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TONGOBRIGA ROMANA: NOVOS DADOS, NOVAS PERSPECTIVAS

ANTÓNIO MANUEL DE CARVALHO LIMA


Arqueólogo. Estação Arqueológica do Freixo / Direção Regional de Cultura do Norte
amlima@culturanorte.pt
ORCID 0000-0002-9144-3311

Tongobriga é o nome, de raiz pré-latina, de um anos permitiu identificar um significativo conjunto de


povoado cuja origem remonta a um período anterior à ruínas, das quais se destacam as que são atribuíveis à
integração do noroeste peninsular no Império Romano época romana.
e que se prolonga muito para além da desintegração
desse mesmo Império. Hoje em dia, Tongobriga e a aldeia histórica de Santa Maria
do Freixo dispõem de um serviço permanente de investigação
Localiza-se na bacia do Douro, no vale de um dos arqueológica e de atendimento ao público, incluindo um
seus principais afluentes, o Tâmega, o mesmo rio que viu restaurante/cafetaria, um auditório e o centro interpretativo,
nascer a cidade romana de Aquae Flaviae, pouco menos recentemente inaugurado, com uma exposição temática
de 60 milhas a montante de Tongobriga (Figura 1). Até intitulada “Mudar de Vida”, designação que pretende realçar
finais do século XVIII e inícios do século XIX, grande as mudanças que a integração no império provocou na vida
parte das suas ruínas deve ter mantido uma volumetria dos habitantes do noroeste peninsular1.
considerável, aflorando à superfície e permitindo à
pobre e escassa população rural que aí vivia um convívio A investigação aí realizada desde 1980, permitiu
diário com essas ruínas, fazendo delas uso quotidiano, a afirmação de Tongobriga romana no panorama
quer reconstruindo-as e dando-lhes novo uso, quer científico português e internacional, afirmação essa
como fonte de materiais de construção para a nova e que foi essencialmente baseada no conhecimento do
profunda modelação do terreno que, a partir de então, seu urbanismo, entendido no contexto da respetiva
se pôs em marcha com o objetivo de o tornar apto à promoção a capital de território.
prática agrícola.
Nesta perspetiva, tal afirmação tem posto em
Embora desde há muito se multiplicassem as notícias evidência a exata medida em que os principais atributos
de achados dispersos, a revelação de Tongobriga, para a do urbanismo romano têm sido reconhecidos nas ruínas
arqueologia e para a população em geral, deve-se a Lino de Tongobriga (Figura 2):
Tavares Dias e à sua equipa. O projeto de investigação
que este arqueólogo aí desenvolveu durante mais de 30 ‒ A existência e implementação de uma planta
hipodâmica, a qual, mesmo quando impossível de
concretizar por manifesta impossibilidade topográfica
de o fazer, estará presente na criação de outras
“geometrias” de ordenamento do espaço urbano;

‒ A implementação da construção doméstica assente


em modelos importados e inserida numa malha
urbana dotada de infraestruturas (essencialmente,
sistemas de drenagem de águas). Quer a malha
urbana, quer as edificações – não só os edifícios
públicos monumentais, mas também as habitações
– são tidas como exemplo da materialização dos

Figura 1. Localização de Tongobriga no vale do Tâmega / bacia


do Douro. 1. Lima 2016.

Anejos de Segovia Histórica 2, 2017, 341-363 ISBN: 978-84-7807-5


344 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

Figura 2. Tongobriga. Planta síntese dos principais atributos e elementos definidores do urbanismo romano (esquema baseado
em Rocha, Dias e Alarcão, 2015): malha urbana (1), forum (2), templo (2a), basílica (2b), termas (3), anfiteatro (4), teatro (5).

princípios vitruvianos da arquitetura e urbanismo, Assim, realçaremos a afirmação de Tongobriga


quer no que diz respeito à localização e orientação no contexto dos centros urbanos de época romana
dos edifícios, quer relativamente às suas dimensões e no vale do Douro, mais pela compreensão das suas
proporções (com especial destaque para o rigor no uso particularidades do que por um esquema interpretativo
das medidas-padrão romanas); genérico, que antecipe uma conclusão definitiva acerca
da estrutura urbana imperial.
‒ A construção de edifícios públicos monumentais,
quer os relacionados com o triunfo do modo de vida Para tal, torna-se necessário, ainda antes de abordar
do cidadão romano –lazer, religiosidade, vida coletiva tais particularidades e realçar o carácter (quase) único
social e cultural– quer os que se impunham por força das ruínas de Tongobriga, sintetizar o “estado da arte” no
da necessidade de dispor de locais apropriados à que ao seu conhecimento diz respeito.
instalação das elites dirigentes locais e ao exercício
dos poderes políticos e judiciais, inerentes ao estatuto 1. TONGOBRIGA, CIDADE ROMANA: O
de uma capital de civitas. Entre estes edifícios, foi “ESTADO DA ARTE”
já apontada a existência, em Tongobriga, de um
forum com seu templo e basílica, umas termas, um Desde os inícios do século XVIII – época em que
anfiteatro, um teatro e um circo. começaram a surgir as primeiras notícias de achados
arqueológicos no seu aro –Tongobriga já foi alvo de um
Em síntese, têm sido realçados todos os aspetos em que conjunto substancial de publicações. Entre artigos e
se evidencia, a par da complexidade e da monumentalidade, livros, cerca de sete dezenas no total. Destes, mais de 50
a estandardização do modo romano de planear e executar o são posteriores ao início da investigação arqueológica aí
urbanismo enquanto reflexo de uma mudança profunda no desenvolvida desde 1980.
modelo de vida do habitante de Tongobriga.
A maior parte deles são da autoria de Lino Tavares
Se é certo que há indícios que apontam para que Dias que, a título individual2 ou em colaboração com
tenha havido planos nesse sentido, tentaremos analisar outros autores3 publicou nos últimos anos uma série de
um conjunto de detalhes –alguns dos quais apenas
revelados nos últimos dois anos de pesquisas no terreno–
que apontam para uma realidade mais complexa. 2. Dias 2013a; Id. 2013b; Id. 2014; Id. 2015a; Id. 2015b.
3. Rocha - Dias - Alarcão 2015.
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trabalhos que têm como vetor fundamental salientar as isolado, a confirmar-se esta identificação, o testemunho
profundas alterações urbanísticas operadas em Tongobriga dos tongobricenses junto a um importante centro urbano
a partir dos finais do século I / inícios do século II, do centro-sul peninsular juntar-se-ia aos de habitantes
entendidas num contexto flaviano da sua promoção a de outras cidades romanas durienses, como os termestini,
capital de civitas e enquadradas na emergência simultânea vxamensis e cluniacensis, cuja mobilidade poderá estar
de um significativo conjunto de cidades romanas no vale associada à transumância e à importância que a pecuária
do Douro, desde Numancia até Tongobriga, considerada tinha na economia dos seus lugares de origem10.
“a civitas mais ocidental da bacia do Douro”4.
Do ponto de vista estritamente arqueológico, a
As fontes clássicas são omissas quanto a Tongobriga interpretação até agora dada às ruínas de Tongobriga na
romana e ao seu estatuto. Não é seguro que a referência bibliografia já referida baseia-se, de forma sintética, na
de Ptolomeu a uma Tuntobriga5 possa ser tomada como constatação de uma sucessão de profundas mudanças
alusão a Tongobriga6. que terão sido operadas, essencialmente, nos dois
primeiros séculos da era cristã:
Já a inclusão de Tongobria / Tongobriga no
conjunto das paróquias que in vicino sunt na diocese a) Câmbio de era (finais do séc. I a.C. – inícios do
portucalense nos finais do século VI, constitui um dado séc. I d.C.) – A formação de um primeiro povoado
incontroverso7. Atendendo à estreita ligação que na fortificado, em época de Augusto, essencialmente
Alta Idade Média existe entre centros de poder político constituído à custa de populações provenientes
e centros de poder religioso, esta referência representa, de outros oppida da região. Para esta época, além
de forma inequívoca, a condição de Tongobriga como do reconhecimento da existência de habitações de
“lugar central” no contexto pós-imperial desta região. planta circular com cobertura de colmo - de forma
aparentemente isolada e sem que se percebesse
Quanto à epigrafia, apenas duas inscrições referem qualquer ordenamento urbano que lhe pudesse estar
o nome Tongobriga. Uma, datável do século II d.C. e subjacente – foi identificada, na base do povoado, uma
encontrada na área da sua acrópole, reporta-se ao Genio construção destinada a banhos de vapor, do género das
Tongobricense8, mas não é explícita quanto ao estatuto da que são reconhecidas em outros grandes povoados da
povoação. A outra, neste aspeto mais explícita por se tratar mesma época, correspondentes aos edifícios que são
de um altar dedicado a Júpiter pelos vicani tongobricenses9, descritos por Estrabão e conhecidos, na bibliografia
coloca outros problemas. Encontrado nas proximidades de arqueológica, como balneários de “pedra formosa”
Cáceres e atualmente desaparecido, este altar foi erigido, não por causa da decoração, por vezes exuberante, que em
por um simples habitante de Tongobriga, mas por alguém regra ornamenta a entrada para a câmara de sauna.
em representação do conjunto dos habitantes do vicus desse
nome. Apesar de se considerar, de forma recorrente, que b) Flávios (finais do séc. I d.C.) – Em consonância
poderia haver mais do que uma povoação com o mesmo com a promoção de Tongobriga a capital de civitas, terá
nome, a maior parte dessas coincidências está, de facto, sido delineado um projeto global de transformação
ainda por demonstrar, e nenhum outro indício aponta para urbana assente na criação de uma malha de traçado
a existência de uma outra Tongobriga na zona de Cáceres. hipodâmico, com modulação baseada no actus
Mesmo que se reporte ao vicus de Tongobriga do vale do quadratus e cujos eixos, por princípio perpendiculares
Douro, esta epígrafe poderia datar de um momento anterior entre si e com orientação N-S / E-O, terão sido, em
à sua promoção a capital de civitas, algo que, infelizmente, algumas zonas, adaptados à topografia, através da
não podemos confirmar. Mas a presença dos vicani de criação de eixos diagonais, de orientação a 45⁰11.
Tongobriga em áreas mais meridionais da península poderá Essa “grelha” terá, a partir de então, sido alvo de um
revestir-se de outros significados, sugeridos pela presença intenso processo de urbanização, que se prolonga nos
de vários outros testemunhos de emigrantes de outros séculos seguintes. A arquitetura doméstica inspirada
centros urbanos romanos do vale do Douro na mesma em modelos importados substitui a arquitetura
região. Longe de constituir uma aberração ou um caso de tradição autóctone. E ainda nesta fase, também
integrado na mesma malha urbana, é construído um
4. Dias 2015a: 75.
edifício termal num espaço contíguo ao do balneário
5. Romero Masia - Pose Mesura 1987: 103 e 106, figura 7.
castrejo, que terá sido então desativado.
6. Dias 1997: 25; Id. 2011: 707.
7. David 1947: 35.
8. CIL II 5564. 10. Martínez Caballero 2013: 87.
9. CIL II 743. 11. Rocha 2015: 94.
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c) Antoninos (séc. II d.C.) – A par da continuidade Retomando uma hipótese já aventada por Lino
do processo de transformação das áreas habitadas, Tavares Dias em 1997, as publicações mais recentes
este período seria marcado por fortes investimentos adiantam a ideia de o espaço central do forum ser
que se traduzem na construção de uma série de rematado, a nascente, entre a praça e o traçado de uma
edifícios monumentais. nova muralha, pelo edifício da basílica, indispensável
ao exercício das novas funções desempenhadas por este
Para além de ser apontada, para esta época, a centro urbano15.
abertura da estrada interprovincial de Bracara Augusta
a Emerita Augusta12 –incluindo a construção de uma Uma rua, diagonal, terá passado a cruzar o lado
imponente ponte sobre o rio Tâmega, a cerca de duas poente da cidade, fazendo a ligação entre as áreas de
milhas de Tongobriga– estão já apontados os espaços maior densidade de construção doméstica, a cotas
correspondentes ao forum, a um teatro, um anfiteatro mais elevadas, e a área onde se localizaram o forum e
e um circo. restantes edifícios públicos monumentais16. Esta rua
daria acesso ao forum através de uma abertura no seu
Relativamente ao circo, nunca intervencionado, Lino muro perimetral Norte17.
Tavares Dias situa-o fora do perímetro urbano e “no
limite da centúria da cidade”)13. Do lado oposto da praça, isto é, da parte Sul, existe
uma plataforma elevada, acessível através de três lanços
Já no que diz respeito ao forum, ao teatro e ao de escadas situados em cada uma das extremidades, e ao
anfiteatro (este último também não escavado), está centro, em frente a uma grande abside retangular.
apontada a sua inserção na malha urbana.
Essa plataforma de 8,9 metros de largura e a toda a
Na sequência dos trabalhos desenvolvidos em extensão do eixo maior da praça foi, desde a sua primeira
parceria com Charles Rocha, o forum propriamente publicação18, interpretada como espaço comercial,
dito é assim descrito por Lino Tavares Dias na sua mais porticado, com colunas espaçadas 4,4 metros (3 passus
recente publicação14: = 15 pes) entre si.

O “forum seria um espaço afirmado e envolvido A análise dos resultados das intervenções arqueológicas
por quatro pórticos, cada um com três colunatas. O anteriores a 1997 sugeria que o forum, como conjunto
corpo central do forum dividia-se em dois espaços: arquitetónico, seria obra do “segundo quartel do século
o espaço da praça com 1 actus de largura e 1,5 actus II”, “provavelmente do tempo de Adriano” 19.
de comprimento, e o espaço do templo. Entre os dois
espaços existia uma rua, afirmada pela relação visual Embora a viabilidade da cobertura desta plataforma
entre duas absides quadradas situadas nos lados norte tenha entretanto sido questionada por Lino Tavares
e sul. Dias20, a ideia é retomada em publicações posteriores
a essa21. Porém, a constatação de que a praça (a uma
O templo inscrevia-se num rectângulo de 11,84 metros cota mais baixa) e a plataforma dita “comercial” (a
por 23,68 metros, correspondendo à proporção de oito uma cota superior) e as respetivas colunatas não são
por dezasseis passus. Os elementos graníticos recolhidos compatíveis, enquanto parte integrante de um mesmo
permitem identificar as quatro esquinas decoradas do projeto de arquitetura, fez com que os autores que
podium. A frontaria do templo tinha a largura de oito temos vindo a seguir levantassem a possibilidade de
passus e foi possível identificar a inserção das escadas que apenas a plataforma Sul ser datável de Trajano/Adriano,
teriam a largura de quatro passus, 5,92 metros”. remetendo a construção da praça para um momento
anterior22.
Este forum é visto como estando integrado na
malha urbana e agora enquadrado por um novo
recinto amuralhado que ampliaria o espaço urbano de
Tongobriga, dos pouco mais de 13 hectares iniciais para 15. Id.: 2015c: 8; Id.: 2015b: 88-89.

cerca de 22 hectares. 16. Id.: 2015b: 81.


17. Id.: 1997: 65; Id. 2015b: 89.
18. Ibid.: 65 e ss.
19. Ibid.: 65 e ss.
12. Dias 1997: 321. 20. Id. 2013: 121.
13. Dias 2015b: 79. 21. Rocha 2015: 104.
14. Ibid.: 80. 22. Ibid.: 104.
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Quanto ao teatro e anfiteatro, também eles estarão implementar um plano geral de urbanização com base
perfeitamente enquadrados na grelha ortogonal já numa grelha única de traçado hipodâmico sobre a qual
referida, a qual, além de regular a implantação deste fosse idealizada a construção de um urbanismo regular.
conjunto de edifícios públicos, regulará também o
ordenamento das habitações. Sem pôr em causa o facto de a criação dos bairros
habitacionais e edifícios públicos monumentais ter sido
Anfiteatro e teatro ocuparão, cada um, 9 unidades de antecedida da planificação de um urbanismo tão regular
actus quadratus (3 x 3) enquanto o forum se enquadra quanto a topografia o permitisse, o certo é que um plano
em 12 unidades (3 de largura por 4 de comprimento). único - que pudesse abranger mais de 20 hectares de área
A distância a eixo entre cada uma destas edificações é intra e extramuros, dos quais nem metade poderia vir a
também regular, e está estimada em 3 actus = 360 pes. ser efetivamente construída - não traria vantagem de tipo
Cada uma delas tem 2 actus de largura e o espaço livre algum, quer aos arquitetos e engenheiros romanos que
entre elas é de 1 actus23. estivessem envolvidos no processo de transformação urbana,
quer aos tongobricenses que aí vivessem ou quaisquer
Pelo que se depreende da reconstituição proposta outros que, vivendo na região envolvente, aí se deslocassem
pelos autores já referidos, os arquitetos que planearam para usufruir de tudo aquilo que só um centro urbano pode
esta “revolução urbana” em Tongobriga inspiraram-se em proporcionar.
vários modelos: o que se conhece da modulação urbana
e de edifícios como o teatro apontam para o modelo de Muito mais sensata – e exequível – seria a criação
Bracara Augusta24; já a implantação e a relação espacial diacrónica de planos menores de ordenamento para cada
entre teatro e anfiteatro têm paralelos muito semelhantes uma das áreas urbanizáveis ou já anteriormente urbanizadas,
em Emerita Augusta25. mediante uma integração flexível na ideia geral de cidade.

2. Porquê Tongobriga? Razões possíveis para uma Admitindo que a transformação de Tongobriga num
escolha centro político e administrativo, de âmbito regional,
aconteceu para dar resposta a uma necessidade estratégica
Independentemente de todas as dúvidas suscitadas de criação de uma urbe que cumprisse, entre o mar e a serra,
pelas reflexões de que aqui damos conta, é um facto as funções que só uma cidade pode cumprir, facilmente a
que o urbanismo romano de Tongobriga representa administração provincial romana conseguiria encontrar,
um caso único a nível regional. A norte do Douro, no não muito longe, áreas onde uma construção ex nihilo seria
território atualmente português, e no que diz respeito incomparavelmente menos onerosa e substancialmente
à extensão de área urbana, à densidade de construção mais eficaz para os padrões de exigência que se conhecem
doméstica e ao investimento em edifícios públicos, só no urbanismo do mundo romano.
encontramos paralelo nas cidades de Bracara Augusta
(Braga) e Aquae Flaviae (Chaves). Mesmo assim, a Tanto assim é que se vão acumulando dados que
uma considerável distância quanto à dimensão da área apontam, cada vez mais, para a probabilidade de Tongobriga
urbana e monumentalidade dos seus edifícios. ter conhecido, muito antes das profundas transformações
urbanas que são atribuídas aos Flávios, aquilo que
Esta constatação só reforça a pertinência de uma entre os investigadores da chamada “cultura castreja do
pergunta basilar. Porquê Tongobriga? noroeste peninsular” vem sendo qualificado como “proto-
urbanismo”, no sentido em que se reconhece a organização
Topograficamente, Tongobriga não é, de todo, um das unidades domésticas em bairros subdivididos em núcleos
espaço onde esperaríamos ver uma cidade romana. Trata- familiares (Figura 3) dispostos ao longo dos principais eixos
se de uma colina, de relevo acidentado, com encostas de circulação que atravessam os grandes castros.
íngremes suavizadas pelos trabalhos agrícolas modernos.
À exceção de uma crista alongada que atravessa todo o A sobreposição de um plano geral de traçado
espaço habitado no sentido Norte – Sul e que se alarga, hipodâmico a esta organização anterior, além de esbarrar
a espaços, para formar plataformas mais ou menos em complicados obstáculos, não só topográficos, mas
planas cuja urbanização se tornaria menos complicada, também e sobretudo de natureza social, está ainda longe
é difícil admitir que se possa ter pensado ou tentado de estar provada. E para a cronologia flávia, à qual se tem
vindo a atribuir essa planificação, os dados por agora
disponíveis são tão escassos que se torna difícil deles
23. Rocha 2015: 152 e figura 202 a 206.
extrair qualquer conclusão (Figura 4).
24. Ibid.: 144.
25. Ibid.: 150.
348 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

Figura 3. Em 2004 / 2005 (intervenção arqueológica conjunta com a Universidade de Brown) foi pela primeira vez identificado
em Tongobriga um conjunto de construções castrejas provavelmente integradas num “núcleo familiar”.

Figura 4. Áreas habitacionais romanas de Tongobriga. Em destaque, as estruturas às quais é possível atribuír cronologia flávia.
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estádios” (Geografia 3.3.4.) e considerado por Plínio o


Velho como “um dos maiores rios da Hispania”, o rio
GUIMARÃES

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100
Douro, em conjunto com os seus principais afluentes,
0
40
nomeadamente o Tâmega e o Corgo, constituiu
desde uma época anterior à romanização, uma via de
A
VILA REAL
penetração a partir do oceano Atlântico mas também
um canal de escoamento de produtos do hinterland e
de contactos – comerciais e também culturais – entre
as duas margens. Alain Tranoy chega a considerar
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20

1415

o Tâmega como uma via de comunicação essencial


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70

B
556 C TONGOBRIGA
para o escoamento de produtos mineiros do interior
C (nomeadamente da zona de Vila Pouca de Aguiar / Jales
A

O
EG

UR

C / Tresminas) e para o desenvolvimento do território da


M

DO

cidade romana de Aquae Flaviae (Chaves).

Mas a valorização deste interesse estratégico –e não apenas


00
10

comercial– obriga a repensar a cronologia de abertura da via


Figura 5. Principais elementos da rede viária romana na área Bracara-Emerita, considerando-a, de certo, como uma obra
envolvente a Tongobriga. A: Traçado hipotético da via princi-
anterior à promoção urbana de Tongobriga. Se recuarmos a
pal (seg. Lino T. Dias); B: Ponte; C: Miliários.
construção da via para o século I, deixando de a considerar
uma obra do século II como tem vindo a ser defendido27,
Como não se reconhecem localmente quaisquer deixa de fazer sentido a justificação cronológica para a sua
atributos relevantes ao nível de jazidas de qualquer não inclusão no Itinerário de Antonino mas a importância
minério ou outra riqueza geológica, especiais aptidões estratégica da estrada –e do próprio povoado de Tongobriga–
agrícolas, silvícolas ou cinegéticas, que justifiquem que poderão ser reavaliadas no contexto das movimentações
se tenham preterido, em favor de Tongobriga, outras militares ocorridas em 26 – 25 a.C. a propósito das guerras
opções possíveis para a localização de um novo centro cântabras e em especial na preparação dos ataques contra os
urbano de importância regional, não será pelos recursos Astures. Aproveitando o facto de a Callaecia já se encontrar
naturais que conseguiremos explicar convenientemente pacificada há décadas, essas movimentações, a julgar pelos
o desenvolvimento que lhe conhecemos. dados mais recentes, poderão ter passado por esta região28,
fazendo com que a presença / passagem do exército deva ser
A localização de Tongobriga no eixo da importante um fator a ter em conta em futuras investigações.
via Bracara Augusta – Emerita Augusta constitui, sem
dúvida, um fator decisivo para o desenvolvimento Numa perspetiva macrorregional, poder-se-á afirmar
de um centro urbano importante e sua promoção a que Tongobriga se situa num ponto de contacto entre
capital de civitas. Esta constatação torna-se ainda mais a planície litoral e a área de montanha, podendo
significativa se pensarmos no aparecimento de vários desta forma funcionar naturalmente como mercado
miliários nas imediações e na proximidade da travessia, para transação de produções diferenciadas de dois
em ponte, sobre o Tâmega, mas também na vizinhança meios naturais contrastantes e complementares. Esta
de Tameobriga, importante entreposto fluvial do Douro sua característica é fundamental para a compreensão
situado a menos de nove milhas de Tongobriga e a ela do investimento que foi feito na construção dos
ligada por estrada, ao longo do vale do Tâmega, desde grandes edifícios públicos monumentais romanos de
tempos imperiais26. Vista nesta perspetiva –como ponto Tongobriga, em especial para as funções que poderão ter
de contacto entre o tráfego fluvial potenciado pela sido desempenhadas pelo seu forum.
navegabilidade do Douro e o tráfego terrestre de uma
via interprovincial –Tongobriga tem uma localização 3. TONGOBRIGA: UM “LUGAR CENTRAL” EM
verdadeiramente estratégica, por si só suficiente ÉPOCA PRÉ-ROMANA?
para justificar o desenvolvimento urbano que lhe é
reconhecido (Figura 5). A questão da cronologia desta importante estrada
transporta-nos para uma outra questão, igualmente
Capaz, segundo Estrabão, de ser navegado por cronológica, e que tem a ver com a origem do próprio
grandes navios por uma distância de “quase 800
27. Ibid. 321.
26. Dias 1997: 332. 28. Morillo 2014: 144 - 145.
350 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

povoado de Tongobriga, essencial para a compreensão outros grandes povoados castrejos da região, como o
do seu posterior desenvolvimento. Monte Mozinho (Penafiel), que continua a não fornecer
indícios de ocupação anterior à era cristã; mas ganha outro
Tem sido defendido que o primeiro momento de enquadramento num processo de fortificação dos povoados
ocupação de Tongobriga se deveria situar em torno do castrejos do noroeste peninsular que está bem documentado
câmbio de era29. em vários outros locais congéneres da área dos Callaeci.

Na sequência dos trabalhos ultimamente Se efetivamente for possível recuar a formação de


desenvolvidos, estamos em condições de afirmar que Tongobriga até ao séc. II a.C. –embora, em termos de
existem indícios inequívocos de uma ocupação sedentária arquitetura, pouco se conheça dessa época por causa da
na base da encosta Sul do povoado desde, pelo menos, intensidade das transformações posteriores– torna-se, em
o Bronze Médio, ou seja, cerca do séc. XV Cal BC. nosso entender, muito mais clara a imprescindível maturação
Mas, obviamente, não podemos afirmar –nem sequer a do núcleo populacional primitivo de Tongobriga, necessária
defendemos– uma continuidade de povoamento entre para a compreensão do fenómeno de desenvolvimento
essa época e a formação do povoado fortificado da Idade urbano que lhe é reconhecido a partir dos finais do século
do Ferro, que mereceu o nome de Tongobriga. I d.C.

Não obstante isso, avolumam-se os dados arqueológicos Este possível recuo da cronologia das fases iniciais
que apontam para uma fundação de um povoado castrejo de Tongobriga ajuda-nos a compreender melhor a
em época muito anterior à cronologia augustana. organização urbana pós-flaviana, a qual –sem desmerecer
todo o trabalho de planificação que, certamente,
Entre esses dados, destacamos a presença de peças antecedeu a construção dos seus edifícios públicos e a
cuja cronologia deverá remontar ao séc. II ou, até renovação dos bairros habitacionais– nos parece só ser
mesmo, ao séc. III a.C.30. Embora estas peças surjam explicável à luz das pré-existências.
normalmente fora do seu contexto original, ganham
outro significado quando vistas em conjunto com 4. NOVOS DADOS, NOVAS PERSPETIVAS,
outros dados cronológicos recentemente obtidos, NOVAS INTERROGAÇÕES
nomeadamente de datações C14.
A identificação da muralha que circundava o povoado
É o caso da datação de uma lareira associada a certa de Tongobriga –feita a partir de 2005, por fotografia aérea
construção de planta circular, situada na acrópole do e interpretação da topografia do terreno, e posteriormente
povoado, que proporcionou uma data de 2110 +/- 70 confirmada com a sua escavação– associada à descoberta
BP (Beta 186064 - 360 cal BC – 22 cal AD a 2s). de sepulturas da primeira metade / meados do séc. I d.C.
Mais recentemente, duas outras datações, idênticas e na área extramuros situada imediatamente a Oeste do
em contextos totalmente diferentes, vieram reforçar a conjunto monumental forum/termas, permitiu a revisão
importância da anterior: as terras em que foi aberta a da forma como se encarava a estrutura urbana, abrindo
canalização de drenagem de águas de uma domus forneceu caminho a novas reflexões, entre as quais salientamos31:
uma data de 2083 +/- 26 BP (D-AMS 009830 – 181 -
41 cal BC a 2s); e as terras que compunham o miolo da ‒ Por um lado, a definição clara do perímetro
muralha – as quais nos fornecem um terminus post quem habitado de Tongobriga, delimitado por esta muralha,
para a construção de uma primeira linha defensiva, que não sendo que, até hoje, e ao fim de cerca de 36 anos
será exatamente aquela que hoje observamos – forneceram de intervenções arqueológicas, não foi identificada
sementes carbonizadas, uma delas datada de 2102 +/- 27 no seu exterior uma única estrutura habitacional,
BP (D-AMS 009827 – 194 - 51 cal BC a 2s) (Figura 6). romana ou pré-romana;

Em conjunto, estes dados reforçam a possibilidade de ‒ Por outro, a constatação de que, quer do ponto de
o povoado fortificado que mereceu o nome de Tongobriga vista cronológico, quer do ponto de vista estrutural,
ser uma fundação ocorrida na sequência das campanhas a organização proto-urbana do castro de Tongobriga é
de Decimus Iunius Brutus, de cognome “o Galaico”, em em tudo similar à estrutura das outras grandes citânias
138-136 a.C.. Se assim for, o seu aparecimento afasta- da época, com a respetiva sequência área habitada/
se do contexto histórico a que é atribuída a fundação de circuito amuralhado/ balneário tipo “pedra formosa”
e necrópole extramuros;
29. Dias 2015b: 79.
30. Lima 2016: 13 e ss. 31. Lima 2005; Id. 2006.
TONGOBRIGA ROMANA: NOVOS DADOS, NOVAS PERSPECTIVAS 351

E.N
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318.33

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318.84
318.26
.
. 318,76
. 319,57
318.19
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. 319.28

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.
317,91 318.52 318.57
317.97

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.
317.59

317.98
317.69
318,49 319.32

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. .
. 318,38

317.72 .
318,37
319.03

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318,22
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Figura 6. Localização dos pontos onde foram recolhidas as amostras cujas datações são referidas no
texto: A – Lareira em construção de planta circular; B – Terras sob domus; C – Miolo da muralha.

‒ E, por fim, a evidente excentricidade do chamado 5. PARA UMA REVISÃO CRÍTICA DO


“centro cívico da cidade romana” (constituído por CONJUNTO MONUMENTAL DE
forum, termas, teatro e anfiteatro), quer em termos TONGOBRIGA
topográficos, numa zona baixa e deprimida, que
poderá corresponder a uma antiga linha de água, Atendendo a que tanto o possível anfiteatro como o
quer do ponto de vista da sua localização, extramuros suposto circo nunca foram alvo de qualquer intervenção
e à margem da área efetivamente habitada (Figura 7). arqueológica que pudesse esclarecer o real significado
dos indícios que estão na base da sua identificação,
Estas três observações, conjugadas com certas não iremos, por agora, abordar os problemas que sobre
características já anteriormente reconhecidas desse eles se levantam. Deixaremos igualmente de lado o
mesmo “centro cívico”, em especial as suas dimensões imponente edifício termal que se implanta no topo
(desproporcionais relativamente à população estimada nascente do forum, o qual já foi alvo de aprofundado
de Tongobriga e a amplitude conhecida em outros estudo32; e também o teatro, cuja escavação não está
centros urbanos de época romana) abrem caminho à ainda integralmente publicada e cujos vestígios materiais
exploração de novas possibilidades interpretativas do parecem resumir-se a um enigmático sistema de
conjunto monumental de Tongobriga.
32. Dias 1997: 33-64.
352 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

Figura 7. Principais elementos constitutivos de Tongobriga, de acordo com os dados mais recentes: A –
Perímetro amuralhado e limite do espaço habitado; B – Fosso defensivo associado à muralha (troços con-
hecidos); C – Balneário castrejo e termas romanas; D – Núcleo mais antigo da necrópole; E – Edifícios
monumentais (E1 – forum; E2 – Teatro; E3 – Anfiteatro).
TONGOBRIGA ROMANA: NOVOS DADOS, NOVAS PERSPECTIVAS 353

Figura 8. Entrada nascente do forum de Tongobriga (perspetiva Este – Oeste).

drenagem, que ao que tudo indica permitiria canalizar em muitas estruturas similares de outras cidades romanas
as águas da encosta para o local onde se poderá situar a da península: a modulação, as proporções, os porticados
suposta cavea e sobre o qual não conhecemos quaisquer laterais, o templo no eixo central35.
outros indícios de ter sido, efetivamente, aí construído
um edifício. Centraremos, pois, a nossa atenção no Na sequência disso, como já referimos, os autores que
forum e na sua relação com o espaço urbano. temos vindo a citar ensaiaram a reconstituição gráfica
do que, em seu entender, deverá ter sido o forum de
6. O FORUM ROMANO DE TONGOBRIGA. UMA Tongobriga. Segundo concluem, prevaleceu um estrito
ESTRUTURA “INVULGAR”? respeito pelos princípios vitruvianos e uma
monumentalidade hoje difícil de intuir, face à escassez
Desde a sua revelação por Lino Tavares Dias, ainda na dos despojos remanescentes das respetivas arquiteturas.
década de 80 do século XX, o forum romano de Tongobriga
destacou-se de imediato como uma estrutura invulgar, Analisando tais vestígios um pouco mais de perto,
atendendo às suas desproporcionais dimensões face ao pensamos serem merecedores de reflexão os seguintes
que seria de esperar se tivermos em conta as características aspetos: a configuração da “praça”, seus acessos e
do núcleo urbano de que fazia parte: 139 metros de sua topografia; a reconstituição dos porticados e
comprimento por 68,5 metros de largura, correspondendo, do templo; e, por fim, a presença de elementos que
assim, a uma área de quase 10.000 m2.33 indiciam a existência de uma ou mais fases construtivas,
anteriores à própria estrutura que aí terá sido
A identificação da muralha e a definição rigorosa erguida a partir de finais do século I ou inícios do século
do seu perímetro, bem como do espaço efetivamente II. Vejamos estas questões uma a uma.
habitado34, fizeram acrescer um dado novo: verificou-se
que a sua localização era não só periférica mas também 6.1. A configuração da “praça”, seus acessos e sua
claramente exterior ao perímetro urbano. topografia

Outros elementos, no entanto, apontarão para que o A perceção do forum como estrutura extramuros e a
forum de Tongobriga tenha sido pensado de acordo com constatação de que a área em que ele se implanta não
um projeto clássico, cujas características são reconhecíveis revelou, até agora, indício algum de ter sido habitada,

33. Id. 1997: 65. 35. Dias 2013a; Id. 2013b; Id. 2014; Id. 2015ª; Id. 2015b; Rocha ‒
34. Lima 2005. Dias ‒ Alarcão 2015.
354 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

Figura 9. Forum de Tongobriga. A) Perfil Norte - Sul. B) Perfil Oeste – Este, abrangendo as duas linhas de água que drenam a colina de
Tongobriga (em cima) e apenas a área de implantação do forum (em baixo). C) Proposta de reconstituição de um possível altar formado
com as peças molduradas e os silhares actualmente integrados na reconstituição do templo (desenhos: António Freitas).
TONGOBRIGA ROMANA: NOVOS DADOS, NOVAS PERSPECTIVAS 355

implicou a necessidade de rever a forma como se tem que defendem essa ligação36 a sugerir uma entrada no
interpretado a sua localização, a sua configuração, a muro perimetral norte. Caso venha a confirmar-se que
sua topografia, e, em especial, o seu enquadramento os caminhos que atualmente existem e que parecem
urbano e os seus acessos. Todas estas questões estão, indiciar a existência dessa via diagonal são, de facto, um
naturalmente, interligadas, e são fundamentais para a testemunho de um acesso já existente em época romana,
compreensão da natureza e função desse mesmo espaço. ganhará força a necessidade de existir uma entrada a
poente, servida por essa via diagonal, já que a entrada
Contrariamente à ideia de forum como “praça a Norte não revela sinal algum de jamais ter existido.
pública”, por natureza um espaço aberto, cuja
configuração é definida pelo conjunto de edificações A entrada nascente, ainda de acordo com as
que a rodeia e que, enquadrada na malha urbana, é reconstituições propostas pelos autores que temos vindo
servida por um conjunto de vias que lhe dão múltiplos a seguir, faria a ligação entre a “praça” e uma possível
acessos, o que temos em Tongobriga é, de facto, um “basílica”. Porém, o espaço que é apontado para esta
“recinto” fechado, de acesso controlado (ou, pelo última não revela quaisquer sinais de ter sido edificado
menos, facilmente “controlável”) cuja configuração é –a não ser que o tenha sido com materiais perecíveis–
definida por um muro perimetral que encerra o interior sendo que apresenta um vão demasiado grande para
do dito recinto e que tem uma localização duplamente que possa ter recebido qualquer cobertura, da qual
marginal: marginal porque extramuros e fora do espaço efetivamente nunca foram encontrados vestígios. Esse
habitado; e marginal porque situado literalmente à espaço, fronteiro à entrada nascente, terá funcionado
margem da principal via de acesso ao povoado, a qual inicialmente como espaço aberto, delimitado por um
percorre toda a crista granítica em que o mesmo se situa. muro de configuração ovalada que foi cortado pela
construção das termas e do próprio forum e que estaria
A compreensão da forma como se acedia ao enorme eventualmente relacionado com o uso do balneário.
espaço que tem sido associado à ideia de “praça” é, neste Em época posterior, já depois da construção do edifício
caso, uma questão basilar, pois dela depende a natureza termal, ter-se-á mantido como espaço descoberto
e a função do próprio espaço. e foi atravessado pela canalização que permitia o
abastecimento de água para a natatio.
É por todos reconhecida uma entrada a nascente
(Figura 8). A monumentalidade que se pode intuir A topografia do forum levanta outras questões não
com base nos elementos remanescentes desta entrada, menos importantes. Ao contrário do que se espera
bem como a sua localização a eixo, sugerem tratar-se do de uma “praça” enquanto espaço tendencialmente
principal acesso ao recinto. Se não tivermos em linha horizontal, a esplanada do forum tem, no seu eixo
de conta os acessos desnivelados, que como tal exigiram Norte – Sul, um perfil abaulado (Figura 9a). E ao
a construção de escadas, as quais, naturalmente, são longo do seu eixo maior (declive nascente – poente)
muito limitadoras da acessibilidade, esta é a única apresenta um desnível de quase 8 metros entre os seus
entrada efetivamente comprovada. Uma das questões dois extremos (Figura 9b), indo dos 308.74 metros de
mais interessantes que ela coloca é a possibilidade de ter altitude absoluta (medidos no afloramento junto ao
tido uma porta / portão, a qual, a ter existido, permitiria muro perimetral nascente) até aos 300.94 (medidos no
encerrar completamente o recinto, o que alteraria substrato geológico no seu limite poente).
radicalmente a natureza do espaço e obrigaria a repensar
a sua função. As suas ombreiras estão perfeitamente O abaulamento do seu perfil criaria sérias dificuldades
alinhadas com outras estruturas, em tudo similares a caso tivesse havido intenção de pavimentar o espaço. E o
elas, localizadas na base do muro que fecha e suporta a desnível de 7,8 metros poderia constituir um problema
plataforma do forum na outra extremidade da “praça”, de difícil resolução no caso de ter havido intenção de
a poente. Se isso reforça a possibilidade de ter existido edificar de forma contínua os espaços laterais do forum,
uma outra entrada no extremo oposto do forum, é uma por exemplo, com porticados.
questão à qual só futuras intervenções arqueológicas
poderão dar resposta. Se, do ponto de vista da eventual vontade de edificação
do espaço, esta topografia poderia ter constituído
Quanto ao suposto acesso, em diagonal a 45 graus um sério handicap, já na perspetiva da drenagem de
relativamente à orientação da malha urbana, que tem uma tão vasta área e da sua necessária higienização,
sido apontado como principal ligação entre o centro estas condições estão muito próximas das ideais.
do perímetro urbano e o forum, tem levado os autores
36. Rocha 2015: 92 e ss.
356 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

Figura 10. A) Alinhamento de estruturas em negativo ao longo do muro perimetral Norte do forum. Estas
estruturas têm sido associadas à existência de colunatas. B) Uma das estruturas negativas alinhadas em
paralelo com o muro perimetral Sul do forum. Estas apresentam ligação com outros negativos alongados,
perpendiculares ao referido muro perimetral.
TONGOBRIGA ROMANA: NOVOS DADOS, NOVAS PERSPECTIVAS 357

Figura 11. Um dos conjuntos de estruturas negativas alongadas e alinhadas, comunicantes entre si, e que foram já identificadas
um pouco por todo o espaço interior do forum.

Recorde-se que todo o recinto resultou da criação de parte de um altar destinado a albergar uma estátua
uma imensa plataforma artificial, encaixada entre duas equestre que foi identificado no vizinho povoado
elevações (o “monte do Cruzeiro”, a Sul, e o “monte da do Monte Mozinho (Penafiel), a escassos 14 km. de
Santinha”, a Norte) cobrindo uma antiga linha de água, Tongobriga38.
à qual sucedeu um enorme sistema de drenagem através
de grandes valas abertas no afloramento granítico, já há Acresce que a escavação arqueológica, já realizada
muito reconhecidas no subsolo do forum. na área para a qual se propõe o templo, não revelou
o que se esperaria encontrar se aí tivesse assentado
6.2. Reconstituição do templo e dos porticados o maciço do podium de um templo com cerca de
280 m2. As estruturas arqueológicas aí identificadas e
A reconstituição que tem sido proposta para o templo não totalmente escavadas revelaram, por outro lado,
do forum de Tongobriga baseia-se na análise da modulação escassos materiais, essencialmente cerâmicas micáceas
da praça, na interpretação funcional de algumas peças de tradição castreja, muito mais condicentes com uma
molduradas como parte do seu podium e na comparação possível cronologia júlio-cláudia do altar, do que com
com os projetos arquitetónicos de outros fora. a proposta de um templo enquadrado num projeto
arquitetónico atribuível ao século II.
Porém, as referidas peças molduradas poderão fazer
parte de um altar e não do podium de um templo. Quanto à reconstituição dos porticados, foi
Com os elementos disponíveis, ensaiámos a possível minuciosamente ensaiada por Charles Rocha, com
reconstituição desse altar e chegámos a uma proposta base na interpretação de uma série de cavidades abertas
(Figura 11) que se aproxima de outros altares, de no solo a espaços regulares, alinhadas ao longo dos
cronologia augustana, existentes em fora como, por muros perimetrais Norte e Sul. Estas foram entendidas
exemplo, o de Segobriga37. Apesar de pertencerem a um como sapatas ou bases de assentamento de colunas. O
monumento que tinha uma inserção urbana distinta, autor pensa ter encontrado indícios de duas colunatas,
até pela proximidade geográfica e pela função similar deduzindo, por questões de natureza arquitetónica,
que teriam, os elementos identificados no forum de a existência de uma terceira colunata, bem como de
Tongobriga não podem deixar de lembrar os que faziam estruturas porticadas similares a poente e a nascente.

37. Abascal et alii 2007: 695. 38. Almeida 1974; Soeiro 1984: 32 e ss.
358 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

Pela nossa parte, só conseguimos encontrar sinais Essas séries de rasgos paralelos (Figura 12, C), cuja
claros de um alinhamento de cavidades (Figura 12, C), configuração muito faz lembrar a das infraestruturas
efetivamente paralelo ao muro perimetral do forum, utilizadas nos horrea, estendem-se para o interior da
e não de dois como aquele autor propõe. Acresce que praça e parecem preencher de forma extensiva todo o
o espaçamento, mais ou menos regular, entre essas seu espaço. A sua associação a construções destinadas a
cavidades, apresenta efetivamente desfasamentos reais armazenamento, que requerem, por natureza, uma boa
que chegam a atingir quase meio metro. Mas a dúvida drenagem, arejamento e a criação de um ambiente seco, é
mais relevante reside, efetivamente, na sua interpretação deveras aliciante. Porém, só uma escavação em área poderá
como sapatas de colunas. Na realidade, não foram esclarecer, em definitivo, o seu verdadeiro significado.
nunca encontrados elementos ou materiais adequados
a essa função (alvenarias, argamassas, bases de coluna) 6.3. Faseamento construtivo
podendo estas estruturas negativas, quando muito, ter
servido para assentamento de grossos postes de madeira. Se é certo que subsistem muitas dúvidas sobre esta
complexa e extraordinária estrutura que é o forum de
Vários fatores concorrem, ainda, para a dúvida sobre a Tongobriga, é cada vez mais claro, para nós, que a sua
efetiva existência de colunatas no forum de Tongobriga. O interpretação terá que passar obrigatoriamente por
principal reside no facto de jamais terem sido identificados, considerar os elementos arqueológicos e arquitetónicos
em toda a área do forum, quaisquer capitéis, bases ou de que dispomos como parte integrante de várias fases
fustes de colunas que pudessem dar consistência a esta construtivas, a seguir analisadas pela ordem cronológica
interpretação. Pelo contrário, em todas as áreas habitacionais inversa. Comecemos pela estrutura do forum, tal como
e nas termas de Tongobriga, apesar de igualmente sujeitas a hoje a conhecemos (Figura 12a):
saques e a trabalhos agrícolas ao longo de séculos, já foram
identificadas dezenas de fustes e um número considerável Um amplo recinto retangular, em cujo muro
de bases e capitéis. Acresce ainda que, à exceção de raros perimetral Norte se abriram três absides: uma de
fragmentos, muito rolados, de tegulae (encontrados apenas planta retangular, ao centro, e outras duas, de planta
durante a escavação junto ao muro perimetral norte, os quais semicircular, a Este e a Oeste. A Sul, uma plataforma
poderão ter pertencido à cobertura do edifício termal e não elevada, acessível por três lanços de escadas, apresenta, ao
a possíveis porticados da praça), as evidências de telhados centro, um grande espaço retangular. Quer no recinto,
estão ausentes da estratigrafia arqueológica do forum. quer na plataforma elevada, foi já proposta a existência
de porticados mas atendendo à incompatibilidade entre
A hipótese de as cavidades terem servido para suportar o ritmo do intercolúnio registado nesta plataforma e o
uma estrutura construída em madeira, com possível registado na praça que lhe está adjacente, foi sugerido
cobertura em materiais perecíveis, ganha força com a que estes dois porticados nunca teriam coexistido
constatação do facto de algumas delas, nomeadamente enquanto tal, sendo que a construção de um terá
junto ao muro perimetral sul, apresentarem ligação implicado a anulação do outro39.
com outras estruturas negativas, alongadas, que
parecem poder corresponder ao assentamento de Inicialmente considerado como projeto cuja
outras estruturas, em tabuado, do género tabique, construção era atribuída aos inícios do séc. II (Trajano/
que pudessem constituir forma de seccionar o espaço Adriano), surge, nas interpretações mais recentes de
coberto pela estrutura apoiada nos grossos postes de Lino Tavares Dias, como obra de finais do séc. I, pós-
madeira, ao jeito de tabernae (Figura 10b). Vespasiano, contemporânea, portanto, das termas40.

Todas estas estruturas negativas, aparentemente Quanto à incompatibilidade entre os porticados da


relacionadas com a existência de edificações construídas praça e os da plataforma elevada a Sul, o problema deixa
com materiais perecíveis, poderão, por sua vez, estar de existir se os vestígios até agora atribuídos a pórticos,
relacionadas com outros negativos, igualmente abertos deixarem de o ser.
no saibro ou no afloramento granítico, que surgem
em alinhamentos contínuos ao longo dos muros Quanto à relação entre a plataforma Sul e o recinto
perimetrais norte, nascente e sul, os quais, embora que lhe está adjacente, podemos acrescentar algumas
conhecidos há muito, sempre foram interpretados observações. Vários fatores apontam efetivamente
apenas como elementos de infraestrutura relacionada para que a construção da plataforma elevada seja um
com a drenagem da praça, pelo que nunca foram muito
valorizados no contexto da reconstituição dos elementos 39. Rocha 2015: 104.
que compunham a sua arquitetura. 40. Dias 2015c: 9.
TONGOBRIGA ROMANA: NOVOS DADOS, NOVAS PERSPECTIVAS 359

Figura 12. Forum de Tongobriga. A) Configuração correspondente às ruínas atualmente observáveis. A – Muro perimetral;
B- Entrada Nascente; C – Ábsides; D – Plataforma elevada; E – Escadas de acesso às termas (E1) e à plataforma elevada (E2,
E3 e E4). B) Eixo central (Norte - Sul) do forum. Desalinhamento entre os elementos da plataforma elevada e os do muro
perimetral Norte. C) Configuração compatível com as estruturas negativas identificadas no seu interior. A – Muro perimetral;
B – Alinhamentos de estruturas negativas circulares ao longo dos muros perimetrais Norte (B1) e Sul (B2); C – Alinhamentos
de estruturas negativas alongadas (desenhos: António Freitas).
360 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

Figura 13. Plataforma construída ao longo do muro perimetral Sul do forum. Perspetiva Norte – Sul, realçando efeito cénico
resultante da elevação intencional dessa plataforma.

acrescento ao projeto original. Além de introduzir de indícios seguros de que tal espaço tenha sido dotado de
assimetria retirando equilíbrio ao conjunto, os elementos cobertura, a qual, à falta de melhor hipótese, poderia ser
que a compõem apresentam notórios desfasamentos removível (Figura 13).
relativamente ao resto: a nascente, a plataforma
prolonga-se alguns metros além do muro perimetral Quanto às estruturas negativas de configuração
do forum, atingindo um total de 147,76 metros de circular que foram identificadas na praça ao longo dos
comprimento; e, ao centro, a abside quadrangular está muros perimetrais Norte e Sul, não parecem, de todo,
claramente desalinhada relativamente ao eixo central relacionadas com a existência de porticados. E não há
do recinto e à sua congénere, mais pequena, do muro qualquer outro material arqueológico ou elemento
perimetral Norte (Figura 12b). arquitetónico avulso que possa suportar essa existência.

A opção de construir a plataforma Sul a uma cota mais Sejam essas estruturas negativas interpretadas como
elevada foi claramente uma opção consciente e deliberada sapatas de coluna ou como bases de assentamento
dos seus construtores, pois não seria tecnicamente difícil de postes de madeira, em qualquer destes casos a sua
construí-la à cota do recinto principal. A sua elevação existência não é compatível com as absides, pois não faz
poderá estar relacionada com a vontade de criar um espaço sentido a existência de postes ou colunas em frente a elas.
visualmente destacado, de grande efeito cenográfico. Porém, parece claro que essas estruturas negativas estão
Confirmando-se que o contexto sócio-político que justifica alinhadas paralelamente aos muros perimetrais do forum
a construção desta plataforma é a promoção municipal de ao longo do seu eixo maior. Esta incompatibilidade
Tongobriga, com a consequente necessidade de dotar uma aparente só terá solução caso se considere a possibilidade
estrutura pré-existente das áreas e edificações inerentes ao de as absides terem sido abertas em momento posterior
forum de uma capital de civitas, não é difícil deduzir as num muro pré-existente totalmente retilíneo, esse
possíveis funções do espaço quadrangular central, com 6 sim relacionado com as estruturas negativas. Além
pes de lado (cerca de 79 m2), que duplica a largura útil da de a configuração inicial da praça ganhar harmonia
plataforma. Mas, mais uma vez, esbarramos na ausência e simetria, de se tornar compatível com as estruturas
TONGOBRIGA ROMANA: NOVOS DADOS, NOVAS PERSPECTIVAS 361

inutilização destas estruturas em negativo foram usados


os sedimentos disponíveis nas proximidades – onde
efetivamente existe uma ocupação dessa época – a
constatação mais relevante foi a de que o elemento mais
recente utilizado nesse preenchimento foi datado de 77
+/- 26 d.C. (D-AMS 011942 – 74 - 220 cal AD a 2s).

Embora não possa ser considerada suficiente para


uma conclusão definitiva, esta datação permite reforçar
a hipótese de as estruturas em negativo que podemos
observar um pouco por todo o espaço do forum
pertencerem a um uso desse espaço anterior à sua
transformação em forum, ocorrida, de acordo com os
dados que têm vindo a ser publicados, num momento
posterior a 79 d.C. (pós-Vespasiano).
Figura 14. Potinho de tradição indígena, com superfície brunida
e decoração estampilhada, proveniente de uma das estruturas Confirmando-se esta interpretação, resta-nos perceber
negativas alongadas do forum. Séc. I a.C. – 1ª 1/2 séc. I d.C. melhor a configuração das edificações associadas a todas
as estruturas negativas anteriores à reformulação dos
Flávios, a qual constitui a mais conhecida e divulgada
referidas, e de podermos observar um ligeiro ressalto
fase do forum de Tongobriga; e sobretudo, perceber
no solo que pode ser interpretado como sinal de uma
melhor a sua função.
abertura posterior do espaço das absides, não dispomos
de mais nenhum elemento que possa dar consistência a Somos tentados a ver aqui um grande espaço de
esta possibilidade. mercado, aliás condicente com o primitivo significado
de forum, de cronologia possivelmente júlio-cláudia,
Toda a interpretação ganha força se considerarmos,
amortizada com as transformações urbanas promovidas
na sua generalidade, o imenso conjunto de estruturas
pelos Flávios em simultâneo com a construção das
negativas até agora identificadas no subsolo da praça,
termas, a desativação do balneário castrejo, o início da
como pertencentes a um momento anterior (Figura
substituição da arquitetura de tradição autóctone por
12, C), o que até condiz com algumas observações
outra inspirada em modelos importados e a possível
arqueológicas que apontam para uma amortização
promoção do estatuto de Tongobriga a capital de civitas.
relativamente precoce das mesmas41.
Nesse espaço de funções essencialmente comerciais
Esta hipótese ganha ainda mais consistência se
onde se poderiam promover reuniões periódicas de
tivermos em linha de conta os materiais arqueológicos
âmbito regional –eventualmente de todo um populus,
exumados do interior dessas estruturas negativas.
mais tarde civitas– faria todo o sentido a promoção do
Embora muito escassos, esses materiais apontam
culto imperial, se é que se confirma a reconstituição
claramente para a dinastia júlio-claudiana, senão
do altar por nós proposta. Neste contexto, também
mesmo para um momento anterior. Entre eles, avultam
já faria todo o sentido a existência de estruturas de
as cerâmicas micáceas de tradição castreja e alguns
armazenagem no interior da praça, como é sugerido pela
raros exemplares de cerâmicas brunidas com decoração
similaridade dos alinhamentos de estruturas negativas
estampilhada cuja cronologia não deverá ultrapassar a
de configuração retangular com as que se observam na
primeira metade do século I42 (Figura 14).
infraestruturação dos horrea.
Ultimamente, com a colaboraçao de Inés López-
Em face do que se conhece, não é difícil admitir
Doriga, tivemos oportunidade de obter uma série de
que tenha havido projetos de grande envergadura
datações de C14 no âmbito de um programa de recolha
para a construção de um forum clássico no tempo dos
sistemática de elementos carpológicos para caracterização
Flávios, em consequência da mudança de estatuto de
paleoambiental. Para além de elementos atribuíveis à
Tongobriga. Mas a ausência efetiva de elementos seguros
Idade do Bronze, sinal de que no preenchimento pós-
que suportem a proposta de construção de um templo,
de uma basílica e de estruturas porticadas, sugere a
possibilidade de nem todas as intenções terem sido
41. Rocha 2015: 104.
concretizadas. Algo que também os indícios construtivos
42. Lima 2016: 15.
362 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

identificados na área do teatro parecem apontar mas que edifício termal; confirmando-se ainda a inexistência
só futuras intervenções arqueológicas em extensão, na de uma entrada no muro perimetral norte; e na
zona do forum, e não só, poderão ajudar a esclarecer. ausência de confirmação de uma possível entrada a
poente; o que efetivamente temos em Tongobriga é um
7. PERSPETIVAS PARA UMA INVESTIGAÇÃO imenso recinto retangular concebido como um espaço
FUTURA fechado, de acesso facilmente e propositadamente
controlado, com uma única entrada – a nascente –
São muitas as interrogações que se levantam sobre na qual está ainda por esclarecer se existiu ou não
a estrutura urbana de Tongobriga, os seus principais um grande portão. O qual, a ter existido, permitiria
edifícios e espaços públicos e a sua transformação no encerrar completamente o recinto, o que seria, em
contexto da provável promoção flaviana a capital termos absolutos, uma negação evidente da ideia de
de civitas. É certo que essas interrogações impõem forum civilis enquanto espaço de utilização e circulação
prudência a novas propostas mas já foram dados livres, com múltiplos acessos e até mesmo, em alguns
passos concretos no sentido de serem apontadas novas casos, atravessado por um dos principais eixos viários
perspetivas. Sejam quais forem os caminhos por onde que compunham o espaço urbano.
a investigação arqueológica nos levar, pensamos que
deverão ser tidas em conta as constatações principais ‒ Esta última ideia, baseada na perceção de um
desta breve análise: recinto fechado e de acesso controlado, é muito
mais condicente com a ideia de mercado, não
‒ Os edifícios públicos de carácter monumental enquanto edifício a esse fim destinado (macellum)
cuja existência está já confirmada (forum, termas) ou mas enquanto espaço de transação e armazenamento
apontada (teatro, anfiteatro, circo) são, claramente, temporário de bens e produtos destinados a comércio
estruturas construídas extramuros e à margem (forum pecuarium). Esta perspetiva explicaria também
das áreas habitadas de Tongobriga. Não foram, a presença de uma ocupação bastante densa do
até ao momento, encontrados quaisquer indícios espaço interior do recinto com estruturas destinadas
de que esses edifícios possam ter sido integrados a armazenamento e provavelmente também à compra
numa suposta expansão das áreas habitacionais que e venda, as quais, por terem sido construídas em
compunham o tecido urbano pelo que se terão materiais perecíveis e por terem, eventualmente,
mantido à margem deste. Esta situação sugere que um carácter temporário, deixaram vestígios que
eles estariam, antes de mais, vocacionados para servir não se materializaram em elementos arquitetónicos
uma população não residente; monumentais mas sim em inúmeras estruturas em
negativo cuja configuração está ainda, em grande
‒ Não tanto pela sua volumetria mas sobretudo medida, por compreender.
pela área que ocupa, o forum (e até mesmo os
presumíveis teatro e anfiteatro) têm uma dimensão Trata-se de uma estrutura erigida com o propósito
exageradamente grande, desproporcional face ao principal de encerrar um espaço, o que condiz com a
espaço urbano de Tongobriga e à população que se aparente simplicidade construtiva e formal do modelo
estima aí ter habitado, o que aponta precisamente na arquitetónico, inclusive do seu próprio muro perimetral,
mesma direção; cuja espessura revela que se trata de uma estrutura concebida
como maceria ou cerca e não pensada para suportar fortes
‒ Em nosso entender, a ausência de indícios fiáveis da cargas relacionadas com pórticos ou outras edificações que
existência de basílica, cúria, templo e porticados no seriam de esperar no perímetro de um forum.
forum de Tongobriga não inviabiliza a possibilidade
de se ter projectado, com os Flávios, a transformação Sobre as funções a que se destinaria a estrutura que
de um espaço pré-existente, no âmbito da promoção conhecemos como forum de Tongobriga e as atividades
municipal que lhe tem vindo a ser atribuída. Mas que nele poderiam ter lugar, há muitas questões em
obriga a ponderar a hipótese de esse projeto não ter aberto que não serão respondidas sem novas intervenções.
chegado a ser integralmente realizado; Mas os dados disponíveis, apesar de escassos, já apontam
nalgumas dircções.
‒ Confirmando-se o carácter tardio dos lanços de
escadas que ligam a grande esplanada do forum de Estamos, ao que tudo indica, perante um espaço
Tongobriga à plataforma elevada que foi construída polifuncional, que neste sentido se aproxima muito das
ao longo do seu muro perimetral sul; confirmando-se estruturas que têm vindo a ser identificadas um pouco
também a datação tardia da escadaria que o liga ao
TONGOBRIGA ROMANA: NOVOS DADOS, NOVAS PERSPECTIVAS 363

por todo o Império, inclusive na Hispania romana43, atenção para dois outros aspetos de grande importância:
mesmo que tais estruturas, apesar de partilharem muitos por um lado o facto de elas não raras vezes se implantarem
aspetos comuns, não se apresentem de acordo com em locais onde já havia outras similares em época anterior;
modelos arquitetónicos uniformes. e por outro lado, o facto de não faltarem exemplos em que
nos mesmos locais se documenta a realização de importantes
Ainda que se confirme a não existência do templo feiras e mercados em época medieval e moderna46.
que tem vindo a ser proposto, não nos admiraria que
outros espaços, estruturas e/ou edifícios destinados ao A perenidade do papel económico e social destes
culto viessem a ser identificados em futuras intervenções. espaços monumentais reforça a ideia de que eles
As absides, que no caso de Tongobriga são três no muro expressam a razão de ser do desenvolvimento dos núcleos
perimetral Norte e uma na plataforma Sul, bem como de povoamento aos quais estão ligados. Nalguns casos,
o possível altar cuja reconstituição aqui ensaiamos, são como poderá ter acontecido em Tongobriga, eles poderão
testemunhos de que a vertente religiosa destes espaços mesmo representar a vocação principal dos sítios e ser a
não só está presente como é indissociável de todas as chave da explicação para a sua formação, sobrevivência
suas outras funções, já que as noções de espaço lúdico e crescimento.
e de reunião, de santuário e de mercado surgem sempre
interligadas. De forma recorrente, em outras cidades romanas da
península, o local onde se implantou o forum pecuarium
Em Tongobriga, parece merecer particular destaque continuou, ao longo dos séculos, a desempenhar as
a função de mercado, se tivermos em linha de conta mesmas funções e isso refletiu-se na toponímia. Por
a extensão e a quantidade de estruturas já detetadas exemplo, em Mérida, o local ainda servia, muito
possivelmente relacionadas com o armazenamento de recentemente, para a celebração de Las Nundinae; e em
bens (horrea?) e com eventuais áreas destinadas à compra e Confloenta / Duratón, além de se chamar Los Mercados,
venda de produtos (as possíveis tabernae a que já aludimos ainda no século XVIII servia para a celebração de um
a propósito do seccionamento dos espaços laterais). A “mercado para toda a terra”47.
julgar pela amostra que já se tem da existência de estruturas
negativas no recinto do forum de Tongobriga, elas deveriam No caso de Tongobriga, essa perenidade manifestou-se
cobrir de forma extensiva o espaço disponível. O facto de na celebração anual da Feira da Quaresma, um evento
todas estas hipóteses estarem relacionadas, em qualquer que está documentalmente atestado desde o século XV e
dos casos, com estruturas efémeras, construídas em que na centúria seguinte é considerada uma das maiores
materiais perecíveis e como tal necessariamente renovadas feiras do Norte de Portugal48.
de forma regular, ou até mesmo portáteis e facilmente
desmontáveis (do género tenda), não pode deixar de nos Os testemunhos documentais oitocentistas revelam-
remeter para os locais de realização das feriae e nundinae nos que a feira se fazia então no centro da aldeia do
(mercados locais permanentes de frequência periódica). Freixo, em torno da igreja de Santa Maria, a qual está
implantada no centro do perímetro amuralhado da
O grande investimento que uma estrutura destas antiga Tongobriga49. Mas já então a feira estaria em
implica, seja ele proveniente de fundos municipais e/ franco declínio e teria uma importância e dimensão
ou das classes dirigentes do povoado, é rentabilizado, reduzida, condicente com a sua realização nos apertados
como nos lembra Santiago Martínez Caballero44, pela espaços das ruelas da aldeia e campos adjacentes.
polifuncionalidade destes espaços, que associam, num
só recinto, as funções atribuídas nas grandes cidades, ao O mesmo não aconteceria em tempos mais recuados.
forum, ao forum pecuarium e ao campus. No século XVI, as rendas da Feira da Quaresma
foram alvo de intensas querelas judiciais entre os seus
Este mesmo autor, que tem valorizado de forma arrendatários e as freiras do Mosteiro que detinha a
substancial este tipo de estruturas, inclusive em centros posse das terras, sinal de que o mercado periódico
urbanos de época romana do vale do Douro como habitualmente realizado na antiga Tongobriga tinha uma
Confloenta / Duratón e Termes45, chama-nos ainda a dimensão considerável e gerava proveitos apetecíveis. No
século seguinte, o testemunho que sobre a feira nos dá

43. Martínez Caballero - Santos 2005; Bermejo - Campos 2011;


Martínez Caballero 2013; Id. 2014a; Id. 2014b; Martínez Ca- 46. Id. 2014b: 183-184a.
ballero - Mangas 2014. 47. Ibid. : 182.
44. Martínez Caballero 2014b: 182. 48. Lima e.v.p.
45. Martínez Caballero 2013; Id. 2014a; Id. 2014b. 49. Ibid.
364 António Manuel de Carvalho Lima Anejos de Segovia Histórica II

o Padre Torquato Peixoto de Azevedo não deixa dúvidas – (2013a): “O momento e a forma de construir uma
sobre a grandiosidade do mercado da Quaresma, não cidade no Noroeste da Hispânia, periferia do Império
compatível com a exiguidade do espaço da aldeia, e que Romano e fronteira atlântica”, Revista da Faculdade de
certamente se celebrava no espaçoso recinto do antigo Letras. Ciências e Técnicas do Património, XII, 113-126.
forum: “Nesta [freguesia] há uma feira à segunda sexta – (2013b): “Contributo para o reconhecimento de
feira da Quaresma, a que chamam dos Porcos, que é uma “estratigrafia” na paisagem da bacia do Douro. O
das maiores entre Douro e Minho, a qual dura quatro caso do território entre Marão, Montemuro, Sousa,
dias, e a ella concorrem mercadores de mais de cincoenta Tâmega e Douro”, CEM. Cultura, Espaço & Memória
legoas”50. Uma expressiva demonstração de perenidade 4, Porto, 177 – 190.
da função de um espaço e da vocação intemporal de – (2014): “Tongobriga. Do século de Augusto ao
um sítio. obscurantismo”, Revista da Faculdade de Letras.
Ciências e Técnicas do Património XII, 171 – 181.
BIBLIOGRAFIA – (2015a): Paisagens Milenares do Douro Verde,
Caleidoscópio, Porto.
Uma recolha exaustiva da bibliografia sobre – (2015b): Baião. Em torno do Ano Zero, Câmara
Tongobriga pode ser encontrada no projeto de Municipal de Baião, Baião.
investigação que temos atualmente em curso para este – (2015c): “Tongobriga, a cidade que há no futuro…”
sítio arqueológico51. Para este artigo, e com o objetivo [en] C. Rocha – L. Tavares Dias – P. Alarcão,
de evitar referências redundantes, optamos por ter por Tongobriga. Reflexões sobre o seu desenho urbano,
base apenas a bibliografia mais recente, em especial a CITCEM / Afrontamento, Porto, 5 - 23.
dos últimos três anos. Só é feita referência à bibliografia Lima, A. M. de Carvalho (2005): Tongobriga. Escavações
anterior quando a informação ou citação em causa não Arqueológicas. Relatório dos trabalhos – 2004
forem encontradas em publicações mais recentes. (policopiado), Freixo.
– 2006): Tongobriga. Escavações Arqueológicas. Relatório
Abascal, J.M. – Almagro-Gorbea, M. – Noguera, dos trabalhos – 2005 (policopiado).
J. M. – Cebrián, R. (2007): “Segobriga. Culto – (2014): Tongobriga / Santa Maria do Freixo. Projecto
imperial en una ciudad romana de la Celtiberia”, de Investigação Arqueológica para o quadriénio 2014 –
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Mozinho (1974), Centro Cultural Penafidelis, - M. Justino - C. Mourão (coords.), Imagens do
Penafiel. Paradeisos nos Mosaicos da Hispania (=col. Classical
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Mayo, 2013, Mérida, 71-75. urbano, CITCEM / Afrontamento, Porto, 31 - 187.
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