RELATÓRIO
Edisom Luiz Martini e Cristina Maris de Melo Martini ajuizaram ação de indenização
por perdas e danos em desfavor de Cota - Empreendimentos Imobiliários Ltda..
Citada, a ré respondeu que a conclusão da obra era para outubro de 1997, requereu a
improcedência dos pedidos porque em 03.04.97 cientificou aos autores a contratação de
empréstimo junto ao Banco Itaú, que deveriam ter efetuado o pagamento da "parcela
final do preço" consoante o estipulado na cláusula oitava do contrato; os autores
receberam correspondência que informava a data de entrega do prédio, o que resultava
no condicionamento à regularização para efetivar a entrega, e somente em julho de 1998
apresentaram ao Banco Itaú a documentação exigida para formalizar o financiamento e
a entrega das chaves realizou-se em novembro de 1998 (fls. 33-42).
Houve réplica à contestação (fls. 63-67).
É o relatório.
VOTO
Dessarte, as teses aventadas no apelo serão analisadas à luz das normas e princípios
insertos no CDC.
A data estimada para a conclusão da obra, constante no item 9 do contrato, é o "mês de
outubro de 1997", ou seja, idêntica aquela para ser efetuado o financiamento, conforme
extrai-se das cláusulas contratuais oitava e nona:
Esta parcela será reajustada a partir desta data e até a data estabelecida para a
formalização do financiamento de acordo com a variação mensal e acumulativa do
CUB-CUSTO UNITÁRIO BÁSICO MÉDIO divulgado pelo
SINDUSCON/FLORIANÓPOLIS.
O contrato celebrado entre as partes foi firmado sob a égide do Código Civil de 1916 e
de acordo com o seu art. 1.092, que consagra o princípio "exceptio non adimpleti
contractus", os autores não estavam obrigados a pagar a "parcela final do preço"
prevista na cláusula oitava do "compromisso de compra e venda de imóvel em
construção".
O caso em tela enquadra-se aos arts. 1056 e 1059 do CC/16, senão veja-se:
Art. 1.059 . Salvo as exceções previstas neste Código, de modo expresso, as perdas e
danos devidos ao credor, abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que
razoavelmente deixou de lucrar.
Parágrafo único. O devedor, porém, que não pagou no tempo e forma devidos, só
responde pelos lucros, que foram ou podiam ser previstos na data da obrigação.
Nesse liame, é prudente que o ressarcimento a título de indenização por perdas e danos
abranja apenas o período em que os apelados deixaram de auferir possíveis lucros como
aluguéis, por exemplo.
Nesse passo, adota-se a bem lançada fundamentação exposta pela Magistrada Denise
Volpato, que muito bem explica o período a ser indenizado, ipsis litteris :
Desta forma, há que se reconhecer o direito à indenização por perdas e danos, no valor
equivalente a dez (10) meses, correspondente ao período de novembro/97 a maio/98 e
agosto/98 a outubro/98, tendo em vista a reconhecida concorrência de culpa dos
requerentes no atraso em dois (02) meses após a entrega da obra, para fornecimento da
documentação ao banco Itaú. (fl. 82).
Quanto ao montante a ser indenizado, vê-se que a apelante não impugnou os valores
apresentados pelos apelados para o ressarcimento, consistentes em aluguéis que
deixaram de receber com o imóvel por não lhes ser entregue no prazo estabelecido.
Logo, aos apelados assiste o direito aos lucros cessantes, tendo em vista que, com o
atraso na entrega dos imóveis, deixaram de usufruir o bem, devendo receber a quantia
equivalente aos alugueres mensais, equivalentes a 10 meses, totalizando a quantia de R$
8.000,00.
Como bem ressaltado pela Juíza Singular, o art. 34 do CTN, que trata do imposto sobre
a propriedade predial e territorial urbana - IPTU, classifica como contribuinte do
imposto "o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a
qualquer título" e "segundo a Cláusula Sexta, os requerentes foram imitidos na posse do
imóvel na data da celebração do Termo Aditivo, ou seja, em 30/10/98. Portanto, são
devedores do IPTU e das taxas de condomínio, tão-somente, a partir de 30/10/98".
Nesse diapasão:
Nos termos dos arts. 32 e 34, do Código Tributário Nacional, o sujeito passivo do
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) é o proprietário do imóvel, ou o titular do
seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título, motivo pelo qual o promitente
vendedor em nome de quem o terreno se encontra registrado no Cartório Imobiliário
responde pelo débito tributário que sobre ele recaiu, ainda que a posse do imóvel já
esteja em mãos do promitente comprador. Efetivamente, "a existência de possuidor apto
a ser considerado contribuinte do IPTU não implica a exclusão automática, do polo
passivo da obrigação tributária, do titular do domínio (assim entendido aquele que tem a
propriedade registrada no Registro de Imóveis)." (REsp 1028389/RJ, Rel. Min. LUIZ
FUX, j. 04.11.2008, DJe 01.12.2008). (AC , Des. Jaime Ramos, j. em 04.06.2009).
Não há imputar aos apelados a condição de sujeito passivo dos tributos por eles
quitados, no período de outubro de 1997 a outubro de 1998, eis que nesse período
(época do lançamento) a apelante era a detentora/proprietária da coisa.
Por fim, cabe à apelante arcar com os ônus da sucumbência, despesas e custas
processuais nos termos estabelecidos na sentença.
Portanto, o atraso na entrega da obra gerou o dever de a apelante indenizar os apelados
em perdas e danos, correspondendo aos alugueres que deixaram de auferir pelo simples
fato de não terem a posse do imóvel. Outrossim, a construtora deve ressarcir os valores
pagos referentes ao imposto de propriedade territorial urbana (IPTU) e taxas de
condomínios, uma vez que a propriedade do bem era da recorrida, nos termos do art. 34
do CTN, bem como os ônus da sucumbência, despesas e custas processuais devem ser
suportados pela empreiteira.
É como voto.
DECISÃO
Ante o exposto, esta Câmara Especial Temporária de Direito Civil, de acordo com o
voto do Relator, resolve conhecer o recurso e negar-lhe provimento.
Domingos Paludo
Relator