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Objectivos do Legislador na revisão do CII e do CIRT e os seus impactos

Com a revisão do CII o Legislador simplificou o processo de liquidação deste imposto,


com a implementação do Regime Geral e do Regime Simplificado. O primeiro Regime
aplica-se para os Contribuintes do anterior Grupo A e o segundo Regime para aqueles
Contribuintes que se enquadrem no Regime de Não Sujeição do Código do IVA (CIVA).
Desta forma o Legislador estabelece uma relação entre estes dois impostos, uma vez
que os mesmos tem os mesmos tipos de Contribuintes. Pode-se afirmar que os
Contribuintes do Regime Geral são Contribuintes enquadrados do Regime de Sujeição
do CIVA e os Contribuintes do Regime Simplificado são aos Contribuintes enquadrados
do Regime Não Sujeição do CIVA.
Se por um lado o Legislador reduziu as taxas do Imposto Industrial (II),
nomeadamente, reduziu a taxa de 30% para 25%, assim como a taxa das actividades
agrícolas e similares de 15% para 10%, incluiu uma taxa de 35% para as actividades
do sector bancário e também aumentou de 6,5% para 15% a taxa dos Serviços
incidentais. Por outro lado, o Legislador, como que para equilibrar estas reduções das
taxas, reduziu alguns dos custos dedutíveis á matéria colectável, como por ex. a parte
não coberta das provisões constituídas com um crédito com garantia. Outro ponto
importante foi o alargamento do prazo para o reporte dos prejuízos fiscais que passa
de 3 para 5 anos. Uniformizando deste modo, este prazo com o prazo estabelecido
para a caducidade da liquidação tributária.
Outra alteração importante da Lei 26/20, foi a alteração do regime tributário para as
fusões e cisões. Neste caso, o Legislador alargou o regime da neutralidade tributária,
anteriormente aplicada apenas aos Grandes Contribuintes, para a generalidade dos
Contribuintes, deixando assim de ser um regime especial para passar a ser
considerado o regime geral de tributação dos projectos de fusão ou cisão.

A reforma do CIRT ficou muito aquém dos objectivos definidos pelo Legislador,
nomeadamente a proteção efectiva das famílias mais pobres, para permitir que as
mesmas tenham uma maior disponibilidade de rendimentos para aquisição de bens de
consumo essencial a sua subsistência e também para fazerem face a desvalorização do
akz e à inflacção.
O Legislador ao inserir a alínea a), no artigo 1º, alarga a base do imposto passando a
incluir todos os direitos, regalias e benefícios financeiros não incluídos na remuneração
principal. Ex. gratificações de fim de carreira, rendimentos auferidos por um cidadão
nacional com idade superior a 60 anos por trabalho prestado por conta de outrem e
militares em serviço militar obrigatório.
Com a alteração do art.º 2, alínea h), o Legislador vai contra as linhas orientadora da
Reforma Tributária, que é contribuir para o aumento do investimento privado em
Angola, principalmente no momento em que as exportações e o preço da nossa
principal "commoditie" se encontra em baixo. Ou seja, com a queda do preço da
petróleo nos mercados internacionais e com a redução acentuada da procura desta
commoditie devido ao congelamento das economias à escala mundial, o Legislador ao
reduzir a aplicação da regra da não incidência aos rendimentos os trabalhadores
eventuais agrícolas e domésticos nacionais, excluindo desta forma os rendimentos dos
trabalhadores eventuais estrangeiros, vai afastar mão-de-obra estrangeira que poderia
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certamente contribuir para o desenvolvimento e melhoria da qualidade do trabalho
nestes dois sectores.
Também pode ser considerada uma medida contrária ao Princípio da Justiça Tributária,
quando o Legislador revoga a isenção dos rendimentos do serviço militar obrigatório.
Pode-se aceitar que os militares, de um modo geral, tenham um tratamento similar ao
cidadão comum e o seu salário seja também tributado, no entanto é questionável que
se tribute o salário dos militares enquanto estes prestem o serviço militar obrigatório.
Em muitos casos, o militar apenas pretende cumprir com um seu dever para depois
prosseguir a sua vida profissional em outras áreas.
Uma medida, e desta feita na vertente dos trabalhadores por conta própria, que
seguramente não contribui para que estes trabalhadores tenham uma maior
disponibilidade de rendimentos para aquisição de bens de consumo, é a revogação do
artigo 8, nº 1., alínea a), onde o valor da matéria colectável dos trabalhadores por
conta própria com contabilidade organizada, é a totalidade do valor dos seus serviços,
deixando de ser 70% do valor pago pelos seus serviços. O Legislador não fica por aqui
quanto aos trabalhadores por conta própria, e revoga o n.2, do artigo 8º, por inteiro,
eliminando todas as despesas e encargos que os trabalhadores por conta própria
suportam na prestação dos seus serviços ex. renda das suas instalações, água e luz.
O Legislador também excluí os trabalhadores por conta própria sem contabilidade
simplificada ou livro de registo de compra e venda, da dedução de 30% dos custos na
matéria colectável, o que pode conduzir a que uma parte significativa dos
trabalhadores deste grupo, veja que não tem vantagem alguma, em organizar os seus
negócios e em começar a declarar os seus rendimentos ao Estado. Estes
trabalhadores, representam um grupo muito grande de potenciais contribuintes,
muitos deles desenvolvem os seus negócios na informalidade, para serem tratados
com desinteresse pelo Legislador. Deste modo, pode-se afirmar que, esta medida
merece ser revista para se poder aumentar o número de contribuintes e para se
reduzir a informalidade dos negócios em Angola.
Parece pois, que o Legislador procura atrair a atenção, para a alteração da tabela do
cálculo do imposto do Grupo A e para a redução para 6,5% da taxa aplicável à matéria
colectável sujeita a retenção na fonte para o Grupo B. Na verdade, o Legislador
procura chamar a atenção do cidadão para a implementação de uma nova tabela de
cálculo do valor do IRT, tabela esta, preparada segundo o principio da progressividade
tributária, o que na opinião do Legislador pode representar uma maior justiça
tributária.
No entanto, deve-se ter em conta que os salários a partir dos quais a progressividade
desta tabela começa a fazer-se sentir, são os salários ainda considerados insuficientes
para pagar as despesas correntes. Desta forma, as famílias com salários médios, veem
a sua capacidade de consumo e de pagarem as suas despesas reduzida com a
implementação desta nova tabela.
Os trabalhadores por conta própria, também podem se sentir prejudicados, com a
implementação da taxa de25% à matéria colectável não sujeita à retenção na fonte,
onde se formos a ver, se incluem a maioria dos clientes da maioria dos trabalhadores
por conta própria, nomeadamente as empresas do Regime Simplificado ou do Regime
de Não Sujeição do CIVA e as pessoas individuais, sem capacidade para efectuar a
retenção na fonte.
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