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Rodrigo P. Silva
A maior parte dos críticos do Novo Testamento concorda em que as epístolas joaninas compartilham uma autoria
comum com o quarto evangelho. Deste modo, a despeito das críticas levantadas por Holtzmann, Wilson e Dodd,
podemos com segurança falar de uma teologia joanina que tem por Background as Epístolas, o Evangelho e o
Apocalipse tradicionalmente atribuídos à sua pena. Assim, será a partir deste prisma que consideraremos a temática
do "amor" conforme exposta em I João.
Antecedentes Dualísticos
O Problema do dualismo em João é reconhecidamente complexo, dispondo ainda hoje de pouquíssima literatura a
respeito. O. Böcher, em Der johanneische Dualismus im Zusammenhang des nachbiblischen Judentus (1965),
encontra o fundo contextual do dualismo joanino no Antigo Testamento, rejeitando assim qualquer possível
influência de escritos judaicos posteriores e não considerando o dualismo helênico que, ao nosso ver não deveria
estar descartado do cenário da teologia de João, ainda que seja tão somente em termos de uma refutatio.
Pois bem, enquanto no evangelho e no Apocalipse parece haver o predomínio de um dualismo vertical - o mundo
superior de cima e o inferior de baixo - a epístola insiste num dualismo horizontal já no presente tempo da redação.
Os sinóticos também apresentavam tal forma dualista, porém, contrastando o mundo presente com o mundo
vindouro. Em João, no entanto, não encontramos tal perspectiva extremamente dicotomista dividindo o hoje e o
amanhã escatológico. Em sua primeira epístola, o mundo (s), embora representando tudo o que é contrário a
Deus e a Cristo (2:15 e 16; 4:5; 5:4 e 5), torna-se ele mesmo o objeto maior do amor divino (2:2, 4:9 e 14) e ainda o
ambiente no qual convivem juntos os "filhos de Deus e os filhos do Diabo"(3:10), ou, aqueles que andam na luz
(s) e na retidão () com os que amam as trevas () e a injustiça (). É evidente que isto
também espelha de modo adequado a cosmovisão exposta no evangelho e no Apocalipse, embora como dissemos,
não é um dualismo horizontal o que predomina naqueles escritos:
s
s
s s s s
' (Apoc. 11:15)
(João 3:16).
s, s (Apoc.
s
2:13) s s
s
s s (Apoc.14:3)
(João 17:11)
O Problema de Fundo
Tomando tais alusões ao dualismo horizontal presente na primeira epístola joanina, poderemos compreender que a
problemática inserida em todo o escrito, especialmente no capítulo 4, é: "Como identificar os que procedem de
Deus e os que não procedem?"
"Amados, não deis crédito a qualquer espírito, antes, provai os espíritos, se procedem de Deus, porque muitos falsos
profetas têm saído pelo mundo afora."(4:1).
Ao que nos indica o texto, segundo o pensamento e a teologia joanina, seguir a um "falso profeta", ainda que por
engano, equivale a romper relações com Deus e com a salvação por ele oferecida. A adesão a qualquer seguimento
herético reflete a quebra da aliança e da adesão ao Deus verdadeiro (s s). Sendo assim, o
desmascaramento dos falsos mestres, com a conseguinte revelação dos legítimos filhos da luz se fazia mais do que
urgente. Afinal, o anticristo, pai de todos os apóstatas, já estava operando em sua estratégia de
engano (4:3). É mister, no entanto, lembrar ao leitor moderno que os recentes debates
acerca do pluralismo religioso e o encontro das religiões não estavam em voga no
contexto em que dita epístola foi produzida. Se pretendemos recuperar o pensamento
original do autor, devemos ter em conta a imagem de um fiel pastor cuidando de um
rebanho cujas ovelhas já conheceram a luz, mas correm o risco de se desviarem dela
como outros o fizeram (4:2, 18 - 20).
Qual é pois, segundo João, a característica básica dos verdadeiros cristãos? A resposta
a esta pergunta perpassa primeiramente uma via contemplativa, firmando-se num
esquema prático e empiricamente identificável. Em primeiro lugar, fala-se da
permanência constante do homem em Deus, para que Deus, com tudo que lhe diz
respeito possa permanecer no homem. Nas palavras do apóstolo: "Nisto conhecemos
que permanecemos nele e ele em nós"(4:13), uma possível alusão ao discurso da
videira e os ramos na segunda metade do evangelho.
Fé e Justiça
O Que é Amar
À esta “altura
”, percebemos que o “amor ao próximo”, conforme apresentado na
primeira epístola , de João, embora não negue um peculiar caráter “opcional”,
“”,
ultrapassa a dimensão -, , da escolha racional para tornar-se, principalmente, um
resultado da. graça - ( divina. Sua fonte transfere-se da alma (antropologia
hebraica) para. o (.ser de Deus. A adesão (sent. próprio do hebraico ' ahabh),
segundo esta , teologia joanina, não é uma mera filiação partidária ou paixão
por uma ( causa
“ ” );(coisa , , que os “do mundo” também podem ter); ela é, antes, uma
aliança ou pacto . com
, . o próprio Deus. É aderir não a algo, mas a alguém. A
partir deste
, ponto, podemos interpretar João com os olhos de Santo Agostinho
que entendia . , -o, Ágape joanino como sendo uma pessoa. Aliás, note-se que, desde
o evangelho
, , e o Apocalipse, é comum para João personificar em Deus, os
títulos que . lhe atribuímos., E assim como o Logos e a Luz procederam do Pai,
encarnando-se na , figura histórica de Jesus Cristo, do mesmo modo o Amor
manifestado entre (4:9) os “homens
” (4:9) é outra “figuração personificada” para falar do
mistério da . , encarnação. Portanto, o dizer que o Amor procede de Deus
([ 4:7]) é uma explícita referência à procedência de Cristo do
Pai( [ João 6:46; 6: 46; 7:
7:29; 29; 8:
8:14; 14; 8:
8:42; 42; 11:
11:27, 27, 16:28])“e quando se diz “Deus é
16:28])
amor”(s ) paralelamente “ se deve lembrar do dito “e o Verbo era
Deus”(s s).
O /amor/
, , ágape é, “”enfim, o Filho de Deus vindo ao mundo e o “permanecer” neste
amor equivale
“ ” ( ,a “andar como ele andou” (amando ao próximo, cumprindo a
justiça, obedecendo
) à lei)
(1:6 4:2).e confessar o que ele é de fato (1:6 e 4:2).
Fazendo ,isto, trazemos para o presente uma encarnação salvadora fazendo com
que ela deixe de ser mero evento de um longínquo passado com o qual não temos
relação.
Conclusão
Como vimos, o amor não pode por um lado ser um tema abandonado, nem por outro,
um discurso isolado. Se somos cristãos de fato, a mais autêntica cristologia bíblica
deverá acompanhar este amor e a importância dada aos demais mandamentos da lei de
Deus deverá testemunhar de nossa fidelidade (ou adesão) ao Bem Maior, que é Cristo
Jesus. Não amamos porque somos naturalmente bons, mas porque nascemos da graça.
Não cumpriremos a lei para fazer-nos “justos”, mas porque ele nos justificou com sua
justiça. Não brilharemos porque temos luz própria, mas porque refletimos o sol da
justiça. E para fechemos com os dizeres do próprio apóstolo João, atentando para a
estrutura do texto:
's E aquilo que pedimos, dele recebemos, porque
s guardamos os seus mandamentos, e fazemos
diante dele o que lhe é agradável.
Ora, o mandamento é este:
s
1 - que creiamos em o nome de seu Filho Jesus
Cristo
s,
2 - e que amemo-nos uns aos outros, segundo o
mandamento que nos ordenou.
s
E aquele que guarda os seus mandamentos,
s s permanece nele e ele naquele.
s