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Mário Maestri
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Em 29 de abril, o general Mourão propôs aprofundar o relacionamento com a China, já que o
“casamento” entre os dois países é “inevitável” e a globalização, após o Corona-19 certamente
aumentará a importância geo-econômica da Ásia. Tudo em contrário ao proposto pelo Ernestinho.
No passado recente, interviu reiterada vezes para por de volta nos trilhos as boas relações com a
China, devido aos ataque bolsonaristas. Viajou à China e tem recebido altos dignitários daquele
governo.
Confundindo as Cartas
A mais paradigmática declaração de Mourão foi em 27 de abril, quando propôs a venda da
Embraer para a China, após o fracasso da negociação com a Boeing, registro das dificuldades do
capitalismo estadunidense.“A China é o país que, no presente momento, é que está expandindo este
tipo de aviação”.“Então, é um momento em que a Embraer poderá se aproximar. Nós já temos
penetração no mercado local com aeronaves da Embraer, e isso poderá ser aprofundado”. Uma
declaração que causou excitações na China e certamente despertou as iras do inferno no
Departamento de Estado estadunidense. Para essa fusão, é necessário licença do atual governo - ela
fica, portanto, para uma próxima administração.
As baionetas servem para tudo, menos para se sentar nelas. Um descompasso forte entre as
necessidades do comércio com a China e dos investimentos desse país no Brasil, devido a pressões
crescentes ideológicas estadunidenses, abrirão conflito e fissuras no governo e nas forças armadas. O
exército brasileiro é historicamente filo-estadunidense - hoje se transformou política e
ideologicamente em um quase puxadinho dos USA. É difícil saber quais são os apoios de Mourão no
exército e qual o investimento que os chineses podem fazer nele. Entretanto, a crise política e
econômica geral enfraquecem fortemente o governo Bolsonaro e obrigam os generais a andar sobre
ovos, sobretudo quando cresce a oposição a participação dos fardados no governo federal, sobretudo
entre os segmentos trabalhadores.
O importante leilão para o estabelecimento do 5G no Brasil pode conhecer atraso, com
provável realização apenas em 2021. Vai ser um momento de importante teste da capacidade de veto
estadunidense nessa área extremamente importante para a disputa entre os dois países. Setores
políticos pró-burgueses na oposição, com ainda algum eleitorado popular, como o PC do B, com
Flávio Dino à cabeça, já apostam no páreo em curso no chinês, como treinador e, quem sabe, como
jóquei de 2022. Uma data hoje enormemente distante, devido ao acirramento das contradições
internas no Brasil e externas entre Usa e China. O fortalecimento da atual proposta de rendição
incondicional da oposição faz de conta (como um todo) para afastar Bolsonaro do governo e
substituí-lo pelo vice, certamente fortalece essas contradições. (Duplo Expresso, 28/05/2020).
Mário Maestri, 71, historiador, é autor de Revolução e contra-revolução no Brasil: 1530-2019.
https://clubedeautores.com.br/livro/revolucao-e-contra-revolucao-no-brasil
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