ANÁLISE DE BALANÇOS
INTRODUÇÃO
Para os estudiosos a necessidade de analisar demonstrações contábeis é tão antiga quanto o próprio
surgimento da Contabilidade. Todavia, foi no final do século dezenove que a Análise de Balanços tomou forma
mais identificada com o panorama atual, particularmente nas instituições financeiras. De início, apenas o
Balanço Patrimonial era utilizado como instrumento dessas análises - daí a expressão “Análise de Balanço” -,
mas com o tempo foi-se desenvolvendo mecanismos que permitiram atender exigências maiores, do ponto de
vista dos interessados na situação financeira-econômica das empresas, e aí, as outras demonstrações passaram a
fazer parte dessas análises.
Para os administradores, a análise das demonstrações contábeis vai além de sua função de apresentar a
evolução de elementos ou peças contábeis. Ela deve ser muito mais intensamente aplicada como um
instrumento de grande importância para a tomada de decisões. Neste sentido, pode-se construir alguns
indicadores econômicos-financeiros que permitirão manter a empresa atenta ao seu próprio desempenho, assim
como em relação aos seus concorrentes.
As demonstrações contábeis de cada exercício devem ser publicadas com a indicação dos valores
correspondentes das demonstrações do exercício anterior. Com a nova redação dada pela Lei 11.638/2009, são
demonstrações obrigatórias para as Sociedades por Ações (SA), elaborar e publicar, ao fim de cada exercício
social, juntamente com a complementação por notas explicativas, as seguintes:
Todas as demonstrações contábeis acima podem ser analisadas, embora seja dado mais ênfase as duas
primeiras, uma vez que, através delas é evidenciada de forma objetiva a situação patrimonial, financeira e
econômica da empresa (identificada no BP e, em conjunto, na DRE). Referente ao período examinado, são
também, definidos como sendo os demonstrativos ou insumos básicos para uma análise financeira.
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Balanço Patrimonial - BP
O balanço patrimonial é a demonstração que mostra todos os bens, direitos e obrigações da empresa em
determinada data. Mostra apenas os fatos registráveis, conforme os princípios contábeis, ou seja, os fatos
objetivamente mensuráveis em dinheiro. Ele reflete a situação financeira/patrimonial em determinado momento,
normalmente no fim do ano, de uma empresa. E abarca o resultado obtido na demonstração do resultado.
Outra forma simplificada de definir o balanço patrimonial é afirmar que nele estão representados os
saldos de todas as contas (elementos patrimoniais) que integram o patrimônio da empresa em determinada
momento. Assim, pode-se definir o balanço patrimonial como uma fotografia da empresa tirada numa certa data
em que aparecem os valores:
de todos os bens e direitos (Ativo);
de todas as dívidas e compromissos a pagar (Passivo);
total de recursos pertencentes aos proprietários (Patrimônio Líquido).
Ativo (A) - são todos os bens e direitos de propriedade da empresa (ou aplicados na empresa ou o bem
sobre o qual ela tem domínio), mensurável monetariamente, que representam benefícios presentes ou futuros
para a empresa. Ativo é somente o que for de propriedade da empresa. Suas contas devem ser agrupadas em
ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nela registrados.
Passivo (P) - evidencia toda a obrigação (dívida) que a empresa tem com terceiros. É uma obrigação
exigível, ou seja, será exigida a liquidação da dívida no vencimento. Por esta razão é também denominado
Passivo Exigível. Representa as fontes de recursos que se acham investidas no Ativo.
Patrimônio Líquido (PL) - evidencia recursos dos proprietários aplicados no empreendimento, sendo,
o investimento inicial dos proprietários denominado Capital. Se houver outras aplicações por parte do
proprietários, teremos acréscimo de capital. O Patrimônio Líquido é a diferença resultante entre ativo e passivo.
Ele evidencia o capital investido pelos proprietários da empresa. Estes recursos podem ser trazidos com os
novos investimentos dos proprietários, ou através dos rendimentos resultantes do capital aplicado, resultando o
que chamamos de Lucro. Acréscimo de capital ocorre se houver outras aplicações por parte dos proprietários.
Apresentamos a seguir a estrutura básica legal do Balanço Patrimonial contendo os principais grupos de
contas de acordo com a MP 449/2008:
BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO PASSIVO e PL
X2 X1 X2 X1
Circulante Circulante
(no curso do exercício subseqüente) (no curso do exercício subseqüente)
Para a tomada de decisão, segundo Iudícibus & Marion (1992), a DRE pode ser simples ou completa.
Será simples quando não requeira dados pormenorizados, como por exemplo, para micro e pequenas empresas,
e será completa (exigida por lei) quando fornece maiores detalhes de cada grupo de contas.
A DRE pode ser apresentada como sendo uma demonstração dos aumentos e reduções causados no
patrimônio líquido pelas operações da empresa. As receitas representam aumento do ativo, conseqüentemente
aumenta o patrimônio líquido. As despesas representam redução do PL através da redução do ativo ou aumento
do passivo exigível.
Na DRE pode-se verificar o retorno resultante do investimento dos proprietários da empresa (lucro ou
prejuízo). Portanto, a finalidade da Demonstração do Resultado do Exercício é mostrar o resultado (lucro ou
prejuízo) do período ou exercício social, bem como, mostrar detalhadamente ou os passos, como chegar ao
referido resultado.
Uma estrutura da Demonstração do Resultado deve apresentar os seguintes elementos (ou contas):
Deve-se lembrar que a referida demonstração é também obrigatória para as sociedades limitadas e
outros tipos de empresas, conforme a legislação do Imposto de Renda.
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Demonstração Das Mutações Do Patrimônio Líquido
A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido mostra as variações ocorridas nas Contas do
Patrimônio Líquido, evidenciando os saldos iniciais, os ajustes de exercícios anteriores, a correção monetária, os
aumentos do Capital, as reversões de reservas, o Lucro Líquido do Exercício e sua destinação, além dos saldos
finais das respectivas contas que compõem o Patrimônio Líquido da empresa.
Como já foi visto, a Lei das Sociedades por Ações permite que a empresa opte por elaborar a
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido em substituição à Demonstração de Prejuízos Acumulados.
Entretanto, a partir de 1985, as sociedades anônimas de capital aberto ficaram obrigadas, por resolução da
Comissão de Valores Mobiliários — CVM, a elaborar essa demonstração, ficando dispensadas da elaboração da
Demonstração de Prejuízos Acumulados.
Tanto a prática como a literatura têm revelado que a análise de balanços é uma das tarefas mais difíceis
e complexas entre as inúmeras que os contadores possuem na missão de contribuir para o desenvolvimento das
empresas.
Ora, talvez se pudesse questionar: a análise de balanços não se constitui numa mera apuração de índices
cujas formas já se encontram montadas ou formalizadas? Onde reside, então, a complexidade e a dificuldade?
A resposta é extremamente simples. Apurar ou calcular índices é uma tarefa bastante simplista, tendo
em vista que as fórmulas já se encontram padronizadas. O que se precisa é meramente um conhecimento de
matemática básica ou financeira e saber classificar e extrair as contas das demonstrações a fim de se aplicá-las
às fórmulas, atividades estas estudadas em qualquer curso técnico ou superior de Contabilidade. O grande
desafio do problema em questão é justamente a análise ou interpretação destes cálculos ou dos índices extraídos.
Calcular é muito simples, mas não é uma atividade que se encerra em si. Indispensável é reforçar a necessidade
de bem interpretar os dados e informações.
Partindo-se da hipótese de que parte do elenco de informações que as empresas utilizam para tomar
decisões está nas demonstrações contábeis, especialmente no suplemento de análise destas demonstrações, há
que se afirmar que a importância em se proceder a análise de balanços é de um grau de relevância extremamente
alto.
Portanto, ainda sobre a questão de importância da análise e talvez com um desejo de eliminar as idéias
de dificuldades e complexidades anteriormente discutidas, o Professor Sérgio de IUDÍCIBUS (1995, p.67)
alerta:
"É muito mais útil calcular um certo número selecionado de índices e quocientes, de forma consistente,
de período para período, e compará-los com padrões preestabelecidos e tentar, a partir daí, tirar uma
idéia de quais problemas merecem uma investigação maior, do que apurar dezenas e dezenas de
índices, sem correlação entre si, sem comparações e, ainda, pretender dar um enfoque e uma
significação absolutos a tais índices e quocientes".
Enfim, é possível sintetizar ainda uma série de razões para realçar quão importante é esta análise para as
empresas:
se bem manuseada, pode se constituir num excelente e poderoso "painel de controle" da administração;
se não for feita a partir de uma contabilidade "manipuladora" ou "normatizante", pode trazer resultados
bastante precisos;
é uma poderosa ferramenta à disposição das pessoas que se relacionam ou pretendem relacionar-se com
a empresa, ou seja, os usuários da informação contábil ou financeira, sejam eles internos ou externos;
permite diagnosticar o empreendimento, revelando os pontos críticos e permitindo apresentar um
esboço das prioridades para a solução dos problemas;
permite uma visão estratégica dos planos da empresa, bem como estima o seu futuro, suas limitações e
suas potencialidades.
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MÉTODOS DE ANÁLISES DE BALANÇOS
Dentre os vários métodos ou processos aplicados na análise de balanços, os mais usados são:
A ANÁLISE HORIZONTAL
"Uma vez que os balanços e demonstrações de resultados estejam expressos em moeda de poder
aquisitivo da mesma data, a análise horizontal assume certa significância e pode acusar imediatamente áreas de
maior interesse para investigação". (IUDÍCIBUS, 1995, p.74)
A Análise Horizontal dedica-se a elucidar como está ocorrendo a evolução de cada item ou conjunto de
itens constantes das demonstrações no decorrer dos tempos. É chamada de horizontal por duas razões:
1) estabelece o primeiro ano ou o ano-base para a análise e a partir deste verifica qual foi a evolução nos anos
seguintes;
2) preocupa-se com o crescimento ou decrescimento de itens ou conjunto de itens específicos, ou seja, não
compara um item com outro no mesmo período e sim o mesmo item a cada período.
Ainda que este tipo de análise, assim como a vertical, possua uma utilização bastante restrita,
principalmente em função do trabalho na montagem do grande número de quocientes, MATARAZZO (1995,
p.26) ressalta um aspecto importante, dizendo que "... pesquisas efetuadas recentemente com insolvência de
pequena e médias empresas têm ressaltado a utilidade da Análise Vertical e Horizontal como instrumento de
análise".
A ANÁLISE VERTICAL
Consiste em se determinar valores percentuais de cada conta ou grupo de contas em relação a um valor-
base. Por exemplo, no Ativo do Balanço calcula-se o percentual de cada conta em relação ao seu total.
Uma das grandes utilidades da Análise Vertical concentra-se na verificação da estrutura de composição
dos itens das demonstrações e a sua evolução no tempo, com enfoque especial, também, ao estudo de
tendências.
A idéia desta análise consiste no seguinte: estabelecer um item como base e a partir daí verificar quanto
cada um dos demais itens representa em relação àquele escolhido como base. De outra forma: "É a análise da
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estrutura da demonstração de resultados e do balanço patrimonial, buscando evidenciar as participações dos
elementos patrimoniais e de resultados dentro do total".
Para melhor evidenciar como a Análise Vertical deve ser realizada, vamos utilizar as Demonstrações
Contábeis da "Empresa MLB Ltda.", encerradas em 31/12/X1 e 31/12/X2, respectivamente.
Para que a análise possa ser melhor ilustrada, levou-se em consideração que a "Empresa MLB Ltda."
estabeleceu como objetivos gerais, para o ano de X2, os seguintes elementos: redução do Imobilizado; aumento
da lucratividade com aumento de faturamento e diminuição de custos; e redução do Passivo Circulante e
Exigível a Longo Prazo. Terá a empresa obtido êxito nos seus objetivos?
X1 % X2 %
ATIVO
Circulante 16.512,00 32 13.950,00 25
Realizável a Curto Prazo 7.224,00 14 10.044,00 18
Imobilizado 24.252,00 47 26.226,00 47
Intangível 3.612,00 7 5.580,00 10
TOTAL DO ATIVO 51.600,00 100 55.800,00 100
X1 % X2 %
PASSIVO
Circulante 18.576,00 36 22.320,00 40
Exigível a Longo Prazo 9.288,00 18 5.580,00 10
Receitas Diferidas 2.580,00 5 2.790,00 5
Patrimônio Líquido 21.156,00 41 25.110,00 45
TOTAL DO PASSIVO 51.600,00 100 55.800,00 100
Observa-se, pela análise dos valores totais, que o Ativo e o Passivo sofreram um acréscimo de X1 para
X2 de 8,13% aproximadamente, subindo de $ 51.600, 00 para $ 55.800,00. Já na Análise Vertical dos itens,
verifica-se que o Ativo Circulante, que em X1 representava 32% do Ativo Total, passou a representar, emX2,
somente 25%, enquanto o Passivo Circulante subiu de 36% para 40% em relação ao Passivo Total.
Interessante notar também que os grupos do Ativo Imobilizado e de Resultados de Exercícios Futuros
sofreram acréscimos nos seus valores absolutos, porém os percentuais de representação permaneceram os
mesmos, 47% e 5%, respectivamente, em função de terem crescido, em valores absolutos, na mesma proporção
que cresceram o Ativo e o Passivo Total.
X1 % X2 %
A análise da DRE revela que o faturamento sofreu uma diminuição de 5% de X1 paraX2, ou seja, a
Receita Bruta de Vendas, que era de $ 84.000,00, caiu para $ 79.800,00. No entanto a empresa conseguiu
aumentar o seu lucro, tanto em valores absolutos como em valores percentuais, o qual em X1 representava
apenas 10% da Receita Bruta de Vendas e em X2 passou a representar 13%.
Também pela Análise Vertical pode-se perceber que esta situação de queda nas vendas e aumento nos
lucros aconteceu em virtude, principalmente, de a empresa ter conseguido reduzir o item Despesas Operacionais
que no primeiro ano da análise consumia 25% da receita e no segundo ano consumiu somente 15%. Esta
afirmação pode ser reforçada pela análise do item Custo dos Produtos Vendidos, que em X1 representava 45%
do faturamento e em X2 passou a representar 50%, ou seja, a empresa diminuiu as vendas, aumentou os custos,
mas face a uma diminuição proporcionalmente maior nas despesas operacionais, ela fez com que o lucro se
elevasse.
Não obstante o exemplo apresentado, há que se ressaltar que a grande utilidade da análise vertical não
está em tão somente verificar os acréscimos ou decréscimos, isto é, o desempenho dos itens e as áreas de
problemas, mas também em descobrir quais foram as verdadeiras causas para as correções que se fizerem
necessárias, bem como identificar no que estas variações podem interferir nas decisões a serem tomadas pela
empresa.
Os índices são relações que se estabelecem entre duas grandezas e justificam-se, quando se deseja
analisar a situação econômico-financeira de uma entidade, pelo fato de que a observação e apreciação de certas
relações ou percentuais é mais significativa do que a apreciação de todos os itens contidos nas demonstrações.
Confirmando isto, MATARAZZO (1995, p.154) alerta: "O importante não é o cálculo de grande
número de índices, mas de um conjunto de índices que permita conhecer a situação da empresa, segundo o grau
de profundidade desejada na análise".
Enfim, a prática tem feito sentir que a grande contribuição deste tipo de análise está em fornecer
avaliações genéricas sobre diferentes aspectos da firma em questionamento, sem descer a um nível maior de
profundidade. Uma especial importância tem sido dada a esta análise quando da tarefa de previsão de
insolvência. Por estas razões os índices têm sido a técnica de análise mais empregada no universo econômico e
financeiro das empresas.
Como avaliar os índices? Não é conveniente avaliar os índices tomando-se apenas um parâmetro. O
importante é ponderá-los sob diversos aspectos, por isto os índices devem ser avaliados:
pelo significado intrínseco;
pela comparação ao longo de vários exercícios;
pela comparação com índices de outras empresas ou índices-padrão.
Pela forma como será abordado este tópico, poder-se-á perceber que o índice é a "relação" existente
entre os dados das demonstrações contábeis, cujo objetivo reside em evidenciar determinado aspecto, associado
a uma visão abrangente da situação econômica ou financeira de um empreendimento.
Matarazzo (1985) recomenda dividir em índices que evidenciam aspectos financeiros e índices que
evidenciam aspectos econômicos, destacando que os índices que mostram a situação financeira são os
representados pelos índices de estrutura de capitais e pelos índices de liquidez, enquanto que os que mostram a
situação econômica são os representados pelos índices de rentabilidade.
LIQUIDEZ (SOLVÊNCIA)
RENTABILIDADE
Portanto, vale reforçar o que já foi dito no início desta abordagem em que a análise deve cumprir o fim a
que se destina e isto leva a crer que o índice pode ser melhor visualizado se for inserido no contexto da razão da
análise. MARION (1997, p. 455) também destaca este cuidado: "... o analista deverá tomar uma série de
precauções quanto à interpretação dos índices. Muitas vezes, podem dar falsa imagem de uma situação."
Insistindo ainda que se deve ter cuidado para afirmar o que é um bom índice, MARION (1997, p. 459)
adverte: "Conceituar o índice, todavia, sem outros parâmetros, é uma atitude bastante arriscada, por isso
desaconselhável." Assim, apresenta-se o item "interpretação" para ser utilizado como um referencial inicial na
análise e, como já se disse, a forma como está colocado neste trabalho é de interpretação genérica.
Este grupo de índices evidencia a situação financeira da entidade, isto é, procura apontar os grandes
caminhos das decisões financeiras em termos de obtenção e aplicação de recursos e também como se encontra o
nível de endividamento. Um aspecto importante a se destacar é que o sucesso de muitas empresas depende do
sucesso da administração financeira das mesmas, especialmente de um bom gerenciamento, a fim de se obter
um equilíbrio, na estrutura de capitais, entre os recursos de terceiros e os recursos próprios.
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É neste grupo de índices que se verifica o maior cuidado com relação às interpretações de "quanto maior
melhor" e vice-versa. Para justificar a idéia de que a esta interpretação é aplicada de forma geral e não total,
veja-se o que diz MARION (1997, p. 464):
"Não há dúvida de que, principalmente em época inflacionária, é apetitoso trabalhar mais com Capital
de Terceiros que com Capital Próprio. Essa tendência é acentuada quando a maior parte do Capital de
Terceiros é composta de ‘exigíveis não onerosos’, isto é, exigíveis que não geram encargos financeiros
explicitamente para a empresa (não há juros nem correção monetária: fornecedores, impostos,
encargos sociais a pagar etc.)."
E continua:
"Por outro lado, uma participação de Capital de Terceiros exagerada em relação ao Capital Próprio
torna a empresa vulnerável a qualquer intempérie. Normalmente, as instituições financeiras não
estarão dispostas a conceder financiamentos para as empresas que apresentarem esta situação
desfavorável. Em média, as empresas que vão à falência apresentam endividamento elevado em
relação ao patrimônio Líquido." (MARION, 1997, p. 464/465)
Daí a necessidade de, no momento de se analisar tais indicadores, tentar qualificá-los ou caracterizá-los,
pois uma dívida como complemento dos Capitais Próprios, por exemplo, com finalidade de ampliação,
modernização ou expansão do Ativo, é um endividamento sadio, ainda que elevado, uma vez que estas
aplicações produtivas irão gerar recursos para saldar os compromissos. Já as dívidas contraídas para pagar
outras dívidas que estão vencendo não geram recursos para os pagamentos e a empresa acaba entrando num
circulo vicioso de empréstimos sucessivos.
Em última análise, as discussões feitas a respeito de cada uma dos índices a seguir apresentarão o tipo
de interpretação mais genérico, porém não aplicável a toda e qualquer situação.
Capital de Terceiros
Patrimônio Líquido
Neste quociente encontram-se relacionados os dois grandes blocos componentes das fontes de recursos
que a empresa possui: Capital de Terceiros e Capital Próprio. Da sua análise é possível se detectar quanto a
empresa tomou de capitais de terceiros para cada $ 1 de capital próprio investido. Se a empresa for visualizada
sob o prisma financeiro, pode-se afirmar que, quanto menor este índice, melhor; isto porque, quanto maior ele
for, maior será a dependência da empresa junto a terceiros e menor será, então, a sua liberdade de decisões
financeiras. Por isso, em alguns casos, este indicador é também chamado de Grau de Endividamento.
Já sob o prisma de obtenção de lucro, MATARAZZO (1995, p.160) afirma que "... pode ser vantajoso
para a empresa trabalhar com capitais de terceiros, se a remuneração paga a esses capitais de terceiros for
menor que o lucro conseguido com a sua aplicação nos negócios". Todavia, o índice de Participação de Capital
de Terceiros deve ser interpretado sob o ponto de vista financeiro para se detectar o risco de insolvência, e não
em relação ao lucro.
Enfim, para exemplificar, se a "Empresa X Ltda." encontrar, em X5, o índice de 1,32, significa que para
cada $ 1,00 de capital próprio a empresa tomou $ 1,32 de capital de terceiros, e isto quer dizer, financeiramente,
que a empresa depende mais de terceiros do que dela mesma e, portanto, sua flexibilidade de atuação poderá
estar diminuída em função de ver-se condicionada a terceiros.
b) Composição do Endividamento
Passivo Circulante
Capital de Terceiros
É um quociente cujo intuito é revelar qual a porcentagem dos recursos próprios que está imobilizada ou
que não está em giro. O cálculo da Imobilização do Patrimônio Líquido deverá revelar quanto a empresa aplicou
no Ativo Permanente para cada $ 1,00 de Patrimônio Líquido.
É evidente o quanto a economia atual tem demonstrado a necessidade de se possuir um bom capital de
giro, por isso pode-se afirmar que quanto menor for este índice melhor é para a firma. De outra forma: quanto
mais a empresa dedicar do Patrimônio Líquido ao Ativo Permanente, menos recursos próprios sobrarão para o
Ativo Circulante e, em conseqüência maior será a dependência a capitais de terceiros para o financiamento do
Ativo Circulante.
Mais uma vez MATARAZZO (1995, p.164) afirma com muita propriedade: "O ideal em termos
financeiros é a empresa dispor de Patrimônio Líquido suficiente para cobrir o Ativo Permanente e ainda sobrar
uma parcela – CCP = Capital Circulante Próprio – suficiente para financiar o Ativo Circulante. (Por suficiente
entende-se que a empresa deve dispor da necessária liberdade de comprar e vender sem precisar sair o tempo
todo correndo atrás de bancos."
Se no ano de X6, por exemplo, a empresa em estudo encontrou um índice de 1,09, significa que para
cada $ 1,00 de Patrimônio Liquido a firma investiu $ 1,09 no Ativo Permanente, isto é: imobilizou todo o
Patrimônio Líquido mais recursos de terceiros equivalentes a 9% do Patrimônio Líquido; o Ativo Circulante é
todo financiado por recursos de terceiros; e tem um Capital Circulante Próprio Negativo.
Este indicador demonstra qual o percentual de Recursos não Correntes a empresa aplicou no Ativo
Permanente. Toda a discussão feita no índice de Imobilização do Patrimônio Líquido pode ser retomada para a
análise deste quociente. Porém, deve-se entender que agora estarão sendo considerados juntos aos valores do
Patrimônio Líquido os do Passivo Exigível a Longo Prazo, haja vista que estes dois grupos de contas
representam os Recursos não Correntes.
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A particularidade que está reservada a este índice concentra-se no fato de que os elementos do Ativo
Permanente possuem vida útil que pode variar de 5 até 50 anos. Desta feita, desde que a firma possua recursos
no Exigível cujos prazos sejam compatíveis com o de duração dos elementos do Permanente, ou suficientes para
a empresa gerar recursos capazes de resgatar as dívidas de longo prazo, é perfeitamente possível que não se
financie todo o Imobilizado somente com recursos próprios.
Os analistas de balanços recomendam que este índice não seja superior a 100%, isto porque a empresa
deve possuir um Capital Circulante Líquido positivo. Mas, o que vem a ser o Capital Circulante Líquido ou
simplesmente CCL?
O CCL é o que sobra dos Recursos não Correntes após a parcela destinada à imobilização do Ativo
Permanente, ou a parcela dos Recursos não Correntes destinada ao Ativo Circulante. MATARAZZO (1995,
p.167) define o CCL como "... a folga financeira a curto prazo, ou seja, financiamentos de que a empresa dispõe
para o seu giro e que não serão cobrados a curto prazo".
Capital Circulante Líquido = Recursos não Correntes – (Ativo Não Circulante – Realizável LP)
ou
Capital Circulante Líquido = Capital Circulante Próprio + Exigível a Longo Prazo
ou
Capital Circulante Líquido = Ativo Circulante – Passivo Circulante
Índices de Rentabilidade
Os índices de rentabilidade procuram evidenciar qual foi a rentabilidade dos capitais investidos, ou seja,
o resultado das operações realizadas por uma organização, por isso, preocupam-se com a situação econômica da
firma. Comparar o Balanço Patrimonial de duas diferentes empresas e dizer que "A" gerou lucros de $
72.000,00 em X6 e "B" de $ 121.000,00, no mesmo período, e por isso "B" foi melhor que "A", pode ser um
tanto arriscado.
Quando se trabalha com análise de rentabilidade, é imprescindível que a verificação dos lucros esteja
relacionada com valores que possam expressar a "dimensão" destes lucros dentro das atividades da firma.
IUDÍCIBUS (1995, p.90) observa: "O melhor conceito de "dimensão" poderá ser ora volume de vendas, ora
valor do ativo total, ora valor do ativo operacional, ora valor do patrimônio líquido, ora valor do capital social
etc. Todos têm suas vantagens e desvantagens".
No caso dos índices de rentabilidade, assim como dos demais, dizer que um indicador encontrado é alto
ou baixo vai depender das características do empreendimento, tais como segmento de mercado, porte, tempo de
existência, etc. Vale dizer, novamente, que o relacionamento das variáveis para a construção de um índice
dependerá da decisão a ser tomada ou do elemento a ser analisado. De posse das demonstrações contábeis, a
empresa pode construir dezenas de índices, relacionando, a cada um, variáveis diferentes. No entanto, é o fim
pretendido que irá determinar o que analisar ou qual índice utilizar.
a) Giro do Ativo
Vendas Líquidas
Ativo
Demonstra quantas vezes o ativo girou como resultado ou efeito das vendas ou quanto a empresa
vendeu para cada $ 1,00 de investimento total. É certo, portanto, que quanto maior, melhor.
De início pode-se afirmar que o êxito de uma empresa depende de uma série de fatores. No entanto, o
volume adequado de vendas será, certamente, o elemento impulsionador do sucesso. Por essa razão, é
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conveniente, na análise de balanço, fazer relação do volume de vendas com outros fatores a fim de se conhecer
se o rendimento ou desempenho foi ou não satisfatório. Neste momento a preocupação reside em verificar qual
a representatividade do faturamento em relação ao capital investido. Observe-se o exemplo:
Se a empresa consegue um índice de Giro do Ativo de 1,10 pode-se dizer que para cada $ 1,00 investido
no Ativo a empresa conseguiu vender $ 1,10, ou seja, o volume de vendas atingiu 1,10 vezes o volume de
investimentos. Vale ressaltar que este índice é de extrema importância, isto porque a firma investe capitais
esperando um bom retorno, que normalmente começa a surgir a partir do bom desempenho da área comercial.
Desta maneira, é imprescindível verificar se o que está sendo investido está sendo compensatório, em relação às
vendas.
b) Margem Líquida
Lucro Líquido .
Vendas Líquidas
Também denominado de Margem Operacional, evidencia qual foi o retorno que a empresa obteve frente
ao que conseguiu gerar de receitas. Em outras palavras: quanto o que sobrou para a firma representa sobre o
volume faturado. A análise é feita sob a forma de quanto a empresa obtém de lucro para cada $ 1,00 vendido,
por isso, quanto maior, melhor.
Se, por exemplo, o índice é de 0,121, representa que para cada $ 1,00 vendido a empresa conseguiu
trazer um retorno de $ 0,121, ou 12,10%.
c) Rentabilidade do Ativo
Lucro Líquido
Ativo
A rentabilidade do ativo é calculada quando se deseja ter uma idéia da lucratividade, como um todo, do
empreendimento, venham de onde vierem os recursos, admitindo-se as aplicações realizadas. Este indicador
mede quanto a empresa obtém de lucro para cada $ 1,00 de investimento total, por isso, é visto como uma
medida de potencial de geração de lucro da parte da empresa. Para MATARAZZO (1995, p.185), este quociente
representa "... uma medida da capacidade da empresa em gerar lucro líquido e assim poder capitalizar-se. É
ainda uma medida do desempenho comparativo da empresa ano a ano".
Em uma empresa em que, após apurados o Lucro Líquido e o valor do Ativo, verificar que a
Rentabilidade deste Ativo tenha sido de 0,2777, pode-se dizer que para cada $1,00 investido a empresa ganhou
$ 0,2777, ou 27,77%.
Lucro Líquido .
Patrimônio Líquido Médio
De início, é preciso dizer que o Patrimônio Líquido Médio consiste na soma do Patrimônio Líquido
Inicial com o Patrimônio Líquido Final, dividida por 2. Quando se precisa demonstrar o que ele representa, para
o acionista, em termos de $ adicionais ao seu investimento inicial, o índice de Rentabilidade do Patrimônio
Líquido é o mais indicado. De outra forma: retrata quanto vai para o acionista do lucro gerado pelo uso do ativo,
quaisquer que tenham sido as fontes de recursos, próprias ou de terceiros. Por esta razão, este quociente é de
interesse tanto dos acionistas como da gerência.
É importante observar que o cálculo da Rentabilidade do Patrimônio Líquido permite saber quanto a
administração, através do uso dos ativos, obteve de rendimento com a respectiva estrutura de despesas
financeiras, considerando-se o nível de relacionamento percentual entre o capital próprio e o de terceiros. Em
última instância: evidencia qual a taxa de rendimento do Capital Próprio.
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Uma das grandes utilidades deste quociente está na sua comparação com taxas de rendimento de
mercado, sendo possível, por esta comparação, avaliar se a firma oferece rentabilidade superior ou inferior a
essas opções.
A apuração deste indicador vislumbrará, portanto, quanto a empresa obteve de lucro para cada $ 1,00 de
Capital Próprio investido. Uma taxa de 0,1545 representa, então, que para cada $ 1,00 de Capital Próprio
investido se obteve um retorno de $ 0,1545, ou 15,45%.
Índices de Liquidez
Estes índices, assim como os de estrutura de capital, evidenciam a base da situação financeira da
empresa. Os índices de liquidez possuem como fundamental preocupação revelar como está a situação da
empresa, em determinado período, para fazer frente às suas obrigações. Na realidade, talvez um índice, ou seja,
o de liquidez geral, poderia satisfazer todo este grupo de índices. No entanto, é de suma importância para as
empresas verificarem a temporalidade em que os recursos estarão disponíveis, bem como a temporalidade em
que as obrigações terão de ser pagas. Convém lembrar, no entanto, mais uma vez, que, em vista do tipo de
informação que a organização precisa obter é que se vai selecionar qual índice extrair.
Desta forma, ainda que exista uma série de outros índices de liquidez, consideram-se os de liquidez
geral, corrente e seca como os mais utilizados, por esta razão serão estes discutidos com mais propriedade.
a) Liquidez Geral
Ativo Circulante + Ativo Realizável a Longo Prazo
Passivo Circulante + Passivo Exigível a Longo Prazo
Este quociente se destina a retratar como anda a saúde financeira de longo prazo (global) da firma, ou
seja, objetiva-se responder se empresa conseguirá fazer frente a todas as suas obrigações. Sua análise indicará
quanto a empresa possui no Ativo Circulante e Realizável a Longo Prazo para cada $ 1,00 de dívida total para
com terceiros.
Há que se recomendar cuidados neste momento da análise, tendo-se em vista que quando se fala em
longo prazo, nem sempre é possível identificar, pelas demonstrações contábeis, exatamente quando estarão
vencendo as obrigações e quando os recursos do ativo poderão ser convertidos em numerário, isto é, o índice
não revela sincronização entre recebimentos e pagamentos. Via de regra, inclusive, a facilidade de "realização"
ou "liquidação" do ativo é algo mais problemático do que a necessidade de pagar as dívidas.
Outro cuidado a se tomar é o fato de que "o índice não revela a qualidade dos itens do Ativo Circulante
(os estoques são superavaliados, são obsoletos, os Títulos a Receber são totalmente recebíveis?)" (MARION,
1996, p.458). Mesmo assim, é um índice muito valioso no sentido de se avaliar se a empresa está ou não em
condições de honrar seus compromissos.
Se por outro lado tivesse sido encontrado um índice de 0,90, a empresa não estaria em condições
satisfatórias, pois para cada $ 1,00 de dívida total lhe faltariam $ 0,10. No entanto, se o vencimento das dívidas
tiver um prazo superior ao necessário para que os recursos do Ativo sejam convertidos em numerários, significa
que a firma depende de geração futura de recursos e que isto pode ser alcançado.
b) Liquidez Corrente
Ativo Circulante
Passivo Circulante
Este quociente relaciona todos os ativos de curto prazo (dinheiro prontamente disponível e recursos
rapidamente realizáveis) com os passivos de curto prazo da organização, representando o quanto de recursos
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está disponível no curto prazo para se liquidarem as dívidas também de curto prazo. Assim, quanto maior o
valor apurado, melhor.
É um dos mais populares índices de liquidez. IUDÍCIBUS (1995, p.82), ao comentar a utilização deste
quociente, afirma:
"Consideramos que excessiva importância tem sido atribuída a este quociente. Em alguns casos, a
inclusão dos estoques no numerador pode diminuir a aderência do quociente, como teste de liquidez.
Quando a empresa e a economia se encontrarem em períodos de recessão ou de "desaquecimento", e
os investimentos em estoques forem sensíveis, não se podem considerar "igualmente realizáveis" itens
tão diferentes como estoques e contas a receber. Aqueles têm de ser vendidos, primeiro, o que nem
sempre é fácil num período de queda dos negócios."
Enfim, a análise deste indicador retrata quanto $ a empresa possui, de curto prazo, para pagar cada $
1,00 de suas dívidas também de curto prazo. Se, por exemplo, numa análise de balanços verificar-se que o
índice de liquidez corrente é de 0,93, pode-se afirmar que para cada $ 1,00 de obrigação de curto prazo a firma
só dispõe de $ 0,93, isto é, $ 0,07 poderão deixar de serem pagos, a cada $ 1,00, se algo não for feito.
c) Liquidez Seca
Também uma outra forma de se visualizar a liquidez seca é de acordo com o que diz MARION (1997,
p.461): "Se a empresa sofresse uma total paralisação das suas vendas, ou se o seu Estoque fosse obsoleto, quais
seriam as chances de pagar as suas dívidas com Disponível e Duplicatas a Receber?"
Em empresas em que os prazos médios de contas a receber e a pagar sejam assemelhados, este torna-se
um dos quocientes mais significativos para se elucidar a posição da firma, isto porque evidencia quanto a
empresa possui de Ativo Líquido (Circulante – Estoques) para cada $ 1,00 de dívidas de curto prazo.
Quando do cálculo e interpretação deste indicador, é possível se verificar quanto de recursos correntes a
empresa possui para fazer frente a cada $ 1,00 de suas obrigações de curto prazo. Num caso, por exemplo, em
que o índice encontrado seja de 1,05, pode-se concluir que para cada $ 1,00 de dívida de curto prazo a
organização possui $ 1,05 para pagar, ou seja, sobram-lhe $ 0,05 a cada $ 1,00, isto tudo sem comprometer ou
contar com os valores dos estoques.
Por estas características é possível identificar este quociente como a prova de força da firma, já que ele
vai identificar, verdadeiramente, o grau de excelência da situação financeira.
Como foi dito no início deste tópico que este índice se assemelha ao de Liquidez Corrente, é oportuno
apresentar o quadro abaixo, que permite analisar a empresa confrontando esses índices. Pela observação do
referido quadro poder-se-á perceber o que acontece com a situação financeira da entidade quando se analisa em
que nível se encontram os índices de liquidez seca e corrente.
Analisar o retorno (lucro obtido pela empresa) em relação aos investimentos (aplicação feita pela
empresa para obter lucro) realizados é uma forma de aprimorar a Análise das Demonstrações Contábeis. Assim,
como os investimentos estão registrados no Ativo, a Taxa de Retorno sobre o Investimento (TRI) deve ser
calculada dividindo-se o Lucro pelo Ativo.
Para esta análise, utilizar-se-á do método Du Pont, já que é coerente e fácil de ser entendido, conforme
afirma MARION (1997, p. 471): "Bastante popular em outros países, o Método Du Pont é muito simples e
objetivo. Proporciona um número de informações riquíssimas, dando ao analista um quadro perfeito dos fatores
que propiciaram alterações na Situação Econômica da empresa."
A idéia do modelo Du Pont é que todos os itens que participam e que contribuem para a formação da
TRI devem e podem ser analisados, ou seja, em um único quadro tem-se todos os componentes que formam a
Taxa de Retorno, e tudo será analisado, item por item.
Para que um analista de balanço obtenha sucesso no seu trabalho, é necessário que tenha conhecimento
de uma gama de informações direta ou indiretamente relacionadas com o campo de análise de balanços.
Vejamos algumas dessas particularidades (Carvalho, 1998):
- Objeto Social da Empresa – O fim a que se propõe, na forma definida no estatuto, contrato social ou
firma (quando se tratar de firma individual);
- Estatuto / Contrato Social / Declaração de Firma – Documento institucional normativo, que define
a empresa, seus sócios/titular, campo de atuação, direção, capital, prazo de duração, etc. É para a empresa aquilo
que a constituição representa para um país;
- Capital Subscrito – corresponde ao compromisso com que o titular ou sócio se obriga a integralizar o
capital social;
- Capital a Realizar ou a Integralizar – corresponde ao capital subscrito cujo valor não foi entreque à
empresa, em dinheiro e/ou outros bens;
- Capital Aberto – diz-se do capital que está aberto ao público, cuja empresa envolvida, chamada de
empresa de capital aberto, tem os seus valores mobiliários negociados em bolsa ou no mercado de balcão;
- Capital de Giro – parcela de recursos utilizadas no giro dos negócios. Mesmo que capital circulante;
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- Capital Social – montante de recursos definidos como necessários ao alcance do objeto social.
- Ciclo Operacional – período administrativo que contempla o interstício entre a compra de insumos ou
mercadorias e o efetivo recebimento de suas vendas.
- Ciclo Financeiro - período administrativo que contempla o interstício entre o desembolso pelo
pagamento a fornecedores e o efetivo recebimento de suas vendas.
- Curto Prazo – período legal que contempla o interstício entre a data de um determinado balanço e a
data do balanço imediatamente posterior. Tem o mesmo significado de Circulante.
- Longo Prazo – período legal que suplanta o término do exercício social seguinte à data-base de um
determinado balanço.
Não há dúvida que todas as demonstrações contábeis podem ser analisadas, mas é dada uma ênfase toda
especial aos Balanços Patrimoniais e as Demonstrações dos Resultados dos Exercícios, tendo em vista que
através delas é evidenciada de forma objetiva a situação financeira-patrimonial (identificada no Balanço
Patrimonial) e a situação econômica (identificada em ambas).
O Prof. Carvalho (2003) recomenda que tracemos alguns procedimentos que devem nortear os
trabalhos. São eles:
b) Depuração dos elementos patrimoniais (Reclassificação das contas): consiste em proceder ajustes
nos valores trabalhados, a partir de informações obtidas diretamente na contabilidade da empresa ou por meio
de informes complementares. Aqui, o referido Professor faz algumas observações de relevante importância para
o analista, chamando a atenção para o fato de que: mesmo que os informes não atendam as expectativas do
analista, ele deverá utilizar-se de argúcia suficiente para rechaçar inverdades.
- Caso em que a conta Caixa apresentar um saldo bastante elevado, principalmente se comparado ao
saldo da conta Bancos C/Movimentos, deve o analista considerar primeiramente a idoneidade da
empresa e, depois, aquilo que lhe parecer lógico. Diante de dúvidas, é prudente considerar, numa
situação dessas o saldo de Caixa como, no máximo, 10% do saldo da conta de Bancos
C/Movimentos;
- Todo Ativo deve ser objeto de indagações, sobretudo os valores de contas mais relevantes. No caso
de grupamento de contas de difícil realização e/ou recuperação, situações idênticas aos Ativos
Fictícios, esses valores devem ser subtraídos do Patrimônio Líquido, no grupamento “Ajustes
Patrimoniais”;
- Os créditos a receber, de preferência, deverão estar distribuídos entre muitos devedores e caberá ao
analista verificar a compatibilidade da provisão para devedores duvidosos. Se ele tiver razões para
ampliar o percentual utilizado pela empresa, deve fazê-lo e justificar no relatório de análise;
- As despesas de exercícios seguintes devem ser levadas para uma conta de “Ajustes Patrimoniais”,
no Patrimônio Líquido. As despesas diferidas integrantes do Ativo Permanente, também devem
receber idêntico tratamento quando for o caso de dúvidas em relação a idoneidade da empresa;
- As duplicatas descontadas devem figurar como obrigações, sendo recomendada sua incorporação
aos empréstimos bancários contraídos pela empresa.
d) Identificação de Pontos Fortes e Fracos: aqui, o analista deve identificar o que é positivo e
negativo para a empresa, procurando encontrar parâmetros que permitam compará-los com números apurados
na própria empresa e, também, com outras empresas do mesmo ramo de atividade.
Aqui, o Prof. Carvalho apresenta alguns parâmetros importantes para identificação dos pontos fortes e
fracos, dentre outros destaca:
- as empresas industriais contam, em média, com um ativo circulante de 50% do investimento global;
- Situação patrimonial líquida: entre 0% e 30% é ruim, regular quando acima de 30% e até 50%; boa,
acima de 50%;
- Situação financeira: deficitária, quando o quociente respectivo for inferior a 1,00; justa quando
estiver acima de 1,00 e abaixo de 1,50; boa daí para cima, chegando a ótima quando o quociente for
bastante elevado (acima de 2,00);
- Participação de capitais de terceiros: até 1,00 não inspira cuidados, é equilibrada. A medida que
decresce, melhor; à medida que ultrapassa 1,00 vai piorando;
- Rentabilidade: poderá ser negativa (se houver prejuízo) ou positiva. Será considerada boa ou
excelente, dependendo do número encontrado, quando se situar acima das taxas remuneratórias de
capital vigentes no país para outros ativos (Fundão, Ouro, Poupança, Câmbio, etc.);
- Rotação de estoques: para este indicador, tem-se que quanto maior, melhor;
- Prazo médio de pagamentos x Prazo médio de cobrança: de um modo geral, é bom que a empresa
obtenha do seu fornecedor um prazo amplo e conceda ao seu cliente um prazo restrito, dentro de
uma certa estabilidade de preços.
e) Relatório de análise: esta é a fase final do trabalho de análise. Requer conhecimentos gerais,
interpretação dos indicadores e relato de fácil entendimento para os usuários. Em linhas gerais, o relatório deve
ser resumido, objetivo e claro. Deve contemplar, pelo menos, os seguintes tópicos:
- Considerações preliminares (quando necessário)
- Situação patrimonial líquida
- Situação financeira
- Participação de capitais de terceiros (endividamento)
- Rentabilidade
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- Considerações gerais (outros tópicos interessantes, tais como, política de investimentos, solvência,
participação da CMV nas vendas líquidas, etc.)
- Conclusão.
Baseados nos levantamentos feitos através dos indicadores de análises estudados, alguns autores têm
apresentado teses para melhor aproveitamento das informações fornecidas.
Dentre as teses defendidas, destacam-se a do Prof: Stephen Charles Kanitz, intitulada como
Fator de Insolvência de Kanitz (FIK), a de José Pereira Silva, conhecida por Necessidades de Capital de Giro
(NCG), o Valor Econômico Adicionado (Eva), o EBITDA – Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and
Amortization e o Balanced Scorecard ,cujos comentários faremos a seguir:
a) Fator de Insolvência de Kanitz (FIK): técnica de análise de balanço, cuja fórmula está assim
representada:
Como se observa, a fórmula contempla fatores que são considerados em cada um dos indicadores, de
acordo com a fundamentação apresentada nos estudos do Prof. Kanitz.
Segundo o Prof., se o resultado da fórmula apresentar-se entre zero e +7, a empresa analisada será
solvente; se entre zero e –3, será considerada numa situação de penumbra; se entre –3 e –7, será insolvente, tudo
considerando uma escala de valores entre +7 a –7.
b) Necessidades de Capital de Giro (NCG): técnica de análise de balanço apresentada na obra Análise
Financeira das Empresas, de autoria do José Pereira Silva.
Também conhecida por Working Investiment (WI), ela pode ser positiva ou negativa, dependendo da
maior ou menor incidência dos financiamentos dados em relação aos recebimentos. As duas situações poderiam
ser apresentadas assim:
Para efeito de análise da NCG, o Ativo Circulante e o Passivo Circulante são distribuídos assim:
O Valor Econômico Adicionado é o lucro operacional depois do imposto de renda menos o custo do
capital utilizado para gerar esse lucro. Ou:
Lucro Operacional após Imposto de Renda (LOAIR)
(-) Custo do capital x capital utilizado
(=) Valor Econômico Adicionado
O valor econômico adicionado pode ser calculado para toda a empresa ou, individualmente, para cada
uma de suas unidades de negócio. O LOAIR, apesar de ter origem nos dados contábeis, inclui ajustes para torná-
lo mais próximo do caixa após os impostos gerado pelo negócio que está disponível para reinvestimento no
negócio ou para distribuição aos acionistas.
Administração de estoques.
Foco no custo de capital – quanto custa para manter um negócio e obter resultado econômico positivo.
Para focar os verdadeiros geradores de valor do negócio e no verdadeiro custo dos seus ativos.
Mudar o foco do lucro da Demonstração de Resultados para uma visão mais ampla que inclui o Balanço
Patrimonial.
DRE simplificado
Receita de Vendas
(-) CPV
= Lucro Bruto
(-) Despesas Operacionais TRIAGEM NAS DESPESAS
TRIAGEM NAS DESPESAS
OPERACIONAIS.
C/Vendas OPERACIONAIS.
Gerais e Administrativas.
(=) EBITDA ou LUCRO OPERACIONAL AJUSTADO.
(-) Despesas Escriturais
= Lucro Operacional Antes do IR e CS
(+ ou -) Receitas e Despesas Financeiras Aferição do potencial de
= Lucro Antes do IR e CS Aferição
renda, do potencial
independente dasde
(-) Provisão para IR e CS renda,
origens deindependente das
financiamento.
origens de financiamento.
= LUCRO LÍQUIDO
pode ser usada como base para pagamento de bônus a empregados. Afinal, a medida afere de forma
direta o desempenho operacional e comercial;
trata-se de uma medida globalizada. O EBITDA traz a grande vantagem, considerando-se todo o universo
dos indicadores absolutos, de permitir comparabalilidade de dados entre empresas localizadas em
diferentes países, à medida que elimina de seu cálculo obstáculos que prejudicariam essa comparação, a
saber: efeitos devido à diferenças de legislação tributária e métodos de depreciação aplicados.
22
Interpretação e leitura
Embora o EBITDA seja um indicador absoluto, sua análise é extremamente relativa conforme já
demonstrado. Uma empresa pode apresentar um crescimento no volume do negócio (expansão) e no entanto
gerar um EBITDA negativo no exercício. Nem sempre um EBITDA negativo significa ausência de crescimento,
especialmente quando consideramos uma empresa em fase de consolidação no mercado. O analista não pode
furtar-se do uso de outras técnicas de análise, a exemplo da análise horizontal (temporal), da análise cruzada
(entre congêneres) e da própria análise estática, onde o próprio conceito de EBITDA pode ser utilizado na
composição de indicadores, conforme evidencia a tabela 01.
Quadro de indicadores
INDICADOR INTERPRETAÇÃO
GRAU DE COBERTURA OPERACIONAL = Informa quanto a empresa pode gerar em
EBITDA / DESPESAS FINANCEIRAS sua atividade (potencial de caixa) para fazer
face às despesas financeiras do período.
MARGEM OPERACIONAL = EBITDA / Mede o volume de recursos líquidos gerados
VENDAS na atividade da empresa comparativamente
ao volume bruto de vendas. De forma
indireta afere o impacto das despesas
operacionais sobre o desempenho
operacional do negócio.
RENTABILIDADE DO ATIVO OPERACIONAL Afere o potencial de ingresso para cada
ajustado = EBITDA / ATIVO OPERACIONAL unidade monetária de investimento
operacional (empregado para obter a
referida renda).
Importante indicador de desempenho uma
vez que permite monitorar elementos de
gestão estratégicos: comportamento das
vendas - custos e alocação de ativos
operacionais.
ROI ajustado = MARGEM OPERACIONAL (%) * Permite avaliar o comportamento da
GIRO DO ATIVO (%) ou seja, (EBITDA * 100 / margem operacional e do giro do ativo de
VENDAS) * (VENDAS / ATIVO OPERACIONAL) forma combinada, o que facilita a previsão
da margem para determinadas condições de
custos variáveis ou volume de vendas.
RENTABILIDADE DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Informa quanto a empresa obteve em sua
ajustado = EBITDA / PATRIMÔNIO LÍQUIDO atividade (êxito econômico)
MÉDIO comparativamente ao volume de recursos
próprios investidos. Na verdade, obtém-se
com este indicador a taxa efetiva de
rendimento do capital próprio.
e) Balanced Scorecard
O Balanced Scorecard é um modelo que busca equilibrar diferentes perspectivas para uma avaliação do
desempenho empresarial. A finalidade apresentada por seus mentores, Robert S. Kaplan e David P. Norton, é
atingir o objetivo de transformar estratégias da empresa em efetivas ações para o negócio, baseando-se em
aspectos ou perspectivas financeira, processos internos, clientes e aprendizado & crescimento.
Desta forma, a utilidade do BSC é manter sempre o dia-a-dia dos gerentes conectados diretamente à
estratégia empresarial. Esta conexão se dará através da visualização dos indicadores de desempenho sobre o
comportamento de cada área e de cada ponto relevante na estratégia escolhida pela organização.
O Balanced Scorecard (BSC) é um modelo que foi desenvolvido por Robert S. Kaplan e David P.
Norton. A origem se deu em 1990, quando o Instituto Nolan Norton, ligado a KPMG, realizou um estudo de um
ano entre diversas empresas, buscando uma nova forma para a mensuração de desempenho nas organizações do
futuro, em função da crença de que os métodos vigentes estavam se tornando obsoletos.
O BSC surge com o objetivo de resolver os problemas que existem em se ter uma única visão, ou
perspectiva como preferem os autores, na condução das tomadas de decisão em uma organização, contrapondo a
contabilidade tradicional, que usa uma linha exclusivamente financeira. Esta visão é amparada como uma
evolução do conceito do Tableaux de Bord, que anteviu a necessidade de observar empresa não só através da
perspectiva financeira.
Para Norton (2001), o BSC resolve a questão da avaliação da contribuição dos ativos intangíveis
fundamentais na Era do Conhecimento, possibilitando, desta forma, a criação de valor através da estratégia da
organização. Contudo, esta visão ainda não está completamente aceita, uma vez que a mensuração dos ativos
intangíveis é uma questão ainda não solucionada por completo. Assim, o BSC pode vir a se tornar uma boa
ferramenta para tal, o que ainda depende de experimentação e validação.
Assim, o papel do BSC é buscar uma maneira de transformar o plano estratégico da organização em
ação efetiva, mensurando e avaliando os resultados obtidos pela estratégia selecionada a partir de diferentes
perspectivas. O acompanhamento da execução da estratégia, realizado pelo BSC, através de indicadores de
desempenho, se realiza com o uso de perspectivas determinadas a partir do planejamento estratégico elaborado
para a organização em análise.
Entendendo O BSC
O BSC pressupõe, de acordo com Kaplan e Norton (2000b:11-14), a criação de uma “organização
orientada para a estratégia”. Assim, a idéia do BSC é uma derivada da idéia da estratégia empresarial, onde o
quadro de indicadores de desempenho estabelecido deve contemplar o alcance das estratégias definidas para a
organização.
Para Kaplan e Norton (2000b:20-28), existem cinco princípios que devem ser usados por organizações
que estejam verdadeiramente orientadas para a estratégia. Os resultados do uso da ferramenta são sempre um
bom ajuste entre o trabalho das pessoas e o objetivo estratégico definido. Os princípios são: traduzir a estratégia
em termos operacionais, aliar a organização à estratégia, transformar a estratégia em tarefa de todos, converter a
estratégia em processo contínuo e mobilizar a mudança por meio da liderança executiva.
O Scorecard é utilizado para comunicar a estratégia de uma forma diferente das maneiras anteriormente
utilizadas. As pessoas não conseguem implementar a estratégia se não conseguirem descrevê-las. Esta descrição
em termos operacionais é uma forma diferente de realizar um objetivo estratégico definido. Por exemplo,
empresas distintas podem ter o objetivo de crescer 20% em um ano, mas a maneira como cada uma vai executar
esta estratégia será completamente peculiar às suas formas de atuação.
A comunicação é um problema dentro das organizações. Fazer propagar nos diversos níveis
hierárquicos, com suas peculiares diferenças de visões, é um princípio necessário para que sejam alcançados os
objetivos estratégicos. Se as pessoas da organização estiverem realmente comprometidas com a realização da
proposta estratégica, então o resultado será ações voltadas para os pontos apontados como prioritários dentro
dos Scorecards de suas respectivas áreas.
O presidente de uma companhia não tem capacidade de executar sozinho uma estratégia. Para isso ele
precisa da atuação de toda a empresa, em forma de equipe, de maneira que a soma do trabalho de todos permita
uma realização significativa para a consecução dos objetivos. A comunicação deve ser clara e fluir de cima para
baixo, ou seja, do nível estratégico para o nível operacional.
A idéia de processo contínuo, lembra a melhoria contínua definida no Kaizen por Imai (1992), em que é
defendido o reconhecimento da existência de um problema para que os envolvidos efetivamente se preocupem
em melhorar o processo em uma busca contínua por melhorias incrementais e soluções mais interessantes para
uma determinada atividade. Assim, a atividade, com melhoria contínua, passa a compor a estratégia.
Os princípios anteriores estavam voltados para ferramentas, que sozinhas são insuficientes para criar
uma organização focada na estratégia. Um programa de BSC bem-sucedido não deve ter como ponto de partida
um processo de mensuração, mas sim como um processo de mudança. A mudança se dará, ao longo do tempo,
para uma nova postura gerencial, onde passe a existir um sistema gerencial estratégico ou, como aponta Drucker
(1999), a estratégia converte a teoria do negócio em desempenho empresarial através das gerências.
Esses princípios evidenciam que o objetivo principal do BSC é transformar a estratégia em realidade,
executar a estratégia organizacional. Os indicadores de desempenho estabelecidos não visam apenas olhar para
o passado, mas olhar para o presente e permitir a adequação das atividades, a cada momento de sua
operacionalização.