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São Paulo - SP
2014
São Paulo - SP
2014
BANCA EXAMINADORA:
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A Carmen Junqueira
Agradecimentos:
Akauã Kamaiurá
Diogo Faggiano
Djara Mbya
Elaine Santos
Felipe Musetti
Felipe Rodela
Kotok Kamaiurá
Glória Lopes
Guilherme Cassis
Luciano Faggiano
Mario Frugiuele
Mayaru Kamaiurá
Nelson Che
Rodolfo Machado
Samuel Friedman
Taciana Vitti
Takumã Kamaiurá
RESUMO
FAGGIANO, Daniel. O Tempo que Nos Resta, estudos Kamaiurá. 2014. 131 f.
Dissertação (Mestrado), Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2014.
ABSTRACT
In our transition process to the production and reproduction of capital mode through a
colonial via, we plated a particular colonial capitalism in the tropics. Colonial, since it
develops itself in atrophy, not completely, keeping and reinforcing Brazil as an
subaltern bond of the imperialism. Considering the particularity of each author, I
remark the works of Caio Prado Jr., Francisco Oliveira, Florestan Fernandes, José
Chasin, Octavio Ianni e Maurício Tragtenberg as fundamentals in the marxist
formulation of the Brazilian thoughts. The current work starts from The Brazilian
March to West, searching our historical particularity. Moved by a late industrialization
of the country, the myth of development takes violently all Brazilian people to be
submitted to this cause, while the profits pass to be concentrated, even more, in the
hands of farmers, national and international dealers. The domination of value of
change by the value of use, contradictory present in the products of capitalist
civilization, together with the transformation of lands to capital- private property,
reaches the limits of Parque Indígena do Xingu (MT) and, slowly, charmingly
penetrates the daily life of the aldeias. Considering the studies made since 1965 by
the anthropologist Carmen Junqueira, this work intends to critically analyze the
arriving of the goods with its values and of the capital-social relation in
the aldeia Kamaiurá from Ipavu, analyzing the way the sociability of capital breaks up
the existing collectivity, besides pointing out the arrangements and adjustments
made by the Kamaiurá when facing the destructive process of our colonial capitalism.
This work, contemporary to the capital’s crisis era, searches to confront the Brazilian
reality without loosing its human horizon, ontological. At last, it defends that the
Kamaiurá’s way of life, anchored in the collective element of their land, may be put,
humanly, against the capital and open, consciously, free paths among the rubble of
the amplified production and reproduction of life under the capital.
Rainer M. Rilke
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE QUADROS
QUADRO 2. O Capital estrangeiro compra nossa terra com nosso dinheiro ....... p. 64
LISTA DE MAPAS
MAPA 1. Mapa das terras pertencentes ao Parque do Xingu vendidas pelo governo
do estado do Mato Grosso em 1954 .....................................................................p. 43
SUMÁRIO
Hoje, homens e mulheres, vivemos numa constante guerra de uns contra outros,
numa violenta luta de classes sob uma constante exploração do homem pelo
homem.
O capital chega aos mais distantes confins da sociedade humana, em nossas mais
íntimas relações, tornando nossas próprias entranhas estranhadas, negando nossas
expressões humanas e perpetuando nossa desumanização do mundo.
Qualquer sociedade que pretenda uma participação ativa de seus membros deve
traduzir seu conhecimento teórico em estratégias de luta e ação popular.
Que após a leitura de nossa história, sobre os exemplos dos povos indígenas, povos
dominados, mas ainda não organizados pelo capital, floresça em nossa consciência
uma práxis revolucionária.
Estejamos certos de que sem uma mudança radical de nossa sociabilidade, nosso
destino se encaminhará do caos ao fim da humanidade.
Boa leitura.
Daniel Faggiano
1
Agnes Heller. Para Mudar a Vida.
CAPÍTULO I
A Miséria da Antropologia.
2
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx, p. 18.
3
Edward Burnett, A ciência da cultura, p. 69.
18
4
“Enquanto os evolucionistas descartavam um interesse pela história de determinadas sociedades e
culturas, os difusionistas descartavam qualquer interesse pela matriz ecológica, econômica, social,
política e ideológica na qual as formas culturais estavam sendo transmitidas no espaço e no tempo.
As duas escolas de pensamento manifestavam, portanto, preocupações muito diversas. Os
funcionalistas, por sua vez, rejeitavam a “história conjetural” dos difusionistas em favor da análise do
funcionamento interno em um todo supostamente isolado” (WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem
História, p. 39).
5
EVANS-PRITCHARD, Edward Evans. Antropologia Social.
6
Cf. LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social I.
7
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em Comum, p. 17.
19
8
IANNI, Octavio. Pensamento social no Brasil, p. 167.
9
TAUSSIG, Michael T. O diabo e o fetichismo da mercadoria na América do Sul, p. 24.
10
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, pp. 42-43.
20
20
JUNQUEIRA, Carmen. A questão indígena, p. 126.
21
IANNI, Octavio. Revolução e cultura, p. 33.
22
Ibidem, p. 33.
23
FERNANDES, Florestan. A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios, p. 11.
23
25
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 27.
26
LENIN, Vladimir Ilitch. Imperialismo, estágio superior do capitalismo, p. 27.
27
Ibidem, p. 18.
25
28
MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel, p. 156.
29
“Não é o predomínio de motivos econômicos na explicação da história que distingue decisivamente
o marxismo da ciência burguesa, mas o ponto de vista da totalidade.” (LUKÁCS, György. História e
consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista, p. 21).
30
JUNQUEIRA, Carmen. A questão indígena, p. 127.
31
RIBEIRO, Darcy. A América Latina existe?, p. 99.
26
Por mais “isolada” que esteja uma dada comunidade, e mesmo que esta não
se constitua como classe especificamente, hoje, com a expansão capitalista no
globo, seu futuro passa a ser operado de acordo com os mecanismos da divisão de
classes.
As várias contradições existentes nesse complexo se articulam em torno de
uma contradição fundamental do capital, que é a contradição de classes, e é
impossível pensá-las sem ser em relação com essa contradição fundamental. Em
seu cerne, o capitalismo se produz e reproduz suprimindo outros tipos de relações
não capitalistas, bem como usurpa das comunidades resistentes sua capacidade de
autodeterminação. Conduz dominantemente as demais consequências no mundo,
eliminando qualquer perspectiva histórica à margem da relação de classes imposta
na sociedade global.
Progressivamente, a dimensão étnica vai sendo subordinada à dimensão de
classe, que passa a ser uma matriz estrutural para o pensamento antropológico.
Desse modo, o antropólogo que estuda uma determinada comunidade indígena
deve ter claro que o índio também é um trabalhador explorado, “independentemente”
da percepção deste sobre si mesmo.
Percebemos que as contradições que devem ser resolvidas são estruturais
(de domínio e de classe social) e não apenas espaciais (de região ou de
enfrentamento de duas culturas distintas). Portanto, uma antropologia
verdadeiramente humana, não pode se esquivar do árduo trabalho de superação
estrutural do capital.
Se devemos buscar a ideia na sua própria realidade,32 é na especificidade da
formação, produção e reprodução do capitalismo no Brasil que o antropólogo deve
situar seu objeto estudado. O conhecimento do objeto estudado não advém de
imediato, a certeza não provém da simples leitura ou do contato direito com o objeto.
É através, do desvelamento das diversas mediações que orbitam esse dado objeto
estudado, que a certeza pode surgir, após um longo caminho que se enceta no
questionamento da realidade posta; como ponto de partida tem-se a inicial incerteza
dos fatos.
32
“Meu método dialético, por seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele inteiramente
oposta. Para Hegel, o processo do pensamento (...) é o criador do real, e o real é apenas sua
manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material transposto para a
cabeça do ser humano e por ele interpretado.” (MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política, p.
16).
27
33
“A abstração é a capacidade intelectiva que permite extrair de sua contextualidade determinada (de
uma totalidade) um elemento, isolá-lo, examiná-lo; é um procedimento intelectual sem o qual a
análise é inviável.” (NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx, p. 44).
34
VAISMAN, Ester; FORTES, Ronaldo Vielmi. In: LUKÁCS. G. Prolegômenos para uma ontologia do
ser social, p. 21.
35
MARX, Karl. Condições históricas da Reprodução Social, p. 63.
36
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx, p. 27.
28
37
Cf. RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil
moderno.
38
MÉSZÁROS, István. Filosofia, ideologia e ciência social, p. 94.
29
CAPÍTULO II
39
MARX, Karl. Formações econômicas pré-capitalistas, p. 80.
40
Cf. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 2011.
41
“A polarização essencial do desenvolvimento é acelerar a industrialização e, em consequência,
favorecer e justificar a supremacia da burguesia industrial. Nesse processo, pois, está em jogo o
32
46
VARGAS, Getúlio. Cruzada rumo Oeste.
47
BASTOS, Pedro Paulo Zahluth; FONSECA, Pedro Cezar Dutra (orgs.). A Era Vargas:
desenvolvimentismo, economia e sociedade, p. 23.
35
heróis míticos, e o povo, seja qual fosse o nome dado à sua democracia,48 continua
oprimido.
Essa nova simbologia,49 impulsionada por um concreto processo de
ampliação capitalista nos trópicos, desloca habilmente a análise crítica do real para
a propaganda harmônica do subjetivo, é através do colorido, das sensações
espetaculares que o interesse da classe dominante é disseminado como o interesse
de todos através de um espírito de cooperação. Temos como arquiteto da ideologia
dessa classe dominante a figura de Cassiano Ricardo, membro destacado do
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
Não é possível pensar na democracia brasileira bandeirante sem a
organização hierárquica do grupo, que possibilita o aproveitamento de todos
os valores humanos pela capacidade viva de cada um e não pela igualdade
50
abstrata, irracional ou estandardizada.
52
PRADO JR, Caio. História Econômica do Brasil, p. 280.
53
IANNI, Octavio. Estado e Capitalismo, pp. 49-50.
37
54
CHASIN, José. A Sucessão na crise e a crise na esquerda, pp. 213-214.
55
OLIVEIRA, Francisco. Crítica à razão dualista / O ornitorrinco, pp. 59 – 60.
56
Primeiro presidente da Fundação Brasil Central, também foi ministro extraordinário da
Coordenação de Mobilização Econômica, presidente do Conselho de Imigração e Colonização (CIC)
e o representante brasileiro nas negociações dos chamados Acordos de Washington (1942).
57
“É que o processo capitalista de produção necessariamente acaba envolvendo as áreas pré-
capitalistas, integrando-as num todo. A expansão, sob suas diversas modalidades, é inerente à
dinâmica do sistema, quando já estruturado em certo grau. Em consequência, o capitalismo
transforma de algum modo os sistemas “marginais”, seja modificando-lhes as estruturas seja
anexando-os como apêndices.” (IANNI, Octavio. Origens Agrárias do Estado brasileiro, p. 100).
38
62
CAPRIGLIONE, Laura. A missão.
63
OLIVEIRA, João Pacheco. Uma viagem ao Brasil profundo, pp. 24-25.
64
FRANCHETTO, Bruna. Laudo antropológico: A ocupação indígena da região dos formadores e do
alto curso do Rio Xingu.
40
67
IANNI, Octavio. Origens Agrárias do Estado brasileiro, p. 174.
68
RÜSCHE, Ana. Rasgada, p. 31.
69
MENEZES, Maria Lucia Pires. Parque Indígena do Xingu: a construção de um território estatal, p.
157.
42
70
MENEZES, Maria Lucia Pires. Parque Indígena do Xingu: a construção de um território estatal, p.
189.
71
Ibidem, p. 165.
72
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, p. 77.
43
MAPA 1. Mapa das terras pertencentes ao Parque do Xingu vendidas pelo governo
do estado do Mato Grosso em 1954.
Fonte: Serviço de Proteção ao Índio / SPI, Relatório, 1954.
Glebas Localização
1. Piratininga e Arraias Entre os rios Manitsuá-Missu
2. Atlântica Margem direita do rio Telles Pires
3. Colonizadora Norte de Mato Ambas as margens do rio Kuluene
Grosso
4. Colonizadora e representação Entre os rios Kurisevo e Kuluene
Brasil
5. Departamento Imobiliário Oeste Alto Xingu (até 55ºW)
Brasileiro Ltda.
6. Suiá-Missú Ambas as margens do rio Suiá-Missú
7. Formosa Margem direita do Telles Pires
44
73
Área aproximada de 21.600 km²
74
O Parque foi regulamentado pelo Decreto n° 51.084 de 1961, sendo ainda alterado pelos Decretos
n° 63.082 de 1968 e nª 68.909 de 1971, sendo a demarcação de seu perímetro atual estipulada em
1978.
45
Fonte: Instituto Sócio ambiental / ISA, 2002
indígenas uns dos outros, acabariam com eles em pouco tempo. Não só
75
matando, mas liquidando as suas condições ecológicas de sobrevivência.
Sem apagar as contradições existentes no plano concreto, a antropóloga
Carmen Junqueira nos conta sobre a criação do Parque:
Não tardou que a nova região desbravada viesse a ser alvo de interesses
imobiliários. Sob as vistas da Fundação Brasil Central, a terra passou a ser
retalhada e vendida a particulares. Somente a reação enérgica dos líderes
da extinta expedição e do Serviço de Proteção aos Índios conseguiu sustar
a comercialização das terras indígenas. Finalmente, em 1961, é que se
logrou alcançar uma proteção mais definitiva desse território, com a criação
76
do Parque Nacional do Xingu.
Tentando abarcar a preservação não apenas ambiental, mas também das
populações indígenas, a administração do Parque foi entregue a Orlando Villas
Boas.
A política indigenista então instituída pelos Villas Boas em relação aos
povos da região do Xingu era voltada para a preservação física dos grupos
indígenas e seus padrões tradicionais de vida. Fazia parte dessa política
assegurar a posse da terra, controlar as relações entre índios e “brancos”,
mediar as relações entre os grupos indígenas, promover assistência
médico-sanitária e prover condições necessárias à sobrevivência, incluindo
o suprimento regular de artigos industrializados, em sua maioria ligados à
77
produção.
O Parque assegurou um território indígena que afastou, ao menos
inicialmente, a necessidade destes povos de venderem sua força de trabalho
enquanto trabalhadores assalariados. Não conseguiu, entretanto, evitar outros
efeitos nocivos. A mercadoria pouco a pouco driblou as fronteiras do Parque e
adentrou nas malocas, subjugando os índios a uma grande dependência econômica
em relação ao governo brasileiro.
Se em 1889 a República foi proclamada sob a bandeira “ordem e progresso”
e em 1930 bradou-se “nacionalismo e industrialização”, em 1964 a ascensão
golpista da ditadura Civil – Militar proclamou “segurança e desenvolvimento”.
Intensificaram-se os projetos imperialistas de colonização interna do Brasil. Os
incentivos financeiros e as parcerias entre o capital público e o privado formaram as
bases para o assentamento da dominação do modelo capitalista de produção na
região amazônica.
O que ocorreu na Amazônia, nos anos 1964-78, foi principalmente um
desenvolvimento extensivo do capitalismo. No extrativismo, na agricultura e
na pecuária, desenvolveram-se as relações capitalistas de produção,
juntamente com as forças produtivas. Esse foi o quadro geral no qual se
75
RIBEIRO, Darcy. Confissões, p. 230.
76
CAMARGO, Cândido Procópio F. de; JUNQUEIRA, Carmen; PAGLIARO, Heloísa. Reflexões
Acerca do Mundo Cultural e do Comportamento Reprodutivo dos Kamaiurá Ontem e Hoje, p. 122.
77
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, p. 76.
47
78
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 55.
79
A FUNAI foi criada pela lei nº 5.371 de 1967.
80
CAVALCANTI José Costa apud CASALDÁLIGA, Pedro. Uma Igreja da Amazônia em Conflito com
o Latifúndio e a Marginalização Social, apud IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 183.
48
83
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, pp. 66-67.
84
MARTINS, José de Souza. Fronteira: a degradação do Outro nos confins do humano, pp. 85-86.
50
85
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, pp. 78-79.
86
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 75.
51
90
CIMI. Polícia Federal retorna à Terra Indígena Marãiwatsédé (MT) para conter invasão de não
índios.
91
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, pp. 195-196.
92
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, p. 160.
53
Financiamento
Corporação Invasão de Terras
Superfície Internacional e
Agrícola indígenas
Assistência Técnica
USAID: empréstimo de
US$ 11,9 milhões ao
Fazenda de gado de
Várias tribos Caiapós Inst. Des. Regional do
Volkswagen do Brasil 22.400 hectares no
do norte Amapá, para
Araguaia, Pará
pesquisarem agricultura
e criação de gado.
USAID: empréstimo de
US$ 32 milhões para o
Fazenda de gado de
Inst. Int. de Pesquisa
Fazenda Suiá-Missu, 560 mil hectares Parque Nacional Xingu
(parcialmente
de propriedade da paralela ao rio Suiá- (norte) Xavante (sul e
financiado pela Fund.
Liquigás (Itália) Missu, no nordeste de leste)
Rockfeller), para estudo
mato Grosso
da produção de arroz
tropical na Amazônia.
Blue Spruce
66 companhias de terra International e
e gado em S. Paulo: International Research
área de grandes Municípios de Barra do Tapirapé, Parque Institute: projeto para
propriedades rurais de Garças e Luciara, Mato Indígena do Araguaia, 5 vender o herbicida 2, 3,
Stanley Amos Sellig Grosso reservas xavantes 5-T (Agente Laranja) ao
(empresário norte- governo brasileiro, para
americano de imóveis) desflorestamento da
Amazônia.
Fonte: MARTINS, Edilson. Índios: quando a liberdade é negada, apud IANNI, Octavio. Ditadura e
Agricultura, p. 185.
54
97
BALDUÍNO, Dom Tomás. O CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e a terra dos índios, apud
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, pp. 186-188.
98
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, p. 89.
99
Ibidem, p. 177.
58
100
Ibidem, p. 92.
101
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, pp. 86-87.
102
RICARDO, Cassiano. Marcha para Oeste, p. 622.
59
103
CAPRIGLIONE, Laura. A missão.
104
CAPRIGLIONE, Laura. A missão.
105
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Livro da Verdade.
60
O homem rural residente na área não estava preparado para uma mudança
tão radical de conceitos e valores; em geral, não lhe passava pelo espírito a
necessidade de revestir sua posse física do imóvel com um título de
propriedade legalmente reconhecido. A posse, para ele, já constituía todo o
direito necessário para deter a terra, nela morar e trabalhar.
De fato, o que a lei positiva estabelece é que posse não provada é posse
não tida. E como, em última análise, a prova da posse deve ser judicial –
portanto, dependente de uma estrutura complicada, cara e praticamente
ininteligível para o caboclo – este se vê de repente em total insegurança. Se
tenta recorrer ao aparelho burocrático do judiciário, sua vida em breve se
109
“Essa expropriação se realiza através da grilagem, mas entendo grilagem não simplesmente como
artimanha de papéis de cartório, de títulos falsos; a grilagem também como prática de violência
privada, como uma técnica da apropriação econômica. Jagunço e pistoleiro fazem parte de processo
de transformação da terra devoluta, tribal, ocupada, em propriedade privada, com título jurídico
formalmente correto. Nesse sentido temos, não simplesmente uma etapa final do processo de
acumulação primitiva, mas talvez uma etapa final de esgotamento da fronteira interna. Pouco a
pouco, as terras estão se transformando em propriedades, monopolizadas, como “reservas de valor”.
Se isso de fato está ocorrendo, podemos prever que breve estará esgotada a fronteira de expansão
da sociedade brasileira. Então, uma nova realidade econômica, social e política pode se abrir”.
(IANNI, Octavio. Origens Agrárias do Estado brasileiro, pp. 146-147).
63
Há uma ética da posse, e essa ética exige que a posse mansa e pacífica
seja respeitada. Quando a legislação civil europeia consagrou a posse
mansa e pacífica como base de domínio, não estava senão
institucionalizando uma relação ética entre indivíduos humanos. Se esse
conteúdo ético perdido, se a pratica social conduz o formalismo jurídico e a
titulação a atuarem contra a posse pacífica; se o funcionamento de certos
organismos monta armadilhas contra o possuidor e erige em verdade a
ilusão, o sistema positivo de proteção dos direitos entra em antagonismo
com a ética da posse. Na verdade, entra em conflito com a ética, em geral e
110
passa a coonestar razões de poder dos grupos mais fortes.
Como podemos observar no quadro a seguir, essa captura do Estado pela
empresa privada proporcionou uma rápida concentração das terras do oeste
brasileiro nas mãos dos empresários. Muitas empresas possuíam nomes nacionais,
mas seu controle acionário era estrangeiro. A desnacionalização do território
brasileiro abriu as portas para uma ampla penetração imperialista no Brasil.
110
SANTOS, Roberto Araújo de Oliveira, Sistema de Propriedade e Relações de Trabalho no Meio
Rural Paraense, apud IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, pp. 96-97.
64
Doação
Área Recursos Próprios (incentivos
Nome Nacional Controle País Estado
(ha) (em milhões) ) da
Sudam
Agrop. Sul do Ester
Panamá 5.000 PA 1,0 3,0 68
Pará Research Co.
Cofap-com
Cia. Nova participação
Fronteira da TRW EUA - PR 6,6 20,0 73
Thompson do
Brasil
Agrop. Toshio
Toyobo do
Cia. Ás de BrasilBco.
JAP - MT 3,1 9,8 73
Ouro Mitsubishi-
Yakult do
Brasil
Refrigeradores
Cônsul com
participação
da Brastemp
Agrop. Cônsul EUA - MT 4,2 12,6 72
que tem
capital da
Whirpool
Corporation
Agrop. Barra Part. Singer do
EUA - MT 17,0 51,0 -
dos Garças Brasil
Bradesco com
Cia Rio Capim
participaçãoda JAP 40.986 PA 13,3 54,9 76
Agrop.
Nichimen
Agropastoril John W.r. de
Suíça - MT 0,6 3,08 71
Nova Patrício Buys Rossingh
Imobiliária e
Desenvolvime
nto Sul-
Americana +
Piraguassu
Cia. Ianmar JAP 52.373 MT 17,2 50,1 76
Agrop.
Dit. De Maq. –
controlada
pela Lamaoka
Reality
Agropecuária Tsuzuki
JAP - GO 0,7 2,2 72
Araguaçu Spnnig
Frigorífico Union
ING 664.00 MT Desconhecidos -
Anglo International
National Bulk
Jari Florestal e Carriers 3.500. Isenção de
EUA PA -
Agrop. (Daniel 000 Impostos
Ludwig)
Fonte: HOLANDA, Sérgio Buarque de. A Capitania da Volkswagem, apud IANNI, Octavio. Ditadura e
Agricultura.
66
Enquanto no Sul do país, o tamanho médio das fazendas de gado era de 800
a 900 hectares de terra, tendo sua maior fazenda com cerca de 6 mil hectares, no
Mato Grosso a realidade era contrastante. Apenas uma única fazenda no Mato
Grosso com 15 mil cabeças de gado, propriedade de Orlando Ometo, rico produtor
de açúcar de São Paulo, cobria 695.843 hectares, o tamanho do estado norte-
americano de Connecticut.111
Articulado na desigualdade social brasileira, a política de colonização interna
passou a ser um instrumento de desarticulação de mobilizações e conflitos rurais.
111
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, p. 62.
67
“As contradições do real projetam-se nas atividades políticas dos homens, dividindo-
os ou aglutinando-os.”112
Em nossa ditadura Civil-Militar era prioritário controlar os movimentos sociais
do campo que já levantavam a bandeira da reforma agrária, principalmente os da
região sul do país. O sobrecarregamento das fronteiras do centro-sul e o surgimento
incipiente de uma organização social questionadora de ordem através do discurso
da reforma agrária alimenta a frente de expansão no centro-oeste. Como forma de
manter a estrutura agrária brasileira e afastar qualquer tentativa de democratizar o
acesso à terra, a burguesia afasta da política a reforma agrária e investe na
colonização interna do Brasil, através do estímulo migratório.
Ao gerar essa contradição, a divisão do trabalho provoca a crise e
desorganização de comunidades e personalidades, levando estas, muitas
vezes, a formas extremas de ressocialização. Tomadas em conjunto, essas
populações representam, em grande parte, o estoque de trabalhadores com
o qual conta o capitalismo industrial para expandir-se, bem como preservar
ou elevar a taxa de lucro. A aceleração da industrialização no Sul, a
construção de Brasília, das rodovias Belém-Brasília, Transamazônica e
outras, bem como a invenção da fronteira amazônica e o impulso a
agroindústria em geral, nas décadas de 60 e 70, contaram sempre com as
reservas de trabalhadores dispersos em núcleos de subsistência e
mercantilizados nas diferentes regiões do país. Na totalidade que é o
sistema nacional, a heterogeneidade dos níveis econômico, sócio-político e
cultural não pode ser tomada senão como desigualdades concretas
113
integradas.
É nesse contexto, desigual e combinado, que se afirma nossa colonização
oficial. Os sem números de trabalhadores enviados para o Mato Grosso não eram
contemplados com um projeto de reforma agrária, mas ao contrário, eram
violentamente impedidos de realizar uma colonização espontânea e popular. De
acordo com o senso realizado pelo IBGE (2006), 42,5% da população mato-
grossense é natural de outros estados da federação.
Para a ditadura, com seu modelo agressivo e repressivo, as diversidades
regionais constituem as bases de nosso desenvolvimento, desigual e combinado. Ou
seja, o desenvolvimento de nosso capitalismo colonial está assentado na articulação
de fluxos de capital e força de trabalho de nossas desigualdades regionais.
Trabalhadores rurais de diversas regiões do Brasil, sem condições pela falta
de terra, pela falta de emprego, mudam-se para regiões de terras virgens.
Vão procurar uma nova terra, uma nova residência. Levam a família, muita
coragem e, sobretudo, muita esperança.
Cria-se, então, uma tensa situação social: os posseiros sabem que sem a
terra perderão a fonte de renda familiar e se tornarão desempregados. Se
procurarem outras áreas sem o título legal, correm o mesmo risco de
despejo.
114
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA (CONTAG),
“Problemática dos Posseiros”, Reforma Agrária, apud IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 145.
70
Acre 07 02 - 07
Amazonas 10 03 04 01
Roraima 02 01 - 03
Pará 15 03 08 02
Amapá - - - -
Maranhão 17 08 02 17
Piauí 01 - - -
Ceará - - - -
Rio grande
- - - -
do Norte
Paraíba 01 - - -
Pernambuco 02 - - -
Alagoas 02 - - -
Sergipe 01 - - -
Bahia 13 03 01 08
Espírito
01 - - -
santo
Rio de
- - - -
Janeiro
Guanabara - - - -
São Paulo 12 01 01 -
Paraná 06 01 - 13
Santa
- - - -
Catarina
Rio Grande
01 01 01 -
do Sul
Minas
02 - - -
Gerais
Goiás 02 02 05 02
Distrito
- - - -
Federal
Mato
19 07 07 06
Grosso
Rondônia 12 02 02 -
Total 126 34 31 59
Fonte: RODRIGUES, Vera L. G. da Silva; SILVA, José Gomes da. Conflitos de terras no Brasil, apud
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura.
*Em algumas das notícias, ao invés de dizer-se o número exato dos mortos e feridos em determinado
conflito, dizia-se apenas “vários”. Para efeitos de tabulação, consideramos 3 o número de mortos ou
feridos em tais casos.
122
PRADO JR., Caio. História do Brasi, p. 270.
123
BARROS, Betina; CAETANO, Mariana et al. Soja deve garantir novo recorde na produção de
grãos.
124
Blairo Borges Maggi é um dos proprietários do Grupo Amaggi (Grupo André Maggi), companhia
fundada pelo seu pai André Maggi. A revista norte americana Forbes, em 2014, estimou sua fortuna
em torno de R$ 2,3 bilhões. Disponível em: <www.forbes.com/sites/kerapoza/2014/04/10/for-brazil-
farmer-gift-of-the-maggi-worth-a-billion-bucks/>
76
Quanto mais elevado o preço da terra, mais difícil para o médio produtor
encontrar área para produzir. Para o pequeno, nem se fala. O mercado
125
acabou dando preferencia a empresas maiores.
125
FREITAS, Tatiana. “Megafazendas” lideram crescimento no Cerrado.
77
126
GLASS, Verena. PAC 2: acelerando a tristeza na Amazônia, pp. 129-130.
127
“Em 2010, quando ocorreu o leilão de Belo Monte, o vencedor Consórcio Norte Energia era
composto pela Chesf, Construtora Queiroz Galvão S/A, Galvão Engenharia S/A, Mendes Junior
Trading Engenharia S/A, Serveng-Civilsan S/A, J. Malucelli Construtora de Obras S/A, Cetenco
Engenharia S/A, Gaia Energia e Participações (Grupo Bertin) e Contern Construções. Entre 2010 e
78
do rio Xingu no Pará. Esta obra faraônica (terceira maior hidrelétrica do mundo) é
construída vorazmente, nem um segundo pode ser desperdiçado, 25 mil operários
são alocados em turnos e returnos ininterruptos. Intensificam-se as produções,
maximizam-se os trabalhadores. A humanidade não participa dessa equação.
Qualquer reivindicação de direitos, como a greve, deve ser duramente repelida, as
máquinas não podem parar.
No judiciário, Belo Monte já foi objeto de dezenas de ações judiciais.
Das 15 Ações Civis Publicas do MPF contra Belo Monte, algumas ainda
aguardam julgamento em primeira instância porque os juízes da Altamira e
Belém se negam a apreciar casos ligados à usina. Já no TRF-1, ações
referentes a hidrelétricas raramente têm seus méritos avaliados. Na grande
maioria dos casos, as decisões pela paralisação das obras são derrubadas
através de Suspensão de Segurança, instrumento criado originalmente pela
ditadura militar que utiliza o argumento de "segurança nacional" para
128
invalidar decisões judiciais.
Em 2011 o governo brasileiro foi interpelado pela Comissão Interamericana
de Direitos Humanos (CIDH), órgão pertencente à Organização dos Estados
Americanos (OEA), da qual o Brasil faz parte. A comissão pressionava para que o
governo realizasse consulta prévia às comunidades afetadas pela usina de Belo
Monte, conforme determina a Convenção 169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) ratificada pelo Brasil. Raivosamente, o governo reagiu contra a
instituição, retirando a indicação do ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo
Vanucchi para a CIDH e ameaçando cortar as contribuições brasileiras à comissão.
Os indígenas afetados, certos de seus valores, são veementes contra a
construção da Hidrelétrica. Para Leôncio Arara, pajé da aldeia Arara da Volta
Grande:
Tudo começa na raiz. Raiz; é o que são os meus avós. É o que foi deles, e
que passaram para mim. É a mata onde tenho os remédios pra tudo. Por
isso nada importa além de consolidar nossas raízes no chão. Assim como a
substância da árvore é a raiz (...). Progresso é bom pro pessoal que tem
dinheiro, (...) pro índio, se hoje enchem seu bolso, amanhã ele não tem
nada. Na rua é triste a condição, não vejo vantagens. O que tem lá não
quero aqui. Progresso pra mim é manter a terra e o lugar onde nascemos;
ninguém briga, ninguém esculhamba ninguém, temos o que comer, temos
os nossos remédios. Se nos oferecerem trabalho, a minha ideia, que
2011, porém, parte das empresas privadas deixou o Consórcio, sendo substituídas por estatais e
fundos de pensão. Atualmente, a Norte Energia é composta por Eletrobrás, Chesf, Eletronorte,
Petros, Funcef, Caiza FIP Cevix, Cemig, Light, Neoenergia S.A, Vale Sinobras e J. Malucelli Energia
(estas últimas com participação de 1,00% e 0,25% respectivamente). Andrade Gutierrez, Camargo
Corrêa, Odebrechet, Queiroz Galvão, OAS, Contern, Galvão, Serveng, JJ. Malucelli e Cetenco
formaram o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras orçadas em mais de
R$ 25 bilhões”. (GLASS, Verena. PAC 2: acelerando a tristeza na Amazônia, p. 141.
128
GLASS, Verena. PAC 2: acelerando a tristeza na Amazônia, p. 140.
79
acredito ser a de todos, é que vamos ficar na floresta. Aqui estão todos
129
livres.
Também para o guerreiro povo Munduruku, vítimas da corrida do ouro e ex-
soldados da borracha, a construção de Belo Monte representa a negação de sua
existência física e espiritual:
Hoje o Munduruku está mostrando a cara. Porque o governo entrou em
conflito com a população indígena Munduruku. E a população Munduruku
não vai ficar de braços cruzados dizendo que não aconteceu nada. Então
temos que mostrar para o povo, para a sociedade que governo brasileiro
não está fazendo uma coisa certa pra sociedade. Temos que sensibilizar a
sociedade também. Refletir tudo que estamos passando aqui. Porque essa
luta não é só nossa, essa luta não é do Munduruku nem do Kayapó, é de
toda nação, indígenas e brasileiros. Porque o governo tá com outra
intenção, esse progresso que ele tanto fala não tem planejamento. O
governo tá sempre apressado numa coisa que não favorece a sociedade.
130
Só favorece a eles e os que comem na sua panela.
Vocês inventam que nós somos violentos e que nós queremos guerra.
Quem mata nossos parentes? Quantos brancos morreram e quantos
indígenas morreram? Quem nos mata são vocês, rápido ou aos poucos.
Nós estamos morrendo e cada barragem mata mais. E quando tentamos
falar com vocês trazem tanques, helicópteros, soldados, metralhadoras e
131
armas de choque.
Mas não só em nível nacional o capitalismo se articula. Em uma sistemática
sem fronteiras, no seu desenvolvimento desigual e combinado, Argentina, Brasil,
Bolívia, Chile, Equador, Paraguai, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e
Uruguai se juntaram sob a batuta da ordem econômica internacional para
elaborarem uma gigantesca iniciativa de Integração de Infra Estrutura Regional Sul-
Americana (IIRSA). O objetivo não poderia ser outro que não o lucro a curto prazo. A
intenção, ampliar a exportação de commodities através de aumento considerável da
exploração de recursos naturais. Em uma imposição do efêmero, busca-se no menor
espaço de tempo o maior lucro possível, atropelando direitos humanos e ambientais.
Serão construídas hidrelétricas, linhas de transmissão, portos, aeroportos, rodovias,
hidrovias, pontes, gasodutos e ferrovias, tudo isso para garantir o “direito” de ir vir
das mercadorias. Ainda hoje se repete o discurso ideológico do vazio populacional
conjugado com o atraso econômico para justificar o repasse de grandes áreas ricas
em recursos naturais para as mãos de grandes empreendedores privados.
(...). Mudou o tamanho da economia e o tamanho dos problemas, mas a
natureza das questões é a mesma. E a pergunta fundamental continua
armada pelo mesmo desafio – como resgatar a parcela da humanidade que
habita suas fronteiras. Em sua expressão elementar, todavia vital e
129
GLASS, Verena. PAC 2: acelerando a tristeza na Amazônia, p. 134.
130
MUNDURUKU. apud FAGGIANO, Daniel. Manifestações Munduruku: primeiras hipóteses, p. 121.
131
Carta do povo Munduruku distribuída durante a ocupação do canteiro central de Belo Monte, no
dia 02 de maio de 2013.
80
132
CHASIN, José. A Sucessão na crise e a crise na esquerda, pp. 212-213.
133
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 221.
134
Ibidem, p. 221.
81
CAPÍTULO III
135
Fotografias da Aldeia Kamaiurá de Ipavu, por Daniel Lopes Faggiano, julho/agosto de 2013.
84
85
86
aldeias foram encontradas em 1887 pela expedição etnográfica organizada por Karl
Von den Steinen.140
Ficava mais próxima da bela laguna dos kamayurá. Da praça, avistava-se
um lindo panorama: passando por sobre um juncal vicejante, o olhar se
141
estendia até à água azul iluminada pelos raios solares.
Dizimados por uma forte epidemia de gripe, as quatros aldeias foram
reduzidas a uma única aldeia (Jawaratymap), onde se aglutinaram os sobreviventes.
Sucessivos ataques dos Suyá e dos Juruna dispersam os Kamaiurá em três
territórios denominados Jawyrypywana Kwat,142 Aimakauku e Tuatuari.
Em 1947, quando o indigenista Orlando Villas Bôas conheceu pela primeira
vez a aldeia Kamaiurá, esta estava localizada a cerca de um quilômetro da lagoa de
Ipavu.143 Em 1968, quando Carmen Junqueira os visitou pela primeira vez, os
Kamaiurá já haviam iniciado a construção de uma nova aldeia a quinhentos metros
da lagoa de Ipavu (mudaram em 1971).144 Em 2013, em minha primeira visita, a
aldeia localizava-se a cerca de duzentos metros da lagoa de Ipavu.145
A seguir, podemos observar o Mapa Kamaiurá (segundo os Kamaiurá)
indicando a rota seguida pelo grupo em sua vinda para o Alto Xingu:
140
Do ponto de vista cientifico, a região do Alto Xingu foi visitada pela primeira vez em 1884, pelo
etnógrafo alemão, Karl Von den Steinen (Índios do Brasil Central, 1940). “Von den Steinen, que
entrou em contato com os alto-xinguanos em fins do século passado, ao mesmo tempo que relata a
trama de relações intertribais pacíficas e cooperativas, registra o clima de tensão existente em alguns
grupos, decorrente de incursões guerreiras realizadas principalmente pelos suyá, trumai e kamaiurá.”
(JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, p. 13).
141
DEN STEINEN, Karl Von. Entre os Aborígenes do Brasil Central, p. 148.
142
Nome Kamaiurá do atual Posto Indígena Leonardo que significa “Toca das Ariranhas”.
143
A lagoa de Ipavu localiza-se cerca de nove quilômetros do rio Kuluene e a doze do rio Tuatuari.
144
Em 1971, viviam perto da lagoa de Ipavu, em sete casas, perfazendo um total de 131 pessoas.
(JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, p. 13).
145
Atualmente, além desta, existem duas outras aldeias Kamaiurá. Segundo a pesquisadora Vaneska
Taciana Vitti em estudo realizado em julho de 2013, a aldeia de Morená possui 10 casas com 67
habitantes, enquanto a aldeia de Jacaré possui 02 casas com 21 habitantes.
89
Fonte: SEKI, Lucy. Gramática do Kamaiurá: língua Tupi-Guarani do Alto Xingu, p. 50.
Atualmente (2013) os Kamaiurá da lagoa Ipavu têm uma população de 351
habitantes divididos em 22 casas. Dispostas ao redor de um pátio circular, elas
circunscrevem o centro da aldeia onde está localizada a Casa das Flautas -
Tapyyj
(espaço destinado tradicionalmente ao encontro e diálogo dos homens). As casas,
medindo entre 20 e 15 metros de comprimento, abrigam uma família extensa; no seu
interior, as redes de dormir, antes feitas de fibra de buriti e algodão, hoje
90
manufaturadas, são armadas em leque, a partir dos dois esteios centrais para os
lados.
A lagoa de Ipavu está situada no Alto do rio Xingu, região dos formadores do
rio Xingu,146 zona de transição entre cerrado dominante na parte sul, e floresta
tropical amazônica, ao norte, com matas ciliares, rios e lagoas. O relevo é
majoritariamente plano com duas estações bem definidas, a chuva (inverno –
outubro/março) e a seca (verão – abril/setembro). Nessa região, os Kamaiurá
mantêm uma constante relação intertribal com nove outros povos:
a) Ywalapiti, Waurá e Mehinako (família Aruak)
b) Kuikuro, Kalapalo, Matypu e Nahukwa (família Karib)
c) Aweti (tronco Tupi)
d) Trumai (tronco Tupi)
Não temos informações suficientes para determinar as raízes desses contatos
intertribais, os quais, apesar das diferenças linguísticas, forjaram no Alto Xingu uma
“uniformidade cultural” muito semelhante entre os povos que ali residem. Uma
uniformidade não apenas ergológica, mas também mitológica e social, formando um
complexo sistema de parentesco. Eduardo Galvão denominou a área cultural do Alto
Xingu como “área do uluri” em referência a uma pequena peça da indumentária
feminina presente exclusivamente nos povos do Alto Xingu.
Conforme destacamos em nossos estudos iniciais sobre o conceito de cultura,
não podemos jamais circunscrever e isolar determinada cultura. Devemos, ao
contrário, alargar suas fronteiras, borrar seus limites e ampliar sua história em
contexto. Ou seja, a região do Alto Xingu, deve ser compreendida como um sistema
aberto, composto por diversos sistemas culturais em contínua relação entre si. Ao
mesmo tempo em que esta interação grupal proporciona uma difusão cultural e sua
consequente uniformidade, estimula a permanência de elementos distintivos de
caráter indentitário e exclusivos.
Cada povo, sempre que possível, destaca as qualidades intrínsecas ao seu
grupo, valorizando sua particularidade grupal e assim distanciando-se dos demais
povos vizinhos. Um exemplo disso é a especialização tecnológica que encontramos
nessa região, mas não apenas, os índios alto xinguanos sempre que possível
146
A bacia dos formadores do rio Xingu localiza-se na região centro-oeste brasileira, entre os
paralelos 11 e 13 e os meridianos 52 e 55 W.G.
91
mercado, surgir daquele para ocupar um domínio que lhe seria próprio e
149
submetido às suas próprias leis.
O Alto Xingu situa-se na área que, em parte, foi incluída no território do
Parque Indígena do Xingu.150 O Parque, além de assegurar a posse da terra, busca
assegurar a sobrevivência dos povos indígenas que nele habitam ou a ele foram
transferidos. O Parque contem dois Postos Indígenas; o Posto Leonardo Villas Boas
(assiste aos Kalapalo, Kuikuro, Nahukwá, Matipuhy, Waurá, Mehinako, Iawalapiti,
Kamaiurá, e Aweti) e o Posto Diawarum (assiste aos Trumai, Suyá, Cayabi, Juruna).
O Posto Indígena dedica-se centralmente na preservação do bem estar físico
do índio. Conta com programas médicos de combate de epidemias, de vacinação e
acompanhamento preventivo, mas não só, também desenvolve atividades que visam
o aumento nutricional dos recursos alimentares.
Mas, garantir a sobrevivência dos índios não é apenas zelar por sua saúde
física. Da mesma forma que o alto xinguano foi atingido pelas doenças
transmitidas pelo civilizado, também o foi – por instrumentos de metal,
armas de fogo, machados, enxadas, etc., seja pela troca, saque, ou ainda,
ganhos como presente do civilizado, firmaram-se dentro do contexto cultural
nativo e hoje fazem parte de seu instrumental de trabalho. Estabelecido
esse novo tipo de necessidades que não podem ser satisfeitas pelos
próprios recursos técnicos do índio, cabe ao Posto a tarefa de repor,
regularmente, em todos os grupos, o equipamento de metal de que
necessitam. Ao lado dos objetos de ferro essenciais à produção indígena,
outros artigos também alcançaram as populações alto xinguanas e são hoje
fornecidas pelo Posto: miçangas de porcelana, linhas de náilon para pesca,
anzóis, corantes químicos para tingimento do fio de algodão, laminas de
151
barbear, etc.
Assim, boa parte dos instrumentos de trabalho indígenas, foi substituída por
mercadorias tecnologicamente superiores, as quais possibilitavam ao índio um maior
rendimento de seu trabalho. À medida que as relações econômicas entre índio e
Posto são estreitadas, isto é, à medida que o índio passa a depender mais do
fornecimento de artigos civilizados, diminui a importância econômica das relações
entre os diversos grupos alto xinguanos.152
O caso dos kamaiurá (...) não escapou para se manter, tornou-se
dependente do fornecimento de bens realizado por uma agência externa. E
149
MEILLASSOUX, Claude. Mulheres, Celeiros & Capitais, pp. 17-18.
150
“Instala-se uma nova ordem no Brasil Central. Grupos agressivos são neutralizados, hostilidades
intertribais são contidas. Metal, nylon, corantes deixam de ser bens escassos. Chegam os remédios,
os médicos e a possibilidade de novo equilíbrio demográfico. Os índios fazem seu ingresso na
História do homem civilizado. Reproduzem suas condições de existência, submetidos a uma política
protecionista que lhes assegura a relativa tranquilidade de uma vida de reserva, de uma vida sob
tutela.” (JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, pp.
29-30)
151
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, p. 32.
152
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, p. 75.
93
153
JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, p. 21.
154
GODELIER, Maurice. Comunidade, sociedade, cultura: três modos de compreender as identidades
em conflito, p. 55.
155
MÉSZÁROS, István. Para além do capital, p. 14.
156
JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá. 2ª ed. São
Paulo: Ática, 1978, p. 21.
94
157
IANNI, Octavio. Origens Agrárias do Estado brasileiro.
158
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 87.
159
Ibidem, p. 93.
160
“Como criador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de
existência do homem, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de
mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, vida humana.” (MARX, Karl. O
capital. Crítica da economia política, p. 50).
95
161
“[...] a sociabilidade, a primeira divisão do trabalho, a linguagem etc. surgem do trabalho, mas não
numa sucessão temporal claramente identificável, e sim, quanto à sua essência, simultaneamente.”
(LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social, 2, p. 44).
162
LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social, 2, pp. 43-44.
163
“O ser social – e a sociabilidade resultante elementarmente do trabalho, que constituirá o modelo
de práxis – é um processo, movimento que se dinamiza por contradições, cuja superação o conduz a
patamares de crescente complexidade, nos quais novas contradições impulsionam a outras
superações.” (NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx, p. 31).
96
Assim, o seu modo próprio de ser homem parece somente como um meio
de se manter enquanto indivíduo abstrato. A vida individual apartada da
generidade se volta para si mesma enquanto sobrevivência física imediata e
toda produção humana tem apenas o objetivo de manter o homem físico
individual vivo. A autêntica essência humana se transforma assim em meio
da existência individual abstrata. A individualidade separada do gênero é
uma abstração porque transforma em meio a essência última do homem e
169
em fim os meios de sobrevivência.
Desse modo, a tarefa de uma ontologia materialista consiste em descobrir
historicamente a gênese, o crescimento e as contradições dentro desse
desenvolvimento processual unitário, entre o homem como produtor de si (como ser
individual) e, ao mesmo tempo, como produtor da sociedade (como ser genérico).
164
LUKÁCS, György. O jovem Marx e outros escritos de filosofia, p. 228.
165
Ibidem, p. 233.
166
MARX, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos.
167
MARX, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos, p. 85.
168
MARX, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos, p. 164.
169
COSTA, Mônica Hallak M. da. A exteriorização da vida nos manuscritos econômico-filosóficos de
1844, p. 180.
97
170
LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco.
171
MEILLASSOUX, Claude. Mulheres, Celeiros & Capitais, p. 28.
172
GALVÃO, Eduardo. Encontro de sociedades: índios e brancos no Brasil, p. 111.
98
173
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, pp. 123-124.
174
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 125.
175
“[...] Esses mapeamentos preenchem inúmeras funções. Em primeiro lugar permitem que os
grupos reivindiquem privilégios com base no parentesco. Em segundo lugar, servem para permitir ou
negar às pessoas o acesso aos recursos estratégicos. Em terceiro lugar, organizam a troca de
pessoas entre grupos que têm um pedigree, por meio de suas definições sobre os laços de
parentesco por afinidade; o casamento, em vez de ser um relacionamento que se dá unicamente
entre a noiva e o noivo, torna-se um nexo de aliança política entre grupos. Em quarto lugar, os
mapeamentos permitem que se deleguem funções gerenciais a determinadas posições na
genealogia, distribuindo-as assim de maneira desigual no campo político e legal, quer se trate dos
mais velhos em relação aos mais jovens, das linhas dos primogênitos em relação às linhas dos
caçulas ou das linhas de hierarquia mais elevada em relação às de hierarquia mais baixa. Nesse
processo o parentesco, no nível legal-político, inclui e organiza o parentesco no nível familiar-
doméstico, tornando as relações interpessoais sujeitas a mapeamentos que servem para uma
inclusão ou exclusão categórica.” (Ibidem, p. 125).
99
176
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 126.
177
“O casamento, além das funções de procriação e de natureza sexual, torna-se igualmente
necessário por razões econômicas, decorrentes da divisão sexual do trabalho.” (JUNQUEIRA,
Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, p. 31).
178
JUNQUEIRA, Carmen. Disputa Política na Sociedade Kamaiurá, pp. 223.
100
instituição de chefia ou autoridade fortemente centralizada. As próprias regras que determinam a
sucessão ou transmissão do status de capitão (chefes de grupos familiares e chefe da aldeia) nos
pareceram frouxas. O capitão é, na realidade, o cabeção de um grupo. (...) É um acontecimento
frequente nas aldeias xinguanas, o de os capitães pronunciarem longas exortações para a realização
de uma tarefa. Se estão de acordo, os outros capitães repetem a exortação, dirigindo-se
especificamente ao grupo que comandam. Endossam desse modo, a autoridade central. Por outro
lado, a iniciativa e a realização dessas tarefas depende de combinações e trocas de pontos de vista
realizadas com antecedência pelos diversos líderes, e, mesmo pelos camára influentes. Essas
reuniões, de caráter semiformal, muito se aproximam da ideia ou conceito de um conselho de
chefes.” (GALVÃO, Eduardo. Encontro de sociedades: índios e brancos no Brasil, pp. 91-92).
182
Para Ayron Rodrigues, morerekwat significa “o que faz a gente/o povo viver consigo”, apud
JUNQUEIRA, Carmen. Disputa Política na Sociedade Kamaiurá, pp. 215-233.
183
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, p. 64.
184
“É provável que no século XIX as conversas girassem em torno de guerra, defesa e cerimonias,
hoje incorporam preocupações quanto à obtenção de dinheiro, abertura de estrada para facilitar
viagens à cidade, educação escolar e serviço de saúde.” (JUNQUEIRA, Carmen. Disputa Política na
Sociedade Kamaiurá, pp. 227).
102
187
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 133.
188
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 128.
189
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, p. 63.
104
190
JUNQUEIRA, Carmen. Revisitando a cultura Kamaiurá, p. 42.
191
Atualmente podemos encontrar dentro da aldeia produtos alimentícios industrializados
(especialmente açúcar refinado, sal, café, feijão, arroz e macarrão). Os quais pouco a pouco vem
ocupando cada vez mais destaque na alimentação Kamaiurá. Tal alteração repercute num aumento
105
da incidência de diabetes, acompanhada do aumento no número de indivíduos com sobrepeso ou
obesidade.
192
O beiju pode ser consumido à maneira do nosso pão, estando presente em quase todas as
refeições Kamaiurá, ou, misturado com água, na forma de mingau (Kauím).
106
193
JUNQUEIRA, Carmen. Crianças Kamaiurá, p. 01.
194
TRAGTENBERG, Maurício. A delinquência acadêmica: o poder sem saber e o saber sem poder, p.
09.
195
Cf. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 2011.
107
196
JUNQUEIRA, Carmen. Revisitando a cultura Kamaiurá, p. 31.
108
199
RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil
moderno, p. 232.
200
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista, p. 44.
201
MARX, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos, p. 159.
110
70
60
50
40 Trabalho
Adornos
30
Novidades
20
10
0
1966
1968
1970
2003
Gráfico 1: Solicitação de presentes, por destinação de uso.
O item Adorno, que tem maior número de pedidos nas quatro listas
examinadas, reúne uma variedade grande de objetos ligados ao vestuário e
costura (tecido, roupas, linha de costura e agulha), ao uso pessoal (lâminas
de barbear, navalha, espelho, pinça, pente, canivete, tesoura, cobertor, rede
de dormir) e adornos propriamente ditos (linha de algodão para confecção
de braçadeiras, joelheiras, novelos de lã, miçangas, contas, guizos) que, em
205
todo esse conjunto, são os presentes mais apreciados.
204
Ibidem, pp. 33-34.
205
JUNQUEIRA, Carmen. Revisitando a cultura Kamaiurá, p. 34.
112
208
JUNQUEIRA, Carmen. Revisitando a cultura Kamaiurá, p. 45.
209
MARX, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos, p. 208.
114
210
Ibidem, p. 232.
211
Ibidem, pp. 232-233.
212
Ibidem, p. 234
115
213
JUNQUEIRA, Carmen. Revisitando a cultura Kamaiurá, p. 47.
214
JUNQUEIRA, Carmen. Disputa Política na Sociedade Kamaiurá, p. 225.
215
TRAGTEMBERG, Maurício. Sobre educação, sindicalismo e política, p. 150.
116
tradição são apresentados, cada vez mais, como algo pertencente ao passado, algo
que já foi, superado, obsoleto.
O presente se apresenta, assim, mistificado e em transição. Quanto ao futuro,
sob o risco de ruir antes do tempo, este só existirá com a superação total da
sociabilidade do capital que subordina o modo de ser Kamaiurá.
117
CONSIDERAÇÕES FINAIS
118
217
LUKÁCS, György. O jovem Marx e outros escritos de filosofia, pp. 240-241.
218
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em Comum, p. 33.
120
219
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Lutas de classes na Rússia, p. 93.
220
Ibidem, p. 96.
221
MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital.
122
222
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Lutas de classes na Rússia, p. 104.
223
MARS, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos, pp. 192-193.
123
124
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