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2ª EDIÇÃO

RIO DE JANEIRO
2020

REALIZAÇÃO
ESCOLA DE NEGÓCIOS E SEGUROS

SUPERVISÃO E COORDENAÇÃO METODOLÓGICA


DIRETORIA DE ENSINO TÉCNICO

ASSESSORIA TÉCNICA
LUIZ MACOTO SAKAMOTO – 2020/2019

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


ESCOLA DE NEGÓCIOS E SEGUROS - GERÊNCIA DE PLANEJAMENTO E ESCOLA VIRTUAL
PICTORAMA DESIGN

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou de partes dele,


sob quaisquer formas ou meios, sem permissão expressa da Escola.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Negócios e Seguros

E73g Escola de Negócios e Seguros. Diretoria de Ensino Técnico.


Gerenciamento de riscos / Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino Técnico;
assessoria técnica de Luiz Macoto Sakamoto.
4.ed. -- Rio de Janeiro : ENS, 2020.
83 p. ; 28 cm

1. Gerenciamento de riscos. I. Sakamoto, Luiz Macoto. II. Título.

0019-2431 CDU 614.8


A
ENS, promove, desde 1971, diversas iniciativas no âmbito
­educacional, que contribuem para um mercado de seguros,
previdência complementar, capitalização e resseguro cada
vez mais qualificado.

Principal provedora de serviços voltados à educação continuada, para


profissionais que atuam nessa área, a Escola de Negócios e Seguros
oferece a você a oportunidade de compartilhar conhecimento e
experiências com uma equipe formada por especialistas que possuem
sólida trajetória acadêmica.

A qualidade do nosso ensino, aliada à sua dedicação, é o caminho para


o sucesso nesse mercado, no qual as mudanças são constantes e a
competitividade é cada vez maior.

Seja bem-vindo à Escola de Negócios e Seguros.

GERENCIAMENTO DE RISCOS
SUMÁRIO
INTERATIVO

1. INTRODUÇÃO À GESTÃO DE RISCOS 7


ISO 31000 9

RISCOS: CONCEITOS E EVOLUÇÃO 11

RISCOS NA GESTÃO DE RISCOS 12


Riscos da Operação 13
Riscos de Mercado 15
GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO 16

GESTÃO DE RISCOS EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS 17

OS CAMINHOS DA GESTÃO DE RISCOS 17

GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS 18

RESUMO 20

FIXANDO CONCEITOS I 21

2. GESTÃO DE RISCOS
ACIDENTAIS – PATRIMÔNIO 22
BENS DA ORGANIZAÇÃO 23
Bens Tangíveis 23
Bens Intangíveis 24
Exposição a Perdas 24
Itens Expostos a Perdas 25
Riscos que Causam as Perdas 28
Consequências Financeiras das Perdas 30
Identificação e Análise de Riscos 33

GERENCIAMENTO DE RISCOS
Matriz de Riscos 35
Medidas de Controle de Riscos e Financiamento de Riscos 35
RESUMO 38

FIXANDO CONCEITOS 2 39

3. GESTÃO DE RISCOS
ACIDENTAIS – RESPONSABILIDADE CIVIL 41
EXPOSIÇÃO A PERDAS 44
Itens Expostos a Perdas 44
Riscos que Causam as Perdas 45
Consequências Financeiras das Perdas 48
Identificação e Análise de Riscos 49
Análise de Riscos 51
Matriz de Riscos 52
Medidas de Controle e Financiamento de Riscos 52
RESUMO 56

FIXANDO CONCEITOS 3 58

4. GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS –


PESSOAS E RECEITA LÍQUIDA 59
GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS – PESSOAS 60
Itens Expostos a Perdas 61
Riscos que Causam Perdas 61
Consequências Financeiras das Perdas 62
Medidas de Controle e Financiamento de Riscos 62
GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS – RECEITA LÍQUIDA 62
Item Exposto a Perda 63
Riscos que Causam Perdas 63
Consequências Financeiras das Perdas 64
Medidas de Controle de Riscos e Financiamento de Riscos 65

GERENCIAMENTO DE RISCOS
GESTÃO DE RISCOS DA PESSOA FÍSICA 65
Itens Expostos a Perda 66
Riscos que Causam Perdas 66
Consequências Financeiras das Perdas 66
Morte 67
Aposentadoria 67
Invalidez 68
Desemprego 68
RESUMO 69

FIXANDO CONCEITOS 4 70

5. PROCESSO DE GESTÃO
DE RISCOS ACIDENTAIS 71
PASSO 1 – IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DAS EXPOSIÇÕES A PERDAS 72

PASSO 2 – EXAME DAS TÉCNICAS DE


GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS DISPONÍVEIS 73
Técnicas de controle de riscos 73
Técnicas de Financiamento de Riscos 74
PASSO 3 – SELEÇÃO DO MELHOR CONJUNTO DE TÉCNICAS 75

PASSO 4 – IMPLANTAÇÃO DAS TÉCNICAS ESCOLHIDAS 75

PASSO 5 – MONITORAMENTO E MELHORIA DO


PROGRAMA DE GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS 76
Aplicações 76
RESUMO 80

FIXANDO CONCEITOS 5 81

GABARITO 82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 83

GERENCIAMENTO DE RISCOS
INTRODUÇÃO
à GESTÃO de RISCOS
01
Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
DESTA UNIDADE
■■ Entender quem é o ■■ Compreender os conceitos
responsável pela gestão e evolução de riscos. ISO 31000
de riscos e o papel dos ■■ Conhecer os riscos de
players do mercado RISCOS: CONCEITOS E
operação e os riscos de EVOLUÇÃO
segurador.
mercado.
■■ Conhecer a gestão de RISCOS NA GESTÃO DE RISCOS
■■ Conhecer a evolução e
riscos na visão da ISO
histórico da gestão de GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS:
31000.
riscos acidentais. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO

GESTÃO DE RISCOS EM
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

OS CAMINHOS DA
GESTÃO DE RISCOS

GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS

RESUMO

FIXANDO CONCEITOS I

GERENCIAMENTO DE RISCOS 7
Os termos “gestão de riscos” e “gerência de riscos” têm sido utilizados
como sinônimos e têm origem na tradução do inglês de Risk Management.

A gestão de riscos é um processo previsto em norma internacional que


vem ganhando importância pelo seu amplo espectro de aplicação. Ela
pode ser aplicada em vários segmentos econômicos, seja nos riscos aci-
dentais, que são objeto de cobertura pelo mercado de seguros, seja na
governança corporativa das organizações.

No capítulo 1, estudaremos a gestão de riscos de forma abrangente e


baseada em normativos internacionais. No capítulo 2 e 3, particularizare-
mos o processo de gestão de riscos para a gestão de riscos acidentais
do patrimônio e de responsabilidade civil. No capítulo 4, analisaremos o
processo de gestão de riscos acidentais.

Os blocos Pessoas e Receita Líquida serão mencionados na unidade 4,


mas não terão análise aprofundada. Ainda na unidade 4, teremos um com-
plemento sobre a gestão de riscos da pessoa física.

Uma primeira questão é: quem faz a gestão de riscos?

A responsabilidade da gestão de riscos é da organização. Ocorre que,


como regra geral, a organização está focada em sua atividade fim, que é
produzir, distribuir produtos ou prestar serviços.

Assim, o corretor de seguros, seguradora, corretor de resseguro ou resse-


guradoras, que diariamente estão manuseando riscos, têm mais familiari-
dade com o assunto. Estes players, além da comercialização e subscrição
de riscos, podem oferecer a gestão de riscos como prestação de serviços,
lembrando que a responsabilidade é sempre da organização. A prestação
de serviços de gestão de riscos pode fazer parte dos serviços oferecidos
(situação comumente encontrada) ou ser vendida à parte.

Uma discussão atual e importante diz respeito ao papel do corretor de


seguros na comercialização dos produtos.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 8
UNIDADE 1

O corretor de seguros deve conhecer tecnicamente os produtos que


comercializa, mas discute-se a mudança do foco de “venda de seguros”
para “venda consultiva”.

A “venda consultiva” pode ser entendida como uma assessoria fornecida


ao segurado e compreende:

1. Identificação dos riscos acidentais que podem ocorrer na organização;


2. Análise da frequência (quantidade de vezes que pode ocorrer num
período de tempo, normalmente um ano) e da severidade (impacto
financeiro da ocorrência do risco acidental);
3. Montagem da matriz de riscos, que é uma planilha em que visual-
mente se classificam os riscos acidentais identificados e analisados;
4. Verificação, para cada risco acidental identificado e analisado, das
alternativas de controle de riscos (medidas que diminuem a fre-
quência e/ou severidade) e financiamento de riscos (reembolso
das perdas ocorridas);
5. Seleção das técnicas de controle de riscos e/ou financiamento de
riscos a serem implantadas;
6. Implantação das técnicas selecionadas; e
7. Monitoramento do programa de gestão de riscos, que fornecerá
insumos para o item 1, caracterizando o processo como cíclico e
contínuo.
A “venda consultiva” corresponde à adaptação do processo de gestão de
riscos para riscos acidentais. Portanto, a “venda consultiva” e a “gestão de
riscos acidentais” estão intimamente ligadas.

A formalização explícita do processo de gestão dos riscos acidentais nem


sempre ocorre, mas sua técnica deve estar incorporada ao processo men-
tal de uma “venda consultiva”.

ISO 31000
A gestão de riscos é objeto de Norma Internacional, com aplicação em
todo mundo. Seu conhecimento é importante porque é a base da gestão
de riscos.

Inicialmente vamos conhecer dois órgãos, um internacional e outro brasi-


leiro, que tratam da gestão de riscos:

GERENCIAMENTO DE RISCOS 9
UNIDADE 1

1. Internacionalmente temos a ISO – International Organization for Stan-


dardization, que é uma organização não governamental independen-
te composta por 162 membros que representam vários países.
Através de seus membros são recebidas contribuições de espe-
cialistas que compartilham conhecimento e desenvolvem volunta-
riamente, através de consenso, normas internacionais que supor-
tam a inovação e provêm soluções para desafios globais.

A Secretaria Central da ISO fica localizada na cidade de Genebra


– Suíça.

2. No Brasil, temos a Associação Brasileira de Normas Técnicas


(ABNT), que é o Foro Nacional de Normalização. As normas brasi-
leiras, cujo conteúdo é de responsabilidade dos Comitês Brasilei-
ros (ABNT/CB), dos Organismos de Normalização Setorial (ABNT/
ONS) e das Comissões de Estudo Especiais (ABNT/CEE), são ela-
boradas por Comissões de Estudo (CE), formadas pelas partes
interessadas no tema objeto da normalização.
No ano de 2009 foi publicada ISO 31000 Risk Management – Principles
and Guidelines, que foi traduzida integralmente para o português e publi-
cada como Norma Brasileira ABNT NBR ISO 31000. Esta norma internacio-
nal e sua tradução para o português tiveram uma segunda edição publica-
da em 2018.

A ISO 31000 estabelece diretrizes para a gestão de riscos sem caráter


mandatório. Ou seja, sua aplicação não é obrigatória, mas pelo seu caráter
internacional, suas diretrizes são seguidas pelos países que têm represen-
tação nesta organização.

A norma, na versão brasileira, tem 23 páginas e, conforme sua orientação,


a aplicação pode ser personalizada para qualquer organização. Seu con-
texto fornece abordagem comum para gerenciar qualquer tipo de risco,
não sendo específico para qualquer indústria ou setor. Com esta enorme
abrangência e o tamanho reduzido do documento, temos:

1. É uma norma genérica com aplicação universal, ou seja, qualquer


organização ou parte dela pode se beneficiar do seu processo de
tomada de decisão.
2. Por ser genérica, sua aplicação deve ser particularizada para o
segmento a que se destina.
Assim, para a gestão de riscos temos duas necessidades básicas:

1. Conhecimento do processo de gestão de riscos baseado na ISO


31000.
2. Conhecimento da atividade em que ela será aplicada.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 10
UNIDADE 1

Nas unidades 2, 3 e 4, utilizaremos os conceitos da gestão de riscos da


ISO 31000, mas particularizando-os para nosso objeto de estudo, que é a
gestão de riscos acidentais.

RISCOS: CONCEITOS E EVOLUÇÃO


Embora a palavra “riscos” faça parte do nosso dia a dia, ela pode ter diver-
sos significados, dependendo do contexto em que é aplicada.

É importante que o corretor de seguros tenha em mente esta variedade de


significados, pois segurados com familiaridade na área financeira, controla-
doria, governança corporativa e gestão de riscos estão acostumados com
outras definições de riscos, além daquela que tradicionalmente utilizamos
no mercado segurador.

Assim, vamos conhecer algumas definições de risco:

1. Risco como possibilidade de perda, normalmente financeira.


Quando se vê uma placa com os dizeres “Perigo – Eletricidade –
Risco de Morte”, o termo “risco” está se referindo ao risco de perda
da vida (não necessariamente ligado a uma perda financeira). Já
risco de roubo de uma carteira implica na possibilidade de perda
financeira de valores monetários.
2. No mercado de seguros, e nas unidades 2, 3 e 4, dedicadas à
gestão de riscos acidentais, risco será sinônimo de “causa de per-
das”. Os riscos de incêndio, alagamento, vendaval, danos elétricos,
queda de raio, desmoronamento etc. devem ser entendidos como
“causas de perdas”. Esta definição de riscos é utilizada nas nossas
condições gerais, especiais e particulares das apólices de segu-
ros. “Riscos Cobertos” são as “causas de perdas” que encontram
amparo na apólice de seguro. “Riscos não cobertos” ou “riscos
excluídos” são as “causas de perdas” não abrangidas por aquele
seguro.
3. Ainda no mercado segurador, risco pode ser utilizado como sinôni-
mo de “objeto segurado”. Quando se utiliza o termo “inspeção de
riscos”, estamos verificando as condições físicas do objeto segura-
do; quando se diz “vou ao risco” significa que estou me dirigindo
às instalações seguradas.
4. Há algumas décadas, o mercado financeiro adotou o termo risco
como potencial variação dos resultados esperados. Quando um
corretor de seguros se refere ao “risco de atingir as metas de pro-
dução no final do mês”, ele está se referindo à potencial variação

GERENCIAMENTO DE RISCOS 11
UNIDADE 1

dos resultados esperados. Pode ser que não atinja as metas, ou


pode ser que supere as metas. Suponhamos que as metas sejam
superadas em 50%. Embora o resultado tenha sido muito positivo,
o risco associado a atingir as metas é elevado, pois existe mui-
ta variação em relação ao esperado. Da mesma maneira, supo-
nha que exista certeza dos valores de produção ao final do mês
(são seguros concretizados e já estão previamente acertados, não
serão prospectados novos clientes). Nesta situação o risco é zero,
pois não haverá variação nos resultados esperados.
Após o ano de 2009, e conforme Norma ABNT NBR ISO 31000, temos uma
definição normatizada de risco:

“Risco é o efeito da incerteza nos objetivos.”

O referido normativo esclarece que um efeito é um desvio em relação ao


esperado. Pode ser positivo, negativo ou ambos, e pode abordar, criar ou
resultar em oportunidades e ameaças. Por conta desta definição, quando a
gestão de riscos trata de desvios que podem ser positivos, surge a possibili-
dade de identificação de novas oportunidades de negócios. Assim, a gestão
de riscos, no seu conceito mais amplo, não se limita a mitigar as perdas, mas
pode ser utilizada como instrumento de alavancagem de novos negócios.

RISCOS NA GESTÃO DE RISCOS


Os Riscos podem ser classificados de diversas maneiras, sendo que uma
das mais comuns é a classificação em riscos puros (em que só existe a
possibilidade de perda ou empate) ou riscos especulativos (quando exis-
te possibilidade de perda, empate ou ganho).

A ISO 31000 não estabelece qualquer tipo de classificação de risco. No


entanto, a literatura especializada divide os riscos, para fins de gestão de
riscos, em riscos de operação e riscos de mercado.

1. Riscos de operação são aqueles sobre os quais a organização


tem controle. Por exemplo, riscos acidentais são riscos de opera-
ção, pois a organização tem controle sobre eles.
2. Riscos de mercado são aqueles sobre os quais a organização
não tem controle. Por exemplo, risco de variação cambial não
está no controle da organização, mas pode influenciar nos obje-
tivos da organização.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 12
UNIDADE 1

Os riscos de mercado também podem ser classificados como riscos sistê-


micos, pois atingem a economia e as organizações como um todo. Já os
riscos de operação são riscos não sistêmicos, pois têm efeito numa orga-
nização em particular.

Um ponto importante é que, embora os riscos de mercado não estejam sob


controle direto da organização, eles podem causar impacto importante nos
resultados da organização, devendo ser objeto do processo de gestão de
riscos. Por exemplo, se a organização tem dívidas futuras que deverão ser
líquidadas em moeda estrangeira e existe a preocupação que haja valori-
zação da moeda estrangeira (valorização do dólar em relação ao real), a
organização pode constituir um hedge (operações utilizadas no mercado
financeiro), comprando títulos atrelados à moeda estrangeira. No momento
da quitação da dívida, se o dólar tiver se valorizado, a organização líquida os
títulos atrelados ao dólar e terá recursos em reais suficientes para cumprir
suas obrigações em moeda estrangeira.

—— Riscos da Operação
São riscos de origem interna à organização e que são específicos dela.
Vamos ver alguns deles:

Risco do Negócio
Possibilidade de perda ou ganho devido a variáveis econômicas e de mer-
cado. Vale uma reflexão sobre os riscos de negócios, em que a incorreta
identificação e análise dos riscos de negócios pode trazer consequências
sérias, conforme exemplos abaixo:

■■ Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e vendia 85% de todo


o papel fotográfico comercializado no mundo. Com o surgimento
das fotos e câmeras digitais, no curso de poucos anos, o modelo
de negócios dela desapareceu e eles abriram falência.
■■ O Uber é apenas uma ferramenta de software. Eles não são proprie-
tários de carros e são agora a maior companhia de táxis do mundo.
■■ A Airbnb é a maior companhia hoteleira do mundo, embora eles
não sejam proprietários de nenhum hotel.
■■ A inteligência artificial que já é mais eficiente que jovens advogados
e que se tornam coadjuvantes importantes nos diagnósticos médicos.
■■ A impressão 3D que trará alterações profundas no mercado de
manufatura de peças.
■■ Outros tantos exemplos que estão ocorrendo no momento, dentre
os quais veículos autônomos, agricultura, reconhecimento facial,
energia solar.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 13
UNIDADE 1

No nosso mercado de seguros estamos imunes aos riscos de negócio?


A assim chamada 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0 está chegan-
do ao nosso mercado com IOT (internet of things ou internet das coisas),
blockchain, inteligência artificial, etc. Estas tecnologias disruptivas devem
alterar os padrões de comercialização, afetando os corretores de seguros.
As seguradoras, a exemplo do que está ocorrendo com as fintechs em
relação ao mercado bancário tradicional, poderão sofrer concorrência das
insurtechs no modelo de compartilhamento (nos Estados Unidos existe o
caso concreto da Lemonade, que é uma alternativa às seguradoras tradi-
cionais). Não se pode prever com exatidão como será o futuro próximo,
mas podemos ter a certeza de que não será como no presente.

Risco Financeiro
Risco de uma organização não ter capacidade de honrar suas obrigações
financeiras.

Trazendo para o mercado segurador, seria a incapacidade financeira de


uma seguradora cumprir com suas obrigações como, por exemplo, a de
liquidar sinistros. Este é um risco real do nosso mercado e faz parte dos
riscos de solvência de uma seguradora.

Risco Operacional
Possibilidade de perda devido ao mal funcionamento ou inoperância da
tecnologia existente ou do sistemas de suporte.

Este risco é muito presente tanto para corretores de seguros quanto para
seguradoras. Lembrando que risco é o efeito da incerteza nos objetivos;
existe risco para os corretores de seguros no objetivo de fornecer a cober-
tura adequada aos segurados, protocolar a proposta de seguro dentro do
prazo correto, fornecer atendimento adequado, etc. As seguradoras tam-
bém têm diversos riscos operacionais como, por exemplo, devolver uma
proposta em que não tenha interesse dentro do prazo de 15 dias, solicitar
cobertura de resseguro se necessário, qualidade dos serviços prestados,
etc. No caso das seguradoras, o risco operacional é quantificado, como
veremos nos próximos itens desta unidade.

Risco de Crédito
Possibilidade de perda devido ao inadimplemento dos tomadores em
honrar as prestações devidas que foram assumidas através de contrato
entre as partes.

Utilizando o exemplo do mercado segurador, após a abertura do mercado


de resseguros, as seguradoras têm um importante risco de crédito, que é
a recuperação de sinistros de resseguro. Este risco, como veremos adian-
te, deverá fazer parte da gestão de riscos de uma seguradora (trata-se

GERENCIAMENTO DE RISCOS 14
UNIDADE 1

da gestão de riscos da própria seguradora, e não da gestão de riscos de


segurados).

Risco Acidental
Possibilidade da ocorrência de perda à organização, originada por aciden-
te envolvendo diretamente o patrimônio, pela geração de responsabilida-
de civil, por perda de receita, ou por perda de recursos humanos. Tradicio-
nalmente, mas não necessariamente, os riscos acidentais são aqueles que
são transferidos (na totalidade ou parcialmente) ao mercado segurador. A
gestão de riscos acidentais serão objeto de estudo das unidades 2, 3 e 4.

Risco da perda de reputação


Refere-se à perda real ou percebida da reputação, ou deterioração da marca.

Em época de intensa atividade das redes sociais, sabemos que a perda


de reputação de uma marca pode implicar no fim da existência de uma
organização.

—— Riscos de Mercado
São riscos de origem externa à organização com característica sistêmica
(não atinge somente uma organização, mas setores da economia).

Risco da taxa de juros:


Refere-se à possibilidade da taxa de juros diminuir ou elevar-se.

Risco da taxa de câmbio:


Possibilidade de variação do valor da moeda de um país em relação ao
valor da moeda de outro país.

Risco do preço das commodities (mercadorias):


Possibilidade do preço das commodities – como, por exemplo, petróleo –
aumentar ou diminuir.

Risco político
Possibilidade de perdas financeiras decorrentes de posturas políticas ado-
tadas no país em que se encontram investidos os ativos da organização.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 15
UNIDADE 1

GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS:


HISTÓRICO E EVOLUÇÃO
Quando comparado aos seguros, o processo de gestão de riscos tem o
desenvolvimento bem mais recente.

O princípio do mutualismo, que é a base dos seguros, foi desenvolvido milha-


res de anos antes de Cristo, quando as perdas dos camelos nas viagens pela
antiga Babilônia eram divididas entre os participantes da empreitada.

O Seguro, na sua versão moderna, iniciou-se no século XVIII com as via-


gens marítimas e com a Primeira Revolução Industrial.

A força motriz da Primeira Revolução Industrial foram as máquinas a vapor,


que para sua geração necessitavam de caldeiras, que por sua vez eram
muito sujeitas ao evento de explosão. Surge na Inglaterra o Seguro de
Boiler Explosion and Inspection (seguro de explosão e inspeção de caldei-
ras), o que nos nossos dias seria equivalente à combinação da técnica de
prevenção de perdas com transferência via seguros.

Não houve evolução importante da gestão de riscos acidentais até a 2ª


Guerra Mundial no século XX.

Se lembramos da 1ª Guerra Mundial, veremos que foi uma guerra de trin-


cheiras, onde os espaços físicos eram conquistados aos poucos.

Já a 2ª Guerra Mundial foi uma guerra com destaque para a tecnologia,


que abrangeu desde o rápido desenvolvimento da aviação até o lança-
mento das bombas atômicas.

Ao fim desta guerra, verificou-se que os artefatos, sistemas e equipamen-


tos nem sempre funcionavam como o esperado, podendo-se afirmar que
existia risco, ou seja, existia o “efeito das incertezas nos objetivos” (ISO
31000). A primeira versão da ISO 31000 é de 2009, mas é importante per-
ceber que ela foi fruto do desenvolvimento de vários assuntos que conver-
giram para a gestão de riscos.

A partir de então, começou a se desenvolver a gestão de riscos aciden-


tais, mas com foco qualitativo (o que e como pode acontecer), mas sem
enfoque quantitativo (quantas vezes pode ocorrer e qual a extensão da
consequência financeira das perdas).

Em torno do ano de 1980, ocorreram dois eventos catastróficos que induzi-


ram a introdução da análise quantitativa na gestão de riscos. Em 1986, após a
explosão da nave espacial Challenger, a NASA (Agência Aero Espacial Ame-
ricana) passou a exigir a análise qualitativa de confiabilidade e dos riscos em
suas missões espaciais e começou a desenvolver critérios quantitativos da
análise dos riscos. Da mesma maneira, a Agência Regulatória Nuclear Ame-

GERENCIAMENTO DE RISCOS 16
UNIDADE 1

ricana (NUREG) passou a exigir análise probabilística de segurança após o


acidente nuclear ocorrido na planta nuclear de Three Mile Island em 1979.

Assim, a gestão de riscos acidentais adquiriu o formato hoje existente, com


análise dos riscos do ponto de vista qualitativo e quantitativo.

GESTÃO DE RISCOS EM
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
As instituições financeiras têm como característica a administração de
recursos que não são próprios delas.

■■ No caso dos bancos, eles administram recursos financeiros dos


correntistas e investidores.
■■ No caso das seguradoras, elas administram provisões como, por
exemplo, PPNG – provisão de prêmios não ganhos e PSL –, provi-
são de sinistros a liquidar que são de propriedade dos segurados.
Por esta característica, os órgãos reguladores têm importante papel no
controle destas instituições financeiras. Em outras atividades, em que os
recursos financeiros são dos próprios acionistas, não é função do Estado o
controle de solvência destas organizações.

Por volta dos anos 2000 tivemos escândalos financeiros de repercussão


mundial, citando os casos do Banco Barings, Enron, WorldCom, entre outros.

Dentro deste contexto mundial, foram desenvolvidos pelos Órgãos Regu-


ladores os acordos de Basiléia 1 e 2 para o sistema bancário, e Solvências
1 e 2 para mercado segurador (seguradoras e resseguradoras).

Esta é a origem da gestão de riscos que encontramos hoje nas segura-


doras e resseguradoras, com os mecanismos de governança corporativa,
compliance, controles internos e auditoria interna.

OS CAMINHOS DA
GESTÃO DE RISCOS
O desenvolvimento da gestão de riscos, enquanto processo estruturado,
ocorreu por caminhos diferentes e convergentes, como vimos na gestão

GERENCIAMENTO DE RISCOS 17
UNIDADE 1

de riscos acidentais e na gestão de riscos de instituições financeiras, con-


tribuindo e sendo consolidadas na ISO 31000.

Portanto, a ISO 31000 não foi fruto de um trabalho científico em que se


tenha descoberto a gestão de riscos; foi, antes, resultado das necessida-
des da administração dos riscos que podem prejudicar a organização ou
uma área específica em atingir seus objetivos.

GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS


Riscos acidentais são eventos súbitos e imprevistos que causam perdas à
organização.

Se considerarmos que o objetivo de uma organização (ou de uma de suas


áreas) é não sofrer perdas em decorrência de acidentes, temos que estes
eventos são efeitos (negativos) da incerteza nos objetivos.

Portanto, riscos acidentais são abrangidos pela definição de riscos da ISO


31000, e o processo nela previsto também é aplicável, com adaptações,
aos riscos acidentais.

Para estudarmos os riscos acidentais nas próximas unidades, dividiremos


as exposições a perdas em cinco blocos:

Bloco 1 Bloco 2 Bloco 3 Bloco 4 Bloco 5


Patrimônio. Responsabilidade Pessoas-chave. Receita Líquida. Pessoas.
Civil.

Cada um destes cinco blocos será analisado através de três dimensões:

Dimensão 1 Dimensão 2 Dimensão 3


Itens expostos riscos que Consequências
a perdas. causam as financeiras das
perdas. perdas.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 18
UNIDADE 1

Terminando esta unidade, vale esclarecer alguns equívocos que encontra-


mos no nosso mercado.

■■ A gestão de riscos acidentais é um processo sequencial constituí-


do de vários passos nos quais o seguro é uma das alternativas de
financiamento de risco via transferência. O seguro é importante e
muito utilizado na gestão de riscos acidentais, fazendo parte dela
(e não o contrário).
■■ Subscrição de riscos é uma atividade exclusiva da seguradora ou
resseguradora que se constitui na aceitação, recusa ou aceitação
com modificações dos riscos a elas oferecidos.
■■ Inspeção de riscos é uma atividade de coleta de dados físicos do
risco que fornece subsídios para a subscrição de riscos.
■■ Inspeção de loss control (controle de perdas) é uma inspeção mais
especializada que visa identificar e sugerir medidas de mitigação de
riscos da organização.
■■ Regulação de sinistros é uma atividade de verificação das causas
e apuração dos prejuízos decorrentes de um sinistro.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 19
UNIDADE 1

RESUMO
A gestão de riscos é um processo estruturado de responsabilidade da
organização, mas que pode ter consultoria (prestação de serviços gratuita
ou não) dos players do mercado de seguros (corretores de seguros, segu-
radoras, corretores de resseguro, resseguradoras).

A gestão de riscos foi normatizada através da ISO 31000, cuja primeira


edição ocorreu no ano de 2009, sendo revisada em sua segunda edição
no ano de 2018. Esta norma tem duas características importantes: a van-
tagem de ser extremamente abrangente, servindo para qualquer tipo de
organização ou atividade, o que gera a desvantagem de possuir pouco
detalhamento para uma organização ou atividade. Portanto, sua aplicação
deve respeitar seus princípios e diretrizes, mas precisa ser adaptada para
uma aplicação específica.

Nela encontramos a definição de risco enquanto “efeito das incertezas nos


objetivos”. O efeito pode ser negativo (o que significa perdas), mas pode ser
positivo (significa que a gestão de riscos pode gerar oportunidades de ganho).

Sob o ponto de vista da gestão de riscos, podemos ter os riscos da ope-


ração (que estão no controle da organização) e os riscos de mercado
(riscos sistêmicos que não estão no controle direto da organização, mas
que deverão ser identificados, analisados e, se for o caso, tratados).

A gestão de riscos enquanto processo decisório teve desenvolvimento a


partir da metade do século XX.

A gestão de riscos acidentais e a gestão de riscos de instituições financei-


ras tiveram caminhos diferentes, mas convergentes, resultando no proces-
so estruturado que vem sendo praticado de maneira uniforme.

Finalmente, a gestão de riscos é um processo abrangente que pode uti-


lizar o seguro como uma ferramenta de financiamento de riscos através
de transferência.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 20
FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS I
Marque a alternativa correta nas questões abaixo:

1. O responsável pelo programa de gestão de riscos de uma organização é o (a):

(a) Corretor de seguros.


(b) Seguradora.
(c) Resseguradora.
(d) Própria organização.
(e) Corretora de resseguros.

2. A ISO 31000, que trata dos princípios e diretrizes da gestão de Riscos, é:

(a) De aplicação restrita no Brasil.


(b) De aplicação no mercado internacional, mas não no Brasil, pois é
uma norma estrangeira.
(c) De aplicação internacional, inclusive no Brasil.
(d) Só é disponibilizada em inglês.
(e) Específica e detalhada para cada tipo de atividade.

3. Conforme ISO 31000, risco é o efeito:

(a) Das incertezas nos objetivos.


(b) Negativo das incertezas nos objetivos.
(c) Positivo das incertezas nos objetivos.
(d) Das certezas nos objetivos.
(e) Das incertezas nos riscos acidentais.

4. Entrada de concorrentes com nova tecnologia é um risco:

(a) Sistêmico.
(b) De mercado.
(c) Do Negócio.
(d) De crédito.
(e) Financeiro.

5. A gestão de riscos acidentais:

(a) Iniciou sua evolução antes do surgimento do seguro.


(b) Faz parte exclusivamente do seguro.
(c) Trata apenas dos riscos de negócios da organização.
(d) Está detalhada na ISO 31000.
(e) Tem no seguro uma de suas técnicas de financiamento de riscos.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 21
GESTÃO
de RISCOS
02
ACIDENTAIS – PATRIMÔNIO

Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
DESTA UNIDADE
■■ Entender o que são e quais ■■ Identificar e analisar os
são os bens tangíveis e riscos do bloco patrimônio. BENS DA ORGANIZAÇÃO
intangíveis. ■■ Aplicar as medidas de RESUMO
■■ Aplicar as três dimensões controle de riscos e
do bloco patrimônio. financiamento de riscos do FIXANDO CONCEITOS 2
bloco patrimônio.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 22
BENS DA ORGANIZAÇÃO
O patrimônio da organização corresponde ao seu ativo e é composto de
bens tangíveis e bens intangíveis.

—— Bens Tangíveis
Os bens tangíveis são ativos da organização que são concretos e que
podem ser tocados. Eles podem ter:

■■ Origem natural, ou seja, não foram produzidos pelo homem, mas fazem
parte do patrimônio da organização. Como exemplo, temos terrenos,
lagos, cursos d’água naturais, vegetação nativa, florestas naturais, etc.
■■ Origem na exploração dos recursos naturais pelo homem, quer
seja pela extração destes recursos (pedras preciosas, materiais de
insumo para indústrias, petróleo, etc.), quer seja pela alteração do
meio ambiente para fins de exploração comercial, como exemplo
a agricultura, piscicultura, criação de animais, hidroelétricas, etc.
■■ Origem na produção de produtos pelo homem, criando e construin-
do benfeitorias, classificados em:

Prédios / Maquinismos / Mercadorias /


instalações móveis / utensílios matérias-primas

São os bens da organização necessárias para o funcionamento da


organização. Nesta classificação, temos as indústrias, comércios,
prestação de serviços e residências (incluindo condomínios).

GERENCIAMENTO DE RISCOS 23
UNIDADE 2

—— Bens Intangíveis
Os bens intangíveis não podem ser vistos ou tocados, mas são percebidos
como ativos da organização.

São bens intangíveis da organização as marcas, valores e princípios pre-


sentes na cultura organizacional, percepção de perenidade, dentre outros.

O valor de uma organização é a soma do valor dos bens tangíveis e do


valor dos bens intangíveis. Ela corresponde ao valor que o mercado paga-
ria ou estaria disposto a pagar pela sua aquisição. Se a organização tiver
capital aberto negociado em bolsa de valores, a variação de seu valor nor-
malmente é explicada pelo valor dos ativos intangíveis, não pelo valor
dos ativos tangíveis. Os valores dos bens tangíveis sofrem variação
Importante positiva ou negativa em função das condições do mercado (valor de
compra e de venda), e variação negativa em função da depreciação. A
Nesta disciplina estudaremos variação de valor dos bens tangíveis é, normalmente, muito menor que
a gestão de riscos acidentais as oscilações dos valores dos bens intangíveis.
– bloco patrimônio dos bens
tangíveis produzidos pelo Até 50 anos atrás, o valor da organização era muito próximo ao valor dos
homem (indústria, comércio, bens tangíveis. Hoje, os valores dos bens intangíveis de uma organiza-
prestação de serviços, ção podem ultrapassar em muito o valor de seus bens tangíveis. Basta
residencial). Para fins da lembrarmos de uma rede internacional de fast food e de uma importante
gestão de riscos acidentais, fabricante de refrigerantes. Por certo, na composição do valor da orga-
não serão considerados os nização, o valor do bem intangível “Marca” é muito superior ao valor das
bens intangíveis. suas lojas e fábricas.

Porém, vale registrar que:

■■ Dependendo do tipo da organização, a gestão de riscos acidentais


– patrimônio dos bens tangíveis de origem natural assume impor-
tância primordial, principalmente em indústrias que se dedicam à
extração destes recursos. É o caso de mineradoras e indústrias
extrativistas em geral, para quem a matéria-prima são os recursos
de origem natural.
■■ A gestão de riscos dos bens intangíveis, principalmente da “marca”,
deve abranger vários itens, além dos riscos acidentais. A “marca”
pode sofrer perda em função de vários eventos, que vão desde o
atendimento inadequado, passando por produtos defeituosos, até
acidentes causados aos funcionários, clientes, e terceiros em geral.

—— Exposição a Perdas
O bloco patrimônio, conforme explanado no final da Unidade 1, é entendi-
do e estudado através de três dimensões:

GERENCIAMENTO DE RISCOS 24
UNIDADE 2

Dimensão 1 Dimensão 2 Dimensão 3


Itens expostos riscos que Consequências
a perdas. causam as financeiras das
perdas. perdas.

—— Itens Expostos a Perdas


Para indústria, comércio, prestação de serviços e residencial, os itens dire-
tamente expostos a perdas são:

Prédios e instalações
Corresponde à parte das obras civis e instalações de água, luz, ar condicio-
nado, elevadores, etc. destinados a prover condições para funcionamento
da organização.

Em alguns casos, principalmente em condomínios, é comum a dificuldade


da separação de prédios / Instalações da parte do conteúdo.

Uma maneira prática é responder à pergunta: o que fazia parte do bem


quando as instalações foram entregues para uso da organização?

Vamos explorar uma situação prática: um médico aluga um conjunto de


salas num prédio comercial para instalação de seu consultório. Ele rea-
liza várias melhorias, tais como instalação de divisórias, revestimento de
paredes, piso antiderrapante, etc. O prédio comercial possui cobertura
securitária para o prédio e áreas comuns. Na eventualidade da ocorrência
do evento incêndio, o seguro do condomínio do prédio comercial cobrirá
as obras civis e instalações existentes antes da locação, não cobrindo as
melhorias por ele feitas (embora estas melhorias possam ser consideradas
como incorporadas ao prédio e instalações, elas não fazem parte da cober-
tura securitária fornecida ao condomínio comercial). Caso o médico deseje
cobertura para as melhorias e o conteúdo do consultório (computadores,
mesas, cadeiras, armários, macas, etc.), ele deverá contratar um seguro em
que ele seja o beneficiário.

Maquinismos, móveis e utensílios


Maquinismos, móveis e utensílios fazem parte do conteúdo da organiza-
ção. Estes bens pertencem à organização ou estão sob sua guarda e con-
trole, podendo ser removidos ou alocados sem alterar a parte física da
construção (prédios e instalações).

GERENCIAMENTO DE RISCOS 25
UNIDADE 2

Um raciocínio prático é considerar como maquinismos, móveis e utensílios


os bens que podem ser removidos em caso de mudança de endereço da
organização sem alterar a estrutura física do imóvel. Voltando ao exemplo
do consultório instalado no prédio comercial, caso o médico mude seu
consultório para outro local, certos itens do consultório, como computa-
dores, mesas, cadeiras, armários, macas, etc. serão transferidos e, portan-
to, podem ser considerados conteúdos. Já as melhorias feitas (divisórias,
revestimento de paredes, piso antiderrapante, etc.) serão incorporadas ao
prédio e instalações, não sendo consideradas conteúdos.

Mercadorias e matérias-primas
Mercadorias e matérias-primas fazem parte do conteúdo da organiza-
ção, mas, ao contrário dos maquinismos / móveis / utensílios, têm como
característica ficar pouco tempo sob posse e guarda da organização. As
matérias-primas serão incorporadas aos produtos produzidos pela indús-
tria, e as mercadorias são bens que serão comercializados pela indústria
e comércio. Então, como regra geral, mercadorias e matérias-primas não
fazem parte dos bens de organizações dedicadas à prestação de serviços
ou residencial.

Para visualizar os itens expostos a perdas, vamos utilizar o exemplo de


uma padaria que utiliza o conceito de “butique de pães”. Esta organização
será utilizada no transcorrer do curso para exemplificar diversas situações.

■■ Prédio e Instalações: parte civil da padaria, englobando funda-


ções, estrutura, alvenaria, cobertura e acabamentos, instalações
de ar condicionado, escada rolante e elevador.
■■ Maquinismos, móveis e utensílios: fornos, máquinas de lavar
louça, caldeiras, misturadores, geladeiras, prateleiras (refrigeradas
ou não), motores, mesas, cadeiras, armários, balcões, utensílios em
geral utilizados na cozinha.
■■ Mercadorias e matérias-primas: produtos comercializados (pães,
bolos, doces, salgados, enlatados, laticínios, etc.) e insumos em
geral (farinha, óleo, fermento, etc.)
Quando se fala em itens expostos a perdas, além de prédios/instalações,
mercadorias/móveis/utensílios, matérias-primas/mercadorias devem ser
analisados outros itens que podem compor os expostos à perdas, e que são:

Desentulho do local
Como decorrência de um dano acidental, antes da reconstrução ou repo-
sição, pode ser necessário o desentulho do local. Por exemplo, num incên-
dio de grandes proporções ocorrido em 21/05/1987 nas duas torres (Sedes
1 e 2) da CESP – Companhia Energética de São Paulo, localizado na Ave-
nida Paulista, na cidade de São Paulo/SP, antes da reconstrução do prédio

GERENCIAMENTO DE RISCOS 26
UNIDADE 2

foi necessário desentulhar o local, incluindo a implosão de uma das torres,


o que despendeu muitos recursos financeiros para retirada do entulho e
limpeza do local.

Despesas de demolição
Trata-se de prédio/instalação que foi parcialmente danificado por um even-
to, mas cuja reconstrução ou reparação pode ser economicamente inviá-
vel, sendo preferível sua demolição e posterior reposição. Pode ocorrer
também que uma estrutura, parcialmente danificada, seja condenada pela
prefeitura local, sendo necessária sua demolição.

Propriedades não danificadas


Uma propriedade não danificada pode perder valor em função da perda
de sua utilidade, motivada pelos danos sofrido por outra propriedade da
organização. Alguns exemplos desta situação:

■■ Mudança do zoneamento onde a organização está localizada,


impedindo a reconstrução da parte danificada e gerando perda de
valor da parte não danificada.
■■ Desenvolvimento tecnológico do estado da arte do processo onde
ocorreu a perda. Neste caso, é possível que não haja interesse na
retomada do processo como o existente antes do acidente, tor-
nando ociosas as partes não danificadas.
■■ Desinteresse da organização na continuidade das operações na
unidade onde ocorreu o acidente. As partes não danificadas se
tornarão ociosas e perderão seu valor funcional.

Aumento dos custos de


reconstrução ou reparação
Podem ocorrer alterações do código de obras do município, exigindo alte-
rações na reconstrução ou reparação e aumentando seus custos. Com o
aumento do valor do prédio/instalações, provavelmente ocorrerá aumento
de impostos como o IPTU.

Valor do conjunto
Pode ocorrer que a perda de uma peça desvalorizará o conjunto como
um todo. Exemplificando, numa indústria automobilística a perda de algum
componente, por exemplo dos pneus, ocasiona temporariamente a perda
do valor de venda do automóvel como um todo. Numa confecção, a perda
do estoque de zíperes fará com que temporariamente o lote da confec-
ção como um todo perca valor. Embora a perda de valor do conjunto seja
temporária até a reposição do bem faltante, isto irá gerar perda de receita
da organização.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 27
UNIDADE 2

—— Riscos que Causam as Perdas


São inúmeros os riscos que causam perdas no bloco patrimônio e é importan-
te que haja uma correta identificação destes riscos. Abaixo estão os principais
riscos identificáveis no bloco patrimonial, agrupados pela origem dos riscos.

Riscos com origem na atividade da organização


Incêndio
É uma das principais causas de perdas das organizações. O incên-
dio é caracterizado como fogo descontrolado, pois em diversos
processos industriais que necessitam de calor (processos a quen-
te) é utilizada a chama controlada como fonte de calor, o que não
caracteriza Incêndio.

Explosão
Pode ter origem em equipamentos que trabalham com pressão
(como as caldeiras de nossa padaria) ou equipamentos em que
são processadas reações químicas. Tanto explosão como implo-
são caracterizam-se pelo equilíbrio súbito de pressão. Na explo-
são, a pressão interna é maior que a pressão externa, e se ocor-
re o reequilíbrio súbito das pressões interna e externa, temos a
explosão (de dentro para fora). O mesmo raciocínio se aplica para
implosão, com a diferença de que neste caso a pressão externa é
maior que a pressão interna. Na ocorrência do equilíbrio súbito de
pressão, ocorre a Implosão (de fora para dentro, dando a impres-
são de que houve um amassamento).

Fumaça
Não é a fumaça originada de incêndio (os danos originados pela
fumaça de incêndio fazem parte do evento incêndio), mas sim
os danos causados pela fumaça de desarranjos mecânicos das
máquinas e equipamentos da organização.

Derrame e vazamento de água de chuveiros automá-


ticos (sprinklers)
Pois os sistemas de sprinklers ficam pressurizados para rápida
intervenção em caso de princípio de incêndio. O seu disparo aci-
dental, sem necessidade, molhará os bens que se encontrarem
no seu raio de ação. No nosso exemplo da padaria, suponha que
o disparo acidental ocorre na área de armazenagem de matérias-
-prima. A consequência será a molhadura e perda deste material.

Desmoronamento
Que pode ser parcial ou total, e pode ter tanto causa interna (fal-
ta de manutenção que compromete a estrutura), como por causa
externa (deslizamento de terra que danifique a estrutura).

GERENCIAMENTO DE RISCOS 28
UNIDADE 2

Rompimento ou vazamento da rede de água interna


da organização
Causando molhadura e consequente perda dos bens da organização.

Impacto de veículos, queda de aeronaves, engenhos


aeroespaciais
Suponha que nossa padaria se encontre numa esquina movimen-
tada, estando, portanto, sujeita a impacto de veículos que atinjam
a organização.

Acidentes de origem súbita e imprevista em máqui-


nas e equipamentos
Os acidentes podem ser de origem interna (que são caracterizados
genericamente como quebra de máquinas) ou de origem externa
(tombamento, queda de objetos, impacto de empilhadeiras, etc.).

Contaminação e deterioração de mercadorias em


ambientes frigorificados
Cuja falha dos equipamentos pode ter origem interna no funciona-
mento inadequado deles, ou por origem externa, como a falta de
energia elétrica por períodos prolongados.

Danos elétricos
Que é consequência de qualquer desarranjo elétrico ou curto-cir-
cuito nas instalações do prédio ou nas maquinas e equipamentos.

Riscos com origem na Natureza


Queda de raio, que pode ocorrer:
■■ Dentro do perímetro da organização, ocasionando danos diretos

pela súbita variação de tensão (danificando equipamentos elé-


tricos e eletrônicos) ou pelo calor gerado (causando incêndio).
■■ Fora do perímetro da organização, que pode gerar sobreten-
são na rede elétrica, causando avarias elétricas nos equipa-
mentos elétricos e eletrônicos da organização.

Observação
Os equipamentos elétricos são aqueles que geram calor ou tra-
balho. Por isso um forno elétrico ou um motor são equipamentos
elétricos. Já os equipamentos eletrônicos têm como função gerar
outras funções que não seja calor ou trabalho. Assim, o compu-
tador é um equipamento eletrônico, cuja principal função é gerar
informações e prover ferramentas de trabalho.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 29
UNIDADE 2

Alagamento e inundação
Que são danos causados por água cuja origem é externa à organi-
zação. Embora alagamento e inundação sejam usados como sinô-
nimos, no alagamento a fonte externa de água são rios não nave-
gáveis. Na inundação a fonte externa de água são rios navegáveis.
Os danos causados por fonte interna à organização, por exemplo,
um rompimento da tubulação que alimenta a rede de água da
organização, não são considerados alagamento ou inundação.

Vendaval, Furacão, ciclone, tornado, granizo


São fenômenos da natureza que podem danificar parcial ou total-
mente as instalações da organização.

Riscos com origem no Homem


Roubo e furto qualificado de bens, mercadorias
e valores
Que são atos praticados por elementos estranhos à organização.
Os roubos são atos praticados com violência ou intimidação à pes-
soa. Já o furto qualificado é um ato que danifica a estrutura da
organização ou que utiliza meios não convencionais para acessá-
-la. As definições de furto qualificado variam e em algumas delas
exige-se a existência de vestígios materiais inequívocos para
caracterização de tal tipo de furto.

Infidelidade de empregados
Que são os atos lesivos à organização causados por funcionários
dela. O desvio de verbas, fraudes em benefício próprio constituem
exemplos da infidelidade de empregados.

Tumultos
Que se caracterizam pela junção de pessoas que coletivamente
praticam atos que danificam as propriedades da organização.

Cyber Risks
Causando danos ao patrimônio da organização em função de
ataques cibernéticos; é hoje um dos principais riscos emergentes
para qualquer organização.

—— Consequências Financeiras
das Perdas
Uma vez conhecidos os itens expostos a perdas e os riscos que causam
perdas, partimos para o estudo das consequências financeiras das perdas.

Para medir as consequências financeiras das perdas, é necessário o enten-


dimento de dois conceitos: valoração e parâmetros da qualidade do risco.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 30
UNIDADE 2

Valoração
Sabendo o que é exposto à perda e os riscos que causam esta perda, pre-
cisamos estabelecer como mensurá-la.

Para tanto, temos três conceitos importantes:

Valor de novo
Que é o valor dos bens do segurado no seu estado de novo.

No caso do prédio e instalações, é o seu valor para reconstrução


no dia de hoje. A resposta à pergunta “Quanto se gastaria para
construir o prédio e instalações na data de hoje?” é o valor de novo.

No caso de maquinismos/móveis/utensílios, é o valor para insta-


lação de equipamentos novos na data de hoje. A resposta à per-
gunta “quanto se gastaria para comprar na data de hoje novos
maquinismos, móveis e utensílios?” fornece o valor de novo dos
maquinismos/móveis/utensílios.

No caso de mercadorias e matérias-primas, é o valor de venda das


mercadorias ou valor de compra das matérias-primas.

Valor atual
Que é o valor de novo menos a depreciação. O valor de novo para
prédios/instalações ocorre no dia em que o prédio foi entregue. Da
mesma maneira, o valor de novo dos maquinismos/móveis/uten-
sílios ocorre quando estes bens são comprados e instalados no
estado de novo. Já no dia seguinte começa o processo de depre-
ciação física do bem.

Como mercadorias/matérias-primas não são bens a serem incor-


porados ao prédio ou conteúdo (matérias-primas são bens que
serão incorporados às mercadorias para posterior venda), não
existe depreciação a ser aplicada. Este é um dos motivos pelos
quais o conteúdo da organização é dividido em (1) maquinismos/
móveis/utensílios, que sofrem depreciação, e (2) mercadorias/
matérias-primas que não sofrem depreciação.

Depreciação física
Que ocorre pelo uso, desgaste de um bem físico.

Um ponto importante é que existem vários critérios de depreciação,


que levam a valores diferentes, e, portanto, a valores atuais diferentes.

Os métodos de cálculo de depreciação normalmente utilizados


são: linha reta, Ross e Ross-Heidecke.

Somente para fins de ilustração, utilizaremos o seguinte exemplo:

GERENCIAMENTO DE RISCOS 31
UNIDADE 2

Valor de novo do bem: R$ 1.000.000,00

Idade aparente: 5 anos

Vida útil: 10 anos

Valor residual (valor do bem ao final de sua vida útil): zero

MÉTODO DE DEPRECIAÇÃO VALOR ATUAL


DEPRECIAÇÃO

Linha Reta 50,00% R$ 500.000,00

Ross 37,50% R$ 625.000,00

Ross-Heidecke 42,56% R$ 574.437,50

Observação
Duas observações importantes sobre valoração:
Métodos diferentes de depreciação levam a valores diferentes de valor
atual, que são importantes para medição das consequências financei-
ras das perdas.
Não se deve utilizar a depreciação contábil para fins de valoração. Na va-
loração devem ser utilizados métodos que meçam a depreciação física.

Parâmetros da Qualidade do Risco


Os dois principais parâmetros para medição da qualidade do risco são
PMP – Perda Máxima Possível e DMP – Dano Máximo Provável.

Estes parâmetros são utilizados para todos riscos analisados pela gestão
de riscos acidentais, mas, para fins de seu entendimento, utilizaremos a
causa de perda Incêndio.

A PMP
Perda Máxima Possível no Risco de Incêndio, de maneira simplifi-
cada, é a perda total do maior risco isolado. Voltando ao exemplo
adotado da padaria, suponhamos que ela tenha uma matriz que
constitui um risco isolado no valor de R$ 15.000.000,00 e uma filial
localizada em outro bairro com valor de R$ 10.000.000,00. Embora
o valor em risco da padaria seja de R$ 25.000.000,00, e consi-
derando que não teremos o evento Incêndio que atinja as duas
unidades ao mesmo tempo, temos que a consequência financeira
para o evento Incêndio será de R$ 15.000.000,00 (PMP) e não R$
25.000.000,00.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 32
UNIDADE 2

O DMP
Dano Máximo Provável é a perda esperada considerando os
sistemas protecionais existentes (brigada, extintores, hidrantes,
sprinklers, etc.). Embora a PMP da Matriz seja de R$ 15.000.000,00,
considerando a atuação dos sistemas protecionais, temos que,
através da análise de cenários, o DMP será de 20%, ou seja, R$
3.000.000,00.

Do ponto de vista da gestão de riscos, quanto maior a distância do DMP


para o PMP, melhor será a qualidade do risco. Na nossa padaria, se o DMP
for igual ao PMP, significa que ela não dispõe de sistemas protecionais
eficientes.

—— Identificação e Análise de Riscos


Para a identificação de riscos, existem métodos já consagrados em literatu-
ra especializada. Somente para fins de ilustração, vamos citá-los:

HAZID – Hazard Identification – Identificação


de Perigos
Envolve seções de brainstorm direcionadas por checklists prepa-
rados pela gestão de riscos.

What If Analisys – Análise “O Que – Se”


Através de brainstorm menos estruturados, busca-se a identifi-
cação de perigos através da resposta “o que aconteceria” se “tal
evento ocorresse”.

HAZOP – Hazard and Operability Studies – Estudo


dos Perigos e Operabilidade
Muito utilizada no estudo de perigos em processo contínuos; será
utilizada na unidade 3.

Análise Preliminar de Perigos


Técnica qualitativa para identificar perigos em novos projetos ou
novas instalações.

FMEA – Failure Mode and Effect Analisys – Análise do


Modo de Falha e Efeitos
Método de análise indutivo para estudar causas e efeitos das falhas.

Análise de Frequência
A análise de riscos envolve o estudo da frequência e severida-
de dos riscos identificados, sempre em relação aos objetivos da
organização. Nos riscos acidentais, o objetivo é que as perdas não
ocorram, ou ocorram dentro de determinados limites.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 33
UNIDADE 2

A frequência é a quantidade de ocorrências em relação à quantidade de


expostos ao risco.

A severidade é a consequência financeira (em R$) da ocorrência dos riscos.

Neste curso, utilizaremos análise qualitativa conforme a seguir:

■■ Frequência: ocorrência remota, baixa, média, alta.


■■ Severidade: consequência insignificante, significativa, severa,
catastrófica.
Utilizando os riscos identificados anteriormente e o case padaria, temos
como exemplo:

RISCO FREQUÊNCIA SEVERIDADE

1. Incêndio Baixa Catastrófica

2. Explosão Baixa Severa

3. Fumaça Remota Significativa

4. Derrame e vazamento de sprinklers Baixa Significativa

5. Desmoronamento Remota Severa

6. Rompimento e vazamento de água Baixa Significativa

7. Impacto de veículos, queda de Baixa Significativa


aeronaves, engenhos aeroespaciais

8. Acidentes com máquinas e Média Significativa


equipamentos

9. Contaminação e deterioração de Baixa Severa


mercadorias

10. Danos elétricos Baixa Significativa

11. Alagamento / inundação Remota Severa

12. Vendaval, furacão, ciclone, granizo Média Significativa

13. Roubo e furto qualificado Baixa Severa

14. Fidelidade de empregados Baixa Significativa

15. Tumultos Baixa Significativa

16. Cyber Risks Média Severa

GERENCIAMENTO DE RISCOS 34
UNIDADE 2

Observação
A classificação de riscos (que será visualizada na matriz de riscos abaixo) deverá ser
discutida com a organização, pois ela guiará os riscos que terão prioridade de trata-
mento pela gestão de riscos.

—— Matriz de Riscos
A matriz de riscos é um recurso gráfico utilizado na gestão de riscos para con-
densar o resultado da identificação e análise de riscos, conforme a seguir:

MATRIZ DE RISCOS

FREQUÊNCIA SEVERIDADE

INSIGNIFICANTE SIGNIFICATIVA SEVERA CATASTRÓFICA

Alta

Média 8, 12 16

Baixa 4, 6, 7, 10, 14, 15 2, 9, 13 1

Remota 3 5, 11

Não serão objeto do processo São riscos que merecem Obrigatoriamente deverão ser objeto
da gestão de riscos. atenção da gestão de riscos. do processo de gestão de riscos.

—— Medidas de Controle de Riscos


e Financiamento de Riscos
Devemos ter em mente que os recursos disponibilizados para a gestão de
riscos, assim como para as demais áreas da organização, são limitados.

Como consequência, o processo de gestão de riscos acidentais deverá


ser direcionado aos riscos que podem impedir que a organização atinja
seus objetivos.

Voltando ao nosso exemplo e analisando a matriz de riscos, temos:

Na área vermelha, risco 1 – Incêndio, risco 16 – cyber risks.

Na área amarela, risco 2 – explosão, risco 8 – acidentes com máquinas


e equipamentos, risco 9 – contaminação e deterioração de mercadorias,
risco 12 – vendaval, furacão, ciclone, tornado, granizo, risco 13 – roubo e

GERENCIAMENTO DE RISCOS 35
UNIDADE 2

furto qualificado.

Considerando os riscos acidentais, temos medidas de controle de riscos,


que são medidas da organização para mitigação destes riscos, e medidas
de financiamento de riscos, que são medidas de transferência de riscos.

As medidas de controle de riscos são:

Eliminar a exposição
De pouca aplicação para riscos acidentais do bloco patrimônio.
Um exemplo de sua aplicação é mudar a organização para um
local mais alto, eliminando o risco de alagamento/inundação.

Prevenção de perdas – loss prevention


Amplamente aplicada na gestão de riscos acidentais do bloco
patrimônio, visa reduzir a frequência (evitar que ocorra).

Redução de perdas – loss reduction


Amplamente aplicada na gestão de riscos acidentais do bloco
patrimônio, visa reduzir a severidade (se ocorrer, diminuir sua seve-
ridade).

Separação
Quando possível, isolar os riscos (paredes e portas corta fogo,
aumentar a distância de isolamento entre os riscos); tem por obje-
tivo reduzir a PMP – Perda Máxima Possível.

Duplicação
Mais utilizada quando envolve sistemas de informática, mantendo
backup dos programas e arquivos.

As medidas de financiamento de riscos são:

Retenção
As perdas são assumidas pela organização. Não é aplicável para os
riscos situados nas áreas vermelha e amarela da matriz de riscos.

Transferência por seguros


Normalmente a gestão de riscos aplica medidas de controle de
riscos conjugadas com a transferência por seguros.

Abaixo as medidas de controle de riscos que podem ser desenvolvidas


para os riscos na zona vermelha e amarela do case padaria.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 36
UNIDADE 2

RISCO PREVENÇÃO DE REDUÇÃO DE SEPARAÇÃO DUPLICAÇÃO


PERDAS PERDAS

1.Incêndio Controle das fontes Sistemas prote- Isolamento de Não se aplica


de calor, manuten- cionais de extin- riscos para dimi-
ção dos equipamen- tores, hidrantes, nuir a PMP
tos, procedimento sprinklers, alarme,
formais de seguran- treinamento dos
ça a serem seguidos funcionários
pelos funcionários

16.Cyber risks Sistemas de blo- Plano de contingên- Não se aplica Sistema backup
queio (firewall), cia através de em- dos software e
treinamento dos fun- presa especializada, arquivos.
cionários, auditoria operação através
do sistema atual de outro local

2.Explosão Manutenção perió- Contrato de Isolamento dos Não se aplica


dica, equipamento manutenção para equipamentos
de segurança para rápida substituição sujeitos a explo-
sobrepressão do equipamento são
danificado

8.Acidentes com máqui- Manutenção preven- Contrato de Não se aplica Não se aplica
nas e equipamento tiva periódica, layout manutenção para
adequado para atendimento rápido
operação e eventual substi-
tuição

9.Contaminação e dete- Manutenção perió- Plano de descarte Utilização de Não se aplica


rioração dica, geradores de e substituição dos mais um equi-
eletricidade para alimentos contami- pamento de
uso em situações nados ou deterio- refrigeração
emergenciais rados

12.Vendaval / Granizo Manutenção ade- Funcionários treina- Não se aplica Não se aplica
quada dos telhados, dos para situação
coberturas e vãos da emergencial, remo-
estrutura. vendo e protegen-
do mercadorias e
demais instalações

13.Roubo/Furto Qualifi- Instalação de segu- Formalização de Não se aplica Não se aplica


cado rança física (grades, procedimentos
alarmes, vigilância) emergenciais na
ocorrência do
evento (empresa de
segurança conecta-
da ao alarme, etc.)

GERENCIAMENTO DE RISCOS 37
UNIDADE 2

RESUMO
O Patrimônio da organização é composto de bens tangíveis e bens intangíveis.

Os bens tangíveis são ativos concretos da organização que podem ser


tocados. Eles podem ser de origem natural, resultantes da exploração de
recursos naturais e mesmo produção do homem. Neste último caso, são
criadas e construídas benfeitorias, que são os (1) prédios/instalações (2)
maquinismos/móveis/utensílios, (3) mercadorias/matérias-primas e são os
bens da organização necessários para seu funcionamento. Nesta classifi-
cação, temos as indústrias, comércios, prestação de serviços e residências
(incluindo condomínios).

O bloco patrimônio é estudado através de três dimensões: dimensão 1


– itens expostos a perdas; dimensão 2 – riscos que causam as perdas;
dimensão 3 – consequências financeiras.

Na “dimensão 1 – itens expostos a perdas”, temos prédios e instalações;


maquinismos, móveis e utensílios; mercadorias e matérias-primas. Além
destes itens, também devem ser considerados desentulho do local, des-
pesas de demolição, propriedades não danificadas, aumento dos custos
de reconstrução ou reparação, valor do conjunto.

Na “dimensão 2 – riscos que causam perdas”, são analisados os riscos que


causam perdas no bloco patrimonial.

Na “dimensão 3 – consequências financeiras das perdas”, é mensurado o


impacto das perdas, devendo-se aplicar os conceitos de valoração e parâ-
metros da qualidade do risco.

O resultado da identificação e análise dos riscos (causas de perdas, fre-


quência e severidade) são condensados na matriz de riscos, que serve
para decidir quais riscos serão objeto da gestão de riscos.

Finalmente, as medidas de controle de riscos e financiamento de riscos


deverão ser analisadas para os riscos que serão objeto da gestão de riscos.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 38
FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS 2
Marque a alternativa correta nas questões abaixo:
1. Na gestão de riscos acidentais, os bens do bloco patrimônio são com-
postos de:
(a) Bens tangíveis, somente.
(b) Bens intangíveis, somente.
(c) Bens que podem ser valorados fisicamente.
(d) Bens físicos.
(e) Bens tangíveis e intangíveis.

2. Na valoração dos bens do bloco patrimônio, normalmente não se utiliza


depreciação para:
(a) Prédios.
(b) Instalações.
(c) Mercadorias.
(d) Maquinismos .
(e) Móveis.

3. Incêndio é uma causa de perdas importante no bloco patrimônio. Sua


característica é:
(a) Fogo controlado.
(b) Alta frequência e alta severidade.
(c) Baixa frequência e alta severidade.
(d) Alta frequência e baixa severidade.
(e) Baixa frequência e baixa severidade.

4. No bloco patrimônio, instalar sistema de sprinklers é uma medida de:


(a) Financiamento de riscos
(b) Evitar as perdas
(c) Prevenção de perdas
(d) Transferência contratual
(e) Redução de perdas

5. No bloco patrimônio, instalar grades e cerca eletrificada para roubo/


furto qualificado é uma medida de:
(a) Prevenção de perdas.
(b) Segregação por duplicação.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 39
FIXANDO CONCEITOS

(c) Segregação por separação.


(d) Redução de perdas.
(e) Evitar as perdas.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 40
GESTÃO de
RISCOS
ACIDENTAIS –
03
RESPONSABILIDADE CIVIL

Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
DESTA UNIDADE
■■ Conhecer a origem da ■■ Compreender a diferença
responsabilidade civil. entre responsabilidade EXPOSIÇÃO A PERDAS
civil subjetiva e
■■ Aplicar as três dimensões
responsabilidade civil RESUMO
do bloco responsabilidade
objetiva.
civil. FIXANDO CONCEITOS 3
■■ Aplicar medidas de
■■ Entender o que é
controle de riscos e de
responsabilidade
financiamento de riscos.
civil contratual e
responsabilidade civil
extracontratual.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 41
A responsabilidade civil surge em função da existência de:

■■ Leis;
■■ Códigos, que reúnem, em uma única lei, normas de um
mesmo ramo do direito, como por exemplo: Código Civil,
Código de Defesa do Consumidor, etc.;
■■ Estatutos, que regulam as relações de certas pessoas que
têm em comum o fato de pertencerem a um território ou
sociedade, como por exemplo: Estatuto da Criança e do
Adolescente, Estatuto do Idoso, etc.
Para a gestão de riscos acidentais, é importante conhecer a ori-
gem e a dinâmica da responsabilidade civil que pode ser imputada
à organização.

No Código Civil Brasileiro, temos três artigos que são importantes


para conceituação da responsabilidade civil, que são:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para
os direitos de outrem.

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação


do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano
causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos res-
ponderão solidariamente pela reparação.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 42
UNIDADE 3

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os auto-


res os coautores e as pessoas designadas no art. 932.

Estes artigos levam a uma reflexão inicial, que será aprofundada no trans-
correr do curso: (1) o artigo 186 define o que é ato ilícito; (2) o artigo 927 diz
que quem comete ato ilícito e causar dano a outrem é obrigado a repará-lo;
(3) e o artigo 942 define que os bens do causador do dano ficam sujeitos
a reparação do dano causado. Em linhas gerais, está é a dinâmica da res-
ponsabilidade civil.

Para exemplificar, vamos novamente usar o exemplo da padaria. Suponha-


mos que o chão ficou úmido após o trabalho de limpeza e que não houve
isolamento da área ou aviso através de placas. Um cliente escorregou na
área, caiu e quebrou o braço. Então:

1. Houve violação do direito do cliente, pois foi criada uma situação


de perigo e o cliente não foi alertado. Portanto, a padaria cometeu
um ato ilícito.
2. Como ela cometeu um ato ilícito e causou danos, é sua obrigação
reparar os danos pessoais, que podem ser acrescidos de danos
morais e danos imateriais (como exemplo, perda de receita do
cliente da padaria, que é representante comercial).
3. Os bens da padaria ficam sujeitos à reparação dos danos, ou seja,
ela deverá reparar os danos com recursos próprios.
Portanto, no estudo das dimensões do bloco responsabilidade civil, temos
as seguintes conclusões:

Dimensão 1 Dimensão 2 Dimensão 3


Itens expostos a perdas: Riscos que causam as Consequências financeiras:
os bens expostos a perdas perdas: são os atos ilícitos são os custos de reparação
na responsabilidade civil cometidos pela organização dos danos causados e,
são os bens da própria e que causam danos a como veremos adiante, as
organização, pois eles outrem. custas judiciais envolvidas no
ficarão à disposição para processo.
reparação dos danos
causados a outrem.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 43
UNIDADE 3

EXPOSIÇÃO A PERDAS
O processo de gestão de riscos acidentais é o mesmo para todos os blo-
cos (patrimônio, responsabilidade civil, pessoas e receita líquida), sendo
adaptado às características de cada um deles.

—— Itens Expostos a Perdas


Conforme estudado na introdução desta unidade, o item exposto a perdas
no bloco responsabilidade civil é o próprio patrimônio da organização, pois
ele ficará à disposição para reparação dos danos causados a outrem quan-
do cometidos atos ilícitos e houver danos.

Este fato, que é previsto no Código Civil Brasileiro, pode gerar, indireta-
mente, procedimento equivocado para se fixar o LMI – Limite Máximo de
Indenização de uma apólice de responsabilidade civil. A fixação do LMI
para apólice de Responsabilidade Civil não tem critérios objetivos como
estudado no Bloco Patrimonial (no bloco patrimonial as Consequências
Financeiras da Perdas são medidas através dos parâmetros Valoração -
VN, VA e Depreciação, e dos Parâmetros da Qualidade do Risco - PMP e
DMP.

A ausência de critérios objetivos para medição das consequências financei-


ras do evento responsabilidade civil, aliada com previsão legal da disponi-
bilização dos bens da organização para reparação dos danos causados a
outrem, tem induzido a contratação de seguro com LMI equivalente ao patri-
mônio líquido da organização. Embora este critério tenha o mérito de consi-
derar que, quanto maior o patrimônio líquido, maior será o nível de atividade
da organização, e, em tese, maior será sua exposição a perdas decorrente
de Responsabilidade Civil, ele pode levar a situações como as descritas:

1. Patrimônio líquido da organização: R$ 10 milhões.


2. LMI da apólice de responsabilidade civil: R$ 10 milhões.
3. Reparação de danos causados a terceiros: R$ 30 milhões.
Nesta situação hipotética, teríamos:

■■ Seguro reembolsaria R$ 10 milhões.


■■ Organização responderia com seus bens no valor de R$ 10 milhões.
■■ Seriam necessários mais R$ 10 milhões para reparação dos danos
causados.
Este assunto será novamente discutido no item consequências finan-
ceiras do bloco responsabilidade civil.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 44
UNIDADE 3

Outro ponto de atenção relacionado aos bens da organização é um trecho


encontrado no artigo 942 do Código Civil Brasileiro, já mencionado, que
determina que “se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão soli-
dariamente pela reparação”. Portanto, se a organização for corresponsável
por algum dano, ela responderá solidariamente, ou seja, como ela é res-
ponsável solidária, e se a outra parte acionada não tiver bens suficientes,
a organização poderá ser obrigada a arcar com a totalidade da reparação
dos danos.

Quando a organização responde solidariamente, pode ocorrer dela assu-


mir 100% da responsabilidade, independentemente do seu percentual de
culpa no evento (caso fosse atribuído um percentual de culpa para cada
participante, ela responderia proporcionalmente).

Voltando ao piso molhado do exemplo de nossa padaria, não adianta ela


alegar que o ato ilícito foi cometido por uma empresa terceirizada, pois a
organização responderá solidariamente.

Esta situação pode ser encontrada no mercado de seguros, no qual, em caso


de demanda judicial do segurado contra o corretor de seguros, a parte que
representa o segurado procurará trazer a seguradora para a disputa judicial,
fazendo com que ela, que normalmente tem porte financeiro maior que o
corretor de seguros, seja solidária na ação judicial com o corretor de seguros.

—— Riscos que Causam as Perdas


No bloco responsabilidade civil, o risco que causa perdas é cometer ato ilíci-
to, sendo que conforme artigo 186 do Código Civil Brasileiro, comete ato ilíci-
to “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral”.

Algumas considerações sobre o artigo 186:

■■ A caracterização da ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência pode ser exemplificada da seguinte maneira:
»» Ação, ou seja, fazer alguma coisa, que no caso de nossa padaria
pode ser vender um produto ou guardar o carro de um cliente.
»» Omissão voluntária, ou seja, deixar de fazer alguma coisa. Na
nossa padaria, poderia se deixar de fazer a manutenção do
seu letreiro, fazendo com que ele se desprendesse e caísse
sobre um transeunte, causando danos ao mesmo.
»» Negligência, ou seja, deixar de adotar os procedimentos ade-
quados. No caso de nossa padaria, seria a negligência de não
secar o chão ou colocar placas de chão úmido, como já discu-
tido anteriormente.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 45
UNIDADE 3

»» Imprudência, ou seja, deixar de agir prudentemente, como, por


exemplo, colocar mercadorias na prateleira com altura excessi-
va na nossa padaria, e quando o cliente for retirar uma merca-
doria que ele deseja comprar, o lote vir abaixo e causar danos
ao cliente.
■■ Outro ponto importantíssimo desta definição é que se deve “cau-
sar dano a outrem”. Portanto, se não houver dano a outrem, não
existe ato ilícito, não existe necessidade de reparação, e, em últi-
ma análise, não existe responsabilidade civil da organização. Em
outras palavras, o “dano” é o elemento caracterizador mais impor-
tante da responsabilidade civil. A organização pode ter “ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência”, mas se não ocor-
rer “dano”, não se fala em responsabilidade civil.
■■ O dano pode ser “exclusivamente moral”, ou seja, não é neces-
sário que se tenha a ocorrência concomitante de dano material
ou dano pessoal. Esta situação remete ao “assédio moral”, onde
a “ação de assédio moral, viola o direito do funcionário, causando
danos a ele” e caracterizando ato ilícito com a consequente obri-
gação da reparação do dano, até o limite dos bens da organização.
Utilizando o exemplo da padaria, suponhamos que o gerente asse-
dia um funcionário da cozinha pedindo mais produção e fazendo
comentários desrespeitosos sobre seu trabalho em público. Embo-
ra a organização não esteja diretamente envolvida neste evento,
ela é responsável civilmente pela conduta dos seus funcionários,
conforme veremos no próximo tópico.

Danos causados por outras pessoas


O Código Civil Brasileiro gera responsabilidade civil para pessoas físicas e
pessoas jurídicas, não somente pelos atos por elas cometidos, mas também
por atos praticados por outras pessoas conforme artigo abaixo transcrito:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em
sua companhia;
II – o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e pre-
postos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspe-
des, moradores e educandos;
V – os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime,
até a concorrente quantia.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 46
UNIDADE 3

Portanto, conforme inciso III do artigo 932, a organização é responsável


civilmente pelos atos praticados por seus empregados.

Como exemplo, na cidade de São Paulo tivemos um caso em que o vigia,


durante a discussão com um condômino que era médico, atirou nele e o
matou. O vigia respondeu criminalmente e o condomínio respondeu civil-
mente pelo dano corporal sofrido pelo médico.

Responsabilidade civil extracontratual


A responsabilidade civil contratual é aquela que advém de um contrato
formal celebrado entre as partes, estabelecendo direitos, obrigações e
condições entre as partes contratantes.

A gestão de riscos acidentais trabalha no campo da responsabilidade civil


extracontratual, ou seja, é uma responsabilidade civil que surge em função
de acidentes ou não conformidades dos produtos e serviços.

Responsabilidade civil subjetiva


Quando se analisa os riscos que causam perdas, é necessário que a ges-
tão de riscos acidentais saiba em qual campo da responsabilidade civil se
está atuando, se na responsabilidade civil subjetiva ou na responsabilida-
de civil objetiva.

Na responsabilidade civil subjetiva, para sua caracterização, são necessá-


rios quatro elementos:

1. Ação ou omissão voluntária, negligência, imprudência.


2. Culpa, que se caracteriza em causar o dano de maneira não inten-
cional. Observações Importantes:
2.1. Se não se caracterizar a culpa, não existirá responsabilidade civil.
2.2. Caso o dano seja causado de maneira intencional, ou seja,
com dolo, a responsabilidade, deixa de ser civil para ser tra-
tado no campo da responsabilidade criminal.
2.3. Em situações de extrema negligência, o fato passa a ser tra-
tado como culpa grave (embora não tenha sido intencional,
o ato foi extremamente negligente). A culpa grave tem trata-
mento similar ao dolo (ato intencional). Existem exemplos na
mídia em que a atuação da diretoria da organização foi tão
negligente que mesmo acidentes catastróficos, embora não
tenham sido causados de maneira intencional, passaram a
ser tratados na esfera criminal.
3. Nexo causal, ou seja, existe relação entre a ação ou omissão cul-
posa e o dano produzido.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 47
UNIDADE 3

4. Dano, que é o principal elemento caracterizador da responsabili-


dade civil.
Os exemplos que foram apresentados até agora são exemplos de respon-
sabilidade civil subjetiva, que se aplica à maioria dos casos.

Responsabilidade civil objetiva


A responsabilidade civil objetiva é prevista no parágrafo único do artigo
927 do Código Civil Brasileiro, e diz que “Haverá obrigação de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano impli-
car, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.

Isso implica que, se previsto em lei ou jurisprudência, para caracterização


da responsabilidade civil, prescinde-se do elemento culpa, ou seja, para
caracterização da responsabilidade civil objetiva é necessário:

■■ Ação ou omissão voluntária, negligência, imprudência;


■■ Nexo causal, ou seja, existe relação entre a ação ou omissão cul-
posa e o dano produzido;
■■ Dano, que é o principal elemento caracterizador da responsabili-
dade civil.
Como exemplos de responsabilidade civil objetiva, temos:

Prevista em Lei
O Código de Defesa do Consumidor, que no seu artigo 12 diz que
“O fabricante, o produtor, nacional ou estrangeiro, e o importador
respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmu-
las, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus pro-
dutos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua utilização e riscos.

Prevista em Jurisprudência
Entendimento do Supremo Tribunal de Justiça que reconhece a
Responsabilidade Civil Objetiva dos Hospitais, de acordo com o
artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor.

—— Consequências Financeiras
das Perdas
As consequências financeiras das perdas do bloco responsabilidade civil
podem ser agrupadas em reparação dos danos e custos judiciais.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 48
UNIDADE 3

Reparação de Danos
Os danos podem ser agrupados nos seguintes tipos:

■■ Danos materiais (relacionados a bens materiais de terceiros que


sofreram danos). Exemplo: roubo do carro que estava sob a guarda
da padaria no estacionamento.
■■ Danos imateriais (relacionados à perda de receita, lucros cessan-
tes, etc.). Exemplo: o cliente que sofreu ferimentos em função da
queda das mercadorias da prateleira é motorista de táxi e deixou
de trabalhar enquanto se recuperava.
■■ Danos pessoais (relacionados ao corpo e estética). Exemplo: a
cliente que escorregou no chão úmido teve despesas hospitalares
e ficou com uma cicatriz no rosto.
■■ Danos morais (relacionados a dor, sofrimento, angústia). Exemplo:
a cliente que sofreu revista indevida após soar o alarme de merca-
doria não paga, sofreu constrangimento e sentiu-se envergonhada
na situação vivida perante outros clientes.

Custos de Advogados e Custas Judiciais


Preferencialmente, a reparação de eventuais danos causados a terceiros
deverá ser feita de forma amigável. Como isso nem sempre é possível,
pode ser necessária a contratação de advogados ou utilização do corpo
jurídico próprio da organização, o que representa custo para a organização.

A mensuração da exposição a perdas do bloco responsabilidade civil nem


sempre é fácil e precisa, pois envolve estimar possíveis danos e custos
judiciais a ele associados.

Os passos sugeridos para mensuração da exposição a perdas envolvem:

1. Verificar experiência de organizações similares.


2. Analisar o próprio histórico da organização.
3. Montar cenários simulando situações que gerem danos a tercei-
ros, estimando os custos de reparação e custos judiciais.

—— Identificação e Análise de Riscos


Identificação de Riscos
Já sabemos que os riscos que causam perdas no bloco responsabilidade
civil são os atos ilícitos cometidos que geram danos a terceiros.

Como a quantidade de atos ilícitos que causam danos a outrem é grande,


uma boa técnica é agrupá-los, o que facilita a análise (frequência e severida-
de) e as sugestões das medidas de controle e de financiamento de riscos.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 49
UNIDADE 3

Para exemplificar o processo, vamos novamente utilizar o exemplo da padaria.

Para danos aos clientes, utilizaremos o método HAZOP, montando um flu-


xo operacional para identificarmos as causas de danos ao cliente.

FLUXO 1 – DANOS AOS CLIENTES

(1) CLIENTE ESTACIONA (2) CLIENTE ENTRA (3) CLIENTE COMPRA (4) CLIENTE PAGA (5) CLIENTE RETIRA O
O CARRO NA PADARIA OU CONSOME SEU CONSUMO CARRO
PRODUTOS

Danos aos Acidentes: Produtos Operação e O mesmo que (1).


veículos dos escorregão, Impróprios: segurança do
clientes por roubo, queda de validade vencida, sistema,
furto de peças, prateleira, queda produtos vazamento de
colisão, mal de objetos ou estragados, dados do cliente –
funcionamento da estrutura, produtos Grupo Cyber
cancela, queda de danificar a roupa contaminados –
Risks.
objetos – Grupo (rasgar, manchar), Grupo Produtos.
Guarda de alarme indevido
Veículos. de produto ou
serviço não pago
Assalto, sequestro
– Grupo
relâmpago –
Operações
Segurança do
(existência, uso e
Cliente – Grupo
conservação).
Operações
(existência, uso e Assalto, arrastão,
conservação). agressão por
parte de outro
Acidentes:
cliente ou
escorregão,
funcionário –
queda de objetos,
Segurança do
atropelamento –
Cliente - Grupo
Grupo operações
Operações
(existência, uso e
(existência, uso e
conservação).
conservação).

OBS.: se o cliente vier a pé, não existem os itens (1) e (5).

■■ Danos ao funcionário: assédio moral, assédio sexual, doença ocu-


pacional, acidentes no interior do estabelecimento, segurança físi-
ca do funcionário – Grupo Empregador.
■■ Danos ao transeunte (por exemplo, por queda da marquise) - Gru-
po Operações (existência, uso e conservação).
■■ Danos à vizinhança (por exemplo, incêndio nas instalações da
organização que se propaga para os vizinhos) - Grupo Operações
(existência, uso e conservação).
GERENCIAMENTO DE RISCOS 50
UNIDADE 3

Condensando os artigos 186, 927 e 942 do Código Civil Brasileiro, temos


que os atos ilícitos cometidos por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência que violam o direito e causa dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, obriga a organização a repará-los, sendo que os
bens da organização ficam sujeitos à reparação do dano causado. Utilizan-
do o case padaria, o cometimento de atos ilícitos que geram obrigação de
reparação podem ser agrupados em:

■■ Operações (existência, uso e conservação);


■■ Produtos;
■■ Empregador;
■■ Guarda de Veículos de Terceiros; e
■■ Cyber Risks.
Como colocado na unidade 1, na gestão de Riscos, é necessário conhecer:

1. O processo de gestão de riscos.


2. A organização onde ela será aplicada.
O processo de identificação de riscos utilizado no exemplo da padaria
pode ser aplicado a outras atividades, respeitando suas respectivas par-
ticularidades.

Complementando, existe outra fonte de responsabilidade civil a ser consi-


derada, principalmente nas organizações com capital aberto, que é a res-
ponsabilidade civil dos conselheiros e administradores (no Brasil, é comum
utilizarmos o termo em inglês D&O - Directors and Officers). Trata-se da
responsabilidade civil que é imputada aos conselheiros e administradores
quando no exercício de sua função, e tem origem no artigo 158 da Lei
6.404/76 (Lei das S.A.), conforme descrito a seguir:

“O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que


contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; res-
ponde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:

I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;

II - com violação da lei ou do estatuto.

—— Análise de Riscos
Na Análise de Riscos utilizaremos os critérios de Frequência e Severidade
estudados na unidade 1, cabendo as seguintes observações:

1. Cyber Risks consta no bloco patrimonial e no bloco responsabili-


dade Civil, portanto é um risco que deve ser analisado sob estas
duas óticas.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 51
UNIDADE 3

2. A numeração dos riscos é sequencial (como no bloco patrimonial


a numeração terminou em 16, o bloco responsabilidade civil come-
çará com 17.

RISCO FREQUÊNCIA SEVERIDADE

17. Operações (existência, uso e Média Severa


conservação)

18. Produtos Média Severa

19. Empregador Média Significativa

20. Guarda de Veículos de Terceiros Média Significativa

—— Matriz de Riscos
MATRIZ DE RISCOS

FREQUÊNCIA SEVERIDADE

INSIGNIFICANTE SIGNIFICATIVA SEVERA CATASTRÓFICA

Alta

Média 8, 12, 19, 20 16, 17, 18

Baixa 4, 6, 7, 10, 14, 15 2, 9, 13 1

Remota 3 5, 11

Observação
1. Como pode ser observado, os riscos relacionados ao bloco responsabilidade civil
situam-se na área vermelha e amarela, e, portanto, deverão ser tratados pela gestão
de riscos.
2. O Cyber Risks (risco 16) já foi tratado no bloco patrimonial.

—— Medidas de Controle e
Financiamento de Riscos
A mensuração das consequências financeiras do grupo responsabilidade
civil é baseada em cenários que simulam a reparação dos danos (materiais,
imateriais, pessoais e morais) acrescido dos custos judiciais. Estes cenários
não têm a mesma precisão como as que temos no bloco patrimonial.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 52
UNIDADE 3

Assim, para diminuir esta incerteza, é importante o investimento em medi-


das de controle de riscos, que são fortemente baseadas no comportamen-
to e controle da organização e de seus funcionários, e que, em geral, têm
menos custo do que sistemas de controle de riscos do bloco patrimonial
(estabelecer procedimentos e supervisioná-los é menos oneroso do que
instalar sistema de sprinklers, por exemplo).

De maneira genérica, as medidas de controle de riscos aplicáveis são:

1. Eliminação da exposição
A eliminação da exposição é uma técnica aplicável quando se veri-
fica que as técnicas de tratamento disponíveis não são suficientes
para mitigação do risco. Por exemplo, se o potencial de danos ao
consumidor de um produto comercializado é muito alto, é melhor
deixar de comercializar este produto, eliminando sua exposição a
perdas. O ponto negativo desta técnica é que ela deixa a organi-
zação fora da linha de negócio eliminada. Esta técnica não será
utilizada no case padaria.

2. Prevenção de perdas
Importante para a gestão de riscos acidentais do bloco responsa-
bilidade civil. Normalmente são ligadas a procedimentos de manu-
tenção das instalações e equipamentos e a procedimentos com-
portamentais dos funcionários e da organização.

3. Redução de perdas
Uma vez ocorrido o dano ao terceiro, é importante que a organiza-
ção seja ágil na resolução do problema.

Nas ocorrências que envolvem responsabilidade civil, quanto mais


tempo passar, mais os ânimos do terceiro prejudicado ficam exaltados.

Também devem estar previstos procedimentos a serem adotados


pela organização e pelos funcionários.

4. Transferência contratual
É uma técnica que envolve a transferência da atividade e da res-
ponsabilidade civil que seja gerada por esta atividade. Conforme
já comentado anteriormente, a parte prejudicada possivelmente
invocará responsabilidade solidária da organização. Esta técnica
não será utilizada no case padaria.

Para financiamento de riscos, são aplicáveis:

1. Retenção
É uma técnica aplicável, mas exige que a organização tenha disponibi-
lidade financeira que possa ser mobilizada para a reparação de dano
causado a terceiro. Esta técnica é utilizada em situações específicas.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 53
UNIDADE 3

2. Transferência através de seguros


Normalmente está técnica é conjugada com prevenção de perdas
e redução de perdas.

Especificamente para o Grupo Produtos, vamos analisar o fluxo abaixo


identificando as não conformidades que podem gerar produtos inadequa-
dos com possíveis danos a clientes no case padaria:

(1) RECEBIMENTO DE (3) PREPARAÇÃO DOS (4) ESTOCAGEM DAS (5) MERCADORIAS EM
(2) ARMAZENAGEM DA
MATÉRIA- PRIMA PRODUTOS MERCADORIAS EXPOSIÇÃO
MATÉRIA- PRIMA

Matéria-prima em Armazenagem em Preparação do Estocagem das Mercadorias em


desacordo com condições produto com mercadorias em Exposição em
especificações de inadequadas de validade vencida condições condições
prazo de validade e limpeza, layout e ou em condições inadequadas de inadequadas de
qualidade. temperatura. de limpeza e limpeza, layout e limpeza, layout e
Matéria-prima com higiene temperatura. temperatura.
prazo de validade inadequadas. Mercadorias com Mercadorias com
vencido. prazo de validade prazo de validade
Tempo excessivo vencido. vencido.
de armazenagem,
gerando perda de
validade.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 54
UNIDADE 3

CASE PADARIA – MEDIDAS DE CONTROLE DE RISCOS

RISCO PREVENÇÃO DE PERDAS REDUÇÃO DE PERDAS

17. Operações Programa de manutenção das instala- Estabelecer plano


(existência, uso e ções e máquinas com cronograma e de ação formal a ser
conservação) acompanhamento; seguido em caso de
reclamações de terceiros
Procedimentos escritos dos funcioná- diretamente ao estabe-
rios e treinamento dos mesmos; lecimento ou através de
comentários desfavorá-
Procedimentos de segurança patrimo-
veis em redes sociais.
nial com sistemas de vigilância (física e
guardas) e treinamento dos funcioná- Este plano de ação de-
rios para situações de emergência. verá indicar as pessoas
18. Produtos Controle formal do recebimento das a serem acionadas em
matérias-primas verificando qualidade e caso de reclamação e
prazo de validade. estabelecer parâmetros
de atuação, procurando-
Na armazenagem de matéria-prima, es- -se resolver a situação o
tocagem de produtos e mercadorias em mais rápido possível.
exposição, estabelecer procedimentos
formais, treinar os funcionários e super-
visionar. Controlar o prazo de validade.

Na preparação dos produtos, estabe-


lecer procedimentos de supervisão e
checagem da data de validade, limpeza
e higiene.

19. Empregador Treinamento dos funcionários na segu-


rança patrimonial, processos e atendi-
mento.

Conformidade com as leis trabalhistas,


sindicatos e boas práticas de organiza-
ções similares.

20. Guarda de Veículos Instalação de sistemas de segurança


de Terceiros (câmeras, filmagem da entrada e saída).

Treinamento dos funcionários em segu-


rança patrimonial e atendimento.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 55
UNIDADE 3

RESUMO
A responsabilidade civil surge em função da existência de (1) Leis, (2) Códi-
gos, que reúnem, em uma única lei, normas de um mesmo ramo do direito
e (3) Estatutos, que regulam as relações de certas pessoas que têm em
comum pertencerem a um território ou sociedade, etc.

No Código Civil Brasileiro, temos três artigos que são importantes para
conceituação da Responsabilidade Civil, que são:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva-
mente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independente-


mente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de


outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver
mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os


coautores e as pessoas designadas no art. 932.

Portanto, as dimensões da exposição a perdas do bloco responsabilidade


civil são:

■■ Bens expostos a perdas: os bens expostos a perdas na Responsa-


bilidade civil são os bens da própria organização.
■■ Riscos que causam perdas: são os atos ilícitos cometidos pela
organização e que causam danos a outrem.
■■ Consequências financeiras das perdas: são os custos de repara-
ção dos danos materiais, imateriais, pessoais e morais, e as custas
judiciais envolvidas no processo.
Uma consequência importante destas definições é que se não houver
dano a outrem, não existe ato ilícito, não existe necessidade de reparação,
e, em última análise, não existe responsabilidade civil da organização.

Outro ponto importante é saber se exposição a perdas em análise encon-


tra-se no campo da Responsabilidade Civil Subjetiva ou Objetiva, sendo
que a Responsabilidade Civil Objetiva prescinde do elemento culpa.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 56
UNIDADE 3

Devido à grande quantidade de atos ilícitos que causam danos a outrem,


uma boa técnica para análise dos riscos e sugestão de medidas de mitiga-
ção é agrupá-los, por exemplo: Operações (existência, uso e conservação),
Produtos, Empregador, Guarda de Veículos de Terceiros, Cyber Risks, den-
tre outros.

As medidas de mitigação de riscos aplicáveis no bloco responsabilidade


civil são:

■■ Controle de riscos: eliminação da exposição, prevenção de per-


das, redução de perdas, transferência contratual.
■■ Financiamento de riscos: retenção, transferência através de seguros.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 57
FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS 3
Marque a alternativa correta:

1. O elemento mais importante, sem a(o) qual não se caracteriza responsa-


bilidade civil é:

(a) Dano. (b) Omissão. (c) Culpa.


(d) Dolo. (e) Ação.

2. Na responsabilidade civil, o item sujeito a perdas é (são):

(a) Os bens da própria organização.


(b) O risco moral.
(c) Os bens da organização localizados em outro endereço.
(d) Os vizinhos próximos.
(e) A sociedade em geral.

3. Dano moral é:

(a) O mesmo que risco moral.


(b) Relacionado a lucros cessantes.
(c) Excluído do campo da responsabilidade civil.
(d) Objeto exclusivo da responsabilidade criminal.
(e) Relacionado a dor e angústia.

4. Conforme Código Civil Brasileiro, a responsabilidade civil surge quan-


do por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, viola-se o
direito de outrem, cometendo-se:

(a) Ato danoso. (b) Ato ilícito. (c) Dano pessoal.


(d) Dano imaterial. (e) Ato lícito.

5. Na responsabilidade civil, controle de qualidade é medida de:

(a) Financiamento de riscos.


(b) Transferência de riscos.
(c) Redução de perdas.
(d) Prevenção de perdas.
(e) Evitar as perdas.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 58
GESTÃO de
RISCOS
ACIDENTAIS –
04
PESSOAS E RECEITA LÍQUIDA

Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
DESTA UNIDADE
■■ Conhecer as três ■■ Conhecer os princípios da
dimensões do gestão de riscos pessoa GESTÃO DE RISCOS
bloco pessoas e as física. ACIDENTAIS – PESSOAS
medidas de controle e
financiamento de riscos. GESTÃO DE RISCOS
ACIDENTAIS – RECEITA LÍQUIDA
■■ Conhecer as três
dimensões do bloco GESTÃO DE RISCOS
receita líquida e as DA PESSOA FÍSICA
medidas de controle e
RESUMO
financiamento de riscos.
FIXANDO CONCEITOS 4

GERENCIAMENTO DE RISCOS 59
GESTÃO DE RISCOS
ACIDENTAIS – PESSOAS
A gestão de riscos acidentais – bloco pessoas foca nas pessoas-chave da
organização e no impacto que sua ausência temporária ou permanente
causa nos objetivos da organização.

Na relação abaixo, temos exemplos do que são consideradas p ­ essoas-chave,


cuja falta pode prejudicar a organização em atingir seus objetivos:

■■ Um artista popular, que em função de doença, acidente ou morte,


teve vários eventos programados cancelados.
■■ Equipe de vendas de produto de nicho que sofre acidente aéreo,
causando a morte dos especialistas no produto.
■■ Equipe de projeto de novo produto a ser lançado que pede demis-
são, transferindo-se para organização concorrente.
■■ Representante com grande credibilidade de uma instituição filan-
trópica que morre pouco antes do início da campanha de arreca-
dação de fundos.
■■ No case de nossa padaria, temos o chefe da cozinha que é res-
ponsável pela alta qualidade dos produtos comercializados.
Nos dias de hoje, as organizações estão cada vez menos dependentes
de pessoas-chave. A própria organização tem estruturas administrativas e
organizacionais que mitigam o risco da perda de pessoas-chave.

O bloco Pessoas-chave, será analisado através das três dimensões:

Dimensão 1: itens expostos a perdas


Dimensão 2: Riscos que causam perdas
Dimensão 3: Consequências financeiras das perdas

GERENCIAMENTO DE RISCOS 60
UNIDADE 4

—— Itens Expostos a Perdas


Todas pessoas na organização possuem valor, pois, em tese, a contribui-
ção delas nos objetivos da organização (receita, se for uma organização
com fins lucrativos) é maior que gastos que se tem com ela (salários e
despesas indiretas, se for organização com fins lucrativos).

Para simplificar o entendimento, vamos considerar uma organização com


fins lucrativos. A contribuição dos proprietários, diretores, gerentes e fun-
cionários em geral é superior ao valor por eles recebidos.

Então, qual o critério para se definir quem são as pessoas-chave?

A identificação da pessoa-chave passa pela resposta a duas perguntas:

1. O que pode ser feito se a pessoa repentinamente não está mais


disponível para a organização?
2. Qual o efeito da indisponibilidade desta pessoa para que a organi-
zação atinja seus objetivos?
A primeira pergunta determina como e quando a pessoa pode ser reposta.
As respostas possíveis são: movimentação interna, contratação externa, eli-
minação da posição ou distribuição do trabalho entre outros funcionários.

A segunda questão indica a perda de eficiência da organização em atingir


seus Objetivos.

Dificuldade na reposição e perda de eficiência em atingir os objetivos são


indicativos de que se trata de uma pessoa-chave, a qual deverá ser objeto
de maior atenção da organização.

—— Riscos que Causam Perdas


Os riscos que causam perdas de pessoas-chave são:

■■ Morte, de causas naturais, doença ou acidentes.


■■ Invalidez para o trabalho, por doença ou por acidente, podendo
ser temporária ou permanente. Na invalidez, a severidade da per-
da tende a ser inversamente proporcional à frequência, ou seja,
perdas severas ocorrem com menos frequência, e perdas leves
ocorrem com mais frequência.
■■ Aposentadoria, cujo afastamento tende a ser melhor planejado
pela organização.
■■ Pedido de dispensa, em que o funcionário, por sua iniciativa, deci-
de deixar de colaborar com a organização.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 61
UNIDADE 4

—— Consequências Financeiras das Perdas


As consequências financeiras estão relacionadas às dificuldades em se atingir
os objetivos e as despesas adicionais necessárias para repor a pessoa-chave.

Usando o case padaria, o pedido de dispensa do chefe para trabalhar em


organização concorrente acarretará perda de lucro (pela percepção dos
clientes da perda de qualidade dos produtos e migração para o concorren-
te) e despesas adicionais para contratação de novo chefe (possivelmente
com salário superior ao do anterior).

—— Medidas de Controle e
Financiamento de Riscos
Na gestão de riscos acidentais – bloco pessoas, são aplicáveis:

Controle de riscos
■■ Prevenção de perdas: salário compatível ou acima da média de
mercado, programa de benefícios agressivo (incluindo seguro saú-
de, seguro de vida e previdência privada). No case padaria, partici-
pação nas vendas dos produtos.
■■ Redução de perdas: reduzir o período de substituição, mantendo
contato prévio com profissionais que possam substituir a pessoa-
-chave.
■■ Segregação por duplicação: implantar programa de treinamento
de outros funcionários na função. No case padaria, treinar cozi-
nheiros que sejam capacitados para assumir a função.

Financiamento de riscos
■■ Retenção: até a reposição da pessoa-chave, o risco deverá ser
temporariamente retido pela organização.

GESTÃO DE RISCOS
ACIDENTAIS – RECEITA LÍQUIDA
O bloco gestão de riscos acidentais - Receita Líquida, também será anali-
sado através das três dimensões: dimensão 1 – itens expostos a perdas;
dimensão 2 – riscos que causam as perdas; dimensão 3 – consequências
financeiras. A receita Líquida é baseada no orçamento da organização e é
calculada pela fórmula:

GERENCIAMENTO DE RISCOS 62
UNIDADE 4

Receita líquida = receitas orçadas - despesas orçadas

Portanto, a perda de receita líquida pode ocorrer pela queda de receitas,


aumento das despesas, ou ambos.

—— Item Exposto a Perda


No bloco receita líquida, o item exposto a perda é a própria receita líquida
orçada.

—— Riscos que Causam Perdas


Na gestão de riscos acidentais, a perda de receita líquida (diminuição das
receitas orçadas ou aumento das despesas orçadas) é um dano emergen-
te, ou seja, emerge após a ocorrência de um dano acidental.

Danos ao patrimônio
O acidente de um bem tangível, além de causar a perda do seu
valor, impedirá que ele execute a função para o qual foi projetado,
podendo provocar perda de receita e aumento das despesas. Uti-
lizando o case padaria, vamos supor que ocorra explosão dos for-
nos a gás. Além dos danos materiais causados aos fornos, haverá
paralisação da produção e consequente redução na venda de pro-
dutos, gerando perda de receita. Para retornar o mais rapidamente
possível à produção, uma vez que a compra de um novo forno
sob encomenda tem prazo de dois meses, poderão ser alugados
fornos similares ou alugar instalações em concorrente para suprir
a produção, gerando aumento das despesas.

Outro fato importante é que a receita líquida independe do valor


do patrimônio danificado. Suponha que numa indústria química
exista um painel de controle feito sob encomenda que controla
o processo químico. Um dano elétrico neste equipamento pode
paralisar o processo industrial, gerando grande perda de receita
líquida (embora o valor do painel seja pequeno, sua inoperância
gerará perda elevada de receita líquida).

Na receita líquida, também deve ser considerada sua interdepen-


dência com outras Organizações. Segundo os resseguradores
internacionais, temos dois novos riscos importantes e que são (1)
Cyber Risks (já estudado no curso) e (2) lucros cessantes contin-
gentes. Este último está associado à perda de receita líquida da
organização decorrente de acidentes em outras organizações
(fornecedores ou compradores). No ano de 2011, o terremoto

GERENCIAMENTO DE RISCOS 63
UNIDADE 4

seguido de tsunami no Japão destruiu empresas que forneciam


componentes para suas subsidiárias. Com a destruição das fábri-
cas no Japão, empresas ao redor do mundo (inclusive no Brasil)
diminuíram sua produção, prejudicando sua receita líquida. Tam-
bém podemos ter a situação de um comprador para os produtos
de uma indústria. Por exemplo, uma indústria de gases se localiza
estrategicamente ao lado de petroquímica, fornecendo gases por
tubulação exclusivamente para esta indústria. Em caso de paralisa-
ção da petroquímica por acidente, os gases não serão comprados,
gerando perda de receita líquida para a fábrica de gases.

Responsabilidade Civil
Caso seja imputada responsabilidade civil à organização, haverá
aumento de despesas pela necessidade de reparar os danos cau-
sados a terceiros, acrescidos dos custos judiciais.

Também deve ser considerada a possibilidade de que, em função


da responsabilidade civil imputada, pode haver danos à imagem
da organização, com consequente diminuição dos seus negócios
e, portanto, diminuição de sua receita.

Perda de pessoa-chave
Poderá ocorrer a perda de receita atribuída à pessoa-chave e
aumento das despesas para contratação de nova pessoa-chave
(quer seja pelo custo maior da nova pessoa-chave, quer seja pelos
custos da seleção desta).

—— Consequências Financeiras das Perdas


A Consequência Financeira da perda de Receita Líquida vai depender do
conjunto dos seguintes fatores:

Duração da paralisação/evento
Quanto maior o período de paralisação/evento, maior será a perda
de receita e aumento de despesas.

Grau da paralisação/evento, se parcial ou total


Quanto maior o grau de paralisação ou evento, maior será a perda
de receita e aumento de despesas.

Redução das receitas x receitas orçadas


A diminuição das receitas em relação ao orçado causa perda da
receita líquida.

Aumento das despesas x despesas orçadas


O aumento das despesas em relação ao orçado causa perda de
receita líquida.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 64
UNIDADE 4

—— Medidas de Controle de Riscos


e Financiamento de Riscos
As medidas de controle de riscos aplicáveis são:

Prevenção de perdas
As medidas de prevenção de perdas do grupo receita líquida são
as medidas de prevenção a perdas do grupo de origem. Por exem-
plo, para receita líquida decorrente de danos ao patrimônio, valem
as medidas de prevenção de perdas do bloco patrimônio. Assim
também para responsabilidade civil e perda de pessoa-chave.

Redução de perdas
Para redução de perdas do bloco receita líquida é primordial que
exista um plano de contingência.

Em primeiro lugar, é importante que haja uma diferenciação do que


é plano de emergência e do que é plano de contingência.

Plano de emergência estabelece as medidas a serem tomadas


quando da ocorrência do evento. Por exemplo, no plano de emer-
gência da padaria para caso de incêndio, deverá ser garantida a
rota de fuga dos clientes e funcionários através de rotas demarca-
das, acionamento da brigada de incêndio para orientar e organizar
a evacuação, acionar os bombeiros, desligar a energia elétrica, for-
necer o primeiro combate através da brigada própria. Já o plano
de contingência é acionado após a emergência, estabelecendo
ações e procedimentos que visem minimizar a perda de receita
e/ou o aumento de despesas, com medidas que restabeleçam a
operação da organização o mais rápido possível, quer seja no pró-
prio local, quer seja em outro local.

GESTÃO DE RISCOS
DA PESSOA FÍSICA
O processo de gestão de riscos acidentais estudado até agora aplica-se a
organizações em geral. Neste bloco, será analisado a gestão de riscos aci-
dentais da Pessoa Física. Este bloco também será analisado nas 3 dimen-
sões: Dimensão 1 – itens expostos a perdas; Dimensão 2 – Riscos que
causam as perdas; Dimensão 3 – consequências financeiras.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 65
UNIDADE 4

—— Itens Expostos a Perda


Os itens expostos a perda são, dentre outros, a vida da pessoa física, sua
saúde, seu emprego e a educação dos seus dependentes.

—— Riscos que Causam Perdas


As pessoas físicas também são sujeitas à exposição a perdas por morte, inva-
lidez, aposentadoria ou desemprego. Estas perdas podem, pelo menos con-
ceitualmente, serem classificadas em perdas previstas, perdas normais e
perdas imprevistas.

Perdas previstas: As perdas financeiras decorrentes de aposentadoria


são perdas previstas.

Perdas imprevistas: As perdas imprevistas por morte, invalidez grave,


períodos prolongados e involuntários de desemprego, ou mesmo uma
aposentadoria não programada por doença ou acidente constituem per-
das que requerem planejamento especial e proteção financeira.

São consideradas perdas normais as doenças sem gravidade (resfriado,


indisposição intestinal, etc.) e a perda de receita no período compreendido
entre a mudança de emprego. As perdas financeiras decorrentes de apo-
sentadoria são perdas previstas. As perdas imprevistas por morte, invalidez
grave, períodos prolongados e involuntários de desemprego, ou mesmo uma
aposentadoria não programada por doença ou acidente constituem perdas
que requerem planejamento especial e proteção financeira.

—— Consequências Financeiras das Perdas


Os métodos de mensuração das consequências financeiras para pessoas
físicas tiveram origem nos anos 1900, anteriores, portanto, aos conceitos
de gestão de riscos propriamente ditos. As consequências financeiras
podem ser medidas através de dois caminhos:

Valor das necessidades


Estima as receitas extras ou recursos financeiros necessários após
a morte, invalidez, desemprego ou aposentadoria.

Valor da vida humana


Foca na receita ou serviços gerados pela pessoa física.

Na gestão de riscos acidentais – bloco receita líquida, a perda ocorre pela


diminuição da receita orçada e/ou aumento das despesas orçadas. O mes-
mo raciocínio se aplica para pessoa física, cujas despesas podem diminuir
e/ou aumentar em função dos eventos.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 66
UNIDADE 4

—— Morte
No evento morte devem ser analisados dois aspectos: (1) a receita líquida
que era obtida pelo falecido e (2) os serviços que eram providos pelo fale-
cido (limpeza, manutenção, cuidador dos pais ou outros familiares incapa-
citados, aconselhamento, etc.).

Método do Valor das Necessidades


Devem ser analisados dois propósitos: (1) a receita que o falecido iria auferir
e (2) o valor de contratação dos serviços que eram prestados pelo falecido.

Também deve ser observado que o valor das necessidades costuma


aumentar até determinado ponto da vida da Pessoa Física, normalmente a
formatura dos filhos, e tendem a diminuir a partir deste ponto. Obviamente,
o valor das necessidades depende de análise particularizada do contexto
em que a Pessoa Física está inserida.

Método do Valor da Vida Humana


Neste método, assume-se que a pessoa faleça imediatamente e, então, é
projetado o ganho que esta pessoa teria se tivesse vivido sua expectativa
de vida normal, de acordo com uma tabela de mortalidade apropriada. Esta
receita ganha ao longo do tempo é então trazida para Valor Presente. Ou
seja, o valor do fundo constituído hoje é equivalente ao que seria ganho
pela Pessoa Física ao longo de sua vida esperada.

Neste método, o valor da vida humana varia ao longo do tempo. Na infân-


cia, este valor é muito pequeno (talvez até negativo), aumentando ao longo
do tempo e chegando ao seu pico na meia idade da pessoa física. Ao che-
gar perto da aposentadoria, o valor diminui, pois embora possivelmente
ela esteja no pico de ganhos, eles não serão mantidos na aposentadoria.

—— Aposentadoria
Apesar da aposentadoria ser um evento normalmente planejado, a queda
de receita nesta nova fase é acompanhada da possibilidade de emergên-
cias financeiras, principalmente relacionadas com despesas médicas.

Considerando a realidade atual das dificuldades da Previdência Social e


do Sistema de Saúde Público, é importante que o planejamento da apo-
sentadoria conte com a participação de um Plano de Previdência Privada,
que pode ser aberta (aos consumidores em geral) ou fechada (fornecida
para grupos de funcionários de determinada organização).

GERENCIAMENTO DE RISCOS 67
UNIDADE 4

—— Invalidez
A invalidez pode ser temporária ou permanente, parcial ou total. Qualquer
que seja a situação, ela é inesperada e pode ter consequências financeiras
muito graves, em função de:

■■ As despesas decorrentes da invalidez se adicionam às despesas


que existiam antes do evento. Então, é necessário receita superior
àquela que seria preciso se a pessoa com invalidez tivesse faleci-
do.
■■ As despesas médicas com uma pessoa inválida podem atingir
valores muito altos.
■■ A duração da invalidez é um fator importante na medição das con-
sequências financeiras. Quanto maior o tempo da invalidez, que
pode chegar a ser permanente, maior serão as consequências
financeiras.

—— Desemprego
A análise do desemprego é similar à análise da Invalidez, com os atenuan-
tes de que não existe a complicação decorrente de altas despesas médi-
cas e o período de desemprego é mais previsível.

O ponto negativo do desemprego é que não existem coberturas securitá-


rias para este evento, como no caso de morte, aposentadoria e invalidez.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 68
FIXANDO CONCEITOS

RESUMO
Neste capítulo abordamos o bloco pessoas e o bloco receita líquida (de
forma resumida), o processo de gestão de riscos e fizemos uma comple-
mentação sobre gestão de riscos da pessoa física.

O bloco pessoas foca nas pessoas-chave da organização e no impacto


que sua ausência temporária ou permanente causa nos objetivos da orga-
nização.

Nos dias de hoje, as organizações estão cada vez menos dependentes de


pessoas-chave.

O item exposto a perdas no bloco pessoas-chave é a contribuição delas


para os objetivos da organização. Os riscos são morte, invalidez para o tra-
balho, aposentadoria e pedido de dispensa. As consequências financeiras
estão relacionadas às dificuldades em se atingir os objetivos e as despe-
sas adicionais necessárias para repor a pessoa-chave.

O bloco receita líquida é baseado no orçamento da organização e é calcu-


lado pela fórmula:

Receita líquida = receitas orçadas - despesas orçadas

O item exposto a perda do bloco receita líquida é a própria receita líquida


orçada. Os riscos que causam perdas são decorrentes de danos ao patri-
mônio, responsabilidade civil e perda de pessoa-chave. A consequência
financeira, que é a diminuição de receita ou aumento de despesas depen-
de da duração da paralisação/evento, grau da paralisação/evento, se par-
cial ou total, redução das receitas x receitas orçadas e aumento das des-
pesas x despesas orçadas.

Como complemento ao curso, apresentamos nesta unidade a gestão de


riscos da pessoa física, os quais são: exposições a perdas por morte, inva-
lidez, aposentadoria ou desemprego. Estas perdas podem, pelo menos
conceitualmente, ser classificadas em perdas previstas, perdas normais
e perdas imprevistas. As consequências financeiras podem ser medidas
através de dois caminhos: valor das necessidades e valor da vida humana.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 69
FIXANDO CONCEITOS

FIXANDO CONCEITOS 4

Nas questões abaixo, marque a alternativa correta:


1. No Bloco Pessoas, a dificuldade na reposição de alguém e a conse-
quente perda de eficiência em atingir os objetivos são indicativos de que
se trata de um(a):

(a) Diretor.
(b) Gerente.
(c) Pessoa-chave
(d) Técnico especializado.
(e) Funcionário com alto salário.

2. No bloco receita líquida, a perda pode ocorrer pelo:

(a) Aumento das receitas, mantendo as despesas estáveis.


(b) Incremento das despesas, mantendo as receitas estáveis.
(c) Falência dos concorrentes.
(d) Aumento das receitas maior que o aumento das despesas.
(e) Diminuição das despesas maior que aumento das receitas.

3. Lucros cessantes é um exemplo de perda do bloco:

(a) Patrimônio.
(b) Receita líquida.
(c) Responsabilidade civil.
(d) Pessoas.
(e) Receita bruta.

4. Na gestão de riscos de pessoas físicas, invalidez permanente é uma


perda:

(a) Normal.
(b) Prevista.
(c) Aleatória.
(d) Imprevista.
(e) Tabulada.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 70
GESTÃO de
05
PROCESSO de
RISCOS ACIDENTAIS

Após ler esta unidade, você deverá ser capaz de: TÓPICOS
DESTA UNIDADE
■■ Aplicar os cinco passos da
gestão de riscos. PASSO 1 – IDENTIFICAÇÃO E
ANÁLISE DAS EXPOSIÇÕES
A PERDAS

PASSO 2 – EXAME DAS TÉCNICAS


DE GESTÃO DE RISCOS
ACIDENTAIS DISPONÍVEIS

PASSO 3 – SELEÇÃO DO MELHOR


CONJUNTO DE TÉCNICAS

PASSO 4 – IMPLANTAÇÃO
DAS TÉCNICAS ESCOLHIDAS

PASSO 5 – MONITORAMENTO E
MELHORIA DO PROGRAMA DE
GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS

RESUMO

FIXANDO CONCEITOS 5

GERENCIAMENTO DE RISCOS 71
A gestão de riscos acidentais é um processo composto de cinco passos,
baseado nos preceitos da ISO 31000 e adaptado para riscos acidentais.

PASSO 1 – IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE


DAS EXPOSIÇÕES A PERDAS
Esta atividade já foi explorada nas unidades 2, 3 e 4.

Resumidamente,

■■ Para identificação, as exposições a perdas acidentais são agrupa-


das nos blocos patrimonial, responsabilidade civil, pessoas-chave ,
receita líquida e Pessoa Física. Cada bloco é analisado através de
três dimensões: itens expostos a perdas, riscos que causam
estas perdas, consequências financeiras das perdas.
■■ Para análise, os riscos identificados são classificados por frequên-
cia e severidade.
■■ O resultado do passo 1 – identificação e análise das exposições a
perdas podem ser condensados na matriz de riscos.

MATRIZ DE RISCOS

FREQUÊNCIA SEVERIDADE

Insignificante Significativa Severa Catastrófica

Alta

Média

Baixa

Remota

GERENCIAMENTO DE RISCOS 72
UNIDADE 5

PASSO 2 – EXAME DAS TÉCNICAS


DE GESTÃO DE RISCOS
ACIDENTAIS DISPONÍVEIS
Nas unidades 2, 3 e 4 conhecemos algumas técnicas disponíveis com apli-
cação no case padaria.

De maneira ampla e genérica, as técnicas disponíveis são classificadas em:

1. Técnicas de controle de riscos, cujo princípio é reduzir a frequên-


cia e/ou severidade.
2. Técnicas de financiamento de riscos, cujo princípio é que alguém
pague a perda (este alguém pode ser a própria organização quan-
do é utilizada a técnica de Retenção, que será vista neste capítulo).

—— Técnicas de controle de riscos


As técnicas de controle de riscos disponíveis para reduzir a frequência e/
ou severidade são:

■■ Evitar a exposição: significa eliminar a frequência e severida-


de. Sua aplicação é restrita a alguns casos específicos, como por
exemplo mudar para um local mais alto para evitar o risco de ala-
gamento/ inundação, deixar de produzir um produto para evitar o
risco de causar danos a terceiros. Como regra geral, ao se evitar
a exposição, a organização fica fora daquela linha de negócio ou
produto. Esta técnica não deve ser confundida com prevenção de
perdas ou redução de perdas, pois evitar a exposição significa eli-
minar a frequência e a severidade.
■■ Prevenção de perdas: técnica muito utilizada na gestão de riscos
acidentais que consiste em medidas que reduzam a frequência
das perdas.
■■ Redução de perdas: técnica também muito utilizada conjunta-
mente com a prevenção de perdas, em que se busca diminuir a
severidade da perda. Na prevenção de perdas procura-se evitar
que aconteça. Se acontecer, a prevenção de perdas reduz a seve-
ridade. Exemplificando, no evento Incêndio, manutenção elétrica
de equipamentos e procedimentos de segurança são medidas de
prevenção de perdas (evitam que aconteça, ou seja, diminuem a
frequência); enquanto hidrantes e sprinklers são medidas de con-
trole de perdas (se acontecer, controlam a severidade).

GERENCIAMENTO DE RISCOS 73
UNIDADE 5

■■ Segregação da exposição por separação: busca reduzir o


impacto de uma perda, diminuindo a concentração de exposição a
perda. Por exemplo, utilizando dois armazéns isolados ao invés de
concentrar todas mercadorias num único local; no caso de viagens
aéreas, separar o grupo de executivos da mesma empresa em dois
ou mais voos separados.
■■ Segregação da exposição por duplicação: muito usado em
assuntos que envolvam informática, existindo um site reserva que
pode ser utilizado caso ocorra algum problema no site principal.
Esta técnica é utilizada em situações específicas, pois existe o cus-
to da manutenção da função duplicada (no caso da informática,
manutenção do site reserva que só será utilizado em caso de pro-
blema com o site principal).
■■ Transferência contratual do controle de riscos: a responsa-
bilidade do controle de riscos é transferida contratualmente. Por
exemplo, na terceirização de um serviço pela organização, o con-
trato entre as partes prevê que as medidas de controle de riscos
deverão ser assumidas pela parte terceirizada.

—— Técnicas de Financiamento
de Riscos
As técnicas de financiamento de riscos, nas quais alguém paga a perda,
são divididas em retenção e transferência.

Retenção, em que a perda é paga pela própria organização, nas seguintes


situações:

■■ A organização assume as perdas como despesas correntes;


■■ A organização cria uma reserva (contábil) sem fundos financeiros;
■■ A organização cria uma reserva (contábil) com fundos financeiros;
■■ Cria-se uma linha de crédito a ser utilizada em caso de perdas;
■■ Utiliza-se de seguradora cativa, que é classificada como retenção,
pois a seguradora cativa é uma empresa que pertence ao mesmo
grupo econômico da organização.
Transferência contratual, em que a perda é paga por outra organização:

■■ Transferência contratual de financiamento de riscos, em que a


outra parte se obriga ao pagamento de perdas no caso de ocorrên-
cia de algum evento. Por exemplo, existem derivativos relacionados
ao tempo meteorológico. Nas plantações de arroz na Tailândia, é
desejável que o índice pluviométrico se situe entre um mínimo e um
máximo. Abaixo do mínimo e acima do máximo a plantação será pre-

GERENCIAMENTO DE RISCOS 74
UNIDADE 5

judicada. Caso isso ocorra, é feito pagamento ao agricultor (observe


que é diferente do seguro agrícola, em que seria necessário medir a
quebra da safra para cálculo da indenização).
■■ Seguros
Importante perceber que o seguro é uma das técnicas de financiamento
de riscos por transferência. O seguro surgiu antes da gestão de riscos
se tornar um processo estruturado e pode ser utilizado como uma das
técnicas de financiamento de riscos (transferência), o que não diminui
sua importância.

PASSO 3 – SELEÇÃO DO MELHOR


CONJUNTO DE TÉCNICAS
Tendo verificado quais técnicas de controle de riscos e financiamento de
riscos são aplicáveis, no passo 3, seleciona-se o conjunto de técnicas a
serem aplicadas.

Lembrando que os recursos financeiros da gestão de riscos acidentais


são limitados, deverá ser escolhido o conjunto de técnicas que propicie o
melhor retorno.

Normalmente são utilizados critérios financeiros, montando cenários, esti-


mando as perdas e os custos envolvidos nas técnicas de controle e finan-
ciamento de riscos. Eventualmente, podem ser utilizados critérios relacio-
nados à experiência anterior e preferências dos tomadores de decisão da
organização.

PASSO 4 – IMPLANTAÇÃO
DAS TÉCNICAS ESCOLHIDAS
É uma atividade interna da organização que envolve decisões técnicas e
decisões gerenciais, pois existe necessidade da disseminação da cultura
da gestão de riscos dentro da organização. A implantação das medidas
sem o envolvimento da organização como um todo pode gerar resultados
insatisfatórios da gestão de riscos.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 75
UNIDADE 5

PASSO 5 – MONITORAMENTO E
MELHORIA DO PROGRAMA DE
GESTÃO DE RISCOS ACIDENTAIS
Neste passo é necessário:

■■ Garantir que o programa tenha sido corretamente implantado;


■■ Detectar alguma mudança no ambiente e implantar alterações, se
necessário;
■■ Implantar medidas de resultado e medidas de atividades da ges-
tão de riscos acidentais.

—— Aplicações
Para melhor conhecimento e aplicação das técnicas de controle de riscos,
vamos verificar alguns exemplos de emprego nos grupos: patrimonial, res-
ponsabilidade civil, pessoas-chave, receita líquida e Pessoa Física.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 76
UNIDADE 5

SUGESTÃO DE CHECK LIST – CONTROLE E FINANCIAMENTO DE RISCOS ACIDENTAIS

(INDÚSTRIA, COMÉRCIO, PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, RESIDENCIAL, PESSOA FÍSICA)

BLOCO

PATRIMÔNIO RESPONSABILIDADE PESSOAS RECEITA LÍQUIDA PESSOA


CIVIL FÍSICA

Aplicação restrita Nos casos de frequên- Não aplicável Mesmas conside- Não aplicável
para riscos com fre- cia e severidade eleva- rações do bloco
quência e severidade dos, cessar a atividade patrimônio e respon-
EXPOSIÇÃO
EVITAR A

elevados, como, por de risco ou deixar de sabilidade civil


exemplo, no caso de comercializar o produto
alagamento/inunda-
ção, mudar a organi-
zação para local mais
elevado

Medidas que visam Medidas que visam di- Programas Mesmas conside- Manter boa
diminuir a frequência minuir a frequência de que estimulem rações do bloco patri- qualidade de
de ocorrência, como, ocorrência, como, por vida saudável, mônio, responsabili- vida,
PREVENÇÃO DE PERDAS

por exemplo, no exemplo, treinamento condições dade civil e pessoas


incêndio, implantar dos funcionários, proce- adequadas de acompa-
CONTROLE DE RISCOS

programa de manu- dimentos definidos e trabalho nhamento


tenção, procedimen- supervisionados, con- periódico e
tos de segurança trole de qualidade, etc. preventivo da
(desligar a energia saúde
elétrica nos períodos
Evitar com-
de inatividade, etc.);
portamento
no roubo, instalar
de risco
grade, segurança
patrimonial, etc.

Tendo ocorrido o Na responsabilidade Providenciar Possuir plano de Redução das


evento, são medi- civil, tendo ocorrido o rápida recu- contingência pre- despesas
das que minimizem evento, são necessárias peração ou viamente definido mantendo
REDUÇÃO DE PERDAS

a severidade. Por medidas rápidas para reposição da e aprovado. Por compatibili-


exemplo, em um minimizar o desconforto pessoa chave exemplo, em caso dade com os
incêndio, a instala- do terceiro prejudicado afetada de ataques ciberné- ganhos.
ção de sistemas de e, se for o caso, fazer ticos, procedimentos
extintores, hidran- reparação pecuniária de comunicação ao Possuir
tes, sprinklers; no rapidamente e sem público e autorida- fontes alter-
roubo, vigilância para muitas discussões des, acionamento nativas de
evitar novos eventos de equipamentos receita
enquanto a organi- duplicados, etc.
zação não repõe a
segurança;

GERENCIAMENTO DE RISCOS 77
FIXANDO CONCEITOS

Aplicável quando se Não aplicável Evitar o acúmu- Mesmas conside- Não aplicável
pretende diminuir a lo de exposi- rações do bloco patri-
SEGREGAÇÃO DAS
EXPOSIÇÕES POR
SEPARAÇÃO severidade através ções, como, por mônio e pessoas
de separação. Por exemplo, em
exemplo, no incêndio, caso de viagem
utilizar dois depósitos de negócios, di-
ao invés de um; insta- vidir a diretoria
lar parede corta fogo em vários voos
para isolar partes de
CONTROLE DE RISCOS

um depósito

Aplicável principal- Aplicável, principalmen- Desenvolver Mesmas medidas dos Não aplicável
SEGREGAÇÃO DAS
EXPOSIÇÕES POR

mente nos sistemas te no cyber risks, em e manter back blocos patrimônio,


DUPLICAÇÃO

de informática, onde que um sistema de in- ups das pes- responsabilidade civil
um sistema reserva formática reserva pode soas-chave. e pessoas
pode ser acionado ser acionado em caso
em caso de proble- de ataque ao sistema
mas do site principal. principal

Aplicável em contra- Aplicável em contratos Não aplicável Mesma aplicação dos Não aplicável
TRANSFERÊNCIA

tos de terceirização, de terceirização, em blocos patrimônio e


CONTRATUAL

em que os bens que a responsabilidade responsabilidade civil


disponibilizados para civil gerada pela produ-
a produção dos bens ção de bens e serviços
e serviços serão de serão assumidos pelos
terceiros terceiros

Pequenas perdas Reparações de valor Perdas de Mesmas conside- Pequena perda


DESPESAS CORRENTES

patrimoniais absorvi- pequeno a terceiros, pequeno rações dos blocos de receita ou


das pela organização, como, por exemplo, valor e curto patrimônio, respon- aumento de
como, por exemplo, roupa danificada na período de sabilidade civil e despesas em
queima de motores atividade de uma lavan- tempo, como, pessoas. função de
de pequeno porte deria por exemplo, eventos tem-
afastamento porários, como,
temporário por por exemplo,
resfriado desarranjo
intestinal
FINANCIAMENTO

RETENÇÃO

Idem despesas cor- Idem despesas corren- Idem despesas Idem despesas cor- Idem despe-
rentes, mas consti- tes, mas constituindo correntes, mas rentes, mas consti- sas corren-
RESERVA SEM

tuindo reserva sem reserva sem fundos constituindo tuindo reserva sem tes, mas
FUNDOS

fundos para fins de para fins de controle reserva sem fundos para fins de constituindo
controle fundos para fins controle reserva sem
de controle fundos para
fins de con-
trole

Idem despesas cor- Idem despesas corren- Idem despesas Idem despesas cor- Idem despe-
COM FUNDOS

rentes, mas consti- tes, mas constituindo correntes, mas rentes, mas consti- sas corren-
RESERVA

tuindo reserva com reserva com fundos constituindo tuindo reserva com tes, mas
fundos reserva com fundos constituindo
fundos reserva com
fundos

GERENCIAMENTO DE RISCOS 78
ANEXOS

Manter linha de Manter linha de crédito Manter linha Manter linha de Manter linha
EMPRÉSTIMO
crédito que possa que possa ser usada de crédito que crédito que possa de crédito
ser usada em caso em caso da ocorrência possa ser usa- ser usada em caso que possa
da ocorrência de de eventos da em caso da da ocorrência de ser usada
eventos ocorrência de eventos em caso da
eventos ocorrência
de eventos

Utilizável caso a or- Utilizável caso a or- Utilizável caso Utilizável caso a or- Não aplicável
SEGURADORA

ganização tenha uma ganização tenha uma a organização ganização tenha uma
CATIVA

seguradora cativa no seguradora cativa no tenha uma se- seguradora cativa no


grupo grupo guradora cativa grupo
no grupo

Acordo, que não seja Acordo, que não seja Acordo, que Acordo, que não seja Acordo, que
seguros, com outra seguros, com outra não seja segu- seguros, com outra não seja
TRANSFERÊNCIA

organização para organização para ros, com outra organização para seguros,
CONTRATUAL

reembolso em caso reembolso em caso de organização reembolso em caso com uma


de evento. evento. para reembolso de evento. organização
em caso de ou Pessoa
FINANCIAMENTO

evento. Física para


reembolso
em caso de
evento.

Empresarial; Responsabilidade Civil; Programa de Lucros Cessantes; Vida;


Geral (modalidades Benefícios,
Riscos Nomeados Lucros Cessantes Saúde
estabelecimentos incluindo,
(para valor em risco Contingentes. médica e
TRANSFERÊNCIA

comerciais e industriais mas não se


elevado); odontológica;
– operações, produtos, limitando
Riscos operacionais empregador, garagista, a Saúde – PGBL;
(indústrias de valor entre outras); médica e
VGBL;
em risco elevado odontológica,
Administradores e
e altamente vida, Acidentes
diretores - D&O
protegidas); previdência pessoais;
SEGUROS

Profissional (médicos, privada,


Condomínio Desemprego
dentistas, engenheiros, acidentes
(comercial, / Perda de
arquitetos, contadores, pessoais
residencial); renda;
corretores de seguros,
Residencial ; entre outros); Educacional;

Riscos diversos (se Ambiental (se aplicável); Doenças


aplicável); graves ou
Cibernéticos;
doença
Veículos, se aplicável;
Veículos, se aplicável. terminal.
Transportes, se
aplicável.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 79
ANEXOS

RESUMO
O Processo de gestão de riscos acidentais é composto de cinco passos,
baseado nos preceitos da ISO 31000 e adaptado para riscos acidentais.
Seus passos são:

Passo 1 – Identificação e análise das exposições a perdas;

Passo 2 – Exame das técnicas de gestão de riscos acidentais disponíveis;

Passo 3 – Seleção do melhor conjunto de técnicas;

Passo 4 – Implantação das técnicas escolhidas;

Passo 5 – Monitoramento e melhoria do programa de gestão de riscos


acidentais

GERENCIAMENTO DE RISCOS 80
ANEXOS

FIXANDO CONCEITOS 5

Marque a alternativa correta:


1. No programa de gestão de riscos acidentais:

(a) Os cinco passos deverão ser seguidos em ordem sequencial.


(b) O monitoramento é dispensável, pois é posterior à implantação do
programa.
(c) Todas técnicas de controle e financiamento de riscos identificadas
deverão ser implantadas.
(d) Evitar a exposição é uma técnica perfeita e sempre deverá ser
implantada.
(e) Seguros é independente e não faz parte do programa de gestão de
riscos acidentais.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 81
GABARITO

GABARITO

Fixando Conceitos
UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3

1–D 1–E 1–A

2–C 2–C 2–A

3–A 3–C 3–E

4–C 4–E 4–B

5–E 5–A 5–D

UNIDADE 4 UNIDADE 5

1–C 1–A

2–B

3–B

4–D

GERENCIAMENTO DE RISCOS 82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 31000 /
Gestão de Riscos – Princípios e Diretrizes, 2018.

Elliott, M.W.. Risk Financig. Insurance Institute of America, Pennsylvania,


2000.

Head, G.L.. Essentials of Risk Control. American Institute for Chartered


Property Casualty Underwriters / Insurance Institute of America, Pensylva-
nia,1995.

Head, G.L.; Horn II, S.. Essentials of Risk Management. Pensylvania, Ame-
rican Institute for Chartered Property Casualty Underwriters / Insurance Ins-
titute of America, 2003.

Martins, Marcelo Ramos. PNV 5017 – Considerações sobre Análise de


Confiabilidade e de Riscos. Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, 2013.

GERENCIAMENTO DE RISCOS 83

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