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Roteiros Homiléticos
do Tempo do Advento - Natal - Tempo Comum
Ano À - Novembro 2010 / Março 201l
128p.: 14x21 cm
ISBN: 978-85-7972-048-2
Coordenação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Coordenação Editorial:
Pe. Valdeir dos Santos Goulart
Projeto Gráfico:
Fábio Ney Koch dos Santos
Capa e Diagramação:
Henrique Billygran da Silva Santos
Revisão:
Lúcia Soldera
12 Edição - 2010
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita do autor - CNBB.
Edições CNBB
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Sumário
Apresentação... re rereeeeereereerereeeeeeneeeass /
Recordação da vida na celebração... 9
Primeiro Domingo do Advento
28 de novembro de 2010... si iisrerreererenerenrerarerrerenrennoo 14
Natal do Senhor
25 de dezembro de 2010....................eeeeeerreereerrereereerirererirerios 40
Sagrada Família
26 de dezembro de 2010..............ieeieeeiereeereerreeeereeeer
trans 47
Epifania do Senhor
02 de janeiro de 2011... e rrerrerererarereeenaeenreranenteranão 59
Batismo do Senhor
09 de janeiro de 2011... rriierererinererereeareeeserreneearerertareenos 65
O Tempo Comum e as Celebrações
das Comunidades... rrenan 71
Segundo Domingo do Tempo Comum
16 de janeiro de 2011... ererreeerrerrearos
Apresentação
Com alegria, inspirados pelo profeta messiânico, também nós pro-
clamamos: “É Ele que vem para nos salvar” (Is 35,4). Com esta cer-
teza, apresentamos a toda a Igreja no Brasil, os roteiros homiléticos
para o Ciclo do Natal e para os nove primeiros domingos do Tempo
Comum do ano A da liturgia.
Neste subsídio encontraremos primeiro a orientação para a
vivência característica da prática brasileira da recordação da vida
em nossas comunidades. Assim poderemos, sobretudo, no Ciclo do
Natal, reforçar a íntima relação entre liturgia e vida: a celebração
do Mistério do Senhor que veio, vem e que virá nas mais diversas
realidades de nossas comunidades, que vivem entre trevas e luzes,
a esperança do retorno do seu Senhor.
Durante os quatro domingos do Tempo do Advento, faremos o
caminho proposto pelo evangelista Mateus, que nos ajudará a viver
em constante vigilância. Uma vigilância ativa, “no cumprimento de
toda a justiça” (Mt 3,15), na espera do Senhor Jesus Cristo. Esta vigi-
lância ativa deve transformar-se em alegria pela festa da encarnação
de nosso Deus, “o sol nascente do alto para nos visitar” (Lc 1,78b),
tendo cumprido a promessa predita pelo profeta: “Eis que uma vir-
gem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome
de Emanuel, que significa: Deus está conosco” (Mt 1,23).
É com o Deus conosco que caminharemos durante o Tempo
do Natal e suas festas, mas, sobretudo, durante os primeiros domin-
gos do Tempo Comum, quando seremos convidados pelo Senhor a
manifestar a Justiça do Reino que ele mesmo veio cumprir, morren-
do e ressuscitando para a nossa salvação, reunindo um novo povo,
povo da nova e eterna Aliança.
Agradecemos a todos os que contribuíram na elaboração destes
roteiros, e também a todas as comunidades brasileiras que prepararão
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
RECORDAÇÃO DA VIDA NA
CELEBRAÇÃO
O que é e como se faz?
FICAL ATENTOS
Situando-nos
Recordando a Palavra
Atualizando a Palavra
da Igreja que clama: “Vem, Senhor, nos salvar. Vem, sem demora,
nos dar a paz”.
5. A Coroa do Advento seja colocada em local apropriado, onde
possa ser visualizada pela assembleia. De preferência, seja feita de
ramos verdes. A Coroa é plena de simbologia, seja por sua forma
em círculo, que representa a eternidade, seja pelas quatro velas que
representam a luz que vem do Senhor e apontam para os quatro
pontos cardeais, mostrando que Jesus veio para todos os povos.
6. Motivar as pessoas para que façam uma Coroa do Advento
em suas casas, colocando-a num lugar de destaque, e para que re-
zem em família a novena do Natal. Pode-se também colocar um
sinal do Advento na porta da casa.
2 CNBB. Guia Litúrgico Pastoral. 2º. edição. Brasília, Edições CNBB, 2007, p. 86.
REGAattnaio EO noSUE A
2º Domingo do Advento
05 de dezembro de 2010
Situando-nos
Estamos no 2º domingo de preparação à vinda do Senhor. Mais
uma vela acende-se na Coroa do Advento. A luz fica mais forte, po-
demos melhor visualizar o caminho a percorrer rumo à celebração
do Natal de Jesus. Celebrar o Natal é celebrar a encarnação, Deus
que armou sua tenda entre nós. É celebrar nossa adesão ao projeto
trazido por Cristo. Como toda celebração, esta também requer pre-
paração, especificamente, requer conversão.
A liturgia de hoje nos convida a abandonar os valores passagei-
ros e a aderir aos valores fundamentais e eternos, como rezávamos
no domingo passado: “caminhando entre as coisas que passam, abraçar
as que não passam”. Ela também nos convoca ao compromisso com
os valores do Reino de Deus, cuja concretização é anunciada pelo
Precursor como muito próxima.
O Papa Bento XVI fez, em 2006, uma bela reflexão sobre o sen-
tido do Tempo do Advento: “Façamos uma pequena reflexão: o tex-
to bíblico não diz que 'Deus veio”, nem mesmo que 'Deus virá”. Mas
usa o verbo no presente: 'Deus vem”. Se prestarmos atenção, vere-
mos que se trata de um presente contínuo, isto é, de uma ação que
sempre está acontecendo, aqui e agora, em qualquer momento.
O verbo “vir” se apresenta como um verbo 'teológico” e 'teolo-
ga)”, porque diz algo que tem a ver com a própria natureza de Deus.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010
Recordando a Palavra
Hoje o profeta Isaías nos fala da árvore de Jessé, da haste que nascerá
de seu tronco, de cuja raiz surgirá o rebento sobre o qual repousará
o Espírito do Senhor. Com isto se cumprirá o referido por Samuel,
relatando o que Natã disse a Davi em nome do Senhor: “Quando
chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então suscitarei
um descendente para te suceder, saindo de tuas entranhas, e consolidarei
seu reinado. Ele construirá uma casa para o meu nome e eu firmarei para
sempre o seu trono real” (2Sm 7,12-13). No mesmo texto de Isaías, são
enunciados os chamados dons do Espírito Santo: sabedoria, discer-
nimento, conselho, fortaleza, ciência, temor a Deus, aos quais se
reporta São Paulo “Nós não recebemos o Espírito do mundo, mas recebe-
mos o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons que Deus nos
concedeu”.
ÀPalavradenosso DeusrespondemoscomoSalmo71.EsteSalmo
tem a figura do rei como centro. Lembremos que em virtude do Ba-
tismo, todos temos o sacerdócio régio (Sacrosanctum Concilium, n. 14).
Como batizados, somos chamados a ser profetas, sacerdotes e reis.
Portanto, cada um de nós, pela missão régia assume com a Palavra
proclamada o compromisso de servir o Reino e para isto com o sal-
mista pedimos ajuda a Deus para agir com justiça.
A 2º leitura é da carta de Paulo aos Romanos a quem ele deseja
que Deus dê a graça da harmonia e da concórdia. Estes dois elemen-
tos foram belamente referidos por Isaías na 1º leitura, na figura dos
animais domésticos e dos animais selvagens reconciliados, vivendo
em paz. Nesta carta, Paulo também fala da unidade — ter um só
coração e uma só voz — e do acolhimento mútuo, a exemplo do
próprio Cristo.
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4) 22
Atualizando a Palavra
Como possibilitar que em nós e a partir de nós ressoe a Palavra pro-
clamada na Liturgia deste domingo?
João Batista clama “preparai o caminho do Senhor, endireitai suas
veredas”. Na sociedade atual, são tantas as veredas a endireitar... a
violência, as agressões à vida em suas diferentes formas, o egoísmo,
a corrupção, a discriminação e muitas, muitas mais!
Na sociedade atual são tantos os caminhos a preparar, é preciso
limpá-los das injustiças, da indiferença, do consumismo, das indig-
nidades, das exclusões e de muito, muito mais!
Faz-se necessário recobrir os caminhos e as veredas com a es-
perança, a coerência entre fé e vida, os valores evangélicos, a soli-
dariedade, a alegria de sermos missionários, a promoção da vida, o
cuidado com a biodiversidade e com muito, muito mais!
Para isto contamos com o Espírito Santo que repousa tam-
bém sobre nós, nos cumulando de dons. Cada um descubra os que
recebeu em abundância e veja qual a melhor forma de usá-los no
dia a dia, visando à própria conversão e à conversão dos que lhe
são próximos.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010
pequenas coisas, para que venha o Reino? Não poderíamos nos unir
aqueles que respondem à violência com o perdão, à injustiça com a
verdade, às palavras com a ação?
3 GUIMARÃES, Marcelo. CNBB. Liturgia em Mutirão. Brasília, Edições CNBB, 2007, p. 50-52.
27 Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010
Situando-nos
No 3º Domingo do Advento, celebramos a alegria da proximidade
do Senhor. É o chamado “Domingo da alegria”, “Gaudete”, Neste dia,
a cor litúrgica roxa pode dar lugar ao rosa. O Advento, tempo de
espera pela chegada do Senhor, vai crescendo na alegria e na ansie-
dade ante o Deus que se aproxima. É um tempo privilegiado, é pre-
paração de festa, alegria profunda e discreta, crescente, consistente.
Não é alegria passageira, não é surpresa repentina, esta é a terceira
semana de um tempo construído e vivido na expectativa de um
grande encontro, nosso encontro com o próprio Deus, que se faz
homem e habita entre nós.
Na Liturgia da Palavra, as figuras centrais, Isaías e João Batis-
ta, convidam-nos ao ânimo e à esperança, apontando os sinais da
salvação.
Com mais força, neste Domingo, o Tempo do Advento reco-
bre-nos de fortaleza, na certeza da presença do Senhor que quer
transformar nossa vida e nosso coração.
Ao acendermos a 3º vela da Coroa do Advento, a luz crescente,
iluminando a todos nós, simboliza a proximidade do Natal, a che-
gada da luz do salvador, Jesus!
Hoje é o dia da coleta da Campanha da Evangelização. Quere-
mos ser generosos e responsáveis por nossa Igreja. Neste espírito,
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano À - 2010
Recordando a Palavra
Na 1º Leitura, Isaías anuncia as transformações no mundo e em
cada um de nós, a partir da vinda do Salvador. Não ter medo, criar
ânimo, é o que pede o profeta, pois o Senhor está perto. Diante
da presença de Deus feito homem, a alegria deve tomar conta
do povo e suas dores e temores transformarem-se em louvores e
contentamentos.
O deserto é um lugar estéril, árido, castigado pelo sol. No en-
tanto, é também o lugar ideal para o crescimento das convicções e
dos princípios sólidos. No silêncio do deserto é que podem nascer
e desenvolver-se as profundidades do ser humano. Como lemos no
livro “O Pequeno Príncipe”, “a beleza do deserto é que, em algum
lugar, ele esconde um poço!”
Na Bíblia, o deserto significa o lugar onde o ser humano pode
alcançar a si mesmo, a sua interioridade. Como não podemos viver
de verdades sem princípios e convicções, devemos frequentemente
voltar ao deserto para nos encontrarmos a nós mesmos. Não pode-
mos viver de impressões, de espetáculos, de fenômenos, de exalta-
ções e fórmulas passageiras.
Para viver uma vida que leve o sinal do absoluto, é necessá-
rio ter alguns ideais que não se esmorecem diante das dificuldades.
Como os ideais mais verdadeiros são os que cultivamos em nossa
interioridade, é necessário buscar sempre o silêncio e a solidão para
amadurecê-los. Não podemos viver apenas de respostas e soluções
que outros dão às nossas perguntas. É verdade que devo escutar,
observar, confrontar, receber de todos, buscar em todas as direções.
Mas tudo isso deve ser elaborado, refletido, amadurecido e transfor-
mado por nós mesmos. Não posso renunciar ao meu espírito crítico,
“É Ele que vem para nos salvar!" (Is 35,4) 10
Atualizando a Palavra
Sobretudo hoje é preciso olhar para João Batista, e não nos dei-
xarmos quebrar, agitados pelo vento da injustiça, das diversas for-
mas de agressão à vida tão desrespeitada impunemente. É preciso
resistir, mostrar fortaleza em nossa fragilidade, perseverar na fide-
lidade, ser corajosos, aplainando os caminhos do Senhor, promo-
vendo a paz, acolhendo os que precisam de nós, não tendo medo de
testemunhar os valores do Evangelho.
Sabemos que não é esta uma tarefa fácil. Os apelos do mundo atual
nos levam a valorizar os aspectos materiais e externos em detrimento
dos valores interiores e verdadeiros, exatamente o inverso de como se
apresentava João Batista. Por isso ele não se deixou vencer, sua fortaleza
estava em seu interior, na verdade, na fidelidade a Deus.
Na Mensagem da V Conferência de Aparecida, os Bispos con-
firmam esta proposta: “Com firmeza e decisão continuaremos exercendo
a nossa tarefa profética discernido onde está o caminho da verdade e da
vida. Levantando a nossa voz nos espaços sociais dos nossos povos e cida-
des, especialmente a favor dos excluidos da sociedade.”
Isto requer que nos alimentemos na oração, pedindo que o Es-
pírito do Senhor nos revigore e fortaleça, fazendo de nós instru-
mentos de transformação, ricos interiormente do amor de Deus,
verdadeira riqueza que nos torna mensageiros de Jesus.
Isto é viver o espírito do Advento: deixar ressoar o tempo da
liturgia em nosso dia a dia; celebrar em nossa vida o que celebramos
na Missa; ter a ousadia e a determinação de sonhar; ser identificado
pelo Mestre como o foi João.
Que, a cada um de nós, Jesus possa chamar de seus mensagei-
ros, discípulos missionários, que passaram no mundo a testemu-
nhar seus ensinamentos.
Situando-nos
No 4º Domingo do Advento, é forte o anúncio da chegada de Deus
entre nós, Deus-conosco, Emanuel, concebido em Maria pelo Espí-
rito Santo, acolhido por José na fidelidade e no amor.
Maria é pessoa central no Tempo do Advento, na verdade não
há tempo melhor para o culto à Mãe de Deus. A alegre espera pelo
Senhor está no ventre de Maria. A Igreja, vivendo com ela sua gra-
videz, gera vida na comunidade.
Várias são as devoções que, com muita fé e carinho, dedicamos
à nossa querida Mãe, mas é o Tempo do Advento que insere Maria
mais diretamente na celebração do Mistério Pascal.
No mês de dezembro, temos duas festas marianas: dia 8 — Sole-
nidade da Imaculada Conceição — e dia 12 — Festa de Nossa Senhora
de Guadalupe — proclamada Padroeira da América Latina, em 1910,
por São Pio X. Em ambas as festas, ressoa o anúncio de Isaías “Eis
que a virgem conceberá e dará à luz um filho”, pois também a Virgem de
Guadalupe é apresentada como uma mulher grávida.
Ao acendermos a 4º vela da Coroa do Advento, a luz plenifica-
se, simbolizando a claridade infinita que Jesus vem trazer ao nosso
coração e ao mundo.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano À - 2010
Recordando a Palavra
A 1º Leitura traz o grande anúncio do profeta Isaías sobre a chegada
de Jesus, Emanuel, Deus-conosco. Que notícia melhor poderíamos
ouvir? Deus decidiu visitar seu povo, nascer entre nós, tomar forma
humana.
A quem escolheu para realizar seu plano? Maria, moça simples
e aberta à vontade do Pai. Seu “sim” trouxe ao mundo Jesus, nosso
salvador.
Na antífona do Salmo 24, podemos ouvir uma resposta dirigida
a nós, para que também digamos sim à chegada do Senhor: “abri as
portas para que ele possa entrar”. Este Salmo, segundo Bortolini, 2000,
“é uma liturgia. Chama-se assim porque recorda um rito muito antigo. Os
versículos 3-6 são quase uma cópia do Salmo 15, no qual temos a liturgia
da porta. Esta liturgia da porta polemiza contra os ritos vazios e a religião
das aparências.”
O próprio Salmo aponta as verdadeiras condições para receber-
mos a bênção do Senhor: pureza de coração, integridade e justiça.
Foi exatamente isto que Jesus veio pregar. Contra toda expectativa
dos poderosos, Jesus exalta os pobres, acolhe os marginalizados,
não valoriza aparências e as riquezas, mas os valores interiores e
verdadeiros.
Na 2º Leitura, Paulo, em sua carta aos Romanos, identifica-se
como servo de Jesus, apóstolo por vocação, escolhido para o Evan-
gelho de Deus. Nada mais importante pode haver, nenhum título
humano pode superar nossa identidade de apóstolos missionários
de Jesus, pois como diz Paulo, “Entre esses povos estais também vós,
chamados a ser discípulos de Jesus Cristo”, Assumir nossa vocação, nos-
so sim ao plano de Deus deve ter prioridade em nossa vida.
O Evangelho narra a origem de Jesus, o anúncio feito pelo anjo
a Maria, a qual, conforme o evangelista Mateus, pela ação do Espí-
rito Santo, ficou grávida antes de casar-se com José, seu noivo.
Junto à centralidade da figura de Maria, esta passagem do
Evangelho traz a presença de José, homem justo e de coração
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Atualizando a Palavra
No mundo de hoje, permanecem para nós as condições pro-
clamadas no Salmo 24, para recebermos a bênção do Senhor:
pureza de coração, justiça e integridade. Estas são as chaves que
abrem as portas para que o Senhor possa entrar em nossas vi-
das. A entrega total e diária a estas virtudes, buscando sermos
sempre melhores em cada uma delas, é que nos coloca abertos a
ouvir as mensagens de Deus.
Foi sendo assim que José pôde ouvir o Senhor e colocou-se
disponível, atendendo seu pedido. O pedido feito a José não era
nada fácil.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Ano A - 2010
Missa da noite
Leituras: Isaías 9,1-6; Salmo 95(96)1-2a.2b-3.11-12.13;
Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14
Situando-nos
Hoje é Natal: festa do nascimento de Jesus!
Hoje é Natal: festa do nosso nascimento para uma vida nova!
Hoje é Natal! Mas não celebramos apenas o nascimento de um
menino em Belém. O nascer de uma criança sempre é algo que nos
encanta, mas também nos compromete.
“Cantai ao Senhor Deus um canto novo!” Esta é a nossa resposta
nesta festa do nascimento de nosso Deus — Menino. É assim que
nós, Povo de Deus, nos entendemos: eleitos de Deus para conhecer
e viver a salvação. Reconhecemos que não é somente uma salvação
para depois desta vida. Experimentamos salvação já para a vida hu-
mana aqui na Terra. Nesta noite, fazemos, mais uma vez, a experi-
ência de sermos muito amados por nosso Deus que quis vir morar
no meio de nós para nos salvar.
Queremos celebrar nossa resposta de amor ao Amor que nos
salva e nos constitui seu Povo. Nós somos o Povo de Deus que re-
nova sua identidade na celebração eucarística e recupera sua força
de missão. Somos Povo discípulo missionário de Jesus Cristo. Ele
é nosso “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6). Esta Eucaristia nos im-
pele para a missão como discípulos de Jesus, Filho de Deus feito
homem.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano A - 2010/2011
Recordando a Palavra
O profeta Isaías especifica que a experiência do amor zeloso do Se-
nhor se dará por um rei justo e santo. O povo do Reino do Norte,
Israel, oprimido pela destruição e deportação das lideranças, conhe-
ceu a desgraça vinda pelas mãos dos assírios. Tornou-se um povo
desorganizado, sem perspectivas, sem luz, sem identidade. Ele, po-
rém, terá tudo de volta pela ação criadora e misteriosa do Senhor,
expressa na imagem da luz que virá, embora não saiba de onde.
Uma criança nascerá e terá sobre seus ombros a tarefa real: conse-
lheiro, guerreiro, pai e príncipe. O rei que for assim será a alegria
e a esperança de todo o povo. Justiça e direito serão suas caracte-
rísticas, por elas serão devolvidas ao povo a vida e a identidade. A
alegria e a paz se tornarão, pois, as características da vida do povo.
O Salmo 95, nossa resposta à Palavra de Deus, é um hino de
louvor. Por este salmo, bendizemos nosso Deus e nos alegramos.
Expressamos também nossa confiança, pois sabemos que ele virá
“julgar a terra inteira” e seu julgamento será justo.
O Evangelho de Lucas retoma a alegria, já cantada no salmo —
“alegrem-se os céus, exulte a terra”. Ter uma identidade como povo
e ser Povo de Deus torna-se muito importante para a nação judaica
oprimida. A possibilidade de ser novamente um povo traz grande
alegria a todos, especialmente aos pobres e humildes. Estes, na gru-
ta de Belém, são representados pelos pastores, que o acolheram por
primeiro. O Menino nascido no meio dos pobres significa um Deus
protetor dos pobres tal como os povos semitas concebiam a figura
do rei ideal. Nem o imperador, nem Herodes estavam preocupados
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
com os pobres, seus interesses eram bem contrários a isto. Eles, por-
tanto, não exerciam a realeza conforme proposta pelo ideal semita.
Quem vem realizá-lo é um Menino, nascido na humildade de uma
gruta em Belém.
Lucas apresenta o nascimento de Jesus como se fosse um “dra-
ma” em três atos. Os três convergem para Jesus, mas se desenrolam
em diversos cenários e os atores neles agem numa importância di-
ferente, a cada ato. No primeiro, os protagonistas são Maria, que
dá à luz, e Jesus, que nasce. No segundo, os atores são os anjos que,
entoando hinos diante da manjedoura bendita, revelam quem é o
recém-nascido. No terceiro, os pastores, saindo dos campos, vão a
Belém, onde “encontram Maria, José e o Menino” e, de Belém eles
se dispersam, anunciando o que lhes fora revelado pelos anjos. De
cada “ato” dessa narração, o evangelista extrai uma mensagem es-
pecial e, de seu conjunto, vem a verdade da história que Lucas nos
apresenta.
Na carta a Tito, Paulo dá o sentido da vinda de Cristo entre nós;
é a manifestação da graça de Deus e fonte de salvação. Também
nos ensina a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade.
Estas são três qualidades a serem cultivadas por todo aquele que
deseja conhecer a salvação e se tornar participante da obra salvífica
do Pai.
Atualizando a Palavra
Hoje, não estamos celebrando um fato do passado, mas um fato que
acontece agora, no meio de nós, assembleia reunida em nome do
Senhor. Hoje nasceu para nós o Salvador.
Um “detalhe” interessante da narrativa de Lucas não pode
passar despercebido: “Maria envolveu o Menino em faixas” (2,7).
Esse detalhe é tão realístico a ponto de o anjo do Natal divulgá-lo
entre os pastores como sinal para poderem reconhecer o filho de
Maria. De fato, é exatamente graças a esse sinal que “os pastores, às
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano À - 2010/2011]
nados por esta nova luz, tornamo-nos filhos e filhas de Deus: “filhos
no Filho”. Somos conduzidos para o encontro entre o humano e
o divino, a maravilhosa partilha, o Deus humano, a humanidade
divina, a participação na divindade daquele que assumiu a nossa
humanidade. No fulgor da noite de Natal se anunciam as luzes da
noite pascal. É os batizados e batizadas são convidados a viver como
iluminados, conforme já nos exortava, no século V, o Papa Leão
Magno: “reconhece, cristão, tua dignidade!”
4 Masini, Mário. Belém. Lectio Divina do Natal. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 41.
5 Guimarães, Marcelo e Carpanedo, Penha. Guia para as celebrações das comunidades.
São Paulo: Paulinas e Apostolado Litúrgico, 2002, p. 118.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
* In Viver com sabedoria; tempos de Natal. Rio de Janeiro, Reader's Digest, p. 18, 2008.
SAGRADA FAMÍLIA
26 de dezembro de 2010
Situando-nos
Recordando a Palavra
O Evangelho de Mateus, hoje proclamado, retrata a fuga da família
de José para o Egito. O motivo que o levou a sair de sua terra com
Maria e o Menino era tremendo: Herodes, ao saber da vinda do
Messias Salvador, determinara que matassem todos os recém-nas-
cidos. Atitude que bem caracteriza aqueles que se veem inseguros
diante da novidade de Deus. Às vezes, é muito fácil eliminar ou
tirar de foco o que nos desagrada. A santa família só retornou para
Nazaré depois que Herodes morreu.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Atualizando a Palavra
Apesar da crescente onda de descrença em relação à família, o pro-
jeto de Deus ensina o valor inalterável que ela merece. Maria e José,
pais de Jesus, continuam sendo referência e caminho de renovação
para nossa sociedade.
A Sagrada Família ajuda-nos a caminhar na fé, na constante sin-
tonia com Deus. Avisados em sonho, conseguem fugir da maldade
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
6 Masini, Mário. Belém. Lectio Divina do Natal. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 106.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano A - 2010/2011
Situando-nos
Um novo ano civil desperta após as comemorações de fim de ano.
As recordações das festas familiares ou públicas estão muito vivas.
Festas marcadas pela alegria, pelas comidas, em muitos ambientes
cuidadosamente selecionadas pelo seu “poder de dar sorte”, fogue-
tes e fogos de artifício que ecoaram na escuridão da noite e a ilumi-
naram fugazmente.
No Brasil, hoje é o grande dia da posse dos nossos novos
governantes.
Neste dia, a Igreja nos convida para festejarmos Maria Mãe de
Deus e celebrarmos o “Dia Mundial da Paz”. Hoje lemos o mesmo
evangelho proposto para a missa da aurora do Natal. A pedagogia
da Igreja dedica os dias posteriores às grandes solenidades ao apro-
fundamento do mistério celebrado, ampliando sua compreensão e
possibilitando sua vivência.
Na noite do Natal, o anjo e a corte celeste cantavam louvores a
Deus e desejavam a paz na terra aos homens por ele amados. Nos
abraços e cumprimentos de ano novo não faltaram desejos de paz.
Num ambiente tão favorável, o Papa Paulo VI instituiu o primeiro
dia do ano como momento para refletirmos sobre a paz que vem
do Messias.
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Recordando a Palavra
O Evangelho do dia é retrato de uma cena bem familiar, após o
nascimento de um filho. Maria e José estão junto ao recém-nascido
que, em sua fragilidade, solicita toda a atenção e os maiores cuida-
dos para sobreviver. O mundo tornou-se agora muito mais amplo
que o útero materno. A notícia do nascimento ultrapassa os limites
familiares e torna-se assunto para a vizinhança. As visitas vêm para
saudar os pais e acolher o novo membro da comunidade. Logo sur-
ge a pergunta: qual será o nome do menino? Estes acontecimentos
provocam na jovem mãe perguntas, inquietações e dúvidas. É pre-
ciso guardar e meditar no coração estes acontecimentos para viver
a missão de mãe.
A cena familiar apresentada revela o grande mistério de Maria
Mãe de Deus. A maternidade de Maria possui profundas e sólidas refe-
rências escriturísticas. É com o título de mãe que Maria é chamada, na
maioria das vezes, no Novo Testamento (25 vezes)... Maria é, fundamen-
talmente, para os relatos evangélicos, a Mãe de Jesus”.
A carta de Paulo aos Gálatas 4,4 afirma que quando se completou
o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nas-
cido sujeito à Lei. Jesus aparece como o Filho pré-existente. É Deus
mesmo que participa da divindade do Pai, por este enviado quando
se completou o tempo. Não se trata, portanto, de ser Jesus apenas
um homem particularmente caro e querido a Deus e que começou
a existir em sentido absoluto no momento da encarnação.
O Filho do Pai, pré-existente desde toda a eternidade, permitiu
que todos recebêssemos a filiação adotiva (Gl 4,5) e invocássemos a Deus
Aba-—o Pai (Gl 4,6). O Filho do Pai é também o filho de Maria (cf. Mc 6,3;
Mt 13,55; Jo 6,42) nascido de mulher (Gl 4,4). O Deus em sua glória assu-
me a fragilidade, a simplicidade e a pobreza da condição humana. No
centro do mistério da encarnação e da salvação, o Novo Testamento
7 (Gebara, I., Binguemer, M. Maria, Mãe de Deus e Mãe dos pobres: um ensaio a partir da mulher e da
América Latina, Petrópolis, Vozes, 1988, p.111).
Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal - Ano A - 2010/2011]
Atualizando a Palavra
A proclamação dogmática de Maria, Mãe de Deus, ilumina e orienta
a nossa vida cristã. Toda mãe não é só mãe do corpo, mas da pessoa
inteira do filho. Em Jesus, não podemos separar a humanidade da
divindade. Em sua pessoa, é Deus mesmo que age e vive em carne
humana. Em consequência, não se pode separar, em Maria, a mu-
lher simples de Nazaré e aquela que a Igreja venera e cultua como
a Mãe de Deus. Na fragilidade, na pobreza e nos limites da carne
humana podemos experimentar e adorar o poder de Deus.
Jesus, ao iniciar a vida pública, proclama que o Reino de Deus
está no meio de nós. Fez-se presente pela encarnação assumindo
a humanidade num ventre de mulher, Deus assumiu a história
8 (Gebara, I., Binguemer, M. Maria, Mãe de Deus e Mãe dos pobres: um ensaio a partir da mulher e da
América Latina, Petrópolis, Vozes, 1988, p.111).
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Situando-nos brevemente
Recordando a Palavra
Atualizando a Palavra
O que a manifestação de Jesus pode significar para o mundo atual?
Qual a importância de sua humanidade e de seu reinado? Como nós
podemos hoje, manifestar e testemunhar a “luz que é Jesus Cristo”?
Um rei não nascido no palácio do rei e sim na pequenina Be-
lém, em total pobreza, ao contrário de Herodes: ele não veio para
dominar e sim para servir, para reunir e salvar. Tudo é presidido
pelo amor misericordioso de Deus, baseado em sua bondade e não
nos méritos humanos.
A Palavra de Deus é a mesma, tanto para os judeus da Palestina
quanto para os cristãos de hoje, ela confirma a realidade da pro-
messa da antiga aliança. É um convite para acolher a vida de Cristo
desde o início, com a proposta do “ Reino de Deus”, que já chegou
e está no meio de nós. É um novo caminho a ser seguido, ele mes-
mo dirá: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Caminho que
supera todas as outras propostas — o amor. “Deus é amor” (1Jo 4,8).
Este amor, fonte regeneradora da nossa vida, leva-nos a criar gestos
oportunos, capazes de responder aos anseios humanos. Como diz
São Paulo, amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo
suporta” (1Cor 13,7), pois é a vontade e a vida do próprio Deus.
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
BATISMO DO SENHOR
09 de janeiro de 2011
Situando-nos
A festa do batismo de Jesus fecha o ciclo litúrgico do Natal. É muito
importante lembrar a ligação da festa de hoje com o mistério do
nascimento de Jesus. Ela faz a transição para a primeira parte do
Tempo Comum que iniciaremos logo a seguir.
Jesus recebe o batismo, mesmo diante do protesto de João Ba-
tista, fato que inaugura a vida apostólica do Messias (em hebraico),
do Cristo (em grego). Ungido com o Espírito de Deus e com seu
poder, o Filho amado vai andando por toda a parte, fazendo o bem e
curando todos (At 10,38); tirando os cativos da prisão; livrando do cárcere
os que vivem nas trevas (cf. Is 7).
Na festa do Batismo de Jesus, revivemos e reanimamos nosso
dom batismal que nos tornou filhos e filhas amados do Pai e nos
fez olhar os outros como irmãos. Agradecidos, queremos ser aos
que nos levaram à pia batismal e nos educaram na fé. Devido a eles,
hoje, a partir da graça recebida, nos comprometemos com nossa
Igreja e com o mundo.
Recordando a Palavra
Entre os judeus piedosos e especialmente entre os essênios em
Qmram, o batismo por imersão nas águas fazia parte dos rituais de
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Atualizando a Palavra
O verbo batizar tem em grego dois significados: submergir e empapar (como
a chuva empapa a terra).
O batismo de João era insuficiente. Despertava o anseio de vida
e levava a dar adesão ao messias que chegaria, mas tal adesão ficava
"É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
revelais o novo Batismo, com sinais admiráveis. Pela voz descida do céu,
ensinais que o vosso Verbo habita entre os seres humanos. E pelo Espírito
Santo, aparecendo em forma de pomba, fazeis saber que o vosso Servo, Je-
sus Cristo, foi ungido com o óleo da alegria e enviado para evangelizar.
9 BECKHAÁUSER, Frei Alberto. Viver o Ano Litúrgico, Vozes, Petrópolis, 2003, p. 163.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
Situando-nos
Recordando a Palavra
A leitura do profeta Isaías lembra o povo no exílio na Babilônia.
O profeta fala, alimentando a esperança de libertação e a volta à
pátria. A liberdade virá pela ação de um personagem apresentado
como Servo de Javé, executor de uma vontade soberana e superior.
Nesse Servo, Javé tornará conhecida sua glória. A glória de Javé é
sua presença atuante na história, conduzindo seu povo à liberdade e
à vida. A glória de Javé é um povo livre de toda a forma de opressão.
A missão do Servo é devolver, em nome de e sob o comando de Javé,
a liberdade ao povo oprimido. Essa missão não se reduz somente a
um povo, mas é universal, portanto, para todos os povos.
O Salmo 39/40 é de ação de graças, inspirado numa pessoa que
passou por grave situação e clamou por Javé. Ela foi ouvida e ago-
ra vem agradecer, provavelmente no templo de Jerusalém, cercada
por muitos peregrinos, curiosos em saber como tudo aconteceu. O
salmo mostra Deus que ouve o clamor e liberta, fazendo a pessoa
cantar a ação de graças. Hebreus, 10,7, aplica a Jesus este salmo que
cumpriu plenamente a vontade de Deus. Nos evangelhos, encontra-
mos como Jesus realizou a vontade do Pai.
Pela leitura da Carta aos Coríntios, lembramos que Paulo pre-
gou em Corinto e aí fundou comunidades, compostas de judeus e
pagãos, quase todos muito pobres. Havia entre seus membros escra-
vos e trabalhadores do cais do porto. Eram comunidades pequenas,
pobres, mas muito ativas. Com o correr dos dias, apareceram dúvi-
das, problemas, conflitos e divisões. O texto de hoje é a introdução
da carta, com endereço, destinatários e saudação.
No Evangelho, a proclamação Eis o cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo deve ser compreendida em íntima conexão com
o Prólogo do Evangelho de João. A pessoa e a obra de Jesus foram
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
Atualizando a Palavra
A mensagem da Carta aos Coríntios está muito próxima do Evan-
gelho de hoje. Paulo, como apóstolo de Cristo, é testemunha à se-
melhança de João Batista, fazendo ambos a experiência de Jesus. O
conteúdo do testemunho é muito semelhante: ambos referem-se à
missão de Jesus, missão que vem do Pai e realiza-se na comunida-
de que está em comunhão com Jesus. Este a santifica e a capacita
ao testemunho. Nós, aqui reunidos, somos hoje essa comunidade
santificada.
Ser cristão é ser testemunha de Jesus. Mas que tipo de testemu-
nho é o nosso? De que forma somos servos de Javé? Quem é Jesus
para nós? De que forma o conhecemos? Qual é a ação do Espírito
Santo na vida de nossas comunidades e em nossa vida? Qual é o pe-
cado do mundo que Jesus, servo-cordeiro, elimina com sua morte
e ressurreição?
O pecado se faz realidade entre nós e dentro de cada um. O
mal está no meio de nós, embora nas conversas e nos meios de co-
municação não o chamem de pecado, mas de corrupção, falta de
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
Lembretes
Situando-nos
Jesus é reconhecido como luz que brilhou nas trevas. Sua encarna-
ção realizou e fez presente o anúncio dos profetas, especialmente
Isaías, que, com a sua vida e palavras, animou o povo sofrido e de-
sanimado pela opressão provocada por invasores, como os assírios.
Reconhecer Jesus como luz do mundo e libertador significa
acolher sua proposta e entrar com decisão na construção do Reino
de Deus, com vez e voz para todos, onde reina a liberdade e há pão
em abundância.
Isso implica conversão e renúncia a tudo aquilo que impede ou
atrapalha a realização do projeto de paz para todos. A realização
desse projeto supõe a valorização das pessoas, o diálogo permanen-
te e paciencioso e a superação de divisões e a concentração de poder
e privilégios.
Jesus anuncia a chegada do Reino de Deus. Mas não o faz sozi-
nho. Chama colaboradores. Nesta celebração, recebemos o convite
de entrar na missão de Jesus para anunciar o evangelho e curar todo
tipo de doença e enfermidade.
Reunidos no Senhor, celebramos com todos os que se dedicam
ao serviço da libertação e à promoção de pobres, doentes, abando-
nados e que nos ajudam a ver e compreender o Reino que Jesus veio
anunciar e concretizar.
83 Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
Recordando a Palavra
Setecentos anos antes de Jesus nascer, as tribos de Zabulon e Nef-
tali foram dominadas e escravizadas pelos assírios. As lágrimas, o
luto, a opressão e a deportação fizeram daquela região uma terra de
“sombra, tristeza e morte”.
Neste contexto, ouve-se, na primeira leitura, um grito em meio
à escuridão, um grito de luz para o povo que estava perdido e mas-
sacrado. Os habitantes do país das sombras da morte viram uma
grande luz. Na escuridão das trevas, simbolizando a morte, surge a
luz como a Nova Criação. A alegria multiplicou-se e todos, libertos
da escuridão, viram a glória de Deus. Mateus(4,15ss) faz alusão a
este texto para apresentar Jesus. Após as trevas do erro e do pecado,
surge a luz da graça.
O Salmo 26(27) é de confiança com elementos de súplica. Javé
é luz, salvação, fortaleza. Toma partido do inocente perseguido,
abrigando-o no Templo, escondendo-o no segredo de sua tenda,
elevando-o sobre uma rocha, fazendo-o erguer a cabeça sobre os
inimigos que o cercam. A grande experiência que provocou este
salmo é o acontecimento do êxodo, pois foi Javé, que, ouvindo o
clamor dos hebreus, libertando-os, educou-os para a confiança no
Aliado que nunca falha nem esquece. Jesus é a expressão máxima
desse Deus no qual podemos confiar e do qual podemos entender
sua misericórdia. Ele tomou o partido dos pobres.
Paulo fala sobre a divisão da igreja de Corinto, pede que se evi-
tem divisões e separações. Quem é enviado de Cristo não pode ser-
vir à bandeira de um grupo. Cristo é único e não podemos dividi-lo.
A comunidade de Corinto estava dividida em três grupos: 1) o gru-
po de Pedro, que por um tempo foi líder da Igreja de Jerusalém. Ele
dedicava-se mais aos judeus, mas foi o primeiro a abrir as portas aos
pagãos; 2) o grupo de Paulo, fundador da Igreja de Corinto; 3) o gru-
po de Apolo, judeu de Alexandria e relacionado com o Movimento
Batista e do Messias. Paulo reprova isto, apoiando-se naquele que
tinha sido crucificado e do qual brota a salvação: Cristo. Ora, Cristo
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Atualizando a Palavra
Jesus vai morar na Galileia, lugar de refugiados e estrangeiros mar-
ginais, apelidada de Galileia das nações, pois, as nações eram os pa-
gãos. É nessa terra que Jesus vai morar e iniciar a pregação do evan-
gelho. Hoje somos desafiados a iniciar, mais uma vez, a pregação
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
do Reino nas favelas, nos meios pobres, nas prisões, no meio das
balas cruzadas do tráfico.
Ele chama para ajudá-lo Pedro, Tiago e João, pescadores afei-
tos a um trabalho cheio de hostilidades e nada vantajoso. Com eles
inicia uma comunidade de discípulos, na qual se torna viável o ca-
minho da conversão que eles devem indicar para os outros. Uma co-
munidade que vai acompanhar Jesus até a sua morte, que aprende
com ele o jeito de ensinar e realizar as curas. Comunidade, instru-
mento de Deus, na qual o povo das trevas torna-se o povo da luz.
Nessa prática de Jesus, temos dois ensinamentos: primeiro, deixar
as redes; segundo, aprender a viver em comunidade. O anúncio do
Reino supõe a vivência do discipulado numa comunidade concreta,
A comunidade dos discípulos não é uma comunidade com fim em
si mesma, mas está em permanente serviço do Reino.
Na Bíblia, a luz é simbolo da vida e as trevas são símbolo do
pecado e da morte, Deus é comparado à luz. “O Senhor é minha luz
e minha salvação.” Jesus mesmo disse: “Eu, a luz vim ao mundo para
que aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. (João 12,46) De-
pois de proclamar os pobres como bem-aventurados, no Sermão da
Montanha, Jesus disse: “Vocês são a luz do mundo” (Mt 5,14).
Converter-se a Jesus e entrar no Reino de Deus é passar das
trevas à luz. Indica mudança radical da nossa vida, uma inversão na
escala dos valores que o mundo propõe e em nossas preocupações
cotidianas. É a morte do egoísmo, do individualismo, da ganância,
de uma vida sem sentido, para nascer, vir à luz, para uma existência
marcada pelo amor a Deus e aos irmãos, tarefa para a vida inteira.
Nunca estamos totalmente preparados ou prontos. Somos um povo
que segue o caminho de Jesus, que se constrói a cada dia.
Deve ser dada atenção especial à segunda leitura, que nos fala
da divisão que havia na igreja de Corinto e da advertência que Paulo
faz a esta igreja. Converter-se é estar unido, pertencer à Igreja como
comunidade eclesial e não a este ou aquele grupo. Somos chamados
a ser discípulos missionários de Cristo, por isso não podemos seguir
determinadas ideias ou pensamentos. Assim como Paulo escreve à
“É Ele que vem para nos salvar!” (ls 35,4) 86
ALEGRAI-VOS E EXULTAI!
Situando-nos
Neste domingo, Jesus nos propõe o caminho das bem-aventuranças,
a primeira parte do Sermão da Montanha. Este Sermão é uma in-
versão dos valores tradicionais. Os hebreus cultivavam a convicção
de que a prosperidade material e o sucesso eram sinais da bênção
de Deus e a pobreza e a esterilidade, sinais de maldição. Jesus muda
esta lógica. Agora os bem-aventurados não são mais os ricos deste
mundo, os saciados, os favorecidos, mas os que têm fome e choram,
os pobres e os perseguidos.
Os textos bíblicos deste domingo são viva esperança para os
cristãos. Deus mostra-se aliado dos empobrecidos e com eles cons-
trói, desde já, uma sociedade alternativa, da qual justiça, partilha e
fraternidade são notas características.
Esta Palavra vem ao nosso encontro para refletirmos sobre a
situação paradoxal em que se encontra a humanidade: de um lado,
imensas riquezas concentradas nas mãos de poucos e, de outro, mi-
lhares de pessoas passando necessidades.
Que a vivência das bem-aventuranças, como projeto de vida e
felicidade, nos ajude a revermos nossas ações perante os que mais
precisam.
Celebremos a páscoa de Jesus Cristo que se manifesta e se reali-
za em nossas ações solidárias e nas lutas das pessoas comprometidas
com as bem-aventuranças e imbuídas do espírito do Evangelho.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano À - 2011
Recordando a Palavra
O profeta Sofonias, pertencente à burguesia de Jerusalém, volta-se
contra os altos dignatários e afirma que o castigo de Deus é imi-
nente. Diz que há uma só saída: conversão ao Senhor. Ele vê nos
humildes e pobres a capacidade de buscar o Senhor e de continuar
a obra da salvação, sendo o povo santo de Deus. O tempo do exílio
na Babilônia, seiscentos anos antes de Jesus nascer, foi um tempo de
sofrimento para o povo. Muitos foram deportados e outros foram
mortos pela espada ou pela fome. Os que restaram estavam abala-
dos na confiança em si e em Deus. É a eles que Sofonias dirige-se
para inspirar confiança e animar na luta.
O salmo responsorial (145/144) é um hino de louvor, celebrando
o projeto de Deus e o que ele produz em oposição aos projetos dos
poderosos e injustos. Está profundamente afinado com a vida e a
missão de Jesus (Lc 4,16-21) que teve carinho com os estrangeiros,
viúvas e órfãos, ensinando que não se deve confiar nos poderosos.
Com alegria rezamos: Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Rei-
no dos céus... o Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimi-
dos... aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos”.
Paulo, na segunda leitura, fala aos pobres que formavam a co-
munidade de Corinto. São sempre os pequenos, os pobres, os que o
mundo despreza, mas que são grandes no reino dos céus. Ninguém
deve gloriar-se diante de Deus. Se alguém quiser gloriar-se, torne-
se pequeno, para se gloriar naquilo que Deus realiza, conforme sua
justiça.
Bem-aventurança é felicitar o outro e desejar-lhe felicidade. As
bem-aventuranças são o prólogo do chamado “Sermão da Monta-
nha” (Mt 5-7), que é a grandiosa composição literária para o disci-
pulado. Elas resumem o espírito do Reino de Deus. Jesus subindo à
montanha aparece como o Novo Moisés e promulga a nova lei.
As nove bem-aventuranças de Mateus estão resumidas na pri-
meira: “bem-aventurados os pobres”... “pobreza” é um conceito que
engloba muitos aspectos: econômico, social, cultural, espiritual,
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Atualizando a Palavra
Os caminhos de Deus são diferentes dos nossos. Nós achamos que
o grande e o forte hão de vencer. Deus prefere trabalhar com um
povo pequeno e humilhado. Os poderosos são autossuficientes e
não querem entender o que Deus deseja. Deus os atrapalha. Com o
resto de Israel, depois das deportações, Deus consegue mais do que
com o povo próspero que pactuava com os egípcios e assírios.
Jesus proclama felizes os pobres, os que choram, os que têm
fome e sede de justiça, os que trabalham pela paz, os perseguidos
por causa da justiça. Mas tem sentido considerar felizes essas pesso-
as? As bem-aventuranças são uma mensagem válida para os nossos
tempos? Que sentido tem pronunciar este texto numa sociedade de
consumo, que mede a felicidade e a bem-aventurança segundo as
posses, o sucesso e o poder? Num mundo subdesenvolvido e opri-
mido, que sentido tem repetir: “Bem-aventurados os pobres... bem-
aventurados os oprimidos...'? Não ressoará como um ultraje à sua mi-
séria ou uma tentativa de abafar “a ira dos pobres”?
Para viver as bem-aventuranças, o cristão precisa fazer uma
inversão de valores. É um ideal elevado que o homem terreno e
carnal não consegue atingir sem a graça de Deus.
Jesus, ao escolher preferencialmente os pobres, não exclui os
ricos. Os pobres são os preferidos, pois sua situação de pobreza ma-
terial, de opressão e de perseguição ajuda a abrir espírito para Deus,
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Situando-nos
Estamos reunidos no Senhor. Ele nos acolhe com ternura e nós pe-
dimos que ele proteja e abençoe sua família com o seu incansável
amor. Professamos nossa confiança em sua graça. Ele sempre nos
guarda e conserva junto de si — imagem do sal.
Ê domingo, dia da Páscoa semanal, dia de encontro da comuni-
dade e memória dos compromissos que assumimos no santo batis-
mo, ser sal e luz do mundo, renovados em cada celebração.
Estamos cercados por tantas pessoas que fazem o bem, que são
sal e luz para seus semelhantes, vivem a serviço dos outros, traba-
lham incansavelmente pelo pão nosso de cada dia e são obedientes
aos mandamentos de Deus. Somos tocados por seu exemplo, pela
luz que irradiam. Precisamos sempre mais apoiá-las, nessa celebra-
ção, rezaremos por elas
Diariamente nos encontramos com irmãos e irmãs que passam
fome, que não têm trabalho nem casa para morar, crianças que mo-
ram nas ruas, sem falar da violência física e moral e de todo tipo de
discriminação.
O Senhor vê o que está em nosso coração e acolhe os nossos sen-
timentos de dor e solidariedade e nos diz: “Reparte o teu pão com
quem tem fome, acolhe em tua casa o infeliz e sem abrigo, veste o
que vires sem roupa e não desprezes o teu semelhante” (Is 58,7).
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
Recordando a Palavra
A primeira leitura lembra que o povo de Deus, de volta do exílio
babilônico, havia se organizado na comunidade cultual, mas seus
cultos não levavam a uma prática fraterna (Is 28,3). O profeta Isaías
incrimina essa prática e mostra qual é o jejum que agrada a Deus:
repartir a comida, acolher o pobre, vestir o nu, ser solidário. Jejum
verdadeiro é experimentar a privação que sentem os deserdados da
vida. A verdadeira prática religiosa não é o jejum convencional. O
texto questiona profundamente que tipo de sal nós somos e pergun-
ta onde está a luz que devemos ser no mundo.
O salmo responsorial (Sl 111) pertence ao gênero sapiencial e
aponta para o sentido da vida, mostrando onde está a felicidade.
Javé quase não aparece e suas obras não são lembradas. Mas Deus
está presente nos sonhos, nas lutas, conflitos e vitórias da pessoa
reta, comprometida com o bem e que trabalha por uma sociedade
justa e igual. Deus é um aliado fiel e jamais deixa de conduzir o jus-
to no caminho da vida. Este salmo repercutiu muitas vezes na vida
e missão de Jesus: proclamou felizes os pobres; provocou os fariseus
a darem esmolas; convocou Zaqueu a repartir os seus bens; louvou
o Pai pela sabedoria dos pobres; pediu que fizéssemos a opção fun-
damental pelo Reino.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Atualizando a Palavra
O Sermão da Montanha foi dirigido às multidões. Os cristãos rece-
bem, no Batismo, a missão de ser sal da terra e luz do mundo. Essa
missão é exercida na comunidade cristã. “Aprouve a Deus salvar os
humanos em comunidade e não isoladamente”, diz-nos o Vaticano
H (Lumen Gentium, n. 6; 24).
Depois de proclamar as bem-aventuranças, Jesus dirige-se aos
discípulos, usando duas imagens para explicitar a missão: o sal e a
luz. O sal só se usa na comida. Ninguém come sal puro. A luz só
tem sentido para iluminar. Ninguém vai acender uma luz para co-
locar embaixo da mesa. Assim deve a comunidade que crê em Jesus
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
Cristo e continua sua missão: sal para dar sabor e luz para iluminar
e orientar.
É preciso, pois, no mundo urbanizado, retomar a vivência co-
munitária, característica fundamental da primeira Igreja. É lá que
brilha a nossa luz. É lá que nosso sal dá gosto e sabor, conservando
o valor da vida.
Para sermos sal e luz, Cristo não pede esforços extraordinários.
Basta nossa adesão sincera e íntima a Ele e à sua comunidade. “Sois
o sal... sois a luz...” Quem adere de verdade à comunidade do Rei-
no que ele convoca, será sal e luz. Se somos verdadeiros discípulos
dele, comunicamos gosto e sabor ao mundo. Por nossa bondade,
simplicidade, justiça, autenticidade e também por nossos sacrifícios,
se for preciso, tornamos o mundo luminoso e prazeroso, de modo
que os nossos irmãos possam dar graças a Deus.
A comunidade celebra a ação eucarística não para sua autossa-
tisfação, mas em vista de buscar o alimento e a força para ser pre-
sença no mundo. Na comunhão com Cristo, morto e ressuscitado,
que optou pelos pobres como “os felizes do Reino”, abastecemos
nossa fé para os compromissos do Reino.
Não existe culto agradável a Deus sem justiça social, garante-
nos Isaías. Não existe uma comunidade para autoconsolo, avisa-nos
o Evangelho. Nossa força está na força da graça de Deus, na força
dos fracos, avisa-nos São Paulo. É preciso assumir a transformação
do mundo, comprometendo-nos com as pastorais sociais e dando
apoio firme aos movimentos populares e às lutas do povo em favor
de mais vida. Essa é a maneira correta de mostrarmos que outro
mundo é possível. |
Se, como comunidade cristã, não mantivermos acesa essa cha-
ma do Projeto de Deus, escondida ficará nossa luz e será jogado fora
nosso sal, para ser pisado pelos homens.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Convidados por Jesus a ser sal da terra e luz do mundo, estamos reu-
nidos para fazer memória da ressurreição de Cristo, luz verdadeira
que ilumina toda pessoa humana. Queremos vivenciar profunda-
mente este encontro em uma celebração bem preparada e realizada
com toda a unção. Para isso propomos:
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
Rito do sal
Apresenta-se o sal e é abençoado:
C.: Bendito sejas, Deus da vida, pelo sal que dá sabor e conserva
os alimentos. Derrama o teu Espírito sobre ele e realiza em nossa
vida a Palavra do Senhor de sermos, também nós, sal da terra. Por
Cristo, nosso Senhor. Amém. (Distribui-se o sal e cada um entrega
o sal ao outro dizendo)
- Você é o sal da terra!
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
13 de fevereiro de 2011
Situando-nos
A liturgia não é enfeite nem simples devoção aos santos. Mas encon-
tro com Deus e com os irmãos para celebrar a Páscoa de Cristo que
se realiza em nossas vidas e na história. É um acontecimento sema-
nal importante e decisivo. Ela fonte de vida e santidade. É louvor e
ação de graças do coração que se sente amado e perdoado. Por isso,
aqui estamos reunidos em comunidade.
Nem sempre conseguimos avaliar o significado, para o cresci-
mento espiritual e solidário, dos encontros que somos convidados a
realizar com a comunidade na escuta da Palavra e na fração do pão
eucarístico. O Senhor, como Mestre, no alto da montanha, continua
nos formando como seus discípulos. Ele nos desafia a praticar a jus-
tiça com radicalidade e a obedecer aos mandamentos de um modo
novo e radical.
Na recordação da vida, lembremos as pessoas que lutam e es-
forçam-se para estar do lado da bênção que gera e traz a vida; re-
cordemos os casais que se encontram em dificuldades de relaciona-
mento; não esqueçamos a violência em nossas cidades; as crianças
abandonadas nas ruas...
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)
Recordando a Palavra
A leitura do Eclesiástico nos ensina que o homem encontra-se como
que numa encruzilhada: um caminho conduz à vida, outro à morte.
Ele deve escolher entre os dois caminhos. Com a metáfora do fogo
e da água, significada como morte e vida, o texto deixa claro que
cada pessoa é sujeito de sua felicidade ou desgraça, à medida que faz
opções a favor da vida ou a favor da morte. O Eclesiástico aponta
para a vida: “ À ninguém Deus mandou proceder como os injustos;
a ninguém deu permissão para pecar”. Deus deixa toda liberdade de
escolha às pessoas, mas aponta, ao mesmo tempo, o único caminho
certo: “Escolha, pois, a vida...” (Dt 30,19).
Paulo, após o fracasso de seu discurso às elites de Atenas, optou
pelos empobrecidos e crucificados, conforme leitura do domingo
passado. Os cristãos de Corinto são chamados “perfeitos”, ou seja,
pessoas maduras na fé, porque se abriram à novidade de Jesus Cris-
to crucificado. A maturidade da fé começa quando se entende o
mistério da encarnação, morte e ressurreição de Jesus. A sabedoria
da qual fala Paulo é o projeto de Deus, “uma sabedoria misteriosa,
escondida, que ele reservou antes dos séculos para a nossa glória”.
As comunidades de Corinto são destinatárias dessa sabedoria,
porque, em sua pobreza, escolheram o projeto de Deus já anuncia-
do pelos profetas.
Desde que se manifestou a Israel, Deus mostrou-se aliado dos
empobrecidos que esperam nele. Disso nos fala todo o Antigo Tes-
tamento, como podemos ver em Isaías 64,3. A glória de Deus, isto
é, sua fama, é a manifestação de sua presença no meio de seu povo a
caminho da liberdade e da vida. O mesmo Deus, que caminhou no
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
passado com seu povo, está presente agora na comunidade que acei-
tou Jesus crucificado, revelando seu projeto por meio do Espírito.
A primeira parte do evangelho de hoje (vv. 17-19) afirma que
Jesus não veio para destruir o AT. Jesus, com seu comportamento
livre, suscitou dúvidas e perplexidades. Ele respeitou as leis e as ins-
tituições de seu povo, mas sempre as interpretou na perspectiva da
promoção da vida e do bem comum. Para muitos, no tempo de Je-
sus, isso não era fácil de entender. Houve muitas reações negativas
quando ele proclamou bem-aventurados os pobres, os perseguidos,
os oprimidos e alertou que seus seguidores encontrariam dificulda-
des, seriam perseguidos e mortos.
Jesus reage a tudo dizendo que todas as promessas do AT se
cumprirão e nenhuma será esquecida ou menosprezada. Antes que
o mundo se acabe tudo se realizará, mas a forma como se cumprirá
será inesperada. Diante das surpresas de Deus, até os devotos, como
o Batista, correm o risco de escandalizarem-se (cf. Mt 11,6).
A segunda parte do Evangelho (vv. 20-37) apresenta quatro
exemplos para entender a interpretação de Jesus sobre o AT. Trata-
se de quatro disposições que ele não muda, mas explica de forma
original, mostrando suas implicações mais profundas.
1. No primeiro caso: “Não matar” (vv. 21-26). O homem não
tem poder sobre a vida do outro, mesmo que este seja cri-
minoso. O mandamento tem muitas implicações que vão
além da agressão física. Quem usa palavras ofensivas, ou
se deixa dominar pela ira, ou alimenta sentimentos de
ódio já matou seu irmão. Lembra que seus discípulos não
devem submeter-se a purificações antes de oferecer sacri-
fícios, pois não é o corpo que precisa estar limpo, mas o
coração. A reconciliação com o irmão substitui, para o
cristão, todas as purificações da lei antiga. Por isso, in-
siste na necessidade de se procurar, a qualquer custo, a
reconciliação. O cristão nunca deveria chegar ao ponto
de recorrer a um tribunal, mas fazer tudo para conseguir
a reconciliação.
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4) 104
Atualizando a Palavra
Situando-nos
Domingo, Dia do Senhor, dia da celebração da Páscoa semanal, dia
da comunidade, dia da eucaristia e dia de descanso e festa, com o
salmista nos alegramos: “Como um pai é compassivo com seus fi-
lhos, o Senhor é compassivo com aqueles que o temem”.
Acolhemos com gratidão e responsabilidade a convocação de
Jesus: “Deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. A
celebração vai nos fazer entender melhor os desígnios e os preceitos
do Senhor e entrar na intimidade do evangelho.
O Evangelho é fonte de vida, de esperança e salvação. Vamos
nos deixar banhar com a luz da Palavra de Deus e entregar a nossa
vida ao Senhor para sermos santos, porque o nosso Deus é santo,
pois “ É ele quem perdoa tua culpa e cura todos os teus males. É ele
quem redime a tua vida da cova e te coroa de amor e compaixão”.
Na recordação da vida, trazemos as pessoas que magoamos e
ferimos com nosso egoísmo e prepotência; lembramos os que fa-
zem o bem aos pobres e necessitados; recolhemos as lutas e sacrifi-
cios de todos que lutam por um mundo mais justo e fraterno; não
esquecemos os doentes e abandonados; somos profundamente so-
lidários com os pobres, as crianças que moram nas ruas e os jovens
que sofrem todo tipo de violência.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
Recordando a Palavra
O que Jesus quer dizer com o “amar os inimigos e rezar por eles”?
No AT, existia o preceito de amar ao próximo entendido como
algo circunscrito à religião e à raça. Com isso apareceu uma conclu-
são triste: aos amigos, a amizade e aos inimigos, o desprezo. Jesus,
para acabar com esse círculo de amizade e ódio, apresenta aos po-
bres em espírito e perseguidos por causa da justiça o modo perfeito
de ser seu discípulo: o amor aos inimigos e a oração por eles. O
Mestre da justiça foi odiado e morto por seus adversários, mesmo
assim pediu que o Pai os perdoasse.
A resposta madura à perseguição é, portanto, o amor e a ora-
ção. O fundamento disso está em Deus que é bom para com todos.
Jesus nos propõe e desafia a sermos aquilo que ainda não somos, ou
seja, capazes de uma entrega total, como o Pai celeste, que não faz
distinção de pessoas.
Atualizando a Palavra
Situando-nos
Neste 8º domingo do Tempo Comum, somos convidados a ser o
povo da nova aliança, buscando, em primeiro lugar, o Reino de
Deus e sua justiça. Esta é a prioridade número um para os cristãos.
O Reino é dom e exigência, a cada domingo clamamos confian-
tes: “Venha a nós o vosso Reino”. Na Eucaristia sentimos que nosso
Deus não nos abandona nem nos esquece, demonstrando por nós
um amor mais entranhável que o amor da mãe por seu filho.
Na recordação da vida, lembremos fatos e acontecimentos da
paróquia, cidade, diocese, do Brasil e do mundo. Cremos que a pás-
coa de Jesus Cristo realiza-se na história. É essa mesma páscoa que
nós celebramos e nela sempre mais mergulhamos.
Celebremos em comunhão com as pessoas empenhadas na
construção da nova sociedade, fundada nos valores do Reino: parti-
lha solidária, respeito pela cultura, diálogo com o diferente, justiça
e paz.
Recordando a Palavra
O exílio, a perda da terra e da liberdade são frutos do esquecimen-
to de Deus? O profeta responde que não, argumentando: será que
a mãe esquece seu bebê? O profeta Isaías antecipa o retorno dos
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
vida, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir” (v. 25).
A palavra de Jesus é advertência e estímulo à confiança na Provi-
dência Divina. Deus não abandona seus filhos. “Olhem os pássaros
do céu; eles não semeiam, não colhem (...). No entanto, o Pai que
está no céu os alimenta.”
“Em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e sua justiça, e
Deus dará a vocês em acréscimo todas essas coisas” (v. 33). Jesus,
sem negar a importância da preocupação com a comida, a saúde
e a veste, ressalta a solicitude com tudo o que constrói o Reino de
Deus. O próprio Filho de Deus buscou, em primeiro lugar, o Reino
de Deus e sua justiça. A admoestação da busca do Reino de Deus e
sua justiça pode ser avaliada como uma espécie de síntese dos ensi-
namentos do Mestre.
Atualizando a Palavra
Vivemos numa sociedade em que, cada vez mais, consumir é a
meta fundamental para ser feliz e aparecer na mídia, a glória maior.
As pessoas ficam divididas entre seu desejo mais profundo de feli-
cidade e as coisas que o mercado oferece. Jesus nos ensina a mudar
o objeto da preocupação e colocar o Reino como valor absoluto.
Esse ensinamento de Jesus nem sempre é aceito e tantas vezes, mal
entendido.
Se em nossas celebrações convivem ricos e miseráveis, famin-
tos e saciados, maltrapilhos e luxo ostensivo, é porque ainda não
fizemos a opção pelo Reino e sua justiça, permitindo que a ganância
nos possua e domine.
Como viver e traduzir a fé e o projeto de Deus na comunida-
de em que vivemos? Quais as exigências do ser cristão hoje? Essas
perguntas merecem uma reflexão profunda e um discernimento
lúcido.
Jesus convida à confiança na Providência Divina. O profeta Isa-
ias recorda que Deus ama com terna afeição seus filhos, por isso,
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano A - 2011
Situando-nos
Recordando a Palavra
Atualizando a Palavra
Tendo escutado com o coração a proclamação das leituras e me-
ditado o salmo responsório, tão rico e atual, nos perguntamos o
que tudo isso diz e significa em nossa vida e em nossos trabalhos.
No Espírito Santo, somos induzidos a tirar muitas conclusões e
ensinamentos.
Percebemos que temos facilidade de clamar “Senhor, Senhor”,
damos solenidade às palavras bonitas e piedosas, mas a nossa prática
cristã é pequena ou vazia. Vivemos tantas vezes nossa fé de forma
festiva e sentimentalista. Cantamos aleluias e muitos louvores, mas
passamos longe dos compromissos comunitários e nos excluímos
da solidariedade com os pobres.
Tantas vezes falamos bonito sobre a ajuda aos necessitados,
mas depois não nos integramos em atividades de solidariedade or-
ganizadas pela comunidade. Somos mestres na pregação da justiça,
mas, no dia a dia, não valorizamos as pessoas, tratamos mal os em-
pregados, não somos educados e responsáveis no trânsito.
Sabemos muito bem que, para ser discípulo de Jesus, não é sufi-
ciente proferir palavras bonitas de adesão ao Senhor, mas é preciso
esforçar-se para cumprir a vontade de Deus e viver de acordo com
os valores propostos por Jesus nas bem-aventuranças.
“Só entrará nos céus aquele que põe em prática a vontade de
meu Pai”. Jesus é modelo e servidor da vontade do Pai. Por isso, ele
afirma: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou
(Jo 4,34). “Pai não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42).
Para cumprir a vontade do Pai temos que ir às fontes da Palavra de
Jesus e transformá-la em centro da vida cristã, núcleo inspirador de
nosso projeto de vida pessoal e comunitária.
Para sermos acolhidos por Deus em seu Reino, precisamos agir.
Ele prefere construtores mais do que indivíduos que se limitam a
dar palpites. O edifício construído sobre areia é falso e perigoso,
apesar de ser grandioso e imponente. Não suportará as adversida-
des do tempo. Construir a casa sobre areia é ficar na teoria, sem
“É Ele que vem para nos salvar!” (Is 35,4)