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VIDA

René Descartes nasceu no ano de 1596 em La Haye, cidade que hoje se den
La Haye-Descartes em sua homenagem.
Com oito anos, entrou no colégio jesuíta Royal Henry-Le-Grand em La Flèche
permaneceu durante nove anos. Nesta instituição foi aluno do Padre Estev
Noel, que lia Pedro da Fonseca

nas aulas de Lógica. Apesar de todos os professores o apoiarem por admirarem


suas capacidades intelectuais, Descartes acaba por demonstrar, num dos seus
contactos com Mersenne e na sua obra Discurso sobre o Método, uma certa d
com o modo de ensino da altura. Acabou por afirmar que a filosofia leccionada
conduzia a nenhuma verdade indiscutível, ou seja, objectiva, já que nela não
encontrava nenhum facto sobre o qual não se discutisse. Acrescentou que era
matemáticas que mais lhe agradavam, sobretudo devido à certeza e à evidênc
seus raciocínios. No entanto prosseguiu com os seus estudos graduando-se em
Direito em 1616 pela Universidade de Poitiers.
No entanto, Descartes nunca exerceu Direito e, em 1618, alistou-se no exérci
Príncipe Maurício de Nassau com a intenção de seguir uma carreira militar. A e
militar era, para ele, um complemento na sua educação. Conheceu o duque Is
Beeckman, tornando-se seu amigo. A ele dedicou o Compendium Musicae, um
pequeno tratado sobre música. Foi também nesta altura que escreveu Larvatu
prodeo.
Em 1619, viajou para a Dinamarca, Polónia e Alemanha, onde, no dia
Novembro, teve uma visão em sonho de um novo sistema matemático e cien
Três anos depois retornou a França e passou os anos seguintes em Paris e n
partes da Europa. Em 1628, incentivado pelo cardeal De Bérulle, comp
Regras para a Direcção do Espírito e partiu para os Países Baixos onde mor
1649. Em 1629 começou a redigir o Tratado do Mundo, uma obra de Físic
aborda a sua tese sobre o heliocentrismo. Porém, em 1633, quando Ga
condenado pela Inquisição, Descartes abandona seus planos de publicá-lo.
Em 1637, publicou três pequenos tratados científicos: A Dióptrica, Os Meteor
Geometria, mas foi o prefácio destas obras, o Discurso sobre o método
originou o seu futuro reconhecimento. Anos depois, em 1641, surgiu a su
filosófica e metafísica mais grandiosa: As Meditações Sobre a Filosofia Pri
com os primeiros seis conjuntos de Objecções e Respostas. Em 1642, lan
segunda edição das Meditações, que incluía uma sétima objecção, feit
jesuíta Pierre Bourdin, seguida de uma Carta a Dinet.
Em 1643 começou sua extensa correspondência com Isabel da B
Posteriormente publicou Os Princípios da Filosofia, obra que resume os prin
filosóficos que formam a "ciência", e explicou o movimento dos planeta
propagação da luz. S

egundo ele, todos estes factos dependiam da existência da atmosfera. Em 164


premiado com uma pensão pelo Rei de França e começou a trabalhar na Desc
Corpo Humano. Em 1649 dirigiu-se à Suécia, por convite da Rainha Cristina. N
mesmo ano, o seu Tratado das Paixões, dedicado à Princesa Elisabete da Boém
com quem mantinha uma de amizade, foi publicado.
René Descartes morreu de pneumonia no dia 11 de Fevereiro, 1650 em Esto
Suécia, onde estava trabalhando como professor a convite Rainha. Com
católico num país protestante, ele foi enterrado num cemitério de criança
baptizadas, em Adolf Fredrikskyrkan. Depois, o seu corpo foi levant
transportado para França, onde foi enterrado na Igreja de Sant Genevie
Mont em Paris. Durante a Revolução Francesa o seu corpo foi nova
desenterrado, a fim de ser deslocado para o Panthéon ao lado de outras g
figuras francesas.
Em 1667, a Igreja Católica Romana colocou as suas obras no Index Lib
Prohibitorum - Índice dos Livros Proibidos.

Teoria do Conhecimento – Discurso do Método


Racionalismo
Podemos definir o racionalismo como a corrente filosófica que considera a ra
caminho mais correcto para atingir a verdade absoluta. Já dizia Hegel "Tudo
é racional é real e tudo o que é real é racional". Os racionalistas apoiam a do
de que a experiência que nos é dada pelos sentidos é insuficiente para ating
o conhecimento. No racionalismo crê-se que o conhecimento apenas é verd
se for logicamente necessário e universalmente válido. O conheci
matemático tem origem na razão através das suas noções científicas. De fac
negam a existência do conhecimento empírico, que se baseia na experiência
consideram-no como uma simples opinião, desprovida de qualquer valor cien
O conhecimento, assim entendido, supõe a existência de ideias ou ess
anteriores e independentes de toda a experiência.

Dúvida
Segundo Descartes, a verdade e a certeza apenas se inserem na razão. A estr
utilizada por esta última, para apresentar uma forma de validade universal
conhecimento, consistia no recurso à dúvida. Ao nos colocarmos numa posiç
que duvidamos totalmente dos factos, possivelmente vamos poder extrai
ideia que foi capaz de resistir à incerteza mais rígida da nossa atitude,
denominada por dúvida metódica. René inicia sempre a sua desconfianç
dados dos sentidos, na medida em que estes últimos nos iludem para a rea
Mediante do uso excessivo e extremo da dúvida fecha a razão ao mund
sentidos, referindo a primeira como a única forma de se atingir o
conhecimento. Descartes chega até a duvidar da própria matemática, expla
a hipótese do indivíduo da antroposfera ter sido criado por um “génio ma
que nos ilude sempre que pensamos ter atingido um verdade clara e di
Devido a esta última afirmação Descartes interroga-se: “Haverá alguma
acerca da qual podemos ter total certeza?”. É através desta questão qu
norteamos para a primeira certeza: cogito ergo sum – penso logo existo
última declaração está imune ao génio maligno.

Racionalismo inatista
Descartes defende uma determinada posição do racionalismo: o racionalismo
Este tipo de racionalismo defende que existem três tipos de ideias: as inatas,
adventícias e as factícias. As ideias adventícias são aquelas que nos chegam a
dos sentidos, as factícias são provenientes da nossa imaginação, uma combin
imagens fornecidas pelos sentidos e retidas na memória cuja combinação nos
permite representar, imaginar coisas que nunca vimos. A grande questão, por
saber se todas as nossas ideias se podem explicar destes dois modos. Será o
triângulo uma ideia adventícia? Como explicar então a sua perfeição? Será um
factícia? Como explicar nesse caso a sua universalidade? E a ideia de Deus? C
explicar que seres finitos e imperfeitos como os homens, possam ter a ideia d
ser infinito e absolutamente perfeito?
A resposta que Descartes considera correcta diz que, para além das ideias
adventícias e factícias, os homens possuem  ideias inatas, ideias que, nascida
connosco, são como que a marca do criador no ser criado à sua imagem e
semelhança. Estas ideias inatas, claras e distintas, não são inventadas por nós
produzidas pelo entendimento sem recurso à experiência. Elas subsistem no n
ser, num lugar profundo da nossa mente, e somos nós que temos a liberdade
pensar ou não. Representam as essências verdadeiras, imutáveis e eternas, ra
pela qual servem de fundamento a todo o saber científico.
“(...) quando começo a descobri-las, não me parece aprender nada de novo, m
recordar o que já sabia. Quero dizer: apercebo-me de coisas que estavam já n
espírito, ainda que não tivesse pensado nelas. E, o que é mais notável, é que
encontro em mim uma infinidade de ideias de certas coisas que não podem se
consideradas um puro nada. Ainda que não tenham talvez existência fora do m
pensamento elas não são inventadas por mim. Embora tenha liberdade de as
ou não, elas têm uma natureza verdadeira e imutável.”Méditations Métaphysiq
“Méditation cinquième”, p. 97-99.
Quais são então as ideias inatas? Fundamentalmente os conceitos matemático
ideia de Deus. Num texto dirigido à princesa Elisabeth, Descartes escreve: “A
primeira e a principal [das ideias inatas] é que há um Deus de quem todas as
dependem, cujas perfeições são infinitas, cujo poder é imenso, cujos decretos
infalíveis...”
Como diz Koyré: “Do desmoronamento das suas primeiras certezas, Des
apenas salvará as que não dependem da filosofia: a crença em Deus
Matemática.”

O Método
Descartes quis estabelecer um método universal, inspirado no rigor matemá
nas suas "longas cadeias de razão".
1. - A primeira regra é a evidência: isto é, não admitir "(…) nenhuma coisa c
verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Dito de outra forma,
toda "precipitação" e toda "prevenção", preconceitos, e tomar apenas como
verdadeiro o que for claro e distinto, isto é, o que "(…) eu não tenho a menor
oportunidade de duvidar". Por conseguinte, a evidência é descrita como algo q
se pode duvidar, é o que resiste a todos os assaltos da dúvida, apesar de todo
resíduos, o produto do espírito crítico. Não, como diz bem Jankélévitch, "(…) u
evidência juvenil, mas quadragenária".
2. - A segunda é a regra da análise: "dividir cada uma das dificuldades em ta
parcelas quantas forem possíveis".
3. - A terceira é a regra da síntese: "concluir por ordem meus pensamentos,
começando pelos objectos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos p
ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".
4. - A última é a dos "desmembramentos tão complexos... a ponto de estar ce
nada ter omitido".
Se este método se tornou muito célebre, foi porque os séculos posteriores vira
uma manifestação do racionalismo.
Descartes procurava estabelecer regras universais para resolver problemas d
natureza. Isto é notado claramente em A Geometria, quando estabele
método que, segundo ele, resolve todos os problemas de geometria. Esse m
é aplicado na resolução do problema de Pappus pela primeira vez. A res
desse problema é considerada a base para o desenvolvimento da Geo
Analítica.

Matemática
Descartes foi um dos mais grandiosos matemáticos de todos os tempos. Teve
importância no desenvolvimento da geometria.
Como já referimos, foi no decorrer do ano de 1637 que concluiu o Discurso do
Método, obra que foi publicada acompanhada por três anexos, o um dos quais
Geometria. Escrita com a intenção de ilustrar matematicamente as consideraç
filosóficas gerais do Discurso do Método relativamente ao método científico, A
Geometria é

a única obra matemática publicada pelo filósofo e matemático, ocupando uma


centena de páginas.
Descartes trabalhou em diversas áreas da matemática, salientamos as seguin
. Geometria analítica;
. Álgebra geométrica;
. Classificação das curvas;
. Identificação de cónicas;
. Normais e tangentes;
Foi Descartes que, imaginando o sistema de coordenadas de um ponto, constr
bases da Geometria Analítica. Em homenagem a esse facto, denominam-se
hoje cartesianos os referenciais em que se representam graficamente as funçõ
Notas Finais
Pedro da Fonseca (1528 — 1599) nascido em Proença-a-Nova foi um filó
teólogo jesuíta português que era conhecido, na sua época, como o "Aris
Português". As suas obras principais foram nas áreas da lógica e da metafísi
Marin Mersenne (1588 – 1648) foi um monge francês que se notabilizou pe
esforço no desenvolvimento de teorias e pelos seus diversos contacto
filósofos e cientistas.
João Maurício de Nassau-Siegen (1604 – 1679) foi um militar holan
destacado líder político na Guerra dos Oitenta anos. Tornou-se príncipe de O
em 1618, sucedendo o irmão Felipe Guilherme.
Isaac Beeckman (1588 – 1637) foi um filósofo, matemático, e cientista hol
Na sua época foi considerado um dos homens com mais qualificações intele
já que possuía estudos em diferentes áreas. Ajudou Descartes em di
descobertas matemáticas.
Compendium Musicae é uma obra de Descartes, na qual o autor inda
relações matemáticas que determinam a ressonância, o tom e a disso
musical, um tópico evidentemente de acordo com sua inclinação pitagór
então.
Pierre De Bérulle (1575 – 1629) f oi um cardeal e teólogo francês. Escre
Discurso sobre a abnegação interior. Em 1611, estimulado por São Franci
Sales, fundou a Sociedade do Oratório, destinada à educação do clero.
Princesa Isabel Stuart da Escócia (1596 -1662) foi a filha mais velha de
VI dos Escoceses, I de Inglaterra e Irlanda, e da sua rainha consorte A
Dinamarca. Deste modo, era irmã de Carlos I da Inglaterra e prima de Fre
III da Dinamarca.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831) foi o último filósofo c
famoso, autor de um esquema dialéctico no qual o que existe de lógico, n
humano, e divino, oscila perpetuamente de uma tese para uma antítese
volta para uma síntese mais rica.
Alexandre Koyré (1882/1892 - 1964), foi um filósofo francês de origem rus
escreveu sobre história e filosofia da ciência.
Vladimir Jankélévitch (1903 – 1985), foi um filósofo e músico francês.

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