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AUDITORIA, PERÍCIA E ARBITRAGEM

Departamento de Ciências Contábeis

ASPECTOS GERAIS DA PERÍCIA CONTÁBIL

A perícia é uma tecnologia contábil que tem a finalidade de esclarecer os fatos e/ou
diminuir as dúvidas de uma determinada questão ou pendência, facilitando aos árbitros
prolatarem (proferirem) suas sentenças sem tendências ou prejuízos para as partes envolvidas.
Os fatos estudados devem ser esclarecidos por intermédio das perícias, elaboradas e relatadas
por profissional habilitado, com conhecimento suficiente sobre aquilo que esteja trabalhando e
sempre pautado na ética, moralidade, imparcialidade e justiça.
Pode-se dizer, portanto, que a perícia contábil é um instrumento de suma importância
para a resolução dos fatos referentes a questões judiciais e extrajudiciais. É valiosa também
para o aprimoramento de sistemas de controles, quando há entendimento entre as partes,
sobre a necessidade de sua realização para salvaguardar o patrimônio pertencente a uma
pessoa ou grupo de pessoas ou a uma entidade.
A perícia contábil é apresentada por meio de laudos periciais,elaborados com base em
procedimentos técnicos, esclarecendo a verdade de fatos contestados por pessoas
interessadas. Os especialistas do assunto examinam os fatos, por meio de suas análises e
conclusões expressas no laudo. Normalmente, esses laudos servem como meio de prova pela
qual o Juiz busca conhecer o assunto ou fortalecer sua opinião, para solucionar determinados
litígios em processos judiciais e a seguir prolatar sua sentença.
A palavra perícia é de origem latim (peritia). O seu significado é o conhecimento aliado a
uma tecnologia.
Dentro da visão da Contabilidade, a perícia contábil é uma tecnologia contábil, cujos
procedimentos se aplicam de acordo com cada caso.
Com base na definição do termo perícia, particularizando, Lopes de Sá explica que:
“perícia contábil é a verificação de fatos ligados ao patrimônio individualizado visando oferecer
opinião, mediante questão proposta. Para tal opinião realizam-se exames, vistorias,
indagações, investigações, avaliações, em suma todo e qualquer procedimento necessário à
opinião”.
Percebe-se, portanto, que para a elaboração de perícias contábeis se faz obrigatória a
realização de procedimentos técnicos contábeis. Nesses procedimentos busca-se o equilíbrio
para estabelecer uma posição justa, alicerçada em comprovações que possam
traduzir,efetivamente, um suporte técnico esclarecedor dos fatos, reforçando a opinião do juiz,
ou desvendando os mistérios, corriqueiros nos processos judiciais. Feito assim, certamente a
sentença será aplicada de forma correta, para que o litígio chegue ao final, praticando-se
justiça.
OBJETIVOS E FINALIDADES
A perícia pode ser requerida para diversos fins.
Entre os principais fins estão os de matéria pré-judicial, judicial, regimentais, decisões
administrativas, decisões de âmbito social e para finalidades fiscais.
As perícias são desejadas para que se tomem decisões de diversas naturezas (gestão,
direito, etc).
O fim é sempre o de OBTER PROVA COMPETENTE para que se decida, e isto implica
responsabilidades sérias para o perito, quer civis, quer criminais.
Como ela é sempre prova, necessário se faz que se baseie em bases consistentes e de
plena materialidade.
Assim, por exemplo, se um sócio desconfia de outro e entra em juízo para evocar
distribuição justa dos lucros, que admite não tenha sido feita, só a perícia contábil poderá dar
ao Juiz os meios para que faça o julgamento.

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LEGISLAÇÃO APLICADA À PERÍCIA CONTÁBIL

A perícia contábil segue normas e uma legislação pertinente. Dentro do ordenamento


que regula a matéria, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) é o órgão responsável pelas
normas sobre perícia contábil enquanto que no ordenamento jurídico o Código de Processo
Civil (CPC) introduziu procedimentos que devem ser observados pelos peritos, bem como
procedimentos que devem ser observados na produção da prova pericial, neste caso são
normas extensivas aos peritos de todas as áreas de conhecimento.
Dentro das normas contábeis as legislações aplicadas são:
• NBC TP 01, de 19/03/2020, que dispõe sobre o trabalho da perícia contábil;
• NBC PP 01, de 19/03/2020, que dispõe sobre o profissional perito contábil.

CLASSIFICAÇÃO DAS PERICIAS

É possível classificar as perícias em dois grandes grupos de atuação: perícias judiciais


e perícias extrajudiciais.

A perícia judicial tem sua origem em ação posta em juízo (ação judicial), ou
seja,origina-se sob a esfera jurídica, podendo ser determinada diretamente pelo juiz dirigente
do processo ou a ele requerida pelas partes em litígio. Na perícia judicial, os exames são, na
maioria das vezes, específicos e recaem sobre fatos que já se encontram em discussão no
âmbito do processo.
Podem ser efetuadas nas esferas: Judicial, Criminal, Justiça do Trabalho, Cível
Estadual, Justiça Federal, Justiça da Família, Varas de Falências e Recuperação Judicial,
Fazenda Pública e Execuções Fiscais.

A perícia extrajudicial é realizada fora do Poder Judiciário, por vontade das partes.
Pode ser exercida no âmbito arbitral, estatal ou voluntária. O meio de prova é demonstrar a
veracidade ou não do fato em questão sendo sua principal finalidade. Esse tipo de perícia
ocorre em casos de sócios, onde um desconfia do trabalho do outro, ou até mesmo entre
empregado e patrão, comprovar fraudes e desvios. Sendo assim, o perito é contratado pelo
interessado para descobrir supostas irregularidades, o trabalho é o de investigar as respectivas
causas, e desvendar as suposições ocorridas.

Perícia no âmbito arbitral é exercida sob o controle da lei de arbitragem e pelos


regulamentos das Câmaras de Arbitragem. Sua origem é a necessidade de uma opinião
técnica especializada sobre um fato controverso. Ex, fusões, incorporações, avaliações
patrimoniais;

Perícia no âmbito estatal ou oficial são executadas sob o controle de órgãos de


Estado;

Perícia no âmbito voluntário é contratada, espontaneamente, pelo interessado ou de


comum acordo entre as partes.

A PERÍCIA CONTÁBILCOMO MEIO DE PROVA


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A perícia tem como finalidade a prova.


Por mais que seja extrajudicial, não estando no âmbito judicial, ela busca a justiça, visa
servir como subsídio para a justiça e, nesse aspecto, ela tem situações particulares.
Algumas vezes, no ambiente judicial o juiz determina a realização da prova pericial, que
substitui a prova documental e a prova testemunhal, ambas previstas no CPC. Toda a
processualística da perícia está no âmbito do Código.
A perícia contábil é um dos principais instrumentos de prova à disposição do Poder
Judiciário. A mesma pode ser requisitada no julgamento de um determinado processo à
medida que o mesmo necessitar de demonstração, constatação ou prova de determinado
objeto.
A prova pericial é uma prova de caráter absolutamente técnico, na maioria das vezes
apresentada ao Judiciário na forma de laudo, o laudo do perito do juízo, que versa sobre um
assunto científico que foge ao domínio do juiz, especialmente porque a este é vedada a
utilização de ciência própria na elucidação do processo.
A prova pericial é baseada no conhecimento técnico, na experiência, na expertise, nas
normas, no estudo formal do expert, que tem competência para formar uma opinião sobre
assuntos relacionados aos pontos controversos de um processo.
É dever do perito apresentar os critérios técnico-científicos necessários para permitir que
o magistrado aponte com precisão suas próprias conclusões e forme seu próprio juízo. Assim,
a prova pericial é de suma importância para ajudar o juiz em sua decisão. Este nomeia o perito
para auxiliá-lo e, neste momento, o perito ou expert é o alongamento de seus braços, seus
olhos e, por vezes, representa a única forma de trazer solução para a lide.

Segundo o art. 464 do CPC:


A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.

§ 1o O juiz indeferirá a perícia quando:


I – a prova do fato não depender de conhecimento especial de técnico;
II – for desnecessária em vista de outras provas produzidas;
III – a verificação for impraticável.

§ 2o De ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá, em substituição à perícia,


determinar a produção de prova técnica simplificada, quando o ponto controvertido for de
menor complexidade.

§ 3o A prova técnica simplificada consistirá apenas na inquirição de especialista, pelo


juiz, sobre ponto controvertido da causa que demande especial conhecimento científico ou
técnico.

§ 4o Durante a argüição, o especialista, que deverá ter formação acadêmica específica


na área objeto de seu depoimento, poderá valer-se de qualquer recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens com o fim de esclarecer os pontos controvertidos da causa.

O art. 372 do CPC menciona que o juiz poderá também admitir a utilização de prova
produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o
contraditório. Essa possibilidade é chamada “prova emprestada”. A intenção é que o processo
ganhe celeridade e que as lides se resolvam em tempos menores.

A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO PARA CARACTERIZAR E VALIDAR A


PERÍCIA CONTÁBILCOMO MEIO DE PROVA
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A contabilidade, durante sua evolução, agregou “elementos" que possibilitam oferecer


aos seus usuários regulamentos, normas e métodos adequados a controlar e analisar o
patrimônio quer de pessoa física quer jurídica, colocados sob sua guarda. Nesse sentido, há
interligação com o Direito, à medida que um regulamenta os interesses materiais e o outro os
controla e supervisiona.
Não diremos que o Direito não possa existir sem a Contabilidade, mas podemos afirmar
que a justiça em regra não é possível, nem segura, sem o concurso da Contabilidade.
Considerando-se as características peculiares de cada ciência e o seu objetivo comum,
que é o patrimônio, infere-se para a perícia contábil que a Contabilidade serve ao Direito, como
instrumento de prova, quando se busca o objetivo de identificar naquela, com a certeza
requerida, os fatos modificativos, causadores das variações da situação patrimonial, sobre os
quais a Contabilidade exerce o domínio e os registros de controle.
A perícia contábil torna-se, assim, o meio de prova ou o caminho para averiguar a
maneira pela qual se alcançará a certeza do fato efetivamente ocorrido; é a Contabilidade o
instrumento de que ela, a perícia, se vale para identificar e apurar a veracidade dos direitos
pleiteados.
Servem de base para a perícia todos os elementos ao alcance do profissional,
preferencialmente os que tenham capacidade legal de prova.
Por isso, os livros comerciais de registro, os documentos fiscais e legais, são bases
fundamentais para verificações.
Um perito deve-se valer de todos os elementos materiais a seu alcance para que possa
chegar às conclusões que levam à opinião.
Não basta ter as listagens de computador que elaboram o diário; é preciso que estejam
encadernadas, numeradas, rubricadas e registradas nos órgãos adequados.
Um contrato por exemplo, pode ter todas suas formalidades cumpridas, mas se não tiver
assinatura das partes, de nada vale; se tiver a assinatura das partes e não tiver registro
competente, não tem força de prova perante terceiros.
Elementos que servem de base para a perícia contábil precisam ser idôneos, validos e
com força de prova.

NECESSIDADE DE SE FAZER PERICIA CONTABIL

As necessidades se manifestam nas imperfeições e inadequações. Essas


irregularidades classificam-se em Administrativas e Contábeis.

Irregularidades Administrativas => desenvolve-se por deficiências técnicas, estados


psíquicos ou falhas morais. Daí surgem as imperfeições, negligências, infrações, erros,
simulações, adulterações e fraudes. Tudo caracterizado como irregularidades administrativas
causadoras de danos aos interesses próprios e de terceiros.

Irregularidades Contábeis => concorrem para as falhas de administração e podem causar


prejuízos, desde os de menor importância até os que comprometem a estabilidade patrimonial
ou a própria reputação do administrador. As respectivas escritas devem assegurar e confirmar
a regularidade administrativa. Entretanto, falha administrativa, por sua vez, pode ser causa de
irregularidade contábil.

ERROS, FRAUDES E PERICIA

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O erro é um vício involuntário, de escrituração ou de demonstração contábil. Diferencia-
se, pois da fraude. Existem erros de inversões de números, de repetições de registros,
classificação de contas, de somas etc...
Detectado o erro o perito precisa procurar a origem do mesmo e as causas.
Conforme a relevância do erro, pode ele ter menor ou maior influencia na conclusão do
perito. Sendo o erro irrelevante, muitas vezes nem menção merece se, todavia influi
substancialmente nas conclusões, precisa ser evidenciado e declaradas as influencias que
provocou.
A questão relacionada à fraude é sempre grave. Fraude é lesão, o erro premeditado,
feito propositalmente para lesar alguém.
Em qualquer tipo de perícia a fraude é sempre algo que motiva muitos trabalhos de
verificação. As perícias quando voltadas para a localização de fraudes, devem ter planos
específicos com cautelas que envolvem algumas vezes cuidados especiais.
INDICIOS E PERICIA
Há substancial diferença entre indício e prova. Como a perícia deve ser uma prova, não
pode oferecer suas conclusões apenas com base em indícios.
O indício é um caminho, jamais uma prova.
Ex. Se uma empresa mantém compras superiores a seus volumes de vendas, há um
indício de que possa estar havendo irregularidades nas aquisições, porém não é uma prova.

USO DO TRABALHO DE TERCEIROS – AUXILIARES E ESPECIALISTAS

O perito não transfere sua responsabilidade porque delegou sua tarefa a auxiliares ou
outros especialistas. Se está comprometido na perícia, se vai emitir opinião, responderá por
ela, integralmente.
Por isso, se precisar utilizar o trabalho de auxiliares ou especialistas (engenheiros, por
exemplo), deve certificar-se da capacidade desses.
É um risco muito grande a delegação de tarefas.

PERICIA X AUDITORIA

Perícia contábil não é a mesma coisa que auditoria.


Variam quanto à natureza das causas e efeitos, de espaço e de tempo.
A perícia serve a uma época, a um questionamento, a uma necessidade.
A auditoria tende a ser a necessidade constante, atingindo um numero muito maior de
interessados, sem necessidade de rigores metodológicos.
A auditoria permite muito maior delegação, auditoria é mais REVISAO e perícia é mais
PRODUÇÃO DE PROVA, por verificação, exame, arbitramentos (decisões).

RISCOS NA PERICIA

Os serviços contábeis, como quaisquer outros, possuem suas margens de risco; na


perícia, todavia, o risco tem muito mais significação, pois pode levar a uma opinião errônea,
produzindo uma falsa prova, com lesão a direitos de terceiros.
O perito não pode errar; tem para isso que precaver-se de todos os meios a seu
alcance.

PLANO DE TRABALHO EM PERICIA CONTABIL

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Conhecido o trabalho que deve executar e a opinião que deve emitir, em cada questão
ou quesito formulado, deve o perito traçar com antecedência a maneira de executar as tarefas
e os pontos que teve focar.
Essa previsão de tarefas, baseada nas questões propostas, constitui o plano de
trabalho.
Para conseguir tal plano é preciso seguir etapas. Um plano depende de:

1. pleno conhecimento da questão; (processo)


2. pleno conhecimento de todos os fatos que motivam a tarefa;
3. levantamento prévio dos recursos disponíveis para exame;
4. prazo ou tempo para execução das tarefas e entrega do laudo ou parecer;
5. acessibilidade aos dados (se depende de muitos locais, com deslocamentos e
burocracia);
6. pleno conhecimento dos sistemas contábeis adotados e confiabilidade de
documentação;
7. natureza de apoios, se necessários;

É enganoso imaginar que o elenco de quesitos já é um guia; o elenco é a penas o


questionamento, ou seja, o que as partes desejam saber ou requerem como opinião do perito.
1) PLENO CONHECIMENTO DA QUESTAO => toda perícia envolve uma questão, ou seja, um
pedido de opinião ou informação de quem é competente para a dar. Se a questão está em
litígio, em juízo, existem partes que se conflitam – é inequívoco; o autor reclama direitos e o réu
defende-se com seus argumentos.
O perito para participar, deve conhecer tudo sobre o que motivou a questão, os
argumentos de cada um, os documentos apresentados, etc.
2) PLENO CONHECIMENTO DOS FATOS => os fatos que envolvem a tarefa pericial são
muitos e não se confundem com o conhecimento da questão; a questão nos da a razão para a
metodologia e os fatos nos informam o que já aconteceu e esta por suceder.
3) LEVANTAMENTO PREVIO DOS RECURSOS DISPONIVEIS PARA EXAME => para
planejar é preciso conhecer os recursos disponíveis, quer humanos, quer materiais,
competentes para produzir um laudo de qualidade. Nem sempre os elementos que se
encontram à disposição do profissional são suficientes para realizar a tarefa tal como os
quesitos ou questões requerem.
4) PRAZO PARA EXECUÇÃO DAS TAREFAS => é comum nas perícias, os juízes ou os
interessados fixarem prazos para a realização do trabalho. No caso judicial, os prazos são
fatais. A Lei fixa limites de prazos (Lei 8.455).
É preciso, depois de conhecer as razões, os fatos e os recursos, mensurá-los diante do
tempo de que se dispõe.
O melhor critério é o de realizar um cronograma. Os cronogramas são peças simples,
onde de um lado se coloca a tarefa e de outro o tempo previsto.
Tal hipótese pode fazer com que o perito peça mais prazo ou desista de realizar o
serviço para não fazê-lo mal.

TAREFAS TEMPO/HORAS QUESITO Nº


Exame de livros – legalidade 1 ..........
Exame pág...... a pág...... Diário 92 ..........
Exame Razão conta.......... 19 ..........
Exame contrato 2 ..........

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Exame de pagamentos do Sr..... 450 ..........

Horas do Prazo 600


Horas do Cronograma 564

No caso acima o cronograma acusa que é possível dentro das previsões realizar a
tarefa.
As margens do cronograma devem ser calculadas com segurança, ou seja, sempre além
para cobrir os imprevistos que são naturais.

5) ACESSIBILIDADE AOS DADOS => nem sempre os dados necessários se acham no


mesmo local onde reside o perito e às vezes de espalham por regiões até longínquas. Outras
vezes esses dados acham-se em mau estado de conservação, demandando grandes esforços
para a leitura. Outras vezes dependem de informes de terceiros não implicados na questão e
que dificultam ou tendem a dificultar o fornecimento (as vezes até instigados por uma das
partes envolvidas no processo).

6) PLENO CONHECIMENTO DOS SISTEMAS CONTABEIS ADOTADOS E


CONFIABILIDADE DOCUMENTAL => como existem muitos sistemas de registros contábeis e
de arquivos, também o perito precisa conhecer como se processam. O perito precisa ter um
conhecimento razoável de sistemas e especialmente em nossos dias daqueles por critérios da
informática.
Precisa testar a confiabilidade dos sistemas e dos arquivos de documentos, de fitas,
discos etc.
Para planejar é preciso saber como se chega aos dados e até que ponto é possível
confiar neles.
Não havendo confiabilidade, é preciso encontrar o caminho que a ela conduza, ou então,
declarar a impossibilidade de obtenção de elementos que produzam uma opinião de qualidade.

7) NATUREZA DE APOIOS => se o perito sabe com que apoios contar, planejará de acordo
com as circunstancias. Sendo necessário um programa de computador, o perito precisa saber
se vai dispor de pessoal da empresa ou se deve contratar. O perito deve fazer um elenco dos
apoios de que necessita, para depois realizar o plano.

METODOLOGIA EM PERICIA

O método depende sempre do objeto que se examina. Ou seja, de acordo com a matéria
que se tem a examinar é que se traça o curso dos trabalhos.
Quando a matéria é parcial, alcançável, examina-se tudo.
Quando a matéria é demasiadamente ampla, sem possibilidades de alcançar-se o
objetivo pela totalidade, utiliza-se a amostragem.

PERÍCIA EM LIVRO DE TERCEIROS

Pode ocorrer, em um processo, que a perícia em uma das partes não seja suficiente,
sendo necessária a perícia em outra empresa que não é parte do processo.
O juiz pode determinar, pois o exame em empresa que não esteja envolvida no
processo.

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Assim por exemplo, pode ocorrer a necessidade de verificar contas bancarias
particulares de sócios em um banco que não faz parte do processo.
O perito deve deslocar-se para tal verificação tão logo o juiz expeça o mandato e esteja
ele autorizado.
O perito deve limitar-se, exclusivamente, à matéria que trata o quesito, nada mais.
Tal procedimento é de máxima ética e preserva a pessoa do perito e da empresa ou
terceiro, que, não estando no processo, deve todavia, ter sua escrita verificada.

PERÍCIA EM LOCAIS DIFERENTES

Uma perícia pode abranger agencias, filiais, fabricas de uma mesma parte, em diversas
localidades do país ou exterior.
Nesse caso o perito deverá deslocar-se. Tal deslocamento exige cuidados, ou seja, é
preciso que o perito, ao chegar ao local, venha munido de identificação e autorização
competente para sua verificação.
Ao realizar a viagem, levará consigo uma correspondência de autorização, seu CRC, os
quesitos específicos do local e seu plano de trabalho.
As despesas de viagem, como passagens, estadia, alimentação, locomoção, não são do
perito, mas custas do processo, e o perito deve solicitar o reembolso ou antecipação de
numerário.

INDEFERIMENTO DE PERÍCIA

Confere ao juiz deferir ou indeferir o pedido de perícia.


Em geral há indeferimento quando o juiz entende que os documentos apresentados são
suficientes, inquestionáveis, formando prova suficiente ou quando este se satisfaz com um
parecer técnico ou depoimento de peritos.
O juiz tem o arbítrio de indeferir, e a parte interessada o de recorrer da decisão do juiz.

SUSTAÇÃO DE PERÍCIA

Uma perícia pode ser autorizada pelo juiz a ser sustada. O perito precisa conhecer, pois,
desse fato.
Um mandato de segurança pode suspender uma perícia, mesmo determinada pelo juiz,
se ela é autorizada por este antes do julgamento das preliminares na contestação da ação.

LAUDOS PERICIAIS

Laudo Pericial Contábil é uma peça tecnológica que contem opiniões do perito contador,
como pronunciamento, sobre questões que lhe são formuladas e que requerem seu
pronunciamento.
Laudo é uma palavra que provém da expressão verbal latina substantivada laudare no
sentido de pronunciar.
O laudo é, de fato, um pronunciamento ou manifestação de um especialista, ou seja, o
que entende ele sobre uma questão ou várias, que se submetem a sua apreciação.

ESTRUTURA DOS LAUDOS

Não existe um padrão de laudo, mas existem formalidades que compõem a estrutura
dos mesmos.
A estrutura de um LAUDO PERICIAL deve conter:
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1. identificação do processo ou do procedimento, das partes, dos procuradores e dos


assistentes técnicos;
2. síntese do objeto da perícia;
3. resumo dos autos;
4. análise técnica e/ou científica realizada pelo perito;
5. a Metodologia desenvolvida no trabalho pericial, demonstrando as fontes doutrinárias
deste e suas etapas;
6. relato das diligências realizadas;
7. transcrição dos quesitos e suas respectivas respostas conclusivas para o laudo pericial
contábil;
8. conclusão;
9. termo de encerramento, constando a relação de anexos e apêndices;
10. assinatura do perito: deve constar sua categoria profissional de contador, seu número de
registro em Conselho Regional de Contabilidade e, se houver, o número de inscrição no
Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC), e sua função: se laudo, perito
nomeado e se parecer, assistente técnico da parte. É permitida a utilização da
certificação digital, em consonância com a legislação vigente e as normas estabelecidas
pela Infra estrutura de Chaves Públicas Brasileiras - ICP-Brasil;

A Identificação traz o órgão judicial (Justiça Estadual; Federal ou do Trabalho), a vara,


o nº do processo, o nome das partes e dos seus respectivos patronos e um sumário do Laudo;
O Objeto da perícia traz a situação, a coisa ou o fato que foi periciado, que motivou o
deferimento da perícia;
O resumo indica o que a perícia deseja provar, constatar ou demonstrar dentro do
alcance do seu Objeto;
Na análise o perito deverá descrever quais análises foram feitas;
Na Metodologia relatam-se os métodos, procedimentos, legislação adotados;
Nas diligências as vistorias realizadas, as indagações elaboradas, dentre outros
procedimentos;
Nas transcrições dos quesitos elaborados pelo juízo e pelas partes o perito nomeado
deve fazer uso de uma linguagem clara, com objetividade, concisão, exatidão e rigor
tecnológico;
Em sua Conclusão ou Encerramento o perito faz uma síntese da conclusão a que
chegou a perícia, emitir sua opinião técnica de forma simples e também com objetividade, ou
seja, uma exposição formal de estar encerrando o trabalho pericial contábil, entretanto, admitir
possíveis complementações ou esclarecimentos que se fizerem necessários, e ainda com o
número de páginas do Laudo, de anexos,local, data, nome e assinatura, nº do CRC, e-mail,
telefone e função no processo (perito do juízo).
Os Anexos são os documentos (demonstrações contábeis, atas de reuniões, planilhas,
termo de diligência, declarações, fotos, etc) que serviram de base para o trabalho pericial e que
o expert os considera como indispensáveis para ilustrar e tornar o Laudo Pericial mais bem
entendido.

REQUISITOS DE UM LAUDO CONTÁBIL

Para que um laudo possa classificar-se como de boa qualidade, precisa atender aos
seguintes requisitos mínimos:

1. Objetividade;
2. Rigor tecnológico;
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3. Concisão;
4. Argumentação;
5. Exatidão;
6. Clareza.

A objetividade é um princípio que se firma no preceito acolhido pelas ciências, ou seja,


a exclusão do julgamento em bases pessoais ou subjetivas;
A contabilidade tem seus princípios, suas leis, suas normas, formadas através dos
milênios.
O que a caracteriza como ciência é exatamente o fato da generalidade, da aplicação do
conhecimento. A opinião de um contador não é inspirada no que ele supõe, mas no que ele
aprendeu ou absorveu como conhecimento.
Em seu laudo o perito não deve andar sem rumo, mas de forma concreta, ater se a
matéria respeitando sua disciplina de conhecimentos.
O perito precisa ater-se à questão com realidade e dentro dos parâmetros da
contabilidade e não deve utilizar expressões como PARECE-ME. Não deve emitir opiniões
vagas e imprecisas.
Um laudo também deve ter rigor tecnológico, ou seja, deve limitar-se ao que é
reconhecido como cientifico no campo da especialidade. Em contabilidade há um número
expressivo de doutrinas e de normas em que o perito pode basear-se para emitir suas
opiniões.
A concisão exige que as respostas evitem ser muito longas. Um laudo deve evitar
palavras e argumentos inúteis ao caso. Um laudo deve ser bem redigido, mas não uma peça
literária, precisa ater-se ao assunto e responder satisfatoriamente.
No que tange a argumentação, deve o perito alegar por que concluiu ou em que se
baseia para apresentar sua opinião. Quando as argumentações forem longas, demandando a
evocação de muitos argumentos, o perito pode utilizar-se de anexo para discorrer sobre suas
razões, tornando dessa forma mais concisa a resposta.
No que tange à exatidão, ela é condição essencial de um laudo. O perito não deve
supor, mas só afirmar quando tem absoluta segurança sobre o que opina.
Por isso um laudo não é uma informação, mas uma opinião baseada em realidades
inequívocas; havendo insegurança para opinar, o perito deve abdicar, declarando sua
impossibilidade para responder.
Um laudo que se baseie só em depoimentos de testemunhas não é um laudo pericial
contábil, pois falta materialidade para concluir. O perito não é um coletor de opiniões de
terceiros, mas um emissor de opinião própria. Pode ate ouvir terceiros, mas apenas como
subsídio ou reforço de uma conclusão, a qual já chegou através de investigação contábil.
No que tange a clareza, ela é importantíssima porque o perito deve entender que o
laudo é feito para terceiros, que não são especialistas e que não possuem obrigação de
entender a terminologia tecnológica e cientifica da contabilidade.
Além do mais a clareza envolve frases inequívocas quanto a seu entendimento; deve o
perito evitar interpretações do que afirma, deve afirmar claramente.
Frases vagas, de dupla interpretação, com abuso de terminologia contábil especifica,
rebuscada demasiadamente impedem a clareza.

TIPOS DE LAUDOS

Os laudos variam de acordo com suas finalidades, que são muitas.


No campo Administrativo podem existir laudos para atenderem aos propósitos seguintes:

• Desfalques (fraudes);

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• Corrupção;
• Desempenho ou gestão;
• Aumentos salariais;
• Decisões administrativas diversas.

Ensejam, pois, perícias casos de vida administrativa onde se faz necessário investigar,
por exame contábil especifico, um problema sobre o qual a administração precisa inteirar-se
para saber como vai proceder.
No campo judicial também são vários e dependem da natureza das ações judiciais para
as quais foram requeridas.
Por isso, como são muito variadas, podemos pelo menos esclarecer que se referem a
trabalhos em processos judiciais de ações de:

* Apuração de haveres; * Consignação em Pagamento; * Concordatas;


* Desapropriação; * Inventário; * Prestação de contas;
* Rescisórias; * Reintegração de Posse; * etc...

Os tipos de laudo variam, pois, de acordo com a finalidade a que se aplicam.

ANEXOS DOS LAUDOS

Os anexos de um laudo pericial, em geral, esclarecimentos ou analises das matérias


descritas nas respostas dos quesitos. Visam ensejar que sejam mais concisas as respostas,
deixando os detalhes para os anexos, ou apresentar comprovações da matéria que se acha
descrita.
Podem constituir-se de:

* Extratos de contas; * Balanços; * Balancetes;


* Certidões; * Atestados; * Inventários;
* Publicações; * Depoimentos; * Etc...

O perito todas as vezes que necessitar esclarecer, dar mais força a seus argumentos
deve apelar para os anexos.
Devem-se evitar anexos sobre o obvio ou sobre matéria que já conste do processo.
Os anexos devem ser numerados, e a referência aos mesmos, no texto dos quesitos
será sempre por seu número.
Na resposta deve constar “conforme anexo nº....”. Preferencialmente, o número dos
anexos deve seguir a seqüência dos quesitos, ou seja, deve ser em numeração crescente.
Os anexos são partes do laudo que ao mesmo são adicionados para esclarecer ou
comprovar o texto da resposta aos quesitos.
A quantidade de anexos depende de cada caso; não são elementos obrigatórios de um
laudo, mas enriquecem o mesmo e ajudam os esclarecimentos.
Se o processo, todavia, já tem comprovações anexadas, basta que o perito se refira, em
sua resposta, à página em que o documento se acha, evitando novamente anexar o que já está
no processo.
Como o perito deve guardar cópia de seu trabalho (para seu controle), os anexos ao
laudo também devem fazer parte de seu arquivo.

LAUDOS COLETIVOS

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Em muitos casos, conforme exigência legal ou interesse de quem requer a perícia, o
trabalho é feito por mais de um profissional.
Nas perícias judiciais são três os peritos, em geral, mas podem ser mais.
Um é o perito do juiz e dois são assistentes, ou seja, um dos autores e outro dos réus. É
habitual, pois, o laudo coletivo ou realizado por uma junta de profissionais.
Em casos extrajudiciais, como por exemplo avaliação de bens para aumento de capital,
a lei obriga que sejam três os peritos.
Como o trabalho é coletivo, podem ocorrer concordância plena, concordância parcial e
discordância total entre os peritos.
No caso de discordância, o perito que não concorda produz um laudo à parte no qual
manifesta seu ponto de vista. É o caso dos laudos em separado.
Nesse caso o perito, em seu laudo, diz que concorda com os demais em tais ou quais
respostas, mas discorda em tal ou qual.
No caso de discordância, é preciso que o perito não só apresente seu ponto de vista,
como também o justifique, argumente porque discorda.
No laudo, o perito passa então a apresentar os motivos de sua discordância e a resposta
que entende como correta.
Laudos discordantes são naturais, pois podem ocorrer diferenças de ponto de vista em
questões polemicas e mesmo em forma de observar os fatos.
Não há demérito em discordar, mas existe em ofender ou tentar menosprezar um colega
no exercício da profissão. Mesmo quando há diferença de experiência e cultura, o respeito é
condição essencial.

LAUDO INSUFICIENTE

Laudo insuficiente é aquele que não esclarece tudo o que dele se espera como meio de
atendimento sobre uma questão ou várias que tenham sido formuladas.
Pode ocorrer que um laudo não satisfaça. Pode ocorrer que seja questionável e omisso.
Quando ocorre a insuficiência é aconselhável outra perícia.
As verificações podem ser incompletas, os exames podem omitir ou mal interpretar ou
um fato pode passar despercebido.
Todas essas ocorrências podem suceder, e são de fato, na prática, constatáveis; a
própria lei prevê isto para os casos de perícia judicial.
Na perícia administrativa pode, também, ocorrer que as respostas não sejam tão
esclarecedoras como delas se esperava.
Tudo isso pode ensejar uma segunda perícia sobre os mesmos assuntos. Outro perito
pode chegar a conclusões mais amplas e satisfatórias.
Sendo o laudo uma peça de valia para os fins de decisão, pode ocorrer que uma das
partes interessadas o considere lesivo a seus direitos, porque omitiu ou distorceu opiniões.
As condições de insuficiências dos laudos, todavia, não devem ser tratadas com
excesso de rigor.
Só se deve considerar um laudo insuficiente quando os dados omissos no mesmo ou
que estiverem exposto de forma incompleta forem capazes de alterar a decisão do juiz.
Pequenos erros de cálculos, exclusões de detalhes e documentos irrelevantes, falta de
analises de particularidades não decisivas em face do julgamento são imperfeições, mas não
insuficiências competentes para que um laudo seja, de fato, considerado defeituoso por
insuficiência de dados.
Entretanto, não escapa ao julgamento de laudo insuficiente aquele que tem como
resposta a evasiva ou uma declaração de incapacidade de apuração quando na realidade a
apuração era possível.

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ESCLARECIMENTO DE LAUDO

Um laudo pode não estar devidamente claro, embora não seja considerado insuficiente.
Há uma diferença de conceitos; o laudo insuficiente é geralmente o que omite ou
distorce; o laudo que enseja esclarecimentos é o que não omite, não distorce, mas permite
interpretação duvidosa.
Existem expressões que podem permitir duplo sentido ou que possam conduzir a
entendimentos opostos.
Assim, por exemplo, a uma pergunta objetiva pode corresponder a uma resposta
subjetiva ou duvidosa.
Ocorrendo a necessidade de esclarecimentos, podem as partes e o próprio juiz ficarem
satisfeitos com explicações verbais ou adicionais.

ENTREGA DOS LAUDOS

Os laudos possuem prazos, ou seja, tempo certo em que devem ser produzidos;
portanto, para que haja prova de que o prazo se cumpre é preciso formalizar a entrega.
O perito deve proteger-se com a prova da entrega. A formalização de entrega deve
obedecer à natureza e às formalidades de cada caso; nas perícias administrativas, uma carta
ou um ofício; nas judiciais a petição ao juiz para anexação aos autos.
O laudo é compromisso em tempo determinado e por isso sua entrega deve ser sempre
comprovada.

LIMITE DA PERTINENCIA DA OPINIAO NO LAUDO PERICIAL

Quando o perito contábil está a serviço do juiz, por ele nomeado, tem por
responsabilidade principal orientar a decisão do magistrado.
Algumas vezes, tal orientação está além do que consta do questionado, ou seja, o laudo
pode transcender os limites dos quesitos formulados. Deve o perito, então, por exercício da
consciência ética, ir além dos que requerem os temas elaborados pelas partes e acrescentar o
que pode contribuir para a decisão e que por ele foi detectado.
Trata-se de assumir o verdadeiro “espírito de opinião”, ou seja, o que o juiz espera como
orientação para proferir sua sentença.
Se o perito consegue perceber o que não foi perguntado mas que influi na decisão,
deve, a serviço da justiça e da qualidade de seu trabalho, transcender o que foi inquirido.
É da essência do trabalho do perito do juiz auxiliar o magistrado no sentido de uma
decisão adequada. A opinião do perito deve ser dada sempre quando ela puder influir no
critério da sentença.

NOVA PERICIA

Pode também o juiz não satisfeito com o laudo, determinar que seja feita uma nova
perícia.
Nesse caso não se trata de esclarecer um trabalho feito, mas de realizar outro.
A nova perícia não anula a primeira, ambas são instrumentos validos de apreciação.
No caso de uma nova perícia o perito vai esclarecer somente as dúvidas que ainda
restaram ao juiz e concentrar seu trabalho somente nesses quesitos. Só se justifica uma nova
perícia, quando a primeira for considerada insuficiente.
A insuficiência se justifica por falta de esclarecimento.

PERÍCIAS DISCREPANTES
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Diante de perícias discrepantes, o juiz pode tomar uma media de opiniões; o juiz não é
obrigado a limitar-se a um laudo especifico.
Assim por exemplo em um arbitramento de aluguel os laudos podem chegar a valores
diversos, mas, sendo todos muito bem fundamentados, pode o juiz optar por uma média de
opiniões.
O fato de uma perícia discrepar da outra é natural, especialmente em matéria que gera
polemica. O importante é que cada perito tenha condições de bem argumentar sua conclusão.

LOGICA DOS QUESITOS

Os quesitos devem ser pertinentes a matéria que forma o motivo da ação. Devem ser
formulados em seqüência lógica de modo a conduzir-se à conclusão que se deseja.
O advogado depende muito de seu perito, mas este, para poder executar um bom
trabalho para as partes que o elegem, precisa muito bem conhecer os argumentos ou razoes
sobre as quais o advogado espera defender seu constituinte.
Os quesitos devem resultar de um esforço conjunto entre o contador e o advogado, de
modo possuírem uma forma lógica competente para se chegar às conclusões desejadas como
provas.

QUESITOS SUPLEMENTARES

Não se trata de um novo exame, mas de adicionar ao já feito elementos que se fazem
necessários.
Após a entrega dos laudos, o juiz abre às partes o exame dos mesmos; então, sim, pode
surgir a necessidade de complementar, em razão de as respostas sugerirem novos exames
pertinentes.
O juiz deverá deferir o pedido, pois se não o fizer, ainda que requeridos não serão
motivo de trabalho pericial.
Quando o perito vai realizar seu trabalho com base em quesitos complementares, deve
em seu lado identificar que de fato são desta natureza.
Na pratica há um novo laudo, embora esteja vinculado ao primeiro.

QUESITOS IMPERTINENTES

O perito pode deixar de responder um quesito se julgar que foge a sua especialidade.
Obviamente, o que extrapola ao campo contábil não é responsabilidade do perito contador.
Assim, por exemplo, se o quesito solicita ao perito a interpretação de um texto de lei,
não é ele obrigado a responder, por isso foge aos limites de sua responsabilidade, a menos
que o texto se refira especificamente a fato contábil.
Tais quesitos são ditos impertinentes, ou seja não se referem a matéria.
Por isso não é obrigado a responder a tudo o que lhe é perguntado, mas ao que é
pertinente a sua especialidade.

O PERITO CONTÁBIL

Perito é o contador detentor de conhecimento técnico e científico, regularmente registrado


em Conselho Regional de Contabilidade e no Cadastro Nacional dos Peritos Contábeis, que

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exerce a atividade pericial de forma pessoal ou por meio de órgão técnico ou científico, com as
seguintes denominações:
(a) perito do juízo é o contador nomeado pelo poder judiciário para exercício da perícia
contábil;
(b) perito arbitral é o contador nomeado em arbitragem para exercício da perícia contábil;
(c) perito oficial é o contador investido na função por lei e pertencente a órgão especial
do Estado;
(d) assistente técnico é o contador ou órgão técnico ou científico indicado e contratado
pela parte em perícias contábeis.

Busca auxiliar o Juiz no que se refere à verificação ou apreciação daqueles fatos da


causa que para tal exijam conhecimentos especiais ou técnicos. Deve possuir, além dos
conhecimentos teóricos, experiência no campo prático da Contabilidade.
Deve estar preparado para efetuar perícias em escritas contábeis e ser especialista da
matéria objeto do trabalho.
É imprescindível, pois, que o perito seja um profissional com adequado preparo técnico,
com visão de gestão e que tenha domínio profundo do assunto a ser periciado. A par desses
conhecimentos técnico-contábeis, o perito contábil só poderá desenvolver a contento o seu
trabalho, se estiver inteirado da prática processual.
O laudo pericial contábil a ser preparado requer desenvolvimento da capacidade criativa
e do espírito crítico, com base nas experiências passadas do perito contábil e nos fundamentos
técnico-científicos. Ainda, deverá o perito contábil dominar o assunto jurídico em várias outras
áreas. Dentre elas, destacam-se especificamente: a Matemática Financeira, a Economia, a
Administração e o Direito.
Observa-se que a qualidade dos trabalhos periciais implica conhecer outros campos de
formação, que não somente os contábeis. Na área do Direito, onde todas as perícias judiciais
são peticionadas e também onde os resultados apresentados são apreciados, são revestidas
de formalidades exigidas por esse campo de trabalho. Na Lógica, o especialista deve
apresentar linha de raciocínio adequada, para entender as razões que levaram as partes a
conflitarem. Antes de produzir o laudo ou o relatório, o perito-contador ou perito-contador
assistente deverá estar convicto sobre os fenômenos que auxiliarão no desfecho da causa.
O mercado está tornando-se cada vez mais exigente, obrigando os profissionais das
diversas áreas a aprimorarem seus conhecimentos técnicos e científicos, a fim de manterem
sua empregabilidade. Não menos importante é hoje a atitude comportamental em relação à
questões éticas, o que tem sido um diferencial no desempenho do profissional. A ética é o
alicerce para que as pessoas de uma forma geral exerçam sua profissão.

AS QUALIDADES OBRIGATÓRIAS DO PERITO CONTÁBIL

Além dos conhecimentos técnicos de sua especialidade, o perito deve ter um conjunto
de qualidades morais e comportamentais que lhe poderão dar a reputação necessária para ser
preferido pelas partes interessadas e pelas autoridades judiciais.
Esse conjunto de qualidades fortalece a confiança que a justiça deposita no profissional,
elevando o grau de sua aceitação, confiança e também a preferência no momento da definição
do nome do profissional selecionado para o trabalho.
São elas:

a) Competência => A competência é, pois, das mais importantes qualidades que o


perito deve possuir.Competência pode ainda ser entendida como a qualidade técnica de uma
pessoa, para desenvolver a atividade que lhe fora atribuída, ou seja, a aptidão que a mesma
possui, que lhe concede o direito de exercer o trabalho.
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b) Diligências =>Diligências pode ser analisado como todas as providências levadas a
efeito pelo perito contábil para permitir-lhe oferecer o laudo pericial contábil. Podem ser vistas
como uma das fases do trabalho pericial, consubstanciada no trabalho de campo, que envolve
algumas etapas, nas quais o perito contábil tem com o objetivo central a busca dos elementos
que vão permitir solucionar as questões contábeis submetidas à sua consideração técnica.
c) Discrição =>É uma qualidade que preserva a imagem do perito, ou seja, o faz
conduzir-se de modo sereno e prudente, guardar os segredos da profissão, não permitindo que
filosofias, crenças e paixões venham influenciar no resultado de um trabalho que exige a
imparcialidade absoluta.
A discrição é um dos contornos básicos do perfil do profissional da perícia,é um traço
que se pode esperar daqueles que já estão ou vierem a abraçar a função pericial contábil.
d) Imparcialidade =>O perito contábil deve ser um profissional imparcial e de postura
extremamente ética,possuidor de independência moral e técnica, quando da elaboração de seu
laudo. Nesse sentido, não deve emitir opinião pessoal que favoreça uma das partes
interessadas. Deve ser justo, fiel à verdade e nunca distorcer a realidade dos acontecimentos,
mesmo porque a perícia é, também, uma atividade que responde aos anseios de uma
sociedade.
e) Independência =>O perito deve ser independente em todos os aspectos sobre o
objeto do trabalho. Não pode ser influenciado por fatores externos, por preconceitos ou outros
elementos que venham trazer prejuízos efetivos à sua liberdade. Essa independência não se
restringe apenas a eventuais interesses financeiros ou vínculos conjugais, parentesco
consangüíneo, vínculos empregatícios, mas também a outras situações que possam vir a
constranger ou levantar dúvidas em relação à qualidade de seu trabalho.
f) Honestidade =>Para desempenhar com rigor os seus trabalhos, exigindo
cumprimento das normas,conduta das pessoas que o cercam e ainda daquelas envolvidas no
processo, é preciso ser, parecer e comprovar honestidade. O perito muitas vezes, se vê
envolvido em litígios de grandes e pequenas quantias e não pode deixar se envolver pelos
valores. Um valor pode ser pequeno para uma parte, entretanto, muito grande para a outra. Ser
honesto, então, é o caminho correto e seguro para desenvolver uma boa perícia.
g) Justiça =>É qualidade inerente ao sentimento de respeito ao trabalho desenvolvido
para apoiar o Juiz, afim de que este não cometa iniqüidade, aplicando sua sentença sem o
fundamento necessário,especialmente transferindo patrimônio indevidamente em função de um
posicionamento mal formulado pelo perito. O perito deve manter, como uma de suas principais
preocupações, a busca da verdade. Caso contrário, seu trabalho não estará atendendo ao
objetivo final, que é ode apoiar a promoção da Justiça, dando a cada um o que lhe pertence.
h) Paciência =>O perito deve ser persistente, saber criar oportunidades que possibilitem
a execução de um bom trabalho no tempo determinado pelo Juiz e que satisfaça a atividade
pericial de ambas as partes.
i)Perspicácia =>O perito deve observar pontos relevantes de forma a não perder tempo
com assuntos insignificantes. Para isso precisa estar inteirado e ser conhecedor do assunto em
pauta, não se firmando em suposições. Deve sim buscar, de forma concisa, a verdade dos
fatos.
j) Respeito =>O perito deve ser correto para desempenhar o seu trabalho e para que
haja respeito mútuo entre os colegas. Este respeito contribui de modo favorável ao ambiente
de trabalho do profissional. Respeitar é atribuir o valor de forma correta à dignidade alheia. É
por meio dessa atitude que o perito também se faz respeitar.
Um perito jamais desempenhará bem o seu trabalho se desrespeitar aqueles que o
cercam durante a ação pericial, incluindo-se aí os peritos assistentes.
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É necessário enfatizar que o perito contábil, além de ser um profissional legalmente
habilitado, precisa ser culto, bem informado intelectualmente e ainda deve possuir e exercer
suas virtudes morais e éticas com total compromisso com a justiça e com a verdade. O
profissional revestido das qualidades aqui elencadas poderá desenvolver trabalhos de alto
nível, carregando consigo o dever de cumprir, com responsabilidade, o encargo que lhe foi
atribuído.
ESCOLHA DO PERITO CONTABIL

O exercício profissional da função pericial contábil realiza-se sob duas formas de


atuação técnica.
A primeira oportunidade surge quando o contador é nomeado pelo magistrado ou de
comum acordo pelas partes para assumir a função de perito judicial.
A segunda forma de atuação ocorre quando o contador é indicado pela parte para
funcionar como assistente técnico.
Nota-se que o magistrado nomeia perito contábil e a parte indica assistente técnico. Isso
vale dizer que, do ponto de vista processual, o assistente técnico precisa para funcionar em
determinado processo, ser aceito pelo magistrado. Pode portanto ser recusado se assim
entender o magistrado.
O momento da nomeação do perito se dá na ocasião que o magistrado avalia a
relevância ou a necessidade de se produzir prova técnica contábil. Se as alegações dos fatos
possam ser provados mediante perícia contábil o magistrado ira determinar sua realização e
conseqüentemente nomeara o perito contábil. Neste mesmo ato o magistrado abrirá prazo para
as partes indicarem seus assistentes técnicos.

OS PERITOS EM JUÍZO – NOMEAÇÃO, INDICAÇÃO, INTIMAÇÃO

Nas perícias contábeis judiciais, já vimos, três são os peritos: um do juiz e um de cada
parte do litígio.
O perito das partes devem ser indicados no prazo de quinze dias, contados da intimação
do despacho de nomeação do perito e no mesmo prazo, os quesitos são apresentados pelas
partes.
Aceita a indicação, o perito do juiz se compromete e pode então comunicar-se com os
assistentes indicados.
O assistente técnico conhece de sua indicação pelas partes em litígio ou pelos
advogados.
Os assistentes não se compromissam, mas apenas são indicados e depois avaliam o
laudo do perito do juiz.
Aos assistentes técnicos, cabe a manifestação em forma de parecer do laudo do perito
do juiz, concordando ou ressalvando.
Conforme a importância da causa, deve-se escolher a importância do perito. Quanto
mais complexa a causa, mais experiência e cultura deve ter o profissional.
Ao juiz compete também, fixar local, hora e prazo para entrega do laudo pericial.

RECUSA E SUBSTITUIÇÃO DO PERITO

O perito pode recusar sua indicação por vários motivos.


A recusa deve ser comunicada ao juiz, por escrito, com a justificativa, quando então será
nomeado outro perito para substituir. A escusa deve ser apresentada dentro de até cinco dias
da intimação.

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É também, lícito às partes recusar o perito do juiz por suspeição, mas deverá provar os
motivos da não aceitação do mesmo.

IMPEDIMENTOS

Impedimentos são situações fáticas ou circunstanciais que impossibilitam o perito-


contador de exercer regularmente suas funções ou realizar atividade pericial em processo
judicial ou extrajudicial.
O perito-contador nomeado deve se declarar impedido quando não puder exercer suas
atividades com imparcialidade e sem qualquer interferência de terceiros, ocorrendo pelo menos
uma das seguintes situações:

IMPEDIMENTOS LEGAIS

a) for parte do processo;


b) tiver atuado como perito-contador assistente ou prestado depoimento como
testemunha no processo;
c) tiver cônjuge ou parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta ou em linha
colateral até o terceiro grau, postulando no processo;
d) tiver interesse, direto ou indireto, mediato ou imediato, por si, por seu cônjuge ou
parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou em linha colateral até o terceiro grau, no
resultado do trabalho pericial;
e) exercer cargo ou função incompatível com a atividade de perito-contador, em função
de impedimentos legais ou estatutários;
f) receber dádivas de interessados no processo;
g) subministrar meios para atender às despesas do litígio; e
h) receber quaisquer valores e benefícios, bens ou coisas sem autorização ou
conhecimento do juízo.
Quando nomeado em juízo, o perito-contador deve dirigir-lhe petição, no prazo legal,
justificando a escusa e o motivo do impedimento.

IMPEDIMENTO TÉCNICO

Os impedimentos por motivos técnicos a ser declarado pelo perito-contador decorre da


autonomia e da independência que devem possui para ter condições de desenvolver de forma
isenta o seu trabalho.
São motivos de impedimento técnico:
a) a matéria em litígio não ser de sua especialidade;
b) constatar que os recursos humanos e materiais de sua estrutura profissional não
permitem assumir o encargo; cumprir os prazos nos trabalhos em que o perito-contador for
nomeado, contratado ou escolhido; ou em que o perito-contador assistente for indicado;
c) ter o perito-contador assistente atuado para a outra parte litigante na condição de
consultor técnico ou contador responsável, direto ou indireto em atividade contábil ou em
processo no qual o objeto de perícia seja semelhante àquele da discussão.

SUSPEIÇÃO

O perito-contador pode declarar-se suspeito quando, após, nomeado ou contratado


verificar a ocorrência de situações que venha suscitar suspeição em função da sua
imparcialidade ou independência e, desta maneira, comprometer o resultado do seu trabalho
em relação à decisão.
Os casos de suspeição aos quais estão sujeitos o perito-contador são os seguintes:
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a) ser amigo íntimo de qualquer das partes;
b) ser inimigo capital de qualquer das partes;
c) ser devedor ou credor de qualquer das partes, dos seus cônjuges, de parentes destes
em linha reta ou em linha colateral até o terceiro grau;
d) ser herdeiro presuntivo ou donatário de alguma das partes ou dos seus cônjuges;
e) ser parceiro, empregador ou empregado de uma das partes;
f) aconselhar, de alguma forma, parte envolvida no litígio acerca do objeto da discussão;
g) houver qualquer interesse no julgamento da causa em favor de alguma das partes;
h)declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, ficando isento, neste caso, de declinar
os motivos.

INDEPENDÊNCIA

O perito-contador e o perito-contador assistente devem evitar e denunciar qualquer


interferência que possam constrangê-los em seu trabalho, não admitindo, em nenhuma
hipótese, subordinar sua apreciação a qualquer fato, pessoa, situação ou efeito que possam
comprometer sua independência.

PROPOSTA DE HONORARIOS – DEPOSITO PREVIO

Aceita a perícia, o profissional deve requerer seus honorários (fazem parte das custas e
quem pede a perícia é quem deve fazer o deposito).
Toda fixação previa pode, todavia, ser reajustada se o prazo da perícia assim o exigir e
nos casos de inflação.
Em caso de aumento da carga horária de trabalho do perito, mesmo ele tendo fixado
previamente seus honorários, pode pedir reajuste.
Cabe ao autor adiantar as despesas, mas se o réu perder, deverá com as mesmas
arcar.
A proposta pode ainda detalhar mais a natureza dos trabalhos a serem executados, para
justificar a previsão.
Pode ainda requerer o local em que o deposito seja feito a disposição do Meritíssimo juiz
a ser levantado quando da entrega dos trabalhos.
No caso dos assistentes os honorários são ajustados entre as partes.

Portanto:
1) faz se a proposta e pede-se o deposito prévio em conta e à disposição do MM. Juiz;
2) Executa-se a perícia e produz-se o laudo;
3) Entrega-se o laudo e faz-se petição para a liberação do deposito feito em conta que
ficou à disposição da justiça

Essa é a seqüência normal, todavia, pode o perito requerer ao juiz parte de seus
honorários por antecipação em caso de perícias que levarão tempo para serem concluídas (em
geral 50%).

SUBSTITUIÇÃO DO PERITO E DESISTENCIA

A lei prevê como vimos anteriormente a substituição do perito.


Se o perito é intimado e não cumpre sua tarefa em tempo hábil, pode ser substituído.
Nesse caso, além da substituição o perito é multado pelo juiz em face do valor da causa.

RETIRADA DOS AUTOS


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Para bem conhecer todo o processo e realizar o plano da perícia, o perito precisa
conhecer bem os autos; para isso precisa retirá-lo do cartório onde se acha.
Tal ato também implica em requerimento, ou sendo o perito já bem conhecido é usual
que mediante simples controle do cartório lhe é entregue o processo.
Outras vezes é retirado pelo advogado e cedido ao perito em confiança.
O perito deve, ao devolver os autos, solicitar baixa da carga mediante protocolo de
entrega, para não correr o risco de ser acusado no caso de extravio do processo.

INICIO DO TRABALHO PERICIAL E DILIGENCIAS


Em data, hora e local determinados pelo juiz, os peritos devem iniciar seu trabalho. É
dever do perito do juiz comunicar-se com os assistentes para comporem a metodologia de
seus trabalhos.
Devem em tese, estar os três peritos presentes no ato do inicio das tarefas. Na pratica
todavia, e conforme o caso, os assistentes podem combinar com o perito do juiz apenas o
exame de seu plano.
DIFICULDADES E RESISTENCIAS DA PARTE
A parte examinada pode criar obstáculos ao perito, sonegando informações ou
complicando o fornecimento de documentos e livros.
Nesse caso, agindo com habilidade, o perito deve tentar contornar tais obstáculos,
fazendo ver os problemas que podem ocorrer.
Não conseguindo deve imediatamente cientificar ao juiz a resistência e, conforme o
caso, requerer a busca e apreensão judicial dos elementos necessários ao trabalho.
Tal medida entretanto só deve ser tomada em casos extremos e depois de esgotados
todas as formas amigáveis de conversa.
O perito tem plenos poderes de investigação, inclusive de produzir os anexos que
desejar para ilustrar seu trabalho bem como ouvir testemunhas.

RESPONSABILIDADE CRIMINAL DO PERITO

O perito pode ser responsabilizado pela inveracidade de seu laudo, se comprovado dolo
ou má fé, que em juiz, quer perante os conselhos de contabilidade. Tal responsabilidade
envolve:

• Indenização à parte prejudicada;


• Inabilitação por dois anos para o exercício de uma nova perícia;
• Sanção penal por crime;

Alem destas, pode também sofrer as sanções que venham a ser estabelecidas pelo
Tribunal de Ética Profissional dos Conselhos de Contabilidade.
Por isso o perito deve trabalhar com forte dose de cautela. Não deve precipitar-se.
É preferível omitir uma opinião sobre fatos os quais não se chegou a um convencimento
pleno do que lançar qualquer resposta só para satisfazer aos quesitos que foram formulados.
A pressa é inimiga de um trabalho pericial perfeito.

SIGILO PROFISSIONAL DO PERITO

O sigilo profissional é um dever ético para qualquer tarefa contábil, mas essencialmente
na perícia.
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O profissional tem o dever de nada revelar sobre o que conhece ao elaborar seu
trabalho nem deve comentar o que realiza, com terceiros.
Na busca de um dado, pode-se passar por muitos outros.
A lei protege o sigilo.A ética impõe o sigilo.

OS PROCEDIMENTOS ARBITRAIS

O judiciário está cada vez mais lotado de processos e os litígios demorando anos para
serem julgados. Nesse sentido o judiciário aposta cada vez mais em alternativas para resolver
as lides de forma extrajudicial.
Idealmente, esses meios devem ser utilizados a fim de evitar que o conflito tenhaque ser
levado ao Judiciário. São as chamadas formas puras, a saber: a negociação, a conciliação, a
mediação e a arbitragem.

NEGOCIAÇÃO

Por negociação, entende-se o processo pelo qual as partes envolvidas no litígio,


diretamente e sem a interveniência de uma terceira pessoa, buscam chegar a uma solução
consensual. A negociação envolve sempre o contato direto entre as partes ou entre seus
representantes; não há aqui um terceiro, um neutro, um mediador, um árbitro ou um juiz.
É um processo bilateral de resolução de impassesou de controvérsias, no qual existe o
objetivo de alcançar um acordo conjunto, por meiode concessões mútuas.
Envolve a comunicação, o processo de tomada de decisão (sob pressão) e a resolução
extrajudicial de uma controvérsia, sendo resolvido diretamente entre as próprias partes
litigantes e/ou seus representantes.
A negociação tem como principais vantagens evitar as incertezas e os custos de
umprocesso judicial, privilegiando uma resolução pessoal, discreta, rápida e, dentro do
possível, preservando o relacionamento entre as partes envolvidas, o que é extremamente útil,
sobretudo em se tratando de negociação comercial.
Normalmente é a primeira a ser tentada, até porque dispensa a presença de terceiros,
mas, também por isso, possui forte vinculação emocional das partes, que, nem sempre,
conseguem se desapegar do objeto do litígio para refletir de forma racional sobre ele.

CONCILIAÇÃO

Tanto na conciliação como na mediação os interessados buscam oauxílio de um terceiro


imparcial que irá contribuir na busca pela solução do conflito.
Esse terceiro não tem a missão de decidir (nem a ele foi dada autorização para
tanto).Ele apenas auxilia as partes na obtenção da solução consensual.
O papel do facilitador é ajudar na comunicação através da neutralização de
emoções,formação de opções e negociação de acordos. Como agente fora do contexto
conflituoso, funciona como um filtro de disputas,tentando conduzir as partes à composição
amigável, sem interferir concretamente na construção das soluções.
O conciliador deve ser uma pessoa neutra, estranha ao litígio, cuja tarefa é fazer com
que as partes estabeleçam um acordo.
Normalmente, a conciliação é utilizada em conflitos menores, em que existe uma clara
identificação do problema, como a realização de uma cobrança abusiva, ou questões que
envolvem direitos trabalhistas individuais, ou, ainda, os casos de divórcio.
Por existir uma polarização, o conciliador pode assumir posição mais firme e propor
acordos para as partes. No entanto, não pode impô-los.
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Se houver uma composição amigável, os litigantes podem homologar o acordado no
judiciário para que este tenha caráter de título judicial, o que é comumente feito em questões
que envolvem direitos trabalhistas individuais. Porém, isso não é regra, havendo conciliações
totalmente extrajudiciais, como nos casos que tratam de direito do consumidor.

MEDIAÇÃO

A mediação, assim como a conciliação, é comandada por uma terceira pessoa, estranha
ao litígio e neutra.
Normalmente, uma demanda precisa ser mediada quando não existe diálogo entre as
partes e o motivo pelo qual elas estão brigando não é claro. Um exemplo clássico é a briga de
vizinhos, que acumula várias questões durante um tempo, sendo necessário, primeiramente,
separar o que é de fato incômodo do que é apenas implicância.
Por causa disso, o papel do mediador é diferente do conciliador. Não cabe ao mediador
propor acordos. As partes determinam as regras e a forma de conversar. O profissional que
está ali, organizando a conversa, deve facilitar o diálogo e garantir que a ordem e a civilidade
sejam seguidas.
Com o advento do novo código de processo civil, a mediação e a conciliação ganharam
fôlego, pois o legislativo apostou em sua profissionalização e na regularização de sua utilização
em diversas oportunidades.

ARBITRAGEM

A arbitragem surge como uma forma paraestatal de resolução de conflitos de maneira


impositiva. Sua finalidade está na busca de um mecanismo mais ágil e adequado para a
solução de conflitos, numa fuga ao formalismo exagerado do processo tradicional, com a
vantagem, ainda, de o árbitro poder ser uma pessoa especialista na área do litígio
apresentado, ao contrário do juiz, que nem sempre tem a experiência exigida para resolver
certos assuntos que lhe são demandados.
Na arbitragem, as partes maiores e capazes, divergindo sobre direito de cunho
patrimonial, submetem o litígio ao terceiro (árbitro), que deverá, após regular procedimento,
decidir o conflito. Há aqui a figura da substitutividade, existindo a transferência do poder de
decidir para o árbitro.
Diferentemente da jurisdição estatal, a via arbitral não ostenta a característica
dacoercibilidade e autoexecutoriedade, possuindo, ainda, alguns limites subjetivos (de
pessoas) ou objetivos (de matéria).
A rigor, a crucial diferença entre a postura do árbitro e a postura do conciliador éque o
árbitro tem efetivamente o poder de decidir, ao passo que o conciliador tem um limite: ele pode
sugerir, admoestar as partes, tentar facilitar aquele acordo, mas não lhe é permitido decidir a
controvérsia.
E qual seria a distinção entre a função do árbitro e a do juiz togado?
Existem diferenças significativas entre o árbitro e o juiz, principalmente o poder atribuído
a eles. Como se sabe, uma das características principais da jurisdição estatal é a
coercibilidade.
O juiz, no exercício de seu mister, tem o poder de tornar coercíveis suas decisões,caso
não sejam cumpridas voluntariamente. Ele julga e impõe sua decisão. O árbitro, assim como o
juiz, julga. Ele exerce a cognição, avalia a prova, ouve aspartes, determina providências, enfim,
preside aquele processo.
Contudo, não tem o poder de fazer valer suas decisões. Assim, se uma decisão do
árbitro não é voluntariamente adimplida, não pode ele, deofício, tomar providências concretas
para assegurar a eficácia concreta do provimento dele emanado.
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Pelo sistema atual, caso seja descumprida uma decisão do árbitro, deve a parte
interessada recorrer ao Poder Judiciário a fim de emprestar força coercitiva ao respectivo
comando.

Legislação

A arbitragem está presente no ordenamento jurídico brasileiro desde a Constituição de


1824. Apesar disso, por muito tempo permaneceu esquecida, principalmente pela forte tradição
da jurisdição estatal e pelos obstáculos jurídicos existentes para a sua utilização.
Em 1996, a arbitragem foi regulamentada pela Lei nº 9.307, por iniciativa ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
A partir da publicação dessa legislação, a arbitragem passou a ser mais praticada no
Brasil, despontando como importante meio alternativo de resolução de conflitos.
A Lei da Arbitragem também já foi reconhecida como constitucional pelo STF, que
considerou que a lei não fere nenhum princípio da Constituição, principalmente por se aplicar
somente aos casos que envolvam direitos disponíveis.
Em 2013, foi apresentado o Projeto de Lei do Senado n. 406, que não se tratava deuma
nova lei, mas tão somente de atualizações pontuais. Após rápida tramitação, o texto foi
aprovado e remetido à Câmara dos Deputados, onde foi autuado como PL n. 7.108/2014,
sendo a redação final votada e aprovada em março de 2015.
Na reforma de 2015, é nítida a preocupação do legislador em preservar o
sistemainstituído pela Lei n. 9.307/96, sem se descuidar das necessárias atualizações, a fim de
compatibilizar o instituto da arbitragem com alguns institutos do diploma processual e com a
jurisprudência dominante nos Tribunais Superiores.

Tipos e Características

De acordo com o art. 2o da Lei de Arbitragem, a arbitragem pode ser de direito ou por
equidade, a critério das partes.
Arbitragem de direito é aquela em que os árbitros decidirão a controvérsia
fundamentando-se nas regras de direito.
Arbitragem por eqüidade é aquela em que o árbitro decide a controvérsia fora das regras
de direito de acordo com seu real saber e entender. Poderá reduzir os efeitos da lei e decidir de
acordo com seu critério de justo. Para que o árbitro possa decidir por eqüidade as partes
devem prévia e expressamente autorizá-lo.
Há, contudo, um limite claro imposto à arbitragem que envolve a Administração Pública
(art. 2ª, § 3ª, da Lei 9.307). Neste caso, a arbitragem deverá ser sempre de direito, e ainda,
pública.

Os árbitros

De acordo com o art. 13 da Lei n. 9.307/96, pode ser árbitro qualquer pessoa capaze
que tenha a confiança das partes. A conjunção “e” revela que esses dois requisitos são
cumulativos.
Em relação ao requisito da capacidade, aplicam-se as regras do Código Civil.
Nesseparticular, há quem defenda, por exemplo, que até mesmo um analfabeto, apesar de
todas as dificuldades práticas, poderia ser árbitro.
Também não há impedimento para que um estrangeiro atue como árbitro, a menos que
exista alguma disposição em sentido contrário na convenção de arbitragem, uma vez que não
há nenhuma restrição na lei especial.

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Por outro lado, existem algumas vedações legais para que uma pessoa atue
comoárbitro. É o caso do magistrado em atividade, uma vez que o art. 95, parágrafo único, I,
da Constituição Federal lhe impede de exercer outro cargo ou função, exceto a de magistério.
Além disso, o mediador não poderá atuar como árbitro nem funcionar como testemunha
em processos judiciais ou arbitrais pertinentes a conflito em que tenha atuado como mediador
(art. 7o da Lei de Mediação).
Vale registrar que o árbitro não precisa ser advogado, embora já se tenha reconhecido
que sua atuação como tal representaria exercício da advocacia.
Questão ainda controversa diz respeito à possibilidade de pessoa jurídica figurar como
árbitro. Há quem entenda que sim.
O legislador ao mencionar “pessoa” no art. 13, está se referindo apenas às pessoas
físicas, já que os árbitros possuem deveres e responsabilidades inerentes à sua atuação,
submetendo-se às mesmas regras de impedimento e suspeição dos juízes (art. 14), podendo,
ainda, ser responsabilizados criminalmente.
A Lei de Arbitragem não prevê um número máximo para árbitros, mas a quantidade deve
ser “sempre em número ímpar” (art. 13, § 1o), evitando-se um empate. Na grande maioria dos
casos, quando a arbitragem não é conduzida por árbitro único, é formado um painel com três
árbitros.
O processo de escolha dos árbitros deve observar o disposto na convenção de
arbitragem. Via de regra, a escolha dos árbitros é feita diretamente pelas partes. Cada parte
escolhe um árbitro (“coárbitro”) e os dois escolhidos elegem um terceiro, formando o painel
arbitral.
Os deveres dos árbitros estão bem definidos na lei especial (art. 13, § 6o). Devem agir
com imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição. Também devem
observar o dever de cooperação e de divulgação.
De acordo com o art. 14 da Lei de Arbitragem, estão impedidos de funcionar
comoárbitros as pessoas que tenham – com as partes ou com o litígio que lhes for submetido –
algumas das relações que caracterizam os casos de impedimento ou suspeição de juízes,
observando-se, no que couber, o disposto no CPC.
O STJ já decidiu que a Lei de Arbitragem, ao estabelecer que o árbitro tem odever de
revelar qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à sua imparcialidade, “não trata a
questão da imparcialidade do árbitro em numerus clausus, pelo contrário,estabelece uma
dimensão aberta, muito ampla desse dever, em razão das peculiaridades mesmas da
arbitragem”.
Diante da importância da função exercida e também para garantir maior proteçãoàs
partes, o art. 17 da Lei n. 9.307/96 equipara o árbitro, quando no exercício de suas funções ou
em razão delas, aos funcionários públicos para os efeitos da legislação penal.
De um modo geral, a idéia é proteger as partes de crimes como a concussão, corrupção
e prevaricação, disciplinados nos arts. 316, 317 e 319 do Código Penal.

Procedimentos arbitrais

A flexibilidade é a mola mestra do procedimento arbitral. As partes têm ampla liberdade


para estabelecer regras de desenvolvimento da arbitragem e convencionar o procedimento a
ser seguido, inclusive o da própria instituição arbitral escolhida.
A única ressalva é que sejam respeitados os princípios do contraditório, da igualdade
das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento.
A arbitragem começa com a apresentação, pelo requerente, do requerimento arbitral.
No caso de arbitragem institucional (aquela que segue as regras de algum órgão arbitral
institucional), o conteúdo desse requerimento pode variar deacordo com as regras arbitráveis
aplicáveis, cabendo ao requerente comprovar a existência de cláusula arbitral ou do
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compromisso, identificar o objeto do conflito, apresentar a causa de pedir e o pedido, e
requerer a nomeação dos árbitros.
A rigor, tudo é feito de forma concisa, pois as partes terão a oportunidade de apresentar
suas alegações de forma mais detalhada em momento posterior.
Especificamente em relação à citação da parte contrária, esta observa normalmenteas
regras institucionais. Via de regra, a citação é feita por via postal com comprovante de
recebimento no endereço do requerido.
Após a manifestação do requerido e a nomeação dos árbitros, as partes são geralmente
convocadas para a assinatura de termo de arbitragem.
O art. 19 da Lei de Arbitragem estabelece que “considera-se instituída a arbitragem
quando aceita a nomeação pelo árbitro, se for único, ou por todos, se forem vários”.
Esse marco temporal é importante, pois é a partir dele que se conta normalmente oprazo
para ser proferida a sentença arbitral.
É também a partir dessa data que o árbitro passa a ter jurisdição para apreciar medidas
urgentes, evitando que o interessado tenha que direcionar sua pretensão ao Judiciário. E mais,
é momento para que as partes suscitem questões relativas à suspeição ou ao impedimento do
árbitro, bem como eventual invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem.
Após a assinatura de ata do termo de arbitragem, inicia-se a fase postulatória, em que o
requerente apresenta suas razões iniciais (cuja síntese já foi apresentada no pedido de
instauração de arbitragem) e o requerido a respectiva contestação (a reconvenção é possível,
mas o cabimento deve estar regulado no termo de arbitragem). Na sequência, virão eventuais
réplicas, tréplicas e os requerimentos de produção deprovas.
De acordo com o art. 22 da Lei de Arbitragem, poderá o árbitro ou o tribunal
arbitraltomar o depoimento das partes, ouvir testemunhas e determinar a realização de perícias
ou outras provas que julgar necessárias, mediante requerimento das partes ou de ofício.
Além das testemunhas convencionais, na arbitragem é comum a participação
dastestemunhas técnicas (experts). São pessoas convocadas para emitir sua opinião em razão
de seu conhecimento técnico sobre determinada matéria. Faz lembrar a prova técnica
simplificada na esfera processual.

Sentença arbitral

A sentença poderá ser condenatória, declaratória ou constitutiva, a depender da


pretensão das partes e da solução a ser dada no caso concreto.
A sentença condenatória é aquela que, além de promover o acertamento do direito,
declarando-o, impõe ao vencido uma prestação passível de execução. A condenação consiste
numa obrigação de dar, de fazer ou de não fazer.
A sentença declaratória tem por objeto simplesmente a declaração da existência ou
inexistência de relação jurídica, ou da autenticidade ou falsidade de documento. No exemplo
da reparação de danos, pode ser que o interesse do autor se restrinja a obter, pela sentença, a
declaração de um tempo de serviço. Nesse caso o dispositivo será no sentido de “julgar
procedente para declarar…”.
A sentença constitutiva, além da declaração do direito, há a constituição de novo
estado jurídico, ou a criação ou a modificação de relação jurídica. Exemplos: divórcio;
anulatória de negócio jurídico; rescisão de contrato e anulação de casamento.
Tambémpode ser definitiva, dirimindo o conflito, ou terminativa, o que não encerra a
controvérsia e obriga o prejudicado a buscar o Poder Judiciário.
Diferentemente do que ocorre em âmbito judicial, a sentença arbitral será proferidano
prazo estipulado pelas partes, ou, não havendo essa previsão, em um prazo de seis meses,
contados da instauração do processo arbitral, ou da substituição do arbitro se ocorrer.

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O legislador fixou tal prazo (seis meses) para prestigiar um dos vetores da arbitragem(a
celeridade), entendendo, aparentemente, que o referido lapso temporal seria suficiente para a
conclusão do procedimento, o que, porém, não é a realidade do mercado.
De toda forma, cabe destacar que as partes podem convencionar um prazo distinto,seja
por meio da cláusula arbitral, por compromisso ou por qualquer outra forma de declaração de
vontade.
A sentença arbitral deve ser escrita eassinada pelos árbitros, ainda que em língua
estrangeira. Com efeito, não é permitida a prolação de sentença oral, mesmo que exista
registro audiovisual de seu conteúdo. A forma escrita confere maior segurança às partes.
De um modo geral, os requisitos da sentença arbitral se assemelham aos da sentença
judicial. Afirma-se que essa equiparação fortalece a identidade deambas quanto à eficácia
jurídica e ainda reforça a necessidade de se oferecer ao jurisdicionado uma satisfação do
quanto avaliado e decidido.
Em relação ao relatório, seja completo ou mais sucinto, ele contém a descrição dosfatos,
dos pedidos e do próprio conflito, criando uma moldura para o litígio. Isso é importante para
que as partes e os próprios árbitros possam compreender e aferir com previsão os limites da
arbitragem.
A data da assinatura da sentença arbitral põe fim à contagem do prazo (legal ou
convencional) para a pronuncia da decisão e também indica a finalização do processo
(ressalvada a hipótese de embargos arbitrais ou pedido de esclarecimentos).

De acordo com o art. 27 da Lei de Arbitragem, a sentença arbitral decidirá sobre


aresponsabilidade das partes acerca das custas e despesas com a arbitragem.
De um modo geral, não existe uma regra standard acerca da responsabilidade quanto
aos custos e às despesas. Na prática, são as regras institucionais que disciplinam a questão,
que costumam prever o reembolso da parte vencedora pela parte vencida.
Se não houver uma regra específica no regulamento institucional, osárbitros terão
autonomia para decidir a questão, aplicando os critérios da proporcionalidade e da
razoabilidade, inclusive analisando a parcela de contribuição da parte noprolongamento do
procedimento e na oneração das partes (testemunhos totalmente irrelevantes, por exemplo).
A sentença arbitral produz os mesmos efeitos da sentença judicial, sendo considerada
um título executivo judicial (art. 515, VII, do CPC).
A sentença poderá ser considerada nula conforme estipula o art. 32 da Lei da
Arbitragem se:
I – for nula a convenção de arbitragem;
II – emanou de quem não podia ser árbitro;
III – não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;
IV – for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;
V – comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;
VI – proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, III, desta Lei; e
VII – forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2o, desta Lei.

Em todas essas hipóteses, será cabível a ação anulatória, e os árbitros terão que
retificar a sentença arbitral, seja para examinar o ponto não analisado, seja para suprimir “algo
estranho”, e, ainda, para excluir a parcela conferida a maior. A rigor, sempre quepossível,
devem ser preservadas as partes da sentença arbitral que estiverem dentro dos limites da
convenção.

Perícias na arbitragem

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Na arbitragem, embora seja possível a escolha de árbitros com expertise na
matériaobjeto do conflito, isso não elimina a necessidade de realização de perícia para
apuração de questões técnicas controvertidas.
Assim como ocorre no processo judicial, é muito comum que as partes
tambémapresentem pareceres técnicos para subsidiar os árbitros com elementos técnicos.
Em relação à escolha do perito, existem basicamente duas formas: nomeação
pelaspróprias partes ou pelos árbitros. É muito importante que o profissional escolhido
tenhaexperiência, credibilidade mercadológica e seja especializado na respectiva área de
atuação.
Da mesma forma que no processo judicial, o árbitro não está vinculado ao laudo
doperito, devendo examinar a integridade e força da prova à luz dos outros elementos dos
autos.
Diante da importância do encargo assumido, os peritos devem ser imparciais e
independentes. Normalmente, costuma-se exigir uma declaração de independência e
imparcialidade, franqueando-se prazo para as partes apresentarem eventual impugnação,
sobretudo quando a escolha é feita diretamente pelo árbitro.
Por sua vez, o laudo do perito deve ser claro e objetivo, com o enfrentamento daquestão
técnica. Além do relato dos fatos, cabe ao perito responder aos quesitos formulados,
descrevendo os pontos relevantes e indicando, se possível, a metodologia utilizada. Durante
eventuais diligências técnicas e na fase de elaboração do laudo, compete ao perito assegurar
as mesmas oportunidades às partes, agindo de modo absolutamente transparente. Também
lhe incumbe analisar e dialogar com os pareceres dos assistentes técnicos das partes,
garantindo um exame mais plural da controvérsia.

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