TED DIREITO CIVIL – PRINCÍPIO – CASO ZECA PAGODINHO
Sobre tal aspecto, merece ser trazido à baila o entendimento do MARTINS- COSTA, Judith. (A boa-fé no direito privado. São Paulo: RT, 1999. p. 46), do qual assevera que é conceituado uma norma de ética de conduta quando um contratante honra uma palavra dada, ou quando não causa prejuízo em relação ao outro contratante. Trata-se de uma norma impositiva de conduta leal, geradora de um dever de correlação que domina o tráfego negocial. Parafraseando, a função social e o princípio da boa-fé tiveram os seus surgimentos com a finalidade de visar harmonia entre as partes contratantes. E os surgimentos desses preceitos ocorreram em virtude da transformação da teoria geral dos contratos, visto que ocasionaram muitas mudanças no domínio dos contratos pela intervenção do estado no século XIX. Nas relações sociais, os estados deixaram de seguir os padrões individualistas e voluntaristas e passaram a impor a ordem social com a existência do princípio da boa-fé objetiva e o estado social. Contudo, existem duas eficácias no princípio da função social: Eficácia interna e Eficácia externa. No que tange a eficácia interna, entende-se que os interesses serão atendidos somente entre os contratantes, dessa forma esta eficácia trabalhará a maneira interna do contrato. Se uma das partesrealizarem algo desproporcional e desvantajoso ao interesse de outro contratante, ocorrerá a violação da função social do contrato. Sendo assim, o equilíbrio é fundamental na função social do contrato. Além do mais, em relação à eficácia externa, do qual é chamada de tutela externa de crédito, os interesses atenderãoos contratantes e os terceiros.A eficácia externa atentará à proteção de direitos metaindividuais e difusos. Ou seja, a eficácia externa, pela virtude de ir além das partes contratantes,ela atenderá a função socioambiental do contrato. O princípio da boa-fé objetiva é analisado e entendido como um comportamento de honestidade entre as partes relacionadas. A boa-fé possui algumas funções primordiais: integrativa, interpretativa, corretiva, limitativa e supletiva. Encontra-se a respeito à função integrativa no artigo 422 do Código Civil. Entende-se nesta função que o princípio da boa-fé cabe em qualquer relação obrigacional. O objetivo é tutelar as partes envolvidas de maneira que seja imposta mutuamente os deveres anexos. A função interpretativa encaixa-se tanto no fator objetivo quanto no subjetivo. A condição subjetiva tem a finalidade de esclarecer a intenção e pensamento das partes, do qual será verificado se ocorrerá algum equívoco. A razão objetiva será analisada as condutas e os cumprimentos entre as partes, dentro dos padrões éticos estabelecidos. A função corretiva tem a finalidade de manter o equilíbrio contratual quando ocorrer na relação jurídica certos desiquilíbrios. Um exemplo fundamental para esta função é “se na revisão de contratos de trato sucessivo (ou de execução continuada) em decorrência de situação superveniente imprevisível ou extraordinária que torne a prestação excessivamente onerosa para uma das partes, gerando lesão objetiva por fato imprevisível.” Neste caso, será necessário a função corretiva. A função limitativa ocorre tanto pelo supressio quanto pelo surrectio. O supressio acontece quando é impossibilitada o exercício de um direito subjetivo mediante a constante inércia de seu titular, do qual será capaz de gerar a justa expectativa em outrem, do qual o direito jamais será executado. Surrectio, ao contrário, é a aquisição do direito a que a situação jurídica permaneça inalterada, em vista da supressio. Isto se dá em virtude da boa-fé objetiva, que tutela os indivíduos do contrato em caso de superveniência de comportamento contraditório do outro. Portanto, a função supletiva cria deveres assessórios, anexos, laterais, dos qual é garantido um cumprimento de melhor eficácia ao contratado, do qual não será concedido a vontade das partes relacionadas. Dessa forma, serão realizadas pela boa-fé objetiva, prestações fixadas pelas partes. A informação, a cooperação, equidade, lealdade e o sigilos são exemplos importantíssimos pelos deveres anexos, dos quais são existentes desde o início do contrato. Se existir violação dos deveres acessório, o contrato será violado, do qual ocasionará a sua resolução e a reparação dos danos. Conforme o caso do Zeca Pagodinho, do qual fez um contrato de trabalho com a cervejaria Nova Schin até o fim do ano, porém em decorrência dos fatos, a Brahma o aliciou a fazer um contrato com outra empresa de cervejaria. Dessa forma, consoante o artigo 608 do CC, prevê que se o indivíduo aliciar a outrem, que já tem um contrato firmado, a executar serviço em outra localidade, pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos. A empresa de bebida Brahma não observou o princípio da função social do contrato. No artigo 421 do CC, respaldaque “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. Mediante a este caso, em virtude de aliciar, o aliciadordeverá exercer o pagamento eventual da indenização e o Zeca Pagodinho será condenado. Além disso, neste noticiário, o princípio de boa-fé não foi respeitado, pois a cervejaria Brahma e o cantor não estabeleceram um padrão ético. O artigo 422 deixa claro que até o fim do contrato, os contratantes são obrigados a guardar e executar os princípios de probidade e boa-fé. Assevera Martins-Costa: “Desmontado o dogma, têm lugar o princípio e a sua significação: a eficácia transubjetiva da relação negocial está a nos dizer que certos pactos não devem mais ser concebidos como se respeitantes tão só às partes contratantes, como se imunes fossem aos condicionalismos das circunstâncias e às esferas alheias que acabam por afetar. De tudo resta relativizado o princípio da relatividade dos contratos, falando-se em ‘tutela externa do crédito’ (Antonio Junqueira de Azevedo) ou no ‘contrato para além do contrato’ (Teresa Negreiros). Essa mesma noção tem, caso PENNZOIL vs TEXACO da jurisprudência norte-americana, um poderoso precedente, ocorrido na década de 80 e célebre por ter resultado numa das maiores indenizações já impostas por uma Corte dos EUA: 7,53 bilhões de dólares de indenização, impostos a TEXACO em demanda promovida por PENNZOIL, mais 1 bilhão de dólares de punitivedamages (indenização punitiva). Esse precedente funda-se na mesma racionalidade (jurídica) do “caso Zeca Pagodinho”,vale dizer: a necessidade do afastamento da “razão cínica”, a fim de resguardar o nível mínimo de confiança no tráfico negocial, para assegurar, no capitalismo, a própria funcionalidade das práticas comerciais.” (Martins-Costa, Judith, “Zeca Pagodinho, a razão cínica e o novo Código Civil brasileiro",disponível no: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI4218,101048- Zeca+Pagodinho+a+razao+cinica+e+o+novo+Codigo+Civil+Brasileiro). Portanto, no que tange o caso do Zeca Pagodinho, poderia simplesmente pagar a indenização que foi estabelecida juridicamente. Nessa circunstância, Brahma ficaria alheia à questão, pois,em conformidade com as pesquisas,teria realizado com o Zeca Pagodinho um contrato em assumir o compromisso de pagar todas perdas e danos a que ele será certamente condenado.