cima de seu colo. - Eu sei que o que eu fiz foi errado. Sem desculpas
pra isso.
- Certo. - concordei, sem sentir pena.
- Eu estou nervosa. - ela desabafou, sorrindo amarelo. - Thalita, olha, eu
precisava muito te contar uma coisa, mas eu não consigo. Eu só vou pedir desculpa,
eu quero muito que as coisas voltem a ser como eram antes...
- Joanna, eu...
- Espera. - ela me interrompeu. - Eu nunca fiz isso na minha vida, Thay. você sabe.
Eu não sou de fazer nada errado, eu sempre faço as coisas certas, sempre pensando
nos outros. Eu amo você. Eu queria muito que você pudesse me perdoar.
- Jo, tenho que confessar que ultimamente eu nem tenho lembrado disso. Eu estava
mais preocupada com esse lance da Roonie e dele. É tanta merda, sabe? Minha vida? É
um monte de merda acontecendo atrás da outra e eu simplesmente não sei com o que eu
devo me preocupar mais. Isso se eu devo me preocupar. - fiz uma pausa e inspirei
bastante ar. - Eu estou tentando muito ignorar todos esses problemas relacionados
ao Codys, gostaria muito de esquecer tudo e deixar pra trás... Mas eu simplesmente
não consigo. - olhei pra ela e ela chorava. Muito.
- Eu preciso te contar uma coisa, Thay. Você vai me odiar, você nunca vai me
perdoar.
- Conta.
- Eu...
Michelle abriu a porta do camarim, interrompendo nossa conversa.
- Garotas? O show vai começar. - ela correu os olhos pelo ambiente e percebeu que a
atmosfera não estava das mais leves. - Está tudo bem por aqui? - perguntou.
- Está sim, Chelle. Já estamos indo. - Julie levantou em um salto do sofá. - Vamos,
meninas? Depois vocês terminam... Isso... Que estão fazendo. Pode ser?
- Julie, Joanna estava prestes a me contar uma coisa muito importante. Não estava,
Jo?
- É... - ela gaguejava. - Não era tão importante assim. Eu posso contar outra hora.
Bufei. É lógico que era importante. Ela estava aos prantos. Decidi que deixaria
Joanna escapar dessa vez, mas ela teria que me explicar direitinho aquela história
uma hora ou outra. Respirei fundo, com preguiça de me levantar do sofá.
- Venha, eu te puxo. - Nics parou em minha frente, sorridente. Estendeu a mão para
mim e eu segurei. Na mesma hora fui puxada com força.
- Está forte, hein amiga?
- Eu faço o que posso. - Nics flexionou os dois braços acima da cabeça, me fazendo
soltar uma gargalhada.
- Você é muito boba. Com certeza está com o homem certo. - revirei os olhos. -
Vamos logo para lá antes que a Michelle volte aqui.
- Vamos.
Escapamos pelos fundos do backstage e nos misturamos com a plateia. O lugar estava
lotado, mas isso não era novidade quando se tratava da banda Mcfly. Eu já havia me
acostumado. Encontramos um lugar para ficar e por ali permanecemos.
- Nics?
- Oi, Thay. - Nics olhava fixamente para o palco, onde nossos amigos já haviam
começado o show.
- Vocês estão escondendo alguma coisa de mim? – perguntei pela segunda vez no dia,
sentindo minha garganta arder.
- Como assim? Eu já disse que não... - ela gritava devido ao som alto.
- Vocês. Você. Sabe de alguma coisa que eu não sei. Eu sei que sabe.
- Você está delirando, Thalita. Presta atenção no show! Eles estão destruindo. -
ela olhou para mim por alguns segundos e voltou a atenção para o palco. Bufei. Lá
estava Codys.
- Folkestone! Grande honra estar aqui nessa cidade maravilhosa! Estão preparados
para a próxima música?
A plateia vibrava, concordando freneticamente.
- Vocês vão adorar essa! - foi a vez de Tom se pronunciar. - É uma inédita!
- Down goes another one (9)!
Fechei os olhos para absorver a letra da música. Havia chegado a hora do Codys. A
parte do show dedicada à mim.

Did the best


(Fiz o melhor)
That I could
(Que eu pude)
Said I'd die for you
(Disse que eu morreria por você)
And I would
(E eu poderia)
But I've drowned
(Mas eu afoguei)
All those feelings in the flood
(Todos aqueles sentimentos na inundação)
Need to know
(Preciso saber)
If you're there
(Se você está aí)
If you're listening to my prayers
(Se você está ouvindo minhas preces)
To my tears
(Minhas lágrimas)
Feel like raindrops through the mud
(Parecem gotas de chuva através da lama)

Por um momento me perdi em pensamentos.


Voltei atenção para o palco.

And how can I go on?


(E como eu posso seguir em frente?)
'Cause when I'm in the sun
(Porque quando eu estou no sol)
I see your shadow on the ground
(eu vejo sua sombra no chão)
But you're never there
(Mas você nunca está lá)
When I turn around
(Quando eu me viro)
Everytime I fall asleep my dreams are haunted
(Toda vez que eu durmo meus sonhos são assombrados)
Everytime I close my eyes I'm not alone
(Toda vez que eu fecho meus olhos, não estou sozinho)
And everytime I cry I'm right back where you wanted
(E toda vez que eu choro eu estou de volta aonde você queria)
I try to drown you out so
(Eu tento te afogar, então)
Down goes another one
(Mais um vai abaixo)

Tenta me afogar? Que tipo de música era aquela? Quer dizer, era óbvio que era uma
metáfora, ou algo do tipo. Mas "I try to drown you out"? Poderia ter usado palavras
melhores. Se eu tivesse escrito essa letra, com certeza não seria assim. Mas do que
eu estou falando? Por que estou criticando a música de Codys? Eu não me importo.
- Gostou da música? - Nics berrou em meu ouvido. Dei de ombros. Ela riu. Não
trocamos mais nenhuma palavra até o fim do show. Apenas ficamos lá dando risada das
fãs histéricas que se destacavam e das merdas que nossos amigos faziam em cima do
palco. Harry acabara de perder uma baqueta. Simplesmente saiu voando. Quando
finalmente foi soado o último acorde do show, eu e Nics fomos correndo para o
backstage sem sermos percebidas. Demos de cara com Julie - claramente não com o
melhor humor, Joanna, Roonie e Ellie.
- Gostaram do show, meninas? - Nics perguntou.
- Eles arrasam sempre! - Ellie estava muito animada. Soltei uma risada fraca.
- Meu Codys detonou. - Roonie olhou para mim e sorriu, vitoriosa. Sorri de volta.
- Concordo.
Todas olharam para mim incrédulas e Roonie deixou o maxilar cair por alguns
segundos.
- Concorda que meu Codys detonou?
- Sim, Verônica. Eu concordo que o seu Codys detonou. - sorri mais uma vez, mesmo
querendo quebrar a cara daquela vagabunda. Ela resmungou alguma coisa e saiu de
perto da gente, puxando a prima junto.
- Thalita? - Julie perguntou para mim com os olhos arregalados.
- Oi? - sorri mais uma vez.
- Você está bem? Está me assustando com esse sorriso de serial killer.
Acabei gargalhando de verdade.
- Estava tão forçado assim?
- Eu já estava fazendo planos para te exorcizar. - Nics disse, gargalhando junto.
Olhei para Joanna. Ela parecia muito querer se divertir. Suspirei.
- Podemos conversar, Jojo? - ela arregalou os olhos e concordou com a cabeça, sem
dizer nada. Fui com ela para um canto do backstage, do lado de fora da porta do
camarim.
- Olha Thalita, sobre aquilo que eu ia te dizer... - eu a interrompi.
- Eu sei o que é.
- Sabe? - ela perguntou, em choque.
- Sim. - respirei. - Eu também cansei desse clima. Eu estou disposta a deixar o que
aconteceu de lado, de seguir em frente. Nós não somos inimigas, somos amigas que
estão passando por maus bocados. - sorri, completamente sem forças. - Eu tive muito
tempo para pensar nisso. Não posso mais viver nesse pé de guerra com você e... Jo,
por que está chorando tanto? - quando me dei conta, Joanna estava com o rosto
escondido entre as mãos, soluçando sem parar. Ela me encarou e seu rosto estava
coberto em lágrimas, os olhos inchados e vermelhos.
- Eu não mereço seu perdão, Thalita! Eu sou uma péssima amiga! Eu não mereço, eu
não mereço, eu não mereço... - ela ficava repetindo sem parar, ainda soluçando.
- Merece sim Jo. Eu sei que você está arrependida, a gente vai superar isso
juntas...
- Você não entende! - ela berrou. - Eu não posso aceitar seu perdão, Thalita! -
ainda berrava. - Eu sou um péssimo ser humano. - ela saiu correndo e me deixou ali,
parada, inconformada e completamente confusa com a situação. Franzi o cenho, cruzei
os braços e entrei no camarim, onde minhas amigas já estavam. Arqueei a sobrancelha
quando vi que Codys estava sentado no sofá e todos estavam com a atenção voltada à
ele. Ele chorava.
- O que está acontecendo? - perguntei.
- Sente-se, Thalita. - Harry ordenou. Codys fez menção de levantar, mas Harry o
empurrou com força de volta.
- Ei, não precisa fazer isso. - recriminei-o. Ele soltou uma gargalhada nervosa.
- Preciso sim. - Harry passou as mãos urgentes pelos cabelos. - Vamos vazar daqui e
deixá-los conversar.
- Eu... Harry... Não quero fazer isso aqui... - Codys soluçava. Que merda estava
acontecendo com todo mundo?
- O que está acontecendo? - gritei, explodindo.
- Thay, calma... – Nics disse.
- Não me venha com essa! - eu gritava. - Você está me escondendo alguma coisa tem
tempo! Eu te conheço, Nicole. Você não me engana. - meu rosto ardida e minha
garganta raspava devido à força que eu usava. - E você! - apontei para Joanna, que
havia acabado de entrar no camarim com os olhos inchados. - Você queria me contar
uma coisa e eu estou começando a desconfiar de que não era o que eu achei que
fosse.
- Não. - ela disse quase inaudível.
- Então comecem. - cuspi as palavras.
- Esse assunto não é nosso. - Julie se pronunciou. - Devemos sair.
- O que é tão sério que vocês não podem estar presentes? - minha voz ficava cada
vez mais alta. - Eu quero vocês aqui. Sentem-se. - todos estavam de pé. - Eu disse
sentem-se. - dei ênfase na última palavra e meus amigos no mesmo instante sentaram-
se. - Ótimo. Agora vai, Codys. Conta. - olhei de relance para Joanna. - Você
também, não é mesmo? Porque pelo que me parece você faz parte desse segredinho. Já
não fez demais não, Joanna? - o choro dela havia voltado. - Para de chorar.
- Descu... Desculpe-me. - ela gaguejou. Ellie e Roonie entraram no camarim rindo e
congelaram ao ver a cena.
- O que está acontecendo aqui? - Roonie perguntou. - Codyszinho?
- Codyszinho é o seu passado, garota. - praticamente rosnei. - Ou senta e cala essa
boca, ou sai daqui.
- Quem você pensa que é para falar comigo assim? Você é só uma corna mansa.
Pra mim chega. Fui até ela com a mão queimando e depositei toda força que pude
encontrar em minha mão direita a fim de virar um tapa na cara dela. E foi o que eu
fiz.
- Me recuso a ouvir qualquer coisa que saia dessa boca suja. - ela ria.
- Sabia que não havia aceitado coisa nenhuma. - Roonie esfregava a mão no lugar em
que eu havia batido. - Está é morrendo de ciúmes do nosso relacionamento.
- Relacionamento? - gargalhei. - Relacionamento? Verônica, fica quietinha, eu já
perdi tempo demais com você. - suspirei e voltei minha atenção para Codys e Joanna,
que estavam sentados no mesmo sofá. - Mas com vocês ainda não terminei. Andem, já
esperaram tempo demais para me contar o que está acontecendo.
- Thalita... - Codys estava transtornado. E foi então que voltei a mim. O que eu
estava fazendo? Estava agindo feito uma louca. Meus amigos me olhavam assustados.
Não era pra menos, até eu estava assustada com o meu surto. - Thalita, eu não
sabia...
- É assim que vai começar o assunto, Codys? - Joanna dizia baixo. - Com "eu não
sabia"? Deixa de ser fraco.
Arqueei a sobrancelha.
- Mas eu não sabia, Joanna. - ele cuspiu as palavras. - Eu não sabia.
- Sabendo ou não, você contribuiu na hora. - de repente, me pareceu que Joanna
havia ganho forças. Ela levantou, respirou fundo e me encarou. - Thalita, eu estou
grávida.
Codys deu um pulo do sofá com os olhos arregalados e parou em frente à ela.
- Você disse que havia cuidado disso! - ele gritou.
- Eu menti! - ela gritou de volta - Não queria que você se preocupasse. Semana que
vem eu iria embora da turnê, daria uma desculpa qualquer. Eu queria te poupar desse
problema.
- É um grande problema, mesmo! - ele ainda gritava. - Eu não acredito que você
ainda está grávida. Eu simplesmente não...
- Não o que? - Nics disse. - Arque com as consequências dos seus atos, Becker. Eu
disse que ajudaria, mas não se você for agir assim.
- Não se mete na briga deles, Nics. - Harry gritou.
- O que você está falando, Sr. Hipócrita? - Nics então entrou na onda dos gritos. -
Acho que é a hora de todos saberem que você andou se pegando com a Thalita no
começo da turnê.
- O que? - Codys e Julie gritaram juntos.
- Você e a Thalita? - Julie emudeceu, deixando apenas o garoto falando. - Minha
Thalita?
- Sua? - Harry riu. - Sua? - repetiu. - Vá cuidar do seu filho que está na barriga
da melhor amiga da sua ex-namorada, Becker.
- É inacreditável! Você...
De repente tudo ficou preto. Eu não sabia mais onde eu estava, com quem estava, ou
que dia era aquele. Estava tudo escuro e eu senti meu corpo se chocando contra o
chão, mas mal pude sentir a dor. Ouvia vozes gritando meu nome, mas não queria
abrir os olhos. Não queria e não conseguia. Tudo aquilo que havia acontecido era
demais para apenas uma pessoa conseguir digerir. Um filho? Todos sabendo o que
havia acontecido entre Harry e eu? Eu não conseguia suportar a dor. Meus sentidos
foram se recuperando e eu já pude diferenciar a voz das pessoas me chamando.
- Thay? Thay? - reconheci Nics. - Ah, Thay! Eu sinto tanto! - pude ver que chorava.
Minha visão estava embaçada, mas eu já tinha forças para me levantar. O fiz e notei
que todos estavam ao meu redor.
- Afastem-se. - disse, autoritária. Vi que Michelle estava entre eles. - Michelle?
- Sim, Thay? Está se sentindo melhor?
- Sim. - peguei o copo de água que Harry me estendeu e bebi. - Pode me acompanhar
até o hotel?
- Claro, querida. - sua voz estava trêmula. Ela havia escutado tudo, provavelmente.
- Você realmente precisa de uma noite de descanso.
- Não. - rebati, firme. - Preciso de ajuda para fazer check-out. Eu vou para casa.

Capítulo 21
Cartas, filhos e telefonemas.

Codys 's POV


- Amiga, não. - Nics implorava. - Fica, me desculpa, eu não queria...- Thay a
interrompeu.
- Você sabia. - ela respondeu, seca. – Era pra você ser minha melhor amiga.
- Eu sou.
Thalita a fitou por alguns segundos e deu as costas para todos, andando calmamente
para fora do camarim. Harry correu, mas ela o impediu de a acompanhar.
- Não, não, não, não! - eu gritava. Sentia minha garganta arder, minha cabeça
explodir. - Thalita, você não pode me deixar.
- Codys... - Nics me segurou pelo braço quando eu fiz menção de sair do lugar que
estava para ir atrás da Thay. - Fique.
- Nics! - choraminguei. - Eu não posso perdê-la, eu não posso...
- Acho que não há muito que você possa fazer a respeito disso, Becker.
- Eu não acredito... - me joguei no sofá e me permiti chorar. Meus amigos me
esqueceram ali.
- Jo, você precisa de ajuda em alguma coisa? - Julie perguntou.
- Eu... - podia ouvir o medo na voz de Joanna. - Eu... Não, quer dizer, eu já
cuidei de tudo, por enquanto está tudo bem. Eu vou voltar pra Londres amanhã, vou
de trem, está tudo certo, eu... Eu queria agradecer a todos vocês por terem me
convidado para vir e pedir desculpas pela confusão que eu criei. Pedir desculpa por
mim e pelo Codys, que aparentemente está em estado de choque. - ela pigarreou. - Eu
vou arrumar minhas malas também.
- Joanna... Você pode vir aqui um pouquinho? - Nics a chamou de canto. Desviei meu
olhar para elas e pude as ouvir sussurrando.
- Jo, eu sei que é um momento difícil para todos nós, mas posso te fazer uma
pergunta chata?
- Pode. - ela suspirou.
- Você tem certeza que esse filho é do Codys?
- Nicole! Que tipo de pergunta é essa? - ela parecia ofendida.
- É que eu sei que um tempo antes você saiu com o Drew... E está muito cedo para
você dizer que esse filho é do Codys, sabe?
- Nics! - ela ainda estava inconformada.
- Que foi? Você nem tem certeza e tá destruindo um relacionamento, Joanna. Só acho
isso.
- Destruindo um relacionamento? Era só o que me faltava. - ela cruzou os braços.
- Não se faça de vítima também! Você escondeu porque quis. E nem tem certeza! E
está fazendo uma gigante confusão.

Isso era verdade? Ela não tinha certeza. Como ela jogou essa bomba em cima de mim e
da Thalita sem ter certeza de nada?

- Desculpa por fazer uma gigante confusão na vida de vocês, amigos. - ela disse,
irônica.
- Jo, podemos conversar? - Jones se pronunciou. Seus olhos estavam baixos e sua voz
igualmente.
- Jones... - ela deixou um suspiro escapar.
- Eu te amo, Joanna. Você é minha pequena.

Sério, Becker? Essa era a melhor hora para se declarar para a garota? Não estou
acreditando.
Isso porque achávamos que Folkestone seria mais calma que Margate.

- O-o-que? - ela gaguejou.


- Eu amo você. - ele repetiu. - Eu amo tudo sobre você. Eu amo seus grandes olhos
azuis e não quero vê-los cheios de lágrimas.
- Mas Jones, você ouviu o que eu disse? Eu estou grávida.
- Eu sei. Eu posso te ajudar, Jojo.
- Ei! - eu me pronunciei, acordando da minha transe. - Você não sabe se esse filho
é meu, então?
- Eu sei, mais ou menos...
- Mais ou menos, Joanna? - levantei do sofá e fui em direção à porta do camarim. -
Mais ou menos! Você só pode estar de brincadeira. É muita falta de noção da vida
mesmo.
- Não fala assim com ela, Becker. Ela está assustada. - Jones defendeu.
- Assustada? Assustada! Coitada dela. Ninguém está vendo o meu lado. Qual o
problema? Só porque eu sou homem? Todos aqui estão errados. Harry pegou a melhor
amiga, ex namorada do melhor amigo, amando Julie, porque todos nós sabemos que você
a ama e ela te ama também. Julie faz essa pose de durona, mas está querendo socar a
cara da Thalita por ter ficado com o cara que ela é apaixonada. Joanna ama o Jones
e mesmo assim transou com dois caras diferentes. Nics traiu a confiança da melhor
amiga, me perdoe Nics, mas traiu. Jones é apaixonado pela Joanna desde que o
conheço e nunca fez nada a respeito. Voltando a falar da Joanna, que acaba de
destruir qualquer chance que eu tinha de reconquistar a Thay por falar uma coisa
que não tinha nem certeza. E por fim, eu. Um bosta que traiu a pessoa que mais ama
na vida. Um bosta que se drogou e se fodeu. Um bosta que, se esse filho for dele,
ele vai ajudar em tudo que você precisar, Joanna. Mas você tinha que ter certeza.
Agora se vocês me dão licença, eu vou atrás da Thalita. - bati a porta atrás de mim
e deixei meus amigos lá. Sem palavras.

xxx
Fui correndo até a garagem a procura da van, mas ela não estava mais lá.
Provavelmente Johnny havia levado Thalita até o hotel. Gritei alguns palavrões e
tirei meu celular do bolso. Digitei o número da Michelle.

"Alô?"
- Chelle? É Codys.
"Oi, Codys.
" - Você está com a Thalita?
"Sim."
- Estão no hotel?
"Acabamos de chegar."
- Você pode pedir pra ela me esperar... Me esperar chegar aí?
"Como planeja vir para cá?"
- Táxi.
"Você está louco. Acabou de terminar um show, está cheio de fãs na frente do lugar.
Não se atreva."
- Chelle, eu já estou dentro do táxi. Faça a Thay ao menos me esperar até eu chegar
aí.
"Codys..."
- Por favor, Michelle. Ela é o amor da minha vida.

Desliguei o celular, aflito.


- Pode acelerar um pouco, senhor? - pedi ao taxista. Ele fez que sim e acelerou o
veículo, finalmente atingindo uma velocidade adequada à situação.
Chegamos ao hotel. Puxei o capuz do moletom que eu vestia e coloquei os óculos de
sol que estavam no bolso para disfarçar. Abaixei a cabeça e fui na fé e na coragem
entrando pela entrada principal. Ao chegar à recepção, corri até o balcão.
- Thalita Bernardi e Michelle já fizeram check-out?
- Acabamos de levar as malas da Srta. Bernardi para o táxi. Ela está com Srta.
Michelle tomando café da tarde.
- Obrigado, Marcus.
- Ao seu dispor, Sr.
Corri, mais uma vez, até onde elas estavam. Abri a porta com força e avisei Thay,
chorando no colo de Michelle em uma das mesas do salão. Senti o coração doer.
Aproximei-me das duas. Thay se assustou com a minha presença, enxugou as lágrimas e
escondeu os olhos inchados.
- Podemos conversar Thay? Por favor. - supliquei.
- Eu vou ver onde estão suas malas, Thalita. Qualquer coisa você pode ir até o
saguão principal. - ela sorriu para Thay e nos deixou sozinhos.
- Thalita, por que você fez isso comigo? - ela arqueou a sobrancelha para mim, sem
entender.
- Que?
- Por que você ficou com o Harry enquanto eu estava fazendo de tudo para te
reconquistar?
- Que? - ela repetiu. - É sério que eu estou ouvindo isso? Depois de tudo que eu
soube a seu respeito hoje a única coisa que você absorve é que eu fiquei com o
Harry algumas vezes? - engoli em seco. Ok, eu não deveria ter começado a conversa
por esse assunto. - Como você pode ser tão egoísta, Codys?
- Eu não sou Thay, eu só sou completamente apaixonado por você e isso me cega.
- Então trate de ver com clareza novamente! Eu não sei mais quem é você, eu não sei
mais do que você é capaz. A garota acabou de dizer que carrega um filho seu na
barriga, Codys. - ela soluçava, as lágrimas caindo sem parar de seus olhos.
- Ela nem sabe se o filho é meu, Thalita! - elevei meu tom de voz. - Ela disse sem
saber.
- Ela não faria isso.
- Mas ela fez.
- Mesmo assim, se há uma remota possibilidade desse filho ser seu...
- Então você vai desistir de tudo? De nós? Do nosso amor? - ela riu irônica.
- Cara, você está numa realidade paralela à minha ou o que? Há três horas atrás
você estava namorando uma garota que entrou em nossas vidas de repente e nos fez
brigar. Essa garota fez você fazer o que fez, fez você ignorar o que havia
acontecido entre a gente naquela noite. Mas a culpa não foi dela, foi Codys? É
claro que não. A culpa de tudo que aconteceu foi sua. Unicamente sua.
- Ela sabia da Joanna, Thay. Ela sabia de tudo, eu contei sem querer. - Thay mordia
seu lábio inferior. Aquilo me tirava a concentração. - Eu... Eu fiz o que fiz para
proteger a Joanna. Ela iria contar tudo pra você e pros outros, eu não podia, a
Joanna não queria que ninguém soubesse. - respirei fundo. - Eu fiquei sabendo disso
um dia desses, Thay. Quer dizer, eu nem sabia que ela havia ficado grávida e, de
repente, ela me disse que havia engravidado, mas "cuidado da situação". O que você
pensaria? - ela me interrompeu.
- Independente. Ela podia ter abortado e mesmo assim não mudaria o fato de que um
filho seu esteve na barriga dela. Um filho seu, Codys! - ela chorava cada vez mais.
Eu não sabia o que fazer.
- Thay, eu...
- A gente termina por aqui, Becker. Eu estou indo para casa. - ela limpou as
lágrimas com as costas das mãos. - E eu não quero mais que você venha atrás de mim.
- Você não pode fazer isso comigo. Eu te amo, eu te amo muito... - me interrompeu.
- Acabou, Codys. Acabou.
E então ela se levantou. Automaticamente liguei para Michelle, transtornado.

- Onde você está?


"Estou onde eu falei que estaria, Codys. Estou vendo se as malas da Thalita estão
em ordem."
- Preciso que você enrole um pouco mais. Vou para o meu quarto, preciso escrever
algumas coisas... Eu... Por favor Michelle, só um pouco mais.
"Codys, eu não sei se conseguirei. Vai me ligando."
- Obrigado. - E desliguei.

Fui correndo até o meu quarto do hotel, peguei minha mochila e de dentro dela tirei
meu caderno do Star Wars. Arranquei uma página, peguei uma caneta, sentei na
pequena mesa de jantar que havia no cômodo e comecei a escrever.

"Thalita,
A vida, muitas vezes, nos reserva destinos cruéis e obstáculos que juraríamos não
conseguir ultrapassar. Torna-nos derrotistas, derrotados e sem esperança alguma em
finais felizes. Eu era um desses derrotados até te conhecer. Você foi a luz que
iluminou o meu caminho e minha mente para tomar as decisões certas. Você fez de mim
o homem que eu sou hoje e eu posso te dizer com todas as letras que o homem que
você me transformou não foi o cara que traiu a sua confiança. Essa pessoa foi a
última parte do derrotista que eu costumava ser. E eu nunca havia percebido que ser
ao menos uma parte desse cara, traria tanta dor àqueles que eu me importo, àquela
que eu mais amo. Que é você, foxy. Sempre será. Eu nunca vou me perdoar por ter te
machucado, nunca vou me perdoar por não ter conseguido fazer meu plano de te
reconquistar dar certo, como não me perdoarei também por ter que ter um plano pra
te reconquistar. 26 músicas, que bobagem. É claro que não daria certo. E mais, eu
consegui apresentar apenas 9. 17 to go. O que fazer com as outras 17 músicas que eu
havia escrito pra você, então? Bom, elas estão todas aqui. Todas as 26. Nesse
envelope. Eu sei que é tarde demais, mas eu gostaria mesmo que você lesse e
percebesse que eu estava realmente disposto a te ter volta. Eu te amo muito,
Thalita.
P.S.: Eu vou colocar a minha vida em ordem, vou consertar todos os meus erros. Eu
não te peço que me espere, mas eu não vou desistir de você.
Codys."

Teria que servir. Fui novamente até o meu caderno e arranquei do espiral todas as
folhas com as músicas inspiradas em Thalita. Peguei um envelope de dentro da pasta
do caderno, dobrei as folhas, incluindo a que havia acabado de escrever. Virei o
envelope de costas e escrevi: "Foxy lady, you've got to be all mine." *
Corri o mais rápido que pude. Ao chegar ao saguão principal, pude ver o táxi da
Thay estacionado em frente à porta de entrada. Meu coração acelerou quando ouvi o
veículo dando partida. Michelle estava parada do lado de fora com os braços
cruzados, trocando olhares com Thay. Cheguei quando o taxista havia acabado de
engatar a primeira marcha.
- Thalita! – gritei, sem fôlego.
- Não, Codys. – ela disse, sem vida. Joguei o envelope pela fresta do vidro. Caiu
em seu colo. Ela o fitou e depois olhou para mim.
- Leia. Só isso que eu peço.
Em silêncio, ela olhou para o taxista que havia parado novamente. Ele entendeu o
recado e deu a partida pela segunda vez. Quando me dei conta, o táxi já havia se
afastado tanto que eu não conseguia mais diferenciá-lo dos outros veículos
presentes na rua. Eu não sabia o destino deles, não sabia quais eram as ambições e
ideais das pessoas presentes em cada um daqueles carros que meus olhos capturavam a
imagem... Mas de uma coisa eu sabia. Que em meio a aquela multidão, a mulher que eu
amava se afastava cada vez mais de mim. Por vontade própria e por culpa
exclusivamente minha.
Olhei para trás a procura da Michelle, sem sucesso. Foi então que notei a van que
antes havia trazido Thay para o hotel, indo embora. Provavelmente Michelle juntou-
se ao Johnny e foram buscar o resto dos meus amigos na casa de show. Nossa. Eu nem
me lembrava mais onde estava, muito menos com quem e o objetivo de estar ali. Meu
coração batia num ritmo descompassado e minhas mãos tremiam. Senti o celular
vibrando no bolso da jeans, mas ignorei. Entrei de volta no hotel e, sem forças
para subir para o quarto, despenquei em uma das poltronas do saguão principal,
deixando minha cabeça cair sobre os meus joelhos, sentindo minhas ideias e atos
pesando cada vez mais minha consciência. Meu corpo latejava. Fechei meus olhos pelo
que me pareceu algumas horas e logo fui acordado por um cutucão no ombro direito.
Era Nics.
- Você está bem? – perguntou, com os olhos inchados.
- Uhum. – resmunguei, sem forças.
- Ela já foi?
- Foi.
Nicole deixou escapar um suspiro alto do fundo da garganta e permitiu que algumas
lágrimas escapassem de seus olhos.
- Eu não acredito que isso esteja acontecendo. – ela soluçava sem parar. – Oh meu
Deus, ela nunca irá me perdoar.
- Nics, não me leve a mal, mas... A última coisa que eu preciso nesse exato momento
é discutir sobre isso. Cadê a Joanna? – perguntei, varrendo o lugar com os olhos.
- Já subiu para o quarto dela.
- E a Chelle?
- Está ali. – ela apontou para uma mesa de centro rodeada por sofás, onde Michelle,
Wills, Harry, Jones e Julie estavam. Arqueei a sobrancelha. E as primas infernais?
Onde estavam? Torcia para que finalmente tivessem desaparecido. Desloquei-me até
onde eles estavam e parei ao lado de Michelle.
- Podemos conversar?
- Claro, Becker.
- Preciso de uma ajuda. Preciso fazer um teste de DNA.
- Mas está tarde, é madrugada e amanhã vocês tem mil coisas para fazer...
- Chelle, eu preciso muito que você faça isso por mim, sério. Você sabe que eu não
sou de insistir muito em uma ideia, mas isso é importante. Demais.
Ela respirou fundo por um momento, fitou meus olhos e sorriu.
- Vamos dar um jeito. Vou desmarcar os compromissos de amanhã e deixo vocês só com
o show. A Joanna concordou com isso?
- Ainda não. Mas vai.

* Lembrando as leitoras de 26 Songs sobre a música “Foxy Lady”, que estava tocando
no primeiro beijo dos protagonistas. A música, do Jimi Hendrix, tem como um dos
versos a frase escrita pelo principal.

Capítulo 22.
Novidades, 26 e táxis.

Thalita’s POV

P.S.: Eu vou colocar a minha vida em ordem, vou consertar todos os meus erros. Eu
não te peço que me espere, mas eu não vou desistir de você.

Codys."

Meus olhos estavam transbordando lágrimas. Eu havia acabado de ler a carta que
Codys tinha me entregado dentro do táxi. Abri o envelope pela segunda vez e notei
que ainda tinham várias folhas dentro dele. Eram as músicas. Fechei os olhos
deixando as lágrimas escorrerem e peguei a primeira folha. I’ve Got You. Lembro-me
bem como me senti quando o ouvi cantando essa música. Sozinho no palco... Lindo,
sorridente, nervoso. Daquele jeito que eu amava.
Mais lágrimas escorriam.
Sorry’s Not Good Enough. Abri a segunda folha e dei uma relida na letra.
Mais e mais lágrimas.
Fui passando as músicas que já havia ouvido e parei na folha número 10, folheando
até chegar na última. Shine a Light. All About You. Love is Easy. Falling in Love.
Take me There. The Heart Never Lies. She Falls Asleep. Just my Luck. Don’t Wake me
Up. Star Girl. Home is Where the Heart is. Baby’s Coming Back. 5 Colours in her
hair.
Não acredito que ele havia escrito sobre minha fase rebelde com cinco cores no
cabelo...

- Você tem certeza? – Nics me perguntava antes de passar tinta azul em uma mecha do
meu cabelo.
- Absoluta. E essa resposta se mantém pelas próximas quatro cores. – dei uma
risada.
- Você perdeu o juízo. – minha melhor amiga me recriminou, rindo das minhas
loucuras. – Primeiro o piercing, depois a tatuagem e agora isso.
- Faz parte do meu novo estilo. – sorri satisfeita. Estávamos no banheiro do meu
quarto. Meus pais haviam viajado e estávamos sozinhas, sem ninguém para interferir
nosso momento.
- Seu novo estilo... – ela tirou sarro. – Louca.
- Falando em louca, ontem o Harry me pegou cozinhando pelada.
- O que? – ela berrou, gargalhando. – Eu não acredito! Como isso foi acontecer e
por que diabos você estava cozinhando pelada? – gargalhei com ela.
- Sei lá eu. Estava calor e aquele fogão estava me sufocando. – dei de ombros. E
olhei no espelho. A mecha com a tinta azul já estava envolta em papel alumínio. –
Vermelha agora?
- Lá vamos nós.
Deixei uma risada saudosa escapar dos meus lábios e suspirei, voltando a folhear as
músicas. Do Ya? Met This Girl. Smile, e, finalizando, Too Close For Comfort.
- Too Close For Comfort. – repeti o nome da música e fui tirada da minha realidade
de volta para o interior daquele táxi.
- Moça, chegamos. – o taxista disse, calmo. Havíamos chego ao aeroporto.
- Obrigada. – tirei uma nota de 50 libras da bolsa. – Pode ficar com o troco.
- Obrigado.
Ele tirou minhas malas da traseira do veículo e as colocou na calçada. Peguei minha
bolsa e coloquei o envelope com as músicas e a carta dentro. Suspirei. Eu estava
voltando para casa.

xxx
- Gabe! – gritei ao ver meu irmão caçula assistindo televisão na sala de casa em
Londres. Ele veio correndo até mim e pulou em meu colo, me abraçando forte pelo
pescoço. – Seu louco! Assim cairemos.
- Estava com saudade, Thay. – ele disse manhoso.
- Eu também meu amorzinho. Muita mesmo. Cadê a mamãe?
- Saiu. – ele deu de ombros.
Típico. Sair e deixar o filho de 7 anos sozinho em casa.
- Você está com fome? – perguntei, sorrindo para ele.
- Muita! Desse tamanho assim ó. – ele abriu as mãos e as afastou o máximo que
conseguiu.
- Eu só vou tomar um banho então e já faço um macarrão com queijo bem gostoso pra
gente. Fechado?
- Fechado! – ele sorriu abertamente para mim e voltou correndo para o sofá,
pulando, mais uma vez, em cima dele. Sorri. Pestinha. Fui para o meu quarto. Olhei
para minha cama e uma lembrança ruim me veio à tona. Joanna sentada lá, me contando
o que havia acontecido. Eu sabia que era ruim, só não esperava que fosse terminar
assim. Meus olhos voltaram a arder.
- Para de chorar, Thalita. – disse para mim mesma. – Você é forte. Para.
Coloquei as malas em cima da cama e as abri para guardar as roupas. Em meio a isso
meu celular começou a tocar. Era Nics. Recusei a chamada. Era de se esperar, certo?
Quando sua melhor amiga esconde um segredo desse tamanho de você, permitindo você
fazer papel de idiota, o que você faz?
O celular voltou a tocar. Dessa vez era Harry.

- Oi. – atendi.
“Thay?”
- Eu.
“Chegou bem, linda?”
- Está tudo bem, Juddy. Estou bem.
“Você não precisa mentir pra mim... Eu sei que não está, mas assim que a turnê
terminar eu vou aí ficar com você. Prometo.”
- Eu sei que vem... – minha voz começou a falhar, os olhos voltaram a arder.
“Você só precisa ser forte, ok? Fez bem em ter ido embora, só queria que tivesse ao
menos se despedido de mim.”
- Me desculpa, eu não pensei em nada, eu... – ótimo, Thalita. Você está chorando de
novo.
“Não precisa justificar nada, minha linda. Eu só queria saber se estava bem mesmo.
Estamos indo para o show agora.”
- Harry?
“Oi?”
- Posso te pedir um favor? Não quero que me entenda mal.
“Qualquer coisa.”
- Não sei nem como te pedir isso, mas tem como você não me ligar mais?
“Por que? Eu fiz algo errado?”
- Não, é que eu só não quero me envolver mais... Com isso. Você me entende?”
“Entendo.” Ele disse, derrotado. “Mas posso enviar SMS’s?”
Deixei uma risada escapar.
- Pode, Juddy.
“Ótimo! Ei Thay, tenho que desligar. Eu já vou Wills caralho, não precisa gritar.
Desculpa por isso... Erm... Te amo, beijo, se cuida.”
- Bom show! Te amo.
Desliguei o celular e já comecei a sentir saudade dos meus amigos. Seria péssimo
lembrar que eu não estaria mais com eles sabendo o quanto estávamos nos divertindo,
mesmo com todos aqueles problemas... Estávamos nos divertindo muito. Aquela viagem
com certeza havia sido a melhor da minha vida. Tirei os brincos e os repousei em
cima da minha cômoda. Olhei meu reflexo no espelho e uau! Eu estava acabada. Muito
mais que acabada, eu havia extrapolado todos os limites da pessoa mais acabada já
vista por olhos humanos ou alienígenas. Revirei os olhos para os meus próprios
pensamentos e fui até o banheiro. Tirei minhas roupas sem muita vontade, largando-
as no chão e liguei o chuveiro. Água quente para levar embora todo tipo de impureza
presente ali.
- Cause I’ve got you... – peguei-me cantando e quase virei um tapa em mim mesma.
Idiota, por que está cantando essa música? Você sabe que é dele. Em meio a meus
devaneios escutei batidas na minha porta.
- Thalita? Estou em casa. – era minha mãe.
- Eu também! – gritei de volta. Era meio óbvio, não era? Continuei meu banho
tranquilamente e quando terminei, respirei fundo. A realidade pode ser uma vadia.

xxx
Duas semanas haviam se passado desde que eu tinha voltado pra casa. Harry me
mandava mensagens de texto todo dia me contando sobre as palhaças que meus amigos
haviam aprontado. Contou-me também que Joanna havia ido embora e dias antes Roonie
havia sido expulsa. No fim das contas a prima boazinha acabou ficando com eles e
sem a prima má a amizade entre eles fluiu. Engraçado, né? Harry nem mencionava o
nome de Codys e aquilo ao mesmo tempo que me tranquilizava, me incomodava. Por que
eu queria tanto saber dele? Por que eu ainda me importava? Que tipo de ser humano
autodestruidor eu estava sendo esperando que ele viesse atrás? Que ele se
importasse? Mas ele tinha escrito aquela carta, não tinha? E todas aquelas músicas?
E...
- Moça? – um homem de cabelos negros e olhos verdes me cutucou. Eu estava na
lanchonete que eu sempre ia perto de casa e havia me perdido em pensamentos
enquanto colocava café em minha xícara. Resultado? Café pra todo lado. – Moça? Você
está derrubando seu café.
- Nossa, eu sinto muito. – me desculpei e me distrai com a beleza dele, esbarrando
na xícara e deixando o conteúdo da mesma virar e se misturar com o que já estava
derrubado.
- Sem problemas, deixa que eu cuido disso. – ele riu da minha cara e acabei
sorrindo também. – Cuidado da próxima vez. Poderia ter se queimado.
- É. Minha cara fazer esse tipo de coisa. – suspirei.
- Ben. – ele sorriu pra mim, me surpreendendo.
- Thalita.
- Eu sempre te vejo sentar nessa mesma mesa. Quer dizer, faz umas duas semanas que
comecei a trabalhar aqui, então... Vejo-te sentar nessa mesma mesa, no mesmo
horário, tem duas semanas. Se me permite dizer, você parece viver em um mundo
próprio. – ele enxugava o café que eu havia derrubado enquanto conversava comigo. -
Normalmente as pessoas criam um mundo próprio pra se proteger. – bufei. – Eu tentei
fazer isso, mas meu próprio universo voltou-se contra mim. Agora vivo em guerra com
meu subconsciente. – ele gargalhou.
- Eu sei muito bem como é isso. Nossa mente nos pregando peças.
- Exatamente.
- Bom, Thalita, foi um prazer conversar com você. Quem sabe amanhã, no mesmo
horário, mesmo lugar, podemos continuar da onde paramos? – automaticamente minha
sobrancelha direita se ergueu.
- Parece legal. – dei de ombros. Que mal faria me divertir um pouco, certo? Ele
parecia um cara legal.
Certo. Um cara legal.

Saindo da lanchonete, fui surpreendida por um paparazzi.


- Você não estava em turnê com os garotos da banda McFly, Thalita? O que aconteceu?
Tem como responder algumas perguntas bem rapidinhas pra mim?
O fitei por alguns segundos, ignorando as perguntas e segui o caminho até minha
casa. Gabe estava na escola e minha mãe só Deus sabe aonde.
- Oi, Cracky. – conversei com meu passarinho ao passar pela sala e fui decidida até
meu quarto. Tirei meu caderno de músicas da bolsa, abri na página de uma das
músicas inacabadas.
- Just tell yourself “I’ll be okay”. Won’t you tell yourself... – li duas das
frases ali escritas. – Isso está bem ruim e sem sentido. Vamos lá, você consegue
melhorar. Tirei uma caneta da bolsa, me joguei na cama deitando de bruços e deixei
o caderno em frente ao meu rosto. Passei a encarar o caderno como se dali fosse
sair uma letra genial. Comecei a escrever e não consegui mais parar.

When everything is going wrong


And things are just a little strange
It's been so long now you've forgotten how to smile
And overhead the skies are clear
But it still seems to rain on you
And your only friends all have better things to do

Coisas melhor para fazer. É. Eles realmente tinham coisas melhores para fazer.
Estavam em uma turnê, todos juntos, uma turnê que eu tinha abandonado porque meu
namorado engravidou uma das minhas melhores amigas. Raiva.

When you're down and lost


And you need a helping hand
When you're down and lost along the way
Oh just tell yourself
I, I'll be ok
Now things are only getting worse
And you need someone to take the blame
When your lover's gone there's no one to share the pain
You're sleeping with the TV on
And you're lying in an empty bed
All the alcohol in the world would never help me through it again

Estava meio pesado, mas era isso mesmo que eu queria. Porque a situação toda era
meio pesada. E tudo que eu precisava fazer era acreditar que eu ficaria bem. Eu
ficaria, não ficaria?

Capítulo 23
Olhos verdes, parque temático e viagem.

- Thay? – meu irmãozinho caçula me cutucava. Eu havia dormido de cara no caderno e


abraçada com o violão. O quão patética aquela cena deveria estar? – Thay, mamãe
está te chamando na sala.
- Ahn? – esfreguei meus olhos, tentando acordar. Que horas eram?
- Ela vai viajar. – bufei. Lógico, ela não iria querer falar comigo se fosse por
outro motivo.
- Estou indo, Gabe. – levantei da cama com muito cuidado para não deixar o violão
cair. Gabe sorriu para mim.
- Você está com uma caneta enroscada no cabelo. – riu. Passei a mão pelos meus fios
embaraçados e de lá tirei minha caneta.
- Acha isso engraçado, né? Seu pestinha. – o peguei no colo e fomos juntos para a
sala, onde minha mãe estava sentada no sofá com três malas a rodeando.
Repito: três. Enormes. Malas.
- Thalita. – tratou logo de começar a dizer. - Eu e Charlotte faremos uma viagem
para Paris nesse fim de ano. Gabe ficará com o seu pai, que virá busca-lo daqui
três dias. Eu estou completamente sem tempo de arrumar as malas dele, então preciso
que você faça isso por mim. – ela deu uma pausa para respirar e olhou para meu
irmãozinho. – Você. Comporte-se. E você... – olhou, dessa vez, para mim. – Cuide
bem da casa. Volto em fevereiro.
- Eu vou passar o Natal... Sozinha? – engoli em seco.
- Pode ir com Gabe para casa do seu pai se quiser.
- Passo. – dei de ombros.
- Bom, então até fevereiro. – ela foi até meu irmão e o beijou na bochecha. Ele
logo em seguida limpou o beijo e aquela cena doeu meu coração. Uma mãe não deveria
ser assim com seu filho de apenas sete anos. Eu e Gabe vimos ela se afastando, até
fechar a porta atrás de si. Suspirei.
- Meu amor, espera só um pouquinho que eu já volto.
Precisava falar com Harry.
Deixei Gabe por alguns minutos na sala e fui para o meu quarto. Peguei o celular
que repousava na cômoda e disquei os números que eu já sabia de cor.

“Alo? Thay?” Ele atendeu.


- Que saudade que eu estava da sua voz! - sorri verdadeiramente do outro lado da
linha.
“Oi linda, como você está?”
- Minha mãe acabou de sair de casa para uma viagem até fevereiro. Dá pra acreditar
nessa mulher?”
“Nossa. E o Gabe?”
- Vai ficar com o meu pai. Ele vem buscá-lo daqui uns dias.
“E você vai ficar aí sozinha?”
- Mais ou menos isso. - deixei escapar uma risada falsa. - Como está indo a turnê?
“Tudo bem. Codys continua tocando as músicas para você. Chega a ser meio ridículo.”
- Ei. - Fingi não ter ouvido o nome dito. - Eu fiz uma música nova para vocês.
“Sério? Como chama?”
- I’ll Be Ok.
“Parece apropriada.”
- É sim. – suspirei. - Vou mandar no seu e-mail, pode ser? Se quiserem tocá-la aí
ainda...
“Ótimo, Thay. Muito obrigada. Ei... Você está bem mesmo?”
- Estou sim Juddy... Não se preocupe comigo. Preciso desligar agora, depois
conversamos mais. Amo você, beijo.
“Beijo linda, também te amo. Se cuida.”

Desligamos. Joguei o celular em cima da cama e fui para a sala ficar com meu irmão.
Meu pai chegaria só daqui três dias, certo? Que mal teria passar um tempinho com
Gabe, sem me preocupar com nada além da felicidade dele? Lotar meu irmãozinho de
junk food e assistir a todos os desenhos animados que ele gostava sem reclamar? Eu
precisava daquele tempo com ele. E era exatamente isso que eu faria.
- Pipoca e chocolate? – sugeri a ele.
- Mas é quase hora do almoço! – ele protestou, mas com um sorriso se formando no
canto dos lábios.
- Exatamente. – dei risada e ele rendeu-se, me dando um abraço.
- Eu amo você, Thalita. – desabafou e eu derreti.
- Eu também te amo, seu pestinha. – apertei suas bochechas. – Já sei! Vamos na
lanchonete aqui do lado comer muitas waffles. O que acha?
- Waffles? E precisa perguntar? Vamos agora! – ri da reação dele.
- Vá colocar seus sapatos e me encontre na porta.
Fui até o meu quarto, calcei meus coturnos, peguei minha bolsa e o celular que
estava jogado em cima da cama. Peguei um casaco do meu armário, passei no quarto de
Gabe e fiz o mesmo por ele. Nos encontramos onde fora combinado.
Ele me deu a mão e caminhamos juntos até a lanchonete.
- Podemos tomar um milk-shake de chocolate com bastante calda, Thay? – ele me
perguntou, sorridente.
- Lógico que podemos. – sorri de volta. – Podemos comprar batata frita pra comer
junto.
- Oba! – ele vibrou e eu gargalhei. Entramos na lanchonete e a primeira coisa que
eu fiz foi varrer o lugar com os olhos a procura dele.
- Oi Ben. – Gabe gritou e foi abraçar meu recentemente conhecido. Arqueei a
sobrancelha sem entender.
- Oi, carinha. – Ben levantou meu irmão e o rodou no ar. Sorri com aquilo. De onde
eles se conheciam? – Vejo que trouxe companhia hoje.
- Sim, essa é Thalita, minha irmã mais velha. Você vai gostar dela. – ele puxou
minha mão e parou em frente à Ben.
- Não sabia que o pequeno Gabe tinha uma irmã. - ele sorriu para mim e eu corei. –
Oi, Thalita.
- Oi Ben. – respondi, sentindo minhas bochechas arderem. – Vocês se conhecem daqui,
Gabe?
- Sim, quando você estava fora, a mamãe me deixava vir aqui comprar refrigerante
azul. – Ben riu.
- Todo dia ele vinha aqui comprar o “refrigerante azul”. Ficamos bons amigos, não
ficamos Gabe?
- Os maiores amigos do mundo. – Gabe abriu os braços, a fim de mostrar o tamanho da
amizade dos dois. – Quer sentar com a gente, Ben? Vamos comer waffles com batata
frita e milk-shake de chocolate.
- Agora eu não posso, amigão. Mas por que eu não anoto o pedido de vocês e quando
vocês terminarem nós três não saímos para dar uma volta no parque? – Ben olhou para
mim esperando aprovação. Eu sorri e concordei com a cabeça.
- Demais! – Gabe gritou e então Ben passou a mão na cabeça do meu irmãozinho. –
Anda logo com o nosso pedido então para irmos logo para o parque.
Dei uma última olhada para o garoto que aparentava ter minha idade, além de,
também, aparentar ser melhor amigo do meu irmão (de sete anos de idade). Ele nos
deu as costas e desapareceu atrás da porta que separava o ambiente da cozinha.
Suspirei e tornei a encarar meu irmão.
- Você parece gostar mesmo dele.
- Ele é demais. – Gabe reafirmou. – Um dia ele me deu um lanche de graça. Com
batatinhas.
- Pra você tomar com o seu refrigerante azul?
- Isso mesmo. – ele olhou para mim e sorriu do jeito que sorria quando ia aprontar
alguma coisa. – Vocês podiam namorar.
- Que ideia mais boba, Gabe. Eu estou em greve de garotos. – ele bateu a mão em sua
própria testa. Arqueei a sobrancelha. – Que foi?
- Você ficou vermelhinha quando ele te falou oi. Eu tenho sete anos, mas não sou
tonto, Thay. – deixei meu maxilar cair devagar, com a sobrancelha ainda arqueada.
- Você está muito errado, Senhor Sabe-Tudo. – ele cruzou os braços.
- Comida! – gritou ao ver Ben se aproximando com uma bandeja com nossas waffles e
milk-shakes.
- Comida. – Ben repetiu, rindo. – Bom apetite, qualquer coisa que precisarem, me
chamem.
- Obrigada. – sorri para ele, que sorriu de volta. Os dentes dele eram grandes e
absurdamente brancos, assim como a sua pele; fazendo seus olhos verdes e os cabelos
negros se destacarem com o contraste. Meu coração acelerou. Gabe pigarreou.
- Podemos comer ou vocês vão ficar se olhando com essas caras de pamonhas até meu
milk-shake virar água? – o cenho dele estava franzido.
Crianças.
Dei uma última olhada em Ben, que sorriu e nos deixou sozinhos, comendo além da
conta. Quando acabamos nossas waffles, a batata chegou. Gabe ria me contando das
coisas que nossa mãe havia feito enquanto eu estava fora e de como iria ser
divertido passar o Natal com nosso pai. Eu ás vezes me esquecia de que ele apenas
tinha sete anos de idade, que era apenas uma criança. Havia me perdido tanto em
meus problemas envolvendo Codys, Joanna, Roonie e essa turnê enlouquecedora, que me
esqueci do quanto meu irmãozinho precisava de mim. Meus problemas não eram nada
quando comparados a toda essa bagunça familiar que eu e Gabe nos encontrávamos.
Olhei para o relógio e corri o olhar pelo lugar à procura de Ben. Ele não estava
mais lá, provavelmente se arrumando para ir embora. Chamei a outra garçonete e pedi
a conta. Minutos depois aqueles olhos verdes aparecem novamente, saindo de uma
pequena porta ao lado do banheiro masculino. Respirei fundo e olhei para Gabe, que
me fitava rindo.
- Que foi?
- Você está caidinha.
- Seu bobo! – eu não estava caidinha, estava? Eu amo Codys, ué. Eu o amo? Ainda?
Depois de tudo que havia acontecido, será que eu realmente o amava? E se eu ainda o
amasse, porque eu estava tão interessada naquele par de olhos verdes que estavam me
levando para outra dimensão?
- Podemos ir? – Ben aproximou-se de nossa mesa. Vestia calça jeans meio rasgada,
camiseta de uma banda que eu não conhecia, all star preto surrado e um moletom
preto por cima. Seu cabelo estava bagunçado e cheirava a perfume importado. Desviei
meu olhar para o prato vazio em minha frente, envergonhada e nervosa. Estava me
sentindo com quinze anos.
- Podemos. – Gabe levantou-se num salto da mesa e pegou na mão de Ben, abrindo a
mão que estava livre para mim. – Vem, Thay. – engoli em seco e peguei na mão do meu
irmão. Saímos, os três, de mãos dadas da lanchonete. O quão estranha era aquela
cena e o quão desconfortável eu estava me sentindo numa escala de zero a dez nesse
momento?
Onze.
Com certeza.
Andávamos pela rua a caminho do parque temático de Londres em silêncio. Ben hora ou
outra fitava meus olhos e eu desviava a atenção para a calçada, ou para o céu, ou
para qualquer outra coisa que não me fizesse ter que fitar aquele verde profundo.
- Eu nunca imaginaria que você fosse irmã do Gabe. – ele disse, por fim quebrando o
silêncio que havia se estabelecido entre nós.
- E eu nunca desconfiaria que você conhecesse meu irmão. – sorri, olhando para
frente. – Aliás, Gabe, só nossa mãe mesmo para deixar você ir até a lanchonete
sozinho todos os dias para comprar esse tal de refrigerante azul.
- Ela nunca queria me levar. – ele deu de ombros, sem se importar. – E é muito bom,
qualquer dia você tem que experimentar.
- Qualquer dia. – afirmei.
- Então... – Ben estava se preparando para dizer algo quando meu celular tocou alto
no bolso da minha calça jeans.
- Desculpa. – sorri sem graça e atendi a ligação. – Alô?
“Eu sei que você pediu pra eu não te ligar, mas preciso te contar uma coisa.”
- Oi Juddy, o que aconteceu? – me preocupei.
“Nada demais, só seu namorado me chamou pra conversar agora. Aparentemente ele teve
um delay de quase três semanas pra absorver que a gente se beijou.” Ele riu do
outro lado da linha.
- Sério? – gargalhei. – Não acredito que ele foi te cobrar explicação.
“Sério. Foi engraçado, mas por incrível que pareça ele não quis socar minha cara.”
- Ah não? Como que foi então?
“Ele meio que desabou, pediu desculpa por ser um babaca com você e pediu pra eu me
desculpar também. Foi basicamente isso. Esperava um pouco mais de sangue, luta
livre, sabe?” Gargalhei pela segunda vez.
- É, eu não sei te dizer o que está acontecendo... Mas não me parece ser algo ruim.
“E não é. A galera aqui tá começando a ficar numa boa. Sem a Roonie e a Joanna,
acho que terminaremos a turnê sem matar ninguém.”
- Isso séria ótimo. – olhei para Ben enquanto falava com Harry. Ele me fitava com
aqueles olhos verdes e eu senti meu estômago revirar.
“E você, está bem?”
- Estou ótima.
“Que bom. Era isso que eu precisava ouvir. Antes de te falar que...” Ele respirou
fundo do outro lado da linha. “A verdade é que eu não liguei pra você por nada
disso que eu falei antes.” Arqueei a sobrancelha e parei de andar no mesmo
instante.
- O que aconteceu, Harry?
“Você deu uma olhada na Young Folks dessa semana?” Arregalei os olhos. Era a
revista que havia entrevistado os Guys enquanto eu ainda estava presente na turnê.
Foi uma entrevista profunda e eu havia feito uma participaçãozinha especial.
- Não... Devo me preocupar?
“Você não vai gostar muito. Se não quer que seu humor estrague, aconselho a passar
longe da matéria. Preciso desligar, qualquer coisa me liga.”
- Qual a chance de eu passar longe dessa revista agora? Ligo sim, pode deixar.
Obrigada por me avisar antes, eu havia esquecido totalmente disso.
“Todos nós havíamos. E eu espero que as chances sejam grandes.” Ele riu. “Amo você,
se cuida.”
- Você também. Te amo.

Desligamos e eu bufei. Obviamente as coisas não poderiam ficar calmas em nenhum


momento na minha vida. Aquela turnê tinha que vir a tona de novo, mesmo eu fugindo
dela. Meu irmão e Ben me olhavam ansiosos por uma reação.
- Precisamos ir até uma banca de jornal. – disse de repente.
- Algo relacionado a uma revista? – Ben perguntou e eu concordei com a cabeça. –
Tem uma banca do outro lado da rua, vamos lá.
Em poucos minutos estávamos parados na frente da banca. Meu coração acelerava e
meus olhos varriam as revistas penduradas. The Look, Gloss, Faces... Young Folks.
Eles estavam na capa. Meus amigos, Mcfly. Na capa da Young Folks.
- São eles? – Ben me perguntou e eu fiz que sim. Gabe foi até a revista e apontou
para Codys.
- Esse menino namorava a minha irmã.
- Gabe. – recriminei-o, sem entender o por quê. Para falar a verdade, não queria
nem ouvir o nome daquele infeliz. Dei uma última olhada censurada para meu
irmãozinho e estiquei minha mão para pegar a revista. Antes mesmo de passar pelo
pequeno balcão e pagar pelo produto, abri na página exata da matéria.
- McFly contam sobre sua turnê pelo Reino Unido... Blá blá blá... Harry blá blá
blá... – corria os olhos pela matéria a procura do motivo de Harry ter me
aconselhado a permanecer longe daquela edição. – Codys... Thalita. Roonie? – engoli
em seco.
Voltei para o início do parágrafo.

“Que todos são umas gracinhas nós já sabíamos, mas que o coração da maioria deles
já está tomado é uma novidade. Codys Becker, guitarrista da banda, teve o prazer,
ou como a Young Folks até se atreve a dizer, a infelicidade de ter presente no
momento da nossa entrevista, uma adorável garota de coração partido. Thalita (não
tivemos acesso ao sobrenome da garota, pedimos desculpas aos nossos fiéis
leitores), ex-namorada, se mantinha durante a nossa entrevista, ao lado de atual
namorada, Roonie. O triângulo amoroso, com atitudes confusas e sem sentido, fizeram
do tempo que passamos juntos, um tanto quanto mais interessante.
Ao que me pareceu, entre os três, existe essa enorme tensão sexual. Thalita parece
ter muitos assuntos pendentes a acertar com o guitarrista da banda...”

Parei de ler. Já era o suficiente. Aquela repórter era uma tremenda de uma vadia, o
que me surpreendeu muito. No dia da entrevista, parecia ser alguém dócil, educada,
inteligente e com noção da vida. Toda aquela máscara para escrever uma matéria
fútil nessa dimensão? Aquilo não podia estar acontecendo comigo. Era como se eu
fosse a intrusa do relacionamento de Roonie e Codys, como se eu fosse a megera e
desesperada por atenção. Obrigada, Young Folks. Era exatamente disso que eu
precisava nessa fase da minha vida. Uma matéria falsa para me desmoralizar ainda
mais.
Paguei pela revista só para ter o prazer de jogá-la fora, sendo isso exatamente o
que eu fiz. Joguei com toda força que eu pude encontrar na primeira cesta de lixo
que me deparei.
- Parece-me que você não gostou muito do que estava escrito. – Ben arriscou,
reprimindo uma risada.
- Não. – disse, fula da vida. – Essa repórter é uma... uma... Tremenda vaca!
- Thalita! – Gabe gritou. – Você disse uma palavra feia.
- Mas ela é. – inconformei-me. – Que absurdo! Odeio falsas notícias. Esses
repórteres absorvem das entrevistas apenas aquilo que os convém. É sempre assim,
não sei por que imaginei que nesse caso seria diferente. A mulher parecia ser tão
tranquila, é uma injustiça, droga! – desabafei, sentindo minhas bochechas arderem.
- Respira, Thay. – meu irmão aconselhou. – Se você quiser a gente vai em todas as
bancas de Londres e joga fora essas revistas. – torci a boca em um bico. Não me
parecia uma má ideia. Estava começando a cogitar a execução daquele plano, quando
Ben me trouxe pro mundo real.
- Não, né Thalita? Porque isso seria muito errado, não seria? – ele olhou pra mim,
esperando que eu concordasse. Às vezes eu me esquecia que eu tinha que servir de
bom exemplo para o meu irmãozinho caçula. Querendo ou não, era em mim que ele se
espelhava o que, desde o principio, não era algo muito inteligente para se fazer.
- Sim, Gabe. Ouça Ben, isso é muito, muito errado. – cruzei os braços, como uma
menina mimada recriminada. – Não devemos fazer esse tipo de coisa.
- Mas seria legal. – Gabe fez bico, como um menino mimado e recriminado. Alguma
dúvida de que éramos irmãos? Ben riu da cena e balançou a cabeça negativamente para
nossa reação. – Ao menos podemos ir pro parquinho e escorregar?
- Claro que sim. – passei a mão pelos seus cabelos finos. – Desculpe-me desviar o
destino desse passeio, queridinho. – ele sorriu pra mim. Chegamos ao parque
temático depois de cinco minutos, quando lembranças vieram à tona. Eu e Codys,
naquele lugar, sorrindo e nos beijando apaixonadamente, quando a vida era simples e
doce. Minha garganta doeu pelo choro que prendi. Gabe correu para os balanços, onde
encontrou uma amiguinha do colégio. Sentei embaixo da mesma árvore que Codys e eu
costumávamos sentar e suspirei.
- Ei, Thay. – ouvi Ben dizer meu nome. – Está tudo bem?
- Lembranças. – dei de ombros, fazendo careta. – Assombrações.
- Algo relacionado a Codys Becker? – assustei por ele saber. – Ah Thalita, eu sou
ligado nas coisas que acontecem. – riu fraco.
- Talvez, mas não importa. – encostei-me à árvore atrás de mim enquanto conversava
com Ben, tentando acreditar naquilo que eu dizia. – Não mais.

Capítulo 24
Bagunça, surpresas e coragem.

Três semanas haviam se passado. Ben e eu estávamos cada vez mais próximos, fato que
me ajudava a tirar da cabeça aquela turnê e dos problemas que a marcaram. Claro, eu
havia contado para ele tudo que acontecera comigo, com meus amigos e com meu ex-
namorado; se ele fosse fazer parte da minha vida, teria que saber, mas a verdade...
Era que eu estava tentando não pensar. Quanto menos eu pensasse, menos teria que
lidar. Além disso, Gabe já havia ido embora, deixando a casa completamente a minha
disposição.
Faltava três dias para o Natal e meus amigos voltariam para Londres para os
feriados. Harry havia prometido que passaria comigo em casa, onde comeríamos muita
porcaria e beberíamos muito vinho, ele só não sabia de um pequeno detalhe.
- Você prometeu que iria. – eu fazia bico para Ben. Estávamos no apartamento dele
vendo The Big Band Theory, sábado de manhã.
- Eu sei, Thay. Não faça esse bico. – cruzei os braços em protesto. – É que minhas
primas de segundo grau vêm pra cá e eu não sei o que fazer com elas.
- Primas? Se fossem tias, irmãs, eu até convidaria para ficar com a gente, mas
ultimamente ando desgostando um pouco das “primas” dos outros. Ou primas entre si.
Ou primas no geral. – ele riu do meu desabafo. Depois de quase um mês convivendo
juntos, Ben sabia da minha vida, de tudo que havia acontecido e eu sabia da vida
dele. Sabia que ele havia namorado uma garota por dois anos e que tiveram que
terminar quando ela mudou para Califórnia. Um choque e tanto.
- Eu sei que não quer convidá-las. Eu vou tentar dar uma desculpa qualquer para
elas não virem e te dou a resposta até amanhã. Pode ser, mimada? – sorri de orelha
a orelha e pulei em cima dele, abraçando-o de lado. Senti sua respiração sessar e
meu coração bater mais rápido ao perceber. O que estava acontecendo? Desvencilhei-
me do abraço e voltei para o meu lugar inicial. Ben suspirou.
- Sabe que desde o primeiro momento que a vi na lanchonete sozinha eu sabia que
deveria te proteger do mundo, não sabe? – engoli em seco. – Não sabe, Thalita?
- Eu sei que você pode me proteger de tudo. – fui sincera.
- Você sabe que eu nunca te magoaria, não sabe? – concordei. – Então, tá bom. – ele
sorriu pra mim e deitou a cabeça no meu colo. Fitei-o por alguns minutos e sorri,
voltando a atenção para o Sheldon, que fazia alguma coisa estupidamente inteligente
na televisão.

Acordei toda torta, com a cabeça apoiada no sofá. Olhei para baixo a procura de
Ben, que não estava mais em meu colo. Minhas costas doíam. Levantei-me e enfiei a
mão no bolso a procura do meu celular. 7:00 pm. Droga, precisava voltar pra casa.
- Ben? – gritei por ele. Um garoto com os cabelos despenteados saiu da cozinha com
uma colher de pau na mão e os olhos verdes brilhando. Seu sorriso era sincero.
Minhas pernas vacilaram.
- Só não cai! – ele me alertou, rindo. – Estou fazendo o jantar.
- Jantar? Mas eu preciso voltar pra casa, ou se não minha calopsita morre de fome.
– ele torceu a boca em reprovação.
- Tudo bem, eu como sozinho. – deu as costas para mim e voltou para a cozinha.
Merda! Eu havia o magoado? Calcei meus sapatos e fui atrás dele. Estava mexendo
algum tipo de molho no fogão. Não sei o que me deu, mas automaticamente o abracei
por trás e depositei um beijinho em seu ombro, fazendo-o suspirar. No mesmo segundo
se virou, ficando de frente para mim, me encarando com aqueles olhos.
- Eu... Acho que... – minha voz custava a sair. – Podemos embalar e levar para
minha casa. Se você quiser.
Ele me encara com um sorriso malicioso nos lábios. Num ato involuntário mordi meu
lábio inferior.
- Não faz assim, Thay. – ele passou os dedos pelo meu rosto e eu fechei os olhos
com seu toque. – Assim eu não consigo me manter longe. – meu coração batia
rapidamente. Ainda mordendo o lábio, abri os olhos e me deparei com o verde mais
intenso que eu já havia visto nos olhos de Ben. Eram urgentes, quentes e
manipuladores.
- Devemos ir. – eu disse, de repente, me desprendendo daquele mundo paralelo.
Enquanto me afastava, ouvi Ben suspirando alto.

xxx

- Você não pode simplesmente sair da prisão quando bem entender, Ben. – eu
gargalhava, recriminando-o. – Para isso você precisa tirar um determinado número no
dado ou ter a saída da prisão. Você não tem! Eu tenho. – abanava meu rosto com a
pequena carta, provocando meu amigo.
- Você está me provocando, Senhorita Bernardi?
- Nunca!
Jogávamos Banco Imobiliário no meio da sala de estar. Os pratos do jantar estavam
jogados ao nosso redor, com copos e talheres. Cracky piava junto com os nossos
gritos. Ben chegou mais perto de mim.
- Certo. Importa-se de me emprestar essa carta, linda? – eu ainda gargalhava.
- Sim, não vou te dar.
- Vou ter que tirar a força?
- Apenas se conseguir.
No mesmo instante, Ben foi até mim e começou a me fazer cócegas. Minha barriga doía
devido às risadas, mas ele não parava. Quando finalmente parou, curvou seu corpo em
cima do meu e congelou seus movimentos a poucos centímetros do meu rosto.
- Adoro quando suas bochechas ficam rosadas. – ele sorria. – Menos quando você
chora por aquele babaca. – seus olhos voltaram para aquele tom que estavam mais
cedo.
Abri a boca para respondê-lo, mas falhei. Eu havia perdido totalmente a voz. – Que
foi? Está nervosa com a proximidade?
- Não. – sussurrei, claramente nervosa. Eu não sabia o que eu estava sentindo.
Carência, talvez. Ele sorriu maliciosamente para mim e chegou o rosto um pouco mais
perto.
- Thay?
- Uhn. – resmunguei, sem muita vontade de movimentar qualquer músculo que fosse.
- Eu vou te beijar agora.
Foi o que tentou fazer. Vagarosamente colou nossos lábios em um selinho macio e
levou uma de suas mãos até a lateral do meu rosto, acariciando minhas bochechas.
Colocava uma mecha de cabelo rebelde para trás da minha orelha quando eu senti sua
língua tentando invadir minha boca.
- Ben, não... – meu coração de repente parou. – Eu ainda não... – engoli em seco. –
Estou pronta. – me afastei antes que aquilo pudesse realmente desenvolver um beijo.
- Rosadas. – ele repetiu sorrindo e ignorando minha interrupção. Desviei meu olhar
envergonhado para baixo e arqueei a sobrancelha ao ouvir um barulho vindo do
corredor.
- Ouviu isso? – perguntei assustada.
- Não deve ser nada. – disse. Ben ainda estava em cima de mim quando a porta da
sala de televisão escancarou-se, revelando Harry, Jones, Wills e Julie com gorros,
luvas e casacos cobertos por alguns flocos de neve, sorrindo animados.
- Surpresa! – gritaram, mas a empolgação logo desapareceu quando se depararam com
aquela cena constrangedora. Meu coração disparou e Ben pulou de cima de mim,
ficando em pé. Cruzei minhas pernas, nervosa e sem reação. Ben deu uma última
olhada pra mim e foi até meus amigos.
- Prazer, Ben. – disse, amigável. – Sou amigo da Thalita.
- Harry.
- Julie.
- Jones.
- Wills.
- Ouvi falar muito bem de vocês. Estão com fome? – ele sorriu amarelo, cuidando da
situação, cuidando de mim. Como falou que faria.
- Morrendo. – Julie respondeu de imediato.
- Tem comida na cozinha, eu levo vocês lá.
- Eu sei o caminho. – Wills respondeu de dentes cerrados e desapareceu com Julie e
Ben os seguindo. Harry e Jones foram até o sofá que eu me recostei e sentaram.
- Algo a dizer? – Jones levava uma expressão fechada, sem transparecer muitas
emoções.
- Esse é Ben. – dei de ombros. – Nos conhecemos na lanchonete, na rua de baixo.
- E aí você já o traz para sua casa e fica dando uns amassos no chão da sala?
- Ele está me ajudando, Harry. – encarei meus pés, envergonhada. - A seguir em
frente, sabe?
- Dando uns amassos no chão da sala. – ele insistiu, revirei os olhos.
- Não, está me distraindo. Eu... Não estava o beijando e ele nunca tinha tentado
nada, se quer saber. Nesse exato momento foi a primeira vez e eu não consegui.
Segundos antes de você entrar por essa porta. – ele cruzou os braços e virou os
olhos.
- Cuide-se, Thalita. Se não acabara igual à Joanna. – cerrei meus dentes. –
Desculpe, eu não quis dizer isso.
- Se veio aqui pra ficar jogando as coisas na minha cara, sinta-se livre a se
retirar, Harry. Estou falando sério.
- Não, Thay... Desculpe-me. Não o beijou mesmo? – sorri sem forças, liberando
irritação.
- Não, Harry Judd Cabeça Dura. Vem cá, vai. – levantei e abri os braços para ele.
Ele foi até mim e me apertou forte. – Só não precisa me matar, Juddy. - riu.
- Eu me preocupo com você, só isso. Você parece bem.
- Ei, eu também me preocupo com você! – Jones levantou do sofá e demos um abraço
triplo. – E sim, eu estou. – eles me soltaram e sentamos juntos no sofá. – Ben é um
cara legal, tem me ajudado com tudo. Nós dois somos bem parecidos. – ele revirou os
olhos. – Que foi? Está com ciúminho, é?
- Não. – cruzou os braços, desviando o olhar do meu.
- Seu bobo, você é meu melhor amigo pra sempre. – ele ainda não me olhava. – Harry,
vai, olha pra mim.
- Julie quer conversar com você. – disse segundos depois de desviar o olhar em
minha direção.
- Vocês conversaram... De alguma coisa?
- Sim. – ele sorriu de orelha a orelha. – A gente meio que se beijou. – levantei-me
num pulo do sofá e joguei uma almofada em direção a ele.
- Seu filho da puta! Me falou tanta merda pelo celular e nem pra me contar da super
novidade. Estou muito, mas muito ofendida mesmo. – fiz bico e cruzei os braços de
frente a ele.
- Demorei para saber também. – Jones se manifestou. – Os desgraçados foram bem
discretos.
- A gente só se beijou uma vez, Thalita. Não se empolga. – ele suspirou, ignorando
Jones. – Mas eu quero continuar com ela. O único problema é que essa é a garota
mais cabeça dura que eu conheço. Até mais que você. – gargalhei.
- Não é verdade. – bati o pé.
- Isso prova o meu ponto. Não quer mesmo discutir sobre aquilo?
- Sobre o que? – me fiz de desentendida.
- Codys e tudo mais.
- Não. – respondi firme.
- Thay, você pode sentir-se a vontade com a gente. – Jones sorriu para mim. Por um
momento eu havia esquecido que ele também deveria estar abalado com o ocorrido. A
garota que ele amava estava grávida de um dos seus melhores amigos.
- Você também pode se sentir a vontade comigo, Becker. – sorri. Jones sorriu de
volta e me abraçou de leve. – Estamos juntos nessa, amigo.
- Thalita... – Jones olhou para Harry, que estava do meu lado direito, enquanto o
outro estava do lado esquerdo. – Nós temos que te contar uma coisa importante.
- Que foi? – franzi o cenho. – É mais merda? – eles riram.
- Bom, depende do ponto de vista. – Harry torceu o nariz e Jones suspirou alto.
- O negócio é que...
- Pô, eu que quero falar, cara. – Harry interrompeu o amigo.
- Mas a gente combinou que eu iria!
- Se bem que seria melhor o Codys dizer...
- Mas a Thay não quer vê-lo nem pintado de... – interrompi Harry.
- Dá pra falar logo? Ou vou precisar surtar igual da outra vez?
- Por favor. Não. – Jones disse com os olhos arregalados. – Pode falar, Hazz. –
Harry sorriu satisfeito. Garotos, ainda vão me enlouquecer.
- O filho que a Joanna está carregando não é do Poynter. – ele sorriu de orelha a
orelha, como se fosse a melhor notícia do mundo pra mim.
- O que? – falei um pouco alto demais. – Esse filho... Não é dele? – minha voz saiu
falha.
- Não. – Jones reafirmou. – Viemos todos te contar isso. Não sabíamos se ia mudar
alguma coisa pra você, mas... É isso. O filho é do Drew.
- Então? Diga alguma coisa!
Harry me pressionou. Mordi meu lábio inferior e relaxei os ombros. Eu era muito
nova pra enfartar, era muito nova para morrer, era muito nova pra receber esse
tanto de informação em menos de um mês. O que meus amigos queriam fazer comigo?
Fazer-me perder toda lucidez?
- Thay? – Harry chamou por mim, aflito. Eu fitava o nada.
- Oi. – respondi.
- Não vai dizer nada? – minha cabeça latejava.
- Eu não... Não sei o que dizer. Como vocês descobriram?
- Codys. – Jones disse simples.
- Atazanou a vida da Joanna e da Chelle pra fazer um teste de DNA. Mas nem foi
necessário... – Jones o interrompeu.
- Porque o tempo não bateu. Não teria como Codys ser o pai dessa criança.
- Mas e agora? – perguntei, transtornada.
- Agora que nada. – Harry deu de ombros. – O filho só não é de Codys, só isso.
- Mas não muda muito, muda?
Mudava? Será que mudava alguma coisa? Será que tudo que eu passei poderia ter sido
evitado? De qualquer forma eu tinha me humilhado por ele. Eu havia o beijado e no
segundo seguinte ele estava com outra garota, estava com Roonie. Mas era pela
chantagem, não era? Ele só quis guardar um segredo que não era apenas dele. Certo?
Minha cabeça latejava quando Julie, Wills e Ben voltaram para a sala.
- Tudo certo por aqui? – Ben me perguntou. Eu estava atônita. – Ela está bem?
- Eu acho que ela está processando informações. – Harry respondeu sem tirar os
olhos de mim.
- Que informações?
- Bom... Ela te contou por que voltou da turnê?
- É claro.
- Então. – Harry parecia meio irritado. – O filho que pensávamos que era de Codys,
na verdade não é.
Acordei dos meus pensamentos e virei à atenção para Ben. Ele parecia, no mínimo,
bastante decepcionado com a notícia.
- Isso é... – respirou fundo. – Ótimo. Como está se sentindo, Thay?
- Eu estou bem, acho. – disse, finalmente. – Isso não muda alguma coisa, muda?
- Lógico que muda! – Wills se pronunciou. – Você foi embora pelo fato de Joanna
estar grávida de Codys, não foi? – ele sorria. – Agora vocês podem ficar juntos de
novo, Thay. Como nos velhos tempos. Sem dramas. Jojo pode se acertar com Jones, não
é isso que você quer, Becker? E Harry, você pode... – Juddy o interrompeu e eu não
pude deixar de soltar um risinho.
- Hm, não sei se você está totalmente certo, Willy. – disse sério e um pouco
constrangido. – Isso não muda o fato dele ter ficado com a Roonie todo aquele tempo
e ter traído a Thalita.
- Gente, deixa isso pra lá. – respondi, por fim. - Julie, queria falar comigo?
- Quero sim, Thalita. Podemos ir até o seu quarto?
- Claro. – sorri. – Vocês sabem que estão em casa. – disse para os meus amigos,
incluindo Ben. – Sintam-se a vontade.
Acompanhei Julie até o meu quarto, apontando a cama para ela se acomodar. Fiz o
mesmo. Fitei os olhos dela esperando alguma reação.
- Estava com saudade. – ela sorriu para mim. Senti noventa quilos de culpa saindo
das minhas costas.
- Eu também. – suspirei. – Julie, eu sei que ficar com o Harry foi algo muito
errado, eu juro que não durou muito e que não estava raciocinando direito quando
fiz o que fiz.
- Thay, não precisa pedir desculpas. – ela prendia os cabelos em um coque alto. –
Eu só queria falar com você pra esclarecer isso entre a gente. É claro que eu
fiquei com ciúmes, eu não tenho mais vergonha de admitir que eu me importo com
aquele bestalhão. – ela riu fraca. – Mas eu não a culpo, certo? – meus olhos
encheram de lágrimas.
- Eu gosto muito de você, Julie. De verdade. Nunca mais farei nada que coloque
nossa amizade em risco. – ela foi até mim e a gente se abraçou.
- Você está bem, Thay?
- Cara... – deixei um suspiro escapar meus lábios. – Ben vem me ajudando muito,
sabe? Ele me ocupou bastante, a gente sai todos os dias, fazemos coisas inúteis e
eu me sinto protegida com ele. Ele é um bom amigo. – ela ficou me olhando com
aquela cara que fazia quando queria ouvir mais. – O que? Acabou a história.
- Você não me engana.
- Qual é... – protestei e bufei em seguida. – Eu acho que talvez eu tenha
confundido um pouco as coisas. Ele é muito bonito e legal.
- Então qual é o problema?
- O problema é que eu ainda amo o Codys. – deixei minhas costas tocarem o colchão.
– Muito.
- Ah, Thalita. – Julie lamentou. – Depois de tudo?
- Amor é amor, Julie. A gente não sabe como lidar, nos cegamos, perdemos os
sentidos e as emoções se anestesiam. – mordi meu lábio inferior. – Eu já me
acostumei. Sofro disso desde o momento que meus olhos encontraram os daquele
guitarrista sem noção.
- Eu gostaria que seu coração não fosse tão fraquinho, amiga. – ela riu. – Falando
em amiga...
- Nem tente. – a censurei. Sabia de quem ela falaria.
- A Nics sente muito a sua falta. Ela está muito arrependida do que fez, Thay. Mas
fez tudo pensando no que era melhor pra você.
- Bobagem! – retruquei, os olhos cheios de mágoa. – Ela nem pensou em como toda
aquela situação estava sendo difícil pra mim e como revelar aqueles dias que passei
com Harry seria um erro, ou em como ajudar meu ex-namorado traidor seria
inaceitável.
- Ele é amigo dela também. – ela tentou contornar a situação, deixando-me ainda
mais revoltada.
- Mas ela é minha melhor amiga, Julie! Não tem explicação para o que ela fez. Traiu
completamente a minha confiança. Mas isso já virou fichinha pra todo mundo desse
grupo.- grunhi.
- Não fala assim, Thay, poxa... – ela me olhou com pena.
- Não preciso que sinta pena, Julie. Sério. Eu estou bem, só não posso lidar com
essa porrada de coisa ao mesmo tempo. Uma coisa de cada vez. É tudo que eu peço. –
ela concordou com a cabeça. - Que tal a gente voltar para a sala? Estávamos jogando
banco imobiliário.
- Como posso dizer não para um jogo desses? Seria como negar uma tradição.
- Ótimo! – comemorei com dois pulinhos, fazendo minha amiga rir.
Codys’s POV
Eu estava deitado na rede que tinha pendurada entre dois pilares de casa. Londres.
Havíamos voltado da turnê para passar o feriado com os parentes, amigos, aqueles
que nos importávamos. Harry, Jones e Wills haviam ido à casa da Thalita e me
impediram de ir também. Eu não relutei muito, se querem saber. Era bom manter-me o
mais longe possível dela para que ela pudesse colocar seus pensamentos em ordem.
Era muita informação para uma pessoa só. Se havia sido pra mim, imagino para ela.
Minha mente me deixava louco, porque ao mesmo tempo que queria me manter longe,
queria estar perto dela e dizer que tudo ficaria bem entre nós. Queria saber como
ela havia reagido às minhas músicas, à minha carta de desabafo, de redenção. Saber
que o filho que Joanna carregava não era meu, foi, provavelmente, o maior alívio
que eu sentira a vida toda. Tudo bem, isso não mudava o resto das merdas que eu já
havia feito, mas ela já havia me perdoado, não havia? E Roonie... Tudo se
esclareceu quando revelamos o segredo da Joanna. Fechei meus olhos com força para
que aqueles pensamentos me deixassem em paz por, pelo menos, alguns minutos, quando
meu celular vibrou no bolso do meu jeans.

- Diga aí. – era Harry. Seu nome piscava no visor do meu celular antes de ter
atendido.
“Cola aqui.” Ele disse, simplesmente.
- Sério? – perguntei descrente.
“Sério. A Thay meio que... Liberou.”
- Liberou mesmo? Ela quer conversar comigo?
“Não força. Só vem. Falou.”

E desligou. Meu coração começou a bater em um ritmo frenético e minha boca secou. O
que eu faria? Será que eu teria cara o suficiente pra olhar nos olhos da Thay?
Agora não é hora para viadagem, Codys.
Recomponha-se e vá até lá.
Vá até lá e encare a grande bagunça que você fez.
Respirei fundo, peguei a chave do carro e fechei a porta da frente. Decidido.

Capítulo 25.
Caras, caretas e gracejos.

Estacionei em frente à casa da Thay. Meu estômago estava embrulhado, será que eu
conseguiria? Saí do carro e fui até a porta fechada. Toquei a campainha e notei que
minhas mãos tremiam.
Caralho.
Wills foi quem me recebeu.
- Você parece um pouco assustado, cara. – ele disse pra mim.
- Eu estou tendo pequenos ataques do coração agora mesmo. – desabafei. Era bom ter
toda aquela situação resolvida. Desde que o segredo fora revelado, eu e os caras
havíamos nos entendido. Quer dizer, eles haviam entendido o porquê de eu estar com
a Roonie. Estava defendendo um segredo...
Uma amiga.
- Você terá uma surpresa não muito boa ao entrar por essa porta, Becker.
- Como assim?
- Thay fez um novo amiguinho. – ele cerrou os dentes para me dizer. Minha
sobrancelha automaticamente se ergueu.
- Um amiguinho... Como um namorado? – arrisquei com medo da resposta. Ele torceu a
boca.
- Estamos tentando entender, mas até agora suspeitamos de que sim, ele quer e não,
ela não quer. – deu de ombros. – Veja você mesmo.
Ótimo. Mais uma coisa para me deixar completamente inseguro em frente a ela. Segui
meu amigo até a sala de televisão que eu conhecia fazia tempo. Todos estavam
sentados no chão, todos e mais um intruso. Não pude evitar a expressão de desprezo
transparecendo do meu rosto.
- Olha quem chegou. – Harry disse, levantando-se. – E aí, Becker.
- E aí. – respondi sem tirar os olhos do novo cara. Cumprimentei meus amigos e
parei em frente a ele, que se levantou de prontidão.
- Ben. – ele disse.
- Codys. – respondi.
Ficamos trocando olhares não muito amigáveis, até eu repousar o olhar em Thalita,
que estava de cabeça baixa. Fui interrompido por uma Julie apaziguadora.
- O que vão fazer no Natal, galera? – perguntou, mesmo já sabendo a resposta.
- Vou passar aqui com a Thay. Só eu e ela né, lindinha? Amigos abandonados pela
família. – Harry afirmou e depois indagou à Thalita.
- Pensei que eu estivesse supostamente incluso nessa comemoração. – o tal cara que
respondia por Ben se manifestou.
- Sobre isso... – Thay pareceu um pouco desconfortável com a situação. – Eu estava
pensando que podíamos fazer uma festa para todos. O que acham? – eu a olhava, mas
ela, nem por um segundo, me olhava de volta.
Aquilo estava ficando frustrante.
- Hm. – Harry murmurou. – Por mim. Apenas pensei que não queria muito auê.
- Eu não queria. – ela sorriu fraquinha. – Mas vê-los aqui, todos juntos... É que
me deu saudade dos meus amigos.
Não pude evitar sorrir. Eu não estava lá, mas ela disse para o Judd me chamar. Isso
significava que eu ainda era importante para ela, ela queria me fazer o convite e
me queria por perto.
Meu coração relaxou um pouco das amarras que o envolviam e eu, pela primeira vez
que entrara naquela casa, consegui respirar de verdade.
– E então? – ela voltou a perguntar. – O que me dizem?
- Eu me incluo. – Julie respondeu animada. – Estava um pouco desanimada em passar o
Natal com aquele velho babão. – se referia à seu padrasto.
- Eu também. – Wills sorriu. – Quer dizer, isso se a...
- Ela pode vir. – Thay suspirou. – Mas isso não significa que esteja tudo bem entre
nós, Wills. Porque não está. – ele sorriu para ela. - Ei Ben? Você vem também, né?
– ele a olhou por alguns segundos e respirou fundo. Parecia que tomava uma decisão.
- Não poderei, Thay. É uma pena. Não consegui me livrar daquele programa que eu
havia te falado a respeito.
- Mas poxa vida! – ela fez bico, me irritando. Por que ela estava fazendo bico para
aquele otário?
- Desculpe-me, linda. – ela ainda estava com bico.
Aquilo que incomodava. E muito.
- Elas podem vir, vai. – não entendia o que ela queria dizer.
- Está tudo bem, Thay. Sério, não precisa. – ele sorria pra ela.

Chega.
Resolvi desviar minha atenção para uma conversa entre Jones e Wills que havia
começado depois da ceninha de Thay com Ben.

- Não sei se isso vai funcionar. – Jones cochichava.


- Por quê?
- Codys, Thay, Nics, Harry, Julie…
- Qual o problema? – Wills voltou a perguntar.
- Não sei. Acho muito cedo. – minha sobrancelha se ergueu e resolvi me pronunciar.
- Seria cedo se a Joanna estivesse aqui. – meus amigos me olharam assustados ao
perceber que eu estava prestando atenção na conversa. – Que foi?
- Nada, só não sabíamos que você estava ouvindo. – Wills respondeu.
- Enfim. – voltei minha linha de raciocínio. – Se ela estivesse aqui, a Thay
ficaria desconfortável.
- É, mas você está aqui, então a Thalita já está desconfortável. – Jones disse e
Wills soltou uma risadinha debochada. Fechei a cara. – Pô cara, é brincadeira.
- Que seja. – dei o dedo do meio para os meus amigos. – Cuzões.
- Calma moça, não se irrite. – Wills me zoou.
- Já que vocês estão tão prontificados a tirar uma com a minha cara, que tal jogar
toda essa energia em um plano que eu tenho em mente?
- Outro? – Jones revirou os olhos. – Outro, Codys? Você só pode estar brincando...
- Outro.
- Qual é dessa vez? Obviamente tem a ver com a Thay.
- Obviamente. – concordei. – Depois conversamos. – notei que os diálogos que haviam
se formado naquele ambiente estavam sumindo.
Não queria que ninguém mais soubesse do meu plano. Nem mesmo Harry. Às vezes eu
achava que ele era mais amigo da Thalita do que meu e isso me irritava um pouco.
Não sabia até que ponto eu poderia confiar nele com meus segredos em relação a ela.

- Eu quero saber de uma coisa. – Julie disse, quebrando um quase silêncio que se
estabelecia na casa dos Bernardi. – Quem vai preparar a ceia?
- Ceia? – Jones perguntou com um tom de surpresa. – Estava contando com uma noite
de, sei lá... Sushi.
- Genial! – Harry disse empolgado. – Podemos fazer uma noite de comida japonesa ao
invés da ceia tradicional de sempre.
- Sushi! – Julie bateu palminhas frenéticas. – Adorei a ideia. E você Thay, o que
achou?
- Achei sensacional. Podemos fazer sushi, sashimi, yakisoba... – ela mordeu os
lábios, pensativa. Eu adorava quando ela fazia aquilo.
- Natal japonês. Assim que eu gosto. – Jones ria. – A ideia é boa porque veio de
quem veio.
- Não, Becker. – Wills interrompeu meu amigo. – A ideia é boa porque envolve sushi.
- É Willy, você tem razão.
- Eu sempre tenho razão.

E bastou ele dizer isso que o mercado de peixe voltou a fazer parte daquele cômodo.
Risadas, gritos e conversas altas demais. Tudo parecia estar certo, mas eu ainda
queria ocupar o lugar ao lado da Thalita. Segurar a mão dela e compensar todos os
meus erros. Mas eu tinha um plano.

Dessa vez ele daria certo.

Eu sei, já havia mostrado todas as letras para Thay, o que, em partes, ajudava.
Ajudava porque assim que ela escutasse a música, ficaria claro o que ela queria
dizer e eu não precisaria estar presente no momento em que acontecesse. Até porque,
eu não tinha tanto tempo em Londres assim. Teríamos que voltar para a turnê depois
do ano novo, logo no dia dois. Para colocar o plano em prática, precisaria da ajuda
dos meus amigos para que Thay estivesse em determinados lugares quando a música
tocasse e depois que fosse embora, eu daria meu jeito. De alguma maneira eu tinha
que amolecer o coração daquela garota.
- Codys? – Julie chamava por mim, me despertando. – Você está de carro, não está?
- Estou sim. – respondi. – Do que precisa?
- Você não estava prestando a mínima atenção no que estávamos conversando, estava?
– ela soltou uma risadinha. Dei de ombros.
- Na verdade não.
- Vamos até a casa da Nics contar sobre a ceia? – bufei em resposta, preguiçoso. –
Nem vem bufar pra mim não. A pergunta foi retórica, visto que eu já sabia a
resposta. Que é um sim. – ela levantou num pulo e parou em minha frente,
estendendo-me a mão para que eu também levantasse. – Wills e Jones vão com a gente.
- Por que só eu fico de fora? – Harry protestou.
- Não sei se você percebeu, mas eu também estou de fora.
- Mas você está de fora por motivos óbvios, Thay. – Judd retrucou na hora, fazendo
a boca da Thalita se entreabrir e permanecer naquela posição por alguns segundos.
- Eu te odeio. – ela estirou a língua pra ele e cruzou os braços. Não pude deixar
de deixar escapar um risinho. Ela notou. Nossos olhares se cruzaram, mas ela logo
desviou a atenção para suas unhas. Ah, Thalita... – Tudo bem, eu fico com o Ben
aqui. Estávamos ótimos sem vocês, mesmo.
- Na verdade, Thay, eu preciso ir também. Minha mãe já me ligou quatro vezes,
aparentemente eu preciso buscar meu irmão caçula no aeroporto. – ele olhou para
ela, com os olhos transmitindo um pedindo de desculpas.
- Eu vou com você, assim Harry vai para a casa da Jennifer também e ninguém precisa
ficar de babá aqui. – ela sorriu. – Posso?
- Não! – respondi, a língua falando mais rápido que o cérebro. Meus amigos olharam
para mim assustados com a minha reação e eu desejei estar morto. Bem me encarava
com cara de quem havia comido e não gostado. Minhas bochechas queimaram e meu
estômago revirou. Boa, Codys. Era disso que você precisava nesse momento. Passar
vergonha na frente dela. – Quero dizer, você tem muito que falar com a Nics, seria
legal se você fosse também.

Boa, Codys.
Como se algum deles fosse acreditar nessa sua tentativa de consertar seu surto.

- Eu acho que não. – ela repetiu muito imediatamente. É claro que essa seria a
resposta dela.
- De qualquer forma – continuou Ben, como se nada tivesse acontecido. – Eu não
terei como te trazer de volta para casa depois. A gente se fala amanhã, pode ser? –
todos assistiam aquela cena. – Eu te ligo.
- Certo. – ela foi até ele, o abraçou e beijou sua bochecha. - Nos falamos depois
então. Se cuida. – ele sorriu uma última vez para ela.
- Até mais, pessoal. – deu um tchau geral.
- Tchau, cara.
- Tchau.
- Tchau, Ben.
- Me deixa ao menos te acompanhar até a porta. – ela foi atrás dele, o abraçando
por trás e eles sumiram para fora da sala de estar. Meu punho automaticamente se
fechou ao lado do meu corpo.
- Se você ficar um pouco mais vermelho seu apelido será Hell Boy. – Julie tirou
sarro. Eu estava tão vermelho assim? Meus amigos gargalhavam da piada dela.
- Não achei graça. O que ela está fazendo lá fora com ele? – meu punho ainda estava
fortemente fechado.
- Estão se despedindo, Becker. Relaxa um pouco. – Harry disse, ainda rindo.
- Não gostei desse cara.
- Por que será, não é? – Wills riu. – A Thay gosta dele.
- Você acha? – meus olhos se arregalaram.
- Calma cara. Eu disse no sentindo amigável da coisa, eu hein. – Willy levantou as
mãos como se estivesse se rendendo. Eu revirei os olhos. Era verdade. Precisava me
acalmar.
- Foi mal. – me desculpei. – Estou enlouquecendo. – dei uma checada na porta para
ver se Thay se aproximava. – Ei, segura. – joguei um pen drive para Wills.
- Para que? – ele me olhou sem entender. – Por que está me dando um pen drive?
- Depois eu te explico. – ouvia passos.

Thalita entrou na sala.

- Voltei, amigos. – sorriu e sentou no sofá. – Agora vocês precisam ir porque eu


vou tomar um banho e assistir a última temporada de Friends. Andem, desapareçam.
- Ouch, isso machuca. – Jones colocou a mão no peito, como se tivesse levado uma
facada no coração. – Nossa companhia é tão ruim assim?
- Não. – ela riu. – Mas vocês precisam ir até a casa da Nics contar pra ela dos
nossos planos antes que ela marque outra coisa. E não Juddy, não precisa me olhar
assim, eu não vou dar uma festa em casa.
- Não estou preocupado que dê uma festa, Thay. – ele sorriu para ela. – Só não
gosto de te deixar sozinha em casa. Promete que liga para mim se ouvir algum
barulho estranho?
- Para qualquer um de nós. – as palavras saíram automaticamente da minha boca. Eu
precisava controlar mais a minha língua.
- Eu prometo. – ela riu da nossa preocupação e eu sorri satisfeito.
- Ótimo. Então podemos ir pessoal. – Judd encerrou a conversa e levantou-se,
acompanhado por Julie, Jones, Wills e por mim. Thay mandou um beijo para os meus
amigos e ao chegar à minha vez, seus lábios se fecharam em uma linha fina. Os olhos
dela encaravam os meus como se quisessem roubar meus pensamentos, como se quisessem
invadir minha mente. Se eles conseguissem, eu ficaria grato. Retribui com
intensidade duplicada aquele olhar e deixei um suspiro me escapar os lábios. Ela
mordeu o lábio inferior e por fim deixou os cantos de sua boca se curvarem em um
semi-sorriso. Meu coração acelerou e sorri de volta.
- Thalita, eles te falaram que... – tomei coragem para dizer, mas ela me
interrompeu.
- Falaram. Eu já sei. Deve ser um alívio e tanto. – ela respondeu, simples.
Concordei com a cabeça. Então, ela quebrou o contato visual e voltou à atenção para
a televisão, onde Chandler e Phoebe conversavam animadamente.

Thalita’s POV
- Vai atrás dela, Ross! Não a deixe ir embora. – uma caixa de lenços de papel
repousava ao meu lado, juntamente com um pote de sorvete de baunilha, uma garrafa
de coca-cola e um balde de pipoca gigante. Peguei um dos lenços de papel e assuei
meu nariz. – Vocês se amam tanto, não desperdicem esse amor.
Encarei o pote de sorvete ainda fechado e me estiquei para alcança-lo. Feito isso,
tirei a tampa com rapidez e enfiei minha colher, colocando-a imediatamente dentro
da minha boca uma quantidade enorme de sorvete.
- Merda. – senti meu cérebro congelar, mas ignorei. – Isso Phoebe, leva o Ross até
o aeroporto, ele não pode deixar a Rachel ir para França. – funguei. – Eles devem
ficar juntos, a história dos dois não pode terminar assim. - enfiei minha colher
dentro do pote de sorvete pela segunda vez, tirando-a de lá com mais sorvete ainda.
- Vocês passaram por tanta coisa juntos. – peguei pipoca e misturei com o que
restava do sorvete derretido dentro da minha boca. – E tudo se resolveu. Porque
vocês se amavam.
E foi aí que eu me toquei.

Será que eu deveria perdoar Codys? Havíamos passado por tanto juntos, ele com
Roonie sendo chantageado, eu enlouquecendo por essa gravidez que era uma mentira,
toda essa traição e essa confusão. Por quê? Nós nos amávamos. Como Ross e Rachel,
ficaríamos juntos no final. Quando fosse a hora, Codys viria atrás de mim no avião
quando eu tivesse embarcando para a França. Ou quase isso. Não necessariamente eu
tenha que ir para a França ou para qualquer lugar. Assim como Ross, Codys
encontrará uma maneira de demonstrar que me amava. Mas pensando bem, ele já não
tinha o feito? Ele já não tinha escrito aquela carta e todas aquelas músicas? O que
mais eu esperava daquele garoto? Um anel de diamantes?
Céus, não. Longe disso.

Eu só precisava de um tempo. Talvez para esquecer um pouco mais de tudo que


acontecera, talvez para me acostumar mais com toda aquela nova realidade e aquelas
novas cicatrizes. Ou talvez porque eu precisava apenas... Respirar. E foi então
que, pela primeira vez em dois meses que eu inspirei, preenchendo completamente
meus pulmões. Mantive o ar lá dentro por alguns segundos até soltá-lo lentamente.
Contando um... Dois... Três... Quatro... Cinco. Fechei os olhos.
Eu o amava. Ainda.

Ah, como eu o amava!

Codys’s POV
- Aquilo poderia ser mais estranho? – Wills perguntou do banco passageiro. Julie
havia ido em outro carro com Harry e Jones estava nos bancos de trás. Estávamos a
caminho da casa da Nics.
Dei de ombros.
- Não acho que foi tão estranho assim. – tentava acreditar nas palavras conforme
elas saíam da minha boca. Pelo canto do olho, pude ver que Wills me encarava
incrédulo. – Ok, talvez foi um pouco estranho sim. Mas cara, agora ela sabe que o
filho não é meu! Isso é bom, não é? Quero dizer, agora ela só precisa me perdoar
por...
- Traição.
- Traição parte dois.
- Desapontamento.
- Coração partido.
- E quase ter um filho. – Willy e Becker intercalavam as merdas que eu havia feito
com a minha namorada.
- Porra, vocês são legais pra caralho, valeu mesmo. – dei um soquinho de leve no
volante.
- Calma Becker, não é pra tanto. Estamos só tirando uma com você.
- O que aquele cara tá fazendo aqui, Willy? – perguntei, as mãos firmes no volante.
– Ele só vai atrasar meu plano.
- Verdade. – Wills soltou um estalo com a língua. – De que plano exatamente estamos
falando?
- É o “vinte e seis músicas para tê-la de volta” parte dois. – Jones revirou os
olhos, debochando.
- É praticamente isso mesmo.
- Está falando sério? Quantas músicas serão dessa vez? Cinquenta e duas? – Becker
agora estava debruçado no espaço entre o banco do motorista e o banco do
passageiro.
- Não. É só uma continuação. Digamos que seja... Uma segunda tentativa de fazer dar
certo um plano que anteriormente foi falho.
- Para que insistir no erro, meu caro amigo? – Wills perguntou entre risadas
abafadas.
- O erro vale a pena, Willy. – avisei o carro de Harry parando em frente à casa da
Nics e estacionei dois metros atrás. Puxei o freio de mão e encarei meus amigos,
que me olhavam com expectativa. – O erro vale a pena. – repeti.
- É isso que tem no pen drive? As músicas? – concordei. – Mas o que você espera que
eu faça com elas?
- Eu preciso que ela as ouça. Em determinados lugares, em determinados momentos. E
vocês vão me ajudar.
- Lá vamos nós de novo... – Becker soltou um suspiro e eu não pude deixar de rir.
Willy me encarou e gargalhou da minha desgraça. É, não tinha jeito. Eu era o tipo
de pessoa que vivia atolada na merda.
Mas que tipo de ser humano eu seria se mesmo com esse carma, desistisse de me
manter limpo?
Capítulo 26.

Thalita's POV
Acordei no dia seguinte com o celular vibrando embaixo de mim. Minhas costas doíam
devido à posição em que eu havia dormido na noite anterior.
No sofá. De dois lugares. Boa, Thalita.
- Ouch. – reclamei, tateando o sofá a procura do celular, quando finalmente o
encontrei. – Alô. Thay?
- Oi, Julie. Tudo bem? – esfreguei meus olhos e dei uma checada no relógio em cima
da televisão pendurada na parede. 10h30 AM. Porra, Julie. Tá de madrugada ainda.
"Tudo e com você? Desculpa te ligar agora, tá de madrugada ainda." Ela bufou,
provavelmente havia sido acordada também. "Mas os garotos estão chamando a gente
para começar com os preparativos do Natal."
- Legal. – respondi sem muita emoção. Meus olhos pesavam. Quanto eu havia chorado
ontem?
"Sabe aquele mercado perto da sua casa? Umas duas quadras pra baixo?"
- Uhum. – resmunguei.
"Eles tão pedindo pra você comprar uma garrafa de tequila e uns aperitivos lá."
- Por que lá?
"Aparentemente o preço está melhor. Você vai de carro, né?"
- Vou sim. Quer carona?
"Quero!" Ela vibrou do outro lado da linha e eu ri. "Me avisa quando sair do
mercado. Beijinhos.
- Beijos, amiga.
Desligamos.
Eu não iria reclamar se eles tivessem indicado o mercado perto de casa se a
intenção verdadeira fosse o baixo preço; mas eu não acreditava naquilo. Meu sexto
sentido me avisou pra dar meia volta quando eu finalmente terminei de me arrumar e
passei pela porta da frente, mas eu estava curiosa demais para saber o que aquele
mercado tinha de especial. Ou o que eles iriam aprontar comigo dessa vez, porque
provavelmente era o que fariam. Aprontar comigo.
Dei partida no carro. Dirigi por alguns minutos até estacionar na esquina do tal
mercado com a tal promoção.
- Bom dia. – um homem me cumprimentou sorrindo. Arqueei a sobrancelha. Primeiro
sinal de bizarrice.
- Bom dia. – respondi visivelmente assustada.
Continuei meu caminho até a prateleira de bebidas, observando o ambiente ao meu
redor. Por enquanto tudo certo.
- Hm... – murmurei, com os olhos correndo pela prateleira.
- Shine a light on her. – a voz de um dos empregados ecoou no mercado. Olhei para
cima.
Altos-falantes, tudo bem. Só que...
Codys havia feito uma música com o nome de Shine a Light (10). Era a décima música
das vinte e seis. Soltei um risinho devido à ironia da situação e estendi meu braço
para pegar uma José Cuervo.
- If anybody sees her. – a voz voltou. Parei mais uma vez e franzi o cenho. Essa
não era a letra da música de Codys? Larguei a garrafa dentro da cesta pendurada em
meu braço direito, atordoada. E foi então que a batida começou.

Tell me are you feeling strong


(Me diga se você se sente forte)
Strong enough to love someone
(Forte o suficiente para amar alguém)
And make it through the hardest storm
(E atravessar a mais forte tempestade)
And bad weather
(E o mau tempo)
Will you pull me from the flames
(Você vai me tirar das chamas)
Hold me till I feel no pain
(Me abraçar até eu não sentir mais dor)
And give me shelter from the rain
(E me abrigar da chuva)
Forever
(Para sempre)

Era sim. Era a música de Codys. O que ela estava fazendo saindo dos alto-falantes
daquele mercado? Meu coração acelerou. Olhei para os lados procurando alguém que
pudesse me explicar o que estava acontecendo e por que estava acontecendo ali.

Where can I find her?


(Onde eu posso encontrá-la?)
She took the light and left me in the dark, yeah
(Ela levou a luz e me deixou no escuro, yeah)
She left me with a broken heart, yeah
(Ela me deixou com um coração partido, yeah)
Now I'm on my own
(Agora eu estou sozinho)
If anybody sees her
(Se alguém a vir)
(eh, eh, eh) Shine a light on her (3x)
(eh, eh, eh) Acenda uma luz sobre ela
(eh, eh) If anybody sees her
(eh, eh) Se alguém a vir
Tell me can you hear my voice
(Me diz se você pode ouvir minha voz)
Loud and clear above the noise
(Alta e clara por cima do barulho)
Even if I had the choice
(Mesmo se eu tivesse a escolha)
I would not give up
(Eu não desistiria)
Where can I find her?
(Onde eu posso encontrá-la?)

Foi então que eu me lembrei.


Havia sim um motivo de aquela música estar tocando ali.

- Você só pode estar brincando. – murmurei. As luzes do mercado se apagaram. Eu


havia me separado de Codys para pegar manteiga, enquanto ele estava no corredor de
refrigerantes garantindo a bebida do jantar. Cruzei meus braços, irritada.
- Thay? – ouvi alguém gritar pelo meu nome. Havia muita gente no mercado. Era
véspera de Natal: muitas crianças, muita bagunça, muito barulho.
- Estou aqui! – gritei de volta para a voz que suspeitei ser de meu namorado.
- Estou no corredor número... – não conseguia ouvi-lo direito. Um bebê chorava ao
meu lado.
- Número? – gritei mais uma vez.
- Shh! – a mãe da criança me recriminou. – Já o acordou, vai continuar gritando?
- Desculpe-me. – dei de ombros, metade arrependida, metade nem ligando. – Última
vez. Número qual? – gritei de novo e recebi um olhar recriminador da mulher.
- Número seis! – ele gritou de volta. Abri meu celular para iluminar os corredores
e fui seguindo até o corredor número seis. O que tinha nesse corredor mesmo? No
meio do caminho, uma lanterna cegou meus olhos.
- Te achei. – ele sorriu tranquilo. Seus olhos brilhavam. – Uma luz brilhante pra
você. Pra te iluminar. – e me estendeu a lanterna.
- Obrigada, meu herói.

Certo.
A música não tinha nada a ver com o fato da luz ter apagado um dia no mercado
quando comprávamos ingredientes para o jantar. Mas Codys conseguiu ligar um fato ao
outro. E isso foi lindo. Não pude deixar de abrir um sorriso, que ainda estava
estampado em meu rosto ao passar a tequila no caixa.
- Não consegue parar de sorrir, garota. – a caixa sorriu pra mim. Sorri mais ainda.
– Com um namorado que faz uma música dessas eu também não deixaria.
- Como sabe? – perguntei muito imediatamente.
- Como você acha que a música está tocando agora? Codys é meu amigo. – ela fitou a
máquina registradora por alguns segundos e voltou à atenção pra mim.
Retirei o cartão antes de deixá-la falar o preço, digitei a senha e desapareci
daquele lugar.
A música havia acabado.
Entrei no carro e fechei os olhos. As mãos segurando o volante com firmeza. Eu
sabia que eles haviam armado alguma pra mim. E dessa vez a armação valeu a pena. A
música era linda.
Finalmente abri os olhos e dei partida no motor. Segui o caminho que eu sabia de
cor para a casa da Julie, hora me perdendo em pensamentos, hora tentando me
concentrar no trânsito. Estava difícil manter a concentração. Estacionei em frente
à casa dela, que ficava a poucos minutos da dos meus amigos e dei uma buzinada de
leve para que ela soubesse que eu estava ali. Sua casa era simples por fora, mas
por dentro era toda chique. A mãe de Julie era dona de uma multinacional e ganhava
muito, mas muito dinheiro mesmo. Julie dizia que eles moravam em uma casa pequena
para manter a discrição. Seus pais eram separados, mas a mãe dela havia se casado
de novo com um cara bem mais velho. Julie com seu jeito amigável de ser o excluiu
de sua vida. Não que o cara fosse chato, pelo contrário, ele era um daqueles
adultos – quase idosos – bonzinhos e que fazem de tudo para agradar os que o
rodeiam. Imaginem a ela! Eram presentes, jantares, festas, tudo que ela poderia
desejar. No último aniversário ele até a presenteou com um carro, mas ela se
recusou a dirigi-lo e seu padrasto acabou devolvendo para a concessionária,
derrotado.
Minhas amigas podiam ser bastante burras às vezes.
- Demorei? – os olhos delineados de Julie apareceram na minha janela passageira.
Sorri pra ela e neguei com a cabeça.
- Sem problemas.
- Não conseguia encontrar a parte de cima do meu biquíni. – ela estava ofegante e
com as bochechas rosadas. – Aí eu encontrei. Adivinha onde estava?
- Onde?
- Garfield estava brincando com ele. Como se fosse um novelo de lã. – ela bufou, os
dentes cerrados. Não me contive e soltei uma risada debochada.
- Como você deixa o seu gato brincar com o seu biquíni? E por que estava procurando
seu biquíni? Deve estar fazendo uns cinco graus negativos.
- Não sei. Simplesmente não sei. – ela disse, desolada, enquanto prendia os cabelos
em um alto rabo de cavalo. - um cachecol enrolava seu pescoço e luvas cobriam suas
mãos. Sorri e olhei pra frente, mais uma vez dando partida no carro.
Já estávamos em movimento e quase chegando à casa dos garotos. Desviei a atenção
por um segundo para Julie, que me olhou de volta.
Fiquei em silêncio.
- Que foi? – ela perguntou risonha.
- Nada... – disfarcei.
- Fala, Thay.
- Hm. – mordi o lábio inferior. – É só que... Você não sabe mesmo por que os
garotos queriam que eu fosse naquele mercado perto de casa?
Ela me encarou por alguns instantes. Eu a observava pelo canto dos olhos.
- Eu gostaria muito de saber, mas não, não sei. Você provavelmente agora sabe,
então pode me contar. – mal a deixei terminar de respirar e já fui contando.
- Eu entrei lá e de repente, quando eu estava pegando a bebida, começou a tocar uma
música do Codys. Assim, sem mais nem menos. Começou a sair dos altos falantes do
mercado. Todos ouvindo a música e eu lá, bobona, me desmantelando. – balancei a
cabeça, ainda descrente com os acontecimentos.
- Não acredito! – ela vibrou no banco passageiro. – Ele não desiste. Ai, o amor é
tão lindo...
- Cala a boca, Julie. – revirei os olhos querendo rir. - Não é lindo não. O amor
fede e dói na alma.
Passamos pelo porteiro e demos nossos nomes para a liberação até a casa McFly.
- Pronto. Chegamos, vaza do carro, bitch.
- Bitch é seu passado, garota. – ela deu o dedo pra mim e eu fiz cara de ofendida.
Saímos do carro e eu suspirei. Julie disparou na frente.
- Você não vem?
- Já vou. Vai indo.
Fiquei mais alguns segundos encostada à porta do carro com a cabeça abaixada.
Quando finalmente ergui meu queixo, percebi uma luz que piscava fraca no meio das
árvores de um pequeno bosque na frente da casa dos Guys.
Franzi o cenho.
O que era aquilo? Olhei para trás, visualizando a casa dos meus amigos e voltei a
atenção para a pequena luz piscando. Não mataria se eu desse uma olhada no que era,
mataria? Passei por algumas árvores e ao me aproximar o suficiente daquela luz,
percebi que não era nada. Apenas uma luz piscando... Para chamar atenção de uma
pessoa.
A minha atenção.
Codys e eu íamos naquele bosque sempre. Era fechado, privado e podíamos levar o
violão, cantando ao ar livre na madrugada sem nenhum vizinho reclamar. Era nosso
lugarzinho especial para escrever música nova. Levávamos alguns colchões de ar,
cobertores e ficávamos por ali, namorando e compondo. Era o máximo. Mas hoje havia
uma coisa diferente, fora do lugar. Uma pequena mesa de centro estava no meio do
espaço sem árvores com um ipod conectado a uma caixinha de som. Em frente à isso,
uma placa escrita Aperte o play repousava. Sorri. Fui até lá e sem nem pensar duas
vezes, apartei o pequeno botão. A música começou.

Yesterday you asked me


Ontem você me perguntou
Something I thought you knew
Algo que eu pensava que você sabia
So I told you with a smile
Então eu te disse com um sorriso
It's all about you
É tudo sobre você
Then you whispered in my ear
Então você sussurrou em meu ouvido
And you told me too
E você me disse também
Said you make my life worthwhile
Disse que você fez minha vida digna
It's all about you
É tudo sobre você

And I would answer all your wishes


E eu responderiatodos os seus desejos
If you asked me too
Se você me pedisse
But if you deny me one of your kisses
Mas se você me negar um dos seus beijos
Don't know what I'd do
Não sei o que eu faria
So hold me close and
Então me abrace apertado e
Say three words like you used to do
Fale três palavras como você costumava dizer
Dancing on the kitchen tiles
Dançando nos azulejos da cozinha
It's all about you, yeah É tudo sobre você, yeah

All about you (11). Eu lembrava dessa música. Eu amava a letra dela. Era... Linda.
Peguei o ipod e a caixa de som e coloquei embaixo do braço assim que a música
parou, guardando o papel escrito Aperte o play no bolso de trás da minha calça.
Rumei em direção à casa dos meus amigos e sem nem me anunciar, abri a porta e
entrei, indo em direção à cozinha.
Quando entrei no cômodo, tive uma visão no mínimo, engraçada. Meus amigos estavam
do outro lado do balcão que separava a cozinha americana da mesa de jantar, todos
com aventais, aparentemente cozinhando. Quanto às garotas, estavam sentadas
aleatoriamente pelo lugar, uma em cada canto, entediadas. Todas elas. Inclusive
Nics e Joanna.
- Pensei que tivesse se perdido, Thay. – Julie disse, já com um cigarro na boca.
Seus pés estavam para cima em uma mesinha de centro. Igual à aquela que estava no
centro do bosque. – O que é isso que está segurando?
- Erm. – olhei para os lados sem saber o que dizer. Não queria dizer que havia
encontrado a música e ouvido. Não com Codys ali me olhando.
- É meu. Obrigada, Thay. Deixei lá fora. – ele foi até mim e eu estendi o som quase
no automático, sem ao menos piscar. Engoli em seco ao sentir seu toque.
Ele não falou nada, só me encarou. E me encarou... Até eu me libertar daquele olhar
que estava consumindo toda a minha energia.
- De nada. – sorri e notei Nics e Joanna. Uma do lado da outra, conversando. Minha
garganta doeu. O que elas estavam fazendo ali?
- Esse é um encontro de confraternização. – Wills foi logo falando ao perceber a
minha expressão desesperadora. Por que eu tinha a sensação de que não sairia viva
dali?
- Confraternização? – perguntei, a sobrancelha só não levantava mais porque não
dava. – Achei que fosse os preparativos do natal.
- Sim, senhora. Também, como pode ver pelos nossos aventais. – Jones pigarreou. –
Mas... Todos vocês quebraram uma regra muito importante naquela turnê. Que era a
regra sem brigas . – soltou uma risada de deboche. – Foi o que mais fizemos nessa
viagem. Além disso, pelo que eu me lembro, fizemos vocês jurarem que obedeceriam
tudo que nós, membros da banda McFly, falássemos. O que não aconteceu.
- Mas... – Nics interrompeu.
- Sem mas. – foi a vez de Harry dizer. – Estamos propondo e obrigando uma paz nesse
grupo. Queremos todos juntos, como era pra ser. Está chegando o fim do ano, um ano
novo está para começar e não vamos começar brigados uns com os outros. Somos uma
família, caralho. Temos que ficar unidos.
- Nics. – Wills disse. – Meu amor, vá até a Thay e desculpe-se com ela.
- Wills, eu não preciso disso... – ele me interrompeu.
- Vá até ela, meu amor.
Uma Nics furiosa encarou Wills por alguns segundos. Cruzou os braços completamente
contrariada e foi até mim. Eu olhava para o teto, tentando não trocar olhares com a
minha melhor amiga, mas o que eu mais queria era que tudo voltasse a ser como era
antes. Eu sentia muita falta dela. Superar isso que aconteceu e passar por isso sem
a ajuda dela fora terrível. Harry era meu melhor amigo, mas não era minha melhor
amiga.
- Thay, me desculpa. – ela falou baixinho.
- Mais alto. Pra todo mundo ouvir. – Harry cutucou a fera. Ela lançou um daqueles
olhares mortíferos que só ela sabia dar. Não contive uma risadinha.
- Thay. – ela repetiu. – Me desculpa. Eu fui uma idiota, não queria te magoar. Só
queria magoar o Harry mesmo. – ela deu de ombros. Desviei a atenção para Harry por
um segundo e pude ver sua expressão ofendida, mas claramente despreocupada. – No
momento eu estava tão aturdida que não consegui pensar em mais nada, só naquilo.
Saiu completamente sem querer. Todos nós fizemos coisas de que nos arrependemos
muito. – ela olhou para nossos amigos e depois voltou à atenção pra mim. – Eu não
quero mais ficar assim com a minha melhor amiga. Por favor. – ela chorava. Senti
meu coração apertar e amolecer ao mesmo tempo.
- Eu também não quero mais ficar assim com você. – sorri pra ela e no mesmo
instante ela me abraçou forte, levando toda a tensão embora. Meus amigos bateram
palmas e eu revirei os olhos, achando toda aquela situação engraçada.
- Harry, sua vez. Vá até Codys. – Wills disse um pouco receoso com a situação.
- Nós já resolvemos isso, cara. Não precisa. – Codys respondeu imediatamente,
tentando se livrar.
- Precisa sim. Tem gente aqui que não estava presente. – olhou para mim e para
Joanna, que, uau! Já havia ganho uns quilinhos. Harry finalmente se colocou em
frente à Codys, que sorria da situação.
- Codys. – Harry colocou as mãos em cima dos ombros dele. – Cara, me perdoa. Eu não
pensei nas consequências quando eu e Thay, bom, você sabe. Não queria te deixar
mal, mesmo você sendo um cuzão da porra. Você me perdoa?
- Perdoado. – eles apertaram as mãos e se abraçaram. Mais uma leva de palmas.
- Joanna? Que tal você se desculpar com a Thay agora? – Jones perguntou, sorrindo.
Será que eles haviam se acertado? Eu estava meio em dúvida se gostaria de ouvir
alguma coisa da Jojo agora. Mas estava mais do que na hora de acertamos aquela
situação toda para eu poder seguir, finalmente, com a minha vida.
- Thay. – ela foi até mim e respirou fundo, deixando o ar escapar de volta aos
poucos para o ambiente. – Você sabe que eu sinto muito, muito mesmo. Eu e Codys
cometemos um erro, que por sorte não ocasionou em um erro maior. Não pra ele, né? –
ela riu baixinho de si mesma. – Mas eu agradeço muito pelo filho não ser dele,
porque se esse filho fosse dele, eu perderia uma grande parte da minha vida. Que
são vocês. Que é você, Thay. Você é minha amiga desde sempre. Você e ele se amam,
devem ficar juntos. Eu não serei mais um problema, mesmo. Eu e Jones estamos nos
resolvendo...
- É, estamos mesmo. – ele sorriu feliz, mandando um beijo para ela, que me abriu o
primeiro sorriso verdadeiro em meses. – Eu acho que o amo. – ela sussurrou pra mim
e eu ri satisfeita. – Eu só quero que tudo volte a ser como era antes. Talvez um
pouco diferente... Mas ainda assim. A paz deve voltar a reinar nessas amizades.
- Você está certa. – eu disse com os olhos marejados. – Eu estava disposta a te
perdoar antes daquela confusão toda e não vou voltar atrás. Vem cá, sua
inconsequente. – ela me abraçou com força e desabou em um choro constante. Eu
afagava suas costas, mas ainda assim ela não cessava o choro, muito menos me
soltava. – Está tudo bem, Jo, calma.
- Você é um ser humano maravilhoso, Thalita. Falo sério. – ela liberou-se dos meus
braços e me olhou transparecendo amor. Limpou as lágrimas com as costas da mão
direita e voltou ao lugar que antes estava. Mas não antes de me dar um último
abraço.
- E a sessão descarrego continua! – Julie disse acendendo mais um cigarro e fazendo
todos nós rirmos.
- Thay? Que tal ir até Julie agora? – Jones perguntou enquanto abraçava Joanna.
Droga, eu já havia resolvido esse assunto.
- Argh. – reclamei, fazendo meu caminho até ela.
- Está tudo bem Thay, vem cá. – ela me abraçou sem eu precisar dizer nada. Até
porque nós já havíamos resolvido aquele assunto. Sobre eu ter ficado com o Harry
sabendo que ela nutria sentimentos por ele. Só não precisamos resolver tudo de novo
na frente deles, não é? Era só mostrar que estava tudo bem.
- Não sei se valeu. – Harry cruzou os braços.
- Valeu sim. – Julie logo respondeu autoritária.
- Ok, então valeu. – coitado do meu amigo. Vai viver seguindo ordens de Julie pro
resto da vida. – Agora... Codys, vá pedir desculpas para Jones.
- Ainda isso? – ele reclamou, torcendo a boca.
- Não reclama, apenas vá. – Codys foi até Jones, que ria.
- Cara, foi mal por ter feito o que eu fiz sabendo que você era afim da Jo. – ele
disse um pouco baixo demais. – Eu não estava no meu juízo perfeito, se não eu nunca
teria feito nada para te magoar, você sabe. Somos irmãos.
- Eu sei, cara. – Jones abraçou Codys quase que imediatamente, dando leves tapinhas
em suas costas. – Está tudo bem, eu acredito em você. Agora chega de drogas nesse
grupo de amigos, chega de segredos e pelo amor de Deus chega de traições uns com os
outros. Mais um pouco todo mundo se pegava aqui. Essa amizade está parecendo mais
uma suruba gigante. – todos nós rimos.
- Você está certo, meu caro Jones. – Harry disse. – Mas ainda falta uma pessoa para
quem Codys deve se desculpar. – o silêncio se estabeleceu no ambiente. – Codys?
Pode ir até a Thay, por favor?
Meu coração subiu pela garganta e quase pulou pra fora. Sério, Harry? Mesmo? Que
diabos você pretendia com isso? Olhei para os lados procurando por uma saída. Olhei
pra baixo procurando algum lugar para enfiar a minha cabeça. Nada.

- Judd. – pude ver Nics cutucando Harry. – Agora não é hora. Eles precisam de
privacidade.
- Mas... – ele tentou argumentar.
- Sem mas . – ela sussurrou de volta e olhou para nós. – Acho que chega de
desculpas por hoje. Todos concordam?
- Com certeza.
- Para mim está ótimo.
- Sem mais.
Pude ver Codys trocando olhares com Harry. Pelo que eu entendi, eles haviam
combinado esse momento. Essa provavelmente seria a hora que ele pediria desculpa e
eu o deixaria falar. Mas... Ali? Com todos eles me olhando? Acho que não. Olhei
para Tom, que não conseguia manter a perna quieta. Mordia o lábio inferior
freneticamente e isso me fez soltar um risinho baixo. O que estava acontecendo com
meu amigo? Finalmente ele se levantou e olhou para nós, segurando seu violão. - E-
Eu queria aproveitar a situação para... – de repente disse e instantaneamente se
manteve calado.
- Aproveitar a situação para... – Joanna o encarou. Seus olhos estavam um pouco
mais abertos do que o normal, sua expressão curiosa.
- Eu quero te mostrar uma coisa. – Jones sorriu para Codys, o que me fez franzir o
cenho. Eles nunca iriam parar de armar as coisas? Provavelmente não. Wills correu
até o outro lado da área em que estávamos e pegou outro violão. – Isso que eu vou
mostrar é uma música. Eu venho trabalhando nela faz tempo. Até porque, eu não tenho
a habilidade da Thay com as palavras. – ele olhou pra mim. – Mesmo ela tendo me
ajudado, eu acho que assumo a maior parte do crédito.
- Que? – perguntei, sem entender. – Não te ajudei em nada não.
- Ajudou sim. Lembra, estávamos no trailer, eu precisava de uma palavra que rimasse
com eyes...
- E eu falei die. – logo respondi num sorriso. – É verdade. Nossa, grande
contribuição. – revirei os olhos.
- Foi enorme. – ele sorriu pra mim. – Essa música é especial.
Ela já estava com os olhos marejados. Acho que se eu recebesse uma libra por cada
vez que a via chorando, eu estava extremamente rica. Todos olhavam para Jones e
Joanna, mas eles só tinham olhos um para o outro naquele momento.
Aquilo, com certeza, era amor.
E eu estava louca para escutar o que o amor de Jones tinha pra dizer.

CONTINUA!

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