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Procurarei retraçar as etapas da conceituação geral para explicar em que consiste aquilo que
alguns tem chamado de nominalismo e individualismo de MAX WEBER. Tomarei como
exemplo a sociologia política, para mostrar como se opera a conceituação weberiana num
nível menos abstrato.
Segundo Max Weber, a sociologia é a ciência da ação social, que ela quer compreender
interpretando e cujo desenvolvimento quer explicar socialmente. Os três termos
fundamentais são, aqui, compreender, interpretar e explicar.
A AÇÃO SOCIAL é um comportamento humano que é ação quando o ator atribui à sua
conduta um certo sentido. A ação é social quando, de acordo com o sentido que lhe atribui o
ator, se relaciona com o comportamento de outras pessoas. O professor age socialmente na
medida em que o ritmo lento da sua elocução se relaciona com a conduta dos seus
estudantes. Se falasse sozinho, muito depressa, sem se dirigir a ninguém, sua ação não seria
social.
A ação social se organiza em relação social. Há uma relação social quando o sentido de cada
ator ou de um grupo de atores que age, se relaciona com a atitude do outro, de modo que
suas ações são mutuamente orientadas. A regularidade da relação social pode ser apenas o
resultado de um longo hábito, mas é mais frequente que haja fatores suplementares: a
convenção ou o direito.
A ORDEM LEGÍTIMA é convencional quando a sanção que responde à sua violação é uma
desaprovação coletiva. É jurídica quando esta sanção assume a forma de coerção física. As
ordens legítimas podem ser classificadas de acordo com as motivações dos que obedecem.
Weber distingue quatro tipos: as ordens são afetivas ou emocionais, racionais com relação a
valores, religiosas e, finalmente, determinadas pelo interesse.
Dois outros conceitos importantes são os de PODER e de DOMINAÇÃO. O poder é definido
como a probabilidade de um ator impor sua vontade a outro, mesmo contra a resistência
deste. A dominação pode ser definida pela probabilidade que tem o senhor de contar com a
obediência dos que, em teoria, devem obedecê-lo. A diferença entre poder e dominação está
em que, no primeiro caso, o comando não é necessariamente legítimo, nem a obediência
forçosamente um dever; no segundo, a obediência se fundamenta no reconhecimento, por
aqueles que obedecem, das ordens que lhes são dadas. As motivações da obediência
permitirão construir uma tipologia da dominação.
A sociologia política de Weber se baseia numa distinção entre a essência da economia e a
essência da política, estabelecida a partir do sentido subjetivo das condutas humanas. A
economia tem a ver com a satisfação das necessidades e com o objetivo determinado pela
organização racional da conduta; a política se caracteriza pela dominação exercida por um
homem ou por alguns homens sobre outros homens. A política é, portanto, o conjunto das
condutas humanas que comportam a dominação do homem pelo homem. É preciso afastar a
conotação desagradável desta palavra, entendendo-a apenas como a probabilidade de que
as ordens dadas sejam efetivamente cumpridas pelos que as recebem.
Este exemplo ilustra bem o método e o sistema de Max Weber. Trata-se de elaborar uma
sistematização que permita ao mesmo tempo integrar fenômenos diversos num quadro
contextual único e não eliminar o que constitui a singularidade de cada regime ou de cada
sociedade.
Esta forma de conceituação não tem só por fim uma compreensão sistemática, mas também
a colocação dos problemas de causalidade ou das influências recíprocas dos diferentes
setores do universo social. A categoria que domina esta análise causal é a de oportunidade
ou de influência e de probabilidade. Um tipo de economia influencia o direito num certo
sentido; é provável que um tipo de dominação se manifeste na administração ou no direito
de uma certa maneira. Mas não pode haver causalidade unilateral de uma série de
instituições particulares sobre o resto da sociedade.
A sociologia política de Weber leva a uma interpretação da sociedade presente, como sua
sociologia da religião conduz a uma interpretação das civilizações contemporâneas. O que
singulariza o universo em que vivemos é o “desencantamento” do mundo. A ciência nos
habitua a ver a realidade exterior apenas como conjunto de forças cegas que podemos por à
nossa disposição; nada resta dos mitos e das divindades com que o pensamento selvagem
povoava o universo. Nesse mundo despojado desses encantamentos, as sociedades se
desenvolvem no sentido de uma organização cada vez mais racional e burocrática.
Por outro lado, quanto mais racional a sociedade, mais cada um de nós esta condenado ao
que os marxistas chamam de alienação. Sentimo-nos condenados a só realizar uma parte
daquilo que poderíamos ser, sem outra esperança de grandeza senão a de aceitar tal
limitação.
É preciso salvaguardar antes de tudo, dizia Max Weber, os direitos humanos, que dão a cada
indivíduo a possibilidade de viver uma existência autêntica, independentemente do lugar
que ocupa na organização racional. Do ponto de vista político, é graças à livre competição
que se afirma a personalidade e podem ser escolhidos os líderes verdadeiros, não meros
burocratas.
O mundo é racionalizado pela ciência, pela administração e pela gestão rigorosa dos
empreendimentos econômicos, mas continua a luta entre as classes, as nações e os deuses.
Como não há um juiz, só existe uma atitude adequada à dignidade: a escolha solitária de cada
um de nós, diante da sua consciência. Max Weber dizia: escolha e decisão. A decisão era
menos a escolha entre dois partidos do que o engajamento em favor de um deus que podia
ser um demônio.
Bibliografia: