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CNBB

Conferância Nacional dos Bispos do Brasil

“O Senhor nos vai mostrar


a sua estrada e nós vamos
trilhar os seus caminhos” (Is 2,3)

Roteiros Homiléticos
do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum
Ano À — São Mateus

Dezembro de 2013 / Março de 2014

Dições CNS?
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar
os seus caminhos (Is 2,3)

12 Edição - 2013

Diretor Editorial: Capa:


Mons. Jamil Alves de Souza Raul Benevides dos Santos Silva
Coordenação: Projeto Gráfico e Diagramação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia Henrique Billygran da Silva Santos
Revisão:
Lúcia Soldera
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C748e “O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). Roteiros
Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus. Brasília, Edições
CNBB. 2013.

120 p.:14x21 cm
ISBN: 978-85-7972-293-6

1. Liturgia
2. Advento
3. Natal

CDU: 264.941.4
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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO........... reiterar

INTRODUÇÃO ............esmeeeemeereeeeremeeris

1º DOMINGO DO ADVENTO
1º de dezembro de 2013 .........cceseeseseereseerrerereor
screens reasacerado

2º DOMINGO DO ADVENTO
08 de dezembro de 2013
Solenidade da Imaculada Conceição de Maria ..........ccsermmeeeeeeees

3º DOMINGO DO ADVENTO (Gaudete)


15 de dezembro de 2013 ..........eceereeseerecerre
crer s scene reosseraso

4º DOMINGO DO ADVENTO
22 de dezembro de 2013 .........ccee
cerne sereesserens errar ss srenscenado

NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO


25 de dezembro de 2013 ..........eseeesceeresserere
serras erros reeassrenaos

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA


28 de dezembro de 2013 .........eecreessseereressecrrenassererescrreaaõos

SANTA MARIA, MÃE DE DEUS


1º de janeiro de 2014.......................
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SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
5 de janeiro de 2014.............cciecereereeereeereerecereesreeseersaeraaessesaserasancna 64

FESTA DO BATISMO DO SENHOR


12 de janeiro de 2014 ............icss eis erererseeesrerreseneeracerearaneresreonerenceado 72

2º DOMINGO DO TEMPO COMUM


19 de janeiro de 2014.......................22rssirrerereererersersaceeaereaneseeesaneraro 79

3º DOMINGO DO TEMPO COMUM


26 de janeiro de 2014................isrsseeeresrerseeererreceracrraeesnesrersasenessacsanes 84

4º DOMINGO DO TEMPO COMUM


FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR
02 de fevereiro de 2014 ..........s
sis seserresererenacererreancerenasacerena 89

So DOMINGO DO TEMPO COMUM


9 de fevereiro de 2014 ...............ccsssserrece
ss secereeeesascereeraensscererada 97

6º DOMINGO DO TEMPO COMUM


16 de fevereiro de 2014...
sceees rece cereesserecaseeeda 103

7º DOMINGO DO TEMPO COMUM


23 de fevereiro de 2014. ..............cses
cics sssereeresssserreeeessssrerecenão 109

8º DOMINGO DO TEMPO COMUM


02 de março de 2014...
cce rerererererererereeeeeereersersseaeacaneto 114

SIGLAS ....eeereeeeerrerereeerreererarerereeeerereeearearananeedo 119


APRESENTAÇÃO
Na alegre expectativa de quem se prepara para acolher a realização
de um grande evento que será de alegria para todos (cf. Lc 2,10),
apresentamos o presente roteiro homilético, destinado especialmente
às celebrações do Ciclo do Natal, intitulado: “O SENHOR
MOSTRARÁ OS SEUS CAMINHOS, E CAMINHAREMOS
POR SUAS VEREDAS? (Is 2,3).
“A Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua
glória” (Jo 1,14). O ciclo natalino é um tempo singular da manifes-
tação do Senhor que veio, vem e que virá. As leituras bíblicas e as
orações desse tempo revelam e nos tornam participantes no misté-
rio do “Sol nascente do alto” que veio para nos visitar, Jesus Cristo,
nosso Salvador (cf. Lc 1,78b). “Pensando na importância da Palavra
de Deus, surge a necessidade de melhorar a qualidade da homilia; de
fato, esta 'constitui parte integrante da ação litúrgica (SC, n. 35), cuja
função é favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla da palavra
de Deus na vida dos fiéis” (Sacramentum Caritatis, 46). Portanto, é
muito importante preparar bem a homilia, pois ela alimenta a cami-
nhada do Povo, em comunhão com o Deus conosco, que se mani-
festa durante o Tempo de Natal e nos primeiros domingos do Tempo
Comum. Nesse período, o Evangelista Mateus inicia a comunidade
na manifestação da vida pública de Jesus, como realizador da Justiça
de Deus que terá seu desfecho final na cruz. É, particularmente, nos
quatro Domingos do Advento, São Mateus nos auxilia na vigilância
ativa, isto é, “no cumprimento de toda a justiça” (Mt 3,5), na espera
do Senhor Jesus Cristo. Expectativa que se transforma em canto de
alegria pela realização da promessa: “Eis que uma virgem conceberá
e dará a luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que
significa: Deus está conosco” (Mt 1,23).
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). n

Que as orações, a proclamação da Palavra e sua meditação aju-


dem as comunidades a saborear na fé a grandeza dos mistérios que
celebramos. Para isto, são valiosas as explicações bíblicas e as orien-
tações litúrgicas sem, todavia, dispensar o empenho das equipes de
liturgia na reflexão, preparação e realização criativa das celebra-
ções desse rico Tempo de Natal e primeiros Domingos do Tempo
Comum.
Em nome de nossas comunidades eclesiais, agradecemos a pre-
ciosa contribuição de Lourdes Zavarez e de Maria do Carmo na ela-
boração do presente roteiro homilético.
Auguramos que a celebração do Natal do Senhor, Luz das
Nações,
ÇÕES, ilumine os Pp passos de todos os irmãos e irmãs nos caminhos
que conduzem à realização da “justiça do Reino”, em 2014, alimen-
tando nossos sonhos de libertação: “Nesse dia os oprimidos numa só
voz a liberdade irão cantar”!

Dom Edmar Peron


Bispo Auxiliar de São Paulo
e Membro da Comissão Episcopal de Pastoral
para a Liturgia da CNBB
INTRODUÇÃO
No ciclo do Natal, a Igreja celebra o mistério pascal de Cristo em suas
primeiras manifestações. Nele, ela faz a memória da vinda salvadora
do Senhor, da sua manifestação na realidade humana, na contin-
gência e nas contradições da história, na expectativa do novo Natal,
de sua vinda definitiva e gloriosa no fim dos tempos.
O tempo do Natal “é a comemoração do nascimento do Senhor,
em que celebramos a 'troca de dons entre o céu e a terra”, pedindo que
possamos 'participar da divindade daquele que uniu ao Pai a nossa
humanidade” (Oração sobre as oferendas, Missa da Noite de Natal).
Na festa da Epifania, celebra-se a manifestação de Jesus Cristo, Filho
de Deus, luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação '»

(Prefácio da Epifania do Senhor).


O Advento é um tempo de espera. As comunidades intensificam
a vivência da fé na expectativa Daquele que há de vir e na certeza de
que Ele virá... Esta espera não pode ser passiva e indiferente, como se
fosse qualquer um que estivesse para chegar. Na verdade, é a vinda de
Quem mais importa. O que virá é Aquele a quem nos foi ordenado
amar com toda a nossa força, nosso entendimento e nosso coração.
Naturalmente, a nossa vida e a das comunidades, neste tempo, gra-
vita em torno desta espera.
À certeza de que o Filho de Deus virá deve, desde já, nos ale-
grar... O Advento nos põe em atitude de esperar pelo Senhor em dois
sentidos: no Natal e na Parusia (final dos tempos). No Natal, celebra-
mos o Senhor, que, na maturidade dos tempos, veio a primeira vez,
“revestido da nossa fragilidade”. À medida que percorremos os dias
do Advento e nos aproximamos do Natal, a nossa alegria vai aumen-
tando, da mesma forma que uma pessoa vai se iluminando na con-
templação do raiar do sol. “E, naquele bendito dia, eis-nos a cantar o
Aleluia como expressão da nossa máxima felicidade! Nasceu-nos um
menino! Brilhou uma Luz para nós ! »
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Mas, “revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para
conceder-nos, em plenitude, os bens prometidos que hoje vigilantes
esperamos”. Quanto à segunda e definitiva vinda de Cristo, não nos
é dado saber o dia nem a hora. Também não devemos ficar neuroti-
camente esperando esta data. É preciso, sim, aspirar por aquele dia,
com o mesmo suspiro com que um exilado anseia por sua pátria; e,
de outro lado, é preciso paciência e um total abandono à vontade
Daquele que virá. À nossa alegria é, então, fazer sua vontade pela
prática da justiça e do amor solidário.
À oração da Igreja expressa muito bem o espírito do Advento e
do Natal: “Ó Deus de bondade, que vedes o vosso povo esperando
fervoroso o natal do Senhor, dai chegarmos às alegrias da salvação e
celebrá-las com intenso júbilo na solene liturgia” (Oração do dia, 3º
domingo do Advento).
Neste tempo de Advento, somos convidados a viver em profunda
contemplação e admiração, fé e confiança. É tempo de gestação de
novas relações no silêncio do cotidiano da vida. Como José, somos
encarregados de proteger as sementes de vida semeadas no ventre
fecundo de nossas comunidades, nas organizações populares, entre
Os jovens € os pequenos.

Neste rico tempo litúrgico, conduzidos por grandes figuras


bíblicas, como Isaías, João Batista, Maria, José, Isabel, Zacarias...
Modelos dos pobres que esperam e confiam nas promessas de Deus,
entramos em ritmo mais intenso de espera e esperança, de alegre e
cuidadosa vigilância, como uma noiva que se enfeita, ansiosa e feliz,
para a chegada de seu amado, como um incansável vigia anseia pelo
amanhecer, como a terra seca deseja ardentemente a chuva benfazeja
para o germinar das sementes.

Abrindo-nos à contemplação do mistério da encarnação, a litur-


gia vem ao encontro de nossa busca fundamental. Somos seres de
desejo, inacabados, com sonhos de ser sempre mais, grávidos da uto-
pia do Reino. O conjunto das celebrações nos mantém acordados
N Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A - São Mateus

e vigilantes, buscando a perfeição, para que as múltiplas vindas do


Senhor hoje nos encontrem humildemente despojados, confiantes e
repletos dos frutos da justiça.

Elementos simbólicos e rituais


Alguns símbolos, gestos e ações simbólico-rituais expressam intensa-
mente a verdade dessa espera em nossas celebrações.

à O símbolo principal é a Eucaristia, o sacramento da espera:


“até que ele venha”.

à À Palavra (o VERBOS. Advento é tempo especial de escuta,


de atenção, de “gravidez” da Palavra: que o Verbo se faça carne
em nós! Todo o rito da Palavra merece destaque: o uso do
livro, Bíblia ou o Lecionário com fitas coloridas, levado em
procissão, beijado, incensado...; o cuidado de preparar bem
a proclamação dos vários textos bíblicos, o canto do salmo,
tornando-os vivos, bem compreendidos para serem bem aco-
lhidos pela comunidade. E mais: fazer da proclamação um ato
sacramental, pelo qual o próprio Deus fale, convocando seu
povo à vivência de seu projeto; o silêncio após cada leitura,
após a homilia, para “guardar no coração” a boa notícia e o
apelo amoroso de Deus.

à À comunidade reunida para a oração, para a escuta da Pala-


vra e para a ação de graças é sinal sacramental da espera e da
chegada do Senhor. Onde dois ou três estiverem reunidos, o
Senhor está presente (cf. Mt 18,20)! Os ritos iniciais, consti-
tuindo a assembleia, o corpo vivo do Senhor, com acolhida
bem afetuosa às pessoas, permitem reconhecer, em cada uma
delas, a presença do Senhor que chega entre nós. O Advento
é tempo oportuno de aprofundar e melhorar nossas relações e
nossa convivência na família, na comunidade, na vizinhança,
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

como sinal visível da chegada do Reino entre nós. À esperança


se reacende quando relações novas e fraternas se estabelecem
entre as pessoas.

h “Cantar o Advento”! Os cantos e as músicas têm papel impor-


tante, evocando os temas bíblicos aprofundados, as experi-
ências vividas, os sentimentos de espera, de expectativa pela
vinda do Reino. O Hinário Litúrgico, 1º fascículo, apresenta
um bom repertório dos cantos para este tempo. “Cantando
os salmos e poemas dos profetas e evangelistas de ontem e
de hoje, resgatando até, com novo sabor e vibração, as anti-
gas antífonas do “S”, com certeza aprofundaremos a nossa fé,
reacenderemos a nossa esperança e prepararemos momentos
autênticos e gostosos de confraternização.” (CNBB, Hinário
Litúrgico, 1º fascículo, introdução).
O canto do Glória, antigo hino natalino, é omitido, ficando
reservado para o tempo do Natal.

à O diretório litúrgico indica o roxo como cor litúrgica deste


tempo. Porém, a cor rósea ou violácea, indicada para o terceiro
domingo, tem sido usada por muitas comunidades, em todo o
tempo do Advento: traz aos olhos e ao coração, o sentido de
uma alegre espera, diferenciando do sentido mais quaresmal
do roxo.

à À coroa do Advento, feita com ramos verdes, com as quatro


velas que progressivamente se acendem, com um rito apro-
priado, no início da celebração, retoma o costume judaico
de celebrar a vinda da luz à humanidade dispersa pelos qua-
tro pontos cardeais, expressa nossa prontidão e abertura ao
Senhor que vem e quer nos encontrar acordados e com nossas
lâmpadas acesas.

» Entre os textos eucológicos (orações, prefácios...) deste tempo,


a aclamação litúrgica “Vem, Senhor Jesus!” torna-se a grande
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano À - São Mateus

súplica, o forte clamor das comunidades, em preces, refrãos


e antífonas. O Missal Romano, p. 519, propõe uma bênção
própria para o Advento.
» À celebração natalina é preparada, em muitas comunidades,
pela Novena de Natal. Reunidas em grupos as famílias inten-
sificam sua preparação para a festa do Natal, da entrada do
Verbo de Deus em nossa história. Novena tem a ver com reza,
oração. Assim sendo, é importante privilegiar a dimensão
orante. Que o encontro de famílias ou de pessoas próximas se
transforme em oração na espera do Senhor que vem habitar
entre nós (cf. Jo 1,14).

à Na Novena em Preparação ao Natal, neste ano, contemplare-


mos as principais figuras do Advento, ou seja, as testemunhas
da expectativa. Foram os pais e mães da primeira e segunda
Aliança aqueles que mais orientaram o povo de Deus para
o mistério do Natal: Davi, Isaías, Zacarias, Isabel, Simeão e
Ana, João Batista, José, Maria e o próprio Jesus como realiza-
ção de tudo aquilo que foi esperado.
Que a participação na Novena de Natal e nas celebrações de
Advento, nesse tempo de espera e expectativa, nos conduza à comu-
nhão fraterna, à defesa e promoção da vida de todos os filhos e filhas
de Deus. O Filho querido de Deus vem para iluminar e plenificar a
todos com o dom da paz.
1º DOMINGO DO ADVENTO

1º de dezembro de 2013

"VINDE ... DEMEMO-NOS GUIAR PELA LUZ DO SENHOR!

Leituras: Isaías 2,1-5; Salmo 121(122); Romanos 13,11-14a;


Mateus 24,37-44(Vigilância)

Situando-nos brevemente
Neste domingo, iniciamos mais um Ano Litúrgico. Reunindo
desejos, sonhos e utopias da humanidade por profundas transfor-
mações e dias melhores, manifestadas em veementes clamores em
nossos dias, iniciamos o tempo do Advento. Como “memorial da
esperança”, o advento alarga nossa vida para acolher o grande mistério
da encarnação. Na perspectiva do Natal e Epifania do Senhor, como
acontecimentos sempre novos e atuais, vislumbramos vigilantes e
esperançosos, a lenta e paciente chegada de seu Reino e sua manifes-
tação em nossa vida e na história. O Senhor nos garante que, nesta
espera, não seremos desiludidos, como nos lembra a antífona de
entrada deste domingo.
À liturgia abre para nós um tempo favorável de vigilância e con-
versão, de retomada de nossas opções como discípulo/as daquele que
sempre vem e cuja ação é libertadora, consoladora e salvífica.
Acendendo, neste domingo, a primeira vela da coroa do Advento,
somos convidados a aguçar nossa atenção, acordarmos do sono da pas-
sividade para melhor percebermos os sinais da chegada do Reino no
cotidiano e, mais despertos, nos levantarmos da acomodação, do indi-
vidualismo e do consumismo que marcam nosso tempo e nos parali-
sam. Por isso, pedimos, na oração inicial, que o Pai nos conceda ardente
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano À - São Mateus

desejo de buscar o Reino e com nossas boas obras, acorrermos ao encontro do


Senhor, cuja vinda nos alegra e salva como cantamos no salmo.

Recordando a Palavra
Neste dia do Senhor, iniciamos o Ano À, sendo conduzidos pelo
evangelho segundo Mateus,! nome que significa “dom de Deus”,
presente de Deus” para nós. Para compreendermos bem o primeiro
6 » 2 . .

evangelho, é bom sabermos um pouco do contexto em que foi escrito,


e como foi elaborado.
40 anos após a morte de Jesus, depois da destruição do Templo e de Jerusa-
lém (ano 70 d.C.), reunindo vários grupos de fariseus e escribas dedicados
à pregação, houve uma Assembleia em Jamnia (Israel). Com a destruição
ocorrida em toda a parte, para não perderem a identidade e a fé, escreveram
o que era fundamental na organização, na crença e no viver judaico. Foi
surgindo o judaísmo formativo cada vez mais legalista e excludente, devido
aos conflitos com outros grupos, como os judeus cristãos da comunidade de
Mateus. Esse judaísmo rabínico normativo deixou-nos como herança a frase
de Simeão, o justo, que viveu antes de Cristo: “O mundo repousa sobre três
pilares: o estudo da Palavra (Torá), a Liturgia (Avodab) e as obras de mise-
ricórdia (Hesed)”. Esse grupo começou a perseguir os judeus cristãos espa-
lhados em diversas comunidades na alta Galileia e na Síria. Aí estavam as
comunidades de Mateus que escreveram, por essa época, o evangelho segundo
Mateus para também afirmar sua identidade e guardar a memória revolu-
cionária de Jesus e do mistério pascal.

à À comunidade de Mateus compunha-se de cristãos de ori-


gem judaica pelo nascimento, pela educação, pela cultura e
particularmente pelas tradições litúrgicas. Como seus ante-
passados acreditavam na “shekhinah” — santa presença de Deus
que descia sobre o povo em oração, a comunidade cristã tem
fé em Cristo presente em suas reuniões. Para estes cristãos, a

1 Mateus em aramaico é “Mathaios” e em hebraico “Matatias”.


“O Senhor nos vai mostrar a sua estracla e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

nova Lei, a Palavra de Cristo, é regra de vida, como expressão


verdadeira e universal da vontade de Deus.

à À composição do primeiro evangelho é clara, estilo sóbrio e


tom didático. Os dois primeiros capítulos formam a introdu-
ção, inspirada em Moisés. O corpo do evangelho se reparte
entre o ministério na Galileia (4-13) e em Jerusalém (14-28).
Conclusão: A Páscoa da Libertação: Mt 26-28.

à O evangelho segundo Mateus pode ser reconhecido como o


novo Pentateuco: a nova lei anunciada em cinco conjuntos de
pregações e narrativas, ou cinco livretos:
1) “Gênesis” Mt 3-7: vinda do Reino de Deus e a sua justiça
que liberta os pobres.
2) “Exodo” Mt 8-10: a justiça provoca conflitos.
3) “Números” Mt 11,1-13,52: 0 novo povo de Deus.
4) “Levítico” Mt 13,53-18,35: a vida definitiva do Reino.
5) “Deuteronômio” Mt 19-25: novas relações: mulher/
homem; adulto / criança; poderoso / servo...
O trecho do evangelho deste domingo (Mateus 24,37-44) se insere no
quinto livreto, denominado Deuteronômio. À palavra de Deus nos alerta
a que permaneçamos atentos, acordados. Lembra o tempo de Noé (cf. Gn
6,9-12), quando as pessoas não estavam atentas aos sinais dos tempos, e
sobreveio a catástrofe do dilúvio; as catástrofes naturais são inesperadas.
Assim será a vinda do Filho do Flomem. O evangelho usa uma forma apo-
calíptica de falar sobre a vigilância constante que devemos viver. É preciso
vigiar, pois não sabemos nem o dia, nem a hora em que virá o Senhor. É
necessário estarmos constantemente preparados, como se estivéssemos no
fim dos tempos, para não sermos surpreendidos, como por um ladrão. Neste
primeiro domingo do Advento, o que o evangelho nos pede é vigilância
ativa e prontidão.

Para compreender melhor o que o evangelho nos fala, temos a


luz da primeira leitura. O profeta Isaías descreve sua visão sobre a
plenitude da história, o final dos tempos: a casa do Senhor como o
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum — Ano A - São Mateus

cume do mundo, todas as nações e povos numerosos reunindo-se aí;


Deus mesmo instruindo o povo para que andem em seus caminhos
e todos caminhando em suas sendas e em sua Lei. As espadas e lan-
ças transformadas em ferramentas de trabalhar a terra. Não haverá
mais guerra e todos caminharão na Luz do Senhor. É a descrição da
utopia do Reino escatológico, Reinado de Deus, esperança inabalável
dos que servem a Deus.
O Salmo 121(122) celebra a cidade de Jerusalém como centro de
romarias. Jerusalém significa “cidade da paz”. Há um grande desejo
de paz e bem para a cidade em dois aspectos: segurança para os que
amam a cidade e para os que nela habitam. À palavra “shalom” tem
um significado maior do que a ausência de guerra.

À carta aos Romanos nos fala que precisamos reconhecer o tempo


em que vivemos, pois é hora de acordar. É madrugada e o dia já se
aproxima, É necessário vestir a veste da luz e deixar as trevas. A salva-
ção está chegando. Não repitamos as ações do povo do tempo de Noé,
como comilanças e bebedeiras, orgias e libertinagens, desonestida-
des, brigas, rivalidades e guerras. O convite é muito claro: revistamo-
-nos das obras do Senhor Jesus, o Messias. À vida cristã é dinamismo
rumo à consumação do “dia do Senhor”, a vinda de Cristo.

Atualizando a Palavra
Iniciando o ano litúrgico, as leituras já nos apontam para o final: a
vinda do Filho do Homem e nos dão uma luz orientadora para nossa
caminhada até sua chegada. O salmo nos ajuda a compreender quem
é o Senhor que nos mantém na caminhada: “Que Ele não deixe teu pé
vacilar, que teu vigia não cochile! Não! Ele não cochila nem dorme,
o vigia de Israel” Nesta confiança, vamos permanecer vigilantes à
espera do Senhor que vem, a cada dia, ao nosso encontro e de toda
a comunidade. “Acorramos com nossas boas obras ao encontro de
Cristo que vem”, conforme rezamos hoje na oração do dia.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

A visão de Isaías nos enche de esperança de vermos a huma-


nidade toda vivendo sob a orientação do Senhor, andando em seus
caminhos e Ele mesmo nos ensinando seu projeto. À sua Palavra
julgará as nações e os povos, e todos, ouvindo sua voz transformarão
suas armas de guerra em instrumentos de trabalho. Não mais haverá
combates uns contra os outros. Toda a humanidade sairá das trevas
do ódio, da injustiça, da competição e será guiada pela luz do Senhor.
Para que esse final chegue, é urgente começar agora.
Nosso pedido ardente neste tempo é: Vem, Senhor Jesus! Ele já
veio, vem e virá mostrar que é possível viver o projeto definitivo do Pai.
Projeto comunitário, sociedade igualitária, de irmãos que vivem na jus-
tiça e na fraternidade. À nós cabe mudar a história da humanidade no
momento atual para que “venha a nós” o Reino de Deus. É com a glo-
balização da solidariedade, do cooperativismo, da corresponsabilidade,
conforme a convocação feita pelo Papa Francisco em Lampedusa, que
poderemos “estar preparados para a hora que vem o Filho do Homem”:
“A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos
insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como se fôssemos bolas de
sabão: estas são bonitas, mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do pro-
visório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros;
antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo da globalização,
caímos na globalização da indiferença. Flabituamo-nos ao sofrimento do
outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa!”
Que o Senhor nos encontre atentos, abertos e solidários ao sofri-
mento dos irmãos!
Hoje existem catástrofes provocadas por uns poucos que se sentem
donos do mundo e do restante da humanidade. É preciso acordar para
a questão ecológica, para o direito das águas, das plantas e dos ani-
mais. Mais ainda, acordar para os direitos dos pobres, das crianças, das
mulheres, dos indígenas, dos sem água, sem terra e sem teto.

2 Publicado por www.ihu.unisinos.br/notícias/521786- Notícias — Terça, 09 de julho de 2013 “A


globalização da indiferença nos tirou a capacidade de chorar.” O discurso de Francisco em Lampedusa.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal —- Tempo Comum - Ano A - São Mateus

“Despertai-nos, Senhor, com a luz da vossa graça para perce-


bermos a gravidade do momento e respondermos com prontidão ao
vosso apelo.”

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Em cada celebração eucarística, o Pai nos faz passar das trevas para
a luz de Cristo. Realiza-se ritual e sacramentalmente a vinda do
Senhor, como advento intermediário, na comunhão de irmãos reunidos,
na Palavra proclamada e nos sinais eucarísticos do pão e do vinho, até
que sua vinda definitiva se realize plenamente e “todos vejam a salvação
de nosso Deus”, Este é o grande motivo de nossa ação de graças e nossa
ardente súplica até que seu Reino se estabeleça em toda terra.
Como peregrinos em travessia, seres inacabados em processo
permanente de crescimento e maturação e, vivendo num mundo
ainda não totalmente redimido, marcado por tantas discórdias,
exclusões, guerras e desrespeito à vida, recebemos do Senhor, nesta
celebração, o dom do seu Espírito. Ele nos mantém vigilantes, fir-
mes, confiantes, insistentes, despojando-nos das atitudes e ações das
trevas para vestirmos as armas da luz.
E necessário continuar suplicando e nos comprometendo incan-
savelmente com a vinda do Reino de amor, de justiça, de inclusão, de
igualdade, de solidariedade e de paz em nosso tempo.

Sugestões para a celebração


1. O roxo é a cor indicada para o advento. Porém, a cor rosácea
lembra-nos uma alegre espera, enche nossos corações de espe-
rança e nos ajuda a distinguir o Advento do tempo quaresmal,
marcado pelo roxo da penitência.
2. À coroa do advento, feita com ramos verdes, enfeitada com fitas
coloridas e quatro velas, convida-nos a permanecer acordados,

3 Missal Dominical - Missal da assembleia cristã, São Paulo: Paulus, 1995, p. 9


"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). RB

com nossas lâmpadas acesas, numa atitude crescente de vigi-


lância, espera ativa e abertura ao Senhor que sempre vem. À cada
domingo acende-se uma vela, retomando o costume judaico de
celebrar a chegada da luz abrangendo toda a humanidade espa-
lhada pelos quatro pontos cardeais. Nos ritos iniciais, se faz a
bênção e o acendimento da coroa com breve oração: À luz de
Cristo que esperamos neste Advento enxugue todas as lágrimas,
acabe com todas as trevas, console quem está triste e encha nossos
corações da alegria de preparar sua vinda neste novo ano de graça!
4 seguir, pode-se cantar um refrão apropriado, como “Vem vindo a liber-
tação, ergam a cabeça e levantem do chão! (Ofício Divino das Comunida-
des, Suplemento 1, refrãos meditativos, p. 23), ou “Não deixe a lamparina
apagar...” (Hinário Litúrgico 1, p. 40) ou outro.

3. A comunidade reunida é sinal do Advento do Senhor. Dar especial


atenção aos ritos iniciais, constituindo a assembleia, o corpo vivo
do Senhor. Fazer uma acolhida bem afetuosa às pessoas, reconhe-
cendo em cada uma delas a presença do Senhor que chega entre
nós. O Advento é um tempo oportuno de aprofundar e melhorar
nossas relações e nossa convivência na família, na comunidade,
na vizinhança, como sinal visível da chegada do Reino entre nós.
4. O Advento é também tempo especial de escuta e atenção à Palavra
de Deus. Tempo de nos engravidar da Palavra, gestando em nós e
entre nós o Verbo, como Maria, figura que tem especial destaque
neste tempo. É importante dar realce ao rito da Palavra.
5. Deixar sempre uns instantes de silêncio após cada leitura
e também após a homilia, para um diálogo orante de amor e
compromisso da comunidade com o Senhor, acolhendo sua
vinda, como Verbo de Deus, que nos anima e interpela.
6. À resposta às preces poderá ser cantada e expressar desejo e
expectativa, retomando o clamor das comunidades do Apoca-
lipse: “Vem, Senhor Jesus!” Por exemplo: “Vem, Senhor! Vem,
Senhor! Vem libertar o teu povo!” ou outro semelhante.
q Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Natal - Tempo Comum — Ano A - São Mateus

7 Escolher muísicas que expressem o desejo do coração de ver sinais


de vida, de justiça e de paz cada vez mais fortes e verdadeiros em
nosso tempo, ainda tão marcado por injustiça, violência e morte.
O Hinário Litúrgico 1 —- CNBB, acompanhado de CD, e o Ofício
Divino das Comunidades apresentam um repertório excelente de
cantos para as celebrações deste tempo. Durante o Advento, omite-
-se o canto do Glória, que fica reservado para o tempo do Natal.
O Missal propõe prefácios próprios. Neste domingo, o mais
indicado é o Advento 1 que realça as duas vindas de Cristo, que
poderá ser cantado. O Hinário Litúrgico I, p. 73, apresenta,
para este momento, a louvação própria do Advento, em melodia
popular, muito sugestiva para as comunidades onde houver cele-
bração da Palavra.
Bênção final, própria do Advento, conforme o Missal Romano,
p. 519.

10. Hoje é “Dia Mundial de Solidariedade para com as vítimas da


AIDS”. Incentivar gestos concretos a favor da vida destas pessoas.
11. A novena de Natal, realizada em muitas comunidades, é uma
maneira de intensificar a espera e alimentar a esperança da liber-
tação. É importante ela ser orante, muito ligada com a vida e com
o mistério do Natal e comprometida com a transformação das
pessoas e da realidade.
12. Nesta dinâmica de preparação, muitas comunidades gostam de
celebrar também a reconciliação, o perdão e a penitência, como
sinal de conversão e mudança para uma vida nova. É sempre
necessário que uma equipe prepare com carinho essas celebra-
ções, levando em conta o tempo litúrgico do Advento para a
escolha de textos bíblicos, cantos, orações e símbolos.
2º DOMINGO DO ADVENTO

08 de dezembro de 2013
Solenidade da Imaculada Conceição de Maria

“EIS AQUI A SERVA DO SENHOR, FAÇA-SE EM MIM SEGUNDO A TUA PALAVRA!”

Leituras: Gênesis 3,9-15.20; Salmo 97(98); Efésios 1,3-6.11-12;


Lucas 1,26-38 (anúncio do nascimento de Jesus)

Situando-nos brevemente
Neste domingo, em pleno Advento, ao nos prepararmos para reviver
o mistério da Salvação em acontecimentos nos quais a graça irrompe
com abundância, celebramos a solenidade da Imaculada Conceição.
Intuição mariológica, mas também eclesiológica e escatológica, no
sentido de que Maria, plasmada pelo Espírito Santo, antecipa o
estado de nova criatura ao qual todos somos chamados.
É uma realidade teológica: o “sim” de Deus à humanidade, na pes-
soa da jovem israelita Maria, a cheia de graça, que, a seguir, consagra-se
com seu “sim”, como digna habitação para a encarnação do Verbo e
serva solidária, por excelência, da humanidade a ser salva. Deus, por
pura bondade e iniciativa sua, preparando a vinda de seu Filho, “pre-
servou a Virgem Maria de toda mácula do pecado, para que, na plenitude
da graça, fosse digna mãe de seu Filho”, entoa o prefácio do Advento Ia.
Em 1854, ao ser proclamada pelo Papa Pio IX Imaculada, liberada
dos estragos do pecado desde sua concepção, Maria nos é apresentada
como a primeira redimida pela Páscoa de Cristo (cf. CIgC, n. 490-493).
Portanto, é uma festa da Igreja que envolve a humanidade no dom
gratuito que Deus faz a Maria, abençoando-nos a todo/as. Nela foi
dado o início de uma Igreja, “sem mancha e sem rugas” (Ef 5,27),
resplandecente de beleza e santidade, revestida “de justiça e salvação,
como a noiva ornada de suas joias”, cantamos na antífona de entrada.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A — São Mateus

Acendendo hoje a segunda vela do Advento, contemplamos, na


Imaculada, o brilho de sua vida doada como fiel serva do Senhor, a
serviço da humanidade e de todas as pessoas e povos que cultivam
relações humanas e sociais justas e igualitárias.
Somos motivados a receber hoje o segredo do Advento que Maria
nos traz: acolher o Senhor que vem, abrindo-nos humildemente à sua
ação e vivendo com todo o empenho de nossa vida de fé, aquilo que
por graça, recebemos.
Recordamos fatos que são sinais que apressam a vinda de Deus
no meio de nós, como:

» dia 10/12 — Dia Mundial dos Direitos Humanos, Dia Inter-


nacional dos Povos Indígenas, que tanto lutam por dignidade,
demarcação de suas terras e preservação de sua cultura.

» dia 12/12 — a manifestação de Deus em Guadalupe, por inter-


médio de Maria, grávida de Jesus, nos sinais da cultura indí-
gena sempre grávida de esperança e libertação.

Recordando a Palavra
À primeira leitura da festa de hoje é um diálogo entre Deus e as suas
criaturas, mostrando o interesse que Deus tem por cada uma. Deus
chama Adão e lhe pergunta: “Adão, onde estás?” Ele ouvira a voz
de Deus, ficara com medo por estar nu e se escondera. Deus torna a
perguntar: “Quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore
proibida” Adão tira o corpo fora, não admite a própria responsabilidade
e acusa a companheira mulher. Questionada por Deus, a mulher acusa a
serpente e admite que fora enganada. Deus então amaldiçoa a serpente e
estabelece sua derrota, comer pó (cf. Mq 7,17), e sua punição. À astúcia
da serpente volta-se contra ela própria. À mulher e sua descendência
atingirão a serpente na cabeça, correndo o risco de serem atingidos no
calcanhar, em seu ponto vulnerável (tendão de Aquiles). A. Igreja sempre
interpretou este texto como anúncio da vitória do Messias, nascido de
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). R

uma mulher, sobre todo mal e a própria morte. A Vulgata traduz esta
passagem como “ela, a Mulher te esmagará a cabeça.” A mãe do Messias
tem um papel muito importante na história da salvação.
No evangelho de Lucas, a anunciação do nascimento de Jesus não é
feita ao pai, mas à mãe, mocinha virgem. No Antigo Testamento, o anún-
cio é sempre feito ao pai e a dificuldade a ser rompida é a esterilidade da
mãe já idosa. À anunciação a Maria não é a resposta de Deus ao pedido
de alguém, mas pura iniciativa divina. Chama a atenção também o local
onde ocorre o anúncio: Galileia, lugar sem valor, “da Galileia não surge
profeta” (Jo 7,52), longe de Jerusalém, onde ocorrera o anúncio a Zaca-
rias do nascimento de João; em Nazaré, de onde “nada de bom pode vir”
(cf. Jo 1,46). Deus envia Gabriel a Nazaré da Galileia para levar uma men-
sagem à jovem Maria que estava noiva de José: “Alegra-te, cheia de graça!
O Senhor está contigo”. Esta á a Boa Nova da alegria! Maria é a primeira
a ser convidada a acolher Jesus sem medo, sem receio, com confiança e
júbilo. Maria se perturbou e tentava decifrar o sentido da saudação.
Outra novidade é que o nome será dado por ela, a mãe, e não pelo
pai, como no Primeiro Testamento. O menino será chamado Jesus
que significa “o Senhor salva” equivalente a Josué, Isaías, Oseias. São
muitos elementos perturbadores para a jovem Maria que bem conhe-
cia as tradições de seu povo, mas, mesmo assim, se coloca inteira-
mente à disposição de Deus. “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em
mim segundo a tua Palavra”. Deus fecundou a fé e a entrega de Maria.
Maria é coberta pelo Espírito e cheia da glória de Deus como em
Ex 40,34: “A nuvem envolveu a tenda do Encontro, e a glória do Senhor
encheu a Morada.” Em Maria, os pobres proclamam a misericórdia
do Deus que se lembra dos pequenos e vem morar com eles porque os
ama, trazendo-lhes a plenitude da salvação, Jesus, o Messias.

Atualizando a Palavra
À Sagrada Escritura nos apresenta Maria como a crente por excelência,
o modelo de nossa fé. A festa de Maria Imaculada nos traz alegria, apelo
H Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A - São Mateus

à pertença total a Deus, disponibilidade, acolhida do desígnio de Deus


sobre nossas vidas e sobre o mundo todo. À isenção do pecado em Maria
depende da soberana vontade de Deus em sua criação. À tendência ao
mal não pode ser aceita como um determinismo absoluto ao nosso
gênero humano. Através de Maria Imaculada, podemos crer que a fideli-
dade à Aliança com Deus é possível. Maria é transparente à vontade de
Deus. Nunca foi infiel ao Senhor. A salvação não é somente resgate dos
pecadores, mas comunicação permanente da suprema bondade de Deus
ao coração de suas criaturas. É possível viver em pureza plena, se, como
Maria, respondermos sempre sim à iniciativa de Deus.
No evangelho de hoje, Maria não pede sinais, como Zacarias
havia feito, mas se entrega em confiança plena na vontade de Deus.
À vontade de Deus passa a ser sua vontade encarnada em sua fé e no
seu corpo. Assim poderá ser em nossa vida?
O dom anunciado pelo anjo a Maria faz parte de sua história pes-
soal, mas é também evento salvador que ocorre na história, na plenitude
dos tempos, para toda humanidade. É a síntese da força do Espírito
Santo e da fraqueza e pequenez de Maria. Seu filho é Filho do Altís-
simo. Cumpre-se nela e na história o projeto salvador de Deus. Esse
filho anunciado, aceito e amado olhará para as mulheres de maneira
nova, defenderá sua dignidade e as acolherá entre seus discípulos.
À Boa Nova de hoje é “alegra-te”! Essa é a primeira palavra de
Deus para todas as suas criaturas e para nós também. Alegria que
nasce de dentro de quem enfrenta a vida com convicção e sabe que
“Ele está no meio de nós”. Neste tempo cheio de incertezas, escu-
ridões, problemas e dificuldades não podemos perder a alegria e a
coragem. Em tantos apelos para nos desviar do caminho de Deus,
permaneçamos, como Maria, fiéis ao projeto do Reinado de Deus.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A celebração atualiza, na assembleia reunida, a força que preservou
Maria do pecado. Nela o mal foi definitivamente vencido. Ela se
torna o primeiro sinal do Reino e dele nos indica o caminho.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). RB

Na Eucaristia, celebramos o mesmo mistério da redenção cujos


benefícios Maria foi a primeira a experimentar e do qual nós partici-
pamos segundo nossa fraqueza e nossas forças. Cantamos no salmo,
o misterioso júbilo pelo agir gracioso e gratuito de Deus na vida de
Maria e em nossa vida.

Damos graças e louvores ao Pai por nos ter dado Maria, modelo
de fé adulta, esclarecida, solidária, de contínua abertura ao amor.
Alimentamo-nos com o corpo de Cristo para sermos, com ele e com
Maria, vencedores do mal e da morte no dia a dia de nossa vida.
Partindo da celebração, somos enviados, como comunidade
cristã, a percorrer, em nosso cotidiano, o caminho que Maria percor-
reu: o caminho do contínuo advento.

Sugestões para a celebração


1. Um ícone ou imagem de Maria pode estar destacado no espaço
celebrativo.
2. À recordação da vida, após a saudação de quem preside, nos ritos
iniciais, integra o mistério celebrado à nossa realidade, inserindo-
-nos no mistério do Advento. Lembrar fatos e pessoas que são
sinais do Reino.

3. Acender a 22 vela do Advento, nos ritos iniciais ou no momento


da aclamação ao evangelho. Esse gesto poderá ser acompanhado
por uma oração de bênção ou uma frase ou refrão inspirados nas
leituras ou no salmo de hoje.
4. Hoje, por ser solenidade, canta-se o hino de louvor. O prefácio é
próprio, proclamando Maria como primícia, a “primeira da Igreja,
esposa de Cristo sem ruga e sem mancha, resplandecente de beleza”.

5. Bênção solene própria das festas de Maria, ou a oração com


imposição sobre o povo (p. 519 do Missal).
3º DOMINGO DO ADVENTO (Gaudete)

15 de dezembro de 2013

'ALEGRE-SE A TERRA QUE ERA DESERTA E INTRANSITÁVEL, EXULTE A SOLIDÃO E


FLORESÇA COMO UM LÍRIO. GERMINE E EXULTE DE ALEGRIA E LOUVORES.”

Leituras: Isaías 35,1-6a.10; Salmo 145(146); Tiago 5,7-10;


Mateus 11,2-11 (Jesus fala sobre João Batista)

Situando-nos brevemente
Ao aguardarmos a vinda de uma pessoa querida e identificando
vários sinais que já confirmam sua chegada, a esperança brilha com
maior força e o empenho de preparação para sua vinda se transforma
em alegria. É o que experimentamos neste terceiro domingo do
Advento, chamado de “domingo da alegria”, ou Gaudete. Somos
tocados por alegre júbilo pela proximidade da vinda do Senhor, já
na antífona de entrada: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos
digo: alegrai-vos! O Senhor está perto” (cf. Fl 4,4-5). Esta será a tônica
motivadora de toda a celebração.
Aquele que esperamos, o Deus fiel que transforma o deserto em
Jardim, que exerce a justiça a favor dos pobres e oprimidos, se aproxima.
E mais ainda, Ele já está entre nós e com ele preparamos o advento
do seu Reino. Vida plena e feliz para todos, oprimidos libertados em
festa, harmonia e solidariedade entre os povos, natureza preservada, são
sonhos de salvação ainda esperados por nós e alimentados pela nossa fé!
Já próximos do Natal, na terceira semana de preparação, é tempo
de redobrar nossa esperança e, contentes, irmos ao encontro do
Senhor que sempre vem. Nossas velas acesas, agora três, em crescente
brilho, anunciam a certeza de sua chegada. Cada celebração deve ser
um ensaio e uma antecipação do Reino.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Hoje é dia da coleta da Campanha da Evangelização. Nossa


generosidade brota de nosso compromisso de levar, com alegria, a
boa nova da salvação a todos.

Recordando a Palavra
No evangelho de hoje, Jesus fala sobre João Batista. No início do
cristianismo, em algumas comunidades, houve a preocupação sobre
o lugar de João Batista com referência a Jesus. À perícope deste
domingo reflete essa preocupação. Podemos dividi-la em duas
partes: Na primeira parte os discípulos de João, que já está na prisão
de Herodes, vão perguntar a Jesus sobre sua identidade: “És tuo que
devia vir, ou devemos esperar outro?” Jesus responde, definindo sua
identidade messiânica: “Informem a João sobre o que vocês ouvem e
veem: cegos recobram a visão, coxos caminham, leprosos são purifi-
cados, surdos ouvem, mortos ressuscitam, os pobres recebem a boa
notícia e feliz quem não tropeça por minha causa” Nesta identifi-
cação do Messias, ressoa a profecia de Isaías 35,5-6 e 61,1.
Na segunda parte do trecho de Mateus, Jesus esclarece à multi-
dão sobre a missão de João: O que foram contemplar no deserto? Uma
taquara fininha, delgada, agitada pelo vento? Um homem com roupas
finas e ricas? Quem se veste assim mora em palácio. Mas o que foram
ver? Um profeta? Sim, e alguém que é mais do que profeta. Dele é que
está escrito na Sagrada Escritura: Eis que envio o meu mensageiro à tua
frente para preparar o teu caminho diante de ti. Jesus encerra dizendo
que, de todos os que nasceram, nenhum homem é maior do que João
Batista. Porém, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. As
palavras das profecias confirmam a missão de Jesus.
À primeira leitura é do primeiro Isaías, profeta que atua entre
740-700 a.C. cujos ensinamentos e oráculos encontram-se nos capí-
tulos 1-39 de Isaías. Portanto hoje ouvimos o primeiro Isaías que
mostra que a classe dominante assumiu o culto da religião assíria
e é infiel à Aliança com Deus. À começar pelo rei, vivem sem fé,
ã Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A — São Mateus

corrompidos e sem escrúpulos. O rei chegou a sacrificar o próprio


filho ao ídolo Molok (2Rs 16,3-4). O momento é de guerra e sofri-
mento para o povo.

Isaías traz a dimensão messiânica da profecia que levava o povo a


olhar para o futuro, esperar pela vinda do Messias e a aguardar a rea-
lização do Reino de Deus. À profecia, em sua palavra crítica, clareia
o presente e esconde uma palavra de esperança que anuncia o futuro.
Na denúncia do mal do presente, deve estar também o anúncio da
Boa Nova. Isaías anuncia o júbilo da natureza, a cura dos enfermos,
a volta dos exilados. À vinda salvadora de Deus transforma o deserto
em paraíso, vence todas as doenças e maldições; dá liberdade, alegria,
felicidade. Todos deprimidos criarão ânimo e coragem. Às mãos
ficarão fortes e firmes os joelhos.
À transformação da natureza é o símbolo que expressa a res-
tauração do povo oprimido e libertado pelo Senhor. Isaías 35 é um
canto de esperança e um convite a celebrar antecipadamente a alegria
da libertação, do Reino que vem. O tema central da água no deserto
suscita a memória de um novo êxodo.
Sa—.

O Salmo 145(146) confirma que Deus é fiel para sempre e exerce


a justiça em favor dos pequenos e fracos. É feliz quem se apoia e
põe sua esperança no Senhor! Não devemos confiar nos poderosos,
porque seus planos são planos de morte que produzem sete grupos
sociais de excluídos da vida digna: oprimidos, famintos, prisionei-
ros, cegos, encurvados, estrangeiros e diferentes, órfãos e viúvas. O
projeto de Deus liberta, abre os olhos, endireita, protege, sustenta,
mantém sua fidelidade para sempre, faz justiça, dá pão, porque ama.
A última ação de Deus é reinar: o Reino de Deus se traduz em um
projeto de vida, de alegria e liberdade para as pessoas que nada têm.
Deus transtorna o caminho, os planos dos poderosos injustos. .=
À exortação de Tiago, o irmão do Senhor, da comunidade mãe
de Jerusalém, capítulo 5,1-11 começa contra as pessoas ricas que opri-
mem os pobres e se enriquecem às suas custas, pois lhes retêm o salá-
rio. Tiago começa dizendo: “agora vós, os ricos, chorai e gemei, por
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

causa das desgraças que estão para cair sobre vós.” Repete assim, o
grito dos profetas: Is 5,8-10; Jr 5,26-30; Am 2,6-7; 8,4-8. O tesouro
dos ricos, já reduzido a nada pelos vermes e a ferrugem (cf. Mt 6,19)
vai testemunhar contra eles no final dos tempos. Nas comunidades
primitivas, esperava-se que o Senhor voltasse em breve para o julga-
mento final e definitivo.
Nos versículos 7 a 11, sua exortação abre-se para um horizonte
escatológico e Tiago pede que se tenha paciência, porque o Senhor
está próximo. Paciência, como a de quem coloca uma semente na terra
e fica à espera da planta que virá e dos frutos que ela vai produzir
sem impacientar-se com a demora. Paciência, constância, firmeza no
tempo de provação que antecede a vinda do Reino. Paciência laboriosa
no tempo que prepara a Parusia, a segunda presença/vinda do Messias,
segundo Advento do Senhor que proclamamos em nossa liturgia.
Tiago propõe Jó como modelo de paciência. É a única vez que
Jó é citado no Segundo Testamento. Esse exemplo é conhecido no
judaísmo e a comunidade de Tiago é composta de cristãos vindos do
judaísmo. O Senhor é rico em misericórdia, benevolente e compassivo
como foi com Jó (cf Ex 34,6; Sl 86,15; Sl 103(102),8; Sl 111(110),4).
Esses são atributos litúrgicos de Deus.

Atualizando a Palavra
O Senhor não demora! Alegrai-vos! Deus quer renovar conosco sua
aliança e nos promete novo vigor. Quer transformar nosso sofrimento
e nosso choro em prazer e alegria, fazendo-nos já apreciar um
“o » . . ,
«
aperitivo” da realidade nova que desejamos para nós e para o mundo.
Por isso, ele mesmo vem para nos erguer de todo tipo de acomodação
e desânimo, vem fortalecer as mãos enfraquecidas e os joelhos cansados,
vem animar nossa esperança. Daí vem nossa alegria!
Apesar da pobreza, corrupção, exclusão de tantos, das guerras, o
tempo do Advento desperta nossa esperança e nos chama a viver na
alegria e na perseverança cotidiana. Qual é nossa esperança?
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal —- Tempo Comum — Ano À - São Mateus

João Batista, mesmo preso e prestes a ser martirizado, envia dois dis-
cípulos para ouvirem de Jesus os motivos para manter viva a sua esperança:
“Você é o Messias?” À resposta são testemunhos da pessoa, das obras, do
jeito de ser de Jesus com relação ao povo mais espezinhado e abandonado.
Tudo o que ele é e faz consiste em dar a vida. Ele é o Messias que está entre
nós. À esperança se cumpriu. O Reino de Deus por ele trazido se destina
preferencialmente aos pobres e, através deles, a toda a pessoa. Os gestos
de amor ao próximo alimentam a esperança da chegada final do Senhor.
O amor, a entrega da vida podem ser vistos, apalpados, testemunha-
dos, porque são concretos: fazer ver, andar, ouvir, curar as mãos e joelhos
enfermos. Jesus fez as obras do amor sem limite e nos deu a missão de
continuar fazendo o mesmo. Hoje nossos gestos de solidariedade diante
da fome e da pobreza devem comunicar que o Reino está em nosso meio.
À esperança nos dá alegria confiante. À esperança fundamenta
nossa firmeza permanente e a certeza de que Deus vencerá o mal,
que ainda persiste na humanidade. À esperança se manifesta na cele-
bração, expressão comunitária de nossa alegria e confiança.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A celebração eucarística, em torno das duas mesas da Palavra e
do Pão constitui momento privilegiado em que experimentamos a
verdadeira alegria, uma feliz antecipação do Reino que esperamos.
Aclamamos esperançosos o Senhor, paciente, tolerante e mise-
ricordioso para conosco. Ele nos acolhe à sua mesa apesar de nossas
inúmeras fraquezas e desvios e nos convida continuamente a cami-
nhar com ele para a páscoa, participando com fé autêntica em sua
entrega total, em sua oblação pascal.
A vinda de seu Reino se dá lentamente, o que exige paciência,
determinação e nos traz também cansaço. Ao participarmos da mesa
do corpo e sangue do Senhor, recebemos, já na antífona de comu-
nhão, a missão de dizer aos que estão desanimados: “Coragem, não
tematis; eis que chega o nosso Deus, Ele mesmo vai salvar-nos.”
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). RB

Nunca nos faltará coragem e alegre esperança de atingir a meta


final. Sua Palavra nos indica o caminho, como cantamos hoje no
salmo: fazer justiça aos pobres e oprimidos; erradicar a fome; dar luci-
dez à consciência dos fracos; colocar de pé os que, pela humilhação e
alienação, estão encurvados; proteger e sustentar os pequenos e margi-
nalizados, dando-lhes dignidade; cuidar amorosamente da natureza.
Isto deve constituir a verdadeira alegria que, brotando desta
celebração, nos mantém mensageiros da boa nova, preparando os
caminhos do Reino, como seguidores daquele que vai à nossa frente.

Sugestões para a celebração


1. Como expressão da alegria pela aproximação do Natal, a cor
litúrgica é o rosa. Nos ritos iniciais, as pessoas poderão saudar-se
mutuamente com as palavras inspiradas na antífona de entrada:
Alegre-se! O Senhor está perto!
2. Acendimento da 3º vela da coroa do Advento nos ritos iniciais,
acompanhado de um refrão ou oração de bênção, como nos
outros domingos.
3. A comunidade traz os motivos que tem para se alegrar e ter espe-
rança, como sinais da presença amorosa e fiel de Deus em nosso
meio (fatos, acontecimentos apresentados como recordação da vida).
4. Cantar o prefácio Advento II ou a louvação do Advento (Hinário
Litúrgico I, p. 73), o Santo, as aclamações, o amém e o Cordeiro
de Deus.
5. Bênção própria do Advento, com imposição das mãos sobre o
povo (p. 519 do Missal Romano).
6. Se a comunidade ainda não começou a montar seu presépio, será
muito oportuno começar a fazê-lo neste dia.
7. Realizar, neste domingo, a coleta em favor da evangelização.
4º DOMINGO DO ADVENTO

22 de dezembro de 2013

“EIS QUE A VIRGEM CONCEBERÁ E DARÁ À LUZ UM FILHO. ELE SERÁ CHAMADO
PELO NOME DE EMANUEL...”

Leituras: Isaías 7,10-14; Salmo 23(24); Romanos 1,1-7;


Mateus 1,18-24 (José e Maria)

Situando-nos brevemente
Neste domingo, o último do Advento, chegando ao ponto alto de
nossa espera, despontam para nós os lampejos de um novo amanhecer,
anunciando a chegada do Sol da justiça, o Emanuel, o Deus conosco.
Ele é a manifestação do segredo escondido em Deus, há séculos: a
salvação, a vida plena e feliz para toda a humanidade.
À antífona de entrada, inspirada no Salmo 45,8, evoca a descida
do orvalho celeste que faz brotar da terra, a salvação. É um vivo sinal do
maravilhoso encontro do divino e do humano em Jesus de Nazaré
que a liturgia de hoje evidencia.
O acendimento das quatro velas nos confirma a chegada plena
da luz no seio bendito de Maria, grávida pelo Espírito Santo e na fiel
obediência de José, o homem justo. Ambos, modelos do Advento,
vivem ardente espera do Salvador em meio à obscuridade da fé e às
ambiguidades e provas da frágil condição humana.
Mesmo na alucinação das compras natalinas, aturdidos pelos
anúncios de um Natal esvaziado pelo consumismo e devotados ao
ídolo mercantilista e tirano do dinheiro, a humanidade e todo o
universo clamam esperançosos pelo Reino e se enternecem diante
da simplicidade, da gratuidade, de relações verdadeiras, do serviço
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). RB

desinteressado do pequeno resto, da geração dos que buscam a Deus. Sina-


lizam a chegada do “Emanuel” e da força de seu Espírito, gerando,
com autenticidade e sem muito barulho, um mundo novo.

Recordando a Palavra
O evangelho de Mateus se inicia com a genealogia de Jesus. Genealogia
é um gênero literário para apresentar uma personalidade importante. A
partir do versículo 18, procura explicar como Jesus, nascido de maneira
misteriosa de Maria, toma parte da linhagem de Davi e Abraão, através
de José, que o adota como filho. O fato do nascimento legal de Jesus,
afirmado pela genealogia, é o tema da narrativa evangélica. José, que é
da família de Davi, recebe Jesus em sua linhagem.
Antes mesmo de levarem uma vida em comum, os jovens que
se comprometeram ao casamento são considerados esposos; somente
um repúdio legal poderia desligá-los do compromisso. Devido à gra-
videz misteriosa de Maria, José se decide pelo repúdio, mas quer
fazê-lo secretamente. À lei não prevê tal atitude, pois a carta de
divórcio devolve à mulher o direito de se casar novamente. Então,
por que José é considerado justo? Será que José é considerado justo
por cumprir a lei que autoriza o divórcio em caso de adultério? Ou
por mostrar-se indulgente? Como usar a justiça com uma inocente?
Ou por não querer ser pai de um filho que não é seu, em uma cultura
que valoriza muito a paternidade? Nenhum texto do Primeiro Testa-
mento prevê um repúdio secreto. Para ser legal, tinha que ser auten-
ticado por um certificado oficial (cf. Dt 24,1). Em sonho, Deus se
revela a José, o ajuda a compreender os acontecimentos e lhe dá uma
missão: dar o nome de Jesus (Deus salva) ao menino. Embora Maria
esteja grávida do Espírito Santo, cabe a José cooperar, conferindo ao
menino a filiação davídica, para que se cumpram as Escrituras.
Mateus apoia-se na profecia de Isaías que ouvimos na primeira
leitura. Através de Isaías, o Senhor oferece ao rei um sinal: “Eis que
uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe dará o nome de
H Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

Emanuel” Certamente o profeta se referia à esposa de Acaz, mãe de


Ezequias. Mateus segue essa tradição, mas iluminado pelo nasci-
mento virginal de Jesus. Para o cristianismo fica claro que a materni-
dade de Maria não teve a contribuição de José, mas é obra do Espírito
de Deus. À contribuição de José foi oferecer a Jesus a linhagem daví-
dica. Em Jesus, unificam-se tradições antigas do seu povo: Abraão,
o patriarca; Davi, o rei; Isaías, o profeta. Em Jesus cumprem-se as
profecias. José, filho de Davi, pai adotivo de Jesus, filho de Davi. O
descendente de Davi salvará seu povo.
O Salmo 23(24) é uma liturgia: início — louvor; — condições para
participar dentro do templo; liturgia da porta em forma de diálogo.
É um rito antigo. Podemos descobrir o rosto de Deus que se mostra
neste salmo: criador da terra e senhor do mundo; aliado de seu povo.
O povo para responder à Aliança tem que criar relações de justiça,
integridade e retidão. Em terceiro lugar, Deus é apresentado como
Rei dos exércitos, valente, herói. É sempre o Deus que caminha com
seu povo e habita no meio dele. Este salmo recupera o valor das pere-
grinações populares. Faz-nos pensar a liturgia como celebração da
vida, cume e fonte da fé, superando o ritualismo de aparências.
À carta aos romanos liga-se à primeira leitura. É provável que
esta carta tenha sido escrita na cidade de Corinto, pelo ano 56 ou
58 d. C. É um longo prólogo anunciando a boa notícia do Messias
nascido da descendência de Davi como sinal da fidelidade de Deus.
É um hino que expressa o testemunho desse menino que iria nascer
num humilde lar de Nazaré, Jesus, o Emanuel. Vem de Deus, entra e
assume a história da humanidade. Paulo diz que quem envia o Ema-
nuel é o próprio Espírito de Deus.

Atualizando a Palavra
“Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o
nome de Emanuel.” Este domingo é de fato, uma festa de Maria. À
oração do dia de hoje tornou-se a conclusão da oração do “Angelus”.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). RB

Deus tem um plano de bondade para a humanidade, toma a ini-


ciativa e o cumpre de forma desconcertante. Envia seu próprio filho;
repara na humildade e na fidelidade de uma jovem que aceita em
si mesma a obra de Deus, que quer vir ser Deus conosco. José fica
perplexo, mas se abre para compreender a ação de Deus. Deus vem
habitar conosco; armou sua tenda entre nós.
Deus age, mas com a colaboração de pessoas que assumem com
simplicidade e, às vezes, com dificuldade sua responsabilidade, como
aconteceu com José e Maria. Deus quer salvar a humanidade, através
de nós, pessoas humanas. Uma gravidez é sempre uma ocasião para
pais e familiares se colocarem dentro de um mistério. À pessoa que
está sendo tecida no ventre materno não é apenas obra humana, mas
revela a presença do Criador.
À saudação — “Não temas!” — dita pelo mensageiro a José, no
texto de Mateus, e a Maria, em Lucas, é dita hoje a nós, para nos
animar na missão de colaborar com o projeto de Deus e para que
venham a nós” a paz e a justiça tão sonhadas.
€ 2) . . m-

Neste tempo de Advento, somos convidados a viver em profunda


contemplação e admiração, fé e confiança. É tempo de gestação de
novas relações no silêncio do cotidiano da vida. Como José, somos
encarregados de proteger as sementes de vida semeadas no ventre
fecundo de nossas comunidades, nas organizações populares, entre
OS jovens e os pequenos.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Damos graças ao Pai pelo “sinal? do Emanuel, que se faz presente em
nossa assembleia eucarística.
O Senhor, ressuscitado pelo poder do Espírito Santo, está no
meio de nós para dar-nos a vitória sobre a morte e o pecado. Já na
oração inicial, pedimos que, “conhecendo pela anunciação do anjo a
m . .. . « . - .

encarnação do vosso Filho, cheguemos pela sua paixão e cruz à glória da


ressurreição”,
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano À - São Mateus

Como comunidade eclesial, recebemos a Palavra, o Verbo da


Vida que nos engravida pela ação amorosa do Espírito para conti-
nuarmos a ser sinais e instrumentos da salvação e da esperança no
mundo em que vivemos. Jesus é o Deus-conosco e conosco permane-
cerá (cf. Mt 28,20), até que a salvação se realize plenamente.
Na aproximação do Natal, com as lâmpadas de nossa espera
acesas, suplicamos com mais ardor: Vem, Senhor, Jesus!

Sugestões para a celebração


1. À cor rosada continua indicando a alegria da espera e da chegada,
agora mais próxima. O Missal Romano mantém a cor roxa.
Valorizar a participação das mães gestantes nos vários momentos
da celebração.
Uma mulher grávida traz e acende a 4º vela da coroa do Advento,
gesto a ser acompanhado por um refrão ou frase bíblica ligada à
liturgia da Palavra deste domingo, após uma oração de bênção,
de acordo com os outros domingos.

E bom que a resposta às preces seja cantada, assim como a


louvação do Advento (Hinário Litúrgico 1, p. 73), o Santo e o
Amém final. Prefácio Advento Il o mais indicado para hoje.

Antes da louvação, ou abrindo a oração eucarística, a comuni-


dade seja convidada a proclamar as esperanças que animam, hoje
a caminhada dos pobres.

Dar uma bênção especial para as mães gestantes presentes, e


a todo o povo a bênção própria do Advento (p. 519 do Missal
Romano).
Sugestão de oração sobre as mães gestantes: (cf. GUIMARÃES
M&P. CARPANEDO FP, Dia do Senhor, Ciclo do Natal ABC.
Paulo: Apostolado Litúrgico&cPaulinas, 2002, p. 69)
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Dirigente (D): Ó Deus, ternura de paz, nós vos contemplamos na gravidez


de Maria e na gravidez destas nossas irmãs. Dai saúde a estas crianças que
estão para nascer e tranquilidade às suas mães. Elas nos ajudam a esperar,
com toda a criação que geme e sofre em dores de parto, a libertação e a adoção
de filhos e filhas de Deus. Bendito sejais pela alegria da vinda de Jesus Cristo,
nosso Salvador. Amém.
(Estendendo as mãos sobre as mães, reza.)
D: O Deus, defensor da vida, confirme estas mulheres na fé e na missão de
acalentar a vida que está para nascer. T: Amém.

D: Que elas acompanhem sempre estas novas vidas com o seu amor mater-
nal. T: Amém.

8. Lembramos hoje o martírio de Chico Mendes, defensor do meio


ambiente.
NATAL DE NOSSO SENHOR
JESUS CRISTO
25 de dezembro de 2013

“NÃO TENHAIS MEDO! EU VOS ANUNCIO UMA GRANDE ALEGRIA,


QUE SERÁ TAMBÉM A DE TODO O POVO"

Leituras: Missa da Vigília: Isaías 62,1-5; Salmo 88;


Atos dos Apóstolos 13, 16-17.22-25; Mateus 1,1-25
Missa da noite: Isaías 9,1-6; Salmo 95(96);
Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14

Situando-nos brevemente
Natal é o mistério, sacramento da humanização de Deus e da divini-
zação humana, Festa da fidelidade e da ternura de Deus para conosco.
O Verbo, a Palavra eterna, a Sabedoria, a mais fiel comunicação do
Pai, o Filho amado se faz pequenina e frágil criança, filho de um
casal de pobres, provindo de um recanto não importante do mundo,
para “realizar o direito e a justiça”.
Não simples comemoração do aniversário de Jesus, mas a reali-
zação da promessa de Deus de fazer uma aliança eterna de amor com
toda a humanidade e de restabelecer o seu Reino no mundo. Com a
encarnação, afirma o Concílio Vaticano II, o Filho de Deus uniu-se,
de certa maneira, a toda a humanidade (cf. GS, n. 22) e mais ainda
atingiu todo o universo (cf. GS, n. 38). Iniciou-se, portanto, o miste-
rioso processo de renovação e unificação de toda a humanidade e do
cosmos com Cristo.
Recordando o nascimento de Jesus em Belém, pobre entre os
pobres, junto com Maria e José, com os pastores de ontem e de hoje,
“O Senhor nos vai mostrar a sua estracla e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

acolhemos, com ternura e alegre júbilo, o anúncio dos anjos e a pro-


clamação da paz a todos os “filhos amados de Deus”.
Celebramos a páscoa de Jesus Cristo que acontece em sua Encar-
nação, em seu nascimento em nossa carne, no seu ato solidário de
assumir em tudo a nossa condição humana, nossa corporeidade com
suas necessidades vitais, nossas alegrias e tristezas, audácias e fraque-
zas, conquistas e fracassos.
Do meio das palhas de sua manjedoura, acolhemos do Menino-
-Deus um forte apelo para o cultivo de relações novas e duradouras,
valorização de tudo o que é humano, simples e pequeno, gestos gratui-
tos de solidariedade e benevolência entre nós e com toda a natureza.

Recordando a Palavra
O Evangelho de hoje não é uma simples narração histórica, mas uma
catequese, uma releitura teológica da infância de Jesus sob a luz de
sua paixão, morte e ressurreição.
Lucas situa historicamente a ida de Maria e José a Belém e o
nascimento de Jesus na pobreza, na época de César Augusto, impera-
dor romano. À viagem foi motivada pelo recadastramento ordenado
pelo imperador a fim de arrecadar impostos injustos da população.
O nascimento de Jesus, nesse tempo e lugar, revela que a salvação
não vem dos poderosos, mas de um pobre, filho de marginalizados
e explorados.
José e Maria vêm de Nazaré, na Galileia, para Belém, cidade
de Davi, na Judeia, para se recensearem, porque eram da casa e da
família de Davi. Maria estava nos últimos dias de sua gravidez e aí se
completaram os dias para o parto. Ela deu à luz ao filho primogênito,
envolveu-o com faixas e colocou-o numa manjedoura, porque não
havia lugar para eles “na sala”, palavra que, em geral, é traduzida por
hospedaria. Lucas, porém, usa a mesma palavra que usou em 22,11,
indicando a sala onde se daria a última ceia. Seria uma sala de estar
em uma habitação. No contexto do nascimento de Jesus, o local devia
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

ser um edifício para a pousada gratuita das caravanas, comportando,


normalmente, uma estrebaria para abrigar os animais usados durante
a viagem. À tradição da gruta como lugar do nascimento de Jesus
aparece no século II, com Justino. O certo é que Maria e José esta-
vam sobrando, não havia lugar para eles e, nesse momento de crise,
de extrema pobreza, nasce o Messias Jesus.
Ao descrevero nascimento de Jesus, Lucas estabelece um para-
lelismo com a morte e ressurreição do Messias: Maria “envolveu-o
em faixas e deitou-o numa manjedoura...” (Lc 2,7) José de Arima-
teia “enrolou-o num lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha”
(Lc 23,534). O evangelista descreve o nascimento do Messias à luz do
evento central da nossa fé. Seu nascimento já é anúncio de sua morte.
Narrando o nascimento de Jesus em Belém, casa de Davi, apre-
senta Jesus como o Messias pobre, nascido entre os pobres pastores,
que estavam nos campos, guardando o rebanho à noite. É a lembrança
do jovem pastor Davi, sem aparência de grandeza, escolhido para ser
rei de Judá, unificando o povo, trazendo paz e liberdade. Além dos
pastores, surge o Anjo do Senhor, sua glória e luz. Na Bíblia, a glória
do Senhor designa a manifestação visível do mistério de Deus.
Os pastores se atemorizam e o Anjo lhes diz: “Não tenham medo!
Dou-lhes uma boa notícia! Alegria para todo o povo!” Os pastores viviam
à margem da comunidade praticante, por isso eram malvistos e des-
considerados. Contudo, eles são os favorecidos por serem gente sim-
ples, sem preconceitos, receptivos à revelação de Deus. O sinal que
lhes é oferecido é “um menino” na pobreza e humildade. Ao anjo,
juntou-se uma multidão celestial que louvava Deus, dizendo: “Glória
a Deus no alto, e na terra paz à humanidade que ele ama!” Paz aos
que são objeto da benevolência divina, não por iniciativa humana,
mas por vontade de Deus.
O cristianismo lê a profecia de Isaías 9,1-6 à luz do nascimento,
vida, morte e ressurreição de Jesus. O profeta nos anuncia que che-
gou a salvação para os pobres e oprimidos. O contexto desta profe-
cia é a situação de destruição de Israel, reino do norte, pelo rei da
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). RB

Assíria, no ano de 732 a.C. O povo dominado, sem identidade nem


liberdade, está nas trevas e nas sombras da morte. Isaías anuncia a
salvação em três aspectos: grande luz resplandeceu, como nova cria-
ção (v.1); alegria, felicidade de quem está na colheita (v. 2), ou como
quem ganhou uma guerra; libertação de tudo o que oprimia (vv. 2-4).
O nascimento de um menino, de um filho (v. 5) e seus títulos: O
recém-nascido recebe um manto sobre seus ombros e um nome de
coroação, evitando o nome de rei: conselheiro maravilhoso, admirável
— mais sábio do que Salomão, capaz de fazer justiça ao povo. Deus
forte, guerreiro divino — mais forte'que Davi, defendendo o povo das
ameaças externas, pois tem a força de Deus. Pai, chefe perpétuo, para
sempre — supera a liderança de Moisés, conduzindo o povo à Terra
definitiva. Príncipe da paz — por seu projeto de vida, pelo exercício
do direito e da justiça em defesa do povo oprimido, criará a paz. Seu
nome revela seu agir a favor do povo sofrido.
O versículo 6 descreve as consequências de uma administração
justa: haverá paz sem fim e plenitude de bens para o povo. Quem
garante e realiza isso é o amor zeloso do Senhor. É o projeto que
Deus quer ver realizado no mundo.

O salmo 96(95) é um hino, um salmo da realeza do Senhor. O


Senhor é merecedor de um canto novo, porque é criador, libertador
e rei universal. Seu governo e sua administração se caracterizam por
retidão, justiça e fidelidade. O Senhor á aliado da humanidade, sobe-
rano do universo e da história. Devemos proclamar isto, desmasca-
rando tudo o que pretende ocupar o lugar de Deus. À criação inteira
é convidada a festejar nosso Deus!
À carta de Paulo a Tito nos traz o modo de viver de quem rece-
beu a graça de Deus — abandonar a impiedade e as paixões e viver
com equilíbrio, justiça e piedade. No Natal, celebramos o sentido e a
manifestação da clemência de Deus. À encarnação é fonte de salva-
ção para todos. À obra de salvação se realiza porque ele se entregou
por nós. À exemplo de nosso Salvador, devemos renunciar ao mal,
viver na justiça e na piedade e praticar o bem.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A — São Mateus

Vivendo em meio a uma sociedade corrupta, os cristãos são con-


vocados a viver a novidade do evangelho de Jesus Cristo. Por um
lado, é necessário romper com as atitudes e paixões do mundo, modo
de viver contrário ao que Deus nos revelou no Messias; por outro
lado, somos convocados a viver no “tempo presente com equilíbrio,
moderação, justiça e piedade à espera da bem-aventurada esperança” — a
manifestação gloriosa de Jesus Cristo, que se entregou totalmente
para nos resgatar e purificar.
O discípulo de Jesus vive nessa tensão: rompimento com a impie-
dade e vivência da justiça. Ser cristão é dedicar-se à prática do bem,
atualizando as ações libertadoras do Salvador.

Atualizando a Palavra
Jesus nasce entre pobres, migrantes, pastores; encarna-se na realidade
dos que sofrem. Deus entra em nossa história através de uma mulher
marginalizada.
Hoje é dia de Boa Notícia! Deus fiel é solidário com a huma-
nidade e a humanidade pode tomar novo rumo. À glória de Deus é
que a humanidade toda viva, é ação concreta repercutindo na Terra,
trazendo a paz para todos.
Esta noite nos conduz às fontes de nossa fé. Noite de luzes, cores,
cheiros, sons, cantos e diálogos. Jesus nasceu em Belém, casa do pão,
e foi rodeado por pobres, pastores, animais... Na marginalidade, o
Filho de Deus tornou-se um de nós, fez-se criança, entrou na His-
tória da humanidade e no mundo criado... À Palavra de Deus fez-
-se gente pequena, em um lugar pequeno, entre pequenos, para ser
o Emanuel, Deus conosco para sempre. Nasce Jesus, insignificante
ante os olhos da força cínica de Herodes e força endeusada do impe-
rador de Roma; reconhecido apenas pelos que não tinham poder na
terra, mas que estavam atentos aos sinais de Deus.

Jesus nasceu de Maria, no seio de um povo sofrido e dominado, em


lugar e em época bem concretos. Se falarmos apenas em Jesus que nasce
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

em nossos corações, em nossas famílias, a encarnação poderá tornar-se


uma abstração, ou um sentimentalismo individualista e barato.
O Natal manifesta a irrupção de Deus na história humana com a
seriedade de sua fidelidade às promessas de restauração de suas cria-
turas desviadas do projeto fundamental do Pai. Natal da pequenez e
do serviço, rompendo e exigindo rompimento com o poder de domi-
nação e prepotência do homem sobre pessoas e povos marginalizados
e sucumbidos pelas botas do opressor. O verdadeiro Natal exige rom-
pimento com o cheiro dos palácios, muitas vezes mofados. Ele nos
pede aliança, proximidade com o cheiro do presépio, das ovelhas, das
favelas, das periferias, das matas, da terra, das águas... Compromisso
de transformação de tudo isto em nova criação, sonhada por Deus.
Não é possível separar Natal e realidade atual; fé cristã e história
humana; encarnação do Filho amado do Pai, mas filho de Maria,
na pequenez. Nossa fé leva-nos à luta cotidiana para que o cheiro do
presépio e das ovelhas chegue ao palácio dos imperadores de hoje, à
casa de Herodes, traidor do povo e da história da salvação.
O Missal da assembleia cristã, nos diz:
“Deus veio a este mundo como uma criança; com uma voz fraquinha, fácil
de sufocar... Sufocam-no, fazendo do Natal a festa da sociedade de consumo,
do esbanjamento... dos presentes e das decorações luminosas... champanhes
e panetones... sentimentalismo com verniz de generosidade e emoção...
Outros sufocam o Deus-Menino impedindo-o de crescer: Deus permanece
criança por toda a sua vida; uma frágil estatueta de terracota, relegada a
uma caixa, que se coloca no presépio uma vez por ano; é preciso um pretexto
para dar certa aparência religiosa e esse natal pagão. Às palavras que essa
criança trouxe à humanidade não são ouvidas; são exigentes e inoportunas,
enquanto um cristianismo adocicado é muito mais cômodo."
Que Boa Notícia a Palavra de Deus nos diz neste momento?
Qual é a esperança que se firma em nosso coração?

4 Missal Dominical — Missal da assembleia cristã. São Paulo: Paulus, 1995. p. 80.
a Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Toda a celebração é hoje profissão de fé, grande ato de adoração, hino
de louvor jubilosamente entoado pela salvação, que entra definitiva-
mente em nossa história e realiza, com todo o universo, a nova criação.
Agradecemos ao Pai por ter realizado, em Jesus Cristo, um ver-
dadeiro enlace nupcial com toda a humanidade. Terra e céu trocam
seus dons: Deus entra em nossa frágil humanidade tornando-a, em
Jesus, plenamente humana e, portanto, divina: “do tornar-se ele um de
nós, nós nos tornamos eternos...” divinos, cantamos num dos prefácios
do Natal. Realiza-se a misteriosa comunhão de vida com Deus, pela
qual somos chamados, e realmente somos seus filhos e filhas. “És o
meu Filho, eu hoje te gerei” ouvimos do Senhor na antífona de entrada.
Esta boa e alegre notícia, Palavra viva, Verbo feito gente, torna-
-se na ceia eucarística, corpo doado para a vida do mundo, nos sinais
sensíveis do pão e do vinho que compartilhamos em ação de graças
ao Pai, pedindo-lhe “participar da divindade daquele que uniu a ele, a
nossa humanidade” (oração sobre as oferendas).
Pela participação na Eucaristia, vivemos o sentido profundo do
Natal: O Verbo se faz carne em nós! Somos divinizados, constituindo
com ele um só corpo, uma só realidade.

Sugestões para a celebração


1. Natal é a festa da luz. Será oportuno valorizar o Círio Pascal
na Vigília do Natal. Isso ligará mais a festa do Natal à festa da
Páscoa.

Celebração da Luz para o início da celebração da noite:


(No meio da igreja, uma jovem vestida de branco ou amarelo, acende o círio
dizendo:)

Voz 1 - Hoje nasceu para nos o Salvador do mundo. Brilhou em


nossa noite a claridade da verdadeira LUZ.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estracla e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

(A assembleia canta) A luz resplandeceu / Em plena escuridão.


/ Jamais irão as trevas, / Vencer o seu clarão.
(Outras velas, colocadas em vários pontos do local da celebração, vão se
acendendo, enquanto as vozes continuam proclamando):

Voz 2 - Um Salvador nasceu para nós!


Voz 3 - Que se despertem todos os que dormem!
Voz 4 - Que se levantem todos os encurvados da terra!
Voz 5 - Que haja um justo julgamento para os que matam e oprimem!
Voz 6 - Porque o Sol da justiça resplandeceu!
Todos (cantando): A luz resplandeceu...
Voz 1 - Que todos os povos caminhem para a claridade de sua LUZ!
(4 luz das velas, uma pessoa canta o Anincio Natalino (cf. Diretório de
Liturgia, p. 40) como segue.

Solene proclamação do Natal


Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo e fez o
homem (e a mulher) à sua imagem:
— séculos depois de haver cessado o dilúvio, quando o Altíssimo fez
resplandecer o arco-íris, sinal de aliança e de paz;
— vinte e um séculos depois do nascimento de Abrão, nosso pai;
— treze séculos depois da saída de Israel do Egito sob a guia de
Moisés;

— cerca de mil anos depois da unção de Davi como rei de Israel;


— na septuagésima quinta semana da profecia de Daniel;
— na nonagésima quarta Olimpíada de Atenas;
— no ano 752 da fundação de Roma;
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum - Ano A - São Mateus

no ano 538 do edito de Ciro autorizando a volta do exílio e a


reconstrução de Jerusalém;
no quadragésimo segundo ano do império de Cesar Otaviano
Augusto, enquanto reinava a paz sobre a terra, na sexta idade do
mundo.

Jesus Cristo Deus Eterno e Filho do Eterno Pai,


Querendo santificar o mundo com a sua vinda, foi concebido por obra
do Espírito Santo e se fez homem;

Transcorridos nove meses nasceu da Virgem Maria em Belém de Judá.

Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana.

Venham, adoremos o Salvador.

Ele é Emanuel, Deus conosco.

(acendem-se todas as luzes)

Segue o canto do Glória


2. Há deste “Anúncio” uma versão mais inculturada, feita por
Marcelo Barros, no subsídio GUIMARÃES, M.& CARPA-
NEDO, P. Dia do Senhor, Ciclo do Natal, ABC Apostolado
Litúrgico & Paulinas, e Música com adaptação do gregoriano
feita pelo Frei Telles Ramon, O. de M. São Paulo, 2002.(Coleção
Liturgia no caminho. Série Dominical e Santoral).

Valorizar hoje: presépio, flores, luzes, estrelas, vestes brancas ou


coloridas, dança e uma alegre confraternização, depois da cele-
bração, com toda a comunidade.
O canto do Glória, retomando o alegre anúncio dos anjos, pode
ser acompanhado de uma coreografia feita por um grupo de
crianças e ao som de sinos, onde houver.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estradla e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

5. Durante o canto de aclamação ao evangelho, o livro da Palavra


pode ser acompanhado de luzes e incenso. À proclamação seja
feita de tal maneira que a comunidade viva a experiência da
encarnação do Verbo, Palavra que é o próprio Cristo, recebendo
acolhida na assembleia reunida, seu Corpo.

6. Dar maior destaque ao rito eucarístico: cantar o prefácio esco-


lhido, o Santo, as aclamações da Prece Eucarística, Amém final,
o Pai-nosso e o Cordeiro de Deus.

7. Na celebração da Palavra, onde não houver Missa, após o rito da


Palavra, cantar a louvação do Natal sugerida no Hinário Litúr-
gico 1, CNBB, p. 74.

8. E importante que a comunhão seja feita sob as duas espécies por


toda a comunidade.

9. Bênção especial para as crianças e solene, para todo o povo, como


sugere o Missal Romano, p. 520.
No final, seguir em procissão até o presépio, onde se entoam
músicas populares de Natal ou cantos de folia, conforme o
costume da comunidade.

Missa DA AURORA — Isaías 62,11-12;


Salmo 96/97; Tito 3,4-7; Lucas 2,15-20

“MARIA, PORÉM, GUARDAVA TODAS ESTAS COISAS,


MEDITANDO-AS NO SEU CORAÇÃO.”

Somos transformados pela luz!

O profeta Isaías se dirige aos habitantes de Jerusalém, anunciando a


salvação de Deus. Deus chama seu povo do exílio e o adota como seu
povo santo, não por que o povo mereça, mas por que essa é a sua vontade.
À cidade terá seu nome mudado para 'Desejada” e não mais abandonada.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

O Salmo 96/97 traz uma teofania e o povo celebra a santidade


do Senhor. Jesus encarna a justiça de Deus que faz acontecer o Reino.
Proclamemos a universalidade da realeza de Deus e da luz que ele faz
surgir para nós.
À manifestação do Senhor é unicamente fruto de sua bondade e
misericórdia, nos diz a 2º leitura. Fomos salvos por pura gentileza de
Deus e não por nossas obras que consideramos justas. Deus quer nos
tornar seus filhos por pura graça. O Batismo nos torna, na esperança,
herdeiros da vida perene.

Os pastores que vão a Belém mostram o aprofundamento da fé:


o anúncio dos anjos, a meditação entre si sobre o acontecimento reve-
lado, o encontro com o Messias. Maria e José dão testemunho do
que viveram e todos ficam maravilhados. À experiência dos pastores
atinge a própria mãe Maria, que guardava tudo isto em seu cora-
ção. O evangelho termina com o louvor por tudo que tinham visto
e ouvido.

Missa DO Dia — Isaías 52,7-10; Salmo 97/98;


Hebreus 1,1-6; João 1,1-18
“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua
glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de
verdade.” (Jo 1,14)
O evangelho que ouvimos hoje constitui o prólogo do quarto
evangelho. É um hino, cujo sujeito é a Palavra (verbum, logos, dabar).
O evangelho de Marcos começa com o batismo de Jesus. Os evan-
gelhos de Mateus e Lucas apresentam a genealogia de Jesus, logo no
início. João remonta a um princípio anterior à criação: a Palavra está
antes de tudo. À Palavra é o sujeito que age. No prólogo de João,
a Palavra é uma pessoa, Jesus (cf. 1Jo 1,1) “No princípio” — assim
como começa o livro do Gênesis. Podemos dizer que os sinóticos
fazem uma bela fotografia de Jesus; o evangelho de João faz uma
radiografia, porque nos convida a penetrar no mistério de Deus a
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). B

partir de outra profundidade. A força de comunicação é própria da


Palavra de Deus.
A Palavra possui o significado de Sabedoria personificada e
razão do universo. O Logos, misterioso a princípio, vai se identifi-
cando com Jesus Messias, pela encarnação. Ele é o mediador da reve-
lação de Deus (v. 18).
A Palavra estava junto de Deus e armou sua tenda em nosso
meio, por sua encarnação, fez-se gente como nós, para nos ensinar
a ser mais divinos, como o Pai. Deus não é mudo; não permaneceu
calado, dentro de seu mistério. Quis falar, comunicar-se conosco.
Veio nos dizer palavras de amor e nos explicar seu projeto. Jesus, o
Messias, é o projeto de Deus que se fez um de nós. Não há mais dis-
tância entre Deus e nós. Jesus é, em pessoa, aquilo que Deus sonhou
para toda humanidade: salvação, paz, bem, boa notícia, cantos de
alegria, compaixão e redenção. No rosto de Jesus, conhecemos o
rosto de Deus. Jesus é a fonte e o caminho para nos aproximarmos do
mistério que é Deus. O Pe. José A. Pagola, em seu livro “O Caminho
aberto por Jesus”, escreve que “Jesus é o rosto humano de Deus. Tudo
se torna mais simples e mais claro. Agora sabemos como Deus nos
olha quando sofremos, como nos busca quando nos perdemos, como
nos entende e perdoa quando o negamos. Nele nos é revelada 'a graça
e a verdade de Deus.”

5 PAGOLA, José Antônio. O Caminho aberto por Jesus: João/ Tradução de Lúcia Mathilde
Endlich Orth. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. P. 18-19.
FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

28 de dezembro de 2013

“FELIZ QUEM TEME O SENHOR E ANDA EM SEUS CAMINHOS."

Leituras: Eclesiástico 3,3-7.14-17a; Salmo 127(128);


Colossenses 3,12-21: Mateus 2,13-15.19-23

Situando-nos brevemente
É bastante recente a origem da festa da sagrada família. Bento XV
determinou sua celebração a toda a Igreja em 1921, fixando-lhe o domingo
dentro da oitava da Epifania. No entanto, com a reforma do calendário
romano, passou a ser celebrada no domingo dentro da oitava do Natal,
deixando a data anterior para a festa do Batismo do Senhor. Caso não
haja domingo dentro da oitava, celebra-se no dia 30 de dezembro.
O sentido desta festa afina-se com o sentido teológico do Natal/
Epifania, ou seja, é manifestação do Senhor, na realidade familiar,
como consequência de sua encarnação: veio para fazer parte da famí-
lia humana, vivendo na obediência e no trabalho de uma família con-
creta, com todas as suas tensões e contingências, alegrias e dramas. A
família de Nazaré, única e irrepetível, é indicada como modelo para
qualquer família cristã.
Na perspectiva da encarnação, o mundo e a humanidade tor-
nam-se também a família sagrada de Deus, lugar de comunhão e de
fraternidade universal.
Celebrando a Sagrada Família, valorizamos a vida de nossas
famílias com suas alegrias e sofrimentos, conquistas e conflitos,
como santuário da vida, lugar privilegiado da vivência da gratui-
dade, do amor, do perdão, do exercício de relações verdadeiras, da
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

prática da misericórdia, da partilha e da solidariedade, sacramento


do mundo novo.
Nesta celebração, o Pai nos convida a entrar no mistério sempre
atual da Encarnação do Filho, hoje, na realidade de uma família.
Convida-nos a assumir o caminho de Jesus, como Maria e José, que
acolheram seu destino e foram fiéis a Deus mesmo dentro das vicis-
situdes e dificuldades da vida.

Recordando a Palavra
O evangelho de Mateus apresenta José como o pai em sua missão de
salvar a família. Ele enfrenta graves problemas e, com presteza, ainda
durante a noite, os resolve, executando as ordens divinas. José e sua
família, perseguidos e fugindo da morte, vão para o Egito. Assim
agindo estão refazendo a caminhada do povo de Deus. Cumprindo
as Escrituras, pai e mãe levam o filho a realizar o mesmo destino de
Moisés (cf. Ex 2,1-9). O Egito foi o tradicional lugar de refúgio e asilo
do povo (cf. 1Rs 11,40; Jr 43). Chama a nossa atenção a ordem em
que são colocadas as personagens: “pega o menino e a mãe”, “pegou
o menino e a mãe”, “toma o menino e a mãe”; “Levantou-se, pegou o
menino e a mãe e se dirigiu para Israel.” Mesmo que o menino não
fosse o Messias, a defesa do inocente, do pequenino, do indefeso está
em primeiro lugar. Também nos alerta a atenção que esta família
dedica à Palavra de Deus — um sonho é acolhido como uma ordem
de Deus — e a atenção à palavra profética: Oseias 11,1 — “Do Egito
chamei o meu filho” Conforme o evangelho de Mateus, Jesus é o
novo Moisés que salva seu povo.
À primeira leitura trata das relações familiares e traz uma explica-
ção de Ex 20,12 e Dt 5,16: “Honra teu pai e tua mãe, como o Senhor
teu Deus te ordenou, para que vivas por longos anos e sejas feliz na
terra que o Senhor teu Deus te dará...” O Eclesiástico enumera alguns
aspectos da relação entre pais e filhos que Deus recebe como feitos a si:
honrar, consolar, socorrer, não entristecer, ter piedade, compadecer-se
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

— sofrer junto deles, não desprezá-los quando os pais ficarem idosos.


Os efeitos desse comportamento são bênçãos que nos ajudam à har-
moniosa realização humana e religiosa. À observância do 4º man-
damento, que é o primeiro da segunda tábua da Lei, nos fará felizes,
bem-aventurados, porque teremos o respeito dos filhos, longa vida,
perdão dos pecados, certeza de sermos ouvidos nas orações, conquista
de um grande tesouro e não sermos esquecidos por Deus.
O respeito para com os pais se baseia no respeito à vida e, em
especial, âqueles que geraram a vida e, particularmente respeito a
Deus, autor da vida e sua fonte primeira.
O Salmo 128(127) é sapiencial e baseado na Lei, especialmente
de Deuteronômio, traz uma proposta concreta de felicidade e de bên-
ção. Enquanto a pessoa dorme, Deus vigia e age, dando também
fecundidade aos campos e à humanidade. Com a fé em Jesus Cristo
a confiança em Deus adquire um tom íntimo e cordial. Jesus apre-
sentou outra proposta de felicidade expressa nas Bem-aventuranças
tanto em Lucas 6,20-26, como de Mateus 5,3-12.
A segunda leitura é da carta aos colossenses e retoma a catequese
sobre as relações humanas em todas as suas dimensões, em espe-
cial no âmbito familiar. O apelo é nos revestirmos do evangelho, da
caridade, roupagem do seguimento de Jesus: compaixão, bondade,
humildade, mansidão, longanimidade, sendo suporte para os irmãos
com amor e perdão; como fomos perdoados devemos perdoar. Fomos
chamados a ser um só corpo, uma só família em Cristo Jesus. Paulo
ensina que conviver com os outros requer humildade, acolhida mútua,
paciência. O amor é o vínculo que nos une e nos leva à perfeição.

Atualizando a Palavra
À palavra de Deus nos convida à transformação das relações pessoais,
familiares, comunitárias, sociais e cósmicas. À família está inserida
no contexto sociopolítico-econômico-ecológico, assim os problemas
sociais, políticos, econômicos, ambientais a atingem e recaem sobre ela.
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Injustiças, violência, desemprego, salário baixo, competição


desmedida, falta de comunicação verdadeira entre as pessoas,
exploração de gênero, desmatamento, poluição das águas e do ar
atingem a família e, por isso, fazem parte do projeto de vida familiar.
Entretanto, romanticamente, ainda existem pessoas que querem
resolver problemas familiares, como se fossem problemas internos,
desligados do mundo atual, caindo assim no reducionismo ingênuo,
somente psicológico, sem questionamento das raízes mais profundas.
Existem até pastorais que se dedicam apenas a encontros desligados
da realidade global.
À carta de Paulo aos colossenses pode ser para nós o sério apelo
de Deus para uma mudança radical no modo de viver: revestir-se
de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciên-
cia, sendo suporte uns para os outros, perdoando uns aos outros e
pedindo perdão, quando for necessário. Acima de tudo “amem-se
uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição.” Para vivermos
o que a carta aos colossenses nos diz, é necessário cultivar o diálogo,
o respeito, a compreensão e a ajuda mútua; aceitar as atribuições de
cada membro da família; viver a obediência responsável; ter capaci-
dade de confrontar a vida com o projeto de Deus.
Para nós, a sagrada família de Nazaré é o modelo de família
humana. Era uma família vivendo uma situação especial dentro da
história da salvação, composta de pessoas muito amadas e escolhidas
por Deus, cada qual vivendo a fidelidade ao chamado do Senhor. As
famílias de hoje também são convocadas a serem as sagradas famílias
do século XXI.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A assembleia reunida é expressão, sinal de nossa caminhada com
o Senhor, do desejo de trilharmos seus caminhos e vivermos como
irmãos, numa família sagrada, unidos pelos laços do amor, vínculo
da perfeição.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A - São Mateus

Como membros de um só corpo com Cristo, rendemos graças ao


Pai do fundo de nossos corações, como nos motiva a segunda leitura.
Neste encontro dominical, à mesa da grande família, superando
possíveis diferenças, crescemos pela sabedoria e pela força que vêm a
nós da Palavra e do Pão partilhados, até chegarmos à maturidade de
Corpo eclesial de Cristo, capazes de fazer sempre a vontade do Pai.
Diante da situação cada vez mais desafiadora, inquietante, cheia
de tensões e riscos em que vivem nossas famílias, suplicamos ao Pai,
que lhes conceda o critério supremo do amor, do exercício da com-
paixão e do diálogo, verdadeira fonte da união e da paz.

Sugestões para a celebração


1. Valorizar, na procissão de entrada, famílias, as quais podem
exercer alguns ministérios nesta celebração.
2. À Liturgia da Palavra, preparada com antecedência, tenha a
participação especial da família. À 12 leitura, quanto possível, seja
feita por um(a) jovem. À 2º leitura pode ser feita por um casal.

3. O prefácio de Natal III canta a dignidade da natureza humana.


4. No rito eucarístico, cantar o prefácio, o Santo, as aclamações, o
Amém final da Oração Eucarística e o Cordeiro de Deus.
5. Na oração do Pai-nosso, que pode ser cantada, fazer, ao redor do
altar, uma grande corrente, dando as mãos, formando a grande
família de Deus.

6. Dar destaque especial ao abraço da paz.


7. À comunhão seja feita sob as duas espécies. Onde for possível,
no final, fazer uma pequena confraternização, considerando as
crianças e as pessoas que não participam do pão eucarístico.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

8. Bênção especial, com a imposição das mãos, sobre as famílias


presentes e oração própria. Em seguida, abençoar toda a comu-
nidade com a fórmula própria do Iempo do Natal (cf. Missal
Romano, p. 520).
Sugestão para a bênção das famílias: (estendendo a mão sobre as
famílias)
D- Nós vos bendizemos, Senhor nosso Deus, pois quisestes que o vosso Filho
feito homem participasse da família humana e crescesse em estreita intimi-
dade familiar, para conhecer as aflições a provar as alegrias de uma família.

Senhor, nós vos rogamos humildemente por estas famílias; protegei-as e


guardai-as, para que, confortadas com o dom de vossa graça, gozem paz
e harmonia e deem, no mundo, testemunho de vossa glória, agindo como
verdadeira Igreja doméstica. Por Cristo nosso Senhor. Amém!
SANTA MARIA, MÃE DE DEUS

1º de janeiro de 2014

“QUANDO SE COMPLETOU O TEMPO PREVISTO, DEUS ENVIOU SEU FILHO,


NASCIDO DE MULHER...

Leituras: Números 6,22-27; Salmo 66(67);


Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21

Situando-nos brevemente
Celebrando hoje, oitava do Natal, a Solenidade de Santa Maria, Mãe
de Deus, recordamos o dia em que o Menino recebeu o nome de Jesus,
que quer dizer “só Deus salva” e Senhor da Paz. O significado de seu
nome nos introduz no mistério do Cristo: da encarnação ao nascimento,
à circuncisão, até a realização pascal da morte e ressurreição. Ele é dom
de salvação e paz para todos. Em seu nome somos salvos!
Neste “Dia Mundial da PAZ”, iniciando um novo ano, no
mundo inteiro, a paz é desejada, suplicada como sinal da bênção e
da proteção permanente de Deus. É, em nome de Jesus, a pleni-
tude da bênção, que invocamos toda sorte de bênção para o novo ano
que começa.
Fazemos isto junto com Maria, que participou do mistério da
vinda do Salvador, Jesus Cristo, que nasceu humano através dela,
como a maior bênção de Deus para toda a humanidade.
Com os irmãos orientais, também honramos “Maria sempre
Virgem, solenemente proclamada santíssima Mãe de Deus, pelo
Concílio de Efeso, para que Cristo fosse reconhecido, em sentido
verdadeiro e próprio, Filho de Deus e Filho do homem.” (UR, n. 15)
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Nesta celebração, bendizemos a Deus pelo SIM de Maria e


nos comprometemos a ser uma bênção e portadores da paz para o
mundo. Que seja possível a superação dos conflitos, dos preconcei-
tos, da intolerância entre as nações, entre as famílias, entre as pessoas
e entre as religiões.

Com o ano novo, acolhemos um tempo de graça, de renovação


de nossos anseios, colocando a segurança de nossa vida em valores
que transcendem o tempo e a história. O amor, a alegria, a paz, a
concórdia são razões suficientes para sorrir e lutar, abrindo um hori-
zonte de esperança e de boas realizações.

Recordando a Palavra
Iniciamos o ano com Maria, mãe de Jesus, aquela que conservava
cuidadosamente todos os acontecimentos de salvação em seu coração,
meditando-os. Os pastores vão visitar o menino nascido em Belém e
contam tudo o que ouviram do Anjo sobre ele. Todos ficam maravi-
lhados e os pastores voltam glorificando e louvando Deus por causa
do que viram e ouviram.
No oitavo dia, levaram o menino para circuncidar e lhe deram o
nome de Jesus, conforme o anjo o chamou antes de ser concebido no
seio de Maria. Lucas salienta o rito da imposição do nome que indica
a função que a pessoa desenvolveria no meio do Povo da Aliança. O
nome hebraico que o menino recebe significa “O Senhor é salvação”,
“Deus salva”. À circuncisão (Gn 17,2-17; Lv 12,3) é sinal da promessa,
da aliança e tornou-se lei para Israel: “Assim trareis em vossa carne o
sinal de minha aliança para sempre” (Gn 17,13b). É o rito mediante o
qual o menino começava a fazer parte do povo eleito. Jesus nasce sob
a lei, mas não é a lei que salva. Seu nome diz quem é o salvador.
Para o povo israelita e todo povo semita, a bênção tem força para
produzir a salvação. Em Nm 6, Deus fala a Moisés para que transmita
as palavras de bênção a Aarão e seus filhos. Eles são encarregados de
abençoar os filhos de Israel. Essa missão passa aos sacerdotes, ao rei e
Roteiros Homiléticos do Tempo do Aclvento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

aos levitas que abençoavam o povo na festa do Ano Novo (Yom Kipur),
invocando três vezes o nome do Senhor. À bênção se fundamenta na
crença na força e na eficácia da palavra. À imposição do nome do Deus
da Aliança era atualização da própria Aliança, com suas promessas e
exigências, realizando a própria vinda de Deus com o dom da salvação.
Para o israelita, o nome significa a presença da própria pessoa.
À bênção é de uso litúrgico e se assemelha à linguagem dos sal-
mos. Três vezes o nome do Senhor é invocado. O bem que se pede é
a paz (shalom). Esse dom se concretiza pelas três fórmulas de augúrio
que acompanham o nome de Deus, exprimindo: a) (v.24) a bênção
e a proteção: a bênção é fonte de vida e a proteção traz segurança; o
Senhor é teu vigia; b) (v.25) a graça e a amizade: presença amiga de
Deus que mostra um rosto sorridente e luminoso; c) (v.26) o aco-
lhimento e o dom da felicidade: Deus mostra o rosto para um olhar
benevolente e acolhedor; e oferece seu shalom, a paz que é o estado de
felicidade plena e bem total.
No evangelho, o nome “Deus que salva” foi dado a Jesus. Ele é a
bênção do Deus que salva a humanidade.
“Que Deus nos dê a sua graça e a sua bênção.” O Salmo 67(66)
é ação de graças coletiva. É uma variação ampliada, um comentário
da bênção canônica de Nm 6,24-26. O povo agradece a Deus após a
festa da colheita, e reconhece que ele é o Senhor do mundo. Deus é o
Deus da Aliança para todos os povos da terra. Ele julga a terra com
justiça e retidão e nos dá sua bênção, fazendo a terra produzir frutos
e sua salvação chegar a todas as nações.
À carta aos gálatas nos diz que o Filho de Maria nos resgata da
lei e nos torna filhos. À maior bênção de Deus Pai é seu filho Jesus,
nascido de Maria, na plenitude do tempo messiânico, coroamento
da esperança longamente guardada pelo povo. Nasceu submisso à
Lei, como sua mãe, para que nos tornássemos filhos do mesmo Pai.
Tornando-nos filhos, Deus enviou-nos o Espírito de seu Filho para
que possamos clamar ao Senhor, como Jesus fez: 4bba! Paizinho!
Não somos escravos, mas filhas, filhos e herdeiras/os. Graças a Deus!
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). BR

Atualizando a Palavra
Ão celebrar a festa de Maria, ouvimos a Palavra de Deus que anuncia
nossa filiação divina, nos manda abençoar todo o povo e aprender
dos pobres que encontram, na simplicidade de Maria, em José e no
recém-nascido, a Salvação vinda de Deus.
Os pobres estariam na “plenitude dos tempos”, mais bem dispostos a
acolher o Filho de Deus, nascido de uma mulher? Em nossa experiência
de fé na América Latina, descobrimos que os pobres nos evangelizam.
Em muitas etapas da história do cristianismo, a fé popular foi mantida
porque mulheres e homens pobres continuaram sabiamente anunciando
a salvação gratuitamente oferecida a nós. Hoje ainda são os mais pobres
e simples que mantêm e anunciam a fidelidade à Palavra de Deus.
Deus santificou em Maria a maternidade, quando o Filho assu-
miu a humanidade. Deus experimentou a realidade íntima da mater-
nidade na criação de tudo o que existe e de forma especial ao enviar o
Messias Jesus. À maternidade é capaz de receber Deus. Deus conhece
por dentro o mistério da maternidade.
Maria é imagem da comunidade-mãe que medita e interioriza o
mistério pascal. É essa a nossa mãe. Fomos educados por ela e cui-
dadosamente também guardamos a datar (acontecimento) de Deus
como parte de nossa vida como ela guardava? Temos, diariamente,
algum tempo de meditação que torne nosso coração despojado, fiel e
comprometido com o plano da salvação?
O evangelho que ouvimos salienta mais a imposição do nome a
Jesus, que o rito da própria circuncisão. O nome indicava a função que
a pessoa iria desenvolver no meio do Povo da Aliança. Conforme a lei,
devido à sua circuncisão no oitavo dia, Jesus é integrado à comunidade
judaica. Torna-se cidadão, política, social e religiosamente; verdadeiro
representante da humanidade. Como pertence a um povo, pode ser seu
representante. Deus escolhe seu nome e seus pais assumem a vontade
do Pai Eterno. Jesus é o realizador da salvação e quem o segue torna-se
herdeiro desse nome, recebendo também a missão de dedicar a vida à
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

salvação de tudo o que está perdido. Deus não nos ama abstratamente,
mas através de pessoas, comunidades e situações concretas.
Como Jesus, podemos ser bênção de Deus que salva? Come-
çando este ano vamos nos comprometer em restabelecer a tradição
judaica da bênção entre nós. Em muitas famílias ainda há essa cul-
tura preservada com muita seriedade e fé. A bênção é sempre de
Deus que nos guarda, nos ilumina, que é bondoso conosco, que nos
mostra sua face de Pai e nos dá a paz. Podemos ser portadores desses
dons em nome do próprio Deus. À paz cultivada e desejada abrange
todos os bens e dons, abundantemente derramados sobre todos nós.
Somos filhos e herdeiros de Deus; não somos escravos, e podemos
clamar como Jesus: “4bba! Pai!” Chamamos Deus de Pai e vivemos
como filhos. Reconheçamos, então, que não somos filhos únicos, mas
temos irmãs e irmãos que, como nós, precisam da bênção e da paz.
Maria, portadora de Deus, é exemplo da comunidade cristã que
aceita a boa-nova. Ela é modelo de quem acredita na vida, vencendo
a morte e a escravidão, destruindo o medo e as inseguranças. São os
pobres que acolhem Jesus nos braços de Maria. Aceitamos o projeto
de Deus que nos vem dos pobres e excluídos?

E necessário que a Igreja assuma a mesma postura da Virgem


Maria: exercitar a maternidade, deixando de ser controladora para
ser servidora e facilitadora da fé, cultivando uma “cultura do encon-
tro” com “o povo fiel de Deus”, povo, em sua grande maioria, sim-
ples, pobre, que sofre com a “cultura do descartável”. Assim diz o
papa Francisco em seu apelo.
Santo Ambrósio (século IV), dirigindo-se à sua comunidade
disse: “Todo o que crê se engravida e gera o Verbo de Deus em seu
coração... Se pela carne, uma só é a Mãe de Cristo, pela fé o Cristo é
fruto de todos!

6 GUIMARÃES, M.& CARPANEDO, P. Dia do Senhor, Ciclo do Natal, ABC. São Paulo:
Apostolado Litúrgico & Paulinas, 2002 (Coleção Liturgia no caminho. Série Dominical e
Santoral).176.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). EB

Confiemos à nossa Mãe Maria, Mãe de Jesus e da Igreja, o novo


ano que se descortina à nossa frente, como possibilidade de caminhar
conduzidos pela Palavra de Deus, ouvida, meditada, guardada na
mente, no coração e em nossa vida.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Na celebração, o Pai nos oferece a salvação em Jesus Salvador e nós
assumimos o cultivo da paz em nossa realidade marcada por tanta
violência, conflitos e guerras.
Com Maria, a humilde serva do Senhor e bendita no fruto de
seu frente, entre todas as mulheres, damos graças ao Pai que nos
cumula de bênçãos duradouras em seu Filho, Deus humanizado e,
por nós, morto e ressuscitado.
Participamos do mistério de sua manifestação, oferecendo-nos
com ele ao Pai, comungando de seu corpo e sangue e abrindo-nos
à ação solidária com nossos irmãos, sobretudo os mais pobres, os
pastores de hoje.

Sugestões para a celebração


1. Na procissão de entrada, além da cruz, das velas, do livro das
leituras, uma pessoa, vestida de branco, ou um grupo de crianças,
traz uma bandeira branca, símbolo da paz.
2. No final do ato penitencial, ou no abraço da paz, pode ser feito um
pequeno rito de paz: a pessoa, ou grupo que traz a bandeira, dança
em torno do altar, da estante da Palavra e no meio da assembleia,
enquanto todos cantam o seguinte canto, ou outro adequado:
“É bonita demais, é bonita demais!
A mão de quem conduz a bandeira da paz! (bis)
a. É a paz verdadeira que vem da justiça irmão
Éa paz da esperança que nasce de dentro do coração ! (bis)
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum —- Ano A - São Mateus

b. Ea paz da verdade, da pura irmandade do amor


Paz da comunidade que busca igualdade, ô, ô, ô (1 bis)
c. Paz é a graça presente na vida da gente de fé !
Paz do onipotente Deus na nossa frente, Deus ! (bis)

Quem anima ou preside, introduz este rito, lembrando que, no


mundo inteiro, neste dia, se reza pela paz. No final do rito, todos
se abraçam desejando a paz.
À bandeira pode ser movimentada também durante o canto do
Glória, nas aclamações, no canto do Santo, na bênção final ou
em outros momentos em que a comunidade achar oportuno. No
final da celebração, a bandeira sai pelo meio da assembleia.
Onde for possível, cada pessoa recebe, ao sair, uma flor, ou fita
branca, como sinal da paz recebida, a qual deve ser levada a todos,
durante o novo ano que se inicia.

Será bom conhecermos a mensagem de paz que, neste dia, o


Papa costuma enviar ao mundo inteiro.

O prefácio é próprio: “Maria deu ao mundo a luz eterna”. Nas


celebrações da Palavra, poderá ser cantada a louvação, com a
melodia da louvação do Natal, conforme sugere o Hinário Litúr-
gico 1, p. /4:
Dar destaque especial à bênção final, que pode ser cantada. O
Missal Romano, na p. 520, oferece uma oração de bênção própria
para esta celebração.
SOLENIDADE DA EPIFANIA
DO SENHOR

5 de janeiro de 2014

".. VIMOS A SUA ESTRELA NO ORIENTE E VIEMOS ADORÁ-LO.”

Leituras: Isaías 60,1-6; Salmo 71(72); Efésios 3,2-3a.5-6;


Mateus 2,1-12

Situando-nos brevemente
A manifestação do Salvador em nossa terra, em nossa realidade
humana, atingindo a todos sem discriminação é o grande mistério
que, sob diferentes aspectos, Natal e Epifania celebram.
No Natal, celebramos a encarnação do Filho de Deus e seu
nascimento no meio do seu povo. À Epifania, realçando a cami-
nhada dos magos guiados pela estrela, faz cair possíveis barreiras
e monopólios, confirmando a manifestação de Jesus Salvador e seu
Reino a todos os povos e nações. À antífona de entrada, inspirada em
M13,1 e em 1Cr 19,11-12 abre a celebração de hoje, nos introduzindo
na atmosfera deste mistério: “Eis que veio o Senhor dos senhores, em suas
mãos, o poder e a realeza.”
Tendo a Páscoa como núcleo central do ano litúrgico, neste dia,
após o evangelho, é feito solenemente o anúncio das festas pascais.
À páscoa de Jesus Cristo, que celebramos na Epifania, manifesta-
-se na busca espiritual que hoje se espalha por todo o mundo, na luta
pela paz, pela unidade e comunhão, pela preservação de terra. Como
peregrinos na fé, nos unimos com toda a humanidade que enfrenta o
cansaço do caminho e vive a busca contínua de um sentido para a vida
No Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

e para suas contradições. Hoje somos convocados a uma comunhão


universal com todos os povos, com os diferentes jeitos de adorar a
Deus e buscar a libertação, a dignidade e a paz, a partir dos pobres.

Recordando a Palavra
O evangelho de hoje narra a visita dos magos do oriente a uma casa
onde se encontram Jesus e sua mãe. Herodes Magno é rei da Judeia.
Por ser estrangeiro, é visto como ilegítimo por parte da população.
Para ele, Jesus é um rival perigoso que deve ser eliminado. Contras-
tando com Herodes estão os magos do oriente. Rejeitado por Herodes
e seu povo, Jesus é aceito pelos pagãos representados pelos magos, que
provavelmente são sábios, sacerdotes persas, mágicos, astrólogos da
região do atual Iraque, antiga Babilônia. Importante é que eles eram
conhecedores das tradições judaicas. Chegam a Jerusalém, pergun-
tando pelo rei dos judeus recém-nascido, pois viram sua estrela e
vieram homenageá-lo. Herodes tremeu e, com ele, toda a Jerusalém
ligada ao poder. Ele conhecia a esperança messiânica do povo e a
temia como ameaça a seu poder político.
Sumos sacerdotes e doutores foram indagados sobre onde deve-
ria nascer o Messias. Eles citam o profeta Miqueias 5,1: “Mas tu,
Belém de Efrata, pequenina entre as aldeias de Judá, de ti é que sairá para
mim aquele que há de ser o governante de Israel.” À profecia de Miqueias
opõe a humilde aldeia de Belém à capital, Jerusalém.
O rei Herodes se informa sobre o tempo em que havia aparecido
o astro, recomendando que os magos lhe enviassem informações para
que também ele pudesse homenagear a criança. Os magos partiram e
a estrela os conduzia, motivo de imensa alegria. Entraram em casa e
viram o menino com a mãe Maria. Não é uma gruta, ou sala de pere-
grinos, ou um dormitório. É uma casa. Não se menciona José. Na
tradição bíblica, a mãe do rei ou do herdeiro tem papel importante
(cf. Sl 45,10). Os magos prostraram-se, homenagearam a criança e
lhe ofereceram ouro, incenso e mirra, reconhecendo sua dignidade
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). R

como rei, Filho de Deus e ser humano. Avisados para não retorna-
rem a Jerusalém, voltaram para o oriente por outro caminho, impe-
dindo os planos de Herodes.
O evangelho mostra o sentido universal do nascimento de Jesus.
Ele é o Rei-Messias, salvador anunciado pelos profetas do Primeiro
Testamento. Este texto opõe Herodes a Jesus Menino. Para Hero-
des, Jesus é um rival perigoso, a ser eliminado por ser o anunciado
descendente do Rei Davi. À astúcia de Herodes é vencida pela luz da
estrela e pela fidelidade dos três estrangeiros.

Isaías 60, 1-6 é um belo poema sobre a luz e a glória do Senhor.


Terminou o exílio da Babilônia e Jerusalém começa, humildemente,
a se erguer das ruínas. Está ainda mergulhada na noite. O povo não
tinha muitas perspectivas. O profeta anuncia uma palavra de espe-
rança de que ela será iluminada de maneira definitiva. Encontrará
os filhos e também uma multidão de estrangeiros. Os filhos vêm
de longe e as filhas trazidas nos braços. Uma peregrinação de povos
acorre a ela. Muitas palavras tentam definir a luz: é uma aurora,
sem ocaso, amanhecer, resplendor, radiante. Haverá muita alegria, o
coração se dilatará, receberá as riquezas dos povos. Uma multidão de
camelos e dromedários vem de Madiã, Efa, Sabá, trazendo incenso,
ouro e proclamando os louvores do Senhor, referindo-se a povos ára-
bes, estrangeiros do leste do Golfo de Ácaba, da Arábia Saudita. O
profeta entrevê o futuro de reconstrução. Será iluminada, reencon-
trará seus filhos e uma multidão de estrangeiros, que encherão seu
templo de bens preciosos e de oferendas.

Amanhece o dia: trabalhos de reconstrução, acumulação de


tesouros. Triunfam a paz e a justiça. O dia passa, mas a noite não
chega: começou o dia sem fim, de luz e vida, justiça e fecundidade,
porque a glória do Senhor se levantou sobre a cidade. Jerusalém deve
despertar da noite do exílio e ver, com alegria, a chegada das nações
cantando louvores a Deus. O Novo Testamento mostra que a profe-
cia se cumpriu em Jesus.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum - Ano A — São Mateus

O Salmo 71(72) tem, na pessoa do rei, o centro das atenções.


Pede-se que Deus lhe conceda capacidade de julgar com justiça de
acordo com o projeto de Deus. Os cristãos viram em Jesus um novo
rei capaz de agir conforme a vontade do Pai, único rei do povo: “Liber-
tará o indigente que suplica e o pobre ao qual ninguém quer ajudar.”
A carta de Paulo aos Efésios fala do desígnio eterno de Deus
de se revelar à humanidade. Esse mistério completou-se em Jesus, o
Messias: chamar a si toda a humanidade, judeus e não judeus. Deus
revelou-se no momento presente pelo Espírito: os pagãos são admi-
tidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo e associados
à mesma promessa em Jesus Cristo. Somos chamados a ser filhos
herdeiros de Deus, participando do Corpo de seu filho Jesus. Fala
do “mistério” que é o desígnio eterno de Deus realizado em Jesus e
dirigido a todas as pessoas.

Atualizando a Palavra
O mistério de Deus, seu plano salvífico manifestou-se plenamente,
em Cristo, a toda humanidade. Mistério não significa enigma ou
problema insolúvel. É uma realidade que nos envolve e, por isso, escapa
à nossa compreensão total. À Epifania, como mistério, nos atinge,
fazendo desaparecer todos os nossos fechamentos e individualismos,
afirmando que Jesus veio para todos os povos e todos os tempos.
São Paulo nos fala daquilo que agora foi dado a conhecer em
Cristo: todos chamados a ser discípulos de Jesus, todos podem parti-
cipar da herança, devem formar o mesmo corpo, participar da mesma
promessa. Isto é Epifania! A manifestação total de nosso Deus em
Jesus, o Messias. Faz-nos sentir caminheiros na fé, junto com toda a
humanidade que enfrenta os dissabores da caminhada. À fé não é um
assunto particular, mas leva à comunicação e à vivência comunitária,
na busca contínua de um sentido para a vida e suas contradições.
À estrela indica um caminho alternativo, um caminho que não
passa pelo conhecimento dos grandes, nem pelos palácios, mas pelo
“O Senhor nos vai mostrar a sua estracla e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

discernimento dos pequenos e fracos, o caminho que nos leva ao


Menino de Belém.
À revelação aos magos vindos do Oriente é a manifestação de
Deus aos pagãos. Ela revela também a abertura e a procura de quem
sempre esteve à margem da história do povo, que se considerava povo
eleito e único escolhido por Deus. À aliança enlaça toda humanidade
e a ninguém discrimina.
O encontro dos magos com Jesus os fez retornar por outro cami-
nho. Mudou a vida deles. O nosso encontro com o Senhor também
deve nos levar a tomar novos caminhos, provocar uma transforma-
ção em nossas vidas. A mudança de rota é, na Bíblia, símbolo da
conversão. Que mudanças a Palavra de Deus exige de nós, hoje?
Certamente são novas trajetórias pessoais, familiares, comunitárias,
socioeconômicas, políticas, ecológicas para não expor nenhuma vida
inocente à sanha dos Herodes de hoje.
Viver a epifania é assumir o evangelho e a prática de Jesus Cristo
como estrela guia, regra de vida, luz que ilumina toda nossa vida e
caminhada na história, acalenta os que a recebem e desmascara os
hipócritas. Nossa missão é manifestar Jesus ao mundo através de sua
mensagem e de sua maneira de ser. O que pensar de “cristãos” que
propagam curas, nomes de santos, sucesso de pessoas, em vez de se
colocarem a serviço da manifestação de Jesus Cristo e seu evangelho?
“Todos os caminhos levam a Deus e Deus visita os seus em
suas próprias histórias. Todos estão em busca daquela energia que
se esconde no significado da palavra Cristo. Esse encontro com a
estrela produz hoje, como produziu ontem, alegria e sentimento de
integração. Haverá sempre uma estrela no caminho de quem busca.
Importa, pois, buscar com a mente sempre desperta aos sinais como
os reis magos.”

7 LEONARDO BOFTF. Espiritualidade. Em busca de uma síntese integradora: os três reis


magos - Terça-feira, 1 de janeiro de 2013 — 16 h 53 min por http://leonardoboff.wordpress.
com. São Leopoldo - RS - Brasil. CEP: 93121-970.
n Roteiros Homiléticos do Tempo do Aclvento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

Hoje, a Palavra de Deus propõe a unidade de todos os povos,


unidos como filhos de Deus, irmãos entre si, pela fé em Jesus Cristo.
Qual a boa notícia que esta Palavra traz para nós sobre a pessoa
de Jesus?

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Como povo celebrante, somos epifania da Igreja — cidade-luz: mistério
de comunhão, peregrina e convocada à fraternidade universal, ao
diálogo ecumênico e ao anúncio da boa-nova da salvação. Nossa
oração se alarga às dimensões do mundo, nos torna assembleia
solidária com todas as aspirações da humanidade.
Em profunda adoração, damos graças ao Pai porque, em Jesus,
ele se manifesta luz para todos os povos, “magos” de todos os tempos
que buscam a verdade, a justiça e a fraternidade e nos arranca da ten-
tação de fechar o mistério do Natal em determinado povo, cultura,
tempo ou lugar.
Participamos da manifestação pascal do Senhor, oferecendo
nossos dons, “não mais ouro, incenso e mirra, mas o próprio Jesus Cristo
imolado e recebido em comunhão nos dons que o simbolizam”, como reza-
mos na oração sobre as oferendas.
Com ele, por ele e nele, entregamos nossa vida a serviço da lógica
salvadora de Deus que passa pelos pobres e se coloca nas encruzilha-
das dos caminhos da história para todos que nelas peregrinam.
Reforçando a unidade entre a Palavra e a Eucaristia, a antí-
fona de comunhão repete o versículo de aclamação ao evangelho:
Vimos sua estrela no Oriente e viemos com presentes para adorar o Senhor
(cf. Mt 2,2)... “Nós vimos”! Como a experiência vivida pelos discípu-
los de Emaús, reconhecemos de maneira privilegiada, a manifestação
do Senhor, nos sinais sensíveis do pão e do vinho eucaristizados, para
encontrá-lo como os magos, no sinal sensível dos pobres, nas “perife-
rias humanas e existenciais”,
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Sugestões para a celebração


1. À equipe de celebração entra levando, além da cruz, das velas e
do livro das leituras, a bandeira do Menino e o incenso... Podem
fazer parte dessa procissão inicial flores e frutos que expressam a
participação de toda a natureza.
Seria muito bom valorizar e integrar, na celebração, grupo de
“folia dos santos reis”, onde houver.

Durante a aclamação e a proclamação do evangelho, podem ser


acesas várias velas, rodeando, com a estrela e o incenso, a mesa
da Palavra.

Conforme antigo costume, depois da proclamação, antes mesmo


da homilia, faz-se (ou canta-se) o anúncio das solenidades, a partir
da Páscoa, conforme nos apresenta o Diretório Litúrgico:
D- Irmãos caríssimos, a glória do Senhor se manifestou e sempre há de se
manifestar no meio de nós, até a sua vinda no fim dos tempos.

Nos ritmos e nas variações do tempo, recordamos e vivemos os mistérios da


salvação.
O centro de todo o ano litúrgico É o tríduo do Senhor crucificado, sepultado
e ressuscitado, que culminará no domingo da Páscoa, este ano no dia 20 de
abril.
Em cada domingo, Páscoa semanal, a Igreja torna presente este grande
acontecimento, no qual Jesus Cristo venceu o pecado e a morte.
Da Páscoa derivam todos os dias santos:
as cinzas, início da quaresma, no dia OS de março;
a Ascensão do Senhor, no dia O1 de junho;
a festa de Pentecostes, no dia 08 de junho;
o primeiro domingo do Advento, no dia 30 de novembro.
Também as festas da Santa Mãe de Deus,
dos apóstolos, dos santos e santas e a comemoração dos fiéis defuntos,
a Igreja, peregrina sobre a terra, proclama a Páscoa do Senhor.
E Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

4 Cristo que era, que é e que há de vir, Senhor do tempo e da história, louvor
e glória pelos séculos dos séculos. Amém.
No final, canta-se uma aclamação a Cristo: Cristo ontem, Cristo hoje,
Cristo para sempre Amém! (ou outra semelhante)

5. O prefácio é próprio, realçando Cristo, luz dos povos.

6. Antes de cantar a louvação


Ç ou o Pp prefácio, , a comunidade é convi-
dada a lembrar os “sinais luminosos” da manifestação Ç do Senhor ;
ou onde está brilhando uma estrela na realidade em que vivemos.

7. À bênção final é solene e própria, conforme Missal Romano, p.


521 e poderá ser cantada.

8. Nos dias 07 a 11 de janeiro, se realizará em Juazeiro do Norte,


no Ceará, o 132 Intereclesial das CEBs, com o tema: “Justiça e
Profecia a serviço da Vida”, e o lema: “CEBs, romeiras do Reino
no campo e na cidade.” Participemos com nosso apoio e nossa
oração desta epifania eclesial.
FESTA DO BATISMO DO SENHOR

12 de janeiro de 2014

“TU ÉS O MEU FILHO AMADO; EU HOJE TE GEREI!"

Leituras: Isaías 42,1-4.6-7; Salmo 28(29);


Atos dos Apóstolos 10,34-38; Mateus 3,13-17

Situando-nos brevemente
Finalizando o tempo de Natal e entrando no cotidiano do ano
litúrgico, recordamos, neste domingo, o dia em que Jesus foi batizado
no Jordão, revelando para nós, um outro aspecto de sua encarnação,
de sua epifania: a manifestação pública de sua adesão ao Pai e à
missão que lhe foi confiada, como Filho amado e fiel.
Nas Igrejas orientais, é uma das maiores festas do ano, com bên-
ção das águas, batismo dos adultos e muitos elementos de uma vigília
pascal. Isso pode nos ajudar a redescobrir o sentido dessa festa.
Conforme o relato de Mateus, Jesus assume o batismo de conver-
são para realizar “toda a justiça”, toda a vontade do Pai, que é, antes
de tudo, levar a boa nova aos pobres, na força do Espírito que repousa
sobre ele. Expressa toda sua disposição de mergulhar, assumindo pro-
fundamente nossa humanidade, num inacreditável ato de solidariedade
que o leva até a cruz. É o sinal profético da arrancada final em direção
à Páscoa: manifestação plena e definitiva de Deus e de seu Espírito, no
serviço à justiça, dando a vida pela libertação da humanidade.
Recordamos, também hoje, o nosso Batismo, pelo qual o Espí-
rito reaviva em nós a mística da solidariedade e da compaixão para
com nossa frágil condição humana e nos engaja, com novo ardor, na
missão de seguidores de Jesus que “passou sua vida fazendo o bem”.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum - Ano A — São Mateus

Será importante destacar, nesta celebração, a dimensão missionária


de nossa fé, fazendo deste dia o mais litúrgico e verdadeiro dia da missão.

Recordando a Palavra
Jesus vem da Galileia em busca de João Batista para ser batizado por
ele, juntamente e no meio do povo pecador. João se opõe e declara
que ele sim tem necessidade de ser batizado por Jesus. Jesus alerta
sobre a necessidade de que os dois cumpram “toda justiça”. No
evangelho de Mateus, a palavra justiça designa a fidelidade nova e
radical ao projeto de Pai. João Batista e Jesus acolhem e se submetem
ao desígnio do Pai. O significado da justiça em Mateus é revelado
em todo o evangelho. João compreende a resposta de Jesus e ambos
assumem o ministério proposto por Deus.
Após ser batizado por João, Jesus sai imediatamente da água, os
céus se abrem e ele vê o Espírito em forma de pomba, pousando sobre
ele. Do céu veio uma voz dizendo: “Este é o meu Filho amado; nele está
o meu agrado!” O céu, de portas abertas, se une à terra! Presença de
Deus no meio da humanidade! “O céu se abriu”. Acabou-se a distância
entre Deus e suas criaturas. Jesus se tornou o elo de união perene.
Tudo o que Deus faz por seu povo e quer de seu povo tornou-se
manifesto na prática de Jesus.
Jesus recebe o duplo testemunho: do Pai e do Espírito. O Espírito
se manifesta na imagem de uma ave; o Pai, na voz que vem do céu pro-
clamando Jesus como Filho, Messias escolhido e enviado como servo
amado. Em Dt 19,15 — “não se admitirá contra alguém uma testemunha
apenas. À sentença se apoiará na palavra de duas ou três testemunhas. —
baseia-se o testemunho de que Jesus é o Messias enviado pelo Pai.
Jesus dá novo sentido ao rito batismal: o que era sinal de arrepen-
dimento, para Jesus é plenitude de justiça, é confirmação de sua mis-
são. Jesus se solidariza com todos os pecadores para resgatá-los. Con-
tudo, podemos também tomar o batismo de Jesus como uma atitude
de protesto público contra o sonho judaico de um messias triunfante.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). “RB

À figura da pomba pode ser referência à esposa do Cântico dos


Cânticos (2,14); é também um símbolo do povo de Israel; lembra, ao
mesmo tempo, o Espírito que pairava sobre as águas antes da criação, em
Gênesis 1,2 e a união Espírito/Esposa em Apocalipse 22,17. Conforme
a Tradução Ecumênica da Bíblia, é o amor de Deus que desce à terra na
encarnação, e evoca a nova criação que se realiza no batismo do Senhor.
O trecho do segundo Isaías é o primeiro cântico do Servo do
Senhor, descrevendo a escolha divina, a vocação profética e sua missão
de levar aos povos o verdadeiro conhecimento do Deus da misericór-
dia e da fidelidade. É Deus mesmo que o apresenta como eleito para
implantar o direito, a justiça e o desígnio de Deus para toda humani-
dade. Sua missão é universal: nações, terra, ilhas, todos os que estão à
espera do reinado da justiça. O servo não realizará sua missão através
de armas ou violência. Seu estilo de ação é novo: suavidade e mansidão
com o fraco e o vacilante; firmeza no sofrimento e perseverança na rea-
lização da missão. Não quebrará o fraco, nem se deixará quebrar. Deus
o formou e o chamou para ser mediador da Aliança e seu revelador aos
estrangeiros: luz para as nações. À cegueira e a prisão são alusões ao exí-
lio da Babilônia, quando o povo perdeu a liberdade, tornou-se escravo
e perdeu sua raiz mais profunda: a fé em Deus, em si próprio e na vida.
O Salmo 29(28) está entre os mais antigos, remontando ao
tempo dos cananeus, e se transforma em um hino de louvor ao Eterno
Senhor. O povo todo é convidado a aclamar Deus, que manifesta sua
glória em uma tempestade. O povo o reconhece como Senhor da
natureza, mais forte do que todos os elementos. Deus é o aliado que
abençoa o seu povo com a paz. Diversas vezes, se repete a expressão
“voz do Senhor”: Jesus Cristo é a voz de Deus, a Palavra que se fez
humano! Todos os que são filhas e filhos, louvam Deus!
Ouvimos hoje, nos Atos dos Apóstolos, a afirmação de que
Deus não faz acepção de pessoas (cf. Dt 10,17). É o início do anúncio

8 Primeiro cântico do Servo: Isaías 42,1-7, segundo cântico: 49,1-6; terceiro: 50,4-9; quarto:
52,13-53,2.
sh Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A — São Mateus

proclamado por Pedro na casa do pagão Cornélio. Ele começa com


um fato básico da fé: Deus não faz diferença entre as pessoas; não
distingue nem privilegia um povo ou uma raça, mas aceita a todos e a
cada um que o reconhecem como Senhor e praticam a justiça. Pedro
fala de Jesus, Messias e Senhor como acontecimento que trouxe a
boa nova da paz. Por Jesus, Deus deu a paz ao povo. Pedro indica o
batismo de João como início do ministério de Jesus, pois aí foi ungido
com o Espírito: “Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder; Ele pas-
sou a vida fazendo o bem e curando a todos porque Deus estava com Ele.”

Atualizando a Palavra
Com a festa do Batismo do Senhor encerramos o tempo de Natal.
Saímos dos evangelhos da infância de Jesus e nos colocamos na
vigília de sua vida pública.
Jesus não se comporta como um filho privilegiado de Deus, mas
se coloca na fila dos pecadores para receber o batismo de João Batista.
É solidário com os menores, os pecadores, os últimos. Para entender
a atitude de Jesus, deixemo-nos iluminar por Isaías: o Senhor recebe
o Espírito de Deus para ser luz das nações e o libertador dos oprimi-
dos. Quando João o batiza, Deus o proclama “seu filho” e o Espírito de
Deus torna-se visível sobre ele. No Espírito, Jesus assume sua missão de
enviado. Jesus é o Servo do Senhor Deus por excelência! O dinamismo
de Deus está sobre o filho e tudo o que ele faz é obra de Deus. Jesus é
realizador do projeto do Pai, cumpridor de toda justiça. Jesus cumpre a
encarnação até as últimas consequências: desce onde estão os que deve
salvar. Jesus mergulha mais profundamente em nossa humanidade, para
que, em sua ressurreição, todos nós nos ergamos mais plenificados nele.
O seu batismo consagrou-o na missão de Servo do Senhor. Nele
Deus reafirma a aliança
Ç com toda a humanidade, , sem acepção
Pç de
pessoas.
ste é o meu Filho bem amado, aquele que me aprouve escolher!”
cc

Em Jesus Messias, somos filhas e filhos muito amados, gerados a


“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

cada dia pela misericórdia e bondade do Pai! Fomos chamados para a


justiça, isto é a “cumprir o plano de salvação de Deus”.
Como Jesus, pelo nosso Batismo fomos habilitados pelo Espírito para
a missão e adotados como filhos de Deus. Em Jesus, no Jordão, termina
todo exílio da humanidade, e inicia a missão sacerdotal, profética e régia do
Ungido, a qual nos foi transmitida. Somos sacerdotes, profetas e reis com
a mesma dignidade e responsabilidade que o Pai entregou ao Filho Jesus.
Ele passou a vida “fazendo o bem, curando a todos os que estavam dominados
pelo demônio”. Sua razão de viver era a proclamação do Reino de Deus.
Como seguidores e seguidoras de Jesus Cristo, fomos convoca-
dos, não apenas para repetir os ritos do batismo, mas para atualizar
sua vida, sua mensagem, sua obra, continuando sua missão. Nosso
batismo é participação no batismo do Senhor e na sua missão como
Servo de Deus, levando-nos ao esvaziamento pelos nossos irmãos.
“Banhados em Cristo, somos uma nova criatura! Às coisas antigas já
se passaram, somos nascidos de novo!”
O papa Francisco, Bispo de Roma, durante a visita à Comuni-
dade de Varginha, em Manguinhos/RJ, no dia 15/07/2013, deixou-
-nos uma forte palavra sobre nossa missão de seguidores de Jesus,
que é muito pertinente para nosso momento.
“O povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo
uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente esque-
cida ou silenciada, porque é incômoda. Quase um palavrão: solidariedade.
Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades
públicas e a todas as pessoas de boa vontade, comprometidas com a justiça
social: não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário!
Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no
mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilida-
des, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais!
Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula
nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável,
não é! Mas sim a cultura da solidariedade... ver no outro não um concorrente
ou um número, mas um irmão. E todos nós somos irmãos... Não deixemos
entrar no nosso coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos,
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A - São Mateus

ninguém é descartável. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de


compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha
se multiplica!... À medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo
como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua

pobreza!”

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Mergulhados nas águas portadoras do Espírito, revivemos hoje nossa
consagração batismal, pela qual fomos incorporados a Cristo “para sermos
interiormente transformados por ele” é o que pedimos na oração inicial.
Como povo sacerdotal, assembleia de batizados, proclamamos
pela Eucaristia, as maravilhas daquele que nos chamou das trevas à
sua luz e aceitamos ser mergulhados com Cristo no mistério de sua
entrega filial ao Pai.
Acolhemos, em oração, o Espírito que nos é entregue e, na voz do
Pai, recebemos a confirmação de sermos seus filhos amados com a mis-
são de ser luz das nações e alegres anunciadores da boa-nova do Reino.
Celebrando a Eucaristia, vivemos o núcleo da vida batismal,
entrando em comunhão com Deus, com os irmãos, com o cosmos,
dando sentido pascal à vida. Ouvindo Jesus, o Filho amado, prolon-
gamos, no mundo, sua missão de serviço à justiça com suavidade e
mansidão, “fazendo o bem e curando a todos” para que todos sejam,
de fato, filhos de Deus, concluímos na oração após a comunhão.

Sugestões para a celebração


1. Preparar o espaço celebrativo, destacando além das mesas da ceia
e da Palavra, a fonte batismal com o Círio Pascal. Continuando
em clima natalino, a cor é o branco.

9 CNBB. PAPA FRANCISCO, mensagens e homilias —- JMJ 2013. Brasília: Ed. CNBB.
2013. p. 29.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

2. Nos ritos iniciais, após a saudação, quem preside motiva a assem-


bleia com o sentido da celebração. Algumas pessoas trazem vasi-
lhas com água que derramam na fonte batismal ou numa vasilha
maior em lugar de destaque. Quem preside faz o convite, com
estas ou outras palavras semelhantes:
D- Neste dia, as águas exultam de alegria por terem recebido,

no meio do Jordão, a bênção santificadora.


O Sol da justiça se banhou no rio, o fogo mergulhou nas águas

e foi manifestada a todo o gênero humano a salvação de Deus.


(estendendo as mãos sobre a água)

D- Que esta água, ó Pai, recorde para nós o batismo do Senhor e seu mergu-
lho em nossa humanidade. E teu povo passe da morte para a vida, e acolha
a graça do teu Espírito que manifesta a tua misericórdia, por Cristo, nosso
Senhor!

O/as ministros/as aspergem a comunidade com a água, enquanto se canta


o refrão:

“Nas águas do Jordão mergulhados, somos batizados no Espírito


Santo!”

O rito da aspersão, substituindo o ato penitencial, é seguido pelo


canto do Glória.

À profissão de fé pode ser feita, hoje, com o Símbolo Niceno-


-Constantinopolitano (cf. Missal Romano, p. 400) e, se possível,
toda assembleia com velas acesas.

O prefácio é próprio, proclamando o Servo enviado para levar a


Boa Nova aos pobres. O Hinário Litúrgico n. 1, p. 75, traz uma
versão cantada em forma de louvação, indicada também para o
momento de ação de graças, nas celebrações da Palavra.
2º DOMINGO DO TEMPO COMUM

19 de janeiro de 2014

“MEU DEUS, É ISTO QUE DESEJO, TUA LEI ESTÁ NO FUNDO DO MEU CORAÇÃO.”

Leituras: Isaías 49,3.5-6; Salmo 39(40); Coríntios 1,1-3; João 1,29-34

Situando-nos brevemente
Este segundo domingo do Tempo Comum liga a festa do batismo
do Senhor ao seu ministério público na Galileia. Ainda em clima
de epifania, o evangelho de João torna-se mais adequado que o
evangelho de Mateus (evangelista do ano À), para iniciar a narração
da vida pública de Jesus. Continua assim o mistério de sua manifes-
tação que terá seu desfecho final na cruz.
Ão recordar o testemunho de João Batista após o batismo no Jordão,
celebramos o mistério da Páscoa de Jesus. João o reconhece e o apre-
senta como o Servo Fiel, o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado
do mundo e que batiza no Espírito para que o mundo seja renovado.
Recordamos a vocação de toda a humanidade de realização
plena. Todos somos chamados para a plenitude! Como discípula de
Jesus, a comunidade cristã é chamada a irradiar a luz de Cristo em
todas as situações e instâncias da vida.

Recordando a Palavra
Os textos do evangelho de João e do profeta Isaías expressam a entrega
total da vida que Jesus faz, reunindo duas imagens. À primeira é a do
Cordeiro pascal (Ex 12,46), quando, no início da primavera, era tomado
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (ls 2,3).

o melhor do rebanho, e sacrificado como uma consagração de todo o


rebanho a Deus. O sangue do cordeiro protegeu todo povo hebreu na
passagem do anjo exterminador, na saída do Egito. À outra imagem
é a do Servo sofredor, inocente e silencioso que se entrega como um
cordeiro. É a imagem do servidor de Deus. Isaías usa 23 vezes a palavra
servo ou o verbo correspondente: três vezes no sentido de escravo, 20
vezes no sentido positivo de servo de Deus. Os cânticos ou poemas do
Servo correspondem aos capítulos 40 a 55 do Dêutero-Isaías, tempo
do exílio da Babilônia, aproximadamente em 540 antes de Jesus. O
Servo é alguém único, ou o pequeno grupo dos que dão tudo de si para
que a vida do povo seja transformada, ou o povo de Israel. Este servo
recebe um chamado: a missão de Deus de ser LUZ, das nações, a fim
de que a salvação de Deus chegue até os confins da terra e também do
cosmos todo. Esta é a vocação de todo o povo de Deus: anunciar a luz da
Palavra, a bondade e o amor de Deus a todo o universo. Em aramaico,
a palavra servo é “talya”, a qual também significa cordeiro. O servo de
Deus é como um cordeiro levado ao matadouro, ou como uma “ovelha
diante do tosquiador, ele ficou calado, sem abrir a boca.” (Is 53,7)
Para nós, cristãos, esse Servo é Jesus Cristo, o amor de Deus
que tomou rosto humano. Nele se unem o Servo que dá a vida pelos
outros e o próprio Deus que confere eficácia à ação do Servo.
No evangelho, João Batista aponta para Jesus como sendo Servo
de Deus, o cordeiro pascal, o Filho de Deus, sinal da salvação. O
quarto evangelho diz que Jesus morre na hora em que os cordeiros
eram sacrificados no templo.
João Batista, que batizou Jesus com água, viu “o Espírito descer
como uma pomba do céu e permanecer sobre ele” e dá testemunho
de que ele é o Servo de Deus, o Cordeiro, o Salvador, o que “tira o
pecado do mundo”. O verbo tirar significa: levantar para carregar,
tomar sobre si, ou levar, fazer desaparecer.
À palavra permanecer é muito usada por João. Porque o Espírito
permanece em Jesus, ele poderá batizar com o Espírito e não só com
a água. Cristo nos dá o Espírito como dom que permanece.
H Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

João Batista é testemunha que Jesus é o “cordeiro de Deus”, “aquele


q ue batiz
batiza com o Espírito”;
írito”, o “filho
/ho de de D Deus.
Porque Jesus é o Servo, o Cordeiro, Deus o faz Senhor! Nele,
todos somos santificados. Somos chamados a ser santos, como Paulo
diz em sua carta. À vocação que Deus suscitou em cada cristão é a
participação na vocação de Cristo.
O salmo mostra a prontidão do justo para assumir O chama-
mento do Senhor.

Atualizando a Palavra
Eu disse: “Eis que venho, Senhor, com prazer faço a vossa vontade.”
(cf. S1 39) Nossa missão é participar da missão de Jesus que recebemos
em nosso Batismo na água e no Espírito. O Espírito do Ressuscitado
está sobre nós para colaborarmos com a luta contra todo pecado que
ainda domina a humanidade. Não podemos fechar nossos lábios,
mas levar a todos os lugares as boas novas da justiça de Deus.
Em Cristo, sofrem e salvam, morrem e ressuscitam todos os que
aceitam romper com os ídolos, acabar com o medo e sair da “casa da
escravidão”, porque sabem que a Palavra que os conduz não cessou
de ser eficaz.
Pelo Batismo assumimos nossa missão de seguir Jesus. Isto
amplia nossa missão humana. Como filhos amados do Pai, servos
de Deus, nossa fidelidade consiste em nos empenharmos, de todas
as formas, para tirar o pecado do mundo, lutando contra todas as
espécies de morte, e proclamarmos a vitória da vida, pelo cultivo
constante da reconciliação, da justiça e da paz.
Rezamos em nossas celebrações: “Cordeiro de Deus que tirais o
pecado do mundo, tende piedade de nós e dai-nos a paz.” O pecado
consiste na autoafirmação do ser humano, que se encerra em seu
próprio poder para colocar-se contra Deus e os irmãos. O pecado á
algo que atinge o mais profundo da pessoa, pois vai nos desumani-
zando, pessoalmente, socialmente, até atingir as estruturas sociais e
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). “RB

políticas. O pecado não se trata de uma violação de leis ou de uma


ofensa a Deus, mas de uma recusa ao amor gratuito de Deus, infide-
lidade ao seu projeto, desprezo à sua Aliança, rejeição ao reinado do
Senhor. Pecar é não aceitar Deus como Pai e, consequentemente, não
aceitar a fraternidade que Deus quer que vivamos entre nós. Peca-
dores somos, se formos “servidores” do nosso insignificante poder
físico, intelectual, econômico, político, social e não aceitarmos servir
aos irmãos e nos fecharmos a Deus e à sua graça e ao futuro último
que Ele nos oferece em sua misericórdia e sabedoria.
Deixemo-nos inundar pelo Espírito de Jesus. Como água viva, seu
Espírito nos penetra, impregna e transforma nossos corações. Ele é fonte
de vida nova, porque é Espírito de vida! É Espírito de verdade e não nos
deixa enganar por falsas seguranças. É Espírito de amor, capaz de nos
libertar da covardia e do egoísmo e nos abrir à solidariedade e à compai-
xão. É Espírito de conversão que nos faz viver com os critérios de Deus,
suas atitudes e ternura. É Espírito de renovação, despertando o melhor
que há em nós e na Igreja, levando-nos à maior fidelidade ao evangelho.!º

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Como João Batista, reconhecemos o Cordeiro de Deus que tira
o pecado do mundo, presente no meio de nós. Participando da
Eucaristia, recebemos a força de agir contra a iniquidade do mundo,
continuando a missão libertadora do Cordeiro e Servo Jesus.
Hoje, bendizemos ao Pai que nos molda à imagem de seu Filho
amado, o Cordeiro que nos liberta e santifica pela força de seu Espí-
rito. Faz-nos, assim, participantes dessa sua vocação e missão.
À Eucaristia é a continuação, no tempo, da presença do “Deus
conosco”. Todas as vezes que dela participamos torna-se presente a nossa
redenção, rezamos na oração sobre as oferendas.

10 PAGOLA, José Antônio. O Caminho aberto por Jesus: João/ Tradução de Lúcia Mathilde
Endlich Orth. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. p. 33s.
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A — São Mateus

Participar desta mesa é o sinal de nossa adesão ao reino que ele


inaugurou.
Como filhos amados do Pai, somos testemunhas da vida nova
no Espírito, somos “cordeiros” — servos de Deus. Por isso, na fração
do Pão, entregamo-nos em partilha e doação, rezando/ cantando,
humildemente: Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende
piedade de nós... Dai-nos a paz!
Recebemos de sua Palavra e na comunhão de seu Corpo e San-
gue a força para nos empenharmos, de todas as formas possíveis, para
tirar o pecado do mundo.

Sugestões para a celebração


à Após a saudação inicial, fazer a recordação de acontecimentos
e fatos significativos da comunidade, da paróquia, da diocese,
do país e do mundo, os integrando ao mistério pascal cele-
brado. É a Páscoa de Cristo se realizando em nossa história.

à O método da leitura orante, tanto dos textos bíblicos como


das orações litúrgicas, é indicado para a preparação da cele-
bração e da homilia em equipe.

» Cantar o salmo responsorial, realçando a alegria de assumir o


chamado de Deus.

» Entre os prefácios do Tempo Comum, escolher o VIII (8)


que bendiz a vocação dos filhos e filhas de Deus e a força do
Espírito.

» Destacar o rito da fração do pão com a participação da assem-


bleia no canto do Cordeiro de Deus.

à Retomando a mensagem do evangelho, o canto indicado para


a comunhão encontra-se no Hinário n. 3 da CNBB, p. 247:
“És Jesus, o Cordeiro de Deus.”
3º DOMINGO DO TEMPO COMUM

26 de janeiro de 2014

"O POVO QUE ESTAVA NAS TREVAS VIU UMA GRANDE LUZ, PARA OS HABITANTES
DA REGIÃO SOMBRIA DA MORTE UMA LUZ SURGIU"

Leituras: Isaías 8,23b-9,3; Salmo 26; 1Coríntios 1,10-13.17;


Mateus 4,12-23

Situando-nos brevemente
O mistério pascal, que hoje celebramos, permite-nos acompanhar
Jesus no início de sua missão, na Galileia e sermos chamados à
conversão e à missão.
Junto aos doentes, aos sofredores e aos mais pobres, Jesus anuncia
a chegada do Reino de Deus, chama os primeiros discípulos, cura e
alivia as enfermidades do povo. Na visão de Mateus, ele realiza a pro-
fecia de Isaías, proclamada no Natal — O povo que andava nas trevas
viu uma grande luz — e repetida para nós, hoje, na primeira leitura,
Conhecendo nossa fraquezas e possibilidades, ele renova seu cha-
mado a cada um de nós e nos propõe a conversão ao Reino, para que em
seu Nome, possamos frutificar em boas obras, rezamos na oração inicial.

Recordando a Palavra
Após a provação sofrida no deserto, após João Batista ser preso
na Judeia, Jesus retirou-se para a Galileia, estabelecendo-se em
Cafarnaum, à beira do lago. Esta é a mesma região citada por Isaías,
terra de Zabulon e Neftali, caminho do mar. À mudança de Jesus da
Judeia para a Galileia é explicada à luz das Escrituras pelo evangelho
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

de Mateus. No fato de Jesus ter se mudado de Nazaré para Cafarnaum,


Mateus vê a realização última e definitiva da profecia de Isaías.
No tempo de Isaías, por volta de 732 antes de Cristo, o povo
dessa região estava aterrorizado pelas deportações do império assírio.
A política de domínio assírio consistia em deportar o povo domi-
nado, misturando, em uma mesma região, povos de diferentes cultu-
ras, idiomas, religiões. Foi esse modo de domínio que tornou a Gali-
leia uma região tida como paganizada. A palavra 'galileia' significa
distrito. O jugo que pesava sobre o povo era o domínio assírio. No
entanto, nas trevas dessa situação de infelicidade, opressão, cativeiro
e morte, brilha uma luz de esperança, talvez com o aparecimento
de uma liderança que possa trazer a libertação para o povo. Luz é
salvação, é a aparição da glória de Deus, comparada ao nascer do sol.
A Galileia das nações, periferia do mundo, terra desprezada,
considerada pagã, será o cenário da ação e da revelação luminosa
de Jesus. À intenção não é apenas localizar o lugar, mas o signifi-
cado profético do ministério de Jesus desde o início. Da Galileia das
nações, Jesus dirige-se ao povo ameaçado pelas trevas do sofrimento.
À profecia é realizada.
Jesus, nessa região específica, realiza o plano de Deus e inaugura
seu ministério, proclamando solenemente: “Convertam-se! O Rei-
nado de Deus chegou!” Há uma nova consciência e pessoas simples
são transformadas. Ao redor do Lago da Galileia, pescadores são
convocados e o chamado de Jesus é categórico. O seguimento deve
ser imediato e incondicional. Do serviço, ofício humano, do con-
tato com as forças hostis do mar que não garantem o êxito da tarefa
diária, ao serviço do Reino de Deus, ao seguimento e fidelidade
ao Senhor, garantido pela própria fidelidade de Deus. Ao redor de
Jesus, forma-se a pequena comunidade de base: Simão Pedro, André,
Tiago e João. |
À carta aos coríntios também fala do seguimento, não de Paulo,
Apolo ou Cefas, mas do crucificado/ressuscitado, o Messias e sua
proposta de vida. Não pode haver discórdia na comunidade cristã
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

devido à preferência por este ou aquele pregador ou missionário. O


centro é Jesus Cristo, é a ele que seguimos e Cristo não está dividido.
A luz de Cristo é mais forte que as trevas das divisões humanas.
O Salmo 26(27) é uma oração de confiança no perigo. Ainda
que surjam novas dificuldades, continuaremos a sentir a ajuda do
Senhor, mesmo que os adversários sejam um exército. À única coisa
que o salmista pede é habitar na casa do Senhor, viver na suavidade
de sua presença e que Deus não lhe esconda seu rosto.
Santo Agostinho escreve sobre este salmo: “O Senhor nosso
Deus fala-nos e nos consola. Digna-se falar em vez de nós e falar-
-nos a nós, para mostrar que não é apenas nosso Criador, mas que
também habita em nós... O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei
de temer? Ele ilumina-me: afastem-se as trevas. Ele salva-me: desa-
pareça a fraqueza. Caminhando seguro na luz, a quem temerei?”!!

Atualizando a Palavra
Jesus começa sua missão entre os mais desprezados, os que são
considerados pecadores. À luz que resplandeceu no Natal é para todos,
não apenas para os puros, os eleitos, os melhores. Pelo contrário, a
preferência de Jesus é mesmo para os que são tidos como menores.
Dessa opção, nasce a espiritualidade cristã do seguimento não de
uma doutrina perfeita, mas de uma pessoa e seu projeto, Jesus. Seguir
Jesus é entrar em sua escola, a favor de quem se encontra na periferia
do mundo, como disse o papa Francisco em sua viagem ao Brasil.
Na Bíblia, o mar é sinônimo do mal, da escuridão, algo caótico
e forças contrárias à vida. A missão dos seguidores de Jesus é tirar as
pessoas dessa situação e levá-las para a luz. O chamado de Jesus se
estende até nós. Deixemos com generosidade tudo para entrar nessa
caminhada.

11 Saltério litúrgico. Salmos e Cânticos da Liturgia das Horas. Secretariado Nacional de


Liturgia. G.C. Gráfica de Coimbra, LDA. 4º. Edição, 2005. p. 155-156.
N Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A — São Mateus

Seguir Jesus parece uma loucura, a loucura da cruz. Seguimento


que não cria divisões, mas abraça com amor e compreensão, tudo o
que é humano e que promove a dignidade de filhos e filhas de Deus.
Pertencemos a Cristo que pertence a Deus. Também nós somos cha-
mados a anunciar o evangelho sem nos determos em competições e
disputas sobre quem é maior.
Podemos nos deixar iluminar hoje também pelas palavras de ordem
do Papa Francisco, quando esteve entre nós na Jornada Mundial da
Juventude. Muitas vezes, ele repetiu que devemos viver a misericórdia.
À misericórdia adquire o sentido amplo de “serviço”, “diálogo”, “pro- » «

ximidade”, “encontro”, “simplicidade” e “transparência”. Muitas vezes,


ele repetiu que é preciso “sair de si” e ir para as “periferias existenciais”.
Falando aos bispos do CELAM, disse palavras que são programáticas
para nós, para todos os cristãos, não só para os bispos. São exigências
feitas por Cristo para todos seus seguidores: “... amem a pobreza, quer
ç

a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza


exterior como simplicidade e austeridade de vida. 12

O projeto de Jesus, sua pregação, tem seu inicio oficial, na Gali-


leia das nações, entre os mais espezinhados, maltratados, pecadores,
pobres em todo o sentido. Galileia das nações, periferia social, geo-
gráfica, existencial, lugar descartável, de gente descartável, conside-
rada estorvo ao desenvolvimento global nas análises econômicas. É lá
que devemos ir, ver o Senhor e permanecer com Jesus Cristo em seu
projeto de salvação e libertação total.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A Palavra do Senhor hoje nos move a dar graças ao Pai, porque pelo
Batismo, fomos inundados na luz de Cristo. Com ele entregamos ao
Pai nossa vida.

12 CNBB. PAPA FRANCISCO, mensagens e homilias — JMJ 2013. Brasília: Ed. CNBB.
2013. p. 96.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Como filhos e filhas da luz, somos chamados para, continu-


amente, vencer, pela conversão constante, as trevas e a dureza que
envolvem nossa vida e a vida dos irmãos.
Renovando hoje seu chamado, o Senhor nos revigora com seu
Espírito, pela comunhão fraterna, por sua Palavra e com o sacra-
mento de seu Corpo e Sangue, para que, mais disponíveis, presta-
tivos e alegres, abandonemos também “nossas redes” para sermos
pescadores de gente em vista do Reino.

Sugestões para a celebração


1. Preparar com zelo a celebração, cuidando que o espaço celebra-
tivo seja acolhedor e o exercício dos vários ministérios levem a
assembleia de irmãos a viver o encontro pascal com o Senhor.
2. Valorizar o símbolo da luz, com a presença ou entrada do Círio
Pascal na procissão de entrada. Ladear com velas a mesa da
Palavra, durante a proclamação das leituras e o canto do salmo.
3. O prefácio indicado para este domingo é o do Tempo Comum I:
“Por ele nos chamastes das trevas à vossa luz”...

4. Escolher cantos que expressam o mistério que celebramos. O


Hinário Litúrgico III, traz propostas bem adequadas. Para o
canto de comunhão, retomando o evangelho, está indicado na
p. 3: “Houve um tempo em que éramos trevas.”
4º DOMINGO DO TEMPO COMUM
FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR

02 de fevereiro de 2014

“ELE SERÁ UM SINAL DE CONTRADIÇÃO“


Leituras: Malaquias 3,1-4; Salmo 23; Hebreus 2,14-18; Lucas 2,22-40

Situando-nos brevemente
Neste domingo, quarenta dias depois do Natal, celebramos o mistério
da Apresentação de Jesus no templo, nos braços de Maria e José.
Esta festa situa-se ainda no contexto do Natal, apresentando outro
aspecto da manifestação do Senhor: humano como nós, nasce de
uma mulher e submisso às tradições da lei.
Esta festa já era celebrada nos finais do século IV, em Jerusalém,
e, mais tarde, foi assumida por toda a Igreja. No século V, com ins-
piração no cântico de Simeão, eram usadas tochas, tornando a cele-
bração mais expressiva: Celebremos o mistério deste dia com lâmpadas
flamejantes, dizia São Cirilo de Alexandria (+ 444). O Missal atual
conserva, com este sentido, o rito inicial da bênção das velas.
Com a reforma do Concílio Vaticano II, a festa que, por muito
tempo tinha o título de “Purificação da Bem aventurada Virgem
Maria”, em conformidade com a prescrição da lei judaica de os pais
apresentarem o filho recém-nascido, quarenta dias após o nasci-
mento, e da purificação de sua mãe, foi mudado para a Apresentação
do Senhor. Fica assim mais evidente que se trata de uma festa do
Senhor, cujo mistério se inscreve na dinâmica da Páscoa.
Contudo, entre nós esta festa mantém ainda um acentuado caráter
mariano, recebendo vários títulos, como: Nossa Senhora das Candeias,
Nossa Senhora da Luz, Candelária, Nossa Senhora de Belém.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Com nossas velas acesas, entramos no mistério de Cristo, dei-


xando-nos iluminar por ele, luz do mundo. Maria, com seu silêncio
e meditação, nos ensina como acolhê-lo, reconhecê-lo e oferecê-lo.

Recordando a Palavra
Nos antigos tempos históricos, a consagração do primogênito
pode ter sido um sacrifício humano, como nos lembra o sacrifício de
Isaac. Maria apresenta a Deus o filho Jesus. Oferece-o a Deus e sua
oferta é uma renúncia, um sofrimento que a levará aos pés da cruz.
À cruz será a espada que traspassará seu coração de mãe. Este seu
filho primogênito será o memorial cotidiano da libertação da grande
escravidão. Ele não será poupado.
À purificação era um rito destinado somente à mãe (cf. Lv 12,1-8).
À criança devia ser resgatada (cf. Nm 18,15). Lucas registra, cuida-
dosamente, que os pais de Jesus, bem como os pais de João, cumpri-
ram todas as prescrições da Lei. Relatando a apresentação de Jesus ao
Templo, Lucas quer salientar o zelo dos pais em obedecer à missão
que Deus lhes confiou. À narrativa centraliza o primeiro ato cultual
de Jesus na Cidade Santa, lugar do acontecimento pascal.
Todo primogênito devia ser consagrado a Deus, conforme
Ex 13,2: “Consagra-me todo primogênito: todo o primeiro parto
entre os israelitas [...] será meu”. Em Levítico 12,8 lemos que, se a
mãe “não dispuser de recursos suficientes para oferecer um cordeiro,
tomará duas rolas ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro
para o sacrifício pelo pecado. O sacerdote fará por ela o rito de expia-
ção e ela ficará purificada”. Maria faz a oferenda dos pobres para ser
purificada da impureza legal advinda do parto.
Lucas se refere a Simeão com expressões próprias para desig-
nar um profeta. O Espírito Santo lhe revelara que veria o Cristo do
Senhor, aquele que o Senhor ungiu para uma missão de salvação.
O Messias que irá instaurar o Reino de Deus. Simeão, tomando o
menino nos braços, entoa um hino de ação de graças, pautado em
Roleiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum - Ano A - São Mateus

Isaías, que define a salvação universal trazida pelo Messias Jesus:


a salvação é anunciada aqui, pela primeira vez, em Lucas. Ela só
será claramente proclamada a partir do mistério pascal — Lc 24,47,
À missão de Jesus será acompanhada de hostilidade e perseguição.
Simeão termina sua profecia declarando que uma espada traspassará
a alma de Maria. Nesta ocasião, Simeão anuncia a missão messiânica
universal de Jesus, atribuindo-lhe os títulos: luz das nações e glória
do povo de Israel.
Também se faz presente uma mulher consagrada a Deus e intér-
prete de seus desígnios, com uma apresentação minuciosa: a profetisa
Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, viúva, com oitenta e quatro
anos, número perfeito de números perfeitos (7 vezes 12). Fanuel é
uma palavra hebraica que significa “face a face com Deus”, ou “o
rosto de Deus”; e aser significa felicidade, alegria. A apresentação
de Ana com tanto esmero, oferece a dimensão, a importância e o
sentido profundo da apresentação do Menino. À existência de Jesus
é a realização da visita de Deus. Poderemos vê-lo face a face, com ele
conviver na alegria e na felicidade.
Ana não se afastava do templo, ideal de todo israelita perfeito,
cf. Sl 23(22),6b: “Minha morada é a casa do Senhor por dias sem
fim”. No templo, Ana servia a Deus com orações e jejuns; lou-
vava Deus e falava do menino a todos que viviam na esperança do
Messias, os anawin.
Maria e José, depois de cumprirem a lei, voltaram para Nazaré,
na Galileia, onde o menino cresceu e tornou-se forte, cheio de sabe-
doria, e a graça do Pai estava com ele.
Malaquias, cerca de 450 a.C., proclama sua mensagem depois do
exílio, quando o Templo está reconstruído, mas o culto está afastado
do projeto de Deus e a convivência social totalmente estragada. A
profecia de Malaquias anuncia a chegada do “dia do Senhor”, vinda
do juízo de Deus. Chama os sacerdotes à conversão. É preciso que o
Templo e o sacerdócio sejam purificados, para isso, um mensageiro,
tido como a volta de Elias, há de preceder esse dia do Senhor.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). “RB

O Salmo 24(23), liturgia de entrada no santuário, canta a entrada


do Rei da Glória e convoca as portas a se abrirem. Quem é esse Rei
da Glória? E o Senhor: o forte e valente, é o Senhor dos exércitos!
Em Hebreus nos é revelado que Jesus assume plenamente nossa
condição humana. Leva às últimas consequências sua “guenose”, seu
esvaziamento na encarnação e no sofrimento. Torna-se nosso irmão.
Assumindo nossa existência, na entrega até a morte, tornou-se o
sumo sacerdote fiel e misericordioso. É ele que santifica nossa exis-
tência e paga todo nosso pecado, o pecado do mundo, e nos socorre e
nos faz entrar em comunhão com o Pai.

Atualizando a Palavra
À festa da apresentação do Senhor enche-nos novamente do espírito
natalino. O conjunto desta festa é de alegria, mesmo que uma espada
paire sobre a vida de Maria. É festa de pureza e de luz. É festa que
une o início e a plenitude da vida humana. Festa da família, na qual se
reúnem crianças, jovens, adultos e idosos, cada um com sua preciosa
contribuição para que se realize o projeto de Deus na humanidade.
Ao mesmo tempo, é festa que evoca o mistério de Deus encarnado
em Jesus de Nazaré.
Ão nascer, Jesus se manifestou, em primeiro lugar, aos pastores,
que eram pobres e excluídos. Agora, ao ser apresentado no Templo,
revela-se, em primeiro lugar, não aos levitas nem aos sacerdotes que
executaram os ritos da purificação de Maria e do resgate do Menino,
mas a dois “pobres de Deus”, os anciãos Ana e Simeão. Os dois per-
tenciam aos círculos dos anawim e esperavam a libertação de Israel.
O lugar da nova revelação messiânica não é o campo aberto, a man-
jedoura, entre trabalhadores pobres, mas é o Templo.
O nome “Simeão” significa “escutador”,!º aquele que vive aten-
tamente à escuta dos sinais dos tempos, dos acontecimentos como

13 “O Senhor escutou” (cf. Gn 29,33).


Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum — Ano A — São Mateus

Palavra viva de Deus. É idoso justo, piedoso e esperançoso pela con-


solação de Israel. Vivia à espera e à escuta. Foi ao Templo, e, ao ver
aquele Menino, pegou-o nos braços: por isso, os padres gregos dão a
Simeão o título de Theodóchos = recebedor de Deus.
Também Ana, profetisa, uma velhinha que andava sintonizada
em onda curta com a Palavra de Deus, chegou carregada de espe-
rança. Ana, significa “graça”. Tanta intimidade com Deus! Também
a profetisa Ana, serena e feliz, viu aquele Menino. Diz o evange-
lho que se pôs a falar dele a todos os que esperavam a libertação de
Jerusalém!
Hoje, onde encontramos Ana e Simeão? Em nossos templos?
Em nossas famílias? Na sociedade? Como os ouvimos? Que lugar
ocupam neste mundo da globalização do bem estar e da beleza?
“Esta é a festa da alegria e da esperança acumulada e realizada. É a festa
da Luz. Simeão e Ana viram a Luz e exultaram de alegria. Floje somos nós
que nos chamamos Simeão e fina. Somos nós que recebemos esta Luz nos
braços, e que entramos na família da felicidade para viver pertinho de Deus,
rosto a rosto com Deus, escutadores atentos do bater do coração de Deus.
[...] Fevereiro é um mês de alegria, de apresentação e encontro, de consagra-
ção e contemplação. Num mundo triste e cansado como o nosso, Maria, José
eo Menino, Simeão e Ana são ícones de felicidade, que nos vêm dizer que se
cresce não apenas em idade, mas em idade, sabedoria e graça!”

De São Sofrônio, bispo do século V II,!º colocamos o sermão desta


festa, centrado em nosso encontro com Jesus Cristo, luz do mundo e
luz de nossas vidas:

Recebamos a luz clara e eterna

“Todos nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o mistério do


encontro do Senhor, corramos para ele cheios de entusiasmo. Ninguém deixe
de participar deste encontro, ninguém recuse levar sua luz.

14 António Couto, em “Mesa de Palavras.file.wordpress”


15 Orat. 3, de Hypap., 6.7: PG, n. 87, 3, 3291-3293.
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Acrescentamos também algo ao brilho das velas, para significar o esplendor


divino daquele que se aproxima e ilumina todas as coisas; ele dissipa as trevas
do mal com a sua luz eterna, e também manifesta o esplendor da alma, com o
qual devemos correr ao encontro com Cristo.

Do mesmo modo que a Mãe de Deus e Virgem imaculada trouxe nos braços a
verdadeira luz e a comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós:
iluminados pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de
todos, corramos pressurosos ao encontro daquele que é a verdadeira luz.

Realmente, a luz veio ao mundo (cf. Jo 1,9) e dispersou as sombras que o


cobriam; o sol que nasce do alto nos visitou (cf. Lc 1,78) e iluminou os que
Jjaziam nas trevas. É este o significado do mistério que hoje celebramos. Por isso,
caminhamos com lâmpadas nas mãos, por isso, acorremos trazendo as luzes, não
apenas simbolizando que a luz já brilhou para nós, mas também para anunciar
o esplendor maior que dela nos virá no futuro. Por este motivo, vamos todos
Juntos, corramos ao encontro de Deus.

Chegou a verdadeira luz, “que vindo ao mundo a todos ilumina” (Jo 1,9).
Portanto, irmãos, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós.
Que ninguém fique excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar
mergulhado na noite. Mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por
este fulgor, vamos todos ao seu encontro e, com o velho Simeão, recebamos a
luz clara e eterna. Associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino
de ação de graças ao Criador e Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e,
afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor.

A salvação de Deus, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória


que nos pertence, a nós que somos o novo Israel, Também fez com que vísse-
mos, graças a ele, essa salvação e fôssemos absolvidos da antiga e tenebrosa
culpa. Assim aconteceu com Simeão que, depois de ver a Cristo, foi libertado
dos laços da vida presente.

Também nós, abraçando pela fé a Cristo Jesus que nasceu em Belém, de


pagãos que éramos, nos tornamos povo de Deus — Jesus é, com efeito, a sal-
vação de Deus Pai — e vemos com nossos próprios olhos o Deus feito homem.
E porque vimos a presença de Deus e a recebemos, por assim dizer, nos braços
do nosso espírito, somos chamados de novo Israel. Todos os anos celebramos
novamente esta festa, para nunca nos esquecermos daquele que um dia há
de voltar.”
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Com velas acesas, hoje somos apresentados e oferecidos com Cristo
ao Pai, suplicando que sejamos plenamente renovados em sua Páscoa
e iluminados por seu Espírito, como lâmpadas flamejantes.
Em cada Eucaristia, ao apresentarmos os dons do pão e vinho,
frutos da terra e de nosso suado trabalho, revivemos o gesto de ofe-
renda de Maria e José. Ao recebermos em troca o sacramento do corpo
e sangue de Cristo, contemplamos e participamos, agradecidos da sal-
vação como Simeão e Ana, enquanto aguardamos sua vinda gloriosa.
Nossa atitude é de alegria cheia de esperança, inspirada pelo casal
de idosos, o pequeno resto fiel, ao acolherem o Menino em seus braços
e também de humilde oferenda, como Maria e José, apresentando-nos
em ação de graças, com Cristo ao Pai. O cuidado e a defesa da vida em
todas as fases e a irradiação da luz de Cristo em toda as nossas ações,
são consequências desta celebração, na liturgia da vida.

Sugestões para a celebração


1. À assembleia, novo templo de Deus, se reúne com velas para
serem acesas, à porta da igreja, onde tem início a celebração.
Enquanto as velas são acesas, canta-se um refrão ou hino inspi-
rado na antífona de entrada: “O Senhor nosso Deus virá com poder,
e iluminará o seu povo, aleluia! Ou o refrão: À luz resplandeceu em
plena escuridão...

2. O Missal sugere antes da bênção das velas, palavras motivadoras,


situando e introduzindo a comunidade no mistério desta festa
com o convite à participação ativa e consciente na celebração.
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

3. Para a bênção das velas, há, no Missal, duas propostas de oração:


a primeira realça o significado simbólico das velas acesas; a
segunda, a atitude dos fiéis que comemoram, com a procissão,
o encontro de Cristo com a humanidade. Esta parece mais fiel e
coerente com a teologia litúrgica atual.

4. Após a bênção, a assembleia entra em procissão na Igreja, com


velas acesas, entoando o Cântico de Simeão, com antífona
própria ou outro cântico apropriado. Segue-se o Canto do Glória,
seguido da oração do dia.
1. O prefácio é próprio, realçando o mistério que hoje celebramos: “O Vosso
Filho. gerado nos séculos eternos, apresentado hoje no templo, é proclamado
pelo Espírito Santo como glória de Israel e luz dos povos.”

2. Valorizar a assembleia reunida, como morada de Deus, chamada a irra-


diar a luz, acolhendo o Menino, hoje presente nos sinais sacramentais da
Palavra, da Eucaristia e nos irmãos, principalmente nos pobres e pequenos.
5º DOMINGO DO TEMPO COMUM

9 de fevereiro de 2014

"SE ENTREGARES AO FAMINTO O QUE MAIS GOSTARIAS DE COMER, MATANDO


A FOME DE UM HUMILHADO, ENTÃO A TUA LUZ BRILHARÁ NAS TREVAS. O TEU
ESCURO SERÁ IGUAL AO MEIO-DIA.”

Leituras: Isaías 58,7-10; Salmo 111; 1Coríntios 2,1-5: Mateus 5,13-16

Situando-nos brevemente
Neste domingo, fazemos memória de Jesus, o bem-aventurado do Pai,
que deu a vida pela humanidade. Manifesta-se como luz do mundo e
presenteia-nos com o novo sabor e o suave vigor de seu Espírito.
No contexto das bem-aventuranças, o Senhor nos renova na
missão de ser sal da terra e luz do mundo. Ele nos convida a “provar”,
como cristãos, a qualidade de nosso sal e a ver com que obstácu-
los ocultamos a luz do evangelho, numa Igreja e numa sociedade de
tanta desigualdade, competição, discórdia, corrupção e miséria.
“Entrai, inclinai-vos e prostrai-vos: adoremos o Senhor que nos criou,
pois Ele é nosso Deus” já nos inspira, a antífona de entrada, lembrando-
-nos que as obras da luz são frutos de sua ação em nós. Elas não se
baseiam na sabedoria humana, mas no poder amoroso e compassivo
do Senhor.

Recordando a Palavra
No sermão da montanha, Jesus fala com o povo simples e des-
prezado da Galileia. O que ele fala? “Vocês são sal e luz do mundo!”
Aquele povo, “zé ninguém”, aos olhos dos “puros” formado por
pecadores, dá sabor ao mundo sem sentido, insípido e brilha atra-
vés de suas boas obras, para que o mundo reconheça nele a bondade
"O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

de Deus. Que o mundo, vendo as boas obras dos pobres, simples e


pequenos, louve a Deus, autor de todo bem.
Isaías, na primeira leitura de hoje, explica quais são as obras e
atitudes agradáveis a Deus. A verdadeira religião é repartir o pão
com os famintos, acolher os peregrinos e os pobres em sua casa; não
desprezar, mas cobrir o que está nu. Essa é a sua luz que brilhará!
Você será como a aurora! Vai recuperar sua saúde! À justiça abrirá
seu caminho! À glória do Senhor seguirá você! Quando você invo-
car o Senhor, ele vai atender, e dirá: “Eis-me aqui”, quando você
pedir socorro. Nascerá das trevas a sua luz, quando: você destruir
os instrumentos de opressão de seu meio; deixar o autoritarismo e a
linguagem maldosa. Se, de coração aberto, você acolher o indigente,
socorrer o necessitado, você brilhará como o sol do meio-dia!
O Salmo 111(112) é um salmo de instrução de forma alfabética
para facilitar a memorização. Declara bem-aventurado quem é fiel à
lei do Senhor. Temos aqui novamente a luz como expressão do bem
praticado, da justiça vivida na solidariedade com os necessitados.
Na carta aos coríntios, São Paulo faz um paralelo entre as pala-
vras e a sabedoria humanas e a Palavra e a sabedoria de Deus. Ele dá
testemunho do mistério de Deus revelado na pessoa, palavra, vida e
morte de Jesus Cristo. Paulo se considera fraco, debilitado e todo trê-
mulo, para que se revele a ação do Espírito Santo em sua missão. À
fé não se fundamenta em discursos, em cantorias humanas, às vezes
persuasivas por si mesmas, levando à adesão pela emoção, à busca
de milagres em proveito próprio, coisas puramente mercantilistas.
À pregação de Paulo é demonstração do poder do Espírito, enviado
pelo Ressuscitado e pede uma adesão humilde, sob a ação de Deus,
no caminho e no seguimento do Crucificado.

Atualizando a Palavra
Cristo é luz do mundo! (cf. Jo 8,12) Quem o segue não anda nas trevas!
Será luz também! — essa é nossa missão no mundo! Deus será reconhecido
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum - Ano A — São Mateus

através das boas obras de seus filhos e filhas. Aí, porém, surge o perigo
da vaidade, da sede de sucesso, de ofuscar a luz de Deus pelo engano de
achar que temos luz própria. Uma luz boa não ofusca, mas ilumina.
O profeta Isaías nos ensina como deixar a luz de Deus brilhar atra-
vés de nossa vidas: saciar os famintos, ser pessoa acolhedora dos indi-
gentes, lutar e afastar a opressão de nosso mundo, cobrir os que estão
desnudados. Se tivermos olhos iluminados, veremos tantas espécies de
nudez, como nudez de dignidade, de possibilidades, de direitos...
Hoje existe muito brilho e excesso das luzes do luxo e do esban-
jamento, da erudição para enganar, roubar, corromper; muita esper-
teza para prejudicar os outros e se manter na acumulação, na riqueza
e no poder social, ideológico, político e econômico. Esses se colocam
no lugar de Deus. Infelizes os que vivem olhando para esse lado.
Ficarão cegos. Essa luz ofusca a visão.
O cristão é sal. À vivência do evangelho dá “sabor” à vida, ilu-
mina tudo o que acontece, leva à ação. Com sua presença, o cristão
é desafiado a impedir que a humanidade se corrompa. Num mundo
onde cada qual procura o próprio interesse, o cristão é chamado a ser
o sal que dá sabor e que conserva a força do evangelho.
Os cristãos podem fazer o sal perder seu sabor, adocicando o
evangelho. Liram o sabor da mensagem de Jesus, das exigências do
evangelho e as adaptam a uma vida confortável, de bem-estar, de
acumulação de riquezas. Uma vivência cristã medíocre tira o sabor da
mensagem de Jesus, a faz perder seu “gosto” profético.
€ » 24:

O que pensar de quem põe sal demais? Isto acontece quando os


cristãos se concentram demais em si mesmos, em seus movimentos e
comunidades, olhando só para si, sem chegar a salgar o mundo com
sua presença e testemunho. “Vós sois o sal da terra”, disse Jesus.
Jesus diz também que somos como uma cidade construída sobre
um monte, que não pode ficar escondida e como uma lâmpada que é
colocada num lugar elevado. Isto não quer dizer que devemos atrair os
olhares para nós, mas para as boas obras que juntos conseguimos rea-
lizar com a graça de Deus, as quais devem ser imitadas e ampliadas.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

À primeira leitura de hoje mostra em que consiste “ser luz nas


trevas”: repartir o pão com quem tem fome; acolher em casa os sem
abrigo; fazer desaparecer a opressão, os gestos ameaçadores e as pala-
vras perversas.
O “sal? e a “luz? do evangelho encontramos, paradoxalmente,
na vida dos que nada podem, nada têm, não são considerados, nem
vistos. Estes podem ser, na sabedoria divina, luz e sal para o mundo.
Diante do empobrecido, os cultos e ricos têm que fazer sua opção a
favor ou contra o Cristo pobre. “Eu estava com fome, e me destes de
comer”. (Mt 25,31-46) Os que estão na periferia econômica, social,
existencial, os que vivem em toda sorte de marginalidade, são Cristo
para a humanidade.
A solidariedade dos pobres é um questionamento para a
mudança de valores de nossa sociedade individualista, competitiva,
gananciosa, na qual cada um quer acumular cada vez mais, pisando
em cima da dignidade dos demais. A multidão dos “pisados” é a luz
que pode fazer ver o verdadeiro sentido da vida e o que é decisivo e
fundamental, hoje.
Jesus diz que somos sal e luz para o mundo, se seguirmos suas
pegadas, se formos verdadeiros discípulos. Como seguidores de Jesus
Cristo, daremos cor e sabor ao mundo — cor e sabor da verdade, bon-
dade, simplicidade, justiça, autenticidade, solidariedade, partilha,
entrega total da vida como Jesus fez. Com ele, faremos o mundo
luminoso e gostoso, conforme a sabedoria de Deus.
Ser luz do mundo significa trabalhar para que o Reino de Deus
aconteça. Será que nós, cristãos, somos realmente luz do mundo?
Nosso mundo, muitas vezes, jaz nas trevas. Sentimo-nos até desani-
mados e impotentes diante das situações de injustiça, de corrupção,
de miséria, de violência e tantos outros males que nos atingem. Que
podemos nós fazer? Quantas pessoas entre nós, também não cristãs,
trabalham para que haja “luz »|
1 01 Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

Ligando a Palavra com a ação eucarística


À celebração da Eucaristia hoje torna-se uma expressão concreta da
Palavra que acolhemos com sinceridade. Louvamos o Pai por tudo
o que somos e fazemos. Realizamos uma obra que tem o verdadeiro
sabor da Palavra que ouvimos, ao oferecermos nossa vida com Cristo
ao Pai pela vida dos irmãos, especialmente dos mais pobres.
À luz, sempre presente em nosso espaço celebrativo, evidencia a
certeza da ressurreição, acendendo em nós o desejo de sermos seres
iluminados, condutores da luz de Cristo. Da espiritualidade judaica
recebemos o convite: estando para iniciar a celebração, “disponha-se
a acender o candelabro de Deus em seu coração, a retomar o caminho
da misericórdia e reavivar a alegria da gratidão.”
“Demos graças ao Senhor por sua bondade, por suas maravilhas em favor da
humanidade: deu de beber aos que tinham sede, e alimentou os que tinham
fome.” — confirmamos na antifona de comunhão.

Participando do mesmo pão e do mesmo cálice, pedimos viver


de tal modo unidos em Cristo, que tenhamos a alegria de produzir muitos
frutos para a salvação do mundo (da oração pós comunhão).

Sugestões para a celebração O ee


1. Preparar bem o espaço celebrativo, destacando os elementos
essenciais que nos lembram a presença de Cristo: a mesa da ceia
eucarística e mesa da Palavra, a cadeira de quem preside, o espaço
da assembleia.
2. Valorizar os símbolos do sal e da luz sugeridos na liturgia da
Palavra.
3. Reavivar, na liturgia da Palavra, o diálogo da aliança entre Deus
€ seu povo.

4. À atitude fundamental é de escuta atenta e resposta consciente


e amorosa. Insistir para que a assembleia ouça a Palavra que é
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

proclamada pelo leitor, o qual deve estar espiritual e tecnicamente


preparado. À leitura é feita no lecionário e não nos folhetos.

5. À oração eucarística, como momento central do rito eucarís-


tico, deve brotar do coração agradecido e não ser simples leitura
do Missal. Deve expressar nossa ação de graças e a oferenda de
nossa vida com Cristo ao Pai. Requer de quem preside e de toda
a assembleia, como Corpo eclesial de Cristo, atitude orante e
autêntica de identificação e participação plena no mistério.
6. Antes da bênção final, fazer o rito do sal e o rito da luz, conforme
sugestão a seguir (cf. M. Guimarães & P. Carpanedo, Dia do Senhor,
Tempo Comum, Ano À, São Paulo. São Paulo, 2002 - Coleção
Liturgia no caminho. Série Dominical e Santoral, p. 86-87).

Rito do Sal
Apresenta-se o sal. Quem preside reza:
C: Bendito sejas, Deus da vida, pelo sal que dá sabor e conserva os alimen-
tos. Derrama o teu Espírito sobre nós e realiza em nossa vida a palavra
do Senhor de sermos, também nós, sal da terra. Por Cristo, nosso Senhor.
Amémi(distribuir o sal e cada um entrega o sal para outra pessoa, dizendo)
— Você é sal da terra!

(ou canta-se o refrão: Vocês são o sal, o sal tem sabor! Sal da Terra, diz o
Senhor. melodia de: Eu sou a videira, vocês são os ramos...)

Bênção das velas:


Depois cada pessoa recebe e acende uma vela. Quem preside, reza:

C: Bendito sejas, Deus fonte da luz, por teu Filho Jesus Cristo, luz de nossa
vidas, energia de nossas comunidades.

(Cada pessoa troca a vela com outra pessoa, dizendo;)

— Você é luz do mundo!

Essa vela pode ser levada para casa e acesa durante a semana, num momento
de oração.
6º DOMINGO DO TEMPO COMUM

16 de fevereiro de 2014

“ENSINAL-ME A VIVER VOSSOS PRECEITOS,


QUERO GUARDÁ-LOS FIELMENTE ATÉ O FIM!"

Leituras: Eclesiástico 15,16-21; Salmo 118;


ICoríntios 2,6-10; Mateus 5,17-37

Situando-nos brevemente
Neste domingo, o sexto do Tempo comum, na trilha do evangelista
Mateus, permanecemos na montanha com Jesus, acolhendo como
discípulos, a proposta singular e desafiadora de seu Reino.
Ele nos propõe uma nova maneira de interpretar a lei, a levando
à plenitude e chamando-nos à exigência de sua radicalidade, na prá-
tica da justiça e da misericórdia.
À Páscoa semanal, que hoje celebramos, abraça todas as pessoas
que, com o coração sincero e reto, se comprometem com a justiça, socor-
rem os mais fracos, partilham com generosidade o pão, promovem
o relacionamento fraterno entre as pessoas e acreditam na força do
perdão e da reconciliação.
Feliz quem anda na lei do Senhor, cantamos no salmo de hoje.
Esta é assembleia onde Deus habita, rezamos na oração inicial, a quem
Deus revela a sabedoria de sua lei, pelo seu Espírito.

Recordando a Palavra
Hoje continuamos ouvindo o sermão da montanha, no qual Jesus
ensina o que está na origem do Reino de Deus. Ele não veio abolir
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). |

a lei e os profetas, mas veio dar-lhes pleno cumprimento. Para Jesus,


as Sagradas Escrituras devem ser integralmente cumpridas. Quem
compreender isto e assim ensinar será grande no Reino de Deus, mas
quem fizer o contrário será o menor.

O contexto em que o primeiro evangelho surgiu é aquele após


a destruição de Jerusalém e do templo pelo império romano. Os
grupos existentes no judaísmo (saduceus, zelotas e essênios) haviam
sido dizimados. Das ruínas materiais e da crise espiritual emerge um
grupo fariseu que unifica o judaísmo normativo, excluindo qualquer
pluralismo. A comunidade do evangelho de Mateus é constituída
por judeus que reconheceram Jesus como o Messias. À rejeição aos
cristãos vai se intensificando, até tornar-se oficial na assembleia de
Jamnia, entre os anos 85 e 90 d.C. Os judeus-cristãos são expulsos
formalmente das sinagogas.

O trecho do evangelho que ouvimos hoje expressa bem a tensão


existente entre os cristãos e os fariseus. Para quem segue Jesus ressus-
citado, a prática da justiça é fundamental. Jesus fala com uma auto-
ridade que está acima dos mestres do judaísmo. Jesus cumpre a lei e
os profetas em seu sentido profundo. O reinado de Deus é a meta.
Quem pertence a esse reinado do Senhor tem que superar a prática
da justiça dos letrados e dos fariseus. Jesus expõe sua posição diante
da lei tradicional, indo além, exigindo atitudes interiores, conversão
profunda, na forma reiterada: “foi dito” — “eu vos digo”. À lei de Jesus
supera a lei de Moisés que é, ao mesmo tempo, lei religiosa e civil.
Nos versículos 21-26, sobre o homicídio (Ex 20,13; Dt 5,17;
Lv 24,17), radicaliza-se a atitude interior (cf. 1v19,17-18) de onde brota
a violência de matar e se estendem as ofensas menores - xingamentos,
insultos, desprezo, rancor, inveja - que podem levar ao homicídio. Há
uma hierarquia para o castigo: tribunal local, conselho nacional, o pró-
prio Deus, com o castigo escatológico do fogo. Do preceito negativo
de “não matar” estende-se a exigência positiva da reconciliação, antes
da participação no culto. Os versículos 27-30 são sobre o adultério:
sua proibição (Ex 20,10,14; Dt 5,18), sob pena de morte (Lv 20,10).
ol Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum - Ano A -— São Mateus

À nova lei atinge a atitude interior de desejo consentido que entra


pelos olhos e pelos outros sentidos e membros. Novamente é lem-
brado o fogo escatológico como castigo. Os versículos 31-32 falam do
divórcio concedido ao homem. Jesus se opõe à lei e à sua legalidade.
Os versículos 33-37 falam sobre o juramento (Lv 19,12; Nm 30,2).
Entre os irmãos cristãos, a sinceridade deve ser tal que inutilize todo
juramento: “Sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela
terra, nem com outro juramento qualquer. O vosso sim seja sim, e o vosso
não, não. Então não estareis sujeitos a julgamento.” (Tg 5,12) O jura-
mento era procedimento legal e prática religiosa admitidos e respei-
tados. No juramento, se oculta a desconfiança na palavra humana; o
juramento busca o respaldo de uma instância superior. Não se deve
colocar Deus em meio a nossas humanas questões.
O livro do Eclesiástico afirma a liberdade humana diante da
proposta de Deus: “se você quiser” observar os mandamentos, eles
guardarão você; “se quiser” confiar em Deus, você vai viver. Deus
deu-lhe a capacidade de escolher entre o fogo e a água, entre a vida e
a morte, o bem e o mal. Você receberá o que preferir. À sabedoria de
Deus é imensa, Ele é forte e bondoso e tudo vê. Deus tem cuidado
de quem o teme e conhece nossas obras. Ele não nos mandou agir
erradamente e não nos dá licença de pecar.
O Salmo 119(118) é uma longa meditação sobre a lei de Deus,
sua Palavra, mencionada em cada verso por diversos sinônimos. É
um salmo de instrução, proclamando que é feliz quem observa e vive
os preceitos do Senhor.
À carta aos Coríntios fala da misteriosa sabedoria de Deus, que
nos foi revelada através do Espírito.

Atualizando a Palavra
Hoje a Palavra de Deus nos ilumina sobre a relação entre Jesus e a
lei. Sua missão não é abolir nem facilitar, mas libertar do formalismo
e do fundamentalismo. Para Jesus, não basta a observância externa
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

apenas para “ir para o céu” após a morte. Jesus exige radicalidade. A
Palavra de Deus deve atingir até o mais profundo do ser humano. É
uma procura amorosa da vontade original de Deus que ultrapassa a
simples letra da lei. É necessário ver e ouvir por “trás das palavras”,
encontrando-se pessoalmente com o Espírito da Lei.
Para o cristão ser justo, conforme a exigência de Jesus, não basta
observar preceitos, cumprir mandamentos, é necessário viver e rea-
lizar o bem proposto por Deus em sua Palavra. À letra da lei mata,
mas o Espírito vivifica. Conforme o Salmo 119(118), a lei é uma
luz, um caminho, razão de viver e se sentir interiormente como povo
escolhido de Deus. À lei foi dada para podermos viver e testemunhar
o bem que Deus propõe.
Jesus nos alerta que podemos observar a lei em outro espírito,
que não seja o Espírito de Deus. O espírito que motivava os fariseus
da época se afastava do projeto do Pai, porque não beneficiava os
pobres e pequeninos. Não era espírito de Deus, mas um negócio com
Deus, troca, barganha. Os fariseus tornaram-se donos da lei e ela
passou a ser instrumento de dominação econômica, política e reli-
giosa sobre os demais: “Amarram pesados fardos e impóem-nos aos
ombros dos irmãos, ao passo que eles mesmos se negam a movê-los
com o dedo” (cf. Mt 23,4). Jesus, então, deseja tirar a lei das mãos
de quem oprime em nome de sua observância e devolvê-la a Deus.
O que Deus deseja é a justiça, seu plano amoroso. Procurar a justiça
verdadeira é olhar a vida com amor radical. Então os mandamentos
de Deus significarão muito mais do que a letra diz, e nos levarão à
perfeição de filhas e filhos de Deus.
Cumprir toda justiça é a justiça que inclui lei e profetas. O essen-
cial da lei é a prática da justiça e da misericórdia que ultrapassam a
observância legalista. Jesus toma alguns exemplos para deixar claro
até onde devem ir a justiça e a misericórdia. Vai até a raiz e mostra
que o objetivo da lei é a defesa da vida. Não basta “não matar”, é
necessário construir uma sociedade humana, fraterna e solidária, na
qual a vida plena seja para todos. À lei é “não cometer adultério”, mas
A Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal — Tempo Comum — Ano A — São Mateus

não basta; é preciso eliminar o desejo de posse sobre a mulher, extin-


guir todo machismo e todos os privilégios do homem, raiz de toda
opressão presente nas relações humanas. O bem-querer é a proposta
de Deus. Nossa resposta é um amor verdadeiro, com raiz na tota-
lidade da pessoa, o qual se insere na fonte do amor que é o próprio
Deus. Não basta “não jurar falso”; temos que promover a convivência
fundamentada na verdade, na integridade, na honestidade, na ética.
O que a Palavra de Deus exige hoje de nós é cortar o mal pela
raiz. Jesus não nos prescreve apenas normas, mas uma proposta evan-
gélica nova que batize, lave até nosso inconsciente, nossa consciência
profunda, e faça da vida um contínuo ato de discernimento, de busca
de sentido de nosso ser, de nosso viver, do nosso agir. À primeira
leitura nos convida, a cada momento, a tomar uma posição diante da
LEI, o projeto de Deus.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Acolhemos, na mesa da Palavra, a novidade da lei do amor que não
conhece limites. A Eucaristia é, para nós cristãos, a mais verdadeira
e perfeita expressão simbólico-ritual desta nova lei.
Ao prepararmos a mesa da ceia, neste domingo, somos impelidos
a nos despojarmos do egoísmo, do individualismo, da autossuficiên-
cia e de qualquer sinal de rancor e mágoa que nosso coração esteja
nutrindo contra alguém. Assim podemos, confiantes, rezar com as
palavras da oração sobre as oferendas: “Ó Deus, que este sacrifício nos
purifique e renove, e seja fonte de eterna recompensa para os que fazem a
vossa vontade”.
Humildes e reconciliados, elevamos nossa ação de graças ao Pai,
entregando nossa vida como oferenda agradável e levada a efeito na
comunhão, como dádiva do amor de Deus para conosco e de nós
para com Ele, em Cristo Jesus: “Deus amou tanto o mundo, que deu o
seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna” (Jo 3,16), rezamos na antífona de comunhão.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). 108

Sugestões para a celebração


1. O domingo, como “festa primordial”, se caracteriza pelo encontro
alegre e festivo da comunidade cristã com o Ressuscitado,
presente na reunião fraterna, convocada e enviada em missão;
na Palavra proclamada; na ceia eucarística. Daí a importância
da preparação do espaço, do exercício dos vários ministérios, dos
cantos e de todos os momentos rituais, para que este encontro
seja verdadeiramente pascal, transformador.

Um refrão meditativo no início, seguido de oração pessoal ajuda a


assembleia a criar uma atitude de abertura ao Espírito. É ele que
move os corações, une amorosamente as diferenças, faz entender
e acolher a Palavra da Salvação.
Inspirado na antífona de entrada, o canto de abertura indicado
pelo Hinário 3, encontra-se na p. 121: Sé a rocha que me abriga...
Ligando a celebração com a vida, após a saudação inicial, é muito
salutar fazer a recordação de fatos e acontecimentos significativos
que marcaram a semana. O sentido do mistério pascal alarga-se
com a páscoa vivida na fé pela comunidade.
O canto de comunhão, o quanto possível, retomando o pão da
palavra, vem indicado no Hinário 3, p. 248-9: Aquele que faz,
aquele que ensina...
7º DOMINGO DO TEMPO COMUM

23 de fevereiro de 2014

".. SEDE SANTOS, PORQUE EU, O SENHOR VOSSO DEUS, SOU SANTO.”
"PORTANTO, SEDE PERFEITOS COMO VOSSO PAI CELESTE É PERFEITO!”

Leituras: Levítico 19,1-2.17-18; Salmo 102; 1ICoríntios 3,16-23;


Mateus 5,38-48

Situando-nos brevemente
Como assembleia de irmãos, todos chamados a atingir a estatura
da santidade de Deus, fazendo o bem até aos inimigos, celebramos
o memorial da Páscoa de Jesus. Louvamos a imensa misericórdia
do Pai, que olha compassivo nossa realidade, cheia de fraquezas e
necessidades.
O salmo hoje nos propõe esta atitude que permeia toda a cele-
bração: Bendize, ó minh'alma, ao Senhor, pois ele é bondoso e compas-
sivo... Não te esqueças de nenhum de seus favores... Te perdoa toda culpa...
cura toda a sua enfermidade... Te cerca de carinho e compaixão.
Em Jesus, o Pai nos oferece sua compaixão, dando-nos seu per-
dão, a força da reconciliação que nos leva ao amor incondicional e
guia-nos no caminho da concórdia e da justiça.
Na oração inicial, pedimos que, procurando conhecer sempre o que é
reto, realizemos a vontade de Deus, em nossas palavras e ações.

Recordando a Palavra
Continuamos hoje o evangelho do domingo passado. Jesus, depois de
proclamar as “bem-aventuranças”, as “felicidades”, expõe uma série
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

de contraposições entre a lei mosaica e sua nova proposta, dizendo:


“foi dito” no passado, na lei, “eu, porém vos digo” hoje, na nova lei.
Jesus lembra a lei do talião, princípio jurídico segundo o qual a
pena devia ser proporcional à ofensa. Queria ser um avanço em rela-
ção à lei do mais forte, e tentava pôr um freio ao crescimento da vio-
lência. “...olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé...”
(Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21) Jesus propõe que só se pode frear o
mal com o bem, não com o revide: “ao receber uma bofetada, oferecer
a outra face”, “se alguém quiser tomar-lhe a túnica (roupa de baixo),
oferecer também o manto (agasalho)”; “se alguém te forçar a caminhar
mil passos, caminha com ele dois mil”. São três exemplos de profunda
generosidade que Jesus nos dá na ordem do sofrer, possuir e executar.
Nos versículos 43-48, Jesus fala sobre o ódio ao inimigo. Não
se conhece nenhum texto do Primeiro Testamento sobre isto. Há
uma longa distância do Salmo 139,22: “Eu odeio, Senhor, os que te
odeiam”, Pr 29, 27: “os justos detestam o ímpio”. O preceito de Jesus
recolhe sugestões do Primeiro Testamento: Lv 19,17-18 diz: “Não
guardes no coração ódio contra teu irmão. Repreende teu próximo
para não te tornares culpado de pecado por causa dele. Não procures
vingança nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor” (Ex 23,4-5). Estas
palavras ouvidas e lidas por Jesus, tornam-se suas e culminam em
extensão e profundidade. O motivo de amar os irmãos e os inimigos é
a filiação divina, é ser “imagem e semelhança de Deus” (cf. Gn 1,27).
Deus é criador e Pai de todos os seres humanos, bons e maus. O ar, o
sol e as chuvas são para todos. “Se ama somente os irmãos, o que faz
de extraordinário? Os que não têm fé também fazem isto.”
Mt 5,48, Lv 19,2 e outros textos nos convidam a viver a santi-
dade de Deus. Jesus fala de “perfeição” e a centraliza na prática do
amor até as últimas consequências de entregar a vida.
“Deus é bondoso e compassivo”, cantamos no Salmo 102, em
resposta à leitura do Levítico. Deus nos “perdoa, nos cura, salva nossa
vida da sepultura, nos cerca de carinho e proteção, é indulgente, é
Ri Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

favorável, é paciente, não nos trata conforme exigem nossas faltas,


nem nos pune em proporção às nossas culpas...” “Como uma mãe,
como um pai, Deus se compadece de nós...”
Deus mora em nós, somos santuários desse Deus! É o que São
Paulo fala aos Coríntios. Se Deus é santo, o santuário de Deus deve
ser santo! Insensato é quem vive conforme a insensatez deste mundo.
Ninguém se apoie em homem algum, porque tudo pertence ao Santo
e eterno Deus: a humanidade, “o mundo, a vida, a morte, o presente,
o futuro” tudo pode ser nosso, mas nós somos de Cristo, e Cristo é
de Deus, Pai celeste perfeito!

Atualizando a Palavra
Hoje, a primeira leitura ajuda a iluminar o evangelho que ouvimos.
O Levítico nos fala da necessidade de sermos santos, porque Deus
é santo. À santidade que Deus exige de nós, não se reduz a práticas
externas da religião, mas ao amor sem limites. Pela Aliança, os
israelitas são de Deus. Pelo Batismo, os cristãos são de Deus. Aqueles
que formam o “povo de Deus” não podem desonrar esse nome, mas
assemelhar-se a ele que é amor e perdão, como nos diz o livro do
Êxodo 34,6-7: “O Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente,
rico em bondade e fiel, que conserva a misericórdia por mil gerações
e perdoa culpas, rebeldias e pecados...” Por isso, é necessário que
sejamos irrepreensíveis.
Jesus, como filho amado do Pai, compreendendo e vivendo a
pertença plena a Deus, explica e exige a santidade de seus seguidores.
À caridade fraterna, o amor aos inimigos devem ser as caracte-
rísticas de quem segue Jesus, o Cristo. No seguimento do Senhor,
não cabem ódio, vinganças, egoísmo, injustiças, violências, guerras,
comércio de armas, competições, incompreensões, divisões. Entre-
tanto, no mundo, vemos acontecer tudo isso entre nações, grupos,
pessoas. Até entre igrejas e dentro das igrejas existem diversos tipos
de inimizades, competições, exploração de pobres e pequenos.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

Muitos de nós agimos como se fôssemos deuses diante de nosso


próximo. Rezamos ingenuamente sem pensar nas consequências:
“perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todo
aquele que nos deve”. (Lc 11,4)
O sinal de que somos seguidores de Cristo crucificado e ressus-
citado é o amor sem medidas:

“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu
vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhe-
cerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”
(Jo 13,34-35)
A medida de nosso amor para com o próximo é, pois, o amor
que Cristo tem por nós, a ponto de entregar sua vida. Mais ainda, a
medida é o amor que o Pai tem por Cristo: “Como meu Pai me ama,
assim também eu vos amo”. (Jo 15,9) O amor ao próximo está indis-
soluvelmente ligado ao preceito do amor a Deus.
Realizamos nossa vocação de sermos semelhantes ao nosso Deus,
quando amamos todas as pessoas com o amor gratuito de Deus, sem
busca de retribuição. Por esta razão, nosso empenho maior é amar os
pobres, os estranhos, os diferentes e, o mais difícil, amar os inimigos.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Como santuário de Deus, habitação do Espírito, rompendo com ressen-
timentos diferenças e preconceitos, a assembleia litúrgica torna-se
sacramento do amor de Deus entre nós.
Num mundo de discriminação, ódio e violência, a mesa da ceia
eucarística sinaliza profeticamente a reconciliação e a comunhão uni-
versal. Nela recebemos o Espírito de santidade que, com Cristo, nos
faz perfeita oferenda ao Pai, vida doada incondicionalmente para a
salvação do mundo, cujo penhor recebemos neste sacramento, rezamos na
oração pós-comunhão.
n Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A -— São Mateus

O pão partido e partilhado, participado na igualdade de irmãos,


nos mantém no caminho da santidade e cultiva, em nós, a atitude
fundamental de discípulos daquele que, na cruz, chegou à radicali-
dade do amor sem limites.

Sugestões para a celebração


1. Garantir desde o início da celebração uma clima de festa pela
acolhida alegre e amorosa dos irmãos, reunidos na santidade e na
bondade de nosso Deus.

A proclamação das leituras, o canto do salmo assim como as


orações, e gestos sejam realizados com atitude espiritual, condi-
zente ao diálogo e ao encontro de aliança que, com Cristo, no
Espírito de santidade, fazemos com o Pai, santo e justo.
O abraço da paz seja motivado, após a oração do Pai-nosso,
no espírito do evangelho, com abertura aos que consideramos
inimigos ou que, de alguma maneira, nos fazem sofrer.

Para o canto de comunhão, , como ligação com a mesa da Palavra ,

o Hinário 3, na p. 248-9, sugere: “Se amam somente quem ama a


vocês” ou “Se eu não tiver amor”, Hlinário 33, p. 370.
8º DOMINGO DO TEMPO COMUM

02 de março de 2014

"NINGUEM PODE SERVIR A DOIS SENHORES: OU VAI ODIAR O PRIMEIRO E AMAR O


OUTRO, OU ADERIR AO PRIMEIRO E DESPREZAR O OUTRO. NÃO PODEIS SERVIR À
DEUS E AO DINHEIRO."

Leituras: Isaías 49,14-15:; Salmo 61; 1Coríntios 4,1-5; Mateus 6,24-34

Situando-nos brevemente
Neste oitavo domingo do Tempo Comum, que neste ano antecede
o início da quaresma, ainda no contexto das bem aventuranças,
o Senhor nos propõe romper com o culto ao dinheiro, que é uma
idolatria, e ter confiança em Deus Pai, sempre solícito amorosa-
mente às nossas necessidades e preocupações, para que, disponíveis,
concentremos todas as energias na busca de seu Reino.
A antífona de entrada já nos inspira: O Senhor se tornou o meu
apoio, libertou-me da angústia e me salvou por que me ama. O conjunto
das orações nos ajudam a entrar no espírito deste domingo: confiar no
amor providente do Pai e não ficarmos divididos entre dois senhores.
Em quase todas as regiões do Brasil, acontecem, nestes dias, as
festas de carnaval que revela a carência de festa que existe nas pes-
soas. Para nós, um convite a dar às nossas celebrações um sabor pas-
cal, um clima de festa, de convívio alegre de irmãos que, na liberdade
de filhos e filhas entram na intimidade amorosa do Pai.
Assim, pedimos na oração inicial deste domingo: Fazei, ó Deus,
que os acontecimentos deste mundo decorram na paz que desejais, e vossa
Igreja vos possa servir, alegre e tranquila.
11 s Roteiros Homiléticos do Tempo do Aclvento — Natal - Tempo Comum — Ano A - São Mateus

Recordando a Palavra
Nos capítulos 5 a 7 de Mateus, encontramos o primeiro grande
discurso de Jesus, chamado de “Sermão da Montanha”, ele faz parte
do Gênesis alternativo (Mt 3-7). Trata-se do começo que nos diz o
que vem a ser o Reino, onde ele está e como se constrói. Jesus está
cercado por seus prediletos — os pobres, doentes, marginalizados - e
lhes fala da justiça do Reino que deve ser a prática de suas discípulas
e de seus discípulos. O capítulo 6 começa com Jesus denunciando a
hipocrisia de quem se diz seu seguidor. Depois diz que o Reino exige
decisões radicais, ensina a orar, impõe o desapego das coisas terrenas,
apela para que todo corpo seja luz e termina exigindo serviço exclusivo
ao projeto de Deus. É a Palavra de Deus na liturgia deste domingo.
Jesus é claro com quem o segue: não dá para servir a Deus e ao
dinheiro. O deus do dinheiro e da cobiça é “Mamon”, que se opõe a Deus
verdadeiro, e é todo poder econômico que produz a morte e destrói a vida.
À ganância é uma idolatria. Quem só pensa em acumular não possui os
bens, mas é possuído por eles, dominado e escravizado pela riqueza, diante
do que está encurvado. À preocupação em acumular, deteriora todas as
relações e chega a deteriorar a saúde do ser humano (cf. Eclo 31,1-2).
Nosso Deus verdadeiro é doador generoso e nos ensina a doar, a
partilhar. À correta relação com os bens também nos ajuda a uma ati-
tude de confiança diante de Deus e das outras pessoas. O “Reinado
de Deus e a sua justiça” promovem relação harmoniosa entre os seres
humanos e entre a humanidade e a natureza. As aves do céu, os lírios
dos campos não deturpam a própria natureza.
Jesus demonstra sua sensibilidade contemplativa e ecológica.
Revela uma exigência atualíssima para aqueles que o seguem. É
necessário mudar o objeto de nossas preocupações. Não à ganância,
sim à busca do reinado de Deus sobre todas as pessoas, todas as coisas
e sobre toda a natureza, todo o universo criado.
Deus nos ama com amor de mãe. A palavra de Deus no Deu-
tero Isaías é um consolo tanto para os exilados da Babilônia, como
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3).

para os pobres que haviam permanecido na Palestina, em tempo de


desânimo, perda de fé e de esperança. O povo estava sem Templo,
sem rei e sem lideranças. Tudo parecia perdido e o povo sentia-se
abandonado por Deus. Isaías já havia argumentado com o poder de
Deus, mas agora consola o povo, afirmando que o amor de Deus
supera todo amor e bondade. Mesmo que uma mãe se esqueça de seu
filho, Deus jamais se esquecerá de seus filhos. Maior que as injusti-
ças humanas são o amor, a ternura, o carinho de Deus.

Atualizando a Palavra
Hoje, Jesus nos pede para escolhermos entre os bens econômicos,
o dinheiro e Deus. À nossa resposta fundamental ao chamado de
Deus é a confiança total no Pai. Viver a justiça do reinado de Deus
é deixar-se guiar pela palavra de Jesus. Ele não ensina uma vida de
“sombra e água fresca”, mas a luta pela justiça, que é o bem para toda
a humanidade e toda a criação.
A palavra de Jesus é muito atual para esse tempo de desrespeito
às matas, às águas, à natureza. Viver em concordância com as regras
naturais está mais de acordo com o projeto de Deus. O que a ganância
humana criou não se compara com a sabedoria da natureza, criada e
mantida por Deus.
Como mãe que jamais abandona seus filhos, Deus acompanha,
abençoa e ama seu povo que sofre debaixo da ganância dos opresso-
res. Sempre haverá uma saída, esperança de que a justiça reinará. À
construção de um mundo novo, de uma sociedade na qual existam
menos desigualdades é possível e o dia de amanhã não causará preo-
cupações, mas haverá possibilidades e alternativas de a humanidade
se aproximar da vida sábia das aves e dos lírios, mantendo confiança
ilimitada em nosso Deus e Pai. À justiça torna-se sinônimo de amor
misericordioso, de solidariedade fraterna, de perdão reconciliador, de
igualdade respeitosa.
E Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento — Natal - Tempo Comum - Ano A - São Mateus

Quem vive calculando como ganhar e enriquecer mais não pode


viver confiante na generosidade e cuidado de Deus. À confiança na
providência divina não é alienante, mas libertadora e formadora de
uma solidariedade comprometida especialmente com os mais neces-
sitados. Quanto maior a confiança, maior a responsabilidade e o
engajamento na luta contra o consumismo, a submissão ao mercado
e o endeusamento das coisas materiais.

O que sustenta nossa confiança é a certeza da fidelidade de Deus


à sua aliança.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Experimentamos a presença viva do Senhor na reunião de irmãos e
na Palavra proclamada, saciando nossa fome e sede de justiça.
Ele continua fiel em sua presença salvífica na ceia eucarística
e continuará conosco até o fim dos tempos como nos lembra, uma das
antífonas de comunhão, indicadas hoje.
Nossa participação na Eucaristia manifesta nossa confiança em
estabelecer com o Pai uma aliança de amor e compromisso, fazendo
uma escolha irrestrita por seu Reino. À Eucaristia nos impõe a opção
radical por ele.

Sugestões para a celebração


1. A acolhida afetuosa e festiva das pessoas que chegam para
celebrar é um sinal do acolhimento cuidadoso do Pai que nos
conhece, nos chama pelo nome e nos convida ao encontro com
ele. O ministério da acolhida presta este importante serviço.
2. Um refrão meditativo ou um convite ao silêncio ajuda a criar um
clima orante e participativo, cultivando, na assembleia, desde o
início da celebração, uma atitude de confiança filial na bondade
maternal do Pai.
“O Senhor nos vai mostrar a sua estrada e nós vamos trilhar os seus caminhos” (Is 2,3). ER

3. Após sinal da cruz e da saudação, quem preside lembra o sentido


da celebração, possibilitando a recordação de fatos, motivos,
preocupações, angústias, alegrias e esperanças que a comunidade
traz para celebrar: a Páscoa da vida acontecendo.
4. Favorecer a atitude de escuta atenta, no rito da Palavra. As leituras
bem proclamadas, entremeadas com momentos de silêncio,
tornem possível o diálogo de aliança entre Deus e seu povo.
5. Que o rito eucarístico, com as orações, cantos, aclamações e
gestos que o constituem seja participado ativa, consciente e
plenamente pela assembleia. Para isto é necessário que o exer-
cício do ministério de quem preside seja realizado com fé, auten-
ticidade e espiritualidade.

6. Para o canto de comunhão, ligando a Eucaristia à Palavra, o


Hinário 3 traz uma indicação na p. 250-1: “Olhai para os lírios...”
7. Na próxima quarta-feira, iniciamos, com a celebração de bênção
e a imposição das cinzas, o santo tempo da Quaresma, prepa-
rando-nos, mais intensamente, pela escuta da Palavra e prática
da oração para a celebração festiva da Páscoa (Cf. SC, n. 109).
A Campanha da Fraternidade, que realizamos neste período,
ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo
litúrgico: a oração, o jejum e a misericórdia. Neste ano, o tema da
Campanha é: “Fraternidade e tráfico humano” e o lema: “É para
a liberdade que Cristo nos libertou” (cf. G1 5,1).
SIGLAS

GS — Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes

PG — João Paulo II, Pastores Gregis, exortação apostólica

SC —- Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium

SCa — Bento XVI, Sacramentum caritatis, exortação apostólica

UR -— Concílio Vaticano II, Unitatis Redintegratio

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