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20, 21 e 22 de junho de 2013

ISSN 1984-9354

ANÁLISE DA VIABILIDADE
ECONÔMICA DO USO DE GNV EM
FROTA DE TÁXI

Denis Rasquin Rabenschlag


(UFSM)

Resumo
O gás natural é uma mistura de hidrocarbonetos leves (89% da
composição é o metano) que na temperatura ambiente e pressão
atmosférica, permanece no estado gasoso, com características
adequadas para ser utilizado como combustível natural em
substituição à gasolina ou ao álcool em veículos automotores. Na
natureza, o mesmo é encontrado acumulado em rochas porosas no
subsolo, em alguns casos associado ao petróleo. O Brasil possui
quantidades significativas no litoral da Bahia e na Bacia de Campos,
RJ. Prevendo a chegada do gás natural em Santa Maria num futuro
próximo, a grande maioria dos proprietários de veículos automotores
esbarra numa grande dúvida, a incerteza de quantos quilômetros eles
terão que rodar mensalmente para que não tenham prejuízo financeiro
com a adaptação do veículo para o recebimento de GNV. Para alguns
leigos este cálculo seria facilmente resolvido, de forma errônea,
comparando-se o preço da instalação de um kit para o recebimento de
GNV com a economia mensal, considerando-se a utilização do GNV
versus à gasolina ou ao álcool. No entanto, sabe-se que o capital
desembolsado na compra do kit possui um custo. Obviamente, este
custo deve ser analisado. Há também custos com manutenção e o valor
residual do kit (ou seja, quanto o mesmo irá agregar no valor de
mercado do veículo), ambos devem, obrigatoriamente, ser analisados.
O estudo apresenta simulações em três cenários distintos do uso de
GNV e a sua respectiva viabilidade, bem como uma planilha no Excel
de uso geral, objetivando-se a maior abrangência possível de
consumidores.

Palavras-chaves: Análise de viabilidade econômica, GNV, engenharia


econômica
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Introdução
Os combustíveis derivados do petróleo, entre eles a gasolina, vêm atravessando uma escalada
diária nos preços, devido às crises internacionais que elevam o preço do barril de petróleo,
devido também a elevados índices de impostos que formulam o preço final dos combustíveis.
Já os preços do álcool, que no Brasil é produzido a partir do processamento da cana-de-
açúcar, sofrem quase que semanalmente algum tipo de alteração, já que o mercado é
dependente dos grandes produtores de cana-de-açúcar no país, aliado a escassez esporádica
deste produto no mercado interno devido a grandes volumes exportados e a fatores climáticos.
Tendo em vista a escalada nos preços dos combustíveis no mercado brasileiro, muitos
proprietários de veículos movidos a álcool e/ou gasolina estão migrando para uso do gás
natural veicular - GNV, que chega ao Brasil, em sua maior parte através do gasoduto Brasil-
Bolívia, que até o momento ainda possui um preço muito mais competitivo em relação aos
combustíveis tradicionais.
O mercado de GNV vem apresentando bom índice de crescimento nos últimos anos e a
indústria automobilística é responsável por boa parte destes números. Segundo o site do
Laboratório Industrial Sindical (Sindlab), hoje o Brasil tem a segunda maior frota movida a
GNV, atrás apenas da Argentina. No final de 2006, o país totalizava cerca de 1,303 milhões
de carros convertidos com cilindro na traseira para rodar com gás natural. Os benefícios do
GNV são muitos, dentre eles, a baixa emissão de poluentes, uma melhor vida útil do motor
quando utilizado corretamente e uma economia que pode chegar em, alguns casos, até 70%.
Os principais consumidores do combustível são os taxistas e frotistas, para os quais o uso do
GNV é um meio de aumentar seus lucros. Entretanto, o objetivo da ABEGAS (Associação
Brasileira de Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado) é despertar o interesse do usuário
particular para a utilização do gás natural em seus automóveis, principalmente aqueles que
percorrem distâncias superiores a 100 quilômetros por dia, em particular os produtores rurais.
Visando atrair este novo nicho, 19 das 23 empresas ligadas à ABEGAS investem na criação
de infra-estrutura para o uso de gás natural, principalmente no que diz respeito à rede de
postos de distribuição.

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Valendo-se do interesse por parte dos taxistas da cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul
em adaptar seus veículos para que possam operar com GNV, este artigo tem o objetivo de
fazer a análise de viabilidade econômica do uso do GNV em veículos automotores.

Gás Natural Veicular - GNV


Assim como o petróleo, o gás natural é resultado da transformação de fósseis de antigos seres
vivos que existiram no planeta terra durante a pré-história. Portanto, de acordo com o tipo de
subsolo em que foi formado e da matéria orgânica que o originou, a composição do gás
natural pode variar bastante. É considerado o combustível fóssil de maior excelência por
proporcionar uma queima limpa, isenta de agentes poluidores. Estas características favorecem
uma maior durabilidade aos equipamentos que o utilizam e reduzem os impactos ambientais.
Quimicamente é definido como uma mistura de hidrocarbonetos parafínicos leves, podendo,
também apresentar baixos teores de contaminantes, tais como nitrogênio, dióxido de carbono,
compostos de enxofre e água. O produto pode ser encontrado dissolvido ou não no petróleo e
por esse motivo o gás natural é dividido em duas categorias: associado e não-associado.
O gás associado é encontrado em reservatórios petrolíferos, dissolvido no óleo sob a forma de
capa de gás. Apesar de o metano ser o seu principal hidrocarboneto, apresenta, também,
teores significativos de hidrocarbonetos parafínicos mais pesados.
O gás não-associado é encontrado em reservatórios gaseíferos, sem estar em contato
com quantidades significativas de óleo. Seu principal hidrocarboneto, também, é o metano,
porém difere do gás associado por apresentar pequeno teor dos outros hidrocarbonetos
parafínicos.
A queima do GNV é muito mais completa que a queima da gasolina, do álcool e do
diesel. Por isso, os veículos movidos a CNV emitem menos poluentes, tais como óxidos
nitrosos (NOX), dióxido de carbono (CO2) e principalmente o monóxido de carbono (CO). O
GNV é uma boa opção de combustível para utilização em centros urbanos, onde os controles
de poluição estão ficando cada vez mais rigorosos, contribuindo, assim, para a melhoria da
qualidade de vida da população. O Brasil produz cerca de 25 milhões de metros cúbicos de
gás natural por dia, e a Petrobras Distribuidora conta com a maior rede de distribuição do
produto, com postos localizados nas mais diversas cidades do país. A formação de petróleo e
gás natural continua a ocorrer na natureza. Porém, as movimentações da crosta terrestre hoje
são muito escassas, a velocidade com que as novas quantidades são geradas é desprezível. Por
esta razão, diz-se que as acumulações destes produtos são "não-renováveis". Ainda que
tendam ao esgotamento em algumas décadas à frente, em face das grandes quantidades que
atualmente são extraídas do subsolo ano a ano, o gás natural deve ser o principal combustível
a suceder o petróleo, com prevalência por toda a primeira metade do próximo século.
(PETROBÁS, 2006)
As reservas de gás natural são muito grandes e o combustível possui inúmeras aplicações em
nosso dia-a-dia, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Sua distribuição é feita através
de uma rede de tubos e de maneira segura, pois não necessita de estocagem de combustível e
por ser mais leve do que o ar, se dispersa rapidamente na atmosfera em caso de vazamento.
Por estar no estado gasoso, o gás natural não precisa ser atomizado para queimar. Isso resulta

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numa combustão limpa, com reduzida emissão de poluentes e melhor rendimento térmico, o
que possibilita redução de despesas com a manutenção e melhor qualidade de vida para a
população.
A composição do GNV pode variar bastante, predominando o gás metano como principal
componente, etano, propano, butano e outros gases em menores proporções. Apresenta baixos
teores de dióxido de carbono, compostos de enxofre, água e contaminantes, como nitrogênio.
A sua combustão é completa, liberando como produtos o dióxido de carbono e vapor de água,
sendo os dois componentes não tóxicos, o que faz do gás natural uma energia ecológica e não
poluente.
Segundo Machado (2006), o GNV possui as características ideais para ser usado como meio
combustível para os motores de combustão interna do Ciclo Otto, que equipam a maioria dos
nacionais, pois além de poluir menos resiste a altas taxas de compressão sem sofrer
detonação, extraindo mais potência de determinado motor.
O GNV tem baixíssimo nível de resíduos, o que aumenta a vida útil do carro e torna
menos freqüente a necessidade de manutenção. Até mesmo as trocas de óleo podem ser mais
espaçadas, sem nenhum prejuízo para a integridade dos componentes do motor,
porporcionando uma redução nos custos em manutenção. O GNV é muito mais seguro do que
os demais combustíveis automotivos. Durante o abastecimento ele não entra em contato com
o ar, impossibilitando a combustão. Seu ponto de ignição ocorre em 600°C, enquanto que o da
gasolina e do álcool não chega a 300°C, o que o torna muito mais seguro que ambos. Em caso
de vazamentos, o GNV rapidamente se dissipa na atmosfera, não sendo motivo para
explosões.

Conversão de veículos para o GNV


Os veículos originalmente projetados para rodar com gasolina ou álcool, recebem um kit
especial que os torna bi-combustível, ou seja, os carros podem rodar com gás natural ou com
combustível original. O motorista escolhe o combustível acionando um botão instalado no
painel do. O kit consiste em diversos equipamentos incluindo um ou mais cilindros de gás,
sendo que somente oficinas credenciadas pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO podem fazer a instalação do kit de
conversão. Estas oficinas fornecem o "Certificado de Homologação de Montagem” do kit.
Este documento atesta que todas as normas técnicas estabelecidas pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas - ABNT foram cumpridas permitindo que o veículo seja legalizado junto
ao departamento de trânsito local. Além disso, a oficina deve oferecer ao usuário um manual,
cujo objetivo é informá-lo sobre procedimentos operacionais de rotina, de modo a tornar
eficiente a operação do veículo e minimizar os problemas relativos à utilização do sistema
Em geral, a conversão leva cerca de um a dois dias, dependendo do veículo e do sistema a ser
instalado. Na avaliação técnica são feitos vários testes que comprovarão a viabilidade técnica
da conversão. Um veículo movido a gás, trabalha com uma tensão muito mais alta no sistema
de ignição, então os problemas mais comuns são relacionados a esta parte, ou seja, cabos,
velas e bobina. Também são avaliados alguns outros itens do motor, como atuadores, filtro de
ar, condições gerais, ruídos, correias e demais itens que podem estar em más condições e
eventualmente precisem ser reparados ou substituídos.

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Uma vez que o equipamento esteja instalado, abastece-se o veículo a fim de colocar o sistema
em uma pressão normal de trabalho para que possa se detectar algum eventual vazamento e
iniciar-se a regulagem final, onde um computador é conectado a fim de fazer o diagnóstico da
mistura. Terminada a conversão, o automóvel está pronto para ser encaminhado para a
inspeção do INMETRO.
A figura 1 ilustra o funcionamento genérico de um kit de conversão para o GNV.

Figura 1 – Funcionamento do Kit GNV. FONTE: Gaspoint.

Análise de Investimentos
Existem diversas metodologias a serem seguidas para a tomada de decisão na análise de
investimentos. Em geral é possível identificar as seguintes fases. Identificação das
alternativas, estudo preliminar de viabilidade das alternativas, seleção preliminar das
alternativas, estudo de viabilidade das alternativas selecionadas, considerações sobre risco e
incerteza, implementação das alternativas selecionadas e análise a posteriori, com o objetivo
de melhorar o sistema decisório.
Por ser um método simples, o Payback é muito utilizado para se calcular o tempo de retorno
do investimento. Ele pode ser calculado pela razão entre investimentos e receitas, sem
considerar uma taxa de juros para o desconto das parcelas. Se uma taxa de juros é
considerada, chamada de taxa mínima atrativa – TMA, então o método é chamado de
Payback Descontado e o uso de fluxo de caixa se faz necessário a fim de calcular o período de
tempo de recuperação do investimento considerando fatores de equivalência para o cálculo. A
modelagem econômico-financeira dessas opções tem que ser feita com um determinado grau
de confiabilidade, entretanto sempre haverá certo nível de incerteza ou risco na tomada de
decisão através de uma análise de viabilidade de determinado investimento (CALÔBA;
MOTTA, 2006).
O Valor Presenta Líquido – VPL e a Taxa Interna de Retorno – TIR, são métodos mais
sofisticados e que utilizam a TMA como parâmetro para o cálculo, proporcionando uma
análise de investimento adequada em se tratando de valor do dinheiro no tempo, ou seja, o
custo do capital do investidor.
Segundo Lapponi (1996), o Valor Presente Líquido compara todas as entradas e saídas de
capital na data inicial do projeto, descontando todos os valores futuros do fluxo de caixa na
taxa de juros (i) que mede o custo de capital. Portanto, o critério do método do VPL
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estabelece que, enquanto o valor presente das entradas for maior que o valor presente das
saídas, que foi calculado com a taxa de juros que mede o custo de capital, o projeto deve ser
aceito caso contrário, o projeto não é rentável do ponto de vista econômico.
Lapponi (1996) também diz que a taxa de juros que anula o VPL, isto é que torna o VPL
igual à zero, denomina-se taxa interna de retorno (TIR). O critério do método da TIR
estabelece que, enquanto o valor da TIR for maior que o valor do custo de capital (i), o
projeto deve ser aceito caso contrário, o projeto é inviável.
Atualmente o uso de planilhas eletrônicas e calculadoras financeiras facilita o cálculo através
dos métodos descritos, bastando ao analista inserir corretamente as variáveis nas fórmulas e
interpretar os resultados obtidos. Neste artigo são utilizadas planilhas eletrônicas para o
cálculo e tomada de decisão da análise de viabilidade econômica do uso do GNV para
veículos automotores.

Métodos e Técnicas
Foi utilizado computador com acesso a Internet e equipado com o Microsoft Office para a
formatação do trabalho e construção de planilhas eletrônicas, bem como a edição de figuras
e/ou fotografias. Para o trabalho de campo, foi utilizado um computador portátil com as
mesmas ferramentas descritas acima. Também foi largamente utilizada, uma calculadora
financeira HP 12C para o auxílio nos cálculos financeiros.
Dentre os métodos utilizados, primeiramente foram realizadas diversas reuniões com o
presidente do Sindicato dos Taxistas de Santa Maria, bem como com o Gerente/Proprietário
do posto de combustível localizado em Santa Maria, Rio Grande do Sul, que tem a intenção
de comercializar GNV,a fim de levantar as variáveis necessárias para o desenvolvimento do
estudo.
Num segundo momento foi realizado um encontro com um gerente da Caixa Econômica
Federal, com o objetivo de iterar-se das hipóteses de um aporte financeiro, por meio de um
financiamento, para auxiliar os taxistas a instalarem o kit de conversão para o GNV. A
alternativa de financiamento foi consideradas nos cálculos de viabilidade econômica..
Para estimar o valor de mercado de um kit GNV foi contatada a empresa Sportgás de Porto
Alegre, especializada em instalações de kits de conversão para o GNV e licenciada pelo
INMETRO. Com base no preço do kit, estimou-se um custo de deslocamento até Porto Alegre
para a instalação do kit. Espera-se que com o inicio das operações de comercialização do gás
em Santa Maria, existirão empresas na cidade para comercializar o produto e o custo de
deslocamento até Porto Alegre desaparecerá, e o retorno do investimento se dará mais cedo. O
equipamento recomendado é o kit GNV com dois cilindros de 7,5m³, ou seja, 15m³ (oferece
uma autonomia de aproximadamente duzentos quilômetros). O preço bruto é R$ 4.295,00,
podendo ser feito o pagamento com uma entrada de R$1.000,00 e mais seis parcelas de R$
549,00, sem juros; ou ainda em 24 vezes sem entrada, com juros. A vista o valor é R$
3.865,00.
Após isto, foi feito uma pesquisa na Internet em alguns sites especializados e conversão de
veículos para o GNV para saber das despesas extras na instalação de um kit conversor
(licenciamento do veículo, inspeção veicular, revisão periódica do kit, entre outros). Foram
desconsideradas despesas, às vezes necessárias, na preparação do veículo para o recebimento
do kit (manutenção na lataria, pintura, troca de pneus, etc.), pois na inspeção veicular para
regularizar o uso do novo combustível também serão analisadas as condições mínimas
necessárias para o veículo rodar. Especialistas afirmam que com o uso de gás natural há
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economia nas trocas de óleo do cárter, pois o gás não se mistura com o óleo, ao contrário da
gasolina. Como não há um valor exato de quanto será economizado, optou-se por
desconsiderar esta possível economia. Em alguns estados da Federação há um desconto no
Imposto sobre Propriedade de Veiculo Automotor - IPVA para usuários do GNV. Como no
Rio Grande do Sul, ainda não há informações a respeito de um possível desconto no IPVA, o
mesmo será desconsiderado na análise de viabilidade econômica.

Resultados e Discussão
De acordo com a sugestão proposta pelo Sindicato dos Taxistas de Santa Maria foram
estudados os resultados do estudo de viabilidade econômica do uso de gás natural em três
diferentes modelos de automóveis usados pelos taxistas. São eles o Wolksvagen Gol City 1.0
(versões entre 2000 a 2004), o Fiat Uno Mille Fire 1.0 (as mesas versões do Gol) e o por fim o
Chevrolet Corsa Classic 1.0 Sedan (versões entre 2003 a 2005). Segundo o Presidente do
Sindicato dos Taxistas, estes modelos abrangem mais de 80% dos veículos utilizados pelos
taxistas na cidade.
Foi considerado que todos os veículos necessitariam ser adaptados através da
instalação de kits de conversão para uso de GNV. Já na modalidade de investimento, levaram-
se em conta três propostas: investimento com recursos próprios e à vista, o investimento com
recursos próprios parcelados bem como através de um financiamento bancário. Optou-se pelo
financiamento através do Programa de Geração de Renda – PROGER.
Para melhor compreender os resultados do estudo de viabilidade econômica realizado, e
devido às diversas variações nos fluxos de caixa verificados em cada um dos modelos de
veículos selecionados, o estudo de cada modelo foi dividido em três cenários, cada cenário
representando uma modalidade de investimento. Nas figuras 2, 3 e 4 são apresentados os
fluxos de caixa genéricos do investimento com recursos próprios (à vista e a prazo) e do
investimento com recursos financiados.
Considera-se como investimento inicial todos os custos que abrangem a instalação de um kit
de adaptação para o GNV, as despesas de licenciamento/inspeção do veículo junto ao órgão
competente, as despesas de deslocamento até o estabelecimento que instalará o kit, entre
outras despesas necessárias para adaptar o veículo.
A economia mensal será a diferença da despesa que o taxista terá mensalmente usando o gás
natural e a despesa que o taxista teria se tivesse usado a gasolina para as mesmas condições
(economia direta). Já a economia mensal indireta que o taxista venha a ter não será analisada
(uma possível economia com as trocas de óleo, por exemplo).
O período proposto na análise de viabilidade serão cinco anos, visto que este é um período
médio de uso do veículo por parte dos taxistas. O valor residual será o considerado como
valor de incremente no preço do automóvel no momento da venda do mesmo, ou seja, quanto
o kit irá agregar na cotação do veículo após um período de cinco anos.
Mesmo que haja gastos com manutenção, estes não serão analisados, pois não há uma
estimativa para a manutenção do equipamento para utilização de GNV. - A manutenção geral
do veículo é que deve ser observada, pois um veículo que funciona bem com o combustível
original funcionará bem com o GNV. Algo que deve ser observado no equipamento é o re-
teste dos cilindros, que deverá ser feito a cada cinco anos, e que tem um custo médio de
R$350,00. Como o período de análise é de cinco anos, supõe-se que o custo seria repassado
para o próximo período ou para o comprador do veículo, já as despesas com manutenção,

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imagina-se que esta seria feita independente da instalação do kit de conversão. Optou-se por
descartar este custo.
O investimento alternativo proposto será a aplicação de todas as despesas na Caderneta de
Poupança rendendo um juro médio mensal de 0,7% o que dá uma taxa nominal de 8,73% ao
ano. Este juro será a taxa mínima de atratividade – TMA.

Figura 2 – Fluxo de Caixa Genérico do Investimento com Recursos Próprios (à vista).

Figura 3 – Fluxo de Caixa Genérico do Investimento com Recursos Próprios (a prazo).

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Figura 4 – Fluxo de Caixa Genérico do Investimento com Recursos Financiados.

Modelo Wolksvagen Gol City 1.0


De acordo com o Sindicato dos Taxistas, este é o veículo mais utilizado pelos taxistas em
Santa Maria. Na tabela 1 são apresentas as variáveis necessárias para os cálculos de fluxo de
caixa. Os dados foram repassados pelo Presidente do Sindicato dos Taxistas e pelo
Gerente/Proprietário do posto de combustível onde foi aplicado o estudo. O consumo médio
do automóvel quando utilizado o GNV é uma média dos kits existentes no mercado, sendo
que este dado pode variar de acordo com as condições de utilização do veículo e da
regulagem do kit de conversão.
Tabela 1 – Variáveis do Gol
Consumo Consumo Média de Preço Pago pelo Preço Previsto
Médio (Km/l) Médio (Km/m³) Quilômetros Litro da Gasolina para o Metro
utilizando a utilizando o rodados por dia. em 19/02/2007. Cúbico do Gás
Gasolina. GNV. Natural.
10 13 100 R$ 2,63 R$ 1,90

Os fluxos de caixa do Automóvel Gol de acordo com as variáveis vistas na tabela 1 na


modalidade de investimento com recursos próprios estão representados na figuras 5 e 6. Para
pagamento à vista com recursos próprios obteve-se VPL = R$ 13.748,95; TIR = 8,64% ao
mês e tempo de retorno de 12 meses. Para pagamento à prazo com recursos próprios obteve-
se VPL = R$ 13.399,17; TIR = 9,77% ao mês e tempo de retorno entre 12 e 13 meses.

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Figura 5 - Investimento com Recursos Próprios (à vista).

Figura 6 - Investimento com Recursos Próprios (a prazo).

O fluxo de caixa do Automóvel Gol de acordo com as variáveis vistas na tabela 1 na


modalidade de investimento com recursos financiados está representado na figura 7. Para
pagamento com financiamento pela Caixa Econômica Federal obteve-se VPL = R$
13.601,81; TIR = 11,53% ao mês e tempo de retorno entre 12 e 13 meses.

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Figura 7 - Investimento com Recursos Financiados.


Modelo Fiat Uno Mille Fire 1.0
Na tabela 2 são relacionadas as variáveis necessárias para os cálculos de fluxo de caixa do
modelo Fiat Uno Mille Fire 1.0. Também no caso do Uno, o consumo médio com a utilização
do gás natural pode variar.
Tabela 2 – Variáveis do Uno

Consumo Consumo Média de Preço Pago pelo Preço Previsto


Médio (Km/l) Médio (Km/m³) Quilômetros Litro da Gasolina para o Metro
utilizando a utilizando o rodados por dia. em 19/02/2007. Cúbico do Gás
Gasolina. GNV. Natural.
12 15,6 100 R$ 2,63 R$ 1,90

Os fluxos de caixa do Automóvel Uno de acordo com as variáveis vistas na tabela 2 na


modalidade de investimento com recursos próprios estão representados nas figuras 8 e 9. Para
pagamento à vista com recursos próprios obteve-se VPL = R$ 7.836,87; TIR = 5,54% ao mês
e tempo de retorno de aproximadamente 19 meses. Para pagamento à prazo com recursos
próprios obteve-se VPL = R$ 7.487,09; TIR = 5,77 % ao mês e tempo de retorno entre 19 e
20 meses.

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Figura 8 - Investimento com Recursos Próprios (à vista).

Figura 9 - Investimento com Recursos Próprios (a prazo).

O fluxo de caixa do Automóvel Uno de acordo com as variáveis vistas na tabela 2 na


modalidade de investimento com recursos financiados está representado na figura 10. Para
pagamento com financiamento pela Caixa Econômica Federal obteve-se VPL = R$ 7.689,73;
TIR = 6,61% ao mês e tempo de retorno entre 18 e 19 meses.
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Figura 10 - Investimento com Recursos Financiados.


Modelo Chevrolet Corsa Classic 1.0 Sedan
Na tabela 3 são apresentadas as variáveis necessárias para os cálculos de fluxo de caixa do
modelo Chevrolet Corsa Classic 1.0 Sedan. Também no caso do Corsa, o consumo médio
com a utilização do gás natural pode variar.

Tabela 3 – Variáveis do Corsa

Consumo Consumo Média de Preço Pago pelo Preço Previsto


Médio (Km/l) Médio (Km/m³) Quilômetros Litro da Gasolina para o Metro
utilizando a utilizando o rodados por dia. em 19/02/2007. Cúbico do Gás
Gasolina. GNV. Natural.
10,5 13,65 100 R$ 2,63 R$ 1,90

Os fluxos de caixa do Automóvel Corsa de acordo com as variáveis vistas na tabela 3 na


modalidade de investimento com recursos próprios estão representados nas figuras 11 e 12.
Para pagamento à vista com recursos próprios obteve-se VPL = R$ 12.937,08; TIR = 8,23%
ao mês e tempo de retorno de aproximadamente 13 meses. Para pagamento à prazo com
recursos próprios obteve-se VPL = R$ 12.587,47; TIR = 9,21% ao mês e tempo de retorno
entre 13 e 14 meses.

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Figura 11 - Investimento com Recursos Próprios (à vista).

Figura 12 - Investimento com Recursos Próprios (a prazo).

O fluxo de caixa do Automóvel Corsa de acordo com as variáveis vistas na tabela 3 na


modalidade de investimento com recursos financiados está representado na figura 13. Para
pagamento com financiamento pela Caixa Econômica Federal obteve-se VPL = R$
12.789,94; TIR = 10,82% ao mês e tempo de retorno entre 12 e 13 meses.

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Figura 13 - Investimento com Recursos Próprios (a prazo).

Conclusão
Através do estudo de viabilidade econômica da instalação do kit para Gás Natural Veicular
em veículos movidos por motores de combustão interna foi possível verificar que o mesmo
apresenta viabilidade econômica, pois nos três casos analisados os VPLs foram positivos, as
TIRs foram maiores do quê a TMA considerada para comparação e o tempo de retorno do
investimento foi menor do quê os cinco anos considerados para a análise. Isso se deve em
função da diferença significativa de preços entre o GNV e os outros combustíveis utilizados
no Brasil, como a gasolina e o álcool.
Observou-se que no caso do Uno Mille Fire 1.0 o retorno do investimento ocorreu em um
tempo 50% maior que nos outros dois modelos, Gol City 1.0 e Corsa Classic Sedan 1.0. Esta
situação deve-se ao fato de que o Uno Mille Fire 1.0 ser o veículo mais econômico em
comparação com os outros dois quando abastecido com gasolina. Portanto, conclui-se que
quanto mais econômico o veículo for com gasolina, maior será o tempo de retorno do
investimento no kit GNV, mas ainda assim há retorno satisfatório segundo os critérios
econômicos.
Outro ponto à destacar é de que nos três casos a alternativa de pagamento à vista é a melhor
escolha sob o ponto de vista econômico, pois o maior valor do VPL frente às outras duas
possibilidades, à prazo e financiamento, evidencia a escolha. No entanto, a maior TIR
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acontece nos três casos para as alternativas financiadas pela Caixa Econômica Federal,
mostrando que o financiamento é uma boa alternativa, pois além da maior TIR e VPL
positivo, possibilita um fluxo de caixa positivo ao longo de toda a vida do investimento, o quê
não acontece com as outras duas alternativas, à vista e à prazo, evidenciando uma clara
vantagem financeira obsrevada nos fluxos de caixa das alternativas.
Utilizando métodos de engenharia econômica, bem como conhecimentos técnicos na aérea da
engenharia da mobilidade, foi possível analisar detalhadamente os fatores envolvidos na
análise de viabilidade econômica do uso do GNV. Com os dados obtidos é possível subsidiar
a decisão dos proprietários de veículos automotores, em particular os taxistas de Santa Maria
na decisão de investir ou não no uso do GNV eu seus veículos.
Por fim, através da execução deste estudo fundamenta-se um possível investimento de capital
por parte dos taxistas de Santa Maria no uso de GNV em seus automóveis, e um conseqüente
aumento na renda dos mesmos, renda esta, que está fortemente atrelada ao custo dos
combustíveis.

Referências Bibliográficas
ABREU, Paulo Fernando Simas Peixoto de; STEPHAN, Christian. Análise de
investimentos. Rio de Janeiro: Campus, 1982.
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