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Ano IV - Número 04 - Dezembro/2016

Diretoria:
Walter da Silva Jorge João (Presidente)
Valmir de Santi (Vice-Presidente)
José Gildo da Silva (Secretário-Geral)
João Samuel de Morais Meira (Tesoureiro)

Conselheiros Federais:
Rossana Santos Freitas Spiguel (AC)
José Gildo da Silva (AL)
Marcos Aurélio Ferreira da Silva (AM)
Carlos André Oeiras Sena (AP)
Altamiro José dos Santos (BA)
Luis Cláudio Mapurunga da Frota (CE)
Forland Oliveira Silva (DF)
Gedayas Medeiros Pedro (ES)
Sueza Abadia de Souza Oliveira (GO)
Fernando Luís Bacelar de Carvalho Lobato (MA)
Gerson Antônio Pianetti (MG)
Angela Cristina Rodrigues da Cunha Castro Lopes (MS)
José Ricardo Arnaut Amadio (MT)
Walter da Silva Jorge João (PA)
João Samuel de Morais Meira (PB)
Bráulio César de Sousa (PE)
Osvaldo Bonfim de Carvalho (PI)
Elena Lúcia Sales Sousa (PI) - Junho/Setembro 2016
Valmir de Santi (PR)
Alex Sandro Rodrigues Baiense (RJ)
Lenira da Silva Costa (RN)
Lérida Maria dos Santos Vieira (RO)
Erlandson Uchôa Lacerda (RR)
Josué Schostack (RS)
Paulo Roberto Boff (SC)
Vanilda Oliveira Aguiar (SE)
Marcelo Polacow Bisson (SP)
Amilson Álvares (TO)

www.cff.org.br
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Expediente

Comissão de Saúde Pública do CFF


Israel Murakami
Lorena Baía Oliveira Alencar
Lúcia de Fátima Sales Costa
Renata Cristina Rezende Macedo do Nascimento
Silvio César Machado Santos
Valmir de Santi
Wilson Hiroshi de Oliveira Uehara

Comissão para a seleção de


“Experiências exitosas de farmacêuticos no SUS”
Alessandra Russo
Cláudia Serafin
Pâmela Saaveda

Coordenação
Valmir de Santi

Revisão
Leilane Alves
Maria Isabel Lopes
Murilo Caldas
Veruska Narikawa

Edição
Leilane Alves
Maria Isabel Lopes

Projeto Gráfico
K&R Artes Gráficas e Editora Ltda

Impressão:
Qualytá Gráfica e Editora

UMA PUBLICAÇÃO DO CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA


SHIS QI 15 - Lote L - Lago Sul CEP: 71.635-200 - Brasília/DF
Fone: (61) 3878-8700
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Sumário

MENSAGEM DOS DIRETORES................................................................................................................................. 05

APRESENTAÇÃO............................................................................................................................................................. 08

REGIÃO NORTE
Manaus/AM
Farmácia Clínica no manejo de antimicrobianos: preparo, administração e
uso racional em um hospital universitário de Manaus................................................................ 09

REGIÃO CENTRO-OESTE
Taguatinga/DF
Descarte correto de medicamentos: uma responsabilidade dos
farmacêuticos que atuam na atenção primária................................................................................ 16
Campo Grande/MS
Implantação dos serviços de Farmácia Clínica na atenção básica de Campo
Grande ........................................................................................................................................................................... 25

REGIÃO SUDESTE
Espírito Santo
Sistema Estadual de Registro de Preços (Serp): compra eficiente de
medicamentos na atenção primária à saúde..................................................................................... 32
Betim/MG
Implantação do serviço de acompanhamento farmacoterapêutico em
unidade de atenção primária à saúde de Betim: experiência do Projeto Dia
a Dia................................................................................................................................................................................. 40
Teófilo Otoni/MG
Atenção farmacêutica a pacientes hipertensos de alto risco no Centro
Estadual de Atenção Especializada (Ceae) do município de Teófilo Otoni.................... 49
Rio de Janeiro/RJ
Acompanhamento farmacêutico de pacientes em tratamento de sífilis com
penicilina benzatina em uma unidade da Estratégia de Saúde da Família, no
município do Rio de Janeiro............................................................................................................................ 55
Araraquara/SP
Indicadores de resultado da implantação da gestão integral da
farmacoterapia em um centro de referência do idoso de Araraquara............................... 61
Franca/SP
Importância da assistência farmacêutica na promoção do uso racional de
medicamentos por meio da intervenção no processo de judicialização do SUS.......67
Ribeirão Preto/SP
Implantação de formulário para utilização e dispensação de medicamentos
impactantes no orçamento hospitalar.....................................................................................................73
São Paulo/SP
Farmacêutico e educação permanente: benefícios para o Ceaf, RH,
colaboradores e pacientes................................................................................................................................81
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REGIÃO SUL
Curitiba/PR
Implantação dos serviços de Clínica Farmacêutica na farmácia da 2ª
Regional de Saúde do Estado do Paraná............................................................................................... 87
Novo Hamburgo/RS
A atuação do farmacêutico junto ao grupo de hipertensos/diabéticos na
UBS no bairro de Canudos, Novo Hamburgo....................................................................................... 94
Osório/RS
Comissão de Farmácia e Terapêutica Regional - união dos farmacêuticos do
litoral do Rio Grande do Sul............................................................................................................................ 99
Porto Alegre/RS
Cuidando da Farmácia Caseira: ações de um programa de extensão
universitária.............................................................................................................................................................109
Santa Maria/RS
Farmacêuticos abordam assistência farmacêutica em situação de desastre e
casos de alta complexidade em município gaúcho...................................................................... 118
1 - A assistência farmacêutica em uma situação de desastre - o incêndio na
Boate Kiss, em Santa Maria............................................................................................................................121
2 - A reconciliação farmacoterapêutica na otimização da terapia..................................... 126
Pomerode/SC
Aquisição de medicamentos em embalagem fracionável: uma estratégia
para o uso racional de medicamentos.................................................................................................. 133

REGIÃO NORDESTE
Camaçari/BA
Auditoria SUS Camaçari: avanços e desafios......................................................................................141
Fortaleza/CE
Atuação dos farmacêuticos da residência integrada em saúde em um
ambulatório de DPOC........................................................................................................................................ 150
Teresina/PI
Farmacêutico e a segurança dos usuários de medicamentos: aplicação da
ferramenta FMEA no serviço de Farmácia de um Hospital Público de Teresina....... 154
Natal/RN
Diagnóstico situacional das agências transfusionais do município de Natal
com a implementação do Programa Estadual de Qualificação da Hemorrede
(PEQH/RN).................................................................................................................................................................166
Sergipe
Cuidados farmacêuticos em farmácias populares do estado de Sergipe:
resultados alcançados.......................................................................................................................................177
Aracaju/SE
Tecendo Saberes sobre Plantas Medicinais: o resgate, a permanência e a
construção do conhecimento popular na atenção básica do município de
Aracaju..........................................................................................................................................................................184
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Mensagem dos Diretores

Quanto vale a contribuição do


farmacêutico para a saúde pública?
Em tempos de discussão acirrada sobre ção apresentamos alguns dados que merecem
orçamentação e corte de verbas públicas na ser relembrados.
área da saúde, faz-se urgente e necessária uma Somente em 2013, o país poderia ter eco-
avaliação rigorosa de como estão sendo inves- nomizado até R$ 2,5 bilhões em gastos com
tidos os recursos do governo reservados a esse hospitalizações de urgência e emergência. Isso
setor. Será que o dinheiro disponível recebe a porque, segundo as conclusões de uma revisão
destinação adequada, visando ao melhor custo sistemática publicada em 2002, até 24,2% das
benefício e ao bem-estar da população? internações hospitalares de urgência ou emer-
Especialmente se considerarmos as redes gência são provocadas por problemas relacio-
municipal e estadual, que concentram o maior nados a medicamentos (PRMs) e cerca de 70%
volume de serviços prestados aos usuários podem ser evitadas (PATEL; ZED, 2002). Naquele
do Sistema Único de Saúde (SUS), é impossí- ano, segundo dados do Departamento de In-
vel responder à pergunta sem avaliar qual é a formática do SUS (Datasus) sobre internações
composição das equipes de saúde e sem men- hospitalares na rede pública, foram registra-
surar o valor da contribuição de cada um dos das 3,2 milhões de internações de urgência e
profissionais que as integram. E aqui gostarí- emergência associadas a problemas com medi-
amos de usar como exemplo, o farmacêutico. camentos no país, que custaram R$3,6 bilhões
Quanto vale o trabalho farmacêutico para a aos cofres públicos (considerando o custo mé-
saúde pública? Na última edição desta publica- dio de R$1,13 mil por internação pelo SUS). O
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montante que poderia ter sido economizado se conseguiram resolver 70% das demandas pela
refere a 70% desse valor. via administrativa.
Trata-se de economia impossível de ser Experiências de outros países mostram
feita sem a intervenção direta dos farmacêuti- que, além de proporcionar economia, a assis-
cos. A presença desses profissionais nas unida- tência farmacêutica resulta em qualidade de
des de saúde, sejam públicas ou privadas, além vida. Dados da pesquisa “Valor social e eco-
de evitar os PRM, contribui para racionalizar o nômico das intervenções em saúde pública
uso de medicamentos, padronizar condutas dos farmacêuticos nas farmácias em Portugal”,
terapêuticas e evitar perdas desnecessárias. publicada em novembro de 2015 pela Ordem
É o que conseguiu comprovar o município de dos Farmacêuticos de Portugal, mostrou que o
Blumenau (SC). Um estudo feito no município cuidado dispensado pelos farmacêuticos nas
constatou que a redução de gastos com me- farmácias comunitárias, que são aquelas des-
dicamentos é inversamente proporcional ao tinadas ao atendimento direto à comunidade,
aumento do número de farmacêuticos con- resulta num aumento de 8,3% na qualidade de
tratados. Em 2005, a cidade contava com dois vida das pessoas que frequentam esses esta-
profissionais, cujos salários somavam R$ 33 mil belecimentos, e está associado a um ganho de
anuais. O custo anual per capita com medica- 260.245 anos de vida com qualidade. O valor
mentos era de R$ 12,71, o que totalizou, no ano, econômico para a sociedade foi estimado em
R$ 3,4 milhões. Em 2007, com 11 farmacêuticos cerca de 880 milhões de euros anuais, o que
na rede municipal e um gasto de R$ 181,8 mil de corresponde a 3,4 bilhões de reais.
salários, o custo per capita com medicamentos O estudo, pioneiro em Portugal, incidiu so-
baixou para R$ 6,65, totalizando R$ 1,7 milhão bre as diferentes intervenções dos farmacêuti-
no ano. Ou seja, a contratação de novos farma- cos em saúde pública. Envolveu o acompanha-
cêuticos gerou uma economia anual de R$ 1,6 mento de gestantes, crianças e pacientes com
milhão. doenças crônicas, além do aconselhamento e
Segundo relatórios de fiscalizações reali- a indicação farmacêutica nos casos de trans-
zadas pela Controladoria Geral da União (CGU), tornos menores (tosse, constipação, diarreia,
entre agosto de 2004 e julho de 2006, 90,3% dos obstipação, etc), cessação tabágica e proteção
municípios apresentaram problemas na gestão solar, a aplicação de vacinas, etc. Não foi con-
de recursos ou serviços de assistência farma- siderada no estudo a dispensação de medica-
cêutica. Em 71% dos municípios foi constatada mentos, que representa mais de 90% da ativi-
falta de controle ou deficiência de estoque. dade das farmácias comunitárias em Portugal.
Condições inadequadas de armazenamento Também foram calculados os ganhos que
foram observadas em 39%; e a falta de medi- poderiam resultar de 15 intervenções farma-
camentos, detectada em 24%. São porcentuais cêuticas ainda não implantadas, mas possíveis
representativos, que merecem o olhar criterio- de serem desenvolvidas nas farmácias comu-
so dos gestores. nitárias portuguesas, por meio de uma maior
A falta de estrutura e prioridade para a as- integração das farmácias com os cuidados
sistência farmacêutica tem gerado outro grave primários de saúde e também com os cuida-
problema. A população tem buscado os seus dos secundários. Considerando a hipótese de
direitos referentes ao fornecimento de medi- implantação dessas intervenções farmacêuti-
camentos pela via judicial. Esse fenômeno é cas adicionais, o ganho de qualidade de vida
chamado de “Judicialização da Saúde” e pode poderá aumentar mais 6,9%, traduzindo-se
ser minimizado com intervenção farmacêutica. num ganho adicional de 75.640 anos de vida
A partir da inserção de um farmacêutico nos com qualidade. O valor econômico das inter-
quadros da Defensoria Pública do Rio Grande venções farmacêuticas para a comunidade se
do Sul, por meio de um termo de cooperação ampliará em mais 144,8 milhões de euros ou
técnica do órgão com o Conselho Regional de 574,72 milhões de reais. Este valor distribui-se
Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF-RS), os de- entre intervenções farmacêuticas não remune-
fensores públicos auxiliados pelo farmacêutico radas (120,3 milhões de euros) e redução das
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despesas de saúde com consultas médicas para o próximo ano, o governo passará a pagar
(24,4 milhões de euros) e hospitalizações (100 as farmácias por atendimento realizado.
mil euros). Temos reiterado que a força de trabalho e
Em suma, a pesquisa demonstrou que as a capacidade técnica do farmacêutico não po-
intervenções farmacêuticas em Saúde Pública dem mais ser subutilizadas, muito menos pela
realizadas atualmente nas farmácias comuni- rede pública, que padece com a distância abis-
tárias portuguesas traduziram-se numa dimi- sal entre a demanda e a oferta de serviços de
nuição de cerca de 5,6% na despesa total em saúde. Os farmacêuticos têm uma enorme con-
saúde, o que correspondeu a 0,5% do Produto tribuição a prestar e podem ajudar a equacio-
Interno Bruto (PIB) do país. Distribuindo o valor nar os problemas vivenciados pelo SUS. Mais
economizado por farmacêutico, a constatação do que uma questão legal, a presença dos far-
é a de que cada profissional contribui, em mé- macêuticos durante todo o tempo de funcio-
dia, seis vezes mais para o PIB que a média de namento das farmácias de qualquer natureza,
contribuição per capta nacional. exigida pela Lei nº13.021/14, deve ser encarada
O estudo já deu resultados. Um deles foi como uma medida de fundamental importân-
a recente publicação pelo Governo de Portu- cia para a qualidade da assistência à saúde da
gal do Decreto-Lei nº 62/2016, que valoriza o população e também para a economia das ver-
papel das farmácias comunitárias como uni- bas públicas.
dades de prestação de cuidados em saúde É o que pode ser constatado também por
e prevê expressamente que o Ministério da meio dos relatos de 24 experiências de far-
Saúde contratualize com as farmácias comu- macêuticos que atuam no SUS reunidos nes-
nitárias a prestação de serviços farmacêuticos ta publicação. De forma positiva, eles estão
de intervenção em Saúde Pública. Um grupo contribuindo para transformar a realidade da
de trabalho interdisciplinar está verificando saúde pública em seus estados e municípios.
quais serviços poderão ser contratados e com Farmacêutico na saúde pública não é custo. É
a formalização dos contratos, que está prevista investimento!

Walter da Silva Jorge João Valmir de Santi José Gildo da Silva João Samuel de Morais Meira
(Presidente) (Vice-Presidente) (Secretário-Geral) (Tesoureiro)
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Apresentação Grupo de Trabalho sobre


Saúde Pública do CFF
O Grupo de Trabalho (GT) em Saúde Pública
foi instituído pelo Conselho Federal de Farmá- COORDENAÇÃO:
cia (CFF), no ano de 2007. Desde então, diver-
sas ações têm sido realizadas para aprimorar a
atuação do farmacêutico no serviço público e,
por consequência, a atenção à saúde no âmbi-
to do Sistema Único de Saúd (SUS).
Entre estas ações destaca-se a Resolução
CFF nº 578/2013, que regulamenta as atribui-
ções técnico-gerenciais do farmacêutico na
gestão da assistência farmacêutica no âmbito
do sistema. Com o intuito de subsidiar tanto
a formação dos farmacêuticos quanto a sua
atuação como gestores, foi publicado o livro “O Valmir de Santi

farmacêutico na assistência farmacêutica no


SUS: diretrizes para ação”.
O cenário da saúde pública atual aponta
para a necessidade de otimizar os recursos dis- MEMBROS:
poníveis e utilizar ferramentas que aprimorem
a gestão, a fim de obter os melhores resultados
para a população. Ampliar o acesso aos medi-
camentos, integrar a assistência farmacêutica
às demais políticas de saúde como parte do
processo do cuidado, incorporando o farma-
cêutico às redes de atenção, são alguns dos de-
safios a enfrentar.
Muitas iniciativas têm sido desenvolvidas
por farmacêuticos e gestores para aprimorar a
AF pública, com importantes resultados para a
população. Esta publicação, que tem periodici-
dade anual, foi idealizada pelo conselho com o
intuito de valorizar as estratégias implantadas
nos diversos cenários de atuação profissional
Lúcia de Fátima Sales Costa, Silvio César Machado Santos,
e compartilhar os resultados positivos para Lorena Baía Oliveira Alencar, Israel Murakami, Wilson Hiroshi
inspirar outros colegas que atuam no serviço de Oliveira Uehara, Renata Cristina Rezende Macedo do Nascimento

público.
Para esta quarta edição foram seleciona-
dos 24 trabalhos com temas relacionados a
educação, gestão, assistência farmacêutica e COMISSÃO DE SELEÇÃO DOS TRABALHOS:
outros. São relatos oriundos das cinco regiões
do Brasil. Os relatos apresentados demons-
tram a qualidade do trabalho que vem sendo
desenvolvido e reforçam que o farmacêutico,
inserido nas equipes multidisciplinares, tem
contribuído de forma significativa para qualifi-
car a atenção à saúde.​ Alessandra Russo Claudia Serafin Pâmela Saavedra
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Manaus/AM

Farmácia Clínica no
manejo de antimicrobianos: preparo,
administração e uso racional em um
hospital universitário de Manaus
CARACTERIZAÇÃO A capital amazonense, que foi uma das
sedes da Copa do Mundo de Futebol, em
O projeto citado neste relato foi realiza- 2014, recebeu nota máxima no índice de
do no Hospital Universitário Getúlio Vargas hospitalidade da Fundação Instituto de Pes-
(HUGV), localizado no município de Manaus, quisa Econômicas (Fipe). Com economia vol-
Amazonas. Manaus foi criada no século XVII tada para o polo de montagem, está entre
para confirmar a presença lusitana e fixar as cidades que abrigam um expressivo polo
domínio português. É a capital do estado do industrial.
Amazonas, localizada no coração da floresta O Amazonas surpreende pela combinação
amazônica, com uma área de 11.401,092 km² de modernidade e conservação da natureza,
e população estimada pelo IBGE de 2.057.711 contando com diversas opções de turismo,
habitantes. como visita a cavernas e cachoeiras, prática do
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arvorismo, pesca esportiva, festivais folclóricos Estruturação da rede de saúde
e patrimônios históricos.
No Amazonas, a rede física dos serviços de
Perfil epidemiológico saúde cadastrada no Cadastro Nacional dos Es-
tabelecimentos de Saúde (CNES) abrange 2.153
As doenças de registro mais frequentes ao
estabelecimentos públicos, privados e filan-
longo do ano em Manaus são malária e den-
trópicos, distribuídos por gestão dupla (gestão
gue. No entanto, diarreia, hepatite A e leptos-
compartilhada entre o estado e os municípios),
pirose são as doenças mais comuns registradas
gestão estadual e municipal, sendo 54,1% pú-
no período de enchente dos rios no Amazonas
(FVS-AM, 2015). blicos e 45,9% privados.

De acordo com a Secretaria Municipal de Os hospitais universitários apresentam


Saúde de Manaus (Semsa), as principais cau- grande heterogeneidade quanto à sua capa-
sas de mortalidade no munícipio são neopla- cidade instalada, incorporação tecnológica e
sias; causas externas, como óbitos por vio- abrangência no atendimento. Todos desempe-
lência; e doenças do aparelho circulatório e nham papel de destaque na comunidade onde
respiratório. estão inseridos. Além disso, no campo da as-
Quanto às notificações de agravo houve sistência à saúde, os hospitais universitários
aumento de casos novos de tuberculose de federais são centros de referência de média
2008 para 2012 em 18%, mas, em contrapartida, e alta complexidade para o Sistema Único de
a hanseníase apresentou redução equivalente Saúde (SUS). A rede de hospitais universitários
a 23%. Aids, sífilis e malária são outras doenças federais é formada por 50 hospitais vinculados
de notificação relatadas pela Semsa (2013). à 35 universidades federais.

Entrada provisória do Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus. Foto: Adneison Severiano/G1 AM
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Em 1965, por iniciativa do Governo Esta- mais seguro e econômico para hospitais
dual do Amazonas, foi inaugurado o Hospi- (FREITAS, 2005), a realidade de inúmeras ins-
tal Universitário Getúlio Vargas (HUGV). Suas tituições hospitalares demonstra que não
atividades básicas eram fundamentais na as- é possível realizar dispensação de antimi-
sistência em Clínica Médica e Cirurgia Geral. crobianos por dose unitária. Dessa forma, o
Hoje, o HUGV disponibiliza 156 leitos, aten- preparo e administração de antimicrobianos
dendo as seguintes especialidades médicas: ficam sob responsabilidade das equipes de
Clínica Neurológica, Clínica Cirúrgica, Clínica enfermagem. Utiliza-se, no HUGV, o sistema
Médica, Clínica Ortopédica, Centro de Terapia de dispensação individualizado direto, com
Intensiva, Nefrologia, bem como possui Cen- dispensação para as 24 horas.
tro Cirúrgico com 8 salas de cirurgia e o Am- Após observar as inúmeras dúvidas sobre
bulatório Araújo Lima que alberga diversas o uso desses medicamentos e falta de padro-
especialidades médicas. nização de uso pela equipe, realizou-se um
projeto de extensão em convênio com a Uni-
Assistência farmacêutica versidade Federal do Amazonas – Faculdade
de Ciências Farmacêuticas - intitulado “Orien-
O setor de farmácia foi estruturado em 2015 tações acerca do uso correto de antimicrobia-
para atender às recomendações da Empresa nos injetáveis em um hospital universitário de
Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Manaus”, com recursos obtidos do Programa de
do qual, atualmente, fazem parte 12 farma- Atividade Curricular de Extensão (Pace).
cêuticos, 15 técnicos em farmácia, 4 auxiliares
administrativos, 1 estagiário de nível superior Com o objetivo de padronizar a admi-
(acadêmico de farmácia) e 4 estagiários de ní- nistração de antimicrobianos, o projeto foi
vel médio. executado nas seguintes etapas: treinamento
dos integrantes da ação, auditoria na insti-
O Setor de Farmácia possui duas subdivi- tuição, elaboração de um guia de preparo e
sões: Unidade de Abastecimento e Unidade de administração de antimicrobianos injetáveis
Farmácia Clínica. O hospital possui uma central e treinamento dos profissionais de saúde nas
de dispensação, uma farmácia satélite no Cen- clínicas.
tro Cirúrgico e uma farmácia ambulatorial.
Os serviços desenvolvidos pela equipe in- METODOLOGIA
cluem: gestão de estoques de medicamentos e
materiais médico-hospitalares, diluição e dis- Por meio de convênio entre o Hospital
pensação de germicidas, manipulação de an- Universitário Getúlio Vargas (HUGV) e a Uni-
tineoplásicos, nutrição parenteral e produtos versidade Federal do Amazonas (Ufam), reali-
farmacotécnicos, dispensação de medicamen- zou-se um projeto via Programa de Atividade
tos e produtos para a saúde, dispensação de Curricular de Extensão (Pace), cujos objetivos
artigos médicos para centro cirúrgico, Farmácia foram realizar auditoria situacional do uso
Clínica no Centro de Terapia Intensiva e apoio de antibióticos, bem como elaborar material
em comissões institucionais. informativo sobre os antimicrobianos padro-
nizados no HUGV.
RELATO DA EXPERIÊNCIA Foi realizado treinamento dos participan-
tes do projeto, composto por dois farmacêu-
Considerando que os ambientes hospita- ticos e alunos da Faculdade de Ciências Far-
lares são complexos e, onde frequentemente, macêuticas da Ufam. Em seguida, foi realizada
se observam eventos adversos relacionados auditoria nos setores do hospital, nos quais
ao uso de medicamentos, devem ser criados foram avaliados os seguintes fatores: armaze-
mecanismos que padronizem a administração namento, existência de estoques paralelos, in-
de medicamentos, evitando eventos passíveis tegridade, validade e diluição de medicamen-
de erro. tos, adequação física do ambiente, controle de
Embora se saiba que o sistema de dis- temperatura e umidade de geladeiras e pre-
pensação de dose unitária é o modelo ideal, sença de coletores de lixo adequados.
12

Capa do Guia de Preparo e Administração de Antimicrobianos Injetáveis do Hospital Universitário Getúlio Vargas, 2016

O material informativo foi elaborado e de- nicos em farmácia e de enfermagem, residentes


nominado “Guia de preparo e administração multiprofissionais e acadêmicos de farmácia.
dos antimicrobianos injetáveis”, listando os O treinamento dos médicos, farmacêuti-
medicamentos antinfectivos padronizados no cos, enfer­ meiros e técnicos de enfermagem
hospital. Para cada medicamento foram incluí-
que atuam no hospital, foi executado em três
das informações sobre nome genérico, nome
ciclos, realizados em fevereiro, março e abril. A
comercial, classe farmacológica, apresentação,
estratégia escolhida foi comparecer aos setores
forma farmacêutica, pH, reconstituição, vias
nos horários de mudança de plantão (manhã,
de administração, tempo de infusão, soluções
compatíveis, volumes de diluição, concentra- tarde e noite) no intuito de alcançar o maior
ção para diluição e estabilidade. As informa­ número de funcionários.
ções foram obtidas por meio de análise das Disponibilizou-se material educativo
bulas dos medicamentos, consultas bibliográ- impresso com recomendações gerais de pre-
ficas como Clinical Drug infor­ mation (2016), paro e administração de antimicrobianos,
Farmácia Clínica – segurança na prática hospi- bem como um exemplar do Guia. A aborda-
talar (FERRACINI, BORGES FILHO; 2011), além de gem consistia em mostrar como interpretar
ferramentas como o Micromedex (2016) e Up to as informações contidas no Guia e as parti-
date (2016). cularidades do uso dos medicamentos, por
Para executar o treinamento dos funcio- meio de exemplos que se adequavam à prá-
nários do Hospital, realizou-se primeiramente tica clínica. Após o treinamento, os interes-
a capacitação de instrutores, cuja equipe era sados podiam receber uma versão digital do
constituída de farmacêuticos, enfermeiros, téc- Guia por e-mail.
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Descrição dos impactos gerados ras de uso exclusivo para medicamentos. A fal-
com esta experiência ta de controle de temperatura e umidade e me-
dicamentos em excesso foram verificados em
Os resultados da auditoria revelaram a fal- 90% dos setores.
ta de padronização do preparo e administra-
Em relação ao manuseio e armazenamento
ção dos antimicrobianos. Quanto aos critérios
de armazenagem, verificaram-se inadequações apropriado, 90% dos setores estavam em não
como: presença de medicamentos reconsti- conformidade. Após reconstituição, apenas
tuídos e/ou diluídos sem identificação, medi- 40% dos medicamentos estavam armazenados
camentos vencidos, medicamentos com lacre adequadamente. Havia coletores de lixo ade-
rompido e presença de alimentos em geladei- quados em 90% dos setores.

Treinamento sobre o Guia de Preparo e Administração de Antimicrobianos


Injetáveis para residentes e médicos do Hospital Universitário Getúlio Vargas

Após o treinamento, realizou-se a segun- Ao fim da auditoria, verificou-se ainda a


da auditória nos setores, cujos resultados de- persistência de algumas necessidades não
monstraram redução de medicamentos em ex- relacionadas ao Setor de Farmácia, tais como
cesso para 55,6%. Quanto à armazenagem de aquisição de novos condicionadores de ar e
medicamentos, 100% dos setores apresenta- termômetros para os refrigeradores e ambien-
ram locais satisfatórios. te. Foram encaminhadas sugestões para ade-
Em relação à armazenagem de medica- quação aos setores responsáveis.
mentos reconstituídos e diluídos, 66% das Participaram do primeiro ciclo, 153 profis-
clínicas apresentavam um refrigerador lim- sionais. Ao segundo e terceiro ciclos estiveram
po e em condições para a armazenagem cor- presentes 280 profissionais do HUGV. Durante
reta. No quesito armazenamento de alimen- as visitas, houve grande aceitação por parte dos
tos junto a medicamentos, 80% das clínicas funcionários, que sugeriram algumas modifica-
estavam em conformidade, resultado muito ções e inclusão de informações adicionais no
superior ao observado na primeira audito- guia. Também foi solicitado pelas equipes que
ria, na qual apenas uma clínica estava em a ação fosse estendida para todos os medica-
conformidade. mentos injetáveis padronizados na instituição.
14
Devido ao êxito do treinamento sobre o e, consequentemente, a redispensação da
Guia de Preparo e Administração de Antimicro- medicação.
bianos Injetáveis, a equipe foi convidada para De acordo com os dados de redispensa-
divulgá-lo em outras instituições hospitalares ção de antimicrobianos do setor de farmácia,
de Manaus, a exemplo do Hospital e Pronto- o gasto com esta prática antes da ação foi de
-Socorro 28 de Agosto, no qual se realizou o R$ 1.915,00, valor correspondente a 10 meses de
primeiro treinamento externo para 35 profis- análise. Nos dois meses após a ação, observou-
sionais de terapia intensiva. -se queda de 82% nos referentes gastos.
Um grande entrave relacionado à má Vale destacar o apoio institucional na rea-
manipulação dos antimicrobianos era a re- lização da ação e na divulgação do treinamento
constituição e a diluição inadequada, o que entre os colaboradores, bem como o interesse
ocasionava perda de doses de medicamento dos gestores em disseminar o conhecimento.

Exemplo de recomendação do uso de vancomicina no Guia de Preparo


e Administração de Antimicrobianos Injetáveis.

VANCOMICINA
Nome genérico Apresentação Reconstituição Vias de Administração Tempo de Estabilidade
infusão
Nome Forma
comercial farmacêutica

Classe
farmacológica pH
Vancomicina Pó liófilo 10 mL de AD IM EC direta EV infusão Maior que Reconstituído:
para solução para 500mg 60 min
Não Não Sim
injetável - 24h (Tamb)
Solução
Vancocid® 500mg ou 1g 20 mL de AD - 14 dias (ref)
compatível:
para 1g
Volume
Diluído:
de diluição:
Antibacteriano Frasco-ampola 100mL ou mais
- 24h (Tamb)
Concentração
pH 2,5 a 4,5 14 dias (ref)
para diluição:
Até 5mg/mL

Ex = 500mg
em 100 mL =
(5mg/mL)

Próximos passos, desafios e necessidades disso, constatou-se a necessidade de imple-


mentação de ação semelhante para todos os
Devido à relevância da experiência, veri- medicamentos injetáveis padronizados na ins-
ficou-se a necessidade de criação de um pro-
tituição.
grama de educação continuada para os pro-
fissionais, visando melhorar os indicadores O uso correto de antimicrobianos em insti-
observados e aumentar a segurança do pa- tuições hospitalares é um desafio complexo. É
ciente em relação ao uso correto e racional de
necessário o envolvimento e a colaboração da
antimicrobianos.
equipe multidisciplinar, visando o uso racional,
Verificou-se a importância de se disponi-
a fim de promover a redução da infecção hos-
bilizar material de consulta nas clínicas, como
o guia, a fim de aprimorar os processos e for- pitalar, a resistência microbiana e, consequen-
necer informação baseada em evidência. Além temente, custos na instituição.
15

CONCLUSÃO FERRACINI, F. T.; BORGES FILHO, W. M. Farmácia


clínica – segurança na prática hospitalar. São
O uso de informação baseada em evidência Paulo: Atheneu, 2011.
é essencial em serviços de saúde, pois garante FREITAS, A. R. Vigilância sanitária na farmácia
a promoção da segurança do paciente. É neces- hospitalar: o sistema de distribuição de medi-
sário que as instituições hospitalares ofereçam camentos por dose unitária (SMDU) em foco.
estratégias e instrumentos de consulta que Monografia da Especialização em Vigilância Sa-
padronizem as atividades relativas ao cuidado nitária de Serviços de Saúde. Rio de Janeiro, Es-
do paciente. Em nosso caso, levando em con- cola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/
sideração que os custos foram apenas com a Fiocruz. 2005:88p.
impressão de Guias, a adoção de estratégias de
HUGV. Hospital Universitário Getúlio Vargas.
baixo custo e alto impacto são essenciais para
Institucional. Disponível em: <http://www.
o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde.
hugv.ufam.edu.br/institucional.html>. Acesso
Em hospitais universitários, o apoio das em: 20 abril 2016.
universidades é fundamental para aproximar
MICROMEDEX. Micromedex Health Care Series.
o conhecimento científico à prática, bem como
Disponível em: <http://www-micromedexso-
possibilitar experiências acadêmicas voltadas
lutions-com.ez2.periodicos.capes.gov.br/mi-
à atuação profissional. A disponibilização de
cromedex2/librarian/PFDefaultActionId/evi-
guias e protocolos permite a interação entre os
dencexpert.DoIntegratedSearch#>. Acesso em
demais profissionais de saúde e o farmacêuti-
01/03/2016.
co, o que facilita a condução da farmacoterapia
adequada ao paciente. SEMSA. Secretaria Municipal de Saúde. Situação
de saúde no município de Manaus. Disponível
O apoio da gestão, assim como a partici-
em: <http://semsa.manaus.am.gov.br/wp-con-
pação e interesse dos colaboradores, contribui
tent/uploads/2014/04/DIAGN%C3%93STICO-
sobremaneira com ações que têm como foco a
-SITUACIONAL-DE-MANAUS-2.pdf>. Acesso em
segurança do paciente. Neste sentido, a pro-
04/05/2016.
moção de educação continuada é uma ferra-
menta que auxilia na melhoria contínua dos UP TO DATE. Disponível em: <http://www.upto-
serviços. date.com/pt/home>. Acesso em 26/04/2016.
A participação ativa do setor de farmácia
INSTITUIÇÃO
em ambiente hospitalar é estratégica, pois
além de promover a melhoria de todas as eta- Hospital Universitário Getúlio Vargas
pas relativas ao abastecimento e a redução de de Manaus
custos e desperdícios envolvendo medicamen-
tos e produtos para saúde, permite a promoção AUTORES
de uso racional de medicamentos, uma vez que Bruna Monteiro Rodrigues
os recursos voltados ao setor devem ser estra- Alexandre Targino da Soledade
tegicamente direcionados a fim de garantir a Gabriel Oliveira de Souza
eficácia, racionalidade e segurança terapêutica Igor Rafael dos Santos Magalhães
aos pacientes. Mírian Brasil Magalhães de Oliveira

REFERÊNCIAS CONTATOS
b_monteiro@hotmail.com
CDI. Clinical Drug information. Disponível em:
at.soledade@hotmail.com
<http://www.wolterskluwercdi.com/lexicom-
gabriel.ifam@gmail.com
p-online/community-pharmacy/>. Acesso em
magalhaes.irs@gmail.com
25/04/2016.
mirianbrasil1@gmail.com
16

Taguatinga/DF

Descarte correto de
medicamentos: uma responsabilidade
dos farmacêuticos que atuam
na atenção primária
CARACTERIZAÇÃO habitantes. Nos dias atuais, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), essa
O cenário da pesquisa é a cidade de Ta- cidade possui 361.063 habitantes, sendo mais da
guatinga, localizada no Distrito Federal, Região metade de outras regiões do Brasil, em especial
Centro-Oeste. da Região Nordeste.
O nome da cidade surgiu de uma fazenda A maior parte dos habitantes é do sexo
que, no século XVIII, abrigou um pequeno po- feminino (52%) e metade possui entre 25 e 59
voado formado por bandeirantes e tropeiros. anos, ou seja, encontra-se em idade economi-
Posteriormente, Taguatinga foi projetada por camente ativa. A renda per capta dos morado-
Lúcio Costa, durante a construção de Brasília, res é de 1,6 mil reais e a escolaridade da maio-
para ser uma cidade dormitório e possuir 25.000 ria está entre os níveis fundamental e médio.

17

Perfil epidemiológico traliza a dispensação de medicamentos como


os controlados e outros considerados como de
O Índice de Desenvolvimento Humano média complexidade.
(IDH) de Taguatinga é 0,855 - ou seja, acima da No hospital há farmacêuticos distribuídos
média nacional que é 0,755. O IDH é uma medi- em atividades relacionadas à farmácia e às
da comparativa usada para classificar os países
análises clínicas.
pelo seu grau de “desenvolvimento humano”
e para ajudar a classificar os países como de- Taguatinga possui, ainda, 65 estabeleci-
senvolvidos (desenvolvimento humano muito mentos farmacêuticos vinculados ao programa
alto), em desenvolvimento (desenvolvimento Aqui Tem Farmácia Popular, todos com pelo
humano médio e alto) e subdesenvolvidos (de- menos um farmacêutico.
senvolvimento humano baixo). O gasto per capita anual com medicamen-
Contudo, mesmo com este índice, há ques- tos no Distrito Federal, na modalidade aplica-
tões importantes relacionadas à qualidade de ção direta, é um dos maiores do Brasil chegan-
vida que precisam ser discutidas como, por do a R$ 66,45 segundo Vieira e Zuchi (2011), no
exemplo, a segurança e as dificuldades de mo- ano de 2009.
bilidade urbana.
Além disso, a população idosa tem morbi- RELATO DA EXPERIÊNCIA
dades relacionadas em especial com a síndro-
me metabólica, possuindo problemas como No Brasil, existem diferentes regulamen-
obesidade, hipertensão e diabetes. tos técnicos federais publicados pela Agên-
cia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
Estruturação da rede de saúde e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama) que versam sobre resíduos de ser-
A saúde pública conta com um hospital viços de saúde. Entretanto, estes deixam la-
com mais de 300 leitos e diferentes especia- cunas quanto ao manejo e disposição final de
lidades, além de unidades de emergência. No resíduos de medicamentos domiciliares ven-
hospital está sediada a Regional de Saúde, que cidos ou inapropriados para uso (Brasil, 2004;
possui oito unidades vinculadas, uma clínica Brasil, 2005).
de Saúde da Família, além de uma policlínica Buscando suprir esta lacuna, foi elaborada,
denominada Unidade Mista de Atendimento. no Distrito Federal, a Lei nº 5092/2013 (Distri-
As unidades de saúde possuem basica- to Federal, 2013) que dispõe sobre a obrigato-
mente os serviços de ginecologia, pediatria, riedade de farmácias e drogarias receberem
clínica médica e odontologia. Já a unidade medicamentos com prazo de validade vencido,
mista de atendimento é referência em ge- para descarte. Mesmo que esta lei nunca tenha
riatria, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia sido sancionada, a Secretaria de Estado de Saú-
ocupacional, DST/Aids, tabagismo, nutrição, de orienta, por meio de notas técnicas, que as
odontologia, atendimento à saúde do adoles- unidades de saúde recebam da população os
cente, além de possuir uma farmácia de mé- medicamentos vencidos ou em desuso e deem
dia complexidade, radiologia e laboratório de a destinação correta. Contudo, a implementa-
análises clínicas. ção deste processo não é simples, pois envolve
Mesmo que o sistema privado de saúde na recursos humanos, físicos e de logística.
cidade seja consistente, é importante salientar Uma parceria entre a Universidade de
que a maior parte da população depende do Brasília e a Unidade de Saúde (Centro de
sistema público de saúde. Saúde nº 4 - CS4) de Taguatinga possibilitou
a implantação do processo. A experiência foi
Assistência farmacêutica desenvolvida com o auxílio de alunos da gra-
duação em Farmácia por meio de atividades
Os centros de saúde possuem farmacêuti- de estágio e de trabalhos de conclusão de
cos responsáveis pela dispensação. Além dis- curso, por alunos de pós-graduação e pelo
so, na unidade mista de atendimento, há uma apoio de núcleos de pesquisa e de projetos
farmácia, também com farmacêutico, que cen- de extensão.
18

Nesse sentido, este trabalho busca apre- Para avaliar o prazo de validade, os me-
sentar o resultado desta experiência por meio dicamentos foram organizados em grupos de
da descrição do processo de descarte imple- acordo com a data de vencimento. Os grupos
mentado e também pelos resultados do perfil incluíam medicamentos vencidos antes de
dos medicamentos descartados incluindo a 2015, medicamentos vencidos no ano corren-
análise dos custos. te e medicamentos não vencidos. Além disso,
houve situações em que esta informação não
METODOLOGIA pôde ser analisada, como em casos de proble-
ma de legibilidade.
Trata-se de um relato de experiência da Para a classificação dos medicamentos foi
implementação do processo de descarte de adotado o Sistema Anatômico e Terapêutico
medicamentos em uma unidade de saúde. O Químico (ATC). Esta classificação, como primeiro
CS4 de Taguatinga está localizado em uma das nível, divide os medicamentos de acordo com
cidades satélites do Distrito Federal. sistema ou órgão em que o fármaco atua; nos
A descrição do processo dar-se-á de forma níveis subsequentes, as classes são divididas
esquemática, tentando descrever as etapas en- conforme as propriedades terapêuticas, quími-
volvidas de acordo com as orientações da Di- cas e farmacológicas. Entretanto, foi adotado
retoria de Assistência Farmacêutica (Diasf ) do apenas primeiro nível dessa classificação co-
Distrito Federal. nhecida como grupo anatômico principal.
Para a avaliação do perfil de medicamen- O custo dos medicamentos enviados para
tos descartado foram coletadas informações incineração foi estimado com base nos valores
nos primeiros nove meses de 2015. O perfil dos apresentados no site da Câmara de Regulação
medicamentos descartados foi realizado por do Mercado de Medicamentos (CMED), de mar-
meio da criação de um banco de dados con- ço de 2015, levando em consideração a alíquota
tendo todos os medicamentos descartados. de ICMS de 17%, vigente no Distrito Federal.
Também foram inclusos no banco a data de va- Os dados foram tabulados na ferramenta
lidade, principio ativo, laboratório responsável Microsoft Excel. Após a coleta dos dados, foi
pelo medicamento e a forma farmacêutica. Os feita uma análise estatística descritiva. As va-
medicamentos também foram separados em riáveis numéricas são apresentadas em medi-
outras três categorias: das de tendência central e dispersão e as va-
I. os que foram devolvidos pela comuni- riáveis categóricas em números absolutos e
dade foram denominados como “devo- proporções.
lução”; Este trabalho foi aprovado pelo Comitê
II. amostras grátis de medicamentos que de Ética da Fundação de Ensino e Pesquisa
venceram dentro da unidade de saúde em Ciências da Saúde (FEPECS) sob o código
foram denominadas como “amostras 1.057.271.
grátis” e;
Descrição dos impactos gerados
III. os medicamentos de uso interno venci- com esta experiência
dos da unidade de saúde foram deno-
minados de “ interno”. Como abordado anteriormente, essa é a
Foi estipulado o tempo gasto no proces- principal experiência de descarte de imple-
so de separação, remoção da embalagem mentação de um processo de coleta e de des-
secundária, armazenamento para o des- tinação correta para os medicamentos em uni-
carte e tabulação de dados para cada item, dade de saúde da Atenção Primária do Distrito
visando conhecer o tempo médio por item Federal (figura 2), tanto pelo desenvolvimento
tabulado. do processo quanto pela possível aplicação
Também foram classificados pela forma dos resultados em ações que visem à promo-
farmacêutica e pelo grupo anatômico principal ção do uso racional de medicamentos.
segundo a Classificação Anatômica Terapêutica É importante destacar que a forma de
e Química (ATC, sigla em Inglês). descarte de medicamentos controlados pode
19

ser diferente em outras unidades federativas. caso, informa-se que há unidades federativas
No Distrito Federal, este processo foi desen- em que a própria vigilância se responsabiliza
volvido com vistas a possibilitar a destinação pelo descarte, assim que são encaminhados os
correta sem que houvessem desvios. Nesse medicamentos.

Medicamentos oriundos Medicamentos oriundos


da Comunidade da Unidade de Saúde

Amostras Interno da Unidade


Grátis de Saúde

Processo de captação de
medicamentos pelo
Serviço de Farmácia

Segregação dos medicamentos,


catalogação e identificação dos
medicamentos controlados

MEDICAMENTOS NÃO CONTROLADOS MEDICAMENTOS CONTROLADOS


Elaboração de uma lista dos
Armazenamento temporário
medicamentos controlados,
em Bombonas
pesagem dos medicamentos
e colocação destes em
sacos específicos

Entrada do processo de descarte


na Visa local e fechamento
do saque com lacre

Recolhimento, tratamento e destinação Retorno à Unidade e aguardo da


pela empresa contratada, etapa coleta pela empresa contratada
considerada finalização do processo pela Secretaria de Saúde

Recolhimento, tratamento e
destinação pela empresa contratada

Encaminhamento do relatório
Relatório do Descarte com a
de cinzas e do lacre dos
destinação das cinzas dos controlados
controlados a Visa local

Figura 2 - Processo de descarte de medicamentos implementado no Centro de Saúde 4 de Taguatinga

A figura 3 apresenta os medicamentos re- grátis sendo organizadas por lote, antes da se-
cebidos da comunidade (A e B) e as amostras gregação e catalogação (C e D).
20

A B

C D

Figura 3 - Medicamentos descartados de origem da comunidade (A, B)


e amostra grátis oriundas da própria unidade (C, D)

Durante os nove meses de coleta (janeiro zando para os primeiros nove meses do ano
a setembro de 2015), todos os medicamentos de 2015, R$ 25.597,71. Entretanto, este valor foi
encaminhados à unidade, ou da própria uni- estimado para 87,7% dos itens descartados,
dade, direcionados ao descarte foram catalo- uma vez que uma parte dos itens (12,3%) não
gados. Nesse contexto, foram cadastrados 454 foram identificados na referida lista. Estes úl-
medicamentos de diferentes lotes que, juntos, timos medicamentos são representados por
somaram 14.085 unidades descartadas (com- medicamentos homeopáticos, fitoterápicos,
anestésicos locais injetáveis, polivitamínicos
primidos, bisnagas, frascos, etc).
e os chamados de medicamentos de notifica-
Foi determinado o valor total para aqui- ção simplificada, os quais a lista não abran-
sição dos medicamentos descartados, tendo ge, por se tratarem de produtos liberados dos
como base a lista de preço máximo de medi- critérios de estabelecimento ou reajustes de
camentos por princípio ativo da CMED, totali- preços.
21

Segundo a Portaria nº 250/2014, da Secre- tegoria de medicamentos em outras áreas da


taria de Estado de Saúde do Distrito Federal, Unidade (Distrito Federal, 2014). Corroborando
Artigo 24, é vedado o recebimento e forneci- esta informação, 56% do valor total relaciona-
mento de amostras grátis de medicamentos do aos produtos descartados e 41% dos me-
e de produtos para saúde nas farmácias das dicamentos a serem descartados são daquela
Unidades Básicas de Saúde do Distrito Federal, categoria. O detalhamento desses valores está
entretanto, isso não impede que haja esta ca- apresentado na figura 4.

14.208,52
A 285 B

222 10.560,84

38
828,35

Amostra Grátis Devolução Interno Amostra Grátis Devolução Interno

Figura 4 - Grupos de amostra grátis, devolução da comunidade e medicamento de uso interno da unidade de saúde. (A)
Quantidade de medicamentos devolvidos (B) Valor estimado em reais (R$) por meio da lista CMED CS4, Taguatinga – DF, 2015

A figura 5 representa perfil dos medicamen- avaliados são aqueles em que o prazo de validade
tos descartados em relação a sua data de ven- não estava legível ou mesmo tratava-se de parte
cimento. Destaca-se que os medicamentos não da embalagem onde não havia esta informação.

Medicamentos vencidos
em anos anteriores
19%
Medicamentos dentro
do prazo de validade
Medicamentos com prazo
de validade ilegível
16% Outros
62%

3%

Figura 5 - Medicamentos descartados conforme seu prazo de validade, CS4, Taguatinga – DF, 2015

Os medicamentos foram classificados se- apareceram com mais frequência foram os me-
gundo a ATC. Dos 545 medicamentos listados, dicamentos destinados ao tratamento do siste-
para 522 foi possível realizar esta análise. Dos ma cardiovascular, seguidos pelos do aparelho
medicamentos analisados, segundo a tabela digestivo e metabolismo e aparelho génito-uri-
1, notou-se que os grupos farmacológicos que nário e hormônios sexuais.

Tabela 1 - Classificação dos medicamentos descartados segundo ATC, CS4, Taguatinga – DF, 2015

Classe farmacológica do medicamento Nº de itens (%)


Aparelho digestivo e metabolismo 96 (17,6)
Sangue e órgãos hematopoiéticos 24 (4,4)
Sistema cardiovascular 102 (18,7)
Dermatológicos 19 (3,5)
Sistema geniturinário e hormônios sexuais 70 (12,8)
22
(Continuação Tabela 1)

Classe farmacológica do medicamento Nº de itens (%)


Hormônios de uso sistêmico, exceto hormônios sexuais 20 (3,6)
Agentes Antiinfecciosos para uso sistêmico 32 (5,9)
Agentes antineoplásicos e imunomoduladores 1 (0,2)
Sistema músculo-esquelético 30 (5,5)
Sistema nervoso 63 (11,6)
Produtos antiparasitários 5 (0,9)
Sistema respiratório 55 (10,1)
Órgãos dos sentidos 3 (0,6)
Vários 2 (0,4)
Não classificados 23 (4,2)

Na figura 6 estão apresentadas as formas do originadas da comunidade ou mesmo de


farmacêuticas mais descartadas pelo CS4, sen- origem interna.

12%

8% Comprimido
Solução
3% Cápsulas
3% Suspensão
2% Pó
2% Creme
64% Pomada
6%
Outros

Figura 6 - Formas farmacêuticas mais descartadas CS4, Taguatinga – DF, 2015

Na figura 7 os medicamentos devolvidos e também nos grupos de amostras grátis e os


foram separados segundo a classificação ATC, devolvidos pela comunidade.

Amostras Grátis Devolvidos pela comunidade

59
56
53
45 45

33
30
23
17 19 19
15
12 11 11 10 9
8 9
6 6
2 1 0 3 2 1 2
Aparelho digestivo
e metabolismo
Sangue e órgãos
hematopoiéticos
Sistema
Cardiovascular

Dermatológicos

Sistema geniturinário
e hormônios
Hormônios de uso
sistêmico
Agentes Antiinfecciosos
para uso sistêmico
Agentes antineoplásicos e
imunomoduladores
Sistemo músculo-
esquelético

Sistema nervoso

Não classificados

Produtos
antiparasitários

Sistema respiratório

Órgãos dos sentidos

Figura 7 - Comparação das amostras grátis e medicamentos devolvidos pela comunidade,


divididos em grupos segundo a classificação ATC, CS4, Taguatinga – DF, 2015
23

Ao final da coleta de dados, foi estipulado cionados ao tema no DF, além de compor outros
um tempo médio necessário para a segregação dois trabalhos apresentados em congressos
e catalogação dos medicamentos a serem des- nacionais (Oliveira et al, 2015; Rodrigues et al,
cartados. Esse tempo foi estimado em 190 se- 2015), sempre recebendo um grande destaque
gundos por item. Levando em consideração os e servindo como modelo para a implantação
545 itens mensurados, foram necessárias apro- em outras unidades. Além disso, em 2015 foi
ximadamente 29 horas. criada no DF a Portaria nº 187 (Distrito Fede-
ral, 2015), que instituiu o serviço de Farmácia
Para a elaboração do banco de dados fo-
Clínica em diferentes pontos da rede incluindo
ram seguidas a seguintes etapas: separação
as unidades de saúde. A implementação des-
dos medicamentos devolvidos por data de va-
ses serviços possibilitará também a redução do
lidade e lote, remoção da embalagem secun-
descarte por meio de ações que visem à pro-
dária caso houvesse, tabulação dos dados e
moção do uso racional de medicamentos.
encaminhamento para o descarte.
Desconsiderando embalagens secundárias CONCLUSÃO
e bulas, todo o montante foi pesado para esti-
pular a quantidade em quilogramas destinada O papel do farmacêutico é essencial para
ao descarte, totalizando 10 quilos. Além disso, a o correto descarte de medicamentos imple-
incineração custa atualmente R$ 8,50 por quilo mentado neste Centro de Saúde. A avaliação
de medicamento, segundo a Associação Brasi- do perfil dos medicamentos descartados apon-
leira de Empresas de Tratamentos de Resíduos, ta para a responsabilidade ambiental e clínica
o que soma mais R$ 85,00. dos paciente.
Nesse contexto, o valor total estimado para o A responsabilidade ambiental está em pro-
descarte de medicamentos naquela unidade foi piciar o descarte adequado aos medicamentos
de R$ 5.204,04, considerando exclusivamente o diminuindo os impactos sobre o meio ambien-
pagamento das horas necessárias para a catalo- te e também a saúde dos catadores e de outros
gação dos medicamentos e o valor da incineração. trabalhadores em materiais recicláveis.
É preciso destacar que esse valor é Já a interface com a clínica está relacio-
subestimado uma vez que não se computou nada à necessidade da prestação de serviços
outros custos como o de armazenamento na farmacêuticos voltados à racionalização do
unidade e nem aquele relacionado às questões descarte. Entre os serviços cita-se a dispensa-
sanitárias como tempo para ir à vigilância ção a qual se encontra associada à redução da
sanitária para o cadastro dos medicamentos da quantidade de medicamentos a ser descartada,
Portaria nº 344 (BRASIL, 1998). seja pela dispensação adequada por meio da
quantidade exata para o tratamento (fraciona-
Próximos passos, desafios e necessidades mento) ou pela orientação para o uso correto.
Tem-se também a revisão da farmacoterapia
Há duas ações que devem ser incentivadas que pode ser adotada para promover a adesão
em Taguatinga e no Distrito Federal. A primeira à medicação, diminuindo o descarte de medi-
é a replicação desse processo de descarte em camentos por interrupção dos tratamentos.
outras unidades de saúde, em especial aquelas
da atenção primária que possuem uma maior REFERÊNCIAS
interlocução com a população.
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitá-
A segunda ação seria desenvolver estraté-
ria. Resolução RDC nº 306, de 7 de dezembro
gias vinculadas à atuação clínica do farmacêu-
de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico
tico, seja por meio de educação em saúde ou para o gerenciamento de resíduos de serviços
de outros serviços como a dispensação e a re- de saúde. Diário Oficial da União nº 237, Seção
visão da farmacoterapia, voltados em especial 1, p. 49. [citado em 05/05/2016]. Disponível em:
a redução dos resíduos gerados, bem como, a <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/
destinação correta quando gerados. res05/res35805.pdf>. Brasil. Ministério da Meio
O cenário é animador, uma vez que a pes- Ambiente. Política Nacional de Resíduos Sóli-
quisa já foi apresentada em dois eventos rela- dos. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.
24

mma.gov.br/pol%C3%ADtica-de-res%C3%AD- INSTITUIÇÃO
duoss%C3%B3lidos>. Acessado em 05/05/2016. Centro de Saúde Nº 4 de Taguatinga-DF
Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Resolução
do Conama nº 358 de 29 de abril de 2005. Dis- AUTORES
põe sobre o tratamento e a disposição final dos ​ aldelice Leite de Oliveira
W
resíduos dos serviços de saúde e dá outras pro- Leonardo Bernardes Rodrigues
vidências. Diário Oficial da União nº 084, Seção Laércio Silvano De Oliveira Júnior
1, p. 63-65. [citado em 05/05/2016]. Disponível Sarah Montiel Gomes Eloi
em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/ Micheline Marie Milward De Azevedo Meiners
res/res05/res35805.pdf>. Margô Gomes De Oliveira Karnikowski
Distrito Federal. Secretaria de Saúde. Portaria Camila Araújo Queiroz
nº 250, de 17 de dezembro de 2014. Disponível Vanessa Resende Nogueira Cruvinel
em: http://www.rcambiental.com.br/Atos/ver/ Emília Vitória Da Silva
PORT-SES-DF-250-2014/ Camila Alves Areda
Distrito Federal. Câmara Legislativa do Distrito Hayssa Moraes Pintel Ramos
Federal. Lei nº 5.092, de 3 de abril de 2013. [ci- Dayani Galato
tado em 05/05/2016]. Disponível em: <http://
legislacao.cl.df.gov.br/Legislacao/consultaTex- CONTATOS
toLeiParaNormaJuridicaNJUR-10265!buscarTex- wal_oliveira@uol.com.br
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Distrito Federal. Secretaria de estado da saúde. laercio.soji@gmail.com
Portaria 187 de 23 de julho de 2015. [citado em sarahmontieloi@gmail.com
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br/userfiles/file/PORTARIA%20N%C2%BA%20 margounb@gmail.com
187,%20DE%202015%20DA%20SECRETARIA%20 camilaqueiroz01@gmail.com
DE%20ESTADO%20DE%20SA%C3%9ADE%20 vanessarcruvinel@gmail.com
DO%20DISTRITO%20FEDERAL.pdf emiliavitoria@yahoo.com.br
caareda@gmail.com
Oliveira, WL; Vieira, AO; Alves, DR; Silva. EV; Gon- hayramoos@gmail.com
zaga, FC; GALATO, D. Descarte de Medicamentos: Dayani.galato@gmail.com
Perfil de uma unidade de saúde de Taguatinga
no Distrito Federal - DF. 2015. 
Rodrigues LB; Oliveira Junior, LS; Eloi, SMG; MEI-
NERS, M. M. M. A.; Karnikowski, MGO; Areda, CA;
Oliveira, WL; GALATO, D. . O custo do descarte de
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relato da experiência de uma unidade de saúde
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Vieria FS. Zucchi P. Aplicações diretas para a
aquisição de medicamentos no Sistema Úni-
co de Saúde. Revista de Saúde Pública 2011;
45(5):906-13.
25

Campo Grande/MS

Implantação dos serviços


de Farmácia Clínica na atenção
básica de Campo Grande
CARACTERIZAÇÃO res. Sua economia está baseada no setor de
serviços, seguido pela indústria e agropecuá-
Campo Grande, capital do Mato Grosso do ria, respectivamente.
Sul, possui extensão territorial de 8.092,95 km²
e está localizada geograficamente na porção Perfil epidemiológico
central do estado. A sede do município locali-
za-se nas imediações do divisor de águas das No município de Campo Grande, a taxa de
bacias do Paraná e Paraguai. mortalidade infantil vem reduzindo a cada ano,
A população do município ultrapassa 850 já a taxa de natalidade permanece constante
mil habitantes (IBGE 2015) e a maioria vive na desde o ano de 2005. Em 2014, 76% dos óbitos
zona urbana (98,66%). Existe predomínio da ocorreram na faixa etária acima de 50 anos de
população jovem, porém é crescente a parce- idade.
la de habitantes com mais de 60 anos. Há um No ano de 2014, ocorreram 5.048 óbitos no
equilíbrio entre o número de homens e mulhe- município. As doenças do aparelho circulató-
26

rio lideram o ranking de causas, com 29,2% das O processo de implantação do serviço per-
mortes. Em seguida, vieram os óbitos por neo- correu diversas etapas, sendo utilizado um mé-
plasias (19,91%); doenças do aparelho respira- todo de gerenciamento de projetos para sua
tório (12,64%); causas externas de morbidade e execução. As 9 unidades de saúde participan-
mortalidade (11,33%); e outras causas (26,92%), tes do projeto realizaram, no período compre-
segundo dados da Secretaria Municipal de Saú- endido entre abril e julho de 2016, 188 consul-
de (SESAU), de 2014. tas sendo 159 consultas iniciais e 29 de retorno.
Foram detectados 593 problemas relacionados
Estruturação da rede de saúde à farmacoterapia e foram realizadas 1005 inter-
venções farmacêuticas em 97,5% dos pacientes.
Os serviços de atenção primária da Rede Em toda a rede municipal de saúde existem
Municipal de Saúde de Campo Grande (Remus) 82 farmácias. A cobertura das unidades de saú-
são organizados em quatro distritos sanitários de por profissionais farmacêuticos, até abril de
(Norte, Sul, Leste e Oeste) e englobam 37 Uni- 2016, era de  80%, apesar de o município ter 102
dades Básicas de Saúde da Família (UBSF); 26 farmacêuticos vinculados à Coordenadoria de
Unidades Básicas de Saúde (UBS); uma unida- Assistência Farmacêutica (CAF). Isso se explica
de de Farmácia Especializada; quatro centros devido ao fato de vários farmacêuticos terem
de especialidades (Centro de Especialidades assumido funções e setores não assistenciais,
Médicas e Odontológicas, Centro de Doenças tais como gerência, chefia ou coordenadoria.
Infectocontagiosas e Parasitárias, Centro Or-
topédico e Centro de Saúde do Homem); dois RELATO DA EXPERIÊNCIA
hospitais municipais (Hospital da Mulher e
Hospital-Dia); nove unidades de Saúde 24 ho- A institucionalização das atividades clínicas,
ras, sendo quatro Centros Regionais de Saúde e no serviço aconteceu pela necessidade de am-
cinco Unidades de Pronto Atendimento (Upas); pliação das atividades farmacêuticas com foco na
cinco Centros de Atenção Psicossocial (Caps) segurança do paciente, como estratégia funda-
do tipo II (ambulatoriais) e um do tipo III (para mental para melhoria na qualidade da assistência
atendimento emergencial). e promoção do uso racional de medicamentos.
Da lista de unidades de saúde especiali- As etapas para se alcançar a ampliação dos
zadas fazem parte os Centros de Especialida- serviços farmacêuticos em Campo Grande fo-
des Municipal (CEM), Ortopédico (Cenort), de ram desenvolvidas ao longo dos anos. Foram
Atendimento à Mulher (Ceam), de Referência diversas as tentativas e diversos os fracassos
à Saúde do Homem (CRSH), de Especialida- para efetiva implementação de um serviço de
des Infantil (CEI), e de Doenças Infecto-Para- Farmácia Clínica.
sitárias (Cedip/SAE/HD); a Unidade Especia-
lizada de Reabilitação e Diagnóstico (Uerd); A fomentação com um seminário de assis-
seis Centros de Atenção Psicossocial (Caps), tência farmacêutica, realizado em 2014, iniciou a
sendo um Caps Infantil (Capsi), um Caps III, proposta a ser formulada e implantada. Esse se-
um Caps Álcool e Drogas, dois Caps II, e um minário contou com a participação de usuários,
Caps Pós-Trauma (CAPPT); dois Centros de técnicos de diversos serviços da Sesau, gestores
Especialidades Odontológicas (CEO III e CEO e farmacêuticos. Durante as discussões, ficou
II) e ambulatórios especializados. evidente para os participantes a necessidade
de uma mudança nas práticas do farmacêutico
Assistência farmacêutica e no papel da Farmácia nas unidades de saúde:
era necessário fazer mais do que apenas ga-
Em complemento às etapas logísticas do rantir o acesso. Os usuários exigiram o atendi-
ciclo de assistência farmacêutica, este projeto mento farmacêutico diferenciado.
visa promover o uso racional de medicamentos A partir deste seminário e da experiência
e o melhor acompanhamento ao tratamento acumulada de outros anos, foi criado um grupo
dos pacientes. Para isso, foi implantado o ser- técnico para elaboração e execução do projeto
viço de Farmácia Clínica nas unidades básicas de implantação do serviço de Farmácia Clíni-
de Saúde do município de Campo Grande. ca. A primeira ação foi definir uma metodologia
27
para gerenciar o andamento do projeto, basea- • Conselho Federal de Farmácia (CFF) e Con-
da no PMBOK Guide (descrita na metodologia). selho Regional de Farmácia do Estado de
A formulação e gerenciamento do projeto en- Mato Grosso do Sul (CRF-MS):
volveu as seguintes etapas: 1. aprovação do projeto;
2. apoio técnico para execução do projeto;
Identificação das partes envolvidas no
3. apoio para execução do treinamento
projeto e recursos necessários
dos farmacêuticos.
Para o adequado desenvolvimento do pro-
jeto foram essenciais a aprovação e o apoio, • Conselho Municipal de Saúde:
com o provimento dos recursos necessários, de 1. aprovação do projeto;
diversas instâncias da Sesau. Segue uma des- 2. avaliação da execução do projeto e do
crição de cada parte envolvida e de suas res- serviço implantado;
pectivas responsabilidades: 3. apoio institucional à execução do
projeto.
• Secretário de Saúde, Diretoria de Assistên-
cia à Saúde:
• Grupo de trabalho em Farmácia Clínica:
1.  aprovação do projeto;
1. elaboração do projeto de implantação
2. provimento de recursos necessários do serviço de Farmácia Clínica;
para desenvolvimento do projeto;
2. execução do projeto de implantação do
3. provimento dos recursos necessários serviço de Farmácia Clínica.
para funcionamento do serviço;
4. destinação dos recursos humanos para Análise de riscos
adequado funcionamento do serviço;
5. destinação da estrutura física ade- Riscos são eventos ou condições desco-
quada para o funcionamento do ser- nhecidas que podem afetar os objetivos do
viço; projeto de forma positiva ou negativa. Todo
projeto tem riscos. Por isso é preciso antecipá-
6. criação do serviço de Clínica Farmacêu-
-los e realizar uma análise de riscos. Isto é feito
tica, subordinado à CAF.
em quatro etapas:
• encontrar os riscos;
• Coordenação de Assistência Farmacêutica:
• analisar os riscos;
1. aprovação do projeto;
• desenvolver o plano de riscos;
2. coordenação e supervisão da execução
do projeto; • mitigar os riscos antes que eles tomem
proporções que possam prejudicar o
3. coordenação, supervisão e avaliação do
projeto.
serviço implantado;
4. interlocução com as demais coorde- Os riscos encontrados devem ser classifi-
nadorias e serviços da Sesau nas di- cados quanto aos seguintes apectos:
versas etapas de desenvolvimento do
- impacto no projeto;
projeto;
- probabilidade de ocorrência.
5. montar um grupo de trabalho para exe-
cução do projeto; Os riscos possuem fatores desencadeantes
6. cessão de local para reuniões e aulas, ou gatilhos. Deve-se desenvolver ferramentas
computadores, data-show, telefone, im- para identificar estes fatores quando eles es-
pressora e materiais de escritório ne- tão atingindo o projeto ou, preferencialmente,
cessários; antes que eles comecem a afetá-lo. A análise de
7. cessão de carro da CAF para realizar vi- riscos é uma ferramenta utilizada pela equipe
sitas às unidades durante a execução envolvida, não deve ser apresentada no proje-
do projeto. to nem divulgada para todos os envolvidos.
28

Execução do projeto INÍCIO

O projeto de implantação da Farmácia Identificação de pessoas envolvidas no


Clínica, em sua tramitação,  foi apresentado projeto: realizamos discussões para identificar
para todos os órgãos competentes e obteve as pessoas envolvidas diretamente ou indire-
aprovação da Diretoria de Assistência à Saúde, tamente no projeto. Foram definidas estraté-
da Coordenação de Assistência Farmacêutica, gias  para conseguir o apoio e aprovação com
do CFF, do CRF-MS e, por unanimidade, no Con- todos os envolvidos.
selho Municipal de Saúde.
A cada parte envolvida na aprovação e PLANEJAMENTO
apoio ao projeto foram descritos os recur-
sos necessários para o desenvolvimento do A principal ação realizada no planejamento
mesmo, entre eles: os recursos humanos foi a análise dos riscos.
(farmacêuticos e assistentes de serviço de Segundo o PMI, risco é “um evento ou condi-
saúde), estrutura física adequada, criação ção incerta que, caso ocorra, tem um efeito ne-
do serviço de Clínica Farmacêutica, coor- gativo ou positivo sobre os objetivos do projeto”.
denação, supervisão e avaliação do serviço
Identificamos e definimos ações para miti-
implantado, recursos e apoio técnico para
gar qualquer risco que pudesse afetar negati-
realização de capacitações contínuas dos
vamente o projeto.
profissionais envolvidos, além de apoio ins-
titucional à execução do projeto. Em Campo
Grande, implantou-se a consulta farmacêu- EXECUÇÃO
tica em seis unidades de Saúde.
Com a análise de envolvidos e a análise
Nas unidades de Saúde, o projeto foi apre- de riscos definidas, iniciamos as etapas de im-
sentado pela comissão responsável e o fluxo plantação do serviço nas unidades de Saúde.
dos atendimentos do profissional farmacêutico
pactuado com a toda equipe. O projeto também Definições como cronograma, atribuições
obteve incentivo e aprovação dos servidores de de tarefas para a equipe e definição de metas
cada unidade, entre eles médicos, enfermeiros, a serem atingidas foram fundamentais para o
assistentes sociais, agentes de saúde e admi- sucesso do projeto.
nistrativos.
MONITORAMENTO E CONTROLE
METODOLOGIA
Periodicamente, é feita a reavaliação dos
Utilizou-se uma metodologia de geren- riscos envolvidos, do desempenho de cada
ciamento de projetos da instituição america- membro da equipe e do cumprimento do cro-
na Project Management Institute (PMI), des- nograma.
crita na publicação “A Guide to the Project A flexibilidade e capacidade de adaptar o
Management Body of Knowledge®, (PMBOK® projeto aos problemas que surgem é uma habi-
Guide) – Fifth Edition”. lidade indispensável para atingir os objetivos.
O gerenciamento do projeto foi dividido
nas seguintes etapas: Descrição dos impactos gerados com esta
experiência
a) início
b) planejamento As 9 unidades de Saúde participantes do
c) execução projeto realizaram, no período compreendi-
d) monitoramento e controle do entre abril e julho de 2016, 188 consultas
sendo 159 consultas iniciais e 29 de retorno.
e) fechamento Na análise de perfil desses pacientes iden-
Em cada etapa foram realizadas discussões tificou-se que 74,2% relataram autonomia
e definidas algumas ações: na gestão de medicamentos, 77,4% não pra-
29

ticam exercícios físicos e 56% apresentam por paciente. A maioria dos problemas foi
alto grau de risco cardiovascular. Foram de- relacionada à administração e adesão ao
tectados 593 problemas relacionados à far- tratamento, conforme discriminados no grá-
macoterapia, uma média de 3,7 problemas fico a seguir.

Figura 1. Prevalência de categorias de problemas relacionados à farmacoterapia


entre pacientes atendidos no serviço de Farmácia Clínica no município de
Campo Grande, entre abril e julho de 2016

60,00%
52,00%
50,00%

40,00%

30,00%
22,60%

20,00%
13,99%

10,00%
3,54% 2,36% 2,20% 2,20% 1,20% 0,16%
0,00%
ão

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Qu

Mais de 88,1% dos usuários atendidos em As doenças prevalentes mais encontradas


primeira consulta apresentaram algum proble- foram diabetes e hipertensão. Para solucionar
ma de farmacoterapia. Constatou-se que 50,2% e prevenir os problemas identificados foram
(n=83) dos pacientes omitiram doses dos medica- realizadas 1005 intervenções farmacêuticas em
mentos e 44% (n=70) apresentaram frequência e 97,5% dos pacientes (n=155). As intervenções
horário de administração incorreto. Isto demons- estão demonstradas no gráfico a seguir. A mé-
tra a necessidade de serviços farmacêuticos di- dia por paciente foi de 6,5 intervenções farma-
recionados a melhorar a adesão ao tratamento. cêuticas.

Figura 2 - Intervenções farmacêuticas realizadas aos pacientes atendidos no serviço de


Farmácia Clínica no município de Campo Grande, no período abril a julho de 2016

60%

49%
50%

40%

30%

20%
20%
13%
11%
10% 7%

0%
Aconselhamento Provisão de Recomendações Alterações na Encaminhamento
materiais de exames farmacoterapia
30

Em relação às consultas de retorno, apesar As intervenções farmacêuticas aos pacien-


da pequena amostragem (n= 29), em decorrên- tes polimedicados garantem o uso racional de
cia do curto período de tempo do início das ati- medicamentos e, por meio desse cuidado, po-
vidades, constatou-se que, com as intervenções de-se planejar estratégias de monitoramento
farmacêuticas, houve melhora significativa na e melhoria contínua. Além do paciente ser o
adesão ao tratamento farmacoterapêutico. Isto maior beneficiado com atenção integral, o far-
foi comprovado após a aplicação dos questio- macêutico alcança a realização profissional e
nários validados de Morinsky Green e Haney-Sa- ganha maior valorização dos demais membros
quet. Na primeira consulta identificou-se 27% da equipe e da população.
de adesão e, no retorno, 72,7%. A aposta, então, é que o farmacêutico pos-
Como resultados desenvolvidos neste cur- sa qualificar a atenção integral aos usuários a
to período, já podemos verificar maior adesão partir da sua prática clínica, e também poten-
ao tratamento, mudanças de comportamentos, cializar ações realizadas pelos demais profis-
realizações de exames de monitoramento, reali- sionais no que se refere ao uso racional de me-
zações de consultas médicas e alterações na far- dicamentos, seja no âmbito da promoção, da
macoterapia. Observa-se um quadro de mudan- prevenção ou da reabilitação em saúde.
ças positivas após as consultas farmacêuticas em
prol da efetividade na farmacoterapia. Porém, um
maior tempo de observação é necessário para a
retirada de conclusões definitivas.

Próximos passos, desafios e necessidades

Após a implantação nas unidades piloto, o


desafio é expandir o projeto para 70% das UBS
e UBSF de Campo Grande. Para garantir essa
expansão, bem como a qualidade do serviço, é
essencial a disponibilização, por meio de con-
curso público, de mais farmacêuticos e auxilia-
res de farmácia. De acordo com o planejamen-
to, já exposto ao Conselho Municipal de Saúde
e aos gestores, pretendemos disponibilizar um
auxiliar de farmacêutico (cargo já existente)
para cada farmácia onde esteja ocorrendo a
consulta farmacêutica.
Farmacêutico Felipe Marques Rocha realizando
A criação de um serviço específico de Far- consulta farmacêutica
mácia Clínica dentro da Coordenadoria de As-
sistência Farmacêutica  também é de extrema
importância para a continuidade do projeto.
Outro ponto essencial é garantir o treina-
mento contínuo dos farmacêuticos. A atuação
clínica requer esta constante atualização e as
parcerias firmadas com as instituições de en-
sino superior visam justamente  a esse apoio
técnico educacional.

CONCLUSÃO

A inserção da assistência farmacêutica nas


práticas clínicas otimiza os benefícios e mini- Farmacêutico Marcelo da Silva Dias realizando
miza os riscos relacionados à farmacoterapia. consulta farmacêutica
31
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ci-
ência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. De-
partamento de Assistência Farmacêutica e In-
sumos Estratégicos. Cuidados farmacêuticos na
atenção básica: caderno 2. Brasília, 2014.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ci-
ência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. De-
partamento de Assistência Farmacêutica e In-
sumos Estratégicos. Cuidados farmacêuticos na
atenção básica: caderno 3. Brasília, 2014.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ci-
ência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. De-
partamento de Assistência Farmacêutica e In-
sumos Estratégicos. Cuidados farmacêuticos na
atenção básica: caderno 4. Brasília, 2014.
Project Management Institute (PMI), descrita
na publicação “A Guide to the Project Manage-
ment Body of Knowledge®, (PMBOK® Guide) –
Fifth Edition”.

INSTITUIÇÃO
Documento de registro de encaminhamento de paciente Secretaria Municipal de Saúde de Campo Gran-
de (MS)

AUTORES

REFERÊNCIAS Amador Alves Bonifácio Neto                    


Juliana Manvailler                                      
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ci- Ana Helena da Silva Gimenes
ência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. De-
partamento de Assistência Farmacêutica e In- CONTATO
sumos Estratégicos. Cuidados farmacêuticos na amador_neto@hotmail.com
atenção básica: caderno 1. Brasília, 2014. julifarma28@gmail.com
32

Espírito Santo

Sistema Estadual de
Registro de Preços (Serp): compra
eficiente de medicamentos na
atenção primária à saúde
CARACTERIZAÇÃO prematuras e perda de qualidade de vida da
população.
O estado do Espírito Santo possui 3.885.049 As doenças do aparelho circulatório re-
habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de presentam a primeira causa de óbito para
Geografia e Estatística (IBGE/2014). A região ambos os sexos, ganhando forte significado
metropolitana corresponde a 43,4% da popu- a partir dos 50 anos de idade. Destacam-se
lação. Do total, aproximadamente 83% reside os óbitos por doença isquêmica do coração
na zona urbana. A densidade populacional é de e doença cerebrovascular, ocupando 34% e
84,28 habitantes/km2. 32% respectivamente. Enquanto em indiví­
duos do sexo masculino a incidência de óbi-
Perfil epidemiológico tos por doença cardíaca foi maior, no sexo fe-
minino prevaleceram as mortes por doenças
As doenças crônicas não transmissíveis cerebrovasculares. O infarto agudo do mio-
são as principais responsáveis pelas mortes cárdio foi responsável por 85% das mortes
33
por doença isquêmica do coração em 2010, Assistência farmacêutica
seguido pelas doenças isquêmicas crônicas,
com 12%. Entre as mortes por doenças cere- A assistência farmacêutica estadual possui
brovasculares, o acidente vascular cerebral uma equipe composta por 85 farmacêuticos, 02
foi responsável por 86%. nutricionistas, 43 médicos, 01 enfermeira, 04
A epidemia de Aids no Espírito Santo é con- assistentes sociais e 129 profissionais de nível
siderada estável. No ano de 2004 existiam 16,7 médio.
pessoas com Aids para cada 100 mil habitantes. O acesso aos medicamentos do Compo-
Em 2010, essa taxa permaneceu em 16,6, apre- nente Especializado da Assistência Farmacêuti-
sentando uma média de 500 casos novos por ca (Ceaf) no estado do Espírito Santo se dá por
ano nesse período. meio das farmácias cidadãs estaduais, novo
As coberturas vacinais de rotina em me- modelo em farmácia pública, com ênfase na
nores de 01 ano no Espírito Santo atingem as humanização e presença permanente de far-
metas preconizadas pelo Ministério da Saú- macêuticos na dispensação. Atualmente, exis-
de (90% para o BCG e 95% para as demais tem dez farmácias em diferentes municípios,
vacinas). abrangendo várias regiões do estado. No ano
de 2015, foram realizados 740 mil atendimentos
Estruturação da rede de saúde e abertos 25 mil novos processos de solicitação
de medicamentos, os quais são avaliados de
O estado conta com uma rede hospita- acordo com normas definidas em protocolos
lar própria, composta por 15 hospitais, distri­ clínicos.
buídos em 10 municípios, sendo que 03 destes Os medicamentos do Componente Bá-
hospitais são administrados por Organização sico da Assistência Farmacêutica (Cbaf ) são
Social (OS). financiados pelas três esferas de gestão, ad-
Além da rede hospitalar, o estado conta quiridos pelos municípios e dispensados nas
ainda com os seguintes serviços de referência: farmácias das unidades de saúde e farmácias
cidadãs municipais dos 78 municípios do es-
a) O Centro de Atendimento Psiquiátrico Dr.
tado. Atualmente, existem 12 farmácias cida-
Aristides Alexandre Campos (CAPAAC);
dãs municipais.
b) O Laboratório Central (Lacen);
c) O Centro de Atendimento Toxicológico RELATO DA EXPERIÊNCIA
do Espírito Santo (Toxcen);
d) O Centro de Reabilitação Física do Esta- O governo do estado do Espírito Santo, por
do do Espírito Santo (Crefes); meio da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa),
em parceria com diversas outras instituições,
e) Os Centros Regionais de Especialidades realizou, em 2006, o “Diagnóstico Estadual da
(CRE), onde são ofertadas consultas es- Assistência Farmacêutica na Atenção Primária
pecializadas e exames de apoio diag- em Saúde”. Foram envolvidos 25 pesquisado-
nóstico; res e trabalhou-se com uma amostragem de
f) Rede Nacional de Atenção Integral a 10 municípios, por meio de uma metodologia
Saúde do Trabalhador (Renast): validada e proposta pela Organização Mundial
g) O Centro de Hemoterapia e Hemato- de Saúde (OMS).
logia do Espírito Santo (Hemoes): res- A partir desses estudos, debateu-se e for-
ponsável pela capitação e qualidade mulou-se a política farmacêutica para o estado
do sangue fornecido a todos que dele com os diversos segmentos e atores afins, sen-
necessitam. Coordena, ainda, a Política do o segundo estado da Federação a implantar
Estadual de Assistência Integral às Pes- uma política própria na área.
soas com Doença Falciforme e outras Por meio desse diagnóstico, definiram-
Hemoglobinopatias; -se várias ações necessárias, no sentido de
h) O Centro de Referência em Homeopatia organizar e estruturar as diversas frentes de
e Acupuntura do ES. trabalho na área de assistência farmacêuti-
34
ca, inclusive um Sistema Estadual de Regis- internet contempla, além da adesão/progra-
tro de Preços (Serp). mação a publicação das atas, possibilitando
A Sesa formulou e apresentou aos gestores aos usuários realizarem os pedidos e poste-
municipais, por meio do Conselho dos Secretá- riormente informar ao sistema o recebimento
rios Municipais de Saúde (Cosems), a proposta do medicamento e o pagamento ao fornecedor,
de estruturação do Serp. sob pena do sistema não autorizar a realização
de novos pedidos.
Após a adesão, cada município elaborou
sua programação, com a estimativa de neces- Anualmente, a Sesa convida oficialmen-
sidades dos itens padronizados na Rememe te todos os 78 municípios para participa-
(Relação Estadual de Medicamentos) para 12 rem da programação anual do Serp. Então,
meses de consumo. Todas as diferentes pro- os municípios participantes elaboram a sua
gramações foram consolidadas pela Secretaria, programação no sistema de gestão do Serp,
com a estimativa de necessidades dos itens
transformando-se em um único objeto a ser li-
padronizados para 12 meses de consumo. As
citado, em escala muito maior do que seria a
programações são consolidadas pela Secre-
compra fragmentada por cada município.
taria e transformam-se em um único objeto
Realizou-se os vários pregões eletrônicos, a ser licitado. Este ano (2016), 58 municípios
por meio da Comissão Permanente de Licitação aderiram ao Serp, abrangendo mais de 3,28
da Sesa. Após a tramitação e cumprimento de milhões de pes­soas, o que representa 84,5%
todas as etapas previstas na legislação, dispo- da população do estado.
nibilizou-se as Atas de Registro de Preços para
São realizados vários pregões eletrôni-
serem utilizadas pelos gestores municipais.
cos, por meio da Comissão Permanente de
Em paralelo, foi realizada uma consulta Licitação da Sesa. Após a tramitação e cum-
prévia ao Tribunal de Contas do Estado do Es- primento de todas as etapas previstas na le-
pírito Santo acerca da legalidade da adesão e gislação, as Atas de Registro de Preços são
utilização dos gestores municípais do Serp. O disponibilizados para os municípios, para se-
parecer favorável subsidiou e respaldou a arti- rem executadas. As atas possuem vigência de
culação e mobilização dos secretários munici- 12 meses.
pais de Saúde.
Os pedidos são realizados pelos municí-
A gestão do Serp é realizada pela Sesa, pios em qualquer tempo e de acordo com sua
por meio da Gerência Estadual de Assistên- programação prévia e necessidade. A entrega
cia Farmacêutica (Sesa/Geaf). Nesse modelo dos medicamentos é feita diretamente ao mu-
idealizado, a Secretaria faz apenas a gestão nicípio e a prefeitura faz o pagamento ao for-
virtual do mesmo, não se envolvendo em ne- necedor, preservando sua autonomia.
nhuma logística de suprimento nem na ges-
Após a realização dos pedidos é montado
tão financeira.
um processo interno e encaminhado ao se-
Objetivando-se facilitar o uso do Serp, ela- cretário municipal de Saúde, para avaliação
borou-se um passo a passo para orientar os e aprovação. O processo é, então, enviado ao
gestores municipais, disponibilizando-se toda Fundo Municipal de Saúde, para empenho e
a funcionalidade por meio da internet. confecção da autorização de fornecimento (AF)
e envio ao(s) fornecedor(es). As atas são dispo-
METODOLOGIA nibilizadas, os pedidos realizados e há relatos
de alguns municípios em que as AF são emiti-
A Sesa disponibiliza a todos os municípios das em 05 dias.
um sistema de gerenciamento do Serp via in- O grande diferencial do projeto é que
ternet. Para o acesso é necessário um cadastro não são necessários investimentos, além
prévio e posterior disponibilização de senha. A daqueles já previstos. O Serp promove, na
Sesa treinou todos os coordenadores munici- verdade, uma economia de recursos, já que
pais da assistência farmacêutica. inúmeros processos licitatórios nas prefei-
Após o primeiro acesso, o usuário pode al- turas, que envolvem vários recursos huma-
terar a senha. O sistema de gerenciamento via nos e materiais, podem ser substituídos por
35
um processo único, aproveitando a experi- que saem não repassam as informações ao
ência e a estrutura já existente. seu sucessor.
Para coordenar e articular todo o processo, Constatamos que, a principal necessidade
a Sesa disponibiliza um farmacêutico exclusi- do projeto hoje, é a contratação de outro pro-
vamente para tratar do Serp. fissional, pois o Serp é gerenciado por apenas
Há que se ressaltar ainda, que não existe um farmacêutico, além da estrutura da Comis-
custo extra com o armazenamento, controle, são Permanente de Licitação da Sesa. Além dis-
guarda e distribuição de medicamentos pela so, é necessário concluir o relatório do sistema
Sesa, pois essa logística é feita diretamente de gerenciamento do Serp, para uma melhor
com os municípios. gestão.

Descrição dos impactos gerados com esta ex- CONCLUSÃO


periência
Os 58 municípios que aderiram ao Serp be-
O projeto teve início em 2008 e já está na neficiam potencialmente 84,5% da população
8º edição. Na 1ª edição, houve uma redução de do estado. Isso possibilita acesso ampliado e
83% nos preços do Serp em relação aos prati- regular aos medicamentos da atenção primária
cados pelos municípios. Hoje não faz mais sen- à saúde, garantindo tratamentos eficazes, sem
tido fazer um paralelo entre os preços adquiri- interrupção e consequente melhoria na quali-
dos pelo Serp com os dos municípios. dade de vida.
O elenco de medicamentos conta com O Serp é uma das estratégias da Sesa para
288 itens, sendo 284 medicamentos e 04 in- fortalecer a atenção primária, que deve ser or-
sumos para os usuários insulinodependen- ganizada como porta de entrada do sistema
tes (fita reagente para glicose, seringas e de saúde, enfatizando sua função resolutiva, a
microlanceta). fim de atender a maioria das necessidades em
saúde da população (doenças mais prevalen-
Atualmente, o Sistema conta com 58 (74%)
tes), evitando-se a complicação dos agravos e a
municípios participantes o que representa
necessidade de internação na rede hospitalar,
84,5% população do estado, ou seja, 3.281.153
que é extremamente sobrecarregada.
pessoas.
Por meio do Serp, incentiva-se o municí-
Próximos passos, desafios e necessidades pio a utilizar adequadamente a ferramenta
do planejamento, conhecer o perfil de saú-
A lista de medicamentos e insumos deve de de sua população, para que então possa
ser aperfeiçoada constantemente, pois foi ve- elaborar uma programação adequada dos
rificado que os itens com quantitativo consoli- medicamentos de atenção básica a serem
dado extremamente pequeno, apresentam um adquiridos.
alto índice de fracasso nos certames licitató- Além disso, podemos destacar como prin-
rios. Portanto, periodicamente, é necessário cipal conhecimento adquirido no desenvol-
reavaliar a lista de medicamentos. vimento desse projeto o fato de que grandes
Um dos principais desafios verificado é a resultados não dependem necessariamente
constante substituição dos gestores munici- de projetos e ações complexas e caras. Muitas
pais (secretários e farmacêuticos), o que leva vezes, em gestão, boas doses de criatividade e
a uma descontinuidade do serviço e neces- espírito empreendedor, são capazes de forjar
sidade de convencimento e treinamento dos a construção de soluções extremamente úteis
novos gestores, visto que os profissionais à nossa sociedade e às organizações públicas.
36
37
38
39

REFERÊNCIAS

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Es-


tatística. <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/
uf.php?lang=&coduf=32&search=espirito-san-
to-> acesso Maio/2016.
Plano Estadual de Saúde 2012/2015. Secretaria
de Estado da Saúde. Governo Do Espírito Santo.
Vitória, novembro de 2012.

INSTITUIÇÃO
Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo

AUTORES
Lucienne Bermond Fadini
Fábio Rogério Gomes Pereira

CONTATOS
luciennefadini@saude.es.gov.br
geaf.serp@saude.es.gov.br
40

Betim/MG

Implantação do serviço de
acompanhamento farmacoterapêutico
em unidade de atenção primária
à saúde de Betim: experiência
do Projeto Dia a Dia
CARACTERIZAÇÃO
concentração populacional na faixa etária de
20 a 49 anos, mas as taxas de crescimento
O município de Betim possui extensão ter-
apresentam redução. Nota-se uma aceleração
ritorial de 344 km2 e faz parte da região metro-
no envelhecimento da população, com tendên-
politana de Belo Horizonte, estando localizado
a uma distância de 30 km da capital mineira. cia de redução dos jovens, que serão supera-
Segundo estimativa do IBGE, em 1O de julho de dos pelos idosos.
2015, o município contava com 417.307 habitan- O planejamento estadual da década de 50,
tes. A pirâmide demográfica apresenta maior destinou a Betim duas funções econômicas: a
41
industrialização de base, representada pelas quatro unidades de atendimento imediato,
siderúrgicas, e a produção de alimentos para dois hospitais, um laboratório hospitalar, um
o abastecimento local. Nestes últimos 30 anos, hemocentro, quatro centros de referência em
o parque industrial de Betim cresceu e se di- saúde mental, dois centros de especialidades
versificou. Além de polo petroquímico e auto- médicas, um centro de atendimento psicosso-
motivo, a cidade também abriga importantes cial para dependentes de álcool e droga, uma
indústrias nos setores de metalurgia, alumínio, maternidade e um centro de controle de zoo-
mecânica e logística (BETIM, 2014). noses (BETIM, 2014).
A UAPS Petrovale, local do estudo, atende a
Perfil epidemiológico uma população estimada em 7.683 habitantes.
É composta por três equipes da Estratégia Saú-
Em Betim, nos anos de 2007 a 2010, obser- de da Família (ESF), com formação integral no
vou-se uma queda na taxa de mortalidade por período analisado (médico, enfermeiro, auxi-
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na liar de enfermagem e agentes comunitários de
faixa etária de 20 a 69 anos de idade, da ordem saúde). Conta ainda com uma equipe de apoio
de 435 óbitos para 346 óbitos para cada 100.000 formada por um clínico geral, um pediatra e
habitantes. Entre as internações hospitalares, uma ginecologista, além de auxiliares de enfer-
verifica-se que a principal causa, após excluí- magem e administrativos (BETIM, 2014).
dos gravidez, parto e puerpério, são as lesões,
envenenamentos e outras causas externas, que Assistência farmacêutica
respondem por 11,5% das internações e 10,4%
do valor pago por internações de habitantes de O município de Betim conta com 26 farmá-
Betim, em 2011. Na sequência, encontram-se as cias nas UAPS. Possui ainda quatro farmácias
doenças do aparelho circulatório (12,7%), e apa- nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs),
relho respiratório (11,9%). No município de Be- uma farmácia no Centro de Referência Especia-
tim, as doenças do aparelho circulatório foram lizado Divino Braga, uma Unidade Dispensadora
responsáveis pelo maior número de mortes en- de Medicamentos (UDM) – do Serviço Especia-
tre os anos de 2009 e 2011, ocupando segundo lizado de Prevenção e Atendimento a Doenças
lugar no período de 2005 a 2008, com tendên- Infectocontagiosas –, três farmácias no Centro
cia de crescimento. Entre as doenças do apare- Especializado de Referência Saúde Mental (Cer-
lho circulatório, as doenças cerebrovasculares sam), uma farmácia no Hospital Público Regio-
respondem por mais de um terço das mortes, nal de Betim, uma farmácia na Maternidade
seguidas por outras doenças cardíacas e pelas Municipal, a Farmácia Viva (manipulação de
doenças isquêmicas do coração, principalmen- medicamentos fitoterápicos e homeopáticos) e
te o infarto agudo do miocárdio (BETIM, 2013). uma Farmácia Popular do Brasil (BETIM, 2014).
Em relação ao diabetes, considerando a A assistência farmacêutica de Betim tem
população do município de Betim, para maio- como estratégia garantir o acesso aos medi-
res de 20 anos, (estimativa de 417.307 habi- camentos disponíveis na Relação Municipal
tantes, IBGE 2015), a população diagnosticada de Medicamentos Essenciais (Remume). A lis-
estaria em torno de 23 mil pessoas. A taxa de ta conta com 308 apresentações padronizadas;
mortalidade pela doença tem uma tendência desses, 231 são dispensados aos pacientes, e
crescente, saindo de 8,8 por 100.000 habitan- 77 são de uso interno nas unidades. A assistên-
tes em 2007 para 18,2 por 100.000 habitantes cia farmacêutica desenvolve ainda ações para
em 2011 (BETIM, 2013). atender às demandas de medicamentos não
constantes na Remume, de medicamentos para
Estruturação da rede de saúde doenças de baixa prevalência, para casos de
falha terapêutica ou para eventos adversos aos
O município de Betim possui 270 estabe- medicamentos padronizados. Também direcio-
lecimentos de saúde listados no Cadastro Na- na a elaboração e/ou a renovação dos proces-
cional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). sos de solicitação de medicamentos do Com-
A rede de atendimento é formada por 34 uni- ponente Especializado à Secretaria de Estado
dades de atenção primária à saúde (UAPS), de Saúde (SES).
42

RELATO DA EXPERIÊNCIA rapy Workup (PW) e Dáder para o acompanha-


mento farmacoterapêutico. Neste trabalho, a
O uso racional de medicamentos continua autora faz uma revisão dos PRM registrados no
a ser a exceção e não a regra na nossa socie- sistema com referencial do método PW.
dade, mesmo para aquelas pessoas que têm A fim de aperfeiçoar a operacionalidade
acesso aos medicamentos prescritos. Mais da do atendimento foram desenvolvidas algumas
metade de todas as prescrições estão incorre- ferramentas ao longo do trabalho, tais como
tas e mais da metade das pessoas não conse- planilha de monitoramento dos parâmetros
guem aderir à prescrição corretamente. Assim, clínicos, antropométricos e laboratoriais; bol-
não basta garantir o acesso aos medicamentos, sinha de tecido para guarda de medicamentos
é preciso garantir a utilização adequada, que e orientação e posologia aos pacientes; carta
conduza aos melhores resultados possíveis padrão de comunicação com médicos de ou-
para o paciente e para a sociedade (OLIVEIRA, tros serviços; um impresso modelo de curva de
2011). glicemia aos pacientes e um bilhete de agen-
A identificação e a resolução dos proble- damento dos retornos.
mas relacionados ao uso de medicamentos Neste estudo foi realizada uma reavalia-
(PRM) no serviço de acompanhamento farma- ção dos dados no Sigaf identificando os PRM
coterapêutico (AF) podem mudar essa realida- segundo o método PW, que os classifica em:
de, trazendo economia de recursos ao sistema. 1) medicamento desnecessário; 2) necessita
Há uma redução de internações e atendimen- de medicamento adicional; 3) medicamento
tos de urgência, bem como um avanço na qua- inadequado; 4) dose inferior ao necessário; 5)
lidade de vida de pacientes com diabetes, reação adversa aos medicamentos; 6) dose su-
contribuindo para o controle da doença e mini- perior ao necessário e 7) adesão inapropriada
mizando as possíveis complicações. ao medicamento.
A experiência relatada fez parte do Projeto Foram realizadas 132 consultas ao longo do
Dia a Dia, uma iniciativa da Universidade Fede- período estudado. Após o convite feito a 22 pa-
ral de Minas Gerais (UFMG) que tem entre seus cientes, 82% compareceram à primeira consul-
objetivos específicos capacitar os farmacêu- ta agendada e 59% concluíram o acompanha-
ticos do SUS nesse estado, para realização de mento de 12 meses que foi proposto.
AF e aplicação de uma metodologia da prática Determinada uma data de abordagem,
para indivíduos com diabetes (ACURCIO, 2010). 22 entre todos os pacientes que compare-
No período de julho de 2013 a agosto de 2014, ceram à farmácia com prescrição de algum
22 pacientes com diabetes foram acompanha- medicamento indicado para o tratamento de
dos pela farmacêutica na UAPS Petrovale, no diabetes foram convidados a participar do
município de Betim, Minas Gerais. Projeto Dia a Dia. Importante ressaltar que
22 pacientes era o número máximo compa-
METODOLOGIA tível com a capacidade de atendimento da
farmacêutica. Todos assinaram o Termo de
Os farmacêuticos do município foram con- Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
vidados a participar do projeto e acompanhar,
A partir daí, foi agendada a primeira
por um ano, os pacientes com diabetes. Foram
consulta. O paciente foi orientado a levar to-
capacitados presencialmente por dois dias e
dos os seus medicamentos em uso, as pres-
acompanhados ao longo do estudo, por meio crições, os últimos exames e o glicosímetro.
de reuniões, contatos por telefone e e-mail. Nessa consulta, foram avaliados: descrição
As consultas foram registradas no Sistema dos medicamentos e forma de uso; descrição
Integrado de Gerenciamento da Assistência Far- de queixas e condições de saúde; hábitos de
macêutica do Governo do Estado de Minas Ge- vida; monitoramento clínico com aferição
rais (Sigaf) e os dados enviados a uma central, de pressão arterial, glicemia capilar, circun-
que compilava os resultados. O sistema possui ferência da cintura e quadril, peso, altura,
um módulo de Cuidado Farmacêutico que utili- frequência cardíaca e avaliação de exames
za uma adaptação dos métodos Pharmacothe- laboratoriais como glicemia de jejum, he-
43
moglobina glicosilada, perfil lipídico, crea- clínicos e laboratoriais, seguidos das etapas
tinina, microalbuminúria, proteinúria, entre de identificação de novos PRM e possíveis in-
outros. Foram pactuados os objetivos tera- tervenções farmacêuticas.
pêuticos e, a seguir, foi realizada a identifi- Os dados analisados foram coletados entre
cação dos PRM, classificandos entre os blo- julho de 2013 e agosto de 2014. Os registros fo-
cos de necessidade, efetividade, segurança ram feitos no software Sigaf, no prontuário de
e adesão, além das possíveis intervenções cada paciente e como notas pessoais do far-
farmacêuticas para alcance das metas. macêutico em caderno próprio.
Consultas subsequentes foram agenda- O estudo foi aprovado pelo Comitê de Éti-
das a cada 30 dias, aproximadamente. Exa- ca em Pesquisa da UFMG. Mais detalhes podem
mes laboratoriais foram solicitados pelo en- ser obtidos no Edital MCt/CNPq/CT-SAUDE/MS/
fermeiro da equipe de saúde a cada quatro SCTIE/DECIT Nº 42/2010.
meses, aproximadamente. Nessas consultas
de monitoramento foram realizados: a revi- Descrição dos impactos gerados com esta ex-
são dos medicamentos em uso e suas pres- periência
crições; a descrição de novas informações
como condições de saúde diagnosticadas, O perfil dos pacientes, traçado entre os de-
queixas e reações adversas ao medicamento; zoito que compareceram à primeira consulta, é
o monitoramento quantitativo com exames demonstrado na Tabela 1.

TABELA 1 - Perfil demográfico e clínico dos pacientes

Categoria Número de pacientes (n=18) Percentual (%)


SEXO
Masculino 8 44%
Feminino 10 56%
FAIXA ETARIA
Abaixo de 18 anos 1 6%
18 a 30 anos 0 0%
31 a 40 anos 1 6%
41 a 50 anos 7 39%
51 a 60 anos 5 28%
Acima de 60 anos 4 22%
CLASSIFICAÇÃO DO DIABETES
Tipo 1 1 6%
Tipo 2 16 89%
LADA 1 6%
TOTAL DE MEDICAMENTOS USADOS
Até 5 4 22%
5 a 10 13 72%
Mais de 10 1 6%
PATOLOGIAS ASSOCIADAS
Dislipidemia 15 83%
Hipertensão arterial 12 67%
Hipotiroidismo 2 11%
44
As ferramentas desenvolvidas para oti- a) Planilha de monitoramento mensal dos
mizar o atendimento clínico são detalhadas parâmetros clínicos, antropométricos e
abaixo: laboratoriais.

Nome
Prontuário
Equipe 
Idade
1º monit monit monit monit monit monit monit monit monit monit monit monit
 
consulta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
PA                          

GC                          

PESO                          

ALTURA                          

IMC                          

CINTURA                          

QUADRIL                          

GJ                          

A1C                          

COL                          

HDL                          

LDL                          

TG                          

CREAT                          

RFG                          
   
data avaliação                          

data exames                          

Figura 2 - planilha de monitoramento mensal

b) Bolsa de tecido não tecido (TNT) para organização dos medica-


mentos conforme o horário da dose, determinado por figuras.

Figura 3 - bolsa de TNT


45
c) Carta de encaminhamento a médicos de outros serviços, solici-
tando alguma intervenção no tratamento.

PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM


ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
UAPS PETROVALE – PROJETO DIA A DIA

Dr (a) __________________________________________________________________________________________________________________________________________

O paciente _______________________________________________________________________________________________ está sob acompanhamento


farmacoterapêutico individual na UAPS Petrovale através do Projeto Dia a Dia. Em parceria com a UFMG e a Sec.
Estadual de Saúde, esse projeto visa acompanhar pacientes diabéticos em consultas mensais durante 1 ano.
Nessas consultas com o farmacêutico, são monitorados indicadores como glicemia capilar, glicemia de jejum,
glicohemoglobina, RFG e fatores de risco cardiovascular. Buscamos ações interdisciplinares (médico, nutricio-
nista, farmacêutico, agentes comunitários, etc) e contamos com sua colaboração nesse processo. Diante disso,
envio relatório abaixo e peço sua avaliação do caso para possíveis intervenções médicas.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Figura 4 - carta ao médico

d) Curva de glicemia com horários pré-definidos para registro das


medidas domiciliares de glicemia capilar feitas pelo paciente.

UAPS PETROVALE – PROJETO DIA A DIA


CURVA DE GLICEMIA

2h antes do 2h após 2h antes do 2h após 3h da


DATA JEJUM Ao deitar
almoço almoço jantar jantar manhã

Figura 5 - curva de glicemia


46
e) Cartão de retorno para lembrar a data Os problemas relacionados ao uso de
da consulta farmacêutica. medicamentos foram registrados no Sigaf
em blocos de necessidade, efetividade, se-
gurança e adesão, sem numeração própria
Farm. Lorayne dos métodos de acompanhamento farmaco-
terapêutico. A revisão dos dados identificou
Data: __________ /__________ /__________
219 PRM, segundo o método PW, conforme o
Horário: __________________________________
Trazer: __________________________________
Gráfico 1.
( ) Medicamentos ( ) Medidas de Pressão
( ) Últimos exames ( ) Última receita
( ) Medidas de glicemia ( ) Glicosímetro

Figura 6 - cartão de retorno

Gráfico 1 - Prevalência de PRM identificados no estudo

32%
35%
30%
25% 21%
19%
Percentual

18%
20%
15%
10% 5%
3% 2%
5%
0%
1 2 3 4 5 6 7
PRM: 1) medicamento desnecessário; 2) necessita de medicamento adicional; 3) medicamen-
to inadequado; 4) dose inferior ao necessário; 5) reação adversa aos medicamentos; 6) dose
superior ao necessário e 7) adesão inapropriada ao medicamento.

O PRM 2 foi o mais prevalente (32%). Na 1, caracterizado pelo uso de medicamento des-
primeira consulta predominou a necessidade necessário, apresentou-se em 3% do total de
de medicamento adicional para controle do casos. O PRM 3, definido pelo uso de medica-
diabetes ou HAS, uma vez que os pacientes mento inefetivo ou contraindicado para a con-
não atingiram os objetivos terapêuticos com a dição clínica do paciente, apareceu em 2% do
dose máxima do tratamento instituído até en- total de PRM.
tão. Ao longo do acompanhamento, porém, foi
As intervenções farmacêuticas podem ser
observada uma maior necessidade de medica-
farmacológicas, em busca de mudanças na far-
mento profilático, como ácido acetilsalicílico e
macoterapia, ou medidas não farmacológicas,
estatina, para prevenção primária de eventos
com o intuito de estimular o paciente a buscar
cardiovasculares em pacientes de alto risco. O
hábitos de vida mais saudáveis. Nesse sentido,
PRM 7 (não adesão) foi o 2º mais prevalente,
todos os pacientes receberam orientação es-
tendo como causa principal a não compreen-
quemática, na forma de um desenho explica-
são das instruções de uso do medicamento. O
tivo de como as altas taxas de glicose na cor-
PRM 5 apareceu em 19% dos casos, tendo como
principais reações adversas a hipoglicemia em rente sanguínea podem trazer complicações, e
uso de insulinas e glibenclamida; a diarreia em como agem os medicamentos indicados.
uso de metformina de liberação imediata; e a A bolsinha de TNT, para guardar e orientar
dispepsia em uso de AAS 100mg. A baixa dose o uso de medicamentos, foi oferecida a todos
terapêutica (PRM 4) foi observada em 18% dos os 16 pacientes em uso de medicamentos orais,
casos e a dose excessiva (PRM 6), represen- sem recusa por parte de nenhum. Mostrou-se
tou 5% do total de PRM identificados. O PRM um importante fator de adesão ao tratamento
47
e uso correto, contribuindo para garantir a au- Entre os desafios para a prática do serviço
tonomia de cuidado ao paciente. podemos citar o registro das atividades, que
Os pacientes que usavam insulina foram era feito triplicado: no Sigaf, no prontuário do
orientados quanto às técnicas corretas de ar- paciente e nas anotações pessoais da farma-
mazenamento, transporte e utilização do me- cêutica. A informatização dos prontuários por
dicamento. meio de um sistema operacional que contem-
pla o cuidado farmacêutico faz-se necessária
Na primeira consulta, todos os pacientes
para minimizar o tempo gasto na consulta e fa-
receberam orientações simples de hábitos
vorecer o compartilhamento das informações.
alimentares saudáveis e sua importância no
tratamento do diabetes, bem como foram es- No município de Betim, o farmacêutico
timulados para a prática de atividades físicas do SUS não é exclusivamente clínico e precisa
regulares, com metas graduais devidamente manter todas as rotinas da farmácia em anda-
pactuadas. mento. Esse fato também se configurou como
uma limitação para o AF. Sistemas informatiza-
A Tabela 2 apresenta as intervenções pro-
dos de controle de estoque e dispensação, re-
postas.
cursos humanos, procedimentos operacionais
aos atendentes e normas bem estabelecidas
Tabela 2 - Intervenções farmacológicas propostas
podem favorecer a prática clínica, liberando
horas de trabalho da farmacêutica.
Tipo de intervenção N (%)
Por tratar-se de uma prática nova na UAPS
Mudança de dose 25 (10%)
Petrovale, as consultas farmacêuticas não ti-
Mudança de posologia 20 (8%) nham um espaço destinado para esse fim e era
Adição de medicamento 37 (14%) necessário buscar consultórios vazios a cada
Troca de medicamento 15 (6%) atendimento. O ambiente da farmácia, volta-
Retirada de medicamento 9 (4%) do para dispensação, não oferecia um espaço
Ensinar uso correto do medicamento 76 (30%) privativo minimamente equipado para as con-
sultas. A partir da consolidação do serviço na
Conscientização para adesão 75 (29%)
unidade, esperamos definir um espaço físico
Total 257
compartilhado com outros profissionais, com
escala pré-definida de uso.
Houve predomínio das duas intervenções
voltadas para medidas de conscientização e Por fim, impactaram, também, a carência
ensino do uso correto dos medicamentos. A de computador, acesso à internet e impressora,
população estudada demonstrou grande ca- para agilizar o processo de trabalho. Tal estru-
rência de informação e falhas na compreensão tura faz-se necessária de forma permanente no
da prescrição, o que exigiu a repetição dessas consultório destinado aos atendimentos e será
intervenções em várias consultas subsequen- providenciada nas etapas futuras de informati-
tes, aumentando sua proporção frente às de- zação da rede básica de saúde de Betim.
mais intervenções. A terceira intervenção mais
frequente foi a sugestão para adição de medi- CONCLUSÃO
camento, o que era esperado, considerando a
alta prevalência do PRM 2. A experiência de implantação do serviço de
AF foi extremamente enriquecedora. A presen-
Próximos passos, desafios e necessidades ça da farmacêutica como membro da equipe da
UAPS foi muito relevante para a prática clínica.
Entre os 13 pacientes que concluíram o es- O apoio do gestor local e dos demais profissio-
tudo, apenas 1 preferiu não continuar no ser- nais foram fatores importantes para o sucesso
viço, uma vez que se encontra estável e bem do serviço. A receptividade dos pacientes tam-
adaptado à farmacoterapia. A proposta é man- bém foi relevante para a continuidade do ser-
ter o serviço e oferecê-lo a outros pacientes viço. Alguns pacientes relataram surpresa pelo
com diabetes, otimizando os pontos que apre- novo papel do farmacêutico, que imaginavam
sentaram alguma dificuldade. restrito à farmácia e seus produtos.
48
O tratamento farmacológico na associa- da adesão ao tratamento e uso correto dos
ção de doenças crônicas exige o uso de po- medicamentos.
lifarmácia, aumentando significativamente Concluímos que o serviço de AF pode con-
a probabilidade de ocorrência de PRM. Esse tribuir de forma significativa para a inserção do
cenário mostrou-se ambiente imprescindível farmacêutico na equipe multidisciplinar e a va-
para atuação do farmacêutico clínico, como lorização da profissão. A atuação do farmacêu-
mais um membro da equipe de cuidado, por tico pode trazer benefícios claros ao paciente,
meio do serviço de acompanhamento farma- quando o profissional se responsabiliza pelos
coterapêutico. resultados terapêuticos e busca garantir que
A prática das consultas farmacêuticas fo- o paciente utilize os medicamentos indicados,
mentou a criação de formulários e ferramentas efetivos e seguros para sua condição.
para aperfeiçoar o trabalho do farmacêutico e
alcançar os resultados esperados junto aos pa- REFERÊNCIAS
cientes.
ACÚRCIO et al. Avaliação epidemiológica e eco-
A experiência mostrou o predomínio do
nômica dos esquemas terapêuticos utilizados
PRM 2, no qual o paciente necessita de medi-
no tratamento do diabetes em Minas Gerais.
camento adicional para sua condição de saú-
Projeto - Universidade Federal de Minas Gerais,
de. O resultado é coerente com outros estudos
Belo Horizonte, 2010.
dessa natureza, mas diverge do senso comum
entre profissionais da saúde, que apontam as BETIM. Plano Municipal de Saúde 2014 a 2017.
falhas de adesão como principal causa de PRM. Betim, 2014. Disponível em: http://www.betim.
Os problemas de adesão ao tratamento apare- mg.gov.br/ARQUIVOS_ANEXO/Plano_Municipal_
ceram em segundo lugar no total de PRM, de- de_Saude;;20150213.pdf. Acesso em 22 set. 2014.
monstrando a importância do papel do farma- BETIM. Avaliação das Doenças e Agravos Não
cêutico clínico na educação para o uso correto Transmissíveis, seus fatores de risco e fatores
e conscientização do paciente. protetores no município de Betim. Serviço de
Nas intervenções farmacêuticas propostas, Vigilância Epidemiológica. Betim, 2013.
observamos o predomínio de orientações para INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTA-
adesão e uso correto dos medicamentos. Esse TISTICA - IBGE. Cidades. Disponível em: <http://
resultado mostra a capacidade de atuação do cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&-
farmacêutico com seus conhecimentos ine- codmun=310670>. Acesso em 10 mar. 2015.
rentes à profissão, no primeiro momento, para
OLIVEIRA, Djenane Ramalho de. Atenção farma-
depois avançar nas propostas de alteração de
cêutica: da filosofia ao gerenciamento da tera-
tratamento, que exigem maior aprofundamen-
pia medicamentosa. São Paulo: RCM Editora,
to sobre as evidências farmacoterapêuticas.
2011. 326p.
Nesse contexto, o serviço de acompanha-
mento farmacoterapêutico pode contribuir INSTITUIÇÃO
de forma significativa para a inserção do far-
Secretaria Municipal de Saúde de Betim (MG)/
macêutico na equipe multidisciplinar de ESF Unidade de Atenção Primária à Saúde
e a valorização da profissão. A atuação do
farmacêutico pode trazer benefícios claros AUTORA
ao paciente, quando o profissional se respon-
sabiliza pelos resultados terapêuticos e bus- Lorayne Caroline Resende
ca garantir que o paciente utilize os medica-
mentos indicados, efetivos e seguros para sua CONTATO
condição. O farmacêutico pode ser um indutor loraynefarma@yahoo.com.br
49

Teófilo Otoni/MG

Atenção farmacêutica
a pacientes hipertensos de alto
risco no Centro Estadual de Atenção
Especializada (Ceae) do
município de Teófilo Otoni
CARACTERIZAÇÃO compõem a sua macrorregional de saúde. Os
pacientes hipertensos, após estratificados
O Centro Estadual de Atenção Especializa- pela atenção primária, são encaminhados ao
da (Ceae) é um centro de atenção secundária Ceae para atendimento médico especializado,
à saúde caracterizado por oferecer atendimen- realização de exames e consultas com equipe
to médico especializado a pacientes hiper- multidisciplinar composta por nutricionista,
tensos com alto grau de risco. O Centro pos- enfermeiro, assistente social, psicólogo, edu-
sui sede no município de Teófilo Otoni (MG) cador físico, fisioterapeuta e farmacêutico. O
e tem como abrangência 32 municípios que farmacêutico foi inserido no corpo clínico em
50
julho de 2014 e suas atividades se referem a ainda mais alarmantes quando consideramos
assistência farmacêutica para reabilitação te- os estudos realizados pela Secretaria Esta-
rapêutica dos pacientes. dual de Saúde de Minas Gerais que aponta a
O município de Teófilo Otoni se localiza fração de 25% da população de hipertensos
no nordeste de Minas Gerais, no Vale do Mu- como de alto grau risco ou muito alto grau
curi, e é considerado o centro macrorregio- de risco.
nal, ocupando uma área de 3.242,8 Km2, abri-
gando uma população de 134.733 habitantes, METODOLOGIA
e densidade populacional de 39,3 hab/km²
(IBGE, 2010). Como cidade polo, Teófilo Otoni O farmacêutico foi inserido no Ceae em
absorve em seu contexto assistencial, todas julho de 2014, com o objetivo de realizar as-
as referências ambulatoriais e hospitalares sistência farmacêutica integral ao paciente hi-
de 63 municípios. pertenso na expectativa de promover melhoria
clínica do mesmo. O estudo proposto avaliou a
O sistema público de Saúde de Teófilo evolução do encaminhamento de pacientes hi-
Otoni abrange todos os níveis de atenção. A pertensos ao centro de atenção secundária, no
atenção primária é composta por 32 unidades período de agosto de 2014 à dezembro de 2015.
distribuídas em 4 distritos (Distrito Sul, Dis- Os pacientes atendidos no centro são moni-
trito Norte I, Distrito Norte II e Distrito Leste). torados por meio de prontuários eletrônicos
A cobertura apresenta-se em 100%, fazendo com anamnese clínica compreendida de dados
parte de todas as equipes de saúde: médicos, pressóricos, índice de massa corporal, idade,
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enferma- sexo, hábitos de vida (tabagismo, etilismo, se-
gem e agentes comunitários de saúde. Além dentarismo) e níveis de colesterol.
disso, a atenção básica conta com o apoio
multidisciplinar de quatro Núcleos de Apoio à O município de Teófilo Otoni possui cerca
Saúde da Família (Nasf). Os serviços de urgên- de 1.537 pacientes cadastrados no Ceae e para
cia e emergência são direcionados ao Servi- a pesquisa foram acompanhados 600 pacien-
ço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tes em um período de 12 meses.
que possui sede no município mas atende a O monitoramento clínico dos pacientes hi-
toda macrorregião, a unidade de pronto aten- pertensos foi realizado com os dados obtidos
dimento (UPA) e o Hospital Municipal Rai- dos prontuários eletrônicos e considerando os
mundo Gobira. Na atenção terciária são cinco pacientes que foram submetidos à assistência
hospitais, três públicos e dois privados, sendo farmacêutica em seu tratamento. Para avaliar a
o Hospital Santa Rosália a instituição que ab- eficiência da assistência farmacêutica no trata-
sorve maior demanda devido a seu caráter de mento dos hipertensos foram considerados os
alta complexidade. seguintes índices:
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é 1) Porcentagem de pacientes com adesão
uma doença crônica com um alto custo médi- ao tratamento.
co-social, sendo um dos fatores de risco mais Foi analisada a porcentagem de pacien-
comuns para a expansão de doenças cardio- tes que demonstraram compreender, aceitar
vasculares. No Brasil, as doenças cardiovas- e realizar a conduta terapêutica proposta, as-
culares são responsáveis por 33% dos óbitos sim como manter-se frequente às consultas
com causas conhecidas (Almeida et al, 2003). médicas e farmacêuticas, bem como a realiza-
Além disso, essas doenças foram a primeira ção de exames.
causa de hospitalização no setor público, en-
tre 1996 e 1999, e responderam por 17% das 2) Porcentagem de pacientes que apre-
internações de pessoas com idade entre 40 e sentaram redução dos níveis de pres-
59 anos e 29% daquelas com 60 ou mais anos. são sistólica após atenção farmacêutica
O perfil epidemiológico do estado de Minas realizada.
Gerais estima a prevalência de 20% de hiper- Considerou-se os pacientes que foram
tensos na população com idade acima de 20 submetidos, no mínimo, a duas aferições de
anos (Lima e Costa et al, 2009). Os dados são pressão durante 12 meses e apresentaram, em
51
sua última aferição de pressão sistólica, níveis O Ceae obteve um aumento significativo
menores que a primeira durante este período. do número de pacientes hipertensos cadas-
3) Porcentagem de pacientes que apresen- trados entre os anos de 2014 e 2015. No perfil
taram redução na terapia medicamen- epidemiológico do município de Teófilo Otoni
tosa após intervenção farmacêutica. estima-se que 4 mil indivíduos apresentam hi-
pertensão de alto risco. Entretanto, é necessá-
A redução da terapia medicamentosa foi
rio que a atenção primária realize busca ativa
estabelecida por diminuição da dose de medi-
destes pacientes para que sejam conduzidos
camentos e ou redução da quantidade de clas-
a um atendimento especializado. O programa
ses de anti-hipertensivos utilizados.
de educação permanente e matriciamento do
4) Porcentagem de pacientes que obtive- Ceae promoveu maior estímulo aos encami-
ram alta do Ceae. nhamentos de pacientes hipertensos no ano
Os pacientes que apresentaram níveis de 2015, como demonstra a tabela 1.
pressóricos menores que 140x90 mmHg no pe-
ríodo de 90 dias foram deligados temporaria- TABELA 1 - Pacientes hipertensos de alto risco
encaminhados ao Ceae
mente do Ceae por não estarem estratificados
como alto grau de risco ou muito alto grau de
risco. ANO 2014 2015 %
PACIENTES 487 1.537 215,6
Diante dos parâmetros analisados obje-
tivou-se avaliar a eficiência da atenção far- Fonte: Centro Estadual de Atenção Especializada
macêutica aos pacientes hipertensos de alto
risco em um centro de atenção secundária à Descrição dos impactos gerados com esta
saúde. experiência
A proposta foi avaliar a interferência do
atendimento farmacêutico na conduta tera- O controle da Hipertensão Arterial Sistê-
pêutica do paciente quanto à adesão ao tra- mica depende da colaboração do paciente com
tamento, diminuição dos níveis pressóricos, o tratamento. O primeiro passo para se obter
redução da terapia medicamentosa e a porcen- sucesso no tratamento, é a aceitação da pato-
tagem de altas dos mesmos. logia. Posteriormente, o hipertenso deve bus-
car conhecimento sobre as possíveis complica-
RELATO DA EXPERIÊNCIA ções e realizar a adesão ao tratamento (SILVA,
2010). A adesão é fundamental para que o tra-
O paciente hipertenso de alto risco ne- tamento seja efetivo, no entanto, vários fatores
cessita de extremo cuidado e atenção, pois a podem interferir neste processo, entre eles, o
cronicidade da doença ocasiona complicações sexo, a idade, hábitos religiosos, conhecimento
que resultam em mudanças significativas na em relação aos anti-hipertensivos, condições
sua qualidade de vida. O caráter multifatorial socioeconômicas e, principalmente, o apoio
da hipertensão e as comorbidades que podem familiar e de profissionais da saúde (VITOR et
ser desenvolvidas pela mesma se traduzem em al., 2011). A atenção farmacêutica em sua es-
enorme preocupação com problemas relacio- sência busca estreitar a aceitação do paciente
nados à automedicação. A aquisição de produ- ao uso racional de medicamentos e favorecer
tos de venda livre ou até mesmo medicamen- a adesão ao tratamento. Diante disso, foi ana-
tos fornecidos por terceiros agravam a situação lisada a porcentagem de adesão ao tratamen-
(DANTAS, 2011). to dos pacientes hipertensos de alto risco. Os
Assim, o farmacêutico se torna um profis- resultados obtidos demonstraram que 82%
sional fundamental para contornar esses obs- (n=492) dos 600 pacientes apresentaram ade-
táculos e garantir a eficiência do tratamento são ao tratamento e apenas 18% (n=108) não
do paciente hipertenso, uma vez que ele é de- manifestaram adesão mesmo submetidos à
tentor de todo o conhecimento a respeito do atenção farmacêutica.
medicamento e será o elo entre o prescritor e O atendimento clínico farmacêutico ba-
o paciente. seia-se nas informações dispensadas ao pa-
52
ciente quanto ao uso correto dos medicamen- venção da atenção farmacêutica. Verificou-se
tos prescritos e o comprometimento quanto à por meio da anamnese dos pacientes, contidas
conduta do tratamento. A adesão dos pacien- nos prontuários eletrônicos, que a redução dos
tes é mensurada por meio da contrarreferência níveis pressóricos não apresentou a mesma
enviada pela atenção primária e do questio- eficiência na ausência da atenção farmacêuti-
nário de aceitabilidade/adesão ao tratamento ca, perfazendo apenas 55% (n=330) dos pacien-
aplicado pelo farmacêutico. tes com melhoria clínica.

GRAFICO 1 - Porcentagem de pacientes que apresentaram GRÁFICO 2 - Porcentagem de pacientes


adesão ao tratamento após a Atenção Farmacêutica que apresentaram redução dos
níveis de pressão sistólica

18% Sim Não 75%

55%
45%

25%
82%

Sem AF Com AF

Fonte: Centro Estadual de Atenção Especializada


Adesão ao tratamento
Sem adesão ao tratamento
A atenção farmacêutica é uma prática
Fonte: Centro Estadual de Atenção Especializada que tem como principal finalidade melhorar
a qualidade de vida do paciente, otimizar o
A importância do farmacêutico em uma tratamento farmacológico e prevenir pro-
equipe de saúde está em garantir a adesão blemas relacionados ao uso de medicamen-
e a eficácia do indivíduo ao tratamento me- tos. Portanto, os atendimentos realizados
dicamentoso. Aconselhar o paciente sobre a pelo farmacêutico no Ceae priorizam garan-
importância do uso racional de medicamen- tir, manter e recuperar o bem-estar físico,
tos é uma atividade importante para a toda mental e social dos indivíduos hipertensos
a população e em especial para o paciente por meio do uso correto de medicamentos.
hipertenso, devido às múltiplas patologias Diante disso, avaliou-se a porcentagem de
que acarretam o uso de vários medicamen- pacientes que apresentaram redução na te-
tos. Desse modo, a intervenção do farma- rapia medicamentosa, ou seja, obtiveram
cêutico é essencial para reduzir os riscos de diminuição da dose de medicamentos e/ou
efeitos colaterais ou adversos, interações redução da quantidade de classes de anti-hi-
medicamentosas e até mesmo intoxicações. pertensivos utilizados. Os resultados encon-
(ARAÚJO et al., 2008). trados demonstraram que 68% (n=408) dos
O monitoramento dos níveis pressóricos é pacientes apresentaram redução na terapia
a principal forma de avaliar a conduta terapêu- medicamentosa. Os pacientes que não fo-
tica dos pacientes hipertensos. Portanto, foi ram submetidos à intervenção farmacêutica
realizada pesquisa sobre a redução dos valores apresentaram uma redução da terapia medi-
de pressão sistólica dos pacientes em referên- camentosa menos significativa, totalizando
cia à primeira e última aferição. Observou-se apenas 52% (n=312) dos pacientes. Isso suge-
que 75% (n=450) dos 600 pacientes monitora- re que a atenção farmacêutica pode ter con-
dos durantes os 12 meses, apresentaram redu- tribuído para intensificar a eficiência da con-
ção dos níveis de pressão sistólica após inter- duta terapêutica medicamentosa prescrita.
53
GRÁFICO 3 - Porcentagem de pacientes que apresentaram GRÁFICO 4 - Porcentagem de pacientes que receberam
redução na terapia medicamentosa desligamento temporário (alta) do Ceae
após Atenção Farmacêutica

Sim Não 68%

52%
48% 45%
55%
32%

Sem AF Com AF

Fonte: Centro Estadual de Atenção Especializada


Obtiveram alta
Por meio da atenção farmacêutica, o Não obtiveram alta
paciente recebe suporte e aconselhamen- Fonte: Centro Estadual de Atenção Especializada
to sobre o tratamento, podendo esclarecer
dúvidas, que além de garantir a adesão ao Próximos passos, desafios e necessidades
tratamento, fará com que este seja mais efi-
ciente, pois o paciente está consciente de A conduta terapêutica aos pacientes hi-
possíveis efeitos colaterais e interações me- pertensos apresenta alta complexidade. A di-
dicamentosas. Portanto, a intervenção far- versidade de fatores que proporcionam o de-
macêutica por meio de ações educativas e senvolvimento da doença requer uma terapia
sobre a terapia medicamentosa ocasiona di- multidisciplinar e acompanhamento constan-
versos benefícios à saúde do hipertenso. O te. O Ceae tem priorizado o atendimento clí-
desempenho dessas ações pode ser avalia- nico humanizado e principalmente integrado
do por meio dos reflexos clínicos apresenta- às diversas áreas da saúde como a Nutrição,
dos pelos pacientes, e o seu maior benefí- Enfermagem, Psicologia e Farmácia. A aten-
cio está atribuído à redução e estabilização ção farmacêutica exerce um papel de grande
de seus níveis pressóricos. O paciente que importância para garantir o uso racional de
apresenta níveis pressóricos menores que medicamentos, a adesão ao tratamento an-
140x90 mmHg por três meses é submetido ti-hipertensivo por pacientes idosos e a efi-
ao desligamento temporário (alta) do Ceae. cácia do mesmo. O farmacêutico é o detentor
Entretanto, o paciente permanece sendo dos conhecimentos acerca dos medicamentos
acompanhado pela atenção primária do mu- podendo aconselhar e esclarecer dúvidas so-
nicípio. No intuito de avaliar a eficiência do bre o tratamento, possíveis reações adversas e
tratamento ao hipertenso no Ceae, deter- interações medicamentosas. Portanto, a inter-
minou-se a porcentagem de (alta) entre pa- venção do farmacêutico, por meio de medidas
cientes pesquisados. educativas, tende a acarretar diversos benefí-
Os resultados demostraram que 55% cios ao tratamento do paciente hipertenso.
(n=330) dos pacientes obtiveram alta após tra- Diante dos reflexos da intervenção farma-
tamento sob atuação permanente da atenção cêutica no tratamento dos pacientes hiper-
farmacêutica. É importante ressaltar que a tensos, sugere-se a ampliação do quadro de
alta (desligamento temporário) dos pacientes profissionais farmacêuticos pelo Ceae, bem
hipertensos de alto risco atendidos no Ceae como estabelecer adequações ao fluxo de
não possui registros praticados anterior ao atendimento aos pacientes oportunizando o
acompanhamento farmacêutico. atendimento farmacêutico em caráter integral.
54
Outros estudos complementares podem ser REFERÊNCIAS
considerados no intuito de avaliar a real inter-
ferência da atenção farmacêutica frente a me- CENSO DEMOGRÁFICO 2010. Características ge-
lhor conduta terapêutica em diferentes classes rais da população, religião e pessoas com defi-
de anti-hipertensivos, possíveis interações e ciência. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Acompanha 1
ajuste posológico. CD-ROM. Disponível em: . Acesso em: mar. 2016.
ALMEIDA, FF, Barreto SM, Couto BR, Starling CE.
Predictive factors of in-hospital mortality and
of severe perioperative complications in myo-
cardial revascularization surgery. Arquivo Bra-
sileiro de Cardiologia 2003;80(1):41-60.
LIMA E COSTA MFF, Guerra HL, Barreto SM, Gui-
marães RM. Diagnóstico da situação de saú-
de da população idosa brasileira: um estudo
da mortalidade e das internações hospitala-
res públicas. Informe Epidemiológico do SUS
Sede do Ceae em Teófilo Otoni-MG 2000;9(1):23-41.
DANTAS, A. O. Hipertensão arterial no idoso: fa-
tores dificultadores para adesão ao tratamento
medicamentoso. 2011. 31 f. Trabalho de Conclu-
são de Curso (especialização) – Universidade
Federal de Minas Gerais, Teófilo Otoni.
VITOR, A. F.; MONETEIRO, F. P. M.; MORAIS, H.
C.C.; VASCONELOS, J. D. P.; LOPES, M. V. DE O.; DE
ARAÚJO, T. L. Perfil das condições de seguimen-
to terapêutico em portadores de hipertensão
arterial. Esc. Anna Nery, v.15, n.2, p. 251-260,
abril/junho, 2011.
Recepção do Ceae

INSTITUIÇÃO
Centro Estadual de Atenção Especializada
(Ceae) de Teófilo Otoni

AUTORES
Daniel de Azevedo Teixeira (Coordenador)
Martha Honorato
Fernanda Miranda Froeder
Aline Camargos Abrantes

Atendimento no Ceae CONTATOS


danielteixeira@unipacto.com.br
marthahonorato@yahoo.com.br
froeder.fernanda@gmail.com
alinemalaca@yahoo.com.br
55

Rio de Janeiro/RJ

Acompanhamento
farmacêutico de pacientes em
tratamento de sífilis com penicilina
benzatina em uma unidade da
Estratégia de Saúde da Família, no
município do Rio de Janeiro
CARACTERIZAÇÃO tada no país e a mais conhecida no exterior.
Com uma população estimada em 6,4 milhões
A cidade do Rio de Janeiro é o destino mais (IBGE/2013), o Rio de Janeiro é uma cidade de
frequente do turismo internacional no Bra- fortes contrastes econômicos e sociais. Cerca
sil, na América Latina e em todo o hemisfério de 22% dos moradores, quase 1,5 milhão de
Sul. Também é a capital brasileira mais visi- pessoas, vivem em favelas sobre os morros,
56
onde as condições de moradia, saúde, educa- didos pelos CMS. Desde 2009, a cidade conta
ção e segurança são extremamente precárias. com o programa Saúde Presente, que oferece
um sistema integrado e personalizado de as-
Perfil epidemiológico sistência a regiões até então prejudicadas na
gestão de saúde. O cidadão tem uma equipe
A Organização Mundial de Saúde estima de saúde multidisciplinar que o acompanha,
a incidência de 1 milhão de casos de sífi- oferecendo orientações sobre promoção da
lis por ano, entre as gestantes e preconiza saúde e prevenção de doenças e realizando
a detecção e o tratamento, em tempo o diagnóstico precoce de enfermidades. Com
oportuno, destas e de seus parceiros. A o programa, a expectativa é melhorar indica-
infecção pode ser transmitida ao feto com dores de mortalidade materno-infantil e de
graves complicações. qualidade de vida da população, além de re-
duzir custos hospitalares, na medida em que
A sífilis é uma doença sexualmente trans-
é mais praticada a medicina preventiva, di-
missível (DST) de ação sistêmica, causada
minuindo internações, consultas e exames.
pela bactéria Treponema pallidum. Pode ser
classificada entre sífilis adquirida, quando Implantado pela Secretaria Municipal de
é transmitida durante o ato sexual ou por Saúde (SMS), o sistema integrado de atendi-
transfusão sanguínea, ou sífilis congênita, mento é composto por 80 clínicas da família,
quando é transmitida da mãe para o filho por entre outras unidades (tabela 1), e tem como
meio da placenta. objetivos a prevenção de doenças e a promo-
ção da saúde do cidadão. Nesse sentido, as
A sífilis congênita é um grave problema de
clínicas representam um marco na reformu-
saúde que pode ser evitado com o diagnóstico
lação da Atenção Primária. Desde o início do
precoce e a adoção de todas as medida para o
programa, houve a ampliação da cobertura da
tratamento e a cura. O diagnóstico precoce e
Estratégia de Saúde da Família, de 3,5% da po-
o tratamento adequado são muito importantes
pulação do município, em janeiro de 2009, para
para o combate à doença.
47,03%, em abril de 2015.
Em 2013, observou-se uma taxa de 4,7 ca-
sos de sífilis congênita para 1.000 nascidos Tabela 1 - Relação de unidades de saúde no
município do Rio de Janeiro
vivos no Brasil (média nacional). O Rio de Ja-
neiro foi uma das unidades da federação que
apresentaram incidências superiores à média Unidades de Saúde Quantidade
nacional, em 2013. A média de casos do muni- Clínica da Família 80
cípio do Rio de Janeiro naquele ano foi de 17,5 CMS 148
para cada 1.000 nascidos vivos. Apesar de pos- Policlínica 85
suir tratamento seguro, eficaz e de baixo custo, Caps 29
essa doença continua a desafiar os governos UPA 42
nos dias atuais, com altas taxas de incidência Hospital 280
no Brasil.
Assistência farmacêutica
Estruturação da rede de saúde
Todas as unidades de saúde possuem far-
A rede de saúde pública local (Área Pro- mácia com área exclusiva para armazenamento
gramática 3.2) é composta por dez centros de medicamentos e dispensação, que ocorre
médicos de saúde (CMS), que incluem aten- mediante apresentação de prescrição. A far-
dimentos especializados (nível secundário); mácia é mantida aberta durante todo o horário
uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA); de funcionamento da unidade. A dispensação
um hospital com atendimento geral e dez clí- de medicamentos é realizada por profissional
nicas da família, que garantem uma cobertura farmacêutico. Todos os medicamentos dispen-
de 45,84% da população. Os demais habitan- sados nas unidades primárias de saúde estão
tes, que não residem na área de abrangência relacionados na Relação Municipal de Medi-
da Estratégia de Saúde da Família, são aten- camentos (Remume), entre eles, os utilizados
57
para o tratamento de asma, doença pulmonar lis no município do Rio de Janeiro; da falta
obstrutiva crônica (DPOC), hipertensão, dia- de registro em prontuário das aplicações de
betes, tuberculose, hanseníase e sífilis. Todas penicilina benzatina e da ausência de dados
as farmácias possuem refrigeradores para sobre a adesão ao tratamento dos casos de
o acondicionamento de insulina e todos os sífilis, foi elaborado um sistema para orien-
pacientes em uso de insulina recebem insumos tação farmacêutica, controle da dispensa-
(glicosímetros, fitas, seringas, lancetador e ção e administração da penicilina benzatina
lancetas para aplicação de insulina e monito- pela unidade de saúde.
ramento domiciliar) e medicamentos controla- Para tanto, elaborou-se um formulá-
dos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitá- rio eletrônico para compartilhamento, a ser
ria (Anvisa), por meio da Portaria nº 344/98 e preenchido no momento da dispensação, com
suas atualizações. os seguintes dados: nome completo do (a)
paciente, Equipe de Saúde da Família (ESF) a
RELATO DA EXPERIÊNCIA qual pertence, a dose (primeira, segunda ou
terceira) e, no caso das mulheres, se a pacien-
Esta experiência acompanhou os casos de te é gestante ou não. Após o preenchimento, a
sífilis que foram diagnosticados e iniciaram plataforma envia os dados para uma planilha
tratamento com penicilina benzatina na onde são informados, ainda, a data e o horário
Clínica da Família Bibi Vogel. Os casos foram do atendimento.
acompanhados de acordo com as orientações
contidas no Guia de Referência Rápida para Em posse do medicamento, o (a) pacien-
Doenças Sexualmente Transmissíveis e Atenção te é conduzido (a) pelo farmacêutico até a
sala de observação para administração e
ao Pré-Natal, elabo­ rado pela prefeitura
registro em prontuário eletrônico da dose
municipal do Rio de Janeiro, conforme descrito
prescrita. O procedimento é realizado por
na tabela 02. Estes guias têm a finalidade de
um técnico de enfermagem. Desta forma, é
orientar a assistência clínica nas unidades de
possível acompanhar o (a) paciente desde o
Atenção Primária à Saúde no município do
momento do diagnóstico e prescrição, pas-
Rio de Janeiro. Os dados foram coletados no
sando pela dispensação e orientação farma-
período de janeiro a dezembro de 2015, pelo
cêutica, até a administração e registro em
Serviço de Farmácia.
prontuário eletrônico, o que garante o con-
Tabela 02 - Protocolo estabelecido para o tratamento trole adequado do tratamento.
de sífilis (baseado no estágio da doença), do Guia de
Referência Rápida para Doenças Sexualmente No ato da dispensação, o farmacêutico
Transmissíveis e Atenção ao Pré-Natal orienta sobre o tempo de tratamento e como
será o acompanhamento durante esse pe-
PROTOCOLO PARA TRATAMENTO DE SÍFILIS ríodo. São descritas, na prescrição, as datas
ESTÁGIO TRATAMENTO de administração de cada dose de penicili-
PENICILINA G BENZATINA, 2,4
na benzatina, sendo obrigatório o retorno à
Sífilis primária milhões UI, IM, em dose única (1,2 unidade de saúde para a administração. Em
milhão UI em cada nádega). caso de não comparecimento, o farmacêuti-
PENICILINA G BENZATINA, 2,4 co faz contato por telefone e, não obtendo
Sífilis
milhões UI, IM, em dose única sucesso nesta investida, aciona o enfermei-
(1,2 milhão UI em cada nádega). ro responsável pela ESF para que este tenha
secundária
Repetir mesma dose após uma
semana.
ciência de que a adesão ao tratamento não
PENICILINA G BENZATINA, 2,4
aconteceu. Assim, o agente comunitário de
Sífilis terciária milhões UI, IM, semanalmente por saúde (ACS) é acionado para realização de
3 semanas. busca ativa ao (a) paciente.
O acompanhamento dos pacientes com sí-
Diante da grande quantidade de casos, filis, realizado durante o ano de 2015, teve por
sobretudo em gestantes; da baixa adesão ao objetivo, de forma geral, levantar a incidência
tratamento; da dificuldade em tratar o par- da doença, mensurar a adesão ao tratamento e
ceiro; do número elevado de casos de sífi- elaborar um sistema que garantisse a rastrea-
58
bilidade de todo o tratamento, inclusive que Tabela 03 - Número de casos de sífilis
todas as doses de penicilina benzatina, reco- por áreas de abrangência das ESF
mendadas em cada caso, fossem efetivamente
administradas. Número de casos de sífilis por Equipe
O objetivo específico foi a observação caso de Saúde da Família.
a caso e o tratamento de forma individualizada Equipe de Saúde da Família Número de casos
dos pacientes, intervindo quando necessário
Equipe 01 3
para que a terapêutica pudesse obter sucesso
e contribuindo, de forma essencial, no proces- Equipe 02 16
so de cuidado ao paciente. Equipe 03 6
A experiência contou com o envolvimen- Equipe 04 10
to de uma equipe multidisciplinar, em que Equipe 05 19
médicos, enfermeiros, farmacêutico, técnico
Equipe 06 13
de enfermagem e ACS estavam diretamen-
te envolvidos no processo. Todas as rotinas Total 67
implantadas não acrescentaram custo ao
sistema de saúde e reforçaram a necessida-
Destes, 50 casos tiveram desfecho satis-
de de utilizar e registrar todas as ações em
fatório, cumprindo de forma integral a pres-
prontuário eletrônico.
crição médica, o que representa 73,5% de ca-
A maior dificuldade encontrada foi fazer sos iniciados e com desfecho de acordo com
com que os pacientes retornassem à unidade
o que preconiza o protocolo clínico da prefei-
para tomada de todas as doses prescritas, mes-
tura municipal do Rio de Janeiro. O índice de
mo estes tendo recebido a orientação sobre a
importância da realização do tratamento por conclusão de casos por equipe é apresenta-
completo. A mudança de endereço e o cadastro do no gráfico 01.
incompleto de pacientes também contribuíram A maioria dos tratamentos foi iniciada
de forma negativa. em mulheres: 47 casos (70,1%) na população
feminina contra 20 (29,9%) na masculina. Das
Descrição dos impactos gerados com 47 mulheres, 23 eram gestantes. Dos 17 pa-
esta experiência cientes que não aderiram ao tratamento, 10
eram mulheres. Um dado alarmante é que 8
Durante o período compreendido entre ja-
estavam gestantes, fator que pode contribuir
neiro e dezembro de 2015 foram coletados pelo
Serviço de Farmácia dados de pacientes em para o aumento no número de casos de sífilis
tratamento de sífilis com penicilina benzatina, congênita.
totalizando 67 pacientes. As seis equipes da Es- Esse trabalho pode ser considerado ino-
tratégia de Saúde da Família (ESF) envolvidas vador no âmbito da atenção farmacêutica e
neste trabalho serão identificadas como equi- até mesmo no modelo de atenção básica, que
pes de 1 a 6, sendo que as equipes 01, 03 e 04 propõe, por meio da ESF, um cuidado compar-
abrangem áreas populacionais com um maior
tilhado e multiprofissional. Por esse motivo,
poder aquisitivo, com melhores condições de
não foi possível levantar dados anteriores a
moradia e melhor nível de escolaridade, en-
esta experiência para se ter um real impac-
quanto as equipes 02, 05 e 06 são responsáveis
por uma população inserida em um território to da intervenção do farmacêutico no ma-
mais vulnerável, com condições precárias de nejo da sífilis, o que demonstra o quanto é
moradias, baixo poder aquisitivo e baixo nível importante o acompanhamento da utilização
de escolaridade. A maior parte dos 67 casos do medicamento e a adesão adequada ao
ocorreu, como mostra a tabela 03, em áreas tratamento, o registro e a consolidação dos
mais carentes. dados para fins epidemiológicos.
59

NÚMERO DE CASOS E CASOS CONCLUÍDOS


20
19

16
15

13
12 12 12
10 10 10

6
5

3 3
1
0
EQUIPE EQUIPE EQUIPE EQUIPE EQUIPE EQUIPE
01 02 03 04 05 06

EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA


NÚMERO DE CASOS CASOS CONCLUÍDOS
Gráfico 01 - Número de pacientes diagnosticados /
casos concluídos de acordo com Protocolo Clínico.

Próximos passos, desafios e necessidades crito – neste caso, foram 17 (26,5%). Demons-
trou, ainda, que as estratégias de busca ativa
Expandir esse modelo de acompanhamento previamente estabelecidas para uma possível
da adesão adequada ao tratamento de pacien- falha na adesão são ferramentas importantís-
tes com diagnóstico positivo de sífilis para toda simas. As intervenções conseguiram produzir
a rede do município, fazendo com que tenhamos desfecho satisfatório em 12 dos 17 casos em
números em uma maior proporção. Consolidar que os pacientes que não tiveram adesão ade-
os dados de todas as unidades e propor fóruns quada ao tratamento inicial. Das 8 gestantes
para debate e tomada de decisão diante do que faziam parte desse grupo, apenas uma não
desafio que é o tratamento dos parceiros. fez o retratamento, em função de mudança de
Para isso é necessário o comprometimento de endereço. Entre os 5 pacientes cujo tratamento
toda equipe multiprofissional no cuidado ao foi considerado insatisfatório ou inadequado,
paciente em tratamento de sífilis. 4 eram homens. A estatística representa um
alerta para a necessidade de ampliação dos
CONCLUSÃO cuidados com a saúde do homem. Por último,
a pesquisa foi satisfatória por elucidar dados
Direcionada ao acompanhamento e ao sobre uma doença que é considerada proble-
tratamento de pacientes com diagnóstico de ma de saúde pública, mas tem protocolo de
sífilis, a experiência realizada pelo Serviço de tratamento definido, seguro e eficaz, além de
Farmácia da Clínica da Família Bibi Vogel mos- ser curável.
trou a importância do farmacêutico como parte O modelo adotado para o acompanha-
integrante na equipe multidisciplinar. Eviden- mento não tem custo extra, reforça a inte-
ciou também que, mesmo com o acompanha- ração entre os membros da equipe multi-
mento dos profissionais da saúde, boa parte disciplinar e pode ser implantado em outras
dos pacientes não conclui o tratamento pres- unidades de saúde do município do Rio de
60
Janeiro. Sua utilização de forma ampla pode REFERÊNCIAS
contribuir para a obtenção de estatísticas
mais reais relacionadas à doença, sobretu- BRASIL. Superintendência de Atenção Primária
do naqueles casos em que os pacientes têm do Município do Rio de Janeiro. Guia de Refe-
acesso ao diagnóstico, mas não realizam o rência de Atenção Primária. Atenção ao Pré-
tratamento de forma adequada. -Natal, Rotina para Gestantes de Baixo Risco.
Contribuir com as estratégias de vigilân- Versão profissionais, 1º edição, 2013.
cia em saúde, especialmente no tratamento
da sífilis, foi um dos propósitos desse traba- INSTITUIÇÃO
lho, visto que a assistência farmacêutica na Clínica da Família Bibi Vogel
atenção primária tem como finalidade a me-
lhoria da qualidade de vida da população, AUTOR
por meio de ações de promoção, preven-
Luiz Claudio Simões de Medeiros
ção, recuperação e reabilitação da saúde,
apoiando as ações de saúde com promoção
CONTATO
do acesso aos medicamentos e com o seu
uso racional. luizclaudiosimoes@hotmail.com
61

Araraquara/SP

Indicadores de resultado
da implantação da gestão integral
da farmacoterapia em um centro de
referência do idoso de Araraquara
CARACTERIZAÇÃO Araraquara ocupa o 22º lugar no estado
de São Paulo em quantidade de estabeleci-
Araraquara está localizada no interior do mentos de saúde. O índice de mortalidade
estado de São Paulo, com população estimada infantil, até 1 ano (por mil nascidos vivos) é
de 224.304 habitantes e Índice de Desenvolvi- de 11,2 (2012). E a expectativa de vida é de
mento Humano Municipal (IDHM) de 0,815, que 77,6 anos (2010).
a coloca na 14ª posição entre os 5.565 municí- No município, a mortalidade infantil (mor-
pios brasileiros (IBGE, 2014). Está localizada a talidade de crianças com menos de um ano de
278 km de São Paulo e em sua economia desta- idade) passou de 16,8 por mil nascidos vivos,
ca-se a agroindústria da cana e laranja. em 2000, para 10,2 por mil nascidos vivos, em
2010. Em 1991, a taxa era de 22,7.
Perfil epidemiológico A esperança de vida ao nascer é o indica-
dor utilizado para compor a dimensão Longe-
O município possui aproximadamente 30 vidade do Índice de Desenvolvimento Humano
mil pessoas idosas, sendo 58% composto por Municipal (IDH-M). No município, a esperança
mulheres. de vida ao nascer cresceu 4,0 anos na última
62
década, passando de 73,6 anos, em 2000, para duação da faculdade de Ciências Farmacêuticas
77,6 anos, em 2010. Em 1991, era de 70,1 anos norteiam suas atividades em algumas dessas
unidades de saúde, desenvolvendo trabalhos
Estruturação da rede de saúde em atenção farmacêutica, o que possibilita a
integração do farmacêutico na equipe multi-
A rede de saúde pública de Araraquara disciplinar. Estes profissionais atuam princi-
conta com 33 Unidades Básicas de Saúde (UBS), palmente no atendimento de pacientes idosos
sendo 10 UBS tradicionais, 22 UBS com Estraté- polimedicados.
gia de Saúde da Família (ESF) e uma UBS esta-
dual municipalizada; duas Unidades de Pron- RELATO DA EXPERIÊNCIA
to Atendimento (UPA); uma Maternidade; uma
Santa Casa de Misericórdia; dois Centros de O envelhecimento populacional tornou-se
Atenção Psicossocial (Caps); um hospital psi- um fenômeno mundial, provocando mudanças
quiátrico; um almoxarifado central de medica- no perfil da população. Para tanto, se faz ne-
mentos; uma Farmácia Popular do Brasil e nove cessária uma reestruturação econômica e dos
centros de especialidade em atendimentos de serviços de saúde prestados (IBGE, 2014), ten-
média complexidade. do em vista as doenças inerentes ao envelhe-
Entre os centros de especialidades, o cimento como diabetes, hipertensão arterial,
Centro de Referência do Idoso de Araraquara neoplasias, doenças neurodegenerativas e ou-
(CRIA) caracteriza-se pelo atendimento ambu- tras, prevalentes nessa população. Geralmente
latorial de média complexidade, especializa- esses pacientes estão sujeitos a polimedicação,
do na assistência à saúde da pessoa idosa. A o que pode desencadear regimes complexos de
unidade objetiva a preservação da autonomia medicação e não adesão à farmacoterapia.
e independência, bem como seu envelheci- Diante deste cenário, a parceria entre a as-
mento ativo. O atendimento é transdisciplinar sistência farmacêutica municipal e a faculdade
e integrado, sendo a equipe composta por um de Ciências Farmacêuticas/Unesp, propôs a im-
assistente social, dois médicos geriatras, dois plantação da Gestão Integral da Farmacoterapia
psicólogos, dois fisioterapeutas, um educador (GIF) que objetiva identificar, resolver e melho-
físico, um fonoaudiólogo, dois técnicos de en- rar a farmacoterapia dos pacientes idosos assis-
fermagem, dois agentes administrativos, dois tidos no CRIA, além de desenvolver a formação
agentes operacionais e um motorista. acadêmica, profissional, pesquisa e prestação
Os pacientes atendidos no CRIA são refe- de serviço na prática dos cuidados em saúde.
renciados pela atenção básica, que realiza o
tratamento das doenças crônicas relacionadas METODOLOGIA
a sua esfera de atuação, como hipertensão,
diabetes e dislipidemias, cujo tratamento con- Em setembro de 2012 foi proposto à Secre-
tinua concomitante ao atendimento realizado taria Municipal de Saúde de Araraquara a im-
na atenção secundaria. plantação da GIF em um centro de referência
de saúde do idoso, para o desenvolvimento de
Assistência farmacêutica atividades de extensão universitária assisten-
cial, ensino e pesquisa.
Na assistência farmacêutica municipal, 25 O CRIA foi o local escolhido para implan-
farmacêuticos atuam nas farmácias da atenção tação da GIF, uma vez que a equipe transdis-
básica e especializada, Caps, UPA, almoxarifado ciplinar atua de modo integrado para a pro-
central de medicamentos, ações judiciais, Far- moção, proteção e recuperação da saúde do
mácia Popular do Brasil, vigilância sanitária e paciente idoso.
gestão. Os pacientes atendidos pela GIF foram en-
É desenvolvida no município uma par­ceria caminhados pela equipe técnica da unidade,
com a Universidade Estadual Paulista Júlio de sendo os atendimentos individualizados, com
Mesquita Filho (Unesp), na qual farmacêuticos duração de uma hora para o primeiro encontro
do município, alunos de pós-graduação e gra- e 30 minutos para os retornos. A frequência dos
63
retornos foi estabelecida, conforme as necessi- Foram realizadas intervenções farmacêu-
dades dos pacientes. ticas de ajuste dose, unitarização de doses, e
A GIF é constituída de avaliação inicial, pla- foram enviados informes médicos para otimi-
no de cuidados (monitoramento farmacotera- zação da farmacoterapia. Também foram rea-
pêutico) e sua avaliação, segundo critérios de lizadas intervenções educativas referentes ao
necessidade, efetividade, segurança e adesão estilo de vida, alimentação, farmacoterapia e
farmacoterapêutica, tal como proposto no ma- comorbidades.
nual da Organización de Farmacéuticos Ibero- Quando identificadas necessidades não
latinoamericanos (OFIL, 2012). atendidas, os pacientes foram encaminhados a
O processo de cuidado caracteriza-se por outros profissionais da Saúde para avaliação.
um processo de retroalimentação, o qual exige Sempre que necessário eram discutidos os ca-
acompanhamento contínuo e sistematizado, a sos com a equipe do CRIA.
saber (OFIL, 2012): Após solucionadas as necessidades iden-
tificadas e alcançadas as metas terapêuticas, o
1.
Avaliação inicial: teve por finalidade paciente recebia alta da GIF e era emitida uma
certificar se a farmacoterapia em uso declaração do serviço farmacêutico conforme
era necessária, efetiva e segura, além modelo da RDC 44/09, da Agência Nacional de
de identificar e prevenir possíveis e Vigilância Sanitária (Anvisa).
potenciais Problemas Relacionados ao
uso de Medicamentos (PRM) e avaliar Descrição da experiência
a adesão a farmacoterapia, segundo
sua experiência farmacoterapêutica e Embora o paciente tenha acesso aos me-
motivações para o uso da medicação. dicamentos por meio da atenção básica, isso
Para tanto, se fez necessário conhecer não garante a efetividade do tratamento, uma
o histórico farmacoterapêutico, os pro- vez que existem inúmeros fatores que induzem
blemas de saúde, as preocupações, as o paciente a decidir por não tomar o medica-
expectativas e as experiências subjeti- mento, como esquemas posológicos comple-
vas com a farmacoterapia dos pacientes xos, sua percepção e autoavaliação sobre seu
ou familiares/cuidadores. estado de saúde. A GIF consegue atender de
2.
Plano de cuidados (monitoramento forma integral essas necessidades, uma vez que
farmacoterapêutico): o objetivo desta o paciente se responsabiliza pela sua farmaco-
etapa foi promover a adesão à farma- terapia, respeitando suas limitações, medos
coterapia, resolver os PRM identificados e desejos, o que facilita a relação terapêutica
na avaliação inicial e prevenir o apare- entre o paciente e o profissional, colaborando
cimento de novos problemas de saúde. para a resolução dos problemas identificados.
Isso foi possível pela negociação de me- Com um seguimento personalizado e fo-
tas terapêuticas passíveis de resolução, cado nas necessidades do paciente, a GIF visa
respeitando as preocupações, os dese- desenvolver o autocuidado, censo crítico, in-
jos, o quadro clínico e as possibilidades dependência e autonomia do paciente, usando
do paciente ou familiar/cuidador. estratégias como lembretes por escrito e ver-
3.
Avaliação dos resultados: foi avaliada a balizados, unitarização de doses, adequações
evolução das metas terapêuticas, iden- posológicas, intervenções educativas e farma-
tificados novos PRM e novas necessida- cêuticas e orientações sobre os medicamentos
des farmacoterapêuticas. e comorbidades.
Com a implantação da GIF, conseguiu-se
Durante a GIF foi realizado monitoramen- promover benefícios para a saúde e reduzir po-
to de parâmetros clínicos, por meio de exames tenciais riscos relacionados aos medicamentos
de autoteste (glicemia capilar, colesterol total dos pacientes idosos, tendo em vista a melhora
e triglicérides) e fisiológico (pressão arterial), na adesão à farmacoterapia e resultados clíni-
além de avaliação de exames laboratoriais so- cos, além de colaborar para o ensino, pesquisa
licitados pelo médico. e extensão.
64
A consolidação da GIF e a inserção do far- o desperdício e consequentemente o descarte
macêutico na equipe de saúde contribui para inadequado dos medicamentos e a contamina-
a prevenção de doenças e diminui a busca ção do meio ambiente.
por serviços de urgência e emergência. Con-
sequentemente, evita gastos com hospitaliza- Descrição dos impactos gerados com esta
ções, realizações de exames de alta complexi- experiência
dade e custo elevado, além de outras despesas
com medicamentos prescritos em duplicidade De novembro de 2012 a dezembro 2013 fo-
pelos profissionais da instituição pública e ram capacitados nove farmacêuticos do muni-
privada. cípio, um aluno de pós-graduação e 20 alunos
O serviço também demonstrou ser uma de graduação para a realização da GIF.
importante ferramenta de comunicação en- Dos nove farmacêuticos capacitados, três
tre o CRIA e atenção básica, uma vez que faz a iniciaram a GIF em uma unidade de saúde da
interlocução das necessidades do paciente nas atenção básica, sendo que um desenvolveu
duas esferas (atenção básica e especializada), atividades de tutoria e extensão universitária
por meio do envio de informes ao prescritor para assistencial e dois desenvolveram em parce-
informação quanto à farmacoterapia em uso, ria com médico da atenção básica, um proto-
queixas principais e parâmetros avaliados, que colo para a retirada gradativa ou diminuição
muitas vezes são desconhecidos pelo médico ao do uso crônico de benzodiazepínicos de pa-
qual o paciente foi referenciado. Esses informes cientes idosos.
colaboram para a assertividade médica, assim
Foram atendidos 52 pacientes, dos quais 43
como, para os cuidados ao paciente.
apresentavam pelo menos um PRM. No total,
Além disso, a GIF minimiza o uso irracional foram identificados 90 PRM (tabela 1), sendo
do medicamento, promovendo educação sani- solucionado um a cada dois problemas identi-
tária por meio de intervenção educativa, dimi- ficados. Em média foram realizados quatro en-
nuindo os danos causados à saúde, evitando contros por paciente.

Tabela 1 - Frequência e descrição dos Problemas Relacionados ao uso de Medicamentos (PRM) antes e depois
das intervenções da Gestão Integral da Farmacoterapia (GIF), e o índice de eficiência (resolução)
em 43 pacientes atendidos em Araraquara-SP (novembro/2012 a dezembro/2013)

PRM GIF
CLASSIFICAÇÃO TEMPO INICIAL TEMPO FINAL RESOLUÇÃO
NECESSIDADE
Farmacoterapia necessária 3 1 0,4
Farmacoterapia desnecessária 14 7 0,5
Subtotal 17 8 0,4
EFETIVIDADE
Inefetividade qualitativa 13 5 0,4
Inefetividade por por baixas doses 17 8 0,4
Subtotal 30 13 0,4
SEGURANÇA
Eventos adversos 14 8 0,6
Toxicidade 6 2 0,4
Subtotal 20 10 0,5
ADESÃO 23 12 0,5
Fonte: MASTROIANNI, P. C.; OLIVEIRA, F. M.; ALMEIDA, L. A.; POLLI, L. M.. Logros de las unidades experimentales de optimización de la
farmacoterapia en Araraquara/São Paulo- Brasil. In: VI Congreso Nacional de Farmacéuticos Comunitarios, 2014, Málaga. La Revista
Farmacéuticos comunitários. Madrid: Sociedade Española de Farmacia Comunitaria (SEFAC), 2014. p. 29-29.
OLIVEIRA, F.M.; MASTROIANNI, P. C. Implantación de um servicio de gestión integral de la farmacoterapia em um centro de refe-
rencia del adulto mayor. XVI Congreso Internacional de la Organización de Farmacéuticos Iberolatinoamericanos, Assunción/
Paraguay, 2014.
65
O PRM de maior frequência foi de inefeti- Um dos próximos passos para a consolida-
vidade por baixas doses, principalmente nos ção da GIF é a capacitação de maior número de
medicamentos anti-hipertensivos e antidiabé- farmacêuticos para o seguimento farmacote-
ticos. Esses problemas foram resolvidos, so- rapêutico e para extensão universitária. A prá-
bretudo, por adaptações e ajustes posológicos tica clínica requer preparo e dedicação, além
(15), envio de informe médico (9) e unitarização de um árduo processo de divulgação, devido à
de doses (6). As adaptações posológicas reali- falta de conhecimento e entendimento por ou-
zadas foram de substituição de forma farma- tros profissionais da saúde e até pelo próprio
cêutica e o principal ajuste posológico foi no farmacêutico.
horário de tomada da medicação. Ainda é necessário incluir estudos econô-
Vinte e três pacientes não aderiam a farma- micos para avaliação do impacto proporciona-
coterapia devido a dificuldade de compreen- do pela GIF na unidade de implantação, visan-
são, problemas cognitivos, complexidade dos do à sustentabilidade econômica da prática de
esquemas posológicos e pouca ou nenhuma cuidados em saúde.
informação a respeito de seus medicamentos
e comorbidades. Ainda, a ausência de cuidador CONCLUSÃO
e a experiência negativa com seus medicamen-
tos também colaboraram para a não adesão. A GIF resolveu metade dos PRM identifi-
Após a intervenção, foi possível promover a cados, principalmente aqueles relacionados a
adesão em 11 desses pacientes. eventos adversos (0,6) como acatisia medica-
mentosa induzida por síndrome serotonérgica
Ao final do trabalho, 19 pacientes recebe-
em paciente usando fluoxetina (Mastroianni
ram alta da GIF por apresentarem, no mínimo,
et al, 2015). Também promoveu a otimização
um parâmetro clínico controlado.
da farmacoterapia, benefícios à saúde dos pa-
Diante disto, observou-se eficácia do servi- cientes, formação profissional e educação con-
ço em pouco tempo de implantação, o que nos tinuada.
sugere impacto positivo na assistência farma-
A mudança na percepção da assistência
cêutica municipal, apresentando um índice de
farmacêutica em relação ao processo de cuida-
eficiência de 0,5.
do do paciente proporcionou a integração do
farmacêutico à equipe de saúde e sua partici-
pação ativa e corresponsabilização pela farma-
coterapia do paciente.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Es-


tatística - IBGE. IBGE Cidades. Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística. Disponível em:
<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?-
codmun=350320. Acesso em 09 jan. 2016.

Próximos passos, desafios e necessidades BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada nº


44, 17 de agosto de 2009. Brasília, DF: [s.n.],
A proposta de implantação da GIF no 2009. Disponível em: <http://www.crfsp.org.
CRIA atuou como “incubadora” para a for- br/joomla/index.php?option=com_content&-
mação de recursos humanos e a consolida- view=article&id=1696:resolucao-rdc-no-44-de-
ção do serviço na rede de atenção à saúde -17-de-agosto-de-2009-&catid=113:legislacao>
de Araraquara. Porém, ainda são necessá- Acesso em: 19 jan. 2016.
rios esforços para a expansão e implantação MASTROIANNI, P.C.; OLIVEIRA, F. M.; VARALLO,
da GIF em novas unidades assistenciais, de- F.R. Resolution of Tremor Fluoxetine-induced
monstrando o grande desafio que o municí- in an Elderly Patient. International Journal of
pio ainda dispõe. Medical and Pharmaceutical Case Reports, v.
66
3, p. 1-5, 2015.  http://www.sciencedomain.org/ de servicios de gestión integral de la farmaco-
abstract.php?iid=787&id=38&aid=7354 terapia.   Disponível em: <http://www.ofil-inter-
MASTROIANNI, P. C.; OLIVEIRA, F. M.; ALMEIDA, L. nacional.org>. Acesso em: 19 janeiro 2016.
A.; POLLI, L. M.. Logros de las unidades experi-
mentales de optimización de la farmacoterapia INSTITUIÇÃO
en Araraquara/São Paulo- Brasil. In: VI Congre- Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mes-
so Nacional de Farmacéuticos Comunitarios, quita Filho” (Unesp)
2014, Málaga. La Revista Farmacéuticos comu- Centro de Referência do Idoso de Araraquara
nitarios. Madrid: Sociedad Española de Farma- (CRIA)
cia Comunitaria (SEFAC), 2014. p. 29-29.
OLIVEIRA, F.M.; MASTROIANNI, P. C. Implantación AUTORES
de un servicio de gestión integral de la farma- Fernanda Mariana Oliveira
coterapia en un centro de referencia del adulto Silvana Lee
mayor. XVI Congreso Internacional de la Orga- Oriomar Sampaio Carmagnani
nización de Farmacéuticos Ibero latinoameri- Patrícia Carvalho Mastroianni
canos, Asunción/Paraguay, 2014.
ORGANIZACÍON DE FARMACÉUTICOS IBEROLATI- CONTATOS
NOAMERICANOS (OFIL). Guía para la implantación femoliveira12@gmail.com
67

Franca/SP

Importância da assistência
farmacêutica na promoção do uso
racional de medicamentos por
meio da intervenção no processo
de judicialização do SUS
CARACTERIZAÇÃO de atenção básica, média e alta complexidade
ambulatorial e hospitalar, por meio de serviços
Franca é um município localizado na região próprios, conveniados e contratados. É referên-
nordeste do estado de São Paulo, distante 401 cia para outros 22 municípios pertencentes ao
km da capital estadual e a 676 km de Brasília. Departamento Regional de Saúde VIII. O estado
Segundo o Instituto Brasileiro de Geogra- de São Paulo é dividido em 17 departamentos
fia e Estatística (IBGE), possui uma área de que são responsáveis por coordenar as ativida-
605,679 km², e sua população estimada em 2015 des da Secretaria Estadual de Saúde no âmbito
é de 342.112 habitantes. regional e promover a articulação intersetorial
Em relação à saúde pública local, o muni- com os municípios e instituições da sociedade
cípio de Franca presta atendimento nas áreas civil.
68

Assistência farmacêutica padronizados ou não no SUS1. As listas de me-


dicamentos essenciais e os critérios de forne-
No tocante ao Componente Especializado, cimento preconizados pelos componentes da
a organização e estruturação da Assistência assistência farmacêutica vem sendo desconsi-
Farmacêutica (Ceaf) ocorre por meio das far- derados.
mácias situadas nos departamentos regionais A garantia do acesso a medicamentos está,
de Saúde. Cada farmácia atende aos municí- portanto, colocada no centro da pauta e das
pios de sua região garantindo acesso a medica- preocupações dos gestores2, frente aos desa-
mentos de elevado valor unitário ou que, pela fios para a efetiva consolidação dos princípios
cronicidade do tratamento, tornam-se excessi- do SUS. Entre eles está o processo de judicia-
vamente caros para a maioria da população. lização da saúde, que motiva discussões nos
A farmácia de Franca abrange 22 municípios poderes Executivo e Judiciário. Por um lado
e atende em média 22 mil pacientes por mês. É defende-se que este fenômeno acontece de-
realizado um trabalho articulado entre as esfe- vido à busca por acesso adequado às neces-
ras federal, estadual e municipal para promover sidades individuais de cada paciente em meio
a integralidade do tratamento medicamentoso, ao desenvolvimento organizativo e operacional
em nível ambulatorial, garantindo tratamento ainda insuficiente no SUS3,4, e, por outro lado,
em todas as fases evolutivas das doenças con- compromete a qualidade do fornecimento e
templadas. Assim, o Ministério da Saúde elabo- uso racional dos medicamentos e a utilização
ra os protocolos clínicos a serem seguidos para dos recursos disponíveis de forma eficiente.
dispensação de medicamentos e que são uma Também é preciso ressaltar as tendências
forma de possibilitar a prescrição segura e o inevitáveis que pressionam o Sistema e cola-
uso racional de medicamentos. A Secretaria de boram para o crescimento da judicialização,
Saúde do Estado fornece orientações, suporte como: maior acesso à informação do cidadão
técnico, realiza aquisição, distribuição e finan- e, portanto, mais exigências por tecnologias
ciamento de medicamentos. Os municípios são em saúde; maior exercício do direito individual
responsáveis pela estrutura dos serviços de assegurado pela Constituição; envelhecimento
saúde, fornecendo condições para que sejam da população com a prevalência de doenças
cumpridos os critérios estabelecidos, além da crônicas; transição epidemiológica, com pre-
atenção básica, visto que muitas doenças con- sença de doenças emergentes juntamente com
templadas no componente especializado re- as antigas.
querem inicialmente uma abordagem no nível Segundo Vieira & Zucchi5, a solicitação pela
básico da assistência. As três esferas são res- via judicial de medicamentos incorporados aos
ponsáveis pela aquisição de medicamentos. programas do SUS sugere falhas na garantia de
acesso ou o desconhecimento de prescritores
RELATO DA EXPERIÊNCIA e requerentes sobre a disponibilidade desses
medicamentos, reforçando a hipótese de defi-
A constatação de que a garantia de acesso ciências na gestão das políticas farmacêuticas.
aos medicamentos é componente fundamen- Desta forma, cabe aos gestores do SUS a reor-
tal para a integralidade da assistência à saúde ganização da assistência farmacêutica para ga-
acompanha o Sistema Único de Saúde (SUS) rantir a disponibilidade e o fornecimento dos
desde a sua criação. A Lei nº 8.080, em seu ar- medicamentos previstos nas políticas, evitando
tigo 6º, prevê no campo de atuação do SUS, en- que demandas justificadas se transformem em
tre outras, a execução de ações de assistência ações judiciais6. Porém, não basta garantir os
terapêutica integral, inclusive farmacêutica, e a recursos financeiros necessários para a aquisi-
formulação da política de medicamentos. ção e disponibilidade destes medicamentos se
Assim, o direito universal à saúde e os não houver investimentos para a organização e
princípios da integralidade e universalidade, qualificação dos serviços7.
que são deveres do Estado, têm sido utilizados Diante do exposto, fica evidente que a
como argumento para justificar as ações judi- assistência farmacêutica tem um papel fun-
ciais para o fornecimento de medicamentos damental no planejamento de ações para
69
garantir a qualidade do fornecimento e uso seus medicamentos por meio do Componente
racional dos medicamentos e a utilização Especializado.
dos recursos disponíveis de forma eficiente, Em janeiro de 2016, após a consolidação
buscando melhorias sobre os resultados em destas transferências, foi realizado levanta-
saúde, além de diminuir o processo de judi- mento, referente aos medicamentos imuno-
cialização no SUS. biológicos Abatacepte, Adalimumabe, Etaner-
Esta experiência relata a transferência de cepte, Golimumabe, Infliximabe, Rituximabe e
pacientes que recebem medicamentos via ação Tocilizumabe. De acordo com os estudos, es-
judicial na farmácia do Núcleo de Assistên- tes medicamentos são de custo elevado e es-
cia Farmacêutica (NAF) para serem atendidos tão entre os mais solicitados via ação judicial,
nas Farmácias do Componente Especializado mesmo sendo disponibilizados pelo SUS por
da Assistência Farmacêutica (Fceaf) de Fran- meio do Ceaf.
ca, mediante trabalho em conjunto da equi- Desta forma, listou-se a quantidade total
pe de assistência farmacêutica das farmácias de pacientes transferidos da farmácia do NAF
envolvidas. Também demonstra os benefícios para a Fceaf e a quantidade total de frascos de
do atendimento de pacientes por meio da medicamento retirada mensalmente por estes
Fceaf em detrimento da via judicial. pacientes, sendo realizada a comparação do
Esta atividade visa promover uso racional custo do tratamento mensal via ação judicial e
de medicamentos por meio do fornecimen- via dispensação na Fceaf.
to dos mesmos, com orientação, segurança e O preço unitário dos medicamentos adqui-
eficácia terapêutica, além de reduzir os gastos ridos para atender a demanda judicial foi obti-
com judicialização, pois na Fceaf os medica- do consultando-se a ata de registro de preços
mentos são adquiridos por um preço reduzido em vigência para cada medicamento no site
devido aos quantitativos e às modalidades de da Secretaria de Estado da Saúde e as notas
compra aplicadas. E a dispensação é realizada fiscais das últimas compras efetuadas pela
mediante comprovação de critérios de diag- farmácia do NAF pela modalidade pregão ele-
nóstico, inclusão e monitorização do trata- trônico. Enquanto o preço dos medicamentos
mento estabelecidos em Protocolos Clínicos e para atender a demanda da Fceaf foi consul-
Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do Ministério da tado na nota fiscal do mês de janeiro de 2016
Saúde. Dessa forma, a transferência é possível emitida em referência à aquisição centralizada
quando os medicamentos solicitados estão pa- pelo Ministério da Saúde.
dronizados no Componente Especializado, são
preenchidos estes critérios e o paciente con- Posteriormente, foram realizados cálculos
corda em ser atendido na Fceaf. do gasto mensal do tratamento de cada me-
dicamento nas duas farmácias, demonstran-
METODOLOGIA do assim a diferença total de custos mensal e
anual.
Os pacientes atendidos pela via judicial Desse modo, foi possível fazer a compa-
na farmácia do NAF, cujos medicamentos es- ração dos valores dos medicamentos por pa-
tavam disponíveis no Componente Especiali- ciente para um mês de tratamento em cada
zado, foram previamente orientados sobre as farmácia, possibilitando calcular também a
vantagens desta transferência e quanto aos economia gerada com o atendimento dos pa-
documentos necessários para o cadastro e dis- cientes pela Fceaf.
pensação na Fceaf. Foram informados de que a
ação judicial permaneceria ativa por até 4 me- Descrição dos resultados e impactos gerados
ses, para que sentissem segurança em mudar com esta experiência
o local de retirada do medicamento. Recebiam
então o medicamento via ação judicial e, caso A partir da transferência dos pacientes e
trouxessem os documentos solicitados em do levantamento de dados, tendo como refe-
conformidade com os PCDT, eram cadastrados rência o mês de janeiro de 2016, foi elaborada
na Fceaf e, no mês seguinte, passavam a retirar a seguinte tabela:
70
Tabela 1 - Comparação do custo dos medicamentos adquiridos via ação judicial
e via Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (Fceaf)

Ação judicial Fceaf


nº de pacientes quantidade preço custo preço custo
Medicamentos
transferidos frascos/mês unitário mensal unitário mensal
Abatacepte 250mg 1 3 R$ 1.112,41 R$ 3.337,23 R$ 458,38 R$ 1.375,14
Adalimumabe 40mg 25 47 R$ 1.700,00 R$ 79.900,00 R$ 776,09 R$ 36.476,23
Etanercepte 25mg 2 8 R$ 1.224,91 R$ 9.799,28 R$ 194,42 R$ 1.555,36
Etanercepte 50mg 13 52 R$ 2.425,32 R$ 126.116,64 R$ 381,00 R$ 19.812,00
Golimumabe 50mg 4 4 R$ 2.597,54 R$ 10.390,16 R$ 1.331,90 R$ 5.327,60
Infliximabe 100mg 6 19 R$ 920,97 R$ 17.498,43 R$ 920,36 R$ 17.486,84
Rituximabe 500mg 3 6 R$ 4.182,00 R$ 25.092,00 R$ 1.921,76 R$ 11.530,56
Tocilizumabe 80mg 11 77 R$ 445,44 R$ 34.298,88 R$ 209,18 R$ 16.106,86
Total 65 216 R$ 14.608,59 R$ 306.4322 R$ 6.193,09 R$ 109.607,59

Entre os pacientes transferidos, 65 esta- Também é importante considerar que,


vam em tratamento com os medicamentos na Fceaf, além do acolhimento, da estrutu-
Abatacepte, Adalimumabe, Etanercepte, Goli- ra física planejada e apropriada para a dis-
mumabe, Infliximabe, Rituximabe e Tocilizu- pensação de medicamentos e dos recursos
mabe. Eles passaram a retirar na Fceaf por humanos capacitados para as atividades
meio do Programa de Medicamentos Especia- farmacêuticas, existe a avaliação da prescri-
lizados. Assim, observou-se que o custo total ção. O atendimento é realizado com assis-
do tratamento mensal (mês de referência: ja- tência farmacêutica em período integral, ou
neiro/2016) para estes 65 pacientes via Fceaf seja, há a interação direta entre farmacêu-
foi de R$ 109.670,59. Se continuassem retiran- tico/usuário onde se busca uma farmacote-
do os medicamentos por via judicial o custo rapia racional que conduza aos resultados
seria de R$ 306.432,62. Ou seja, foi promovi- clínicos desejados. Dessa forma, a dispensa-
da uma economia de 179,4% para o governo. ção é realizada na dose, forma farmacêutica
Em um ano, a diferença de gasto seria de R$
e quantidade apropriada, com informações
2.361.144,36.
sobre o uso adequado. Desse modo, são ga-
Além da economia de gastos com aquisição rantidas a segurança, a eficácia e a adesão
de medicamentos, é importante considerar que ao tratamento. Além disso, o paciente rece-
é mais seguro, conveniente e vantajoso para o be os medicamentos mediante apresenta-
paciente e para o sistema de saúde que os me- ção periódica de documentos preenchidos
dicamentos sejam entregues na Fceaf. Por meio pelo prescritor, assegurando o acompanha-
do Programa de Medicamentos Especializados mento médico do tratamento, evitando a
o paciente recebe medicamentos registrados e automedicação e uso indiscriminado, bem
selecionados, pertencentes ao elenco de me- como permitindo seguimento dos possíveis
dicamentos essenciais, com indicação basea-
efeitos adversos.
da em evidências clínicas. Os medicamentos
são entregues após avaliação de critérios de Outra vantagem é que na Fceaf a troca/
diagnóstico, indicação e tratamento, inclusão e substituição da medicação pode ser realizada
exclusão, esquemas terapêuticos, monitoriza- com maior facilidade, já que os PCDT estabe-
ção/acompanhamento estabelecidos nos PCDT lecem linhas de cuidado com alternativas tera-
do Ministério da Saúde. Esses protocolos são pêuticas. Quando o medicamento de primeira
formulados a partir das melhores evidências escolha, adquirido por via judicial, não oferece
científicas disponíveis e isentos de conflitos de boa resposta é necessário impetrar uma nova
interesse. ação contra o Estado.
71
Vale ressaltar que na Fceaf os pacientes versal e igualitário à saúde, previsto na Cons-
têm a possibilidade de relatar reações adver- tituição Federal. Além disso, as ações judiciais
sas dos medicamentos recebidos que, por sua reduzem o direito à saúde a ações curativas e
vez, são notificadas ao Núcleo de Farmacovigi- paliativas, desconsiderando o caráter funda-
lância do Estado de São Paulo, configurando-se mental da promoção, proteção e recuperação
uma estratégia de monitoramento assistencial. da saúde, inerente à assistência farmacêuti-
Assim, consolida-se o serviço farmacêutico ca. A judicialização se resume em promover o
como um serviço de saúde comprometido com acesso do paciente ao medicamento, mas não
os resultados da farmacoterapia e com a me- garante assistência integral à saúde.
lhoria da qualidade de vida das pessoas. Outras estratégias que poderiam contribuir
Dessa forma, estratégias de gestão como a para assegurar o acesso aos medicamentos es-
transferência dos pacientes da via judicial para senciais, reduzindo o número de processos ju-
o Componente Especializado, são fundamen- diciais, seria a criação de colegiados compos-
tais para garantir a consolidação dos princípios tos por profissionais da saúde, que avaliassem
e diretrizes do SUS. Colaboram também para a a necessidade dos medicamentos solicitados.
adequada operacionalização do sistema, além Aliada a essa iniciativa, seria positiva a melhor
de assegurar a aplicação dos recursos públicos divulgação dos programas públicos de distri-
em saúde de maneira eficaz, eficiente e justa; buição de medicamentos.
o cumprimento das premissas das políticas da
assistência farmacêutica e a promoção do uso CONCLUSÃO
racional de medicamentos.
Considerando-se os princípios doutriná-
Próximos passos, desafios e necessidades rios do SUS de universalidade, integralidade e
equidade; a necessidade de se assegurar con-
A judicialização indica, em certas circuns- tinuamente a qualidade, eficácia, eficiência e
tâncias, falhas a serem sanadas no sistema de efetividade da assistência prestada; e a escas-
saúde. Ela contraria a consolidação da Política sez de recursos financeiros destinados ao setor
Nacional de Medicamentos e leva a uma desar- saúde, fica evidente a importância da utiliza-
ticulação do ciclo da assistência farmacêutica. ção de estratégias que proporcionem impactos
Os processos de seleção e aquisição são des- sobre a assistência e economia dos gastos em
considerados, pois os medicamentos adquiri- saúde.
dos não são padronizados pela Relação Nacio-
Assim, o atendimento de pacientes pela
nal de Medicamentos Essenciais (Rename), não
Fceaf, em detrimento da via judicial, é mais
tendo, portanto, comprovação de eficácia e/ou
vantajoso tanto para o paciente quanto para o
registro na Agência Nacional de Vigilância Sani-
tária (Anvisa). É importante mencionar também sistema de saúde.
a eventual aquisição de medicamentos novos, a
custos elevados, com indicações para as quais REFERÊNCIAS
não há aprovação no país. Muitas vezes exis-
te alternativa terapêutica para substituí-los CHIEFFI, A.L; BARATA, R.B. Judicialização da po-
nos programas do SUS8,9. Além disso, devido à lítica pública de assistência farmacêutica e
urgência de atendimento das ações do Poder eqüidade. Cad. Saúde Pública, v.25, n.8, p.1839-
Judiciário, os procedimentos de compra utili- 1849, 2009.
zados implicam em maior gasto na aquisição BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de
de medicamentos do que aquelas planejadas e Saúde. Assistência Farmacêutica no SUS. Cole-
licitadas, o que leva ao aumento da irracionali- ção Progestores – Para entender a gestão do
dade na utilização do recurso público7. SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2011, vol. 7.
Embora as ações judiciais sejam uma for- 186 p.
ma legítima de assegurar direitos, o forneci- BORGES, D.C.L; UGÁ, M. A. D.  Conflitos e
mento de medicamentos por esta via prioriza impasses da judicialização na obtenção de
as necessidades individuais em detrimento das medicamentos: as decisões de 1a instância nas
coletivas, violando-se a garantia do acesso uni- ações individuais contra o Estado do Rio de
72
Janeiro, Brasil, em 2005.  Cad. Saúde Pública, INSTITUIÇÃO
v.26, n.1, p. 59-69, 2010.
Farmácia do Componente Especializado da As-
BRASIL. Secretaria de assuntos estratégicos. sistência Farmacêutica de Franca (SP) – Depar-
Instituto de pesquisa econômica aplicada. Po- tamento Regional de Saúde VIII
líticas sociais: acompanhamento e análise. Bra-
sília: IPEA, 2008. AUTORAS
VIEIRA, F. S.; ZUCCHI, P. Distorções causadas pe- Rejane Silva de Pádua Souza 
las ações judiciais à política de medicamentos Márcia Freitas de Andrade Derruci
no Brasil. Revista Saúde Pública. 2007. 41(2): pp. Juliana de Almeida Machado
214-222. Géssia Flauzino Kremer
MACEDO, E. I.; LOPES, L. C.; BARBERATO-FILHO,
S. Análise técnica para a tomada de decisão do CONTATOS
fornecimento de medicamentos pela via judi- farmex-franca@bol.com.br
cial. Revista Saúde Pública. 2011; 45(4): pp. 706- marciafandrade@yahoo.com.br
713. ju_farmachado@yahoo.com.br
BLATT, C. R.; FARIAS, M. R. Diagnóstico do Pro- gessiaflau@hotmail.com
grama de Medicamentos Excepcionais do Esta-
do de Santa Catarina. Latin American Journal of
Pharmacy. 2007; vol. 26, n. 5. p. 776-783.
PEPE, V. L. E. et al. A judicialização da saúde e os
novos desafios da gestão da assistência farma-
cêutica. Rev.  Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v.15, n.5, p.2405-2414, 2010.
VENTURA, M. et al.  Judicialização da saúde,
acesso à justiça e a efetividade do direito à
saúde.  Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio
de Janeiro, v.20, n.1, p.77-100, 2010.
73

Ribeirão Preto/SP

Implantação de formulário
para utilização e dispensação
de medicamentos impactantes no
orçamento hospitalar
CARACTERIZAÇÃO o município possuía um Produto Interno
Bruto (PIB) de R$ 2,8 milhões.
A cidade de Ribeirão Preto localiza-se
no nordeste do estado de São Paulo, com Perfil epidemiológico
área territorial de aproximadamente 650
km² e população estimada em 666.323 mil De acordo com o Plano Municipal de Saúde
habitantes, segundo dados do Instituto Bra- (2014/2017), o perfil de morbidade do município
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de tem se modificado. O envelhecimento popu­
2015. Destes, 89,9% são alfabetizados, 48% lacional tem contribuído para o aumento
do sexo masculino e 52% feminino. Em 2013, de doenças crônicas não transmissíveis. A
74
violência urbana e outros fatores contribuem uma unidade funcionando 24 horas para pron-
para o aumento de internações por causas to atendimento e unidades básicas, em cada
externas. distrito. Há 15 unidades hospitalares públicas e
privadas, sendo que 71% dos leitos são dispo-
No município de Ribeirão Preto, a dengue
nibilizados ao SUS.
representa ainda um desafio, sendo caracte-
rizada como endemia, com aumento de casos Entretanto, devemos ressaltar que o muni-
em algumas épocas do ano. cípio se caracteriza como polo regional de saú-
de, sendo referência para demais municípios
Dentre as principais causas de interna- do Departamento Regional de Saúde (DRS) XIII,
ção hospitalar no ano de 2012, destacam-se: para outros DRS e também outros estados em
doenças do aparelho circulatório (13,9%); determinados procedimentos, principalmente
lesões, envenenamento e algumas outras aqueles de alta complexidade.
consequências de causas externas (12,8%);
Dentro dessa rede está inserido o Hospi-
doenças do aparelho digestivo (10,5%); neo- tal das Clínicas da Faculdade de Medicina de
plasias (10,1%); doenças do aparelho respi- Ribeirão Preto (HCRP), da Universidade de São
ratório (8,8%). Paulo (USP), que se caracteriza pela alta com-
plexidade e atende toda a população da Rede
Estruturação da rede de saúde Regional de Saúde (RRAS) XII. Esta compreende
os DRS III Araraquara, V Barretos, VIII Franca e
A rede de atenção à saúde do município XIII Ribeirão Preto. Essa região é composta por
está organizada em cinco distritos de saúde, 90 municípios.

Figura 1 - Região de abrangência do HCRP onde estão inseridas as regionais de Ribeirão Preto, Araraquara, Franca e Barretos

Assistência farmacêutica nico, um farmacêutico especializado na área


de gestão de estoques e dispensação de
A assistência farmacêutica da unidade medicamentos e três farmacêuticos atuan-
de emergência do HCRP possui cinco profis- tes na Farmácia Clínica, lotados nos setores
sionais, que atuam distribuídos da seguinte mais críticos (centros de terapia intensiva e
maneira: um farmacêutico responsável téc- urgências).
75

RELATO DA EXPERIÊNCIA seja, o uso não ficou restrito apenas às princi-


pais enfermarias/setores onde ocorria o maior
O trabalho foi desenvolvido na unidade de consumo, mas a todos os pacientes que preci-
emergência do HCRP no último trimestre de sassem desses medicamentos devido à situa-
2014. A disponibilidade de alguns medicamentos ção clínica avaliada.
padronizados no hospital sofreu um desabas-
tecimento devido a restrições orçamentárias.
Dentre esses, os medicamentos cisatracúrio Imagem 1 - Frente do formulário utilizado
ampola, dexmedetomidina frasco-ampola, pro-
pofol 1% seringa pronta para uso, remifentanila
frasco-ampola e sevoflurano inalatório tiveram
seus estoques drasticamente reduzidos ou dei-
xaram de ser adquiridos pela instituição. Para
o ano de 2015, a equipe administrativa definiu
então que os referidos medicamentos seriam
novamente adquiridos pela instituição, porém
em quantidade reduzida (50%) em relação do
consumo de todo o ano de 2014.
Essa redução impôs a necessidade de
realizar o controle da utilização, para que os
pacientes que realmente tinham indicações
precisas para uso dos medicamentos não dei-
xassem de ser atendidos.
A partir disso, estruturou-se um grupo de
trabalho composto por profissionais das áreas
assistenciais que utilizavam esses medicamen-
tos com maior frequência. Esse grupo era com-
posto de representantes, tais como o diretor de
atenção à saúde, supervisor médico do Centro
de Terapia Intensiva, coordenador médico do
Centro Cirúrgico, um docente da pediatria, um
farmacêutico responsável técnico e um médico
da coordenadoria.
Esse grupo de trabalho definiu que havia a Verso do formulário utilizado

necessidade de criação de protocolos de indi-


cações de uso particularizados para as diferen-
tes áreas assistenciais.
Como resultado do trabalho desse grupo,
definiu-se as principais indicações para cada
respectivo medicamento nos setores de maior
demanda: Centro de Terapia Intensiva-Adulto,
Centro de Terapia Intensiva-Pediátrico e Centro
Cirúrgico. Foi elaborado então o formulário de-
nominado “Solicitação Especial-Liberação de
Medicamentos” para a dispensação na farmácia
(imagem 1).
É importante salientar que os medicamen-
tos estavam disponíveis para atendimento de
paciente internado em qualquer enfermaria do
hospital, desde que o formulário também fos-
se preenchido, justificando a sua utilização, ou
76

Indicações nos Centros de Terapia Intensiva - via aérea difícil, que necessite estar
(Adulto e Pediátrico): bem desperto, ventilação adequada e
nível plasmático de opióide baixo ao fi-
a) cloridrato de dexmedetomidina injetável nal do procedimento;
frasco-ampola 200 mcg 2 ml: - paciente com insuficiência renal crônica
ADULTOS: com previsão de extubação ao final do
- segunda tentativa de desmame ventila- procedimento.
tório em paciente agitado;
- desmame ventilatório em paciente com c) propofol 1% injetável seringa pronta para
Dellirium. uso 50 ml:
PEDIATRIA: - neurocirurgia em hipertensão craniana
- abstinência por opióides e/ou benzo- grave que necessite de concentração al-
diazepínicos; veolar mínimo de halogenado elevada;
- tolerância ao opióide;
- história prévia ou familiar de hiperter-
- sedação difícil.
mia maligna ou com doença neuromus-
cular;
b) besilato de cisatracúrio 2 mg/ml ampola 5
ml: - intoxicação aguda por drogas ilícitas
com elevados níveis de catecolaminas
ADULTO / PEDIATRIA:
circulantes.
- S.A.R.A. (Síndrome da Angústia Respira-
tória Aguda); d) besilato de cisatracúrio2 mg/ml ampola 5
- tétano; ml:
- status epléticus; - insuficiência renal ou hepática associa-
das a patologias relacionadas à libera-
- crise de asma severa em ventilação con-
ção de histamina;
trolada.
- atopia ou asma brônquica com con-
Indicações Anestesiologia: traindicação ao uso de rocurônio;
- história de reação ao atracúrio com
a) cloridrato de dexmedetomidina injetável contraindicação ao uso de rocurônio.
frasco-ampola 200 mcg 2 ml:
- cirurgias de grande porte (exemplo: co- e) sevoflurano 100% inalatório frasco 250 ml:
luna, queimados) para reduzir consumo - indução anestésica inalatória em pa-
de opióides no intra-operatório e no ciente pediátrico sem acesso venoso
pós-operatório; periférico;
- procedimento de fibroscopia em pa- - manutenção de anestesia inalatória em
ciente pouco colaborativo; pacientes pediátricos de 0 a 10 anos;
- procedimento radio-intervencionista com - procedimentos cirúrgicos em pacientes
mínimo risco de depressão respiratória; cardiopatas;
- procedimento cirúrgico em paciente - procedimentos cirúrgicos de curta du-
com MEG apresentando elevado risco ração (até 45 minutos) com previsão de
de depressão respiratória; alta hospitalar para o mesmo dia;
- sedação na sala de recuperação pós-a- - indução anestésica inalatória em adul-
nestésica com indicação de extubação tos pouco colaborativos e/ou com difi-
precoce. culdade de obtenção de acesso venoso
periférico.
b) cloridrato de remifentanila injetável fras-
co-ampola 2 mg: Conforme pode ser observado nas ima-
- cirurgia de curta duração com possibili- gens o formulário Solicitação Especial - Li-
dade de alta precoce; beração de Medicamentos - possui uma se-
77
ção destinada ao uso exclusivo da farmácia.
Esse espaço é destinado a análises realiza-
das pelos farmacêuticos. Após ser preen-
chido, o formulário era encaminhado para
a farmácia, que efetuava a dispensação so-
mente mediante autorização expressa dos
médicos assistentes ou docentes responsá-
veis pelas áreas. Estabeleceu-se que o for-
mulário deveria ser entregue diariamente,
para que a dispensação e utilização dos me-
dicamentos fossem sempre acompanhadas
pela equipe de farmacêuticos da Unidade de
Emergência. A partir dessa análise criteriosa Farmacêutica Aline Araújo Lopes Morais realizando a análise
pelos farmacêuticos, indicadores foram ge- do formulário desenvolvido

rados e refletiram em resultados satisfató-


rios, pois não ocorreram desabastecimentos
dos medicamentos dispensados por meio
do formulário e os pacientes que tinham in-
dicações necessárias foram atendidos, não
impactando negativamente na assistência
prestada ao paciente.

METODOLOGIA

A partir da necessidade do controle mais


rigoroso de utilização de cinco medicamentos
padronizados na instituição, foram definidas as
Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade
principais situações para utilização dos medi- de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo,
camentos mediante justificativa. Depois dessa onde os trabalhos foram realizados
análise conjunta, as situações anteriormente
definidas foram todas inseridas em um formu- Descrição dos resultados e impactos gerados
lário específico para controlar a utilização des- com esta experiência
ses medicamentos.
Após elaboração do formulário, o mes- Quando o formulário foi implantado, a
mo foi amplamente divulgado na unidade e a meta era reduzir o consumo dos medicamentos
farmá­cia passou a dispensar os medicamentos para 50% do que havia sido utilizado no segun-
envolvidos mediante a entrega prévia do for- do semestre de 2014.
mulário. Desde então, a dispensação desses O formulário mostrou-se muito efetivo e
medicamentos acontece seguindo os protoco- alcançou economia geral de 70%; com dois dos
los previamente definidos. medicamentos controlados pelo formulário (ci-
É importante ressaltar que o processo de satracúrio e remifentanila), a redução de con-
dispensação de medicamentos na instituição sumo foi de mais de 80%, conforme pode ser
ocorre de maneira eletrônica. observado nas tabelas apresentadas a seguir:
78

Consumo referente de julho a dezembro de 2014

Consumo Consumo
Medicamento
Quantidade Valor

DEXMEDETOMIDINA, CLOR. INJETÁVEL FR-AMP 200 MCG 2 ML 2554 R$ 295.397,14

CISATRACURIO BESILATO 2MG/ML AMPOLA 5ML 7973 R$ 180.987,10

REMIFENTANILA, CLOR, INJETÁVEL FRASCO-AMPOLA 2 MG. 1180 R$ 48.191,20

PROPOFOL 1% INJETÁVEL SERINGA PRONTA PARA USO 50 ML 304 R$ 31.282,20

SEVOFLURANO 100%, INALATÓRIO, FRASCO 250 ML. 202 R$ 64.191,00

TOTAL   R$ 620.048,64

Consumo referente de julho a dezembro de 2015

Consumo Consumo
Medicamento
Quantidade Valor

DEXMEDETOMIDINA, CLOR. INJETÁVEL FR-AMP 200 MCG 2 ML 1013 R$ 119.597,30

CISATRACURIO BESILATO 2MG/ML AMPOLA 5ML 2378 R$ 22.952,46

REMIFENTANILA, CLOR, INJETÁVEL FRASCO-AMPOLA 2 MG. 167 R$ 6.412,80

PROPOFOL 1% INJETÁVEL SERINGA PRONTA PARA USO 50 ML 145 R$ 14.263,30

SEVOFLURANO 100%, INALATÓRIO, FRASCO 250 ML. 88 R$ 21.262,50

TOTAL   R$ 184.488,36

Análise Utilização Ficha Controle Especial - Unidade de Emergência

Medicamento 2014 2015 Redução %

DEXMEDETOMIDINA, CLOR. INJETÁVEL FR-AMP 200 MCG 2 ML 2554 1013 1541 60%

CISATRACURIO BESILATO 2MG/ML AMPOLA 5ML 7973 2378 5595 70%

REMIFENTANILA, CLOR, INJETÁVEL FRASCO-AMPOLA 2 MG. 1180 167 1013 86%

PROPOFOL 1% INJETÁVEL SERINGA PRONTA PARA USO 50 ML 304 145 159 52%

SEVOFLURANO 100%, INALATÓRIO, FRASCO 250 ML. 202 88 114 56%

Análise Utilização Ficha Controle Especial - Unidade de Emergência

Medicamento 2014 2015 Redução %

DEXMEDETOMIDINA R$ 295.397,14 R$ 119.597,30 R$ 175.799,84 60%

CISATRACURIO R$ 180.987,10 R$ 22.952,46 R$ 158.034,64 87%

REMIFENTANILA R$ 48.191,20 R$ 6.412,80 R$ 41.778,40 87%

PROPOFOL SERINGA R$ 31.282,20 R$ 14.263,30 R$ 17.018,90 54%

SEVOFLURANO R$ 64.191,00 R$ 21.262,50 R$ 42.928,50 67%

TOTAL R$ 620.048,64 R$ 184.488,36 R$ 435.560,28 70%


79
A análise apresentada demonstra os da- pais dificuldades iniciais foram observadas
dos referentes aos seis meses de utilização nos questionamentos sobre a necessidade
do formulário durante o ano de 2015 (julho de preenchimento diário do formulário. Com
a dezembro), pois o formulário foi implan- o passar do tempo e apoio de todos os en-
tando no meio do ano de 2015; portanto os volvidos no sentido de esclarecer dúvidas e
dados até agora obtidos ainda não são re- incentivar à adesão da equipe clínica, enfer-
ferentes à utilização anual desses medica- magem, auxiliares de farmácia e farmacêu-
mentos, mas ainda assim são muito signifi- ticos, foi possível implantar o uso efetivo
cativos. desse importante intrumento de controle de
estoque.
Próximos passos, desafios e necessidades Apesar das atuais dificuldades econô-
micas, esse trabalho mostra que é possível
As novas perspectivas para a melhoria realizar reduções de despesas com custo-
contínua da qualidade da assistência ofere- -benefício e manter o atendimento de de-
cida ao usuário do Sistema Único de Saúde mandas realmente necessárias no âmbito
(SUS) a partir do trabalho desenvolvido se- hospitalar, com a utilização de ferramentas
riam: extremamente acessíveis e de baixo impacto
- a tentativa de implantação na outra financeiro para implantação.
unidade da instituição e também em
outros hospitais da região de Ribei- O trabalho visou o uso racional dos me-
rão Preto que tivessem interesse em dicamentos em questão e possíveis desa-
utilizar a mesma metodologia, a ex- bastecimentos. Salienta-se a importância da
periência do HCRP serviria como pro- equipe multidisciplinar no êxito do objetivo
jeto piloto para os demais; alcançado.

- a revisão do formulário para adequa- O papel do farmacêutico nas equipes


ções, visando às variações de preço multiprofissionais mostrou-se extremamen-
de medicamentos envolvidos nesse te relevante para a garantia do uso seguro,
trabalho; racional e efetivo de medicamentos, garan-
tindo o atendimento aos usuários do siste-
- a manutenção da utilização do for- ma público de maneira adequada, com as
mulário para manter a economia terapias indicadas às necessidades de cada
apresentada anteriormente. paciente.

Outros medicamentos que possuem eleva- REFERÊNCIAS


dos preços também poderão ser controlados
utilizando indicadores semelhantes ou não, RIBEIRÃO PRETO. Secretaria Municipal da
adequados às necessidades atuais de redu- Saúde. Plano Municipal de Saúde 2014 -2017,
ção de gastos e ampliação de atendimento Ribeirão Preto: Divisão de Planejamento em
de pacientes, pois devido à atual conjuntura Saúde, Secretaria Municipal da Saúde, 2013.
econômica no país, é tendência que os ci-
dadãos que anteriormente eram atendidos RIBEIRÃO PRETO. Hospital das Clínicas da Fa-
pela saúde privada migrem para a rede pú- culdade de Medicina de Ribeirão Preto.
blica de saúde, o que já tem sido observado. Acesso ao site:  http://www.hcrp.usp.br/
s i te h c /u p l oa d /ge s ta o % 2 02 01 5% 2 0 -% 2 0
CONCLUSÃO Virtual-net.pdf, acessado em 02/05/2016.

Diante dos motivos que levaram à redu-


ção na compra dos medicamentos, as princi-
80

INSTITUIÇÃO CONTATOS
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina alinemorais@hcrp.usp.br ou
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo alinealopes@yahoo.com.br
– Unidade de Emergência ana.farma@yahoo.com.br
marcinha76@gmail.com
AUTORES matsuno@fmrp.usp.br
Aline Araújo Lopes Morais (coordenadora) claudia.righeti@terra.com.br
Ana Paula Araki jppintya@hcrp.usp.br
Márcia Pradela Sanches wjlovato@gmail.com
Alessandra Kimie Matsuno sinnocente@hcrp.usp.br
Cláudia Ferracini Righeti
José Paulo Pintyá
José Wilson Lovato
Sérgio Innocente
81

São Paulo/SP

Farmacêutico e educação
permanente: benefícios para o Ceaf,
RH, colaboradores e pacientes
CARACTERIZAÇÃO O município possui um  Índice de Desen-
volvimento Humano  (IDH) muito alto (0,805),
São Paulo é a cidade brasileira mais in- o  décimo quarto maior do estado  e o 28º do
fluente no cenário global. É considerada a 14ª Brasil.  Porém, o desenvolvimento humano na
cidade mais globalizada do planeta, recebendo cidade não é homogêneo. Em geral, os distritos
a classificação de cidade global alfa, por parte mais centrais apresentam IDH superior a 0,9,
do Globalization and World Cities Study Group que diminui gradativamente à medida que se
& Network (GaWC). afasta do centro, até chegar a valores de cerca
Localizada na Região Sudeste, possui de 0,7 nos limites do município. Isto se deve a
área de aproximadamente 1.521 km2 e popu- questões históricas, uma vez que a área central,
lação estimada de 12 milhões de habitantes sobretudo a localizada entre os rios Pinheiros,
(IBGE/2014), sendo considerada a cidade mais Tietê e Tamanduateí, foi o local onde mais se
populosa do Brasil. concentraram os investimentos e o planeja-
82
mento urbano por parte do poder público, bem A garantia de acesso a medicamentos é es-
como onde se instalou, historicamente, quase pecialmente importante nos países em desen-
a totalidade da elite econômica da cidade. volvimento. Um terço da população mundial,
Um ranking mundial de qualidade de vida, sobretudo nos países pobres, não tem acesso
elaborado pela consultoria internacional em a medicamentos essenciais. Por outro lado, os
recursos humanos  Mercer, aponta a capital países desenvolvidos consomem cerca de 80%
paulista na 117ª posição entre 221 cidades in- dos medicamentos produzidos no mundo.
ternacionalmente e na terceira posição entre No Brasil, em 1998, a  Portaria/GM nº
as quatro cidades brasileiras do ranking, atrás 3916  do Ministério da Saúde instituiu a Po-
somente de Curitiba, Florianópolis e Porto Ale- lítica Nacional de Medicamentos (PNM), em-
gre, e à frente de  Brasília. O status ecológico basada em preceitos da Organização Mundial
em um ranking paralelo aponta a cidade na da Saúde (OMS). As responsabilidades dos
148ª posição. gestores federal, estaduais e municipais fo-
ram definidas. Ao Ministério da Saúde cabe a
Perfil epidemiológico implementação e a avaliação da PNM. À dire-
ção estadual do SUS, em caráter suplemen-
De acordo com dados da prefeitura de São tar, formular, executar, acompanhar e avaliar
Paulo, a população do município, em 2011, esta- a política de insumos e equipamentos para a
va estimada em 12 milhões de habitantes e taxa saúde. No âmbito municipal, cabe à secreta-
de crescimento populacional de 0,76%. Desses ria de Saúde a responsabilidade de coorde-
12 milhões, 14,08% eram crianças e 11,9% ido- nar e executar a assistência farmacêutica por
sos. A taxa de natalidade (por 1.000 habitantes) meio da seleção, programação, aquisição,
era de 15,6 e de mortalidade, 6,02. armazenamento, distribuição, prescrição,
controle de qualidade e utilização dos medi-
Em 2001, o percentual de mortalidade pre-
camentos, visando à provisão adequada dos
coce (abaixo de 60 anos) por AVC foi de 22,5%
medicamentos na rede municipal.
e por diabetes 17,9%. No mesmo ano, segundo
os indicadores municipais, foram registrados, A assistência farmacêutica, na cidade de
para cada grupo de 100 mil habitantes, 53 ca- São Paulo, é constituída por componentes e
sos de tuberculose, 16 casos de Aids e 2 casos elementos que formam um conjunto de ações
de hanseníase. interligadas, técnica e cientificamente funda-
mentadas com critérios de equidade, custo e
Em São Paulo, 55,6% da população depen- efetividade, tendo o medicamento como su-
de exclusivamente do SUS, e por se tratar de porte das ações de prevenção, promoção e rea-
uma metrópole, a rede parece grande, pois são bilitação da saúde.
18 hospitais municipais, 16 unidades de pron-
to socorro e pronto atendimento e 439 UBS. No O componente técnico-científico é respon-
total, a cidade conta com 916 estabelecimen- sável pela seleção, normatização de tratamen-
tos ou serviços de saúde pública, ainda insu- to, prescrição, dispensação, atenção farmacêu-
ficientes para uma demanda de 12 milhões de tica, utilização, farmacoepidemiologia, farma-
habitantes e seus problemas de saúde. Agrava covigilância, farmacoeconomia e qualidade do
essa situação, as epidemias de Dengue, Chi- medicamento. O componente logístico trata da
kungunya, Zika Vírus, entre outras. programação, aquisição, armazenamento, dis-
tribuição.
Assistência farmacêutica A Secretaria Municipal da Saúde de São
Paulo (SMS-SP) criou em, 2001, a Área Técni-
A política de medicamentos, como parte ca de Assistência Farmacêutica, que passou a
integrante da política de saúde, com base nos compor uma das áreas técnicas da Coordena-
princípios e diretrizes do Sistema Único de ção de Desenvolvimento de Programas e Políti-
Saúde (SUS), deve ser implementada visando cas de Saúde (Codepps). Devido à organização
garantir que medicamentos seguros e eficazes, estrutural da SMS cabe à Área Técnica de As-
com qualidade, estejam disponíveis, ao menor sistência Farmacêutica o desenvolvimento do
custo possível a todos que deles necessitem. componente técnico-científico e à Divisão de
83
Suprimentos a responsabilidade por desenvol- com o dicionário Aurélio (1986), significa  cul-
ver o componente logístico da assistência far- tivar e vem do latim  colere. Em linhas gerais,
macêutica. a cultura é todo aquele complexo que inclui
A equipe técnica da área de assistência far- o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a mo-
macêutica é composta por 6 farmacêuticos que ral, os costumes e todos os hábitos e aptidões
contam com o apoio da Secretaria Executiva da adquiridos pelo homem, não somente em fa-
Comissão Farmacoterapêutica da SMS-SP (CFT). mília, mas de sua convivência como membro
de uma sociedade. A cultura organizacional
O Componente Especializado da Assistên-
remete para o conjunto de normas, padrões e
cia Farmacêutica (Ceaf) existe desde 1993. No
condições que definem a forma de atuação de
início de 1999, a Secretaria de Assistência Far-
uma organização.
macêutica do Ministério da Saúde, elaborou os
Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas Estudos sobre a cultura organizacional
para uma lista de medicamentos padroniza- aumentaram consideravelmente nos últimos
dos, de maneira a racionalizar a sua prescrição anos e são relevantes para as organizações.
e dispensação. Sem a perspectiva de cultura, o acesso à ges-
A ampla divulgação desse Programa pro- tão estratégica de pessoas é mais complexo
vocou o aumento de atendimento a pacientes. e pouco assertivo, pois ela permite apenas a
Na busca por parcerias para garantir o acesso visão macro do negócio (SHEIN, 2004).
da população, a Secretaria de Estado da Saúde Segundo Chanlat (1996), nos anos 1970
celebrou convênios com a Associação Paulista ocorreram várias mudanças na sociedade,
para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) houve a feminização do mercado de trabalho,
que, atualmente, gerencia cinco unidades de elevação dos graus de instrução, crescimento
farmácia do Ceaf, sendo três no município de das cidades, afirmação dos direitos individu-
São Paulo, uma no município de Guarulhos e ais, globalização da economia e flexibilização
uma no município de Campinas. do trabalho.
Nos anos 1980 surge a ideia de que a em-
RELATO DA EXPERIÊNCIA
presa deve preocupar-se em gerir as carrei-
ras de seu pessoal. Esta preocupação, que é
O presente trabalho tem como objetivo
nova em sua formulação, parte da importân-
mostrar o desenvolvimento de uma nova área
cia que a empresa adquire nos anos 80 e da
de atuação farmacêutica, a educação perma-
profissionalização da gestão que ocorre nos
nente. A meta é destacar a importância do
países industrializados, no mesmo período
envolvimento do farmacêutico com o setor de
(CHANLAT, 1996).
recursos humanos para o desenvolvimento e
capacitação de profissionais envolvidos com o Há alguns anos, muitos analistas apresen-
atendimento de pacientes e usuários das uni- taram dados de que a sociedade está em vias
dades de farmácia do Componente Especializa- de se fragmentar. O mercado de trabalho é o
do da Assistência Farmacêutica (Ceaf). centro desse processo, observado em países
A experiência mostrou que a conscientiza- industrializados. Lecher (1989 apud CHANLAT,
ção quanto a correta dispensação e todos os 1996, p.14) descreveu que nos anos 1990 a mão
procedimentos envolvidos na segurança do de obra passou a se dividir em 25% dos traba-
paciente requer tempo, paciência e muito tra- lhadores em um núcleo estável, outros 25%,
balho. Concluímos que a criação do setor de classificados como permanentes-periféricos, e
educação permanente dentro das unidades de 50% em empregos externos ou periféricos pre-
farmácia do Ceaf é apenas um passo rumo à cários.
valorização do profissional e das questões re- A gestão de pessoas está direcionada às
lacionadas ao atendimento com qualidade dos ações, não somente aos registros e procedi-
pacientes nos serviços de saúde. mentos escritos, mas na realização dos obje-
As mudanças atuais no cenário econômico tivos organizacionais que buscam facilitar o
do país desdobram-se, também, em mudanças desenvolvimento e a satisfação dos colabora-
no âmbito organizacional. Cultura, de acordo dores. Atualmente, é difícil imaginar qualquer
84
organização atingindo e mantendo a eficácia METODOLOGIA
sem programas e atividades efetivas de gestão
de recursos humanos (IVANCEVICH, 2008). Os treinamentos são desenvolvidos e mi-
Diante de todas essas mudanças sociais nistrados pelo farmacêutico, com ênfase na
e primando pela qualidade do atendimento melhora de indicadores internos e diminuição
ao paciente, em 2013, foi criado, nas unidades dos riscos relacionados a dispensação de me-
de farmácia do Ceaf, o Setor de Educação Per- dicamentos aos pacientes.
manente, com o objetivo de capacitar os co- O desenvolvimento do cronograma e a es-
laboradores sobre a legislação vigente, a dis- colha dos temas anuais são definidos no mês
pensação segura e correta dos medicamentos de janeiro. Todos os treinamentos devem ser
disponibilizados aos pacientes, desde a etapa aplicados até o mês de setembro do ano cor-
de recrutamento e seleção até o momento em rente. Os meses de outubro, novembro e de-
que são divididos entre as atividades dos dife- zembro são utilizados para reaplicação dos te-
rentes setores de farmácia. mas já ministrados aos colaboradores ausen-
É o Setor de Educação Permanente que re- tes na data inicial. As estratégias citadas são
aliza a aplicação desses treinamentos com foco utilizadas para que 100% dos colaboradores
na segurança do paciente a todos os colabora- sejam treinados e garantam o cumprimento
dores das unidades de farmácia do Ceaf. das regras para a segurança do paciente.

Dentre os temas ministrados pelo farma- O objetivo é oferecer treinamentos dinâmi-


cêutico, podemos citar: cos, que simulem situações do cotidiano e que
agreguem valor aos colaboradores, primando,
1. dispensação segura de medicamentos; sempre, pela melhoria da qualidade do servi-
2. farmacovigilância e notificação de even- ço e das orientações prestadas aos pacientes
tos; e usuários. Foram desenvolvidos certificados
3. atenção farmacêutica; de participação que são entregues a todos os
colaboradores, uma forma de motivar e incen-
4. processo de faturamento e seus princi- tivar a participação de todos, nos treinamentos
pais erros; aplicados.
5. protocolo clínico e diretrizes terapêuti- Realizamos uma aproximação da área de
cas, portarias e resoluções; recursos humanos com os demais colabora-
6. atendimento no call center; dores para melhor compreensão do contexto
7. humanização; no qual estão inseridos, com possibilidade de
desenvolvimento do relacionamento inter-
8. importância da correta identificação do pessoal, comprometimento com o resultado
paciente; e dedicação constante, visto o alto número de
9. motivação; atendimento e a diversidade de público e pato-
10. higienização das mãos; logias nas unidades de farmácia do Ceaf.

11. gerenciamento de resíduos de serviços Descrição dos resultados e impactos gerados


de Saúde. com esta experiência

Os treinamentos dos colaboradores com


foco na segurança do paciente desenvolvidos
nas unidades de farmácia do Ceaf, possibilita-
ram uma melhoria no atendimento prestado ao
paciente e um melhor entendimento dos riscos
e consequências relacionados a uma dispensa-
ção incorreta.
O gráfico abaixo ilustra a efetividade do
treinamento “Dispensação Segura de Me-
dicamentos”, aplicado no início de abril de
85
2015 em uma das unidades de farmácia, na com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Vila Mariana. Desde que o tema foi aplicado, (Anvisa) como também com toda a sociedade,
os erros caíram a zero. trazendo suas experiências para o órgão res-
ponsável por essa questão.
Erros de dispensação 2015 - Ceaf Vila Mariana
14
Por meio dos treinamentos foi também
possível alertar os colaboradores sobre os
erros frequentes, principalmente de cadas-
tro do medicamento, que impactavam em
dispensação incorreta e perdas de fatura-
1 1
mento. Quando cadastrado incorretamente
0 0 0 0 (em um quantitativo menor), o sistema acu-
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul
sa um consumo menor comparado ao real,
Após o treinamento, até julho de 2015, não ocorreram erros
de dispensação.
podendo causar a falta daquele item. O trei-
namento foi realizado no início de julho de
2015 e, a partir de então, os erros diminuí-
ram conforme gráfico ilustrado da unidade
de farmácia da Vila Mariana.

Erros de faturamento 2015 - Unidade Vila Mariana


174 179
180
160
140
120
100
80
60
24 28
40 6 10 5
20
0
Modelo do certificado entregue aos colaboradores JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
que participam dos treinamentos voltados
para a segurança do paciente Os erros diminuíram após a aplicação do treinamento.

O interesse dos colaboradores nos treina- O gráfico a seguir mostra a percentagem


mentos foi observado em novembro de 2015, média de colaboradores treinados nas unida-
quando foram incluídos medicamentos novos des de farmácia do Ceaf com foco na segurança
no tratamento da hepatite viral crônica C nas do paciente durante o ano de 2015.
unidades de farmácia. Trata-se de medica-
Colaboradores treinados nas unidades
mentos que seguem um protocolo específico de farmácia do Ceaf - 2015
para seu uso efetivo e racional. Com o treina- 87% 84% 85%
mento de atenção farmacêutica este tema foi 90% 82% 80%
83%

abordado e os colaboradores desenvolveram 80% 70%


70%
apresentações que ofereceram um conteúdo
60%
didático de instruções, como por exemplo, qual 50%
seria o correto armazenamento desses medi- 40%
camentos, horários adequados, alimentação 30%
aconselhada, permissão para exercícios físicos, 20%

dentre outros. Dessa forma, o paciente só re- 10% 0% 0%


0%
tira o medicamento após receber todas essas JAN* FEV MAR* ABR MAI JUN JUL AGO SET
instruções. Nos meses de janeiro não houve treinamento devido
O retorno da ação foi positivo. Muitos pa- a definição do cronograma anual e dos temas a serem
aplicados no decorrer do ano. Em março, a farmacêutica
cientes notificaram reações adversas quando responsável pela Educação Permanente estava em período
retornaram às unidades e contribuíram tanto de gozo de férias.
86

REFERÊNCIAS

CHANLAT, Jean-François. Quais carreiras e para


qual sociedade? I.  .  Rev. adm. empres.  [onli-
ne]. 1995, vol.35, n.6, pp. 67-75. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
rae/article/view/38319/37035>. Acesso em 18
de julho de 2015
CHANLAT, Jean-François. Quais carreiras e para
Entrega dos certificados aos colaboradores participantes qual sociedade? II.  Rev. adm. empres.  [online].
1996, vol.36, n.1, pp. 13-20. Disponível em: < http://
Próximos passos, desafios e necessidades dx.doi.org/10.1590/S0034-75901996000100003>.
Acesso em 18 de julho de 2015
A meta das unidades de farmácia do Ceaf FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda.  Novo Dicio-
é atingir 100% de colaboradores treinados em nário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janei-
todos os temas elencados. Para os próximos ro: Nova Fronteira, 1986.
treinamentos serão aprimorados os materiais IVANCEVICH, John. Gestão de Recursos Huma-
visuais, com a inserção de vídeos, impressos e nos. São Paulo: Mc Graw Hill, 2008.
dinâmicas para reforçar o conteúdo e desper-
tar nos colaboradores a ideia de desenvolvi- SCHEIN, Edgar. Organizational culture and lea-
mento constante. dership. San Francisco: Jossey-Bass, 2004.

CONCLUSÃO INSTITUIÇÃO
Secretaria de Estado da Saúde/Associação
Podemos concluir que os treinamentos Paulista para o Desenvolvimento
proporcionaram um canal de comunicação e da Medicina - SPDM
desenvolvimento dos colaboradores, refletido
no atendimento prestado aos pacientes já que AUTORES
os colaboradores passam a utilizar o conheci- Aline Pierobon
mento adquirido no contato com os usuários, Daniele Pinho Biagio
gerando ações favoráveis tanto para a saúde Graziella Coppo
pública quanto para as unidades de farmácia. Taiz Jacob Tuasca
A experiência é relevante tanto para os Thamiris Teles de Oliveira
profissionais das unidades de farmácia quanto
para os pacientes. O esclarecimento das dúvi- CONTATO
das gera um ambiente coerente que se adapta daniele.biagio@ceaf.spdm.org.br
às mudanças da legislação e às necessidades
da população envolvida.
87

Curitiba/PR

Implantação dos
serviços de Farmácia Clínica
na farmácia da 2ª Regional de
Saúde do Estado do Paraná
CARACTERIZAÇÃO que 64% estão concentrados na região me-
tropolitana de Curitiba (RMC). A população
O estado do Paraná é composto por 22 feminina representa 51,4% do total de habi-
regionais de saúde. A 2ª Regional de Saúde tantes do estado.
(RS) do Paraná tem sede na cidade de Curiti- Dados do Censo Demográfico de 2010
ba, e abrange 29 municípios, atendendo mo- mostram a RMC com 3.174.201 habitantes,
radores de Curitiba e região metropolitana. correspondendo a 33,45% do total da popu-
De acordo com o IBGE (Censo 2010) o Paraná lação do Paraná, ou seja, praticamente um
é o sexto estado mais populoso do país, com terço da população do estado. A área ocu-
cerca de 11 milhões de habitantes, sendo pada pela RMC é de 15.419 km 2. A economia
88
da RMC está entre as maiores do estado, em e emergência e internações hospitalares com
razão do dinamismo da indústria e dos ser- alto custo ao SUS. A prevenção e o correto tra-
viços. tamento reduz as internações.

Perfil epidemiológico Estruturação da rede de saúde

No ano de 2013, as principais causas de As 22 regionais de saúde do estado do Pa-


mortalidade na RMC foram: 26,25% por doen- raná contam com uma sede da Farmácia do Pa-
ças do aparelho circulatório, 20,82% por neo- raná, que atende o Componente Especializado
plasias, 13,8% por causas externas, 10,26% por da Assistência Farmacêutica (Ceaf), garantindo
doenças do aparelho circulatório; e 7,15% por o tratamento de 80 doenças crônicas e graves
doenças endócrinas, nutricionais e metabó- com cerca de 200 itens padronizados.
licas. As doenças crônicas não transmissíveis A Farmácia da 2ª RS localiza-se em Curitiba
são as causas mais frequentes de morbimor- e atende em duas unidades, a matriz localiza-
talidade no estado e vêm ocasionando um da no centro da cidade e outra (filial) no bairro
aumento na procura por serviços de urgência Portão.

Figura 1 - Mapa da 2ª Regional de Saúde

Doutor Ulysses

Adrianópolis

Cerro Azul

Tunas do Paraná

Itaperuçú Rio Branco


de Sul
Bocaiuva do Sul
Campina
Grande
Almirante
do Sul
Tamandaré
Campo Colombo
Campo Largo Magno
Quatro Barras

Pinhais

Curitiba
Piraquara
Balsa Nova

Araucária São José dos Pinhais


Fazenda
Rio Grande
Contenda

Lapa

Mandirituba
Quitandinha
Tijucas do Sul

Campo do Tenente Cantos


do Sul

Pién
Rio Negro
89
A 2ª RS possui cinco hospitais, sendo um RELATO DA EXPERIÊNCIA
de atendimento geral; um especializado em
doenças infectocontagiosas; um infantil; um A orientação farmacêutica tem como prin-
especializado em dermatologia e um hospi- cipal objetivo minimizar o erro no uso do me-
tal colônia. Possui um centro de especialida- dicamento, garantindo que o paciente tenha
de psiquiátrica; um centro de atendimento ao adesão ao tratamento e apresente melhora na
deficiente; um centro de atenção integral ao qualidade de vida. O cuidado no atendimento
fissurado labiopalatal; um centro hospitalar de tem foco no paciente, e não apenas no medica-
reabilitação; laboratório central; vigilância sa- mento.
nitária e atendimento em diversas especialida-
Após a dispensação do medicamento toda
des médicas.
orientação dada ao usuário visa à manutenção
da qualidade do medicamento, de modo a ga-
Assistência farmacêutica
rantir sua eficácia e segurança. A busca é por
atender as necessidades do paciente em rela-
Na 2ª RS estão em funcionamento duas
ção à farmacoterapia acompanhando os exa-
farmácias próprias: a sede, que conta com uma
mes de monitoramento para o controle de suas
equipe de dez farmacêuticos e está localizada
enfermidades.
no centro de Curitiba; e uma farmácia no bairro
Portão, onde atuam dois farmacêuticos. A Re- A complexidade de utilização e as ne-
gional possui uma Central de Abastecimento cessidades especiais de armazenamento de
Farmacêutico (CAF), que distribui medicamen- vários medicamentos, muitas vezes gera erro
tos aos municípios, contando com dois farma- em seu uso e baixa adesão ao tratamento.
cêuticos; e um laboratório central, que realiza Pensando nisso, há aproximadamente oito
diagnósticos clínicos e epidemiológicos. anos a farmácia da 2ª RS criou um consul-
tório farmacêutico com atendimento indi-
vidualizado, para orientação ao usuário no
primeiro atendimento. A princípio, a orienta-
ção era para alguns usuários que necessita-
vam de uma maior atenção, como no uso dos
medicamentos injetáveis, por exemplo. Mas,
posteriormente, foi ampliada para todos os
usuários em início de tratamento.

Farmácia do Paraná - 2ª Regional de Saúde



Os serviços desenvolvidos pelos farma-
cêuticos compreendem coordenação da far-
mácia, controle de estoque, solicitação de
medicamentos e autorização dos processos
de solicitação de medicamentos, onde se Consultório Farmacêutico
verifica a quantidade de medicamento pres-
crito, a posologia e a dosagem. Os farma- Após aprovação da solicitação do medi-
cêuticos também apoiam clínicas, hospitais camento, o usuário passava pela assistente
e municípios. O farmacêutico atua ainda na social, da qual recebia informações sobre o
dispensação de medicamentos, orientação e funcionamento da farmácia e as regras para
consulta farmacêutica, dentre outras ativi- renovações. Então, o usuário retirava senha
dades exigidas pelo processo de trabalho da para pegar o medicamento e era encaminha-
farmácia. do ao farmacêutico. Na hora da consulta, o
90
farmacêutico chamava o usuário pelo nome, dos locais de aplicação). O correto descarte
o que conferia maior humanização ao atendi- dos resíduos e perfuro cortantes também eram
mento. Ele era orientado sobre as normas de abordados pelo farmacêutico. Em abril de 2015
funcionamento da farmácia e sobre os proce- iniciou-se a implantação do serviço de Farmá-
dimentos para renovação e adequação da so- cia Clínica no âmbito Ceaf com o projeto Cui-
licitação dos medicamentos. Os profissionais dado Farmacêutico, desenvolvido em parceria
se revezavam durante todo o dia neste aten- com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e o
dimento, mesmo assim, a espera era longa e Ministério da Saúde.
alguns usuários desistiam. A primeira dispensação qualificada foi
aprimorada, com o desenvolvimento de um
formulário para registro. No formulário cons-
tava o que já era realizado e foram acrescen-
tados campos para a coleta de informações,
como a origem da prescrição (SUS, convênio
ou particular), se o paciente possuía convê-
nio médico e a qual unidade de saúde per-
tencia, além da lista de medicamentos que
utilizava e se tinha outras patologias.
Nesse momento, caso o farmacêutico
Consulta farmacêutica - Farmacêutica Rosângela de Lima identificasse algum problema relacionado à
Silva Pugliese e a paciente Márcia Cristina Barcelos Marins farmacoterapia como, por exemplo, interação
medicamentosa ou horário de administração
Em relação aos medicamentos de contro- incorreto, já realizava a intervenção e regis-
le especial o usuário era orientado sobre o trava no formulário. Também nesse formulá-
prazo de validade da receita - 30 dias, a ne- rio eram colocadas perguntas para verificar
cessidade de apresentação de nova receita se o usuário preenchia os critérios de sele-
a cada dispensação e, ainda, sobre as datas ção para consulta farmacêutica. Atendendo
das receitas e rasuras. Recebia ainda, ins- aos critérios, o paciente então era convidado
truções sobre o correto armazenamento dos a participar da consulta, que tinha seu dia e
medicamentos recebidos, como por exemplo, horário devidamente agendados.
quanto à necessidade de refrigeração duran- Durante a primeira consulta farmacêuti-
te o transporte e em casa. Isso era enfatizado ca eram coletados dados de identificação do
para que a qualidade e a eficácia do medi- paciente, história social, problemas de saú-
camento fossem mantidas. Os usuários eram de, resultados de exames, sinais e sintomas.
orientados também sobre indicações, modo Anotava-se todos os medicamentos utilizados
de administração, posologia, uso com refei- (prescritos e por automedicação), posologia,
ções, possíveis reações adversas e interações tempo de uso e resultados obtidos. Eram feitas
quando em uso simultâneo de outros medi- perguntas sobre a adesão, se algum medica-
camentos. mento o incomodava, se eram utilizadas tera-
Aos usuários de medicamentos injetáveis, pias complementares e se possuía alguma aler-
era dada uma atenção especial, devido à ne- gia conhecida. O paciente era avaliado como
cessidade, em alguns casos, de preparo dos um todo e não apenas no que dizia respeito à
medicamentos, por meio da mistura do diluen- sua doença. Verificados eventuais problemas
te com o pó liofilizado. No caso de injetáveis de relacionados à farmacoterapia, as intervenções
aplicação subcutânea, as orientações abran- farmacêuticas necessárias eram feitas durante
giam o processo correto de diluição (quando a consulta. Os retornos eram agendados até
necessário) e os locais indicados para a apli- que seus problemas de saúde estivessem con-
cação, sempre seguindo as recomendações trolados e o paciente conseguisse realizar o au-
do fabricante, além dos cuidados anteriores à tocuidado.
aplicação (uso de algodão com álcool 70% para Com isso, um consultório não era mais
assepsia no local e a necessidade de rodízio suficiente para atender aos pacientes, então
91
foi adaptada mais uma sala para os atendi- e retornos também eram todas agendadas.
mentos. Em paralelo, a reforma da nova sede Aumentou o grau de satisfação dos usuários
da farmácia do Paraná estava sendo finaliza- e melhorou a adesão ao tratamento e o
da e foram disponibilizadas três salas para entendimento sobre sua condição de saúde.
consultórios farmacêuticos. Em novembro de No mês de dezembro de 2015, a farmácia ma-
2015, a nova sede foi inaugurada e com me- triz da Regional contava com 23.963 usuários
lhor estrutura passou-se a agendar o primei- ativos e média de 1100 dispensações de me-
ro atendimento farmacêutico após aprovação dicamentos por dia. A quantidade de novos
do processo de solicitação de novo medica- processos aprovados mensalmente ficava em
mento para todos os usuários. As consultas torno de 800.

Antes Depois
Orientação aos pacientes novos no momento da entrega dos Dispensação foi qualificada com a coleta de dados para
medicamentos monitorar as doenças, identificar problemas relacionados à
farmacoterapia e realizar intervenções

Informações sobre condições de uso, armazenamento e Agendamento da primeira consulta


transporte dos medicamentos

Orientações sobre exames e documentos para renovação do Entrega de material impresso com orientações
tratamento

Fonte: Autores

METODOLOGIA A primeira dispensação qualificada realiza-


da por farmacêutico antes do projeto foi man-
O estudo foi realizado na farmácia especial tida, e desenvolvido formulário/instrumento
matriz da 2ª RS, localizada na cidade de Curi- para poder realizar a seleção dos pacientes. Os
tiba. O presente trabalho se trata de relato de critérios de seleção eram:
experiência e descreve o processo de implan- 1. ser o paciente ou cuidador;
tação dos serviços de Farmácia Clínica no âm-
2. usar cinco ou mais medicamentos;
bito Ceaf.
3. possuir três ou mais patologias;
A implantação do projeto Cuidado Farma-
cêutico teve início em 2015 após convite do 4. possuir dúvidas sobre os medicamentos
Ministério da Saúde para aplicação no âmbito utilizados, suspeitar que algum medica-
Ceaf. O cuidado farmacêutico foi inicialmente mento em uso não está fazendo efeito
implantado na atenção básica em Curitiba e o ou sentir incômodo ou efeito indesejado
modelo foi adaptado ao processo de trabalho após utilizar algum medicamento;
da farmácia especial. 5. ter interesse em ser acompanhado pelo
Foram analisados os prontuários de 129 farmacêutico.
primeiras consultas farmacêuticas, correspon-
dentes a 129 usuários atendidos, no período de Para pacientes com artrite reumatóide ou
agosto a novembro de 2015. artrite psoriática eram aplicados questionários
Houve capacitação nos serviços dos far- específicos sobre essas doenças.
macêuticos e foram realizadas reuniões com a Durante as consultas eram utilizados for-
equipe da farmácia, do departamento de assis- mulários para registro das informações, se-
tência farmacêutica da Sesa e do Ministério da guindo o roteiro criado e validado por Abdel-
Saúde, para definir os critérios de seleção dos -Tawab e colaboradores (2011), no Reino Unido,
pacientes, os formulários a serem utilizados na que é composto de quatro etapas: introdução;
primeira dispensação, na primeira consulta e coleta de dados e identificação de problemas;
na consulta de retorno. ações e soluções; e fechamento da consulta.
92

Descrição dos impactos gerados com esta ex- 24,7% eram desconhecidos. A média de medica-
periência mentos por paciente foi de 7,4 e a de problemas
relacionados a farmacoterapia, de 2,6.
Foram capacitados seis farmacêuticos para Dos 129 pacientes atendidos, 67% apresen-
a realização do serviço de Farmácia Clínica. No taram pelo menos um problema relacionado a
período de agosto a novembro de 2015 foram farmacoterapia. Desses problemas, a maioria
atendidos aproximadamente 2,5 mil usuários (45,6%), foi de administração e adesão terapêu-
na primeira dispensação qualificada, 129 na tica. O restante se dividiu entre necessidade de
primeira consulta. Foram realizadas 71 consul- monitorização, 27,9%, tratamento não efetivo,
tas de retorno, totalizando 200 consultas. 21,7%, de reações adversas a medicamentos,
Nas primeiras consultas foram elencados 4,5 18,6%, seleção e prescrição, 17,1%, qualidade do
problemas de saúde por paciente. Destes, 19,6% medicamento, 14,7%, discrepâncias entre pres-
estavam controlados, 34,5% não controlados e critores ou níveis assistenciais, 7,0%.

DADOS DE AGOSTO A NOVEMBRO DE 2015


1ª CONSULTA
2%

Pacientes com SIM

intervenções registradas NÃO

na 1ª consulta 98%

798 129 6,2


intervenções pacientes intervenções
por pacientes
Figura 2: Dados de agosto a novembro/2015 - primeira consulta

Para 98% dos pacientes foram realizadas intervenções far-


macêuticas, numa média de 6,2 intervenções por paciente.

Pacientes com algum


33% SIM problema relacionado à
NÃO farmacoterapia registrado
na 1ª consulta
67%

334 129 2,6


problemas por
problemas pacientes
pacientes

Figura 3: Dados de agosto a novembro/2015 - primeira consulta


93

As intervenções farmacêuticas na primeira do medicamento, diminuição das devoluções e


consulta foram: informação e aconselhamen- do abandono do tratamento.
to (98,4%), alteração ou sugestão na terapia Atualmente, todos ou usuários que ini-
(41,9%), monitoramento (31,8%), provisão de ciam seu tratamento são atendidos por far-
materiais (39,5%) e encaminhamentos a outros macêutico no consultório, no dia e horário
profissionais ou serviços (20,9%). agendado, o que melhorou muito a qualidade
Com a melhora da infraestrutura da farmá- do atendimento e tem motivado muitos elo-
cia e a instalação de três consultórios farma- gios ao serviço.
cêuticos localizados em um pavimento separa- A Farmácia Clínica ainda proporcionou
do da dispensação, os pacientes são atendidos uma maior realização profissional e reconheci-
com privacidade e mais qualidade, pois não há mento.
barulho e interrupções. Com o agendamento, Os cuidados farmacêuticos são possíveis
todos que iniciam seu tratamento são atendi- de serem realizados mesmo com todas as atri-
dos pelo farmacêutico. Além disso, são realiza- buições que o farmacêutico possui. Devem ser
das as consultas de acompanhamento para os prioridade e, com organização, tornam-se reali-
selecionados. dade. O cuidado farmacêutico prestado é o que
Hoje, os usuários da farmácia têm um valoriza os profissionais diante da sociedade.
contato mais próximo com o farmacêutico. Já
o conhecem logo na primeira vez em que re- REFERÊNCIAS
cebem o medicamento e sabem que ele é um
profissional que entende do medicamento e BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de
com o qual podem contar quando têm algu- Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
ma dúvida. Departamento de Assistência Farmacêutica e
Insumos Estratégicos. (2014); Cuidado Farma-
Próximos passos, desafios e necessidades cêutico na Atenção Básica. Caderno 2: Capaci-
tação para Implantação dos Serviços de Clínica
Os serviços de Farmácia Clínica estão im- Farmacêutica.
plantados na farmácia da 2ª RS e pretende-se IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
aplicar para os demais usuários que igualmen- tatística. Disponível em: http://www.ibge.gov.
te necessitam. br/home/estatistica/populacao/censo2010/
Entre os objetivos, também estão o de sinopse/sinopse_tab_rm_zip.shtm. Acesso em:
aprimorar e manter as consultas, realizar reu- 01 maio 2016.
niões entre os farmacêuticos para discussão
dos casos clínicos, fornecer mais material com INSTITUIÇÃO
informações por escrito sobre a utilização dos Farmácia do Paraná – 2ª Regional de Saúde
medicamentos e estreitar contato com os pro-
fissionais prescritores para auxiliar na assis- AUTORAS
tência à saúde dos usuários.
Rosângela de Lima Silva Pugliese
CONCLUSÃO Kelly Cristiane Gusso Braga

CONTATOS
Os resultados têm mostrado que o atendi-
mento farmacêutico individualizado promove rosangelapugliese@yahoo.com.br
melhor adesão ao tratamento, conscientização kelly.braga@sesa.pr.gov.br
em relação ao armazenamento e conservação farm02rs@sesa.pr.gov.br
94

Novo Hamburgo/RS

A atuação do farmacêutico
junto ao grupo de hipertensos/
diabéticos na UBS no bairro de
Canudos, Novo Hamburgo
CARACTERIZAÇÃO de médio porte. É também em Canudos que se
localiza o aeroclube do município.
Canudos é um bairro localizado a leste
do município brasileiro de Novo Hamburgo, Estruturação da rede de saúde
no Rio Grande do Sul. É o maior bairro urba-
no da cidade e o mais populoso, com 62.292 As Unidades de Saúde da Família (USF)
trabalham com território de abrangência de-
habitantes.
finido e são responsáveis pelo cadastramento
Canudos é um bairro importante para a e o acompanhamento da população vinculada
economia do município, pois tem um comércio às suas áreas. Cada equipe da USF é compos-
forte, onde se localizam diversos bancos, fábri- ta, no mínimo, por um médico, um enfermeiro,
cas e lojas. Ainda assim é um bairro fortemente um auxiliar de enfermagem e de quatro a seis
residencial, sendo classificado como bairro re- agentes comunitários de saúde. Esses profis-
sidencial/comercial. Possui algumas indústrias sionais e a população acompanhada criam vín-
95
culos de corresponsabilidade, o que facilita a ações de suporte ao processo gerencial da as-
identificação e o atendimento aos problemas sistência farmacêutica, voltadas principalmen-
de saúde da comunidade. Atualmente, o mu- te para a logística do medicamento, em suporte
nicípio conta com 35 equipes de Estratégia de à prescrição e à dispensação e as ações assis-
Saúde da Família (ESF), contemplando uma co- tenciais que visam o cuidado ao usuário, o uso
bertura de 63% da população. O município con- racional do medicamento, a efetividade do tra-
ta com duas Unidades Básicas de Saúde (UBS), tamento, seja no âmbito individual ou coletivo,
uma delas localizada no Bairro Canudos. priorizando o paciente e não o medicamento.
A UBS Canudos possui uma equipe multi- As atividades têm como base a gestão clínica
profissional que busca integralidade em servi- do medicamento e se caracterizam por servi-
ços por meio de um olhar mais ampliado aos ços centrados no usuário de forma a garantir a
pacientes com doenças crônicas. A equipe re- utilização correta de medicamentos e a obten-
aliza atendimentos tanto no âmbito individual ção de resultados terapêuticos efetivos.
quanto coletivo como, por exemplo, grupos de Vários foram os fatores que motivaram a
educação em saúde, a fim de promover o auto- inserção do farmacêutico no Grupo de Hiperdia
cuidado, a corresponsabilização dos indivíduos na equipe desta UBS, entre eles:
e torná-los também multiplicadores em saúde.
- no Brasil, aproximadamente 65% dos
Em média, são atendidos nesta unidade idosos com hipertensão arterial sistê-
mais de 8 mil pacientes/mês e destes, apro- mica, sendo que, entre as mulheres com
ximadamente 2 mil são hipertensos e/ou dia- mais de 65 anos, a prevalência pode
béticos. chegar a 80%. Considerando que, em
O município possui uma farmácia comuni- 2025, haverá mais de 35 milhões de ido-
tária, nove farmácias distribuídas em unidades sos no país, o número de hipertensos
de saúde e uma farmácia popular. E a rede con- tende a crescer. (Sociedade Brasileira
ta com oito farmacêuticos envolvidos na aten- de Hipertensão Arterial, Sociedade Bra-
ção básica. Os serviços farmacêuticos têm por sileira de Cardiologia, Sociedade Brasi-
objetivo alcançar os melhores resultados de leira de Nefrologia. IV Diretrizes brasi-
saúde possíveis e melhorar assim a qualidade leiras de hipertensão arterial. São Paulo
de vida dos indivíduos, família e comunidades. (SP): SBH/SBC/SBN; 2002).
- os fatores como envelhecimento, maior
RELATO DA EXPERIÊNCIA prevalência das enfermidades crônico-
degenerativas e consumo de fármacos,
A experiência descrita, nesse relato, tem aumentam a incidência dos proble-
como foco a inserção do farmacêutico no grupo mas relacionados aos medicamentos,
de Hiperdia (hipertensos/diabéticos) de uma deixando a população vulnerável aos
UBS no Bairro Canudos no município de Novo vários problemas de saúde e aumen-
Hamburgo (RS), com o objetivo de incentivar tando os custos do sistema de atenção
o uso correto dos medicamentos, melhorar a sanitária. (Organización Mundial de la
adesão ao tratamento e proporcionar mais Salud. Informe de la reunión de la OMS
qualidade de vida aos pacientes. en Tokio, Japón, en 1993. El papel del
O grupo é composto por aproximadamente farmacéutico en el sistema atención de
15 pacientes hipertensos e/ou diabéticos com salud. Informe técnico de la Organizaci-
idades entre 57 e 71 anos. Os encontros são re- ón Mundial de la Salud. Pharm Care Esp
alizados toda primeira quarta-feira do mês e a 1999 enero-febrero; 1:207-11).
equipe de saúde é composta por duas enfer- - o acompanhamento farmacoterapêutico
meiras, uma farmacêutica, uma farmacêutica do paciente idoso é etapa fundamen-
residente e uma nutricionista. O grupo já exis- tal para a promoção do uso correto dos
tia anteriormente, e a inserção do farmacêuti- medicamentos. A abordagem educativa
co ocorreu oficialmente em julho de 2015. possibilita a ação colaborativa entre os
As atribuições do farmacêutico na atenção profissionais, favorecendo o esclareci-
básica se dividem em dois tipos: atividades e mento de dúvidas, atenuando a ansie-
96
dade pela convivência com problemas frequente com os pacientes, podendo
semelhantes já solucionados, bem como iniciar discussões sobre os problemas
proporciona maior efetividade na apli- de saúde, informar sobre a natureza da
cação de medidas terapêuticas. doença crônica e identificar as razões
- a importância da equipe multiprofis- do tratamento.
sional no cuidado à saúde dos idosos, - a baixa adesão entre os idosos com hi-
pois a mesma pode influenciar posi- pertensão arterial e diabetes, tem rela-
tivamente na adaptação da doença ção direta com diversos fatores associa-
e na efetivação da farmacoterapia. dos à falta de informação sobre o tra-
Na equipe, há múltiplos objetivos e tamento. A educação ao paciente pode
abordagens com ação diferenciada, proporcionar a conscientização quanto
corrigindo a grande limitação no tra- ao seu estado de saúde e à necessidade
tamento dos idosos, melhorando a do uso correto dos medicamentos, tor-
adesão ao programa de atendimento nando o tratamento mais efetivo e se-
e o controle da doença. A ação con- guro. E a maior interação entre os pro-
junta de farmacêuticos, enfermeiros fissionais da saúde pode reduzir diver-
e nutricionistas tem sido ampliada, sos problemas relacionados a medica-
com resultados positivos nos servi- mentos, da prescrição à administração,
ços de atenção aos pacientes em tra- e reduzir custos do sistema de saúde.
tamentos de hipertensão arterial e Os encontros realizados são em forma de
diabetes. roda de conversas com atividades lúdicas e
- os farmacêuticos são os profissionais diálogos simples, de maneira que o paciente
indicados para orientar a respeito dos compreenda o assunto proposto.
medicamentos prescritos e dispensa- Segue programação anual dos encontros
dos aos idosos, pois estão em contato realizados:

Data Participantes Assunto/Profissionais Objetivo


Dislipidemias (farmacêutica, residente de Farmá- Conhecimento da doença, dos fármacos e
01/07/2015 8
cia, nutricionista, enfermeira) como evitar.
O que são diuréticos? Sal na alimentação. Ofici-
Entender qual a função do diurético e
05/08/2015 8 na de sal temperado. (farmacêutica, residente de
como o sal aumenta a pressão arterial.
Farmácia, enfermeira)
Informar sobre a estabilidade, armaze-
Uso correto de insulinas. (farmacêutica, residen-
02/09/2015 9 namento, uso e descarte de seringas e
te de Farmácia, enfermeira)
agulhas.
Análise da composição dos rótulos de alimentos. Saber diferenciar os alimentos diet, light
07/10/2015 9 (farmacêutica, residente nutricionista, enfermei- e composições dos produtos
ra) Industrializados.
10 passos da alimentação saudável (farmacêuti- Entender como a alimentação saudável
04/11/2015 10
ca, enfermeira, nutricionista) influencia na saúde.
Confraternização amigo secreto de frutas. (far-
Interagir com os participantes do grupo,
02/12/2015 11 macêutica, residente de Farmácia, nutricionista,
finalizando o ano de maneira saudável.
enfermeira)
Objetivos dos participantes do grupo para 2016.
06/01/2016 8 Traçar metas para o ano que se inicia.
(farmacêutica, nutricionista, enfermeira)
As fibras no controle do colesterol e diabetes.
Incentivar uso de fibras na alimentação,
03/02/2016 12 Oficina de cookies integrais. (farmacêutica, nutri-
horário correto do uso da sinvastatina.
cionista, enfermeira)
Oficina de caixas para separar os medicamentos. Uso correto dos medicamentos nos res-
02/03/2016 13
(farmacêutica, enfermeira) pectivos horários (manhã, tarde, noite)
Oficina de garrafas pet para executar exercícios
06/04/2016 16 físicos. (farmacêutica, nutricionista, enfermeira, Incentivar a prática de exercícios físicos.
residente fisioterapeuta)
Continua>>>
97

Data Participantes Assunto/Profissionais Objetivo


Pé diabético/Oficina de bolo integral de banana Orientar sobre cuidados com pé diabéti-
04/05/2016 18 com aveia. (farmacêutica, nutricionista, enfer- co, uso contínuo de medicamentos, ali-
meira) mentação saudável.
Alertar como o stress influencia na ma-
01/06/2016 15 Stress na pessoa hipertensa e diabética. (farma-
nutenção da doença. Cuidado integral do
cêutica, nutricionista, enfermeira, psicóloga)
corpo.
Chás/Fitoterápicos. (residente de Farmácia, en- Saúde além do medicamento. Como pre-
06/07/2016 15
fermeira, nutricionista) parar e cuidados com os chás.

macológico para os profissionais da saúde na


atenção básica quando necessário.
Alguns problemas farmacoterapêuticos
foram identificados e resolvidos nesses pa-
cientes:
- uso de sinvastatina 20mg no período da
manhã;
- administração de metformina 850mg
com glibenclamida 5mg juntos, antes do
Antes das atividades, os pacientes realizam café da manhã;
a verificação de pressão arterial (PA) e controle - paciente não aceitava o fato de fazer
de hemoglicoteste (HGT). Esses dados são ano- uso de insulina e não estava utilizando.
tados mensalmente para manter um controle A melhora no controle do diabetes e da hi-
dos resultados obtidos. pertensão pode ser alcançada com o tratamen-
O tempo de cada encontro é de aproxima- to medicamentoso ou não (controle de glice-
damente 1h30 e a programação anual não tem mia capilar e pressão arterial, alimentação ba-
um contexto pré-definido, decide-se conforme lanceada). O tratamento não-medicamentoso
a necessidade do grupo sempre com um mês tem como finalidade primária retardar o adoe-
de antecedência. Os encontros ocorrem toda cimento e, quando ele ocorre, evitar ou adiar o
primeira quarta-feira do mês. tratamento medicamentoso ou a associação de
medicamentos necessários para o controle da
Descrição dos impactos gerados com esta doença. O segundo deve ser introduzido quan-
experiência do não se obtiver sucesso com o primeiro. Em
ambos é necessária a compreensão e adesão
O farmacêutico é o profissional da saúde do paciente.
mais acessível para a comunidade podendo Observa-se um aumento gradativo do nú-
favorecer o cuidado ao paciente com diabetes mero de participantes e boa assiduidade. Em
e hipertensão. A acessibilidade permite a esse todos os encontros são anotados parâmetros
profissional prover serviços como a educação de HGT e PA. Analisando exemplo de pacientes
em saúde ao paciente e cuidado contínuo, que frequentam desde o início e são assíduos,
além de ser uma referência no tratamento far- demonstra-se os seguintes resultados:

Máximo HGT antes da Máximo HGT após


Pacientes*
inserção do farmacêutico inserção do farmacêutico
N.T.O 319 243
A.D.S 330 277
T.B.T 207 147

* Identificados apenas pelas iniciais do nome.


98
- Fazer uma pesquisa via questionário
“Tive sete AVCs, perdi o gosto de viver, mas para saber o que melhorou na vida do
hoje tudo é diferente, comecei a participar paciente após a inserção do farmacêu-
das conversas, no começo era tudo tico no grupo;
estranho e hoje não falto por nada, nunca - Incluir outros profissionais da saúde na
estive tão bem graças a este grupo”. equipe multiprofissional;
- Incentivar outras Unidades da Atenção
Relato da paciente A.D.S, 74 anos, integran-
Básica a constituírem um grupo de Hi-
te do grupo.
perdia.
Observação: Nos hipertensos não houve-
ram parâmetros significativos. INSTITUIÇÃO
Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo
Próximos passos, desafios e necessidades
AUTORA
- Conseguir aumentar o número de in-
tegrantes do grupo, porém alguns pa- Daniela Pinhatti Flores
cientes ainda não se sentem estimu-
lados a participar de grupos educati- CONTATO
vos; danielapf@fsnh.net.br
99

Osório/RS

Comissão de Farmácia
e Terapêutica Regional - união
dos farmacêuticos do litoral
do Rio Grande do Sul
CARACTERIZAÇÃO do Sul, Santo Antônio da Patrulha, Tavares e
Tramandaí. A população total das regiões de
A 18ª Coordenadoria Regional de Saúde saúde é de 349.487 habitantes, sendo 50,5% do
(CRS) faz parte da Região Macro-Metropolitana sexo feminino e 49,5% do sexo masculino. As
de Saúde do estado do Rio Grande do Sul e é regiões possuem 17% da população vivendo em
composta pelas regiões de saúde, Belas Praias área rural e 83% da população vivendo em área
(4), e, Bons Ventos (5) - ver figuras 1, 2 e 3. A urbana. A renda média domiciliar corresponde
Região Belas Praias possui 141,5 mil habitantes a R$ 765,16, com uma proporção de 22% de pes-
e compreende os municípios: Arroio do Sal, Ca- soas com menos de meio salário mínimo de
pão da Canoa, Dom Pedro de Alcântara, Itati, renda e taxa de analfabetismo de 5,8% (IBGE,
Mampituba, Maquiné, Morrinhos do Sul, Terra 2010). As atividades econômicas predominan-
de Areia, Torres, Três Cachoeiras, Três Forqui- tes na região são comércio, turismo, agricultura
lhas e Xangrilá. Já a Região Bons Ventos possui e indústria. O relevo do litoral norte gaúcho é
207.987 habitantes e compreende os municí- composto pela borda do Planalto Meridional e
pios: Balneário Pinhal, Caraá, Capivari do Sul, região de planície com um vasto complexo de
Cidreira, Imbé, Mostardas, Osório, Palmares lagoas.
100
Figura 1: Mapa da localização da 18ª Regional de Saúde do estado do Rio Grande do Sul

Fonte: Secretaria do Estado da Saúde do Rio Grande do Sul,


disponível em: www.saude.rs.gov.br

Figura 2: Mapa das regiões de saúde 4 e 5

Fonte: Secretaria do Estado da Saúde do Rio Grande do Sul, disponível


em: www.saude.rs.gov.br
101
Figura 3: Mapa da região macro-metropolitana, 18ª Coordenadoria Regional de Saúde e a divisão em regiões de saúde 4 e 5.

Fonte: Centro Estadual de Vigilância em Saúde, 2016.


102

Perfil epidemiológico Estruturação da rede de saúde

O Índice de Desenvolvimento Humano A região possui 74 equipes da Estratégia de


(IDH) dos municípios pertencentes à 18ª CRS Saúde da Família (ESF), distribuídas nos 23 muni-
é considerado de médio a alto. O município cípios. A cobertura das ESFs é de 70% na região da
de Caraá apresenta IDH de 0,652, sendo o 18ª CRS. Sendo que na região das Belas Praias, a
mais baixo da região, já o município de Capi- cobertura de ESF é maior que na região dos Bons
vari do Sul, apresenta IDH de 0,766, o maior Ventos, principalmente pelas baixas coberturas
da região. A média de IDH da região é 0,726 dos municípios de Tramandaí (em torno de 40%)
(Atlas do desenvolvimento Humano no Bra- e Imbé (em torno de 20%). A região possui qua-
sil, 2013). tro maternidades em funcionamento, conforme
segue: Hospital São Vicente de Paulo, em Osório;
De acordo com o estudo Programa de
Hospital Santa Luzia, em Capão da Canoa; Hos-
Saúde da Família nos Municípios do Litoral
pital Tramandaí, em Tramandaí; Hospital Nossa
Norte do Rio Grande do Sul: Perfil das Equi-
Senhora dos Navegantes, em Torres.
pes e População Atendida, publicado em
2011, os agravos mais frequentes atendidos
Assistência farmacêutica
nas unidades de Estratégia Saúde da Família
(ESF) dos municípios do litoral norte do Rio Atualmente, dos 23 municípios pertencen-
Grande do Sul são hipertensão e diabetes. tes à 18ª CRS, 18 contam com profissional far-
Na região da 18ª CRS prevalecem as interna- macêutico atuando no SUS, totalizando 26 far-
ções durante a gestação, o parto e o puer- macêuticos. Cinco municípios não contam com
pério, seguidas pelas doenças do aparelho este profissional, sendo estes Caraá, Dom Pe-
circulatório e doenças do aparelho digesti- dro de Alcântara, Mampituba, Maquiné e Morri-
vo, respectivamente (SIH-SUS, 2016). nhos do Sul (ver quadro 1).

Quadro 1: Número de farmacêuticos por município em maio de 2016

Região Belas Praias Região Bons Ventos


Nº de farmacêuticos Nº de farmacêuticos
Município Município
atuantes no SUS atuantes no SUS
Arroio do Sal 01 Balneário Pinhal 01
Capão da Canoa 02 Caraá -
Dom Pedro de Alcântara - Capivari 01
Itati 01 Cidreira 01
Mampituba - Imbé 01
Maquiné - Mostardas 01
Morrinhos - Osório 03
Terra de Areia 01 Palmares 01
Torres 02 Santo Antônio da Patrulha 02
Três Cachoeiras 01 Tavares 01
Três Forquilhas 01 Tramandaí 03
Xangri-Lá 02 Total 15
Total 11

RELATO DA EXPERIÊNCIA organizado de forma regionalizada e hierar-


quizada. A organização do SUS em regiões de
O SUS é constituído pela conjugação de saúde respeita as diretrizes gerais pactuadas
ações e serviços de promoção, proteção e re- na Comissão Intergestores Tripartite, conforme
cuperação da saúde executados pelos entes prevê o Decreto n° 7.508/2011 (BRASIL, 2011).
federativos, de forma direta ou indireta, sendo Segundo esse decreto, as Comissões Interges-
103
tores pactuarão a organização e o funciona- trados no cotidiano da AF e buscar soluções
mento das ações e serviços de saúde integra- para os mesmos. Para tanto, surgiu a ideia da
dos em redes de atenção. A Comissão Interges- criação de um Grupo Condutor da Assistên-
tores Regional (CIR), está vinculada à Secretaria cia Farmacêutica Regional (GCAF) e de uma
Estadual da Saúde para efeitos administrativos Comissão de Farmácia e Terapêutica Regio-
e operacionais, devendo observar as diretrizes nal (CFT), que se concretizou em dezembro
da Comissão Intergestores Bipartite. Dentre as de 2014, a partir da aprovação destes na Co-
ações de assistência à saúde, uma que ganha missão Intergestores Regionais, por meio das
especial atenção no Decreto n° 7.508/2011, é a Resoluções CIR nº 60/2014, CIR nº 61/2014,
assistência farmacêutica (AF). CIR nº 63/2014 e CIR nº 64/2014.
A AF trata de um conjunto de ações vol- O GCAF é composto pelos farmacêuticos
tadas à promoção, proteção e recuperação da da 18ª CRS e pelos farmacêuticos municipais
saúde, tanto individual como coletiva, tendo o das regiões de Saúde 4 e 5. A criação do GCAF
medicamento como insumo essencial e visan- surgiu como um anseio dos farmacêuticos da
do o acesso e ao seu uso racional. Esse con- região em tornar aquele grupo permanente
junto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e de busca de soluções entre os profissionais
a produção de medicamentos e insumos, bem da área.
como a sua seleção, programação, aquisição, A CFT foi criada como forma de legitimar
distribuição, dispensação, garantia da qualida- as demandas provenientes do GCAF, por meio
de dos produtos e serviços, acompanhamento da presença e troca de profissionais de ou-
e avaliação de sua utilização, na perspectiva tras categorias.
da qualidade dos produtos e serviços, acom-
panhamento e avaliação de sua utilização, na Logo, o GCAF se constituiu com a finali-
perspectiva da obtenção de resultados concre- dade de avaliar o uso e prescrições dos me-
tos e da melhoria da qualidade de vida da po- dicamentos constantes na Relação Regional
pulação. Essa definição de AF está estabelecida de Medicamentos Essenciais, bem como a
na Política Nacional de Assistência Farmacêu- demanda dos medicamentos não inseridos
tica (PNAF), que engloba, dentre outros, os se- nesta relação. É também sua finalidade cons-
guintes eixos estratégicos: truir espaços para compartilhamento de in-
formações em saúde, facilitando o processo
- a manutenção de serviços de assistên- de gestão da AF e contribuindo para a educa-
cia farmacêutica na rede pública de ção permanente em saúde, além de discutir o
saúde, nos diferentes níveis de atenção, processo da AF regional a fim de definir pau-
considerando a necessária articulação tas a serem abordadas nas reuniões da CFT.
e a observância das prioridades regio-
nais definidas nas instâncias gestoras Nas reuniões do GCAF sempre há gran-
do SUS; de troca de experiências entre os membros,
discussão de problemas relacionados à AF e
- a qualificação dos serviços de assistên- discussões de casos, o que tem contribuído
cia farmacêutica existentes, em articula- expressivamente para o processo de educa-
ção com os gestores estaduais e munici- ção permanente. Dentre os papéis do GCAF,
pais, nos diferentes níveis de atenção; a geração de demandas para serem discuti-
- a promoção do uso racional de medi- das na CFT é um dos pontos de grande des-
camentos, por intermédio de ações que taque, pois é a partir de protocolos e norma-
disciplinem a prescrição, a dispensação tivas elaborados pela CFT que são sugeridas
e o consumo (BRASIL, 2004). as soluções para os problemas apontados no
Em novembro de 2014, a partir de suces- GCAF. A CFT é formada por uma equipe multi-
sivas reuniões dos farmacêuticos municipais disciplinar e multiprofissional, que discute e
pertencentes aos municípios da 18ª CRS, es- estuda os problemas e demandas solicitadas
tes verificaram a necessidade de dar conti- pelo GCAF a fim de buscar soluções e ferra-
nuidade as reuniões regionais entre todos os mentas para a AF.
farmacêuticos pertencentes à 18ª CRS com a Entre as dificuldades encontradas nesta
finalidade de discutir os problemas encon- experiência está a impossibilidade da pre-
104
sença dos colegas nas reuniões, uma vez que Figura 4: Equipe multiprofissional e multidisciplinar da
Comissão de Farmácia e Terapêutica em reunião no auditório
a maioria dos participantes detém responsa- da 18ª Coordenadoria Regional de Saúde, sendo da esquerda
bilidade técnica na AF municipal. Como forma para direita: Adriana K.C. Nunes, Lúcia M. Z. Horn, Elen L. P. F.
de superar a dificuldade de liberação do pro- Abdalla, Paula W. Souza e Rodrigo M. Palmeira.

fissional do serviço, a 18ª CRS encaminha uma


solicitação de presença formal para o gestor
municipal. Outra dificuldade é a adesão de
profissionais de outras categorias na CFT, como
é o caso de dois enfermeiros convidados, que
desistiram da participação na comissão, e uma
médica. Entre as dificuldades alegadas na par-
ticipação, estão a dificuldade de deslocamento
até o município sede da 18ª CRS para participar
das reuniões e a falta de tempo para estudar os
temas propostos frente à alta carga de traba-
lho já existente.

METODOLOGIA

A articulação e a organização do trabalho


desenvolvido iniciaram com a posse de uma
servidora farmacêutica no Departamento de
Ações em Saúde da 18ª CRS e a realização de
reuniões mensais com os farmacêuticos res-
ponsáveis pela gestão da AF em 18 municípios
Figura 5: Fachada da 18ª Coordenadoria Regional de Saúde
das regiões de saúde “Belas Praias” e “Bons
Ventos”. A realização dessas reuniões possibili-
tou a aproximação dos serviços farmacêuticos
da atenção básica com a coordenação regional
e teve como consequência a criação do GCAF. A
criação do GCAF, por meio de resoluções CIR n°
60/2014 e 63/2014, com a elaboração e adoção
de um regimento interno, foi uma forma encon- Conforme as resoluções CIR n° 61/2014 e
trada de formalizar e garantir a continuidade 64/2014, que aprovam a CFT, a Comissão tem
do trabalho iniciado por esse grupo. O GCAF, por objetivo formular e implementar políticas
conforme consta em seu regimento interno, é relacionadas à seleção, programação, aquisi-
de um grupo de caráter permanente e consulti- ção, distribuição, dispensação, prescrição e
vo, cujas ações têm por objetivo principal o uso uso racional de medicamentos, num processo
racional de medicamentos. dinâmico, participativo, multiprofissional e
multidisciplinar, para assegurar a terapêutica
Como forma de dar respaldo às ações acor-
eficaz e segura e a melhoria da qualidade da
dadas pelo GCAF, foi proposta a criação da CFT. assistência prestada à saúde da população. O
Aprovada pela Comissão Intergestores Regio- trabalho conjunto e articulado do GCAF e da
nal a CFT é composta pelos seguintes profissio- CFT (ver figura 6) tem possibilitado a padroni-
nais: um farmacêutico representante do GCAF, zação de procedimentos e condutas da AF na
um farmacêutico representante da 18ª CRS, um região da 18ª CRS melhorando a orientação
farmacêutico clínico, um enfermeiro, um cirur- aos prescritores em relação ao uso racional
gião-dentista e um médico (ver figura 4). de medicamentos.
105
Figura 6: Fluxograma de construção dos protocolos e Outro produto dessa ação conjunta e
normativas elaborados pela CFT
articulada de diferentes profissionais foi o
Protocolo de Prescrição e Dispensação de
Reunião do GCAF Medicamentos. Nesse protocolo, foram es-
tabelecidos procedimentos e normas com
Demandas
o objetivo de padronizar as condutas ado-
Reunião da CFT, que estuda as demandas tadas na assistência farmacêutica dos di-
e propõe elaboração de ferramentas
versos municípios da região. Nele há, por
de trabalho (portarias e normativas)
exemplo, orientações de como o farmacêu-
Submete à aprovação tico deve proceder no caso da captação de
prescrições com doses ou associações medi-
CIR aprecia as portarias camentosas não usuais.
e normativas
Foi elaborado também um Formulário de
Descrição dos resultados e impactos gerados Devolução de Receita (figura 7), que se des-
com esta experiência tina a justificar a não dispensação do me-
dicamento, por alguma não conformidade
A análise das Relações Municipais de Me- constatada na receita, como letra ilegível,
dicamentos Essenciais (Remumes) dos municí- doses não usuais, entre outros. A adoção
pios pertencentes à 18ª CRS e a padronização desse tipo de ferramenta pelos serviços fa-
de uma Relação Regional de Medicamentos cilita a comunicação entre os profissionais
Essenciais (Rereme) foram os primeiros resul- da saúde e o próprio paciente, visto que
tados concretos do trabalho conjunto da CFT e muitas vezes o contato com o prescritor não
do GCAF. A Rereme é uma lista que, tendo como pode ser realizado no momento da detecção
base a Rename (Relação Nacional de Medica- da inconformidade pelo profissional farma-
mentos Essenciais) e as Remumes da região, cêutico, gerando uma lacuna entre a infor-
buscou tanto nortear a revisão periódica das mação prestada na farmácia, a informação
Remumes já padronizadas, quanto servir como compreendida pelo paciente e a informação
base àquelas ainda em processo de elaboração. que chega ao prescritor.

Figura 7: Formulário de devolução de receita Figura 8 - Laudo


106
Portanto, essa é uma ferramenta cuja uti- por mudanças com a finalidade de beneficiar
lização se dá de profissional para profissional, os pacientes, mesmo consideradas as rápidas
buscando reduzir o risco de erro, aumentar a mudanças que podem ocorrer em função dos
segurança do paciente e dos profissionais e avanços científicos.
contribuir para o uso racional de medicamen- Todos os documentos elaborados e pa-
tos. Esse formulário foi elaborado multiprofis- dronizados, até então, foram aprovados pela
sionalmente pelos integrantes da CFT, disponi-
Comissão Intergestores Regional, e disponi-
bilizado no GCAF para todos os municípios, e
bilizados para todos os integrantes do GCAF.
por meio dos farmacêuticos municipais, apre-
A implantação e utilização dos mesmos pelas
sentado para as equipes de saúde. As sugestões
equipes de saúde acontecerá por meio dos
que surgiram após este contato das equipes
farmacêuticos municipais, que trarão para o
foram avaliadas pela CFT, que realizou todos os
grande grupo suas experiências locais, a fim de
ajustes antes da aprovação do mesmo. A ado-
aprimorar, qualificar e facilitar cada vez mais o
ção desse tipo de procedimento, definido pe-
trabalho das equipes.
los próprios profissionais e elaborado a partir
das necessidades deles, padroniza as condutas Este trabalho conjunto que vem sendo de-
adotadas na assistência farmacêutica dos di- senvolvido pelo GCAF e pela CFT atende o per-
versos municípios da região e qualifica o servi- fil local e respeita as peculiaridades de cada
ço prestado ao usuário. Além disso, foi criado o município. A construção coletiva de protocolos
laudo para a dispensação da receita em casos e ferramentas para serem utilizados com se-
específicos, conforme figura 8. As ferramentas gurança pelas equipes de saúde é uma forma
criadas pela CFT trouxeram mais segurança aos de vivenciar experiências, apresentar resulta-
farmacêuticos no que se refere à devolução dos e propor mudanças, com a finalidade de
de receitas não conformes e à dispensação de beneficiar os pacientes. Esse processo é posi-
medicamentos para determinados casos. tivo, principalmente quando esta construção
Outro documento elaborado pela CFT foi acontece dentro de uma proposta de educação
a Normativa Complementar n° 01/2015 (NC permanente e é construída levando em con-
01/15). Nessa normativa são estabelecidos os sideração as práticas e experiências de cada
procedimentos a serem adotados no caso da profissional.
prescrição e dispensação dos medicamentos
anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). A Próximos passos, desafios e necessidades
prescrição em demasia e o uso abusivo dessa
classe de medicamentos era uma causa fre- Pelas características das ações desenvol-
quente de relatos entre os profissionais da as- vidas e dos perfis dos usuários atendidos, tor-
sistência farmacêutica municipal. As dosagens na-se primordial que as atividades da assis-
e o tempo máximo de tratamento que a pres- tência farmacêutica da atenção básica sejam
crição deve obedecer, as quantidades máximas executadas de forma a garantir uma relativa
a serem dispensadas por receita e os procedi- uniformidade das condutas. A adoção de re-
mentos nos casos de prescrição de dosagens gras e normas comuns em uma mesma região
acima da usual, são exemplos de condutas pa- de saúde facilita o entendimento do funciona-
dronizadas nessa normativa. As quantidades mento dos serviços farmacêuticos prestados,
máximas constantes na NC 01/15 foram estabe- facilitando a comunicação entre os profissio-
lecidas tendo como referência o Formulário Te- nais e permitindo o acesso aos medicamentos
rapêutico Nacional (BRASIL, 2010). É importante de forma racional.
salientar que todos os documentos padroniza- A resposta das equipes de saúde e dos usu-
dos, até então, foram aprovados pela Comissão ários frente a essas normatizações será acom-
Intergestores Regional. panhada e adequações poderão ser propostas
A adoção de protocolos e normativas pela e incorporadas às novas versões dos documen-
AF nos municípios pertencentes à 18ª CRS nor- tos, que são revisados periodicamente, já que
teia as ações na região. A padronização de este é um trabalho contínuo e de construção
procedimentos é uma das formas de somar coletiva. Nos encontros do GCAF, haverá opor-
experiências, apresentar resultados e pro- tunidade de debater a utilização destas fer-
107
ramentas pelos profissionais para programar facilitem a rotina diária e tornem as ações da
ações melhores e mais adequadas. Este grupo atenção primária mais resolutivas está em con-
será porta voz das equipes de saúde, com a fi- sonância com os princípios e diretrizes do SUS,
nalidade de garantir o melhor impacto na atu- conforme prevê a Lei 8.080, de 19 de setembro
ação profissional. de 1990. Os momentos e espaços de troca dos
Para tanto, o apoio dos gestores munici- farmacêuticos em prol da AF buscam refletir
pais e a conscientização de profissionais pres- positivamente na qualidade dos serviços pres-
critores sobre a importância do uso racional tados à população usuária do SUS.
de medicamentos ainda é um desafio. Desafio O cuidado farmacêutico melhora a adesão
esse que tem como meta disseminar a ideia de ao tratamento, a qualidade de vida do pacien-
que a padronização de normativas na assistên- te, seus níveis de satisfação e os resultados ob-
cia farmacêutica não tem como objetivo dis- tidos com o uso dos medicamentos em diver-
seminar um caráter proibitivo de restrição ao sos grupos (idosos, pacientes com hipertensão,
acesso, mas sim de uso racional e segurança diabetes, transtornos mentais e polimedica-
do paciente. dos). Ele reduz o sofrimento e a incapacidade,
além de resultar em menores custos e queda
CONCLUSÃO no desperdício de recursos para o sistema de
saúde e para a sociedade. Portanto, o mode-
A gestão qualificada da AF possibilita o lo de trabalho articulado entre o GCAF e a CFT
aprimoramento dos serviços de saúde, na possibilitou a criação de ferramentas para qua-
medida em que melhora a lacuna entre o lificar o processo de prescrição e dispensação
potencial que os medicamentos essenciais de medicamentos nos municípios pertencentes
têm para oferecer e a realidade das pessoas à 18ª CRS, o que vem contribuindo com o uso
que precisam desses medicamentos. A ges- racional de medicamentos.
tão qualificada da AF, leva em consideração
a equidade, como forma de propiciar o aces- REFERÊNCIAS
so, a segurança, a eficácia e o uso racional
dos medicamentos. A gestão adequada da BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.
AF também possibilita a otimização e racio- Dispõe sobre as condições para a promoção,
nalização de recursos financeiros e a dis- proteção e recuperação da saúde, a organiza-
ponibilização de ferramentas fundamentais ção e o funcionamento dos serviços correspon-
para o cuidado em saúde. dentes e dá outras providências.
A necessidade de padronizar as dispen- BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolu-
sações de medicamentos no SUS, por meio de ção nº 338, de 06 de maio de 2004. Aprova a
protocolos/normativas eficientes, pautados no Política Nacional de Assistência Farmacêutica.
custo-efetividade, em evidências científicas e Homologado nos termos de delegação de com-
na boa prática profissional, busca o uso racio- petência de 12 de novembro de 1991.
nal de medicamentos. A criação de comissões
multidisciplinares para este fim permite con- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciên-
gregar ideias e realidades dos diversos profis- cia, Tecnologia Insumos Estratégicos. Departa-
sionais, considerando suas vivências e expe- mentos de Assistência Farmacêutica e Insumos
riências para tomada de decisões. Além disso Estratégicos. Formulário Terapêutico Nacional
amplia a capacidade de desenvolver trabalhos 2010. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
realmente úteis e estimuladores para as equi- 1136 p.: il. (Série B. Textos Básicos de Saúde).
pes. A oportunidade de discussão e experi- BRASIL. Decreto nº 7.508 de 28 de junho de 2011,
mentação das propostas pelo grande grupo, Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setem-
bem como a possibilidade constante de inter- bro de 1990, para dispor sobre a organização
venção e melhoria, torna o processo dinâmico do Sistema Único de Saúde, o planejamento
e interativo, fugindo do tradicional protocolo da saúde, a assistência à saúde e a articula-
burocratizado, que engessa o sistema. A inte- ção interfederativa, e dá outras providências.
gração dos profissionais na busca pelo aperfei- Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
çoamento de técnicas e fluxos de trabalho que ccivil_03/_ato2011- 2014/2011/decreto/D7508.
108
htm. Acessado em: 18 de junho de 2015. Instituição
BRASIL. Lei n. 13.021, de 8 de agosto de 2014. 18ª Coordenadoria Regional de Saúde
Dispõe sobre o exercício e a fiscalização das ati- do Rio Grande do Sul
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abril de 2016.
Lúcia Munaretto Zimmermann Horn
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talares do Sistema Único de Saúde. Diponível farmaciaxangrila@gmail.com
em: http://tabnet.datasus.gov.br Acessado em: ritafarma@gmail.com
15 de abril de 2016. silvelho@terra.com.br
109

Porto Alegre/RS

Cuidando da Farmácia
Caseira: ações de um programa
de extensão universitária
CARACTERIZAÇÃO bem Berta, e a região Eixo Baltazar, os bairros
Passo das Pedras e parte do Rubem Berta. A
O município de Porto Alegre tem uma po- região Norte/Eixo Baltazar possui em torno de
pulação residente de 1.409.351 pessoas, sendo 181.484 habitantes. Destes, 86.213 são homens e
que 755.917 são mulheres e 654.022 são homens. 95.220 são mulheres (IBGE, 2010, DDA/UFCSPA).
As principais bases econômicas são serviços.
Perfil epidemiológico
As ações relatadas neste trabalho foram
realizadas na região da Gerência Distrital de O perfil epidemiológico dos usuários dos
Saúde Norte/Eixo Baltazar, da Secretaria Muni- serviços de saúde da região Norte/Eixo Balta-
cipal de Saúde de Porto Alegre. A região Norte zar aponta para condições insalubres de mo-
compreende os bairros Sarandi e parte do Ru- radia, saneamento básico insatisfatório ou au-
110

sente, abastecimento de água irregular e outros des. A distribuição dos medicamentos prescri­
fatores que afetam diretamente a qualidade de tos em consultas pelo SUS é gratuita, tanto
vida da população, predispondo ao adoeci- nas farmácias distritais como nas UBS e USF.
mento. Esse distrito apresenta um alto índice Além desses serviços, o município conta
de mortalidade por doenças crônicas, seguin- com o Programa Farmácia Popular do Brasil,
do a tendência observada em todo o país. Além que tem por finalidade ampliar o acesso aos
disso, a vulnerabilidade social gera um estado medicamentos para as doenças mais comuns
de violência constante, fruto do tráfico de dro- entre os cidadãos. Possui uma Farmácia Popular
gas, assaltos e roubos. Logo, as causas de mor- da rede própria e a parceria com farmácias
te dessa população são associadas à violência, da rede privada. O gasto com medicamentos
como as mortes por arma de fogo (IBGE, 2010). em 2014 totalizou R$ 26 milhões. A capital
vem gastando R$ 11,00 per capita (prefeitura
Estruturação da rede de saúde municipal de Porto Alegre, 2015).
A Gerência Distrital Norte/Eixo Baltazar
A rede assistencial da região Eixo Baltazar conta com uma farmácia distrital (FD) – a Far-
está composta por seis Unidades de Saúde da mácia Distrital de Saúde Sarandi e dois profis-
Família (USF) e cinco Unidades Básicas de Saú-
sionais farmacêuticos.
de (UBS). A região Norte é constituída por cin-
co USF, oito UBS, e por Equipe de Interconsul-
RELATO DA EXPERIÊNCIA
ta em Saúde Mental, composta por psicólogo,
psiquiatra e terapeuta de família, que realizam
A região Norte/Eixo Baltazar é o Distrito
encaminhamentos para o Centro de Atenção
Docente Assistencial da Universidade Federal
Psicossocial (Caps).
de Ciências da Saúde de Porto Alegre (DDA/
As equipes das unidades de saúde do ter- UFCSPA) e se caracteriza por ser um território
ritório são constituídas por médicos clínicos, geográfico onde são realizadas as atividades
pediatras, ginecologistas, nutricionistas, en- de assistência, ensino, pesquisa e extensão da
fermeiros, dentistas, farmacêuticos, auxiliar de universidade, o que proporciona a longitudina-
gabinete odontológico, técnicos de enferma- lidade e a integralidade destas atividades, be-
gem, atendente de recepção, auxiliares admi- neficiando tanto a população quanto os profis-
nistrativos e agentes comunitários de saúde. sionais da saúde e acadêmicos. O Programa de
Extensão Cuidando da Farmácia Caseira, desde
Assistência farmacêutica 2012, realiza ações educativas de promoção à
saúde para os usuários e equipes das unidades
O município de Porto Alegre conta com dez de saúde desta região.
farmácias distritais que mantêm em estoque
os medicamentos da lista básica, definida na As atividades envolvem orientações so-
Relação Municipal de Medicamentos (Remu- bre cuidados com o uso, guarda e descarte
me), em acordo com as normas do Ministério dos medicamentos e também abordam o ma-
da Saúde. Nesses locais, são fornecidos medi- nejo e uso correto e seguro de plantas me-
camentos de controle especial, medicamentos dicinais. As ações desenvolvidas baseiam-
pertencentes aos protocolos ou que possuam -se no acolhimento, na escuta eticamente
alguma especificidade. comprometida com a cultura e o saber dos
usuários do serviço e utilização de novos es-
As farmácias estão localizadas em dife­
paços para a construção de uma assistência
rentes regiões da cidade, e todas elas con­
farmacêutica capaz de transcender a aqui-
tam com farmacêuticos que atuam como
sição e distribuição dos medicamentos, e
res­
pon­ sáveis técnicos e coordenadores do
proporcionar reflexões sobre o impacto dos
ser­viço especializado de fornecimento de me­
medicamentos e uso de plantas medicinais
dicamentos. Além das farmácias distritais, as
como recursos terapêuticos.
UBS e as USF também possuem dispensários
de medicamentos. Porém, os medicamentos O Programa de Extensão Cuidando da Far-
con­trolados ou que detenham especificidades mácia Caseira está alinhado às Políticas Nacio-
não fazem parte dos estoques dessas unida­ nais de Extensão Universitária, de Humaniza-
111
ção e de assistência farmacêutica na medida Os assuntos discutidos e utilizados como
em que trabalha para qualificar a interação norteadores das oficinas de formação de ACS,
entre a academia, a equipe e os usuários, além basearam-se em situações corriqueiras na
de auxiliar na estruturação de uma assistência atuação destes profissionais, que favorecem a
farmacêutica significativa para a população. utilização inadequada de medicamentos e de
(BRASIL, 2004, BRASIL, 2007; FORPROEX, 2012) plantas medicinais utilizadas como recursos
A prestação de assistência farmacêutica terapêuticos.
qualificada permanece como um desafio para
muitas equipes de saúde, haja vista a grande
demanda de trabalho, a falta de profissionais
qualificados e a precária estrutura física das
unidades de saúde. Essas condições são apon-
tadas como fragilidades dos serviços de saúde
e fazem com que a assistência seja pratica-
mente invisível aos olhos dos usuários.
Nesse relato, são descritas as atividades
desenvolvidas em oficinas de formação con-
tinuada para agentes comunitários de saúde,
atividades de orientação em sala de espera,
oficinas para usuários do serviço de Saúde e Oficina de Formação de Agentes Comunitários de Saúde
campanhas de descarte de medicamentos ven-
cidos. As ações foram realizadas nos anos de Duas oficinas abordaram o tema “Cuida-
2014 e 2015, pelo Programa de Extensão. dos com os medicamentos na farmácia caseira:
guarda e descarte de medicamentos; formas
Descrição da experiência farmacêuticas e vias de administração de me-
dicamentos; automedicação e uso racional de
Oficinas de formação continuada para agentes medicamentos”. Outras duas oficinas aborda-
comunitários de saúde (ACS) ram o tema “Uso correto e seguro de plantas
medicinais em atenção primária: mitos e ver-
Os ACS são profissionais que possuem uma dades sobre o uso de plantas medicinais; ma-
atribuição especial e particular na equipe de nejo de plantas medicinais; principais usos, in-
saúde, pois compartilham dos mesmos costu- terações medicamentosas, efeitos adversos e
mes, linguagem e cultura da comunidade em precauções no uso de plantas medicinais“.
que atuam. Para a execução das oficinas os temas fo-
Entre as responsabilidades desses pro- ram trabalhados na forma de apresentação ex-
fissionais estão a prevenção de doenças e a positiva; jogos e roda de discussão de casos. O
promoção da saúde. Por meio de visitas do- uso destas estratégias permitiu ampla partici-
miciliares ou comunitárias, promovem inter- pação dos ACS nas atividades propostas, uma
venções educativas em saúde e estimulam vez que oportunizou que se sentissem à vonta-
a participação da comunidade em questões de para compartilhar suas experiências e suas
que envolvem as políticas públicas voltadas opiniões.
à saúde pública. Desta forma, os ACS são Considerando a importância desses
considerados o principal elo entre equipe profissionais, seu contato direto com a co-
de saúde e população, possibilitando a tro- munidade e sua capacidade de influenciá-
ca de informação entre os dois grupos. -la quanto à correta utilização de medica-
As atividades desenvolvidas com os ACS mentos e plantas medicinais, a criação das
ocorreram no segundo semestre do ano de histórias foi baseada em situações que re-
2014. Os participantes foram divididos aleato- fletiam a realidade dos agentes comunitá-
riamente em dois grupos. Para cada grupo fo- rios de saúde. As respostas aos casos foram
ram realizadas 4 oficinas, totalizando 16 horas registradas em fichas confeccionadas para
aulas. cada oficina realizada. No início das oficinas
112
foi realizado levantamento de conhecimento teração participativa e problematizadora da
prévio sobre os temas abordados e, ao final, realidade, consciente dos contextos sociais e
a atividade foi avaliada pelos participantes subjetividades dos sujeitos.
por meio de pesquisa de satisfação sobre as Para título dessa experiência, buscou-
atividades e conhecimento adquirido. -se a valorização do saber dos usuários no
momento da abordagem, com o intuito de
Atividades de orientação em sala de espera construir um diálogo sobre as temáticas de-
senvolvidas no programa. Para tal, as aca-
A atividade de orientação aos usuários dêmicas identificavam-se como integrantes
em sala de espera foi desenvolvida no se- da equipe “Cuidando da Farmácia Caseira”
gundo semestre de 2015, nas unidades de
e iniciavam um diálogo acerca das questões
saúde Beco dos Coqueiros, Ramos e na FD
relacionadas aos hábitos de uso de medica-
Sarandi, situadas na zona norte de Porto
mentos e de plantas medicinais e de guar-
Alegre. Durante esse período, as atividades
da e descarte dos mesmos. Nessa aborda-
foram realizadas duas vezes por semana, por
gem foram utilizados materiais informativos
quatro acadêmicas dos cursos de Farmácia e
confeccionados pelas discentes e amostras
Enfermagem da UFCSPA.
de medicamentos, para ilustrar as questões
A atenção básica em saúde caracteriza-se discutidas. Ressalta-se que as abordagens
por um conjunto de ações que preconizam a em sala de espera caracterizaram-se pela
promoção e a proteção da saúde, a prevenção sua brevidade, dado o curto período em
de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a rea­ que os usuários aguardam aos atendimen-
bilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, tos previamente agendados ou a retirada de
2012). Entretanto, apesar das políticas públicas medicamentos.
e dos esforços relacionados, a assistência ain-
da baseada na lógica prescritiva e verticalizada Oficinas com usuários do serviço de saúde
acaba restrita aos consultórios, inutilizando os
demais espaços disponíveis no serviço e na co- Na atenção primária em saúde o grupo é
munidade como ponto terapêutico, com vistas um espaço privilegiado para as atividades edu-
à educação em saúde. cativas e tem representado uma alternativa que
favorece o desenvolvimento do vínculo com o
serviço, o diálogo, a troca de conhecimento e,
consequentemente, fornece elementos para a
construção da autonomia e empoderamento
dos sujeitos participantes (SATO, AYRES, 2015).
As oficinas foram realizadas na Unidade
Básica de Saúde (UBS) Ramos, no segundo se-
mestre de 2015, sob responsabilidade das pro-
fessoras e das acadêmicas. Surgiram a partir de
demanda da própria unidade, dadas as carac-
terísticas da população local e condições das
agendas dos profissionais do serviço.
Atendimento em sala de espera de unidade de Saúde A população adstrita da unidade soma
mais de 12 mil pessoas que, à semelhança do
Nessa perspectiva, as salas de espera perfil de morbimortalidade da população bra-
das unidades de saúde na atenção primária sileira, tem nos idosos um grupo de grande re-
permanecem em segundo plano enquanto presentatividade e, consequentemente, com
recurso terapêutico, uma vez que deveriam importante prevalência das doenças crônicas
ser utilizadas como espaços para a promo- não transmissíveis como hipertensão e diabe-
ção de saúde. Nelas é possível acolher as tes. Esse perfil condiciona o uso de polifarmá-
expressões, vivências e espontaneidade dos cia, expondo os usuários aos riscos da falta de
usuários do serviço, para construir uma in- orientação.
113
Considerando essas características, a equi- problema ambiental devido aos contaminantes
pe do serviço solicitou a atividade como com- oriundos desses resíduos.
plemento às consultas periódicas de um gru-
po de usuários com hipertensão e diabetes. O
objetivo era contribuir para a adesão ao trata-
mento e a promoção do uso racional dos me-
dicamentos e de plantas medicinais. Optou-se
pela realização de duas oficinas em dias dis-
tintos; uma para contemplar o uso das plantas
medicinais e outra para conversar a respeito
do uso racional dos medicamentos, além da
guarda e descarte dos mesmos.
As oficinas foram realizadas por meio de
atividades lúdicas como o jogo “bingo de plan-
tas medicinais” que continha informações so-
bre as espécies mais utilizadas na região. E
Divulgação da campanha de recolhimento de medicamentos
para abordar as questões referentes aos medi- vencidos em Unidade de Saúde
camentos, foi elaborado o jogo “batata quente”
construído a partir dos mitos e verdades sobre A campanha de descarte dos medicamen-
o uso, guarda e descarte de medicamentos. Du- tos vencidos realizada pelo programa contou
rante as dinâmicas, várias questões foram tra- com duas caixas para coleta: a primeira ficou
zidas pelos pacientes, o que permitiu conhe- disponível permanentemente na FD Sarandi, da
cer seus hábitos e práticas, esclarecer dúvidas, zona Norte/Eixo Baltazar da cidade de Porto
trocar experiências e conhecimento sobre a Alegre. A segunda, alocada nas unidades vincu-
temática do programa. Ao final, as oficinas fo- ladas ao programa por um período médio de
ram avaliadas pelos participantes por meio de seis semanas. A divulgação da campanha foi
pesquisa de satisfação sobre as atividades e rea­lizada nas atividades em sala de espera, pe-
conhecimento adqui­rido. las acadêmicas, em suas abordagens aos usuá-
rios do serviço. Foi utilizado material informati-
Campanha de Descarte de Medicamentos vo e banner do Programa Cuidando da Farmácia
Vencidos Caseira.
Os medicamentos recolhidos foram leva-
Quando bem indicados, os medicamen- dos à laboratório da UFCSPA para contagem e
tos representam um recurso terapêutico de separação de embalagens secundárias e bulas,
grande impacto na saúde e qualidade de vida e posteriormente encaminhados para destino
dos indivíduos. Entretanto, o expansivo cres- adequado por empresa terceirizada convenia-
cimento do mercado farmacêutico, aliado a da com a universidade.
fatores culturais, expõe a população aos ris-
cos relacionados à automedicação e estimula Descrição dos impactos gerados com esta
a manutenção das “farmácias caseiras”. experiência
O acúmulo doméstico de medicamentos
contém algumas formulações vendidas sem As ações do Programa de Extensão Cui-
receita médica, como antigripais, antitérmicos, dando da Farmácia Caseira neste período,
analgésicos e sobras de medicamentos sujeitos en­vol­veram profissionais e usuários de 16 Uni-
à prescrição que deixaram de ser utilizados. dades de Saúde e a FD da Gerência Distrital
Esse é um fator preocupante, porque mui- Norte/Eixo Baltazar.
tos produtos ficam guardados por longos perí- A atividade Formação Continuada para
odos, em condições inadequadas, com prazos ACS contou com 31 participantes e foi realiza-
de validade ignorados e posteriormente são da na sede da universidade. Os resultados do
descartados no lixo comum, no vaso sanitário levantamento de conhecimento prévio reali-
ou enterrados nos jardins, representando um zado com os ACS indicam que todos possuíam
114
medicamentos em seus domicílios, sendo que É importante ressaltar que as ações de
53% armazenavam na cozinha e 35,8% descar- formação continuada contribuem para a valo-
tavam medicamentos vencidos no lixo comum rização profissional e para minimizar as fragili-
ou vaso sanitário. Também relataram utilizar dades conhecidas dos serviços de saúde, além
plantas medicinais, sendo que 41,7% adotavam de contribuir para a formação dos acadêmicos
esta prática afirmando que “por ser natural não que participam da construção destas ações.
faz mal”, e 64,7% que este uso era realizado por Após a formação continuada, os ACS foram
tradição familiar. preparados e incentivados a inserir no seu co-
Os dados demonstram comportamentos e tidiano profissional, por exemplo, nas visitas
práticas pessoais incorretas em relação à guar- domiciliares, ações de cuidado e de orientação
da e descarte de medicamentos e à utilização de aspectos relacionados à guarda e ao des-
de plantas medicinais por parte dos ACS. carte de medicamentos, e também ao uso de
medicamentos e de plantas medicinais.
A falta de informação sobre o tema tam-
bém pôde ser evidenciada pelas falas e refle- Os ACS ainda foram motivados a desenvol-
xões dos profissionais ao longo da atividade. ver estratégias e/ou ferramentas de educação
Apesar de serem capazes de problematizar a em saúde como promoção da adesão ao trata-
sua prática profissional, relatam que muitas mento e orientação dos cuidados na prepara-
vezes utilizam suas concepções e hábitos pes- ção e uso de chás.
soais para transmitir informações aos usuários As atividades em sala de espera foram rea-
dos serviços de saúde. lizadas em duas US e na FD (tabela 1).

Tabela 1: Atendimentos em sala de espera realizados nos serviços de saúde pelo


Programa de Extensão Cuidando da Farmácia Caseira da UFCSPA.

Tempo de atendimento em sala Número de semanas de


Unidades de Saúde Usuários atendidos
de espera / semana (horas) realização da atividade
USF Beco dos Coqueiros 35 2 3
UBS Ramos 153 4 6
Farmácia Distrital 152 6 3

Este resultado sugere que, apesar do alto tadas para cuidados com medicamentos e
custo relacionado à terapêutica medicamento- plantas medicinais, usualmente restritas aos
sa, os indivíduos podem não realizar os trata- profissionais farmacêuticos. As ações de pro-
mentos de forma adequada. O número elevado moção à saúde envolvendo estes temas devem
de unidades de medicamentos descartado de- ser realizadas de forma transversal, por toda a
monstra a importância da existência de locais equipe, seja em consulta, visita domiciliar ou
de descarte acessíveis e que não exponham as em sala de espera, e não só durante a dispen-
pessoas aos riscos de um descarte inadequado. sação de medicamentos.
Os dados apresentados demonstram a As pesquisas de satisfação apontam o re-
necessidade de ações capazes de sensibilizar, sultado positivo das ações realizadas, demons-
educar e capacitar os usuários dos serviços de trando contribuição para a formação profissio-
saúde para a promoção do autocuidado e, con- nal e para a educação em saúde. As atividades
sequentemente, a adesão à terapêutica medi- proporcionaram discussão de temas relevantes
camentosa. e de situações relacionadas, comuns nos domi-
Observa-se a relevância de envolver toda cílios e muitas vezes não discutidos nos servi-
a equipe de saúde na promoção de ações vol- ços de saúde (figura 1).
115

Figura 1: Percentual de satisfação dos da campanha de recolhimento de medicamen-


participantes das atividades do Programa de tos vencidos.
Extensão Cuidando da Farmacia Caseira, no As oficinas com os usuários foram realiza-
período de 2014 e 2015. das na UBS Ramos e contemplaram 24 usuários,
100%
com idade entre 59 e 80 anos, a maioria mu-
lheres (66,7%). Todos os participantes possuem
Percentual de satisfação dos participantes

90%
80% medicamentos guardados em casa, a maioria
70% os guarda na cozinha (77,7%) e os descartam no
60% lixo comum e no vaso sanitário (88,8%). As ati-
50% vidades foram realizadas sob a perspectiva da
40%
educação em saúde e do empoderamento para
30%
o autocuidado.
20%
10% Em relação às percepções sobre plantas
0% medicinais, a oficina corroborou as impressões
Oficinas de Formação Oficinas com usuários Atividades em sala
de ACS de espera obtidas em sala de espera. A maioria dos par-
Ótimo Bom ticipantes utiliza plantas medicinais pelo me-
nos uma vez por semana (80%) e 20% as utili-
A proposta foi bem aceita pelos usuários zam todos os dias, há mais de dois anos. Todos
que, em sua maioria, mostraram-se receptivos à referiram manter o hábito por tradição familiar
conversa e dividiram experiências e hábitos re- e 40% acreditam que as plantas medicinais não
lacionados ao uso, guarda e descarte dos medi- fazem mal à saúde por serem naturais.
camentos e chás, bem como demonstraram dú- Os participantes foram receptivos aos mo-
vidas, principalmente em relação à polifarmácia. mentos da experiência, apesar de, segundo
Quanto ao uso de chás, a prática é preva- eles, não estarem habituados a participar de
lente e baseia-se principalmente na tradição atividades em grupo relacionadas à assistência
familiar e na cultura local. Muitos foram os re- e educação em saúde. A interação com os usu-
latos de guarda de medicamentos na cozinha ários e equipe de saúde permitiu a imersão no
ou banheiro, uso de medicamentos fora do mundo de significados das pessoas abordadas
prazo de validade e principalmente descarte e envolvidas nas atividades, não só em relação
em lixos comuns, vasos sanitários ou pias. aos hábitos terapêuticos dos indivíduos, mas
Os relatos foram obtidos por meio da da saúde como um todo.
postura informal, acolhedora e de escuta ati- Espera-se que os usuários que vivenciaram
va, sem juízo de valor, o que facilitou a inte- esta experiência possam incorporar em seu dia
ração e o vínculo com os usuários. A recepti- a dia as práticas discutidas e recomendadas,
vidade das equipes dos serviços também foi além de serem disseminadores deste conheci-
um fator facilitador da experiência, uma vez mento em sua comunidade.
que os servidores incentivaram e divulgaram A campanha de descarte de medicamentos
as ações do programa em suas práticas as- vencidos impactou no recolhimento de 19.064
sistenciais. unidades de medicamentos, excetuando-se
Acredita-se que essas ações em sala de outros objetos como preservativos, agulhas,
espera foram úteis na sensibilização dos usu- seringas e produtos cosméticos, também des-
ários sobre a influência do tema em sua saúde. cartados equivocadamente nas caixas deixa-
E também serviram como espaço de divulgação das nas unidades de saúde (tabela 2).
Tabela 2: Caracterização dos medicamentos recolhidos no ano de 2015

Unidades de Saúde Unidades de medicamentos recolhidos Período campanha (semanas)


US Beco dos Coqueiros 2006 10
US Esperança Cordeiro 642 3
UBS Ramos 4400 12
Farmácia Distrital Sarandi 12.016 52
Total 19.064 77
116

Próximos passos, desafios e necessidades arraigada aos costumes, cultura e tradição oral.
Ao inviabilizar esses aspectos, a equipe não
Estão previstas ações do programa nas consegue prestar o cuidado integral e acaba
demais unidades de saúde do DDA, curso de por calar os usuários dos serviços de saúde
formação para os profissionais da saúde sobre que, por medo ou vergonha de serem recrimi-
uso correto e seguro de plantas medicinais, nados, não verbalizam ou refletem sobre as
pesquisa sobre conhecimento dos acadêmicos suas práticas.
dos diferentes cursos da universidade sobre os A vivência nas unidades de saúde indica
temas abordados no programa e proposição que usuários e profissionais têm interesse nos
de disciplinas eletivas sobre Fitoterapia. Tam- temas e que há necessidade de um trabalho
bém é necessário analisar os dados dos medi- permanente de educação em saúde sobre riscos
camentos vencidos recolhidos, com intuito de e benefícios das farmácias caseiras, formando
conhecer as classes dos medicamentos mais assim multiplicadores desse conhecimento.
frequentemente descartados, sua disponibili- Acredita-se que o engajamento da equi-
dade na rede pública, data de validade, entre pe de saúde possa levar à incorporação dos
outras variáveis que auxiliarão na construção temas abordados em seu cotidiano de visitas
de estratégias para promoção do uso racional domiciliares, consultas, grupoterapia, podendo
de medicamentos no DDA. auxiliar na melhoria da qualidade de vida dos
A obtenção de recursos financeiros para indivíduos.
a execução das atividades sempre é um de-
safio. O programa foi contemplado em edital REFERÊNCIAS
para fomento de ações de extensão e recebeu
financiamento para o ano de 2016. O recurso AZEREDO, R. Prefeitura Municipal de Porto
será mantido em 2017. Os incentivos financei- Alegre. Saúde. Disponível em: <http://www2.
ros permitirão o envolvimento de um número portoalegre.rs.gov.br/sms/default.php?p_no-
maior de acadêmicos dos diferentes cursos ticia=180368&SAUDE>. Acesso em: 29 Abr. 2016.
nas ações, por meio de bolsas, além da pro- BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de
dução de materiais educativos e informativos Saúde. Assistência Farmacêutica no SUS / Con-
de qualidade. selho Nacional de Secretários de Saúde. Brasí-
Ainda é necessário que as ações do Progra- lia: CONASS, 2007.
ma estejam melhor alinhadas às diretrizes da BRASIL. Presidência da República. Lei nº 11.350,
assistência farmacêutica do município e mais de 5 de outubro de 2006. Regulamenta o § 5o do
integradas com as demandas percebidas du- art. 198 da Constituição, dispõe sobre o apro-
rante os atendimentos na farmácia distrital. veitamento de pessoal amparado pelo pará-
grafo único do art. 2o da Emenda Constitucional
CONCLUSÃO no 51, de 14 de fevereiro de 2006, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.pla-
As ações do Programa de Extensão pos- nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/
sibilitaram a correta orientação de usuários lei/l11350.htm>. Acesso em: 05 maio. 2016.
e equipe de saúde em relação à guarda e ao BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
descarte responsável de medicamentos e ao Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
uso correto de plantas medicinas. Além dis- Básica. Política Nacional de Atenção Básica /
so, as atividades permitiram integração da Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
equipe do programa com os usuários e pro- Saúde. Departamento de Atenção Básica. Bra-
fissionais das unidades de saúde, oportuni- sília: Ministério da Saúde, 2012.
zando, aos envolvidos, o aprimoramento nas
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Execu-
habilidades de comunicação, de escuta e de tiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Hu-
desenvolvimento de atividades educativas manização. HumanizaSUS: Política Nacional de
fundamentais aos profissionais da saúde. Humanização: a humanização como eixo norte-
A partir das atividades desenvolvidas, per- ador das práticas de atenção e gestão em to-
cebe-se o quanto a saúde é uma prática social das as instâncias do SUS / Ministério da Saúde,
117
Secretaria Executiva, Núcleo Técnico da Política PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. Saú-
Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério de. Serviços de Saúde. Medicamentos. Dispo-
da Saúde, 2004. nível em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/
DDA/UFCSPA. DISTRITO DOCENTE ASSISTENCIAL sms/default.php?p_secao=819>. Acesso em: 29
DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DA UFCSPA. Dis- Abril. 2016.
ponível em: http://www.ufcspa.edu.br/ufcspa/ SATO, M.; AYRES, J. R.C.M.. Arte e humanização das
ensino/graduacao/dda.pdf. Acesso em: 02 maio práticas de saúde em uma Unidade Básica. In-
2016. terface (Botucatu). Botucatu, v. 19, n. 55, p. 1027-
DUARTE, L.R.; SILVA, D.S.J.R.; CARDOSO, S.H. 1038, dez. 2015 . Disponível em <http://www.
Construindo um programa de educação com scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
agentes comunitários de saúde. Interface - Co- d=S1414-32832015000401027&lng=pt&nrm=i-
munic, saúde, educ, v.11, n.23, p.439-47, set/dez so>. Acesso em 15 abril. 2016.
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pdf/icse/v11n23/a04v1123. pdf Acesso em: 25 INSTITUIÇÃO
maio 2015. Universidade Federal de Ciências da Saúde de
FORPROEX. Política Nacional de Extensão Uni- Porto Alegre (UFCSPA) – Curso de Farmácia
versitária. Fórum de Pró-Reitores de Extensão
das Universidades Públicas Brasileiras. Ma- AUTORES
naus: 2012. Aline Lins Camargo
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- Kellen Cristhinia Borges de Souza
tica. Censo 2010. Disponível em: http://cidades. Jacqueline Fraga de Souza Santos
ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=431490. Carina Mesquita Pereira
Acesso em: 17 abril. 2015. Lidiellen Eich
Natália Domingues dos Santos
MARQUES, T. As atividades de agentes comuni- Natália Souza dos Santos
tários de saúde e a promoção do uso correto
de medicamentos em unidades do Distrito de CONTATOS
Saúde Oeste de Ribeirão Preto – SP. 2008. 105 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Ribei- alinel@ufcspa.edu.br
rão Preto. SP. farmaciacaseira@ufcspa.edu.br
kellens@ufcspa.edu.br
PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. mesquitacarina@hotmail.com
Saúde. Políticas em Saúde. Assistência Farma- jacquef.2009@hotmail.com
cêutica. Farmácia Popular do Brasil. Disponí- lidiellen_eich@hotmail.com
vel em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/ ndominguesody@gmail.com
sms/default.php?p_secao=965>. Acesso em: 29 natalia-souza06@hotmail.com
Abril. 2016.
118

Santa Maria/RS

Farmacêuticos abordam
assistência farmacêutica em
situação de desastre e casos de alta
complexidade em município gaúcho
CARACTERIZAÇÃO pessoas responsáveis por domicílios, 43% re-
cebem até três salários mínimos e 20% estão
Santa Maria está situada a 292 Km de Porto em situação de pobreza, com renda per capita
Alegre​, Rio Grande do Sul (RS)​. É uma cidade de inferior a meio salário mínimo.
porte médio, localizada no centro do estado, de No ano de 2010, a população do município
grande influência ​em sua região​​. A base econô- era de 261.031 habitantes. Desses, 95% viviam
mica do município é o setor terciário (serviços), na zona urbana e 53% eram mulheres. Embora
que responde por mais de 80% dos empregos 90% fossem alfabetizados, entre os maiores de
da população economicamente ativa. Entre as 15 anos 3,2% eram analfabetos, segundo dados
119
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- feminino (20/100.000 mulheres) e o câncer de
tica (IBGE). A maior parte dos habitantes en- colo uterino (4/100.000). Os acidentes de trân-
contrava-se na faixa etária entre 15 e 59 anos sito (25/100.000) e os homicídios (11/100.000)
(66,55%). As pessoas com mais de 60 anos re- são as principais causas externas de óbito (SES,
presentavam 13,76% da população. 2011).
O nome de Santa Maria foi projetado inter- Com base nas informações do Sistema de
nacionalmente por causa do incêndio ocorrido Informação de Agravos de Notificação (Sinan),
no dia 27 de janeiro de 2013, na Boate Kiss, que no ano de 2010, houve a ocorrência de 136 ca-
matou 242 pessoas, deixando mais de mil ou- sos de tuberculose; 103 de hepatites virais e 80
tras vítimas diretas e indiretas. Esse episódio de Aids.
desencadeou o desenvolvimento de uma das
No período de janeiro de 2002 a setembro
experiências relatadas nesta publicação. Inti-
de 2012, foram registrados 17.670 casos de hi-
tulado “A assistência farmacêutica em uma si-
pertensão, 135 de diabetes tipo 1 e 691 de dia-
tuação de desastre - o incêndio na Boate Kiss,
betes tipo 2. Já os casos de hipertensão e dia-
em Santa Maria (RS)”, o trabalho descreve a
betes somaram 5.439.
atuação dos farmacêuticos no atendimento às
vítimas.
Estruturação da rede de saúde
O município de Santa Maria também é o
cenário de outra experiência, “A reconciliação O município de Santa Maria é o principal
farmacoterapêutica na otimização da terapia”, polo assistencial da macrorregião Centro-Oeste
desenvolvida no Hospital Universitário de San- do RS (IBGE, 2010). É sede da 4ª Coordenadoria
ta Maria (HUSM). O trabalho tem a participação Regional de Saúde do estado (CRS-RS), que se
de farmacêuticos residentes e é realizado em divide em duas regiões de saúde (Verdes Cam-
duas unidades hospitalares, onde são interna- pos e Entre Rios) e abrange 32 municípios, po-
dos pacientes para tratamento em diferentes voados por 541.247 habitantes.
especialidades (Neurologia, Doenças Infecto-
A rede de saúde do município conta com
contagiosas, Oncologia/Cabeça e Pescoço, An-
160 estabelecimentos, dos quais 68 fazem par-
giologia/Clínica Vascular, Pneumologia, Cardio-
te do SUS. Na atenção primária, são 12 Unida-
logia e Medicina Interna).
des Básicas de Saúde (UBS) e 16 equipes da
Estratégia de Saúde da Família (ESF). No nível
Perfil epidemiológico
intermediário de complexidade do atendimen-
Segundo dados do Departamento de In- to, o município possui três unidades de pronto
formática do Sistema Único de Saúde (Datasus, atendimento (infantil, adulto e odontológico),
2010), são registradas 14,9 mil internações na um ambulatório de saúde mental, quatro Cen-
rede pública e conveniada com o sistema em tros de Atenção Psicossocial (Caps) e um Cen-
Santa Maria. Além das causas obstétricas (gra- tro de Testagem e Aconselhamento.
videz, parto e puerpério), a maior parte das O Hospital Universitário de Santa Maria
internações ocorre em função de neoplasias (HUSM), da Universidade Federal de Santa Ma-
e doenças do sistema respiratório, digestivo e ria (UFSM), é um hospital geral de alta complexi-
circulatório. As cinco principais causas de óbi- dade que atende exclusivamente aos usuários
to na população residente em Santa Maria são do SUS. Hospital-escola, a​ unidade é referência
as doenças do aparelho circulatório (241 mor- para casos de complicações clínicas ou cirúrgi-
tes/100.000​mil habitantes​). Em seguida, vêm as cas e atendimento em transplantes, de gestan-
neoplasias (170/100.000), doenças do aparelho tes de alto risco e de recém-nascidos na área
respiratório (81/100.000), além de causas exter- de abrangência da 4ª CRS-RS. O hospital aten-
nas de morbimortalidade (60/100.000). O índice de mais de 44 especialidades, dispondo de 400
de mortes por causas mal definidas é de 1,4%. leitos e um ambulatório com​58 consultórios.
Entre as causas neoplásicas malignas de Após o desastre da Boate Kiss, o municí-
óbito, destacam-se o câncer de pulmão (30 pio​​recebeu auxílio para a estruturação de uma
mortes​/100.000 h
​ abitantes), o câncer de mama rede de apoio à população​ . Contribuíram, a
120

Força Tarefa Nacional do SUS​; voluntários​;  or- Já o Setor de Farmácia Hospitalar (SFH) do
ganizações não governamentais​, como a Cruz HUSM conta com 18 farmacêuticos, 11 técni-
Vermelha e Médicos Sem Fronteiras​; e consul- cos, 18 almoxarifes, dois serventes de limpeza
tores do Ministério da Saúde (MS) e da Políti- e uma recepcionista. O serviço é responsável
ca Nacional de Humanização. Foram criados pela AF a pacientes internados e ambulato-
serviços específicos como o Centro Integrado riais, realizando a seleção, programação, ar-
de Atenção as Vítimas de Acidentes (Ciava) do mazenamento, distribuição, dispensação de
HUSM e o Acolhe-Saúde, estruturado pelo mu- medicamentos e materiais médico-hospitala-
nicípio, para a atenção psicossocial. res; preparo de quimioterapia antineoplásica;
e atenção farmacêutica a pacientes oncológi-
O Ciava foi criado para reunir a equipe cos e a pessoas vivendo com HIV/Aids, além
de assistência em um só lugar e coordenar os de apoiar a Unidade de Compras no processo
atendimentos das diferentes áreas, além de de aquisição de medicamentos e materiais do
possibilitar o acompanhamento em longo pra- hospital, visando ao uso seguro e racional dos
zo dos sobreviventes.  Antes, os pacientes se mesmos.
deslocavam a vários serviços. Com o Ciava, toda
O SFH é campo de ensino para o curso
a equipe participava do acompanhamento, in- de graduação em Farmácia e para o Programa
cluindo médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, de Residência Multiprofissional Integrada em
farmacêutico e outros. Gestão e Atenção Hospitalar no SUS. Junto ao
programa de residência, o SFH está especiali-
Assistência farmacêutica zando seis farmacêuticos: dois na área de con-
centração das doenças crônico-degenerativas,
A assistência farmacêutica (AF) municipal dois em hemato-oncologia e dois em vigilância
conta com três farmácias que dispensam os em saúde. Os residentes das doenças crônico-
medicamentos da Relação Municipal de Medi- -degenerativas e vigilância em saúde estão em
camentos (Remume), conforme prescrição mé- duas unidades de internação desenvolvendo a
dica, em receituário do SUS. prática da Farmácia Clínica.
121

A assistência farmacêutica em
uma situação de desastre - o incêndio
na Boate Kiss, em Santa Maria
RELATO DA EXPERIÊNCIA no Rio Grande do Sul, o desastre na Boate
Kiss, ocorrido em 27 de janeiro de 2013, foi
Os desastres são alterações súbitas de responsável pela morte de 242 pessoas, dei-
pessoas, de seu meio ambiente ou de seus xando mais de mil outras vítimas diretas e
bens, causados por fatores externos de ori- indiretas, com danos físicos e psicossociais.
gem natural ou pela ação humana, que de- Segundo Albuquerque et al. (2013), os sobre-
mandam uma ação imediata por parte das viventes foram expostos ao gás cianeto de
autoridades de saúde, visando à diminuição hidrogênio e tiveram danos causados pela
das conseqüências e acabam por exceder a inalação de fumaça, desordens músculo-es-
capacidade de resposta, necessitando ajuda queléticas e queimaduras.
externa de ordem nacional ou internacio- O objetivo é descrever o processo de assis-
nal (Brasil, 2012). Na cidade de Santa Maria, tência farmacêutica (AF) em uma situação de
122
desastre decorrente do incêndio na Boate Kiss. UFSM e farmacêuticos voluntários. Após o
A experiência tem como base os relatos de aca- desastre, a partir de maio/2013, onze aca-
dêmicos e profissionais da área da saúde que dêmicos de diferentes cursos de graduação
atuaram na atenção às pessoas atingidas. Como (principalmente da Farmácia), juntamente
resultados, foram identificadas iniciativas sim- com professores tutores, inseriram-se no
ples que a equipe de AF desenvolveu frente à processo por meio do PET-Saúde/Vigilância
demanda, como a segregação das pastas dos em Saúde e passaram a compartilhar os seus
pacientes e a criação de um sistema on-line desafios diários. A equipe de AF acompa-
de acompanhamento dos sobreviventes, além nhou 485 sobreviventes (considerados como
da confecção de um protocolo registrando, de vítimas diretas), além das vítimas indiretas
forma clara e concisa, o fluxo de condutas to- (312 familiares, 190 voluntários ou equipe do
madas pela AF naquela situação inesperada e exército, 19 profissionais da área da saúde,
emergencial. policiais ou bombeiros).
Nesse contexto, foi importante o planeja- Os resultados das intervenções da equi-
mento de ações voltadas aos sobreviventes, pe de AF puderam ser observados logo após o
considerando as diferentes etapas do ciclo
desastre, quando se iniciou a busca da equipe
da AF. O PET-Saúde/Vigilância em Saúde da
de AF por medicamentos em quantidade sufi-
UFSM (Programa de Educação Tutorial pelo
ciente para atendimento aos 577 sobreviventes.
Trabalho para a Saúde) foi o mediador entre
Desses, 82 foram internados em hospitais de
as discussões teórico-científicas da universi-
Santa Maria e 59 foram removidos para Porto
dade e as necessidades práticas dos serviços
Alegre.
de saúde em relação aos cuidados farmacêu-
ticos. A reestruturação do ciclo da AF realiza- A equipe de AF organizou as doações rece-
da “de acordo com a demanda” e “por muitas bidas de todo o Brasil. Houve remanejamento
e diferentes mãos” foi importante para pro- de medicamentos de outras Coordenadorias
mover o acesso aos medicamentos e, conse- Regionais de Saúde e do Almoxarifado Central
quentemente, melhorar a qualidade de vida do Rio Grande do Sul. Neste aspecto, conse-
dos sobreviventes ao desastre. guiu-se a liberação de medicamentos que
A integração da academia com os ser- haviam sido judicializados, mas que estavam
viços foi concretizada de diferentes formas, estocados há mais de trinta dias, sem procura.
pela presença de acadêmicos de graduação e Além disso, a SMS comprou alguns itens por
pós-graduação que tinham a 4ª CRS-RS como licitação e a 4ª CRS-RS fez compra emergen-
campo de estágios e práticas (do PET-Saúde/ cial em farmácias. Realizou-se a busca ativa
Vigilância em Saúde e do PRMISPS/UFSM - dos medicamentos que seriam necessários
Programa de Residência Multiprofissional nos hospitais do município, a partir de infor-
Integrada em Sistema Público de Saúde da mações in loco, com os farmacêuticos e pres-
UFSM), contribuindo efetivamente no mapea- critores. Durante esse processo, 835 pessoas
mento das ações relativas ao desastre. A par- realizaram cadastro no Form-SUS buscando
tir de uma reconstituição histórica realizada atendimento. Durante os mutirões de aten-
com acadêmicos, tutores, farmacêuticos resi- dimento ambulatorial, realizados no Ciava/
dentes e farmacêuticos indicados pelos ges- HUSM, foram atendidos 82 pacientes pela
tores da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde equipe de AF.
do Estado (CRS-RS) e da Secretaria Municipal No momento em que os sobreviventes re-
de Saúde (SMS), este relato pretende descre- ceberam alta hospitalar e passaram a buscar
ver algumas características do processo de seus medicamentos na sede da 4ª CRS-RS,
AF e as estratégias que foram implementadas destacaram-se as iniciativas da equipe de AF
pela equipe de AF no período pós-desastre, para desburocratização na liberação dos medi-
em Santa Maria, RS. camentos que atenderiam aos 65 processos de
A equipe de AF foi constituída, no mo- pacientes de forma emergencial. Na prática, to-
mento do desastre pelos farmacêuticos e dos os medicamentos que estavam no estoque
funcionários da 4ª CRS-RS, farmacêuticos da da 4ª CRS-RS e que poderiam atender a esta
SMS, farmacêuticos residentes do PRMISPS/ demanda foram dispensados, além do cuidado,
123

atenção da equipe em relação a cada atendi- a ajuda dos peritos, que priorizaram a análise
mento realizado. Essa agilidade na liberação de dos processos das vítimas e os deferiram rapi-
medicamentos também foi conquistada com damente.

Figura 3 - Fluxo dos medicamentos

O emprego de um recurso simples foi gação dos processos, foi possível a criação
fundamental para a identificação das víti- de uma planilha no Microsoft Excel, que foi
mas do desastre que buscavam adquirir seus compartilhada on-line via Google Drive fi-
medicamentos na 4ª CRS-RS: a marcação das cando acessível aos diferentes serviços de
pastas dos processos dos pacientes referen- atendimento, a fim de facilitar o acompa-
tes a Boate Kiss, com um adesivo colorido nhamento dos sobreviventes.
e a segregação destas 65 pastas em uma
gaveta separada das demais. Esta iniciativa
básica, aplicada por uma farmacêutica resi-
dente, permitiu discriminar, de forma rápida
e efetiva, quem eram as vítimas do desastre
e suas necessidades de medicamentos. Em
uma situação de emergência, com aumento
abrupto da demanda, envolta na comoção e
choque da coletividade, a clareza de visão
e o pensamento altruísta permitiram que a
equipe de AF tomasse essa decisão no mo-
mento certo. Caso contrário, essa tarefa de-
mandaria muito mais tempo, pois as 65 pas-
tas ficariam “perdidas” em meio ao contin-
gente de doze mil processos já existentes. `
A localização por meio informatiza-
do também não seria possível, pois o
Sistema Administração de Medicamentos
(AME) vinculado à Coordenação da Política Figura 4 – Adesivo colorido identificando processos
de Assistência Farmacêutica (CPAF), da
Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande Posteriormente, mas não menos importan-
do Sul, não contava com um código identi- te, aconteceu a criação de uma comissão com
ficador destas pessoas. A partir da segre- especialistas que criaram um protocolo para
124
flexibilizar a dispensação de alguns medica- ajudaram a escrever esta história. É impor-
mentos que não constavam na lista do SUS ou tante ressaltar, ainda, o papel integrador
estavam atrelados a um CID específico, o que da universidade, cuja participação também
inviabilizava sua oferta às vítimas (Resolução veio a ser estimuladora, mediadora deste
646/13 da CIB-RS - Comissão Intergestores processo.
Bipartite do Rio Grande do Sul). A equipe de AF Dessa maneira, vale lembrar que, em uma
teve participação também no Grupo Gestor do situação de desastre, o sistema de prestação
Cuidado, atuando nas reuniões e na elaboração de cuidados em saúde fica sobrecarregado.
de protocolos de atendimento das especiali- Ferramentas que foram desenvolvidas para
dades. Foram realizadas discussões a respeito contornar esta precariedade merecem desta-
dos problemas mais urgentes e tentativas de que como a identificação visual dos proces-
resolução. O grupo reunia representantes do sos administrativos e a criação de planilha
Acolhe Saúde, CEREST, PRAE-UFSM e das esfe- no Excel disponibilizada no Google drive para
ras do poder público. cadastro das informações, o que nos permitiu
Além disso, foi criado o Grupo de Apoio acompanhar e monitorar os 65 pacientes. As
ligado ao gabinete do governador do esta- iniciativas pós-desastre colocadas em prática
do, que acompanhava e apoiava essas pes- pela equipe, atuando em várias etapas do ci-
soas em vários aspectos. O Grupo de Apoio clo da AF (aquisição, seleção, programação e
fez um trabalho de mapeamento, busca ativa, distribuição), propiciaram uma resposta mais
visita domiciliar, organização de novas fon- rápida, de acordo com a gravidade da situa-
tes de trabalho, acesso ao ensino superior, ção, beneficiando, principalmente, quem mais
emprego, qualificação (cursos), qualificação precisava. Para os sobreviventes, o esforço e
de serviços desenvolvidos e até mesmo em dedicação da equipe de AF possibilitou, em
questões familiares, tentando contornar as meio a uma situação de crise, o acesso aos
dificuldades e personificar políticas públicas medicamentos e um atendimento e orienta-
estaduais para atender à demanda pós-de- ção individualizados. Para a gestão, a organi-
sastre. zação da AF possibilitou o acompanhamento
A teorização sobre esta experiência e a dos pacientes, o que facilitou na tomada de
sistematização de um texto apontando as di- decisões.
ficuldades, as necessidades e as opções de
ações que foram as escolhidas e praticadas, REFERÊNCIAS
com seus erros e acertos, faz-se necessária
por si só como um relato histórico. A situa- Albuquerque IM, Pasqualotto AS, Trevisan
ção drástica impetrada por uma emergência ME, Gonçalves MP, Badaró AFV, Moraes JP et
em Saúde Pública como esta, vivida em Santa al. Role of physiotherapy in there habilita-
Maria, provocou a adaptação rápida das ins- tion of survivors of the kiss nightclub trag-
tituições e serviços envolvidos na assistên- edy in Santa Maria, Brazil. Physiotherapy.
cia às vítimas. Isto só foi possível devido à 2013; 99(4):269-70. http://dx.doi.org/10.1016/j.
dedicação comprometida e solidária dos physio.2013.07.001
profissionais da saúde, além da mobilização Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e
conjunta de voluntários e estudantes para Estatística (IBGE). Censo Demográfico 2010.
atender à demanda das pessoas que necessi- [acessado em 2 de março de 2016]. Disponível
tavam de atenção imediata. em: www.ibge.gov.br
Outras iniciativas e atividades realizadas Brasil. Presidência da República. Lei nº 12.608,
podem ser ainda orientadoras na confecção de 10 de abril de 2012. Institui a Política
de diferentes protocolos a serem utilizados Nacional de Proteção e. Defesa Civil - PNPDEC;
em desastres. Ao mesmo tempo, acredita-se dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção
que a divulgação desta experiência possa e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional
ser um instrumento de valorização e reco- de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC; autoriza
nhecimento dos profissionais da saúde, em a criação de sistema de informações e monito-
especial os farmacêuticos, personagens que ramento de desastres; altera as Leis nos 12.340,
125

de 1o de dezembro de 2010, 10.257, de 10 de ju- CONTATOS


lho de 2001, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, lizianemf@gmail.com
8.239, de 4 de outubro de 1991, e 9.394, de 20 regpon@gmail.com
de dezembro de 1996; e dá outras providên- daiadeloreto@hotmail.com
cias. Diário Oficial da União, Poder Executivo, atrindade93@gmail.com
Brasília, DF, 14 abr. 2012. Seção 1, p. 1 - 4. isabelcristina.ceparc@yahoo.com.br
Brasil. Resolução CNS nº 338/2004. Aprova a angela.lena@hotmail.com
Política Nacional de Assistência Farmacêutica. juoliveirafarma@gmail.com
[acessado em 23 de abril de 2016]. Disponível melissa.alfredo@gmail.com
em: http//www.saude.gov.br/doc/resolucaoc- leticiaalinef@hotmail.com
ns338/cns.htm mayara_gais@hotmail.com
Rio Grande do Sul. Secretaria Estadual de karollinepfreitas@gmail.com
Saúde (SES). Indicadores de Morbidade 2011. fallon.farm@gmail.com
[acessado em 12 de janeiro de 2016]. Disponível guiritter@gmail.com
em: www.saude.rs.gov.br tatianammrosa@gmail.com
fabricia.carvalho@saude.gov.br
Rio Grande do Sul. Secretaria Estadual de Saúde farmaciadaana@gmail.com
(SES). Resolução CIB/RS 646 de 06 de dezembro msolmr@yahoo.com.br
de 2013. [acessado em 03 de fevereiro de 2016]. se.michel@hotmail.com
Disponível em: www.saude.rs.gov.br. marinelmd@terra.com.br

INSTITUIÇÃO
Universidade Federal de Santa Maria (HUSM) -
Centro de Ciências da Saúde
Programa de Educação pelo Trabalho para
Saúde (PET-Saúde/Vigilância em Saúde)

AUTORES
Marinel Mor Dall’Agnol
Liziane Maahs Flores
Regis Carpes Pontel
Daiane Rodrigues de Loreto
Ana Luiza Trindade
Isabel Cristina Reinheimer
Angela Regasson Lena
Juliana dos Santos Oliveira
Melissa de Almeida Corrêa Alfredo
Letícia Aline Fernandes
Mayara Ana Gais
Karolline Pereira de Freitas
Fallon dos Santos Siqueira
Guilherme Ignácio Ritter
Tatiana Margot Muller da Rosa
Fabrícia Lopes Carvalho
Ana Emilia Maixner
Maria Solange Medeiros Ribeiro
Selena Dutra Michel
126

A reconciliação
farmacoterapêutica
na otimização da terapia
RELATO DA EXPERIÊNCIA como na admissão e alta hospitalar, os pacien-
tes ficam expostos a possíveis erros de medi-
A administração de medicamentos no con- camentos, devido, muitas vezes, à pobre comu-
texto hospitalar é um processo complexo e com nicação entre a equipe de saúde e à perda de
múltiplos passos. Nem sempre esse processo é informações em relação aos pacientes3.
suficientemente seguro, ocorrendo erros que Dados mostram que 49% dos pacientes
podem ou não causar danos ao paciente. Estes experimentam pelo menos um erro médico se-
erros, denominados Problemas Relacionados guinte à alta, comumente envolvendo uso de
a Medicamentos (PRM), são discrepâncias não medicamentos, sendo que a maior parte dos
intencionais consideradas eventos adversos erros poderia ser evitada por meio de comu-
passíveis de prevenção1,2. nicação eficiente4 e do planejamento adequa-
Os PRM podem levar a importantes agravos do de alta, pois, este planejamento contribui
à saúde dos pacientes, com relevantes reper- para a continuidade do cuidado no domicílio,
cussões econômicas. São ocorrências comuns podendo evitar reinternações5.
e podem assumir dimensões clinicamente sig- A diminuição nos erros de medicação, nos
nificativas, impõem custos relevantes e sua serviços de saúde onde existe o farmacêutico
ocorrência impacta diretamente na segurança atuando juntamente com a equipe clínica, foi
do paciente. Durante as transições do cuidado, demonstrado por vários estudos, reforçando
127
a hipótese de que a intervenção farmacêuti- ocorrendo nas unidades de internação, por
ca pode reduzir o número de efeitos adversos, meio dos farmacêuticos residentes do Pro-
melhorar a qualidade do atendimento e acar- grama de Residência Multiprofissional, a qual
retar em diminuição dos custos hospitalares6. tem o intuito de formar profissionais capazes
O farmacêutico clínico trabalha diretamen- de trabalhar em equipe interdisciplinar e com
te em contato com a equipe de saúde, atuan- olhar holístico frente aos usuários dos serviços
do na avaliação e monitoramento da resposta de saúde.
terapêutica dos pacientes, realizando interven- Nesse contexto, o SFH, consciente da im-
ções, recomendações e fornecendo informa- portância da prática da Farmácia Clínica na
ções sobre medicamentos. Na prática da Far- garantia de uma farmacoterapia segura e ra-
mácia Clínica, o farmacêutico presta assistência cional, mesmo não contando com profissionais
ao paciente, estimulando e monitorando o uso farmacêuticos clínicos em seu quadro de fun-
racional de medicamentos. Para que esta tenha cionários, presta suporte à atuação dos farma-
resultado satisfatório, é importante o bom re- cêuticos residentes nas unidades de interna-
lacionamento com a equipe multidisciplinar de ção hospitalar.
saúde, atuando com responsabilidade e sigilo7.
No ano de 2015, com o farmacêutico re-
De acordo com a Resolução nº 585 do Con- sidente já inserido na unidade de internação
selho Federal de Farmácia (CFF), de 29 de agos- hospitalar, percebeu-se a necessidade de ini-
to de 2013, que dispõe sobre as atribuições ciar a prática da RF, visto que muitos pacientes,
clínicas do farmacêutico, esse profissional pro- no momento da hospitalização, interrompiam
move o uso racional de medicamentos, desen- seus tratamentos prévios à internação. Além
volvendo práticas como o seguimento farma- disso, foram observados muitos casos de du-
coterapêutico, a conciliação medicamentosa e plicidade terapêutica e erros de prescrição.
a revisão da farmacoterapia.
Nesse contexto, a Reconciliação Farmaco- METODOLOGIA
terapêutica (RF) apresenta-se com um proces-
so no qual se obtém uma lista completa, pre- A prática da RF desenvolvida no Hospital
cisa e atualizada dos medicamentos que cada Universitário de Santa Maria (HUSM) ocorre
paciente utiliza em casa (incluindo nome, do- em duas unidades de internação onde os far-
sagem, frequência e via de administração). A macêuticos residentes estão inseridos. Nestas
partir desta lista, faz-se uma comparação com unidades são internados pacientes para trata-
as prescrições médicas feitas na admissão hos- mento nas especialidades de Neurologia, Do-
pitalar, transferência, consultas ambulatoriais enças Infectocontagiosas, Cabeça e Pescoço/
com outros médicos e/ou alta hospitalar. Oncologia, Angiologia/Clínica Vascular, Pneu-
Essa lista, obtida por meio da RF, é utiliza- mologia, Cardiologia e Medicina Interna.
da para otimizar o uso dos medicamentos em O atendimento farmacêutico ao paciente
todos os pontos de transição do paciente den- é realizado em até 48 horas após sua interna-
tro do sistema de saúde. Tem como principal ção na unidade. Antes de abordar o paciente, o
objetivo diminuir a ocorrência de PRM quando farmacêutico consulta o prontuário do mesmo
o paciente muda de nível de assistência à saú- para verificar a anamnese. A partir da anam-
de e, principalmente, busca evitar ou minimizar nese, são verificados a idade do paciente, o
os erros de transcrição, omissão, duplicidade histórico de doenças e da internação, além do
terapêutica e interações medicamentosas8,9. histórico de alergias.
Os estudos sobre a implantação da RF nos Ao abordar o paciente, o farmacêutico leva
serviços de saúde ainda são escassos e precisam consigo a Ficha de Reconciliação Farmacote-
ser incrementados a fim de melhorar este pro- rapêutica, instrumento utilizado para a coleta
cesso importante para a segurança do paciente3. dos dados referentes aos medicamentos que o
O SFH não conta com profissionais farma- paciente utilizava em casa e histórico de aler-
cêuticos clínicos em seu quadro de funcioná- gias. Quando o paciente não tem condições de
rios. Dessa forma, a inserção do farmacêutico, prestar estas informações, o acompanhante é
atuando na prática da Farmácia Clínica, está quem responde aos questionamentos.
128

Ficha de Reconciliação Farmacoterapêutica.

FICHA DE RECONCILIAÇÃO FARMACOTERAPÊUTICA (RF) – Setor de Farmácia Hospitalar


Paciente:_______________________________________________ Same:_______________ Andar/Leito:_____________Clinica:_________________ Prescritor:________________
Data da Internação no Andar:______________ Tempo para realização da RF após Internação no Andar:______________________________________
Fonte de Informações:_______________________________________________________________

Desfecho da
Medicamentos Intervenção Observações
Frequência de Segue prescrito o uso durante o Número da
Utilizados Dose/Via ACEITA:
administração período de internação no hospital? discrepância
Sim (S) Não (N)
em domicílio Não se aplica
(NA)
□Sim, c/
1 □Sim alteração □Não
□Sim, c/
2 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
3 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
4 □Sim alteração □Não
□Sim, c/
5 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
6 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
7 □Sim alteração □Não
□Sim, c/
8 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
9 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
10 □Sim alteração □Não
□Sim, c/
11 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
12 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
13 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
14 □Sim □Não
alteração
□Sim, c/
15 □Sim □Não
alteração
Data/Hora – Realização da RF Farmacêutico(a): Data/Hora – Desfecho:
Tempo até o desfecho:

ALERGIAS:

REAÇÕES ADVERSAS:

Guia de Discrepâncias

Discrepâncias NÃO INTENCIONAIS Discrepâncias INTENCIONAIS Reconciliação

1: Omissão de medicamento em uso pelo paciente. Número de Medicamentos em uso antes da


7: Decisão médica não prescrever um medicamento admissão
2: Inclusão inadequada de medicamento não baseado na situação clínica.
utilizado pelo paciente.
9: Decisão médica prescrever troca de dosagem, Número de Medicamentos Prescritos na
3: Inclusão inadequada de medicamento que o frequência de administração ou via baseado na Admissão
paciente relata alergia. situação clínica.

4: Frequência de administração ou dose incorreta. 10: Substituição de um medicamento por outro


padronizado pelo hospital. Número Total de Discrepâncias
5: Via de administração incorreta.
11: Outros.
6: Prescrição de medicamento incorreto pertencente
à mesma classe terapêutica / duplicação terapêutica.
Número de Discrepâncias não intencionais

Observações:

Reconciliação Farmacoterapêutica de Alta

Orientação de Alta ( ) SIM ( ) NÃO


Medicamentos Via Sonda ( ) SIM ( ) NÃO
Orientação de Encaminhamento Processo de Medicamentos ( ) SIM ( ) NÃO

Após o preenchimento da Ficha de Recon- crepâncias intencionais ou não intencionais na


ciliação Farmacoterapêutica é realizada a RF, prescrição médica. A partir dessa primeira aná-
comparando a Ficha com a prescrição médica. lise, o farmacêutico, então, irá conversar com a
Esta comparação tem o intuito de encontrar dis- equipe médica sobre as discrepâncias encon-
129

tradas, buscando otimizar a farmacoterapia do dência de discrepâncias em 64,5% de prescri-


paciente por meio da intervenção farmacêutica. ções (n=91).
As discrepâncias não intencionais são: a Analisando os dados, verificou-se que a
omissão de medicamento necessário pelo pa- frequência de uso de medicamentos no domi-
ciente; a adição de medicamento não justifica- cílio foi maior entre os pacientes das clínicas
do pela situação clínica do paciente; a diferen- de Angiologia/Doenças Vasculares e Cabeça e
ça na dose, via de administração, frequência, Pescoço/Oncologia. Já na clínica de Doenças In-
horário ou método de administração; e a dupli- fecciosas observou-se o contrário, uma vez que
cidade medicamentosa. a maioria dos pacientes internados estava sem
uso de medicamentos, refletindo o abandono
Já as discrepâncias intencionais ocorrem
do tratamento antirretroviral (HIV), causa co-
por decisão médica de não prescrever um medi-
mum de internações hospitalares nesta clínica.
camento ou alterar sua dose, frequência ou via
de administração de acordo com a situação clí- Número de pacientes com uso
nica do paciente ou, ainda, uma substituição te- de medicamentos no domicílio
rapêutica de um medicamento por outro da lista (anterior a internação) x Número de
de medicamentos padronizados do hospital. pacientes sem uso de medicamentos,
Após a discussão das discrepâncias com o de acordo com a clínica de internação.
prescritor, novamente, é realizada análise da
38
prescrição a fim de verificar se a intervenção 40
34
farmacêutica foi aceita ou não pelo médico. 35
30 26
Pacientes (n)

25
Realização da Reconciliação
20
Farmacoterapêutica com a paciente 15 11 11
e acompanhante. 10
8
6 7
5
0

O estudo detectou 218 discrepâncias de


prescrição. Dentre estas, 71% foram discrepân-
cias intencionais e 29% discrepâncias não in-
tencionais.

Frequência das discrepâncias


Descrição dos impactos gerados com esta intencionais identificadas
experiência (março a dezembro/2015).

Discrepâncias Intencionais
No período de março a dezembro de 2015,
foram analisadas 282 prescrições durante a Substituição de um medicamento
por outro padronizado no hospital 10,32%
realização das RF. A partir da análise das RF,
observou-se que a idade média dos pacien- Troca de dosagem, frequência
tes foi de 57 anos. Entre os pacientes avalia- de administração ou via
baseado na situação clínica
9,04%

dos, 50% deles já faziam uso de medicamen-


to em domicílio (n=141). Quando analisamos Não prescrição devido
situação clínica 80,64%
esse dado para os pacientes com 60 anos ou
mais, esse percentual aumenta para 60,2%.
Nas prescrições dos 141 pacientes com uso
prévio de medicamentos, foi detectada inci-
130
Frequência das discrepâncias não camentos na prescrição hospitalar e o pacien-
intencionais identificadas no estudo. te e/ou cuidador eram orientados que esses
medicamentos fossem trazidos ao hospital e
Discrepâncias Intencionais
entregues à equipe de enfermagem, possibili-
Duplicação terapêutica
4,80%
tando a continuidade do tratamento. Essa in-
tervenção foi realizada em 93 RF.
Inclusão inadequada
Durante o processo de trabalho foi criado
22,20%
de medicamento um instrumento com a finalidade de facilitar a
comunicação do farmacêutico residente com a
Dose incorreta
11,00%
equipe médica e de enfermagem, visto que o
farmacêutico residente, devido a outras ativida-
des do Programa de Residência, não está conti-
Omissão de informação sobre
medicamento pelo paciente
62,00% nuamente presente na unidade de internação.
Assim, o instrumento é deixado no pron-
tuário do paciente para que a equipe médica,
Observou-se, em 80,64% das RF, a dimi-
caso não tenha sido contata pessoalmente
nuição do número de medicamentos durante
pelo farmacêutico, tome conhecimento das
a internação. Isto ocorreu por conduta médi-
discrepâncias detectadas durante a RF.
ca devido à situação clínica do paciente, sen-
do a discrepância intencional identificada com Ao enfermeiro responsável pela unidade,
maior frequência. também, é entregue o instrumento contendo
informações sobre a administração dos medi-
A discrepância não intencional mais pre-
camentos produzidas durante a RF. Objetiva-se
sente nesse estudo foi a omissão de informa-
com isso que as informações sejam repassadas
ção sobre medicamento pelo paciente. Esta
durante as trocas de plantões da equipe de en-
ocorreu em 62% das RF realizadas. Um proble-
fermagem e, assim, todos estejam informados
ma frequente, na internação hospitalar, é a fal-
dos medicamentos que o paciente fazia uso no
ta de informações precisas quanto aos medica-
domicílio.
mentos de uso em domicílio. Isso pode acarre-
tar na interrupção ou inadequação da terapia
Instrumento facilitador para comunicação
medicamentosa, resultando em PRM e em risco
com a equipe multidisciplinar.
de danos ao paciente.
Devido às intervenções farmacêuticas,
prescrições médicas hospitalares, foram alte- Hospital Universitário de Santa Maria – HUSM

radas pelos prescritores, assegurando a conti-


Setor de Farmácia Hospitalar
Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no
Sistema Público de Saúde
nuidade do tratamento. Também, verificou-se
que em 11% das RF a dose prescrita estava in- RECONCILIAÇÃO FARMACOTERAPÊUTICA
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS/ MEDICAMENTOS POR SONDAS/
correta devido a informações erradas forneci- INCOMPATIBILIDADES EV

das, tanto pela equipe de saúde, quanto pelo Paciente:

paciente/acompanhante.
Leito:

A prática da RF também possibilitou preve-


nir o erro de administração de medicamentos
nos casos em que os medicamentos utilizados
não constavam na lista de medicamentos pa-
dronizados do hospital. Pois, quando isso ocor-
re, o medicamento fica em posse do paciente e
este ou o acompanhante faz a administração.
A prática da RF evitou que medicamentos,
utilizados em casa e que não eram disponibi-
lizados pelo HUSM, deixassem de ser adminis-
trados. A equipe médica era avisada sobre as
medicações e, se o tratamento não pudesse Farmacêutico Responsável:
Data:

ser interrompido, o médico mantinha os medi-


131
Sabe-se que a reconciliação pode ser reali- domicilio e a forma correta de uso. A maior
zada por outros membros da equipe de saúde. dificuldade encontrada para desenvolver de
Porém, estudos mostram que, devido a forma- forma sistemática este processo é a ausência
ção profissional, preparo e maior familiaridade do residente em período integral na unida-
com os medicamentos, o farmacêutico possui de de internação e a falta de comunicação da
maior habilidade de obter o histórico mais equipe responsável pelo cuidado do paciente
completo e preciso dos medicamentos, quan- quanto a programação da alta pelo médico
do comparado a outros profissionais, evitando assistente.
informações equivocadas10.
Assim, a partir da implantação da RF CONCLUSÃO
pelos farmacêuticos residentes potenciali-
zou-se a detecção de PRM, a interrupção do A implantação da RF aumentou a segu-
tratamento ou continuidade de uma terapia rança e eficácia dos medicamentos prescri-
inapropriada. O maior impacto que pôde ser tos entre transições de cuidados, reduzindo
evidenciado é a interrupção da cascata de er- os PRMs. Os resultados apresentados são
ros de medicamentos. Desta maneira, as in- evidências sólidas da importância da RF, pois
tervenções farmacêuticas produziram bene- permitiram identificar fragilidades no pro-
fícios diretos aos pacientes ao incrementar a cesso de uso de medicamentos, originando
qualidade e segurança do tratamento farma- intervenções de impacto direto sobre a saú-
cológico do paciente. de dos pacientes.

Próximos passos, desafios e necessidades REFERÊNCIAS

Apresenta-se como desafio a manutenção 1 Cassiani SHB, Deus NN, Capucho HC. Admi-
da RF de forma contínua e sistemática, uma nistración segura de medicamentos. In: Co-
vez que o hospital não conta com farmacêuti- metto MC, organización. Enfermería y segu-
co clínico, sendo desempenhada esta atividade ridade de los pacientes. Washington (EUA):
pelo farmacêutico residente. Porém, a RF deve Organización Panamericana de La Salud;
ser uma responsabilidade partilhada por pro- 2011.
fissionais da saúde, tanto os farmacêuticos, 2 Vira T, Colquhoun M, Etchells E. Reconciliable
quanto os médicos e os enfermeiros, conjunta- differences: correcting medication errors at
mente com pacientes e cuidadores. hospital admission and discharge. QualSaf
A continuidade das ações de RF é impor- Health Care 2006;15:122-26.
tante para que maior visibilidade seja dada ao 3 Anacleto TA, Rosa MB, Neiva HM, Martins
trabalho do farmacêutico como integrante da MAP. Erros de medicação. Pharmacia Brasi-
equipe de saúde, sensibilizando, assim, os ges- leira 2010;74:1-24.
tores sobre a importância da prática da Farmá-
4 Forster AJ, Murff HJ, Petersom JF, Gandhi TK,
cia Clínica dentro do hospital.
Bates DW. Adverse drug events occurring
Para que a RF se torne prática vigente na following hospital discharge. J GenIntern
instituição e alcance as demais clínicas aten- Med 2005;20:317-23.
didas no HUSM, o grande desafio é possuir no
5 Huber DL, Mcclelland E. Patient preferences
quadro da instituição o farmacêutico clínico
que poderá priorizar a sua atuação na coorde- and discharge planning transitions. J Prof-
nação e monitorização do processo de RF. Nurs. 2003;19(4):204-10.

Outro desafio a ser enfrentado é a reali- 6 Nunes PH, Pereira BM, Nominato JC. Phar-
zação da RF no momento da alta do pacien- maceutical intervention and prevention of
te, pois, no período do estudo, foram reali- drug related problems. Braz. J. Pharm. Sci,
zadas 12 RF, o que representou apenas 11,4% 2008;44(4):691-9.
do total das RF. Na RF de alta é realizada a 7 Santos L, Torrian MS, Barros E. Medicamen-
orientação ao paciente quanto aos medica- tos na prática da farmácia clínica. São Paulo:
mentos que deverão seguir sendo usados em Artmed, 2013.
132
8 Aspden P, Wolcott J, Bootman JL, Cronenwett AUTORES
LR. Preventing medication errors. Quality
Juliana dos Santos de Oliveira
chasm series. Washington (DC): The National
Laura Vielmo
Academies Press; 2007.
Sandra Trevisan Beck
9 American Society of Health-System Phar- Cláudia Sala Andrade
macists. ASHP statement on the pharma- Luma Elsenbach Schutkoski
cist’s role in medication reconciliation. Am J Marília Buss de Marchi
Health-Syst Pharm. 2013;70:453–6. Andriely Bersch
10 Role of Pharmacist Counseling in Preventing Débora Hermes
Adverse Drug Events After Hospitalization
Arch Intern Med. 2006;166(5):565-571. CONTATOS
juoliveirafarma@gmail.com
INSTITUIÇÃO lauravielmo@yahoo.com.br
Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) stbeck.beck@gmail.com
clausala@gmail.com
luuma.ie@gmail.com
lilabuss@bol.com.br
berschandriely@gmail.com
debora.hermes@hotmail.com
133

Pomerode/SC

Aquisição de medicamentos em
embalagem fracionável: uma estratégia
para o uso racional de medicamentos
CARACTERIZAÇÃO dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (AMM-
VI), composta por 14 municípios, e cujo centro
Pomerode tem 27.759 habitantes, sendo polarizador é Blumenau.
50,1% homens e 49,9% mulheres. Destes, 58,3%
têm idade entre 15-49 anos, conforme Censo/ Estruturação da rede de saúde
IBGE 2010. Situa-se no Médio Vale do Itajaí, a
162 km de distância de Florianópolis, capital do O município tem 100% de cobertura de Es-
estado. Os principais centros urbanos em sua tratégia Saúde da Família (ESF), são oito Uni-
proximidade são Blumenau, ao Sul, e Jaraguá dades Básicas de Saúde (UBS), um Centro de
do Sul, ao Norte. A área total do município é de Atenção Psicossocial (Caps), uma Policlínica,
217,80 km2, sendo aproximadamente 70 km2 de um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf)
e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
área urbana (33%) e 141 km2 de área rural (67%).
(Samu). Além disso, a Secretaria Municipal de
A economia baseia-se no setor secundário, Saúde mantém o plantão médico e o sobrea-
tendo como destaque a fabricação de porcela- viso médico do hospital, que é filantrópico. À
nas, malhas, produtos plásticos, produtos de administração municipal de Pomerode com-
metalurgia fina, produtos químicos, esquadrias promete mais de 15% da receita na área da
de madeira e móveis. Em termos de organiza- saúde, o que reflete diretamente na qualidade
ção regional, Pomerode integra a Associação da saúde pública do município.
134

Assistência farmacêutica para a promoção do acesso ao medicamento,


além do conhecimento da rede SUS em nível
São quatro farmacêuticos concursados, municipal, estadual e nacional.
três na assistência farmacêutica e um na vi- Alguns dos componentes da assistência
gilância sanitária, todos com carga horária farmacêutica podem e devem contribuir para
semanal de 40 horas. Os farmacêuticos da as- a promoção do uso racional de medicamentos.
sistência farmacêutica atuam em diferentes É o caso do gerenciamento, que deve ter como
serviços, um na farmácia do Caps, um na Far- resultado a disponibilidade de medicamentos
mácia Central, situada na Policlínica, e um no de qualidade, adquiridos com agilidade satis-
Nasf, que também é o coordenador da assis- fatória e baixo custo, armazenados e distribuí-
tência farmacêutica. O município possui uma dos de forma a preservar suas características
Relação Municipal de Medicamentos (Remu- originais. Já a dispensação deve assegurar o
me) instituída desde 2010 e revisada anual- acesso a medicamentos adequadamente em-
mente pela Comissão de Farmácia e Terapêu- balados, o bom entendimento sobre o modo
tica que foi instituída no final de 2009 por de uso do medicamento e a intervenção junto
meio de instrução normativa do secretário de aos membros da equipe de saúde para garan-
Saúde e Decreto Municipal n° 2864/2014. O tir a correta prescrição.
gasto de medicamentos per capita/ano é em
Considerando alguns dos objetivos da Po-
torno de R$ 25,00.
lítica Nacional de Medicamentos – que são o
acesso e o uso racional – houve a iniciativa de
RELATO DA EXPERIÊNCIA
implementar a estratégia do fracionamento de
medicamentos. A falta de embalagens apro-
No Brasil, por meio da Portaria MS nº
priadas ao fracionamento de medicamentos
3916/98, foi instituída a Política Nacional de
gera desperdício nos municípios. Na maioria
Medicamento. A política reorientou o modelo
das vezes, é necessário dispensar uma quanti-
de assistência farmacêutica, fundamentando-
dade superior àquela que o usuário necessita
-o na gestão descentralizada, na promoção do
para o tratamento. Também ocorre de blisters e
uso racional do medicamento, na otimização
cartelas de forma inadequada perdendo assim
e na eficácia do sistema de distribuição públi-
a identificação do medicamento.
co. Em 2004, aprovou-se a Política Nacional de
Assistência Farmacêutica, por meio da Resolu- O fracionamento de medicamentos é uma
ção do CNS nº 338/2004 como parte integrante prática regulamentada pela RDC nº 80/2006,
da Política Nacional de Saúde. Essa iniciativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
propõe um conjunto de ações, voltadas à pro- (Anvisa). A resolução dispõe que as farmá-
moção, proteção e recuperação da saúde. A cias poderão fracionar medicamentos a par-
equipe de saúde trabalha de forma integrada, tir de embalagens especialmente desenvol-
tendo o medicamento como insumo essencial, vidas para essa finalidade. No site da Anvisa
visando ao seu uso racional e respeitando os existe uma lista com os medicamentos e as
princípios da universalidade, integralidade e empresas que comercializam medicamentos
equidade no SUS. em embalagem primária fracionável confor-
Podemos dizer que a reorientação da as- me a RDC nº 80/2006.
sistência farmacêutica está fundamentada na Desde a implantação do Núcleo de Apoio à
descentralização da gestão e em iniciativas Saúde da Família (Nasf) no município de Pome-
que possibilitam otimização e eficácia do sis- rode, em 2011, o farmacêutico integra a equipe
tema de distribuição no setor público de saú- do núcleo, e presta apoio técnico e assistencial
de. A gestão da assistência farmacêutica é algo em oito unidades de saúde. Com este apoio foi
complexo que exige planejamento de recursos possível verificar nas unidades de saúde um
financeiros, capacidade de gestão de recursos alto índice de blisters/cartelas cortados, sem
humanos e visualização das demandas neces- identificação, sem validade e lote e, em muitos
sárias para promoção da saúde. Na gestão da casos, com exposição do comprimido ou cápsu-
organização da assistência farmacêutica é pre- la, propiciando um fornecimento errado e o uso
ciso modernização, financiamento sustentável inadequado do medicamento (figura 1).
135
• avaliação da possibilidade de o fraciona-
mento ser realizado no município, com a
aquisição de embalagens, etiquetas e má-
quinas seladoras;
• levantamento, no site da Anvisa, dos me-
dicamentos que são comercializados em
embalagem fracionável conforme a RDC nº
80/2006;
• publicação do Decreto Municipal n° 2864,
que institui a Política de Assistência Farma-
cêutica no município e conforme o seu arti-
go 18: “O fracionamento de medicamentos
só é permitido para medicamentos em em-
balagem fracionável conforme RDC Anvisa
n° 80/2006, estando indicado sempre que
Figura 1: blister/cartela cortadas encontradas
nas unidades de saúde for necessário o ajuste para a quantidade
prescrita e orientada pelo farmacêutico”;
Todas as unidades de saúde do município • estudo da possibilidade de mudança na
utilizam sistema informatizado. A dispensa- descrição dos medicamentos nas próximas
ção de medicamentos é registrada no sistema licitações, para aquisição em embalagem
no momento do atendimento. São inseridos primária fracionável;
a quantidade fornecida, o lote, a validade, os • escolha dos medicamentos que seriam li-
nomes do prescritor, do usuário e de quem re- citados em embalagem fracionável, confor-
tirou o medicamento, bem como outros dados me o levantamento dos dados na Anvisa;
relevantes.
• como a aquisição dos medicamentos no
A dispensação deve assegurar que os município é realizada na modalidade
medicamentos sejam entregues ao paciente pregão eletrônico, com registro de preço
certo, na dose prescrita, na quantidade ade- por meio do Consórcio Intermunicipal de
quada assegurando a integralidade da pres- Saúde (CIS-AMMVI), e o mesmo têm apoio
crição, que sejam fornecidas as informações técnico da Câmara Técnica de Assistência
para o uso correto e que seja embalado de Farmacêutica da AMMVI, levou-se para dis-
forma a preservar a qualidade do produto. cussão entre os farmacêuticos a mudança
Portanto, foram traçadas metas para acabar no edital e aquisição destes medicamen-
com o fracionamento das embalagens primá- tos em embalagem primária fracionável.
rias não fracionáveis.
Descrição dos impactos gerados com esta ex-
METODOLOGIA periência

Foram realizadas diversas etapas, sendo Inicialmente foram realizadas discussões


estas: com as equipes de saúde para normatização
sobre o fracionamento dos medicamentos em
• conversa com as equipes de saúde para embalagem não fracionável e determinou-se
normatização sobre o fracionamento dos que os medicamentos de uso contínuo não fos-
medicamentos em embalagem não fracio- sem mais fracionados cortando as cartelas, já
nável; que os usuários vêm mensalmente à unidade
de saúde, e era possível fornecer em um mês
• levantamento dos medicamentos mais fra-
uma quantidade maior e no mês seguinte uma
cionados de maneira inadequada nas uni- quantidade menor de medicamentos, utilizan-
dades de saúde; do-se como controle o sistema informatizado
• discussão no Conselho Municipal de Saúde e os carimbos de controle nas receitas. O fra-
para participação do controle social; cionamento diminuiu, mas ainda continuava a
136
ocorrer, principalmente com os medicamentos ção de prednisona 5 mg, um comprimido por
antiinflamatórios, antibióticos e analgésicos. dia, durante três dias e a embalagem primária
Novamente, levou-se a discussão para as equi- do medicamento tem 20 comprimidos e não é
pes de saúde e para o Conselho Municipal de fracionável, se torna difícil a promoção do seu
Saúde (CMS) e, em 2013, foi definido que não uso racional. Ou se promove o fracionamento
seria mais permitido o fracionamento de emba- da embalagem cortando o blister e assim per-
lagens primárias que não fossem fracionáveis, dem-se informações importantes, como a iden-
conforme a definição da RDC nº 80/2006 e que tificação do medicamento, lote e validade ou se
se estudaria a possibilidade de inclusão nas fornece o blister com os 20 comprimidos e com
próximas licitações de medicamentos em em- isso além do gasto público pode-se estar pro-
balagem primária fracionável. movendo um uso irracional do medicamento e
Durante o planejamento da aquisição de a automedicação.
medicamentos em embalagem primária fra- A proposta de inclusão desses medica-
cionável, avaliou-se a possibilidade de ser mentos em embalagem fracionável foi encami-
realizado o fracionamento no município, com nhada à Câmara Técnica de Assistência Farma-
a aquisição de embalagens, etiquetas e máqui- cêutica da AMMVI e aceita. Portanto, deram-se
nas seladoras, mas logo se verificou um custo os encaminhamentos legais para a realização
mais elevado, maior possibilidade de erros e a da licitação. Além das exigências da lei de lici-
necessidade de aumento dos recursos huma- tações para que fosse possível a aquisição dos
nos da assistência farmacêutica o que não era medicamentos em embalagem primária fracio-
possível no momento. nável, o edital passou por revisão e acrescen-
Para que não fosse mais permitido o fra- taram-se os dizeres “blister fracionável con-
cionamento de medicamentos em embalagem forme a RDC Anvisa 80/2006” na descrição dos
não fracionável, conforme discutido com as itens selecionados, e o pregão foi realizado no
equipes e CMS, foi publicado o Decreto Munici- final de 2014.
pal n° 2864/2014 que institui a Política de Assis- Após o pregão avaliou-se o resultado e o
tência Farmacêutica no município e conforme preço alcançado nestes itens e comparando-se
o seu artigo 18: “O fracionamento de medica- com a licitação anterior o preço não variou mui-
mentos só é permitido para medicamentos em to. Além disso, os municípios teriam uma maior
embalagem fracionável conforme RDC Anvisa economia no ato da dispensação ao fornecer a
n° 80/2006, estando indicado sempre que for quantidade prescrita nas receitas atendidas.
necessário o ajuste para a quantidade prescrita
Com o sucesso desta aquisição, plane-
e orientada pelo farmacêutico”.
jou-se para a próxima licitação a aquisição
No levantamento realizado no site da An- neste formato para outros medicamentos.
visa detectou-se que poucos medicamentos da Avaliou-se que os antibióticos também
Remume possuíam registro com embalagem apresentam posologias variadas e as emba-
primária fracionável. Nesse contexto, tornou- lagens primárias disponíveis não atendem
-se fundamental uma seleção racional dos me- satisfatoriamente às necessidades posoló-
dicamentos, de maneira a proporcionar maior gicas, dependendo do fracionamento para
eficiência administrativa e uma adequada re- um atendimento adequado das prescrições.
solutividade terapêutica, além de contribuir Corroborando com a escolha dos antibió-
para a racionalidade na prescrição e utilização ticos, segundo a Organização Mundial de
de fármacos. Saúde, 75% dos antibióticos são prescritos
Para isso, foram selecionados, inicialmente, inapropriadamente, uma média de 50% dos
três medicamentos que seriam licitados neste pacientes toma os medicamentos de manei-
formato: o medicamento prednisona comprimi- ra incorreta, o que pode levar a um aumen-
do, nas concentrações 5 e 20 mg, e o n-butiles- to da resistência microbiana. Com a avalia-
copolamina 10 mg comprimido. Estes medica- ção da lista de medicamentos produzidos
mentos foram selecionados por apresentarem em embalagem primária fracionável foram
posologias que necessitam o fracionamento selecionados os seguintes medicamentos:
da embalagem. Quando se tem uma prescri- amoxicilina 500 mg, azitromicina 500 mg,
137
cetoconazol 200 mg, ciprofloxacino 500 mg, Na tabela 1 está a comparação dos valo-
fluconazol 150 mg, metronidazol 250 mg, res dos medicamentos licitados em dezembro
secnidazol 1 g e novamente a prednisona 5 de 2015, comparados com licitações do mesmo
mg e 20 mg e a n-butilescopolamina 10 mg. ano de outros municípios em embalagem pri-
A licitação ocorreu em dezembro de 2015 mária não fracionável. Pode-se observar que
e apenas dois itens não foram adquiridos por os valores não são muito diferentes. Mesmo
cancelamento por parte dos fornecedores, o nos valores unitários maiores, obtêm-se eco-
metronidazol e o secnidazol, e estes foram in- nomia, por se dispensar apenas a quantidade
cluídos em nova licitação. prescrita para o tratamento.

Tabela 01 - Comparação entre os valores dos medicamentos em embalagem não fracionável e


embalagem fracionável conforme RDC nº 80/2006 em licitações realizadas em 2015

Embalagem
Embalagem não fracionável
MEDICAMENTO fracionável
Município 01 Município 02 Município 03 Consórcio
Amoxicilina 500 mg cápsula R$ 0,12 R$ 0,11 R$ 0,14 R$ 0,18
Azitromicina comprimido R$ 0,33 R$ 0,34 R$ 0,36 R$ 0,34
n-butilescopolamina 10 mg cp R$ 0,36 R$ 0,35 R$ 0,38 R$ 0,52
Cetoconazol comprimido - R$ 0,09 - R$ 0,14
Ciprofloxacino comprimido R$ 0,26 R$ 0,13 R$ 0,19 R$ 0,18
Fluconazol 150 mg caps R$ 0,18 R$ 0,17 R$ 0,24 R$ 0,17
Prednisona 5 mg cp R$ 0,07 R$ 0,07 R$ 0,06 R$ 0,06
Prednisona 20 mg cp R$ 0,11 R$ 0,11 R$ 0,42 R$ 0,13

Na tabela 02 é possível observar os valores zer que este valor é advindo, principalmente,
unitários obtidos pelo consórcio em licitações do aumento do preço dos medicamentos de um
dos mesmos medicamentos, nos anos de 2012 ano para outro, pois quando observada a tabela
a 2015. Mesmo observando-se um aumento no 01, que compara licitações realizadas no mesmo
valor unitário dos medicamentos, pode-se di- ano, os valores não diferem tanto.

Tabela 02 - Comparação entre os valores dos medicamentos em embalagem não fracionável e embalagem
fracionável conforme RDC nº 80/2006 em licitações realizadas entre 2012-2015 pelo consórcio

Embalagem
Embalagem não fracionável
MEDICAMENTO fracionável
2012 2013 2014 2015
Amoxicilina 500 mg cápsula R$ 0,05 R$ 0,07 R$ 0,09 R$ 0,18
Azitromicina comprimido R$ 0,35 R$ 0,32 R$ 0,31 R$ 0,34
n-butilescopolamina 10 mg cp* R$ 0,14 R$ 0,13 R$ 0,30 R$ 0,52
Cetoconazol comprimido R$ 0,07 R$ 0,08 R$ 0,08 R$ 0,14
Ciprofloxacino comprimido R$ 0,10 R$ 0,13 R$ 0,13 R$ 0,18
Fluconazol 150 mg caps R$ 0,17 R$ 0,13 R$ 0,18 R$ 0,17
Prednisona 5 mg cp* R$ 0,03 R$ 0,05 R$ 0,06 R$ 0,06
Prednisona 20 mg cp* R$ 0,07 R$ 0,09 R$ 0,15 R$ 0,13
*Em 2015 os medicamentos prednisona e n-butilescopolamina já foram adquiridos em embalagem fracionável
138
Tabela 03 - Comparação do consumo de medicamentos em embalagem não fracionável e embalagem fracionável conforme RDC
nº 80/2006 no período de janeiro a agosto de 2013 a 2016 no município de Pomerode-SC

consumo

MEDICAMENTO 2016
2013 2014 2015 embalagem
fracionável
Amoxicilina 500 mg cápsula 24.779 25.974 30.674 27.836
Azitromicina comprimido 6.207 6.510 7.827 7.559
n-butilescopolamina 10 mg cp* 20.562 23.891 24.887 18.370
Cetoconazol comprimido 3.766 2.420 5.398 3.265
Ciprofloxacino comprimido 21.017 26.629 26.477 25.948
Fluconazol 150 mg caps 6.654 8.900 8.545 6.074
Prednisona 5 mg cp* 14.684 11.778 13.831 9.857
Prednisona 20 mg cp* 11.781 14.202 10.888 9.227

*Em 2015 os medicamentos prednisona e n-butilescopolamina já foram adquiridos em embalagem fracionável

Gráfico 1 - Comparação do consumo de medicamentos em embalagem não fracionável e embalagem fracionável


conforme RDC nº 80/2006 no período de janeiro a agosto de 2013 a 2016 no município de Pomerode-SC
















*Em 2015 os medicamentos prednisona e n-butilescopolamina já foram adquiridos em embalagem fracionável

O gasto público com medicamentos é oti- ciprofloxacino em embalagem primária fracio-


mizado, possibilitando uma racionalização dos nável, teria economizado 2.641 comprimidos, o
investimentos na área. Utilizando o medica- que equivale a 188 tratamentos, ou seja, teria
mento ciprofloxacino 500 mg como exemplo, economizado 7,1%.
em 2015, na Secretaria de Saúde de Pomerode A embalagem primária fracionável confor-
foram dispensados 39.615 comprimidos, que me a Resolução 80/2006 (figura 2) permite o
equivalem a 2.641 blisters com 15 comprimidos fracionamento com segurança, garantindo as
cada. O tratamento usual é de 01 comprimido características asseguradas na forma original
de 12/12 horas por 7 dias, totalizando 14 com- do produto até que este chegue ao usuário. As
primidos. Como o blister tem 15 comprimidos, subdivisões mantêm os dados de identificação
cada usuário leva um comprimido a mais. Se e as mesmas características de qualidade, se-
em 2015 o município já tivesse o medicamento gurança e eficácia asseguradas na embalagem
139
original do produto, não necessitando nova medicamentos licitados em embalagem pri-
identificação por etiquetas, apenas o acondi- mária fracionável.
cionamento em sacolas para maior comodida- Outro objetivo é aprimorar a dispensação
de do usuário no transporte. Com isso, não se destes medicamentos fracionáveis, pois a as-
tem um custo da dispensação elevado, pois as sistência farmacêutica no Sistema Único de
sacolas já são adquiridas pelo município para Saúde (SUS) tem particularidades que não es-
o fornecimento dos medicamentos nas unida- tão contempladas na RDC nº 80/2006. Hoje, na
de de saúde. As bulas vêm em quantidade ade- maioria dos municípios brasileiros, o fraciona-
quada e são fornecidas aos usuários. mento é realizado sem supervisão, com o corte
dos blisters e cartelas, ou não é realizado para
nenhum medicamento. Em Pomerode, estamos
tentando mudar essa realidade, mas ainda te-
mos desafios como a rotulagem da embalagem
e o registro do fracionamento. Para isso, pre-
cisaremos de farmacêuticos atuando em todas
as unidades de saúde do município demandan-
do a contratação de mais farmacêuticos.

CONCLUSÃO

A promoção do acesso ao medicamento,


com uso racional, dentro de uma dificuldade
orçamentária, é um desafio para os gestores da
Figura 2 - Medicamentos em embalagem fracionável assistência farmacêutica no SUS. O processo de
adquiridos após a implantação das mudanças no edital de descentralização exige que os gestores aperfei-
licitação çoem e busquem novas estratégias, com pro-
postas estruturantes que garantam a eficiência
Já foi possível observar uma redução no de suas ações, consolidando os vínculos entre
consumo destes medicamentos, no municí- os serviços e a população, promovendo o aces-
pio, no ano de 2016, após as aquisições em so, o uso racional dos medicamentos e a inte-
embalagem fracionável, conforme gráfico gralidade das ações.
01. isso, mesmo em um ano com tempera-
turas reduzidas, o que pode proporcionar O processo indutor do uso irracional e des-
um maior consumo de antibióticos e antiin- necessário de medicamentos e o estímulo à
flamatórios. Foi comparado o consumo des- automedicação irresponsável são fatores que
ses medicamentos no período, de janeiro a provocam problemas na condição terapêutica,
agosto, nos anos de 2013 a 2016. Primeiro, levando a maiores gastos da saúde pública.
porque existe uma sazonalidade no consu- Além do prejuízo econômico para os consumi-
mo desses medicamentos. Depois, por não dores, os medicamentos que sobram acarre-
haver, ainda, dados de consumo total do ano tam prejuízos sanitários, pois são, geralmente,
de 2016. guardados inadequadamente em algum armá-
rio ou gaveta na residência dos usuários, pro-
Próximos passos, desafios e necessidades piciando a oportunidade para o uso irracional
desses produtos.
Infelizmente nem todos os medicamentos O fracionamento de medicamentos pos-
são produzidos em embalagens fracionáveis. sibilita a aproximação do profissional far-
Considerando o grande número de indústrias macêutico com o usuário de medicamentos
farmacêuticas e de medicamentos registra- e o ajuste da terapia medicamentosa às suas
dos no Brasil, este número é ainda incipiente reais necessidades. Com a disponibilização,
para cumprir os princípios desta estratégia nas unidades de saúde de medicamentos em
em sua integralidade. Pretende-se, em novas embalagem primária fracionável, é possível
licitações continuar e ampliar o número de o fornecimento na quantidade prescrita pro-
140
movendo o uso racional de medicamentos, selho Nacional de Secretários de Saúde. – Bra-
reduzindo-se a automedicação e a geração sília: CONASS, 2007.
de resíduos nas residências, além de otimi- BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Reso-
zar a utilização dos recursos financeiros. lução nº 338, de 06 de maio de 2004. Brasília.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
REFERÊNCIAS cns/2004/res0338_06_05_2004.html

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Po- POMERODE. Secretaria Municipal de Saúde. De-
líticas de Saúde. Departamento de Políticas creto Municipal n.º 2864/2014. Diário Oficial
de Saúde. Política Nacional de Medicamentos. dos Municípios de Santa Catarina. Edição n°
Brasília. 1999. 1551, pág . 254. Florianópolis. https://www.dia-
riomunicipal.sc.gov.br/site/
BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sa-
nitária (ANVISA). Lista de medicamentos INSTITUIÇÃO
registrados fracionáveis. Brasília. http://
portal.Anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/ Secretaria Municipal de Saúde de Pomerode
f6fe420041091a34894b9b9cca79f4cf/Lista+de+- (SC)
fracionados_02_09_2013.pdf?MOD=AJPERES
AUTORA
BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sani-
tária (ANVISA). Resolução RDC nº 80, de 11 de Lígia Hoepfner
maio de 2006. Brasília. http://www.Anvisa.gov.
br/hotsite/fraciona/rdc_80.htm CONTATO

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de farmasaude@pomerode.sc.gov.br


Saúde. Assistência Farmacêutica no SUS/Con-
141

Camaçari/BA

Auditoria SUS Camaçari:


avanços e desafios
CARACTERIZAÇÃO Camaçari é sede do programa social Cida-
de do Saber, inaugurado em 22 de março de
Camaçari, município do estado da Bahia, 2007, sendo reconhecido como o mais impor-
faz parte da região metropolitana de Salvador. tante centro de conhecimento e inclusão social
Possui uma área de 784.658 km² com quatro do estado da Bahia.
distritos: Vila de Abrantes, Monte Gordo, sede
(Camaçari), Parafuso e Remanescentes qui- Perfil epidemiológico
lombolas (Cordoaria). Segundo Censo 2010, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística No período de 2006 a 2015, Camaçari teve
(IBGE), possuía uma população de 242.970 ha- como principal causa de óbito as doenças do
bitantes e vem apresentando um incremento aparelho circulatório, seguida das causas ex-
populacional de 5,9% ao ano. Este crescimento ternas, neoplasias, doenças do aparelho res-
pode representar possível impacto nos servi- piratório e doenças endócrinas e nutricionais.
ços de saúde do município. As mulheres pas- Apresentou redução da taxa bruta de natalida-
saram a representar 50,32% da população e os de por mil habitantes saindo de um patamar de
homens 49,68%, evidenciando uma mudança 19,11 nascimentos por mil habitantes em 2006
com relação aos dados do censo 2000 do IBGE. para 15,58 em 2015.
O município representa o segundo maior A taxa de mortalidade infantil por mil
Produto Interno Bruto (PIB) do estado, depois nascidos vivos vem apresentando oscila-
de Salvador (IBGE/2011) sendo a sede do maior ções. Em 2006, a taxa de óbitos foi de 19,63
complexo industrial integrado do Hemisfério Sul. por mil nascidos vivos, a maior taxa do pe-
142
ríodo e, em 2007, 14,24 óbitos, a menor taxa
do período. No ano de 2015, estima-se que
essa taxa tenha sido de 17,89 óbitos por mil
nascidos vivos.
De acordo com dados do Sistema Nacio-
nal de Agravos e Notificação (SINAN), desta-
ca-se o aumento da taxa de detecção de sífi-
lis em gestantes em 2015 (16,42) a valores 16
vezes superior a 2010 (0,96), constatando-se
a melhoria no diagnóstico e demonstrando
Fachada USF do Verde Horizonte – Camaçari/BA
a contribuição das orientações dos audito-
res durante as auditorias realizadas nas Uni-
RELATO DA EXPERIÊNCIA
dades de Saúde da Família (UBS) e as ações
preventivas da atenção básica.
O Sistema de Auditoria, conhecido como
Em fevereiro de 2015, foram verificados auditoria médica, instituído pelo extinto Insti-
casos de doença exantemática indetermina- tuto de Assistência Médica da Previdência So-
da (DEI), posteriormente identificada como cial (INAMPS), através da RS/45 de 12/07/84, foi a
o vírus Zika, em 05 amostras de pacientes primeira normatização de auditoria na área da
residentes no município, passando a ser re- saúde. Inicialmente, era focada na assistência
gistrada no SINAN/MS. Até julho 2015, foram médica. Atualmente, na concepção do Sistema
notificados 505 casos suspeitos. Paralela- Nacional de Auditoria (SNA), é um instrumento
mente, surgiu a virose Chikungunya, sendo de qualificação da gestão que visa fortalecer o
notificados 465 casos com 15 casos confir- SUS por meio de recomendações e orientações
mados, e a dengue, com 838 casos registra- ao gestor para a alocação e utilização adequa-
dos e 396 casos confirmados. da dos recursos, garantia do acesso e qualida-
de da atenção à saúde oferecida aos cidadãos.
Estruturação da rede de saúde
O sistema municipal de auditoria do Siste-
Camaçari possui rede pública composta ma Único de Saúde de Camaçari foi instituído
por 63 unidades de saúde, segundo o Cadas- pela Lei Municipal nº 414, de 23 de outubro de
tro Nacional de Estabelecimentos de Saúde 1998, que definiu a sua vinculação ao secretário
(CNES/MS/2014). São 40 Unidades de Saúde municipal de saúde e atribuições. Embora esta
da Família; 08 unidades básicas; 01 unida- lei não tenha sido revogada, desde 2005 a au-
de de atendimento em DST/AIDS, 01 Centro ditoria vinha exercendo as suas atribuições li-
de Especialidades Odontológicas (CEO), 02 gadas ao departamento de auditoria, controle,
Unidades de Atendimento Pré-Hospitalar de avaliação e regulação do SUS na estrutura or-
Atenção às Urgências (SAMU); 05 Unidades de ganizacional da Secretaria Municipal de Saúde.
Pronto Atendimento (UPA), 01 Centro de Aten- Após a lotação de farmacêuticos no setor,
ção Psicossocial (Caps) II; 01 Centro de Espe- foi realizada análise dos processos existentes
cialidade em Saúde Mental; 01 Centro de Uni- no período de 2005 a 2007, verificando-se a
dades de Apoio e Referência em Saúde que existência de 149 queixas/denúncias registra-
abrange: Unidade de Apoio as Pessoas com das pelos usuários do SUS no próprio setor,
Doença Falciforme (Unifal); Centro de Onco- as quais muitas não eram encerradas ou res-
logia de Camaçari (Ceonc); Centro Multipro- pondidas ao denunciante. Demandas como es-
fissional de Reabilitação Física de Camaçari tas não exigem realização de auditorias e sim
(Cempre); 01 hospital dia; 01 unidade hospi- respostas da área técnica responsável. Con-
talar - Hospital Geral de Camaçari; 01 Centro tudo, também não eram realizadas auditorias
de Referência de Saúde do Trabalhador (Ce- programadas e/ou de rotina, verificando-se a
rest), 01 centro de controle de zoonoses e 25 necessidade de se conhecer a rede de saúde
clínicas credenciadas ao SUS com serviços de do município. A partir de então, foi iniciado um
laboratório, bioimagem, reabilitação, terapia estudo sobre a legislação de saúde em vigor,
renal substitutiva, dentre outros. com levantamento das atividades executadas
143
pela auditoria e análise e avaliação da organi- servação do meio ambiente, e averiguação da
zação dos serviços de saúde da rede creden- organização dos serviços; Pacto pela Saúde e
ciada ao SUS. O levantamento baseou-se em legislação em vigor.
quatro etapas:
Foram utilizados quatro roteiros:
I - inspeção in loco utilizando roteiros ela-
borados conforme orientação do Programa - Relatório sobre organização de servi-
Nacional de Avaliação de Serviços de Saúde ços;
(Pnass) 2004/2005, que procurou avaliar os - Infraestrutura física funcional;
padrões de conformidade da saúde pública,
humanização, estrutura física, recursos huma- - Situação dos equipamentos;
nos e materiais, segurança do trabalhador, pre- - Atendimento ao usuário SUS.

Relatório fotográfico demonstrando não conformidades encontradas nas auditorias de rotina

Armário desorganizado
Anestésico com prazo de validade expirado

Depósito de Materiais de Limpeza (DML) - Faltam armários para a


guarda de materiais e utensílios e não tem tanque para lavagem Depósito de lixo não atende a legislação em vigor

Armário com os prontuários dos pacientes,


acessível a qualquer pessoa Armário para guarda de materiais
144

III - Critérios e padrões de conformidade


de classificação.

100

70%
Necessários

30%
Recomendáveis

0% Não Recomendáveis

Área externa - Depósito de lixo de unidade de saúde: IV – Avaliação dos serviços ofertados pela
material contaminado no chão sem acondicionamento clínica ou instituição: foi feita de acordo com o
resultado dos itens inspecionados sendo defi-
nidos os seguintes conceitos de avaliação: óti-
II - Julgamento dos dados e classificação mo: 100-90%; bom: 89,9 a 70,0%; regular: 69,9 a
dos itens inspecionados. 50,0%; precário 49,9 e menos.
Em 2007, a rede credenciada ao SUS de Ca-
Imprescindível (I) maçari contava com 21 clínicas e 01 (uma) orga-
Necessário (N)
nização social, com serviços de saúde diversi-
ficados credenciados ao SUS. Considerando-se
ITENS Não Recomendável (NR) que os serviços de saúde devem ter no mínimo
conceito “bom”, observa-se na tabela abaixo o
Informativo (INF)
resultado da avaliação dos serviços ofertados
Recomendável (R) pela rede credenciada ao SUS no município de
Camaçari/BA, junho de 2007:

Serviços Quantidade Ótimo Bom Regular Precário


Consultas Básicas 03 -- 02 01 01
Consultas Especializadas 09 03 02 03 01
Urgência e Emergência 02 -- -- -- 02
Radiologia 09 03 02 04 --
Oftalmologia 04 02 01 -- 01
Ortopedia 06 03 02 01 --
Fisioterapia 07 03 04 -- --
Serviços laboratoriais 07 03 02 01 01
Fonte: Auditoria SUS Camaçari, 2007

Observamos que 66% (03) serviços de ratoriais tiveram conceito regular/precário;


consultas básicas tiveram conceito regular/ 100% (07) dos serviços de fisioterapia tive-
precário; 44% (4) das consultas especializa- ram conceito ótimo/bom.
das tiveram conceito regular/precário; 100% Ressalta-se, ainda, como resultado deste
(02) do atendimento às urgências tiveram estudo, o hábito de discriminar o usuário do
conceito precário; 44% (04) dos serviços de SUS ao realizar o atendimento em ambiente
radiologia tiveram conceito regular; 17% (01) diferenciado, sem humanização e/ou conforto,
dos serviços de ortopedia obtiveram con- diferente do ambiente dos planos de saúde e
ceito regular; 29% (02) dos serviços labo- atendimentos particulares.
145
Visando preservar o perfeito cumpri- ca, máquina fotográfica, impressora (enviados
mento das normas, índices e parâmetros pelo Ministério da Saúde), telefone, acesso a
regulamentares para o alcance da melhoria internet e mobiliário, e tendo o seu primeiro
progressiva da qualidade médico assisten- plano de atividades apresentado e aprovado
cial da produtividade e os ajustes operacio- pelo colegiado de gestão no plano operativo
nais, sob a garantia dos princípios éticos, fo- da Secretaria Municipal de Saúde.
ram apresentados os resultados do trabalho Foi ampliada a equipe multidisciplinar de
realizado na reunião do Conselho Municipal 03 para 06 profissionais sendo: 02 médicos, 02
de Saúde (CNS) com a presença do gestor e enfermeiros, 01 farmacêutico e 01 economista,
dos representantes das clínicas credencia- além da nomeação do coordenador da equipe,
das ao SUS, evidenciando-se as verdadeiras uma farmacêutica bioquímica.
atribuições da auditoria.
A participação da coordenação da audito-
Após reunião com o componente estadual ria no grupo de trabalho de elaboração do Pla-
de auditoria da Secretaria de Saúde do Estado no de Cargos e Carreiras e Vencimentos (PCCV),
da Bahia (SESAB) e os farmacêuticos do setor, neste mesmo ano, culminou com a inclusão do
foi enfatizada a importância do fortalecimen- cargo de auditor em saúde no quadro de re-
to da auditoria. O gestor municipal de saúde
cursos humanos do município (30 vagas) e no
deliberou pela sua vinculação ao gabinete e
edital do concurso público.
autonomia
Considerando que a auditoria deve exercer
Para o registro das insatisfações, queixas
também papel educativo, foi realizado curso
ou denúncias dos usuários do SUS foi cria-
básico para os profissionais de saúde da rede
do um canal de comunicação com gestores
pública sobre: “normas e resoluções aplicáveis
da saúde por meio da ouvidoria da saúde do
aos serviços de saúde”, tendo como mediador
município de Camaçari. A ferramenta passou
um auditor financeiro especialista em seguran-
a avaliar o conteúdo dos relatos dos usuá-
ça do trabalho.
rios, selecionando as reclamações e quei-
xas, que foram encaminhadas aos departa-
mentos responsáveis, e, as denúncias, para
apuração na auditoria, tornando eficiente o
processo de atendimento ao usuário e redu-
zindo o número de abertura de processos a
serem auditados.
Iniciou-se a realização de auditorias de
rotina/programadas nas clínicas que tiveram
conceito “precário” e “regular” conforme o es-
tudo realizado, priorizando os processos de
denúncias e entendendo-se que “denúncia” é a Curso básico: normas e resoluções aplicáveis
aos serviços de saúde
acusação contra ato, pessoa ou órgão que des-
cumpre ou não a norma jurídica ou o devido
procedimento legal, ou que causa prejuízo ou Descrição dos impactos gerados com esta ex-
dano ao patrimônio público. periência

Após contato com o Departamento Nacio- Após publicação do regimento interno no


nal de Auditoria (Denasus, 2009), foi realizada Diário Oficial do município, em agosto de 2011,
a adesão ao Sistema Nacional de Auditoria do a auditoria passa a ser Auditoria SUS Camaçari,
Ministério da Saúde (Sisaud/MS), sendo que tornando-se referência pelo processo de traba-
Camaçari foi o primeiro município do estado lho e experiência local desenvolvida no nível es-
da Bahia a implantar o registro de suas ativi- tadual e nacional. Suas ações foram divulgadas
dades neste sistema, e vem sendo utilizado até com a apresentação de 03 trabalhos científicos
o momento. na I Mostra Nacional de Participação Estratégi-
Em 2010, a auditoria instalou-se em um es- ca e Participativa do SUS (I EXPOGEP) realizada
paço amplo, com equipamentos de informáti- pelo Ministério da Saúde, em Brasília, em 2011.
146
Nos últimos três anos, o número de au- cedendo com a verificação in loco para ave-
ditores veio crescendo: passou de 09 para 17. riguação das informações obtidas nas fichas
Mas terminamos o ano de 2015 com redução de atendimento e/ou prontuários e prescri-
no quadro, de cinco (05) auditores, sendo ções médicas (03 meses); dados quantitati-
que um entrou de licença médica e quatro vos e qualitativos de desempenho das uni-
solicitaram exoneração, alegando baixos sa- dades; relatórios fotográficos e pesquisa de
lários e a falta de vantagens salariais para o satisfação. Todas as auditorias foram regis-
cargo de auditor, diante das suas atribuições tradas no Sistema de Auditoria do Ministério
e jornada de trabalho exigida. No entanto, o da Saúde (SISAUD/MS).
número de auditorias de rotina realizadas,
manteve-se estável. Gráfico 2 - Comparativo das Auditorias
de Denúncias X Auditorias de Rotinas realizadas pela

Gráfico 1 - Comparativo do número total de auditorias Auditoria SUS Camaçari, período de 2012 a 2015.
realizadas no período de 2012 a 2015 na Auditoria SUS 18
Camaçari, 2015 16
14
12
10
8
6
4
2
0
2012 2013 2014 2015

Auditoria de Denúncia Auditoria de Ro�na

Nos últimos três anos, vem permanecendo


estável o número de denúncias, com pequeno
aumento no ano de 2015. À medida que as au-
ditorias de rotina são implementadas, a qua-
lidade da atenção acontece, impactando na
resolutividade e satisfação dos usuários. Res-
salta-se como exemplo, o atendimento aos re-
Verifica-se acima que, a partir de 2013, o nais crônicos no período de 2010 a 2015.
número de auditorias cresceu em mais de 100%
A Associação dos Renais Crônicos encami-
com o aumento do número de auditores. No
nhou, no período de 2009 a 2010, sete processos
referido ano (2013), o maior número de audi-
de denúncias, os quais foram devidamente apu-
torias foram analíticas - estudo e análises de
rados pela auditoria e o prestador foi notifica-
relatórios e documentos da auditoria de recur- do e advertido. No entanto, a insatisfação dos
sos humanos solicitada pelo gestor de saúde, usuários permanecia, quando então, em 2010,
tendo a finalidade de avaliar o quantitativo de foi realizada auditoria de rotina dos serviços de
profissionais existentes. hemodiálise, tendo como resultado os dados
Em 2015, as auditorias de denúncias, es- abaixo (tabela 2), ocorrendo algumas melhorias
pecial e rotina, foram mais complexas, pro- no atendimento e na infraestrutura da clínica.

Tabela 2 - Resultado das auditorias realizadas em clínica de hemodiálise, Camaçari/BA

ANO UNIDADE SATISFAÇÃO DO USUÁRIO


Satisfeito Conceito Satisfeito Recomenda à Unidade
2010 66,60% REGULAR 62,50% 79%
2012 76,90% BOM 84,80% 80%
2015 86,10% BOM 88,90% 85,20%
Fonte: Relatórios de Auditorias
147

OBS: Foram entrevistados 38 usuários em manos, segurança do trabalhador, con-


2010; 40 usuários em 2012; 27 usuários em dições de conservação do ambiente;
2015; - A Unidade de Saúde que pontua com a
- No conceito da Unidade foi considera- soma da média igual ou acima de 50%
da organização dos serviços, estrutura das questões entre BOM e/ou ÓTIMO é
física, recursos materiais, recursos hu- considerada aprovada pelos usuários.

Relatório Fotográfico dos Serviços de Hemodiálise, rede credenciada ao SUS, Camaçari.


Auditoria de rotina realizada em 2010

Recepção da Unidade

Teto com mofo

Filtração e fornecimento de água sem aferição

Câmara de resíduos suja

Poços para captação de água (inadequados).

Sala de diálise com paredes mofadas Área externa da clínica com lixo e poças d’ água
148
Em 2012, foi encaminhado à Auditoria SUS Gráfico 3 - Ressarcimentos recomendados nos processos de
Camaçari novo processo de denúncia contendo auditorias dos prestadores credenciados ao SUS, período de
2012 à 2015, Camaçari-BA, 2015.
19 itens, entre os quais cinco foram considera-
dos procedentes. Neste mesmo ano, resolveu-
R$ 153.644,10
R$ 160.000,00
-se realizar auditoria de acompanhamento para R$ 140.000,00

se verificar o cumprimento das recomendações R$ 120.000,00 R$ 108.856,39

feitas nos processos anteriores. Foi constatada R$ 100.000,00

a correção de 65% das inconformidades, a me- R$ 80.000,00 R$ 57.657,13

lhoria do conceito da unidade e da satisfação R$ 60.000,00

do usuário conforme a tabela 2. Entre 2013 e R$ 40.000,00 R$ 10.471,93

2015 não houve registro de denúncias. Foi reali-


R$ 20.000,00

zada auditoria de rotina em 2015, que já estava


R$ 0,00
2012 2013 2014 2015

no planejamento do setor. FONTE: Auditoria/SUS/Camaçari, 2015.


A construção de um planejamento de au-
ditorias de rotina tem como consequência me- Próximos passos, desafios e necessidades
nos erros, menos denúncias, menos distorções
e a consequente melhoria do atendimento ao São diversos os desafios para garantir, ex-
usuário. “Quando os sistemas municipais fun- pandir e aprimorar os serviços prestados pelo
cionam bem, não existe denúncia ou demanda Sistema Único de Saúde. Em Camaçari, desta-
externa”, pois “a qualidade da atenção depen- ca-se a dimensão geográfica entre a orla e a
de primeiro da organização dos sistemas muni- sede (Camaçari) e o constante crescimento po-
cipais de saúde”. pulacional, devido à procura de empregos no
A implementação das auditorias de roti- parque industrial.
na proporciona ainda o exame analítico dos Ao se observar a cobertura da Estratégia
documentos apresentados pelas unidades de da Saúde da Família ao longo dos últimos cin-
saúde com relação à veracidade da quantida- co anos, nos relatórios de gestão, percebe-se a
de dos procedimentos realizados e valor total ampliação do número de equipes de 2010 a 2015.
cobrado. No entanto, a cobertura deste serviço não é am-
O gráfico 3 demonstra que o valor total dos pliada, visto que a população geral de Camaçari
ressarcimentos recomendados pela auditoria tem crescido em uma progressão maior do que a
ao Fundo Municipal de Saúde vem aumentan- implantação de equipes de atenção básica.
do e teve o seu maior pico em 2013, quando Esta informação é relevante para o plane-
foi realizado o maior número de auditorias na jamento das ações estratégicas e implantação
rede credenciada. As principais causas de res- de serviços básicos de saúde de forma asso-
sarcimentos foram: prontuário sem registro de ciada.
anamnese, diagnóstico e assinatura do médico, Segundo o diretor do Departamento Nacio-
procedimento cobrado e não realizado. nal de Auditoria (Denasus), Vladyson Viana, ape-
nas 2% dos municípios têm o componente do
Em 2012, foram auditadas seis unidades de Sistema Nacional de Auditoria (SNA). Ele lembra
saúde. Em 2013, foram oito unidades; em 2014, que cabe ao poder público fiscalizar e controlar
sete unidades e em 2015, sete unidades. as ações e serviços de saúde, que têm como di-
Cabe à auditoria a detecção de desper- retrizes as normas de fiscalização, avaliação e
dícios e correção de procedimentos errôneos controle de despesas em todas as esferas.
que prejudiquem o desempenho das ações e A oficialização da autonomia da auditoria
serviços de saúde sob a ótica da economicida- na nova estrutura organizacional da Secretaria
de, voltada para a melhoria da qualidade de de Saúde de Camaçari certamente irá contri-
saúde da população. buir para a ampliação da equipe de auditores.
149
A perspectiva é de que seja realizado novo con- demonstram a melhoria de conceito dos ser-
curso, apontando a melhoria dos salários. Isso viços, verificando-se que toda a rede creden-
também vai facilitar a fixação destes profissio- ciada ao SUS, do município, vem alcançando
nais no quadro de recursos humanos da Sesau; conceito “bom”, conforme demonstram os re-
a manutenção da infraestrutura do setor e a latórios de auditoria publicados no Sistema
resolutividade dos trabalhos desenvolvidos. Nacional de Auditorias/MS e as recomenda-
A publicação de portaria municipal legitima- ções dos relatórios, que vêm sendo acatadas
rá os instrumentos de avaliação e divulgação pelo gestor de saúde.
dos critérios de funcionamento e oferta dos Positivamente, verificou-se que não ocorre
serviços de saúde necessários para melhorar a mais a discriminação do usuário do SUS com a
qualidade do atendimento ao usuário do SUS; existência de dois ambientes de atendimento
bem como, a conclusão das normas e rotinas na rede: um para o SUS e outro para os planos
da auditoria para qualificação do processo de privados e particulares, com diferenciação de
trabalho. mobiliário, estrutura física, recepção, entre ou-
tros.
CONCLUSÃO
A reestruturação da auditoria e a im-
A consolidação de uma auditoria, seja por plementação das auditorias de rotina vêm
meio de indicadores de gestão ou de outra subsidiando a adoção de medidas voltadas
técnica, não só constitui um aporte importan- para coibir desmandos gerenciais relaciona-
te na modernização da administração públi- dos com a utilização dos recursos públicos e
ca, mas, também, representa a materialização evidenciando a disposição da Secretaria de
de uma exigência técnica derivada da própria Saúde em atuar com transparência, atender
globalização para ajudar os gestores públicos reivindicações da sociedade e acompanhar
a atingirem os objetivos de modo econômico, o relacionamento entre usuários, prestado-
eficiente, eficaz e transparente. res de serviços e gestores das unidades.

As atividades realizadas pela Auditoria SUS INSTITUIÇÃO


Camaçari surgiram como um processo de inte-
gração entre os usuários, os gestores, os pro- Secretaria Municipal da Saúde de Camaçari
fissionais da saúde, empresas e o poder públi- (BA)
co/Sesau com um objetivo comum: a melhoria
do atendimento da rede de saúde aos usuários AUTORES
do SUS. Marjorie Travassos Reis
A sua reestruturação promoveu impac- José Geraldo Peixoto Junior 
to na melhoria da qualidade dos serviços
de saúde e no atendimento aos usuários do CONTATOS
SUS, sendo percebida com a utilização dos reismarjorie@gmail.com
instrumentos de avaliação (roteiros) os quais geraldo.camila@gmail.com
150

Fortaleza/CE

Atuação dos farmacêuticos


da residência integrada em saúde
em um ambulatório de DPOC
CARACTERIZAÇÃO Saúde do Estado do Ceará (Sesa). Destaca-se
no transplante cardíaco de adultos e crianças,
O estado do Ceará, situado na região nor- além de ser pioneiro no nordeste em implan-
deste do país, possui 184 municípios e extensão te de coração artificial e transplante pulmonar.
territorial de aproximadamente 148.826 km². É destaque também na área de ensino e pes-
Fortaleza, capital do estado, teve população es- quisa, aplicando e difundindo o conhecimento
científico, desenvolvimento tecnológico e de
timada em 2015, de 2.591.188, segundo o Insti-
recursos humanos, contando ainda com re-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
sidência médica e, recentemente, residência
O Hospital de Messejana, Dr. Carlos Alberto multiprofissional.
Studart Gomes, é uma unidade terciária espe-
cializada no diagnóstico e tratamento de doen- Perfil epidemiológico
ças cardíacas e pulmonares, dispondo de todos
os procedimentos de alta complexidade nestas De acordo com a última estimativa, realiza-
áreas, sendo gerenciado pela Secretaria de da no ano de 2007, por meio do estudo PLATI-
151
NO (Projeto Latino-americano de Investigação ciaram atendimento coletivo nas salas de es-
em Obstrução Pulmonar), Cebrid e DatasSUS, pera no ambulatório de DPOC e Tabagismo.
a prevalência de pneumopatas diagnostica- Enquanto os pacientes aguardavam atendi-
dos com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica mento médico, os farmacêuticos residentes
(DPOC), no estado do Ceará, foi de 362.358 mil realizavam atividades educativas, como di-
pessoas. nâmica em grupo, além de esclarecimento de
O ambulatório de DPOC/Tabagismo do possíveis dúvidas acerca dos dispositivos.
Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Stu- A atuação dos farmacêuticos residentes,
dart Gomes atende pacientes de todo o esta- por meio dessa estratégia, aconteceu de fe-
do do Ceará pautado nos Protocolos Clínicos e vereiro a junho de 2015, todas as quartas e
Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde quintas pela manhã, nos horários de atendi-
(MS). Cerca de 1330 pacientes são atendidos mento dos médicos no ambulatório de DPOC/
pelo Programa de DPOC do hospital e recebem Tabagismo. Durante o mês de julho, foram rea-
seus dispositivos inalatórios na farmácia cen- lizadas quatro atividades incluindo a aplica-
tral. O perfil predominante é de pacientes ido- ção de um formulário piloto para avaliar o uso
sos e do sexo masculino. dos DIs antes da dinâmica na sala de espera,
com orientações acerca do uso destes medi-
RELATO DA EXPERIÊNCIA camentos. Após a aplicação desse formulário,
foi detectada a carência de um atendimento
Os objetivos desta experiência foram des- mais centrado nas necessidades individuais
crever o atendimento dos pacientes e as ne- de cada paciente, pois a abordagem de forma
cessidades percebidas pelos médicos que os coletiva poderia trazer constrangimento por
atendem no ambulatório de DPOC/Tabagismo, exposição das dificuldades no uso dos DIs,
bem como contribuir com o processo de apren- além de comprometer a correta compreensão
dizagem ensino-serviço dos farmacêuticos re- do uso e manuseio dos dispositivos utilizados.
sidentes da Residência Integrada em Saúde da
Escola de Saúde Pública do Ceará (RIS/ESP-CE). Assim, em julho do mesmo ano, com a che-
gada da segunda turma de farmacêuticos re-
METODOLOGIA sidentes da RIS/ESP-CE, foi possível realizar
atendimentos individualizados em um ambien-
Trata-se de um relato de experiência, em te que possibilitava uma escuta ativa e sem
que se descreve a construção de um atendi- distrações, nos quais cada paciente pôde ser
mento farmacêutico individualizado dentro orientado e avaliado. O fluxo do atendimento
de um ambulatório de DPOC/Tabagismo para foi realizado da seguinte forma: primeiramente,
pneumopatas. os pacientes eram conduzidos para a consulta
médica e, em seguida, para o atendimento far-
Descrição da experiência macêutico munidos da receita médica. Durante
o atendimento, o paciente relatava como uti-
A partir das necessidades percebidas lizava os DIs em casa e baseado nesse relato
pela equipe médica do ambulatório de DPOC, corrigiam-se os erros detectados. Em seguida,
foi solicitada a atuação dos farmacêuticos era explicado novamente, passo a passo, o uso
residentes, a fim de desenvolver atividades dos DIs e o profissional solicitava que o pacien-
voltadas para a educação em saúde dos pa- te repetisse a fim de verificar se o mesmo havia
cientes atendidos. O foco dessas atividades compreendido as instruções.
foi o uso dos dispositivos inalatórios (DIs) As principais dificuldades relatadas es-
dispensados na farmácia central do hospital tavam relacionadas aos passos para o corre-
que são: formoterol, budesonida+formoterol to uso destes medicamentos, entre as quais
e brometo de tiotrópio; os dois primeiros em podemos citar: falha em expirar antes da ina-
forma de pó inalatório - Aerolizer; e o tercei- lação do medicamento, dificuldade em gerar
ro, o dispositivo Respimat. fluxo mínimo para inalação do pó (dispositi-
No ano de 2015, os farmacêuticos resi- vos de pó inalatório), não segurar a respiração
dentes da primeira turma da RIS/ESP-CE ini- após a aspiração e não lavar a boca após o uso
152
de medicamentos contendo corticóides. Havia
ainda pacientes que utilizavam esses DIs em
doses inadequadas, não seguindo a posologia
prescrita e comprometendo o resultado do
tratamento, podendo ocasionar novas crises e
nova internação.

Orientação individual na sala de espera

Orientações sobre os dispositivos inalatórios


na sala de espera

Atendimento individual em espaço cedido e orientação por


meio de folder autoexplicativo

Orientação individual na sala de espera

Primeira turma de farmacêuticos residentes

Atendimento farmacêutico em espaço


cedido para orientação individual
Segunda turma de farmacêuticos residentes
153

Descrição dos impactos gerados com esta Próximos passos, desafios e necessidades
experiência
A percepção da magnitude do processo
Durante os meses de julho a dezembro de saúde-doença-saúde vista por meio da utiliza-
2015 foram realizados 327 atendimentos, com ção dos DIs pelos pacientes com DPOC levou a
uma média de 54,5 pacientes/mês. De acordo um olhar ampliado sobre o cuidado por parte
com os resultados apresentados, verificamos dos farmacêuticos residentes. O próximo pas-
um maior número de pacientes atendidos no so será avaliar a utilização de todos os me-
mês de setembro de 2015, totalizando 76. dicamentos, não somente os DIs, mensurar a
adesão ao tratamento, aspectos relacionados
Após 6 meses de atendimento farmacêu-
à qualidade de vida, perfil dos medicamen-
tico individualizado já se percebeu a redução
tos utilizados pelo paciente e epidemiológico,
do número de falhas no uso dos DIs. As falhas
além da elaboração de uma ficha de seguimen-
principais eram: soltar o ar dos pulmões antes
to farmacoterapêutico. Pretende-se, com isso,
de colocar o DI na boca, segurar a respiração
revisar a farmacoterapia de uso contínuo e, as-
por até 10 segundos após puxar o ar da bombi-
sim, contribuir com o médico acerca das deci-
nha, agitar os DIs de aerosol dosimetrado, fazer sões a serem tomadas em relação à farmacote-
dois jatos em uma única vez, lavar a boca quan- rapia prescrita, visando o empoderamento do
do em uso DIs com corticoide. paciente sobre sua condição de saúde e trata-
Dessas falhas, o erro “não soltar o ar dos mento. Com isso, faz-se necessária a estrutura-
pulmões antes da aspiração”, foi o item que não ção de um consultório farmacêutico fixo e, por
houve redução. Vale ressaltar que o intuito des- conta da grande demanda de pacientes, a con-
te serviço em implantação é o de orientar todos tratação de mais farmacêuticos para o serviço.
os pacientes que estão com consultas marcadas
pelos médicos e, logo após a consulta médica, REFERÊNCIAS
encaminhá-los ao farmacêutico.
Global Initiative for Chronic obstructive
Total de pacientes atendidos individualmente pelos Pulmonary Disease (GOLD). Global strategy
farmacêuticos/Redução do número de falhas
no manuseio dos Dis por paciente
for diagnosis, management, and prevention of
COPD –Updated 2016.
80 76
69
Menezes AMB, Perez-Padilla R, Jardim JRB et al.
70
61 Chronic obstructive pulmonary disease in five
58
Latin American cities (the PLATINO study): a
60

60

50
prevalence study. Menezes AMB, Perez-Padilla
40 30
33 R, Jardim JRB et al. Lancet 2005;366:1875-1881
30

20 INSTITUIÇÃO
10
Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto
0
JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO Studart Gomes, Fortaleza (CE)

40 AUTORES
35
Kamila Maria Maranhão Sidney
Nº de erros detectados

30
Ana Carolina de Souza e Silva
25
Domingos Sávio de Carvalho Sousa
20
Maria Rennê Lopes Feitoza Vieira
15
Paulo Andrei Milen Firmino
10
5
CONTATOS
0

Erros:
1
1.
2 3 4
Não soltar o ar dos pulmões antes da aspiração;
5 kamilasidney@hotmail.com


2.
3.
Não segurar a respiração por 10 segundos após aspirações;
Não agitar DI do tipo aerossol dosimetrado;
carolinasilva89@outlook.com


4.
5.
Fazer 2 jatos de uma só vez;
Não lavar a boca após uso de corticóide oral. dsaviocs@gmail.com
JULHO/15 DEZEMBRO/15 pa_firmino@hotmail.com
154

Teresina/PI

Farmacêutico e a segurança
dos usuários de medicamentos:
aplicação da ferramenta FMEA
no serviço de farmácia de um
hospital público de Teresina
CARACTERIZAÇÃO análise das falhas em potenciais e propostas
de ações de melhoria - que ocorram falhas
Na instituição hospitalar, o serviço de oriundas do planejamento e execução de de-
farmácia é responsável pelo uso seguro e efi- terminado processo.
caz dos medicamentos e deve cumprir o pa- Dessa forma, a proposta deste trabalho é
pel fundamental de integrar os processos de definir ações que minimizem erros, utilizando
prescrição, dispensação e administração. A o método FMEA para identificar falhas, causas e
metodologia designada FMEA ou Análise dos efeitos dos serviços que constituem o processo
Efeitos e Modos de Falhas é uma ferramenta de atendimento do serviço de farmácia hospi-
que busca, em princípio, evitar - por meio da talar de um hospital público de Teresina, bem
155

como estabelecer ações estratégicas para eli- cio de 2010, registrou 88.790 internações, sen-
minar esses erros. do 62,21% de pacientes residentes em Teresina,
30,65% do interior do Piauí, 6,79% do estado do
Para o início do trabalho, foram analisa-
Maranhão e 0,35% do estado do Pará. Entre as
das as prescrições. Do total de prescrições
especialidades médicas, a clínica cirúrgica foi
analisadas (n=756), 9462 itens foram deter-
a que apresentou o maior percentual (32%) de
minados, 9825 doses dispensadas e 2056 er-
internações.
ros foram detectados. O material gerado pelo
FMEA serviu como ferramenta para prognós- No início de 2000, a taxa de mortalidade in-
tico de falhas e auxiliou no desenvolvimento fantil em Teresina era de 32,7% vivos. Em 2010
de um serviço de farmácia eficiente, eficaz essa taxa reduziu 50%, passando para 16,1%
e seguro. Além disso, os resultados obtidos (Semplan, 2016).
também poderão ser usados em programas
de capacitação, proporcionando um melhor Estruturação da rede de saúde
entendimento dos componentes do serviço, e,
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) é
na formação de futuros farmacêuticos.
responsável pela gestão e planejamento de
Local - Teresina está localizada ao nor- políticas de saúde do município, coordenando
te do estado do Piauí, numa área conhecida a Fundação Municipal de Saúde (FMS), que, por
como Meio Norte, que constitui uma faixa de sua vez, executa a política de saúde do muni-
transição entre o semiárido nordestino e a re- cípio. Teresina conta com 90 Unidades Básicas
gião amazônica. Por estar situada distante do de Saúde (UBS), assim distribuídas: 36 na Zona
litoral, ocupa posição estratégica para o seu Leste/Sudeste, 25 na Zona Norte e 27 na Zona
desenvolvimento, o que contribui para exercer Sul, além de dispor de seis Centros de Atenção
influência econômica regional, particularmen- Psicossocial (Caps) (SMS; FMS, 2016).
te nos setores de serviço e comércio.
A SMS também dispõe da Fundação Hos-
As principais atividades econômicas de pitalar de Teresina (FHT), que desenvolve e
Teresina são: serviço público, educação, co- executa ações e serviços de saúde no âmbi-
mércio, indústria alimentícia, confecção, avi- to do SUS, em todos os níveis da assistência
cultura, construção e cerâmica. Outro setor hospitalar. A rede hospitalar da FHT distri-
relevante para a economia local, que se cons- bui-se da seguinte forma: 5 unidades na Zona
titui num verdadeiro polo regional, é o setor Norte, 1 unidade na Zona Leste, 3 unidades
da saúde. na Zona Sudeste e 5 unidades na Zona Sul
A capital tem população de 814.230 ha- (FHT, 2016; FORTES, 2010).
bitantes, e é predominantemente feminina O Hospital de Urgências de Teresina (HUT)
(53,25%) e jovem, sendo a proporção de habi- é um hospital municipal subordinado à FHT.
tantes de 0 a 14 anos de 23,4%, de 15 a 29 anos Possui 368 leitos cadastrados no CNES – Ca-
30,2% e com 60 anos ou mais de 8,6%; 59,82% dastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
da população se declara parda (FORTES, 2010; (FORTES, 2010).
IBGE, 2016).

Perfil epidemiológico

Desde a década de 1980, a saúde é ativida-


de de destaque em Teresina, não somente pelo
que representa em termos de benefício social,
mas também por ser um dos segmentos de
grande importância econômica, especialmente
pela geração de empregos.
De acordo com a Secretaria Municipal de
Planejamento e Coordenação (Semplan), o Sis-
tema Único de Saúde (SUS) em Teresina, no iní- Hospital de Urgências de Teresina Professor Zenon Rocha (HUT)
156

Assistência farmacêutica sidade Federal do Piauí (UFPI). Na segunda


fase, foi realizada a elaboração dos quadros
O serviço de farmácia do HUT conta com 7 de investigação.
plantonistas (carga horária de 24 horas sema-
nais) atuando na farmácia central e 5 diaristas RELATO DA EXPERIÊNCIA
(carga horária 30 horas semanais) distribuídos
na farmácia central, sala de manipulação de A FMEA é uma ferramenta que busca, em
nutrição parenteral, farmácia do centro cirúr- princípio, evitar, por meio da análise das falhas
gico e central de abastecimento farmacêutico em potenciais e propostas de ações de melho-
(CAF). A farmácia central e a farmácia do centro ria, que ocorram falhas oriundas do planeja-
cirúrgico funcionam em período integral. mento e execução de determinado processo
(TOLEDO, 2002). Além disso, também serve para
avaliar o impacto que essas falhas podem ter,
para que, unindo todas as informações, seja
possível identificar quais partes do processo
ou serviço têm maior necessidade de correção.
No contexto do serviço de farmácia hospitalar
e sua importância para o atendimento racional
e seguro aos pacientes, o FMEA foi utilizado
para avaliar as etapas que envolvem o ciclo do
medicamento até a sua dispensação (SPATH,
2003; TRUCCO, 2006).

Área de armazenamento e separação dos medicamentos


Para aplicar a análise FMEA em um de-
fracionados. Serviço de farmácia do HUT terminado produto/processo, um grupo de
trabalho foi formado para definir a função ou
Os farmacêuticos são responsáveis pela característica daquele produto/processo, para
distribuição dos medicamentos aos pacientes relacionar todas as possibilidades de erros e/
internados, por meio de dispensação indivi- ou falhas possíveis, descrever para cada tipo
dualizada para 24 horas, por meio da 2ª via de falha suas possíveis causas ou efeitos, rela-
carbonada da prescrição médica. Também fa- cionando as medidas de detecção e prevenção.
zem a distribuição coletiva de material médi- E, ainda, para cada causa, atribuir índices para
co-hospitalar e soluções parenterais de grande avaliar os riscos e, por meio da identificação
volume (SPGV) por meio de ficha de pedido de desses riscos, discutir medidas de melhoria.
material via intranet ou papel.
Com o grupo de execução da FMEA forma-
A CAF funciona em horário comercial e do, foram descritas todas as etapas que seriam
abastece a farmácia central duas vezes por consideradas durante o estudo: 1) prescrição
semana. As prescrições de nutrição parenteral médica; 2) validação da prescrição médica pelo
(NP) são recebidas e avaliadas até às 14hs e a farmacêutico; e 3) dispensação do medicamen-
rotina de manipulação de NP é realizada todos to. Essas etapas estão presentes dentro dos in-
os dias da semana, no turno da tarde. dicadores de qualidade adaptados para erros
de medicação (FERRACINI, 2005).
METODOLOGIA
Na implantação desse sistema, primeira-
O trabalho foi dividido em duas fases. mente, foram definidas todas as etapas a se-
Na primeira foi constituído um grupo para a rem estudadas, na primeira reunião do grupo
aplicação da FMEA (do inglês, Failure Mode de trabalho. Para a realização do estudo foram
and Effect Analysis), composto por dois far- elaboradas três tabelas a serem utilizadas du-
macêuticos hospitalares e um estagiário do rante a coleta dos dados, realizada por mem-
serviço de farmácia hospitalar do Hospital bros executores do hospital.
de Urgência de Teresina (membros execu- A coleta de dados obteve informações so-
tores), além de um colaborador docente do bre falhas que ocorreram durante o ciclo do
curso de graduação em Farmácia da Univer- medicamento, desde a prescrição, validação da
157
prescrição pelo farmacêutico e dispensação. possível a identificação, análise e avaliação
Um estudo transversal retrospectivo foi reali- do risco inerente a cada função do serviço. O
zado com 756 prescrições da Unidade de Trata- índice de prioridade de risco (RPN) é deter-
mento de Queimados (UTQ), no período de 90 minado pelo produto dos pesos dos fatores
dias (junho a agosto de 2012), no Hospital de apresentados como possibilidade de ocor-
Urgência de Teresina. rência (tabela 1), capacidade de detecção
Na segunda fase, os quadros de inves- (tabela 2) e gravidade (tabela 3), conforme a
tigação foram elaborados. Deste modo, foi equação: RPN = PO x CD x S.

Tabela 1 - Índice de ocorrência (Io) de erros de medicação

FMEA - Erros de Medicação


Frequência Io Critérios

Mínimo 1 1 É mínima a probabilidade de ocorrência. Processos semelhantes, de maneira geral não apresentam este tipo de falha.

Pequeno 2 2 É pequena a probabilidade de ocorrência. Processos semelhantes, de maneira geral, não apresentam este tipo de falha

Médio 3 4 É média a probabilidade de ocorrência. Processos semelhantes, de maneira geral, apresentam ocasionalmente este tipo de falha.

Alto 4 7 É alta a probabilidade de ocorrência. Processos semelhantes, de maneira geral, sempre apresentam este tipo de falha.

Muito Alto 5 É muito alta a probabilidade de ocorrência. Processos semelhantes, de maneira geral, apresentam com frequência este tipo de falha.

10

Fonte: FERRACINI, F.; MENDES, W. (2012).

Tabela 2 - Índice de detecção (Id) de erros de medicação

FMEA - Erros de Medicação


Frequência Id Critérios

Muito Alto 1 1 Alta possibilidade de detecção. O sistema não permite que o processo continue.

Alto 2 2 Grande possibilidade de detecção. Há tripla checagem em locais diferentes.

3 Grande possibilidade de detecção. Há dupla checagem em locais diferentes.

Médio 3 4 Razoável possibilidade de detecção. Há dupla checagem no mesmo local.

5 Razoável possibilidade de detecção. Há dupla checagem cuidadosa.

6 Rezoável possibilidade de detecção. Há dupla checagem com sobrecarga de trabalho.

Pequeno 4 7 Pequena possibilidade de detecção. A checagem é muito rápida.

8 Pequena possibilidade de detecção. Não há checagem.

Mínimo 5 9 Mínima possibilidade de detecção.

10 Possibilidade de detecção nula.

Fonte: FERRACINI, F.; MENDES, W. (2012).

Esse parâmetro permite calcular o risco as- res de RPN superiores ou iguais a 100 (FERRACINI,
sociado a uma determinada atividade crítica de 2005). As atividades que representam um maior
um serviço de farmácia hospitalar. Quanto maior risco para o processo foram identificadas e os
o valor do parâmetro, maior o risco associado ao planos de ação foram definidos com o objetivo
mesmo, assumindo como limite inaceitável valo- de eliminar ou reduzir os riscos.
158
Tabela 3 - Índice de gravidade (Is) causada no paciente em casos de erros de medicação

FMEA - Erros de Medicação

Grau de Gravidade Função Is Critérios

Mínimo
1 O efeito não é reconhecido e não compromete o tratamento.
1
O efeito só é reconhecido por pessoal altamente capacitado (médicos/enfermeiros) e não compromete
Pequeno 2
nenhuma função.
2
Cosmética 3
O efeito é uma perda temporária ou exagero do efeito do medicamento.
O efeito é uma perda temporária de função secundária.
Médio 4
O efeito é uma perda súbita de função secundária e necessita de vigilância.
3 5
O efeito é uma perda de função secundária com necessidade de monitoramento e avaliação
Secundária 6
especializada.
Alto 7 O efeito é uma perda de função principal localizada e necessita de antídotos ou vigilância.
4
Principal 8 O efeito é uma perda de função principal interferindo no tratamento de base.
O efeito é uma perda gradual de função de segurança (médio risco de óbito/sequelas) e necessita
Muito Alto 9
monitoramento e medidas especiais - UTQ.
5
O efeito é uma perda súbita de função de segurança (alto risco de óbito/sequelas) e necessita de
Segurança 10
medidas de suporte avançado.
Fonte: FERRACINI, F.; MENDES, W. (2012).

Descrição dos resultados e impactos gerados dispensadas e 2056 erros. De 584 prescrições,
com esta experiência 77,25% apresentaram algum erro de medica-
ção quanto à prescrição médica, validação da
Do total de prescrições analisadas (n=756), prescrição e dispensação, representando 2,54
9462 itens foram determinados, 9825 doses erros/prescrição médica (tabela 4).

Tabela 4 - Distribuição dos tipos de erros identificados durante o estudo quanto


a prescrição médica, validação da prescrição e dispensação de medicamentos

Etapas do Serviço Modos de Falhas Quantidade %


Prescrição rasurada e/ou ilegível 26 1,26
Prescrição de medicamento não padronizado 411 20,00
Prescrição sem dados suficientes para dispensação adequada 30 1,46
Omissão de informações relevantes para administração adequada 72 3,50

Prescrição Prescrição de medicamento com dose errada 59 2,90


Médica Prescrição com troca de forma farmacêutica ou via de administração 7 0,34
Prescrição de medicamento restrito com pendências 16 0,80
Prescrição de medicamento com dose fracionada (½ comprimido) 64 3,11
Prescrição de medicamentos SN sem indicação e/ou sem frequência 390 18,96
Prescrição contínua de medicamento zerado na farmácia 186 9,04
Troca de forma farmacêutica 9 0,43

Validação da Erro com número de doses dispensadas 25 1,21


prescrição Não houve a liberação de doses 60 2,91
Aviamento de medicamento com estoque zerado 67 3,25
Troca de forma farmacêutica 4 0,19
Troca de princípio ativo – –
Dispensação Erro na quantidade de doses liberadas 33 1,60
Medicamentos com estoque zerado 186 9,04
Não dispensação de medicamento não padronizado 411 20,00
Total de Erros 2056 100,00
Fonte: Dados da Coleta.
159
A relação entre modo de falha e efeito, dade torna-se ainda mais evidente quando
quando controlada, pode ser uma ajuda va- da associação de um item a outro (SAKURA-
liosa para a análise da confiabilidade e tam- DA, 2001). No quadro elaborado (figura 3, 4 e
bém para os processos de correção a serem 5) pode ser observada a concordância com a
adotados. Às vezes, diferentes modos de fa- literatura citada, uma vez que alguns modos
lha se manifestão da mesma maneira, ou seja, de falha identificados apresentaram o mes-
apresentam o mesmo efeito. Essa complexi- mo efeito.

Figura 3 - Quadro FMEA aplicado para etapa da prescrição médica

Etapa do serviço Modo de falha Efeito potencial da falha Causas Causa (%) Controle atual O D S RPN Ações recomendadas
Adoção de outro tipo de
Prescrição normal Não há prescrição
40
Necessidade terapêutica não Reunião para discussão e
Prescrição rasurada e/ou
atendida devido a não liberação 2 1 3 6 sensibilização sobre o tema
ilegível Farmacêutico às
da prescrição médica
60 vezes entra em
Falhas humanas Elaboração do manual do
contato com a
clínica prescritor

Desconhecimento sobre
a lista de medicamentos 60 Não há Anexar lista com medicamentos
padronizados padronizados nas clínicas
Necessidades terapêuticas não
Prescrição de medicamento
atendidas devido a não liberação 8 2 8 128
não padronizado CFT não atuante 20 Não há
das doses da prescrição médica Realizar reuniões com os
Não preenchimento de gerentes médicos para divulgar
20 Não há as ações e normas da CFT
solicitação

Prescrição de medicamento Necessicade terapêutica não Falhas humanas 50 Reuniões para discussão e
sem dados suficientes para atendida devido a não liberação Farmacêuticos às sensibilização sobre o tema
dispensação adequada da prescrição médica Prescrição feita por vezes entra em
30 3 4 10 120
(concentração, forma estudantes contato com a
farmacêutica, via de clínica Elaboração do manual
Evento adverso
Prescrição Médica

Desconhecimento sobre do prescritor


administração, posologia) 20
medicamentos
Reuniões para discussão e
Omissão de informações Necessidade terapêutica não sensibilização sobre o tema
Desconhecimento
relevantes para atendida devido a dificuldades 100 Não há 5 5 6 150
sobre medicamentos Elaboração do manual
administração adequada para absorção do fármaco
do prescritor

Necessicade terapêutica não Reuniões para discussão e


Falhas humanas 50
atendida devido a não liberação sensibilização sobre o tema
Farmacêuticos às
da prescrição médica
Prescrição de medicamento Prescrição feita vezes entra em Elaboração do manual
30 4 5 10 200
com dose errada por estudantes contato com a do prescritor
Evento adverso devido a
clínica
ineficácia terapêutica (subdose) Desconhecimento Anexar lista com medicamentos
ou toxicidade (sobredose) 20
sobre medicamentos padronizados nas clínicas

Necessidade terapêutica não Reuniões para discussão e


Falhas humanas 50
atendida devido a não liberação sensibilização sobre o tema
Farmacêuticos às
Prescrição com troca de da prescrição médica
Prescrição feita por vezes entra em Elaboração do manual
forma farmacêutica ou via 30 3 2 10 60
estudantes contato com a do prescritor
de administração Evento adverso devido
clínica
administração de medicamento Desconhecimento Normalizar ações para
em sobra no posto 20
sobre medicamentos intervenção farmacêutica
Não preenchimento Reuniões para discussão e
50
do formulário sensibilização sobre o tema
Preenchimento Elaboração do manual
20
incompleto do formulário Farmacêutico às do prescritor
Necessidade terapêutica não
Prescrição de medicamento vezes entra Criação de fichas padronizadas
atendida devido a não liberação Formulário 3 1 9 27
restrito com pendências 20 em contato para informar ao prescritor
da prescrição médica vencido com a clínica sobre a pendência
Solicitação negada pelo Criação de vagas de estágio para
setor correspondente 10 preencher as fichas e anexar ao
(CFT, CCIH) prontuário dos pacientes

Fonte: Dados da Coleta.


160
Figura 4 - Quadro FMEA aplicado para etapa da prescrição médica e validação da prescrição médica

Causa
Etapa do serviço Modo de falha Efeito potencial da falha Causas Controle atual O D S RPN Ações recomendadas
(%)

Desconhecimento Reuniões para discussão e


30 Não há sensibilização sobre tema
sobre medicamentos
Evento adverso devido
Prescrição de Normatizar ações para
Prescrição Médica

à ineficiência terapêutica Se for o caso, a


medicamentos com dose 5 5 3 175 intervenção farmacêutica
(subdose) ou Desconhecimento sobre farmácia dispensa
fracionada (½ comprimido)
toxicidade (sobredose) a lista de medicamentos 20 o medicamento Acessar a lista com
padronizados inteiro na dosagem medicamentos padronizados
solicitada nas clínicas

Prescrição de Evento adverso devido Reuniões para discussão e


medicamentos “se à ineficiência terapêutica Não padronização da sensibilização sobre tema
100 Não há 10 5 5 250
necessário” (SN) sem (subdose) ou prescrição médica Elaboração do manual
indicação e/ou frequência toxicidade (sobredose) do prescritor
Normatizar ações para
Necessidade terapêutica não 60 Não há intervenção farmacêutica
Prescrição contínua Desconhecimento sobre
atendida devido não liberação
de medicamento a lista de medicamentos 7 3 9 189 Acessar a lista
das doses de prescrição médica e
errado na farmácia padronizados com medicamentos
não substituição do medicamento 40 Não há
padronizados nas clínicas
Falhas Elaboração do manual de
Evento adverso devido à 50
humanas aviamento e dispensação
administração inadequada de As técnicas de
uma forma farmacêutica Excesso Organização do horário de
40 enfermagem
Durante o aviamento de trabalho chegada das prescrições
detectam às vezes
houve troca de forma 2 3 5 30
detectam o erro Contratação de
farmacêutica Necessidade terapêutica
antes da dispensação novos servidores
não atendida devido à Ambiente agitado que
10 ou administração
impossibilidade de administração dificuta a concentração Melhoria do ambiente
do medicamento dispensado de trabalho

Elaboração do manual de
Falhas
Validação da Prescrição

50 aviamento e dispensação
humanas
As técnicas de Organização do horário de
Evento adverso devido
enfermagem às chegada das prescrições
Durante o aviamento não a ineficiência terapêutica
Excesso vezes detectam 4 5 5 140
houve a liberação de doses (subdose) ou 40
de trabalho o erro antes da Contratação de
toxicidade (sobredose)
dispensação novos servidores
Ambiente agitado que Melhoria do ambiente
10
dificuta a concentração de trabalho

Falhas Elaboração do manual de


50 aviamento e dispensação
humanas
As técnicas de Organização do horário de
Durante o aviamento Necessidade terapêutica não Excesso enfermagem às chegada das prescrições
houve erro com o número atendida devido a não liberação 40 vezes detectam 2 4 8 64
de trabalho
de doses dispensadas da prescrição médica o erro antes da Contratação de
dispensação novos servidores
Ambiente agitado que
10 Melhoria do ambiente
dificuta a concentração
de trabalho

Falhas Elaboração do manual de


50 aviamento e dispensação
Humanas
As técnicas de Organização do horário de
Houve aviamento de Necessidade terapêutica Excesso enfermagem às chegada das prescrições
medicamento com não atendida devido a não 40 vezes detectam 6 5 3 90
de trabalho
estoque errado liberação da prescrição médica o erro antes da Contratação de
dispensação novos servidores
Ambiente agitado que
10 Melhoria do ambiente
dificuta a concentração
de trabalho

Fonte: Dados da Coleta.


161
Figura 5 - Quadro FMEA aplicado para etapa de dispensação de medicamentos

Etapa do serviço Modo de falha Efeito potencial da falha Causas Causa (%) Controle atual O D S RPN Ações recomendadas
Falhas Elaboração do manual de
40
Humanas aviamento e dispensação
Evento adverso devido à Erro no aviamento Normatizar etapa
10
administração inadequada de da prescrição de conferência
uma forma farmacêutica
Não existe noma de Cobra-se a Melhoria do ambiente
10
checagem na etapa conferência de trabalho
das técnicas de
Troca de forma Ambiente Treinamento sobre boas
05 enfermagem dos 1 5 10 50
farmacêutica agitado práticas de dispensação
outros setores.
Desconhecimento Geralmente essa Adoção de outro
Necessidade terapêutica 10
sobre medicamentos etapa é cumprida tipo de prescrição
não atendida devido
à impossibilidade de Prescrição Organização do horário
administração do 20
manual da chegada das prescrições
medicamento dispensado
Excesso Contratação de
05
de trabalho novos servidores
Falhas Elaboração do manual de
30
Humanas aviamento e dispensação
Evento adverso devido à
Não existe norma de Melhoria do ambiente
administração inadequada 20
checagem na etapa Cobra-se a de trabalho
de outro medicamento
Ambiente conferência Treinamento sobre boas
10 das técnicas de
Troca de agitado práticas de dispensação
enfermagem dos 1 10 10 100
princípio ativo Desconhecimento Adoção de outro
10 outros setores.
sobre medicamentos Geralmente essa tipo de prescrição
Necessidade terapêutica
não atendida devido etapa é cumprida
Prescrição Organização do horário
15
à impossibilidade de manual da chegada das prescrições
Dispensação

administração do medicamento
Excesso Contratação de
15
de trabalho novos servidores
Falhas Elaboração do manual de
10
Humanas aviamento e dispensação
Erro no aviamento Normatizar etapa
40
da prescrição de conferência
Não existe norma de Cobra-se a Melhoria do ambiente
10
checagem na etapa conferência de trabalho
Evento adverso devido à das técnicas de
Erro na quantidade Ambiente Treinamento sobre boas
ineficácia terapêutica (subdose) 10 enfermagem dos 5 7 8 280
de doses liberadas agitado práticas de dispensação
ou toxicidade (sobredose) outros setores.
Desconhecimento Geralmente essa Adoção de outro
10 etapa é cumprida
sobre medicamentos tipo de prescrição
Prescrição Organização do horário
10
manual da chegada das prescrições
Excesso Contratação de
10
de trabalho novos servidores
Falta de comunicação da Normatizar etapa
40
Farmácia com o prescritor Não há de conferência
Necessidade terapêutica Falha no controle de Melhoria do ambiente
não atendida devido à 30
Medicamentos com estoque da CAF Geralmente é de trabalho
não liberação das doses da 7 3 6 126
estoque zerado enviado um
prescrição médica e não relatório com as
substituição do medicamento Pendências do pendências dos Treinamento sobre boas
30
fornecedor fornecedores para a práticas de dispensação
diretoria
Anexar a lista
Falta de comunicação da
Necessidade terapêutica 60 com medicamentos
Farmácia com o prescritor
Medicamentos com não atendida devido à padronizados nas clínicas
Não há 7 2 8 112
estoque zerado não liberação das doses da Realizar reuniões com os
prescrição médica CFT não
40 gerentes médicos para divulgar
atuante
as ações e normas da CFT

Fonte: Dados da coleta.

Entre as várias causas que podem desenca- mentos ineficientes ou mesmo problemas com
dear as falhas podemos citar fatores individuais os produtos utilizados na medicação do pacien-
como: falta de atenção, lapsos de memória, te (COHEN, 2000; SILLOT, 2009). No contexto dos
deficiências da formação acadêmica, inexpe- serviços de saúde, a farmacoterapia não pode
riência, negligência e desatualização quanto ser bem sucedida se o processo de prescrição,
aos avanços tecnológicos e científicos (COHEN, aviamento farmacêutico e dispensação não fo-
2000). Outros fatores também devem ser consi- rem realizados corretamente.
derados: iluminação inadequada, nível alto de
barulho, interrupções frequentes, falta de trei- Os baixos valores encontrados nos itens:
namento e de profissionais, políticas e procedi- 1) ilegibilidade;
162

2) dados insuficientes sobre o medica- uma avaliação do impacto dessas ações na eta-
mento e o seu uso; pa da prescrição médica.
3) dose errada; Também foram observadas taxas relativa-
mente baixas de erros de dispensação (tabe-
4) pendências na prescrição de medica- la 4). Esses dados são explicados em razão da
mentos restritos demonstram um possí- metodologia empregada ter sido retrospectiva.
vel comprometimento na comunicação Foram identificados apenas os medicamentos
efetiva entre o prescritor e dispensador, dispensados e as falhas durante a etapa do
e consequentemente, o entendimento aviamento farmacêutico. Contudo, não houve a
da enfermagem sobre o medicamento e conferência diária das doses dispensadas.
sua administração. Na etapa de dispensação, com exceção da
contratação de novos servidores, as demais
Entretanto, foram encontrados dados alar- ações recomendadas (figura 5) para minimizar
mantes a respeito: os dados encontrados serão implementadas
- da prescrição de medicamentos não pa- rapidamente, pois a criação do manual de dis-
dronizados; pensação é iminente, bem como a execução do
projeto de nova organização do setor para ga-
- da prescrição de medicamentos com rantir uma otimização do espaço e das rotinas
uso se necessário (SN), sem indicação de trabalho.
e/ou frequência; Além disso, o aumento da frequência de
- com o estoque zerado. reuniões com as gerências de enfermagem irá
contribuir para melhorar o fluxo do horário de
Os dados alarmantes encontrados na
chegada das prescrições e assim garantir a or-
etapa da prescrição médica desencadearam: ganização e melhor eficiência no desempenho
discussões, reflexões, elaboração e execução da atividade de dispensação dos medicamen-
das ações recomendadas listadas na tabe- tos para as clínicas.
la 4. Nesse contexto, a discussão a respeito
Dessa forma, um novo estudo prospectivo
do tema com a equipe médica, a inclusão de baseado na metodologia FMEA será necessário
medicamentos pela Comissão de Farmácia e para uma avaliação mais aprofundada da eta-
Terapêutica (CFT), adoção de intervenções far- pa de validação da prescrição bem como das
macêuticas e a disseminação da lista com os ações recomendadas que serão executadas na
medicamentos padronizados promoveram uma etapa da dispensação de medicamentos.
diminuição significativa no índice de falhas en- A análise quanto à presença de modos de
contradas atualmente. A relação de modo de falha mostrou que houve distribuição de erros
falha e efeito empregado no presente estudo com RPN acima de 100 (n=10) nas 3 etapas ana-
será aplicada novamente em outro estudo para lisadas (tabela 5).

Tabela 5 - Modos de falha com valores de índice de prioridade de risco (RPN) inaceitáveis

Etapas do Serviço Modo de Falhas RPN


Prescrição de medicamento não padronizado 128
Prescrição sem dados suficientes para dispensação adequada 120
Omissão de informações relevantes para administração adequada 150
Prescrição Médica Prescrição de medicamento com dose errada 200
Prescrição de medicamento com dose fracionada (½ comprimido) 175
Prescrição de medicamentos SN sem indicação e/ou sem frequência 250
Prescrição contínua de medicamento zerado na farmácia 189
Validação da prescrição Erro com número de doses dispensadas 140
Troca de forma farmacêutica 100
Erro na quantidade de doses liberadas 280
Dispensação
Medicamentos com estoque zerado 126
Não dispensação de medicamento não padronizado 112
163

A tabela 5 apresenta os erros mais críticos, Os erros de redação levantados durante o


isto é, os modos de falha com maior chance de estudo podem ser minimizados com a padroni-
ocorrência, menor probabilidade de detecção e zação e elaboração de normas para a prescrição
maior gravidade. Observou-se o predomínio de de medicamentos pela equipe multiprofissio-
falhas com valores inaceitáveis (maiores que nal da instituição de forma que essas normas
100) durante a elaboração da prescrição médi- contenham o máximo de informações necessá-
ca (n=7) seguida da etapa de dispensação (n=4) rias para que o setor de farmácia hospitalar e a
e validação da prescrição (n=1). Os valores ele- equipe de enfermagem desenvolvam com segu-
vados de RPN para as etapas listadas na tabela rança as atividades de dispensação e adminis-
5 são preocupantes e apontam para a impor- tração de medicamentos, respectivamente.
tância do papel do farmacêutico em todas as Quanto aos problemas de rasura e legibili-
atividades que envolvam a utilização de medi- dade, principalmente pela prescrição ainda ser
camentos. manual, a redução desses pode ser obtida com
Os resultados deste estudo para erros de a padronização da prescrição informatizada,
dispensação trazem limitações para a genera- por exemplo. A implantação da prescrição ele-
lização dessa etapa, pois reduz a variedade de trônica pode ter forte impacto na diminuição
falhas, frequência e causas já que tratamos de dos erros de prescrição. Infelizmente, no setor
erros de dispensação oriundos apenas do avia- público, o custo dessa alternativa pode ser im-
mento farmacêutico. Contudo, o fluxograma peditivo para uma grande parte dos hospitais
obtido pelo grupo de aplicação da FMEA apon- brasileiros. Nesse contexto, é recomendável a
ta para a necessidade de estudos mais apro- adoção de prescrição pré-digitada ou mista.
fundados sobre esse erro. Além disso, vale ressaltar que a elaboração
Vale ressaltar que os valores de RPN mais de um manual do prescritor será uma ferra-
elevados (tabela 5) foram obtidos nas etapas menta importante para normatizar e fornecer
do processo cuja porcentagem de causa pro- orientações gerais e específicas para promo-
vável estava relacionada principalmente com: ção do uso racional e seguro dos insumos te-
falhas humanas e desconhecimento sobre rapêuticos.
medicamentos, bem como sua padronização. O trabalho do farmacêutico deve ser esta-
A classificação da causa com a sua respectiva belecido de forma a ser uma barreira para os
contribuição para o modo de falha tem papel erros de medicação. Essa atividade deverá ser
fundamental para orientar o grupo para a eta- baseada em uma análise minuciosa das infor-
pa seguinte do trabalho que consiste na defini- mações da prescrição, para isso, a equipe de
ção das ações recomendadas. farmacêuticos hospitalares deve contar com
Por isso, após a execução das diversas me- um número suficiente de profissionais para ga-
didas corretivas listadas espera-se um proces- rantir uma análise de qualidade e em tempo
so mais seguro com a diminuição significativa hábil para a liberação.
dos valores de RPN. Faz-se necessária uma
nova aplicação desse estudo para avaliação CONCLUSÃO
do processo que envolve todo o ciclo do me-
dicamento (prescrição, validação da prescrição Apesar das inúmeras divergências na men-
médica e dispensação). suração dos erros, na sua monitorização e ava-
liação, parece ser consenso que a redução dos
Próximos passos, desafios e necessidades erros na assistência à saúde depende do em-
prego de várias estratégias, organizadas como
Ainda há muito a avançar. E uma estraté- uma política institucional focada na segurança
gia utilizada para prevenção dos erros de me- do paciente.
dicação é a mudança na cultura da instituição, O FMEA não é mecanismo para solução
eliminando a punição e estimulando o relato de problemas. Entretanto, indica as principais
dos erros para transformá-los em aprendizado oportunidades de melhoria do serviço, sobre-
para todos e em práticas de melhoria para o tudo em função de sua exaustiva preocupação
sistema. com todas as interfaces da geração do erro.
164
O material gerado pelo FMEA tem como FMS. Fundação Municipal de Saúde. Disponí-
função servir como uma ferramenta para vel em:. <http://fms.teresina.pi.gov.br/> Acesso
prognóstico de falhas, auxiliar o desenvolvi- em: 05 de abr. 2016.
mento de um serviço de farmácia eficiente,
FORTES, F.L.R. Perfil de Teresina: Econômica,
eficaz e seguro. Além disso, os frutos dessa
Social, Físico e Demográfico. Teresina. SEMDEC,
proposta podem ser usados em programas de
2010.112 p. Disponível em:. <http://www.teresi-
capacitação, proporcionando um melhor en-
na.pi.gov.br/portalpmt/orgao/SEMDEC/doc/
tendimento dos componentes do serviço, na
20100709-336-1461-D.pdf> Acesso em: 01 de abr.
formação de futuros farmacêuticos, além de
2016.
permitir o monitoramento da redução ou não
das falhas no serviço com a aplicação de no- HELMAN, H.; ANDERY, P. R. P.  Análise de fa-
vos estudos de FMEA após as etapas de con- lhas:  aplicação dos métodos de FMEA e FTA.
clusão das ações estabelecidas. Dessa forma, Belo Horizonte: Fundação Christino Ottoni,
um maior conhecimento a respeito das falhas 1995. 156p.
facilitando a escolha do tipo de ação (corre- NATIONAL COORDINATING COUNCIL FOR MED-
tiva, preventiva, preditiva) deve ser adotada ICATION ERROR REPORTING AND PREVENTION
por nossa equipe de trabalho e compartilha- (NCC MERP). What is a medication error; 1998.
da com os demais profissionais de saúde da Disponível em: <http://www.nccmerp.org/>
instituição. Acesso em: 05 abr. 2016.
Resumidamente, mas com valor predi- NÉRI, E.D.R. Determinação do perfil de erros de
tivo, esse estudo contribui para ampliar de prescrição de medicamentos em um hospital
forma eficiente a segurança do usuário de universitário. 2004. 229 f. Dissertação (Mestra-
medicamentos, com estratégias e recomen- do em Ciências Farmacêuticas) - Universidade
dações que podem ser usadas em outras Federal do Ceará, Fortaleza, 2004. Disponível
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INSTITUIÇÃO
Hospital de Urgências de Teresina (PI)
166

Natal/RN

Diagnóstico situacional das


agências transfusionais do município de
Natal com a implementação
do Programa Estadual de Qualificação
da Hemorrede (PEQH/RN)
CARACTERIZAÇÃO
de 2010 revela que a população é constituída
O estudo foi desenvolvido na cidade de Na- por 55,74% de mulheres e 53,31% de homens.
tal/RN, capital do estado do Rio Grande do Nor- A maior parte é formada por pretos ou pardos,
te. O estado é uma das 27 unidades federativas sendo 28,94% mulheres, 38,00% homens. As
do Brasil, estando dividido em 167 municípios, crianças e jovens representam 21,70% dos ha-
com área total de 52.811,126 km² e densidade bitantes e os idosos, 10,50%.
geográfica de 59,99 hab/km2, possuindo mais O Produto Interno Bruto é 0,80% e sua eco-
de três milhões de habitantes (BRASIL, 2010a). nomia está centrada na agropecuária, cons-
A capital possui 869.954 habitantes, de acordo trução civil, indústrias extrativas e de trans-
com estimativa para 2015 do Instituto Brasi- formação, petróleo, gás natural, turismo, sal,
leiro de Geografia e Estatística (IBGE). O censo carcinicultura, entre outras. Em 2015, o rendi-
167

mento mensal per capita era de R$ 818,00 (BRA- de infantil. Segundo o plano plurianual 2016-
SIL, 2010b). 2019, os grupos de causas de doenças que são
os principais fatores de mortalidade no estado
Perfil epidemiológico são doenças do aparelho circulatório, respira-
tório e endócrino/metabólico.
A rede pública do RN conta com oito regio-
nais de saúde, 23 unidades hospitalares e sete Estruturação da rede de saúde
unidades de referência. O Hemocentro Dalton
Cunha é uma entidade de natureza pública de A hemorrede nacional, a depender do
referência na área de sangue e hemoderivados, escopo das atividades que desenvolvem, é
atendendo 100% dos leitos do Sistema Único classificada nos quatro níveis de complexida-
de Saúde (SUS). Concomitantemente, promove de: nível I ou II - Hemocentro Coordenador (HC)
ações nas áreas de ensino e pesquisa, forma- e Hemocentro Regional (HR), Núcleo de Hemo-
ção de recursos humanos, controle de qualida- terapia (NH); nível III - Central de Triagem Labo-
de, suporte técnico e gerencial para toda a He- ratorial de Doadores (CTLD), Unidade de Coleta
morrede, integração das instituições públicas e e Transfusão (UCT), Unidade de Coleta (UC) (fixa
filantrópicas, e apoio técnico na formulação da e móvel) e nível IV - Agência Transfusional (AT).
Política de Sangue e Hemoderivados no estado Os serviços de hemoterapia do RN estão
(BRASIL, 2009; BRASIL, 2013), de acordo com o enquadrados e classificados conforme deter-
Sistema Nacional de Sangue e Hemoderivados mina a RDC nº Nº 151/2001 (Figura 2). A He-
(SINASAN) e o Plano Nacional de Sangue e He- morrede se caracteriza por possuir serviços
moderivados (PLANASHE), em articulação com localizados em diferentes regiões de saúde
as vigilâncias sanitária e epidemiológica (BRA- do estado, sendo composta por 01 hemocen-
SIL, 2001a). tro coordenador; 02 hemocentros regionais;
De acordo com as condições de vida e 02 unidades de coleta e transfusão; 02 uni-
ações de saúde, no estado do RN há um pro- dades de coleta fixa e 02 móveis, além de 10
cesso de envelhecimento da população, carac- agências transfusionais. Conta ainda com 01
terizado pelo aumento da expectativa de vida, núcleo de hemoterapia, de natureza privada,
redução da fecundidade e queda da mortalida- localizado em Natal (RN).

HR de Mossoró
01 UC Móvel Tibau

Grossos

HC Hemonorte
Areia
Branca

AT Apodi
Baraúna Porto do
Mangue S. Bento
Macau Guamaré Galinhos Caiçara do Pedra
S. Miguel
Norte Grande de Gostoso
Mossoró Serra do Mel do
Norte Touros
Carnaubais
Pendências Parazinho
Alto do Jandaíra
Rodrigues Rio
Gov. Dix-Sept Rosado do Fogo

06 AT
Afonso Bezerra Pureza Maxaranguape
Assú João
UCT de Pau dos Ferros
Pedra
Felipe
Guerra
Ipanguaçu Pedro Avelino Preta Câmara Poço
Upanema Jardim Branco Ceará Mirim
de Taipu
Apodi Angicos
Itajá Angicos Bento Fernandes Extremoz
Lajes Caiçara
Espírito Santo Fernando Pedroza Ielmo
Severiano Caraúbas do rio do

02 UCs Fixas
Riachuelo S. Gonçalo
Melo do Oeste Vento Sta. Marinho do Amarante
São Rafael
Rodolfo Itaú
Fernandes Riacho
Campo Grande Ruy
Barbosa
Maria NATAL
Triunfo S. Pedro Macaíba Parnamirim

01 UC Móvel
Tabuleiro da Cruz Santana do Matos
Potiguar S. Paulo
S. Fco.
Grande Olho d’Água Bodó São Tomé Barcelona do Potengi
do Oeste Portalegre
Viçosa Umarizal dos
Lagoa Bom
S. José
Borges Janduís Jucurutu Cerro Corá de Velhos Vera Cruz de
Fco. Sen. Elóy Jesus Nísia
Dr. Dantas Martins
Rafael Patu Messias Sítio
de Souza Mipibu Floresta
Mte.
Godeiro Florânia Serra
Severiano
Encanto
Pau dos Serrinha Lucrécia Targino
Ten. Lau-
Lagoa Nova Lajes Novo Caiada Lagoa Alegre
Ferros Almino Sen. George
dos rentino Pintadas Boa Salgada Avelino
São Frutuoso Afonso Tangará Lagoa
Água Pintos Cruz Saúde Arês
Santa
Rafael Gomes São Tibau
Miguel Nova de Pedras
Cel. João Riacho deFernandes Antônio Martins Vicente Currais Novos Campo Serrinha
Brejinho
Goianinha
do Sul

Venha
Pessoa Santana Marcelino Pilões João
Dias Jardim
Redondo Cruz S. José do Passagem Jundiá Vila
José da Vieira São Sto. Esp.
Flor
Ver Luís Penha de Cel. S. Bento Campestre Lagoa
Piranhas Fernando Cruzeta Ezequiel do Antônio Várzea Santo Canguaretama
Gomes Major Alexandria Serra d’Anna

AT Parnamirim
Sales Ten. Acari Jaçanã Trairi Mte. de Passa Baía
Paraná Ananias Timbaúba Japi das S. Bento e Fica Nova Cruz Pedro Formosa
dos São José Gameleiras Velho
Batistas
Caicó do Seridó
Carnaúba Montanhas
Jardim do Seridó dos Dantas
Serra Negra
do Norte Ouro
São João Parelhas

AT Santo Antônio
Branco
do Sabugi Santana
do Seridó

UCT de Currais Novos


Ipueira

Equador

AT Santa Cruz
HR de Caicó
1ª Região 3ª Região 5ª Região 7ª Região
2ª Região 4ª Região 6ª Região 8ª Região

Natal: HC, UC (02) e AT (06 capital) HR: Mossoró e Caicó


AT: Parnamirim, Santa Cruz, Santo Antônio e Apodi UCT: Currais Novos e Pau dos Ferros
Figura 2. Localização geográfica dos Serviços de Hemoterapia do RN por regiões de saúde.
(Fonte: Plano Diretor da Política de Sangue do RN – 2015).
168

Assistência hematológica e hemoterápica a possibilidade de apresentar uma proposta


de implementação efetiva do PEQH/RN, comi-
A hemoterapia participa de ações de saú- nadas à administração pública que é exercida
de, no qual é responsável pela transfusão do pelo hemocentro Dalton Cunha, referência nas
sangue, seus componentes e derivados (CA- áreas de hemoterapia e hematologia no esta-
MARGO et. al., 2007; COVAS & JÚNIOR, 2007). do. Em continuidade, essa avaliação apresen-
tou ainda características de pesquisa de cam-
A hematologia planeja o tratamento de pa-
po, além de bibliográfica e documental.
cientes, estudando os distúrbios de coagula-
ção, os quais são classificadas em três grandes Previamente à pesquisa de campo foi rea-
grupos: anemias (hemolíticas, aplásticas e me- lizada uma revisão bibliográfica por meio de
galoblásticas); alterações da coagulação (púr- literatura sobre a Política Nacional de San-
puras, hemofilias, doença de Von Willebrand gue e Hemoderivados do Ministério da Saúde,
e outras alterações da coagulação) e doenças com leitura de documentos advindos de uma
proliferativas e infiltrativas (leucemia agudas reunião técnica ocorrida em Brasília a res-
e crônicas, linfomas, mielodisplasias, mieloma peito do Programa Estadual de Qualificação
múltiplo, síndromes mieloproliferativas, Doen- da Hemorrede (PEQH), além de outras fontes
ça de Gaucher e Doença de Niemann-Pick). primárias ligadas ao tema, em especial, as di-
retrizes do Programa Nacional de Qualificação
Para o desenvolvimento dessas ações de
da Hemorrede (PNQH), o arcabouço legal que
saúde; o Hemonorte dispõe de um ambulató-
ampara as competências médicas e técnico-
rio, pronto atendimento, hospital-dia, além de
administrativas relacionadas ao Regulamento
serviço odontológico. A área de apoio labora-
Técnico para Procedimentos Hemoterápicos e
torial é especializada em exames diagnósticos
ainda às Boas Práticas do Ciclo do Sangue.
voltados às hemopatias, além de realizar exa-
mes rotineiros para o adequado acompanha- A partir daí se iniciou a estadualização do
mento clínico. programa, com a elaboração de um projeto de
qualificação para a hemorrede do RN. A pes-
Resumindo, o Hemonorte garante a Política
quisa de campo se deu por meio de visitas da
de Sangue e Hemoderivados, contidas na RDC
nº 151/2001, aprovando os seguintes níveis de equipe multiprofissional às agências transfu-
complexidade dos serviços: hemocentro coor- sionais, localizadas em hospitais de referência
denador (referência técnica relacionado ao ciclo da capital, em dias já programados e com todas
do sangue; centro de ensino e pesquisa e inte- as condutas pertinentes já realizadas previa-
gração da rede estadual na garantia do aporte mente ao início das mesmas.
hemoterápico); hemocentro regional (serviços A equipe de auditoria foi essencialmente
hemoterápicos como apoio ao HC) e agência formada por farmacêuticos, contando com a
transfusional (ações relacionadas ao armazena- participação de enfermeiro, de biólogo, odon-
mento de hemocomponentes, testes de compa- tólogo e técnico assistente em saúde para
tibilidade e transfusão de sangue, etc). composição de equipe de avaliadores, quando
necessário.
RELATO DA EXPERIÊNCIA Os dados obtidos com a aplicação do ques-
tionário avaliativo constituíram elementos im-
A presente iniciativa teve por objetivo prin- prescindíveis à busca de uma proposição de
cipal implantar e implementar o Programa Es- melhorias e alternativas às agências transfu-
tadual de Qualificação da Hemorrede do Esta- sionais visitadas. Pelo farto conjunto de infor-
do do Rio Grande do Norte PEQH/RN, visando a mações obtidas e do quantitativo de registros
qualificação técnica e gerencial dos serviços in- avaliados, uma vez que a análise documental
tegrantes da Hemorrede/RN, com foco no for- verificou desde a estrutura física do serviço,
talecimento da gestão da qualidade nos proce- seu fluxo de trabalho, os recursos humanos
dimentos técnicos executados, como também existentes, a supervisão dos procedimentos, os
na busca contínua pelo aperfeiçoamento dos equipamentos existentes, as técnicas de traba-
recursos humanos. lho, entre tantas outras variáveis analisadas,
Esta experiência pode ser qualificada como na perspectiva de se construir efetivamente
aplicada, porque teve como finalidade prática uma política de qualificação da hemorrede/
169
RN por meio de um plano de ação voltado à hemocomponentes e, por conseguinte, a segu-
adequação das atividades não conformes. rança transfusional. O instrumento avaliativo
A publicação do Decreto-Lei N° 3.990, de 30 (roteiro de visita) idealizado para a verificação
de outubro de 2001, regulamentou o art. 26 da Lei dos serviços de hemoterapia (AT) foi adaptado
Nº 10.205, de 21 de março de 2001, especificando de roteiros utilizados pelo PNQH e Agência Na-
com mais clareza o papel dos estados e municí- cional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os quais
pios. Em seu artigo 5°, o Decreto-Lei define que se baseiam em normas técnicas vigentes, prin-
cipalmente naquelas em conformidade com
os estados são os responsáveis pela gestão e
os requisitos contidos na Portaria Nº 158/2016
coordenação da hemoterapia e elaboração de
que “redefine o regulamento técnico de proce-
um plano diretor de sangue, componentes e he-
dimentos hemoterápicos”, na RDC n° 34/2014,
moderivados e também pelo acompanhamen-
que “dispõe sobre as Boas Práticas no Ciclo do
to e avaliação das metas e ações do Sistema
Sangue” e na RDC nº 63/2011, que “dispõe sobre
Nacional de Sangue (SINASAN), em articulação
os requisitos de funcionamento para os servi-
com o Ministério da Saúde.
ços de saúde”.
Nesse contexto, observa-se que a implanta-
Considerando a adequabilidade ao obje-
ção do PEQH/RN era uma necessidade premen-
to de estudo, objetivou-se provocar nos entre-
te, visto que os serviços encontravam-se sem
vistados a expressão de suas opiniões e ideias
avaliação e monitoramento efetivos por parte
para que pudessem ser melhor analisadas por
do Hemocentro Coordenador e que tal iniciati-
meio da técnica de análise de conteúdo, guiada
va possibilitará a que todos os serviços de he-
pelos objetivos da pesquisa. A partir da análise
moterapia da hemorrede do RN busquem conti- do conteúdo das entrevistas e dos documentos
nuamente os conceitos e práticas da gestão da disponíveis elaborou-se um relatório preliminar
qualidade, garantindo o uso racional de sangue que foi submetido a um consenso com o grupo
e a segurança transfusional, além da oferta de de avaliadores para a validação de seu conteúdo.
produtos e serviços pautados na qualidade.
Neste estudo, adotou-se uma técnica sim-
METODOLOGIA plificada, com o envio do relatório técnico por
correio eletrônico para a apreciação. As ques-
Este estudo é um processo de diagnósti- tões se referiram (I) à adequada observação
co preliminar e sistemático de um programa proposta para definição do problema e causas;
recém implantado (PEQH/RN), em seu campo (II) à pertinência de cada atividade operacional
teórico e prático, como forma de demonstrar se do serviço para o respectivo alcance dos obje-
tivos do PEQH; (III) à apropriada atividade do
existem necessidades de ajustes nas agências
serviço para os objetivos e finalidade da inter-
transfusionais integrantes da hemorrede/RN.
venção. Adicionalmente às perguntas objeti-
A fim de realizar a avaliação das ativida- vas, solicitou-se aos participantes que sugeris-
des hemoterápicas nos processos técnicos e sem modificações das atividades propostas no
gerenciais dos serviços de hemoterapia, foram modelo, para seu melhor entendimento.
realizadas visitas “in loco”, por meio de um cro-
Foram realizadas duas visitas. Na primeira
nograma de visitas previamente construído, no
visita, apresentou-se a configuração das ques-
qual foram elaborados o planejamento logís-
tões para avaliação e posteriormente suges-
tico de todas as fases do projeto a ser execu-
tões obedecendo às legislações pertinentes.
tado, norteando as ações do PEQH/RN, com o
Na revisita, constaram as questões que susci-
intuito de verificar os processos de trabalho
taram sugestões de modificação por parte das
considerados críticos ou não conformes e, as-
unidades.
sim, acompanhar esses serviços nos planos de
melhorias exigidos (COVAS & JÚNIOR, 2007; FER- Descrição dos impactos gerados com esta
REIRA & GOULART, 2011). experiência
A coleta de dados foi realizada por meio
de entrevistas semiestruturadas, análise do- Os dados obtidos neste estudo evidenciam
cumental e instrumento para avaliação visan- elementos imprescindíveis à busca de uma pro-
do à identificação de não conformidades que posição de melhorias e alternativas à adminis-
pudessem vir a comprometer a qualidade dos tração técnica e gerencial da Hemorrede/RN.
170
Entende-se que as principais contribuições tados para a área administrativa e técnica.
científicas da proposta podem ser sistematiza- Como ponto colaborador para a qualificação,
das quanto à inserção de novos indicadores de exemplifica-se a sugestão de métodos para
cunho relacional, baseados na análise estrutu- a construção do processo de melhoria con-
ral e dinâmica da hemorrede, onde se permite tínua das agências transfusionais (AT) visi-
ampliar o diagnóstico situacional e fornecer tadas, buscando apoiá-los na construção e
suporte para a garantia de qualidade de pro- elaboração dos planos de ação, com conse-
dutos e da segurança transfusional, na produ- quente monitoramento da equipe do PEQH/
ção de novos instrumentos de análise e toma- RN em relação às medidas corretivas que es-
da de decisão no campo da avaliação científica. tarão sendo colocadas em prática, visando à
A análise identificou as áreas críticas e adequação das atividades não conformes e
estratégicas a partir da realização de visitas parcialmente conformes apontadas nos rela-
e aplicação de instrumentos avaliativos vol- tórios de visita (tabela 1).

Tabela 1 - Diagnóstico situacional da avaliação das agências transfusionais 1 e 2

Atividades do Roteiro de Visita Diagnóstico situacional Providências


Eliminar as goteiras e proceder com a ma-
Estrutura Física Teto com presença de goteiras e mofo. nutenção de limpeza e pintura no teto da
AT.
Readequar escala perante o setor de di-
Escala de trabalho de profissionais de nível mensionamento dos recursos humanos da
superior incompleta em alguns dias para co- SESAP/RN.
bertura nas 24 horas de atividades.
Recursos Humanos
A maioria dos servidores não possui treina- Promover treinamento para todos os servi-
mento formal na área de hemoterapia. dores das AT na área de hemoterapia (tera-
pia transfusional).
Temperatura ambiente inadequada (acima Substituir ou adquirir outro aparelho de ar
de 27° C) para conservação e acondiciona- condicionado que atenda a área física exis-
mento de bolsas de sangue e componentes tente.
sanguíneos, amostras de sangue de recepto-
res e reagentes.
Dispor de serviços de manutenção preventi-
Inexistência de manutenção preventiva, cali- va, calibração e aferição dos equipamentos
Condições de Armazenamento de
bração e aferição de equipamentos. existentes na AT.
hemocomponentes
Temperatura de equipamentos acima dos
limites permitidos (refrigeradores e conge- Adequar o controle de temperatura dos am-
ladores), ausência de alarmes sonoros e vi- bientes e equipamentos dentro dos limites
suais nos equipamentos da cadeia de frio, estabelecidos, em intervalos regulares e
falhas nos registros de temperatura dos com registro em mapas de controle devida-
equipamentos (espaços em branco). mente preenchidos e gerenciados.
Equipamentos de Proteção Individual (EPI)
insuficientes às atividades que executam, Disponibilizar equipamentos de proteção
Equipamentos de Proteção apesar de possuírem manual de biossegu- individual suficiente, de acordo com o
Individual rança do estabelecimento de saúde. estabelecido pelo mapeamento de riscos, à
Presença de fortes ruídos provocados por execução de todas as atividades.
equipamentos em uso na rotina do serviço.
Uma das AT não está inserida no PGRSS do
Plano de Gerenciamento de hospital, mas está contemplada no recolhi-
Resíduos de Serviços de Saúde - mento da empresa terceirizada para trans- Inserir a AT no PGRSS do hospital.
PGRSS porte, tratamento e disposição final de seus
resíduos infectantes e perfurocortantes.
Falta de controle de qualidade dos reagen-
Implantar o controle de qualidade dos rea-
tes em uso, lote a lote;
gentes, lote a lote, à medida que tais insu-
mos sejam estocados no Serviço.
Controle de Qualidade dos
Reagentes A AT não dispõe de reagentes de hemácias A
e B fenotipadas para a prova reversa, utili-
Prover a AT de reagentes de células huma-
zando reagentes produzidos no serviço sem
nas comerciais para a prova reversa.
autorização da ANVISA.

Continua>>>>>
171

Atividades do Roteiro de Visita Diagnóstico situacional Providências


Constituir o comitê transfusional de forma
compatível com as necessidades e comple-
xidades de cada AT.
Os hospitais onde as AT estão instaladas não
Comitê Transfusional
possuem Comitê Transfusional.
Instituir o uso racional do sangue, a ativida-
de educacional e a elaboração de protoco-
los de atendimento da rotina hemoterápica.
Realizar treinamento de pessoal para as
A equipe de enfermagem não realiza o atividades de hemovigilância, incluindo
adequado acompanhamento da transfusão acompanhamento da equipe e registros de
sanguínea e raramente faz o registro das intercorrências (reações transfusionais) no
suspeitas de reações transfusionais no prontuário do paciente, além de comunica-
prontuário do paciente, bem como não co- ção da ocorrência suspeita de reação trans-
Hemovigilância munica tal ocorrência a AT. fusional à AT.

Cadastrar os hospitais no sistema Notivisa.


O hospital não é cadastrado no sistema No-
tivisa apesar de fazer parte da rede de ur- Participar do processo de retrovigilância
gência e emergência do estado. desencadeado pelo serviço de hemoterapia
quando necessário.
Observou-se funcionário (motorista) dentro
da AT, realizando atividades de manuseio
de bolsas de hemocomponentes, o que se
Reforçar treinamento sobre transporte de
constitui em procedimentos impróprios e
sangue e componentes sanguíneos para
Transporte de Hemocomponentes inadequados à sua função e competência.
todos os motoristas do Hemocentro Coor-
denador.
Transporte de hemocomponentes para esto-
que na AT realizado por ambulância perten-
cente ao hospital.
Implantar o sistema de gestão da qualidade
nas AT, por meio da realização e monito-
Controle de Qualidade Interno (CQI) das téc- ramento dos procedimentos considerados
nicas laboratoriais empregadas não é reali- críticos, incluindo processos referentes à
zado. elaboração e revisão de POPs, qualificação
e/ou calibração de equipamentos e instru-
mentos, CQI, entre outros.
Alguns manuais de procedimentos operacio-
nais (POP) inexistem para as diversas ativi- Elaborar os POPs contemplando os critérios
dades executadas. para reintegração de hemocomponentes ao
estoque, controle de qualidade dos reagen-
Política da Qualidade
As solicitações sanguíneas advindas de tes em uso, lote a lote, CQI, transfusões em
áreas críticas como setores de urgência e caráter de extrema urgência, entre outros,
emergência e centro cirúrgico não seguem de acordo com legislações vigentes.
as recomendações da legislação vigente.

A AT não possui protocolo específico para Instituir rotina escrita para dispensação de
autorização do atendimento à solicitação hemocomponentes em situações de extre-
de extrema urgência, principalmente nas ma urgência, incluindo a autorização por
liberações de sangue para o centro cirúrgico, escrito do médico solicitante nas requisi-
não seguindo à risca as recomendações da ções sanguíneas para liberação de sangue
legislação vigente. sem prova de compatibilidade.

Para um processo de hemoterapia se ade- a -20ºC), outros como as hemácias variam


quar e oferecer um serviço de qualidade, se- de 35 a 45 dias (armazenados entre 2oC a
tores e procedimentos devem passar por um 6oC), dependendo da solução anticoagulante
processo de qualificação, o qual abrange es- utilizada, e outros como as plaquetas somente
trutura física e recursos humanos. Por outro 5 dias (armazenadas entre 20oC a 24oC). Este
lado, investimentos em estrutura física são último é considerado, nas agências transfu-
fundamentais para aumentar a segurança dos sionais, o ponto mais frágil para a manutenção
procedimentos a serem realizados na unidade. dos estoques (BRASIL, 2016). Nos hemocompo-
Cada hemocomponente tem um perío- nentes nos quais o tempo de armazenamento
do de armazenamento e temperatura de es- é fator crítico para a qualidade destes, será
tocagens específicas. Alguns como o plasma considerada a hora de coleta na determinação
são viáveis em até 12 meses (armazenados do prazo de vencimento.
172
Por outro lado, de acordo com as medidas ciona-se um aumento da segurança durante
preventivas contra infecções por patógenos a transfusão com a diminuição das reações
transmitidos por sangue, recomenda-se a ma- transfusionais.
nipulação cuidadosa de objetos perfuro cor- Além disso, a hemovigilância objetiva me-
tantes por meio de ações como o uso de equi- lhorar as práticas hemoterápicas da institui-
pamentos de proteção individual (EPI). ção, aumentar a segurança e reduzir os erros
A partir desses dados, ressaltamos a obri- transfusionais, estreitar a relação do serviço de
gatoriedade da elaboração de um Plano de Ge- hemoterapia e os diversos serviços do hospital
renciamento de Resíduos de Serviços de Saúde e criar protocolos de utilização de hemocom-
(PGRSS). A questão da segregação do PGRSS ponentes, promovendo educação e atualização
tem provocado preocupação aos órgãos sani- em hemoterapia. (BRASIL, 2010c).
tários devido ao gerenciamento e ao manejo As diretrizes técnicas regulamentadas pela
inadequados que ameaçam a saúde pública. Portaria nº 158/2016 e RDC nº 34/2014, entre os
Nessa perspectiva, a AT necessita rever os con- quais está inserido o transporte de hemocompo-
ceitos dentro dos parâmetros vigentes buscan- nentes, ressalta que o descumprimento das nor-
do a eliminação e prevenção de riscos à saúde mas estabelecidas constitui infração sanitária, o
e ao meio ambiente. que implica fragilidade na segurança do paciente.
Somado ao exposto, acrescenta-se que a Enfim, no contexto da saúde pública, a im-
realização do controle de qualidade dos rea- plantação de um Sistema de Gestão da Quali-
gentes é importante para avaliar se houve de- dade resulta de decisão que busca aprimorar
terioração durante a utilização e a estocagem sua capacidade de assegurar maiores bene-
de um hemocomponente. fícios de saúde com o menor nível de risco, o
Acrescenta-se que o conhecimento das qual afeta a qualidade e a segurança dos he-
variáveis que podem levar aos efeitos inde- mocomponentes inerentes à prática transfu-
sejáveis da transfusão e o seu controle per- sional. Além disso, as características indivi-
mitem gerenciamento de risco, com minimi- duais dos pacientes e os tipos de tratamento
zação das reações adversas. A implantação e a que são submetidos, são fontes de riscos
bom funcionamento dos comitês transfusio- potenciais que requerem constante vigilância
nais deve ser uma prioridade onde propor- (SCHMUNIS, 2005).

100%
Percentual de Conformidades

90%
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Co

Conforme Parcial Conforme Não Conforme Não se aplica


Gráfico 1 - Dados referentes à avaliação dos requisitos na AT N° 1.
173
A situação diagnosticada na primeira AT foi Dentro do direcionamento dado à pro-
iniciada com o levantamento dos problemas posta do PEQH, avaliou-se inicialmente que a
que resultaram num perfil capaz de referen- inexistência de um comitê transfusional inter-
dar-se para a busca de melhorias, potenciali- feriu na medicina praticada atualmente, onde
dades, desafios e possibilidades de crescimen- não se permite que condutas terapêuticas
to da AT (gráfico 1). sejam tomadas sem evidências que as justifi-
quem; o que pode culminar na redução do nú-
A estrutura física e instalações foram o
mero de transfusões, além de atingir um nível
quesito com maior representatividade den-
de conformidade nas prescrições médicas. É
tro das conformidades determinadas pela competência do comitê o monitoramento das
legislação; enquanto a garantia da qualida- atividades na instituição de assistência à saú-
de e o comitê transfusional foram áreas que de visando o uso racional do sangue, atividade
necessitaram de readequação dos processos educacional, hemovigilância e a elaboração de
e condutas, além dos procedimentos técnicos protocolos de atendimento da rotina hemote-
relacionados à área de imunohematologia do rápica.
receptor e transfusão.
Por outro lado, na área de imunologia e de
Como a definição da garantia da qualidade transfusão a AT 1 apresentou percentuais re-
baseia-se em um sistema que assegura consis- presentativos, principalmente no que tange à
tência e aperfeiçoamento de práticas de traba- determinação das diretrizes que relatam que
lho, incluindo os produtos e serviços, deve-se toda transfusão traz em si um risco ao receptor,
levar em conta os procedimentos a serem ado- seja imediato ou tardio, devendo ser indicada
tados. de forma criteriosa.

100%
Percentual de Conformidades

90%
80%
70%
60%
50%
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Conforme Parcial Conforme Não Conforme Não se aplica


Gráfico 2 - Dados referentes à avaliação dos requisitos na AT N° 2.

A segunda agência transfusional apre- enquanto o comitê transfusional necessita de


sentou um perfil (gráfico 1) diferenciado, ten- readequação de condutas.
do as informações gerais, área de imunologia, De uma forma geral a AT 2 apresentou
transfusão e garantia da qualidade como que- características mais uniformes, necessitan-
sitos de maior representatividade dentro das do de um número menor de adequações às
conformidades determinadas pela legislação; normativas vigentes, provavelmente forne-
174
cendo um serviço de hemoterapia superior mentos em uso, climatização por meio da aqui-
à AT 1. sição de um aparelho de ar condicionado que
Ressaltamos que todas as observações re- atendeu a área física existente, permitindo o
presentam um objetivo informativo para cola- controle de temperatura dos ambientes e com
borar com a melhoria dos serviços e produtos registro em mapas de controle devidamente
da Hemorrede. Com esta conduta, o corpo clí- preenchidos e gerenciados.
nico da instituição poderá usufruir de proce- Por outro lado, a agência implantou o sis-
dimentos hemoterápicos mais adequados as tema de gestão da qualidade nas AT, por meio
suas necessidades, proporcionando aos seus da realização e monitoramento dos procedi-
pacientes um tratamento com maior segurança mentos considerados críticos, incluindo pro-
transfusional. cessos referentes à elaboração e revisão de
As ações do PEQH foram desenvolvidas em POP, qualificação e/ou calibração de equipa-
cada agência transfusional visitada com base mentos e instrumentos, CQI, entre outros. Os
na política de fortalecimento da qualidade no POP contemplando os critérios para reintegra-
âmbito do Sistema Único de Saúde, sendo es- ção de hemocomponentes ao estoque, contro-
truturado ao longo desse período no intuito le de qualidade dos reagentes em uso lote a
de atender, com segurança, às necessidades lote, CQI, transfusões em caráter de extrema
transfusionais da população potiguar. urgência, entre outros, de acordo com legis-
lações vigentes estão sendo elaborados pela
As visitas do PEQH visaram não somente
equipe de profissionais de nível superior que
obter um diagnóstico situacional sobre o fun-
atua nas agências.
cionamento dos serviços de hemoterapia da
hemorrede, mas também oportunizaram uma Considera-se, a partir de agora, que a im-
rica troca de experiências e saberes entre a plementação das visitas de auditoria nas AT
equipe de auditores e técnicos desses servi- pelo PEQH será uma ferramenta decisiva para
ços na promoção e proteção à saúde dos re- um contínuo avanço rumo à melhoria nos pro-
ceptores. Por meio desta atividade, houve um cedimentos realizados, pela oportunidade e
contato direto entre as partes, o que facilitou possibilidade de se incutir a cultura da política
momentos de discussão técnica voltados ao da qualidade nos processos de trabalho.
gerenciamento da qualidade nos processos Mesmo que ainda tenhamos diversas não
ligados à hemoterapia, cujos aspectos são de conformidades parcialmente corrigidas ou até
extrema relevância. Tais discussões trouxeram mesmo sem correções, a visão da gestão da
às equipes auditadas um novo olhar sobre suas qualidade foi bem aceita e incorporada pelos
competências e para a necessidade de adequa- funcionários das AT visitadas.
ções à legislação vigente.
Nessa direção, o presente estudo preten-
Analisando-se as não conformidades refe- deu aferir a viabilidade do PEQH como ferra-
ridas na tabela 1, a equipe constatou o ambien- menta de mudança, por meio da identificação
te da agência identificado e/ou sinalizado de e percepção de seus gestores e do grupo de
acordo com as diretrizes de biossegurança e as assessoramento técnico, acerca dessa implan-
normas estabelecidas para a saúde do traba- tação e de sua contribuição para a melhoria na
lhador. qualidade do serviço.
O mapeamento da força de trabalho per- Essa análise pode contribuir para uma
mitiu a readequação da equipe por meio da in- compreensão ampliada dos objetivos des-
corporação de servidoras com experiência na se programa, das suas lacunas e limitações
área de hematologia e hemoterapia. Assim, os enquanto política pública fomentadora do
serviços prestados aos pacientes nas agências desenvolvimento gerencial e técnico dos he-
transfusionais foram redimensionados, haven- mocentros, visando o alcance da segurança
do inclusive um agendamento futuro para a transfusional no estado do RN.
atualização dos servidores das AT em terapia
transfusional. Próximos passos, desafios e necessidades
Em relação à área específica e condições
de trabalho adequadas, foi observada a elimi- Espera-se que nos próximos anos o PEQH/
nação do ruído provocado por alguns equipa- RN possa contribuir de forma mais efetiva na
175
assistência hemoterápica e hematológica qua- que outras ações igualmente importantes se-
lificada aos usuários, sejam eles doadores e re- jam efetivadas no atendimento e na seguran-
ceptores, estando integradas às demais ações ça transfusional.
de atenção à saúde desenvolvida no RN, en- A experiência foi muito valiosa, tanto para
tre as quais aquelas direcionadas ao Sistema os profissionais das unidades, quanto para
Único de Saúde. Neste sentido, é importante a os avaliadores. Pôde-se perceber que as visi-
contribuição do programa para o acompanha-
tas realizadas, por não terem caráter punitivo,
mento do crescimento e desenvolvimento da
trouxeram os profissionais e servidores das re-
hemorrede, dando suporte às orientações so-
feridas agências transfusionais para mais perto
bre todos os cuidados necessários, bem como
da equipe de avaliadores, numa parceria sau-
reordenação e aprimoramento das ações con-
dável, visando tão somente a oportunidade de
forme as reais necessidades, realizando:
se conseguir com os gestores dessas unidades
• capacitações dos técnicos e profissio- as melhorias necessárias para o avanço em
nais de nível superior; busca da qualificação.
• troca de experiências e aprimoramento Este momento propiciou um olhar crítico
da tecnologia da informação com im- sobre a realidade da saúde nas agências trans-
plantação de sistemas de informação; fusionais visitadas até a presente data, sendo,
• pactuação entre gestores e prestadores portanto, um marco importante e um caminho
de serviço de saúde (acompanhamen- para melhorar a saúde pública no estado. En-
to/monitoramento); questões organi- tretanto, evidenciou-se que ainda há muito a
zacionais, políticas e financeiras ainda se fazer, principalmente na inserção do farma-
esperam por soluções; cêutico nas ações voltadas para a segurança do
• estruturação dos pontos de distribuição paciente e uso racional do sangue.
de hemocomponentes, fornecendo-lhes É possível concluir que o diagnóstico em
os meios necessários para o recebimen- cada serviço de hemoterapia é condição neces-
to, armazenamento e dispensação ade- sária para uma avaliação dos efeitos de médio
quados dos insumos, garantindo assim e longo prazo da implementação do PEQH no
maior segurança e qualidade necessá- estado do Rio Grande do Norte.
ria para a segurança da transfusão;
• Integração dos pedidos de abasteci- REFERÊNCIAS
mento das agências transfusionais por
meio de sistema informatizado, promo- BRASIL. ANVISA. Decreto-Lei n° 3.990, de 30 de
vendo um melhor controle de estoque outubro de 2001. Ementa: Regulamenta o art.
e criação de um banco de dados mais 26 da Lei nº 10.205, de 21 de março de 2001, que
eficiente; dispõe sobre a coleta, processamento, estoca-
gem, distribuição e aplicação do sangue, seus
• Educação permanente e contínua de to-
componentes e derivados, estabelece o orde-
dos os profissionais envolvidos.
namento institucional indispensável à execu-
ção adequada dessas atividades. Diário Oficial
CONCLUSÃO
da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 jun.
2014. Seção 1. p. 01-05.
A reestruturação dos serviços de hemo-
terapia avaliados até a presente data causou BRASIL. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia
certo impacto na cultura organizacional da e Estatística. Rio Grande do Norte. Informações
entidade, pela oportunidade de se discutir Estatísticas 2010a. Disponível em: http://www.
abertamente com os responsáveis pelos ser- cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&codu-
viços quais os principais pontos críticos de f=24&search=rio-grande-do-norte. Acesso em
controle observados no decorrer da visita. 10 de abril de 2016.
Por meio da melhoria das atividades reali- BRASIL. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia
zadas nos serviços de hemoterapia, as ações e Estatística. Rio Grande do Norte. Informações
estratégicas tendem a melhorar a gestão e o Estatísticas 2010b. “Contas Regionais do Brasil
conhecimento de informações. Normas e di- 2010”. IBGE Cidades. Acesso em 10 de abril de
retrizes do serviço contribuirão também para 2016.
176
BRASIL. Ministério da Saúde. ANVISA. RDC n° 34, BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
de 11 de junho de 2014. Ementa: Dispõe sobre Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
as Boas Práticas no Ciclo do Sangue. Diário Ofi- Especializada. Guia para o uso de hemocom-
cial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 ponentes / Ministério da Saúde, Secretaria de
jun. 2014. Seção 1. p. 50-64. Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
BRASIL. Ministério da Saúde. ANVISA. RDC nº Especializada. – Brasília: Editora do Ministério
63, de 25 de novembro de 2011. Ementa: Dispõe da Saúde, 2010c. 140 p.: il. – (Série A. Normas e
sobre os Requisitos de Boas Práticas de Fun- Manuais Técnicos).
cionamento para os Serviços de Saúde. Diário CAMARGO, J.F.R et al. A educação continuada
Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, em enfermagem norteando a prática em hemo-
28 nov. 2011. Seção 1. p. 44-46. terapia: uma busca constante pela qualidade.
BRASIL. Ministério da Saúde. Lei nº 10.205, de Revista Prática Hospitalar, ano IX, n. 51, maio-
21 de março de 2001. Ementa: Regulamenta o -junho de 2007, p 125-131.
§4º do art. 199 da Constituição Federal, relativo COVAS, D.T.; JÚNIOR, D.M.L. Hemoterapia: Funda-
à coleta, processamento, estocagem, distribui- mentos e Prática. São Paulo: Editora Atheneu,
ção e aplicação do sangue, seus componentes 2007.
e derivados, estabelece o ordenamento insti- FERREIRA, J.C.; GOULART, S. Perfil de competên-
tucional indispensável à execução adequada cias dos avaliadores da Hemorrede: Uma con-
dessas atividades, e dá outras providências. tribuição para o aperfeiçoamento da gestão do
Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasí- Programa Nacional de Qualificação da Hemor-
lia, DF, 22 mar. 2001. Seção 1. p. 01-03. rede – PNQH, IV Congresso CONSAD de Gestão
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 158, Pública. Brasília – DF, 2011.
de 04 de fevereiro de 2016. Ementa: Redefine o SCHMUNIS, G.A.; Cruz, J.R. Safety of the blood
regulamento técnico de procedimentos hemo- supply in Latin America. Clin Microbiol Ver.
terápicos. Diário Oficial da União, Poder Execu- 2005;18(1):12-29.
tivo, Brasília, DF, 05 fev. 2016. Seção 1. p. 37-100.
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de Ges- INSTITUIÇÃO
tão 2008. Coordenação da Política Nacional de Hemorrede do Rio Grande do Norte
Sangue e Hemoderivados – CPNSH, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de AUTORES
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Es- Jucimary Vieira dos Santos
pecializada. Relatório de gestão 2012 [da] Coor- Geraldo Barroso Cavalcante Junior
denação-Geral de Sangue e Hemoderivados/ Tereza Amélia Maia Saraiva 
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
Saúde, Departamento de Atenção Especializa- CONTATOS
da. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 242 p.
jucimaryvieira@yahoo.com.br
BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada Nº gbcjunior@hotmail.com
151, de 21 de agosto de 2001. Ministério da Saú- terezasaraiva@hotmail.com
de. ANVISA. Ementa: Aprova o Regulamento
Técnico sobre Níveis de Complexidade dos Ser-
viços de Hemoterapia. Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 22 ago. 2001a. Se-
ção 1. p. 29-31.
177

Sergipe

Cuidados farmacêuticos
em farmácias populares do estado de
Sergipe: resultados alcançados
CARACTERIZAÇÃO as farmácias estão sediadas reside na área
urbana (76,7%).
O estado de Sergipe é subdividido em
microrregiões. As farmácias populares de Perfil epidemiológico
Estância, Propriá, Nossa Senhora da Glória
e Tobias Barreto abrangem as regiões Sul, Em análises realizadas entre os anos de
Baixo São Francisco, Alto Sertão e Centro-Sul 2007 e 2011, no estado de Sergipe o coeficiente
sergipanos, respectivamente. Juntas, as far- de mortalidade geral tem se mantido estável,
mácias atendem uma área de 13.498,67 km² variando de 4,8 a 5,4 por 1.000 habitantes. Ob-
com uma população de 743.161 habitantes serva-se que o coeficiente tem sido maior na
(IBGE/2010). Entre esses, 50,3% são do sexo população do sexo masculino. Acompanhan-
feminino, 70,8% são alfabetizados. A maior do a evolução da mortalidade em diferentes
parte da população dos municípios onde faixas etárias, mostra-se uma diminuição da
178
proporção de óbitos em menores de um ano, e cio, e à orientação para a prática clínica, objeti-
consequente aumento da expectativa de vida. vando a melhor escolha farmacológica e o uso
Proporcionalmente, as doenças do aparelho racional dos medicamentos.
circulatório representaram o principal grupo O programa Farmácia Popular do Brasil foi
de causas de mortalidade em Sergipe, no pe- implantado com o objetivo de ampliar o acesso
ríodo avaliado. Em seguida vieram as causas da população aos medicamentos. Associado à
externas e neoplasias. Recentemente, o esta- distribuição do medicamento às farmácias ge-
do, assim como os demais estados nordesti- ridas pelo estado de Sergipe, por meio da Fu-
nos, vem sofrendo com o crescente número de nesa, promovem o uso racional de medicamen-
casos de dengue, chikungunya e zika. tos entre a população atendida por meio da
oferta de serviços farmacêuticos. No trabalho
Estruturação da rede de saúde de implantação dos serviços farmacêuticos nas
FPBs foram treinados 12 farmacêuticos, e atual-
Os registros do Cadastro Nacional de Esta- mente as unidades contam com 8 profissionais
belecimentos de Saúde (CNES) mostram que o desenvolvendo os serviços farmacêuticos.
estado de Sergipe possui 2.819 estabelecimen-
tos de saúde, sendo esses: central de regula- RELATO DA EXPERIÊNCIA
ção de serviços de saúde (2); centro de atenção
hemoterápica e ou hematológica (2); Centro de As farmácias populares do Brasil geridas
Atenção Psicossocial – Caps (32); centro de parto pela Funesa são pólos regionais que surgiram
normal (2); centro de saúde/unidade básica de para expandir o acesso da população do estado
saúde (382); clínica especializada/ambulatório de Sergipe aos medicamentos. Têm edificações
especializado (151); consultório isolado (1.572); próprias nos municípios de Estância, Propriá,
cooperativa (15); farmácia de medicamentos e Nossa Senhora da Glória e Tobias Barreto, que
dispensação excepcional e programa Farmácia abrangem as regiões do Baixo São Francisco,
Popular (9). Dessas, 4 Farmácias Populares do Alto Sertão, Centro-Sul e Sul.
Brasil (FPB), geridas pela Fundação Estadual de
Desde o princípio, a gestão teve como foco
Saúde (Funesa), serão o cenário da experiência
a implantação de serviços voltados ao cuidado
relatada neste trabalho.
farmacêutico, com ênfase na promoção da saú-
A rede de saúde de Sergipe também
de, uso correto de medicamentos e melhora da
possui hospital dia (15); hospital especializado
qualidade de vida dos pacientes. No ano de
(8); hospital geral (37); Laboratório Central de
2010, três farmácias foram inauguradas ainda
Saúde Pública - Lacen (1); policlínica (87); posto
sem a estruturação desses serviços.
de saúde (245); pronto atendimento (3); pronto-
-socorro especializado (1); pronto-socorro geral No ano de 2012 uma consultoria foi contra-
(5); secretaria de saúde (76); unidade básica de tada para a capacitação da equipe farmacêuti-
saúde mista com atendimento 24h; internação/ ca e a elaboração de material gráfico persona-
urgência (10); unidade de serviço de apoio de lizado para que houvesse condições de iniciar
diagnose e terapia (153); unidade de vigilância serviços de dispensação de medicamentos do-
em saúde (3); unidade móvel pré-hospitalar - cumentados, aferição de parâmetros clínicos,
urgência/emergência (4); unidade móvel terres- bioquímicos e antropométricos, revisão da far-
tre (4). macoterapia e atenção farmacêutica.
Nesse período, foram definidos os concei-
Assistência farmacêutica tos de cada serviço. A dispensação de medica-
mentos era contabilizada quando o farmacêu-
Em Sergipe, após a reforma sanitária e ge- tico orientava o paciente quanto ao uso correto
rencial do SUS, a assistência farmacêutica pas- do medicamento a ser utilizado e/ou educação
sou a ser pautada por ações de saúde voltadas em saúde. Já a revisão da farmacoterapia era
para uma maior efetividade na gestão de insu- computada nas estatísticas quando o paciente
mos farmacêuticos. As ações visavam à amplia- tinha seus problemas relacionados a medica-
ção do acesso a medicamentos de qualidade, mentos (PRM) resolvidos em até três consultas.
eficazes e seguros, com melhor custo-benefí- Caso contrário, o mesmo era acompanhado na
179

atenção farmacêutica. A aferição de parâme- No ano de 2014, com toda a base definida
tros clínicos, bioquímicos e antropométricos e padronizada, iniciou-se o período de conso-
era ofertada a toda a população como serviços lidação, em que a prática era constante para
auxiliares para o monitoramento da efetivida- o alcance do melhor desempenho de cada
de do uso dos medicamentos e, quando ne- farmacêutico envolvido no programa, além de
cessário, os pacientes eram encaminhados aos os farmacêuticos receberem coaching men-
demais serviços. salmente. A equipe administrativa também foi
envolvida em todo o processo teria papel es-
Em 2013 aconteceu a implementação dos sencial na captação de pacientes para os servi-
serviços farmacêuticos com a busca da ex- ços de aferição de parâmetros clínicos, bioquí-
celência, moldando e padronizando tudo o micos e antropométricos e para a dispensação
que já era ofertado ao paciente de modo que farmacêutica. Com a consolidação dos serviços
um serviço prestado em uma farmácia fosse farmacêuticos, veio a inauguração da quarta
o mais semelhante possível ao de outra uni- unidade de FPB, com farmacêuticas capacita-
dade do grupo. O número de pacientes aten- das pela própria equipe. Ao final desse ano, a
didos cresceu exponencialmente no decorrer equipe se despediu da consultoria e, em 2015,
dos anos. retomou o trabalho, que continua até hoje.

Capacitação da equipe de atendentes e farmacêuticos das Farmácias Populares geridas pela Funesa

FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO DAS FÁRMÁCIAS meira vez que ele está usando o medicamento
POPULARES DE SERGIPE e como este está sendo utilizado, entre outras
questões. O objetivo é sondar a necessidade
O paciente, ao entrar na Farmácia Popu- ou não de o paciente passar pela dispensação
lar em busca de medicamentos, é orientado farmacêutica no final do atendimento.
pelo segurança a retirar uma senha para ser Em caso de medicamentos como antimi-
pré-atendido e adquirir seus medicamentos. crobianos, antifúngicos, antiparasitários ou
Segue para o caixa e para o balcão de entre- com necessidade de preparo para a adminis-
ga de medicamentos. tração, como pós para suspensão e para uso de
No pré-atendimento e na entrega dos me- cremes vaginais, o paciente passa, necessaria-
dicamentos o assistente administrativo res- mente, pela dispensação farmacêutica. Nesses
ponsável pelo setor submete o paciente a um casos, há peculiaridades que precisam ser ex-
questionário padrão para verificar se é a pri- plicadas ao paciente.
180
Caso o atendente identifique que o pa- pela própria equipe, como envelopes colo-
ciente precisa de alguma informação extra ridos, etiquetas adesivas, tabelas de datas
sobre seu medicamento ou sua doença, um e horários, entre outros, a fim de assegurar
post-it com a inscrição da palavra “DISPEN- que o paciente saia da farmácia com as in-
SAÇÃO”, é anexado a sua prescrição. Após formações necessárias sobre como usar e
receber seus medicamentos, o paciente se armazenar seu medicamento corretamente
dirige à mesa do farmacêutico, que o orien- e conseguir os melhores resultados no uso
ta utilizando-se de instrumentos produzidos de sua farmacoterapia.

Senha Pré-Atendimento Caixa Entrega

Dispensação Aferição de Parâmetros Clínicos

Revisão da Farmacoterapia Atenção Farmacêutica


Figura 1 - Fluxograma de atendimento das farmácias populares de Sergipe geridas pela Funesa.

Nas quatro farmácias comunitárias descri- sação. Tendo em vista que a maioria dos pacien-
tas, no período de 2014 a 2015, 97.783 receitas fo- tes que passam pela dispensação adquire os
ram aviadas para a população e 7.419 pacientes medicamentos nas FPBs, podemos afirmar que
foram orientados pelo farmacêutico na dispen- 7,6% das receitas aviadas foram orientadas.

Serviços de Cuidados Farmacêuticos ofertados à população das microrregiões do


interior sergipano para promoção e prevenção da saúde
181

Descrição dos impactos gerados com esta Após avaliar o quantitativo de atendimen-
experiência tos farmacêuticos (aferição de pressão arterial,
glicemia capilar, peso, altura, cálculo de IMC,
Para avaliação dos resultados alcançados, medida de circunferência abdominal, dispen-
os números de serviços e vendas foram con- sação documentada, consultas de revisão da
tabilizados e tabulados utilizando o programa farmacoterapia e atenção farmacêutica) o nú-
Excel 2013 da Microsoft®, versão para Windows mero de distribuição e venda de medicamen-
10. A partir das tabelas, foram feitas as análi- tos nas farmácias de Estância, Propriá, Tobias
ses estatísticas descritivas. Barreto e Nossa Senhora da Glória, pode-se
Em quatro anos, um total de 21 trabalhos definir o perfil dos serviços prestados no ano
científicos baseados nos serviços ofertados de 2015. Ao observar o gráfico 2 percebe-se a
nas farmácias foi publicado em congressos na- grande relevância do quesito serviços de cui-
cionais e internacionais, e todos foram desta- dados farmacêuticos comparado ao número de
que ou receberam prêmio. receitas aviadas.

O reconhecimento do trabalho realizado Gráfico 02 - Perfil do atendimento das farmácias


nas quatro farmácias regionais geridas pela populares regionais do estado de Sergipe.
Funesa é notável. É observado na satisfação
dos pacientes atendidos, que relatam o be-
nefício da orientação oferecida pelo farma-
cêutico, e nos agradecimentos externados
pelos médicos e demais profissionais da 44% 56%
saúde, satisfeitos com a cooperação do far-
macêutico nos cuidados com o paciente. Os
resultados são observados também na au-
toestima dos farmacêuticos, que se sentem
parte essencial da equipe de saúde.
Neste trabalho, um dos resultados mais
expressivos foi o crescimento no quantitati-
Receitas aviadas Serviço de cuidados
vo de atendimentos a medida que os servi-
farmacêuticos
ços eram implementados. Como demonstra
o gráfico 01, foram realizados 239.376 aten-
dimentos nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013, Os serviços de cuidados farmacêuticos ge-
2014 e 2015. Durante o período foram distri- ram, desde a sua implantação, grande impacto
buídos mais de 1.050.212 medicamentos à na saúde do paciente. O farmacêutico, no ato
população das regiões do Baixo São Francis- da dispensação, aferição de parâmetros clí-
co, Alto Sertão, Centro-Sul e Sul do estado nicos, revisão da farmacoterapia ou atenção
de Sergipe. farmacêutica, identifica os problemas relacio-
nados a medicamentos (PRMs), prevê riscos
Gráfico 01 - Comparativo do número de atendimentos e promove intervenções que visam à solução
realizados nas farmácias populares do Brasil geridas pela destes problemas. Essas intervenções são fei-
FUNESA em 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015. tas ao paciente ou aos profissionais da saúde.
Número de atendimentos nas Farmácias Populares
do Brasil geridas pela Funesa (2010-2015)
Em 2014, ano em que os serviços foram
consolidados, e no ano seguinte, foram iden-
70.000 64.439
tificadas 2.802 suspeitas de PRM nas prescri-
60.000
50.000 47.566 45.852 47.788 ções de 1.268 pacientes que passaram pelos
40.000 serviços de dispensação, revisão da farmaco-
28.278
30.000 terapia ou atenção farmacêutica. Isso prova a
20.000
10.000 5.456 importância do farmacêutico na prática clíni-
0 ca. Normalmente, ele é o último profissional
2010 2011 2012 2013 2014 2015 da saúde com quem o paciente tem contato
182
antes de tomar o seu medicamento. Assim, é Próximos passos, desafios e necessidades
do farmacêutico que o paciente irá receber as
informações essenciais acerca de sua farma- • Aumentar a divulgação dos serviços far-
coterapia e saúde³. macêuticos para todas as microrregiões
A análise dos impactos econômicos dos atendidas;
serviços de cuidados farmacêuticos desenvol- • Propor parceria com os outros profis-
vidos na rede de FPBs geridas pela Funesa é o sionais da saúde destes municípios
próximo passo a ser explorado pela equipe, a para otimizar os cuidados aos pacientes
fim de quantificar a esperada redução de cus- atendidos;
tos com a saúde gerada pelo acompanhamento
• Capacitação dos farmacêuticos para
farmacêutico ao paciente.
atender a esse novo perfil da profissão;
Até o mês de janeiro de 2016 não foram
• Dar visibilidade aos serviços farmacêu-
encontrados registros de nenhum tipo de ser-
ticos e, com isso, aumentar os números
viço farmacêutico realizado em farmácias po- de unidades que contemplem os servi-
pulares do Brasil do estado de Sergipe geri- ços farmacêuticos fornecidos pelas far-
das por outras instituições que não sejam a mácias populares.
Funesa/SES. Desta forma, podemos concluir
que as quatro unidades de FPBs citadas nes- CONCLUSÃO
te trabalho são pioneiras no desenvolvimento
dos serviços de cuidados farmacêuticos que Com a análise dos dados, pode-se afir-
desempenham. mar que os serviços de cuidados farmacêu-
ticos têm um papel essencial nas farmácias
O PROGRAMA FARMÁCIA POPULAR DO BRASIL populares regionais do estado de Sergipe.
No gráfico 01, é possível observar que eles
As farmácias funcionam com dois far- compõem quase 50% dos serviços ofereci-
macêuticos que preenchem todo o horário dos nas unidades. Hoje o usuário das FPBs
de funcionamento. Eles trabalham seis dias geridas pela Funesa, além de ser beneficia-
por semana, de segunda a sexta-feira, das do com a aquisição de medicamentos gra-
8 às 18 horas, ininterruptamente. Aos sába- tuitos e de baixo custo, recebe cuidados em
dos, permanecem nas farmácias das 8 às 12 saúde.
horas, salvo feriados nacionais, estaduais e
municipais, seguindo o calendário público REFERÊNCIAS
decretado.
Os medicamentos que fazem parte do Secretaria Estadual de Saúde. Banco de dados
elenco são considerados como essenciais na dos Sistemas de Informação em Saúde, Vigilân-
prática clínica da atenção básica, ou seja, ca- cia Epidemiológica em 05 de maio de 2012.
pazes de tratar as doenças e agravos de maior Relatório Anual de Gestão Fundação Estadual
prevalência e impacto social, como hiperten- de Saúde/FUNESA 2011
são, diabetes, úlcera gástrica, depressão, asma,
Farmacêutico: um profissional em busca de
infecções e verminoses.
sua identidade. Disponível em: http://rbfarma.
A exigência da prescrição do medicamen- org.br/files/rbf-2012-93-1-2.pdf Acessado em
to por profissionais da saúde e a presença 25/08/2016)
permanente de um farmacêutico têm caráter
Secretaria Estadual de Saúde. Banco de dados
educativo. Além de orientar a forma correta
dos Sistemas de Informação em Saúde, Vigilân-
de usar os medicamentos, os farmacêuticos
cia Epidemiológica em 05 de maio de 2012;
instruem a população também sobre os cui-
dados necessários, como por exemplo, o ar- Relatório Anual de Gestão Fundação Estadual
mazenamento dos medicamentos, instruções de Saúde/FUNESA 2011;
sobre a doença e orientações sobre a modifi- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
cação dos hábitos alimentares e a prática de – IBGE. Disponível em: http://censo2010.ibge.
atividade física. gov.br/;
183
Cadastro Nacional de Estabelecimentos de AUTORES
Saúde - CNES. Disponível em: http://cnes.data-
Dayanne Santana dos Santos
sus.gov.br/; Andréa Valença Cardoso
Ministério da saúde. Secretaria de Políticas de Gisele Santana Andrade
Saúde. Departamento de Formulação de Polí- Bárbara Manuella Cardoso Sodré Alves
ticas de Saúde. Política Nacional de Medica- Adriana Silveira Almeida Maciel
mentos. Disponível em: http://bvsms.saude. Iana Raquel Silveira Alves
gov.br/bvs/publicacoes/politica_medicamen- Eulália Lins Victor
tos.pdf;
CONTATOS
Ministério da saúde. Fundação Oswaldo Cruz.
Série A Normas e manuais técnicos. Disponível eulalia.victor@funesa.se.gov.br
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publica- dayanne.santos@funesa.se.gov.br
coes/PROGRAMA_FARMACIA_POPULAR.pdf andrea.cardoso@funesa.se.gov.br
gisele.andrade@funesa.se.gov.br
barbara.alves@funesa.se.gov.br
INSTITUIÇÃO adriana.maciel@funesa.se.gov.br
Fundação Estadual de Saúde de Sergipe (Funesa) iana.alves@funesa.se.gov.br
184

Aracaju/SE

Tecendo Saberes sobre


Plantas Medicinais: o resgate, a
permanência e a construção do
conhecimento popular na atenção
básica do município de Aracaju
CARACTERIZAÇÃO ruas do Centro, até os povoados da Zona de
Expansão.
Sergipe é o menor estado da federação e Aracaju é conhecida como a Capital Nordes-
tem uma população de 2.201.539 habitantes tina da Qualidade de Vida, possui os menores
(IBGE/2013), distribuídos entre seus 75 mu- índices de desigualdade na Região Nordeste.
nicípios. A capital é Aracaju, com área total A economia da capital é baseada nos serviços,
de 181,8 Km 2, localizada às margens dos rios indústria e turismo. “Aju”, como é carinhosa-
Sergipe, Poxim e Vaza-Barris. É a maior e mente chamada, possui uma cultura muito rica,
mais populosa cidade do estado, com 571.149 uma culinária de “dar água na boca” e espaços
habitantes, desde o Tabuleiro de Xadrez das para o lazer.
185

Estruturação da rede de saúde plantas medicinais, preparo de formulações


caseiras, cultivo domiciliar e implantação de
Os serviços públicos de Saúde estão espa- hortos nas UBS.
lhados por todos os bairros da cidade. São 43 A equipe do projeto era composta inicial-
Unidades Básicas de Saúde (UBS) distribuídas mente por alunos da graduação em Farmácia
em 8 regiões, 07 Centros de Atenção Psicosso- e do Programa de Pós-Graduação em Ciências
cial (Caps), 02 Centros de Especialidades Médi- Farmacêuticas. Atualmente é integrada por
cas (Cemar), além de hospitais públicos sob a alunos dos cursos de Farmácia, Medicina, Agro-
administração municipal. Entre as unidades de nomia e Biologia, além de alunos dos cursos de
saúde destacam-se a UBS Manoel de Souza Pe- mestrado e doutorado dos programas de pós-
reira, Edézio Vieira e Augusto Franco, que tra- -graduação em Ciências Farmacêuticas e Ciên-
balham com plantas medicinais. Contudo, ape- cias da Saúde.
nas a unidade Manoel de Souza Pereira possuiu
horto medicinal, construído pelos usuários e a METODOLOGIA
equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF).
Ações na atenção básica
RELATO DA EXPERIÊNCIA
As ações iniciais do projeto foram centradas
O Projeto Tecendo Saberes sobre Plantas na capacitação do grupo por meio de oficinas e
Medicinais foi criado no ano de 2012 por inicia- palestras sobre plantas medicinais, cultivo, Far-
tiva dos professores do curso de Farmácia da mácia Viva e rodas de conversa sobre a exten-
Universidade Federal de Sergipe (UFS), Wellin- são universitária e o seu papel na comunidade.
gton Barros da Silva e Francilene Amaral da Sil- As oficinas capacitaram 30 alunos envol-
va. Desenvolvido em parceria com o Movimen- vidos no projeto, além dos discentes. A capa-
to Popular de Saúde (Mops) e pactuado com citação também foi aberta a toda comunidade
a Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju, o acadêmica. As oficinas instruíram os alunos so-
projeto teve como objetivo principal a integra- bre as principais formas de cultivo de plantas
ção entre os saberes popular e acadêmico por medicinais, preparação de formas extrativas
meio da troca de saberes sobre plantas medi- caseiras (lambedor, cataplasma, sabonete, in-
cinais entre usuários e profissionais do Siste- fuso e decocto) e armazenamento.
ma Único de Saúde (SUS).
Entre as ações previstas, preconizava a
promoção do uso correto, a manipulação para
obtenção de formulações caseiras e o culti-
vo em hortos de plantas medicinais nas UBS,
nas residências dos usuários e nos Caps. Para
a realização das práticas extensionistas foram
escolhidos os seguintes cenários de prática:
UBS Augusto Franco, UBS Edézio Vieira, UBS Eu-
nice Barbosa, UBS Manoel de Souza Pereira e o
Caps Jael Patrício de Lima.
O projeto “Tecendo Saberes sobre Plantas
Medicinais” tem como plano de ação resgatar
o conhecimento da população sobre as plan- Figura 1 - Oficina de preparação de formulações caseiras.
tas medicinais e, por meio da troca de sabe- Universidade Federal de Sergipe (UFS)
res, contribuir a médio e longo prazo para a
implementação da Fitoterapia no município, Após as oficinas e capacitações, foram ini-
tendo como norteadores a Política e o Progra- ciadas as ações nas unidades de saúde, inicial-
ma Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterá- mente, para os usuários. Para tal, foram realiza-
picos. Nesse sentido, o projeto busca capacitar das rodas de conversas, seja na sala de espera,
usuários e profissionais para o uso correto de ou com grupos específicos (idosos, gestantes e
186

usuários cadastrados no programa Bolsa Famí-


lia, do governo federal). As conversas eram ini-
ciadas com questionamentos elaborados pelos
alunos do projeto: o que é natural não faz mal?
Existe diferença entre plantas medicinais, me-
dicamentos e fitoterápicos?
Neste momento, os estudantes tiveram a
oportunidade de vivenciar/experimentar a rea-
lidade profissional na atenção básica. Posterior-
mente, essas oficinas foram demandadas pelos
demais profissionais das unidades de saúde.
Estas experiências permitiram aos estudantes a Figura 3: construção do horto medicinal Josefa da Guia-UFS
vivência do cenário multiprofissional de cuidado
à saúde, além da oportunidade de compartilhar Farmácia Viva x Tecendo Saberes
com outros profissionais o papel do farmacêuti-
co tanto no cuidado ao paciente, como na rela- Entre as 43 unidades de saúde do municí-
ção multiprofissional no que diz respeito ao uso pio de Aracaju, apenas a UBS Manoel de Souza
de plantas medicinais e fitoterápicos. Pereira possui horto medicinal. As plantas são
cultivadas por funcionários e usuários. Neste
contexto, a equipe desenvolveu ações para ca-
pacitar usuários e profissionais para o uso cor-
reto de plantas medicinais, orientando-os quan-
to às possíveis interações com medicamentos, o
cultivo e as condições adequadas à utilização.

Figura 2 - Oficina sobre o uso de plantas medicinais na


gestação. Unidade Edézio Vieira

Farmácia Viva – UFS

Com o objetivo de estruturar as ações para Figura 4 - roda de conversa com os usuários e profissionais
da UBS Manoel de Souza Pereira
implantação da Farmácia Viva nas unidades de
saúde foi construído o horto medicinal da UFS. O
Ações no Centro de Atenção Psicossocial (Caps)
projeto se baseou na RDC 18/2013, sobre as boas
práticas de processamento e armazenamento No que diz respeito às atividades reali-
de plantas medicinais, preparação e dispensa- zadas no Caps, estas foram construídas em
ção de produtos magistrais e oficinais de plan- conjunto com os alunos do projeto e da re-
tas medicinais e fitoterápicos em farmácias vi- sidência multiprofissional em saúde mental
vas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). da UFS, para 30 usuários do Caps. As ações
Este horto serviu de instrumento pedagó- buscavam orientar quanto ao uso responsá-
gico para as disciplinas da graduação em Far- vel de plantas medicinais, possíveis intera-
mácia que possuem interface com o estudo das ções com os medicamentos que os usuários
plantas medicinais (Farmacobotânica, Farma- utilizavam, além de incluir atividades lúdi-
cognosia, Fitoquímica e Fitoterapia), além de cas com os usuários, como peças de teatro e
receber periodicamente a visita de alunos do oficinas de produção de sabonetes caseiros,
ensino fundamental e médio, das redes muni- manejo do solo e cultivo e armazenamento
cipal e estadual do estado. de plantas medicinais.
187
O projeto tem obtido grande aceitação por
parte da comunidade, profissionais da saúde
e gestores, sendo a experiência solicitada por
outros municípios do estado de Sergipe.

Próximos passos, desafios e necessidades

A partir do trabalho desenvolvido, o que


deve ser feito para melhorar ainda mais a qua-
lidade da assistência oferecida ao usuário do
SUS é expandir o projeto para as demais uni-
Figura 5 - equipe do projeto Tecendo Saberes sobre Plantas dades de saúde do município, estabelecendo
Medicinais, residentes em saúde mental, profissionais do
Caps e usuários da unidade de saúde um campo de prática para os alunos do curso
de Farmácia, de modo que tenham contato com
Qualificação dos Agentes Comunitários de Saúde o SUS e a Fitoterapia. Entre os desafios, está a
implantação do projeto em outros municípios.
No ano de 2015, o projeto Tecendo Sabe- Desta forma, será criado um novo campo de
res sobre Plantas Medicinais, em parceria com prática para os discentes e também de capa-
a Secretaria Municipal de Saúde, criou o cur- citação da equipe e de usuários para o uso de
so: Capacitação para Agentes Comunitários de plantas medicinais. A iniciativa ainda sensibili-
Saúde (ACS) sobre Plantas Medicinais e Fitote- zará os gestores para a importância da efetiva-
rápicos na Atenção Básica. A qualificação teve ção do Programa Nacional de Plantas Medici-
carga horária de 60 horas, dividida em três mó- nais e Fitoterápicos.
dulos teórico-práticos, com a seguinte dispo-
sição: Histórico e evolução do uso de plantas CONCLUSÃO
medicinais; Aspectos regulatórios sobre plantas
medicinais; e Cultivo e preparo de formulações Os resultados evidenciaram o uso de plan-
caseiras. Ao todo, foram capacitados 60 agentes tas medicinais pelos usuários nas UBS. Tam-
comunitários de saúde durante um ano. bém foi observada a necessidade de ações
que fortaleçam a Política Nacional de Plantas
Medicinais, promovendo o seu uso racional e
proporcionando a atuação do farmacêutico na
equipe multiprofissional, bem como fortale-
cendo o vínculo do usuário com a unidade de
saúde por meio do resgate e da troca de co-
nhecimentos sobre plantas medicinais.

REFERÊNCIAS

Política Nacional de Práticas Integrativas e


Figura 6 - Curso de Capacitação dos ACS: oficina de
preparação de formas extrativas caseiras
Complementares no SUS – PNPIC-SUS. Depar-
tamento de Atenção Básica, Secretaria de Aten-
Resultados esperados ção à Saúde, Ministério da Saúde. Brasília: Mi-
nistério da Saúde; 2006a. 92 pp.
Com a capacitação dos agentes de saúde e BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
a introdução da Fitoterapia na atenção básica, Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
pretende-se ampliar as ações para as 39 unida- Departamento de Assistência Farmacêutica.
des de saúde do município, além de implantar Política Nacional de Plantas Medicinais e Fi-
o horto medicinal em unidades com estrutura toterápicos / Ministério da Saúde, Secretaria
para tal. Essa medida visa garantir o forneci- de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos,
mento de plantas medicinais e fitoterápicos Departamento de Assistência Farmacêutica. –
para toda a rede de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006b.
188
WHO. WHO Traditional Medicine Strategy 2002- AUTORES
2005. Geneva: World Health Organization, 2002.
Francilene Amaral da Silva
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Wellington Barros da Silva
Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Alex José Silveira Filho
Departamento de Assistência Farmacêutica. Carlos Adriano Santos Souza
Política Nacional de Plantas Medicinais e Fi-
toterápicos / Ministério da Saúde, Secretaria EQUIPE
de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos,
Prof. Dra. Francilene Amaral da Silva (UFS)
Departamento de Assistência Farmacêutica. –
Prof. Dr. Wellington Barros da Silva (UFS)
Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
Msc. Carlos Adriano Santos Souza
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Aten- Msc. Anderson Ribeiro dos Santos
ção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Alisson Silva Siqueira
Práticas integrativas e complementares: plan- Augusto Vinícius de Souza Nascimento
tas medicinais e fitoterapia na Atenção Básica/ Érica Garcia Moura
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Fábio de Souza Santos
Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Bra- Fernando Henrique Oliveira de Almeida
sília: Ministério da Saúde, 2012. 156 p.: il. – (Sé- Emily Santos Silva
rie A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Laura do Amaral Ramos
Atenção Básica; n. 31).ALBERTSSON, P. A. History Michel Franclin Reis da Silva
of aqueous polymer two-phase partition. Quézia dos Santos Silva
RODRIGUES, A. G.; SANTOS, M. G.; DE SIMONI, C. Valdileia Santos da Silva
Fitoterapia na Saúde da Família. In: SOCIEDADE Alex José Silveira Filho
BRASILEIRA DE MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNI- Ellen Brito Silva
DADE (Org.). Programa de Atualização em Medi- José Diego do Nascimento Valença
cina de Família e Comunidade (PROMEF). Porto Rodrigo de Oliveira Soares
Alegre: Artmed/Panamericana, 2011. p. 131-65.
CONTATOS
farmsilva@hotmail.com
INSTITUIÇÃO alehjosesf@hotmail.com
Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju carlos.953@gmail.com
Universidade Federal de Sergipe (UFS)

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