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Jornalística
Material Teórico
Democracia e Jornalismo
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Democracia e Jornalismo
• A Importância da Democracia;
• Princípios Éticos;
• A Ética Aplicada ao Jornalismo.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender a democracia como valor absoluto para a atividade jornalística;
• Reconhecer as origens e a aplicabilidade dos princípios éticos que norteiam a prática
profissional do jornalismo.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Democracia e Jornalismo
A Importância da Democracia
O pleno desenvolvimento da atividade jornalística só é possível dentro do Estado
Democrático de Direito. Desde a voz do jovem aprendiz até alcançar a fala do mais
experiente dos profissionais, essa é uma importante lição que deve ser sempre
lembrada e reforçada para que a imprensa possa seguir livre e cumpridora de sua
missão de informar.
Por essa razão, afirma Eugênio Bucci, jornalista e professor universitário, autor
de Sobre ética e imprensa: “o jornalista nunca é isento, neutro e equânime, mas
sempre é um militante. O jornalista é democrata por definição – pelos próprios
pressupostos institucionais que alicerçam o ofício” (BUCCI, 2004, p. 49).
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É o que se pode notar quando, por exemplo, direitos como educação, saúde e
segurança são sempre lembrados em campanhas eleitorais (por vezes, de maneira
demagógica), enquanto o acesso à informação de qualidade não recebe a mesma
atenção por parte de candidatos aos mais diversos cargos públicos. A partir disso,
uma pergunta pode ser feita: é possível agir com a liberdade necessária para bem
informar a sociedade onde esse direito não se faz respeitar integralmente? De fato,
sem o pleno direito à informação e à comunicação de qualidade, a própria demo-
cracia fracassa como sistema.
É por essa razão que o jornalismo que respeita os preceitos do ofício, ou seja,
o jornalismo que age eticamente é sempre aquele dedicado ao fazer democrático.
Agir democraticamente por meio da prestação de informação de qualidade significa
não subordinar valores éticos a uma cultura ou a uma política específicas, tampou-
co a critérios pessoais. O mais importante nesse campo da atividade profissional
que possibilita o encontro do jornalismo com a democracia (tendo sempre a ética
como parâmetro) é transitar da particularidade do indivíduo para a universalidade,
e vice-versa. Em outras palavras, ao jornalista, apenas cabe agir democratimente,
sob o risco, em caso contrário, de simplesmente não desempenhar a sua função.
Não é por acaso que o Código de ética dos jornalistas brasileiros em seu
Capítulo II, Da conduta profissional do jornalista, no artigo 6º, ítem X, diz:
“É dever do jornalista defender os princípios constitucionais e legais, base do estado
democrático de direito” (CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEI-
ROS, 2007, p. 6).
De fato, desde o passado longínquo até chegar aos dias atuais, o jornalismo
percorreu uma longa trajetória para se afirmar enquanto atividade profissional inti-
mamente relacionada com a democracia. Contudo, cabe observar que, ainda antes
de sua profissionalização, o jornalismo já apresentava valores democráticos em
sua essência original. É o que se pode avaliar a partir da democracia ateniense da
Idade Antiga, que fazia uso de uma espécie de jornalismo oral, exposto ao ar livre,
sobretudo no mercado de Atenas, para dar ao conhecimento de todos aquilo que
era de interesse público.
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Princípios Éticos
Imagine a seguinte situação: em uma fila para o pagamento junto à caixa regis-
tradora de um supermercado, uma senhora deixa cair de sua bolsa, sem perceber,
um maço de cédulas de reais. Um homem atrás dessa senhora, disfarçadamente,
abaixa-se, apanha o dinheiro do chão e guarda o montante em seu próprio bolso,
sem comunicar a distraída mulher. Agora, suponha o seguinte episódio: o respon-
sável pela comunicação social da campanha política de um dado candidato à pre-
sidência da República, a fim de desestabilizar a imagem pública de um concorrente
ao mesmo cargo, produz e divulga, nas redes sociais, notícias falsas com o intuito
de manchar a reputação de seu adversário.
Em qualquer um dos casos relatados acima – ou seja, desde uma situação apa-
rentemente corriqueira, supostamente típica do cotidiano, ou dentro do âmbito da
escolha do futuro presidente da República, por meio de eleições públicas em que
estão envolvidas dezenas de milhões de pessoas –, é bastante possível que os agen-
tes implicados sejam apontados por atuarem em “falta ética”, por terem “problemas
éticos”, ou ainda que os exemplos em questão tratam de “atitudes antiéticas”.
Ética: deriva da palavra grega ethos, enquanto moral resulta do latim, da palavra moralis.
Explor
Em ambas acepções originais, ética e moral tinham significados quase idênticos, ou seja, o
de “caráter”, “costume” ou “maneira de ser”. Ao longo dos tempos, os dois termos não se
separaram de fato, mas a eles foram atribuídos propósitos diferentes. Assim, contemporane-
amente, ética está mais associada ao que os homens fazem com a moral, isso é, como fazem
os valores funcionarem. Nesse sentido, a moral está para um conjunto de regras estabeleci-
das, enquanto a ética é a reflexão, o pensamento sobre tais regras e como elas se relacionam
com os homens e com o mundo.
Deontologia: deriva do grego deontos e significa “o que deve ser”.
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Importante! Importante!
Sendo as noções de “moral” e “ética” construções realizadas ao longo dos tempos, res-
peitando também variáveis culturais e suas transformações, é importante diferenciar
esses termos dos códigos profissionais dos jornalistas, que existem para a normatização
de regras e condutas, ou seja, em acordo com a deontologia.
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em consideração valores de conduta que são da ordem do pessoal, mas também
de alcance plural.
Então, a ética é uma só para todos nós? De acordo com o que tem sido de-
batido até aqui, pode-se notar que a ética trata de um procedimento permanente-
mente em construção, no qual o individual e o coletivo estão constantemente em
diálogo. Contudo, no tocante ao caso específico do jornalista, a situação tem suas
peculiaridades. A deontologia, portanto a ética profissional do jornalista, implica
em atitudes, deveres e valores específicos dessa atividade produtiva. Apesar de
ser, sim, um cidadão como muitos, que atua em compromisso democrático com a
sociedade, o profissional de imprensa tem sempre atributos extras que fazem com
que suas obrigações éticas tenham consequências mais profundas do que aquelas
verificadas na maioria da população.
Sendo algo tão conectado com o cotidiano pessoal e profissional das pessoas,
a ética se aprende (ou deveria se aprender) nas escolas e nas universidades?
Ainda que muitas vezes o debate sobre ética não apareça nas ementas escola-
res ou universitárias de maneira explícita, é inevitável que questões éticas sejam
transversais à vivência nas escolas e nas universidades. Conforme já foi demons-
trado anteriormente, a formação moral de um indivíduo é muito mais complexa
do que geralmente se pode supor. Assim, o ato de refletir sobre essa própria
formação moral (ou seja, a atitude ética) resulta em cada pessoa a partir de seu
desenvolvimento íntimo, considerando o livre trânsito por diversos grupos sociais,
o contexto social e cultural no qual vive etc. Tudo isso influencia na formação do
caráter e na definição da personalidade individual. Contudo, no caso da formação
em jornalismo, uma disciplina dedicada à ética é da máxima importância. Mesmo
que essa matéria não possa determinar o caráter dos jovens profissionais (e nem
é para isso que ela existe), faz parte de suas atribuições contribuir para que a vi-
vência ética (individual) atue em respeito aos valores deontológicos da profissão
(normas coletivas).
No tocante ao comportamento eticamente válido, um dos dilemas mais frequen-
tes na atividade jornalística diz respeito à tomada de decisão entre seguir pela cor-
rente utilitarista ou pela corrente universalista.
A corrente utilitarista segue o princípio de que, ao pautar a sua conduta, o jor-
nalista deve julgar aquilo que efetivamente traz mais benefícios éticos para o maior
número de pessoas. Assim, de acordo com essa lógica de reflexão, está em causa
lidar com as consequências do ato jornalístico em termos daquilo que é útil para
a maioria. A pergunta feita pelo profissional de imprensa nessa ocasião deve ser:
agindo eticamente, qual é a melhor decisão a ser tomada para que mais pessoas
sejam contempladas pelo meu trabalho?
Já a corrente universalista, estimulada pelo pensamento do filósofo Imma-
nuel Kant (1724-1804), é orientada por uma regra de conduta que defende o
princípio do uso da verdade acima de tudo, onde uma determinada tomada de
decisão só pode ser eticamente aceitável se for universal. Assim, o que importa
é que o ato jornalístico se revista das características de um imperativo categórico
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universal, quer dizer, que a ação se apoie em princípios que tenham a mesma
validade para todos. Por exemplo, não roubar e não mentir são imperativos cate-
góricos kantianos universais.
É certo que não existem utilitaristas puros nem universalistas puros no ofício jor-
nalístico. As duas correntes se mesclam e exigem que o profissional tenha sempre
atenção sobre as consequências de seus atos. Ganha validade, portanto, a chamada
Regra de Ouro, que prevê “o princípio segundo o qual cada um deve agir em rela-
ção aos outros do mesmo modo que gostaria que os outros agissem em relação a si.
Aqui, o que fala mais alto é a preocupação com o próximo” (BUCCI, 2004, p. 23).
Escolher entre ser utilitarista, universalista ou seguir a Regra de Ouro não é uma
decisão simples. Para respeitar a melhor alternativa ética sobre a problemática com
a qual se depara, o jornalista deve estar sempre atento e permanentemente em
reflexão acerca de seu compromisso como cidadão. Isso acontece porque a ética é
um conceito flexível (como já foi debatido anteriormente).
A filosofia, que serve de base para toda a discussão sobre a ética, não permi-
te determinar esse conceito como algo fechado, permanente e imutável, ainda
que ele esteja sendo aplicado a uma certa profissão (como no jornalismo, por
exemplo). Dessa maneira, não é suficiente que as regras de um código de ética
sejam seguidas à risca se o envolvimento próprio do profissional de imprensa não
estiver delimitado pelo compromisso elementar de seu ofício: atuar em favor da
construção democrática.
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Confrontar esses questionamentos exige que o próprio profissional de impren-
sa quebre com o chamado mito da neutralidade. Reforçado pelo senso comum,
trata-se de um mito que tenta encontrar na noção (impossível) de neutralidade o
sinônimo de “jornalismo perfeito”.
Nesse caso, o problema ético não é exatamente que o jornalista tenha suas con-
vicções e até mesmo preconceitos (como todo e qualquer cidadão); a complicação
ética ali reside no não reconhecimento e no não esclarecimento (para si e para os
demais) dessas determinações íntimas, escondendo-as, mascarando-as como neu-
tralidade. Em suma, a falta ética acontece quando o jornalista toma partido em um
fato, mas insiste no fingimento do “teatro da neutralidade”.
Uma vez que o jornalismo existe como comunicação social e pública, no limite,
estando o jornalista tão comprometido quanto qualquer outro cidadão nas conse-
quências da recepção de uma determinada notícia, isso faz com que o profissional
de imprensa tenha de vigiar a si próprio de um modo especial. Afinal, se a neu-
tralidade fosse de fato possível, essa questão sequer seria uma questão ética a ser
debatida, seria uma obrigação.
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traduzível. Nesse sentido, toda abordagem jornalística está condicionada aos limites
de seu alcance, que é o alcance humano.
No contexto daquilo que aqui vem sendo debatido, são valiosas as palavras de
Francisco José Karam quando ele afirma que a “linguagem, que reflete e projeta
significados, culturas, comportamentos, media igualmente o movimento histórico dos
homens se fazendo a si mesmos”. E mais, complementa o professor de jornalismo:
A informação torna-se fonte de poder e a concepção sobre a vida tor-
na-se também, em escala social, forma e conteúdo de poder refletida
no controle sobre a palavra e o acesso a ela em sua dimensão pública.
(KARAM, 1997, p. 16)
Diante do que aqui vem sendo debatido, é importante fazer notar que a reflexão
sobre o jornalismo ético não deve ter em conta apenas a prática e seus limites, mas
inclusive a condição de rompimento com tais limites para formular uma outra práti-
ca. Quando observada a importância contemporânea do jornalismo e a necessida-
de de se debater a respeito dela, tem-se de reconhecer que sobre a moral que envol-
ve o profissional de imprensa há uma ética que pode ser tratada especificamente.
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Tratar a ética no jornalismo de maneira específica significa dizer que existe uma
ética específica para o jornalista? Essa é uma dúvida que paira tanto sobre es-
tudantes como sobre profissionais experientes da imprensa. Para Cláudio Abramo,
por exemplo, um dos nomes mais respeitados do jornalismo brasileiro, a ética do
jornalista é exatamente a mesma do cidadão comum. Outros renomados profis-
sionais e estudiosos do tema discordam dessa alegação, sustentando que a ética
jornalística é sim específica (ver KARAM, 1997).
Uma maneira válida de lidar com essa problemática seria reformular a pró-
pria questão de base. Assim, tendo uma ética específica, ou assumindo a ética
cidadã ampla, as decisões tomadas pelo jornalista em sua profissão causam
o mesmo impacto na sociedade do que aquelas tomadas pelo “cidadão co-
mum”? Mediante tudo o que já foi debatido até aqui, é possível concluir que o
lugar do profissional de imprensa no âmbito de uma coletividade é o de grande
poder e responsabilidades. Suas decisões podem sim alterar os rumos de uma
sociedade. Seu comprometimento ético, desse modo, deve estar permanente-
mente ativo e voltado à vida democrática (de modo mais intenso do que o do
“cidadão comum”).
Assim, a proximidade entre jornalismo e audiência nunca pode ser uma relação
nociva para qualquer das partes quando permeada por princípios éticos. Na verda-
de, o contributo de tal relação atua no sentido de combater injustiças muitas vezes
promovidas por grandes grupos de comunicação, grandes conglomerados que em
muito sobrepairam os limites de atuação individual do jornalista.
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Em Síntese Importante!
Imagine um dado contexto em que o dono de uma emissora de televisão declara seu
apoio explícito a um candidato a cargo público durante a campanha eleitoral para o
pleito. Sentindo-se pressionados dentro dessa mesma emissora, é plausível que os jor-
nalistas fiquem impedidos de exercer eticamente seu ofício, por exemplo, sem revelar
aspectos negativos do candidato da preferência do patrão. Uma mudança nessa ordem
de acontecimentos certamente seria legítima desde que a audiência tivesse uma partici-
pação ativa e crítica sobre aquela cobertura jornalística, pressionando, no caso, para que
as matérias não sejam apenas elogiosas ao referido candidato.
Afinal, é um princípio do jornalismo (portanto, um valor democrático exigido para o ofí-
cio) que a informação seja mediada por uma ética que reflita uma lógica moral que con-
fronte o conservadorismo vigente, que amplie ao máximo o campo de visão e de abor-
dagem das eventualidades sociais, respeitando o que é diverso e plural, e que se construa
sempre essa informação, com base em valores como a liberdade e a humanidade.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O que é ética
VALLS, Á. L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2013.
O que é democracia?
TOURAINE, A. O que é democracia? Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
Vídeos
Observatório da Imprensa
Série de entrevistas comandadas pelo jornalista Alberto Dines para a TV Brasil.
https://bit.ly/2VUkHlV
Filmes
O Quarto Poder (Mad City)
Ano: 1997. Dir.: Costa-Gavras. País: EUA. Duração: 115 minutos.
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Referências
BUCCI, E. A imprensa e o dever da liberdade: independência editorial e suas
fronteiras com a indústria do entretenimento, as fontes, os governos, os corporati-
vismos, o poder econômico e as ONGs. São Paulo: Contexto, 2009. [e-book]
BUCCI, E. Sobre ética e imprensa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
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