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Resenha Crítica
discernível. Como, portanto, seu fun- moral, tratando de diferentes padrões
damento é identificável, o indivíduo de interação social, incluindo emoções
pode ser persuadido de que o evento sem ação harmonizadora pré-definida;
causador não é o caso, ou que o evento tratando de alguns padrões não-emo-
deva ser encarado de outra maneira. cionais como a urbanidade ()
Mas a lição é simples: emocionar-se é e a honestidade (p. 63 ss). Apresentou
razoável, dados a causa, as condições ainda uma justificativa teórica para a
e o objeto corretos. hierarquia entre homens e mulheres,
O estudo das emoções imporá à Re- cidadãos e escravos, adultos e jovens: o
tórica, por assim dizer, uma disciplina princípio racional, no caso dos homens
metodológica mais afim às expectativas adultos e livres, é perfeito e dominante,
platônicas (p. 16), tal como apontadas justamente porque as emoções das parte
no Fedro (259e 4-6). Traria ainda con- irracional foram bem acostumadas e
sequências para a poética: demonstra depois porque se aprendeu a refletir
que as emoções despertadas pela tra- apropriadamente (p.49).
gédia e comédia são determinadas por Após demonstrar brevemente quais
cognições em alguma medida racional; são as inovações de Aristóteles em re-
justifica a existência da tragédia e da lação a Platão, seria preciso mostrar em
comédia como uma forma de terapia, que e como aquele é tributário desse
livrando-as da acusação de despertar e da Academia. Primeiramente chama
somente a parte inferior da alma. E
a atenção para famosa passagem do
fornece uma explicação teórica para
Filebo (37e10), em que Sócrates asso-
compreender e classificar as tragédias
cia a uma opinião falsa a um prazer.
e as comédias, baseada em argumentos
Ali, Platão relaciona os dois elementos
estritamente poéticos, ou seja, sem se
utilizando a preposição (“com”,
referir diretamente a outros campos do
“acompanhado por”). Aristóteles, pro-
conhecimento. Uma tragédia seria boa
vavelmente influenciado pelos debates
ou ruim, conforme sua maior ou me-
ocorridos na Academia sobre esse
nor capacidade de suscitar de maneira
ponto, reconstrói a relação em termos
plausível os sentimentos de medo e de
de causa e efeito4. Substitui por
piedade, no caso da tragédia, e o sen-
com o fito de esclarecer a natureza
timento do risível, no caso da comédia
dessa relação (p. 10-12): a cognição (a
(p. 18-22).
opinião) é a causa, a emoção (e o prazer
Para a Política e a Ética aristotélicas,
ou dor ligado a ela) o efeito.
Fortenbaugh traça as linhas principais
da bipartição da alma tal como defendi- É igualmente interessante a aproxi-
da por Aristóteles na Ética Nicomaquea mação entre a teoria bipartite da alma,
(1102a 25 ss). Agora estamos diante de presente na Ética, e as diferentes teorias
uma teoria moral da alma humana, que da alma platônicas. Fortenbaugh esta-
possui uma correlação com uma teoria belece uma fronteira entre a teoria ética
biológica da alma humana, todavia da alma e uma teoria biológica da alma.
dessa se distanciando. Do ponto de Para a primeira, alega como antecedente
vista da motivação para a ação, a alma
seria constituída pela parte racional e 4
Tópicos (156a32-33)
5
“[T]hroughout the account of emotions,
Aristotle is using everyday language without
special reference to his biological psychology.”
(“Em toda a sua investigação das emoções,
Aristóteles estão utilizando a linguagem do
dia-a-dia se referência especial à sua psico-
logia biológica.” p.100)