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DEBATE DEBATE 1927

A Constituição Cidadã e os 25 anos do Sistema


Único de Saúde (SUS)

The Citizen Constitution and the 25th anniversary


of the Brazilian Unified National Health System
(SUS)

La Constitución ciudadana y el 25o aniversario del


Sistema Único de Salud brasileño (SUS)

Jairnilson Silva Paim 1

Abstract Resumo

1Instituto de Saúde Coletiva, This article, celebrating the 25th anniversary of Este artigo, comemorando 25 anos da Constitui-
Universidade Federal da
Bahia, Salvador, Brasil.
Brazil’s 1988 Constitution, aims to review the ção Federal de 1988, teve como objetivos resenhar
country’s social policy development, discuss po- o desenvolvimento das políticas sociais, discutir
Correspondência litical projects, and analyze challenges for the projetos políticos e analisar desafios para a sus-
J. S. Paim
Instituto de Saúde Coletiva, sustainability of the Unified National Health tentabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS).
Universidade Federal da System (SUS). Based on public policymaking Apoiando-se em estudos sobre políticas públicas
Bahia.
studies, the article revisits the origins of liberal que privilegiam a gênese, revisita as origens da
Rua Basílio da Gama s/n,
Salvador, BA 40110-170, social policy, focused on social assistance, and política social liberal, centrada na assistência
Brasil. analyzes the hegemony of U.S. policies target- social, e analisa a hegemonia das políticas ame-
jairnil@ufba.br
ing poverty and their repercussions for universal ricanas voltadas para a pobreza e suas repercus-
policies. After identifying the formulation of po- sões nas políticas universais. Após identificar
litical projects in Brazil’s democratic transition, a formulação de projetos políticos na transição
it discusses their implications during the vari- democrática brasileira, discute seus desdobra-
ous Administrations since 1988, along with the mentos nos governos seguintes, juntamente com
difficulties faced by the National Health System. as dificuldades enfrentadas pelo SUS. Conclui
The article concludes that the political forces que as forças políticas que alcançaram o poder
occupying government in the last two decades nas duas últimas décadas não apresentaram um
have failed to present a project for the country projeto para a Nação à altura daqueles que gera-
on the same level as those who drafted the Citi- ram a Constituição Cidadã.
zen Constitution.
Política de Saúde; Sistemas de Saúde; Sistema
Health Policy; Health Systems; Unified Health Único de Saúde; Política Social
System; Public Policy

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00099513 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 29(10):1927-1953, out, 2013


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“A crítica arrancou as flores imaginárias que que seja) de outro modo e, por meio dessa utopia
enfeitavam as cadeias, não para que o homem use prática, recoloca a questão do possível que se con-
as cadeias sem qualquer fantasia ou consolação, cretizou entre todos os outros” 3 (p. 98).
mas para que se liberte das cadeias e apanhe a flor As políticas sociais podem ser analisadas a
viva” (Karl Marx 1, p. 146-7). partir da emergência do capitalismo, quando a
questão da pobreza ultrapassa as intervenções
resultantes da caridade das famílias e das paró-
Introdução quias e invade as cidades com hordas de famin-
tos, miseráveis, desocupados e delinquentes, du-
Cinco de outubro de 2013 é uma data em que rante a transição do feudalismo para o capitalis-
a sociedade brasileira celebra 25 anos da Cons- mo, no início do Século XVI. Assim, as primeiras
tituição Cidadã, renovando o compromisso e a intervenções do Estado aparecem nesse contexto
esperança de transformar cada brasileiro em su- tomando como objeto as carências, sob a forma
jeito de direitos. de assistência social. Diante das proporções da
A Constituição Federal de 1988 incorporou mendicância, a responsabilidade local passou
uma concepção de seguridade social como ex- a ser definida pelas Poor Laws, unificadas pela
pressão dos direitos sociais inerentes à cidadania, rainha Elizabeth em 1601 4. Essa política foi con-
integrando saúde, previdência e assistência. Assi- solidada com a nova Lei dos Pobres na Inglaterra
milando proposições formuladas pelo movimen- (1834), incidindo sobre a situação sanitária 5.
to da Reforma Sanitária Brasileira reconheceu o Com o desenvolvimento do capitalismo in-
direito à saúde e o dever do Estado, mediante a dustrial e o aparecimento da classe operária, a
garantia de um conjunto de políticas econômicas “questão social” ultrapassa a problemática da
e sociais, incluindo a criação do Sistema Único pobreza e vai manifestar-se enquanto luta de
de Saúde (SUS), universal, público, participativo, classes. Apresentava-se como expressão das rela-
descentralizado e integral. ções sociais capitalistas, especialmente das con-
Atualmente, talvez não caiba discutir os tradições da infraestrutura econômica e dos seus
avanços e retrocessos ocorridos na constituinte, desdobramentos na superestrutura político-
nem os limites do texto aprovado. Ao contrário, ideológica. Indicava um campo de disputas em
cumpre ressaltar que a conquista da democra- função das desigualdades entre as classes sociais,
cia, depois de 21 anos de ditadura militar, custou implicando lutas pelo uso de bens e serviços,
vidas, sofrimentos, energias e lutas do povo. Em reconhecidos como direitos no âmbito da cida-
toda a história da República é a primeira vez que dania 6. A criação do seguro social na Alemanha
os brasileiros podem comemorar um período tão ilustra, assim, uma nova forma de intervenção do
longo de vigência de um texto constitucional. Estado a partir da dinâmica das classes sociais e
Nessa perspectiva, o presente artigo apresen- dos processos de industrialização e urbanização.
ta os seguintes objetivos: (a) resenhar o desen- No Século XX, diante da Revolução Bolche-
volvimento das políticas sociais, especialmente vique, da crise de 1929, das demandas da classe
na conjuntura pós-constituinte; (b) discutir a operária e dos sofrimentos decorrentes da Se-
evolução de projetos políticos emergentes na gunda Guerra Mundial, aparece na Europa uma
transição democrática; (c) analisar problemas e proposta de intervenção do Estado com base na
desafios para a sustentabilidade do SUS. noção de direitos sociais. Os trinta anos de ou-
ro do capitalismo possibilitaram a expansão do
Welfare State e o desenvolvimento de modernos
Saúde e proteção social: delimitando sistemas de proteção social. No entanto, a he-
as origens gemonia conquistada pelos Estados Unidos re-
orientou a forma de abordar a “questão social”,
A análise empreendida parte do pressuposto de restaurando o foco na pobreza 4.
que as políticas de saúde integram as políticas Até os anos 50, a internacionalização do alí-
sociais, do mesmo modo que o sistema de saúde vio à pobreza não era ponto de pauta do Banco
é um dos componentes dos sistemas de proteção Mundial (BM). Posteriormente, modelos econo-
social. Apoia-se em estudos sobre políticas públi- métricos foram desenvolvidos com o apoio do
cas, privilegiando a sua gênese 2. Departamento de Defesa dos Estados Unidos,
“Eis por que, sem dúvida, não há instrumento enquanto o ativismo político dos movimentos
de ruptura mais poderoso do que a reconstrução sociais defendia os direitos civis. Esse período
da gênese: ao fazer com que ressurjam os conflitos da Guerra Fria é crucial para o entendimento
e os confrontos dos primeiros momentos e, con- de como se expande o padrão americano de
comitantemente, os possíveis excluídos, ela atu- política social liberal enquanto componente de
aliza a possibilidade de que houvesse sido (e de política externa e da ordem econômica mundial

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A CONSTITUIÇÃO E OS 25 ANOS DO SUS 1929

instalada, sob sua hegemonia. No bojo dessas ro social, visando ao alívio de tensões sociais pela
políticas cresceu o debate sobre necessidades via político-ideológica 8.
básicas, cotas e igualdade de oportunidades, A partir do Golpe de 1930, expande-se a Pre-
enquanto a “questão social” entrava na agen- vidência Social diferenciada por categorias de
da do BM, relacionando pobreza e fome, além trabalhadores urbanos. Enquanto o ditador Ge-
do apoio à reforma agrária. Foram difundidas túlio Vargas implantava os Institutos de Aposen-
diversas noções como capital humano, ação tadoria e Pensões (IAPs) para aqueles vinculados
comunitária, participação da comunidade, pla- ao mercado formal de trabalho, criava-se a Le-
nejamento participativo, empowerment, entre gião Brasileira de Assistência para os excluídos
outras. Contar os pobres e delimitar a linha de do mercado e da previdência. Assim, o Welfare
pobreza tornou-se prioridade, crescendo as State não chegou ao Brasil, que adotou a versão
pesquisas que produziam evidências estatísti- acanhada de “Estado desenvolvimentista” 9. No
cas sobre os efeitos das medidas adotadas para retorno à democracia em 1945, manteve-se o
o seu controle. Esse enfoque, baseado em cons- padrão previdenciário para os trabalhadores e a
trução de modelos, teste de hipóteses e análises assistência social para os pobres.
estatísticas tendo o indivíduo como unidade de Após a ditadura de 1964, as políticas sociais
análise, foi difundido por intermédio de orga- apresentaram um caráter regressivo no financia-
nizações internacionais, especialmente o BM e mento do gasto social, centralização do processo
o Banco Interamericano de Desenvolvimento 4. decisório, privatização do espaço público, frag-
Portanto, a temática da pobreza foi privilegia- mentação institucional e reduzido impacto na
da, seja para responder às lutas pelos direitos distribuição da renda 10. Em pleno “milagre eco-
civis dos negros americanos, seja para justificar nômico” foi “redescoberta” a pobreza diante do
a política da Aliança para o Progresso, junto aos agravamento da “questão social”, possibilitando
países da América Latina, especialmente depois que as políticas sociais expandissem na conjun-
da Revolução Cubana. tura pós-1974. O II Plano Nacional de Desenvolvi-
Com o neoliberalismo e as mudanças políti- mento (II PND), o Conselho de Desenvolvimento
cas e econômicas, a “questão social” passa a ser Social (CDS) e o Fundo de Apoio Social (FAS/CEF)
foco de controle internacional, condicionando eram justificados como “abertura social”, precur-
prioridades no que tange aos direitos do traba- sora da “abertura política”. Entretanto, depois da
lho, combate à pobreza e aos sistemas públicos vitória do partido de oposição em novembro de
de proteção social, inclusive saúde, assistência, 1974 ressurgem movimentos sociais e populares,
previdência, programas de emprego e subsídios. o novo sindicalismo e, na década seguinte, o mo-
Ao se deslocarem as negociações internacionais vimento das Diretas, Já 11.
dos produtos para as políticas públicas, elas se Com o fortalecimento do Movimento Demo-
tornam mais complexas. Assim, toda uma termi- crático Brasileiro (MDB), os estrategistas da di-
nologia foi gerada pela hegemonia americana na tadura acionaram um casuísmo para extinguir
gestão da pobreza, como capital social, coesão o bipartidarismo que eles mesmos inventaram,
social, manejo de riscos, tecnologia social, impli- estimulando a criação de novos partidos, como
cando a reformulação da concepção de direitos o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido do
universais da cidadania. Essa abordagem é apre- Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
sentada como “científica”, capaz de evidenciar a Nessa conjuntura teve início o movimento sa-
melhor maneira de compatibilizar alguns direi- nitário, defendendo a democratização da saúde,
tos com sustentabilidade financeira 7. sendo criados o Centro Brasileiro de Estudos
de Saúde (CEBES) e a Associação Brasileira de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO),
A questão social no Brasil e os projetos e formulada a proposta do SUS 12. Nessa tran-
políticos na transição democrática sição democrática podem ser identificados dois
projetos alternativos: o Esperança e Mudança e o
Após as lutas do abolicionismo, a “questão social” Democrático Popular.
emerge com a industrialização e urbanização. A O primeiro foi formulado pelo PMDB e outras
resposta do Estado se faz, preliminarmente, via forças oposicionistas, inclusive partidos comu-
aparelhos repressivos tratando-a como “caso de nistas postos na ilegalidade, mas abrigados na
polícia” e reprimindo, com violência, as greves legenda desde o MDB. Foi gestado mediante en-
operárias. O mesmo Eloy Chaves, responsável contros e seminários que traziam contribuições
em 1922 pela repressão desses movimentos em de economistas, intelectuais e políticos. Tratava-
São Paulo, elege-se deputado e propõe a criação se de um projeto de reforma de cunho nacional,
das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), democrático, desenvolvimentista e redistributi-
representando uma opção bismarkiana de segu- vo, voltado para o estabelecimento de um Estado

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Social, universal e equânime. Incluía uma agen- nários com a participação de militantes e intelec-
da política, econômica e social de mudanças, es- tuais, contemplando temas de política, econo-
truturada em quatro eixos: (1) redistribuição de mia e políticas sociais 15. Documentos debatidos
renda como objetivo das políticas públicas e de naquela oportunidade enfatizavam a retomada
reforma social; (2) políticas sociais básicas; (3) do crescimento econômico, a distribuição de
políticas de reordenamento do espaço e do meio renda e a redução das desigualdades. Defen-
ambiente; (4) emprego, como síntese da políti- diam uma política de rendas instrumentalizada
ca social. A reforma tributária era considerada de forma direta, mediante a elevação do salário
indispensável para reverter a regressividade do mínimo real, e indireta, reformulando políticas
financiamento do gasto social, valorizava-se o sociais de educação, saúde, transporte, sanea-
controle social e encampava-se parte das propos- mento, habitação, entre outras 16. Sem entrar no
tas do movimento sanitário na direção do SUS mérito das disputas internas entre as tendências
público, universal e com gestão descentralizada. que constituíram o PT, podem ser constatados
Concedia destaque especial para a valorização desdobramentos desse projeto nos programas
dos recursos humanos, vigilância sanitária, polí- apresentados nas eleições seguintes. Propostas
tica científico-tecnológica, produção de vacinas, como constituição de um mercado de consumo
medicamentos e equipamentos, além da saúde de massa, crescimento econômico com estabili-
ocupacional. Essa agenda foi construída sob a dade, reforma do Estado, reformas previdenciá-
liderança de forças socialistas e democráticas, ria e tributária e políticas sociais compensatórias
possibilitando que as diretrizes políticas, econô- passam a integrar o discurso do PT, redefinindo
micas e sociais fundamentassem os segmentos o projeto original. Assim, a crítica ao capitalismo
progressistas nas lutas pela redemocratização até deixava de ter lugar “num projeto político que se
a constituinte 10. compromete em administrar o capitalismo me-
O segundo projeto foi tecido na construção lhor que os capitalistas” 14 (p. 235).
do PT, articulado aos movimentos sociais, sindi- Esses dois projetos foram derrotados elei-
catos e comunidades eclesiais de base, indican- toralmente em 1989 na primeira eleição direta
do transformações sociais com vistas ao socia- para Presidente da República após 21 anos de
lismo. Embora sem sistematização de diretrizes, ditadura. Os partidos que defendiam a Reforma
algumas ideias-força foram explicitadas em do- Sanitária Brasileira e o SUS apoiaram Luiz Inácio
cumentos, bem como nas posições públicas de Lula da Silva e o PT no segundo turno, contra o
suas lideranças. Na fundação, afirma-se que o PT candidato representante dos liberais, conserva-
nasce das lutas sociais, articulando os interesses dores e remanescentes do autoritarismo.
dos trabalhadores e dos demais setores explo-
rados pelo capitalismo: “O PT lutará por todas
as liberdades civis, pelas franquias que garan- A redemocratização, a contrarreforma
tem, efetivamente, os direitos dos cidadãos e pela neoliberal e o SUS
democratização da sociedade em todos os níveis
[...]. Por isso, o PT pretende chegar ao governo e A redemocratização iniciada em 1985 foi marca-
à direção do Estado para realizar uma política da por tensões entre propostas assistencialistas e
democrática, do ponto de vista dos trabalhadores, universalizantes que disputavam uma resposta
tanto no plano econômico quanto no plano social. do Estado à dívida social acumulada durante o
O PT buscará conquistar a liberdade para que o autoritarismo. Ainda em 1986, foi criado o Gru-
povo possa construir uma sociedade igualitária, po de Trabalho de Reformulação da Previdência
onde não haja explorados nem exploradores” 13 Social, que propunha a superação da concepção
(p. 382-3). de seguro social para a da Seguridade Social, sob
Ainda que parte dos signatários carregasse a lógica da solidariedade do Estado de bem-estar
uma história de lutas vinculadas ao socialismo, social, na qual o “o direito coletivo da cidadania
evitou-se utilizar tal palavra nos documentos. No prevaleceria sobre o direito individual associado à
entanto, no discurso de dirigentes e militantes contribuição” 10 (p. 162). Recomendava, também,
durante a 1ª Conferência do Partido dos Traba- o aumento da cobertura da Renda Mensal Vitalí-
lhadores essa expressão voltou a aparecer, servin- cia criada durante a ditadura, equivalente ao atu-
do como referência para o projeto Democrático al Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Popular divulgado nas eleições presidenciais de Entretanto, os setores progressistas perde-
1989, por meio da Frente Brasil Popular, compos- ram espaço no Governo José Sarney e forças que
ta pelo PT, pelo Partido Comunista do Brasil (PC apoiaram o regime militar retornaram ao poder.
do B) e pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), No caso da Reforma Sanitária Brasileira, o retro-
com o lema Sem Medo de Ser Feliz 14. Esse projeto cesso materializou-se na demissão do presidente
foi gestado baseando-se num conjunto de semi- do Instituto Nacional de Assistência Médica da

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A CONSTITUIÇÃO E OS 25 ANOS DO SUS 1931

Previdência Social (INAMPS) em 1988 e no des- la desregulamentação e flexibilização. Em suma,


monte da estratégia Sistema Unificado e Des- a ‘Constituição Cidadã’, tão bem alcunhada por
centralizado de Saúde (SUDS). O novo Ministro Ulysses Guimarães se transformou em ‘Constitui-
da Previdência e Assistência Social cumpre uma ção vilã’, aos olhos dos reformadores liberais e da
missão junto ao Ministro Antônio Carlos Maga- elite” 10 (p. 390).
lhães no sentido de sustar a Reforma Sanitária na O orçamento da Seguridade Social não foi
Bahia, considerada uma das experiências mais adotado e suas fontes de recursos foram desvia-
avançadas do período 10,17. Nessa mesma época das para financiar a economia. Caso não hou-
foi implantado o Programa Nacional do Leite pa- vesse a captura de recursos para o pagamento
ra Crianças Carentes, considerado emblemático, da dívida da União por meio da Desvinculação
não só pelo uso clientelista de uma política social de Receitas da União (DRU), o orçamento da Se-
focalizada, mas, sobretudo, por sinalizar uma in- guridade Social seria superavitário 10. Sendo tais
flexão nas políticas universais. recursos fundamentais para a viabilização das
A disputa com as forças conservadoras reu- políticas universais como o SUS, identificam-se
nidas no chamado “centrão” foi intensificada na nessas intervenções determinantes econômicos
constituinte, embora a aprovação do capítulo (subfinanciamento), políticos (contrarreforma
da Seguridade Social sugerisse uma vitória mo- liberal) e ideológicos (alívio da pobreza) do redi-
mentânea daqueles que defendiam políticas uni- recionamento das políticas sociais.
versais, com destaque para a saúde. Com a nova As fontes de financiamento da Seguridade
Constituição a assistência social deixou de ser Social foram capturadas pela área econômica
filantropia estatal, alcançando o estatuto de di- dos diferentes governos e a “questão social” pas-
reito, embora para a cúpula governista os novos sou a ser conduzida pelos “programas emergen-
direitos sociais eram considerados inimigos da ciais” e de transferência, condicionada de renda
governabilidade. O próprio presidente advertia que se tornaram permanentes. Essa opção libe-
que artigos do texto constitucional desencoraja- ral e conservadora, preconizada por instituições
riam a produção, afastariam capitais e, sendo ad- internacionais de fomento, tem sido defendida
versos à iniciativa privada, terminariam por in- por especialistas e por governos considerados de
duzir ao ócio e à improdutividade. Desse modo, esquerda.
foram montadas operações pela área econômica, Novas “crises” da previdência foram fabrica-
urdidas na Secretaria de Planejamento da Presi- das para justificarem as reformas nos governos
dência da República e no Ministério da Fazenda, de Fernando Henrique Cardoso (FHC), Lula e
a partir de negociações com o Fundo Monetário Dilma Rousseff, tendo o suposto déficit como
Internacional (FMI) no final de 1987, transferin- pretexto. De acordo com os tecnoburocratas, os
do a gestão do financiamento da Previdência pa- recursos da União deveriam reforçar o capitalis-
ra a Fazenda e dificultando o atendimento dos mo, desonerando o capital, prevalecendo uma
novos direitos sociais. Esses dirigentes, utilizan- regra pétrea entre os economistas do poder se-
do argumentos supostamente técnicos de “bu- gundo a qual o gasto social não deve pressio-
rocratas domesticados”, desviavam os recursos nar o orçamento fiscal 10. Mas quando ressurge
destinados aos programas sociais para cobrirem a crise, como nos mandatos de FHC e de Lula,
o déficit público, além de impedirem as trans- os recursos da União foram usados para socor-
ferências de recursos fiscais para a Previdência rer a economia. Desse modo, R$ 180 bilhões do
Social. Ou seja, a União, além de não honrar a sua Tesouro Nacional foram direcionados ao Banco
parte na manutenção da previdência, desviava Nacional de Desenvolvimento Econômico e So-
outra para a ciranda financeira no pagamento da cial (BNDES) para enfrentar a crise de 2008 18.
dívida pública 10. Contudo, para uns o Brasil mudou para me-
No período de 1990-2002, foi desenvolvida lhor 19, apesar das continuidades 20, adotando
uma contrarreforma liberal com o desmonte da políticas públicas que resultaram em crescimen-
Seguridade Social e implantado ajuste macro- to com distribuição de renda 21 e participação
econômico, por intermédio do Plano Real e da social 22. Outros apontam certa mobilidade na
Reforma do Estado: base da estrutura social, com reforço do contin-
“Os princípios que orientam o paradigma gente de trabalhadores 23, e um realinhamento
neoliberal na questão social eram absolutamen- político-eleitoral traduzido pelo “lulismo”, me-
te antagônicos aos da Carta de 1988: o Estado de diante um “reformismo fraco” no qual burgueses
Bem-Estar Social é substituído pelo ‘estado Míni- e proletários são substituídos por ricos e pobres
mo’; a seguridade social, pelo seguro social; a uni- no discurso político 24. Já a crítica interpreta de
versalização, pela focalização; a prestação estatal outro modo as mudanças operadas: “Essa é a ba-
direta dos serviços sociais, pelo ‘Estado Regulador’ se do ‘novo consenso’, do ‘crescimento com distri-
e pela privatização; e os direitos trabalhistas, pe- buição’ na era do capital financeiro, que levou à

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incorporação marginal de parcelas da população camisados”, e adquire força na criação do Fundo


de menor renda ao consumo, tendo como con- de Combate à Pobreza. Essa proposta foi apre-
trapartida a desmobilização política dos movi- sentada no Instituto de Cidadania, com o apoio
mentos sociais e dos sindicatos, a tutela direta do de Lula, e viabilizada em 2000 com recursos da
Estado sobre a parte da população mais pobre, a Contribuição Provisória de Movimentação Fi-
despolitização da política, a desqualificação ain- nanceira (CPMF). Com esse fundo foi efetivada a
da maior dos partidos, e como resultado disso tu- incorporação da transferência condicionada de
do o surgimento, desenvolvimento e consolidação renda na agenda do Governo FHC.
do ‘lulismo’ ” 25 (p. 64). “É importante ressaltar que a contra-reforma
Em síntese, traduzindo a ideologia neoliberal liberal encontrou um grande aliado no Partido
para as políticas estatais, o Governo Fernando dos Trabalhadores, o senador Eduardo Suplicy [...].
Collor intensificou a abertura da economia e, Dentre as iniciativas dessa cruzada, destacam-se o
após o impeachment, o Governo Itamar Franco PLS 66/99 que institui a ‘Linha Oficial de Pobreza’
optou por um ajuste macroeconômico. Elegendo e o que institui o ‘Fundo Brasil Cidadania’ (PLS
o Presidente da República em 1994 o Partido da 82/99), base para o Fundo de Combate à Pobreza
Social Democracia Brasileira (PSDB), em aliança por iniciativa de ACM [...], espelhando a coerência
com o Partido da Frente Liberal (PFL), PMDB e do senador baiano com seu passado conservador.
outras legendas, distancia-se do projeto Esperan- A cruzada vitoriosa do senador do PT consumou-
ça e Mudança, bem como da social-democracia, se a partir de 2003 no âmbito do governo Luiz Iná-
desenvolvendo uma agenda neoliberal. Conquis- cio Lula da Silva” 10 (p. 540).
tando a presidência a partir de 2002 o PT, com o A política social no Brasil ficou reduzida ao
apoio de partidos de esquerda, PMDB e peque- assistencialismo das políticas focalizadas, 6,29
nos partidos, deu continuidade às políticas do e no período 2003-2012 consolidou o processo
Governo FHC num sentido diverso do projeto de americanização na reconversão da “questão
Democrático Popular original, aproximando-se social”. A agenda governamental foi concentra-
do liberalismo social. Esses dois projetos que da nas políticas de redução da pobreza, tendo
emergiram na transição democrática não foram o Bolsa Família como carro-chefe, reiterando a
derrotados apenas em 1989. Mesmo quando ti- opção neoliberal do período anterior: “A opção
veram a oportunidade histórica de chegar ao go- neoliberal rasgou a Constituição da República,
verno da República foram transfigurados pelos enterrou a Seguridade Social e o Orçamento da
gestores do capital, bem como pelo transformis- Seguridade Social, esterilizando suas fontes de
mo dos sujeitos políticos. recursos na ‘gestão’ da dívida pública. A lição de
Ainda assim, todos esses governos prestaram casa foi feita de forma exemplar, sob o aplauso dos
alguma contribuição ao SUS: Sarney implantou financistas, ampliando o ajuste fiscal e as possibi-
o SUDS; Collor sancionou as Leis Orgânicas da lidades de seguir avante no pagamento de juros
Saúde; Itamar criou o Programa Saúde da Famí- aos rentistas, dando sequência ao mais extraordi-
lia (PSF), extinguiu o INAMPS e avançou a des- nário programa de transferência de renda para os
centralização; FHC ampliou o PSF, implantou a endinheirados de que se tem notícia na história do
política dos medicamentos genéricos e organi- Brasil” 10 (p. 461).
zou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária O Bolsa Família passou de 3 milhões em 2003
(ANVISA) e a Agência Nacional de Saúde Suple- para 12,3 milhões de famílias em dezembro de
mentar (ANS); Lula montou o Serviço de Aten- 2009, acompanhado da queda do coeficiente de
dimento Móvel de Urgência (SAMU) e imple- Gini de 0,580 para 0,538 20. Os gastos com o BPC,
mentou as políticas de saúde mental e bucal 26; Bolsa Família, saúde pública, previdência social
Dilma regulamentou a Lei no 8080/90 e aprovou e na educação pública são apontados como res-
a Lei Complementar 141 27. Nenhum deles, po- ponsáveis pela redução do Gini em 2,3%, 2,2%,
rém, incorporou a Reforma Sanitária Brasileira 1,5%, 1,2% e 1,1%, respectivamente 30. Ainda as-
como projeto de governo, nem demonstrou um sim, o Brasil é atualmente o 4º país mais desigual
compromisso efetivo com o SUS nos termos es- da América Latina. O Gini melhorou, mas não
tabelecidos pela Constituição de 1988. consegue revelar a desigualdade de rendimento
entre o capital e o trabalho. Em 2011 o Governo
Federal destinou 5,72% do Produto Interno Bruto
Políticas sociais, Reforma Sanitária (PIB) para o pagamento dos juros e 0,4% para o
Brasileira e o SUS Bolsa Família (13.330.714 famílias cadastradas).
Para os ricos uma “doação” 13 vezes maior 31.
A retórica sobre a pobreza vem desde o Governo Desenvolveu-se no país certa unanimida-
Sarney 28, mas o predomínio das políticas focali- de na ideia de que política social é para pobres,
zadas começa em 1990 com o discurso dos “des- paralelamente ao desmonte institucional, orça-

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A CONSTITUIÇÃO E OS 25 ANOS DO SUS 1933

mentário e conceitual da Seguridade Social. O do mercado de assistência médica suplementar


“neo-assistencialismo” e o glamour dos pobres deparam com um acúmulo de experiências ne-
são reificados pelo “mundo apartheizado do gativas de consumidores iludidos de que o mer-
banco popular, da agricultura familiar, dos ele- cado seria capaz de atender suas necessidades.
trodomésticos e da economia solidária” 32 (p. 77). Portanto, não se vislumbra um cenário otimista
Mas na realidade a transferência de renda com para a sustentabilidade do SUS 36. Mesmo con-
condicionalidade cumpre o receituário liberal do seguindo-se mais recursos, outras lutas serão ne-
BM, ainda que seja eticamente discutível diante cessárias para evitar o modelo americano e não
da dignidade da pessoa humana e “frente a um permanecer refém da indústria de equipamentos
direito anterior que é a garantia à vida, portanto e de medicamentos, dos hospitais privados e do
à subsistência dessas famílias” 6 (p. 210). corporativismo de profissionais 37.
Na série sobre saúde no Brasil do The Lan- Talvez a sociedade brasileira tenha aprendi-
cet 33 foram apontadas inúmeras conquistas do nesses 25 anos que não basta dispor de uma
do SUS, sobretudo na ampliação do acesso aos Constituição e de uma legislação para as mudan-
serviços de saúde, com repercussões positivas ças ocorrerem. Observa que na democracia re-
no perfil epidemiológico. No entanto, inovações presentativa adotada pelo Brasil os governantes,
institucionais, descentralização, participação na maioria das vezes, não seguem os programas
social, consciência do direito à saúde, formação dos partidos muito menos aquilo que apresen-
de trabalhadores e tecnologias convivem, con- tam durante as campanhas. Além disso, certas
traditoriamente, com o crescimento do setor lideranças e partidos que defendiam a Reforma
privado, segmentação do mercado e compro- Sanitária Brasileira e o SUS fortaleceram as filei-
metimento da equidade nos serviços e nas con- ras dos que apostam na privatização, reprodu-
dições de saúde. Entre os obstáculos destaca- zindo o transformismo na saúde. Novos esforços
ram-se a diminuição do financiamento federal, são necessários para revitalizar a sociedade civil,
as restrições de investimento em infraestrutura na qual tem origem a Reforma Sanitária Brasi-
e a gestão do trabalho 26. leira e o SUS, tentando desequilibrar o binômio
Há uma dívida histórica com os trabalhado- da “conservação-mudança” contra a inércia da
res que construíram o SUS, submetidos à pre- conservação 38.
carização do trabalho e a terceirizações, sendo
adiada a efetivação de planos de carreiras, cargos
e salários. Portanto, ainda há muito que fazer pa- Comentários finais
ra tornar o SUS universal e público, bem como
para assegurar padrões elevados de qualidade. Na América Latina a privatização dos sistemas
Seus maiores desafios são políticos, pois supõem de saúde não se mostrou efetiva, gerando pouco
a garantia do financiamento do subsistema pú- aumento de cobertura. Parte dos países adotou
blico, a redefinição da articulação público-priva- copagamento, com barreira de acesso e custos
da e a redução das desigualdades de renda, poder administrativos, e no caso colombiano, tão feste-
e saúde. jado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
No mesmo ano em que esses estudos eram e BM, o sistema beira a insolvência: os gastos de
publicados, dois poderes da República rejeita- saúde quase triplicaram sem universalidade do
ram a proposta de comprometimento de pelo acesso, integralidade e melhoria nos indicadores
menos 10% do orçamento da União para a saú- de saúde 39.
de. Adiou-se, mais uma vez, o fortalecimento No Brasil, verifica-se uma redução da con-
do SUS, sugerindo que pode até haver minis- tribuição do governo federal nos gastos com o
tros sanitaristas, mas sem recursos para operá- SUS. Em 2008, a participação da saúde na recei-
lo 34. Desse modo, o subfinanciamento público, ta da Seguridade Social decresceu para 14,5%,
a persistência de desigualdades na oferta e a arti- inferior àquela verificada antes do SUS, igual a
culação público-privada prejudicial ao SUS im- 18% no início da década de 80 e 30% em 1988 40.
pedem o cumprimento do que está estabelecido Portanto, pensar os 25 anos do SUS à luz das po-
na Constituição, nas leis ordinárias, decretos e líticas públicas e da Reforma Sanitária Brasileira,
demais documentos. supõe olhar o Brasil para além das aparências
Costa et al. 35 analisam posições ambíguas do midiáticas e do discurso oficial. Em dezembro de
governo Dilma em relação à articulação públi- 2011 a dívida pública ultrapassava R$ 3 trilhões,
co-privada e denunciam ameaças contra o SUS maior que o dobro do orçamento federal daquele
decorrentes de pressões dos que apostam na ano. A dívida externa que muitos imaginavam ter
privatização, tanto nos setores à direita quanto à sido paga estava em US$ 402,3 bilhões e a inter-
esquerda do espectro político. Alertam que mais na correspondia a R$ 2,536 trilhões (http://www.
subsídios e desonerações fiscais para a expansão jubileusul.org.br).

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1934 Paim JS

Portanto, grandes desafios continuam postos a reatualização e intensificação das reformas da


para a Reforma Sanitária Brasileira e a consolida- “era FHC” 46. De outro, o “neodesenvolvimentis-
ção do SUS, enquanto sistema de saúde públi- mo”, explicitado nas prospecções para o Brasil
co, universal, igualitário, integral e de qualidade. em 2030 47.
Novas questões, conceitos, hipóteses explicati- Resta às forças progressistas da sociedade ci-
vas e pesquisas são necessários para decifrar os vil apostar nos portadores da antítese 38,43,48 que
aparentes paradoxos dos governos Lula-Dilma tendem a emergir dos movimentos sociais, iden-
na saúde. Uma hegemonia às avessas 41 parece tificando distintos antagonismos na sociedade
ser construída pelas forças que defendem o SUS, contemporânea 49. Uma atenção especial para a
pois na aparência constata-se uma direção cul- pluralidade de vozes numa sociedade democrá-
tural e moral, quando integrantes do movimento tica permitiria constituir sujeitos políticos indi-
sanitário chegam a ocupar posições de governo, viduais e coletivos que questionem a subversão
a ponto de um ex-presidente do CEBES tornar- dos direitos sociais, as iniquidades em saúde e as
se ministro da saúde, mas na essência prevale- relações de subordinação, desencadeando novas
cem os interesses do capital, assegurados por ações políticas.
seus representantes dentro e fora do setor 42. Do Esperança e Mudança e Democrático Popu-
mesmo modo, a forma pela qual as classes do- lar foram projetos possíveis, excluídos pelos
minantes têm atuado em relação ao Estado e às filtros da revolução passiva brasileira. Ainda as-
classes subalternas no Brasil 43, favorecendo o sim, põem em questão o possível que se concre-
transformismo e a revolução passiva 44, explica as tizou 3, pois as forças políticas que alcançaram
características do processo da Reforma Sanitária o poder nas últimas décadas não apresentaram
Brasileira e da implementação do SUS 38. Dian- um projeto para a Nação à altura daqueles que
te desse quadro, quais projetos se esboçam? De geraram a Constituição Cidadã. Trata-se agora,
um lado, “a nova agenda social” 45, que propõe de reinventá-lo.

Resumen Agradecimentos

Este artículo, que celebra los 25 años de la Constituci- Às professoras Lígia Maria Vieira da Silva e Carmen Tei-
ón de 1988, tiene por objetivo revisar el desarrollo de xeira pelas valiosas sugestões e revisão geral do texto.
las políticas sociales, discutir los proyectos y analizar
los desafíos políticos para la sostenibilidad del Sistema
Único de la Salud brasileño (SUS). Basándose en estu-
dios de políticas públicas que favorecieron su génesis,
revisa los orígenes de la política socio liberal, centrada
en la asistencia social, y analiza la hegemonía de las
políticas estadounidenses destinadas a la pobreza y su
impacto en las políticas universales. Después de iden-
tificar la formulación de proyectos políticos en la tran-
sición democrática brasileña, discute sus implicaciones
en los siguientes gobiernos, junto a las dificultades que
enfrenta el SUS. Concluye que las fuerzas políticas que
llegaron al poder en las últimas dos décadas no han
presentado un proyecto para la nación a la altura de los
que genera la Constitución ciudadana.

Política de Salud; Sistemas de Salud; Sistema Único de


Salud; Política Social

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 29(10):1927-1953, out, 2013


A CONSTITUIÇÃO E OS 25 ANOS DO SUS 1935

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