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CNBB

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

“É Ele que vem para nos


salvar!” (Is 35,4)

Roteiros Homiléticos
do Tempo do Advento - Natal - Tempo Comum
Ano À - Novembro 2010 / Março 201l

Projeto Nacional de Evangelização


O Brasil na Missão Continental
C748e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / “É Ele que vem para nos
salvar!” (Is 35,4): Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento
Natal - Tempo Comum - Ano À - Novembro 2010 / Março 2011.
Brasília: Edições CNBB. 2010.

128p.: 14x21 cm
ISBN: 978-85-7972-048-2

1. Liturgia 2. Advento 3. Natal


CDU - 264.941.4

Coordenação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Coordenação Editorial:
Pe. Valdeir dos Santos Goulart
Projeto Gráfico:
Fábio Ney Koch dos Santos
Capa e Diagramação:
Henrique Billygran da Silva Santos
Revisão:
Lúcia Soldera

12 Edição - 2010

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Sumário
Apresentação... re rereeeeereereerereeeeeeneeeass /
Recordação da vida na celebração... 9
Primeiro Domingo do Advento
28 de novembro de 2010... si iisrerreererenerenrerarerrerenrennoo 14

Segundo Domingo do Advento


05 de dezembro de 2010... irieererrerenrerareneearereenaos 20

Advento: Tempo de espera... 26


Terceiro Domingo do Advento
12 de dezembro de 2010... irrerensenrerenenrenreererass 28

Quarto Domingo do Advento


19 de dezembro de 2010... eereeerirerreseertaterierrenão 34

Natal do Senhor
25 de dezembro de 2010....................eeeeeerreereerrereereerirererirerios 40

Sagrada Família
26 de dezembro de 2010..............ieeieeeiereeereerreeeereeeer
trans 47

Santa Mãe de Deus, Maria... 53

Epifania do Senhor
02 de janeiro de 2011... e rrerrerererarereeenaeenreranenteranão 59

Batismo do Senhor
09 de janeiro de 2011... rriierererinererereeareeeserreneearerertareenos 65
O Tempo Comum e as Celebrações
das Comunidades... rrenan 71
Segundo Domingo do Tempo Comum
16 de janeiro de 2011... ererreeerrerrearos

Terceiro Domingo do Tempo Comum


23 de janeiro de 2011... ieeererererreeeereenrenas

Quarto Domingo do Tempo Comum


30 de janeiro de 2011... ieereerrerereeerenos

Quinto Domingo do Tempo Comum


6 de fevereiro de 2011................eeeeererrrrereeaeenaoo

Sexto Domingo do Tempo Comum


13 de fevereiro de 2011...

Sétimo domingo do Tempo Comum


20 de fevereiro de 2011...............eeestestteriiiseiirereseteees

Oitavo Domingo do Tempo Comum


27 de fevereiro 2011................emeseeererreerisireerearearess

Nono Domingo do Tempo Comum


6 de março de 2011... sireeereranererenerrenreraneasa
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

Apresentação
Com alegria, inspirados pelo profeta messiânico, também nós pro-
clamamos: “É Ele que vem para nos salvar” (Is 35,4). Com esta cer-
teza, apresentamos a toda a Igreja no Brasil, os roteiros homiléticos
para o Ciclo do Natal e para os nove primeiros domingos do Tempo
Comum do ano A da liturgia.
Neste subsídio encontraremos primeiro a orientação para a
vivência característica da prática brasileira da recordação da vida
em nossas comunidades. Assim poderemos, sobretudo, no Ciclo do
Natal, reforçar a íntima relação entre liturgia e vida: a celebração
do Mistério do Senhor que veio, vem e que virá nas mais diversas
realidades de nossas comunidades, que vivem entre trevas e luzes,
a esperança do retorno do seu Senhor.
Durante os quatro domingos do Tempo do Advento, faremos o
caminho proposto pelo evangelista Mateus, que nos ajudará a viver
em constante vigilância. Uma vigilância ativa, “no cumprimento de
toda a justiça” (Mt 3,15), na espera do Senhor Jesus Cristo. Esta vigi-
lância ativa deve transformar-se em alegria pela festa da encarnação
de nosso Deus, “o sol nascente do alto para nos visitar” (Lc 1,78b),
tendo cumprido a promessa predita pelo profeta: “Eis que uma vir-
gem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome
de Emanuel, que significa: Deus está conosco” (Mt 1,23).
É com o Deus conosco que caminharemos durante o Tempo
do Natal e suas festas, mas, sobretudo, durante os primeiros domin-
gos do Tempo Comum, quando seremos convidados pelo Senhor a
manifestar a Justiça do Reino que ele mesmo veio cumprir, morren-
do e ressuscitando para a nossa salvação, reunindo um novo povo,
povo da nova e eterna Aliança.
Agradecemos a todos os que contribuíram na elaboração destes
roteiros, e também a todas as comunidades brasileiras que prepararão
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

com carinho e esperança as celebrações eucarísticas, como momen-


tos partida e de chegada de nossas vidas de cristãos.
Aproveitamos para desejar a todos os irmãos e irmãs um santo
Natal do Senhor, com um Ano Novo repleto das bênçãos que vêm
do céu.

t Sérgio Aparecido Colombo


Bispo de Bragança Paulista — SP.
Membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia.
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RECORDAÇÃO DA VIDA NA
CELEBRAÇÃO
O que é e como se faz?

Existe, em muitas comunidades, o costume de fazer a chamada


recordação da vida como elemento importante para ligar a vida
à liturgia, colocar a liturgia na vida, promover a participação da
comunidade, favorecer a inculturação e atualizar as leituras bíblicas
no contexto histórico e cultural.
Este é um elemento que enriquece as celebrações das comuni-
dades atentas à ação de Deus no mundo, sintonizadas com o Cristo
Ressuscitado e abertas à ação do Espírito no coração da vida e da
história, nos caminhos da realização do Reino.
A recordação inicia com a pergunta: que fatos ou acontecimen-
tos queremos lembrar nessa celebração? Ou o que aconteceu de im-
portante em nossa comunidade, na cidade, na diocese, no Brasil ou
no mundo?
São lembrados fatos da vida pessoal e familiar: doenças, mor-
tes, aniversários, casamentos e outras festas, emprego/desemprego,
acidentes. Quando a assembleia é numerosa, uma pessoa, escolhida
anteriormente, recorda fatos e acontecimentos em nome de todos.
Nas celebrações especiais, como romarias ou jubileus, a recor-
dação pode ser dramatizada, contada em versos, ou em pequenas
encenações.
A recordação da vida acontece como parte dos ritos iniciais, ou
no início da liturgia da Palavra, antes da proclamação dos textos
bíblicos, ou durante a homilia, ou em outro momento oportuno.
Ela, no entanto, não é prece, nem compromisso, nem “inten-
ção”, muito menos motivação para a celebração ou discurso com
explicações, tendo mais o perfil de relato. O Ofício Divino das
Comunidades introduziu o momento da recordação da vida para
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

explicitar a relação entre o mistério celebrado e os acontecimentos


da vida, pois celebramos fatos e não ideias.
Recordar significa situar-se na história, reviver, fazer vir à me-
mória acontecimentos, lembrar fatos, trazer de volta ao coração
momentos vividos, em espírito de meditação. Evoca a atitude de
Maria: depois da visita dos pastores e depois de ter reencontrado
Jesus no templo, no meio dos doutores, “Maria (...) conservava cui-
dadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração”
(Lc 2,19; cf. Lc 2,51).

Sentido da Recordação da Vida


A celebração cristã contempla acontecimentos e realiza-se em torno
de fatos. Não cultua um Deus fora da história. Não concebe a salva-
ção fora da realidade humana. Lembra as intervenções libertadoras
do Deus da Aliança na vida do povo, na realidade pessoal e social.
A páscoa judaica tem como referência a libertação do povo da
escravidão do Egito. A páscoa cristã faz memória da vida, morte e
ressurreição de Jesus, o Cristo.
Ione Buyst diz que, na recordação da vida, “não se trata de uma
simples lembrança do passado, mas de uma memória profética, que
deixa espaço para inserir perspectivas atuais na narrativa. Lembra-
mos a experiência do povo de Deus no passado e nela reconhecemos
nossa própria experiência. Lembramos a pessoa, a vida, a morte e
glorificação de Jesus, o Cristo e sabemos, pela fé, que sua história
continua em nossa própria história. O passado é relido a partir do
presente, e vice-versa, numa perspectiva de futuro. As experiên-
cias de vida atuais nos fazem compreender de uma maneira nova
as experiências do povo de Deus no passado, condensadas (codifi-
cadas) em textos bíblicos e ritos litúrgicos. O coração da memória
profética é a fé no Deus Libertador que chama seu povo para uma
vida melhor, para uma convivência com ele na paz e na alegria.
Ele acompanha seu povo em todas as circunstâncias, dolorosas e
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

felizes, como companheiro de estrada, rumo à plena realização do


Reino de Deus”.
Jesus fez isso na última ceia, celebrando sua entrega naquela
noite. Ele encontrou, no ritual judaico, o sentido de sua experiência
pascal e a força necessária para enfrentar a passagem da morte para
a vida, manifestando aos discípulos: “Desejei ardentemente comer esta
páscoa convosco antes de sofrer; pois eu vos digo que já não a comerei até
que ela se cumpra no Reino de Deus” (Lc 22,14b-16).
A liturgia é celebração da páscoa de Cristo. Ele se identifica
com o povo, principalmente com os excluídos e se solidariza com
sua caminhada de libertação, ou seja, a liturgia celebra a “páscoa de
Cristo na páscoa da gente, páscoa da gente na páscoa de Cristo”.
Daí a importância de lembrar os fatos nos quais acontece a páscoa e
inseri-los em nossa celebração.
Em cada celebração aguardamos a vinda do Reino que chega
mais perto a cada conquista de mais vida para todos. A ação de gra-
ças, Os hinos, a súplica e o compromisso solidário lembram as mara-
vilhas operadas por Deus na história. Se a páscoa está acontecendo
na história, na vida das comunidades eclesiais e nos acontecimentos
cotidianos, é preciso que seja proclamada e celebrada. Por isso, os
fatos são lembrados na assembleia litúrgica.

A recordação da vida na celebração.


A recordação da vida, no início da liturgia, repercute em muitos
momentos da celebração e ajuda a fazer a ligação com o Mistério
celebrado e vivenciar a páscoa acontecendo no dia-a-dia.
É na Liturgia da Palavra, principalmente na homilia, que se re-
vela a presença ativa de Deus na história, estabelecendo a ligação
entre os textos bíblicos e a “vida”, entre a revelação de Deus nos
fatos passados e nos fatos da atualidade.
Na homilia, a Palavra proclamada é atualizada e o Espíri-
to Santo suscita em nós a resposta coerente frente às situações

1 Cf. CNBB, Animação da vida litúrgica no Brasil, item 300.


“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4) 12

concretas da vida, nos inspira o desejo do louvor, nos move a pe-


dir, suplicar, agradecer e nos comprometermos sempre mais com
a causa do Reino.
Nas preces dos fiéis,iluminados pela palavra proclamada, su-
plicamos ao Pai, para que venha em nosso auxílio e nos ajude a
testemunhá-lo nas situações concretas da vida, transformando as
situações que ainda não foram permeadas pela força do seu reino
de Páscoa de Cristo.
Na Oração Eucarística, a comunidade reunida na força do Espí-
rito faz subir ao Pai, por Cristo, com Cristo e em Cristo, toda honra
e toda glória pela salvação realizada, ontem e hoje e da qual nós
participamos.
Na comunhão eucarística, comendo o pão e bebendo o vinho,
nos deixamos inserir no Corpo de Cristo e assumimos por ele, com
ele e nele, continuar a sua missão profética e libertadora nas realida-
des da vida pessoal, política e social.

O que lembrar na recordação da vida?


São lembrados fatos julgados importantes e significativos na cami-
nhada, à luz de alguns critérios:
1) fatos importantes para o Reino e que estejam relaciona-
dos com a vida e a caminhada pascal do povo e, principal-
mente, dos pobres;
2) fatos importantes para dar voz e vez âqueles que a socie-
dade impede ou proíbe de falar ou cuja palavra é julgada
com discriminação. As pessoas, na comunidade eclesial,
devem ser consideradas, ouvidas e reconhecidas.
Todos os aspectos da vida humana, principalmente, da vida dos
pobres e de outros sofredores, merecem ser expressos e contempla-
dos na liturgia, como possível lugar de encontro com o Senhor.
RS Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

A recordação da vida e a dinâmica pascal


Na recordação da vida temos, de um lado, insatisfação com a rea-
lidade atual, triste e opressora; de outro, esperança que o mundo
possa ser diferente, que as coisas possam mudar.
Liturgia é celebração da páscoa de Cristo, a sua passagem
da morte para a vida. A celebração litúrgica carrega em seu bojo
tanto as realidades de “cruz” e de “morte” como as de “ressurreição”
e de “ascensão”,
Na páscoa de Jesus, a vida venceu a morte; por isso, não deve-
mos nos fixar na lamentação, nos acontecimentos trágicos e nega-
tivos, mas sempre buscar o lado do “evangelho”, “boa nova” que
liberta, aponta saídas, devolve a esperança, mobiliza para a ação,
traz consolo e a compaixão, re-encanta nosso olhar. O evangelho
nos faz ver a paixão à luz da “transfiguração” que nos enche de luz,
de energia, de ânimo para enfrentar os problemas da vida. Quantos
salmos iniciam com choro, lágrimas e queixas por causa de doença
e perseguição... e terminam quase sempre em louvor e ação de gra-
ças?! Mesmo na sexta-feira santa a liturgia celebra a vitória de Deus
sobre toda morte, para que a vida se torne festa no domingo, dia da
ressurreição do Senhor e nossa.
1º Domingo do Advento
28 de novembro de 2010

Leituras: Isaías 2,1-5; Salmo 121; Romanos 13,11-14a;


Mateus 24,37-44 (Vigilância)

FICAL ATENTOS

Situando-nos

Com o 1º domingo do Advento, começamos um novo Ano Litúr-


gico e também nossa caminhada rumo à celebração do Natal de
Cristo, Deus que veio e armou sua tenda entre nós.
Este dia inicial do Tempo do Advento é o ponto de partida para
o processo de conversão que queremos vivenciar durante as quatro
semanas que precedem a solenidade natalina. Manifesta-se em nós
o “ardente desejo de possuir o reino celeste”, alegres desejamos acolher
o convite expresso no Salmo 121: “Vamos à casa do Senhor”.
Começamos, pois, um tempo de vigilante expectativa. Queremos
ser vigilantes, porque somos comprometidos e atuantes como discípu-
los missionários. Temos expectativa, porque queremos que o Natal se
realize no íntimo de cada um de nós, no interior das comunidades e daí
transcenda para todos os homens e mulheres de boa vontade.
Este domingo recorda o horizonte último da história, que se
identifica com a vinda do Filho do Homem. Aqui se inscreve nossa
vida, se evidencia a importância do que está em jogo e constitui
uma chamada à seriedade. Daqui a recomendação a vigiar: dormi-
mos com frequência, nada é automático, é necessária uma verda-
deira escolha.
Hoje acendemos a 1º vela da Coroa do Advento. Ela representa
a luz que vem nos iluminar para percebermos, em nossa vida, os
15 Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

sinais da manifestação de Deus e também enxergarmos o que nos


afasta de seu caminho e, portanto, exige de nós conversão. Ela é a
luz do Senhor pela qual queremos nos deixar guiar.

Recordando a Palavra

No antigo Israel, era costume subir a Jerusalém por ocasião de al-


gumas festas. É esta a imagem que inspira o profeta Isaías. Ele con-
templa as multidões que, vindas de diversos lugares aproximam-se
de Jerusalém para celebrar determinada festa. Através desta visão,
ele imagina como será nos últimos tempos, quando, de todas as
nações, acorrerão multidões à casa de Deus para descobrirem seus
caminhos e aprenderem seus ensinamentos, isto é, para buscarem
a santificação. Quando os homens, em atitude positiva, ouvirem a
Deus e aceitarem percorrer seus caminhos e cumprirem seus en-
sinamentos, as armas serão substituídas por instrumentos de tra-
balho, haverá harmonia e paz. Podemos dizer que as armas aqui
representam tudo aquilo que destrói o Reino de Deus: individu-
alismo, violência, descuido com a natureza, banalização da vida.
Os instrumentos de trabalho representam tudo aquilo que edifica o
Reino: respeito à vida, preocupação com a natureza; solidariedade,
acolhimento ao outro e ao diferente.
A Carta de São Paulo aos Romanos nos convida a quatro ações:
despertar; nos desfazermos das trevas; vestir as armas da luz; pro-
ceder honestamente.
Estes quatro movimentos conduzem à conversão. A oposição
trevas/luz evidencia uma escolha a fazer. Despertar significa deixar
toda sorte de acomodação, superar a inércia, sacudir a passividade,
tornar-se efetivamente discípulo missionário.
Pelo Evangelho de Mateus, temos a certeza da segunda vin-
da do Senhor. Jesus, com sua pedagogia, ilustra seu ensinamento
com a recordação do episódio do dilúvio. Aqueles que não esta-
vam vigilantes pereceram, pois o turbilhão das águas os encontrou
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4) 16

despreparados. “Se o dono soubesse a que hora viria o ladrão,


certamente vigiaria” — nós também não o sabemos, estejamos, pois,
atentos e vigilantes, constantemente preparados não apenas para a
hora da vinda definitiva do Senhor, mas também para percebermos
como Deus vem a nós a cada dia.
Nesta celebração, respondemos à Palavra de nosso Deus com
o Salmo 121. Dizemos a Ele que, com alegria, vamos a Jerusalém,
cidade da paz e da justiça. Com alegria vamos a Jesus que hoje é
nossa Jerusalém.

Atualizando a Palavra

Neste domingo inicial do Tempo do Advento, a Liturgia da Palavra


nos leva a pensar sobre o que significa, no presente, estar vigilante;
acolher o Senhor; seguir os caminhos do Senhor; cumprir seus pre-
ceitos; deixar-nos guiar pela luz; despertar.
Estamos inseridos numa sociedade em mudança. Vivemos
mesmo uma mudança de época. Neste contexto, temos a percorrer
quatro semanas que nos preparam para receber o Emanuel, Deus
conosco, Deus entre nós.
Vamos então refletir sobre o que nos propõe a Liturgia da Pala-
vra no concreto de nossas vidas. Vejamos isto sob três perspectivas:
a vigilância, o despertar; o deixar-se guiar pela luz.
A vigilância representa estar atento aos sinais de Deus que se
manifestam no dia a dia. É ser comprometido com Jesus e com o
Reino que ele veio anunciar. Significa, portanto, permanecer de
prontidão e agir para impedir que os falsos valores suplantem os
valores evangélicos. É ter posições firmes e claras frente às sérias
questões que emergem em nossa sociedade, como a liberaliza-
ção do aborto, a corrupção desenfreada, o mau uso dos recursos
naturais. É ter posições positivas, por exemplo, defender a vida
em todas as suas formas, resistir às grandes e pequenas deso-
nestidades, sentir-se responsável pela preservação da natureza.
17 Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

Sejamos como Noé que se preparou, agiu e, por isto, o dilúvio


não conseguiu arrastá-lo.
O despertar representa acordar para os compromissos a que
somos chamados como discípulos missionários. Acordar para se-
guir mais fielmente Jesus Cristo e anunciar, sobretudo por nossa
forma de vida, o Reino de amor e paz.
Deixar guiar-se pela luz representa que temos um caminho
a percorrer, porém não estamos sós. Confiantes no Espírito que
nos ilumina, urge nos desacomodarmos e partirmos, pois se não
partimos não chegamos a lugar algum. Nós sabemos aonde quere-
mos chegar, mas por nossa fraqueza e imperfeição precisamos de
um guia. A luz que clareia o caminho é a Palavra de Deus. Deixar
guiar-se pela luz é abandonar as trevas. As trevas envolvem a atual
sociedade sob a forma de guerras e violências (entre nações e entre
pessoas); de individualismo (cada um se fecha em si mesmo); de in-
coerências (deixamos de praticar o que pregamos) e de muitos ou-
tros modos. Ao nos deixarmos guiar pela luz, mostramos o desejo
de construir uma sociedade em que refulge a luminosidade sob a
forma de paz (harmonia entre pessoas e nações); de solidariedade
(nos voltamos aos irmãos que de nós necessitam); de coerência (ter
atitudes que concordem com o que falamos) e de tantos outros mo-
dos possíveis.
Ser vigilante é também ser fiel “a fidelidade a Jesus exige de nós
combater os males que causam dano ou destroem a vida” (Mensagem da
Conferência de Aparecida).

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Certa tensão perpassa os textos litúrgicos deste 1º Domingo do
Advento: “a ti, Senhor, levanto minha alma; em ti, Deus meu,
confio; os que esperam em ti não ficarão decepcionados” (an-
tifona de entrada). Na oração da coleta rezamos “acorrendo com
nossas boas obras ao encontro de Cristo que vem, sejamos reunidos na
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4) 18

comunidade dos justos”. No prefácio lembramos que Jesus “veio


realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação”,
por isto pedimos após a comunhão “aproveite-nos ó Deus, a participa-
ção nos vossos mistérios. Fazei que eles nos ajudem a amar desde agora
o que é do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as
que não passam”.
Certa tensão, uma sã ansiedade deveria ser também a tônica de
nossa vida. O cristão não pode deixar-se atrapalhar nos caminhos
tortuosos desta vida e deve continuamente extrair de sua fé razões
para viver e para esperar a plena realização do Reino de Deus.
Noé estava preparado, não porque teve uma visão extraordi-
nária, prevendo o que iria acontecer. Ele estava preparado, porque
acreditou piamente na realização da Palavra de Deus. E nós? Acre-
ditamos, de verdade, na Palavra do Senhor?

Sugestões para celebração


1. A cor própria do Tempo do Advento é o roxo. Lembra-nos que é
período de recolhimento, de contida alegria, de expectativa e prepa-
ração. Não cantaremos o hino da Glória, reservando-o para ressoar
solenemente na noite de Natal.
2. Seria bom fazer um breve momento de “recordação da vida”,
conforme lemos na página 13 deste subsídio, ajudando as pessoas a
perceberem a importância deste início de ano litúrgico para o cres-
cimento de nossa fé. Quem são os “Noés” que hoje nos são exemplo
de vigilância e preparação?
3. O ambiente da igreja deve ser enfeitado com moderação e
simplicidade.
4. A música e os cantos sejam apropriados ao Tempo do Adven-
to. Há ótimas sugestões no Hinário Litúrgico I da CNBB. “No iní-
cio do ano litúrgico, ao longo de quatro semanas, a Igreja entoa um
canto de vigilante, amorosa e alegre espera da vinda do Senhor, o
Príncipe da Paz, o Emanuel, Deus-conosco. Este canto, antes ento-
ado pelos profetas, João Batista e Maria continua ressoando no seio
Bo Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

da Igreja que clama: “Vem, Senhor, nos salvar. Vem, sem demora,
nos dar a paz”.
5. A Coroa do Advento seja colocada em local apropriado, onde
possa ser visualizada pela assembleia. De preferência, seja feita de
ramos verdes. A Coroa é plena de simbologia, seja por sua forma
em círculo, que representa a eternidade, seja pelas quatro velas que
representam a luz que vem do Senhor e apontam para os quatro
pontos cardeais, mostrando que Jesus veio para todos os povos.
6. Motivar as pessoas para que façam uma Coroa do Advento
em suas casas, colocando-a num lugar de destaque, e para que re-
zem em família a novena do Natal. Pode-se também colocar um
sinal do Advento na porta da casa.

2 CNBB. Guia Litúrgico Pastoral. 2º. edição. Brasília, Edições CNBB, 2007, p. 86.
REGAattnaio EO noSUE A

2º Domingo do Advento
05 de dezembro de 2010

Leituras: Isaías 11,1-10; Salmo 71; Romanos 15,4-9; Mateus 3,1-12


(Mensagem de João Batista)

"NOS SEUS DIAS A JUSTIÇA FLORIRÁ!”

Situando-nos
Estamos no 2º domingo de preparação à vinda do Senhor. Mais
uma vela acende-se na Coroa do Advento. A luz fica mais forte, po-
demos melhor visualizar o caminho a percorrer rumo à celebração
do Natal de Jesus. Celebrar o Natal é celebrar a encarnação, Deus
que armou sua tenda entre nós. É celebrar nossa adesão ao projeto
trazido por Cristo. Como toda celebração, esta também requer pre-
paração, especificamente, requer conversão.
A liturgia de hoje nos convida a abandonar os valores passagei-
ros e a aderir aos valores fundamentais e eternos, como rezávamos
no domingo passado: “caminhando entre as coisas que passam, abraçar
as que não passam”. Ela também nos convoca ao compromisso com
os valores do Reino de Deus, cuja concretização é anunciada pelo
Precursor como muito próxima.
O Papa Bento XVI fez, em 2006, uma bela reflexão sobre o sen-
tido do Tempo do Advento: “Façamos uma pequena reflexão: o tex-
to bíblico não diz que 'Deus veio”, nem mesmo que 'Deus virá”. Mas
usa o verbo no presente: 'Deus vem”. Se prestarmos atenção, vere-
mos que se trata de um presente contínuo, isto é, de uma ação que
sempre está acontecendo, aqui e agora, em qualquer momento.
O verbo “vir” se apresenta como um verbo 'teológico” e 'teolo-
ga)”, porque diz algo que tem a ver com a própria natureza de Deus.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

Anunciar que 'Deus vem' significa anunciar simplesmente a Deus


mesmo, através de uma de suas características essenciais e significa-
tivas: Deus conosco”, Deus que vem”.

Recordando a Palavra

Hoje o profeta Isaías nos fala da árvore de Jessé, da haste que nascerá
de seu tronco, de cuja raiz surgirá o rebento sobre o qual repousará
o Espírito do Senhor. Com isto se cumprirá o referido por Samuel,
relatando o que Natã disse a Davi em nome do Senhor: “Quando
chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então suscitarei
um descendente para te suceder, saindo de tuas entranhas, e consolidarei
seu reinado. Ele construirá uma casa para o meu nome e eu firmarei para
sempre o seu trono real” (2Sm 7,12-13). No mesmo texto de Isaías, são
enunciados os chamados dons do Espírito Santo: sabedoria, discer-
nimento, conselho, fortaleza, ciência, temor a Deus, aos quais se
reporta São Paulo “Nós não recebemos o Espírito do mundo, mas recebe-
mos o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons que Deus nos
concedeu”.
ÀPalavradenosso DeusrespondemoscomoSalmo71.EsteSalmo
tem a figura do rei como centro. Lembremos que em virtude do Ba-
tismo, todos temos o sacerdócio régio (Sacrosanctum Concilium, n. 14).
Como batizados, somos chamados a ser profetas, sacerdotes e reis.
Portanto, cada um de nós, pela missão régia assume com a Palavra
proclamada o compromisso de servir o Reino e para isto com o sal-
mista pedimos ajuda a Deus para agir com justiça.
A 2º leitura é da carta de Paulo aos Romanos a quem ele deseja
que Deus dê a graça da harmonia e da concórdia. Estes dois elemen-
tos foram belamente referidos por Isaías na 1º leitura, na figura dos
animais domésticos e dos animais selvagens reconciliados, vivendo
em paz. Nesta carta, Paulo também fala da unidade — ter um só
coração e uma só voz — e do acolhimento mútuo, a exemplo do
próprio Cristo.
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4) 22

O Evangelho nos traz este maravilhoso e exemplar personagem


da história da salvação: João Batista. Ele é símbolo do despojamento,
da fidelidade, da entrega total ao projeto do Pai. João Batista não pre-
ga apenas com palavras, ele o faz especialmente com seu exemplo,
com seu testemunho. Como precursor, mostra que seu batismo, pela
água, consistia em uma purificação, mas o outro batismo, o de Jesus,
será pelo Espírito, e dará a quem o receber a filiação divina, a vida
nova. A figura de João Batista está ligada ao deserto que para nós sig-
nifica lugar de oração, lugar de encontro com Deus. João nos exorta
a produzir frutos a partir da conversão, ou seja, ele nos propõe a con-
versão — “eu vos batizo com água para a conversão”. Cabe-nos vivê-la, a
exemplo do próprio Precursor, conscientes dos valores perenes, eter-
nos, verdadeiros, os testemunhando em nosso ser e agir cotidianos.

Atualizando a Palavra
Como possibilitar que em nós e a partir de nós ressoe a Palavra pro-
clamada na Liturgia deste domingo?
João Batista clama “preparai o caminho do Senhor, endireitai suas
veredas”. Na sociedade atual, são tantas as veredas a endireitar... a
violência, as agressões à vida em suas diferentes formas, o egoísmo,
a corrupção, a discriminação e muitas, muitas mais!
Na sociedade atual são tantos os caminhos a preparar, é preciso
limpá-los das injustiças, da indiferença, do consumismo, das indig-
nidades, das exclusões e de muito, muito mais!
Faz-se necessário recobrir os caminhos e as veredas com a es-
perança, a coerência entre fé e vida, os valores evangélicos, a soli-
dariedade, a alegria de sermos missionários, a promoção da vida, o
cuidado com a biodiversidade e com muito, muito mais!
Para isto contamos com o Espírito Santo que repousa tam-
bém sobre nós, nos cumulando de dons. Cada um descubra os que
recebeu em abundância e veja qual a melhor forma de usá-los no
dia a dia, visando à própria conversão e à conversão dos que lhe
são próximos.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

Um caminho bem preparado não tem desníveis nem buracos.


Quando transitamos por estradas mal conservadas, reclamamos
dos buracos! No caminho que conduz a Deus os buracos são pro-
duzidos por nossas falhas e omissões. Vamos nos esforçar para que
a estrada que transitamos rumo à casa de Deus tenha o mínimo
de buracos, de desníveis, para tanto, pela oração, reforcemos nosso
compromisso com a Palavra e manifestemos isto em nossas atitu-
des e posturas.
João Batista conclama a produzirmos frutos: “inseridos na socie-
dade, façamos visível o nosso amor e solidariedade fraterna e promovamos
o diálogo com os diversos atores sociais e religiosos. Em uma sociedade cada
vez mais plural, sejamos integradores de forças na construção de um mun-
do mais justo, reconciliado e solidário” (Documento de Aparecida).
João Batista adverte que ele batiza com água, mas virá aquele
que batizará com o Espírito Santo e o fogo: “com o fogo do Espírito
vamos inflamar de amor o nosso Continente: “Receberei a força do espírito
Santo que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas até os confins da ter-
ra” (At 1,8) Jesus convida a todos a participar de sua missão. Que ninguém
fique de braços cruzados” (Documento de Aparecida).
Converter-se à promessa de Deus significa converter-se para O
momento presente e para o momento futuro. Significa abandonar
os velhos caminhos e começar o caminho novo. É preciso “verter”
novamente nossa vida, isto é, nosso coração, nossa mentalidade,
tudo. Não podemos criar ilusões: “Abraão é nosso pai” ou “somos
filhos de boa família” ou ainda “sou feliz por ser católico”. Cristo
nos salvou, mas quer nossa resposta.
Hoje, em nossas famílias, nas comunidades, na sociedade, sen-
timos falta de “sonhadores”, de líderes. Pode ser que não saibamos
descobrir estas pessoas. Quem sabe estejam perto de nós, pessoas
simples, apostando em pequenos projetos, causas justas e interesses
comuns. São pessoas que não ameaçam, mas convidam; não conde-
nam, mas trabalham.
Como fruto do Advento, não poderíamos nos unir a outras pes-
soas que fazem gestos concretos de solidariedade, apostando em
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

pequenas coisas, para que venha o Reino? Não poderíamos nos unir
aqueles que respondem à violência com o perdão, à injustiça com a
verdade, às palavras com a ação?

Ligando a Palavra com a ação eucarística


No segundo domingo do Advento, avançamos na direção do Natal a
celebrar. Na oração da coleta, esperançosos, pedimos ao Pai: “que ne-
nhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro de vosso Filho”.
João Batista tem razão no seu grito. A conversão à qual ele nos
convida não é uma conversão superficial. É uma conversão que co-
meça com o reconhecimento de nossa situação de pecadores. Quem
se reconhece pecador descobre que está necessitado de salvação.
Quem quer a salvação, volta-se para Deus, o único que nos salva.
A conversão do coração nos leva à conversão nas obras e atitudes.
No Prefácio, recordamos que Jesus está no meio de nós “agora e em
todos os tempos, Ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana”.
Ao final da celebração, elevamos a Deus ainda um pedido: “pela
participação nesta Eucaristia, nos ensineis a julgar com sabedoria os va-
lores terrenos e colocar nossas esperanças nos bens eternos.”

Sugestões para celebração


1. A cor própria do Tempo do Advento é o roxo. Lembra-nos que é
período de recolhimento, de contida alegria, de expectativa e pre-
paração.
2. Acender as velas da coroa do Advento com solenidade, sendo
acompanhando por um canto significativo.
3. O ambiente pode estar na penumbra para que a comunidade
faça a experiência da luz que surge.
4. O ambiente deve ser enfeitado com moderação e simplicida-
de, pode-se substituir as flores por um tronco cuja ornamentação
remeta à 1º leitura, lembrando o tronco de Jessé.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

5. A música e os cantos sejam apropriados ao Tempo do Adven-


to. Há ótimas sugestões no Hinário Litúrgico I da CNBB.
6. Usar os instrumentos musicais com moderação.
7. Lembrar que, no próximo domingo, acontece a Campanha
para a Evangelização.
ADVENTO: Tempo de espera”
As primeiras comunidades, como testemunha o Apocalipse, tinham
uma oração muito curta que expressa bem o desejo do seu coração:
Maranatha! Vem, Senhor Jesus! (Ap 22,20). Infelizmente, depois, foi
se perdendo e esvaziando este desejo de espera.
Seríamos muito pobres se reduzíssemos o Advento, simples-
mente, a um tempo de preparação para a festa do Natal. O Advento
é baseado na espera da vinda do Reino e a nossa atitude básica é
acender e renovar em nós este desejo e este ânimo.
Num tempo marcado pelo consumo, é preciso que afirmemos
profeticamente a esperança. No âmbito pessoal, intensificando o
desejo do coração e retomando o sentido da vida. Mas as esperan-
ças são também coletivas: é o sonho do povo por justiça e paz — “as
espadas transformadas em arado e as lanças em podadeiras” (Is 2,4).
E são também cósmicas: “a criação geme e sofre em dores de parto
até agora e nós também gememos em nosso íntimo esperando a
libertação” (Rm 8,18-23).
Cantar como resposta das preces “Vem, Senhor Jesus” pode
ajudar a animar a esperança de nossas comunidades. Igualmente,
depois da acolhida de quem preside, a comunidade poderia lembrar
fatos e acontecimentos (não ainda preces ou intenções) que são para
ela sinais de esperança e da vinda de Deus entre nós. Podem ser
trazidos símbolos que evoquem tal luta ou acontecimento. Algum
refrão, como “eu quero ver, eu quero ver acontecer”, certamente
contribuiria para renovar a esperança.
“O melhor da festa é esperar por ela”, diz um ditado popular.
A espera e a preparação de um acontecimento é, do ponto de vista
humano, tão importante quanto este evento.
Daí a necessidade de fazermos uma avaliação do que significa e
de como vivenciamos o Tempo do Advento em nossas comunidades.

3 GUIMARÃES, Marcelo. CNBB. Liturgia em Mutirão. Brasília, Edições CNBB, 2007, p. 50-52.
27 Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

Seria oportuno se as equipes de liturgia, ao prepararem as celebra-


ções deste tempo, pudessem se colocar a seguinte questão: que im-
portância damos ao Tempo do Advento?
Vale aqui também lembrar o que escreve o liturgista Frei José
Ariovaldo da Silva, na revista “Mundo e Missão”, dezembro de 2004:
“Atualmente, muitas comunidades eclesiais, influenciadas pela onda
consumista por ocasião das festas natalinas e de final de ano, estão
assumindo o costume de enfeitar suas igrejas já bem antes de o Na-
tal chegar. Em pleno tempo de Advento, que é um tempo de pie-
dosa e alegre expectativa”, já ornamentam suas igrejas com flores,
pisca-piscas, árvores de Natal e outros motivos natalinos, como se
já fosse Natal. Posso dar uma sugestão? Não sejam tão apressadas.
Não entrem na onda dos símbolos consumistas da nossa sociedade.
Evitem enfeitar a igreja com motivos natalinos durante o Advento.
Deixem o Advento ser Advento e o Natal ser Natal. Enfeites nata-
linos dentro da igreja, só quando Natal chegar. Então, a festa com
certeza será melhor. Sobretudo se houver na comunidade uma boa
preparação espiritual”.
É preciso tomar o cuidado de não abortar o Advento ou de
celebrá-lo superficialmente. Este cuidado nos levará a não antecipar
o Natal, seja fazendo celebrações natalinas antes do previsto, seja
usando ritos próprios da festa. Se cantamos “Noite Feliz” no dia 15
de dezembro, o que iremos cantar na noite do dia 24 para 25? Mas,
também não podemos celebrar o Advento como se Cristo ainda não
tivesse nascido. A longa noite da espera terminou. O mundo já foi
redimido, embora a história da salvação continue...
3º Domingo do Advento
12 de dezembro de 2010

Leituras: Isaías 35,1-6a.10; Salmo 146; Tiago 5,7-10;


Mateus 11,2-11 (Jesus fala sobre João Batista)

“É ELE QUE VEM PARA NOS SALVAR!”

Situando-nos
No 3º Domingo do Advento, celebramos a alegria da proximidade
do Senhor. É o chamado “Domingo da alegria”, “Gaudete”, Neste dia,
a cor litúrgica roxa pode dar lugar ao rosa. O Advento, tempo de
espera pela chegada do Senhor, vai crescendo na alegria e na ansie-
dade ante o Deus que se aproxima. É um tempo privilegiado, é pre-
paração de festa, alegria profunda e discreta, crescente, consistente.
Não é alegria passageira, não é surpresa repentina, esta é a terceira
semana de um tempo construído e vivido na expectativa de um
grande encontro, nosso encontro com o próprio Deus, que se faz
homem e habita entre nós.
Na Liturgia da Palavra, as figuras centrais, Isaías e João Batis-
ta, convidam-nos ao ânimo e à esperança, apontando os sinais da
salvação.
Com mais força, neste Domingo, o Tempo do Advento reco-
bre-nos de fortaleza, na certeza da presença do Senhor que quer
transformar nossa vida e nosso coração.
Ao acendermos a 3º vela da Coroa do Advento, a luz crescente,
iluminando a todos nós, simboliza a proximidade do Natal, a che-
gada da luz do salvador, Jesus!
Hoje é o dia da coleta da Campanha da Evangelização. Quere-
mos ser generosos e responsáveis por nossa Igreja. Neste espírito,
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano À - 2010

lembramos hoje Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira principal


da América Latina. Que ela sempre interceda junto a seu Filho, por
cada um de nós e por nossa comunidade.

Recordando a Palavra
Na 1º Leitura, Isaías anuncia as transformações no mundo e em
cada um de nós, a partir da vinda do Salvador. Não ter medo, criar
ânimo, é o que pede o profeta, pois o Senhor está perto. Diante
da presença de Deus feito homem, a alegria deve tomar conta
do povo e suas dores e temores transformarem-se em louvores e
contentamentos.
O deserto é um lugar estéril, árido, castigado pelo sol. No en-
tanto, é também o lugar ideal para o crescimento das convicções e
dos princípios sólidos. No silêncio do deserto é que podem nascer
e desenvolver-se as profundidades do ser humano. Como lemos no
livro “O Pequeno Príncipe”, “a beleza do deserto é que, em algum
lugar, ele esconde um poço!”
Na Bíblia, o deserto significa o lugar onde o ser humano pode
alcançar a si mesmo, a sua interioridade. Como não podemos viver
de verdades sem princípios e convicções, devemos frequentemente
voltar ao deserto para nos encontrarmos a nós mesmos. Não pode-
mos viver de impressões, de espetáculos, de fenômenos, de exalta-
ções e fórmulas passageiras.
Para viver uma vida que leve o sinal do absoluto, é necessá-
rio ter alguns ideais que não se esmorecem diante das dificuldades.
Como os ideais mais verdadeiros são os que cultivamos em nossa
interioridade, é necessário buscar sempre o silêncio e a solidão para
amadurecê-los. Não podemos viver apenas de respostas e soluções
que outros dão às nossas perguntas. É verdade que devo escutar,
observar, confrontar, receber de todos, buscar em todas as direções.
Mas tudo isso deve ser elaborado, refletido, amadurecido e transfor-
mado por nós mesmos. Não posso renunciar ao meu espírito crítico,
“É Ele que vem para nos salvar!" (Is 35,4) 10

minha imaginação, minha capacidade de reflexão. Para que a mi-


nha vida seja minha, devo regularmente, no silêncio e na reflexão,
pagar o preço do sofrimento, da busca, da paciência. As ideias dos
outros não custam nada, mas não resistem às dificuldades.
O anúncio do profeta revela o que somos sem Deus e o que
poderemos ser com Ele, vendo o que nossas limitações não nos dei-
xam ver, caminhando sem medo, sem cansar, superando nosso cor-
po e vencendo os caminhos mais dificeis, ouvindo o que o ruído do
mundo nos impede de escutar e, com todas as forças, dando glória
e louvores ao Senhor.
Tal louvor é cantado no Salmo 146. Este hino exalta o plano de
Deus o qual, em oposição às injustiças e ao poder, transforma a vida
dos pobres, protegendo os que se encontram fragilizados, exalta o
reino de Deus que é para sempre. Na antífona, o Salmo repete a pre-
ce mais característica do Advento: “Vinde, Senhor Jesus, para salvar o
vosso povo!”
Na 2º leitura, Tiago nos convida à perseverança na espera da
vinda do Senhor, lembrando-nos que é necessário aguardar o tem-
po de Deus, tal como o próprio Deus faz-se refletir na natureza, que
espera a chuva, germina a semente e, naturalmente, ao seu tempo,
frutifica. Ânimo, esperança, transformação, louvor, perseverança,
tudo isto é o espírito do Advento.
No Evangelho, Jesus aponta o significado de João Batista, mensa-
geiro que veio à sua frente, preparando o caminho. Profeta dos profe-
tas, João é exaltado pelo Mestre. Na prisão, João alegra-se ao saber que
Jesus já está no meio do povo, transformando, trazendo a vida nova
e anunciando a salvação. As transformações profetizadas por Isaías
aconteciam, o Messias que ele mesmo, João, anunciara, preparando o
caminho para sua vinda aí estava. João pede confirmação: será mes-
mo o Senhor? Jesus manda que contem a João o que estão vendo e ou-
vindo. A missão de João Batista completa-se, o caminho foi preparado
e o Senhor chegou, luz do mundo, salvação dos homens.
De João emana a grande alegria deste 3º Domingo do Advento,
alegria de ser reconhecido pelo Mestre, alegria daquele que não se
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

deixou dobrar pelos poderosos, manteve sua palavra, apontou a ver-


dade. “Caniço agitado pelo vento”, que resiste, não se deixa quebrar
ou corromper, volta a erguer-se e resiste. Assim foi João, homem
vestido com roupas finas, não as roupas dos que possuem riquezas
materiais, mas de quem tem aparência frágil e fortaleza interna,
contraste inesperado pelos homens, de quem é fiel a Deus e à mis-
são que lhe foi confiada.
Com João Batista alegremo-nos: o Senhor está perto!

Atualizando a Palavra

Mais que nunca, hoje, precisamos ouvir as palavras do profeta: “Criai


ânimo, não tenhais medo!” (Is 35,4). As angústias, as dificuldades do
mundo atual configuram-se como um tempo muito difícil. Apenas
a certeza de que o Senhor veio, virá e vem a cada celebração, de que
caminha ao nosso lado pode dissipar nosso medo, redobrar nossas
forças e alimentar nossa esperança. Precisamos identificar, no mun-
do em que vivemos, os sinais de Deus e ser profetas hoje, auxiliando
também os outros a identificarem a presença do nosso Deus nos
acontecimentos atuais, na realidade vivida.
No domingo passado vimos a presença de João Batista como
um gigante no deserto, que, com sua voz forte, convidava e questio-
nava a todos. O Evangelho de hoje nos apresenta novamente João
Batista, mas numa situação muito diferente. Está prisioneiro por
denunciar os pecados do rei Herodes. Está imerso numa profunda
provação em sua vida e em sua fé.
Ele, que pregou com toda convicção a vinda do Messias; ele,
que reconheceu e apresentou Jesus como o Cordeiro de Deus, agora
envia seus discípulos para perguntarem a Jesus; “és tu, aquele que
há de vir, ou devemos esperar outro?”
Pensemos no drama pelo qual está passando João Batista. Não
é este o nosso drama, hoje, também? Temos mais esperanças ou
mais certezas?
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Sobretudo hoje é preciso olhar para João Batista, e não nos dei-
xarmos quebrar, agitados pelo vento da injustiça, das diversas for-
mas de agressão à vida tão desrespeitada impunemente. É preciso
resistir, mostrar fortaleza em nossa fragilidade, perseverar na fide-
lidade, ser corajosos, aplainando os caminhos do Senhor, promo-
vendo a paz, acolhendo os que precisam de nós, não tendo medo de
testemunhar os valores do Evangelho.
Sabemos que não é esta uma tarefa fácil. Os apelos do mundo atual
nos levam a valorizar os aspectos materiais e externos em detrimento
dos valores interiores e verdadeiros, exatamente o inverso de como se
apresentava João Batista. Por isso ele não se deixou vencer, sua fortaleza
estava em seu interior, na verdade, na fidelidade a Deus.
Na Mensagem da V Conferência de Aparecida, os Bispos con-
firmam esta proposta: “Com firmeza e decisão continuaremos exercendo
a nossa tarefa profética discernido onde está o caminho da verdade e da
vida. Levantando a nossa voz nos espaços sociais dos nossos povos e cida-
des, especialmente a favor dos excluidos da sociedade.”
Isto requer que nos alimentemos na oração, pedindo que o Es-
pírito do Senhor nos revigore e fortaleça, fazendo de nós instru-
mentos de transformação, ricos interiormente do amor de Deus,
verdadeira riqueza que nos torna mensageiros de Jesus.
Isto é viver o espírito do Advento: deixar ressoar o tempo da
liturgia em nosso dia a dia; celebrar em nossa vida o que celebramos
na Missa; ter a ousadia e a determinação de sonhar; ser identificado
pelo Mestre como o foi João.
Que, a cada um de nós, Jesus possa chamar de seus mensagei-
ros, discípulos missionários, que passaram no mundo a testemu-
nhar seus ensinamentos.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A alegria de João ao saber que Jesus já estava entre o povo é vivida
por nós a cada celebração, quando o Mestre, atendendo nossa súplica,
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano À - 2010

“Vem, Senhor Jesus”, torna-se vivo e presente no meio de nós no pão


da Eucaristia. Esta súplica que acompanha todo o Advento deve ser
a mesma que antecipa nossas liturgias, as quais devem sempre ser
vividas na alegria da presença do Senhor entre nós. Quando nos
aproximamos para receber a comunhão, o ministro repete para nós
as palavras de João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pe-
cado do mundo!”
Quando celebramos a Eucaristia, Jesus nos visita, é sempre dia
de sua vinda. Da Eucaristia saímos fortalecidos para viver, na espe-
rança e na fé, “até que Ele venha”,
Toda a liturgia, neste tempo, deve ser vivida em um clima que
auxilie a celebrarmos sempre melhor o espírito do Advento, fazen-
do com que a visita de Jesus transforme a cada um de nós e a nossa
comunidade, para que possamos ser transformadores do mundo.
Viver a liturgia em comunidade, ser Igreja discípula missioná-
ria de Jesus é seguir o exemplo de João Batista, é viver sua alegria
na liturgia e na vida.

Sugestões para celebração


1. A corlitúrgica, neste 3º Domingo do Advento, é o rosa, podendo,
no entanto, ser mantido o roxo.
2. Acende-se a 3º vela da Coroa do Advento. Este gesto pode ser
realizado enquanto canta-se um refrão com a súplica característica
do Advento: “Vem Senhor Jesus!”
3. As flores colocadas com discrição podem ser em tons de rosa,
para salientar a alegria deste 3º Domingo.
4. Os cantos devem trazer presente o espírito do Advento, po-
dendo o canto de comunhão, retomar a mensagem do Evangelho.
Os instrumentos musicais devem ser usados com moderação.
Preparar bem o momento da coleta para a evangelização.
4º Domingo do Advento
19 de dezembro de 2010

Leituras: Isaías 7,10-14; Salmo 24; Romanos 1,1-7;


Mateus 1,18-24 (José e Maria)

"A VIRGEM CONCEBERÁ E DARÁ À LUZ UM FILHO;


E ELE SERÁ CHAMADO
DEUS-CONOSCO.”

Situando-nos
No 4º Domingo do Advento, é forte o anúncio da chegada de Deus
entre nós, Deus-conosco, Emanuel, concebido em Maria pelo Espí-
rito Santo, acolhido por José na fidelidade e no amor.
Maria é pessoa central no Tempo do Advento, na verdade não
há tempo melhor para o culto à Mãe de Deus. A alegre espera pelo
Senhor está no ventre de Maria. A Igreja, vivendo com ela sua gra-
videz, gera vida na comunidade.
Várias são as devoções que, com muita fé e carinho, dedicamos
à nossa querida Mãe, mas é o Tempo do Advento que insere Maria
mais diretamente na celebração do Mistério Pascal.
No mês de dezembro, temos duas festas marianas: dia 8 — Sole-
nidade da Imaculada Conceição — e dia 12 — Festa de Nossa Senhora
de Guadalupe — proclamada Padroeira da América Latina, em 1910,
por São Pio X. Em ambas as festas, ressoa o anúncio de Isaías “Eis
que a virgem conceberá e dará à luz um filho”, pois também a Virgem de
Guadalupe é apresentada como uma mulher grávida.
Ao acendermos a 4º vela da Coroa do Advento, a luz plenifica-
se, simbolizando a claridade infinita que Jesus vem trazer ao nosso
coração e ao mundo.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano À - 2010

Recordando a Palavra
A 1º Leitura traz o grande anúncio do profeta Isaías sobre a chegada
de Jesus, Emanuel, Deus-conosco. Que notícia melhor poderíamos
ouvir? Deus decidiu visitar seu povo, nascer entre nós, tomar forma
humana.
A quem escolheu para realizar seu plano? Maria, moça simples
e aberta à vontade do Pai. Seu “sim” trouxe ao mundo Jesus, nosso
salvador.
Na antífona do Salmo 24, podemos ouvir uma resposta dirigida
a nós, para que também digamos sim à chegada do Senhor: “abri as
portas para que ele possa entrar”. Este Salmo, segundo Bortolini, 2000,
“é uma liturgia. Chama-se assim porque recorda um rito muito antigo. Os
versículos 3-6 são quase uma cópia do Salmo 15, no qual temos a liturgia
da porta. Esta liturgia da porta polemiza contra os ritos vazios e a religião
das aparências.”
O próprio Salmo aponta as verdadeiras condições para receber-
mos a bênção do Senhor: pureza de coração, integridade e justiça.
Foi exatamente isto que Jesus veio pregar. Contra toda expectativa
dos poderosos, Jesus exalta os pobres, acolhe os marginalizados,
não valoriza aparências e as riquezas, mas os valores interiores e
verdadeiros.
Na 2º Leitura, Paulo, em sua carta aos Romanos, identifica-se
como servo de Jesus, apóstolo por vocação, escolhido para o Evan-
gelho de Deus. Nada mais importante pode haver, nenhum título
humano pode superar nossa identidade de apóstolos missionários
de Jesus, pois como diz Paulo, “Entre esses povos estais também vós,
chamados a ser discípulos de Jesus Cristo”, Assumir nossa vocação, nos-
so sim ao plano de Deus deve ter prioridade em nossa vida.
O Evangelho narra a origem de Jesus, o anúncio feito pelo anjo
a Maria, a qual, conforme o evangelista Mateus, pela ação do Espí-
rito Santo, ficou grávida antes de casar-se com José, seu noivo.
Junto à centralidade da figura de Maria, esta passagem do
Evangelho traz a presença de José, homem justo e de coração
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

puro, com os atributos mencionados no Salmo 24: “sobre este desce


a bênção do Senhor”,
Acolhendo sua esposa, que está grávida do Salvador, do Fi-
lho de Deus, José torna-se participante desta espera, protetor do
Deus menino, esposo e pai na Sagrada Família de Nazaré. O
sim de José acompanha e protege o sim de Maria, ele também é
escolhido por Deus, aceita sua vocação, responde com fidelidade
ao plano do Senhor.
José não abandona Maria, a acolhe, a protege, é justo. A justiça
é atributo divino, Deus é a justiça. Em José, homem simples, sem
riquezas materiais, vamos encontrar traços divinos, a verdadeira
riqueza, bens que vem do alto, tesouro para a eternidade.
Novamente, vemos o contraste que Deus nos apresenta en-
tre o exterior e o interior do ser humano, os verdadeiros valores
não são ostentados em ricas aparências ou em condições privi-
legiadas pela sociedade humana, mas se encontram na pureza
do coração, nas atitudes íntegras, na simplicidade, na verdadeira
beleza, a beleza da alma.
Assim, neste Domingo, com Maria e olhando para o exemplo
de José, vivamos o espírito do Advento.

Atualizando a Palavra
No mundo de hoje, permanecem para nós as condições pro-
clamadas no Salmo 24, para recebermos a bênção do Senhor:
pureza de coração, justiça e integridade. Estas são as chaves que
abrem as portas para que o Senhor possa entrar em nossas vi-
das. A entrega total e diária a estas virtudes, buscando sermos
sempre melhores em cada uma delas, é que nos coloca abertos a
ouvir as mensagens de Deus.
Foi sendo assim que José pôde ouvir o Senhor e colocou-se
disponível, atendendo seu pedido. O pedido feito a José não era
nada fácil.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

Pensemos na realidade vivida por José. Sua noiva fica grávida


antes de casar-se com ele. Qual seria a atitude mais fácil de ser ado-
tada? Abandoná-la, fechar o coração, entregar-se ao rancor. Desta
forma, com certeza, não teria acreditado no que o anjo disse-lhe
em sonho. Teria abandonado Maria. O que teria acontecido com
ela? Pensemos numa moça grávida abandonada pelo noivo, naquela
época. Teria sofrido o açoite da sociedade.
Em nosso tempo, não é tão diferente quando uma jovem se vê
sozinha com um filho nos braços. Não é nada raro lermos no jornal
que foi encontrado um bebê no lixo ou até jogado em um rio.
Então, o que realmente faz a diferença?
O que muda o rumo de uma situação como esta é o amor, O
amor verdadeiro, vindo de Deus, que não é egoísta, que não pensa
em si próprio, que permite ouvir a verdade, escutar a voz de Deus,
aceitar seu plano, agir com integridade, acolher o outro, acreditar
nele, valorizar a vida.
Assim sentiu e agiu José, por isso recebeu a graça de ser pai
adotivo de Jesus, esposo da Mãe do salvador, ele ouviu e atendeu a
vontade de Deus. Também ele deu seu sim ao receber Maria e Jesus,
ao acreditar no que o anjo disse-lhe em sonho, aceitando com amor
a proposta do Senhor.
Será que podemos identificar em nossas vidas os pedidos de Deus?
ou não os identificamos quando são propostas difíceis para nós?
Identificar a vontade do Pai em nossa vida é o que nos leva a re-
ceber sua bênção e sua graça, a qual é sempre maior do que aquela
que pensávamos pedir.
Acompanhar a gravidez de Maria, viver com ela este tempo,
como José o fez, no nosso hoje, é viver o espírito do Advento.
E defender a vida, não aceitando o aborto, a eutanásia e o des-
caso com a saúde pública.
É, como pessoa e como Igreja, estarmos grávidos com ela, ge-
rando o amor fraterno, a acolhida, o espírito de comunidade.
É abrir as portas do nosso coração para que o Senhor possa
entrar e, através de nós, chegar a cada irmão, a cada comunidade.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

É sermos fonte de paz e harmonia em nossas famílias.


Como Maria, possamos também nós gerar vida ao mundo.
Neste espírito, lembremos o que nos diz na Mensagem de Apa-
recida: “Somos chamados a ser Igreja, de braços abertos, que sabe acolher
e valorizar cada um dos seus membros”,
Como Igreja vivamos, com alegria, neste Tempo de Advento, a
gravidez de Maria!

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A antífona de entrada deste domingo sintetiza nossa súplica, tradu-
zida pelas mais belas palavras de Isaías, profeta, poeta: “Céus, deixai
cair o orvalho, nuvens, chovei o justo, abra-se a terra, e brote o salvador!”
Pão descido do céu, divino orvalho que se torna presente entre
nós, chuva que nos lava e purifica, visita-nos Jesus, toda vez que
celebramos a Eucaristia.
Abrindo a terra e o nosso coração, faz-se presente no pão e no
vinho, para alimentar-nos e, para que, ao comungarmos seu corpo
e seu sangue, partilhemos de sua Palavra, comprometendo-nos a
testemunhá-lo no mundo.
Como Maria, que recebeu o Senhor pela ação do Espírito San-
to, e gerou-o para ser luz do mundo, nós também, ao recebê-lo na
Eucaristia, devemos levá-lo ao mundo, sendo portadores de sua luz
na comunidade e na sociedade.
A cada vez que comungamos o Cristo, no pão da Eucaristia,
possamos sentir o espírito do Senhor habitando em nós, e, ao pros-
seguir nosso caminho, procedamos como templos vivos do Espírito
de Deus, sempre grávidos de seu amor!
Seria interessante, nas celebrações eucarísticas, usar o prefácio
do Advento II A, que tem por título Maria, a nova Eva (Missal Ro-
mano, p. 409):
“Nós vos louvamos, bendizemos e glorificamos pelo mistério
da Virgem Maria, Mãe de Deus. Do antigo adversário nos veio a
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010

desgraça, mas do seio virginal da Filha de Sião germinou aquele


que nos alimenta com o pão do céu e garante para todo o gênero
humano a salvação e a paz. Em Maria, nos é dada de novo a graça
que por Eva tínhamos perdido. Em Maria, mãe de todos os seres
humanos, a maternidade, livre do pecado e da morte, se abre para
uma nova vida. Se grande era a nossa culpa, bem maior se apresenta
a divina misericórdia em Jesus Cristo, nosso Salvador”.

Sugestões para celebração “6


1. A cor litúrgica deste 4º Domingo do Advento é o roxo.
2. Acende-se a 4º vela da coroa do Advento. Este gesto pode ser
realizado por uma família, em especial, se for possível, por uma
mãe grávida.
3. As flores devem ganhar mais delicadeza e discrição para, na
noite do Natal do Senhor, serem muito mais vistosas e alegres. Es-
tamos ainda no Tempo do Advento, na espera do Natal. Não pode-
mos antecipar as alegrias próprias da festa natalina.
4. Os instrumentos musicais sejam usados com moderação.
5. Os cantos tragam presente o espírito do Advento, podendo o
canto de comunhão retomar a mensagem do Evangelho.
6. Na procissão de entrada, podem ser levadas as imagens de
Maria e José.
7. No final pode ser entoado um canto de louvor a Mãe de
Deus.
NATAL DO SENHOR
25 de dezembro de 2010

Missa da noite
Leituras: Isaías 9,1-6; Salmo 95(96)1-2a.2b-3.11-12.13;
Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14

HOJE NASCEU PARA VÓS O SALVADOR. QUE É O CRISTO, SENHOR!

Situando-nos
Hoje é Natal: festa do nascimento de Jesus!
Hoje é Natal: festa do nosso nascimento para uma vida nova!
Hoje é Natal! Mas não celebramos apenas o nascimento de um
menino em Belém. O nascer de uma criança sempre é algo que nos
encanta, mas também nos compromete.
“Cantai ao Senhor Deus um canto novo!” Esta é a nossa resposta
nesta festa do nascimento de nosso Deus — Menino. É assim que
nós, Povo de Deus, nos entendemos: eleitos de Deus para conhecer
e viver a salvação. Reconhecemos que não é somente uma salvação
para depois desta vida. Experimentamos salvação já para a vida hu-
mana aqui na Terra. Nesta noite, fazemos, mais uma vez, a experi-
ência de sermos muito amados por nosso Deus que quis vir morar
no meio de nós para nos salvar.
Queremos celebrar nossa resposta de amor ao Amor que nos
salva e nos constitui seu Povo. Nós somos o Povo de Deus que re-
nova sua identidade na celebração eucarística e recupera sua força
de missão. Somos Povo discípulo missionário de Jesus Cristo. Ele
é nosso “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6). Esta Eucaristia nos im-
pele para a missão como discípulos de Jesus, Filho de Deus feito
homem.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano A - 2010/2011

Hoje celebramos a grande notícia, a maior de todas as notícias:


“eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo”.
O grande presente que damos a Deus é nosso coração renovado de
ardor missionário, pois queremos levar a muitos a realidade esplên-
dida de um Deus que se torna gente como nós.

Recordando a Palavra
O profeta Isaías especifica que a experiência do amor zeloso do Se-
nhor se dará por um rei justo e santo. O povo do Reino do Norte,
Israel, oprimido pela destruição e deportação das lideranças, conhe-
ceu a desgraça vinda pelas mãos dos assírios. Tornou-se um povo
desorganizado, sem perspectivas, sem luz, sem identidade. Ele, po-
rém, terá tudo de volta pela ação criadora e misteriosa do Senhor,
expressa na imagem da luz que virá, embora não saiba de onde.
Uma criança nascerá e terá sobre seus ombros a tarefa real: conse-
lheiro, guerreiro, pai e príncipe. O rei que for assim será a alegria
e a esperança de todo o povo. Justiça e direito serão suas caracte-
rísticas, por elas serão devolvidas ao povo a vida e a identidade. A
alegria e a paz se tornarão, pois, as características da vida do povo.
O Salmo 95, nossa resposta à Palavra de Deus, é um hino de
louvor. Por este salmo, bendizemos nosso Deus e nos alegramos.
Expressamos também nossa confiança, pois sabemos que ele virá
“julgar a terra inteira” e seu julgamento será justo.
O Evangelho de Lucas retoma a alegria, já cantada no salmo —
“alegrem-se os céus, exulte a terra”. Ter uma identidade como povo
e ser Povo de Deus torna-se muito importante para a nação judaica
oprimida. A possibilidade de ser novamente um povo traz grande
alegria a todos, especialmente aos pobres e humildes. Estes, na gru-
ta de Belém, são representados pelos pastores, que o acolheram por
primeiro. O Menino nascido no meio dos pobres significa um Deus
protetor dos pobres tal como os povos semitas concebiam a figura
do rei ideal. Nem o imperador, nem Herodes estavam preocupados
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

com os pobres, seus interesses eram bem contrários a isto. Eles, por-
tanto, não exerciam a realeza conforme proposta pelo ideal semita.
Quem vem realizá-lo é um Menino, nascido na humildade de uma
gruta em Belém.
Lucas apresenta o nascimento de Jesus como se fosse um “dra-
ma” em três atos. Os três convergem para Jesus, mas se desenrolam
em diversos cenários e os atores neles agem numa importância di-
ferente, a cada ato. No primeiro, os protagonistas são Maria, que
dá à luz, e Jesus, que nasce. No segundo, os atores são os anjos que,
entoando hinos diante da manjedoura bendita, revelam quem é o
recém-nascido. No terceiro, os pastores, saindo dos campos, vão a
Belém, onde “encontram Maria, José e o Menino” e, de Belém eles
se dispersam, anunciando o que lhes fora revelado pelos anjos. De
cada “ato” dessa narração, o evangelista extrai uma mensagem es-
pecial e, de seu conjunto, vem a verdade da história que Lucas nos
apresenta.
Na carta a Tito, Paulo dá o sentido da vinda de Cristo entre nós;
é a manifestação da graça de Deus e fonte de salvação. Também
nos ensina a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade.
Estas são três qualidades a serem cultivadas por todo aquele que
deseja conhecer a salvação e se tornar participante da obra salvífica
do Pai.

Atualizando a Palavra
Hoje, não estamos celebrando um fato do passado, mas um fato que
acontece agora, no meio de nós, assembleia reunida em nome do
Senhor. Hoje nasceu para nós o Salvador.
Um “detalhe” interessante da narrativa de Lucas não pode
passar despercebido: “Maria envolveu o Menino em faixas” (2,7).
Esse detalhe é tão realístico a ponto de o anjo do Natal divulgá-lo
entre os pastores como sinal para poderem reconhecer o filho de
Maria. De fato, é exatamente graças a esse sinal que “os pastores, às
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano À - 2010/2011]

pressas”, “vão vê-lo”, encontram-no e reconhecem-no (16-17). Lucas


relaciona a figura de Jesus que nasce com aquela de Jesus que ressus-
cita: assim como Maria “envolveu o neonato em faixas” e “o colocou
numa manjedoura”, assim José de Arimateia “envolveu o corpo do
Crucificado em um lençol” e “o colocou num túmulo” (Lc 23,52-53).
O mesmo acontece com a presença dos anjos: estes anunciam a
Boa Nova do nascimento e também a Boa Nova da Ressurreição
(Lc 24,4-7). Por fim, no momento da ascensão, são novamente os
anjos que comunicam que Jesus subiu aos céus (At 1,10).
“Escrevendo à luz da Páscoa e na graça de Pentecostes que lhes
esclareceram o mistério de Cristo, Lucas não faz distinção entre o
que Jesus parece ser no mistério do Natal e o que ele revela ser no
mistério da Páscoa. Jesus é sempre “o mesmo”: ontem (no Natal),
hoje (na Páscoa), sempre (no tempo da Igreja) - conforme a Carta
aos Hebreus, cap. 13,8. E assim o acontecimento inicial ilumina o
acontecimento final, e este ilumina aquele, em uma reciprocidade
e em uma complementaridade das quais resultam integralmente a
divindade humana e a humanidade divina de Jesus. Isso significa a
verdade primeira e fundamental da história do Natal”.
O Natal é denominado, desde os primeiros séculos, “a festa da
Luz”. “o povo que andava nas trevas, viu uma grande luz!” “Tlumi-
2» €€

nados por esta nova luz, tornamo-nos filhos e filhas de Deus: “filhos
no Filho”. Somos conduzidos para o encontro entre o humano e
o divino, a maravilhosa partilha, o Deus humano, a humanidade
divina, a participação na divindade daquele que assumiu a nossa
humanidade. No fulgor da noite de Natal se anunciam as luzes da
noite pascal. É os batizados e batizadas são convidados a viver como
iluminados, conforme já nos exortava, no século V, o Papa Leão
Magno: “reconhece, cristão, tua dignidade!”

4 Masini, Mário. Belém. Lectio Divina do Natal. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 41.
5 Guimarães, Marcelo e Carpanedo, Penha. Guia para as celebrações das comunidades.
São Paulo: Paulinas e Apostolado Litúrgico, 2002, p. 118.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Na Eucaristia, experimentamos e aceitamos a aliança que o Senhor
Jesus quer realizar com um novo povo. É uma aliança eterna que
brota do coração e da vida do Senhor. A dimensão da celebração
natalina e sua compreensão somente serão possíveis com a celebra-
ção dos mistérios pascais. De fato, Jesus celebra a páscoa, festa da
libertação do Egito onde o povo vivia como escravo, uma vez liber-
to, Deus, através de Moisés, tornar esta massa de escravos um povo
organizado, com identidade própria.
Fazemos memória na Eucaristia deste acontecimento: a ceia
pascal. Queremos também trazer presente a libertação que Deus
quer realizar em nós. Nosso Deus é um Deus comprometido com a
liberdade, a identidade, a vida própria do povo.
A escuta da Palavra faça arder nosso coração e a partilha do Pão
faça de nós um povo comprometido com o projeto libertador de
Deus. Fazemos memória e tornamos presente, para o nosso dia e o
nosso tempo, a nova e eterna aliança de Deus. Ele se compromete
da encarnação até sua morte por nós para que tenhamos vida digna,
salva. Por isso aprendemos dele: gratuidade, generosidade, compro-
misso com a vida em nosso cotidiano. Convivência com o Senhor
é o aprendizado para convivermos com o diferente neste mundo
pluralista que a graça de Deus nos concedeu experimentar.

Sugestões para celebração

Nas Normas Universais sobre o Ano Litúrgico lemos o seguinte a


respeito do Natal: “A Igreja nada considera mais venerável, após a
celebração anual do mistério da Páscoa, do que comemorar o Natal
do Senhor e suas primeiras manifestações, o que se realiza no Tem-
po do Natal” (32). Para o povo, é uma solenidade que penetrou no
coração de todos. Nossa grande preocupação deve ser que esta fes-
ta não se torne folclore, simples tradição. Devemos nos empenhar
para que todos possam penetrar no verdadeiro sentido do Natal,
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano A - 2010/2011

vivendo na verdade os símbolos, as leituras, os cantos, os gestos, as


palavras, o espaço etc. Certamente encontraremos muito elemen-
tos profanos na comemoração do Natal, mas, de nossa parte, pre-
cisamos aproveitar o momento e a predisposição das pessoas que
vem para a celebração, ressaltando os valores da paz, da alegria, da
ternura, da fraternidade, que fazem parte da boa notícia do nasci-
mento do Salvador.
1. Nesta celebração, a cor usada é o branco ou o dourado, cores
das festas.
2. Na procissão de entrada, pode-se introduzir solenemente a
imagem do Menino Jesus, levado até o presépio por um grupo de
crianças.
3. À música e os cantos sejam próprios do Tempo de Natal. As-
segurar que sejam cantos realmente litúrgicos, lembrando que can-
tamos a Missa e não na Missa. Privilegie-se especialmente os cantos
mais conhecidos e estimados pela comunidade.
4. O hino da Glória adquire hoje especial significação. Escolha-
se um canto que a comunidade possa entoar com convicção e ale-
gria, e que não seja uma parafrase do hino litúrgico.
5. Noite de Natal, noite de acolhimento ao salvador e também
ao irmão. Neste contexto, o abraço da paz torna-se muito significa-
tivo. Ele poderia ser dado no início da celebração, como acolhimen-
to fraterno, ou ao final, como partilha da alegria comunitária.
6. O presépio é o grande símbolo da noite natalina. Ao final
da celebração, convidar para que todos dele se aproximem e can-
tem uma canção natalina que fale ao coração das pessoas, como por
exemplo “noite feliz”,
O Natal”
OLAVO BILAC (1865-1916)

Jesus nasceu. Na abóbada infinita


Soam cânticos vivos de alegria;
E toda a vida universal palpita
Dentro daquela pobre estrebaria...
Não houve sedas, nem cetins, nem rendas
No berço humilde em que nasceu Jesus...
Mas os pobres trouxeram oferendas
Para quem tinha de morrer de cruz.

Sobre a palha, risonho, e iluminado


Pelo luar dos olhos de Maria,
Vede o Menino Deus, que está cercado
Dos animais da pobre estrebaria.
Nasceu entre pombas reluzentes;
Na humildade e na paz deste lugar,
Assim que abriu os olhos inocentes
Foi para os pobres seu primeiro olhar.

Natal! Natal! Em toda a natureza


Há sorrisos e cantos, neste dia...
Salve Deus da humildade e da pobreza
Nascido numa pobre estrebaria.

* In Viver com sabedoria; tempos de Natal. Rio de Janeiro, Reader's Digest, p. 18, 2008.
SAGRADA FAMÍLIA
26 de dezembro de 2010

Leituras: Eclesiástico 3,3-7.14-17a; Salmo 127(128); Colossenses 3,12-21;


Mateus 2,13-15.19-23 (fuga para o Egito)

DO EGITO CHAMEI O MEU FILHO!

Situando-nos

Ainda contagiados pelo mistério da encarnação, somos convidados a refletir


outra verdade: Deus se insere numa família, na Sagrada Família de Nazaré.
Esta festa foi proclamada por Leão XII, no século XX. O Concí-
lio Vaticano II fixou sua celebração no primeiro domingo que segue
o Natal. Certamente fez isto para nos ajudar a reconhecer o imenso
valor deste núcleo familiar escolhido pelo próprio Deus.
Apesar da fragilidade humana, o plano divino vai acontecen-
do através de nossa participação. A família, apesar de sofrer tantas
agressões, é, ainda hoje, proclamada espaço privilegiado e insubsti-
tuível de proteção e promoção da vida humana e cristã.

Recordando a Palavra
O Evangelho de Mateus, hoje proclamado, retrata a fuga da família
de José para o Egito. O motivo que o levou a sair de sua terra com
Maria e o Menino era tremendo: Herodes, ao saber da vinda do
Messias Salvador, determinara que matassem todos os recém-nas-
cidos. Atitude que bem caracteriza aqueles que se veem inseguros
diante da novidade de Deus. Às vezes, é muito fácil eliminar ou
tirar de foco o que nos desagrada. A santa família só retornou para
Nazaré depois que Herodes morreu.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Poucas passagens bíblicas são tão fortes quanto a que é narra-


da hoje. Um rei, tirano e louco, ameaça uma família escolhida por
Deus para cumprir suas promessas em favor da humanidade. Deus
atua através de acontecimentos, até cruéis e absurdos: Jesus nasceu
em Belém por uma ordem do imperador romano; foge para o Egito
ameaçado pela crueldade de um rei; vive em Nazaré para não cor-
rer os riscos que poderia ter em Belém... Mas, é assim, desta forma,
que vai se cumprindo a palavra divina...
Os exegetas são unânimes em considerar que Mateus narra a
fuga para o Egito baseando-se literalmente em acontecimento si-
milares narrados no Antigo Testamento, porém com a teologia do
Novo Testamento. Vejamos dois exemplos.

Entrada de Jacó — Gn 46,3.7 Entrada de José — Mt 2,13.14


Deus disse numa visão noturna | Um anjo do Senhor apareceu e
a Jacó: disse em sonho a José:
“Não tenha medo de descer ao | “Levanta-te (...) e foge para o
Egito.” Egito.”
Jacó tomou todos os seus filhos | José tomou consigo o menino e
e os levou consigo para o Egito. | sua mãe e fugiu para o Egito.

Libertação do Egito Saída do Egito — Mt 2,19-21


Ex 4,19-20
Em Madiã, Javé disse a Moisés: | O anjo do Senhor apareceu em
“volte para o Egito, porque sonho a José, no Egito, e lhe
morreram disse:
todos os que projetavam matar | “Levante-se e volte para a terra
você”. de Israel, pois estão mortos
Moisés tomou sua mulher e seu | todos os que projetavam matar
filho (...) e voltou para a terra do o menino”.
Egito. José levantou-se, pegou o meni-
no e a mãe dele e voltou para a
terra de Israel.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano À - 2010/2011

A primeira leitura retirada do Eclesiástico, um dos livros sa-


pienciais, relembra a importância do quarto mandamento do De-
cálogo — honrar pai e mãe —. A identidade de um povo se mede, em
certo sentido pela relação familiar, o respeito, o amor e o cuidado
que se cultivam para com os pais.
O Salmo 127(128) inclui-se entre os salmos sapienciais. Ele exal-
ta a família que teme ao Senhor e promete-lhe felicidade e bênção.
Na segunda leitura, Paulo orienta para a forma de convivên-
cia familiar que deve ser baseada, acima de tudo, no amor, vínculo
da perfeição, e também no perdão e na paz em Cristo. O apóstolo
sublinha: “suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente”, mos-
tra, portanto, que a vida tanto na grande comunidade, como na pe-
quena comunidade familiar, exige desprendimento e vivência deste
atributo tão divino — o perdão.
É oportuno notarmos que Paulo faz recomendações a todos os
membros do núcleo familiar, sempre relacionando a atitude de um
e de outro. Mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no
Senhor— portanto com a dignidade de pessoa humana, conservando
a integridade dos valores cristãos. Maridos, amai vossas esposas e não
sejais ásperos com elas. Esta frase é inequívoca, fala por si mesma.
Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isto agrada ao Senhor. Aqui
vale a mesma observação feita em relação às mulheres. Pais, não
irriteis vossos filhos, para que eles não percam o ânimo. Eis aqui poucas
palavras que encerram uma grande pedagogia.

Atualizando a Palavra
Apesar da crescente onda de descrença em relação à família, o pro-
jeto de Deus ensina o valor inalterável que ela merece. Maria e José,
pais de Jesus, continuam sendo referência e caminho de renovação
para nossa sociedade.
A Sagrada Família ajuda-nos a caminhar na fé, na constante sin-
tonia com Deus. Avisados em sonho, conseguem fugir da maldade
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

cruel daquele que quer matar. Quantos são os perigos de hoje!


Quantos Herodes atuais querem matar a família, seja promovendo
sua desagregação, seja insistindo em sua desvalorização.
Segundo Mateus, “o filho” que é chamado de volta do Egito
é, ao mesmo tempo, o povo de Israel e Jesus. Jesus revive o que
seu povo havia vivido. Ele entra no Egito como fugitivo e pobre
como o povo de Israel e, depois de um curto espaço de tempo, sai de
lá liberto e livre como Israel. Desse modo, Mateus apresenta Jesus
como aquele que revive a história de escravidão e de libertação da
escravidão, imposta ao seu povo em tempos passados. Jesus identifi-
ca-se com cada condição humana de escravidão do tempo presente
e deixa a certeza de que todo aquele que se associa a ele na fé sai
juntamente com ele da escravidão. (...) Não há escravidão que em
Jesus não encontre libertação. Jesus é o libertador de verdade”.
Há tantas crianças indefesas, ainda pequeninas e já desprovi-
das de família e mesmo violentadas pelos sinais de morte, o que as
marcará para sempre: falta de amor e de aconchego; carência de
bens materiais para suprir necessidades básica e muitos outras mar-
cas indeléveis. Aí a Igreja (todos nós) é chamada a atuar, a mostrar
a concretude de sua “opção preferencial pelos pobres”, procurando
que todos tenham condições de uma vida familiar digna.
Os pais que amam protegem seus filhos e os conduzem por
caminhos sadios e seguros. Sabem que não é possível deixá-los se
exporem a qualquer experiência e forma de viver. Eles precisam ser
acompanhados e auxiliados para descobrir o verdadeiro sentido da
vida, para descobrirem a beleza do ideal de vida familiar cristã.
Limites evidentemente precisam ser estabelecidos. Nem tudo o
que o mundo sugere é bom. Quem pensa que 'o mundo educa” pode
colher grandes frustrações. Por isso a Igreja orienta a vida familiar
baseada no cultivo da fé, na vivência concreta do amor.
A família é uma pequena comunidade e como tal, apar de alegrias
e realizações, enfrenta também crises e dificuldades. Por isto Paulo

6 Masini, Mário. Belém. Lectio Divina do Natal. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 106.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano A - 2010/2011

recomenda “perdoai-vos mutuamente”. Viver em família requer de


cada um e de todos: respeito, solidariedade, desprendimento.
Como cristãos, convictos do grande valor da família, somos
constantemente desafiados e confrontados com outras formas de
pensar. Cabe-nos ter coragem e enfrentar tais agruras como José e
Maria, com o Menino ao colo, enfrentaram o deserto.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A celebração eucarística é o encontro da família de Deus. Nela o
próprio Senhor renova a comunhão pela graça do Seu Amor. “Ben-
dito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”.
Todos devem se sentir acolhidos, embora existam diferenças. O
que desune deve merecer reconciliação e propósito de crescimento.
Acima de tudo deve ser exaltado o que Deus faz em nós. Ele nos
torna irmãos e juntos nos faz crescer.
A Palavra sempre ilumina. Quantas pessoas, na história sagra-
da, já foram abençoadas pela presença vivificadora de Deus! Elas
nos ensinam a caminhar com mais coragem. Assim, na Oração da
Coleta, pedimos Ô Deus que nos destes a Sagrada Família como exem-
plo, concedei-nos imitar em nossos lares as suas virtudes para que, unidos
pelos laços do amor, possamos chegar um dia as alegrias da vossa casa.
As dificuldades da Sagrada Família nos ensinam que não es-
tamos imunes às tormentas, porém a confiança em Deus faz viver
com mais sabedoria. O Pai, em sua bondade, concede-nos a força do
sacramento. Assim, refeitos e fortalecidos, podemos imitar a Sagra-
da Família e aspirar a, um dia, conviver com ela no céu — conforme
expressamos na oração após a comunhão.
Rezemos para que nossas famílias sejam uma pequena igreja
doméstica. Rezemos ainda para que nossa Igreja, seja uma grande
Família!
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Sugestões para celebração


1. A cor deste domingo é o branco.
2. Pedir que as pessoas da mesma família fiquem próximas, du-
rante a celebração, reafirmando o valor e o simbolismo da proximi-
dade física.
3. Convidar, ao menos, uma família para participar da procis-
são de entrada.
4. Na Liturgia da Palavra, os familiares de quem vai fazer a
proclamação podem colocar-se ao redor do ambão.
5. Convidar uma família para levar as oferendas até o altar.
6. Ao final da celebração, após a saudação de despedida, pode-se
cantar a Oração pela Família de autoria do Padre Zezinho.
7. Ao final da celebração, pode-se distribuir a oração da família
e sugerir que ela seja rezada durante a semana na comunidade fa-
miliar ou então reunir a família amanhã, último dia do ano, para
agradecer as graças recebidas durante o ano que finda e oferecer ao
Senhor o ano de 2011.
SANTA MÃE DE DEUS, MAR LA
1º de janeiro de 2011

Leituras: Números 6,22-27; Salmo 66(67),2-3.5.6 e 8 (+2a);


Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21 (encontraram Maria,
José e o Recém-nascido)

DEUS ENVIOU O SEU FILHO, NASCIDO DE UMA MULHER.

Situando-nos
Um novo ano civil desperta após as comemorações de fim de ano.
As recordações das festas familiares ou públicas estão muito vivas.
Festas marcadas pela alegria, pelas comidas, em muitos ambientes
cuidadosamente selecionadas pelo seu “poder de dar sorte”, fogue-
tes e fogos de artifício que ecoaram na escuridão da noite e a ilumi-
naram fugazmente.
No Brasil, hoje é o grande dia da posse dos nossos novos
governantes.
Neste dia, a Igreja nos convida para festejarmos Maria Mãe de
Deus e celebrarmos o “Dia Mundial da Paz”. Hoje lemos o mesmo
evangelho proposto para a missa da aurora do Natal. A pedagogia
da Igreja dedica os dias posteriores às grandes solenidades ao apro-
fundamento do mistério celebrado, ampliando sua compreensão e
possibilitando sua vivência.
Na noite do Natal, o anjo e a corte celeste cantavam louvores a
Deus e desejavam a paz na terra aos homens por ele amados. Nos
abraços e cumprimentos de ano novo não faltaram desejos de paz.
Num ambiente tão favorável, o Papa Paulo VI instituiu o primeiro
dia do ano como momento para refletirmos sobre a paz que vem
do Messias.
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Recordando a Palavra
O Evangelho do dia é retrato de uma cena bem familiar, após o
nascimento de um filho. Maria e José estão junto ao recém-nascido
que, em sua fragilidade, solicita toda a atenção e os maiores cuida-
dos para sobreviver. O mundo tornou-se agora muito mais amplo
que o útero materno. A notícia do nascimento ultrapassa os limites
familiares e torna-se assunto para a vizinhança. As visitas vêm para
saudar os pais e acolher o novo membro da comunidade. Logo sur-
ge a pergunta: qual será o nome do menino? Estes acontecimentos
provocam na jovem mãe perguntas, inquietações e dúvidas. É pre-
ciso guardar e meditar no coração estes acontecimentos para viver
a missão de mãe.
A cena familiar apresentada revela o grande mistério de Maria
Mãe de Deus. A maternidade de Maria possui profundas e sólidas refe-
rências escriturísticas. É com o título de mãe que Maria é chamada, na
maioria das vezes, no Novo Testamento (25 vezes)... Maria é, fundamen-
talmente, para os relatos evangélicos, a Mãe de Jesus”.
A carta de Paulo aos Gálatas 4,4 afirma que quando se completou
o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nas-
cido sujeito à Lei. Jesus aparece como o Filho pré-existente. É Deus
mesmo que participa da divindade do Pai, por este enviado quando
se completou o tempo. Não se trata, portanto, de ser Jesus apenas
um homem particularmente caro e querido a Deus e que começou
a existir em sentido absoluto no momento da encarnação.
O Filho do Pai, pré-existente desde toda a eternidade, permitiu
que todos recebêssemos a filiação adotiva (Gl 4,5) e invocássemos a Deus
Aba-—o Pai (Gl 4,6). O Filho do Pai é também o filho de Maria (cf. Mc 6,3;
Mt 13,55; Jo 6,42) nascido de mulher (Gl 4,4). O Deus em sua glória assu-
me a fragilidade, a simplicidade e a pobreza da condição humana. No
centro do mistério da encarnação e da salvação, o Novo Testamento

7 (Gebara, I., Binguemer, M. Maria, Mãe de Deus e Mãe dos pobres: um ensaio a partir da mulher e da
América Latina, Petrópolis, Vozes, 1988, p.111).
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano A - 2010/2011]

coloca o homem e a mulher, Jesus e Maria, Deus tomando carne de homem


em e por meio da carne da mulher, “nascido de mulher*.
O Concílio de Éfeso (431), ao declarar expressamente que Maria
é a Mãe de Deus, esclarece definitivamente a questão da unidade
das duas naturezas de Jesus Cristo: verdadeiramente Deus e verda-
deiramente homem.
O livro dos Números apresenta-nos a bênção do Senhor. A bên-
ção é concedida como comunicação da vida por parte do Senhor.
Com a vida, vêm o vigor, a força e o êxito, que trazem a paz da mente e a
paz com o mundo.
A fonte de toda a bênção no Antigo Testamento sempre é
Deus. Ela é dada às pessoas, ao povo, aos animais e às colheitas.
Os homens abençoam no desejo e na prece para que Deus se dispo-
nha a abençoar. A bênção é particularmente eficaz quando é pro-
nunciada por uma pessoa autorizada. O Senhor pede que Moisés
comunique a Aarão e a seus filhos (Nm 6,23) que eles são chamados e
imbuídos de autoridade para abençoar.

Atualizando a Palavra
A proclamação dogmática de Maria, Mãe de Deus, ilumina e orienta
a nossa vida cristã. Toda mãe não é só mãe do corpo, mas da pessoa
inteira do filho. Em Jesus, não podemos separar a humanidade da
divindade. Em sua pessoa, é Deus mesmo que age e vive em carne
humana. Em consequência, não se pode separar, em Maria, a mu-
lher simples de Nazaré e aquela que a Igreja venera e cultua como
a Mãe de Deus. Na fragilidade, na pobreza e nos limites da carne
humana podemos experimentar e adorar o poder de Deus.
Jesus, ao iniciar a vida pública, proclama que o Reino de Deus
está no meio de nós. Fez-se presente pela encarnação assumindo
a humanidade num ventre de mulher, Deus assumiu a história

8 (Gebara, I., Binguemer, M. Maria, Mãe de Deus e Mãe dos pobres: um ensaio a partir da mulher e da
América Latina, Petrópolis, Vozes, 1988, p.111).
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

humana. Maria torna-se um símbolo do povo que crê e experimen-


ta essa chegada de Deus. É símbolo porque permitiu que a vontade
de Deus, a partir dela, se concretizasse na humanidade.
A Igreja, desde cedo, viu em Maria a nova Eva, pois sua ma-
ternidade indica uma nova dimensão. É mãe de todos os viventes,
fonte e origem da nova vida. Deus, que é vida e vida em plenitude,
mostra seu rosto em Maria de Nazaré.
Na Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vati-
cano IJ, a Igreja ressalta a dimensão salvífica da maternidade de Ma-
ria, não considerada apenas como um fato do passado, mas como
uma realidade que se renova em todos os tempos. Maria torna-se
figura da Igreja, estabelecendo íntima unidade entre ambas. A mãe
de Deus, como serva do Senhor, põe sua maternidade a serviço da
salvação. A Igreja é chamada a ser serva e colocar o tesouro da fé
a serviço do mundo. A maternidade de Maria caracteriza-se como
um dom e uma dignidade, mas também como um serviço.
Na solenidade da Mãe de Deus, por orientação da Igreja, refle-
timos, como segundo tema, sobre a paz. A bênção proveniente de
Deus confere aos abençoados, de acordo com a primeira leitura,
três dons: sermos guardados ou protegidos pelo Senhor; termos sua
compaixão; vivermos na paz.
É comovente a atitude do Senhor ao conceder sua bênção. O Se-
nhor volte para ti o seu rosto (Nm 6,26). Em nossos dias, muitos assuntos
encaminhamos e resolvemos sem a presença física do outro. Em outras
situações, podemos desviar o rosto para não sermos abordados ou por
não querermos ver o que nos salta aos olhos. Principalmente nas cida-
des maiores, passamos despercebidos no meio de tantas pessoas.
Quando alguém volta o rosto para nós, os mais diferentes senti-
mentos podem tomar conta de nós. Quando a face do Senhor brilha
sobre nós, temos a certeza de que sua vida, seu vigor e sua força
invadem nossa vida. Em primeiro lugar, vem o dom de sermos cui-
dados: que Ele nos guarde, nos proteja desde os menores medos
e ameaças, até diante daqueles frente aos quais somos totalmente
impotentes.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano A - 2010/2011

A sociedade, o trabalho profissional e o ambiente de trabalho


cobram eficiência e competência. Cobrança similar temos em nosso
ambiente de Igreja, de escola e de família. O próprio Jesus pede-nos
que sejamos perfeitos como o Pai do céu. Acrescenta, porém, que
são felizes os misericordiosos. A compaixão de Deus tornou-se fato
quando ele assumiu nossa condição humana.
O fruto da bênção mais desejado e expresso pelas pessoas na
passagem de ano é a paz. A paz é uma qualidade de Deus (Senhor-
paz) antes de ser um dom de Deus para os homens ou um projeto
humano a ser construído. A criação, em especial o ser humano, é
um reflexo de Deus. As criaturas almejam viver na harmonia, pois
formam, por natureza, um conjunto harmônico.
Simplesmente destacamos que a paz é efeito da bênção do Se-
nhor, pois Ele volta seu rosto sobre as criaturas. A plenitude da
vida derramada pelo Senhor traz a fecundidade, o bem-estar, a au-
sência de medo, a alegria profunda, a paz da mente e a paz com o
mundo.

Ligando a Palavra com a ação eucarística

Os textos bíblicos e litúrgicos da solenidade da Mãe de Deus ex-


pressam o júbilo pelas maravilhas feitas por Deus em favor de seu
povo. Começando pela oração da coleta, reconhecemos que Deus,
pela virgindade fecunda de Maria, nos deu a salvação.
O salmista convida-nos a pedir que a face do Senhor se vol-
te sobre nós e nos dê a sua graça e a bênção. E insiste: que as na-
ções vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem!
(Sl 66,6) O louvor é sincero reconhecimento da retidão de governo
de Deus.
A oração depois da comunhão, como último louvor e recomen-
dação antes de voltarmos a nossos lares e iniciarmos o novo ano,
reza: Ó Deus de bondade, cheios de júbilo, recebemos os sacramentos celes-
tes; concedei que eles nos conduzam à vida eterna, a nós que proclamamos
a Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Enfim, penetramos no mistério do Natal do Senhor, junto a


Maria e com Maria. Sentimos profunda ternura por ela: acaba de ser
Mãe de Deus. Agora, é também nossa Mãe. Saudamos a ela como
filhos, conscientes de que somos pecadores, por isso rezamos diaria-
mente: “rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte.”
Também no Ato Penitencial recorremos a ela: “e peço a Virgem
Maria, aos anjos e santos, e a vós, irmãos e irmãs, que rogueis por
mim a Deus, nosso Senhor!”

Sugestões para celebração


1. A cor deste domingo é o branco ou dourado.
2. Na procissão de entrada, pode entrar uma família com uma
criança nascida há pouco tempo. Podem ser levados objetos que re-
presentam paz, como a bandeira branca, flores.
3. No início da celebração dar o abraço da paz e desejar os votos
de feliz ano novo.
4. Fazer uma prece especial pelos novos governantes.
5. Usar a mensagem para o Dia Mundial da Paz, escrita pelo
Papa Bento XVI. Pode-se fazer uma referência a ela na homilia, nas
preces ou numa breve reflexão final. Pode-se ia concluir com a Ora-
ção de S. Francisco — “Senhor, fazei de mim um instrumento de
vossa paz!”
6. Dar a solene bênção de início de ano, conforme previsto no
Missal.
EPIFANTA DO SENHOR
02 de janeiro de 2011

Leituras: Isaías 60,1-6; Salmo 71(72), 2.7-8.10-11; Efésios 3,2-3a.5-6;


Mateus 2,1-12 (Viemos do Oriente adorar o Rei)

CRISTO SE REVELA E QUER SALVAR A TODOS

Situando-nos brevemente

A solenidade da Epifania celebra a manifestação do Messias ao


mundo, lembrando a adoração do menino Jesus pelos Magos. Os
Magos aceitam pela fé a revelação de Deus sobre o Messias Jesus,
ao passo que Herodes quer matá-lo. Eles souberam ver em Jesus o
Menino-Deus e sua fé valeu-lhes um privilégio: serem os primeiros
entre os gentios a adorá-lo. Grande deve ter sido a alegria deles em
contemplar o Messias: “E, entrando na casa, viram o Menino com Ma-
ria, sua Mãe, e prostrando-se o adoraram” (Mt 2,11).
O Evangelho da Epifania confirma o prólogo de São João. A
Palavra de Deus, Jesus Cristo, é a luz verdadeira (cf. Jo 1,9), que ilu-
mina e liberta todas as pessoas. Encontrar aí a “dimensão universal
da obra de Jesus”, que acontece por sua “Encarnação” no mundo, lu-
gar que os Magos encontraram pela orientação de conhecedores das
promessas. De Belém para o mundo, brilhou a luz da vida, para sal-
var a todos, como foi escrito pelo profeta: “E tu, Belém, terra de Judá,
de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de
ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo” (Mt 2,6).
Na antiga liturgia bizantina, o Natal era designado pelo nome de
Epifania, que, na etimologia grega, significa “manifestação”, “revela-
ção”. Na narração evangélica da vinda dos Magos, há uma grande ins-
tância de “revelação”: desejam-na os Magos, mas a desejam e procu-
ram também “os sacerdotes e os escribas” e, a seu modo, até mesmo
“É Ele que vem para nos salvar!" (Is 35,4)

Herodes a deseja (Mt 2,4.7). Os Magos procuram a “revelação” pers-


crutando os céus (Mt 2,2), os sacerdotes e escribas pesquisam nas Es-
crituras e Herodes interroga os escribas e os magos (Vv. 4.7).

Recordando a Palavra

O Evangelho inicia com a anunciação do anjo a Maria e termina


com a perda de Jesus e seu encontro no templo de Jerusalém, pas-
sando pela visitação, pelo nascimento, pelo sacrifício dos inocentes,
pela fuga para o Egito e pelo regresso a Nazaré. Jesus é apresentado
como aquele que revela o Pai (cf. Jo 1,18).
O evangelista descreve a transparente presença de Deus em
meio a seu povo. “Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela,
que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde
estava o menino” (Mt 2,9). Assim Deus ilumina a humanidade com
a pessoa de seu Filho Jesus, que é a “luz do mundo”. As pessoas são
atraídas por esta luz, vão até Jesus, o adoram e lhe oferecem presen-
tes: ouro, incenso e mirra.
O simbolismo dos presentes ofertados pelos Magos mantém
o caráter cristológico. Referindo-se aos Magos, S. Pedro Crisólogo
(século V) interpreta assim: “Com o incenso eles reconhecem que
Jesus é Deus; com o ouro o aceitam como rei; com a mirra expri-
mem a sua fé naquele que deveria morrer”. Veem assim caracteriza-
das as verdades de Jesus: sua divindade, sua pregação do Reino, sua
redenção salvífica. A esse simbolismo cristológico dos dons, junta-se
o de caráter ascético: o ouro representa a virtude; o incenso, a ora-
ção; a mirra, O sofrimento, ou, respectivamente, boas obras, oração,
sacrifício. Podem ser interpretações “ingênuas”, mas, sem dúvida,
repletas de mensagens.
Jesus não quis nascer na importante cidade de Jerusalém, mas
na pequena e humilde Belém. Foi ali que brilhou o sol da justiça, o
verdadeiro rei messiânico, que apontará o caminho da libertação
para a humanidade.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano À - 2010/2011]

A luz, que é Jesus, é muito importante, pois nela todas as pes-


soas terão oportunidade de se deixarem iluminar, encontrando co-
ragem e alegria para buscar a salvação, por isso cantamos com o
salmo: “as nações de toda terra hão de adorar-vos, ó Senhor!”
Foi-nos revelado, na pessoa de Jesus Cristo, o amor solidário,
gratuito e verdadeiro, como lembra a segunda leitura: “Este misté-
rio, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba
de o revelar agora, pelo Espírito...” (Ef 3,5).
Partindo da fé pós-pascal da comunidade cristã primitiva, aco-
lhemos o Evangelho da infância de Jesus, no qual se pode destacar
“a messianidade e a divindade” de Jesus e, como mensagem princi-
pal, sua “ manifestação ao mundo”.

Atualizando a Palavra
O que a manifestação de Jesus pode significar para o mundo atual?
Qual a importância de sua humanidade e de seu reinado? Como nós
podemos hoje, manifestar e testemunhar a “luz que é Jesus Cristo”?
Um rei não nascido no palácio do rei e sim na pequenina Be-
lém, em total pobreza, ao contrário de Herodes: ele não veio para
dominar e sim para servir, para reunir e salvar. Tudo é presidido
pelo amor misericordioso de Deus, baseado em sua bondade e não
nos méritos humanos.
A Palavra de Deus é a mesma, tanto para os judeus da Palestina
quanto para os cristãos de hoje, ela confirma a realidade da pro-
messa da antiga aliança. É um convite para acolher a vida de Cristo
desde o início, com a proposta do “ Reino de Deus”, que já chegou
e está no meio de nós. É um novo caminho a ser seguido, ele mes-
mo dirá: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Caminho que
supera todas as outras propostas — o amor. “Deus é amor” (1Jo 4,8).
Este amor, fonte regeneradora da nossa vida, leva-nos a criar gestos
oportunos, capazes de responder aos anseios humanos. Como diz
São Paulo, amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo
suporta” (1Cor 13,7), pois é a vontade e a vida do próprio Deus.
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Acolhendo Jesus, que é a Palavra criadora e salvadora do amor


de Deus, fazemos como Maria sua mãe: nós nos tornamos o lugar
onde Deus assumiu o humano. “O Verbo de Deus se fez carne”
(1Jo 1,14). O Filho de Deus, há pouco nascido, assumiu as feridas e
dores da humanidade, curando-as por sua entrega ao Pai (cf. Is 53,5),
com os sinais de um amor libertador e salvador.
Somos chamados a acolher o Cristo da Epifania, a graça de sua
manifestação, pois a salvação é para todos. Os pagãos foram os pri-
meiros a recebê-la. Hoje somos nós, livres em Cristo, anunciando
e testemunhando a Palavra de Deus a todos. Assim formamos com
Cristo um único corpo, como Povo de Deus a caminho, com amor
especial aos pobres. Enquanto realizamos o nosso caminho de “dis-
cípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa respos-
ta de fé e anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da
humanidade” (cf. Documento de Aparecida, n. 134), em espírito de
Bom Samaritano (cf. Lc 10,29-37), fazendo-nos próximos, especial-
mente dos pobres e excluídos, conforme os ensinamentos e a práti-
ca de Jesus. Neste caminho, nos santificamos. À medida que cresce
em nós a consciência de pertencer a Cristo e manifestar seu amor
aos outros, testemunhá-lo com alegria e esperança, assumimos nos-
sa missão de Cristãos no mundo: “anunciar a Boa Nova aos pobres,
curar os enfermos, consolar os tristes, libertar os cativos e anunciar
a todos o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).
Não imitemos a atitude de Herodes e seus contemporâneos. Não
se trata da dificuldade em acolher Jesus e sua Palavra, mas trata-se
de uma recusa preconcebida e intencional que os Evangelhos quase
visualizam na expressão “não querer”. Os convidados para o banque-
te messiânico “não quiseram ir” (Mt 22,3; Lc 14,17); o irmão do filho
pródigo “não quis entrar em casa”, significando que rejeitava o amor
do Pai que perdoa e acolhe (Lc 15,28); aos judeus Jesus repreende:
“mas vocês não querem vir a mim para ter a vida eterna” (Jo 5,40).
Também Paulo e Barnabé, em Antioquia, tiveram a experiência da
recusa surda e sem razão, declarando com franqueza: “vocês rejeitam
a Palavra de Deus e não se julgam dignos da vida eterna” (At 13,46).
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano A - 2010/2011

A experiência mais humana e humanizante é professar, com


palavras e gestos, a fé no Deus de Jesus, guiados pela estrela, seguin-
do a luz da paz, da justiça e da fraternidade. Assim teremos uma
vida nova e construíremos um mundo melhor como pedimos no
início da celebração: “O Deus, que hoje revelastes o vosso Filho às
nações, guiando-as pela estrela, concedei aos vossos servos e servas,
que já vos conhecem pela fé, contemplar-vos um dia face a face no
céu” (oração do dia).

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A Epifania, como festa litúrgica importante, retoma o Natal e ce-
lebra a humanidade de Jesus manifestada a todos os povos, com
ênfase na dimensão universal da salvação.
Onde buscamos força para praticar a fé, a caridade com justi-
ça e solidariedade para com os mais necessitados, senão no Cristo
presente na Eucaristia? Nós damos graças a Deus por todos os bene-
fícios recebidos, principalmente por seu Filho Jesus que disse: “Eu
sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão, viverá eternamente”
(Jo 6,51).
A Eucaristia compromete-nos a partilhar a própria vida com as
outras pessoas, a exemplo de Jesus. Para receber o Corpo e Sangue
de Cristo, devemos reconhecê-lo nos mais pobres (cf. Mt 25,40) e
comprometer-nos com ele. Vale a pena refletir sobre este pequeno
trecho de uma antiga homilia: “Degustaste o Sangue do Senhor e não
reconheces sequer o teu irmão. Desonras esta própria mesa, não julgan-
do digno de compartilhar do teu alimento aquele que foi julgado digno
de participar desta mesa. Deus te libertou de todos os teus pecados e te
convidou para esta mesa. E tu, nem mesmo assim, não te tornaste mais
misericordioso” (Homilia de S. João Crisóstomo, in Catecismo da Igreja
Católica, n 1397).
Celebrar a Eucaristia é comprometer-se a viver como Jesus vi-
veu, doando-se aos outros. “A Igreja vive da Eucaristia” (Ecclesia de
Eucaristia, n. 1). Como membros seus, temos o compromisso de
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

criar “comunhão de vida”, manifestando uns aos outros o mesmo


amor de Deus, manifestado por Jesus na Epifania.
A Eucaristia leva-nos a agir em nome de Jesus Cristo, lança-nos
para fora de nós, desafia-nos a partilhar, impele-nos a sermos como
o nascido em Belém: “ Pão Repartido” para a humanidade.

Sugestões para celebração


1. As imagens dos magos podem ser levadas na procissão de entrada
para serem colocadas no presépio ou serem aí postas logo após o
Evangelho. Não sendo oportunas estas indicações, que as imagens
já estejam no presépio antes do início da celebração.
2. Valorizar a presença, na celebração, das diferentes raças e
culturas.
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BATISMO DO SENHOR
09 de janeiro de 2011

Leituras: Isaías 42,1-2.6-7; Salmo 28(29),1ae 2.3ac-4.3b e 9b-10 (+11b);


Atos 10, 34-38; Mateus 3,13-17 (Este é o meu Filho amado)

“ESTE É MEU FILHO AMADO, NO QUAL EU PUS O MEU AGRADO”

Situando-nos
A festa do batismo de Jesus fecha o ciclo litúrgico do Natal. É muito
importante lembrar a ligação da festa de hoje com o mistério do
nascimento de Jesus. Ela faz a transição para a primeira parte do
Tempo Comum que iniciaremos logo a seguir.
Jesus recebe o batismo, mesmo diante do protesto de João Ba-
tista, fato que inaugura a vida apostólica do Messias (em hebraico),
do Cristo (em grego). Ungido com o Espírito de Deus e com seu
poder, o Filho amado vai andando por toda a parte, fazendo o bem e
curando todos (At 10,38); tirando os cativos da prisão; livrando do cárcere
os que vivem nas trevas (cf. Is 7).
Na festa do Batismo de Jesus, revivemos e reanimamos nosso
dom batismal que nos tornou filhos e filhas amados do Pai e nos
fez olhar os outros como irmãos. Agradecidos, queremos ser aos
que nos levaram à pia batismal e nos educaram na fé. Devido a eles,
hoje, a partir da graça recebida, nos comprometemos com nossa
Igreja e com o mundo.

Recordando a Palavra
Entre os judeus piedosos e especialmente entre os essênios em
Qmram, o batismo por imersão nas águas fazia parte dos rituais de
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

purificação e de comprometimento em servir a Deus. O batismo


realizado por João tem caráter penitencial. É também anúncio e
antecipação do batismo cristão na água e no Espírito Santo.
João tinha começado sua missão antes de conhecer Jesus. Ele
também vivia da esperança. Anunciava por encargo de Deus, ape-
lando ao desejo de libertação que o povo sentia. Prometia um li-
bertador, mas sem conhecer sua identidade. João começa um movi-
mento que ainda não tem “chefe” e declara que este não é ele.
A missão e as figuras de João e de Jesus são independentes. Es-
tão relacionadas entre si pelo anúncio e pela realidade. A única fina-
lidade do batismo de João era permitir que aquele que chegaria se
manifestasse a Israel, sendo a criação de um ambiente de expectati-
va condição para isso. Seu batismo era, pois, sinal de adesão ao que
chegava como luz-vida, rompendo com a situação anterior.
Se a marca do batismo de João era de caráter mais ético que cul-
tual e manifestava-se mais como rito de conversão e confissão dos
pecados do que como purificação legal, este não era um batismo
apropriado para Jesus. Em Hebreus 3,15, lemos que Jesus era igual a
nós, menos no pecado. Compreende-se a insistência de João em persu-
adir Jesus que este rito não lhe era necessário. Na resposta de Jesus,
temos a indicação de que Ele veio cumprir tudo o que Deus quer.
Jesus coloca-se deliberadamente na fila dos pecadores. Quer ser consi-
derado como mais um, já que havia assumido solidariamente nossa condi-
ção humana, embora nunca tenha havido pecado nele (CABALLERO B.
Nas Fontes da Palavra, pág. 64). É uma atitude que faz parte do seu
programa de kénosis,(humilhar-se) na linguagem de São Paulo. É a
imagem do “servo” (cf. Isaías) que carrega o pecado do povo, solida-
riza-se com nossa história e não se afasta da humanidade pecadora,
pois sua missão não é condenar, mas promover a verdade, fortalecer
o pavio que ainda fumega (cf. Isaías).
O batismo de Jesus é manifestação messiânica e está dentro das
grandes teofanias bíblicas. A declaração pública do Pai sobre a fi-
liação divina do homem Jesus é o respaldo de Deus, a investidura,
a unção messiânica do Espírito para a missão profética de Cristo.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

O Espírito designa também o selo que o Pai pôs em Jesus. É a carta


credencial que inaugura seu anúncio do Reino de Deus. Jesus é pro-
clamado “filho bem-amado” e sobre ele desce o Espirito que o investe na
missão de profeta (anúncio da mensagem da salvação), sacerdote (o único
sacrifício agradável ao pai), rei (messias esperado como salvador) — [Mis-
sal dominical).
O espírito que desce sobre Jesus e faz dele a presença perma-
nente de Deus na terra constitui a origem divina de sua missão e
pessoa, por isso Jesus vive na esfera do Espírito e pertence ao que é
do alto. A qualidade do Espírito está marcada por sua procedência:
“do céu”. O Espírito é o amor leal do Pai que se comunica ao Filho
e a glória que nele resplandecerá.
A interpretação do simbolismo da pomba não é única. Em pri-
meiro lugar, a expressão “como pomba” era fórmula comum para
denotar o carinho pelo ninho: o Espírito encontra o seu ninho, seu
lugar natural e querido em Jesus. A pomba representa, portanto, o
amor do Pai, que estabelece em Jesus sua habitação permanente. A
descida do Espírito em forma de pomba seria alusão ao princípio da
criação, pois no princípio dos tempos “pairava sobre a superficie das
águas” (Gn 1,20) o espírito de Deus. Agora em Jesus a criação torna-
se completa.
A unção messiânica de Jesus pelo Espírito de Deus recorda as
unções de juízes, reis e profetas da Primeira Aliança, mas as supera.
A unção, como requer a natureza do acontecimento, é acompanha-
da por testemunhas qualificadas, como João Batista, e por todos os
presentes que ouviram a voz vinda do céu.

Atualizando a Palavra
O verbo batizar tem em grego dois significados: submergir e empapar (como
a chuva empapa a terra).
O batismo de João era insuficiente. Despertava o anseio de vida
e levava a dar adesão ao messias que chegaria, mas tal adesão ficava
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

ainda nos limites dos propósitos humanos. É somente o Espírito


que, ao consagrar e comunicar a vida nova, dará firmeza a essa ade-
são, envolvendo toda a vida do batizado.
O Espírito que consagra é o que liberta do pecado do mundo,
o que tira o homem da escravidão e das trevas, comunicando-lhe a
vida divina, que é amor leal, capacidade de amar. Dado o Espírito,
completa-se a obra da criação. Enquanto o homem não tiver recebi-
do o Espírito, sua criação não estará ainda terminada, será somente
“carne”.
O Espírito reside em Jesus. Sua comunicação ao homem cria
semelhança e comunhão com Jesus. Assim, o Espírito dá ao homem
sua nova realidade: ser capaz de amar como Deus Pai ama Jesus. O
desenvolvimento e a prática deste dom será o conteúdo do novo
mandamento do amor.
Próprio do Espírito é dar a vida de forma definitiva, a qual está
relacionada com o conhecimento pessoal do Pai e de Jesus Messias.
A razão é que o conhecimento de Deus como Pai não é meramente
intelectual; ninguém pode conhecê-lo a não ser que seja filho. Isto
vale dizer que ninguém pode conhecê-lo se não tem seu Espírito. O
Espírito dá sintonia com o doador do dom. O tema da vida que o
Espírito comunica se formulará em termos de “novo nascimento”
ou “nascer do alto”. Novo nascimento que capacita a entrar no reino
de Deus, a etapa definitiva da criação, começada na comunidade
crista.
O Batismo na vida do cristão é o ponto inicial de todo itinerário
da vida cristã. Morrendo com Cristo para nossa condição de peca-
dores, recebemos o Espírito da vida nova e assumimos o projeto e
a missão de Cristo em solidariedade com o homem pecador. A fór-
mula trinitária do Batismo cristão indica que somos filhos amados,
escolhidos e preferidos para vivermos a vida na comunidade eclesial
e no mundo.
O Batismo recebido na infância, por desejo dos pais, é, antes
de tudo, um dom, uma eleição de Deus, uma vocação para a fé. O
diálogo de Deus conosco não começa impondo-nos obrigações e
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

tarefas, mas oferecendo-nos a graça e a salvação por Jesus Cristo.


Começa o relacionamento conosco dando-nos seu Espírito e cha-
mando-nos de filhos amados. O Espírito recebido eleva a vida dada
por nossos pais, para sermos filhos de Deus.
O amor é envolvente. Estabelece afetivos e efetivos laços de co-
nhecimento e de atos. O amor recebido é correspondido amando.
O Batismo é expressão de amor entre o criador e a criatura. À cria-
tura torna-se uma imagem real do criador no estilo de vida e nas
atitudes. A criatura torna-se para o mundo o rosto esperançoso de
Deus que torna novas todas as coisas, pois Ele andou por toda a parte,
fazendo o bem e curando os que estavam dominados pelo demônio: porque
Deus estava com ele (At 10,38).
A atitude humilde de Cristo, de cumprir toda a justiça, revela
sua abertura aos desígnios do Pai. Esta atitude nos ajuda a nos colo-
carmos no devido lugar em relação a Deus e ao próximo. Esvaziar-
se, abaixar-se, colocar-se na condição do outro torna-se o caminho
divino de abrir espaço para o Espírito de Deus penetrar e agir e
tomar conta totalmente, como faz a água em contato com a terra.
Tanto a atitude de João Batista quanto a de Jesus revelam eficaz-
mente o desejo de submeter-se à vontade do Pai, pois aí está a ele-
vação da vida.
Podemos fazer uma analogia com a imagem da pomba que cui-
da de seus filhotes no ninho. Os filhotes são alimentados e cuidados
num mesmo ninho, portanto juntos. A Igreja é comunidade que
abriga os filhos amados. Sobre ela paira o Espírito do Senhor para
alimentar, cuidar e garantir a vida recebida. Sendo cuidados com
tanto carinho e zelo, os laços fraternos se fortalecem e o compro-
metimento aumenta.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


O prefácio do batismo do Cristo no Jordão expressa a maravilha des-
ta festa e as repercussões na vida cristã. Hoje, nas águas do rio Jordão,
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

revelais o novo Batismo, com sinais admiráveis. Pela voz descida do céu,
ensinais que o vosso Verbo habita entre os seres humanos. E pelo Espírito
Santo, aparecendo em forma de pomba, fazeis saber que o vosso Servo, Je-
sus Cristo, foi ungido com o óleo da alegria e enviado para evangelizar.

Sugestões para celebração


1. Seria muito bom que, dentro da celebração eucarística, alguém
recebesse o sacramento do Batismo.
2. Caso não seja celebrado um Batismo, dar destaque ao rito do
sinal da cruz.
3. Valorizar a profissão de fé. Seria aconselhável renovar as
promessas batismais ao redor da pia batismal e do Círio Pascal. A
renovação pode ser feita em forma de perguntas e respostas, acom-
panhada de gestos como tocar a água, elevar velas acesas, erguer as
mãos.
4. Onde não há pia batismal, pode-se colocar num lugar ade-
quado uma vasilha com água. O presidente abençoa a água e convi-
da toda a comunidade a renovar seu batismo.
5. Valorizar os padrinhos e madrinhas de Batismo.
6. Na procissão de entrada, levar os símbolos do sacramento do
Batismo.
O TEMPO COMUM E AS CELEBRAÇÕES
DAS COMUNIDADES
Começa agora o Tempo Comum (TC) do Ano Litúrgico. Às ve-
zes, não nos damos conta de sua riqueza espiritual e de sua peda-
gogia educativa nos caminhos de Deus. O T'C tem características
próprias, ao longo de trinta e três ou trinta e quatro semanas. Não
se celebram aspectos especiais do mistério pascal de Cristo, mas o
mistério é visto e contemplado em sua globalidade, particularmen-
te aos domingos.
J. Lopéz Martin dá uma visão ampla e muito significativa do
TC, ao explicar: O Tempo Comum é um tempo importante, tão impor-
tante que, sem ele, a celebração do mistério de Cristo e sua progressiva as-
similação pelos cristãos seriam reduzidos a episódios isolados, ao invés de
impregnar toda a existência dos fiéis e das comunidades. Somente quando
se compreender que o Tempo Comum é um tempo indispensável, que de-
senvolve o mistério pascal de modo progressivo e profundo, pode-se dizer
que se sabe o que seja o ano litúrgico. Dar atenção unicamente aos “tempos
fortes” significa esquecer que o ano litúrgico consiste na celebração, com
sagrada lembrança no curso de um ano, de todo o mistério de Cristo e da
obra da salvação” (J. Lopez Martin, L'anno litúrgico, Ed. Paoline, C.
Balsamo, 1987, p. 200).
O TC é um tempo privilegiado em que a comunidade apro-
funda o mistério pascal; assimila e interioriza a Palavra de Deus no
contexto da história; cultiva o compromisso batismal, lembrado e
celebrado na Vigília Pascal. Nesta perspectiva, o domingo deve ser
lembrado e cultivado como páscoa semanal, dia da assembleia e dia
da eucaristia.
No TC, fazemos a leitura contínua da Sagrada Escritura pela
qual revivemos, nos diversos domingos, os inesgotáveis aspectos
do mistério pascal de Cristo. Esses domingos recebem sua força ou sua
espiritualidade de duas fontes: dos tempos fortes e dos próprios domingos.
Assim, o Tempo Comum é vivido como prolongamento do respectivo tempo
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

forte”. Na primeira parte do TC, partimos da vida que nasceu no Na-


tal e manifestou-se na Epifania e, para produzir frutos, necessita da
ação do Espírito Santo que age no batismo de Jesus. Batizados com
o Espírito Santo, produzimos, como Igreja, bons frutos.
No Ano A, proclama-se na liturgia dominical o evangelho de
Mateus, no qual aparece a centralidade do Reino de Deus. O evan-
gelista apresenta Jesus como o Mestre da Justiça. Jesus inicia dizen-
do ao ser batizado por João Batista: “Por enquanto deixe como está!
Porque devemos cumprir toda justiça”. No contexto das bem-aven-
turanças, Jesus vai exigir dos seus seguidores uma prática da justiça
superior a burocrática e formal das lideranças judaicas. “Se a justiça
de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês no
entrarão no Reino do Céu”.
Exigirá para essa justiça prioridade absoluta: “Em primeiro lu-
gar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês,
em acréscimo, todas essas coisas”.
O Evangelho de Mateus sugere um discipulado comprometido
com a justiça que faz o Reino de Deus acontecer.

Considerações e sugestões em vista das


celebrações
1. O TC prolonga no cotidiano “o sabor da festa pascal”, dá um sen-
tido à vida e às lutas, reconcilia-nos com o que é comum, rotineiro e
ajuda-nos a descobrir e vivenciar, nos acontecimentos, a presença da
Páscoa de Cristo em realização na história. Nele celebramos todo o
mistério de Cristo em sua plenitude e globalidade.
2. A liturgia do TC proclama a presença atuante e amorosa do
Senhor que, pela ação vivificante e transformadora do seu Espírito,
realiza a Páscoa nas situações mais comuns de nossa realidade hu-
mana como: trabalhos, encontros, conflitos, cansaços, convivência,
lutas e lazer. Tornando-a, aos poucos, nova e ressuscitada.

9 BECKHAÁUSER, Frei Alberto. Viver o Ano Litúrgico, Vozes, Petrópolis, 2003, p. 163.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

3. O TC inicia na segunda-feira posterior ao domingo do Ba-


tismo do Senhor e termina na terça-feira, antes da Quarta-feira de
Cinzas. Recomeça na segunda-feira de Pentecostes sendo concluído
no sábado anterior ao primeiro domingo do Advento. Dividido em
duas partes, comporta 33 ou 34 domingos.
4. Os primeiros domingos fazem uma ligação maior com a fes-
ta da Epifania e nos motivam a adorar o Senhor que se manifesta
anunciando sua missão e chamando os primeiros discípulos. Nos
demais domingos, recordamos os fatos que marcaram a missão de
Jesus. Os últimos domingos do ano litúrgico lembram a dimensão
escatológica e nos alimentam na esperança da vinda do Senhor.
5. À celebração dominical deve ser o grande encontro da co-
munidade cristã — assembleia pascal e festiva — reunida para fazer a
memória da Páscoa de Jesus, presente em sua vida, dando-lhe sen-
tido e direção.
6. É necessário e indispensável ligar a celebração semanal da
Páscoa com os apelos que nascem na vida, seja da religiosidade po-
pular, das pastorais, das lutas pela vida, seja com a solicitude pela
paz mundial, pela convivência harmoniosa entre as nações.
7. Além da dinâmica pascal, o que caracteriza cada domingo do
TC é o Evangelho do dia que, que neste ano, retoma o evangelista
Mateus. De domingo a domingo, o Evangelho vai nos mostrando
que os verdadeiros seguidores de Jesus, de algum modo, terão que
ser “pequenos” neste mundo; que o Pai dá mais chance aos que são
excluídos e rejeitados, do que aos bem instalados; proclama que
os pobres serão felizes no Reino e apresenta “gente de nada” com
quem Cristo identifica-se em nossas relações humanas (Mt 25,31-46).
Evangelizados na escola de Mateus, vamos nos educando para o es-
pírito de renovação e gratuidade, que é característico da celebração
eucarística.
8. Algumas ações simbólicas dão ao domingo a característica
de Páscoa semanal: a comunidade reunida, a proclamação da Pa-
lavra de Deus e a Ceia do Senhor, ou ceia fraterna (ágape), no caso
das celebrações da Palavra. A comunidade encontra sua maneira de
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

vivenciar cada um desses gestos como expressão criativa e incultu-


rada de sua vida e compromisso de fé.
9. É importante revalorizar, durante o TC, no início da cele-
bração ou no momento da profissão de fé, o rito pascal de acender
o círio, ou o rito de aspersão, ou o toque na água batismal como
renovação da Páscoa e recordação do Batismo,
10. O Evangelho de cada domingo, ao trazer presente um acon-
tecimento da vida de Jesus, bem como as outras leituras e o salmo,
sugere, em geral, um simbolo ou gesto que marca aquele domingo
e ajuda a comunidade a “guardar no coração” a Palavra, vivendo-a
no decorrer da semana.
11. A espiritualidade litúrgica, sobretudo no TC, inspira-se nos
evangelhos sinóticos e permite “fazer do rito um ato de amor” e
desenvolver um estilo mais espontâneo, afetuoso, orante, alegre
e comprometido de celebrar, em que as pessoas que se reúnem
tornam-se o símbolo primeiro e indispensável. É importante cui-
dar que cada gesto, rito ou ação simbólica sejam realizados com o
corpo todo, expressando o sentido teológico e a atitude espiritual
correspondente.
2º DOMINGO DO TEMPO COMUM
16 de janeiro de 2011

Leituras: Isaías 49,3.5-6; Salmo 39(40),2.4ab.7-8a.8b-9.10 (A-8a-9a);


ICoríntios 1,1-3; João 1,29-34 (Eis o Cordeiro de Deus)

EIS O CORDEIRO DE DEUS, QUE TIRA O PECADO DO MUNDO.

Situando-nos

Concluído o tempo natalino, iniciamos uma sequência de “domin-


gos comuns”, nos quais os evangelhos descrevem a vida pública de
Jesus, depois de seu batismo. No Brasil, o 1º domingo comum é
substituído pela festa do Batismo do Senhor. No 2º domingo, João
Batista apresenta Jesus a seus discípulos, chamando-o de Cordeiro
de Deus.
Este domingo é denominado testemunho de João Batista, pois,
é uma continuidade do batismo do Senhor e João Batista dá seu
testemunho sobre Jesus: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!”
A Palavra de Deus está centrada no testemunho sobre Jesus
Cristo. O profeta Isaías anuncia o Servo, Israel, como luz das na-
ções e portador de sua salvação, em primeiro lugar, ao povo eleito e
depois a todas as nações. João Batista, ao ver Jesus, proclama que a
profecia se cumpriu: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo
(Jo 1,29). João dá testemunho: Este é o Filho de Deus (Jo 1,34). Soma-se
ao testemunho do Batista a confissão de Paulo que se proclama ser
apóstolo de Jesus Cristo (1Cor 1,1).
Celebremos a páscoa de Jesus Cristo, acontecendo na história e
em nossas vidas, especialmente nas lutas das pessoas e comunida-
des que se organizam, cultivam a vida batismal e, conscientemente,
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

continuam a missão de Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado


do mundo e implanta a fraternidade e a paz.

Recordando a Palavra
A leitura do profeta Isaías lembra o povo no exílio na Babilônia.
O profeta fala, alimentando a esperança de libertação e a volta à
pátria. A liberdade virá pela ação de um personagem apresentado
como Servo de Javé, executor de uma vontade soberana e superior.
Nesse Servo, Javé tornará conhecida sua glória. A glória de Javé é
sua presença atuante na história, conduzindo seu povo à liberdade e
à vida. A glória de Javé é um povo livre de toda a forma de opressão.
A missão do Servo é devolver, em nome de e sob o comando de Javé,
a liberdade ao povo oprimido. Essa missão não se reduz somente a
um povo, mas é universal, portanto, para todos os povos.
O Salmo 39/40 é de ação de graças, inspirado numa pessoa que
passou por grave situação e clamou por Javé. Ela foi ouvida e ago-
ra vem agradecer, provavelmente no templo de Jerusalém, cercada
por muitos peregrinos, curiosos em saber como tudo aconteceu. O
salmo mostra Deus que ouve o clamor e liberta, fazendo a pessoa
cantar a ação de graças. Hebreus, 10,7, aplica a Jesus este salmo que
cumpriu plenamente a vontade de Deus. Nos evangelhos, encontra-
mos como Jesus realizou a vontade do Pai.
Pela leitura da Carta aos Coríntios, lembramos que Paulo pre-
gou em Corinto e aí fundou comunidades, compostas de judeus e
pagãos, quase todos muito pobres. Havia entre seus membros escra-
vos e trabalhadores do cais do porto. Eram comunidades pequenas,
pobres, mas muito ativas. Com o correr dos dias, apareceram dúvi-
das, problemas, conflitos e divisões. O texto de hoje é a introdução
da carta, com endereço, destinatários e saudação.
No Evangelho, a proclamação Eis o cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo deve ser compreendida em íntima conexão com
o Prólogo do Evangelho de João. A pessoa e a obra de Jesus foram
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

apresentadas em chave de leitura de êxodo e em chave pascal. O


evangelista recorda os acontecimentos, ritos e situações fundamen-
tais do Êxodo. Na recordação destes acontecimentos, são contra-
postas e apontadas as novidades realizadas pelo novo Moisés. Esta
interpretação harmoniza-se com o restante do evangelho joanino,
cheio de símbolos pascais.
A expressão o Cordeiro de Deus anuncia, simultaneamente, a
morte de Jesus e a nova Páscoa, ou seja, o êxodo que Deus realizará.
E o Cordeiro festivo (Páscoa) e libertador (êxodo)'º. Em outras passagens
no Novo Testamento, Jesus é comparado com o cordeiro pascal.
Quem providencia o cordeiro para a nova páscoa libertadora é o
próprio Deus.
O novo cordeiro tira o pecado do mundo que oprime a humanida-
de. É o pecado que rejeita a vida que Deus comunica, frustrando o
projeto criador. O Cordeiro elimina o pecado, que é morte, dando o
espírito, que é a vida. O pecado já existe antes de Jesus começar sua
atividade. Sua missão é eliminá-lo.
A expressão “que tira o pecado do mundo” está em paralelo com
“o que batizará com o Espirito Santo”. Este batismo será o meio de
tirá-lo. A ação do Messias é dar ao homem a possibilidade de sair de
seu domínio. Jesus é o caminho para passar das trevas à luz.
Eu vie dou testemunho: Ele é o Filho de Deus (Jo 1,34). João apresen-
ta-se como testemunha. Ele viu Jesus aproximar-se e também viu
descer sobre ele o Espírito. Após ver, anuncia a mudança de batismo
que seria operada: batizará no Espírito Santo. O fato de ver o Cor-
deiro de Deus e reconhecê-lo, não por dedução ou conhecimento
prévio, mas por revelação, torna João uma testemunha qualificada.
Pode cumprir sua missão, dando testemunho da luz. É o testemu-
nho que ressoa na comunidade cristã e que será completado com o
ecoar da proclamação: este é o Filho de Deus.
No evangelho de João, Jesus já é apresentado como o Filho de
Deus, o Messias consagrado. Jesus chega ao mundo, sua casa, para

10 MATEOS,J. e BARRETO,J. O evangelho de João, Paulus, 1999, p. 95.


“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

começar a obra planejada. Ele é Deus na terra, o projeto divino feito


realidade humana. Sua missão consiste em comunicar à humanida-
de a vida divina que possui em plenitude. Sua missão é livrar o ho-
mem do pecado, da escravidão a que está submetido pelos sistemas
opressores. Ele será o cordeiro pascal, aquele que com seu sangue
inaugurará a nova Páscoa, o novo êxodo e a nova aliança. Ele será o
alimento da nova humanidade.
Jesus recebe dois títulos: Cordeiro de Deus e Filho de Deus.
Duas frases descrevem sua atividade: o que tira o pecado do mundo
e o que batiza com o Espírito Santo. Jesus é o Cordeiro de Deus por
ser o dom de Deus à humanidade. O dom de Deus é tornar possível
ao homem livrar-se da morte e obter a vida.

Atualizando a Palavra
A mensagem da Carta aos Coríntios está muito próxima do Evan-
gelho de hoje. Paulo, como apóstolo de Cristo, é testemunha à se-
melhança de João Batista, fazendo ambos a experiência de Jesus. O
conteúdo do testemunho é muito semelhante: ambos referem-se à
missão de Jesus, missão que vem do Pai e realiza-se na comunida-
de que está em comunhão com Jesus. Este a santifica e a capacita
ao testemunho. Nós, aqui reunidos, somos hoje essa comunidade
santificada.
Ser cristão é ser testemunha de Jesus. Mas que tipo de testemu-
nho é o nosso? De que forma somos servos de Javé? Quem é Jesus
para nós? De que forma o conhecemos? Qual é a ação do Espírito
Santo na vida de nossas comunidades e em nossa vida? Qual é o pe-
cado do mundo que Jesus, servo-cordeiro, elimina com sua morte
e ressurreição?
O pecado se faz realidade entre nós e dentro de cada um. O
mal está no meio de nós, embora nas conversas e nos meios de co-
municação não o chamem de pecado, mas de corrupção, falta de
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

ética, violência e outras tantas denominações. São situações que se


caracterizam como verdadeiras estruturas de pecado, um conjunto de
fatores que levam a um sentido contrário ao bem comum universal
e torna-se, para as pessoas e as instituições, um obstáculo difícil de
superar.
Métodos e conhecimentos humanos mostram-se insuficientes
para eliminar ou tirar o pecado do mundo ou as estruturas de pecado.
Faz-se necessário voltar o olhar na direção daquele que passou à
nossa frente, que existia antes de nós e que oferece mais do que
água.
Pedir socorro e solicitar ajuda é a confissão da fragilidade e da
impossibilidade de sair com as próprias forças da situação adversa.
É momento de abrir-se para Aquele que traz a vida nova, o espírito
da vida.
O êxodo mostra que a mudança da terra da escravidão não foi
somente uma mudança de local geográfico. Aconteceu uma ruptu-
ra com o modo de vida e da mentalidade de exploração. Transfor-
mação que proporcionou um novo modelo de vida marcado pela
liberdade e pela felicidade. A ruptura da escravidão e a passagem
para a terra prometida concretizaram-se com resistências e recuos.
O projeto realizou-se pela condução firme do Deus libertador.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


O Cordeiro de Deus, anunciado pelo Batista, é o Reino novo que
veio estar entre os homens. A Eucaristia do pão e do vinho é a conti-
nuação, no tempo, desta revelação: “Deus está conosco”, Participar
desta mesa é sinal de nossa adesão à realidade do Reino que vem e
que nos permite dele participar.
Reconhecemos na oração da coleta que Deus governa o céu e
a terra e pedimos: escutai com bondade as preces do vosso povo e daí
ao nosso tempo a vossa paz. O Senhor é a vida, que se fez carne para
viver entre nós.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Ao repetirmos, na celebração eucarística, Cordeiro de Deus que


tirais o pecado do mundo, solicitamos que Filho Deus chegue com a
sua salvação para nós e até aos confins da terra.
O salmo responsorial expressa a intimidade do salmista com
o Senhor. Desta proximidade nasce o louvor e o prazer de fazer
sua vontade. Por isso o salmista confessa: Boas novas de vossa justiça
anunciaram numa grande assembleia; vós sabeis: não fechei meus lábios.
As preces da comunidade devem expressar o desejo e a neces-
sidade de libertação que temos, a qual só Deus, por meio da força
pascal do Cordeiro, poderá nos conceder. Temos presente que Ele
nos ama e nós cremos em seu amor (cf. antífona da Comunhão),
apoiados na oração dia: escutai com bondade as preces do vosso povo €
dai ao nosso tempo a vossa paz...

Sugestões para a celebração

1. Fazer, logo após a acolhida, a recordação da vida, lembrando fa-


tos e acontecimentos da comunidade, da paróquia, da diocese, do
Brasil e do mundo, procurando perceber, na história, a realização
do mistério pascal celebrado em nossa liturgia.
2. Preparar, tanto quanto possível, a celebração e a homilia em
equipe, utilizando o método da leitura orante.
3. Cantar o salmo responsorial, ressaltando sua beleza litúrgica
que bendiz as maravilhas do Senhor.
4. Usar o prefácio dos domingos do Tempo Comum 1 — O Mis-
tério pascal e o povo de Deus.
5. Solenizar a partilha do pão eucaristizado, destacando, na pro-
clamação ou no canto da comunidade, Cordeiro de Deus que tirais o
pecado do mundo...
6. Valorizar o testemunho de pessoas ou instituições que apon-
tam para o Filho de Deus, libertando as pessoas da cegueira, das
drogas e dos vícios, do analfabetismo, das doenças, da tristeza e do
abandono.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Lembretes

No dia 20, muitas comunidades celebram a festa de São Sebastião,


mártir.
O mês de janeiro, para muitos, é um período de férias e descan-
so. Valorizar este tempo como propício para a avaliação da vida e
um encontro mais profundo com o Senhor.
3º Domingo do Tempo Comum
23 de janeiro de 2011

Leituras: Isaías 8,23b-9, 3; Salmo 26(27),1.4.13-14(+1);


ICoríntios 1,10-13.17; Mateus 4,12-23 (início do Evangelho)
ou abreviado Mateus 4,12-17

POVO QUE VIVIA NAS TREVAS VIU UMA GRANDE LUZ

Situando-nos
Jesus é reconhecido como luz que brilhou nas trevas. Sua encarna-
ção realizou e fez presente o anúncio dos profetas, especialmente
Isaías, que, com a sua vida e palavras, animou o povo sofrido e de-
sanimado pela opressão provocada por invasores, como os assírios.
Reconhecer Jesus como luz do mundo e libertador significa
acolher sua proposta e entrar com decisão na construção do Reino
de Deus, com vez e voz para todos, onde reina a liberdade e há pão
em abundância.
Isso implica conversão e renúncia a tudo aquilo que impede ou
atrapalha a realização do projeto de paz para todos. A realização
desse projeto supõe a valorização das pessoas, o diálogo permanen-
te e paciencioso e a superação de divisões e a concentração de poder
e privilégios.
Jesus anuncia a chegada do Reino de Deus. Mas não o faz sozi-
nho. Chama colaboradores. Nesta celebração, recebemos o convite
de entrar na missão de Jesus para anunciar o evangelho e curar todo
tipo de doença e enfermidade.
Reunidos no Senhor, celebramos com todos os que se dedicam
ao serviço da libertação e à promoção de pobres, doentes, abando-
nados e que nos ajudam a ver e compreender o Reino que Jesus veio
anunciar e concretizar.
83 Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Recordando a Palavra
Setecentos anos antes de Jesus nascer, as tribos de Zabulon e Nef-
tali foram dominadas e escravizadas pelos assírios. As lágrimas, o
luto, a opressão e a deportação fizeram daquela região uma terra de
“sombra, tristeza e morte”.
Neste contexto, ouve-se, na primeira leitura, um grito em meio
à escuridão, um grito de luz para o povo que estava perdido e mas-
sacrado. Os habitantes do país das sombras da morte viram uma
grande luz. Na escuridão das trevas, simbolizando a morte, surge a
luz como a Nova Criação. A alegria multiplicou-se e todos, libertos
da escuridão, viram a glória de Deus. Mateus(4,15ss) faz alusão a
este texto para apresentar Jesus. Após as trevas do erro e do pecado,
surge a luz da graça.
O Salmo 26(27) é de confiança com elementos de súplica. Javé
é luz, salvação, fortaleza. Toma partido do inocente perseguido,
abrigando-o no Templo, escondendo-o no segredo de sua tenda,
elevando-o sobre uma rocha, fazendo-o erguer a cabeça sobre os
inimigos que o cercam. A grande experiência que provocou este
salmo é o acontecimento do êxodo, pois foi Javé, que, ouvindo o
clamor dos hebreus, libertando-os, educou-os para a confiança no
Aliado que nunca falha nem esquece. Jesus é a expressão máxima
desse Deus no qual podemos confiar e do qual podemos entender
sua misericórdia. Ele tomou o partido dos pobres.
Paulo fala sobre a divisão da igreja de Corinto, pede que se evi-
tem divisões e separações. Quem é enviado de Cristo não pode ser-
vir à bandeira de um grupo. Cristo é único e não podemos dividi-lo.
A comunidade de Corinto estava dividida em três grupos: 1) o gru-
po de Pedro, que por um tempo foi líder da Igreja de Jerusalém. Ele
dedicava-se mais aos judeus, mas foi o primeiro a abrir as portas aos
pagãos; 2) o grupo de Paulo, fundador da Igreja de Corinto; 3) o gru-
po de Apolo, judeu de Alexandria e relacionado com o Movimento
Batista e do Messias. Paulo reprova isto, apoiando-se naquele que
tinha sido crucificado e do qual brota a salvação: Cristo. Ora, Cristo
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

é de todos e para todos, unidade do Cristo Místico, manifestada no


único Redentor em quem somos batizados.
No Evangelho, Jesus passa a morar em Cafarnaum, à beira-mar.
Junto ao mar, será sua estadia. A Galileia será cenário da revelação
luminosa. Jesus dirigiu-se realmente às ovelhas perdidas. A Gali-
leia era considerada uma região marginalizada e desprezada pelos
judeus da capital e do sistema, a província próxima aos pagãos e de
religião um tanto misturada e suspeita para aqueles que estavam
apegados à pureza do culto.
O grande ensinamento vai começar um pouco depois no Ser-
mão da Montanha, contudo o presente texto dá um resumo dos
elementos essenciais, introduzindo o cenário e os personagens.
O Reino está próximo, mais tarde será detalhado em que consis-
tem suas riquezas sendo, de imediato, lembradas a conversão, a
mudança de vida. O evangelista apresenta Jesus em sua missão,
pregando a Boa Notícia do Reino. Do conteúdo dessa missão vai
tratar o evangelho de Mateus. Ele trata de logo mostrar que o
Reino anunciado já está se realizando, já está em marcha: as curas
confirmam a autenticidade e força da mensagem. Elas testemu-
nham uma mensagem de vida.
Nesta região, são escolhidos os primeiros discípulos. Eles eram
pescadores, mas com Jesus tornam-se pescadores de homens. Dei-
xam tudo e o seguem. Nos versículos 18 a 23, ocorre uma resposta
prática ao anúncio de conversão em vista do Reino. O chamado é
categórico e a resposta é imediata. A profissão humana de pescado-
res é assumida e transcendida. Seguir ou ir atrás significa fidelidade
ao Senhor, daí nasce a espiritualidade cristã do seguimento a Jesus.

Atualizando a Palavra
Jesus vai morar na Galileia, lugar de refugiados e estrangeiros mar-
ginais, apelidada de Galileia das nações, pois, as nações eram os pa-
gãos. É nessa terra que Jesus vai morar e iniciar a pregação do evan-
gelho. Hoje somos desafiados a iniciar, mais uma vez, a pregação
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

do Reino nas favelas, nos meios pobres, nas prisões, no meio das
balas cruzadas do tráfico.
Ele chama para ajudá-lo Pedro, Tiago e João, pescadores afei-
tos a um trabalho cheio de hostilidades e nada vantajoso. Com eles
inicia uma comunidade de discípulos, na qual se torna viável o ca-
minho da conversão que eles devem indicar para os outros. Uma co-
munidade que vai acompanhar Jesus até a sua morte, que aprende
com ele o jeito de ensinar e realizar as curas. Comunidade, instru-
mento de Deus, na qual o povo das trevas torna-se o povo da luz.
Nessa prática de Jesus, temos dois ensinamentos: primeiro, deixar
as redes; segundo, aprender a viver em comunidade. O anúncio do
Reino supõe a vivência do discipulado numa comunidade concreta,
A comunidade dos discípulos não é uma comunidade com fim em
si mesma, mas está em permanente serviço do Reino.
Na Bíblia, a luz é simbolo da vida e as trevas são símbolo do
pecado e da morte, Deus é comparado à luz. “O Senhor é minha luz
e minha salvação.” Jesus mesmo disse: “Eu, a luz vim ao mundo para
que aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. (João 12,46) De-
pois de proclamar os pobres como bem-aventurados, no Sermão da
Montanha, Jesus disse: “Vocês são a luz do mundo” (Mt 5,14).
Converter-se a Jesus e entrar no Reino de Deus é passar das
trevas à luz. Indica mudança radical da nossa vida, uma inversão na
escala dos valores que o mundo propõe e em nossas preocupações
cotidianas. É a morte do egoísmo, do individualismo, da ganância,
de uma vida sem sentido, para nascer, vir à luz, para uma existência
marcada pelo amor a Deus e aos irmãos, tarefa para a vida inteira.
Nunca estamos totalmente preparados ou prontos. Somos um povo
que segue o caminho de Jesus, que se constrói a cada dia.
Deve ser dada atenção especial à segunda leitura, que nos fala
da divisão que havia na igreja de Corinto e da advertência que Paulo
faz a esta igreja. Converter-se é estar unido, pertencer à Igreja como
comunidade eclesial e não a este ou aquele grupo. Somos chamados
a ser discípulos missionários de Cristo, por isso não podemos seguir
determinadas ideias ou pensamentos. Assim como Paulo escreve à
“É Ele que vem para nos salvar!” (ls 35,4) 86

igreja de Corinto, hoje fala a cada um de nós, dizendo que o segui-


dor de Cristo não é alguém ligado apenas áquilo de que gosta, mas
aquele que faz opção pela pessoa de Cristo, muitas vezes sacrifica-
se, abrindo mão de suas ideias em vista de um bem maior. Se pelo
Batismo nos tornamos filhos do mesmo Pai, irmãos de Jesus Cristo,
fazemos parte da mesma comunidade, porque ainda existem deter-
minados grupos, dentro da mesma Igreja, que ficam isolados devi-
do a certas “convicções”?
Estamos compromissados com Deus, porque Ele manifestou
seu amor por nós. Nossa resposta deve ser uma resposta de fé: Creio!
Desta forma, assumimos um compromisso que envolve e penetra
nossa vida e a comunidade à qual pertencemos.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Importa dar-se conta que a Palavra proclamada é dirigida a nós.
Somos os destinatários da proclamação do Evangelho. Hoje o Se-
nhor quer nos libertar do pecado, do egoísmo, das trevas e da mor-
te. Nossos ouvidos devem escutá-lo, nosso coração acolhê-lo, nossa
vida precisa ser transformada e um hino de louvor deve brotar de
todo o nosso ser.
A celebração da comunidade é espaço privilegiado e abençoado.
Nela o Senhor revela sempre de novo seu carinho por nós, acolhe-
nos em sua misericórdia, ressuscita-nos do pecado e nos faz discípu-
los da comunidade dos filhos amados e enviados em missão.
Após a narrativa da instituição, o que preside proclama: “Eis o
mistério da Fé”. Sobre o altar está o grande mistério, o sacramento
da fé, da Aliança com o Pai, através de Cristo e no Espírito Santo. Aí
nos encontramos com o Senhor e ele nos reconcilia.
O conteúdo principal da fé é Jesus Cristo na Palavra. Ele é a
Palavra de Vida, o Pão da Vida. Quem a aceitar, quem comer dele
terá a vida eterna.
Na celebração, fazemos entrega de nossas vidas, pois somos
chamados a ser luz no mundo. Chamados, que tem coragem de
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano À - 2011

dar resposta e dar testemunho da esperança em suas comunidades.


Quando aceitamos o convite, assim como Pedro, Tiago e João, co-
meçamos a trabalhar pela conversão do mundo
“O Senhor é minha luz e salvação,” assim reza o Salmo. Deus
nunca nos abandona, apenas pede que sejamos fiéis e respondamos
a seu apelo de ir ao encontro dos que ainda vivem nas trevas do erro
e do pecado.
Na celebração, fazemos memória da ação de Deus e nos deixa-
mos envolver e transformar por ela para sermos mais para Deus e
para os irmãos.

Sugestões para a celebração


1. Na preparação da celebração é aconselhável recolher-se, concen-
trar-se, fazer silêncio interior e invocar as luzes do Espírito Santo.
Preparamos a celebração do encontro da comunidade com o Se-
nhor, no domingo, dia da páscoa semanal, da Eucaristia e da frater-
nidade. A qualidade da celebração e a comunhão com o Senhor, nos
ritos e gestos, dependem muitíssimo dos ministros e das ministras,
da medida em que estão sintonizados e ligados com Deus, que nos
convoca e reúne em torno da Páscoa de seu Filho muito amado.
2. O sucesso e a festa de uma celebração iniciam com uma boa
e carinhosa acolhida aos participantes. O espaço cuidadosamente
preparado revela o carinho que temos para conosco mesmos e para
com o Senhor.
3. Na procissão de entrada, pode-se levar o Círio Pascal ou outra
vela grande e ir acendendo as velas que a assembleia tem nas mãos
ou, ao menos, algumas pessoas em diversos lugares da igreja.
4. No ato penitencial, lembrar as trevas que ainda dificultam
a caminhada da comunidade. No hino do Glória, lembrar as luzes
que existem na comunidade.
5. Na homilia, partir da realidade que nos cerca, apontar as tre-
vas e as luzes que temos ao nosso redor.
6. Sempre é importante fazer uma qualificada proclamação
tanto da oração eucarística como de todas as orações.
30 de janeiro de 2011

Leituras: Sofonias 2,3;3,12-13; Salmo 145(144); 1ICoríntios 1,26-31;


Mateus 5,1-12a (bem-aventuranças)

ALEGRAI-VOS E EXULTAI!

Situando-nos
Neste domingo, Jesus nos propõe o caminho das bem-aventuranças,
a primeira parte do Sermão da Montanha. Este Sermão é uma in-
versão dos valores tradicionais. Os hebreus cultivavam a convicção
de que a prosperidade material e o sucesso eram sinais da bênção
de Deus e a pobreza e a esterilidade, sinais de maldição. Jesus muda
esta lógica. Agora os bem-aventurados não são mais os ricos deste
mundo, os saciados, os favorecidos, mas os que têm fome e choram,
os pobres e os perseguidos.
Os textos bíblicos deste domingo são viva esperança para os
cristãos. Deus mostra-se aliado dos empobrecidos e com eles cons-
trói, desde já, uma sociedade alternativa, da qual justiça, partilha e
fraternidade são notas características.
Esta Palavra vem ao nosso encontro para refletirmos sobre a
situação paradoxal em que se encontra a humanidade: de um lado,
imensas riquezas concentradas nas mãos de poucos e, de outro, mi-
lhares de pessoas passando necessidades.
Que a vivência das bem-aventuranças, como projeto de vida e
felicidade, nos ajude a revermos nossas ações perante os que mais
precisam.
Celebremos a páscoa de Jesus Cristo que se manifesta e se reali-
za em nossas ações solidárias e nas lutas das pessoas comprometidas
com as bem-aventuranças e imbuídas do espírito do Evangelho.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano À - 2011

Recordando a Palavra
O profeta Sofonias, pertencente à burguesia de Jerusalém, volta-se
contra os altos dignatários e afirma que o castigo de Deus é imi-
nente. Diz que há uma só saída: conversão ao Senhor. Ele vê nos
humildes e pobres a capacidade de buscar o Senhor e de continuar
a obra da salvação, sendo o povo santo de Deus. O tempo do exílio
na Babilônia, seiscentos anos antes de Jesus nascer, foi um tempo de
sofrimento para o povo. Muitos foram deportados e outros foram
mortos pela espada ou pela fome. Os que restaram estavam abala-
dos na confiança em si e em Deus. É a eles que Sofonias dirige-se
para inspirar confiança e animar na luta.
O salmo responsorial (145/144) é um hino de louvor, celebrando
o projeto de Deus e o que ele produz em oposição aos projetos dos
poderosos e injustos. Está profundamente afinado com a vida e a
missão de Jesus (Lc 4,16-21) que teve carinho com os estrangeiros,
viúvas e órfãos, ensinando que não se deve confiar nos poderosos.
Com alegria rezamos: Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Rei-
no dos céus... o Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimi-
dos... aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos”.
Paulo, na segunda leitura, fala aos pobres que formavam a co-
munidade de Corinto. São sempre os pequenos, os pobres, os que o
mundo despreza, mas que são grandes no reino dos céus. Ninguém
deve gloriar-se diante de Deus. Se alguém quiser gloriar-se, torne-
se pequeno, para se gloriar naquilo que Deus realiza, conforme sua
justiça.
Bem-aventurança é felicitar o outro e desejar-lhe felicidade. As
bem-aventuranças são o prólogo do chamado “Sermão da Monta-
nha” (Mt 5-7), que é a grandiosa composição literária para o disci-
pulado. Elas resumem o espírito do Reino de Deus. Jesus subindo à
montanha aparece como o Novo Moisés e promulga a nova lei.
As nove bem-aventuranças de Mateus estão resumidas na pri-
meira: “bem-aventurados os pobres”... “pobreza” é um conceito que
engloba muitos aspectos: econômico, social, cultural, espiritual,
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

carência de dignidade e de direitos humanos, marginalização, pri-


vação de liberdade, negação da voz e do voto, exploração, injustiça,
opressão, enfermidade... Num conceito amplo, todas as demais fa-
zem parte desta primeira.
A pobreza é uma disposição interior que toca todo o modo de
agir e é inspirada em Cristo. O primeiro pobre é Ele, que sendo rico
se fez pobre por nós. A pobreza é um apelo de seguimento a Cristo,
que não encontrou lugar na hospedaria, que não tinha uma pedra
onde recostar sua cabeça, morreu pobre e despojado numa cruz e o
fez para se dar inteiramente aos outros.
Ser rico significa ter poder, receber honras e ter uma posição su-
perior à dos outros: aqui começa o perigo, pois onde há poder, rique-
za e superioridade, há também, com muita frequência, oprimidos,
esmagados, excluídos. É a estes que Deus escolhe como prediletos
do Reino. Jesus não só lhes dá a segurança de que um dia receberão
o Reino de Deus, mas anuncia-lhes que este reino já chegou.
As bem-aventuranças são consideradas por exegetas e teólogos
como a norma suprema de conduta para o cristão, embora não es-
tejam redigidas em forma de lei constitucional ou código. Elas são,
nos lábios de Jesus, um convite e um indicativo, não um imperativo
ou uma imposição. Um indicativo de tal alcance que constitui a nor-
ma básica de conduta moral e expõe as atitudes pessoais que hão de
dar, a todo discípulo de Cristo, sua qualidade espiritual e humana.
É importante notar que bem-aventuradas são as pessoas e não
as situações. Não validam nem consagram situações sociológicas
de injustiça e de dor, estas precisam ser transformadas. Jesus elogia
as pessoas que levam adiante esta tarefa dolorosa de sua vida e não
desanimam, pois são os escolhidos do Reino.
A prática das bem-aventuranças pressupõe uma tomada de po-
sição prévia por Jesus e pelo reinado de Deus. Jesus dirige-se exclu-
sivamente aos que aderiram a Ele e a seu projeto. Esta tomada de
posição leva o discípulo a adotar posturas concretas, que, muitas
vezes, o coloca em situações penosas e em atividades cuja realiza-
ção comporta uma série de dificuldades. Podem levar o discípulo
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano À - 2011

a experimentar o desânimo e a ter a tentação de abandonar tudo.


É nesta situação, diante destas possibilidades muito humanas, que
Jesus intervém e diz ao discípulo: “Não desanimes. Não és nenhum
desgraçado, mas, ao contrário, és um bem-aventurado. És tu que es-
tás construindo o Reino e chegará o dia em que isto aparecerá com
toda a claridade.” A perspectiva de futuro que Jesus introduz não é
nenhuma evasão, mas a certeza de que precisa o lutador para saber
que sua luta não é ilusão, mas que vale a pena, porque efetivamente
leva a um término glorioso.

Atualizando a Palavra
Os caminhos de Deus são diferentes dos nossos. Nós achamos que
o grande e o forte hão de vencer. Deus prefere trabalhar com um
povo pequeno e humilhado. Os poderosos são autossuficientes e
não querem entender o que Deus deseja. Deus os atrapalha. Com o
resto de Israel, depois das deportações, Deus consegue mais do que
com o povo próspero que pactuava com os egípcios e assírios.
Jesus proclama felizes os pobres, os que choram, os que têm
fome e sede de justiça, os que trabalham pela paz, os perseguidos
por causa da justiça. Mas tem sentido considerar felizes essas pesso-
as? As bem-aventuranças são uma mensagem válida para os nossos
tempos? Que sentido tem pronunciar este texto numa sociedade de
consumo, que mede a felicidade e a bem-aventurança segundo as
posses, o sucesso e o poder? Num mundo subdesenvolvido e opri-
mido, que sentido tem repetir: “Bem-aventurados os pobres... bem-
aventurados os oprimidos...'? Não ressoará como um ultraje à sua mi-
séria ou uma tentativa de abafar “a ira dos pobres”?
Para viver as bem-aventuranças, o cristão precisa fazer uma
inversão de valores. É um ideal elevado que o homem terreno e
carnal não consegue atingir sem a graça de Deus.
Jesus, ao escolher preferencialmente os pobres, não exclui os
ricos. Os pobres são os preferidos, pois sua situação de pobreza ma-
terial, de opressão e de perseguição ajuda a abrir espírito para Deus,
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

em quem o pobre confia mais facilmente. Mas também “felizes os


pobres em espírito”, os bem-aventurados que, possuindo bens, têm
o coração desprendido da riqueza, compartilham com os outros o
que possuem, confiam em Deus mais que em seu dinheiro e mos-
tram-se abertos para serem enriquecidos espiritual e humanamente
com os dons dos menos abastados.
Somente quem pratica as bem-aventuranças as entende. Uma
vez assumidas, elas dão coragem para nos empenharmos e lutar-
mos por um mundo mais justo e igualitário. Um mundo não mais
apoiado nas riquezas, mas no plano de amor de Deus.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Celebrando o mistério pascal, somos convidados, como discípulos
missionários, a colocar em prática as bem-aventuranças e as viver-
mos como Cristo viveu. A vida de Jesus é a chave mais autêntica
de interpretação das bem-aventuranças. Ele foi pobre e sofrido,
teve fome e sede de justiça, foi misericordioso e limpo de coração,
trabalhou pela paz e reconciliação, foi perseguido e morreu por
causa do bem e por amor a nós. Desta forma, encarnou em sua
pessoa as atitudes básicas do Reino. É Dele que fazemos memória
na Eucaristia,
Se comungamos do mesmo pão, devemos aprender a nos ajudar
mutuamente. A partilha deve ser o meio para a transformação do
mundo. Se na celebração partilhamos da mesma mesa, mesa que é
de todos, entre nós não deverá ter ninguém passando necessidades.
A oração do dia nos convida a vivermos a caridade. “Concedei-nos,
Senhor Deus, adorar-vos de todo o coração, e amar todas as pessoas com
verdadeira caridade (...).
Alimentados na Eucaristia, tenhamos a coragem de progredir
na verdadeira fé, partilhando nossos bens e ajudando âqueles que
precisam. Nós somos os discípulos missionários de hoje para conti-
nuar a obra de Jesus começada no Batismo.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Sugestões para a celebração


1. No início da celebração, fazer a recordação da vida, lembrando
fatos, acontecimentos e realizações na comunidade, paróquia, dio-
cese, no país e no mundo.
2. É importante preparar bem a celebração, tanto com momen-
tos de oração individual como em equipe.
3. Acolher com alegria as pessoas que vão chegando para a
celebração.
4. Antes da celebração, evitar a correria e agitação da equipe li-
túrgica, com afinação de instrumentos e testes de microfone. Tudo
isso deve ser feito antes. É importante criar um clima de silêncio
para a oração pessoal.
5. À medida que o povo for chegando, pode-se fazer um breve en-
saio de cantos, especialmente dos refrões e do salmo responsorial.
O canto de entrada não é para acolher o celebrante nem os mi-
nistros. Ele tem a finalidade de congregar a assembleia para partici-
par da ação litúrgica.
O momento ideal para os pedidos e intenções não é no início da
celebração, mas no momento próprio, que é o momento da oração
dos fiéis. Os falecidos podem ser lembrados também na oração eu-
carística, durante a intercessão pelos falecidos.
Os cantos e músicas devem expressar o sentido de cada
domingo.
Cantar o gesto ritual do sinal da cruz e da saudação. Garantir
que não sejam textos que distorçam o sentido do rito, nem façam
repetições desnecessárias.
5º DOMINGO DO TEMPO COMUM
6 de fevereiro de 2011

Leituras: Isaías 58,7-10; Salmo 111(110); 1ICoríntios 2,1-5;


Mateus 5,13-16.

UMA LUZ BRILHA PARA O JUSTO

Situando-nos
Estamos reunidos no Senhor. Ele nos acolhe com ternura e nós pe-
dimos que ele proteja e abençoe sua família com o seu incansável
amor. Professamos nossa confiança em sua graça. Ele sempre nos
guarda e conserva junto de si — imagem do sal.
Ê domingo, dia da Páscoa semanal, dia de encontro da comuni-
dade e memória dos compromissos que assumimos no santo batis-
mo, ser sal e luz do mundo, renovados em cada celebração.
Estamos cercados por tantas pessoas que fazem o bem, que são
sal e luz para seus semelhantes, vivem a serviço dos outros, traba-
lham incansavelmente pelo pão nosso de cada dia e são obedientes
aos mandamentos de Deus. Somos tocados por seu exemplo, pela
luz que irradiam. Precisamos sempre mais apoiá-las, nessa celebra-
ção, rezaremos por elas
Diariamente nos encontramos com irmãos e irmãs que passam
fome, que não têm trabalho nem casa para morar, crianças que mo-
ram nas ruas, sem falar da violência física e moral e de todo tipo de
discriminação.
O Senhor vê o que está em nosso coração e acolhe os nossos sen-
timentos de dor e solidariedade e nos diz: “Reparte o teu pão com
quem tem fome, acolhe em tua casa o infeliz e sem abrigo, veste o
que vires sem roupa e não desprezes o teu semelhante” (Is 58,7).
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Entramos na celebração convencidos de que o mundo precisa


de testemunhos. Não bastam palavras bonitas. São os exemplos que
arrastam. Como comunidade cristã somos chamados a ser sale luz,
para que o mundo acredite no Projeto de Deus. A comunidade cris-
tã é o sacramento do Reino.
Agradecidos ao Senhor que nos ensina a partilhar o pão e nos
convida a sermos sal e luz no mundo, celebremos com todos os gru-
pos, comunidades e pessoas a Páscoa solidária e libertadora de Jesus
Cristo, que se manifesta e acontece em todo o bem realizado em
favor dos homens e das mulheres.

Recordando a Palavra
A primeira leitura lembra que o povo de Deus, de volta do exílio
babilônico, havia se organizado na comunidade cultual, mas seus
cultos não levavam a uma prática fraterna (Is 28,3). O profeta Isaías
incrimina essa prática e mostra qual é o jejum que agrada a Deus:
repartir a comida, acolher o pobre, vestir o nu, ser solidário. Jejum
verdadeiro é experimentar a privação que sentem os deserdados da
vida. A verdadeira prática religiosa não é o jejum convencional. O
texto questiona profundamente que tipo de sal nós somos e pergun-
ta onde está a luz que devemos ser no mundo.
O salmo responsorial (Sl 111) pertence ao gênero sapiencial e
aponta para o sentido da vida, mostrando onde está a felicidade.
Javé quase não aparece e suas obras não são lembradas. Mas Deus
está presente nos sonhos, nas lutas, conflitos e vitórias da pessoa
reta, comprometida com o bem e que trabalha por uma sociedade
justa e igual. Deus é um aliado fiel e jamais deixa de conduzir o jus-
to no caminho da vida. Este salmo repercutiu muitas vezes na vida
e missão de Jesus: proclamou felizes os pobres; provocou os fariseus
a darem esmolas; convocou Zaqueu a repartir os seus bens; louvou
o Pai pela sabedoria dos pobres; pediu que fizéssemos a opção fun-
damental pelo Reino.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Na carta aos Coríntios, Paulo lembra-nos que nossa missão de


evangelizar (ser sal e luz) não se funda na capacidade humana ou
na oratória, mas na força do Cristo crucificado, “escândalo para os
judeus e loucura para os pagãos” (1Cor 1,22). É com essa consciência
da força da graça de Deus e da fraqueza da nossa parte que anuncia-
mos o Evangelho.
O Evangelho continua o Sermão da Montanha de domingo
passado. Através de Jesus, o Pai mostra-se solidário com os pobres,
a quem é confiado o Reino. É um alerta à comunidade cristã para a
responsabilidade do testemunho.
O sal pode significar preservação e também fidelidade à aliança.
Para os antigos, comer sal na hora de selar uma aliança entre alia-
dos significava comprometer-se para sempre com essa aliança (Nm
18,19). Assim, Jesus pede que os pobres sejam seus aliados e compro-
metam-se na construção do Reino de justiça. Jesus escolheu o sale a
luz para falar da aliança que compromete Deus e as pessoas.
A luz lembra o ato criador de Deus (Gn 1,3). Lembra também
o “servo de Javé”, luz das nações” (Is 42,6). Os cristãos devem ser
“filhos da luz” e iluminar os caminhos deste mundo. Não podem
esconder a luz.

Atualizando a Palavra
O Sermão da Montanha foi dirigido às multidões. Os cristãos rece-
bem, no Batismo, a missão de ser sal da terra e luz do mundo. Essa
missão é exercida na comunidade cristã. “Aprouve a Deus salvar os
humanos em comunidade e não isoladamente”, diz-nos o Vaticano
H (Lumen Gentium, n. 6; 24).
Depois de proclamar as bem-aventuranças, Jesus dirige-se aos
discípulos, usando duas imagens para explicitar a missão: o sal e a
luz. O sal só se usa na comida. Ninguém come sal puro. A luz só
tem sentido para iluminar. Ninguém vai acender uma luz para co-
locar embaixo da mesa. Assim deve a comunidade que crê em Jesus
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Cristo e continua sua missão: sal para dar sabor e luz para iluminar
e orientar.
É preciso, pois, no mundo urbanizado, retomar a vivência co-
munitária, característica fundamental da primeira Igreja. É lá que
brilha a nossa luz. É lá que nosso sal dá gosto e sabor, conservando
o valor da vida.
Para sermos sal e luz, Cristo não pede esforços extraordinários.
Basta nossa adesão sincera e íntima a Ele e à sua comunidade. “Sois
o sal... sois a luz...” Quem adere de verdade à comunidade do Rei-
no que ele convoca, será sal e luz. Se somos verdadeiros discípulos
dele, comunicamos gosto e sabor ao mundo. Por nossa bondade,
simplicidade, justiça, autenticidade e também por nossos sacrifícios,
se for preciso, tornamos o mundo luminoso e prazeroso, de modo
que os nossos irmãos possam dar graças a Deus.
A comunidade celebra a ação eucarística não para sua autossa-
tisfação, mas em vista de buscar o alimento e a força para ser pre-
sença no mundo. Na comunhão com Cristo, morto e ressuscitado,
que optou pelos pobres como “os felizes do Reino”, abastecemos
nossa fé para os compromissos do Reino.
Não existe culto agradável a Deus sem justiça social, garante-
nos Isaías. Não existe uma comunidade para autoconsolo, avisa-nos
o Evangelho. Nossa força está na força da graça de Deus, na força
dos fracos, avisa-nos São Paulo. É preciso assumir a transformação
do mundo, comprometendo-nos com as pastorais sociais e dando
apoio firme aos movimentos populares e às lutas do povo em favor
de mais vida. Essa é a maneira correta de mostrarmos que outro
mundo é possível. |
Se, como comunidade cristã, não mantivermos acesa essa cha-
ma do Projeto de Deus, escondida ficará nossa luz e será jogado fora
nosso sal, para ser pisado pelos homens.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Ligando a Palavra com a ação litúrgica.


Quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia, estamos vindo
das tribulações e angústias do dia a dia para buscarmos, em Cristo,
a força e o sustento para nossa caminhada e inspiração para sermos
sal e luz do mundo.
O sal, na verdade, é a Palavra de Deus, assimilada e vivida, que
dá sentido e sabor aos acontecimentos e ao nosso peregrinar nesse
mundo.
A luz, por conseguinte, é a Ressurreição de Jesus, na qual so-
mos enxertados no Batismo, renovada e fortalecida, na celebração e
nas ações solidárias no serviço aos necessitados e feridos.
Na celebração, a Palavra de Deus nos educa e o mistério pascal
de Cristo nos convoca para ofertamos nossa vida e transformá-la
numa oferenda agradável a Deus, completando assim o que falta à
Paixão de Cristo.
Na última ceia, antecipando sua Paixão, ele renovou a primei-
ra aliança em seu sangue. Celebrando agora sua memória na santa
missa, estamos nos oferecendo com ele, entrando em comunhão
com ele e proclamando sua ressurreição “até que ele venha”,
A celebração eucarística é nossa escola de formação cristã, nossa
grande catequese: Deus partilha conosco sua vida, para que apren-
damos a dar nosso pão a quem tem fome e abrigar em nossas casas
o que não tem onde morar. Se aprendermos isso, seremos o sal da
terra e a luz do mundo, nossas ações brilharão e todos irão louvar o
Pai que está no céu.

Sugestões para a celebração

Convidados por Jesus a ser sal da terra e luz do mundo, estamos reu-
nidos para fazer memória da ressurreição de Cristo, luz verdadeira
que ilumina toda pessoa humana. Queremos vivenciar profunda-
mente este encontro em uma celebração bem preparada e realizada
com toda a unção. Para isso propomos:
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

1. Preparar bem o espaço celebrativo, dando destaque ao que é


essencial: ao altar, à mesa da Palavra, à cadeira do presidente e dos
ministros e ao espaço para a assembleia
2. Valorizar os símbolos do sal e da luz sugeridos pela Liturgia
da Palavra. Usar velas para a profissão de fé ou colocar-se ao redor
do Círio Pascal. No final da celebração, dar a bênção do sal e distri-
buir uma pequena porção para cada participante.
3. Reavivar, na Liturgia da Palavra, o diálogo da aliança en-
tre Deus e seu povo. A atitude básica é de escuta e de resposta. É
importante que se criem condições para que todos possam prestar
atenção na Palavra: o leitor faz a proclamação do ambão e a assem-
bleia escuta sem ler no folheto. Talvez, fazer a experiência de não
distribuir os folhetos litúrgicos neste dia, para que a escuta da Pala-
vra seja vivida com mais propriedade.
4. Solenizar sempre a oração eucarística, a parte mais impor-
tante da celebração eucarística. Quem preside deve ter uma atitude
orante e expressiva de identificação com o mistério. A oração presi-
dencial deve brotar do coração. Não pode ser uma simples leitura do
missal. Lembrar que a oração eucarística não é um discurso. Todo o
nosso ser é convidado a subir com Cristo em direção ao Pai.
6. Propiciar maior participação do povo na oração eucarística,
através de uma boa e solene proclamação e das aclamações canta-
das. Alguém pode fazer o solo, conforme as melodias propostas no
final do Missal, e a assembleia repete.
7. Antes da bênção final, pode-se fazer o rito do sale o rito da
luz, conforme indicação a seguir.

Rito do sal
Apresenta-se o sal e é abençoado:
C.: Bendito sejas, Deus da vida, pelo sal que dá sabor e conserva
os alimentos. Derrama o teu Espírito sobre ele e realiza em nossa
vida a Palavra do Senhor de sermos, também nós, sal da terra. Por
Cristo, nosso Senhor. Amém. (Distribui-se o sal e cada um entrega
o sal ao outro dizendo)
- Você é o sal da terra!
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Bênção das velas


(Depois, cada pessoa recebe e acende uma vela. O presidente reza:)
C.: Bendito sejas, Deus da vida, por teu Filho Jesus Cristo, luz
de nossas vidas, energia das nossas comunidades.
(Cada pessoa troca a vela com quem está ao lado, dizendo:)
- Você é a luz do mundo!
(Essa vela pode ser levada para casa e acesa durante a semana, num momento de
oração).
Observação: A bênção do sal e da vela é um rito proposto no
Guia para as celebrações das comunidades, Tempo Comum, Ano A,
Edições Paulinas, 2001, p. 86-87.
o -— 20D—— Mes AREET SD CR DE Em e eee

6º DOMINGO DO TEMPO COMUM

13 de fevereiro de 2011

Leituras: Eclesiástico 15,16-21 (gr. 15-20); Salmo 118(119),1-2.4-5.17-


18.33-34 (R/. 1); 1Coríntios 2,6-10; Mateus 5,17-37 ou abrev.
Mateus 5,20-22a.27-28.33-34a. 37 (“Eu porém vos digo”).

A JUSTIÇA TRAZ VIDA E SALVAÇÃO

Situando-nos

A liturgia não é enfeite nem simples devoção aos santos. Mas encon-
tro com Deus e com os irmãos para celebrar a Páscoa de Cristo que
se realiza em nossas vidas e na história. É um acontecimento sema-
nal importante e decisivo. Ela fonte de vida e santidade. É louvor e
ação de graças do coração que se sente amado e perdoado. Por isso,
aqui estamos reunidos em comunidade.
Nem sempre conseguimos avaliar o significado, para o cresci-
mento espiritual e solidário, dos encontros que somos convidados a
realizar com a comunidade na escuta da Palavra e na fração do pão
eucarístico. O Senhor, como Mestre, no alto da montanha, continua
nos formando como seus discípulos. Ele nos desafia a praticar a jus-
tiça com radicalidade e a obedecer aos mandamentos de um modo
novo e radical.
Na recordação da vida, lembremos as pessoas que lutam e es-
forçam-se para estar do lado da bênção que gera e traz a vida; re-
cordemos os casais que se encontram em dificuldades de relaciona-
mento; não esqueçamos a violência em nossas cidades; as crianças
abandonadas nas ruas...
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Na alegria de sermos convocados pelo Senhor, celebremos a


Páscoa de Cristo que se realiza na vida e no trabalho das pessoas
que se comprometem com a justiça, socorrem o fraco, partilham
o pão, promovem o relacionamento harmonioso entre as pessoas e
acreditam na força do perdão.

Recordando a Palavra
A leitura do Eclesiástico nos ensina que o homem encontra-se como
que numa encruzilhada: um caminho conduz à vida, outro à morte.
Ele deve escolher entre os dois caminhos. Com a metáfora do fogo
e da água, significada como morte e vida, o texto deixa claro que
cada pessoa é sujeito de sua felicidade ou desgraça, à medida que faz
opções a favor da vida ou a favor da morte. O Eclesiástico aponta
para a vida: “ À ninguém Deus mandou proceder como os injustos;
a ninguém deu permissão para pecar”. Deus deixa toda liberdade de
escolha às pessoas, mas aponta, ao mesmo tempo, o único caminho
certo: “Escolha, pois, a vida...” (Dt 30,19).
Paulo, após o fracasso de seu discurso às elites de Atenas, optou
pelos empobrecidos e crucificados, conforme leitura do domingo
passado. Os cristãos de Corinto são chamados “perfeitos”, ou seja,
pessoas maduras na fé, porque se abriram à novidade de Jesus Cris-
to crucificado. A maturidade da fé começa quando se entende o
mistério da encarnação, morte e ressurreição de Jesus. A sabedoria
da qual fala Paulo é o projeto de Deus, “uma sabedoria misteriosa,
escondida, que ele reservou antes dos séculos para a nossa glória”.
As comunidades de Corinto são destinatárias dessa sabedoria,
porque, em sua pobreza, escolheram o projeto de Deus já anuncia-
do pelos profetas.
Desde que se manifestou a Israel, Deus mostrou-se aliado dos
empobrecidos que esperam nele. Disso nos fala todo o Antigo Tes-
tamento, como podemos ver em Isaías 64,3. A glória de Deus, isto
é, sua fama, é a manifestação de sua presença no meio de seu povo a
caminho da liberdade e da vida. O mesmo Deus, que caminhou no
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

passado com seu povo, está presente agora na comunidade que acei-
tou Jesus crucificado, revelando seu projeto por meio do Espírito.
A primeira parte do evangelho de hoje (vv. 17-19) afirma que
Jesus não veio para destruir o AT. Jesus, com seu comportamento
livre, suscitou dúvidas e perplexidades. Ele respeitou as leis e as ins-
tituições de seu povo, mas sempre as interpretou na perspectiva da
promoção da vida e do bem comum. Para muitos, no tempo de Je-
sus, isso não era fácil de entender. Houve muitas reações negativas
quando ele proclamou bem-aventurados os pobres, os perseguidos,
os oprimidos e alertou que seus seguidores encontrariam dificulda-
des, seriam perseguidos e mortos.
Jesus reage a tudo dizendo que todas as promessas do AT se
cumprirão e nenhuma será esquecida ou menosprezada. Antes que
o mundo se acabe tudo se realizará, mas a forma como se cumprirá
será inesperada. Diante das surpresas de Deus, até os devotos, como
o Batista, correm o risco de escandalizarem-se (cf. Mt 11,6).
A segunda parte do Evangelho (vv. 20-37) apresenta quatro
exemplos para entender a interpretação de Jesus sobre o AT. Trata-
se de quatro disposições que ele não muda, mas explica de forma
original, mostrando suas implicações mais profundas.
1. No primeiro caso: “Não matar” (vv. 21-26). O homem não
tem poder sobre a vida do outro, mesmo que este seja cri-
minoso. O mandamento tem muitas implicações que vão
além da agressão física. Quem usa palavras ofensivas, ou
se deixa dominar pela ira, ou alimenta sentimentos de
ódio já matou seu irmão. Lembra que seus discípulos não
devem submeter-se a purificações antes de oferecer sacri-
fícios, pois não é o corpo que precisa estar limpo, mas o
coração. A reconciliação com o irmão substitui, para o
cristão, todas as purificações da lei antiga. Por isso, in-
siste na necessidade de se procurar, a qualquer custo, a
reconciliação. O cristão nunca deveria chegar ao ponto
de recorrer a um tribunal, mas fazer tudo para conseguir
a reconciliação.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4) 104

2. Nosegundocaso, abordaoproblemadoadultério(vv. 27-30).


Os judeus pensavam que a lei proibia somente as ações
más. Para Jesus, ao contrário, as exigências deste man-
damento são muito mais profundas. Há certas amizades,
sofrimentos, relações que já constituem adultério.
3. No terceiro caso, fala do divórcio (vv. 31-32). Jesus diz que
marido e mulher não podem se separar. No plano de
Deus, o matrimônio é indissolúvel. Isso não implica que
tenhamos que condenar aqueles que falharam na vida
conjugal. Em geral, são pessoas que passaram por gran-
des sofrimentos e mesmo viveram situações dramáticas.
A comunidade é chamada a manifestar a eles a ternura e a
compreensão do Mestre. Ele não quebrou o caniço fendido
(cf. Is 42,31). |
4. No quarto caso, é o julgamento. Devem reinar entre os
discípulos a sinceridade e a caridade. “Sim, quando é sim;
não, quando é não”. O juramento não tem sentido en-
tre os cristãos. No AT, existia a invocação dos castigos de
Deus contra quem tivesse sido infiel à palavra empenha-
da. O cristão não acredita neste deus pagão que golpeia as
pessoas com desgraças.

Atualizando a Palavra

A Palavra de Deus, proclamada neste domingo, sempre foi e será


muito atual. O desafio maior é crermos que ela é dirigida a cada um
de nós, presentes na assembleia litúrgica. Quando ela é proclamada,
é Cristo mesmo que a anuncia e faz presente a salvação. No Espírito
Santo, a acolhemos e generosamente respondemos e entramos nas
suas propostas e desafios.
Não basta observar leis para ser justo. É preciso observá-las de
maneira pessoal, conscientes daquilo que se está fazendo, a fim de
realizar o bem ao qual lei visa.
105 Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

A justiça não depende da observância da lei. É no coração que


se decide a atitude mais verdadeira e mais radical do homem. É para
aí que devemos dirigir a atenção e a escolha. Não basta, portanto,
não matar, mas é necessário não se irritar. Não basta não cometer
adultério; é preciso não desejar a mulher dos outros. Não basta lavar
as mãos antes das refeições, mas é necessário purificar o coração.
Não basta erguer monumentos aos profetas, mas é preciso não os
fazer calar, matando-os. Não basta o sacrifício, pois, de nada serve
o ato de culto, se não se põe na própria vida moral a justiça, a mi-
sericórdia e a fé. Não basta multiplicar palavras nas orações, mas é
necessário ter fé na bondade de Deus.
Não se pode honrar a Deus, se o irmão é desonrado, pois Deus
não está só nos céus, mas também em cada irmão que encontra-
mos, especialmente nos pobres, nos pequenos, nos humildes, na-
queles que nós tantas vezes rejeitamos.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Preparamos a mesa do altar, colocando sobre ela o pão e o vinho.
O que isso significa na prática no contexto da Liturgia da Palavra
deste domingo?
Nem sempre nos damos conta que preparar a mesa eucarística
é despojar-se do egoísmo, do individualismo, da tentação do poder
e do ter, da autossuficiência etc.
Só uma pessoa imbuída da sabedoria de Deus e atenta à prática
de Jesus será capaz de aceitar o desafio de preparar a mesa e sentar-
se com os convivas para o banquete do amor, do perdão, da recon-
ciliação, da escuta, do diálogo e da fraternidade que supera todas as
discriminações e rejeições.
A mesa preparada para a refeição de ação graças resume nossa
atitude frente aos mandamentos de Deus e nos ensina que só na
partilha encontramos a paz e a salvação.
O sacrifício ou a oferta que trazemos ao altar nasce no cora-
ção voltado para Deus e profundamente solidário com todos. Neste
“É Ele que vem para nos salvar!" (Is 35,4)

sentido, podemos, confiantes, rezar na oração sobre as oferendas:


“O Deus, que este sacrifício nos purifique e renove, e seja fonte de
eterna recompensa para os que fazem a vossa vontade”.
Preparamos a mesa com as mãos que trabalham pelo pão de
cada dia e pela construção do Reino de justiça; com o coração que
ama a Deus e não discrimina ninguém; com atitude de fé que acre-
dita na bondade e na ternura de Deus quando rezamos; com os sen-
timentos voltados para o alto para louvar e bendizer o nosso Deus.
Logo estamos por inteiro na liturgia e nela expressamos tudo
que queremos ser para Deus por inspiração e misericórdia dele, o
Senhor da terra e dos céus.

Sugestões para a celebração


1. O que caracteriza e soleniza o domingo é a reunião da comuni-
dade, convocada pelo Senhor, para escutar a sua Palavra, render
graças e partilhar o pão da vida, a Eucaristia. Esse é o espírito que
deve perpassar e alimentar todas as nossas celebrações.
2. A preparação da celebração, do espaço, dos ministros, dos
cantos e da assembleia traz esse enfoque básico: somos convidados
a preparar a nossa mesa para a refeição com Senhor na atitude de
ação de graças, de partilha de bens, de perdão, de confiança nas
pessoas, de acolhida e respeito.
3. Nesse sentido, tudo deve ser preparado com tempo e cari-
nho, feito sem pressa e com muita unção, ajudando a assembleia a
viver o sentido profundo que tem para nós a preparação da mesa e
a participação na celebração.
4. Uma boa preparação da celebração inicia com um momento
de concentração e oração, com abertura sincera à ação do Espírito
Santo. É ele que move os corações e realiza as maravilhas do Pai em
nossa vida.
5. Às celebrações com a comunidade deveriam ser sempre prepa-
radas em equipe, num clima orante e com o coração aberto a Deus.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano À - 2011

6. É salutar, no início da celebração, fazer uma breve recorda-


ção dos fatos e acontecimentos da vida: o que de importante e signi-
ficativo aconteceu na comunidade, na cidade, no país e no mundo?
É sumamente aconselhável que os ministros rezem antes os
textos bíblico-litúrgicos que serão proclamados na celebração,
fazendo com eles um encontro com o Senhor.
7º DOMINGO DO TEMPO COMUM
20 de fevereiro de 2011

Leituras: Levítico 19,1-2.17-18; Salmo 102(103),1-2.3-4.8.10.12-13


(R/.1a.8b); ICoríntios 3,16-23; Mateus 5,38-48
(Amai os vossos inimigos)

O SENHOR É SANTO E MISERICORDIOSO

Situando-nos
Domingo, Dia do Senhor, dia da celebração da Páscoa semanal, dia
da comunidade, dia da eucaristia e dia de descanso e festa, com o
salmista nos alegramos: “Como um pai é compassivo com seus fi-
lhos, o Senhor é compassivo com aqueles que o temem”.
Acolhemos com gratidão e responsabilidade a convocação de
Jesus: “Deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. A
celebração vai nos fazer entender melhor os desígnios e os preceitos
do Senhor e entrar na intimidade do evangelho.
O Evangelho é fonte de vida, de esperança e salvação. Vamos
nos deixar banhar com a luz da Palavra de Deus e entregar a nossa
vida ao Senhor para sermos santos, porque o nosso Deus é santo,
pois “ É ele quem perdoa tua culpa e cura todos os teus males. É ele
quem redime a tua vida da cova e te coroa de amor e compaixão”.
Na recordação da vida, trazemos as pessoas que magoamos e
ferimos com nosso egoísmo e prepotência; lembramos os que fa-
zem o bem aos pobres e necessitados; recolhemos as lutas e sacrifi-
cios de todos que lutam por um mundo mais justo e fraterno; não
esquecemos os doentes e abandonados; somos profundamente so-
lidários com os pobres, as crianças que moram nas ruas e os jovens
que sofrem todo tipo de violência.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Vamos celebrar a Páscoa de Jesus Cristo, presente no coração


dos que amam e perdoam seus amigos e inimigos e lutam em favor
da justiça e da construção da paz.

Recordando a Palavra

Na primeira leitura, neste domingo, estamos no coração do Levíti-


co e do chamado código da santidade. O fio condutor do texto está
no refrão: “Eu sou Javé, o Deus de vocês”. A intenção é demons-
trar de que forma as pessoas podem se relacionar com Javé, o Deus
que libertou seu povo da escravidão do Egito. Como ser santo à
semelhança da santidade de Javé? A santidade consiste no compor-
tamento responsável e adulto em relação ao próximo, que inicia
por libertar o coração do ódio e se traduz em corresponsabilidade
no bem, a fim de evitar e afastar o mal e culminar no amor gratuito
e desinteressado. Ponto de referência para esse comportamento é
Javé. Ele libertou o povo do ódio do Faraó, educou-o no deserto e
mostrou-lhe amor, conduzindo-o à liberdade e à vida.
O salmo é um hino de louvor que bendiz a Javé por todos os
benefícios concedidos a uma pessoa e a todo o povo. É um convite
para que todos façam o mesmo. O salmo mostra a fidelidade radical
de Javé a seu aliado, o povo. Canta a grandiosidade de Deus que per-
doa, cura, redime da cova, coroa com a vida de amor e compaixão,
sacia, faz justiça e defende todos os oprimidos. O nosso Deus é um
Deus que faz história com seu povo, perdoando e sendo compassi-
vo. Jesus mesmo o louvou e mostrou-o bondoso e compassivo tam-
bém com os maus e injustos. Jesus ainda nos ensinou a chamá-lo de
Abbá, paizinho.
Na leitura de Coríntios, a comunidade é tida como lugar onde
se encontra Deus e se presta culto a ele. Os conflitos comunitários
são superados pelo discernimento das funções de suas lideran-
ças. Elas pertencem à comunidade e estão a serviço dela, a fim de
que descubra e proclame quem é seu verdadeiro dono: Cristo que
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

pertence a Deus. Os líderes não são donos da comunidade, almejar


isso significa destruir o templo de Deus, que é a comunidade. Jesus
havia anunciado a destruição do Templo de Jerusalém porque aí se
instalara uma religião e um modo de entender a sociedade contras-
tantes com o projeto de Deus.
O Evangelho inicia com a quinta antítese do Sermão da Monta-
nha: “Olho por olho e dente por dente”. Antigamente essa lei tinha
como função evitar a violência. Mas como superar a “justiça do olho
por olho”? Não respondendo com a mesma violência empregada pelo
violento, mas desarmando-o com uma força maior. A força do amor e
da ternura, presentes que recebemos de Deus, cheio de misericórdia.
É de compreensão difícil essa conclusão porque Jesus está se di-
rigindo aos “pobres em espírito e perseguidos por causa da justiça”,
aos quais confiou o Reino.
Há três casos para entrar no ensinamento de Jesus. O primeiro
trata da violência física: “Se alguém lhe dá uma bofetada na face direi-
ta, ofereça também a esquerda”. Sabendo que o tapa na face direita, ou
seja dado com as costas da mão, machuca da mesma forma, porém,
fere mais e agride mais violentamente. O segundo caso diz respeito
aos processos judiciais, nos quais os pobres em espírito e perseguidos
por causa da justiça dificilmente ganham a causa e são respeitados,
sendo inclusive obrigados a penhorar a túnica como garantia. Jesus
sugere que deixem também o manto. O terceiro caso fala do abuso
dos soldados de ocupação que obrigavam as pessoas a transportar
cargas ou a servir-lhes de guia. Jesus a estes dá um conselho: “Se al-
guém o força a caminhar um quilômetro, caminhe dois com ele”.
Avaliando friamente, parece que os pobres em espírito e perse-
guidos por causa da justiça nunca terão vez e lugar. Humanamente
falando, conclui-se que não vale a pena resistir. Contudo, esses con-
selhos não são passividade ou entrega dos pontos, mas estratégias
para minar a injustiça por dentro. Obviamente os pobres nunca
vencerão ao empregar as mesmas armas dos violentos. É necessá-
rio, todavia, encontrar estratégias para as situações que se apresen-
tam, a fim de desarmar a violência.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

O que Jesus quer dizer com o “amar os inimigos e rezar por eles”?
No AT, existia o preceito de amar ao próximo entendido como
algo circunscrito à religião e à raça. Com isso apareceu uma conclu-
são triste: aos amigos, a amizade e aos inimigos, o desprezo. Jesus,
para acabar com esse círculo de amizade e ódio, apresenta aos po-
bres em espírito e perseguidos por causa da justiça o modo perfeito
de ser seu discípulo: o amor aos inimigos e a oração por eles. O
Mestre da justiça foi odiado e morto por seus adversários, mesmo
assim pediu que o Pai os perdoasse.
A resposta madura à perseguição é, portanto, o amor e a ora-
ção. O fundamento disso está em Deus que é bom para com todos.
Jesus nos propõe e desafia a sermos aquilo que ainda não somos, ou
seja, capazes de uma entrega total, como o Pai celeste, que não faz
distinção de pessoas.

Atualizando a Palavra

Estamos reunidos em assembleia litúrgica, convocados e amados pelo


Mestre da justiça. Viemos da cidade, do campo e das periferias onde
reinam a violência, a injustiça, a corrupção e o ódio. Perguntamos: o
que essa Palavra, anunciada para nós, tem a nos dizer e solicitar?
É importante relacionar o Evangelho deste dia com a primei-
ra leitura. Esta fala da necessidade de ser “santos”, porque Deus é
“Santo”. O livro do Levítico esclarece em que consiste a “santidade”
que o Senhor exige: não em formas de religiosidade externa, mas
no amor ao irmão.
O Evangelho ensina que a santidade consiste em ser como o Pai
do céu, com todas as consequências práticas que isto implica.
Em primeiro lugar, temos consciência que vivemos numa so-
ciedade marcada pela violência e pela injustiça e nós celebramos
Aquele que foi morto pela sociedade injusta. Somente com Ele
aprendemos a vencer a violência para sermos perfeitos como o Pai
do céu, que não faz distinção entre pessoas.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

A celebração é também um dos lugares próprios para o perdão


e a partilha. Lugar onde partilhamos o abraço da paz, desejando a
todos, amigos e inimigos, o shalom de Deus que quer liberdade e
vida para todos.
Naliturgia somos assembleia dos que foram santificados por Deus.
Não por sermos pessoas boas, puras, perfeitas, mas porque Deus, que
é perfeito, nos agraciou e nos chama a imitá-lo na santidade.
A comunidade reunida no Ressuscitado, ouvindo sua Palavra e
participando ativamente da celebração, aprende do Mestre da justiça
a não revidar a injúria, a oferecer a outra face, a amar o inimigo até
morrer por ele, fazendo o gesto Daquele que deu sua vida para que
todos os homens pudessem viver, que suportou a injustiça para que
nascesse no mundo uma nova justiça, a justiça da terra fraterna.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


O ser humano realiza sua vocação de ser semelhante a Deus, quan-
do ama todos com o amor gratuito, sem procurar qualquer com-
pensação ou explicação. A assembleia litúrgica é sacramento visível
do amor de Deus entre nós. É alimento da santidade e do compro-
misso com a justiça.
O que é a celebração da eucaristia, memória do Senhor, neste
domingo?
Num mundo dividido, injusto e tão violento, celebrar a eucaris-
tia passa a ser um sinal de esperança no sentido de que, na força do
Cristo Pascal, as coisas poderão ser diferentes e novas. Sua morte e
ressurreição atestam isso. Em suas sagas, cremos que só um amor
sem fronteiras é cristão, revolucionário e libertador.
Só se estivermos prontos a “partilhar” o pão, podemos receber
nossa parte de alimento e perdão. Deus só aceita nossa eucaristia se
for sinal de nosso amor aberto a todos os homens e a todo o mundo,
sobretudo aos que nos são próximos. Como Cristo, que se dá no
sinal do pão e do vinho a todos os que o buscam, também o cristão
deve encontrar, na eucaristia, o modo como deve dar-se.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Importa que a celebração sedimente a vocação e os desafios dos


cristãos, o compromisso com a santidade. Santidade significa criar
relações de amor com todos, à semelhança de Deus.
O pão partido e distribuído, acompanhado pelo canto do cor-
deiro de Deus, nos inspira o caminho da santidade e nos introduz
na prática de Jesus que entregou por nós sua vida na cruz. O Cordei-
ro tira o pecado do mundo, tira o pecado do nosso coração, quan-
do comungamos desse pão partilhado e entregamos nossa vida nos
gestos de reconciliação, partilha e prática da justiça.

Sugestões para a celebração


1. Na recordação da vida, lembrar grupos, pessoas e projetos que
cultivam a justiça, oferecem ajuda gratuita aos pobres e trabalham
pela reconciliação entre as pessoas.
2. No início da celebração, garantir uma acolhida amorosa e
carinhosa com atitude de alegria e festa, pois nos reunimos na san-
tidade e na bondade de nosso Deus.
3. A proclamação das leituras e das orações seja feita com unção
e solenidade, pois são diálogo e encontro com o Senhor, santo e jus-
to, que nos imanta com sua ternura e santidade.
4. O abraço da paz seja motivado no espírito do Evangelho a ser
feito após a oração do Pai-nosso como expressão do que rezamos na
oração.
5. Antes da bênção final, resumir numa frase a mensagem e o
compromisso da semana. Fazer a assembleia repetir ou cantar.
Fon e TAP S e EC RCE A

8º Domingo do Tempo Comum


27 de fevereiro 2011

Leituras: Isaías 49,14-15; Salmo 61(62), 2-3,6-7,8-9; 1ICoríntios 4,1-5;


Mateus 6,24-34

BUSCA! O REINO DE DEUS E SUA JUSTIÇA

Situando-nos
Neste 8º domingo do Tempo Comum, somos convidados a ser o
povo da nova aliança, buscando, em primeiro lugar, o Reino de
Deus e sua justiça. Esta é a prioridade número um para os cristãos.
O Reino é dom e exigência, a cada domingo clamamos confian-
tes: “Venha a nós o vosso Reino”. Na Eucaristia sentimos que nosso
Deus não nos abandona nem nos esquece, demonstrando por nós
um amor mais entranhável que o amor da mãe por seu filho.
Na recordação da vida, lembremos fatos e acontecimentos da
paróquia, cidade, diocese, do Brasil e do mundo. Cremos que a pás-
coa de Jesus Cristo realiza-se na história. É essa mesma páscoa que
nós celebramos e nela sempre mais mergulhamos.
Celebremos em comunhão com as pessoas empenhadas na
construção da nova sociedade, fundada nos valores do Reino: parti-
lha solidária, respeito pela cultura, diálogo com o diferente, justiça
e paz.

Recordando a Palavra
O exílio, a perda da terra e da liberdade são frutos do esquecimen-
to de Deus? O profeta responde que não, argumentando: será que
a mãe esquece seu bebê? O profeta Isaías antecipa o retorno dos
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

exilados da Babilônia que chegam de todas as partes a Jerusalém.


Há um clima de esperança, apesar de o povo não acreditar que Deus
o haveria de reconduzir à terra. Na lógica humana, o sentimento do
exilado é, evidentemente, de abandono: “O Senhor me abandonou.
O Senhor se esqueceu de seu povo”.
No Salmo 61/62, o salmista canta: “Só em Deus a minha alma
tem repouso, porque dele é que me vem a salvação!”. Este é um sal-
mo de confiança individual. Vale a pena confiar em Deus a salvação,
refúgio e rochedo, pois ele resgata a dignidade da pessoa.
As comunidades de Corinto deram muita dor de cabeça a seu
fundador, Paulo. Ele foi inclusive mal entendido e caluniado. Vários
grupos formaram-se em torno de diversos evangelizadores. Paulo
desdenha o fato de os coríntios emitirem juízo a respeito dele, pois
sabe que deve prestar contas da administração a seu Senhor.
O Evangelho faz parte da explicação didática do Sermão da
Montanha (Mt 5-7) e enfatiza a opção pela justiça do Reino. Esta é
superior a toda preocupação e deve caracterizar a prática dos novos
cidadãos do Reino.
Jesus faz duas advertências: admoesta os ricos em face do pe-
rigo do dinheiro e os pobres sobre suas vãs preocupações. Os cida-
dãos do Reino devem fazer uma opção entre os tesouros efêmeros e
os tesouros do céu, entre as trevas e a luz, entre Deus e o dinheiro
Para Jesus, não há como servir ao verdadeiro Deus e ao deus
mamon, cultuado por muitos povos vizinhos de Israel. No Êxodo,
o Senhor revela que não divide seu trono com ninguém: “Não te-
nha outros deuses diante de mim” (Ex 20,3). Ele quer do povo culto
exclusivo.
Jesus alerta para o poder escravizador que o dinheiro exerce
sobre as pessoas. Na opção por Deus ou pelo dinheiro, não há neu-
tralidade nem porcentagem. Deus e o acúmulo de dinheiro são re-
alidades que não combinam. Deus ajuda e liberta; o dinheiro escra-
viza, atraiçoa e divide.
Jesus fala para quem se deixa dominar pelas preocupações com
o futuro, a comida e a aparência: “Não fiquem preocupados com a
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

vida, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir” (v. 25).
A palavra de Jesus é advertência e estímulo à confiança na Provi-
dência Divina. Deus não abandona seus filhos. “Olhem os pássaros
do céu; eles não semeiam, não colhem (...). No entanto, o Pai que
está no céu os alimenta.”
“Em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e sua justiça, e
Deus dará a vocês em acréscimo todas essas coisas” (v. 33). Jesus,
sem negar a importância da preocupação com a comida, a saúde
e a veste, ressalta a solicitude com tudo o que constrói o Reino de
Deus. O próprio Filho de Deus buscou, em primeiro lugar, o Reino
de Deus e sua justiça. A admoestação da busca do Reino de Deus e
sua justiça pode ser avaliada como uma espécie de síntese dos ensi-
namentos do Mestre.

Atualizando a Palavra
Vivemos numa sociedade em que, cada vez mais, consumir é a
meta fundamental para ser feliz e aparecer na mídia, a glória maior.
As pessoas ficam divididas entre seu desejo mais profundo de feli-
cidade e as coisas que o mercado oferece. Jesus nos ensina a mudar
o objeto da preocupação e colocar o Reino como valor absoluto.
Esse ensinamento de Jesus nem sempre é aceito e tantas vezes, mal
entendido.
Se em nossas celebrações convivem ricos e miseráveis, famin-
tos e saciados, maltrapilhos e luxo ostensivo, é porque ainda não
fizemos a opção pelo Reino e sua justiça, permitindo que a ganância
nos possua e domine.
Como viver e traduzir a fé e o projeto de Deus na comunida-
de em que vivemos? Quais as exigências do ser cristão hoje? Essas
perguntas merecem uma reflexão profunda e um discernimento
lúcido.
Jesus convida à confiança na Providência Divina. O profeta Isa-
ias recorda que Deus ama com terna afeição seus filhos, por isso,
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

não há motivos para tantas e banais preocupações: “Não fiquem


preocupados com a vida”.
Ao convidar à contemplação dos “pássaros do céu que não se-
meiam; olhem como crescem os lírios do campo: eles não traba-
lham e nem fiam”, ele, porém, não está sugerindo a preguiça, o de-
sinteresse e a acomodação diante dos problemas da vida; não está
abolindo o trabalho, o sacrifício, o estudo ou o empenho na busca
dos objetivos a que nos propomos; não está menosprezando a cria-
tividade e o investimento.
Ele quer realçar a ação e o protagonismo do Pai celestial: “O Pai
do céu os alimenta”, “Deus assim veste a erva do campo (...)”. Quer
mostrar que o empenho na busca de soluções para os problemas
da vida não deve turvar a alegria e a paz de viver. Pelo contrário,
as dificuldades que causam ansiedade devem fortalecer a confiança
de que a vida está nas mãos de Deus. Como mãe que não abandona
seu filho, Deus jamais abandona seu povo, acompanha-o sempre,
abençoa seus esforços e seus compromissos em vista de uma vida
melhor.
A justiça do Reino emana da busca sincera e revela-se no modo
de proceder daqueles cuja vida está centrada na realização dos pro-
jetos de Deus. Nesse sentido, justiça torna-se sinônimo de amor mi-
sericordioso, de solidariedade fraterna, de perdão reconciliador, de
igualdade respeitosa e de empenho na construção da paz.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Na assembleia litúrgica, expressamos nossa opção fundamental por
Deus e por seu Reino e recebemos seu carinho na palavra que nos
orienta e na mesa que sacia nossa sede e fome de amor e de felici-
dade.
A celebração eucarística é momento forte de fraternidade na
caridade, em ação de graças, em reconciliação e em atitude de ofer-
ta. Oferenda sobretudo de nossos projetos, nossas preocupações e
angústias, aspirações e propósitos de sermos agradáveis a Deus.
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

Celebrando a Eucaristia, Jesus renova o anúncio da Boa Nova


do amor, da solidariedade, da fraternidade sem limites.
Justiça do Reino significa a existência em dignas condições de
vida para as pessoas, respeitando seus direitos fundamentais. Por
consequência, tomar parte na Eucaristia é comprometer-se com a
cidadania pela prática do amor solidário. Assim, a Eucaristia é fon-
te de inspiração, alimento e força para os cristãos serem cidadãos
autênticos, sinceramente preocupados com o bem comum, com o
bem material, ético e espiritual de toda a sociedade. |
Em cada celebração, renovamos nossa fé, pois “cremos que a
Eucaristia transforma nossa sociedade”. Se, por um lado, são gritan-
tes as desigualdades sociais, são graves os problemas do desempre-
go, da corrupção, da violência, da criminalidade e da impunidade,
por outro, é grande o sonho por uma humanidade nova em que
imperem a justiça e a paz.
Na Eucaristia, lembrando o ensinamento e práxis de Jesus,
aprendemos a lutar por iniciativas solidárias; descobrimos nossa
missão de construir uma sociedade de igualdade, na qual os pobres,
prediletos de Deus e de Jesus de Nazaré, sejam postos no primeiro
lugar.
Na Eucaristia, fortalecemos o cuidado com o meio ambiente, a
caminhada ecumênica e o diálogo com pessoas de todas as religi-
des. Alimentando-nos com a Escritura e a Eucaristia, reafirmamos
os grandes valores do Reino de Deus e reagimos aos contravalores
desumanizantes do mercado, da mídia e da moda.
A Eucaristia é o momento em que os discípulos e missionários
do Senhor renovam sua confiança na Providência Divina e amadu-
recem na esperança, aprendendo a fazer a síntese entre o presente e
o futuro, entre a realidade e o desejo, entre a verdade humana que
conhecem e na plenitude que ainda há de se manifestar.
Na Eucaristia, unidos a Jesus Cristo, os cristãos percebem que
todos os desejos de realização hão de se efetivar, porque estão de-
finitivamente garantidos na Páscoa do Senhor. A Eucaristia é fonte
de confiança e de esperança.
É 19 Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Na Eucaristia, encontramos a fortaleza necessária para seguir


em frente, apesar da veemência do poder dos mecanismos escra-
vizadores, para, com esperança e confiança na Providência do
Pai celeste, testemunhar com entusiasmo as razões de nossa fé
(cf. 1Pd 3,15).

Sugestões para a celebração


A equipe de liturgia prepare com empenho a celebração, realçando
os seguintes aspectos:
1. a acolhida afetiva e fraterna de todas as pessoas que chega-
rem para tomar parte na celebração comunitária;
2. criar um clima orante e participativo, que manifeste a con-
fiança de todos na Providência Divina;
3. a partilha das preocupações e esperanças. Onde o ambiente
for favorável, como em uma pequena comunidade, possibilitar aos
presentes, depois do sinal da cruz e da saudação do ministro presi-
dente, manifestarem suas preocupações, angústias e esperanças;
4. favorecer a atitude atenta de escuta da Palavra de Deus. En-
quanto é preparado o altar — a mesa da Eucaristia —, que a assembleia
participe em silêncio, auxiliada por uma suave música de teclado ou
solo de violão. Depois, responde à oração de apresentação do pão e
do vinho, cantando: “Bendito, bendito, seja Deus para sempre!” ou
outro refrão adequado;
5. a Oração Eucarística, momento da grande ação de graças, é
significativo proclamá-la com calma, com alegria e com o coração.
A equipe de liturgia com o ministro presidente escolham a Oração
Eucarística e os responsáveis pelo canto preparem-se para cantar,
com dignidade, as aclamações;
6. a fração do pão seja solenizada e acompanhada pelo canto da
assembleia: “Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo...”
t

9º DOMINGO DO TEMPO COMUM


6 de março de 2011

Leituras: Deuteronômio 11,18.26-28.32; Salmo 30(31),2-3a.3bc-4.17.25


(R/.2.3b); Romanos 3,21-25a.28; Mateus 7,21-27
(A casa sobre a rocha)

CONSTRUIR A CASA SOBRE À ROCHA DA PALAVRA DE DEUS

Situando-nos

Logo mais entraremos na Quaresma. Vivemos dias de festa, de


carnaval, de confraternização e descanso. É um tempo estratégico
para viagens, visita aos familiares e amigos. Buscamos respirar e
nos preparar para mais uma jornada de trabalhos e compromissos
sociais e comunitários. Depois entraremos em um tempo forte e
pascal: preparação da Páscoa do Senhor.
A Liturgia da Palavra nos oferece elementos muito ricos de re-
flexão e avaliação de nossa vida, chamando-nos para a construção
da nossa casa ou vida sobre a rocha firme que nem as tempestades e
os vendavais poderão destruir.
O apelo de Jesus é claro e sumamente pedagógico: construir a
casa sobre a rocha pela escuta da Palavra de Deus, vida em comuni-
dade e sabedoria em discernir os sinais dos tempos.
Na recordação da vida, no início da celebração, podemos lem-
brar: os dias de festa do carnaval como um direito do ser humano;
as catástrofes ecológicas que predam a natureza e ameaçam a vida;
a CF 2011 que tem como tema Fraternidade e a vida no planeta terra
e lema A criação geme em dores de parto; a responsabilidade de cons-
truirmos nossa vida, família e comunidade na rocha firme; os do-
entes e desanimados.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Queremos celebrar, neste domingo, a Páscoa de Jesus Cristo,


presente na história, na vida de fé das comunidades e no trabalho
abnegado e gratuito de tantas catequistas e animadores de comuni-
dade, que anunciam a Palavra de Deus e ensinam a construir nossa
casa sobre a rocha.

Recordando a Palavra

É precioso e gostoso o texto do livro do Deuteronômio, referindo-


se à bênção e à maldição. A comunidade de Israel e hoje a comuni-
dade cristã têm, diante de si, o bem e o mal, a vida e a morte.
Aí está o discurso de Moisés, já idoso, fundamento da aliança.
Deus nos fez livres e nos quer livres, mas torce para que nossas es-
colhas não sejam uma ruína. A bênção significa vida, posse da terra,
fecundidade do solo, bem-estar, felicidade... Maldição é seu oposto,
caracterizada pela perda da terra e suas consequências A bênção é
resultado dos mandamentos incutidos e inculcados. A maldição de-
corre da desobediência aos mandamentos de Javé e da consequente
adesão aos ídolos.
O salmo 30(31), rezado por Jesus na cruz, ao menos parte dele,
é de súplica individual. Misturando elementos de ação de graças,
mostra Deus como aliado fiel que não falha no momento do aperto.
As pessoas, em meio ao sofrimento, clamam porque sabem que, no
passado, Javé ouviu o clamor dos hebreus, solidarizou-se, desceu
e libertou da rede da morte que o Faraó armara contra eles. São
interessantes os títulos que Javé recebe no salmo: rochedo, fortale-
za, muralha, abrigo que esconde, oculta na tenda e faz justiça. No
Novo Testamento, Jesus foi e é isso para os sofredores e excluídos:
doentes, leprosos, mortos, pessoas que precisavam ser resgatadas
em sua dignidade.
Paulo não conhecia os destinatários desta Carta aos Romanos,
nela escreve sobre os fundamentos da vida cristã. Ela é por isso cha-
mada de constituição do povo de Deus. Traz como novidade a anistia
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4) 122

ou o perdão universal. Por pura graça, Deus resolveu absolver o


mundo, sob uma condição: que todos creiam em Jesus Cristo. A fé
em Deus por meio do Filho é, portanto, nossa tábua de salvação,
sem excluir ninguém. A justiça manifestou-se independente da lei
e a justificação é obra exclusiva da misericórdia e da fidelidade de
Deus. Ele não exclui pagãos e transgressores da Lei. Pelo contrário,
visto que ninguém é justo pelas próprias obras, Deus, por pura gra-
ça, intervém, enviando seu Filho, portador de salvação.
A acolhida do dom de Deus não significa cruzar os braços e
esperar tudo da Providência Divina. A fé que torna as pessoas aco-
lhedoras da vontade de Deus é a que se revela na prática das boas
obras.
No Evangelho deste domingo, Jesus conclui o Sermão da Mon-
tanha, apontando a condição indispensável para quem deseja fazer
parte do Reino: “ Cumprir a vontade do Pai”.
Não basta afirmar a pertença ao Senhor só por palavras. Nin-
guém dá crédito à confissão de fé que se traduz num amontoado de
palavras ou de belos conceitos. A fé coerente e verdadeira de quem
faz a vontade de Deus é indicada por Jesus por meio de duas casas:
uma construída solidamente sobre o terreno firme e a outra edifica-
da sobre areia. Nessa comparação, Jesus revela o autêntico e o falso
discípulo. O primeiro entra no Reino e o outro é excluído.
O manifesto de Jesus no Sermão da Montanha descreve con-
cretamente em que consiste a vontade do Pai. São as obras concre-
tas de amor ao necessitado que definem os critérios para se entrar
no reino. Não levar em conta esse critério é construir sobre areia.
Quem cumpre o ensinamento torna-se pessoa sábia em palavra e
ação, firmada sobre a rocha. “Aquele dia” refere-se ao fim dos tem-
pos, o momento de prestar contas.
O Senhor propõe que edifiquemos a casa de nossa vida “sobre a
rocha”, ouvindo e praticando a Palavra, fazendo a vontade do Pai. A
rocha coincide com o próprio Jesus, que aprendeu pelo sofrimento
a obedecer ao desígnio de Deus em sua vida.
Je! Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

Atualizando a Palavra
Tendo escutado com o coração a proclamação das leituras e me-
ditado o salmo responsório, tão rico e atual, nos perguntamos o
que tudo isso diz e significa em nossa vida e em nossos trabalhos.
No Espírito Santo, somos induzidos a tirar muitas conclusões e
ensinamentos.
Percebemos que temos facilidade de clamar “Senhor, Senhor”,
damos solenidade às palavras bonitas e piedosas, mas a nossa prática
cristã é pequena ou vazia. Vivemos tantas vezes nossa fé de forma
festiva e sentimentalista. Cantamos aleluias e muitos louvores, mas
passamos longe dos compromissos comunitários e nos excluímos
da solidariedade com os pobres.
Tantas vezes falamos bonito sobre a ajuda aos necessitados,
mas depois não nos integramos em atividades de solidariedade or-
ganizadas pela comunidade. Somos mestres na pregação da justiça,
mas, no dia a dia, não valorizamos as pessoas, tratamos mal os em-
pregados, não somos educados e responsáveis no trânsito.
Sabemos muito bem que, para ser discípulo de Jesus, não é sufi-
ciente proferir palavras bonitas de adesão ao Senhor, mas é preciso
esforçar-se para cumprir a vontade de Deus e viver de acordo com
os valores propostos por Jesus nas bem-aventuranças.
“Só entrará nos céus aquele que põe em prática a vontade de
meu Pai”. Jesus é modelo e servidor da vontade do Pai. Por isso, ele
afirma: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou
(Jo 4,34). “Pai não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42).
Para cumprir a vontade do Pai temos que ir às fontes da Palavra de
Jesus e transformá-la em centro da vida cristã, núcleo inspirador de
nosso projeto de vida pessoal e comunitária.
Para sermos acolhidos por Deus em seu Reino, precisamos agir.
Ele prefere construtores mais do que indivíduos que se limitam a
dar palpites. O edifício construído sobre areia é falso e perigoso,
apesar de ser grandioso e imponente. Não suportará as adversida-
des do tempo. Construir a casa sobre areia é ficar na teoria, sem
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)

passar à prática. Construir a casa sobre areia é rejeitar a proposta


de Jesus, é optar pela autossuficiência, fundando a “casa” sobre os
valores passageiros do lucro fácil, do poder, da fama, da glória, da
mentira, da injustiça e da violência.
Construir sobre a rocha, sobre Cristo e sua Palavra, é “viver e
agir de acordo com a justiça do Reino, apresentado no Sermão da
Montanha”. Ter construído a casa (Cristo) significa também poder
contar com sua força nos momentos de dificuldades (as tempesta-
des). A fé, vivida no cotidiano e em meio às diferentes realidades
sociais, deve gerar modelos alternativos de vida para a sociedade
atual.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Em nossa vida com os seus trabalhos, alegrias e sofrimentos, ilu-
minada pela Palavra, tocada pela ação do Espírito Santo, sentimos
necessidade de, por meio da celebração, entrar em comunhão mais
profunda com Deus, agradecer todos os seus benefícios e proclamar
bem alto suas maravilhas sentidas e descobertas.
Na certa, o Ressuscitado, presente na assembleia reunida em
seu nome, nos dá forças e inspiração para construir nossa casa com
sabedoria e inteligência e nos conduz pelos caminhos da chegada
de seu Reino.
Somos tocados pela proclamação das leituras sagradas e o Espí-
rito Santo, na homilia, no silêncio, nas preces, nos cantos, na escuta
das orações, imprime em nós o jeito de Deus amar e servir, grava,
em nosso íntimo, a prática de Jesus, o Filho amado, no acolher e
praticar a vontade do Pai.
A mesa da Palavra revela-nos que alcançaremos a justiça do
Reino de Deus, cimentados pela fé em Jesus Cristo, em sua graça
salvadora e no cumprimento da vontade do Pai. Deus é quem nos
concede o dom de crer e de atuar a fé pela prática da caridade.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011

A íntima relação entre a Palavra proclamada e escutada e a Pa-


lavra vivida concretiza-se na celebração eucarística, na qual a Litur-
gia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia constituem uma única ação
de culto.
Participamos da comunhão eucarística como fruto de nossa fé
comunitária. Por isso, na ação litúrgica, começamos escutando a
Palavra da salvação, para, depois, pela liturgia eucarística, funda-
mentar nossa vida cotidiana sobre a rocha firme que é o Cristo.
Lembrando a última ceia de Jesus e as muitas vezes que ele
sentou-se à mesa com os discípulos depois da sua ressurreição, par-
tilhemos entre nós o pão consagrado e demos graças ao Senhor.
Que esta refeição nos confirme na fidelidade ao ensinamento de Je-
sus e nos ajude a ter sempre a palavra em nosso coração, como luz
que nos ajuda a discernir e a fazer vontade do Pai.

Sugestões para a celebração


1. O espaço litúrgico seja bem preparado como símbolo da casa que
devemos construir sobre a rocha, lugar de segurança e encontro
com Deus, onde as pessoas sentem-se bem acolhidas, amadas, valo-
rizadas na “casa de todos” que é a comunidade.
2. Na acolhida, valorizar o sentido de quem é Deus mesmo,
aquele que acolhe com alegria seus amigos que ouvem sua Palavra
e constroem a casa sobre a rocha que é Cristo.
3. Na recordação da vida, lembrar a festa do carnaval como fes-
ta de confraternização e descanso que precede a entrada no período
da Quaresma.
4. Ao final da missa, lembrar a programação do tempo da Qua-
resma e os horários da celebração na Quarta-feira de Cinzas.
5. Motivar para a participação na Campanha da Fraternidade
e mostrar sua ligação com o tempo da Quaresma, como caminho
para a preparação da festa da Páscoa.

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