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SP Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

O tempo já se completou
e o Reino de Deus está próximo
Convertei-vos e crede no Evangelho
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento,
Natal e primeira parte do Tempo Comum
Ano B

| | o ), Projeto Nacional de Evangelização


Queremos Ver Jesus
Caminho, Verdade e Vida

EB. PAULUS
14 edição — 2005

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O Pia Sociedade Filhas de São Paulo — São Paulo, 2005
Apresentação

Com alegria apresentamos os roteiros homiléticos para o


ciclo do Natal e primeira parte do Tempo Comum. São subsídios
para auxiliar as homilias e celebrações.
O ciclo do Natal contém o Advento, o Natal e as festas que
seguem o nascimento do Salvador. E um tempo muito querido e
marcante no coração de nosso povo.
Com o Advento vivemos a alegre espera da vinda do Mes-
sias e sua acolhida na história humana. A presença do Salvador
na história e na vida da humanidade é salvação, festa e motivo
de esperança para o mundo.
Os roteiros após o Natal nos ajudam a vivenciar e celebrar
as festas da Sagrada Família, do Dia da Paz, da Mãe de Deus, da
Epifania e do Batismo de Jesus.
À primeira parte do Tempo Comum nos introduz na ex-
periência de seguir Jesus na cotidianidade da vida. A presença
do Verbo que se fez Carne vai sendo cultivada na fé vivida das
pessoas e das comunidades. É o mistério da salvação que cresce
e se desenvolve lentamente.
Durante toda essa primeira parte do Tempo Comum, no Brasil
acontece o período das férias e de diversas festas populares. É um
tempo de descanso, de carnaval, de viagens, de visita aos parentes e
amigos. É tempo de contato com a natureza em suas belezas encan-
tadoras nas praias, campos, rios, cachoeiras e montanhas.

Os seguidores de Jesus são chamados a viver sempre na


vizinhança, na alegria e na graça. As celebrações nas comunida-
des, a leitura da Palavra de Deus e a vida Eucarística são fontes
de fidelidade, solidariedade, alegria e paz.

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Que estes roteiros e as ricas sugestões elaboradas pela Ir.
Veronice Fernandes, membro da Equipe de Reflexão da Liturgia,
possam auxiliar na criatividade das equipes celebrativas e dos
ministros da Palavra!

Santa Maria, 15 de agosto de 2005.


t Dom Hélio Adelar Rubert
Bispo de Santa Maria (RS)

PNE - QV) - CVV nº 23


A liturgia no Tempo do Advento

Considerações e sugestões gerais


Com a celebração do Advento, iniciamos não só um novo tempo
litúrgico, mas também um novo ano litúrgico. Somos convocados
a percorrer com Jesus Cristo um itinerário pascal. Nesse caminho,
passamos pela espera ardente do Advento da definitiva vinda do
Senhor, pela divinização, encarnação e manifestação do Filho de
Deus em nossa humanidade, celebrada no Natal e na Epifania;
pelo deserto da Quaresma; pela paixão da cruz e a vitória da
ressurreição: pelo fogo de Pentecostes. É a Páscoa de Cristo na
páscoa da gente e a páscoa da gente na Páscoa de Cristo; ou seja, a
lenta e perseverante identificação com o Cristo Jesus ao longo do
tempo ou festa do ano litúrgico revela, realça, manifesta, nomeia
as experiências pascais (na vida pessoal, comunitária, social...)
feitas no dia-a-dia, à luz da Páscoa de Cristo.

Se usarmos a imagem de uma montanha, poderemos dizer


que o ano litúrgico nos convida a subir como que em espiral. De
ano em ano passamos pelas mesmas “paisagens”, mas a cada vez
a celebração dos mistérios nos atinge de modo diferente, devido
à nossa realidade sempre “inédita”, sempre nova. Isso também
depende da intensidade de nossa participação na celebração e de
nossa abertura ao mistério.
Este ano (ano B), percorremos o itinerário proposto pelo
evangelista Marcos. Ele nos convida a refazer hoje os passos que
Jesus fez na busca da vontade do Pai, desde a Galiléia até Jeru-
salém, lugar onde o servo sofredor será perseguido, executado
na cruz e ressuscitado dos mortos.
O tempo do Advento abre para a Igreja a grande celebração
da manifestação do Salvador em nossa humanidade. O Advento

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é um tempo de preparação para as festas epifânicas; tem como
tarefa preparar-nos para receber o Senhor que vem e se manifesta
a nós. Sendo assim, a manifestação do Senhor tem dois aspec-
tos: a manifestação em nossa carne ao nascer, que constitui sua
primeira vinda; e a manifestação em glória e majestade no final
dos tempos, que constitui sua segunda vinda.
Alguns elementos rituais e atitudes próprias deste tempo
litúrgico expressam e nos ajudam a incorporar a dimensão do
mistério em nossas vidas:
Descobrir, através do Advento, o mistério de Cristo em
cada página da Escritura. Alimentamo-nos da esperança
profética de Isaías, no seu contundente anúncio de expec-
tativa no futuro e de que Deus cumpre as suas promessas.
Buscamos a atitude austera, humilde e simples de João
Batista, o qual tem a missão de preparar os caminhos do
Senhor. Acreditamos, com Zacarias e Isabel, nas pro-
messas de Deus; deixamo-nos fecundar, como Maria,
pela Palavra; e acolhemos o Senhor no mais íntimo de
nossa vida. À leitura e a meditação da Palavra de Deus
conduzem-nos dia a dia na experiência do “resplandecer
da luz do sol nascente que nos visita [...)”.
Celebrar o Advento com sobriedade (sem glória, flores
com moderação...).
Usar cor roxa ou rosada. Embora a cor litúrgica indicada
no diretório seja a roxa, exceto no 3º Domingo, muitas
comunidades estão usando o rosado durante o Advento
para diferenciá-lo do roxo quaresmal e para significar a
alegre espera que caracteriza a celebração deste tempo.
Usar a coroa de Advento que contém uma linguagem de
silêncio, mas que fala forte através do círculo, da luz, das
cores, dos gestos correspondentes...

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Cantar as antífonas do Ó... São assim denominadas por
causa da exclamação com que se iniciam. Exprimem o
espanto comovido da Igreja na contemplação do mistério
da vinda de Cristo, invocado com os títulos tomados das
clássicas imagens da Bíblia: Sabedoria, Guia da Casa de
Israel, Rebento de Jessé, Chave de Davi, Sol Nascente, Rei
das Nações, Emanuel. Cada invocação, que acompanha
a contemplação do significado do título dado ao Cristo
vindouro, está carregada de toda a esperança cristã. São
utilizadas como antífonas do cântico evangélico da manhã
e da tarde e também no Ofício da Novena de Natal.
Escolher com cuidado os cantos de modo que possibilitem
cantar o mistério de Cristo, celebrado neste tempo de espera
vigilante. O Hinário Litúrgico 1, da CNBB, oferece ótimas
sugestões, assim como o Ofício Divino das Comunidades,
onde encontramos salmos, hinos e refrões.

Repetir meditativamente um refrão. Exemplo: Marana-


tá! Ou: Vem, Senhor Jesus...
Perceber como Maria coopera no mistério da redenção,
aceitando ser a mãe do Filho de Deus. O Filho de Deus entra
no mundo como “nascido de mulher”. Ela une o Salvador
ao gênero humano. O Advento, principalmente a partir do
dia 17 de dezembro, insere Maria na vivência e celebração
do mistério pascal. Como fazer para que Maria seja inserida
na celebração do Advento? No final da celebração, cantar
um hino mariano. Celebrar bem as duas festas marianas que
ocorrem no Advento: 8 (Imaculada) e 12 (Guadalupe).
Assumir como gesto litúrgico a participação da mulher
nos diversos ministérios litúrgicos e acolher as mulheres
grávidas por meio de algum serviço que elas exerçam
ou de uma bênção própria no final da celebração.

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Celebrar a novena do Natal, que acentua o caráter de
vigilância e espera operosa.
Valorizar os tempos de oração comunitária.
A celebração de reconciliação e de penitência que ajuda
as comunidades no caminho de conversão.
Retomar o dinamismo da conversão em alguns aspectos
fundamentais, como seu compromisso com a verdade.
O Filho de Deus se fez Palavra e a Palavra se fez carne,
dando à palavra humana um caráter de solidez.
Viver o Advento significa rever os nossos projetos, ava-
liá-los à luz da mensagem do Advento do Senhor, rever
o rumo que estamos tomando em nossa vida pessoal,
social e comunitária.
Assumir as esperanças pessoais e as de nossos povos e
de toda a humanidade, solidarizando-se com grupos que
trabalham em iniciativas que mantêm viva a esperança
(projeto contra a fome e a miséria, projeto Fome Zero,
Campanha de Evangelização e outros).
Promover a unidade e trabalhar pela paz.
Revitalizar na Igreja, através do Advento, o espírito mis-
sionário de anúncio do Messias a todos os povos e a cons-
ciência de ser sinal concreto de esperança. Desafia-nos
a um amor concreto por todos, preferencialmente pelos
pobres, através de práticas solidárias e ações sociotrans-
formadoras.

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|º Domingo do Advento
27 de novembro de 2005

Leituras: Isaías 63,16b-17.19b; 64,2b-7; Salmo Responsorial


79(80),24c.3b.15-16.18-19; ICoríntios 1,3-9; Marcos 13,33-37

Vigiai: não sabeis


quando o dono da casa vem

1. Situando-nos brevemente
Hoje entramos no tempo do Advento ou “dia da vinda”,
que na cultura antiga significava a visita solene de uma pessoa
importante.
Neste domingo ouviremos a palavra de Jesus: “Cuidado!
Ficai atentos, vigiai, porque não sabeis quando o dono da casa vem
[...)”. É tempo de espera, de vigilância operosa, de intensificar a
súplica que ressoava nas assembléias primitivas: Maranatá, vem,
Senhor Jesus! Na verdade, toda a vida cristã é espera vigilante da
manifestação definitiva do Senhor; a Igreja, porém, nos oferece
um tempo em que intensificamos a esperança da nova vinda dele
e fazemos memória da sua manifestação em nossa humanidade,
através da encarnação.

2. Recordando a Palavra
O evangelho de hoje faz parte do capítulo 13 de Marcos, no
qual o evangelista narra um discurso de Jesus sobre “o fim” e os
sinais que o acompanharão. O evangelista utiliza uma linguagem

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apocalíptica. Vale lembrar que esse tipo de linguagem era utili-
zado nos escritos do primeiro século para comunicar esperança a
pessoas medrosas e ao mesmo tempo revelar como Deus salvaria
definitivamente seus fiéis de toda e qualquer força maligna, no
final dos tempos. Tais escritos eram bastante comuns também
em comunidades veterotestamentárias que ansiavam pela vinda
do Messias para libertá-las de governantes pagãos estrangeiros.
Confira, por exemplo, o livro de Daniel, capítulos 7-12, escrito
por volta de 150 a.€., que descreve a vinda do Filho do Homem
em termos muito semelhantes aos encontrados no Evangelho
de Marcos. Temos também escritos neotestamentários como Mt
24-25; Lc 21; 1Ts 4-5 e o livro do Apocalipse que refletem a
aguda consciência que a Igreja primitiva tinha da ausência do
Senhor e suas expectativas da iminente volta dele na glória. É
no capítulo 13 que Marcos transmite para a sua comunidade a
esperançosa preocupação da Igreja primitiva com a volta de Jesus.
Marcos descreve as atitudes a serem adotadas pelos leitores no
tempo entre a ressurreição de Jesus e a sua volta.
Para melhor compreendermos os versículos 33-37, propos-
tos para este domingo, será preciso percorrer todo o capítulo 13.
No início, Jesus está falando a um de seus discípulos sobre a des-
truição do templo. Em seguida, muda-se o cenário. Jesus aparece
sentado no monte das Oliveiras, diante do templo, e é interpelado
por Pedro, Tiago, João e André, que fazem duas perguntas para,
Jesus: Quando será isso e qual o sinal de que todas essas coisas
estarão para acontecer? Todo o restante do capítulo é a resposta
de Jesus aos seus discípulos. A resposta é um discurso de Jesus,
com uma linguagem assustadora, no qual Jesus fala de crise (vv.
3-13), grande tribulação (vv. 14-23), porém aponta um raio de luz
com a promessa da manifestação do Filho de Deus (vv. 26-27). A
comunidade cristã é convidada a não se alarmar, e sim perseverar
na vigilância (vv. 33-37). A linguagem apocalíptica move, então,
os leitores a uma resposta e ações concretas. O Senhor virá, mas o
dia e a hora ninguém sabe. Ficai de sobreaviso, vigiai (vv. 32-33).

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“Vigiai” (v. 35) para que o Senhor não os encontrem dormindo.
Vigiai (v. 37). Todos são convidados (não só Pedro, Tiago, João
e André, v. 3) a deixar de lado cálculos inúteis e medrosos de
prazos a respeito do fim do mundo, a fim de viver corajosamente
no presente, como missionários perspicazes, atentos e praticantes
da Palavra de Jesus.
A primeira leitura é uma oração para um tempo de de-
sespero, ou seja, um momento delicado da história de Israel.
Provavelmente foi composta no fim do exílio, depois do edito de
Ciro (538 a.C.), que permitia aos hebreus voltarem à sua pátria.
À oração é tipicamente judaica. Começa com uma recordação
de como Deus é e de suas ações realizadas em favor do povo
(63,16b-64,3). Em seguida, brota a súplica, a lamentação, o
arrependimento e termina com um ato de entrega a Deus que é
pai e criador. O apelo à paternidade divina dá à oração um tom
íntimo e familiar, dando liberdade ao autor de expressar seus
sentimentos de dor e angústia diante da situação vivida. Se Deus
é pai e só dele vem a salvação, por que permite que o seu povo
ande longe de seus caminhos e insensível a seu temor? O autor
traz vivas na memória as intervenções de Deus na história (liber-
tação do Egito e a conquista da Terra Prometida). Essa certeza
faz com que o autor acredite e espere uma nova intervenção de
Deus diante da situação presente.
A segunda leitura é tirada do início da primeira carta
aos Coríntios. Paulo está em Éfeso e escreve aos cristãos de
Corinto, comunidade fundada por ele no final de sua segunda
viagem. Deseja a esta comunidade graça (charis — uso grego)
e paz (shalom — uso judaico). Dons que resumem as bênçãos
messiânicas concedidas em Cristo. Para Paulo, todo o sentido
do Evangelho é orientar para a pessoa de Jesus Cristo. Paulo
expressa sua ação de graças a Deus por tudo o que Ele realizou
na comunidade por meio de Jesus Cristo e apresenta a sua mais
profunda esperança.

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3. Atualizando a Palavra
As manchetes dos jornais, lidas nestes dias em que es-
crevemos este roteiro, anunciam desgraças. Vejamos algumas:
Armas matam 32 mil por ano. Onda de violência deixa pelo
menos 47 mortos no Iraque. Onda de calor na Itália mata 16
em dois dias. Brasil tem segunda pior distribuição de renda do
mundo. Desigualdade social no Brasil continua em níveis ele-
vados. Desemprego sobe pelo terceiro mês em São Paulo, diz
Seade/Dieese. Muitos poderão dizer: será o fim? Existe alguma
saída para tantas crises? O que fazer diante de tanta corrupção,
roubos, violência, desrespeito”

Estamos iniciando um novo tempo litúrgico. Advento, tem-


po de solidificar a esperança. A palavra de Jesus ressoa em nosso
coração: “Cuidado! Ficai atentos... Vigiar”. A súplica de Isaías
torna-se nossa: “Senhor, tu és nosso Pai, nosso redentor... Como
nos deixaste andar longe de teus caminhos... Por amor de teus ser-
vos, volta atrás”. Fazemos nosso o clamor do salmista: “Despertai
vosso poder, ó nosso Deus, e vinde logo nos trazer a salvação”.
Assumimos na oração e na vida a mesma certeza de Paulo: “Ele
vos dará perseverança em vosso procedimento irrepreensível, até
o fim, até o dia de nosso Senhor, Jesus Cristo [...]”.

A hturgia do Advento nos coloca numa atitude de vigilância


atuante e fecunda, pois é carregada de esperança e vem ao en-
contro dos nossos anseios profundos de libertação, de redenção,
de um mundo novo, enfim de Reino de Deus, que já começa
aqui e agora.

4. Ligação com a ação eucarística


À oração pronunciada com tanta esperança pelas comunida-
des primitivas: Vem Senhor Jesus e que é acentuada no Advento,
e tão característica deste 1º Domingo, encontra-se no centro da
prece eucarística, quando a assembléia de fé anuncia a morte

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do Senhor, proclama sua ressurreição e invoca fortemente: Vem
Senhor Jesus. Cheios de esperança, suplicamos na oração do
Pai-Nosso “Venha a nós o vosso Reino!”. O Reino de Deus já
está entre nós. Jesus já veio, o Reino já começou, como reza o
prefácio do Advento I: Revestido da nossa fragilidade, ele veio a
primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos
o caminho da salvação. O Reino de Deus apresenta um projeto
de total libertação de tudo aquilo que oprime, aliena, diminui e
nega a pessoa humana e o equilíbrio de toda a criação. Toda e
qualquer situação de injustiça constitui uma negação desse Reino.
Embora, vivendo num mundo em que muitos acontecimentos são
sinais de negação do Reino de Deus, cultivamos a esperança da
vinda definitiva de Jesus: Revestido de sua glória, ele virá uma
segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos
que hoje, vigilantes esperamos (prefácio do Advento JD).
A vinda do Senhor é antecipada na celebração eucarística;
ela já acontece, pois ele vem quando nos reunimos em seu nome;
vem nos alimentar com o pão da palavra e da eucaristia, de muitas
maneiras. Mas nós celebramos não apenas sua presença, mas tam-
bém o desejo de que ele venha, de que possamos estar com ele em
todos os momentos da nossa vida e, sobretudo, na outra vida.

5. Sugestões para a celebração


e O espaço da celebração deve estar despojado e sóbrio.
Um tronco com um broto ajuda a simbolizar o sentido
da espera.
e Enquanto as pessoas vão chegando, pode-se cantar o
refrão: Vigiai, unidos a mim, comigo orando, sempre
orando! (partitura: Cantos de Taizé, n. 12).
e Muitas comunidades costumam usar a coroa de Advento.
Sua forma circular, sem começo e sem fim, está ligada à
perfeição. O redondo cria harmonia, junta, une. À coroa

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é feita de ramos verdes, sinal de vida e esperança. São
usadas quatro velas. A cada domingo, acende-se uma
vela da coroa. De uma a uma, a luz vai aumentando, até
chegar à grande festa da Luz que proclama Jesus Cristo
como Salvador, Sol do nosso Deus que nos visita, que
arma sua tenda entre nós (cf. Jo 1,1-14). Quanto à cor das
velas, normalmente é usada a vermelha, que em quase
todas as partes do mundo tem o significado do amor. No
Brasil, somos marcados profundamente pelas culturas
indígena e afro, nas quais o brilho das cores, da festa,
da dança, da harmonia com o universo está presente
de uma maneira esplendorosa e reveste as celebrações.
Dessa forma, temos o costume de utilizar na coroa velas
coloridas, uma de cada cor.

Preparar antecipadamente a coroa no local da celebra-


ção. No material utilizado, usar de preferência o natural.
É preciso prevalecer a verdade dos sinais. Também reco-
menda-se que na decoração da coroa não se use brilho,
pois assim estaríamos antecipando a festa da plena luz
que é o Natal e deixando de experimentar a feliz espera
da manifestação do Senhor que acontece nas festas do
Natal. Sendo o altar símbolo do Cristo, é recomendável
que a coroa não seja colocada sobre ele.
Uma proposta para o acendimento:
1º Domingo
Normalmente as velas da coroa são acesas no início da
celebração.
Uma pessoa entra com a vela acesa (pode ser uma mu-
lher grávida), enquanto isso a comunidade canta:
Vem vindo a libertação, ergam a cabeça, levantem do chão.
Levantando a vela e aproximando-se da coroa, reza-se:

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D. Bendito sejas, Deus bondoso, pela luz do Cristo, sol
de nossas vidas, a quem esperamos com toda ternura
do coração.
Em seguida, coloca-se a vela na coroa.
* Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual
condizentes com o tempo, ajudam a comunidade a pe-
netrar no mistério celebrado. O Hinário Litúrgico 1 da
CNBB traz muitas sugestões: Ouve-se na terra um grito,
H1, Suplemento, p. 32; Ouando virá, Senhor, H1, p. 85.
Eis que de longe, H1, p. 16; Aleluia, ó Senhor, abre os
ouvidos, H1, p. 61; Das alturas orvalhem os céus, H1,
p. 19; Jerusalém, povo de Deus, H1, p. 34; Teu corpo e
sangue, H1, p. 86. Também o Ofício Divino das Comu-
nidades contém um rico repertório para este tempo.
* O glória é omitido para que seja cantado solenemente
na noite da natividade do Senhor.
e Rezar o prefácio do Advento I ou cantar a louvação do
Advento que se encontra no H1, p. 73.
* Bênção final própria para o tempo do Advento, conforme
Missal Romano.
* O Advento é um tempo em que a Igreja reaviva sua missão
de anúncio do Messias a todos os povos e a consciência de
ser sinal de esperança para toda a humanidade. Por isso é
bom valorizar o rito do envio, ligando-o com o mistério
celebrado neste dia, como, por exemplo: Levai a todos a
esperança no Senhor da vida; Que o Senhor que nos con-
vida a ficar atentos e vigiar vos acompanhe. Ide em paz.
* Empenhar-se na Campanha de evangelização.

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2º Domingo do Advento
4 de dezembro de 2005

Leituras: Isaías 40,1-5.9-Il;


Salmo Responsorial 84(85),9ab-10.11-12.13-14;
2Pedro 3,8-I4; Marcos 1,1-8

Endireitai as estradas do Senhor

1. Situando-nos brevemente
O 2º Domingo do Advento é marcado pela figura de João
Batista. É o último dos profetas. João é sinal da intervenção de Deus
a favor do seu povo; como precursor do Messias, tem a missão de
preparar os caminhos do Senhor: aterrar os vales, aplainar as colinas,
endireitar as estradas tortuosas... (Cf. Is 40,3-4); de oferecer a Israel o
“conhecimento da salvação” (cf. Lc 1,/7-78) e, sobretudo, de indicar
Cristo já presente no meio do seu povo (cf. Jo 1,29-34). Ele é modelo
de humildade, daquele que sabe diminuir para que o outro cresça (cf.
Mc 1,7-8), dos que se consagram ao Senhor para preparar os seus
caminhos, dos que sabem entregar a vida, dos que servem o evangelho
e se empenham a viver uma vida santa e piedosa na edificação de
novos céus e nova terra, onde habitará a justiça (cf. 2Pd 3,11-13).

2. Recordando a Palavra
O evangelista Marcos começa o seu livro escrevendo:
“Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Naque-
le tempo, no Império Romano, evangelho ou Boa-Nova era a
notícia de uma grande vitória, ou do nascimento, ou da tomada
de posse de um imperador. Tal Boa-Nova era divulgada para os

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quatro cantos do império. Na Bíblia, a Boa-Nova é utilizada por
homens e mulheres que têm a responsabilidade de anunciar que
Deus vem salvar seu povo de todo pecado e opressão, como nos
tempos da escravidão do Egito, quando Ele libertou seu povo e
o estabeleceu numa nova terra.
Marcos identifica João Batista como o anjo do Senhor que
no deserto era enviado à frente do povo (cf. Ex 33,2) e como o
mensageiro de Is 40,3, portador da Boa-Nova para o povo exilado.
Segundo o evangelista, João Batista é o enviado por Deus para
preparar o caminho do Senhor. Ele “clama” no “deserto”, lugar do
caminho de volta para Deus. O precursor prega um batismo de con-
versão. Marcos oferece aos seus leitores a possibilidade de refazer
a viagem pelo deserto e a passagem pelo Jordão (Js 3-4), mas não
como pura recordação do passado, e sim para a inauguração de um
novo tempo. O batismo de conversão para a remissão dos pecados
aparece como cumprimento daquela Boa-Nova.
O povo da região da Judéia e os moradores de Jerusalém,
insatisfeitos com as liturgias penitenciais e os ritos de expiação
do templo, vão ao encontro de João Batista, que anuncia a todos a
Boa-Nova da chegada de um salvador. Aquele que vem, o Messias
esperado, trará o autêntico batismo, não da água que limpa, mas do
Espírito Santo que vivifica e consagra; não água do rio, mas vento
ou “alento” que desce do céu e transforma o deserto em Jardim.
A partir do capítulo 40 passamos a um novo cenário do
livro de Isaías (primeira leitura). É opinião comum entre os
estudiosos que estes capítulos (40-55) foram escritos por um
profeta anônimo que exerceu seu ministério entre os desterrados
de Babilônia, durante a ascensão de Ciro (553-539). Sua obra
é como um segundo êxodo, denominada também de “Livro da
Consolação”. Os destinatários de sua mensagem são os depor-
tados que se encontravam em situações diversificadas. Alguns
já instalados na nova pátria, outros resignados sem esperança
e outros que ainda resistem, mantêm sua identidade e sonham

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com o retorno. O profeta proclama a libertação e exorta o povo
a aceitá-la. A exortação é feita num tom de consolo, fruto da
compaixão de Deus por seu povo. Resta a certeza de que Deus
está do lado do seu povo, com poder, mas também com cuidado
amoroso, sugerido pela imagem do pastor: apascenta e reúne o
rebanho, carrega os cordeiros no colo e tange as ovelhas-mãe.
Pedro, em sua segunda carta (segunda leitura), trata o problema
escatológico. Existiam cristãos preocupados com a demora da volta de
Cristo. Para Pedro, a demora da parusia faz parte do plano de Deus,
pois a medida divina do tempo é diferente da medida humana (V. 8).
Deus é paciente, pois quer a salvação de todos (v. 9). A demora deve
empenhar todos na preparação e vigilância. A vinda do Senhor não
deve atemorizar o cristão, e sim despertar em todos a esperança e a
alegre expectativa, pois novos céus e nova terra são possíveis.

3. Atualizando a Palavra
No domingo passado fomos convocados a atenção e vigi-
lância operosa e a renovar a esperança na vinda do Senhor. Hoje,
prosseguindo o nosso caminho de preparação ao Natal do Senhor,
somos convidados a manter vivas a vigilância e a esperança.
A Palavra de Deus nos convoca a reavivar a nossa vocação
profética, a exemplo de Isaías, de João Batista, de Pedro. Jesus,
anunciado por João Batista, continua na linha dos profetas. Ele é um
profeta diferente. Ele fala com autoridade, mas está sempre numa
atitude de escuta de Deus. O Espírito de Deus está sobre Ele.
Nós, cristãos, pelo batismo (no Espírito — Ele vos batizará
como Espírito Santo), adquirimos o jeito profético de Jesus.
Seremos profetas que denunciam injustiças, mas que são capa-
zes de anunciar a consolação que vem de Deus. Cheios de coragem de
gritar, mesmo no “deserto”, que a libertação está próxima. Pessoas de
ação e ao mesmo tempo de uma profunda relação com Deus. Homens
e mulheres de Deus, que apontam o caminho para o Senhor, capazes

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de revelar o amor e a compaixão de Deus. Anunciadores da paz, da
fidelidade, da justiça, da prosperidade, da salvação.
Onde ser profeta? No hoje da nossa história, marcada
por sistemas neoliberais, excludentes, por políticas corruptas e
dominadoras, pela falta de ética e opção pelos pobres. Mesmo
no meio da desgraça, do medo, da incerteza, indicar que novos
céus e nova terra são possíveis e, mais ainda, trabalhar para que
a vida vença a morte no hoje da nossa realidade.

4. Ligação com a ação eucarística


Em nossa assembléia litúrgica, a voz profética de Isaías, de
João, ressoa, animando a nossa vida para a chegada de Cristo que
vem. O nosso profetismo inspira-se na esperança de uma nova
terra e novo céu, onde reinará para sempre a justiça, de braços
dados com a paz (Sl 85). No nosso dia-a-dia, empenhamos as
forças para implantação do Reino de Deus.
Ao celebrarmos a eucaristia, experimentamos o já e o ainda
não. “Anunciamos Senhor a vossa morte, proclamamos a vossa
ressurreição” e suplicamos: “Vinde, Senhor Jesus”. “A eucaristia
é tensão para a meta, antegozo da alegria plena prometida por
Cristo [...]. A eucaristia é verdadeiramente um pedaço do céu que
se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém celeste, que
atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso cami-
nho” (Ecclesia de Eucharistia). A tensão entre realidade e utopia
é experimentada pelo povo no exílio, onde ressoa a voz profética e
esperançosa de Isaías. O apóstolo Pedro também mantém viva na
comunidade a esperança nas promessas de Deus e pede daquela o
esforço necessário. João Batista, diante das estradas tortas, esbura-
cadas e de situações de pecado, anuncia a chegada daquele que vai
batizar com o Espírito Santo. Na ação eucarística pedimos a Deus
“que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro
do vosso Filho, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da
plenitude de sua vida” (oração do dia). Rezamos ainda no prefácio

21
PNE - QV] - CVV nº 23
IA: “Vós preferistes ocultar o dia e a hora em que Cristo, vosso
Filho, Senhor e Juiz da História, aparecerá nas nuvens do céu,
revestido de poder e majestade. Naquele tremendo e glorioso dia,
passará o mundo presente e surgirá novo céu e nova terra. Agora e
em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada
pessoa humana, para que acolhamos na fé e o testemunhemos na
caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu Reino”.
A comunidade de fé renova continuamente na celebração
eucarística a sua consciência de ser sinal e instrumento não só
da íntima união com Deus, mas também da unidade de todo o
gênero humano; tornamo-nos promotores de comunhão, de paz,
de solidariedade, em todas as circunstâncias da vida.

5. Sugestões para a celebração


e O espaço da celebração deve estar despojado e sóbrio. Um
tronco com um broto ajuda a simbolizar o sentido da espera.
* Enquanto as pessoas vão chegando, pode-se cantar o
refrão: Indo e vindo, trevas e luz. Tudo é graça, Deus
nos conduz.
e Acender a segunda vela da coroa:
Normalmente as velas da coroa são acesas no Início da
celebração.
Uma pessoa entra com a vela acesa (pode ser uma mulher
grávida), enquanto isso a comunidade canta:
Vem vindo a libertação, ergam a cabeça, levantem do chão.
Levantando a vela e aproximando-se da coroa, reza-se:
D. Bendito sejas, Deus bondoso, pela luz do Cristo, sol de nossas
vidas, a quem esperamos com toda ternura do coração.
Em seguida, coloca-se a vela na coroa.

22
PNE - QV)- CVV nº 23
* (Os cantos e músicas executados com atitude espiritual, con-
dizentes com o tempo, ajudam a comunidade a se adentrar
no mistério celebrado. O Hinário Litúrgico 1, da CNBB,
traz muitas sugestões: Quando virá, Senhor, HI, p. 85; Eis
que de longe, H1, p. 16; Senhor; vem salvar teu povo, HI,
Suplemento, p. 36; Aleluia, voz que clama, H1, p. 46; Visitai,
Senhor, a vossa vinha, H1, p. 14. Tambémo Ofício Divino das
Comunidades contém um rico repertório para este tempo.
* Na recordação da vida, lembrar que hoje é Dia da Bí-
blia nas Igrejas evangélicas, como sinal de comunhão
e como contemplação da Palavra de Deus que se fez
carne e habitou entre nós. Lembrar também que no dia
1º foi o Dia Mundial de Solidariedade com as Vítimas da
Aids e no dia 3 foi o Dia do Deficiente Físico. Lembrar
também que no dia 8 a Igreja celebra a solenidade da
Imaculada Conceição e no dia 10 recorda-se o aniver-
sário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e
o Dia Internacional dos Povos Indígenas.
* Asleituras podem ser contadas de forma que fique bem
evidente o anúncio,
* Rezar o prefácio do Advento, IA ou cantar a louvação
do Advento que se encontra no Hinário Litúrgico 1, da
CNBB, p. 73.
e Bênção final própria para o tempo do Advento, conforme
Missal Romano.
e Norito do envio, acentuar a nossa vocação profética. De
volta à nossa realidade, ter a coragem de anunciar o Reino
e denunciar tudo o que contradiz a implantação dele. Ide
em paz. Vivei na esperança e na busca de uma vida pura
e sem mancha. Anunciai a todos a consolação que vem
de Deus e a certeza de que o Senhor vem.
* Empenhar-se na Campanha de evangelização.

23
PNE - QV) - CVV nº 23
3º Domingo do Advento
|| de dezembro de 2005

Leituras: Isaías 61,1-2a.10-1l;


Salmo Responsorial Lc 1,46-48.49-50.53-54;
ITessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28

“No meio de vós está aquele


que vós não conheceis.”

1. Situando-nos brevemente
Hoje celebramos o domingo da alegria. Os textos bíblicos e eu-
cológicos (orações) convidam à alegria. Exclama o profeta: “Exulto
de alegria no Senhor e minh'alma regozija-se em meu Deus”; Maria
canta: “A minha alma engrandece o Senhor e se alegra o meu espírito
em Deus meu Salvador [...]”; exorta Paulo: “Irmãos: Estai sempre
alegres”; e com certeza a alegria é uma realidade palpável na vida
do precursor que se empenhava em preparar o caminho do Senhor
e a apontar o Messias que já estava no meio do povo.
A maioria das notícias veiculadas nos meios de comunica-
ção por estes dias, em que escrevemos este texto, não causa tanta
alegria. Escândalos por todo lado, como o mensalão, pagamento
de propina, corrupção nos Correios. E os nossos políticos, que
deviam estar ocupados em projetos que proporcionam a igualdade
social, a saúde, a educação, enfim a vida do povo, principalmente
os mais pobres, onde estão? Empenhados em CPIs dos Correios,
do mensalão, dos bingos; são tantas que até confundem a cabe-

24
PNE - QV]- CVY nº 23
ça. E nós, cristãos e cristãs, como devemos agir diante de tanta
desgraça e ações vergonhosas que ferem projetos de vida e liber-
tação do povo? Alegremo-nos, pois os que choram, os famintos,
os sedentos, os perseguidos por causa da justiça, os que passam
fome na África, na América Latina, enfim em qualquer parte do
mundo, verão a chegada da salvação que vem no rosto de um
menino que nasce na pobreza de uma gruta. Portanto, a nossa
alegria não é euforismo, mas virtude cristã, pautada na certeza
de que o Reino de Deus já está no meio de nós.

2. Recordando a Palavra
A palavra do evangelho hoje se compõe de duas partes. A
primeira parte (vv. 6-8) é tirada do prólogo de João. O prólogo tem
estrutura e estilo de um hino. O sujeito do hino é o Logos (palavra).
À figura de João Batista marcou a sua época. Os sinóticos testemu-
nharam o alto conceito que o povo tinha em relação à figura de João
Batista (Mt 11,11; 14,5-9; 21,26; Lc 16,16). Os versículos 6-8 falam
que João Batista não é a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
Com isso, parece que o evangelista quer definir o lugar de João.
Na segunda parte (vv. 19-28), o evangelista narra o trabalho de
uma delegação de característica judicial, composta por sacerdotes e
levitas para averiguar a identidade de João Batista. Diante do inter-
rogatório, João Batista confessou e não negou. Ele não é o messias,
nem Elias, nem profeta. Ele “é a voz que grita no deserto: aplainai o
caminho do Senhor”. João Batista é indigno até de desatar a correia
da sandália do que vem depois dele. Jesus de Nazaré é a suprema
revelação de Deus, a luz que João veio testemunhar.
À primeira leitura é tirada do livro do profeta Isaías. O
profeta se apresenta com a missão de anunciar o ano da graça do
Senhor. O ano da libertação faz alusão ao ano jubilar (Lv 25,10ss),
em que cada família recuperava a posse de sua terra e aconteciam
a libertação dos escravos e o perdão das dívidas.

25
PNE - QV] - CVY nº 23
A vocação profética é dada pelo Espírito do Senhor, que
o unge para ser mensageiro da Boa-Nova, que tem destinatários
certos, ou seja, os anawin de Deus — pessoas que sofrem por
causa de doenças, da pobreza, de prisões e perseguições. A Boa-
Nova leva à libertação de qualquer espécie de opressão: física,
econômica e política. O ano da graça do Senhor, anunciado pelo
profeta, aponta para o fim dos sofrimentos. O anúncio da Boa-
Nova irrompe no coração dos pobres um hino de júbilo e alegria
(v. 10). É preciso se alegrar, pois assim como a terra faz brotar a
planta e o jardim faz germinar a semente, a justiça e a glória do
Senhor se manifestarão (cf. v. 11).
Jesus, na sinagoga de Nazaré, aplica para si os versículos
1-2 do profeta Isaías: Hoje, em vossa presença, cumpriu-se esta
Escritura (Lc 4,21).
Na segunda leitura, tirada da primeira carta aos Tessaloni-
censes, Paulo exorta os cristãos a cultivarem atitudes necessárias
para a edificação da comunidade: a alegria, a oração, a ação de
graças, o uso correto dos carismas dados pelo Espírito, a fideli-
dade à profecia, o afastamento de toda espécie de maldade.

Para o cultivo da vida em comum é necessário manter as


qualidades pessoais, o discernimento quanto às doutrinas e a
relação com Deus.

3. Atualizando a Palavra
O 3º Domingo do Advento é o domingo da alegria pela
proximidade do Salvador.
Ao falarmos de alegria, recordamos o trabalho de “médicos
palhaços” que ao se apresentarem com narizes vermelhos, cabelos
coloridos e sorrisos carinhosos, levam alegria e descontração aos
doentes. Auxiliam na recuperação e superação de traumas dos
pacientes internados nos hospitais, ambientes de dura realidade.

26
PNE - QV) - CVY nº 23
Aparentemente, o trabalho desses médicos pode parecer alienação
ou apenas um paliativo. No entanto, vários estudos, em diversos
hospitais que possuem a atuação desses médicos, constataram
sua influência positiva na qualidade de internação e também na
recuperação dos pacientes. Através de estímulos de alegria, in-
duzem o cérebro do paciente a liberar substâncias que auxiliam
no fortalecimento do sistema imunológico.
A Palavra do Senhor, dirigida a nós hoje, fala de alegria, de
esperança, de promessa de justiça, de cura de feridas, de redenção
aos cativos, de tempo de graça do Senhor, da chegada do Messias.
Será que Isaías, Paulo e o próprio evangelista ao nos falarem de ale-
gria, mesmo em meio a desgraça e dificuldades, estão querendo nos
alienar? Não, não estão, pois a alegria cristã é fundada e determinada
pela promessa, ou melhor, pela presença de Deus, pela transformação
eficaz da realidade e do destino da pessoa humana e do mundo que
essa presença garante. Santo Agostinho diz que “a busca de Deus é a
busca da alegria. O encontro com Deus é a própria alegria”. A alegria
é atitude de pessoas que acreditam na redenção do povo: “Alegra-te,
cheia de graça, o Senhor está contigo”, disse o anjo a Maria (Lc 1,28).
“Quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estreme-
ceu de alegria em meu ventre”, disse Isabel à Maria (Lc 1,45).

Podemos exultar de alegria, pois veremos a chegada da


salvação que vem no rosto de um menino que nasce na pobreza
de uma gruta. À alegria que vivemos antecipadamente com a
próxima chegada de Deus faz com que tenhamos a coragem de
saber que o Messias já velo e está entre nós e que continua atuando
pelo seu Espírito e pelo compromisso dos cristãos e das cristãs
para a instauração do novo tempo, tempo da graça do Senhor.

4. Ligação com a ação eucarística


Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo:
alegrai-vos! O Senhor está perto. E o que propõe a antífona de

27
PNE - QV) - CVY nº 23
entrada da celebração deste domingo. Palavras que a comunidade
de fé canta neste domingo ao iniciar a celebração: Alegrai-vos, ir-
mãos, no Senhor. Sem cessar, eu repito alegrai-vos; veja o mundo
a vossa bondade. Perto está o Senhor, em verdade. Em seguida,
a oração do dia apela à bondade do Senhor a graça de “chegar-
mos às alegrias da Sal ção e celebrá-las com intenso júbilo na
solene liturgia”, uma vez que estamos esperando fervorosos o
Natal do Senhor (oração do dia). No prefácio louvamos o Senhor,
eterno e todo-poderoso, por Cristo, predito por todos os profe-
tas, esperado com amor de mãe pela Virgem Maria, anunciado
e mostrado presente no mundo por João Batista. Recebemos do
próprio Senhor o dom da alegria de entrarmos hoje no mistério
do seu Natal a graça da vigilância na oração e na ação (Prefácio
do Advento, IN. Na partilha da mesa eucarística estamos felizes
porque somos convidados a participar do banquete nupcial do
Cordeiro, que já está no meio de nós.

5. Sugestões para a celebração


* A vidae a história entram na celebração eucarística
também através da partilha que se celebra no partir do
pão da eucaristia. Hoje é o dia da coleta nacional para
a sustentação da evangelização da Igreja, ou seja, a
Campanha para a Evangelização, com o lema: “Anun-
cia-me”. Integrar este gesto na celebração: por exemplo,
no momento da coleta fraterna, as pessoas depositam sua
contribuição para a campanha num recipiente colocado
perto do altar.
* O espaço da celebração deve estar despojado e sóbrio;
sendo hoje, porém, o domingo da alegria, usam-se flores
com moderação.
* Se ainda não foi adotada a cor rosada, hoje é conveniente
usá-la,

28
PNE - QV) - CVV nº 23
* Enquanto as pessoas vão chegando, pode-se cantar o
refrão: Abra a porta, abra a janela, venha ver quem é que
vem! E Jesus que vem chegando, ele é o nosso bem!
e Acender a terceira vela da coroa:

Normalmente as velas da coroa são acesas no início da


celebração.
Uma pessoa entra com a vela acesa (pode ser uma mulher
grávida), enquanto isso a comunidade canta:
Abra a porta, abra a janela, venha ver quem é que vem! E
Jesus que vem chegando, ele é o nosso bem!
Levantando a vela e aproximando-se da coroa, reza-se:
D. Bendito sejas, Deus bondoso, pela luz do Cristo, sol de nos-
sas vidas, a quem esperamos com toda a ternura do coração.

Em seguida, coloca-se a vela na coroa.


* Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual,
condizentes com o tempo, ajudam a comunidade a pe-
netrar no mistério celebrado. O Hinário Litúrgico 1, da
CNBB traz muitas sugestões: Alegrai-vos, irmãos, HI,
p. 18; Alegrai-vos, ele está bem perto, H1, Suplemento,
p. 6; O Senhor virá libertar o seu povo, ODC, p. 295;
melodia, H1, p. 46, letra Ofício Divino das Comunidades,
p. 434; Jerusalém, povo de Deus, HI, p. 34; Teu corpo e
sangue, H1, p. 86. Também o Ofício Divino das Comu-
nidades contém um rico repertório para este tempo.
e As leituras podem ser contadas de forma que fique bem
evidente o anúncio.
e Antes do prefácio, após o convite para dar graças ao
Senhor, a comunidade poderá apresentar, em ação de
graças, os sinais do Reino entre nós.

29
PNE - QV) - CVV nº 23
Rezar o prefácio do Advento Il ou cantar a louvação
do Advento que se encontra no Hinário Litúrgico 1, da
CNBB, p. 73.
Bênção final própria para o tempo do Advento, conforme
Missal Romano.
No rito do envio acentuar a alegria da espera. Alegrai-
vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-
vos! O Senhor está perto. Ide em paz e que a alegria do
Senhor seja a vossa fortaleza.
No dia 12 de dezembro é a festa de Nossa Senhora de
Guadalupe, a padroeira da América Latina. Ela traz em
si OS sinais da cultura indígena e, ao mesmo tempo, o
nome de Maria, grávida de Jesus.
No dia 15, inicia-se a novena de Natal, que retoma a
tradição de consagrar os últimos dias do Advento à ime-
diata preparação do Natal. Existem muitos roteiros para
a novena, preparados na diocese e na própria CNBB. Na
celebração é bom dar à novena um caráter orante, sem
perder a relação com a vida e a dimensão do compromis-
so. Um subsídio que contribui muito para isso é o Ofício
da Novena de Natal, de autoria de Penha Carpanedo e
Marcelo Guimarães, publicado por Paulinas e Apostolado
Litúrgico. É um roteiro de caráter permanente, que pode
ser utilizado pelas comunidades. Há também o CD com
as músicas próprias. Mesmo sendo de caráter permanente,
esse roteiro é aberto às expressões populares e à realidade
de cada grupo que celebra.

30
PNE - QV] - CVV nº 23
4º Domingo do Advento
|8 de dezembro de 2005

Leituras: 2Samuel 7,1-5.8b-12.14a.16;


Salmo Responsorial 88(89),2-3.4-5.27.29;
Romanos 16,25-27; Lucas 1,26-38

Eis que conceberás


e darás à luz um filho

1. Situando-nos brevemente
Estamos na etapa final do caminho em preparação para
o Natal do Senhor. Olhamos para a figura de Maria, que é ple-
namente a virgem do Advento. Ela é cheia de graça, a serva do
Senhor, a nova mulher. É a filha de Sião que representa o antigo
e o novo Israel. O seu sim na anunciação se converte em sim da
nova aliança. Maria resume em si as esperanças de seu povo;
hoje, esperanças da Igreja.
A assembléia de fé, reunida neste domingo, é convocada
a escutar e acolher a Boa-Nova anunciada, na certeza da fide-
lidade de Deus que cumpre suas promessas de salvação para o
seu povo.

2. Recordando a Palavra
No evangelho temos a narração do anúncio do nascimento
de Jesus, feita por um anjo. O anúncio é feito a uma mulher de

31
PNE - QV) - CVV nº 23
nome Maria que morava em Nazaré da Galiléia, um lugar sem
muita importância (cf. Jo 1,46; 7,52). Lucas demonstra cons-
tantemente a superioridade de Jesus sobre João, no paralelismo
entre o anúncio do nascimento de Jesus e o de João. O anúncio
do nascimento de João significou a continuidade com a história
e as esperanças hebraicas, mas podemos dizer que o anúncio do
nascimento de Jesus é a novidade radical da ação salvífica de
Deus. Jesus não só “será grande perante o Senhor”, como João;
será chamado o “filho do Altíssimo”. O nascimento de João
acontece por meios naturais, após a cura da esterilidade de Isa-
bel; Jesus nascerá de uma virgem. João estará cheio de Espírito
Santo desde o ventre materno, enquanto Jesus é concebido pelo
poder do Espírito Santo. João será profeta e Jesus será o Messias
esperado, o filho de Deus que vem morar no meio de nós.
Maria aceita com fé a proposta divina e declara-se a serva do
Senhor. Ela é modelo do discípulo cristão e mãe da humanidade.
O episódio narrado em Lucas 1,26-38 pode ser lido também
como a realização perfeita e definitiva da promessa feita a Davi
em 2Samuel 7 e em muitas outras profecias messiânicas. Em seu
texto, Lucas usa a estrutura de 2Samuel 77,1-29 (primeira leitura)
que contém promessa e resposta. Os dois textos revelam a gratui-
dade da ação de Deus ao escolher Davi e Maria e através deles
realizar suas maravilhas. Davi, um simples pastor de rebanhos,
é ungido para ser chefe do povo de Israel; Maria, uma moradora
de uma aldeia sem importância, se torna a mãe do Filho de Deus,
aquele que herdará o trono de Davi e reinará para sempre.
Como já vimos, o evangelho e a primeira leitura estão em
profunda consonância. O Deus de Israel cumpre as promessas
feitas aos patriarcas, a Davi, a Maria... Davi e Maria experimen-
tam a gratuidade da ação de Deus.
Paulo escreve aos cristãos de Roma (segunda leitura) no
final de sua terceira viagem missionária, provavelmente entre o

32
PNE - QV) - CVV nº 23
final de 56 ou o Início de 58 d.C. A Igreja cristã romana, à qual
Paulo escreve, era constituída predominantemente de pessoas
convertidas, vindas do paganismo.
O texto lido na liturgia de hoje é uma doxologia, um hino
glorioso de louvor a Deus, que tem poder de confirmar os fiéis
para que vivam a Boa-Nova que Paulo anuncia.

3. Atualizando a Palavra
O lecionário expõe fielmente a linha dessa segunda parte do
Advento, ao ler os acontecimentos que precederam o nascimento
do Senhor nos evangelhos da infância de Jesus e as profecias
messiânicas mais importantes, frisando a correlação entre as
duas leituras.
Neste último domingo do Advento temos o protagonismo
litúrgico da Virgem Maria. Com a imagem bíblica da “filha de
Sião”, a liturgia nos lembra que em Maria culmina a expectativa
messiânica de todo o povo de Deus do Antigo Testamento.
Maria coopera no mistério da redenção, aceitando ser a
mãe do Filho de Deus. O Filho de Deus entra no mundo como
“nascido de mulher”. Ela une o Salvador ao gênero humano.
Ao olharmos para Maria, contemplamos a sua grandeza, a
cheia de graça, a mãe de Deus, a arca da aliança, a figura feminina
central na história da salvação; vemos também a pequenez de Maria,
a mulher que fica perturbada ao ouvir a saudação do anjo, que faz
pergunta diante das incertezas. Maria tem medo, mas não duvida,
coloca-se como a serva e faz tudo conforme a palavra do Senhor.
A palavra do Senhor pede de nós atitudes de fé: crer e con-
fiar apesar do obscuro; abrir o coração para o plano do “Outro”;
obedecer, ou seja, oferecer-se para realizar em nós o plano do
“Outro”. Ser capaz de realizar tudo isso na total liberdade.

33
PNE - QV] - CVV nº 23
4. Ligação com a ação eucarística
Irrompe na comunidade celebrante a súplica: “Céus, deixai
cair o orvalho, nuvens, chovei o justo; abra-se a terra, e brote O
Salvador!” (antifona de entrada). A Igreja prepara-se para a ce-
lebração do mistério da encarnação-nascimento de Jesus que se
aproxima, mistério insondável da encarnação, uma vez que a partir
dele chegamos por meio da paixão e da cruz à glória de nossa res-
surreição, em que culmina para cada um de nós a obra redentora de
Jesus. Muitos textos sublinham a estreita relação entre encarnação
e redenção (veja oração do dia). O prefácio ITA sublinha o mistério
da redenção, feito carne, no seio virginal da Filha de Sião. Ele é a
salvação e a paz, e alimenta-nos com o pão do céu. Em Maria, a
nova Eva, a maternidade, livre do pecado e da morte, abre-se para
uma vida nova. Em Jesus fomos redimidos, pois maior que a nossa
culpa é a divina misericórdia em Jesus, nosso Salvador.
Na proximidade da festa da salvação, com o auxílio divino,
preparamo-nos com maior empenho para celebrar dignamente o
mistério de Jesus Cristo (oração depois da comunhão).

5. Sugestões para a celebração


* O espaço da celebração deve estar despojado e sóbrio,
podemos usar flores com moderação.
* Valorizar o gesto da acolhida a exemplo de Maria que
acolheu com alegria o Salvador.
* Enquanto as pessoas vão chegando, pode-se cantar o
refrão: Abra a porta, abra a janela, venha ver quem é que
vem! E Jesus que vem chegando, ele é o nosso bem!
e àAcender a quarta vela da coroa:
Normalmente as velas da coroa são acesas no início da
celebração.

34
PNE - QV) - CVV nº 23
Uma pessoa entra com a vela acesa (pode ser uma mulher
grávida), enquanto isso a comunidade canta:
Abra a porta, abra a janela, venha ver quem é que vem! E
Jesus que vem chegando, ele é o nosso bem!
Ou:

Vem, ó Filho de Maria, vem depressa, ó luz da vida,


Quanta sede, quanta espera, quando chega, quando chega
aquele dia?
Levantando a vela e aproximando-se da coroa, reza-se:
D. Bendito sejas, Deus bondoso, pela luz do Cristo, sol
de nossas vidas, a quem esperamos com toda a ternura
do coração.
Em seguida, coloca-se a vela na coroa.
* Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual,
condizentes com o tempo, ajudam a comunidade a penetrar
no mistério celebrado. O Hinário Litúrgico 1, da CNBB,
traz muitas sugestões: Alegrai-vos, irmãos, Hl1, p. 18;
Alegrai-vos, ele está bem perto, H1, Suplemento, p. 6;
O Senhor virá hbertar o seu povo, ODC., p. 295; Aleluia,
eis a serva do Senhor, Hl, Suplemento, p. 48; Jerusalém,
povo de Deus, Hl, p. 34; Teu corpo e sangue, Hl, p. 86;
Salve Maria, Hl, p. 41. Também o Ofício Divino das Co-
munidades contém um rico repertório para este tempo.
* Aseituras podem ser contadas de forma que fique bem
evidente o anúncio.
* Rezar o prefácio do Advento IIA ou cantar a louvação
do Advento que se encontra no Hl, p. 73.
e Neste dia pode ser dada uma bênção especial para as
mulheres grávidas:

35
PNE - QV] - CVV nº 23
Ó Deus, ternura de paz, nós te contemplamos na gravidez
de Maria e na gravidez destas nossas irmãs. Dá saúde a
estas crianças que estão para nascer e trangiiilidade às
suas mães. Bendito sejas pela alegria da vinda de Jesus
Cristo, nosso salvador. Amém.
Estendendo as mãos sobre as mães, reza (enquanto isso
as mães, de cabeça inclinada, colocam as mãos sobre a
barriga):
O Deus, defensor da vida, confirme estas mulheres na fé e
na missão de acalentar a vida que está para nascer.
T. Amém.

Que ele as acompanhe sempre com o seu amor maternal.

T. Amém.

E a todas as mães aqui reunidas, abençoe o Deus de bon-


dade, Pai, Filho e Espírito Santo.
T. Amém.

e No rito do envio: Ide em paz. Caminhai na certeza da


presença do Senhor.
e No dia 22 de dezembro lembramos Chico Mendes,
defensor do meio ambiente.

36
PNE - QV) - CVV nº 23
A liturgia no tempo do Natal

Considerações e sugestões gerais


No dia 25 de dezembro celebramos a manifestação de Deus
em nossa humanidade. Na vigília desta festa, iniciamos o tempo
do Natal, que vai até a festa do Batismo do Senhor. São festas epi-
fânicas, que celebram a manifestação do Senhor. A salvação entra
definitivamente em nossa história através do menino que nasceu
em Belém e que se revela ao ser visto pelos pastores e pelos magos
e ao ser batizado, por João Batista, nas águas do Jordão.

Ao nos dar seu próprio Filho para ser o nosso Salvador,


“Deus realiza uma das maiores “liturgias-serviços”. Desde muito
tempo, Deus vinha demonstrando um grande amor pela nossa
humanidade. E, enfim, depois de um longo período de “noivado”,
em todo o Antigo Testamento, Deus acabou se “casando” com a
humanidade, na pessoa de Maria. Realizou-se a promessa, realizou-
se a profecia (cf. Is 62,1-5). E deste “casamento” resultou — por
obra do Espírito Santo! — uma “gravidez”, e por esta “gravidez'
foi-nos dado Jesus, Filho de Deus, Emanuel (Deus-conosco!) (cf.
Mt 1,18-25): O Verbo eterno de Deus se fez carne e habitou entre
nós (Jo 1,14). É muito amor por nós! Indescritível solidariedade!
A comunidade de fé, reunida para celebrar, escuta atenta
a notícia do anjo: “Não tenham medo! Eu lhes anuncio uma
grande alegria, que deve ser espalhada para todo o povo. Hoje
[...] nasceu para vocês um Salvador, que é o Cristo Senhor”. E
um coral imenso de anjos irrompe num alegre hino de louvor:
“Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens
por ele amados” (cf. Lc 1,10-14).
Não é o “aniversário” de alguém que passou que celebramos
no Natal, mas a presença viva do Verbo eterno do Pai que se faz

37
PNE - QV) - CVVY nº 23
Liturgia viva (permanente serviço libertador) no chão de nossa
história. Por isso, em toda celebração litúrgica da festa de Natal
proclamamos o permanente “hoje” do mistério: *O Senhor me
disse: És meu Filho, eu hoje te gerei”. Ou: “Alegremo-nos todos
no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a
verdadeira paz!”. E ainda: *Hoje surgiu a luz para o mundo: O
Senhor nasceu para nós. Ele será chamado admirável, Deus, Prín-
cipe da paz, e o seu reino não terá fim”. E também: 'Revelastes
hoje o mistério do vosso Filho como luz para iluminar todos os
povos no caminho da salvação”. Liturgia do Natal, presença do
eterno “hoje” salvador, como obra da Trindade! Presença com
sabor de Páscoa, pois é a partir da Páscoa que podemos viver o
Natal como festa da luz, da vida, da paz!”.

Alguns lembretes importantes para celebrar este tempo:


e Além da Natividade e da Epifania, que são as duas festas
maiores desse tempo, celebramos, na oitava do Natal,
a festa de Maria, mãe de Deus, e, no final do tempo do
Natal, a festa do Batismo do Senhor. No dia 26 de dezem-
bro é a festa de santo Estêvão, primeiro mártir da Igreja;
no dia 27, a memória festiva do apóstolo e evangelista
João; e no dia 28, os santos inocentes, martirizados pelo
rei Herodes. A festa da Sagrada Família é celebrada no
domingo depois do Natal ou no dia 30 de dezembro.
e Accor branca ou amarela, as luzes, a estrela etc. dão às
festas do Natal um tom pascal; o presépio, a bandeira do
Divino, os autos de Natal ligam a celebração do Natal
à sensibilidade popular dos reisados e do pastoril. O
incenso, que os reis magos ofereceram, pode ser reto-
mado como sinal de comunhão com outras religiões,
principalmente com as religiões indígenas e africanas.
* As músicas também têm características próprias neste
tempo. O Hinário Litúrgico 1, da CNBB, traz o que se

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produziu de melhor nos últimos anos em matéria de
música para este tempo litúrgico.
Na proclamação do Creio, se possível, usar velas acesas,
como sinal da nossa adesão a Cristo, nosso Salvador.

Encenações, dramatizações ou outras expressões feitas


com autenticidade podem ajudar a vivenciar o mistério
celebrado.
É um tempo de confraternização entre amigos, vizinhos,
parentes. Dar à ceia do Natal e do Ano-novo um estilo de
ágape fraterno, acentuando o caráter pascal, incorporando
elementos celebrativos em sua dinâmica e sinalizando a
fraternidade, a partilha, a comensalidade.,
Valorizar a oração e o abraço da paz. A bandeira da paz
pode ser um símbolo permanente neste tempo.
O presépio, um símbolo popular, pode ser montado com
um estilo simples e singelo. Algumas comunidades fazem
uma gruta, ou barraco, ou um casebre. Outras simplesmente
colocam a manjedoura perto do presbitério. Cuidar para não
tornar o presépio um espaço mais importante que o altar. Às
vezes se coloca o presépio no presbitério e é feito de uma
forma tão “esplendorosa” que chega a esconder o altar e/ou
a equipe de celebração. O altar em si já é um sinal do Cristo
e o presépio muito faustoso pode correr o risco de tirar a
visibilidade de outros sinais do Cristo vivo no meio de nós:
o pão e o vinho, a palavra, a presidência da celebração.
O ofício do dia 31 à noite é o da vigília de Ano-novo.
Que tal organizar uma vigília da paz? No Ofício Divino
das Comunidades há sugestão de como fazer essa vigília
(veja nas páginas 512 e 650).
Alguma folia de reis vai visitar a comunidade?

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Natal do Senhor
25 de dezembro de 2005

Leituras: Isaías 9,1-6;


Salmo Responsorial 95(96),1-2a.2b-3.H-12.15;
Tito 2,1 -14; Lucas 2,1-14

Hoje,
nasceu para nós um Salvador

1. Situando-nos brevemente
No início, as festas do Natal e da Epifania eram uma ce-
lebração com um único objeto: a encarnação do Verbo, embora
com tonalidades diferentes no Ocidente e no Oriente. No Oriente,
celebrava-se o mistério da encarnação no dia 6 de janeiro, com o
nome de Epifania; no Ocidente (Roma), o mistério era celebrado
no dia 25 de dezembro com o nome de Natal. A festa romana do
“Sol invencível” justifica a escolha da data no Ocidente. A Igreja
do século IV assumiu o simbolismo da luz e do sol que não se
deixa vencer a fim de evocar a memória do Cristo Sol da Justiça,
que veio visitar-nos. Então, a introdução da festa do Natal no dia
25 de dezembro foi uma tentativa de a Igreja de Roma suplantar
a festa pagã do “Natalis (solis) invicti”. No século III, no mundo
greco-romano celebrava-se o culto ao sol. O imperador Aureliano
(+ 275) oficializou esse culto, com a construção de um templo
em Roma, no Campo Marzio. Juliano Apóstata (335) intensificou
o culto ao sol de tal forma que se tornou o símbolo da luta pagã

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contra o cristianismo. À principal festa desse culto era celebrada
no solstício do inverno, no dia 25 de dezembro, porque represen-
tava a vitória anual do sol sobre as trevas.
Com o intuito de afastar os fiéis dessas celebrações idolá-
tricas, baseando-se na temática bíblica (cf. Ml 4,2; Lc 1,78; Ef
5,8-14), a Igreja de Roma deu um novo sentido a essas festas
pagas. Enquanto os pagãos celebravam o nascimento astronômico
do sol, os cristãos eram chamados a celebrar o nascimento do
verdadeiro sol, Cristo, que se encarnou no mundo para afastar
as trevas. Ligado então ao calendário solar, o Natal tornou-se
uma festa fixa.
A Igreja sempre acentuou e celebrou o Natal como um
acontecimento de “hoje”, atual. Hoje, o povo que andava na
escuridão viu uma grande luz; hoje nasceu para nós um meni-
no que traz nos ombros a marca da realeza, o príncipe da paz;
hoje, na cidade de Davi, nasceu um Salvador, que é o Cristo
Senhor.
Hoje, celebramos com alegria o encontro do divino com o
humano, a aliança que Deus faz conosco. A glória do Senhor nos
envolve em luz e ilumina as nossas sombras de morte. Exultamos
de alegria num canto de glória a Deus que habita o mais alto dos
céus e que está no meio de nós, nos amando e nos entregando a
Paz que é seu próprio Filho.

2. Recordando a Palavra
O evangelho é narrado pelo evangelista Lucas, que, ao
relatar o nascimento de Jesus Cristo, o faz como historiador e
teólogo. Ele não só relata o acontecimento, como também expõe o
seu significado salvífico. Lucas situa a notícia do nascimento num
contexto histórico quando menciona César Augusto, imperador
de Roma, Quirino, governador da Síria e o recenseamento. Ele,
porém, não parece tão preocupado com a exatidão dos fatos.

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José e Maria, cidadãos cumpridores da lei, viajam para
Belém da Judéia, cidade dos antepassados de José. Jesus nasce
na pequena cidade de Belém, cidade de Davi. Com essa infor-
mação, Lucas situa o nascimento de Jesus dentro da história da
salvação.
Jesus nasce pobre. Os primeiros que recebem a notícia
do seu nascimento são simples pastores. Os pastores eram,
em geral, pobres e, até certo ponto, renegados, considerados
ignorantes, indisciplinados e sujos. A “Boa Notícia” é dada aos
pobres que esperavam pela salvação de Deus. É por meio de
humildes pastores que a mensagem de salvação chega a todo o
povo de Israel. Jesus recebe o título de Salvador, Cristo Senhor,
como na ressurreição. Lucas escreve numa perspectiva pascal. É
interessante notar como a narrativa do nascimento tem aspectos
paralelos com a da sepultura (compare Lc 2,7 com Lc 23,53 e
Lc 2,16 com Lc 24,124).

À primeira leitura é uma profecia messiânica de Isaías. O


texto lido hoje foi escrito setecentos anos antes do nascimento
de Jesus, quando os pequenos reinos, entre eles os Estados de
Israel e de Judá, estavam ameaçados pela expansão do Império
Assírio. No meio da ameaça e da desgraça iminente, Deus faz
surgir o profeta Isaías. Quando tudo parece levar ao desespero,
aparece o profeta anunciando luz para quem vivia nas trevas.
Nasce nova esperança para o povo de Israel, oprimido pelos as-
sírios. Deus vai agir. Ele virá para salvar e haverá novamente a
alegria. À esperança encontra-se na chegada de um novo rei, um
menino que recebe títulos messiânicos: Conselheiro admirável,
Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz.
A segunda leitura é extraída da carta de Paulo a Tito. O
apóstolo dá uma série de conselhos a Tito para que ele possa
coordenar bem a comunidade de Creta. Encontramos o teste-
munho de quem se deixou transformar pelo mistério da vinda
de Deus em nossa carne.

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3. Atualizando a Palavra
Celebramos o Natal do Senhor. A liturgia do Natal recorda
todo o realismo da encarnação terrestre do Verbo. O Filho de Deus
não se disfarça em homem, mas, permanecendo Deus, é também
real e concretamente homem; e se manifesta na realidade humana.
Tão humano assim só Deus, como dizia o teólogo.
Hoje, uma luz brilhou para nós. Nesta noite a esperança é
renovada. É possível um mundo de paz, justiça, amor e fraterni-
dade. Com a encarnação, Jesus uniu todas as pessoas. Deus se
fez solidário com todos. Emerge a vida, alegria e encontro. Todo
o cosmo é atingido pelo mistério da encarnação. O Verbo entrou
na história, recriando todas as coisas. O sol nascente veio nos
visitar € guiar nossos passos no caminho da paz.
“Não pode haver tristeza quando nasce a vida”, dizia o
papa Leão, no século V. Ouçamos a palavra do anjo: “Não tenhais
medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo
o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador,
que é o Cristo Senhor” (vv. 10-11).
Viver a espiritualidade do Natal significa reconciliar-se
totalmente com nossa realidade humana, pessoal e social. Reco-
nhecer Jesus “deitado nas palhas da manjedoura” nos chama a
reencontrar o nosso jeito de ser, nossas fragilidades e problemas,
unindo a ele o mais profundo da nossa condição humana.
Com o coração agradecido pela opção que Deus fez por
nós, retomamos a mística da luta e do compromisso pela paz, pela
Justiça. São muitas as Iniciativas, organizações ou associações que
promovem a paz no mundo. Ser seguidor ou seguidora de Jesus
Cristo € ser capaz de se comprometer com um Natal sem fome;
uma vida sem dor, sem miséria, sem doenças, sem guerras, sem
dominadores e dominados, sem violência, sem armas, sem cor-
rupção... A glória de Deus é a pessoa viva. Que se torne realidade
o anúncio pascal desta noite. Somos co-responsáveis por isso.

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4. Ligação com a ação eucarística
A liturgia do Natal do Senhor, com seu conjunto de textos
bíblicos, orações, cantos, ações simbólicas, pôe-nos em relação
profunda com o mistério da nossa salvação celebrado no Natal.
A antífona de entrada é um convite para a alegria, pois
hoje nasceu o Salvador, a verdadeira paz. Professamos a mesma
certeza do povo de Israel e dos pastores ao rezarmos, logo no
início, que a claridade da verdadeira luz ilumina resplandecente
a nossa noite (oração do dia). A experiência da luz se enriquece
com a manifestação da graça que traz salvação a todos (segunda
leitura) e a contemplação da glória divina (antifona de comunhão).
Confessamos a nossa fé em “Deus de Deus, luz da luz” (credo).

Proclamamos jubilosos nossa ação de graças ao Pai: “No


mistério da encarnação do vosso Filho, nova luz da vossa glória
brilhou para nós. E, reconhecendo a Jesus como Deus, visível a
nossos olhos, aprendemos a amar nele a divindade que não ve-
mos” (Prefácio do Natal 1). No Prefácio II cantamos o mistério da
restauração cósmica, por meio de Jesus: “Ele, no mistério do Natal
que celebramos, invisível em sua divindade, tornou-se visível em
nossa carne. Gerado antes de todos os tempos, entrou na história
da humanidade para erguer o mundo decaído. Restaurando a
integridade do universo, introduziu no Reino dos Céus o homem
redimido”. Louvamos também o Pai que com o mistério da en-
carnação possibilita o encontro entre o divino e o humano: “Por
ele, realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá vida nova
em plenitude. No momento em que vosso Filho assume nossa
fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade:
ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos” (Prefácio
do Natal IN. “Depois de dar graças, participamos da verdadeira
Ceia de Natal, na qual o humilde Senhor se entrega a nós como
alimento. Feito pão e feito vinho, corpo e sangue dele oferecidos,
nós o acolhemos com nosso “amém” e a disposição sincera de
formarmos com ele um só corpo bem unido. A Liturgia do Natal

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atinge então seu ponto alto quando, comendo e bebendo desta
Ceia, celebramos a comunhão total do divino com o humano,
celebramos a nova “cidadania” (a cidadania do céu!) que nos foi
conquistada. Participamos do banquete comemorativo da grande
obra do Salvador, pela qual nos tornamos eternos. Por isso, após
a comunhão, rezamos: “Senhor nosso Deus, ao celebrarmos com
alegria o Natal do nosso Salvador, dai-nos alcançar por uma vida
santa seu eterno convívio” (oração depois da comunhão). A saber,
no Natal invocamos Deus como “misericordioso”, pois fez do
seu Filho ressuscitado um eterno “hoje” em cada Eucaristia que
celebramos e, cada vez que comungamos deste “hoje”, fazemos
a experiência de comunhão com a vida divina, com sabor de
eternidade. E que assim seja sempre !”.

5. Sugestões para a celebração


e àAcor litúrgica é o branco. Algumas comunidades usam
cores festivas como expressão de nossa cultura.
* Um pouco antes da celebração, a comunidade pode
cantar um refrão meditativo: Após espera tão longa,
irrompe a noite que é dia, até palácios se apagam
diante da estrebaria (ou outro apropriado. Ver melodia
no suplemento 1 do Ofício Divino das Comunidades,
também gravado em CD).
e QOcírio pascal entra na procissão de entrada. Chegando
à frente, a pessoa que carrega o círio se volta para a
assembléia e proclama a oração: Bendito sejas, Deus
da vida, porque fizeste nascer, hoje, para nós, o sol do
Oriente, Jesus Cristo, nossa salvação. Todos cantam:
A luz resplandeceu em plena escuridão. Jamais irão as
trevas vencer o seu clarão.
e (Qhino do glória é entoado solenemente. Enquanto toda
a assembléia canta jubilosa, podem ser realizados gestos

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que expressem a alegria e o júbilo, como, por exemplo:
o toque do sino da Igreja, a incensação do altar.
Pode-se solenizar a proclamação da profissão de fé, por
exemplo, com velas acesas. E oportuno usar o Símbolo
Niceno-constantinopolitano.
As leituras sejam bem proclamadas. Nesta noite, o Verbo
feito carne habita entre nós.
À oração e o abraço da paz podem receber destaque neste
dia. Por exemplo, antes da saudação: A paz do Senhor
esteja sempre convosco, o presidente pode convidar a
assembléia a fazer um minuto de silêncio, em comunhão
profunda com as situações que ferem a paz. Em seguida,
faz a saudação e convida toda a assembléia ao abraço da
paz. O gesto do abraço pode ser feito também no final
da celebração. A bandeira da paz pode ser um sinal
EXPpressivo.
Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual,
condizentes com o tempo, ajudam a comunidade a pe-
netrar no mistério celebrado. O Hinário Litúrgico 1, da
CNBB,eo Ofício Divino das Comunidades (ODC) tra-
zem muitas sugestões: Nasceu-nos hoje um Menino, Hl,
p. 27; Celebremos com alegria, ODC, p. 305; Cristãos,
vinde todos, ODC., p. 304; Glória, glória nas alturas,
H1, p. 51; Glória a Deus, no mais alto dos céus, Hl,
p. 50; Aleluia, eis que um santo dia, ODC, p. 437; Da
cepa brotou a rama, Hl, p. 36; Hino ao verbo de Deus,
H1, p. 47.
Depois da proclamação do evangelho, a imagem do
menino Jesus é introduzida por uma criança, acompa-
nhada por duas pessoas com velas. O presidente incensa
a imagem e todos cantam: Hoje, uma luz brilhou para
nós. Hoje nasceu, nosso Deus e Senhor. Pode ser feita

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também uma oferta de flores, por crianças, à imagem
do menino Jesus.
* Rezar o prefácio do Natal do Senhor I ou cantar a lou-
vação do Natal que se encontra no Hinário Litúrgico 1,
pp. 4 e 75. Ji:
prin!
* Bênção final própria para o tempo do Advento, conforme
Missal Romano.

* Às palavras do rito do envio podem estar em consonân-


cia com o mistério celebrado:
A alegria do Senhor seja a vossa força. Não tenhais medo.
Ide e propagai no mundo a paz e que o Senhor vos acom-
panhe (ou outra apropriada).
* Algumas comunidades costumam fazer uma confrater-
nização após a celebração.
e No dia 26 de dezembro é a festa de santo Estêvão, pri-
meiro mártir da Igreja; no dia 27, a memória festiva do
apóstolo e evangelista João; e no dia 28, os santos inocen-
tes. No dia 30 de dezembro a festa da Sagrada Família.

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Solenidade da Santa Mãe de Deus
|º de janeiro de 2006

Niímeros 6,22-27;
Salmo Responsorial 66(67),2-3.5.6.8;
Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21

Encontraram Maria e José


e o recém-nascido.
E, oito dias depois,
deram-lhe o nome de Jesus.

1. Situando-nos brevemente
Na oitava do Natal celebramos a solenidade da Santa Mãe de
Deus. Festa da maternidade divina e veneração âquela que é Mãe
de Cristo e Mãe da Igreja. Maria é protagonista indiscutível do
mistério da natividade do Senhor: Em ti se alegra, ó receptáculo da
graça, toda criatura, o coro do anjos e o gênero humano. Templo
santificado e paraíso terrestre, glória da virgindade. Em ti se tornou
carne aquele que é nosso Deus, antes dos séculos. Ele formou em
teu ventre seu trono e fez mais vasto que os céus o teu seio (Tropário
da Anáfora de são Basílio, cantado depois da consagração).
A solenidade da Santa Mãe de Deus é a primeira festa de Maria
no Ocidente. O aspecto da circuncisão foi acrescentado mais tarde.
Encontramos no lecionário e na eucologia uma síntese dos dois te-
mas da festa: a maternidade de Maria e a circuncisão do Senhor. Os

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evangelhos destacam: a adoração dos pastores com a figura central
de Maria, a mãe do Menino, e a circuncisão ao oitavo dia.

Neste dia, celebra-se também o “Dia Mundial da Paz”. A


campanha da fraternidade ecumênica de 2005 teve como tema
“Solidariedade e paz”. Uma convocação aos cristãos e cristãs para
a promoção da paz no mundo. São tantas as situações que ferem
a paz: a violência armada, a violência doméstica, os massacres,
as guerras, a fome que mata uma criança a cada sete segundos,
o crime organizado, a corrupção na política... enfim são tantas
as situações. Juntos, Igrejas e sociedade, somos convocados a
superar a violência e nos engajar no esforço comum de promover
no mundo a solidariedade e uma cultura de paz.
Na noite do dia 31 prevalece em muitas comunidades o
agradecimento pelo ano que passou e a entrega do Ano-novo que
se inicia. Outras fazem nesta noite a celebração da paz, deixando
para o dia 1º a festa da Mãe de Deus. A maioria, porém, integra
a celebração da Solenidade da Mãe de Deus e a celebração da
paz na noite do dia 31 ou no dia 1º de janeiro.

2. Recordando a Palavra
O evangelho apresentado na liturgia de hoje é uma continuação
do evangelho da liturgia do Natal do Senhor. Depois de receber a
visita do anjo, os pastores vão apressadamente a Belém, ansiosos
para responder à Boa-Nova da salvação. Lá encontram Maria, José
e o recém-nascido deitado na manjedoura. Viram o menino, o Sal-
vador, o Cristo Senhor. Não se contiveram, contaram o que haviam
visto e escutado sobre o menino. Todos ficavam maravilhados com
o que ouviam. Diante de tão grande mistério, há busca, glorificação
e anúncio por parte dos pastores; escuta e meditação da parte de
Maria, a Mãe do Deus encarnado na história humana.

No oitavo dia, seus pais, judeus praticantes, cumprem a


lei religiosa a respeito da circuncisão. À circuncisão era o rito

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mediante o qual se começava a fazer parte do povo eleito (cf.
Gn 17,2-17), recebendo um nome que exprimia a missão que o
novo membro assumia no conjunto do povo da aliança. O nome
Jesus significa Javé é (ou dá) salvação. Como salvador, Jesus vem
trazer a plena realização das promessas feitas por Deus. As ações
salvíficas eram explicadas pelas palavras dos profetas. Finalmente,
quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho,
nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que
estavam sob o jugo da Lei (Gl 4,4 — segunda leitura).
Maria é colaboradora neste projeto de salvação. Ela guarda
todos os fatos e os medita em seu coração. É modelo de discí-
pula e da Igreja. Torna-se a nova Eva, a nova mãe dos viventes,
gerando novos filhos e filhas para Deus.
Paulo, na carta aos Gálatas (4,4-7), como citamos anteriormente,
fala da chegada dos tempos messiânicos, levando a termo a espera de
séculos. Jesus, nascido de uma mulher, nasce sujeito à Lei, não para ser
escravo, mas para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e, sobretudo
para que nós, de escravos, fôssemos elevados à dignidade de filhos e
filhas de Deus. Sendo filhos(as), somos herdeiros(as) dos bens divinos.
Tornando-se gente, o Filho de Deus resgata a nossa humanidade.
À primeira leitura, do livro dos Números, é uma bênção
sacerdotal do Antigo Testamento, usada para encerrar as grandes
celebrações litúrgicas no templo de Jerusalém. A bênção é escrita
em três versos. A primeira parte de cada verso invoca a ação pessoal
do Senhor sobre o povo: “abençoe” (v. 24a), “faça brilhar sua face”
(v. 25a) e “volte seu olhar” (v. 26a). A cada um dos atos do Senhor
segue uma consequência da bênção invocada: “guardará” (v. 24b),
“compadecerá” (v. 25b) e “dará a paz” (v. 26b). A bênção é destinada
a todo o povo de Deus. As palavras são carregadas de significados.
“Abençoar” significa dar a vida que se manifesta como crescimento,
aumento, sucesso, fertilidade e prosperidade e como consegiiência
o povo tem a proteção de Deus que assume a “guarda” de Israel.
“Fazer a face resplandecer sobre (ti)” significa olhar com prazer e

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estima, consequentemente o povo experimenta a benevolência que
deriva da natureza divina. “Voltar (para ti) seu olhar” é expressão do
amor divino em gestos de ajuda aos necessitados, logo o povo terá
a paz, que é sinal de integridade, perfeição, felicidade e harmonia,
levando a pessoa a uma vida plena e livre. Recordemos que Jesus é
chamado de Príncipe da paz. Ele é a paz. Veio trazer a paz.

3. Atualizando a Palavra
Mais um ano chega ao fim. Temos muitos motivos para
agradecer, louvar e quem sabe também lamentar, ou até rever
algumas ações. Um novo ano inicia-se. São muitos os anseios,
os desejos. Algumas perguntas persistem: Como vai ser este
novo ano? O que vai acontecer de bom no mundo? No Brasil?
Há sempre expectativas a respeito do que vai acontecer a nós
como indivíduos e como comunidade humana. A nossa espe-
rança é que venha um tempo de paz e de prosperidade. Por que
não? A nossa esperança foi renovada. Deus enviou o seu Filho,
nascido de uma mulher. Maria, a mãe de Jesus, após conceber
em seu ventre o Filho de Deus, Salvador da humanidade, o en-
trega a todos. Apresenta-o aos pastores, aos magos, ao templo
de Jerusalém. Entrega-o também a nós. A maior “bênção” que
Deus nos concedeu foi o seu próprio Filho. Jesus Cristo entrou na
nossa vida e transformou a nossa sorte e nosso destino em uma
história divino-humana, capacitando-nos para uma vida livre.
Deste “mergulho” fundo e solidário de Jesus na nossa condição
humana, até a morte (e morte numa cruz!), resultou enfim a defi-
nitiva vitória do amor, da solidariedade, da vida sobre este nosso
chão: Ressurreição e dom do Espírito! E daí resultou também
que nós, humanos, pelo batismo fomos elevados à dignidade de
filhos e filhas de Deus (cf. Jo 1,12), membros do corpo de Cristo
(cf. 1Cor 12,12-31), participantes da vida divina, comensais do
banquete celeste, “herdeiros da vida eterna” (Tt 3,4). Pelo dom do
Espírito, fomos transformados em “geração escolhida, sacerdócio

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régio, gente santa, povo de conquista”, para proclamar as obras
admiráveis daquele que nos chamou das trevas para a sua luz
maravilhosa (cf. 1Pd 2,4-9; Ap 1,5b-6; 5,6-10; 20,4-6). Família
de Deus, Corpo de Cristo, Igreja, novo e verdadeiro “povo sa-
cerdotal! Deus nos amou e, deste amor, resultou para nós a paz,
que no fundo é sinônimo de vida”.
Os tempos serão melhores, a vida vencerá a morte. A paz,
sinônimo de vida, será assegurada pelo esforço de todos. Um es-
forço solidário e fraterno. Um esforço feito em mutirão. Sejamos
cristãos comprometidos na luta contra todo tipo de mal que fere
a vida. Já existem muitos grupos, organizações, engajados nesse
compromisso, podemos nos engajar neles ou criar iniciativas bem
concretas que respondam às necessidades da nossa realidade.
Caminhamos certos da graça e da bênção de Deus (Sl 67).

4. Ligação com a ação eucarística


Hoje temos muitos motivos para celebrar: final de ano,
início de um novo, oitava do Natal, solenidade da Mãe de Deus
e Dia Mundial da Paz.

Ao celebrar, a comunidade de fé liga esses fatos, até porque


a própria liturgia tem como centro o mistério de Cristo. Maria está
intimamente ligada ao mistério do Filho, e sua missão está unida à
dele, desde o seu nascimento até à cruz e ressurreição. A reforma
litúrgica, com a restauração do calendário geral, “permitiu que
nele fosse inserida de maneira mais orgânica, e com uma ligação
mais íntima, a memória da mãe no ciclo dos mistérios do Filho”
(Marialis Cultus, n. 2). O Filho que nasceu de Maria é “chamado
Admirável, Deus, Príncipe da paz, Pai do mundo novo, e o seu
reino não terá fim”, reza uma das antífonas de entrada.

A plenitude dos tempos, trazida por Jesus (segunda lei-


tura), vem a nós como uma bênção de Deus que contém uma
proposta de paz (primeira leitura). O dom da filiação nos torna

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acolhedores da proposta divina. Os pastores, Maria, José, Paulo,
nos dão o exemplo de capacidade de acolher e de dar ao mundo
a Luz Eterna, o Príncipe da Paz, o Salvador da humanidade,
Jesus Cristo. À todos nós, cristãos e cristãs, filhos e filhas de
Deus, no Filho nascido em Belém, ressuscitado em Jerusalém,
vivo no seu Corpo que somos todos nós, cuja imagem maior é
a Eucaristia, não resta senão honrar a “dignidade” a que fomos
elevados, levando adiante a missão de Jesus Cristo, vivendo a
Justiça, o Amor e a Paz.

5. Sugestões para a celebração


* Acor litúrgica é o branco. Neste dia em que celebramos
também o Dia Mundial da Paz será um sinal significativo.
* À equipe de celebração entra, em silêncio, com a ban-
deira da paz e coloca-a perto do círio pascal. Enquanto
a bandeira é conduzida, canta-se o refrão: Força da paz,
cresça sempre, sempre mais, que reine a paz, acabem
as fronteiras. Força da paz.
e Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual,
condizentes com o tempo, ajudam a comunidade a
penetrar no mistério celebrado. O Hinário Litúrgico 1,
da CNBB, e o Ofício Divino das Comunidades (ODC)
trazem muitas sugestões: Nasceu-nos hoje um Menino,
H1, p. 27; Terra toda, aclamai ao Senhor, H1, p. 28;
Salve, ó santa Mãe de Deus, H1, p. 28; Vamos a Belém,
H1, p. 87; Nas terras do Oriente, Hl, p. 82; Glória,
glória nas alturas, Hl, p. 51; Glória a Deus, no mais
alto dos céus, H1, p. 50; Aleluia! Glória a Deus nos altos
céus, H1, p. 61; Da cepa brotou a rama, H1, p. 36; Hino
ao verbo de Deus, Hl, p. 47.
e àArecordação da vida (no Início da celebração) pode ser
feita da seguinte forma:

93
PNE - QV) - CVV nº 23
— Recordemos os irmãos e irmãs que vivem no continente
africano.
Após um profundo silêncio para que a comunidade entre
em comunhão com as pessoas que lá vivem, a comu-
nidade poderá lembrar situações ou fatos que ferem a
paz e a unidade; em seguida, alguém coloca a vela acesa
(verde) perto do círio pascal.
Recordemos os irmãos e irmãs que vivem na Oceania.
Após um profundo silêncio para que a comunidade entre
em comunhão com as pessoas que lá vivem, a comu-
nidade poderá lembrar situações ou fatos que ferem a
paz e a unidade; em seguida, alguém coloca a vela acesa
(azul) perto do círio pascal.

Recordemos os irmãos e irmãs que vivem na nossa


grande América.
Após um profundo silêncio para que a comunidade
entre em comunhão com as pessoas que aqui vivem,
a comunidade poderá lembrar situações ou fatos que
ferem a paz e a unidade; em seguida, alguém coloca a
vela acesa (vermelha) perto do círio pascal.
Recordemos os irmãos e irmãs que vivem na Europa.
Após um profundo silêncio para que a comunidade entre
em comunhão com as pessoas que lá vivem, a comu-
nidade poderá lembrar situações ou fatos que ferem a
paz e a unidade; em seguida, alguém coloca a vela acesa
(branca) perto do círio pascal.
Recordemos os irmãos e irmãs que vivem na Ásia.
Após um profundo silêncio para que a comunidade entre
em comunhão com as pessoas que lá vivem, a comu-
nidade poderá lembrar situações ou fatos que ferem a

54
PNE - QV] - CVV nº 23
paz e a unidade; em seguida, alguém coloca a vela acesa
(amarela) perto do círio pascal.
Na prece dos fiéis, pode ser usada a ladainha:
Irmãos e irmãs, em comunhão com todas as pessoas e
as Igrejas elevemos confiantes nossas preces ao Senhor
da paz.
Cristo, nossa paz!
Senhor, tem piedade de nós!
Cristo, tem piedade de nós!
Senhor, tem piedade de nós!
Tu que és a nossa paz, faze-nos instrumentos de tua paz!
Tu que derrubaste o muro de separação entre os povos,
faze-nos instrumentos de tua paz!
Tu que vieste conduzir nossos passos no caminho da
paz, faze-nos instrumentos de tua paz!
Tu que, ao nascer, os anjos anunciaram paz para toda a
terra, faze-nos instrumentos de tua paz!
Tu que proclamaste felizes os promotores da paz, faze-
nos instrumentos de tua paz!
Tu que enviaste os apóstolos às casas anunciar a paz,
faze-nos instrumentos de tua paz!
Tu que tiraste a espada de Pedro, faze-nos instrumentos
de tua paz!
Tu que nos ordenaste orar por nossos inimigos, faze-nos
instrumentos de tua paz!
Tu que impediste que apedrejassem a mulher adúltera,
faze-nos instrumentos de tua paz!
Tu que perdoaste os que te crucificaram, faze-nos ins-
trumentos de tua paz!
Tu que morreste para reconciliar o céu e a terra, faze-nos
instrumentos de tua paz!
Tu que, ressuscitado, proclamaste aos discípulos: a paz
esteja com vocês, faze-nos instrumentos de tua paz!

5
PNE - QV] - CVV nº 23
Tu que suplicaste ao Pai enviar o Espírito de concórdia
e mansidão, faze-nos instrumentos de tua paz!
Desarma os povos, ouve-nos, Senhor!
Alimenta o mundo, ouve-nos, Senhor!
Acaba com as guerras, ouve-nos, Senhor!
Educa-nos para a paz, ouve-nos, Senhor!
Arranca a violência de nossa cultura, ouve-nos, Senhor!
Firma-nos no caminho dos direitos humanos, ouve-nos,
Senhor!
Conduze-nos na estrada da justiça, ouve-nos, Senhor!
Orienta-nos a resolver nossos conflitos de forma não-
violenta, ouve-nos, Senhor!
Ajuda-nos a diminuir nosso potencial de agressão,
ouve-nos, Senhor!
Desmascara nossos preconceitos e discriminações,
ouve-nos, Senhor!
Torna-nos tolerantes, ouve-nos, Senhor!
Fortalece as pessoas e grupos que lutam pela paz, ouve-
nos, Senhor!
Sustenta as religiões na via da não-violência, ouve-nos,
Senhor!
Iumina-nos a fazer da paz uma agenda de ação, ouve-
nos, Senhor!
Traze a paz a todos os povos, ouve-nos, Senhor!
Cristo, ouve-nos!
Cristo, atende-nos!
Para a bênção final, pode ser usada a fórmula do livro
dos Números:

— O Senhor te abençoe e te guarde!


— Amém.
— O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre tie te
seja benigno!

56
PNE - QV] - CVV nº 23
— Amém.
— O Senhor mostre para ti a sua face e te conceda a
paz!
— Amém.

Ao cantar o canto de despedida, a comunidade pode


passar a bandeira da paz de mão em mão, enquanto a
comunidade canta o hino É bonita demais (ODC, pp.
393-394).

57
PNE - QV) - CVV nº 23
Epifania do Senhor
8 de janeiro de 2006

Leituras: Isaías 60,1-6;


Salmo Responsorial 71(72),1-2.7-810-11.12-153;
Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12

Vimos a sua estrela no Oriente


e viemos adorar o Senhor

1. Situando-nos brevemente
A festa da Epifania, celebrada no dia 6 de janeiro, é de
origem oriental. Começou a ser celebrada no início do século IV
e coincidiu com a instituição do Natal em Roma. No Ocidente,
essa festa teve seu início no final do século IV. No decorrer desse
século, houve um processo de troca recíproca: as Igrejas do Oci-
dente adotaram a festa da Epifania, enquanto as Igrejas do Oriente,
com algumas exceções, assumiram a festa do Natal.
Como já apontamos, as festas do Natal e da Epifania
celebravam a encarnação do Verbo, embora com tonalidades
diferentes no Ocidente e no Oriente. A manifestação do Senhor
era celebrada na memória do seu nascimento ou no milagre da
conversão da água em vinho nas bodas de Caná, ou ainda no seu
batismo nas águas do Jordão.
A festa da Epifania surgiu no Oriente com características
semelhantes ao surgimento do Natal no Ocidente. Os pagãos do

58
PNE - QV) - CVVY nº 23
Oriente também celebravam a festa do solstício de inverno, a
vitória da luz sobre as trevas, mas no dia 6 de janeiro, quando
acontecia o aumento da luz. Nesse mesmo dia, os cristãos come-
çaram a celebrar o nascimento de Jesus, verdadeira luz. Existiam
outras lendas mitológicas sobre o poder taumatúrgico de certas
águas. Com muita probabilidade isso explica por que no Oriente
o objeto particular da festa da Epifania é o Batismo de Jesus.
Em Roma, e em outras partes do Ocidente, o episódio dos
magos tornou-se o tema central da Epifania. Deus manifesta-se
não apenas a uma única raça, a um povo privilegiado, mas aos
homens e mulheres de toda tribo, nação e cultura. O batismo do
Senhor é celebrado depois da festa da Epifania. O episódio das
bodas de Caná é apresentado no evangelho do 2º Domingo do
ano €. No Brasil, a festa da Epifania é celebrada no domingo
entre 2 e 8 de janeiro.
Alegremo-nos! Jesus Cristo, luz das nações, se manifestou
ao mundo inteiro. Todos contemplaram a sua glória e sua realeza.
O mundo, o Brasil, enfim a nossa realidade, precisa ser iluminada
com a Luz que é o próprio Senhor.

2. Recordando a Palavra
Mateus, depois de ter apresentado, no capítulo 1, a pessoa
de Jesus, filho de Davi e filho de Deus, define, no capítulo 2
(evangelho), a sua missão como salvação oferecida aos pagãos.
O evangelista amplia o quadro dos acontecimentos, acrescentan-
do a visita e homenagem que Magos do Oriente fazem a Jesus.
Mateus começa o capítulo 2 situando o local do nascimento de
Jesus. Belém da Judéia é uma cidade que está sob o poder do rei
Herodes. Mateus marca a narração com o tema da realeza. Herodes,
chamado o grande (37a.C.), é um estrangeiro idumeu, nomeado e
protegido pelo Senado Romano. Ele é visto pela população como
um rei ilegítimo. Jesus, ao contrário, nasce na cidade de Davi e

59
PNE - QV) - CVY nº 23
como descendente de Davi ele é o sucessor legítimo. Para Herodes,
Jesus é um rival perigoso e precisa ser eliminado (v. 3).
Entram em cena os magos. São do Oriente, região por
excelência dos sábios astrólogos. Guiados por uma estrela (cf.
Nm 24,17), acorrem ao “rei dos judeus” a fim de render-lhe
homenagem. Prestar homenagem ou adorar (aparece três vezes
— cf. vv. 2.8.11) parece ser o tema fundamental desenvolvido por
Mateus. A fé dos magos contrasta-se com a cínica esperteza de
Herodes. A astúcia de Herodes é vencida pelo milagre da estrela
e pela fidelidade dos visitantes. Os magos oferecem o tributo
dos pagãos ao rei menino (cf. Is 60,6; Zc 8,20-22; S172,10-15;
102,13) e voltam por outro caminho. Os Padres da Igreja vêem
nos presentes oferecidos pelos magos o símbolo da realeza (o
ouro), da divindade (o incenso) e da paixão (a mirra) de Cristo.
Mateus apresenta Jesus como realização das profecias (cf.
Mg 5,1). Para o evangelista, no entanto, “de modo algum Belém
é a menor entre as principais cidades de Judá, pois dela sairá o
pastor de Israel” (v. 6).
O evangelista indica ainda um outro tema. Ele quer preludiar
o drama que se desenrolará na vida de Jesus e que culminará na
cruz, na morte e na ressurreição. Jesus, o rei dos judeus e messias,
é perseguido pelos representantes (cf. v. 4) de seu próprio povo,
com o rei Herodes. Os pagãos o homenageiam.
O capítulo 60 do livro de Isaías (primeira leitura) faz parte
de uma seção que se estende até o final do capítulo 62. Talvez esses
capítulos foram escritos depois da volta do exílio babilônico. Têm
como pano de fundo histórico a destruição de Jerusalém por Na-
bucodonosor em 586 a.C., agora em via de reconstrução. O povo,
depois da dura experiência no cativeiro da Babilônia, ou refugiado
em outros países, vivendo nas trevas e em meio a nuvens escuras
(v. 2), já não tem muita esperança. O pessimismo é dominante. O
profeta, porém, não compartilha do desespero e do desânimo de

60
PNE - QV) - CVY nº 23
muitos. Ele imagina uma transformação maravilhosa. Anuncia a
construção de uma nova Jerusalém, onde a glória do Senhor se
manifestará como uma luz. O povo todo andará na luz. Os povos
virão para Jerusalém. A cidade é vista como o centro do mundo,
que atrai, com a sua luz, os povos de todas as partes da Terra,

Os versículos da segunda leitura apresentados hoje per-


tencem à unidade maior da carta aos Efésios (3,2-13). O autor
enfatiza a figura de Paulo, o apóstolo dos gentios, e mostra como
a mensagem pregada aos pagãos baseia-se na tradição apostólica.
O autor ressalta o dom da graça divina da qual os pagãos são tam-
bém herdeiros por intermédio do ministério apostólico paulino. Os
pagãos participam da herança que Deus (mistério) prometeu aos
judeus. Eles fazem parte do mesmo corpo, isto é, a Igreja.
Os pagãos são, a partir da prática de Jesus e de Paulo, co-
herdeiros. Não mais Israel somente, nem só judeus convertidos,
mas todos são objeto do amor e da predileção de Deus, que os
salva (herança). O projeto de Deus, portanto, é para todos. A
salvação é acessível, como oferta graciosa de Jesus, a todos,
sem discriminação. Tudo isso é projeto de Deus, condensado no
Evangelho que Paulo se esforça por anunciar.

3. Atualizando a Palavra
A celebração da Epifania nos conduz à experiência de um
Deus que não é propriedade particular de ninguém. Ele é sim o
Deus de todos os povos. Jesus se faz carne e habita entre nós.
Esse “nós” é alargado com a festa da Epifania. É a mística da
universalidade da salvação.
O menino Deus, rei das gentes, é apresentado a todas as pessoas,
de todas as raças, de todos os horizontes, de todos os tempos.

A história dos magos é a nossa história na busca de Deus.


Para encontrá-lo, muitas vezes passamos pela dureza do exílio,

61
PNE - QV] - CVV nº 23
da dor, da perseguição, da falta de esperança. Deus se manifesta
na fragilidade de um menino, de alguém como nós. No Menino de
Belém começa a revelação dos mistérios escondidos em Deus desde
toda a eternidade. O “mistério” é todo o plano de Deus. Esse mistério
é revelado aos crentes e não-crentes, ou seja, a todas as pessoas que
se colocam numa atitude de abertura para acolher a revelação.
Celebramos a festa da luz. Cristo é a “luz dos povos”, como
afirma a constituição dogmática Lumen gentium. Somos guiados para
a verdadeira luz, como o povo de Israel, como os magos e a exemplo
de todos os povos que aceitam participar da herança prometida.
Jesus dizia que o caminho que conduz à vida é estreito. É
preciso ler os sinais e ter muita capacidade para discernir e escolher
o caminho certo. Sempre há escolha entre a vida e a morte, entre
a Justiça e a impiedade, entre a dominação e a libertação, entre as
trevas e a luz... A escolha, às vezes, exige mudança de caminho.
Os magos escolheram o caminho da Luz. O caminho da Luz, da
Vida, não significa, porém, negar a cruz, ou o sofrimento, ou a
dor. A cruz é inevitável, como foi na vida de Jesus. Mas não é o
fim. É o sinal da vitória da vida sobre a morte.
A liturgia de hoje ainda nos lança ao compromisso de “anun-
ciar o Evangelho a toda criatura (cf. Mc 16,15) e iluminar todas as
pessoas com a claridade de Cristo [...]” (Lumen gentium, n. 1). É
impossível a evangelização sem um diálogo respeitoso entre povos,
raças, línguas, crenças, religiões e, por que não, diálogo entre os
próprios cristãos. Que Cristo, luz que resplandece nas trevas da
nossa vida, caminhe conosco hoje e sempre.

4. Ligação com a ação eucarística


“Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorar o Senhor”
(antífona da comunhão). Os magos vieram do Oriente para prestar
homenagem a Deus. Uma grande homenagem que hoje prestamos
a Deus é a própria celebração eucarística. Através da liturgia e,

62
PNE - QV] - CVV nº 23
principalmente, da eucaristia, Deus é glorificado e nós somos
santificados (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 10).
Deus quer salvar todas as pessoas. A liturgia é o lugar pri-
vilegiado para fazer a experiência da salvação. Salvação esta que
é universal. Revelada no hoje da nossa história: hoje, Deus revela
o seu Filho às nações, guiando-as pela estrela (cf. oração do dia).
Hoje, Ele é luz no caminho: “Revelastes, hoje, o mistério de vosso
Filho como luz para iluminar todos os povos no caminho da salva-
ção. Quando Cristo se manifestou em nossa carne mortal, vós nos
recriastes na luz eterna de sua divindade” (prefácio da Epifania).
A nossa assembléia, com sua pluralidade e diversidade, é sinal
da universalidade da salvação que é dada hoje a todos os povos.
A comunidade de fé, reunida, sinal da presença de Cristo,
“apresenta não mais ouro, incenso e mirra, mas o próprio Jesus
Cristo, imolado e recebido em comunhão nos dons que o simboli-
zam” (oração sobre as oferendas). Os dons oferecidos pelos fiéis
(pão e vinho) são transformados em Cristo, dom do Pai, salvador
de todo o mundo. Ele é um rei diferente. Um rei que é “cheio de
misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores;
colocou-se sempre ao lado dos perseguidos e marginalizados.
Ele, com a vida e a palavra, anunciou o rosto amoroso do Pai e
teve um grande cuidado por todos os filhos e filhas” (cf. Oração
Eucarística para Diversas Circunstâncias IV).
Guiados sempre e por toda parte pela luz celeste, nós, no
hoje da nossa história, acolhemos com fé e vivemos com amor
o mistério celebrado (oração depois da comunhão). Ele se torna
vida em nossas vidas.

5. Sugestões para a celebração


e Acorlitúrgica é o branco. Algumas comunidades usam
cores festivas como expressão de nossa cultura.

63
PNE - QV) - CVV nº 23
e Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual,
condizentes com o tempo, ajudam a comunidade a pe-
netrar no mistério celebrado. O Hinário Litúrgico 1, da
CNBB,e o Ofício Divino das Comunidades (ODC) tra-
zem muitas sugestões: Vimos a sua estrela, HI, p. 89; Eis
que veio o Senhor dos senhores, H1,p. 12; Glória, glória
nas alturas, H1, p. 51; Glória a Deus, no mais alto dos
céus, H1, p. 50; Glória ao Senhor, Hl, p. 5; Os devotos
do Divino, ODC, p. 312; Ó Deus, salve o oratório, ODC,
p. 313; Vamos a Belém, H1, p. 87; Nas terras do Oriente,
H1, p. 82; Hino ao verbo de Deus, Hl, p. 47.

* Um pouco antes da celebração, a comunidade pode


cantar um refrão meditativo:
Após espera tão longa, irrompe a noite que é dia, até
palácios se apagam diante da estrebaria (ou outro apro-
priado. Ver melodia no suplemento 1 do Ofício Divino das
Comunidades, também gravado em CD).
* O círio pascal é introduzido na procissão de entrada.
Chegando à frente, a pessoa que carrega o círio se volta
para a assembléia e proclama a oração: Bendito sejas,
Deus da vida, porque fizeste nascer, hoje, para nós, o
sol do Oriente, Jesus Cristo, nossa salvação.
Todos cantam:

A luz resplandeceu em plena escuridão. Jamais irão as


trevas vencer o seu clarão.
e Alguém entra com o incensório e incensa o altar, o círio,
o menino Jesus, a mesa da Palavra e toda a assembléia.
Usar o incenso também no canto do Glória, antes da
proclamação do Evangelho, na apresentação das ofe-
rendas e durante o canto do santo.

64
PNE - QV)] - CVV nº 23
* E apropriado fazer a bênção da água e aspersão:
Algumas pessoas entram com jarras de água e derramam
numa vasilha maior. À pessoa que coordena diz:
Hoje a Igreja se uniu a seu celeste esposo
porque Cristo lavou no Jordão seu pecado;
para as núpcias reais correm os magos com presentes
e os convivas se alegram com a água feita vinho.
(estendendo as mãos sobre a água)

Que esta água, ó Pai, recorde para nós


a santa Epifania e a manifestação do Senhor
como luz de todas as nações.
E teu povo passe da morte para a vida,
e acolha a graça do teu Espírito
que manifesta a tua misericórdia,
por Cristo, nosso Senhor!
Os ministros e ministras aspergem a comunidade com a
água, enquanto se canta o refrão: Eu vi, eu vi, foi água a
manar (H3, p. 83).
e Retomando um antigo costume da Igreja, após a procla-
mação do Evangelho, o diácono ou outro ministro pode
fazer o anúncio do dia da Páscoa:
O coordenador(a), ou outro(a) ministro(a), à mesa da Pa-
lavra, pode proclamar ou cantar:
Irmãos caríssimos,
a glória do Senhor se manifestou
e sempre há de se manifestar no meio de nós,
até a sua vinda no fim dos tempos.
Nos ritmos e nas variações do tempo,
recordamos e vivemos os mistérios da salvação.

65
PNE - QV) - CVV nº 23
O centro de todo o ano litúrgico
é o tríduo do Senhor crucificado, sepultado
e ressuscitado,
que culminará no Domingo da Páscoa,
este ano no dia 16 de abril.
Em cada domingo, Páscoa semanal,
a Igreja torna presente este grande acontecimento,
no qual Jesus Cristo venceu o pecado e a morte.
Da Páscoa derivam todos os dias santos:
as cinzas, início da Quaresma, no dia Iº de março;
a ascensão do Senhor, no dia 28 de maio;
a festa de Pentecostes, no dia 4 de junho;
o 1º Domingo do Advento, no dia 3 de dezembro.
Também nas festas da santa Mãe de Deus,
dos apóstolos, dos santos e santas
a Igreja, peregrina sobre a terra,
proclama a Páscoa do Senhor.
A Cristo que era, que é e que há de vir,
Senhor do tempo e da história,
Louvor e glória pelos séculos dos séculos.
Amém.

e Nas regiões onde existe Folia de Reis seria bom convidar


o grupo para prestar uma homenagem ao menino Jesus.
Pode ser no Início da celebração, depois da homilia, ou
no final da celebração.
e Rezar o prefácio da Epifania ou cantar a louvação do
Natal que se encontra no Hinário Litúrgico 1, da CNBB,
p. 75.
e Bênção final própria para a festa da Epifania, conforme
Missal Romano.
e As palavras do rito do envio podem estar em conso-
nância com o mistério celebrado: A alegria do Senhor

66
PNE - QV) - CVVY nº 23
seja a vossa força. Que a luz do Senhor vos guie nos
caminhos da vida. Ide e propagai no mundo a paz e que
o Senhor vos acompanhe (ou outra apropriada).
e Na festa do Batismo do Senhor há um costume, em al-
gumas regiões que celebram no rito bizantino, de benzer
as fontes dos rios. Um rito que expressa a santificação
do cosmo. À celebração do Batismo este ano será na
segunda-feira, dia 9 de janeiro. Onde for possível, seria
bom fazer essa bênção.
e Depois da festa do batismo, iniciaremos o Tempo Comum.

67
PNE - QV] - CVV nº 23
A liturgia no Tempo Comum

Considerações e sugestões gerais


O Tempo Comum ocupa a maior parte do ano litúrgico. São
de 33 a 34 semanas, distribuídas entre os dois tempos especiais do
ano litúrgico: o Natal e a Páscoa. Ocupa praticamente a metade
do ano, com algumas semanas entre o Natal e a Quaresma, e a
parte mais longa depois de Pentecostes até a festa de Cristo Rei,
que marca o fim do ano litúrgico.
O fato de ser denominado “Tempo Comum” não significa que
seja menos importante. Antes mesmo de se organizarem as festas
anuais (Natal e Páscoa), com seus tempos de preparação e prolon-
gamento, o Tempo Comum foi a primeira realidade na vivência do
Mistério Pascal. Na experiência das primeiras comunidades existia
apenas a sucessão dos domingos e semanas ao longo do ano, tendo
o domingo como dia maior que congregava os irmãos e irmãs em
torno da Palavra e da Ceia. O domingo era o dia, por excelência, para
fazer memória da Páscoa do Senhor — Páscoa semanal. Quando,
mais tarde, foram organizados o ciclo da Páscoa e o do Natal, foi
para celebrar com mais intensidade, num tempo determinado, o
que já fazia parte do cotidiano das comunidades.
É bom que entre um tempo e outro, entre uma festa e outra,
haja um Tempo Comum, um período de repouso e assimilação.
Depois da festa e do extraordinário, buscamos a calma como
elemento de equilíbrio e de normalidade.
O Tempo Comum nos reconcilia com o normal e nos aju-
da a descobrir o dia-a-dia como tempo de salvação, segundo a
promessa do ressuscitado: “Estarei com vocês todos os dias”.
O Senhor se revela a nós nos acontecimentos do dia-a-dia, em
nossas vivências e cansaços, na convivência, no trabalho... No

68
PNE - QV) - CVY nº 23
interior de cada dia damos prova de nossa fidelidade. E o esforço
de buscar, no cotidiano da vida, o mistério do Senhor acontecendo
entre experiências de morte e ressurreição.
No Tempo Comum celebramos, portanto, o mistério de Cristo
em sua totalidade (encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão)
e não um ou outro aspecto do mistério. É o que o distingue dos
demais tempos. À tônica recai sobre o evangelho de cada domingo.
Aí temos a espiritualidade a ser vivida durante a semana. A vida
cotidiana é lida à luz do mistério do Senhor. Neste longo período do
ano litúrgico devemos prestar especial atenção ao lecionário tanto
dominical como semanal. É a tarefa cotidiana de pascalizar a vida.
A partir da vida do Senhor, aprendemos dele o que significa e im-
plica ser discípulo(a). “Junto com os discípulos que deixaram tudo
para seguir o Mestre, e junto com todo o povo, que coloca nele suas
esperanças, acompanhamos Jesus na sua caminhada missionária.
Em cada um dos acontecimentos, que ocorrem no caminho, Deus
vai revelando o mistério de Jesus e nós vamos sendo convidados a
aderir mais profundamente, mais apaixonadamente, à sua pessoa e
à sua causa. Nos acontecimentos cotidianos da vida e da caminhada
de Jesus, vamos percebendo o Mistério maior que está presente
também em nossa vida, tanto nos acontecimentos extraordinários
como também naqueles que nos parecem banais e rotineiros. Em
todos eles, é Deus que está presente, é Deus que nos chama, nos
fala, nos toca, nos convida ao seguimento de Jesus, nos envia como
testemunhas das realidades em que vivemos [...]. Cada domingo é,
assim, uma visita de Deus para nos renovar, para libertar o seu povo,
para nos unir mais a ele e entre nós.”
No início do Tempo Comum, depois do Natal e antes da
Quaresma, lemos o início da missão de Jesus, com o chamado
dos discípulos, a proposta do Reino. São domingos marcados
por um clima de manifestação do Senhor. Em seguida, vamos
acompanhando cada evangelho, quase que do começo ao fim,
pulando aquelas passagens que são lidas nos tempos fortes do

69
PNE - QV) - CVVY nº 23
ano litúrgico. No final do Tempo Comum, ouvimos as palavras
de Jesus sobre o fim do mundo, o discurso escatológico.

Em alguns domingos, a memória da missão de Jesus cede


espaço à celebração de algum mistério da vida do Senhor, de
Maria ou dos santos. Temos o domingo da Santíssima Trindade,
de Pedro e Paulo, da Assunção de Maria, da festa de Todos os
Santos, ou ainda as festas que podem ocorrer no domingo, como
a da Apresentação e da Transfiguração do Senhor, da Natividade
de João Batista, da Exaltação da Santa Cruz, de Nossa Senhora
Aparecida e ainda a comemoração dos Fiéis Falecidos.
Lembretes:

e É mais desafiador manter a fidelidade e a autenticidade


no cotidiano do que nas festas. Tomemos como exemplo
um casal. Certamente é bem mais exigente expressar,
com gestos ou palavras, o amor no dia-a-dia, do que no
dia do aniversário de casamento, ou no aniversário do
companheiro, ou da companheira... O Tempo Comum
é o espaço em que podemos prolongar ao longo do ano
litárgico a ternura da festa pascal.
Algumas comunidades valorizam a vigília, retomando
o sentido do domingo, como Páscoa semanal. O Ofício
Divino das Comunidades oferece propostas que enri-
quecem a espiritualidade do domingo.
Todas as comunidades são chamadas a participar do
esforço coletivo da Igreja em recuperar sempre mais
o domingo como o dia da Reunião, da Eucaristia, da
Palavra. E ainda o dia da alegria e do descanso (cf.
Sacrosanctum Concilium, n. 106).
Muitas comunidades estão impossibilitadas de celebrar a
eucaristia no domingo. Para celebrar a Páscoa de Cristo
no domingo, elas se reúnem ao redor da Palavra de Deus.

70
PNE - QV)- CVV nº 23
As equipes devem se empenhar para que tais celebrações
sejam um encontro dialogal, orante e de relação gratuita
com o Senhor. Que a presença carinhosa de Deus seja re-
conhecida e a força do seu amor possa fecundar misterio-
samente o corpo de Cristo manifestado na assembléia.
À cor usada é a verde. Os cantos e músicas devem ex-
pressar o sentido de cada domingo. Para isso, temos o
Hinário Litúrgico 3, da CNBB, que é o resultado do
esforço de recuperar, principalmente nos cânticos de
abertura e comunhão, o sentido do mistério de Cristo em
cada domingo. Além disso, o Hinário Litúrgico 3 contém
um rico repertório de cantos do ordinário da missa, como
também melodias para salmos responsoriais e aclamações
ao evangelho para os domingos A, Be €.
Nos domingos do Tempo Comum podemos valorizar
alguns elementos rituais que expressam a alegria e dão
tonalidade pascal ao dia. Por exemplo: o acendimento
do círio pascal, a aspersão com água no lugar do ato
penitencial, o uso do incenso, o canto do aleluia.
Ter sempre o cuidado de ligar a celebração semanal aos
apelos que brotam da vida, da experiência cotidiana de
pessoas, comunidades e grupos engajados e comprome-
tidos com o projeto de Jesus.
Dar uma dimensão pascal às festas dos santos e da Vir-
gem Maria, ligando-as com o mistério de Cristo.
Um desafio para as comunidades é programar a cateque-
se e as celebrações dos sacramentos em sintonia com o
ano litúrgico.

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PNE - QV] - CVV nº 23
2º Domingo do Tempo Comum
|5 de janeiro de 2006

Leituras: Samuel 3,3b-10.19;


Salmo Responsorial 39(40),2.4ab.7-8a.8b-9.10;
ICoríntios 6,13c-154.17-20; João 1,35-42

Foram ver onde Jesus morava


e permaneceram com ele

1. Situando-nos brevemente
Estamos no Tempo Comum. Tempo indispensável e que desen-
volve o mistério pascal de modo progressivo e profundo. É domingo,
Páscoa semanal dos cristãos. Desde os primeiros séculos, por tradição
apostólica, a Igreja sempre se reuniu aos domingos. Essa importância
dada ao domingo tem uma forte razão: é o dia em que o Senhor res-
suscitou dos mortos, dia em que apareceu aos discípulos.
Infelizmente, com o tempo, o domingo foi tão desvalorizado,
que até passou a ser substituído por qualquer festa de santo, perdendo
o sentido original de celebração da Páscoa do Senhor. Procurando
recuperar o sentido original do dia do Senhor contido no Novo
Testamento e na reflexão patrística, o Concílio Vaticano II elaborou
um texto, presente na Sacrosanctum Concilium, no qual consegue
reunir elementos que dão sentido bíblico, teológico e litúrgico ao
domingo: “Devido à tradição apostólica que tem sua origem do dia
mesmo da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra a cada oitavo dia
o Mistério Pascal. Esse dia chama-se justamente dia do Senhor ou

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PNE - QV) - CVV nº 23
domingo. Nesse dia, os cristãos devem reunir-se para que, ouvindo a
Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrem-se da paixão,
ressurreição e glória do Senhor Jesus e dêem graças a Deus que os
“regenerou para a viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo
de entre os mortos” (1Pd 1,3). Por isso, o domingo é um dia de festa
primordial que deve ser lembrado e inculcado à piedade dos fiéis de
modo que seja também um dia de alegria e de descanso do trabalho.
As outras celebrações não lhe anteponham, a não ser que realmente
sejam de máxima importância, pois que o domingo é o fundamento
e o núcleo do ano litúrgico” (Sacrosanctum Concilium, n. 106).

Embora os evangelhos deste ciclo do ano litúrgico (ciclo B),


em sua maioria, sejam tirados do evangelho de Marcos, o texto lido
é do evangelho de João. Esse texto abre a vida pública de Jesus e
foi escolhido para este domingo porque faz o elo entre a festa do
Batismo do Senhor (celebrada na segunda-feira, dia 9, este ano) e a
atividade pública de Jesus na Galiléia, que, nos domingos seguintes,
será apresentada por meio dos textos do evangelho de Marcos.

2. Recordando a Palavra
Os versículos lidos na liturgia de hoje fazem parte do
primeiro capítulo do evangelho de João. Neste, João introduz
todo o evangelho através de um prólogo e de uma série de tes-
temunhos. O texto é ótimo para abrir a narração da vida pública
de Jesus, porque coloca em plena luz a significação messiânica
e salvífica de Jesus.
João apresenta a pessoa e o ministério de Jesus utilizando-se
do esquema de uma semana (cf. 1,19-2,11). O evangelista parece
estar traçando uma primeira semana artística na Boa-Nova da
recriação cristã para lembrar a primeira semana da história da
criação no livro do Gênesis. Ao narrar esta semana inaugural,
João utiliza a seguinte lógica: o dia, a testemunha e o testemunho.
Vejamos: No primeiro dia, João Batista, testemunha que ele não é

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PNE - QV) - CVV nº 23
o Cristo, mas o precursor (1,19-28). No segundo dia, novamente
João Batista, ao avistar Jesus, testemunha que Ele é o cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo (1,29-34). No terceiro dia,
João Batista, diante de dois de seus discípulos, aponta para Jesus
e diz: “Eis o cordeiro de Deus” (1,35-39). No quarto dia, André
e Simão testemunham que “encontraram o Messias” (1,40-42).
No quinto dia, Filipe e Natanael encontraram “Aquele de quem
está escrito na lei de Moisés e nos profetas” e Natanael faz a sua
confissão: “Tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel” (1,43-51).
No sexto dia, os que estavam presentes no casamento, em Caná
da Galiléia, testemunham a manifestação da Glória de Jesus e a
adesão de seus discípulos (2,1-11).

Ao chegarem ao final do capítulo 1, os discípulos certa-


mente conhecem Jesus, apresentado através de cenas breves, em
que João dá as informações necessárias. Notamos também na
apresentação que o evangelista faz de Jesus o caminho progres-
sivo e gradual que a comunidade vai elaborando no processo de
conhecimento de Jesus.
À visão de um contexto maior nos ajuda a assimilar melhor
o texto apresentado hoje (vv. 35-42). João apresenta o encontro
dos primeiros discípulos com Jesus. É o Batista que encaminha os
discípulos a Jesus, o Cordeiro de Deus, talvez fazendo referência ao
cordeiro pascal, o servo sofredor de Isaías. Os discípulos buscam
o Messias (v. 377) para permanecer com ele, lá onde está. Encon-
trando-o, eles permanecem com ele. É tão forte o encontro, que
até a hora ficou gravada na memória e no coração do evangelista:
quatro horas da tarde. A experiência é profunda e leva o discípulo
a convidar outros para permanecer com Jesus (cf. vv. 40-41).
À primeira leitura narra a vocação profética de Samuel. Ele
é uma figura-chave na história do povo de Deus do Antigo Testa-
mento. Samuel exerceu um papel importante, como líder, durante a
transição da época dos juízes para a época dos reis (cf. SI 99[98],6;
Jr 15,1). A narração da vocação de Samuel mostra que o chamado

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PNE - QV) - CVY nº 23
recebido tem origem em Deus. O Senhor ignora o sacerdote Eli e
chama diretamente o menino Samuel para receber a palavra divina.
Samuel corre três vezes até Eli, antes que o velho sacerdote perceba
que quem está chamando é o Senhor. O menino Samuel custa a en-
tender o chamado (cf. vv. 4-9), porque ainda não conhecia a palavra
do Senhor (v. 7). Ao quarto chamado do Senhor, Samuel responde:
“Fala, que teu servo escuta” (v. 10). Graças à fidelidade à Palavra
de Deus, Samuel e os demais profetas tornaram-se colaboradores
da história de Deus com o seu povo. Foram pessoas de Deus que
souberam dar ouvido à voz do Senhor e foram capazes de transmitir
a Palavra do Senhor e, ainda mais, transformá-la em ação.

A segunda leitura é tirada da primeira carta aos Coríntios.


Paulo escreve esta carta por volta dos anos 56-58 d.C. Corinto
provavelmente era a principal cidade grega. Sua localização
geográfica tornava-a um local de passagem entre o Oriente e o
Ocidente. A cidade era bastante complexa, tinha tudo do melhor
e do pior. Era um grande desafio evangelizá-la.
Os coríntios tinham dificuldade em compreender e aceitar
a teologia do corpo apresentada por Paulo. Educados em uma
dicotomia de corpo-alma, que fazia parte da visão do mundo
grego, os coríntios tinham grande dificuldade para entender a
perspectiva semítica de Paulo. Para o apóstolo, a pessoa é um
todo (corpo e espírito). Os gregos tendiam a separar o corpo e
o espírito, dando superioridade ao espírito e negligenciando o
corpo. Isso fez com que os coríntios tolerassem uma dicotomia
nas crenças e na conduta. De um lado professavam certo espiri-
tualismo, desprezando o corpo. Por outro, estavam acostumados
a gozar a vida. Conciliavam os prazeres do sexo com o espírito
de maneira estranha. Paulo exorta que o corpo não é para a imo-
ralidade, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo (v. 13c).
Paulo convida os cristãos de Corinto a saberem usar a liberdade.
Recorda que o corpo é santuário do Espírito (v. 19) e a pessoa não
se pertence mais e, por isso, não pode fazer com o corpo o que

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PNE - QV) - CVY nº 23
quiser. Deus resgatou as pessoas por um alto preço. Ele entregou
o seu Filho único para a salvação de todos. Uma vez resgatados,
segundo Paulo, os cristãos deveriam glorificar a Deus (v. 20).

3. Atualizando a Palavra
A Palavra de Deus, dirigida a Samuel, aos discípulos e aos cris-
tãos de Corinto, nos convida a uma resposta. Uma resposta que consiste
em seguimento, em discipulado. Discípulo(a) é a pessoa que se vincula
ao outro para apropriar-se de seus conhecimentos e experiências. SÓ
se pode ser discípulo quando há um mestre ou professor.
O seguimento de Jesus supõe permanecer nele: “Constituiu
doze para que ficassem com Ele (Jo 1,39), para enviá-los a pregar
[...]” (Mc 3,14). Trata-se, na verdade, de conviver com Ele, num
relacionamento muito próximo, entrar na insegurança de seus
caminhos, compartilhar suas condições de vida, fazer com Ele a
experiência de carregar a cruz e dar a vida no dia-a-dia. À união
mútua entre Jesus e o discípulo é a condição básica para produzir
frutos: “Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito
fruto” (Jo 15,5).
Toda a atividade cristã é decorrência da comunhão vital
com o Senhor. É o permanecer nele que torna eficazes a oração
(cf. Jo 15,7) e a ação (cf. Jo 15,8). Ser discípulo(a) significa dar
determinados passos. O chamado ao discipulado cria uma nova
situação, uma mudança de vida, de opções, de modo que perma-
necer na situação antiga e ser discípulo é impossível.
A amizade do discípulo com Jesus deve ir além da mútua
contemplação; deve chegar ao anúncio da Boa-Nova do Reino
que está acontecendo no meio das pessoas. Ela significa partilhar
o mesmo destino do Mestre. De forma que acreditar em Jesus é
entrar num processo de caminho na luz e comunhão de vida com
ele. Essa comunhão transparece muito viva naqueles que fizeram
a experiência do encontro com o Senhor (cf. Jo 1,36.40.41.45).

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PNE - QV) - CVV nº 23
Nós, hoje, somos chamados(as) a olhar para o Cordeiro, segui-
lo, descobrir a sua morada e ficar com ele num sentido multiforme:
na comunidade dos que crêem nele, mas também lá onde ele está
agora, pois ele foi preparar um lugar junto ao Pai, onde há muitas
moradias. Este é o sentido último para ver em Jesus o Messias.

4. Ligação com a ação eucarística


Jesus é o Cordeiro de Deus, conforme João Batista testemu-
nha. A imagem do Cordeiro é bíblica. Ela nos recorda o cordeiro
pascal da antiga aliança. Jesus Cristo é o cordeiro pascal da nova
aliança. Pelo mistério de sua Páscoa, Jesus Cristo realizou uma
obra admirável. Nós, participantes da Páscoa de Jesus, passamos
do pecado e da morte à glória de sermos povo de Deus, sacerdócio
régio, nação santa (prefácio Tempo Comum 1).
Na ceia eucarística participamos da ceia do Cordeiro que,
morrendo, destruiu a morte e, ressurgindo, deu a vida a todos.
No rito da fração do pão, realizado na liturgia eucarística, a co-
munidade entoa o canto Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo..., indicando assim que o Cristo é o cordeiro pascal e que
o banquete eucarístico do qual participamos prefigura o banquete
eterno que Cristo, o Cordeiro de Deus, preparou para todos. Esse
canto, de origem oriental, é repetido durante a fração do pão.
Jesus, no pão eucarístico partilhado para todos, é o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo e dá ao mundo a sua paz.
Participar da mesa, comer e beber o corpo e sangue do Senhor,
entregue por nós, nos faz participantes do seu destino.

5. Sugestões para a celebração


e Acor usada é o verde.
e No início da celebração o animador ou animadora pode
fazer uma monição, dando o sentido do novo tempo que se

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PNE - QV) - CVV nº 23
inicia (Tempo Comum) e convidando a comunidade a per-
correr o Itinerário proposto para o caminho de seguimento
de Jesus Cristo, desde o chamamento dos discípulos até
os ensinamentos a respeito do fim dos tempos.
* (Os cantos e músicas devem expressar o sentido de cada
domingo. Para isso, temos o Hinário Litúrgico 3, da
CNBB: Toda a terra te adore, p. 120; Povo que és pere-
grino, p. 319; Eu disse: “Eis que venho, Senhor”, p. 151;
Aleluia! Fala, Senhor, que te escuta teu servo!, p. 221;
Jesus passa e o Batista aponta, p. 262; Bendito o Deus
de Israel, p. 346; Bendito seja o Senhor Deus, p. 347.
* Podem ser realizadas a bênção e a aspersão com água,
que expressam a alegria e dão tonalidade pascal ao dia.
Junto à pia batismal, a pessoa que coordena convida a
comunidade a ficar de pé:
Irmãos e irmãs,
bendigamos ao Deus da vida por esta água
e peçamos que ele renove em nossa vida
a graça do santo batismo.
Todos rezam em silêncio. O coordenador(a) conclui:
Deus de bondade e compaixão,
tu nos deste a irmã água, fonte de toda vida,
e quiseste que, por ela, recebêssemos
o batismo que nos consagra a ti.
Abençoa esta água,
que ela nos proteja neste dia a ti consagrado,
e renova, no mais profundo de cada um de nós,
a fonte viva de tua graça,
para que, livres de todos os males,
possamos caminhar sempre em tuas estradas
e praticar aquilo que é agradável aos teus olhos.
Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

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PNE - QV) - CVV nº 23
* Na recordação da vida, que pode ser feita no início da
celebração ou antes da oração do dia, lembrar os fatos
e acontecimentos das nossas realidades local, nacional
e mundial.
e Aleitura contínua do Evangelho, harmoniza com a pri-
meira leitura tirada do Antigo Testamento, dá a tônica
da celebração e apresenta um itinerário de seguimento.
Aí temos a espiritualidade a ser vivida durante a semana
e na vida toda. A homilia deve ser um elemento inte-
grador da espiritualidade do Tempo Comum. Permite
uma profunda educação à fé, fundada na teologia das
atividades de Jesus.
e Naliturgia da Palavra, assumimos a atitude de Samuel e
dos discípulos do Senhor e nos colocamos atentamente
com o “ouvido do coração” para escutar e acolher a
Palavra do Senhor. Um refrão meditativo pode ajudar
a reunir o coração: Fala Senhor, fala da vida, só tu tens
Palavra eterna, queremos ouvir. Ou: Escuta Israel,
Jahweh teu Deus vai falar. Fala Senhor Tahweh, Israel
quer te escutar.
* Pode-se rezar o prefácio do Tempo Comum I ou outro
apropriado, ou então cantar uma das louvações do Tem-
po Comum que se encontram nas páginas 71 a 75 do
Hinário Litúrgico 3, da CNBB.
* Valorizar o gesto da fração do pão, utilizando, para
facilitar, pão ázimo. Enquanto o pão for partilhado, a
comunidade entoa o canto do Cordeiro de Deus, repe-
tindo várias vezes, até que se conclua a fração.
* Bênção final do Tempo Comum IV do Missal Romano.
e No próximo dia 20 é memória de são Sebastião e no dia
21, de santa Inês.

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3º Domingo do Tempo Comum
22 de janeiro de 2006

Leituras: Jonas 3,1-5.10;


Salmo Responsorial 24(25),4ab5ab.6-7bc.8-9;
ICoríntios 7,29-31; Marcos 1,14-20

Convertei-vos e crede no Evangelho!

1. Situando-nos brevemente
A partir de hoje os textos propostos pelos domingos do ciclo B
serão, em sua maioria, textos do livro do evangelista Marcos.
Em seu evangelho, Marcos nos coloca frente a frente com Jesus
Cristo Messias, que vem instaurar o Reino de Deus, mas não de
maneira clara, explícita. Jesus não vem de forma triunfante, mas
como servo sofredor, perseguido, executado na cruz.
Neste 3º Domingo do Tempo Comum, Marcos nos apre-
senta o início da missão de Jesus e o chamado dos primeiros
discípulos.
João Batista vai cedendo lugar a Jesus, o qual se apresenta
pregando o Evangelho de Deus e anunciando que “o tempo já
se completou e o Reino de Deus está próximo”. E nos convida à
adesão: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. É esta a atitude de
vida que os chamados ao discipulado devem adotar. Seguir Jesus
implica conversão, mudança de vida. O começo é na Galiléia,
lugar de pouca aparência. O Reino de Deus tem dessas coisas:
começa do pequeno, é simples; sua lógica é outra.

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PNE - QV] - CVV nº 23
Todos os textos bíblicos lidos hoje nos convocam à conver-
são. Conversão que se expressa em atitudes como jejuar e vestir-se
com sacos, a fim de escapar da destruição, como aconteceu com
os ninivitas; ou ainda uma conversão que se concretiza na aceitação
alegre de todas as propostas do Reino.
Caminhamos certos de que Deus, ternura e compaixão, nos
conduz em seus caminhos.

2. Recordando a Palavra
Em seu evangelho, Marcos não narra a infância de Jesus,
como o faz Mateus e Lucas. Ele apresenta aos leitores o Jesus
adulto, por meio de João, o precursor. Marcos nos envolve no
drama do ministério dinâmico de Jesus.

Depois de batizado, Jesus é conduzido pelo Espírito ao


deserto, onde passou quarenta dias e foi tentado por Satanás.
Depois da prisão de João, Jesus se dirige à Galiléia e aí começa
sua pregação. “O tempo já se completou e o Reino de Deus está
próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” é a primeira
Boa Notícia de Jesus. A Boa Notícia anunciada traz também
um apelo de conversão. É o discurso inaugural do ministério de
Jesus. Nesse discurso Marcos resume a mensagem evangélica
que Jesus pregou.
Jesus realiza, na sua prática, a plenitude do profetismo.
Em Marcos, o núcleo da pregação de João Batista é a conversão
(cf. vv. 2-7). Ele ressalta a novidade da pregação de Jesus que
proclama a chegada do Reino de Deus e da salvação. O Reino
chegou, mas é preciso disponibilidade para aceitá-lo, e isso exige
resposta séria, através da conversão e da profissão de fé. É uma
proposta exigente. Requer mudança de lugar, de vida. Requer
entrada na lógica do Reino, o qual cresce como a semente, sem
ninguém se dar conta (cf. Mc 4). O Reino de Deus não tem a ver
com grandezas. Contém força humilde.

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PNE - QV) - CVV nº 23
Os versículos 16-20 contêm uma ligação estreita com os
anteriores (vv. 14-15). Os discípulos, chamados por Jesus, deixam
tudo e o seguem. Mudam de vida por causa do Reino e do Evan-
gelho. A prontidão da resposta dos quatro pescadores é modelo
para nós. É, porém, um processo, como vemos no desenrolar do
evangelho de Marcos, que apresenta momentos de tensão, crise
e fracasso na caminhada do discipulado. Deixar tudo e seguir
Jesus é uma experiência de conversão radical, até o fim.
À primeira leitura é a profecia de Jonas. O profeta escreveu
seu livro na Palestina, por volta do século V a.C. Nessa época,
os judeus ainda estavam se recuperando do exílio babilônico. O
povo havia retornado do exílio, por permissão do rei persa Ciro.
Depois de derrotar a Babilônia, Ciro publicou um decreto per-
mitindo aos judeus que voltassem para sua terra e reconstruíssem
o templo.
O pano de fundo do livro de Jonas é a situação em que se
encontra um povo que retorna, mas, carregando consigo muitos
problemas, de um povo que foi destruído enquanto povo. Na
volta é preciso reconstruir tudo. Os que retornaram achavam que
haviam sofrido o exílio por causa de sua própria infidelidade a
Deus. Como conseqiiência, a volta foi marcada por um fecha-
mento, atitudes de exclusividades e rigorosa observância da Lei.
Eles evitavam tudo o que, segundo eles, pudesse afastá-los de
Deus: costumes estrangeiros, mulheres estrangeiras etc.
O autor do livro de Jonas escreve em oposição à atitude
de exclusividade adotada por judeus. Deus chamou Jonas para
profetizar justo para o povo de Nínive, a odiada capital da Assíria.
Jonas, representando seu povo, resiste ao chamado divino, pois
sabe que Deus é misericordioso (cf. 4,2) e teme que Nínive se
converta. O profeta preferia um Deus que destruísse Nínive a um
que a perdoasse. A história de Jonas ensina que também outras
nações podem ser queridas ao coração misericordioso de Deus.

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PNE - QV) - CVV nº 23
O episódio narrado na cidade de Nínive tem o fundamento
em Deus que é compassivo e clemente, paciente e misericordioso
e que se arrepende das ameaças.
O profeta é chamado por Deus, compassivo e misericordioso,
para profetizar na “grande” cidade de Nínive. Ao exagerar o tamanho
da cidade, o autor parece querer enfatizar a grandeza do pecado,
como também a grandeza do amor de Deus e da conversão dos
ninivitas. A palavra “grande” é usada quatorze vezes no livro.
Após situar a cidade, o autor do livro começa a narrar a
profecia de Jonas e a resposta do povo (cf. vv. 4-5). Deus ameaça
(v. 4); os ninivitas acreditam em Deus e proclamam um jejum e
penitência (v. 5); a notícia chega ao rei e seus servos (vv. 5-6); os
ninivitas voltam atrás: convertem-se e afastam-se do mau caminho
(v. 10), e Deus também volta atrás e desiste da ameaça de destruir
a cidade. “Voltar” é palavra-chave nos escritos dos profetas.
Além de significar um protesto contra o “exclusivismo”
judeu, o livro de Jonas é um apelo à conversão.
Paulo escreve aos cristãos de Corinto (segunda leitura)
dando alguns conselhos referentes à vida cotidiana. O apóstolo, ao
falar do matrimônio e do celibato, dá uma justificativa escatológica
a esses estados de vida. Os versículos indicados para a liturgia de
hoje começam com um alerta do apóstolo: “O tempo está abre-
viado”. O apóstolo exige de todos, casados ou não, um espírito de
fidelidade diante da realidade da espera da segunda vinda de Jesus
Cristo. Mesmo em condições diferentes, o que importa para Paulo é
o essencial, ou seja, uma opção de vida no espírito do cristianismo.
Todos: casados ou solteiros; os que choram ou os alegres... estão
convidados à fé e à esperança na promessa.
Paulo não prega um desprezo ao mundo com sua realidade
de sofrimento ou de alegria. O apóstolo quer inculcar nos cristãos
que tudo é passageiro, mesmo vivendo neste mundo com tudo
o que ele oferece.

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3. Atualizando a Palavra
Marcos inicia dizendo que “o tempo já se completou e que
o Reino de Deus está próximo”. É tão incisiva a notícia da imi-
nência do Reino que nos faz crer que o mesmo já está presente.
A chegada do Reino requer atitudes profundas: conversão e fé.
As duas atitudes levam a uma profunda transformação interior
que faz com que a pessoa confie inteiramente em Deus.
Os pescadores Simão, André, Tiago e João aceitam a
proposta do Reino: deixam tudo e seguem Jesus. Eles aceitam
fazer a ruptura que o Evangelho propõe. O primeiro momento
é marcado pelo entusiasmo diante da pessoa de Jesus e de seu
anúncio. Muitas dificuldades vieram depois. O dia-a-dia exigiu
dos discípulos constante conversão e crescimento na fé.
À nossa realidade — pessoal, social, eclesial... — pede
atitudes constantes de conversão e de adesão à pessoa de Jesus,
que veio anunciar e instaurar o Reino de Deus. À pessoa de Jesus
anuncia a Boa Notícia e denuncia tudo o que significa o anti-
Reino. São inúmeras as atitudes e ações que negam e ofuscam a
manifestação do Reino de Deus neste mundo.
O convite é para todos. Deixar as redes e segui-lo é possí-
vel. E preciso coragem, disposição, fé. Lembramos que deixar
as redes é o começo do caminho.
O seguimento de Jesus não nos torna alienados, mas nos
engaja numa realidade concreta, como pessoa, grupo e comuni-
dade, num trabalho contínuo, na mudança de estruturas de morte,
contrárias ao Reino de Deus.

4. Ligação com a ação eucarística


Jesus diz que “o tempo já se completou e que o Reino de
Deus está próximo”. Diante do anúncio da chegada do Reino
somos chamados à conversão e a termos fé na Boa Notícia. Os

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PNE - QV) - CVV nº 23
discípulos, no Evangelho, aceitam a proposta de Jesus. Deixam
tudo e o seguem.
Celebrando, aceitamos o convite de Deus que nos chama
para a escuta e o conhecimento de seu projeto. Nós respondemos,
apresentamo-nos e, em nome de Jesus, reunimo-nos em comu-
nidade. Estabelecemos com Ele um diálogo amoroso. Na escuta
atenta conhecemos o querer divino. Iluminados pela Palavra do
Senhor somos capazes de ver melhor atitudes não condizentes
com o Reino, em nós e no nosso mundo.

Experimentamos a tensão do Reino, o já, mas ainda não.


Afirmamos que “Ele está no meio de nós” e ao mesmo tempo
continuamos a suplicar: “Venha a nós o vosso Reino”.
À certeza da presença do Senhor e de sua vinda definitiva nos
engaja profundamente no trabalho de construção do Reino: “Deus
eterno, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos,
em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras [...]” (oração do
dia). As boas obras podem ser traduzidas na participação da constru-
ção de uma sociedade justa e solidária. A nossa participação efetiva
na sociedade é uma exigência da fé, resposta aos apelos do Senhor.
Num país tão cheio de diferenças como o nosso, devemos colabo-
rar para a superação das contradições do crescimento econômico,
cultural e tecnológico, contra a miséria, a fome, a exclusão e, ainda,
agir em favor do equilíbrio ecológico (Projeto nacional de evange-
lização — Queremos ver Jesus, p. 16). As duas mesas — Palavra e
Eucaristia —, lugar de escuta, partilha e entrega, nos ensinam e nos
impulsionam a dar respostas concretas.

5. Sugestões para a celebração


e Acor usada é o verde.
e No início da celebração, o animador ou animadora
pode fazer uma monição, introduzindo a comunidade
no mistério que será celebrado.

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PNE - QV) - CVV nº 23
e Oscantos e músicas devem expressar o sentido de cada do-
mingo. Para isso, temos o Hinário Litúrgico 3, da CNBB:
Canto novo ao Senhor que é Deus, p. 120; Mostrai-me, ó
Senhor (8125), p. 151; Aleluia! Que o Pai do Senhor Jesus
Cristo, p. 221; Está próximo o Reino de Deus, p. 262.

* Podem ser realizadas a bênção e a aspersão com água,


que expressam a alegria e dão tonalidade pascal ao dia:
Junto à pia batismal, a pessoa que coordena convida a
comunidade a ficar de pé:
Irmãos e irmãs,
bendigamos ao Deus da vida por esta água
e peçamos que ele renove em nossa vida
a graça do santo batismo.
Todos rezam em silêncio. O coordenador(a) conclui:
Deus de bondade e compaixão,
tu nos deste a irmã água, fonte de toda vida,
e quiseste que, por ela, recebêssemos
o batismo que nos consagra a ti.
Abençoa esta água,
que ela nos proteja neste dia a ti consagrado,
e renova, no mais profundo de cada um de nós,
a fonte viva de tua graça,
para que, livres de todos os males,
possamos caminhar sempre em tuas estradas
e praticar aquilo que é agradável aos teus olhos.
Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

* Preparar-se para a escuta atenta da Palavra do Senhor


cantando um refrão meditativo: Desça como a chuva
a tua Palavra, que se espalhe como orvalho, como o
chuvisco na relva, como o aguaceiro na grama. Amém!
(Ofício Divino das Comunidades, p. 429).

PNE - QV) - CVV nº 23


Antes do prefácio, convidar a comunidade a agradecer
os “sinais” do Reino entre nós.
O prefácio pode ser o do Tempo Comum (a escolha)
ou cantar uma da louvações do Tempo Comum que se
encontram nas páginas 71-75 do Hinário Litúrgico 3,
da CNBB.
Bênção final do Tempo Comum V do Missal Romano.
As palavras do rito do envio podem estar em consonân-
cia com o mistério celebrado: O tempo já se completou.
O Reino de Deus está próximo. Ide em paz e propagai
a todos esta Boa Notícia e o Senhor vos acompanhe.
No próximo dia 24 é memória de são Francisco de Sales,
bispo e mestre na fé. No dia 25 é festa da Conversão
de são Paulo e, no dia 26, memória de Timóteo e Tito,
discípulos do apóstolo Paulo. No dia 28 é memória de
são Tomás de Aquino, teólogo.

87
PNE - QV) - CVV nº 23
4º Domingo do Tempo Comum
29 de janeiro de 2006

Leituras: Deuteronômio 18,15-20;


Salmo Responsorial 94(95),1-2.6-7.8-9;
ICoríntios 7,32-35; Marcos 1,21-28

Ensinava
como quem tem autoridade

1. Situando-nos brevemente
No domingo passado escutamos a Palavra de Jesus anun-
ciando que “o tempo já se completou e o Reino de Deus está
próximo”. Hoje, dando um passo a mais no caminho proposto
nos domingos do Tempo Comum, encontramos Jesus na cidade
de Cafarnaum. Ali ele participa do culto do sábado na sinagoga
e expulsa um demônio. Jesus começa sua missão ensinando com
autoridade. A autoridade de Jesus é realizada através de sua fala
e de sua ação. Podemos ver sinais do Reino acontecendo no
meio do povo.

2. Recordando a Palavra
Continuando a leitura atenta do evangelho de Marcos, o
leitor vai descobrindo quem é Jesus e o que significa ser seu se-
guidor. Jesus vai se revelando aos poucos, no início não é tudo
tão claro — o caminho se faz caminhando.

88
PNE - QV) - CVV nº 23
No texto lido hoje, Marcos fala do ensinamento de Jesus
na sinagoga de Cafarnaum. Ensinamento que se dá pela pregação
e pela ação de expulsar um demônio.
O evangelista não revela o conteúdo da pregação, mas faz
questão de dizer que é um ensinamento com autoridade e ainda
esclarece que Jesus “não é como os mestres da Lei” (v. 22). O
povo fica admirado diante da pessoa de Jesus.
Marcos repete por duas vezes que Jesus ensina com auto-
ridade (vv. 22.27). A autoridade de Jesus, na primeira vez, está
associada ao ensinamento na sinagoga e, na segunda menção,
com a ação de expulsar o demônio do homem que estava pos-
suído. Isso parece demonstrar que Marcos quer ligar o primeiro
ensinamento com a primeira ação de Jesus, ambos feitos com
autoridade.
A autoridade de Jesus, dada por Deus, inaugura uma rea-
lidade nova. E a irrupção do Reino de Deus.
Nos versículos 23-26, Marcos não conta simplesmente uma
história de exorcismo, mas quer indicar a Epifania de Jesus. Para
Marcos e os cristãos do primeiro século, os espíritos impuros repre-
sentavam o mal e poderes hostis a Deus e à saúde. Tais demônios
até reconheciam o “representante” do poder divino — o espírito
impuro revela que Jesus é “o santo de Deus” (v. 24) e tenta impedir
a missão de Jesus de combatê-lo. Jesus ordena: “Cala-te e sai dele”
(v. 25) e a cura acontece. Expulsar demônios é revelar a força do
Reino. Através da cura é manifestada a autoridade e o poder de
Jesus. O povo “espantado” reconhece a autoridade de Jesus, mas
ainda pairava dúvida: “O que é isto?” (v. 27). O evangelista quer
mais dos seguidores de Jesus: não somente espanto, mas atenção
a quando Jesus se revela em todos os momentos de sua vida.
A primeira leitura é tirada do livro do Deuteronômio.
Esse livro foi escrito com o objetivo de fazer com que a tradição
antiga ajudasse Israel a superar uma época de crise. As grandes

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PNE - QV]- CVV nº 23
instituições de Israel, como a monarquia, a profecia, o templo,
o sacerdócio, estavam desgastadas e não conseguiam evitar que
a nação chegasse à beira da destruição, provocada por forças
internas e externas. O Deuteronômio pede a Israel que reaprenda
a lição do deserto, dada por Moisés.
O capítulo 18, do qual são tirados os versículos que serão lidos
hoje, trata dos sacerdotes (vv. 1-8) e dos profetas (vv. 15-22).

Ao falar do profetismo, o autor do livro do Deuteronômio


liga a instituição profética à tradição mosaica. À origem do pro-
fetismo, considerado legítimo em Israel, remonta ao período da
peregrinação no deserto; esse profetismo é contraposto às ex-
pressões proféticas que Israel encontrou depois em Canaã (18,9-
14). As instituições estrangeiras usavam técnicas (adivinhações,
magia) para entrar em contato com a divindade, conhecê-la e até
determinar a vontade desta. O profetismo em Israel se opõe a
tudo isso. O profeta deve manter viva no meio do povo a aliança
selada no Sinai, da qual Moisés é o mediador. Para o autor do
Deuteronômio, a ação profética é continuidade do ofício media-
dor de Moisés. O profeta deve levar o povo a conhecer a vontade
divina contida na Lei, a exemplo de Moisés. O profeta torna-se
um intérprete da Lei, um intermediário entre Deus e as pessoas.
Os destinatários devem escutar a mensagem pronunciada em
nome de Deus. O profeta precisa manter a fidelidade ao querer
de Deus, do contrário ele pode morrer.
A segunda leitura, tirada da primeira carta aos Coríntios, é
continuação daquela lida no domingo anterior. O apóstolo continua
a responder a perguntas que os cristãos de Corinto enviaram a ele.
Os coríntios buscam viver uma vida meritória e, por isso, querem
esclarecimentos relacionados com diversos aspectos da vida.
No capítulo 77,1-40, Paulo responde a perguntas a respeito
da condição social dos coríntios. No texto lido hoje, o apóstolo
segue explicando por que a virgindade é melhor. Esta é preferível

90
PNE - QV) - CVV nº 23
porque o casamento, segundo ele, tende a absorver as energias da
pessoa. Paulo quer livrar os cristãos das preocupações terrenas
para que possam servir mais facilmente ao Senhor. Este é um
desejo de Paulo e não um preceito.
O apóstolo procura evitar que alguém dê ênfase demasiada
a suas palavras, alerta que o que recomenda é para o próprio bem
dos coríntios; não é armação de cilada, e sim indicação do que
é melhor (v. 35).

3. Atualizando a Palavra
À relação entre o Evangelho e a primeira leitura realça o
caráter profético da vida de Jesus. O profeta é uma pessoa de
Deus, que fala e faz o que Deus quer na perspectiva. A revelação
da autoridade divina é o centro da liturgia de hoje. Jesus confronta
e vence os poderes do mal. O povo que ouviu e viu o que Jesus
fez constata que ele ensina com autoridade; mesmo espantadas,
com dúvidas que ainda permanecem, as pessoas espalham a fama
de Jesus por toda parte.
O Evangelho começa, então, a mostrar sinais do Reino de
Deus acontecendo. Faz-nos lembrar a resposta de Jesus aos discí-
pulos de João Batista quando foram perguntar a Jesus se era ele o
“messias” ou deviam esperar outro. Jesus responde: “Ide informar
a João sobre o que ouvis e vedes: cegos recobram a visão, coxos
caminham, leprosos são purificados, surdos ouvem, mortos res-
suscitam, pobres recebem a Boa Notícia [...]”. Na verdade é Reino
acontecendo, é o tempo se cumprindo. Jesus expulsa o demônio
e liberta o homem do mal que o acorrentava. Daquele momento
em diante o homem podia andar por sua própria conta. Agora
ele voltou a ser gente. Agindo assim, Jesus se colocou na linha
de Moisés e dos grandes líderes do povo de Deus que, chamados
por Deus entre os irmãos, libertaram o povo da escravidão, da
fome, das doenças, enfim de tudo o que escravizava.

91
PNE - QV) - CVVY nº 23
Os mestres da Lei agiam de uma forma diferente daquela ado-
tada por Jesus. A “Lei” é utilizada para escravizar e não libertar.
A nossa sociedade vive, muitas vezes, submetida à lei que
escraviza, que mata. Um ditado popular diz que “a corda sempre
arrebenta do lado mais fraco”. Isso para mostrar que muitas “leis”
existentes não estão a serviço dos mais pobres e desfavorecidos.
Nós, cristãos, seguidores de Jesus, devemos estar compro-
metidos em todo tipo de luta para vencer tudo aquilo que divide
e oprime o ser humano. A Palavra de Deus nos faz renovar a
nossa vocação profética: anunciar, denunciar e, mais que tudo,
ser sinal do Reino no nosso mundo.

4. Ligação com a ação eucarística


A antífona de entrada invoca a salvação que vem de Deus
e pede que o Senhor reúna os seus filhos dispersos pelo mundo,
para que possam celebrar o seu santo nome. O salmo responsorial
é também um grande convite para exultar de alegria no Senhor
e aclamar o rochedo que nos salva. Um belo convite para o en-
contro com o Senhor que merece nossa prostração e reverência,
pois Ele é nosso Pastor.
O pastor dá a vida. Jesus disse que é o Bom Pastor. De fato
na liturgia da Palavra Ele revela o Reino, anunciando e oferecendo
a vida ao oprimido. Há uma grande riqueza nos prefácios do Tempo
Comum nesse sentido. Vamos citar o IV: “Na verdade, é justo e
necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em
todo o lugar, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo poderoso, por
Cristo, Senhor nosso. Nascendo na condição humana, renovou intei-
ramente a humanidade. Sofrendo a paixão, apagou nossos pecados.
Ressurgindo glorioso da morte, trouxe-nos a vida eterna. Subindo,
triunfante, ao céu, abriu-nos as portas da eternidade. E, enquanto
esperamos a plenitude de vosso Reino, com os anjos e santos, nós
vos aclamamos cantando [...]”. Rezamos ainda: “Ele é o caminho que

92
PNE - QV) - CVV nº 23
conduz para vós, a verdade que nos liberta e a vida que nos enche
de alegria” (Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias TID.
Na celebração eucarística, Jesus Cristo se entrega a nós na Palavra
e na Eucaristia. “Ele que sempre se mostrou cheio de misericórdia
pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se
ao lado dos perseguidos e marginalizados” (Oração Eucarística para
Diversas Circunstâncias IV), se oferece por nós todos.

O compromisso precisa ser assumido por nós que pedimos


a Deus a capacidade de “amar todas as pessoas com verdadeira
caridade” (oração do dia) e o progresso na verdadeira fé (oração
depois da comunhão).

5. Sugestões para a celebração


e Acor usada é o verde.
* Noinício da celebração o animador ou animadora pode
fazer uma monição, introduzindo a comunidade no
mistério que será celebrado.
e (Oscantos e músicas devem expressar o sentido de cada do-
mingo. Para isso temos o Hinário Litúrgico 3, da CNBB:
Ó Senhor, salva teus filhos!, p. 120; Não fecheis o coração
(S1 95), pp. 152-153; Aleluia! Um grande profeta surgiu,
p. 222; Eu sei quem tu és, ó Jesus Nazareno, p. 263.
e Na recordação da vida, logo no início da celebração, ou
antes da oração do dia, podemos lembrar as pessoas doentes
ou que passam por qualquer tipo de sofrimento.
e Podem ser realizadas a bênção e a aspersão com água,
que expressam a alegria e dão tonalidade pascal ao dia
(veja no domingo anterior).
e Preparar-se para a escuta atenta da Palavra do Senhor,
cantando um refrão meditativo: Shemá, Israel, Adonai
elohenu, Adonai ehad! (bis) Shemá, Israel, Adonai

93
PNE - QV) - CVVY nº 23
elohenu, Adonai ehad! Shemá, Israel, Adonai elohenu,
Adonai ehad! Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, um
é o Senhor! Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, um é
o Senhor! Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, um é
o Senhor! (Ofício Divino das Comunidades, p. 428).
O prefácio pode ser o do Tempo Comum (à escolha) ou
uma das louvações do Tempo Comum que se encontram
nas páginas 71 a 75 do Hinário Litúrgico 3, da CNBB.
Bênção final do Tempo Comum V do Missal Romano.
As palavras do rito do envio podem estar em consonância
com o mistério celebrado: Jesus ensina com autoridade e
liberta as pessoas de todo tipo de mal. Ide em paz e propa-
gai a todos esta Boa Notícia e o Senhor vos acompanhe.
Amanhã, dia 30, recordamos Gandhi, profeta da paz
e da não-violência. No dia 31 é memória de são João
Bosco, servidor dos jovens, e Dia Mundial dos Hanse-
nianos. Dia 2 de fevereiro é festa da Apresentação do
Senhor. Recordamos também neste dia Nossa Senhora
da Apresentação, Candeias, Candelária, Luz, Belém. No
dia 3 de fevereiro é memória de são Brás. Em muitos
lugares há o costume de benzer a garganta.

94
PNE - QV) - CVV nº 23
5º Domingo do Tempo Comum
5 de fevereiro de 2006

Leituras: Jó 7,1-4.6-7;
Salmo Responsorial 146(147),1-2.3-4.5-6;
ICoríntios 9,16-19.22-23; Marcos 1,29-39

Curou muitas pessoas


de diversas doenças

1. Situando-nos brevemente
Neste domingo acompanhamos Jesus em sua trajetória
em Cafarnaum. No início de sua missão, Jesus se depara com os
sofrimentos das pessoas: os doentes, os possuídos pelo demônio.
Jesus, cheio de compaixão pelos necessitados, os liberta do mal
que os aflige. Ele também busca a intimidade com o Pai, através
da oração. Jesus não tem descanso, reza, trabalha incansavel-
mente, pois foi para “isso que Ele veio” (cf. 1,38).
Hoje, somos convidados a encarar o sofrimento de uma
forma esperançosa, na certeza de que o Senhor não nos abandona,
pois Ele quer a vida de todos.

2. Recordando a Palavra
Na Palavra do evangelho de Marcos, lida hoje, o autor
continua a narrar a ação de Jesus em Cafarnaum e, em seguida,

95
PNE - QV) - CVV nº 23
na Galiléia. O evangelista conta os fatos através de pequenas
manchetes: a cura da sogra de Pedro, a cura de diversos doentes,
o momento de intimidade de Jesus com o Pai e uma pequena
síntese da atividade de Jesus na Galiléia.
Marcos vai ligando os fatos com indicações cronológicas:
“Jesus saiu da sinagoga (de manhã) e foi [...)” (v. 29); “à tarde, de-
pois do pôr-do-sol, levaram a Jesus [...]” (v. 32); “De madrugada,
quando ainda estava escuro, Simão se levantou [...]” (v. 35).

Passamos agora a verificar as pequenas manchetes que Marcos


nos dá: Nos versículos 29 a 31, Marcos fala da cura da sogra de Pe-
dro. Vale lembrar que o texto de hoje é continuação da leitura de
domingo passado, que relatava a expulsão de um demônio realizada
por Jesus. Estamos agora diante do segundo sinal feito por Jesus. É
mais um sinal de que o Reino de Deus está acontecendo. No primeiro
sinal, Jesus curou com uma palavra (cf. 1,25); aqui, Ele cura com um
toque (1,31). Seu toque salva tanto quanto sua palavra. É uma cura
imediata, pois logo após a cura, a sogra de Pedro se coloca a serviço.
É interessante notar que essa cura tem ligação com Pedro, chefe dos
apóstolos (a cura aconteceu em sua casa).

Prosseguindo a narração, nos versículos 32 a 34, o evan-


gelista continua a falar sobre o trabalho de Jesus. Já é tarde, mas
Ele não se cansa. Toda a cidade vai atrás dele e levam consigo
pessoas doentes e endemoninhadas. O encontro com Jesus acon-
tece em frente a uma casa. Jesus cura diversas pessoas e expulsa
muitos demônios. Ele, o profeta que tem autoridade, “consola o
seu povo e toma sobre si suas enfermidades”.
Jesus impedia que os demônios falassem. Faz lembrar o
“cala-te” do versículo 25 e muitos outros textos do evangelho de
Marcos que acentuam o “segredo messiânico”, tais como 1,44;
3,12; 5,43; 7,36; 8,26; 8,30; 9,9. Para o evangelista, os cristãos
precisam reconhecer e aceitar a verdadeira identidade de Jesus
no contexto de toda sua vida e missão. Segundo Marcos, a re-

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PNE - QV] - CVV nº 23
velação, por excelência, do messianismo de Jesus se dá na cruz.
Os cristãos estão livres para proclamar Jesus como seu Messias
e Senhor somente quando aceitam o caminho da messianidade
sofredora, com suas obras milagrosas.
Nos versículos 35 a 39, Marcos continua a falar sobre a
missão de Jesus. É ainda bem cedo e Jesus retira-se para um lu-
gar deserto a fim de rezar sozinho. O deserto evoca o lugar onde
Deus encontrou seu povo e vice-versa. É o lugar da aliança e da
salvação. O gesto de rezar no deserto ou num lugar isolado contra-
põe-se ao costume rabínico e farisaico de rezar publicamente.
Mesmo quando Jesus se retira para rezar, as pessoas o procu-
ram. Marcos conta que Simão e os outros discípulos vão ao encontro
de Jesus e dizem a Ele que todos o procuram. Certamente Jesus é
procurado por causa de seus poderes milagrosos. Até os discípulos
se confundem, pois ainda não estão compreendendo muito bem o
caminho de Jesus. Ele, porém, não entra na deles e coloca a sua mis-
são acima de tudo: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza!
Devo pregar também ali, pois foi para isso que vim” (v. 38) e sem
que ninguém o impedisse foi para a Galiléia continuar sua missão.
O livro de Jó (primeira leitura) apresenta uma característica
fundamental do ser humano: a capacidade de perceber a injustiça
e lutar contra ela.
Há uma grande incerteza em relação à época em que o livro
de Jó foi escrito. Alguns datam no ano 587 a.C., outros, em 538
a.C.; não se sabe ao certo. Independentemente da data em que
foi escrito, o texto possui qualidade universal.
No antigo Israel existiam três tipos de lideranças: a lei do sa-
cerdote, a palavra do profeta e o conselho do sábio. O livro de Jó foi
escrito com uma linguagem sapiencial. No pensamento sapiencial a
sabedoria depende da experiência e fala a partir dela. A pessoa que
possui um modo de vida reto e sábio com certeza terá a recompensa de
uma vida mais plena, em especial a descendência e a prosperidade.

97
PNE - QV] - CVV nº 23
Além dos temas sapienciais, o livro de Jó contém uma
linguagem de lamento. Diante da morte e desalentos, a pessoa
reage através do lamento, buscando saídas.
O texto lido na liturgia de hoje é uma queixa amarga de
Jó. Ele vive uma ausência de paz. A desgraça toma conta de sua
vida e ele, que já conheceu a felicidade, busca incansavelmente
a causa de sua desventura. Ciente de sua inocência, Jó não se
conforma com sua desgraça e busca a resposta em Deus, mas
no Deus verdadeiro. O “lembra-te” de Jó remete à experiência
bíblica de pedir a Deus que permaneça fiel à sua aliança.
Na segunda leitura, continuamos a ler a Primeira Carta aos
Coríntios. Nos capítulos 9 e 10 da carta, Paulo redige princípios
para os cristãos com base na vocação apostólica e no exemplo
de Israel, relatado na Escritura.

Os versículos lidos hoje fazem parte de um conjunto maior


(9,1-27), onde o autor faz algumas reflexões sobre a condição
de apóstolo, sugerindo que sua vida sirva de modelo para os
cristãos de Corinto.
Em Corinto alguns achavam que Paulo não tinha os mes-
mos direitos dos outros apóstolos, considerando-o “inferior” (cf.
2Cor 12,11).
No início do capítulo 9, Paulo introduz duas questões que
desenvolverá no decorrer do capítulo: seus direitos como apóstolo
(vv. 1-18) e sua liberdade (vv. 19-27). O apostolado que Paulo
exerce lhe oferece direitos (v. 17), mas ele renuncia a tais direi-
tos por causa do Evangelho. Paulo não se sente ameaçado por
ninguém quando diz: “Ai de mim se eu não pregar o Evangelho”
(v. 16); pelo contrário, esse apelo e convicção é um impulso inte-
rior do próprio apóstolo. Ele exerce seu apostolado na liberdade
e no amor, fazendo-se servidor de todos para “ganhar” a todos.
Paulo faz tudo por causa do Evangelho.

98
PNE - QV) - CVV nº 23
3. Atualizando a Palavra
Poderíamos perguntar para a assembléia celebrante: Quem
nunca teve um sofrimento na vida? Infelizmente, nos noticiários
predominam os sofrimentos. As manchetes, na maioria das vezes,
são desgraças: atentados, guerras, desastres naturais, crimes,
roubos, tráfico de drogas, rebeliões em Febem e presídios, fome,
doenças. Podemos nos perguntar: Por que tudo isso? Geralmente
queremos encontrar culpados. Muitas vezes, temos a tentação de
culpar Deus. Então nos perguntamos: Por que o Senhor permite
tal coisa? Se percorrermos a Bíblia, constataremos um Deus
que o tempo todo quer salvar o seu povo escolhido. No Novo
Testamento, temos uma grande resposta de Deus ao sofrimento
humano que é a pessoa do seu próprio Filho, Jesus Cristo. Jesus
passou a vida inteira trabalhando para que o mal que ameaçava as
pessoas pudesse ser extinto. Ele foi compassivo diante de toda a
espécie de sofrimento. São inúmeras as ações de Jesus em defesa
da vida e contra o mal. No mundo novo, instaurado por Ele, toda
lágrima deverá ser enxugada e os homens e as mulheres não terão
de defrontar-se com a realidade da morte.
Poderíamos perguntar ainda: Qual é a resposta de Deus ao
sofrimento na história de Jesus”? A linguagem usada é a da cruz.
Esta é a grande resposta de Deus. A grande doação da vida de
Jesus se deu no alto de uma cruz. À paixão e morte de Cristo são
símbolos da vida, por mais paradoxal que essa expressão possa
ser. À cruz e a morte não representam o fim, mas o começo de uma
nova vida. Com a entrega de Jesus, resolveu-se definitivamente
para nós o problema do sofrimento e da morte. Portanto, viver
os dramas, as dores, enfim, o sofrimento humano pode significar
para o cristão, como foi para o Cristo, o mistério da vida.

Os sofredores e sofredoras do nosso mundo esperam de nós


atitudes coerentes com a Boa-Nova de Jesus. Sejamos cristãos de
verdade. Sermos seguidores e seguidoras de Cristo até as últimas
consegiiências, para isso Ele nos chama.

99
PNE - QV] - CVV nº 23
4. Ligação com a ação eucarística
Na eucaristia celebramos “a Páscoa de Cristo na páscoa
da gente e a páscoa da gente na Páscoa de Cristo”. Através da
Palavra, das orações, das ações simbólicas experimentamos o
mistério da Páscoa em nossa vida. Ao anunciarmos a morte de
Cristo, proclamarmos a sua ressurreição e esperarmos confiantes
a sua segunda vinda, professamos a nossa fé na vida. A última
palavra não é a morte: “Compadecendo-se da fraqueza humana,
ele nasceu da Virgem Maria. Morrendo no lenho da cruz, ele nos
libertou da morte. Ressuscitando dos mortos, ele nos garantiu a
vida eterna” (Prefácio do Tempo Comum ID).
O pão e o vinho contêm um grande valor simbólico de
morte e vida. Passam por um processo de morte para chegar à
vida, isto desde a semeadura até a colheita. Esses dons, frutos da
terra e do trabalho do homem e da mulher, “tornam-se para nós
sacramento da vida eterna” (oração sobre as oferendas).
À participação neste mistério faz de nós pessoas e comu-
nidades pascais: “Ó Deus, vós quisestes que participássemos do
mesmo pão e do mesmo cálice; fazei-nos viver de tal modo unidos
em Cristo, que tenhamos a alegria de produzir muitos frutos para
a salvação do mundo” (oração depois da comunhão). E que a
palavra do apóstolo Paulo ressoe em nós: “Ai de mim se eu não
pregar o Evangelho” (1Cor 9,16) e que tenhamos a coragem de
confortar os corações despedaçados e enfaixar as feridas e curá-las;
ser presença na vida dos humildes (cf. Sl 147[146)).

5. Sugestões para a celebração


e Acor usada é o verde.
e No início da celebração, o animador ou animadora
pode fazer uma monição, introduzindo a comunidade
no mistério que será celebrado.

100
PNE - QV) - CVV nº 23
e Os cantos e músicas devem expressar o sentido de
cada domingo. Para isso, temos o Hinário Litúrgico 3,
da CNBB: Vão entrando de joelhos!, p. 120; Louvai a
Deus, porque ele é bom, Sl 147(146), pp. 152-153; Ale-
luia! Ó Senhor; tuas palavras, p. 222; Levavam a Jesus
as pessoas doentes, pp. 263-264; Quando o Espírito de
Deus soprou, p. 367.
* Na recordação da vida, logo no início da celebração, ou
antes da oração do dia, podemos lembrar as pessoas doen-
tes ou os que passam por qualquer tipo de sofrimento.
* Preparar-se para a escuta atenta da Palavra do Senhor,
cantando um refrão meditativo: Shemá, Israel, Adonai
elohenu, Adonai ehad! (bis) Shemá, Israel, Adonai
elohenu, Adonai ehad! Shemá, Israel, Adonai elohenu,
Adonai ehad! Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, um
é o Senhor! Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, um
é o Senhor! Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, um
é o Senhor! (Ofício Divino das Comunidades, p. 428),
ou outro apropriado.
e Pode ser feita a oração de bênção pela saúde:
Terminada a homilia, toma-se um vaso com algum tipo de
óleo medicinal, preparado em lugar visível.
Irmãos e irmãs, vamos bendizer a Deus por este óleo e pela
cura que Deus pode realizar em nós através dele.
Quem preside reza:
Deus, nosso criador, entregaste à humanidade todas as ár-
vores, com suas folhas e raízes, com seus frutos e sementes,
para o sustento de nossas vidas e para a cura de nossos
males. Pela força deste óleo, que unge nossos corpos, tu
nos curas de nossas enfermidades com a amorosa energia
do teu Espírito e nos fortaleces no gosto de viver e servir.

101
PNE - QV]- CVV nº 23
Por Jesus, o divino samaritano, vem ao encontro de nossas
fraquezas, reanima quem está caído, consola quem está
triste, tira da solidão quem está sozinho. Isto te pedimos
em nome dele, Jesus nosso Senhor. Amém.

Os(as) ministros(as) dos enfermos se colocam em pontos


diferentes da Igreja, e as pessoas que desejarem se aproxi-
mam para a unção. A unção pode ser na fronte, nas mãos.
Enquanto unge, o(a) presidente da celebração reza:
Por esta santa unção, o Espírito de Deus venha em socorro
de tuas fraquezas, alivie todo sofrimento que te aflige, cure
a tua enfermidade e dê o consolo do seu perdão e a sua
paz, agora e sempre. Amém.
Depois da oração pode cantar: Eu vim para que todos
tenham vida...
e O prefácio pode ser cantado. Veja uma das louvações
do Tempo Comum que se encontram nas páginas 71 a
75 do Hinário Litúrgico 3, da CNBB.
e À oração eucarística pode ser a “IV para diversas cir-
cunstâncias”.
* Bênção final do Tempo Comum IV do Missal Romano.
e As palavras do rito do envio podem estar em consonân-
cia com o mistério celebrado: Jesus passou entre nós
fazendo o bem. Ide em paz e lutai sempre pela defesa
da vida e que o Senhor vos acompanhe.
e Amanhã, dia 6 de fevereiro, recordamos Paulo Miki,
mártir e catequista, e seus companheiros. Dia 7 recor-
damos Sepé Tiaraju, cacique guarani do Sul do Brasil.
No dia 8 recordamos Josefina Bakita, escrava sudanesa,
servidora do Senhor. Dia 10 é memória de santa Esco-
lástica, discípula do Senhor e irmã de são Bento. Dia
11 é o Dia Mundial do Enfermo.

102
PNE - QV) - CVV nº 23
6º Domingo do Tempo Comum
|2 de fevereiro de 2006

Leituras: Levítico 13,1-2.44-46;


Salmo Responsorial 31(32),1-2.5.11; ICoríntios 10,3 1-1L,I;
Marcos 1,40-45

A lepra desapareceu
e o homem ficou curado

1. Situando-nos brevemente
Neste 6º Domingo do Tempo Comum prosseguimos nosso
caminho com Jesus no evangelho de Marcos. Jesus continua sua
missão. Mais uma vez, vemos Jesus cheio de compaixão didiante
do) sofrimento humano: A compaixão é para com um homem que
sofria de uma doença na época de Jesus chamada lepra, hoje de-
nominada hanseníase. O Antigo Testamento considerava o doente
de lepra | impuro e separava-o da sociedade. A doença provoca
impureza legal; a cura precisa ser testemunhada oficialmente para
depois acontecer a reintegração na sociedade (Lv 14,2-32).
Hoje a hanseníase, doença infecciosa, de evolução crônica
(muito longa), causada pelo Mycobacterium leprae, microorga-
nismo que acomete principalmente a pele e os nervos das extre-
midades do corpo, apesar de ter um passado de discriminação
e isolamento dos doentes, é uma doença que pode ser tratada e
curada, não sendo necessário o isolamento do doente.

103
PNE - QV) - CVY nº 23
Infelizmente ainda permanecem muitos preconceitos con-
tra pessoas com determinadas doenças, como, por exemplo, as
portadoras do HIV,
Poderíamos chamar este domingo de o domingo da com-
paixão. Jesus, certo de que o “tempo já se completou”, continua
revelando o Reino de Deus a todos.

2. Recordando a Palavra
Continuamos a leitura do primeiro capítulo do evangelho de
Marcos, agora já nos seus últimos versículos (vv. 40-45). Depois
do dia de Cafarnaum, marcado por várias ações de Jesus, Marcos
narra uma cena admirável, cheia de contrastes marcantes: a cura
de um leproso. O leproso chega perto de Jesus e, ajoelhado, pede
a cura para a sua doença: “Se queres, tens o poder de curar-me”.
Jesus, cheio de compaixão, o cura. À confiança do leproso, excluído
de seu povo, é retribuída pela compaixão de Jesus e pelo poder de
seu toque e de suappalavra. O doente deposita tamanha confiança
em Jesus, que chega a transgredir a Lei mosaica (cf, Lv 13). Por
outro lado, Jesus também transgride a Lei, pois toca o doente.
Após a cura, Jesus pede ao homem que não espalhe a notícia e
o encaminha ao sacerdote. Segundo a Lei, somente a palavra do
sacerdote permitia ao renegado a reintegração na sociedade.
Marcos gosta de salientar o “segredo messiânico”, pois
Jesus não é Messias conforme os conceitos humanos. O homem
curado, em vez de atender à ordem de Jesus, conta a todos: “Ele
começou a contar e a divulgar muito o fato” (v. 43). Por isso,
Jesus não podia mais entrar publicamente nas cidades e perma-
necia em lugares desertos.
Marcos vai, aos poucos, conduzindo seus leitores a um
conhecimento mais profundo de Jesus. O evangelista pede a
confiança em Jesus. Aos poucos, ele vai mostrando quem é Jesus
e como ser discípulo dele.

104
PNE - QV) - CVV nº 23
À primeira leitura é tirada do livro do Levítico. Esse livro
é um dos cinco volumes do Pentateuco. O autor expõe os ensi-
namentos e orientações da Torá.

O povo de Deus foi chamado à santidade: “Sede santos, pois


eu, o Senhor, sou santo”. À santidade inclui o mistério de Deus e a
resposta da pessoa humana a ele. Santidade para o autor significa
integridade. Antes que a pessoa experimente a santidade deve ser
“pura”. Os capítulos 11 a 16 relatam como é estabelecida a condi-
ção da pureza. As doenças de pele de que o capítulo 13 trata eram
diagnosticadas pelos sacerdotes. Entre essas doenças estava a lepra.
O autor do livro não fala da preocupação com a cura de tal doença.
São traçadas normas de higiene com a preocupação fundamental
de preservar a comunidade. A lepra, como outras doenças, era con-
tagiosa e a assembléia cultual podia ser lugar de contágio. Embora
reconhecendo o caráter higiênico das prescrições expostas nos
capítulos 13 e 14, fica difícil compreendê-las, por causa do caráter
excludente de tal lei. Sendo a lepra a mais grave forma de impureza
ritual, o doente era afastado da comunidade. Na avaliação da doença,
o aspecto religioso era mais importante do que o aspecto médico-
sanitário. O leproso era uma espécie de excomungado, sem acesso
a Deus. Uma vez diagnosticada a doença, o leproso deveria andar
esfarrapado e despenteado, com a barba coberta e gritando: “Impuro,
impuro” e viver fora do acampamento (cf. vv. 45-46). O leproso
passa, então, a sofrer “marginalização religioso-social”. Torna-se,
então, símbolo da maior marginalização possível.
O texto da Primeira Carta aos Coríntios, lido na segunda
leitura da liturgia de hoje, se insere num contexto maior, no qual
Paulo dá instruções a respeito das carnes sacrificadas aos ídolos.
Não é possível fazer parte do corpo de Cristo e ser comensal
dos ídolos. Paulo instrui os coríntios para que se aplique o que é
essencial para um cristão em qualquer ambiente. Segundo Paulo,
tudo é lícito, mas nem tudo convém. É preciso discernir. À glória
de Deus deve ser o critério da conduta.

105
PNE - QV) - CVV nº 23
Entre os judeus, os pagãos e a Igreja de Deus, Paulo se
apresenta como modelo: “Fazei como eu [...]. Sede meus imita-
dores como eu o sou de Cristo” (11,1).

3. Atualizando a Palavra
A Palavra de Deus, dirigida a nós hoje, nos coloca diante da
radical novidade que a presença e a atuação de Jesus significam.
Ão iniciar sua missão, Jesus se depara com uma sociedade que
exclui pessoas do seu convívio, tais como os doentes, os pobres e
pessoas consideradas “impuras”. A prática do “reino do mundo”
é contrária à proposta da instauração do Reino de Deus. O projeto
de Deus possui outra lógica. O “reino do mundo” é marcado pela
miséria física, pela marginalização e degradação das pessoas e,
por que não dizer, de “tudo o que vive e respira”.
Se olharmos para o nosso mundo hoje, quanta desgraça
por causa da busca desenfreada por dinheiro, poder, riquezas...
Notícias de corrupção, de chacinas que atingem pobres que vivem
nas ruas e em favelas.
Jesus não se conforma com a desgraça humana. Mesmo
agindo contra a própria “lei”, Ele assume a atitude profética de
resgatar a vida das pessoas. Trazê-las de volta ao convívio social.
A opção de Jesus é pela inclusão. É sinal do Reino de Deus acon-
tecendo. Pois os milagres em si não são o Reino já realizado, e
sim sinais dele. São antecipação da verdadeira realidade que ainda
está para chegar. O Reino de Deus exige uma “conversão radical”.
Lembremos a palavra de Jesus, lida no 3º Domingo: “O tempo já
se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e
crede no Evangelho” (Mc 1,15). Quem procura viver de acordo
com as exigências do Reino já começa a experimentá-lo aqui.
Vivemos num mundo onde certamente há muitos sinais do
Reino acontecendo, mas ainda há muito a fazer.

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PNE - QV) - CVV nº 23
Pode acontecer que entendamos o Reino apenas como reso-
lução das necessidades humanas. O Reino é mais do que isso. À
semente está plantada e é preciso cultivá-la. O Evangelho hoje nos
ensina atitudes necessárias para fazer a nossa parte neste grande
projeto: ter compaixão e, às vezes, até indignação. Compaixão que
nos faz agir diante da miséria humana. Jesus se comoveu diante
do leproso. A compaixão e a indignação de Jesus resultaram na
cura do doente. Se olharmos o nosso mundo com o olhar de Jesus,
certamente teremos muita indignação diante de tanta miséria e dor.
O contraste social é gritante. É preciso ter a coragem de transgredir
leis que oprimem e ser capaz de “estender a mão e dizer eu quero”
e vou participar efetivamente do projeto divino de salvação.
O Evangelho ainda nos ensina a atitude de ir ao encontro da vida:
“Um leproso chegou perto de Jesus e, de joelhos, pediu: “Se queres, tens
o poder de curar-me””. O leproso foi capaz de desafiar Jesus. Abraão,
Moisés, Ester e tantos homens e mulheres interpelaram Deus e foram
atendidos. Devemos aprender também a ter esperança e paciência diante
da realidade que nos cerca. Não é comodismo ou inércia, e sim ação
crente de que a vida é mais forte que a morte.

4. Ligação com a ação eucarística


“Sede o rochedo que me abriga, a casa bem defendida que
me salva. Sois minha fortaleza e minha rocha; para honra do vosso
nome vós me alimentais” (antífona de entrada). Nós, pessoas
crentes na Palavra do Senhor, somos introduzidos na celebração
litúrgica com a certeza de que Deus não nos abandona. É só
confiar. O homem sofredor e excluído que aparece no evangelho
também confia fielmente em Jesus, tanto que até se arrisca e faz
o que a Lei não permite: aproxima-se de Jesus.
Deus tem por nós grande compaixão. O salmo responsorial
canta a grande felicidade da pessoa que foi perdoada. Ela não é
mais vista como culpada. Deus ouviu a sua confissão. Este Deus é

107
PNE - QV) - CVV nº 23
capaz de deixar noventa e nove ovelhas para 1r atrás de uma única
que se desgarrou. Ele prometeu permanecer nos corações sinceros
e retos. Precisamos, no entanto, obter d'Ele a graça de viver de
maneira digna de sua presença em nós (cf. oração do dia).
A celebração hoje nos faz experimentar a grande compaixão
de Deus que na pessoa de Jesus, seu Filho amado, se oferece como
alimento na Palavra e no pão. É grande, ó Pai, a vossa miseri-
córdia. Vós nos amastes de modo admirável, pois vosso Filho
— o Justo e Santo — entregou-se em nossas mãos, aceitando ser
pregado na cruz. Pelo sangue derramado na cruz, Ele reconciliou
todas as coisas (Oração Eucarística sobre a Reconciliação 1).
Experimentamos ainda sua compaixão na pessoa do irmão
e da irmã que em profunda comunhão suplica o perdão do Senhor
e reza incessantemente para que “venha o Reino”. Queremos
viver em tempo de graça e reconciliação. Deus nos chama à
felicidade completa.

5. Sugestões para a celebração


e Acor usada é o verde.
e No início da celebração, o animador ou animadora
pode fazer uma monição, introduzindo a comunidade
no mistério que será celebrado.
* (Oscantos e músicas devem expressar o sentido de cada
domingo. Para isso, temos o Hinário Litúrgico 3, da
CNBB: Sé a rocha que me abriga!, p. 121; Sois, Senhor;
para mim alegria e refúgio!, pp. 152-153; Aleluia! Os
sãos não precisam de médico, p. 222; Senhor, se tu
queres, tu podes curar!, pp. 263-264.
* À saudação inicial pode ser com estas palavras: A graça e
a compaixão de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor infinito
do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.

108
PNE - QV]- CVV nº 23
e Na recordação da vida, logo no Início da celebração, ou
antes da oração do dia, podemos lembrar as pessoas que
sofrem qualquer tipo de exclusão ou de discriminação.
e Rito de bênção da água e aspersão, substituindo o ato
penitencial:
Ó Deus, bendito sejas pela água que fecunda a terra e dá
vida a toda tua criação. Ela não apenas refaz as nossas
Jforças, mas é sinal de que nos renovas interiormente em tua
aliança. Por esta água, venha sobre nós o teu Espírito, para
fazer de nós criaturas novas, agora e sempre. Amém!
À assembléia é aspergida, enquanto canta um hino apropriado:
Banhados em Cristo, somos w'anova criatura. As coisas antigas já
se passaram, somos nascidos de novo. Aleluia! Aleluia! Aleluia!
* Se preparar para a escuta atenta da Palavra do Senhor,
cantando um refrão meditativo: Tua Palavra é lâmpada
para os meus pés, Senhor. Lâmpada para os meus pés
e luz, luz para o meu caminho. Lâmpada para os meus
pés e luz, luz para o meu caminho.
* Pode ser feita a oração de bênção pela saúde, como no
domingo passado:
Terminada a homilia, toma-se um vaso com algum tipo de
óleo medicinal, preparado em lugar visível.
Irmãos e irmãs, vamos bendizer a Deus por este óleo e pela
cura que Deus pode realizar em nós através dele.
Quem preside reza:
Deus, nosso criador, entregaste à humanidade todas as ár-
vores, com suas folhas e raízes, com seus frutos e sementes,
para o sustento de nossas vidas e para a cura de nossos
males. Pela força deste óleo, que unge nossos corpos, tu

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PNE - QV) - CVV nº 23
nos curas de nossas enfermidades com a amorosa energia
do teu Espírito e nos fortaleces no gosto de viver e servim.
Por Jesus, o divino samaritano, vem ao encontro de nossas
fraquezas, reanima quem está caído, consola quem está
triste, tira da solidão quem está sozinho. Isto te pedimos
em nome dele, Jesus nosso Senhor. Amém.
Os(as) ministros(as) dos enfermos se colocam em pontos
diferentes da Igreja, e as pessoas que desejarem se aproxi-
mam para a unção. À unção pode ser na fronte, nas mãos.
Enquanto unge, o(a) presidente da celebração reza:
Por esta santa unção, o Espírito de Deus venha em socorro
de tuas fraquezas, alivie todo sofrimento que te aflige, cure
a tua enfermidade e dê o consolo do seu perdão e a sua
paz, agora e sempre. Amém.
Depois da oração pode cantar: Eu vim para que todos
tenham vida....
* Qu, o rito de imposição das mãos:
O(a) coordenador(a) convida todos os agentes da saúde a
se colocarem em diferentes pontos da igreja, e as pessoas
que desejarem se aproximam para que estes imponham as
mãos e rezem:
O Senhor tenha compaixão de ti! Que ele te livre de todas
as preocupações, alivie o teu sofrimento, te dê saúde e paz
de espírito. Amém.
* O prefácio pode ser cantado. Veja uma das louvações
do Tempo Comum que se encontram nas páginas 71 a
75 do Hinário Litúrgico 3, da CNBB.
* À oração eucarística pode ser sobre a Reconciliação I.
* Bênção final do Tempo Comum IV do Missal Romano.

10
PNE - QV]- CVV nº 23
* As palavras do rito do envio podem estar em consonân-
cia com o mistério celebrado:
Sede compassivos e misericordiosos. Ide em paz e que o
Senhor vos acompanhe.
e O dia 14 de fevereiro é memória de Cirilo, monge, e
de Metódio, bispo, que foram missionários na Polônia
e Morávia; neste dia, comemora-se também o Dia da
Amizade. No dia 15 recordamos Camilo Torres, pres-
bítero colombiano.

111
PNE - QV) - CVV nº 23
7º Domingo do Tempo Comum
19 de fevereiro de 2006

Leituras: Isaías 43,18-19.21-22.24b-25;


Salmo Responsorial 40(41),2-3.4-5.13-14;
2Coríntios 1,18-22; Marcos 2,1-12

Meu filho, os teus pecados


estão perdoados

1. Situando-nos brevemente
Este é o domingo da cura do paralítico. É o domingo do amor,
da misericórdia infinita de Deus Pai que se revela na pessoa de Jesus.
Ele tem poder de perdoar pecados, de curar os doentes e de salvar.
Certamente, ao apresentar a cura do paralítico e o ensinamento
sobre o poder de Jesus de perdoar pecados, logo no início do drama
de seu evangelho, Marcos mostra que as comunidades dos cristãos
do primeiro século necessitavam constantemente da experiência do
perdão. Perdão este que dá dignidade e o direito da comunhão com
Deus a todas as pessoas que fazem esta experiência.
Celebrando, nós também recebemos o perdão de nossos pe-
cados e a cura de todo tipo de paralisia que nos aflige. Celebramos
a certeza de que o nosso Deus escolhe os paralíticos, os pecadores
e é capaz de perdoar, libertar e salvar. A cura atinge não somente
as consequências dos males, mas também as suas causas.

112
PNE- QV) - CVVY nº 23
2. Recordando a Palavra
O evangelho de hoje faz parte de um bloco de cinco epi-
sódios (cf. 2,1-3,6). Neles, Jesus enfrenta representantes autori-
zados do judaísmo, ou seja, fariseus e letrados. O enfrentamento
se dá em situações diversificadas: cura de um paralítico, um
banquete na casa de Levi, jejum, a colheita de espigas no sábado,
a cura do homem que tinha a mão atrofiada. São episódios que
demonstram o agravamento do conflito entre Jesus e as autori-
dades. Tudo vai levando à decisão de eliminar Jesus.
À Palavra de hoje narra a cura de um paralítico em Cafar-
naum. Jesus volta para esse local. Uma vez espalhada a notícia
de que ele se encontrava na cidade, as pessoas foram atrás dele.
Era tanta gente que não havia lugar nem mesmo diante da porta
(v. 2). Marcos relata que Jesus anuncia a Palavra ao povo (v. 2).
Marcos conta que, muitas vezes, Jesus pregava e ensinava (cf.
Mc 1,39;2,2.13; 6,2.6b; 6,34; 10,1; 11,17; 12,35). O evangelista
não conta o conteúdo do ensinamento de Jesus, e sim acentua
que Jesus ensinava com poder (cf. 1,22.27). Certamente ele quer
demonstrar que o ensinamento de Jesus tem força e repercute
fortemente em seus ouvintes, porque Ele fala com autoridade.
Para Marcos, interessa o fato de que em Jesus de Nazaré, no
Seu ensinamento, na sua pessoa e no Seu poder, Deus mesmo
irrompeu no mundo; ou seja, em Jesus, Deus salva.
Enquanto Jesus anunciava a Palavra ao povo, um grupo de
quatro homens, animados pela fé, levava um paralítico até Ele.
Não tendo como introduzir o paralítico no lugar onde Jesus estava,
eles fizeram um buraco no telhado, desceram a cama em que o
paralítico estava deitado para que o doente pudesse ficar perto de
Jesus e assim este último pudesse vê-lo e curá-lo (vv. 3-4). Jesus
não resiste a tanta fé daqueles homens e responde a esse ato de
fé não curando imediatamente o paralítico, mas desencadeando
o primeiro de uma série de diálogos polêmicos com os escribas e
fariseus, seus espectadores. A partir da palavra de Jesus ao paralítico:

113
PNE - QV) - CVVY nº 23
“Filho, teus pecados estão perdoados” (v. 5), inicia-se um diálogo
polêmico com os escribas e fariseus. No Antigo Testamento, só
Deus pode perdoar pecados; e esperava-se que Ele fizesse isso só
no fim dos tempos. Isso “explica” a reação dos mestres da Lei:
“Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando” (v.
7). Jesus reivindica para si o poder de perdoar pecados, com isso,
revela sua identidade como Filho de Deus. Jesus utiliza o poder
para perdoar e não para julgar e condenar. E Jesus prova que tem
poder de perdoar pecados, ordenando ao homem que à vista de
todos se levante e vá para casa (cf. vv. 8-11). Existe uma perfeita
correspondência entre as palavras de Jesus e a resposta do paralíti-
co: Jesus ordenou: “Levanta-te, pega a tua cama e vai para tua casa”
(v. ll) e o paralítico dá a resposta: “Se levantou, e, carregando a
sua cama, saiu diante de todos” (v. 12). O povo, admirado, louva
a Deus que se manifesta através do perdão e da cura. O povo vive,
então, um período de graça e de misericórdia.
A primeira leitura é tirada do capítulo 43 do livro do
profeta Isaías. O livro do profeta Isaías se divide em: Primeiro
Isaías (caps. 1-39), Segundo Isaías (caps. 40-55) e Terceiro
Isaías (caps. 56-66).
A palavra do profeta, lida na primeira leitura, faz parte
do Segundo Isaías (40-55). Muitos denominam esse pequeno
livro de “Livro da Consolação”. Provavelmente o “pequeno
livro” é obra de um único autor. Pode ser dividido em duas
partes: os capítulos 40-48 tratam especialmente da libertação
da Babilônia; os capítulos 49-55 tratam da restauração de Sião.
Para nos situarmos historicamente, lembramos que em 586 a.C.
Jerusalém foi destruída pelos babilônios. Degolaram os filhos do
rei Sedecias diante de seus olhos e depois vazaram-lhe os olhos
e o conduziram, acorrentado, à Babilônia com os chefes de seu
povo. Dizimaram o povo judeu e humilharam os sobreviventes.
Em 539 a.C., um fio de esperança aponta no meio da desgraça. O
rei persa Ciro conquistou a Babilônia. Ele autorizou os exilados

114
PNE - QV) - CVV nº 23
judeus a voltarem para casa. O profeta, motivado pela possibi-
lidade de volta à pátria, à terra e ao direito de reconstrução do
templo, anima o povo. Seus oráculos foram escritos para celebrar
a libertação e tentar reformular a fé em Israel. Provavelmente os
oráculos foram escritos ainda na Babilônia.
Para compreender melhor os versículos de hoje, é bom co-
meçar a ler desde o v. 14. O profeta fala da libertação dos judeus da
Babilônia como um novo Êxodo. A libertação não é um fato passado,
pois está acontecendo agora na vida do povo. O Segundo Isaías indi-
ca o caminho, recordando o Êxodo e não o atualiza na vida presente
do povo. O Senhor agirá agora, como agiu no passado: “Eis que eu
farei coisas novas, e que já está surgindo [...]; abrirei uma estrada
no deserto e farei correr rios em terra seca [...]” (v. 19).

A partir deste domingo iniciaremos a leitura da Segunda


Carta aos Coríntios (segunda leitura). Nessa carta transparecem
claramente o testemunho pessoal do apóstolo, como também
suas reações diante das desconfianças e acusações. Paulo mostra
preocupação para com a comunidade de Corinto, pela qual tem
profundo amor.
Nos capítulos 1 a 7, a carta fala da crise entre Paulo e os
coríntios. Desde o versículo 12, Paulo faz sua autodefesa após
acusações dos coríntios. Paulo muda os planos em relação à co-
munidade de Corinto. Em vez de visitá-los, como estava previsto,
escreveu-lhes uma carta. Os coríntios não gostam da mudança e se
queixam. Ele invoca sua consciência e Deus como testemunhas da
verdade do que fala. As acusações a respeito do apóstolo abalaram
a confiança dos coríntios em Paulo. Em seu ensinamento, Paulo
transmitiu a mensagem correta. Silvano e Timóteo são testemu-
nhas de que Paulo fala a verdade. Eles anunciaram Jesus como o
Filho de Deus que cumpriu fielmente a Palavra de Deus. Jesus é
o “sim” do Pai. A fé dos coríntios deve basear-se nessa pregação:
“Em Jesus Cristo as promessas de Deus têm o seu sim garantido”
(v. 20). Os coríntios e Paulo expressam por Jesus o seu “amém”

115
PNE - QVJ- CVY nº 23
a Deus. O dom recebido gratuitamente de Deus — o Espírito faz
com que o falar e o agir do apóstolo seja “sim”. E Ele que nos dá
a certeza da verdade que nos foi dada por Deus.

3. Atualizando a Palavra
A Palavra de Deus, dirigida a nós neste domingo, nos
coloca em relação com o amor infinito de Deus. Apesar de o
profeta Isaías falar sobre um certo “cansaço” de Deus diante
da indiferença e do pecado do povo, transparece no texto um
Deus compassivo, capaz de 1r ao encontro do pecador. À queixa
de Deus é feita porque o povo O esqueceu. Deus cobra de seu
povo fidelidade, porque ele é capaz de manter sua promessa até
as últimas conseqiiências. Ele faz coisas novas. É capaz de abrir
estrada no deserto e fazer correr rios em terra seca.
O amor infinito de Deus se manifesta vivamente na pessoa
de Jesus, o “sim” do Pai. Nele, de fato, se cumprem as promessas de
Deus. No Evangelho, Jesus cura o paralítico. O Deus de Jesus é
um Deus que não castiga, mas que acolhe a pessoa. Jesus perdoa
os pecados em nome de Deus. Através do perdão, Jesus resgata
a vida da pessoa. Ele perdoa, ele cura.
As promessas de Deus são de vida. O salmista reza: O
Senhor vai guardar o fraco e o pobre e salvar sua vida, torná-lo
feliz. Não vai abandoná-lo em seu leito de dor, e sim vai guardá-
lo são e salvo (cf. Sl 41).

Jesus age com misericórdia mesmo sabendo que suas atitu-


des vão causar conflitos com “líderes” legalistas. Cada vez mais
vamos percebendo quem verdadeiramente é Jesus. Ele é aquele
que de fato veio para que todos tenham vida, mesmo que isso
coloque em risco a sua própria vida.
Temos muito a aprender da Palavra de Deus hoje. Os ho-
mens levaram o paralítico até Jesus. Encontraram barreiras, mas

116
PNE - QV) - CVV nº 23
acharam uma saída. O paralítico acreditou na palavra de Jesus e
lhe obedeceu. Também aprendemos com o apóstolo Paulo, que,
mesmo diante de controvérsias, permanece firme em sua missão.
Misericórdia, compaixão, bondade... são atitudes que o Senhor
nos pede. Saibamos dar o nosso “sim” a Deus.
Estamos diante das promessas e feitos em favor da vida.
Promessas de salvação eterna e também que já começam aqui e
agora. Também nós somos chamados a fazer o bem e a ser instru-
mentos do milagre do amor. Podemos ser sinais de luz e de vida.
Que o Espírito nos guie e nos mantenha firmes neste caminho.

4. Ligação com a ação eucarística


Na celebração eucarística experimentamos o amor infinito
de Deus por nós. Ao chegarmos ao ambiente celebrativo, somos
acolhidos num espaço preparado com muito carinho por pessoas
que com amor cuidam da limpeza, da beleza do ambiente. Na
fraternidade nos acolhemos como irmãos e irmãs que reunidos
proclamam a confiança na misericórdia do Senhor e com o co-
ração exultante canta as maravilhas de suas ações de bondade
(cf. antífona de entrada).
A compaixão de Deus em uma celebração passa também pela
atitude de quem preside ou exerce qualquer ministério. Também
os cantos, os gestos e as ações simbólicas manifestam o amor
infinito de Deus por nós. O sinal maior da bondade de Deus é a
entrega de seu Filho amado. O próprio Jesus se dá a nós: “Isto é
meu corpo, isto é meu sangue que é dado por vós”. O prefácio do
Tempo Comum VII reza: “Na verdade, é justo e necessário, é nosso
dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, Senhor,
Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso. De tal modo amastes o
mundo, que nos enviastes, como Redentor, vosso próprio Filho,
em tudo semelhante a nós, exceto no pecado. Amando-o até o fim,
amastes nele nossa humilde condição. E ele, na obediência até à

117
PNE - QV] - CVY nº 23
morte, restaurou o que nossa desobediência fizera perder [...]”.
Rezamos ainda: “Peregrinos neste mundo, não só recebemos,
todos os dias, as provas de vosso amor de Pai, mas também
possuímos, já agora, a garantia da vida futura” (Prefácio Tempo
Comum, VI).

À nossa celebração torna-se uma confissão de fé naquele


que cumpriu sua palavra e ao qual elevamos nossa oração de ação
de graças e louvor. E, como conseqgiiência, as nossas ações devem
ser de acordo com o que confessamos e celebramos.

5. Sugestões para a celebração


A cor usada é o verde.

No início da celebração o animador ou animadora pode


fazer uma monição, introduzindo a comunidade no
mistério que será celebrado.
Enquanto as pessoas vão chegando, canta-se:
Onde reina o amor, fraterno amor. Onde reina o amor,
Deus aí está.
Os cantos e músicas devem expressar o sentido de cada
domingo. Para isso, temos o Hinário Litúrgico 3, da
CNBB: Confiei em teu amor, p. 121; Curai-me, Senhor,
pois pequei! S141(40), pp. 152-153; Aleluia! À tua Pa-
lavra é verdade!, p. 222; Louvavam a Deus, por ver tais
maravilhas, pp. 263-264; Feliz o homem que da culpa
é absolvido! S1 32(31), p. 355.
A saudação inicial pode ser com estas palavras:
A graça e a compaixão de nosso Senhor Jesus Cristo,
o amor infinito do Pai e a comunhão do Espírito Santo
estejam convosco.

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PNE - QV] - CVV nº 23
* Preparar-se para a escuta atenta da Palavra do Senhor,
cantando um refrão meditativo:
A Palavra de Deus é luz, que nos guia na escuridão, e
fermento de paz, de justiça e perdão.
* O prefácio pode ser cantado. Veja uma das louvações
do Tempo Comum que se encontram nas páginas 71 a
75 do Hinário Litúrgico 3, da CNBB.
* À oração eucarística pode ser sobre a Reconciliação I.
* Bênção final do Tempo Comum 1 do Missal Romano.
* As palavras do rito do envio podem estar em consonân-
cia com o mistério celebrado:
Sede compassivos e misericordiosos. Ide em paz e que o
Senhor vos acompanhe.
e Dia 22, na festa da Cátedra de Pedro, lembramos o mi-
nistério de Pedro. Dia 23, memória de são Policarpo,
bispo e mártir.

119
PNE - QV) - CVY nº 23
8º Domingo do Tempo Comum
26 de fevereiro de 2006

Leituras: Oséias 2,16b.17b.21-22;


Salmo Responsorial 102(103),1-2.3-4.8.10.12-13;
2Coríntios 3,1b-6; Marcos 2,18-22

Enquanto o esposo está com eles


não podem jejuar

1. Situando-nos brevemente
As leituras deste 8º Domingo nos convidam à retomada. O
nosso Deus é um Deus de amor. O salmista canta com o coração
agradecido ao Deus que perdoa toda a culpa; que cura as enfermi-
dades; que é indulgente e favorável; que resgata a vida da sepultura;
que é cheio de carinho e compaixão; que não nos trata de acordo
com nossas faltas; que sendo Pai se compadece de seus filhos e é
compassivo com os que o temem. Esse é o Deus de Israel, o Deus de
Oséias, o Deus de Jesus Cristo, o Deus de Paulo, é o nosso Deus.

À liturgia nos convida a dar um passo a mais: manter uma


relação esponsal com esse Deus que é capaz de dobrar-se até ao
chão para salvar. O texto de Oséias fala de um novo modo de rela-
cionamento entre Deus e o ser humano, assumido por outros profetas
posteriores (cf. Jr 2,1-3; 2,32; 3,1-20; Ez 16; 23) e que foi adotado no
Novo Testamento pelo próprio Cristo (cf. Mc 2,19-20) e, mais tarde,
pela mística cristã. Essa relação leva a pessoa a uma identificação
com o Outro e a viver conforme o “querer” do Outro.

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2. Recordando a Palavra
Os versículos do evangelho de Marcos, propostos para
este 8º Domingo, dividem-se em duas partes: uma controvérsia
sobre o jejum (vv. 18-20) e, logo após, o evangelista narra duas
pequenas parábolas (vv. 21-22).
Na discussão sobre o jejum aparecem três grupos que exis-
tiam no judaísmo da Palestina do primeiro século: os discípulos
de João Batista, os fariseus e os discípulos de Jesus.
O jejum era tradicionalmente praticado por lei ou por devoção
como expressão de arrependimento, humildade ou luto (Zc 77,3-5).
Os discípulos de Jesus não jejuam e isso causa espanto e surpresa
aos que praticavam jejum. Estes últimos querem explicação para tal
prática: “Por que os discípulos dos fariseus jejuam e os teus discípulos
não jejuam?” (v. 18). Jesus responde com outra pergunta: “Podem
os convidados jejuar enquanto está com eles o esposo?” (v. 19). Os
discípulos de Jesus não praticam jejum, pois estão em plena tempo-
rada messiânica. Jesus é o Messias esposo, e seus discípulos gozam
no momento de sua presença festiva. Lembremos que no início do
Evangelho, quando Jesus começa sua vida pública, anuncia que o
tempo já se cumpriu e o Reino de Deus está próximo (cf. Mc 1,15).
Quando o esposo for tirado, os convidados jejuarão até ele
voltar em sua glória (cf. v. 20).
Podemos nos perguntar: Qual a relação entre as duas peque-
nas parábolas (vv. 21-22) e o texto anterior (vv. 18-20)? Os textos
se relacionam na medida em que o casamento inaugura uma vida
nova. É vinho novo que não pode ser perdido. A mensagem de
Jesus não é um remendo. O verdadeiro seguidor de Jesus não jejua
por razões erradas. Quando jejua é para aumentar a expectativa
da alegria plena do banquete celeste de que um dia participará.
Na primeira leitura temos um belo texto de Oséias. O pro-
feta Oséias exerceu sua atividade no Reino do Norte, durante o

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PNE - QV] - CVY nº 23
reinado de Jeroboão II (cf. 2Rs 14,23-29). Ele é conhecido como
o profeta do amor divino, amor sempre disposto a reconquistar a
pessoa amada, custe o que custar. Mas diante da traição, a justiça
é feita e pode chegar até à destruição do povo (13,8).
À experiência do matrimônio de Oséias serviu como prin-
cipal imagem para os capítulos 1 a 3. Oséias era casado com Gô-
mer, uma prostituta a serviço de um santuário cananeu (1,2s). Gômer,
depois de ter dado três filhos a Oséias (1,4-8), tornou-se infiel (cf.
3,1-3). Mesmo assim, Oséias continua a procurá-la, na esperança
de reatar seu casamento e trazê-la de volta ao lar. A experiência
matrimonial de Oséias serviu de exemplo para a compreensão da
relação de Deus com o seu povo. Oséias era o esposo fiel e Gômer,
a esposa infiel. Na aplicação deste cenário a Israel, os infiéis eram
os chefes religiosos e civis (cf. 4,4-11; 5,1-3).
Na imagem matrimonial, para ilustrar a relação de Deus
com seu povo, Deus é sempre apresentado como o esposo e o
povo de Israel, como a esposa. Deus é quem toma a iniciativa,
escolhendo Israel, e estabelecendo com ele uma aliança de amor.
Deus cumula seu povo de bens, dando-lhe beleza, riquezas, sus-
tento e prosperidade. Deus faz inúmeras tentativas para recon-
quistar seu povo: “Eu a conduzirei levando-a a solidão, onde lhe
falarei ao coração”. Algumas traduções usam o termo “eu vou
seduzi-la”. É o jeito de Deus atrair Israel para laços afetuosos de
aliança. O deserto é o lugar do primeiro encontro de amor entre
Deus e o seu povo (cf. 9,10; 11,1-4; 13,4-6). É o lugar da aliança.
Ali Israel confiava em Deus e o seguia fielmente. A decadência
veio depois, quando o povo deixou-se contaminar pelo culto
idolátrico. Oséias considera o deserto como o lugar propício para
Israel voltar ao primeiro amor. Amor este que marcou a vida de Israel.
Ali no deserto Deus “lhe falará ao coração” (v. 16).
No casamento de Deus com Israel, o Senhor oferece à sua
esposa a justiça, a misericórdia. Deus promete a fidelidade e Israel
conhecerá o Senhor. Uma nova vida se inicia.

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Na segunda leitura continuamos a ler a segunda carta aos
Coríntios. Paulo continua a defesa de seu ministério da nova
aliança (3,1-18). Ele diz que não tem nenhuma pretensão a não
ser pregar o Evangelho. A autoridade e a motivação de Paulo são
dadas por Deus. Ele é apóstolo daquele que o enviou.
Era costume que os mensageiros apresentassem cartas de
recomendação, evitando a atuação de falsos profetas. Paulo não
aceita tal exigência, pois, segundo ele, os coríntios o conheciam
o suficiente e eles próprios são a “carta” escrita pelo Cristo, re-
digida por intermédio de Paulo e escrita com o Espírito de Deus,
À carta está escrita no coração dos coríntios.
Acusado de ser orgulhoso e arrogante, ele diz não se orgu-
lhar de nada, pois sua capacidade vem de Deus. O único orgulho
legítimo está no Senhor. O Senhor é que o faz capaz de exercer o
ministério de uma aliança nova. Ele é apóstolo da nova aliança,
selada em Cristo e fundamentada no Espírito que comunica a
vida, e não na letra que mata.

3. Atualizando a Palavra
Jesus é o esposo da nova aliança (cf. Mc 2,18-22). Parece
que o evangelista está mais preocupado em revelar a identidade
de Jesus do que em fazer polêmica entre Jesus e outras pessoas,
a respeito do jejum.
Os discípulos de Jesus estão vivenciando “as núpcias” da
nova aliança, portanto não podem jejuar. Jesus é o esposo e essa
novidade altera as relações entre Deus e a pessoa humana. A
questão sobre o jejum dá lugar à pessoa de Jesus, Evangelho vivo.
Ele é a realização do Reino. A comunidade primitiva só praticará
o jejum quando o noivo for tirado do meio dela (cf. v. 20).
A novidade da Boa-Nova, do Reino e de Jesus não combina
com as instituições antigas. Portanto, não há como colocar re-

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PNE - QV) - CVV nº 23
mendo novo em roupa velha (cf. v. 21) e muito menos pôr vinho
novo em odres velhos.
A novidade do Evangelho nos toca. No Reino, não há lugar
para “remendos”. A mudança é profunda. É uma radicalidade
exercida na liberdade, em clima de núpcias; mas é preciso ves-
tir O traje nupcial e caminhar em novidade de vida, sendo odre
apropriado para o vinho novo do Reino.
O Senhor nos convida para ir ao deserto. Ele quer nos fa-
lar ao coração. Hoje é dia e tempo propício para retomarmos o
caminho. Aceitemos o convite e com coragem podemos rever a
nossa relação com Deus e as nossas opções de vida.

4. Ligação com a ação eucarística


No dia em que o noivo está presente, os convidados não
jejuam. O domingo é memória da Páscoa. Recordamos a nova
aliança selada na Páscoa de Jesus. Nossa celebração é revestida
de um tom de alegria que transparece primeiramente nas pessoas,
depois no espaço, nos cantos e, sobretudo, na ação de graças e
na partilha. É o lugar da renovação da aliança. Estabelece-se um
diálogo entre os parceiros da aliança. As partes se comprometem.
Deus promete e cumpre, a nós cabe fazer a mesma coisa. Conta-
mos com a ajuda de Deus: “Fazei, ó Deus, que os acontecimentos
deste mundo decorram na paz que desejais, e vossa Igreja vos
possa servir, alegre e tranquila” (oração do dia).
Deus nos faz felizes, porque nos convida a participarmos das
núpcias do Cordeiro. Somos comensais no banquete da vida. O
noivo está conosco. Ele nos desposará para sempre e nós caminha-
remos sempre na presença do Senhor, cumprindo sua vontade.

5. Sugestões para a celebração


e À cor usada é o verde.

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PNE - QV) - CVV nº 23
* No início da celebração, o animador ou animadora
pode fazer uma monição, introduzindo a comunidade
no mistério que será celebrado.
* Enquanto as pessoas vão chegando, canta-se: Em
silêncio, abandona-te ao Senhor (Ofício Divino das
Comunidades, p. 422).
e (Os cantos e músicas devem expressar o sentido de cada do-
mingo. Para isso, temos o Hinário Litúrgico 3, da CNBB:
O Senhor é meu apoio, p. 121; O Senhor é bondoso e com-
passivo, Sl 103(102), p. 154-155; Aleluia! Deus, nosso Pai,
nesse seu imenso amor, p. 223; Em velhos barris não dá
vinho novo, p. 265; Eis que convosco estou!, pp. 381 e 396.
* À saudação inicial pode ser com estas palavras:
O Deus da esperança, que nos cumula de toda alegria
e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, esteja
convosco.
* Rito de bênção da água e aspersão, substituindo o ato
penitencial:
Ó Deus, bendito sejas pela água que fecunda a terra e dá
vida a toda tua criação. Ela não apenas refaz as nossas
forças, mas é sinal de que nos renovas interiormente em tua
aliança. Por esta água, venha sobre nós o teu Espírito, para
fazer de nós criaturas novas, agora e sempre. Amém!
A assembléia é aspergida, enquanto canta um hino apropriado:
Banhados em Cristo, somos u'a nova criatura. As coisas anti-
gas já se passaram, somos nascidos de novo. Aleluia! Aleluia!
Aleluia!,

e Preparar-se para a escuta atenta da Palavra do Senhor,


cantando um refrão meditativo: Desça como a chuva
a tua Palavra, que se espalhe como orvalho, como

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PNE - QV] - CVV nº 23
chuvisco na relva, como aguaceiro na grama. Amém!
(Ofício Divino das Comunidades, p. 429).
O prefácio pode ser cantado. Veja uma das louvações
do Tempo Comum que se encontra nas páginas 71 a 75
do Hinário Litúrgico 3, da CNBB.

À oração eucarística pode ser a IV.


Bênção final do Tempo Comum, V do Missal Romano.
As palavras do rito do envio podem estar em consonân-
cia com o mistério celebrado:
A alegria do Senhor seja a vossa força. Ide em paz e que
o Senhor vos acompanhe.
e Dia 1º de março é Quarta-feira de Cinzas, início da
Quaresma. Quando será preparada? Como garantir o
caráter de renovação da conversão batismal? Haverá
retiro quaresmal? Haverá celebrações e caminhadas
penitenciais? O tema da Campanha da Fraternidade de
2006 é “Fraternidade e pessoas com deficiência”, e o
lema, “Levanta-te, vem para o meio” (Mc 3,3). Como
a comunidade vai integrar, nos momentos celebrativos,
a Campanha da Fraternidade e a Quaresma?
Há pais pedindo batismo para seus filhos”? Poderiam ser
preparados na Quaresma a fim de celebrar o batismo no
Tempo Pascal?

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Sumário

Apresentação... cssrreseereeereenerenenaceriensenaennarea
renata acer arena renan arara rena ra cesar n eae ras eanrenaa 5

À liturgia no Tempo do Advento ............. is rreereeeeeeereereeerereeereeraerertertertos 7

Iº Domingo do Advento — 21 de novembro de 2005


Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7; Sl 79(80),22c.3b.15-16.18-19; ICor 1,3-9;
Mc 13,337 cen reeeeereerrereraeeaeecererrer ren aerea er eaeeereanea nene reneneereaceaeeeenertaereo H

2º Domingo do Advento — 4 de dezembro de 2005


Is 40,1-5.9-11; Sl 84(85),9ab-10.11-12.13-14; 2Pd 3,8-14; Mc 1,1-8 ................... 18

3º Domingo do Advento — 11 de dezembro de 2005


Is 61,1-2a.10-11; SI Lc 1,46-48.49-50.53-54; 1Ts 5,16-24; Jo 1,6-8.19-28........... 24

4º Domingo do Advento — 18 de dezembro de 2005


2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16; SI 88(89),2-3.4-5.27.29; Rm 16,25-27;
Le 1,2638 e. reeereerereraesrerteneanerartasrereererreraeracreracarerarearaesreraerasaeaaeeneçes 31

A liturgia no tempo do Natal .............. see reerreeeeererereerareerereerarecarreraeras 37

Natal do Senhor — 25 de dezembro de 2005


Is 9,1-6; SI 95(96),1-2a.2b-3.11-12.13; Tt2,11-14; Le 2,1-14 ........s 40

Solenidade da Santa Mãe de Deus — 1º de janeiro de 2006


Nm 6,22-27; 81 66(67),2-3.5.6.8; 61 4,4-7; Le 2,16-21................0 48

Epifania do Senhor — 8 de janeiro de 2006


Is 60,1-6; S171(72),1-2.7-8.10-11.12-13; Efésios 3,2-3a.5-6;
Mateus 2,1-12......... correa ceerenaaaeren aaa cera anaarea rear aaaco cana anacre rea a caraca na 58

A liturgia no Tempo Comum ........ rc eeereeereerererrrrereereneertareereare


rare rraeereenos 68

2º Domingo do Tempo Comum — 15 de janeiro de 2006


ISm 3,3b-10.19; SI 39(40),2.4ab.7-8a.8b-9.10; 1Cor 6,13c-15a.17-20;
JO 1,354... ecra ceracrrencreraceranceernaer
ancas a ano casser aaa ra a aaa a aa casca rena cera nc sn anrannadO 72
3º Domingo do Tempo Comum — 22 de janeiro de 2006
Jn 3,1-5.10; SI 24(25),4ab5ab.6-7bc.8-9; 1Cor 7,29-31; Mc 1,14-20.................... 80

4º Domingo do Tempo Comum — 29 de janeiro de 2006


Dt 18,15-20; SI 94(95),1-2.6-7.8-9; 1Cor 7,32-35; Me 1,21-28........................,., 88

5º Domingo do Tempo Comum — 5 de fevereiro de 2006


Jó 7,1-4.6-7; Sl 146(147),1-2.3-4.5-6; 1Cor 9,16-19.22-23; Mc 1,29-39............... 95

6º Domingo do Tempo Comum — 12 de fevereiro de 2006


Lv 13,1-2.44-46; S1 31(32),1-2.5.11; 1Cor 10,31-11,1; Mc 1,40-45 .................. 103

7º Domingo do Tempo Comum — 19 de fevereiro de 2006


Is 43,18-19.21-22.24b-25; S1 40(41),2-3.4-5.13-14; 2Cor 1,18-22;

8º Domingo do Tempo Comum — 26 de fevereiro de 2006


Os 2,16b.17b.21-22; SI 102(103),1-2.3-4.8.10.12-13; 2Cor 3,1b-6;
Mc 2,182... errar eeerearaceerteracaera nte arara ra eananata canta inaracratnaaa 120

Impresso na gráfica da
Pia Sociedade Filhas de São Paulo
Via Raposo Tavares, km 19,145
05577-300 - São Paulo, SP - Brasil - 2005

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