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DENISE MARIA DOS SANTOS SILVA

EVANGELIZAÇÃO INFANTIL: COMO VENCER OS DESAFIOS?


FUNDAMENTOS, VANTAGENS E DESAFIOS.

NOVA IGUAÇU
2020
DENISE MARIA DOS SANTOS SILVA

EVANGELIZAÇÃO INFANTIL: COMO VENCER OS DESAFIOS?

FUNDAMENTOS, VANTAGENS E DESAFIOS.

Trabalho de conclusão de Curso,


apresentado para conclusão do curso de
Bacharel em Teologia da Faculdade
Iguaçuana de Teologia Orientador:
Professora Evanilda de Lima Oliveira.

NOVA IGUAÇU
2020
DENISE MARIA DOS SANTOS SILVA

EVANGELIZAÇÃO INFANTIL: COMO VENCER OS DESAFIOS?

FUNDAMENTOS, VANTAGENS E DESAFIOS

Trabalho de Conclusão de curso


aprovado pela Banca Examinadora para a
obtenção do grau de Bacharel, no curso
da Faculdade Iguaçuana de Teologia
abordando a linha de Educação Cristã.

Nova Iguaçu, 11 de setembro de 2020.

BANCA EXAMINADORA

Professora Evanilda de Lima Oliveira


RESUMO

O objetivo do presente trabalho é destacar a importância do trabalho voltado à


evangelização infantil, analisando três aspectos distintos vinculados ao processo. Primeiro,
verificar as bases bíblicas sobre as quais esse evangelismo se dá. Em seguida, buscar
evidenciar as vantagens do evangelismo de crianças e, finalmente, abordar os desafios da
evangelização infantil. A Igreja ainda tem investido timidamente em políticas de trabalho
voltadas a esse tipo de evangelização especificamente, mas a Bíblia manifesta o amor de
Deus pelas crianças, e ordena que elas sejam ensinadas nos caminhos do Senhor desde a
tenra idade. Assim sendo, buscou-se explicitar que no contexto bíblico, a evangelização
infantil pode ser entendida como um Mandamento do Senhor. De fato, quando uma criança
aceita Jesus Cristo como salvador, ela pode crescer em um caminho que a livrará de muitos
traumas, além de poder dedicar muitos anos de sua vida a serviço do Reino. Há desafios a
serem vencidos quando o assunto é a evangelização das crianças e o principal deles é a
correta visão sobre a grandeza do trabalho a ser realizado. O foco da evangelização infantil
deve ser a conversão das crianças, tratando elas como o alvo central dos esforços,
mantendo um ambiente e linguagem adaptados à faixa etária, com o Evangelho ganhando
destaque. Destaca-se ainda, que a questão familiar é um aspecto fundamental que envolve
o ministério de evangelização infantil e a Igreja deve trabalhar em sinergia com os pais,
ajudando estes na criação de um ambiente doméstico em que se possa viver de acordo com
os preceitos ensinados na Igreja, para que ao conviver num ambiente que a ajude a se
desenvolver e a permita ter experiências de fé, a criança cresça no caminho correto.

Palavras-chave: Crianças; Evangelização; Família; Igreja; Ministério; infantil;


ABSTRACT

The objective of the present work is to highlight the importance of the work focused on
children’s evangelization, analyzing three distinct aspects linked to the process. First,
check the biblical basis on which this evangelism takes place. Then seek to highlight the
advantages of evangelism for children and finally address the challenges of child
evangelism. The church still has timidly invested in work policies specifically focused on
this type of evangelization, but the Bible manifests God's love for children, and commands
them to be taught in the ways of the Lord from an early age. Thus, it was sought to make
explicit that in the biblical context, infantile evangelization can be understood as a
commandment of the Lord. In fact, when a child accepts Jesus Christ as a savior, he can
grow in a path that will save him from many traumas, and he may devote many years of his
life to the service of the Kingdom. There are challenges to be overcome when it comes to
the evangelization of children and the main one is the correct view of the greatness of the
work to be done. The focus of child evangelism should be the conversion of children,
treating them as the central target of efforts, maintaining an environment and language
adapted to the age group, with gospel gaining prominence. It is also worth noting that the
family issue is a fundamental aspect that involves the ministry of child evangelization and
the church must work in synergy with the parents, helping them to create a home
environment in which one can live according to the precepts taught in the church, so that
by living in an environment that helps her develop and allows her to have experiences of
faith, the child grows in the right way.

Keywords: Children; Children's ministry; Church; Evangelization; Family; Kids;


6

Sumário
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 7
1 CONCEITOS NORTEADORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL ..................................... 9
1.1 Definição de criança e infância .................................................................................... 9
1.2 Definição de Evangelho, Evangelhos, Evangelismo e Evangelização ...................... 10
1.2.1 Evangelho ............................................................................................................ 10
1.2.2 Evangelismo ........................................................................................................ 10
1.2.3 Evangelização...................................................................................................... 10
1.3 Panoramas da infância no mundo .............................................................................. 11
1.4 A Teologia evangélica e as crianças .......................................................................... 13
2 A BÍBLIA E A EVANGELIZAÇÃO DE CRIANÇAS ................................................... 14
2.1 Deus ama as crianças ................................................................................................. 15
2.2 As crianças devem ser ensinadas na Palavra ............................................................. 16
2.3 Os adultos devem cuidar das crianças ....................................................................... 18
2.4 As crianças podem ser usadas por Deus .................................................................... 19
2.5 As crianças podem confiar em Deus .......................................................................... 20
2.6 As crianças devem ser evangelizadas ........................................................................ 22
3 VANTAGENS E DESAFIOS DA EVANGELIZAÇÃO INFANTIL ............................ 25
3.1 O retorno da evangelização é maior........................................................................... 26
3.2 Uma vida inteira para Deus........................................................................................ 27
3.3 A sinergia entre a Igreja e a família ........................................................................... 29
3.4 Impactar a geração futura........................................................................................... 31
3.5 A visão do trabalho de evangelização infantil ........................................................... 33
3.6 O desenvolvimento integral da criança ...................................................................... 35
3.7 Alcançar a família ...................................................................................................... 37
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 42
REFERÊNCIAS WEBGRÁFICAS ...................................................................................... 43
7

INTRODUÇÃO

Um terço da população mundial é constituído de indivíduos de até quatorze anos.


No Brasil, essa faixa etária corresponde a um quarto do universo populacional, sendo que
vinte e sete por cento das pessoas que engrossam as estatísticas dos pentecostais no censo
demográfico nacional é composto por crianças com menos de treze anos. Apesar disso, a
Igreja tem investido timidamente em políticas de trabalho voltadas ao evangelismo desse
contingente de pessoas.
Vários exemplos encontrados nas Páginas Sagradas reiteram que as crianças
podem colocar em Deus sua confiança e serem por ele usadas. Entretanto, para que o
ministério infantil funcione adequadamente não basta apenas criar programas para as
crianças. Muitas Igrejas têm reuniões destinadas ao público infantil e não propiciam que
a evangelização infantil alcance êxito.
A presente monografia se divide em três capítulos, sendo que o primeiro
esclarece alguns conceitos norteadores relacionados ao tema e que serão utilizados nos
capítulos seguintes. Inicialmente buscou-se definir criança e o que pode ser considerado
Evangelismo, assim como Evangelho, Evangelhos, e Evangelização; além de trazer um
panorama atual da infância no mundo e quais as visões teológicas predominantes na
Igreja evangélica a respeito da salvação infantil.
Primeiramente, expõe-se o que a Bíblia registra sobre a infância e suas
capacidades espirituais e cognitivas. A verdade bíblica de que Deus ama as crianças é o
ponto de partida para ressaltar também que ele quer que os adultos cuidem delas e que é
Mandamento do Senhor que elas sejam ensinadas na sua Palavra.
Na sequência, serão abordadas a Bíblia e a evangelização das crianças, o amor de
Deus pelos pequeninos, o cuidado que os adultos devem ter em ensinar essas crianças na
Palavra e a transmissão dessa fé e confiança em Deus.
No terceiro capítulo serão abordados as vantagens e desafios da evangelização
infantil, apesar de não serem poucas, estarão resumidas em sete tópicos, sendo que o
primeiro deles aborda a questão sob a perspectiva do retorno dos esforços dispensados
na obra evangelística, que é maior entre crianças do que entre adultos; o segundo ponto
explica que quando um infante se converte, ele pode dedicar toda sua vida a Deus, o que
não é tão somente útil para a Igreja e para o Reino, mas também para o próprio
indivíduo, que é poupado de muitas dores.
8

A sinergia entre a Igreja e a família é uma vantagem que a ser alcançada, pois a
cooperação, a união da família e a Igreja num mesmo propósito trarão muitos benefícios
para todos; o quarto tópico desse capítulo foca nos benefícios, o impacto que a
evangelização precoce traz à futura geração, tanto em termos sociais como eclesiásticos.
Nos tópicos a seguir, serão tratados os grandes desafios enfrentados pelo
ministério de evangelização infantil. Longe de propor uma extensa lista de entraves, este
capítulo irá discorrer sobre os três problemas que mais afetam o desempenho do trabalho
com crianças, obstáculos fundamentais sobre os quais todas as outras possíveis
dificuldades estarão apoiadas.
O quinto aborda a visão do ministério sobre a evangelização infantil, que
costuma ser equivocada ou distorcida. Sem a implementação da visão correta deste
trabalho, jamais os resultados esperados irão aparecer. O sexto é a questão da busca pelo
desenvolvimento integral da criança, o que envolve outros fatores, além do enfoque
puramente espiritual. Os pequeninos devem ser vistos como seres completos, possuindo
necessidades sociais, psicológicas e outras.
O derradeiro desafio está relacionado à expectativa de a evangelização infantil
alcançar a família, ou seja, os pais serem salvos pelo fato da Igreja investir na conversão
dos filhos. Esse desafio sendo vencido, a criança poderá desenvolver sua fé em um
ambiente sadio e próspero.
9

1 CONCEITOS NORTEADORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Antes de qualquer outra coisa, é necessário estabelecer alguns fundamentos e


pressupostos, sobre os quais os capítulos seguintes do presente trabalho irão se basear ao
abordar o tema e os objetivos propostos.
A qual faixa etária a monografia estará se referindo ao falar de infância, crianças
e seus termos relacionados, em qual contexto vivem essas crianças, quais são as visões
teológicas a seu respeito e outros tópicos relevantes serão alguns dos primeiros assuntos
tratados.
Para todos os efeitos, a presente obra irá se harmonizar com o Estatuto da
Criança e do Adolescente na questão etária toda a vez que se referir de modo genérico a
crianças ou à infância, salvo em casos específicos, que serão devidamente assinalados.

1.1 Definição de criança e infância

Segundo o Dicionário Aurélio:

Criança é um ser humano de pouca idade, independente do gênero;


enquanto infância corresponde à etapa da vida humana que vai do
nascimento até a puberdade (FERREIRA, 2010, p. 42).

Talvez por ambos os termos forem um pouco vagos, o Estatuto da Criança e do


Adolescente estipula que devem ser consideradas como crianças os indivíduos de até
doze anos, em raras exceções (BRASIL, 2016).
Essa idade, apesar de ser tomada como padrão em vários aspectos, por vezes é
estendida até os catorze anos em variadas pesquisas que têm como temática assuntos
relacionados à infância. Colabora para isso o fato de que é nesta idade que se espera que
o indivíduo conclua o ensino fundamental e a partir da qual está apto, de acordo com a
legislação brasileira, a ingressar no mercado de trabalho, em certas condições, como não
trabalhar no período noturno, estar frequentando a escola, trabalho de meio período
(CORTES, 2016).
10

1.2 Definição de Evangelho, Evangelhos, Evangelismo e Evangelização

“Evangelismo é evangelizar, isto é, espalhar as Boas Novas da


salvação em Cristo”.
Pr. N.Lawrence Olson1

1.2.1 EVANGELHO
A palavra Evangelho vem do grego Evanggélion, literalmente significa “Boas
Novas” (IBADERJ, 2012, p. 111). Evangelhos referem-se aos quatro primeiros livros do
Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João. Estes livros foram escritos a pessoas
diferentes e com propósitos diversos. Os Evangelhos apresentam Jesus Cristo encarnado,
sua obra redentora, sua vida, ministério, morte e ressurreição (LOPES, 2006, p. 16).

1.2.2 EVANGELISMO
Na palavra Evangelismo, “ismo” vai significar sistema. Sendo assim,
Evangelismo é o ato de anunciar as Boas Novas com métodos e estratégias
sistematizadas (ibid., 2012, p. 111). Evangelismo compreende a proclamação das Boas
Novas aos pecadores, anunciando que Jesus Cristo morreu por seus pecados, ressuscitou,
e que está disposto e tem o poder para salvar todos aqueles que nele creem e dão as
costas ao pecado (DOHERTY, 2014, p.21).
Quando este trabalho se referir a evangelismo estará utilizando um conceito
amplamente conhecido e entendido no seio da Igreja pentecostal brasileira. Ainda assim,
é importante deixar claro o que envolve isso, tendo em vista que a visão comum sobre o
ministério com crianças normalmente dilui o termo, mudando seu sentido de modo
significativo.

1.2.3 EVANGELIZAÇÃO
Evangelização é uma dimensão essencial de missão, e está intrinsecamente e
intimamente ligada à missão da Igreja enquanto estiver na terra (IBADERJ, 2012, p.
110).
A evangelização envolve o ensino sobre cinco verdades bíblicas essenciais. Sobre
Deus, o Criador e fonte da salvação; o pecado, o motivo da separação humana de Deus e

1
Missionário, pastor, pioneiro do radioevangelismo e do ensino teológico nas Assembleias de Deus, Nels
Lawrence Olson, exerceu cargos de importância no Conselho de Doutrina da CGADB e no Conselho
Administrativo da CPAD, do qual foi fundador e membro vitalício. (CPAD, 2020).
11

que gera a consequente necessidade de salvação; sobre Cristo, o caminho para a salvação
que religa a humanidade ao Criador; sobre a fé e o arrependimento, que é o meio pelo
qual se confia na solução oferecida por Deus para o pecado e se toma a decisão
consciente de não mais pecar; e sobre os resultados da salvação, que abarca a explicação
do que implica ser salvo, a justificação, a vida eterna, e a santificação.
Tais fatores característicos do evangelismo, encontrados comumente no ensino de
adultos não podem faltar na evangelização de crianças, conforme será tratado neste
trabalho, ou não estará se cumprindo o propósito proposto (SILVA, 1997, p. 29).
Qualquer ministério infantil que não apresenta às crianças as verdades
relacionadas a estes cinco tópicos não estará, verdadeiramente, evangelizando-as. Para
que as vantagens do trabalho, que serão vistas no próximo capítulo, possam ser
alcançadas é vital que se considere o evangelismo, mesmo de crianças, como ele de fato
é e com o que de fato ele contém.

1.3 Panoramas da infância no mundo

Segundo Brewster os dados estatísticos reunidos de fontes como o Fundo das


Nações Unidas para a Criança e o Adolescente (Unicef) e outras agências
governamentais de pesquisas, revelam as seguintes afirmações abaixo:

Do total de mais de seis bilhões de habitantes do planeta, um terço são


de crianças e adolescentes de quinze anos para baixo. Em muitos países
em desenvolvimento, este percentual chega a cinquenta por cento da
população. Desse montante de crianças e adolescentes, mais de um terço
vive em habitações com mais de cinco pessoas por quarto, mais de meio
bilhão vive sem nenhuma instalação sanitária, cento e trinta e quatro
milhões não têm acesso algum à escola e duzentos e quarenta e seis
milhões trabalham, sendo que cento e setenta e um milhões delas estão
envolvidas nos piores e mais degradantes tipos de trabalho infantil.
Estima-se que um milhão de crianças ingressem no mundo do sexo
comercial anualmente (BREWSTER, 2015, p. 247).

Mais de trinta e sete por cento das crianças do mundo vivem em um estado de
pobreza absoluta, expostas e vulneráveis a todo tipo de abuso: vivendo nas ruas, sendo
exploradas sexualmente ou em trabalhos forçados, sendo afetadas e utilizadas em
conflitos armados, sendo vítimas do tráfico humano e até mesmo do tráfico de órgãos
(BREWSTER, 2015, p. 13).
12

Por outro lado, e ao contrário do que se possam imaginar, as crianças que vivem
em países desenvolvidos, que têm acesso à educação, saúde e outros recursos, não
estando expostas a esses tipos de problemas citados no parágrafo anterior, também se
encontram em situação vulnerável.
Sendo frutos de um mundo que tem cada vez mais se distanciado de Deus,
crescendo em meio a uma filosofia de vida extremamente relativista e amplamente
materialista, de relacionamentos frios e inseridos em famílias de pais ausentes, as
crianças e adolescentes destas sociedades são igualmente ocos, carecendo de uma
percepção de propósito e de um sentido de vida. Tal realidade tem aumentado a taxa de
suicídio entre jovens e levado a diversos outros comportamentos autodestrutivos que
acabam por incidir de volta na sociedade (Ibid., p. 12 ).
No Brasil a situação geral não destoa do panorama mundial. Segundo dados do
censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população
total do país é de 190.755.799 pessoas, sendo que vinte por cento deste número é
constituído de crianças de até doze anos. Se contados juntos os adolescentes, de até
catorze anos, a proporção deste grupo chega a um quarto do universo populacional
(IBGE, 2016).
Outros dados do IBGE são: o percentual da população economicamente ativa
sem renda ou com renda de até dois salários mínimos ultrapassa o índice de oitenta por
cento do montante recenseado, o que configura uma sociedade com muitas
vulnerabilidades sociais, especialmente quando se trata de crianças; a proporção de
crianças e adolescentes de até catorze anos dentro do universo evangélico é de vinte e
sete por cento (ibid., 2016).
Ainda mais relevante e específico é o fato de vinte e sete por cento de todo o
povo contado como pentecostal no Brasil é, de fato, constituído por indivíduos desta
faixa etária, ou seja, mais de um quarto de todo o contingente pentecostal brasileiro tem
menos de quinze anos de idade (ibid., 2016).
Tal número merece especial atenção porque, muito embora engrosse as
estatísticas pentecostais, não se constitui realmente de membros denominacionais, pois
tradicionalmente crianças e adolescentes desta idade ainda não passaram pelo batismo,
que se constitui no ritual de admissão no seio eclesiástico pentecostal (ibid., 2016).
Tendo em mente os dados apresentados acima, pode-se perceber que as crianças
estão em todo lugar, desde subculturas marginalizadas, às mais diversas situações
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adversas, passando por todas as classes econômicas em todos os países e cidades do


mundo, estando, inclusive, nas Igrejas (BREWSTER, 2015, p. 11).
É de espantar, portanto, que salvo raras exceções, a Igreja não tem apresentado
muitas iniciativas ou políticas voltadas especialmente a elas. Essa realidade já deveria
ser argumento suficiente para que uma genuína preocupação missionária que objetivasse
alcançar esse público infantil surgisse no âmago da comunidade cristã.

1.4 A Teologia evangélica e as crianças

Há duas linhas teológicas principais no que concerne ao assunto tratado que são
as mais aceitas no mundo evangélico. A primeira e a Teologia Arminiana, acredita que
apenas bebês e crianças em tenra idade de pais salvos são aceitos no céu quando
morrem. A segunda, a Teologia Reformada com aceitação muito mais ampla, assume
que todas as crianças, independentemente da condição espiritual de seus pais, são
protegidas pela graça divina, pois são eleitas de Deus (WILLMINGTON, 2015, p. 627).
Nesse sentido, descarta-se a primeira ideia, pelo entendimento de que ela
contraria um claro preceito bíblico, de que cada indivíduo é responsável por si próprio
perante o Criador. Se essa teoria fosse aceita, estaria admitindo que as crianças fossem
salvas ou condenadas pela conduta dos pais, da qual os filhos da idade em questão nem
sequer tem conhecimento, quanto menos responsabilidade.
Dentro da segunda linha, preferir-se-á a última abordagem, não por entender que
seja tão diferenciada do entendimento padrão, mas por crer que em seu foco ela revela
uma consequência geralmente ignorada pela comunidade cristã.
A interpretação majoritária sobre este assunto geralmente leva a Igreja a uma
letargia, a uma falta de inércia, a um descuido em relação ao ministério infantil. É fácil
assumir que as crianças estão “salvas” até o momento que desenvolvam a consciência do
pecado e que só então venham a precisar conhecer o Salvador.
Talvez por isso não seja tão difícil ver Igrejas que não aplicam investimento
algum nesta área, e quando o fazem trabalham com a visão errada, buscando apenas
entreter as crianças durante as reuniões, ou visando ganhar os pais a partir dos filhos, ou
ainda almejando tão somente ensinar algumas histórias bíblicas para os pequeninos.
O grande problema dessa doutrina é que muitas vezes se estipula, seja de modo
consciente e intencional ou não, que a idade na qual a criança se desperta para as coisas
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espirituais é o início da puberdade. Trabalha-se, então, de modo sério com indivíduos a


partir de doze e até mesmo só depois dos quatorze anos de idade.
Enquanto isso, a segunda abordagem admite a possibilidade de uma criança,
ainda que pequena, estar perdida, fora da graça divina e, por isso, tem como objetivo a
evangelização e a salvação dessa alma.
Como já exposto anteriormente, não é uma questão de determinar qual ponto de
vista está com a razão. A questão é que a Igreja não pode ignorar a possibilidade de uma
criança de dez, oito, seis anos ou menos já ter adquirido a consciência e o discernimento
entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, podendo da mesma forma escolher entre
aceitar o Evangelho ou rejeitá-lo.

2 A BÍBLIA E A EVANGELIZAÇÃO DE CRIANÇAS

Ao contrário do que muitos pensam as crianças não são assunto novo ou obscuro
da Bíblia. De fato, o vocábulo “criança” e sua forma plural aparecem mais de quinhentos
e cinquenta vezes nas Escrituras Sagradas, e ainda há muitas outras formas relacionadas
e derivadas em profusão (BREWSTER, 2015, p. 28).
Além disso, por vezes são as crianças que ocupam papel central em narrativas.
Grandes personagens bíblicos têm sua origem traçada desde a época da infância. Exemplos
de escravidão infantil e sacrifício de crianças são mostrados nas páginas da Bíblia e será
visto aqui alguns casos.
Moloque por exemplo, era um deus conhecido pelo ato tenebroso de sacrifício de
crianças em honra ao ídolo. Crianças eram queimadas no fogo para agradá-lo (II Reis 23.10;
Jeremias 32.35). Essa prática era horrenda e a Bíblia relata em Deuteronômio e Levíticos a
proibição dessa prática e adoração a esse deus (Deuteronômio 18.10; Levíticos 18.20 e
20.2).
Em II Reis 4.1-7, a Bíblia narra a história de uma viúva que procura o profeta
Eliseu, muito triste, desamparada, com dívidas, não tinha dinheiro para pagar a dívida
deixada por ser esposo e por isso, o cobrador queria levar seus dois filhos ainda pequenos
como escravos. Os dois filhos, ainda crianças, teriam que trabalhar pesado para pagarem a
dívida pendente, sendo explorados. Mas, Deus realizou uma intervenção divina para livrá-
los da escravidão (BARBOSA, 2016, P.21).
O livro de Êxodo relata um terrível Faraó, governador do Egito que se sentia
15

ameaçado porque o número de pessoas do povo de Israel que viviam ali como escravos só
crescia e se fortalecia cada vez mais. Por isso, deu uma ordem para que os bebês meninos
fossem mortos no nascimento. Mas o povo de Israel ainda assim continuou crescendo,
nasceu Moisés, com uma história muito especial guardada por Deus para libertar Israel
(Êxodo 2-3).
Neste capítulo se procurará entender qual é a perspectiva bíblica sobre as crianças.
A pergunta em mente é: em relação às suas capacidades quanto à fé, quanto a
relacionarem-se com Deus, quais serão os potenciais das crianças, passíveis de serem
biblicamente auferidos? A resposta será explanada no capítulo a seguir:
Contudo, é necessário frisar que não se pretende, de modo algum, fazer uma
análise temática exaustiva sobre este assunto. Serão vistos apenas algumas questões que,
sendo úteis para o escopo do trabalho, possam refletir de modo geral o que Deus revela a
respeito dessa matéria em sua Palavra.

2.1 Deus ama as crianças

Deus é amor. É inconcebível a ideia de que aquele que amou o mundo de tal
forma que deu seu próprio filho em resgate dele não se importe com as crianças. (I João
4.8; 4. 9).
A inferência lógica de que Deus amou a humanidade por Ele criada leva a incluir
os pequeninos nesse amor. Todavia, não é só por inferência que se chega a essa
conclusão. É possível perceber tal fato através de outras evidências bíblicas.
Várias Leis do Pentateuco têm como objetivo proteger as crianças. Se Deus não
as amasse, porque se preocuparia em dar Mandamentos a respeito do cuidado com os
órfãos, ou então, por exemplo, ordenar que os israelitas construíssem parapeitos nos
terraços de suas casas, evitando com isso acidentes, ou então exortando aos pais a
ensinar seus filhos no conhecimento da Palavra do Senhor? (Deuteronômio 22:8; 6.6-7).
O salmista Davi também afirma que das crianças Deus suscita perfeito louvor
(Salmos 8.2; Mateus 21.16). Ora, o louvor, biblicamente, é expressão de adoração,
gratidão e reconhecimento da soberania divina, algo no que o Criador se deleita (WOS,
2012, p. 69).
O fato de suscitar isso nas crianças demonstra o amor que ele tem por elas. Em
sua simplicidade elas representam o ser humano totalmente dependente do Pai, que o
16

louvam com sinceridade de coração, sendo, em muitos casos, de gestos mais perfeitos do
que os adultos (DOHERTY, 2014, p. 120).
No Novo Testamento, é possível ver Jesus dizendo “deixem vir os pequeninos a
mim e não as impeçais” (Marcos 10.14; Lucas 18.16). De fato, em mais de uma
oportunidade Jesus Cristo deu atenção aos pequeninos, tomando-as em seu colo e as
abençoando (Marcos 5.21-43; Lucas 18.16-17). Parece que Jesus Cristo não só tinha
afinidade com as crianças como era com elas que se sentia mais à vontade (SPURGEON,
2004, p.17). Talvez isso se desse pelo fato de que para pertencer ao Reino a pessoa
precise ser semelhante a uma criança (Marcos 10.15; Lucas 18.16-17).
Além desses textos mencionados, percebe-se também o amor divino demonstrado
em ações milagrosas do Mestre. A cura do menino endemoninhado ou que sofria de
epilepsia (Mateus 17.14-21), a filha de Jairo que Jesus ressuscitou (Marcos 5.21-43) e a
cura do filho do oficial do rei (João 4.46-54), são claros exemplos.
Considerando os casos acima, fica evidente que o Senhor ama as crianças e que
estas não são invisíveis ou insignificantes para ele. Que os cristãos e a Igreja não sejam
como os primeiros discípulos, servindo de obstáculo e tropeço para elas, mas que as
amem e sejam pedras de apoio para que possam chegar ao Salvador (DOHERTY, 2014,
p. 83).

2.2 As crianças devem ser ensinadas na Palavra

A tarefa de ensinar as crianças é um tema recorrente na Bíblia e é fácil encontrar


vários textos que ordenam ao povo que ensinem a seus filhos as coisas de Deus no
Pentateuco.
Em Deuteronômio 4.9, se lê que Israel deveria ter o cuidado de se lembrar
continuamente das experiências vividas e contá-las a seus filhos e a seus netos, ou seja,
no momento histórico no qual o povo estava prestes a entrar na Terra Prometida, o
Senhor exorta que cada família (e a sociedade por extensão) se preocupasse em
transmitir à geração futura tudo aquilo que haviam visto, ouvido e experimentado
durante a peregrinação pelo deserto. E que aquela geração compartilhasse com seus
descendentes o relacionamento que havia desenvolvido com seu Deus e Senhor através
da jornada pela península do Sinai.
O tema se acentua em Deuteronômio 6.3-9, no momento que Deus mostra o
17

núcleo de todos os Mandamentos: o amor ao Senhor. Na parte final dessa perícope, a


nação é ordenada a ensinar a Lei a seus filhos com persistência, conversando sobre o
assunto quando estiver sentado em casa, andando pelo caminho, quando se deitar e
quando se levantar. Em outras palavras, em todo o tempo e utilizando todas as formas
possíveis, mesmo as visuais e referenciais.
Essa mesma instrução é repetida em Deuteronômio 11.19 e a respeito do
resultado dessa prática, de inculcar a Palavra nos filhos, surge um provérbio, registrado
por Salomão, muito conhecido e recitado: “instrua o menino no caminho em que deve
andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele” (Provérbios 22.6).
Além disso, é interessante notar que as crianças não deveriam ser poupadas de
assembleias solenes, como a leitura da Lei, que deveria acontecer de sete em sete anos,
segundo a Bíblia (Deuteronômio 31.9-13).
Eventos semelhantes a esse, onde as crianças obrigatoriamente estavam
presentes, são registrados em Josué, quando da renovação da aliança entre Israel e Deus
Josué (8.34-35); e em Neemias, quando da celebração da reconstrução dos muros de
Jerusalém (Neemias 12.43).
As crianças sempre eram incluídas no drama e nos rituais de adoração do Antigo
Testamento, e isto porque esta era a expectativa divina. O rito pascal serve como um
recurso visual e referencial que provê uma ajuda prática para o ensino da Palavra de
Deus de uma geração a outra (BREWSTER, 2015, p. 35).
O mesmo sentido se exprime nos memoriais, como o levantado por Josué na
passagem do Jordão (Josué 4:6-7). Recursos como esses, tinham em vista incitar a
curiosidade infantil, promovendo oportunidades excelentes para o ensino das coisas
sagradas a eles.
No Novo Testamento a situação não é diferente. A Ceia do Senhor é um perene
sermão evangelístico, que pode servir como instigação à mente infantil (SPURGEON,
2014, p. 69).
Em relação a educar a criança desde pequena nos caminhos de Deus também há
exemplos. O Apóstolo Paulo manifesta sua aprovação quanto a este tema de forma
implícita na sua segunda carta a Timóteo, ao mencionar que seu discípulo já conhecia
desde criança as sagradas letras capazes de torná-lo sábio para a salvação (II Timóteo
3.14-15).
É importante lembrar que a palavra meninice refere-se ao início da vida, os
18

primeiros anos da criança, ou seja, Timóteo foi ensinado nas coisas de Deus desde novo.
É possível, então, com base nessas evidências das Sagradas Escrituras, concluir
que o ensino bíblico às crianças deve ser provido desde cedo, de modo contínuo e sob
diversas formas, para que ela possa ser levada a entender o Evangelho e cumprir o
propósito divino que é colocar em Deus sua confiança, não esquecer os feitos do Senhor
e observar seus Mandamentos (DOHERTY, 2014, p. 34).
Dessa forma, o ensino a elas não pode ser fundamentado no desenvolvimento de
uma suposta boa natureza infantil, mas sim na necessidade do novo nascimento. Não
deve exaltar a inocência da infância, mas corrigir os pecados aos quais a criança se
inclina (a mentira é o pecado infantil mais comum). Há que se lidar com os pequeninos
com a mesma honestidade do que com os velhos, para que aprendam a doutrina da cruz e
encontrem salvação imediata (SPURGEON, 2014, p. 71).

2.3 Os adultos devem cuidar das crianças

Em toda a Bíblia, a tarefa de cuidar das crianças é bem evidente. É função


primária dos pais cuidar, zelar, educar e proteger seus filhos, sendo que a tarefa de
proporcionar aos pequeninos um ambiente e que possam se sentir seguros e no qual
desenvolvam seu pleno potencial é extensivo à sociedade e, de certa forma, também à
Igreja.
O fato de ser a classe humana mais vulnerável sob todos os aspectos amplia a
responsabilidade dos adultos em relação a elas, pois as crianças são seres humanos
criados à imagem e semelhança de Deus e isso lhes dá valor e dignidade intrínseca
(BREWSTER, 2015, p. 30).
Na Bíblia, não raras vezes é possível ver Deus expressando sua preocupação com
as crianças. A intervenção divina na vida de Hagar e seu filho Ismael é um exemplo.
Nele percebe-se Deus ouvindo o choro da criança e provendo uma solução para seu
problema imediato (Gênesis 21.14-21).
Também existem textos como em Joel 3.3-8, em que a exploração infantil é
condenada e serve de base para os futuros castigos que se abateriam sobre o povo de
Israel. Além disso, as práticas repugnantes do sacrifício e da escravidão infantis são
também condenadas várias vezes nas Escrituras, e o Senhor reafirma seu cuidado com os
órfãos em diversas oportunidades (Êxodo 22.2; Deuteronômio 10.18; 27.29; Salmos
19

68.5).
De fato, a expectativa de Deus era a de que os adultos atentassem mais para suas
responsabilidades de cuidar e ensinar aos filhos do que observassem seus eventuais
direitos sobre os mesmos. Isso fica evidente na parábola narrada no Evangelho escrito
por Lucas (Lc 11.11-13), explicitando o que se espera dos pais: que deem coisas boas
aos filhos. O relacionamento de uma criança com seus pais irá ter uma influência
significativa sobre a percepção dela sobre o Senhor (LOPES, 2017, p. 356).
Outro texto interessante do Mestre sobre o cuidado que deve ser dispensado às
crianças, é o relatado no Evangelho escrito por Mateus: “Mas qualquer que escandalizar
um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao
pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar” (Mateus 18.6). É
nesse famoso trecho que Jesus coloca uma criança no meio de seus discípulos e explica
como eles devem ser para participar do Reino (Mateus 18.1-14).
No versículo citado, Jesus Cristo afirma que seria melhor se jogar ao mar com
uma grande pedra amarrada ao pescoço do que fazer cair em pecado qualquer pequenino.
Muitas vezes esse texto é entendido de forma metafórica, como se tal pequenino em
questão fosse uma referência aos novos convertidos.
Entretanto, fato é que nos versos 6, 10 e 14, “pequeninos” está vinculado ao
significado em termos de tamanho, e o contexto sugere ao leitor uma interpretação
literal, ou seja, que a afirmação do versículo 6 se refira a crianças (DOHERTY, 2014, p.
48).
Certamente por ter esses exemplos em mente é que a Igreja primitiva (Tiago
1:27) via os órfãos como alguns dos que necessitavam atenção especial e é com essa
perspectiva que a Igreja precisa enfrentar os desafios do século XXI, neste mundo
tenebroso, onde a cada dia as crianças ficam mais vulneráveis e são mais abusadas por
adultos e suas ideologias absurdas (BREWSTER, 2015, p, 34).

2.4 As crianças podem ser usadas por Deus

Percebem-se, na Bíblia, que as crianças podem ser os agentes escolhidos por


Deus para intervir, fazer a diferença em alguma situação. Muitos personagens bíblicos
relevantes têm suas histórias contadas desde a infância e é possível notar, assim, desde
cedo, que tais pessoas já foram escolhidas pelo Senhor mesmo antes do nascimento, com
20

propósito (LOPES, 2017, p. 35).


Pode-se citar a menina que vivia como serva na casa de Naamã e foi um
instrumento de Deus para ele alcançar a sua cura. Não há como ter certeza da sua idade,
mas as Escrituras se referem a ela apenas como “menina”, o que leva à conclusão de que
se tratava de uma criança. Como resultado de sua pequena ação, Naamã conheceu o
Deus verdadeiro, foi curado de sua doença e duas nações que estavam constantemente
em crise puderam desfrutar de um período de paz (II Reis 5).
Vivendo num ambiente hostil, ela sentiu compaixão por seu senhor e externou a
fé que possuía no Deus que conhecia e agia através do profeta Eliseu. Percebe-se que ela
não só ouvia falar do Senhor e do profeta, mas que tinha uma fé genuína no Deus de
Israel em seu coração e cria que ele poderia curar seu senhor.
Dentre os exemplos de crianças usadas por Deus para seus propósitos, contidos
nas Sagradas Escrituras, é possível destacar Samuel 1-3. Samuel, ainda criança, recebeu
do Senhor uma dura palavra a ser entregue para seu pai de criação, o sacerdote Eli.
Certamente, a Igreja moderna jamais confiaria uma mensagem como essa a um
pequenino, e com toda a certeza, rejeitaria a profecia caso a recebesse de uma criança ou
adolescente. Não obstante, aprouve ao Criador usar desse meio a fim de fazer ouvir sua
voz, e ali começava o grande ministério exercido pelo juiz, profeta e sacerdote Israelita
(BREWSTER, 2015, p, 37).
Outros casos bíblicos poderiam ser também citados, mas esses dois são talvez os
mais claros e resumem o potencial encontrado por Deus, que está latente na sinceridade e
na simplicidade das crianças, tornando-as aptas a serem usadas pelo Criador.
João Batista (Lucas 1) e “outros” têm suas narrativas traçadas desde a época em
que eram crianças. O próprio Deus escolheu vir ao mundo como um bebê e passar pelo
processo completo da infância e juventude (LOPES, 2017, p. 68).

2.5 As crianças podem confiar em Deus

Jesus Cristo, em seu discurso no Evangelho de Mateus 18:6-14, tinha em mente


os pequeninos sob forma literal, isto é, as crianças. Nesse texto, o verbo “crer”, no
versículo 6 é originalmente o mesmo vocábulo grego utilizado no famoso versículo de
João 3:16 e não significa apenas “crença” ou “convicção”, mas também “confiar” ou
“colocar a confiança em”.
21

A primeira experiência de fé de uma criança ser muito mais experimentada do


que entendida e seu desenvolvimento é um processo. A implicação desse fato leva à
conclusão de que é possível a uma criança não somente acreditar em um deus qualquer,
mas conhecer o Deus verdadeiro, crer nele, temê-lo, ter experiências próprias com ele e
confiar nele, podendo assim também encontrar a salvação ainda na infância
(BREWSTER, 2015, p, 134).
A autora do livro Pequenos Experientes, Grandes Experiências, escreve relatos
de crianças que viveram experiências simples, mas marcantes com Deus. Ela demonstra
a pureza do coração daqueles que de forma tão inocente “simplificam” Deus e seu eterno
amor, seu cuidado e sua proteção (PAULA, 2016, p. 32).
É notório que muitas são as dúvidas da Igreja atual sobre a capacidade infantil de
crer no Salvador. Há uma opinião no senso comum de que as crianças não têm o devido
respeito pelas coisas sagradas, não guardam na memória o que lhes é ensinado, e até
mesmo lhes falta a faculdade de entender o mundo espiritual, tornando-as infrutíferas à
fé.
Contudo, em nada disso são inferiores a boa parte dos adultos, e carregam em si
uma vantagem inata sobre eles. As crianças têm uma capacidade de confiar e crer melhor
do que os adultos, pois ainda não foram carregados com superstições, mentiras,
descrenças, ceticismo e dúvidas (SPURGEON, 2004, p. 47).
Estudos da Psicologia revelam que a consciência própria das crianças se
desenvolve entre 3 e 6 anos, conceitos abstratos com Deus, pecado e perdão se
desenvolvem durante os anos do ensino fundamental, e até o final desse período já é
possível a ela sintetizar informações e chegar a conclusões. Esse amadurecimento
durante a infância se aplica também à capacidade de confiar e sugerem que as crianças
são capazes de entender os assuntos relacionados à fé e a crer no Salvador
(BREWSTER, 2015, p. 129).
Billy Graham2, Mathew Henry3 e Corrie ten Boom4 e “outros” estão na lista de

2
William Franklin "Billy" Graham Jr (Charlotte, 7 de Novembro de 1918) foi um pregador batista norte-
americano, conselheiro espiritual de vários presidentes americanos. Foi ainda o mais proeminente membro da
Convenção Batista Sulista dos EUA. Graham pregou pessoalmente para mais pessoas do que qualquer
pregador da história ao redor do mundo. De acordo com a sua equipe, a partir de 1993, mais de 2,5 milhões
de pessoas tinham “Um passo à frente em suas cruzadas para aceitar Jesus Cristo como seu Salvador
pessoal”. A partir de 2008, a audiência de Graham's lifetime, incluindo rádio e televisão, superou 2,2 bilhões.
(BETEL, 2020).
3
Matthew Henry (1662 – 1714) foi um comentarista sobre a Bíblia e pastor presbiteriano inglês. Dificilmente
há um homem tão conhecido entre os comentaristas bíblicos como Matthew Henry. A principal intenção de
22

ícones e pregadores famosos entregaram sua vida a Cristo ainda durante os tenros anos
da infância. Tal coisa só é possível porque as crianças possuem a capacidade de colocar
em Deus a sua confiança e serem salvas (DOHERTY, 2014, p. 45).
Ainda criança, Billy Graham era levado à Igreja pela família e por seus pais, foi
conduzido à Associação de Igrejas Presbiterianas Reformadas. Ainda jovem iniciou a
sua dedicada vida ao Evangelho do americano e é provável que mais de três milhões de
pessoas se tornaram cristãs ouvindo suas pregações (BETEL, 2020).
Criado num lar cristão, e com um pai pastor, Matthew Henry desde os seus
primeiros anos de vida viveu uma realidade de profundo compromisso religioso e instrução
nas coisas de Deus. Em 1687 tornou-se ministro de uma congregação presbiteriana
(HARMAN, 2020).
Corrie ten Boom nasceu no seio de uma família holandesa profundamente cristã.
Seu avô era ancião da Igreja Reformada e, tendo aproximadamente cinco anos de idade,
orou a Jesus Cristo e pediu que ele entrasse em seu coração. Jovem, ainda, ela ministrava
classes de estudo da Palavra. O amor a Jesus Cristo, implantado desde a infância, fez com
que ela fosse a 61 países, incluindo alguns países antes não alcançados (AGUAS VIVAS,
2020).

2.6 As crianças devem ser evangelizadas

Admitem-se, neste trabalho, duas vertentes bíblicas básicas: a primeira é que


devido ao pecado original, as crianças estão espiritualmente mortas. A segunda é que
caso venham a falecer antes de alcançar uma idade em que possam conscientemente
fazer uma escolha por Cristo ou não, são salvas pela graça divina (DOHERTY, 2014, p.
88).
A realidade destes dois pontos proporciona um paradoxo, mas mencionam-se
aqui tais fatos porque devem servir de alerta à Igreja para que se dê conta de sua
responsabilidade para com os pequeninos, tendo em vista que ninguém é capaz de
apontar com clareza e total convicção quando uma criança atinge a consciência que foi
mencionada.

seus comentários foi de uma explicação, não de tradução ou de investigação textual. (HARMAN, 2020).
4
Cornelia Johanna Arnolda ten Boom (1892-1983) conhecida como “Corrie ten Boom”, foi uma escritora e
resistente holandesa que ajudou a salvar a vida de muitos judeus ao escondê-los dos nazistas durante a II
Guerra Mundial. Ten Boom registrou sua autobiografia no livro O Refúgio Secreto .Ela honrada com a
inclusão de seu nome nos "Justos entre as Nações" pelo Estado de Israel. (AGUAS VIVAS, 2020).
23

Não é tarefa de a Igreja imaginar e discutir a respeito da idade na qual a criança


desenvolve a sua responsabilidade diante do Criador, mas considerando a todas como
perdidas, evangelizá-las desde a tenra idade, orando para que o Espírito Santo faça a
obra de regeneração (AGUAS VIVAS, 2020, p. 89).
Além disso, é interessante atentar para o fato de que na Grande Comissão dada
por Jesus Cristo à sua Igreja, registrada no Evangelho escrita por Marcos: “E disse-lhes:
Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). O Mestre
ordena que o Evangelho seja pregado a “toda criatura”. Considerando o que envolve esse
termo, seria, no mínimo, imprudente pensar que a evangelização fosse ministrada apenas
a um grupo de indivíduos em detrimento dos demais.
Quando a Igreja, eventualmente interpreta esse texto adicionando arbitrariamente
o vocábulo “adulta” ao final da sentença, não só viola a Escritura Sagrada, mas também
se omite de boa parte de sua tarefa, ignorando um contingente humano muito grande.
Esse universo omitido de aproximadamente dois bilhões de pessoas constitui um
campo missionário enorme e quase que completamente inexplorado. Trata-se de um
grupo extenso especialmente onde o Evangelho é menos conhecido e é composto por
pessoas em sofrimento, dados os altos índices de mortalidade infantil; pessoas rejeitadas,
devido ao abandono e às taxas de abortos; pessoas vitimizadas, devido ao tráfico humano
e toda sorte de abusos; pessoas esquecidas, por vários governos e pela própria Igreja;
mas ainda assim um grupo receptivo à mensagem de salvação (BREWSTER, 2015, p.
185).
Afinal, se a ordem divina é pregar as Boas Novas a todos, e se de fato não há
como saber se uma criança já é responsável diante de Deus ou não, seria lógico que a
Igreja considerasse o evangelismo de crianças como muito necessário, pois não é
possível conceber a ideia de que a alma de um adulto valha mais do que a alma de uma
criança (DOHERTY, 2014, p. 28).
A Igreja não pode se esquecer de que a infância é um estágio da vida de todas as
pessoas, ou seja, os dois terços de jovens e adultos deste mundo um dia já foram crianças
(ibid., p. 28).
Não faz sentido esperar primeiro que estes indivíduos cresçam para então tentar
evangelizá-los. Pelo contrário, a experiência mostra que neste mundo cada vez mais
materialista e ateísta as crianças são tremendamente influenciadas para o mal. Essa
situação ajuda a construir homens mais duros à Palavra (ibid., p. 63).
24

Além disso, é interessante perceber que pesquisas realizadas nos Estados Unidos
da América apresentam evidências de que a melhor época para se ganhar uma pessoa
para Cristo é durante a infância, até no máximo quinze anos de idade. De fato, segundo
esses estudos, se o indivíduo não aceitar o Evangelho até a adolescência, a probabilidade
de vir ao Salvador depois se torna remota (BREWSTER, 2015, p.136).
Os índices apurados sugerem que a chance de alguém decidir servir a Deus entre
cinco e doze anos é de trinta e dois por cento, despencando para quatro por cento entre
treze e dezoito anos, e apenas seis por cento para a idade de dezenove anos ou mais.
Pesquisas realizadas em outros locais e culturas citam dados semelhantes, demonstrando
que cinquenta por cento ou mais dos cristãos abraçaram a fé antes dos catorze anos de
idade.
Isso significa que para influenciar significativamente a vida espiritual de uma
pessoa, ela precisa ser alcançada quando ainda tem a mente aberta e impressionável de
uma criança (ibid., p.137).
Muitas pessoas, talvez a maioria pensam que a Igreja deve evangelizar os adultos,
e esses, a seus filhos. A evangelização de crianças se daria, assim, apenas no ambiente
doméstico, e a Igreja estaria livre desta preocupação. Todavia, por mais que possa
parecer, não é esta a perspectiva bíblica e tampouco é justo ou ético que grande parte da
população (as crianças) só venha a ouvir a Palavra se outra parte responder
favoravelmente à mesma, ou seja, se forem favoráveis a seus pais (DOHERTY, 2014, p.
25).
Passando em revista os tópicos anteriores, é possível encontrar clara demonstração
de que o enfoque bíblico a respeito das crianças é a de integrá-los no processo religioso,
tornando-as bem conscientes da existência pessoal de Deus e de qual é a sua vontade.
Vê-se isso claramente no Antigo Testamento, quando as crianças são incluídas no
momento da leitura da Lei e os pais são exortados a ensinar seus filhos a amar ao Senhor,
no próprio simbolismo pascal, celebração que instiga a criança a perguntar sobre Deus, o
rito e seu significado (Deuteronômio 31:9-13 e 6.3-9).
O apóstolo Paulo, cidadão erudito certamente entendia a importância de o
indivíduo ser ensinado nos caminhos de Deus desde cedo, pois ele mesmo vivera esta
experiência (Atos 22.3). Ao escrever a algumas Igrejas dá instruções a pais e filhos,
como na carta aos Efésios 6.1-4 e Colossenses 3.20,21. Pelo contexto dos versos, é
possível entender que estes filhos ao qual o apóstolo se refere não são aqueles que já
25

atingiram a maturidade, ou seja, ele deve estar se referindo a quem necessita ainda de
mais cuidados e orientações, pessoas não tão maduras ou já numa idade de serem
independentes totalmente (ibid., p.104).
É bem verdade que a bíblia não menciona um ministério específico para
contemplar a evangelização de crianças. Não obstante, ela também não desencoraja essa
prática. Ademais, as Escrituras não mencionam também ministérios específicos voltados
a jovens, mulheres ou idosos, e nem por isso a Igreja considera a possibilidade de se
omitir em relação a tais classes de pessoas. Mais uma vez surge a pergunta: por que
marginalizar as crianças da pregação do Evangelho?
É evidente, contudo, que quando se fala de evangelismo infantil não se cogita em
uma espécie de pregação da mesma forma que a ministrada a adultos. Há que se adaptar
a forma de diálogo para alcançar as diferentes faixas etárias que são o alvo desse
evangelismo, sem, todavia, substituir a verdade do Evangelho.
Considerando o que foi visto neste capítulo, é possível afirmar, sem sombra de
dúvida, que as crianças têm capacidade de ter fé, e muito embora seja uma fé simples, é
esta a que mais se aproxima da sabedoria (PAULA, 2016, p. 74).
Também é lógico pensar que se uma criança pode se perder, que ela possa ser salva;
se pode pecar, pode crer e receber a Palavra de Deus em seu coração (SPURGEON, 2004,
p. 97).
No evangelismo infantil, se deve lidar com todos os temas envolvidos, mas o
ensino precisa ser ministrado de forma a captar a atenção dos pequeninos e deve ser feito
com sabedoria e amor. A tarefa do evangelista de crianças é a de adverti-las e ensiná-las,
e não assustá-las e, por isso mesmo, o ministério infantil precisa de pessoas treinadas e
especializadas para seu serviço, com o coração disposto a dar sempre o seu melhor
(DOHERTY, 2014, p. 92).
A evangelização de crianças é, portanto, uma necessidade, um Mandamento e
uma oportunidade de fazer a obra do Senhor Jesus Cristo, agradando-o.

3 VANTAGENS E DESAFIOS DA EVANGELIZAÇÃO INFANTIL

Neste capítulo serão abordadas as principais vantagens e desafios de se investir


no ministério de evangelização infantil. Como será visto a seguir, quando uma criança é
26

alcançada pelo Evangelho todos têm a ganhar: o próprio indivíduo que entrega sua vida a
Jesus Cristo; a Igreja, que cumpre sua missão e recebe essa pessoa; e até mesmo a
sociedade, que, no mínimo, será poupada de um comportamento pecaminoso em seu
seio.

3.1 O retorno da evangelização é maior

É fato amplamente conhecido que a infância é a época da vida de uma pessoa na


qual ela está mais aberta ao ensino, à influência e à assimilação. É quando os hábitos são
estabelecidos e a personalidade é formada, e quando há uma maior aceitação de ideias e
conceitos novos.
A experiência do trabalho com crianças indica que são elas que estão mais
inclinadas a participar de eventos promovidos pela comunidade cristã, são elas que mais
facilmente atendem aos convites para atividades, e em maior número do que as pessoas
de outras idades (ibid., p. 63).
Historicamente, a Igreja tem investido na evangelização dos adultos, o que é uma
iniciativa louvável e necessária, mas as pesquisas mostram que esse dispêndio de energia
e recursos se dá justamente na faixa etária onde os frutos da pregação são menores.
As crianças são de modo geral mais abertas ao e Evangelho e muitas até querem
vir e ouvir as Boas Novas, buscar conhecer e confiar no Salvador. Tudo isso com muita
simplicidade, humildade e pureza de coração (PAULA, 2016, p. 14).
De fato, a Bíblia ensina que para um adulto converter-se ele precisa se tornar
como uma criança (Mateus 18:3). Assim, o que muitas vezes é difícil para um adulto,
para quem ainda vive a infância não só é mais fácil como também de fato já o é por
natureza. Tal fato coloca a criança um pouco mais perto do Reino de Deus do que os
demais (DOHERTY, 2014, p. 62).
Ao analisar a criança, percebe-se que da mesma forma que os pequeninos estão
abertos ao Evangelho, também estão expostos a qualquer outra doutrina ou ideologia que
possa influenciá-los. Isso mesmo torna ainda mais importante o evangelismo infantil,
pois ele opera em uma fase crucial da história dos indivíduos, onde eles podem ser
permanentemente afetados tanto a favor, quando contra a Palavra divina.
Um fator a considerar neste ínterim é o que, em termos missiológicos, é chamado
de janela 10/40. Essa expressão se refere ao espaço geográfico compreendido entre as
27

latitudes 10 e 40, se estendendo desde o oeste da África até o sudeste da Ásia, passando
pelo Oriente Médio. A maior população desta população tem menos oportunidade de
ouvir o Evangelho (NÚCLEO DE APOIO CRISTÃO, 2020).
O que chama a atenção é que quase metade da população de cada um dos países
incluídos neste extenso campo missionário a ser alcançado é constituída de indivíduos
que estão também dentro da janela de receptividade de quatro a catorze anos.
Se a Igreja não investir nesse grupo social, dificilmente terá um resultado
promissor nessas regiões já dominadas por crenças concorrentes e até hostis à fé cristã.
Corrobora para esse argumento o relato que, dentro de tais áreas, nos lugares em que as
Igrejas estão crescendo, a maioria dos novos convertidos têm menos de dezoito anos de
idade e são tanto alvos quanto recursos para a missão (BREWSTER, 2015, p.188).
Nesse ponto é importante ressaltar que não é objetivo do presente trabalho
desmerecer a evangelização de adultos, pelo contrário. Não se faz aqui qualquer objeção
às mais diversas iniciativas nessa área, pois são todas vitais para o crescimento e
edificação da Igreja. Mas a evangelização infantil ainda precisa ser tão entendida e
praticada quanto à evangelização de adultos (SILVA, 1997, p. 43).
Ao passo que se tenha mais conhecimento e mais acesso sobre os fundamentos,
as vantagens e os desafios de evangelizar crianças, percebe-se que não existe lógica em
negligenciar um contingente tão grande de pessoas que possuem tão admirável potencial
de multiplicação, entre as quais comprovadamente se tem maior resultado. Qualquer
iniciativa comercial e ideológica percebe a vantagem de se investir no grupo das
crianças. Logo se inicia campanhas e propagandas que possam atraí-las.

3.2 Uma vida inteira para Deus

Existe uma história que, segundo se conta, aconteceu com o famoso evangelista
Dwight L. Moody5. Ao ser questionado sobre como havia sido um encontro
evangelístico, o evangelista respondeu que duas pessoas e meia haviam sido salvas. O
interlocutor concluiu que dois adultos e uma criança haviam atendido o convite, mas foi
prontamente corrigido, pois a contagem fora invertida: duas crianças e um adulto haviam

5
Dwight L. Moody (1837-1899) foi um célebre ganhador de almas e um dos maiores evangelistas do Séc.
XIX, é admirado até hoje por sua eloquência em pregações que cativavam milhares de pessoas. Suas
mensagens continuam atuais e servem de inspiração para grandes pregadores de nossa época. (MOODY
BIBLE INSTITUTE, 2020).
28

entregado suas vidas a Jesus Cristo na ocasião.


A realidade que esta história exprime é que um adulto, ao se converter, tem
apenas parte da sua vida ainda para viver para Deus, ao passo que a criança, ainda na
aurora de sua existência, pode dedicar toda a sua vida ao Senhor. Por isso, a
evangelização de crianças não visa apenas resgatar a alma, mas também a vida do
indivíduo (DOHERTY, 2014, p. 69).
Para a psicanálise, a infância é a fase da vida na qual a personalidade e os hábitos
são formados. Assim sendo, é muito mais vantajoso à pessoa atender ao Evangelho
quando ainda criança, pois já crescerá aprendendo bons hábitos e deixando o Espírito
Santo atuar na formação de sua personalidade e valores.
Quando a formação inicial da personalidade da pessoa é construída nos caminhos
do Senhor, é provável que ela se desvie de muitos vícios e não seja presa fácil para os
inúmeros laços da vida, poupando-se de alguns traumas. Isso porque, o conhecimento
acerca de Jesus Cristo na infância e adolescência faz com que as melhores escolhas
sejam feitas quando jovem e adulto.
Boas companhias serão selecionadas e mais facilmente, se desviará daquelas que
são más influências. Ser crente desde cedo na vida livra a pessoa de milhares de
arrependimentos; evita que o jovem cometa os pecados típicos dessa faixa etária e ceda
às tentações deste mundo tenebroso, induzindo o mesmo a boas decisões na vida,
inclusive em relação à escolha do seu cônjuge (SPURGEON, 2004, p.117).
Quando um adulto se converte, traz consigo uma bagagem, uma história de vida,
hábitos formados e um modo de pensar que precisam ser radicalmente transformados.
Naturalmente, sua personalidade é mais difícil de ser moldada e seus hábitos são mais
difíceis de serem mudados; as experiências ruins passadas não podem ser apagadas. O
quebrantamento e a ação divina na vida dessa pessoa geralmente precisam ser mais duros
(DOHERTY, 2014, p. 70).
Outra coisa que não pode ser recuperada é o tempo. Tal fato é claramente
exemplificado pela história no início deste tópico. Quem já viveu tinta, quarenta,
sessenta anos ou mais já desperdiçou boa parte de sua existência neste mundo com
coisas vãs.
E o tempo gasto com o treinamento daqueles que se convertem em idade
avançada é maior do que o tempo útil que esse indivíduo vai poder trabalhar para o
Reino. Mas se corretamente ensinado e treinado, o indivíduo que cedo se converte pode
29

ocupar décadas de sua vida na preciosa tarefa de propagar a Palavra de salvação


(SPURGEON, 2004, p.11).
Se considerado o fato de que a maior parte das pessoas vem a Jesus influenciadas
por colegas ou outras pessoas da mesma faixa etária, há que se levar em conta o enorme
potencial evangelístico das próprias crianças (BREWSTER, 2015, p.200).
Efetivamente, a vantagem da conversão de crianças em relação aos adultos pode
ser comparada à parábola dos trabalhadores da vinha, contada em Mateus 20:1-16. Os
que primeiro são salvos, mais tempo têm para dedicar ao Senhor, enquanto que os
últimos, já o ocaso de suas vidas, pouco têm a contribuir. Isso não significa que ser
evangelizado fora da faixa etária infantil é algo infrutífero. Ao contrário, nesta parábola
está claramente enfatizado que a recompensa é a combinada independente do horário de
chegada.
Mas ao analisar as vantagens da evangelização infantil, percebe-se por analogia a
esta parábola que aqueles que têm o privilégio de chegarem mais cedo (na infância ou
adolescência) na obra, consequentemente trabalharão mais, frutificarão mais, deixarão
possivelmente um legado maior.
A vantagem da segunda opção parece muito evidente. Queira Deus que a Igreja
se dê conta de que o investimento nas crianças, combatendo o problema na fonte.
Corrigir a origem dos males que atingem uma vida é bem mais eficiente do que esperar
primeiro que a pessoa se perca e seja destruída pelo inimigo para depois tentar recuperá-
la.

3.3 A sinergia entre a Igreja e a família

Historicamente, a educação cristã começa em casa. Era no seio do lar que os


primeiros cristãos ensinavam a seus filhos as verdades sobre Deus e sua graça salvadora.
Certamente um reflexo do hábito israelita de também ensinar as escrituras sagradas à
geração seguinte dentro de um contexto familiar (BRUNES, 2011, p. 81).
No passar dos séculos, a Igreja foi paulatinamente assumindo essa
responsabilidade, até chegar nos tempos atuais. Atualmente, a sociedade já está tão
habituada a terceirizar a educação dos filhos, seja ao governo, às escolas ou à Igreja, que
o compromisso de ensinar aos filhos a Palavra de Deus, já não parece mais ser intrínseca
responsabilidade dos pais.
30

O lar é o primeiro local no qual as crianças devem receber instrução espiritual e


desenvolver experiências com o Senhor. A paternidade está diretamente vinculado a esse
propósito, o de inspirar e promover a fé cristã e o caráter de Deus nos filhos e netos
(Provérbios 22.6).
A irresponsabilidade das famílias cristãs em cumprir este desígnio tem sido
certamente o principal fator para uma realidade que se percebe nas Igrejas e que foi
comprovada por estudos realizados nos Estados Unidos: que muitos jovens e
adolescentes renegam a fé de seus pais e abandonam o cristianismo nessa faixa etária
(ibid., p. 188).
As crianças precisam ser ensinadas pelo exemplo mais do que por palavras. Elas
precisam de ambientes onde possam desenvolver sua fé, vendo como os adultos vivem
com Deus de forma íntegra e fiel. O relacionamento de uma criança com seus pais irá ter
uma influência significativa sobre a percepção dela sobre o Senhor, e isso implica que os
filhos só podem aprender o que são ensinados se o ensinamento se der de forma a
alcançar seu coração (PAULA, 2016, p. 40).
Os pais e a Igreja precisam se dar conta de que o que é feito hoje irá influenciar
as futuras gerações em traços, crenças e ações (BRUNES, 2011, p. 87).
A educação cristã deve se dar, portanto, não só com integridade, mas também
com amor, equilibrando o amor incondicional pelas crianças com a aceitação condicional
de seus comportamentos e desenvolvendo um relacionamento saudável no lar. Nesse
ambiente, as crianças tendem a abraçar as crenças e valores de seus pais (ibid., p. 103).
Percebe-se, então, que o que acontece em casa determina os outros eventos
relacionados à fé de um indivíduo, seja para o bem ou para o mal, mas muitos pais,
mesmo reconhecendo a necessidade de ensinar a Palavra a seus filhos, não sabe
exatamente como fazer isso (ibid., p. 198), e tantas outras crianças, alcançadas pelo
ministério infantil, vivem em lares desestruturados e até mesmo contrários à prática
cristã.
Sendo assim, a Igreja precisa cumprir seu papel, trabalhando para que haja uma
sinergia entre ela própria e a família. Essa cooperação será uma grande vantagem que
ligará as pessoas de forma cada vez mais íntima. As duas entidades, juntas, são como um
jarro de água e a terra para um vaso de plantas, onde as pequenas mudas, que são as
crianças, podem se desenvolver de modo sadio (ibid., p. 36).
Entre os trabalhos que podem ser realizados pela comunidade cristã a fim de
31

ajudar a criar um ambiente familiar e propício à prática do cristianismo e do


desenvolvimento infantil estão iniciativas para fortalecer os casamentos, promover
conceitos de intencionalidade paternal, arrebanhar os jovens e disponibilizar treinamento
e meios para que a família possa transformar o lar em uma verdadeira incubadora da fé
de seus filhos (ibid., p. 198).
A Igreja deve investir na família visando a cada um como indivíduo, mas ao
mesmo tempo também buscando a harmonia do conjunto, ministrando a todos como um
lar, objetivando proporcionar um ambiente para que a fé da criança possa se desenvolver
com o mínimo de obstruções possíveis, garantindo, assim, um legado futuro e a sua
própria continuidade.
É interessante notar aí um enfoque muito diferente do que geralmente é
encontrado nas comunidades cristãs atuais, em que se investe nas crianças para
evangelizar os pais. De certa forma, a ideia até parece invertida: deveria se investir nos
pais para que o evangelismo infantil rendesse os frutos esperados.
O final desta monografia retoma-se à consciência que o ministério infantil, longe de
ser mero acessório às demais atividades eclesiásticas, é uma ferramenta crucial na
construção de uma Igreja saudável, comprometida e atuante. Percebe-se também que a
evangelização de crianças é algo necessário, útil e vital para a boa formação do indivíduo,
tanto no presente, como também para o futuro da Igreja e da sociedade.

3.4 Impactar a geração futura

O ministério infantil será sempre um investimento duplo. De um lado, a


preocupação é pelo que as crianças são e suas necessidades e potenciais no presente; de
outro, o que serão e o que se tornarão no futuro (DOHERTY, 2014, p. 33).
Por mais que seja no futuro que as crianças de hoje assumirão postos e funções
sociais, serão profissionais de diversas áreas, formarão famílias, e até mesmo terão
ocupações sociais relevantes e será a Igreja formada amanhã, elas também são muito
importantes para o hoje e o agora (ibid., p. 35).
Se esse fato for negligenciado no presente, a Igreja colocará em risco o futuro. A
frase “as crianças são a Igreja do amanhã” (BRIONES, 2020) pode ser incompleta e até
errônea se entendida de forma que omita o trabalho infantil nas Igrejas, trazendo
comodismo, pois não se pode olhar para o futuro sem investir no presente com
32

sabedoria.
Mesmo que todas as vantagens de evangelizar crianças não se concretizem de
forma imediata e muitas vezes o resultado no presente não seja percebido, o
investimento na infância ainda apresentará, certamente, retornos em longo prazo e que
certamente influenciarão muito positivamente a trajetória de vida de jovens, adultos e até
anciãos (ibid., p. 35).
Biblicamente, Moisés e Josué e não poucos outros personagens se preocuparam
em ensinar às crianças o caminho do que era direito com o fim de que as gerações
futuras continuassem servindo o Senhor (Deuteronômio 6.7; 11.19 e Josué 4.6-7).
Historicamente, grandes movimentos políticos e religiosos perceberam a
necessidade de se empenar em relação à próxima geração para promover e perpetuar
seus interesses.
O comunismo, o islamismo, o espiritismo e outros grupos se dedicaram em
doutrinar legiões de crianças com o fim de transcender à geração dos seus precursores e
alcançar seus objetivos.
Tudo indica que somente os cristãos evangélicos, em sua “grande omissão” em
relação ao Mandamento do Mestre, têm deixado de lado o potencial latente dos
pequeninos (BREWSTER, 2015, p.22).
São nas classes infantis que o evangelista de crianças tem à sua frente os futuros
missionários, os futuros pregadores, os futuros defensores do Evangelho. É apenas
através do investimento na nova geração que se pode esperar mudar a direção de uma
sociedade corrompida pelo pecado.
O futuro da Igreja também está, sob muitos aspectos, nas mãos das crianças.
Precisamos ganhar o coração das crianças do presente para gerar no futuro um maior
engajamento adulto na Obra de Deus (SPURGEON, 2004, p.66).
A Igreja possa se dar conta de que realmente vale a pena investir nas crianças,
considerando que o futuro está nas mãos delas, e que elas estão ao alcance da Igreja hoje,
a Igreja de certa forma tem seu próprio futuro em suas mãos. É uma responsabilidade e
uma grande oportunidade ser evangelizador infantil (DOHERTY, 2014, p. 33).
33

3.5 A visão do trabalho de evangelização infantil

Difícil é encontrar uma comunidade cristã que não tenha ao menos um tipo de
atividade direcionada ao público infantil. Escola dominical, células de crianças, culto
mirim, etc. Todavia, nem todas essas Igrejas obtêm os resultados citados como vantagens
nesta monografia, apesar do esforço realizado.
A justificativa é bem simples: há um equívoco quanto à visão do que deve
significar e do que deve compreender o ministério infantil. É necessário que haja um
maior comprometimento com relação às ações voltadas para o público infantil nas
Igrejas. Investir tempo, oração, e capacitação fará com que os melhores frutos deste
trabalho sejam colhidos, assim como entender e buscar vencer os desafios aqui expostos.
Há um equívoco quanto à visão do que deve significar e do que deve
compreender o ministério infantil. O fato é que muitas vezes as crianças não são o foco
principal do próprio trabalho realizado com elas. A Igreja tão somente tenta usar elas
como meio para o fim de alcançar seus pais. Nesse caso, elas são geralmente vistas como
um estorvo, aqueles pequeninos que precisam ser entretidos enquanto o Evangelho é
anunciado para os adultos.
Esse tipo de ação vem da visão de que as crianças são insignificantes e
espiritualmente inferiores aos adultos, que são incapazes de entender e crer na pregação,
que não têm discernimento das coisas espirituais e, portanto, é perda de tempo lhes
anunciar as Boas Novas.
Pautada neste ponto de vista sobre o ministério infantil, é comum na comunidade
cristã serem colocadas pessoas “menos qualificadas” para trabalhar com as crianças; e/ou
pessoas com pouco entendimento bíblico e nenhum conhecimento sobre formas de
aprendizagem e comportamento infantil (BREWSTER, 2015, p.142).
Ligado a essa visão distorcida está outro grande problema: o desperdício do
tempo dispensado às crianças e o mau aproveitamento do tempo na Igreja, torna-se um
desafio a ser vencido. Não é raro encontrar reuniões onde não se ensina a Palavra de
Deus.
O tempo é gasto com atividades e brincadeiras diversas, histórias que muitas
vezes nem são bíblicas e jogos. Apesar de essas coisas serem eventualmente úteis para
um propósito maior, um ministério sério voltado à infância precisa usar o tempo
disponível com mais sabedoria, anunciando o Evangelho (DOHERTY, 2014, p. 66).
34

É óbvio, contudo, que a Palavra precisa ser pregada às crianças de forma


adequada, de uma maneira comunicativa que faça sentido a elas. Tal fato reforça a
necessidade de que os professores sejam pessoas treinadas, experientes, capacitadas e
devem ser exemplos positivos, modelos para os pequenos.
Além disso, devem perceber o potencial que as crianças têm e não apenas atentar
para seu comportamento presente. Devem ser aptos a reconhecer as situações de
negligência e abuso que afligem os pequeninos sob seus cuidados (BREWSTER, 2015,
p.149).
Dessa forma, as crianças terão espaço para questionar, falar, imaginar e reterem o
conhecimento necessário para seu desenvolvimento espiritual. Esse desenvolvimento
espiritual será saudável e contínuo na vida da criança.
É muito importante em tudo que se fazer para a evangelização infantil, depositar
amor, fé e vontade de alcançar essas vidas tão preciosas. As crianças precisam, acima de
tudo, e como qualquer outro ser humano, se sentir amadas (ibid., p. 143).
Sentir-se amada atrairá a criança para o ensino da Palavra de Deus e faz com que
o sentimento delas seja recíproco. Não adianta tentar ensinar nada em um ambiente onde
não exista esse sentimento (SPURGEON, 2004, p.83).
Outro aspecto importante nesse tópico é a questão do próprio investimento que a
Igreja faz no seu ministério infantil. É importante que a comunidade cristã disponibilize
um ambiente seguro e agradável às crianças. Não se trata de simplesmente reunir elas em
qualquer sala, mas em um lugar adequado às suas necessidades e que seja a elas atrativo.
Os materiais de ensino e os estudos bíblicos, por exemplo, também precisam
estar de acordo com a faixa etária que é alvo do trabalho. Seria interessante ter cadeiras e
mesas apropriadas à altura das crianças, material didático interativo e recursos
multimídia à disposição dos professores. Claro que muitas Igrejas não possuem os
recursos necessários para tanto, mas outras não o fazem por pura falta de visão.
Ter a visão correta sobre o ministério infantil envolve ainda outras coisas, como
enfatizar as cerimônias e datas comemorativas, por exemplo. Buscar nessas datas as
oportunidades certas para trabalhar temas bíblicos específicos enriquece muito o trabalho
a ser desenvolvido com as crianças e são oportunidades de explicar conceitos cristãos
importantes, amparados na Palavra.
A inclusão das questões referentes ao ministério com crianças na pauta de
planejamento eclesiástico e a própria iniciativa pastoral em visitar e prestigiar as
35

reuniões realizadas pelo ministério dão mais consistência e mais credibilidade à


evangelização de crianças (BREWSTER, 2015, p.146).
Para que possa alcançar todos os benefícios citados no capítulo anterior, com
relação à evangelização de crianças, a Igreja precisa mudar o seu conceito de que o
trabalho com crianças é insignificante e uma perda de tempo. Quanto mais organização e
predisposição em concluir com êxito esse Mandamento, mais frutos.

3.6 O desenvolvimento integral da criança

Quando se fala em desenvolvimento integral da criança a partir de uma


perspectiva cristã, é comum lembrar a narrativa de Lucas 2.52, que diz que Jesus crescia
em sabedoria, estatura e graça. Um crescimento físico, intelectual, moral e espiritual,
diante dos homens e da sociedade e também diante do céu e Deus (LOPES, 2017, p. 79).
É este aspecto tríplice: sabedoria, estatura e graça, que envolve as iniciativas de
aprendizado geral, treinamento em valores bíblicos, desenvolvimento do bom senso,
visando a saúde, o crescimento físico e a formação espiritual dos pequeninos, bem como
o desenvolvimento da capacidade deles de construir relacionamentos que deve ser o
modelo cristão de desenvolvimento integral da criança.
A Igreja, muitas vezes, tem se preocupado apenas em cuidar da parte espiritual,
eximindo-se da responsabilidade que lhe cabe no tratamento dos aspectos físicos,
emocionais e até psicológicos da criança que evangeliza (BREWSTER, 2015, p.52).
Os governos e as organizações não governamentais que buscam auxiliar criança
em situação de pobreza, risco e abuso, mesmo aqueles que visam alcançá-los de forma
holística, pecam por não considerar a faceta espiritual da questão e as necessidades
espirituais dos indivíduos em sua equação (ibid., p.56).
Nosso objetivo é iniciar um debate sobre a importância, a utilidade e o lugar da
assistência social dentro das iniciativas eclesiais, é importante lembrar que tanto o
apóstolo João quanto Tiago, em suas cartas às Igrejas, abordaram o tema de que a fé e o
amor cristãos precisam se materializar sob forma de ações. Textos como esses, motiva,
inspira e direciona a Igreja (I João 3.17; Tiago 2.14-18).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que anualmente ocorram duzentos
e dezenove milhões de novos casos de malária e cerca de seiscentos e sessenta mil mortes,
principalmente em crianças menores de cinco anos e mulheres grávidas.
36

No Brasil, especificamente, a região amazônica brasileira, incluindo os estados do


Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão,
são responsáveis por 99% dos casos originários naturalmente no país (SILVA,
SANTELLI, DAMASCENO, PETERKA, MARCHESINI, 2020).
Essa doença é transmitida por um mosquito e uma vez que uma criança é
contaminada, ela certamente irá faltar aos programas do ministério da Igreja por um
longo período de tempo, podendo até mesmo chegar a óbito. Um bom exemplo de como
a iniciativa social de uma comunidade cristã pode impactar positivamente o
evangelismo, especialmente o infantil, é quando a Igreja se envolve em programas
assistenciais, como o de distribuir mosquiteiros à população onde há alto índice da
doença.
Ela não somente ganha a simpatia do povo local, ou colabora com o bem-estar
social do seu público alvo, mas primariamente contribuiu para que os pequeninos
possam frequentar as reuniões a elas destinadas e assim, serem evangelizadas no amor de
Cristo (BREWSTER, 2015, p.104).
A verdade é que a criança evangelizada muitas vezes se encontra em situação de
vulnerabilidade social, ou vive em um ambiente hostil à Palavra, ao passo que a Igreja
dispõe de uma percepção mais completa do indivíduo do que outras entidades
assistenciais, o que a possibilita intervir de modo integral na vida e na situação social na
qual o indivíduo se encontra. A assistência, assim, complementa e auxilia o trabalho de
evangelismo.
É, portanto, um grande erro apenas anunciar a Palavra a uma criança e abandoná-
la ao mundo em que vive, sem qualquer tipo de auxílio. Assim sendo, não obstante a
Igreja não possa deixar de anunciar o Evangelho aos pequeninos, ainda que não puder
discipular eles depois, e que o Espírito Santo tem poder bastante para guardar uma
criança mesmo dentro de um lar ímpio e de uma cultura anticristã, a Igreja não pode
considerar como suficiente apenas o ato de levar os pequeninos até Jesus (DOHERTY,
2014, p. 113).
Certamente que essa assistência necessária, que é responsabilidade da Igreja, não
é algum tipo de “assistencialismo barato”. As ações realizadas precisam de critérios
definidos, vínculos responsáveis e uma liberdade consciente do compromisso proposto.
Ajudar as crianças e suas famílias a compreender seu valor e potencial,
despertando, direcionando e possibilitando seu desenvolvimento não é algo a ser feito
37

por elas, mas com elas (BREWSTER, 2015, p.58).

3.7 Alcançar a família

Ao entrar neste ponto é importante antecipar que conseguir alcançar a família da


criança, é um desafio e ao mesmo tempo, uma expectativa gerada por meio de um
trabalho sério e honesto de evangelização de crianças. Em outras palavras, o objetivo em
mente deve ser alcançar a criança como indivíduo, tendo em vista sua capacidade e seu
potencial.
Alcançar os pais e outros familiares entra no contexto do evangelismo infantil
como uma espécie de efeito colateral das ações realizadas. Assim sendo, a visão de
trabalhar com crianças, tendo o fim de evangelizar aos pais configura um conceito
distorcido, pois é ilógico menosprezar a importância da própria criança ser alcançada.
Os pais e familiares podem sim serem consequentemente abençoados com os
resultados positivos da evangelização infantil e assim virem até Jesus Cristo,
convertendo-se também. Em outros casos, o trabalho realizado com crianças traz a
salvação familiar e restitui a paz no lar com Jesus Cristo sendo o centro da família.
Se o investimento no ministério infantil for bem executado, o resultado desse
trabalho irá refletir também no ambiente social no qual a criança vive, sendo a família o
mais básico desses locais. Tal realidade não se constitui no motivo da evangelização
infantil, mas em uma motivação extra para realizar o trabalho com entusiasmo em seus
resultados posteriores (DOHERTY, 2014, p. 87).
A experiência prova que a criança que tem um encontro com o Salvador pode ser
meio e canal de bênção no ambiente familiar. A experiência de uma criança que crer em
Deus e no seu poder pode mover toda uma família e fazer com que o lar delas seja um lar
cristão. E muitos adultos que antes desprezavam o Evangelho, passam a crer pela
pregação e oração dos filhos (PAULA, 2016, p. 20).
De fato, o potencial intrínseco de evangelismo contido em uma criança costuma
ser menosprezado. Mesmo ministérios que têm uma visão ampla a este respeito e têm
realizado um trabalho sério no alcance infantil têm sido surpreendidos com os resultados
da pregação informal feita por crianças no seio de sua comunidade (BREWSTER, 2015,
p.204).
As expectativas a respeito das crianças sãos geralmente direcionadas ao futuro,
38

mas as crianças usualmente são mais ousadas e por vezes destemidas. Isso pode fazer
delas crianças que compartilharão o serviço cristão com alegria. Essas características
intrínsecas a criança, como ser idealistas e sonhadoras, fazem delas boas evangelistas
ainda na tenra idade (ibid., p. 202).
Dessa forma, ao contrário do que muitos pensam, que deve se investir nos pais
para que os filhos sejam depois por eles ensinados, ou que se deve trazer as crianças aos
templos esperando que os pais os sigam, o ministério infantil se baseia na evangelização
das próprias crianças para que, sendo usadas pelo Espírito Santo, possam propagar o
Evangelho nos lares em que vivem.
Todos os desafios evidenciados aqui podem ser vencidos mediante a fé, o
comprometimento com o trabalho de evangelização infantil e o seu aperfeiçoamento sendo
buscado constantemente.

CONCLUSÃO

O público alvo do ministério infantil são as crianças, comumente chamados de


pequeninos. Entretanto, a única pequeneza encontrada nessa tarefa é a relacionada à
altura dos infantes. Se considerada a população de crianças no mundo já é possível ter
uma noção de quão grande desafio se apresenta quando o assunto é a evangelização
infantil.
O universo onde se desenvolve o trabalho com crianças é vasto, amplo e
demanda mais esforço do que o que está sendo feito no presente para alcançar esse
contingente populacional para Cristo. Contudo, esse montante da população representa
também um grande potencial, geralmente inexplorado pela Igreja.
Analisando as Páginas Sagradas, é possível descobrir que o Senhor ama as
crianças e quer que elas sejam ensinadas desde cedo nos seus caminhos. Muitas vezes
essa tarefa é ordenada e exigida dos adultos e o segundo capítulo revelou uma grandeza
relacionada às crianças. O fato de que, não raro, são personagens importantes na história
bíblica, sendo usadas nas mãos de Deus e servindo de exemplo aos adultos que almejam
pertencer ao seu Reino.
A Bíblia prova também que os pequeninos têm a capacidade de confiar em Deus,
crer em Jesus Cristo e aceitar a salvação. É Mandamento do Mestre, afinal, que o
39

Evangelho seja anunciado a todas as pessoas, e as crianças fazem parte desse grupo. O
evangelismo de crianças se torna, dessa forma, uma tarefa tão necessária e obrigatória
para a Igreja quanto qualquer outra de suas atividades.
Cumprindo sua missão, a Igreja poderá obter as enormes vantagens relacionadas
ao ministério infantil, sobre as quais tratou o terceiro capítulo do presente trabalho,
sendo que a primeira delas é a de ter um retorno proporcionalmente maior do esforço
despendido na obra de evangelização. As crianças são mais suscetíveis a aceitar a
Palavra do que os adultos.
Além disso, quando se decidem por Jesus Cristo, elas têm a vida inteira para
dedicar a Deus, ou seja, não apenas serão poupadas de muitos sofrimentos por conta das
más escolhas que um indivíduo longe dos caminhos do Senhor pode fazer, mas também
serão abençoadas pelas escolhas corretas que farão durante sua jornada e se tornarão em
agentes multiplicadores da mensagem do Reino.
Essa multiplicação produzida pelas crianças, não apenas se dará no futuro, no
longo prazo. Aí certamente se dará, pois um indivíduo cujos valores são pautados pela
Bíblia seguramente se tornará um cidadão melhor e garantirá a continuidade da Igreja. A
evangelização infantil sempre irá impactar as gerações futuras, mas a criança possui, de
forma latente, o poder de multiplicar mesmo ainda na infância. Muitas famílias são
alcançadas por conta do testemunho de crianças que sinceramente entregaram sua vida
ao Salvador.
Todavia, não é só de um grande universo e de grandes vantagens que o ministério
infantil vive. Ele também possui grandes desafios e grandes responsabilidades.
Talvez o maior desafio, que impede que o trabalho de crianças em uma
comunidade atinja o seu pleno potencial, é o de adequar a visão da Igreja ao ministério
infantil em si. Geralmente por conta de uma interpretação teológica distorcida ou
equivocada, o trabalho com os pequeninos não é visto como prioritário, e até mesmo é
encarado como perda de tempo e atrapalho. Certamente não é esse o conceito bíblico
sobre o tema, mas é a triste realidade, muito comum de encontrar, na qual os obreiros
menos qualificados são colocados a realizar a tarefa, onde não há investimentos em
ambiente, material ou planejamento, e onde não se busca evangelizar as crianças, e sim
entretê-las.
A visão das Igrejas em relação à evangelização infantil precisa ter o foco nas
crianças como indivíduos, exige investimentos, inclusive financeiros, e necessita de
40

pessoas bem preparadas para lidar com as mais diversas situações que se apresentam
nesse meio, como também para poder comunicar a Palavra divina em uma linguagem
acessível à faixa etária para a qual se dirige.
Outro grande desafio é a questão do desenvolvimento integral da criança, que é
alvo da ação evangelística. Muito comum no meio cristão é a tendência de atender tão
somente às necessidades espirituais dos indivíduos, mas a Igreja precisa se dar conta de
que a pessoa não é um ser apenas espiritual, ele tem outras facetas que precisam também
de atenção.
Tal fato é ainda mais evidente na infância, pois muitas vivem em situações de
pobreza, abuso e todo o tipo de necessidade. Muitas das crianças alcançadas pelo
ministério infantil até habitam em meio a uma sociedade hostil ao cristianismo, ou num
lar cuja conjuntura torna difícil a prática cristã. Nesses ambientes os pequeninos não
conseguem desenvolver plenamente nenhum de seus potenciais, nem mesmo o espiritual.
Cumpre à Igreja, então, se engajar na tarefa social e prestar a assistência necessária para
que a criança possa romper o ciclo de pecado e pobreza no qual está inserido e tornar-se
o indivíduo que Deus planejou que fosse.
Quanto àquelas crianças que tiveram a bênção de nascer ou crescer em uma
família cristã, o grande desafio que surge é o de consolidar a sua fé, criando um
ambiente no qual os pequeninos cresçam desejosos de seguir o mesmo Senhor de seus
pais, conhecendo sua Palavra desde cedo, aceitando o Evangelho e desenvolvendo suas
próprias experiências com Deus.
A Igreja deve ajudar os pais e o ministério infantil a trabalhar em sinergia nesse
caso, de modo que as verdades bíblicas não sejam apenas pregadas, mas vividas no lar.
Que as crianças possam abraçar a fé cristã por verem seus preceitos funcionando na
prática, no dia a dia.
Todas essas grandezas relacionadas à evangelização infantil poderiam ter ainda
mais cores caso fosse possível apurar maiores dados quanto à participação e quem são as
crianças atendidas pelos ministérios infantis nas Igrejas brasileiras, bem como se
houvesse como apurar o montante dos investimentos realizados pelos pentecostais da
nação na área.
Evidenciou-se neste trabalho a enorme responsabilidade que a Igreja possui em
relação às crianças, ao mostrar que o campo missionário infantil é muito vasto, o
potencial das crianças é amplo, as vantagens de investir nelas são grandes e os desafios
41

reais. A ideia de perder qualquer um desses pequeninos às chamas eternas é uma ideia
extremamente aterradora.
Que Deus ajude a todos aqueles que dispuserem seu coração em trabalhar nesta
área. Que Deus desperte as lideranças para que enxerguem as possibilidades que este
ministério oferece. Que Deus abençoe a todas as crianças com discipuladores dispostos a
investir nelas o seu tempo e recursos. Que essas crianças sejam salvas e transformem a
realidade desse mundo tenebroso ora presente.
42

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