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São Paulo: Boitempo, trad. Beatriz Medina, 2008 . Nº de páginas: 448.
Araucaria. Revista Iberoamericana de Filosofía, Política y Humanidades. año 13, nº 25. Primer semestre de 2011.
Pp. 197–206.
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concluir que tal crise parece ter sido uma ocorrência excepcional, e não é o
método capitalista <padrão> ou <natural> para recuperar a lucratividade» e,
na seqüência, indaga «Cabe perguntar, então, se não estará em formação um
colapso comparável, e se essa ocorrência é condição tão fundamental para a
revitalização da economia global quanto Brenner parece pensar2». O Autor,
ainda na linha comparativa, observa que a retração mais antiga (1873‒1896)
ocorreu no meio da última e maior onda de conquistas territoriais (colonização
do Sul pelo Norte), e que a retração mais recente (1976‒1993) se desenvolveu
na oportunidade de maior descolonização da história mundial (também no con-
texto do desenvolvimento desigual).
A gênese desta turbulência, ao seu juízo, foi a acumulação excessiva de ca-
pital em um contexto mundial de mercado revoltado com as práticas comerciais
do Ocidente. Esta insurreição gerou a primeira crise hegemônica dos Estados
Unidos no fim da década de 1960 e início da de 1970. A ação estadunidense
foi competir, de modo combativo, pelo capital no mercado financeiro global e
intensificar a corrida armamentista contra sua opositora, União Soviética, na
década de 1980. Apesar do êxito político e econômico, esta postura norte‒ame-
ricana criou laços de dependência, cada vez maiores, da riqueza nacional e do
poder dos Estados Unidos com relação à poupança, ao capital e ao crédito de
investidores estrangeiros.
Neste tom, a hegemonia dos Estados Unidos, afetada em 1970‒1980, mas
impulsionada com o New Deal, fomentou uma das maiores expansões da his-
tória capitalista, pautada, de certa forma, em lições smithianas. A saída para a
retomada norte‒americana (belle époque) se deveu, segundo Arrighi, ao key-
nesianismo militar e social em escala mundial. Para explicar esta postura, o
Autor recorda o fenômeno da «financeirização» da economia não financeira,
trajetória análoga à do capital britânico um século antes, que também se valeu
da financeirização para reagir à intensificação da concorrência industrial. Este
fenômeno oportunizou aos Estados Unidos a possibilidade de derrotar a União
Soviética na Guerra Fria e domar o Sul. As políticas de Washington durante a
Guerra Fria intensificaram a concorrência entre os capitalistas, ao facilitarem a
atualização e a expansão da produção japonesa e da Europa ocidental, e fortale-
ceram o papel social da mão de obra, pelo incentivo à busca do pleno emprego e
ao consumo em massa. Entretanto, talvez já admitindo outro colapso, relembra
Arrighi a intrigante frase do periódico De Borger (final da belle époque do ca-
pitalismo holandês ‒1778): «será a última vez e depois de mim o dilúvio» para
encontrar uma linha de convergência entre as expansões financeiras e belles
époques do capitalismo histórico e indicar que a principal diferença entre elas
é, potencialmente, a maior repercussão devastadora que o declínio de um Esta-
do hegemônico gera.
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Pp. 127‒128.
204 Marco Aurélio Rodrigues da Cunha e Cruz
3
P. 208.
Giovanni Aghi: Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século xx 205
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Inter duos litigantes, tertius gaudens.