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Ruymar Abitbol de

Menezes

Simplesmente,
a família Abitbol
suas histórias e
raízes judaicas
Um dia a saudade deixa
de ser dor e sua história
será contada e guardada
para sempre no coração.
Algumas pessoas são sim
2

eternas, dentro da gente


Ruymar Abitbol
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RUYMAR ABITBOL DE MENEZES

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A minha homenagem, e a todos os que morreram no holocausto por
devoção judaica.

Li e reli, na minha adolescência, o Diário de Anne Frank encantado


com a sua filosofia humanística.

Causava-me espanto uma jovem enclausurada, com medo das


atrocidades nazistas, viver um drama com uma frieza das pessoas
conscientes e embevecidas pela vida.

Tinha namorado anônimo e isso talvez explique a sua grandeza, o


seu amor externado ao mundo com pensamentos positivos e
comovidos.

A fé judaica alimentava seu espírito, mas seu altruísmo foi maior que
o conflito. Se perdeu a vida ganhou a posteridade como a heroína e
símbolo dos mártires inesquecíveis.

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PREFÀCIO

Em pleno isolamento social proposto pelo governo e a consciência da


da pandemia, sua surge a oportunidade de resgatar um sonho
adormecido a décadas.

São devaneios que, outrora, nos fazia rir e a convencer amigos e


curiosos da veracidade das histórias imperiais e surrealistas que
cercavam o sobrenome Abitbol, sempre, referendadas pelos
familiares.

Contos folclóricos narrados com todo o respeito e requintes aos


ancestrais, cujos atos e fatos heroicos enobreciam a Família.

Alguns ouvintes incrédulos. Outros, nem tanto, mas ingenuamente


acreditavam ser crível a estória de uma realeza no Ceará, sem títulos
e nobreza.

6 Essa dubiedade, na calada das noites pensativas e ociosas, nunca


esqueci que, um dia prestaria a minha mãe Esmeralda Abitbol, a
homenagem à mulher atemporal, visionária no porvir e nos
crescimentos de seus guris.

Sua persistência inabalável no amor e o senso incrível na


religiosidade judaica foram os exemplos que herdamos como legado
maior de nosso caráter e formação cristã.

À sua memória, juntamos o sonho acalentado de tantos anos, em


uma ficção Imperial da Família Abitbol, com todos os requintes de
honra e nobreza envolvendo o passado, com cerimoniais, fatos
relevantes e intrínsecos aos acontecimentos.

Por vezes, quando estava a escrever, sorrimos juntos como se o


tempo em retrocesso proporcionasse esse encontro, sem dúvida
inesquecível. Tantas eram as peraltices como as suas
consequências.
Com o sentimento cheio de orgulho, os olhos úmidos de alegria e
confortável no prisma de uma inverossímil cumplicidade, iniciei a
narrativa e a saga dessa Família.

Para torná-la mais suscetível agreguei, as lembranças que a


memória guardava para mim da vida e, os momentos preciosos
vividos ou ouvidos, mas de uma realidade emblemática.

E, assim, fazê-la tornar factível e verdadeira essa empreitada.

É a versão da vida dos Abitbol, de eras idas e as que hoje


compartilhamos familiarmente com inúmeros e queridos amigos.

É com muito amor e prazer, que trilho o caminhar sereno e seguro


que nos devotamos, como filho, e seguir os percursos retos sem
ambiguidades de caráter e com um portfólio invejável na sociedade.

À Cláudia, meus filhos, netos, irmãos, familiares, agregados e amigos


7 e a todos que se arvoraram da nobreza indevidamente, convido-os
para entrar na memória do tempo e juntos vivermos esse sonho
espiritualmente amoroso.

Ruymar Abitbol, Duque de Codajás


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INTRODUÇÃO

Sucedemos a Família Abitbol.

Vamos deixar plantada a árvore judaica que recebemos, de raízes


profundas, agora mais arborizada e que sempre nos orgulhou, e
transferir para nossos descendentes esse legado.

Essa é a sua história contada em duas versões, a primeiro fruto da


imaginação criativa e fantasiosa dos guris familiares para satisfazer a
curiosidade daqueles que perguntavam sobre a natureza e origens
do sobrenome Abitbol.

É a ficção.

A segunda, com verdades e o compromisso de mantê-la íntegra com


a veracidade que o tempo me contemplou, em épocas bastantes
10 diferenciadas e sorrateiramente ambíguas, mas solidárias numa
promessa de amor filial.

Esse segmento real nos leva aos nossos antepassados que se


constituíram basicamente em Marrocos e no norte do Brasil, em
Manaus e Belém, com algumas passagens na Argentina e Rio de
Janeiro.

E, em outro momento autêntico, os Abitbol no Estado do Ceará


onde fecundaram duas gerações que dignificam o nome e a
longevidade da família.

São 82 anos aqui vividos e apenas a Matriarca é falecida. E, estamos


agora a homenageá-la numa prova inequívoca de que a família não a
esquece e a saudade só aumenta.

A mamãe era judia tradicional e quando chegou ao Ceará não


encontrou uma sociedade hebraica.
Em Fortaleza não tinha Sinagoga, e a colônia judaica muito pequena
inviabilizava a possibilidade prática de realizar sua vontade que
professássemos o Judaísmo pela tradição familiar

E nós os filhos, sem conhecimento ou meios outros que não fora o


caseiro, pouco sabíamos de suas simbologias e mandamentos.

Hoje cristãos, abraçamos os ensinamentos da Igreja Católica


Romana.

Resolvemos, então, incluir neste apanhado alguns fatos históricos


do Estado de Israel, sua criação, o holocausto, momentos de júbilos
e horrores, e na sua religiosidade as principais simbologias e
liturgias.

Temos um respeito profundo ao judaísmo e as suas causas e sempre


tivemos orgulho de ostentar o sobrenome hebraico. Abitbol

11 Esta produção estava sob sigilo. Como um segredo de alcovas, não


poderia ser revelado, até para não ser cobrado ou passar por uma
infundada falta de cumprimento, se não conseguisse meu intento.

Contudo a ilusão de mantê-lo em silêncio foi curta, e quebrada pelas


ausências de outros fatos e comprovações que deveriam passar pelo
crivo dos irmãos

O compromisso literário, leva-me a dizer-lhes, meus familiares, e


urge aqui relatar, não me pesou nos ombros e não me senti
responsável nesse mister, pois não era o mais importante.

Escrevi com o coração nas pontas dos dedos.

Apenas, o desejo de resgatar um pouco a nossa ascendência, e na


convivência da família, lembranças, histórias, amigos que para nós
nunca foram esquecidos e que continuam juntos conosco durante
essa trajetória. Em quaisquer circunstâncias.
E assim iniciei.

Os dedos já desgastados pelos tempos em seus movimentos,


também não me perturbavam, estavam prazerosamente cumprindo
uma obrigação sentimental.

“O que tem que ser feito, tem que ser bem feito”, já dizia minha
mãe, e esforcei-me.

Ser capaz da ficção, amar o próximo como se tudo fosse o ideal,


retratar o inenarrável dilema de humildes histórias às mais luxuosas e
ilusórias das famílias nobres e, escrever sobre a família verdadeira,
eram essas as minhas únicas expectativas.

Aos Abitbol que a tudo viram, ouviram, sofreram e desfrutaram


airosamente, no Ceará, quase um centenário de convivência familiar,
inequivocamente, unidos e honrados com o respeito que é espelhado
pela sociedade, o meu carinho.
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Estamos em paz.

Essa ousadia escrita com amor e dedicação, deixará, entre nós, uma
estória de saudades que poderemos rir, chorar ou até magoado ficar,
mas não deixará totalmente indiferente a ela.

Escritor não sou, apenas sou um filho que cumpre o prometido.


como se o fora.

Gostar ou não, faz parte do ofício que não é o meu, mas confesso,
senti-me um escritor convicto para ter a coragem de enfrentar
esse confronto, entre ele e eu.

Ai de mim, se não fora eu!!

Humildemente, conformei-me com o que sou e porque sou, mas


jamais deixarei de sonhar e perseguir um ideal.
Enquanto Deus for a nossa raiz, não existirá pedra alguma que
obstaculize a nossa significação.

PARTE i – A FAMÍLIA ABITBOL HEBRAICA

CAPÍTULO Nº 0I

METABOLIZANDO UM SONHO

Em meados de março, diante da obscuridade e das incertezas que


nos cercavam ante a pandemia da corona vírus, vi-me numa situação
delicada, enclausurado dentro do apartamento, vivia uma realidade
diferente de tudo que jamais me acontecera.

Sentia-me perplexo, preocupado, principalmente, no que tange o que


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fazer, como vencer o tempo sozinho a despeito da companhia de
minha esposa Claudia.

Paradoxalmente, na vida você vive sempre só, nos seus


questionamentos diários, nas suas dores físicas ou psicológicas, ou
nas decisões que alcancem ou não outrem, mas é você que inicia um
processo de agrupar esse isolamento.

A companhia física, não importa a quantidade, não eleva muito o seu


estado espiritual e mental.

É necessário preencher as lacunas de seu cérebro com motivação,


afazeres domésticos e profissionais enfim, a ocupação desse espaço
é que o tira da solidão e da ânsia de viver, mesmo apenas, com
aparente liberdade.

Nas imensas ilhas revoltas ou nas preconceituosas multidões


confusas, solitárias ou solidárias, a melhor saída, é a decisão
sensata a ser tomada, e é uma iniciativa pessoal, privada e inerente
a você. É a sua pessoalidade.

Procurei racionalizar o medo e ponderar com fibra a superação.

Encontrar a minha porta. Eis a questão. Estava à procura de algo a


fazer. O que inventar?

Sabia que era por um tempo longo e a idade já não me permite


deleites de ousadias ou coragem imorredouras de enfrentamento em
lutas atrozes contra essa calamidade.

Olhei para o teto da cor branca do apartamento e minha mente


estava da mesma tonalidade. Sem nenhum colorido que me
levasse a engendrar alguma coisa.

Pensei em DEUS e LHE pedi que esse duelo com a pandemia fosse
ameno e pacífico, como o mar tranquilo o é para velejar à brisa
14 agradável em sua salinidade.

A mente humana extremamente sensível a nossos anseios nos


auxilia nos momentos mais preciosos e necessários.

Lembrei-me, quando adolescente vivaz e fugaz, conversando com


a minha mãe eu lhe dizia que um dia, falaria sobre as traquinices
impostas a amigos sobre a Família Abitbol.

Relatava, a ela, que nossos ancestrais eram nobres do Império


Marroquino e viviam no luxo da Corte, e que, ainda ia escrever
essa presepada e deixá-la à posteridade.

Ela ria e eu também. Era um compromisso assumido, mas


sabidamente não me seria cobrado essa insinuação.

Interpretei essa mentalização como se fosse um chamamento,


uma palavra amiga ou mesmo um socorro a minha ansiedade
para que eu iniciasse esse trabalho.
Escrever, simplesmente sobre a Família Abitbol, suas origens. e
fatos correlatos.

Rapidamente, enfrentei o computador, sem nenhuma ideia fixa e


nem pensamentos pertinentes, menos ainda planejamento para
dar o seu início.

Raciocinei, tenho que me amparar num embasamento jurídico e


criar um estado de direito, onde tudo deve ser preconizado para
garantir o seu capcioso teor e concomitantemente o pleno exercício
de seus artigos.

As ideias vão evoluindo com parcimônia.

É necessária uma Constituição para doutrinar a ficção e associá-


la as histórias utópicas que se apresentam nesse contexto

Numa homenagem a minha mãe e a sua religião judaica, um


15 Matriarcado Hebraico e para ser condizente com as estórias de
grandeza, luxo, riqueza e feudos o escolhido foi o Império.

Emblematicamente contemplar, todos os detalhes a mim possíveis


que digam respeito o tratamento dos Cerimoniais imponentes, na
convivência com a nobreza, nos títulos, hierarquias e etiquetas, nas
liturgias judaicas, seus símbolos e liturgias tradicionais.

Propus-me, ainda, a contar fatos relevantes da extraordinária


história do Estado de Israel e sua Religião Judaica majoritária
com suas simbologias, liturgias, crenças e a sua saga marcada
predestinadamente as guerras, ao sofrimento de seu povo,
preconceituosamente, instigado a viver sob a mira das tragédias.

E assim o fiz para que não continuemos incipientes em nossas


raízes e despertar em nós, um povo heroico e uma religião
padecida que, conhecemos apenas na visão oblíqua de sua
natureza.
Agora, vocês são convidados a voltar ao passado comungando com
o Matriarcado da Família Imperial Hebraica Esmeralda Abitbol.

CAPÍTULO Nº 02

CONSTITUIÇÃO DO MATRIARCADO DA FAMÍLIA IMPERIAL


HEBRAICA ESMERALDA ABITBOL

OBJETIVO:

Reformar a antiga Constituição de 09.02.1913,


16 resgatando e estimulando a tradição e a honorabilidade da Família
Imperial Abitbol e os seus valores morais, religiosos, éticos, sociais e
humanitários.

Art. 1º - Todo o poder emana da Família e em seu nome será


exercido.

Art. 2º- A presente Constituição regerá, doravante, os destinos da


Família Imperial Abitbol, remanescente de Marrocos Espanhol,
para os residentes no Estado do Ceará.

IMPÉRIO:

Art.3º - O Império tem a sua área limitada ao Castelo Imperial dos


Abitbol, a Rua Almeida Prado, nº 1045 – Bairro do Cocó, em
Fortaleza, Ceará e seu Campus de Verão à frente deste, denominado
Praça, no mesmo sítio e feudos em Guaramiranga e Prainha,
Aquiraz.

NOBREZA:

Art. 4º - Todos os nominados Abitbol por descendência da


imperatriz Esmeralda Medina Abitbol, em 1º, 2º e 3º graus e seus
cônjuges.

RELIGIÃO

Art. 5º - a Religião Oficial é o Judaísmo.

REGIME POLÍTICO:

Art. 5º - Império Parlamentarista Matriarcal.


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PODERES:

Art. 6º - A Imperatriz, exercerá as funções de Chefe de Estado e


do Poder Moderador.

1º - CHEFE DE ESTADO:

I – como Chefe de Estado, é o administrador do


Poder Executivo, e constituirá o Conselho da Família Imperial, com
a prerrogativa de indicar o seu Presidente.

II -O Conselho será composto pelos descendentes


naturais em 1º e 2º graus da Imperatriz Matriarca.
III – o Conselho reunir-se-á em caráter Ordinário, com
os descendentes do 1º grau e em Sessão Extraordinária, acrescida
em seu número com os naturais de 2º grau.

IV – As Sessões Ordinárias decidirão todas as rotinas


necessárias para o perfeito seguimento administrativo do Império.

V – Às Sessões Extraordinárias realizar-se-ão,


somente, em caso de vacância do cargo da imperatriz e situações
cujas conjunções deverão receber o arbítrio de um colegiado mais
representativo.

2º - PODER MODERADOR:

I - O Poder Moderador, também exercido pela


Imperatriz, dá-lhe o direito de destituir o Presidente do Conselho da
18 Família Imperial, a qualquer momento, bem como, indicar ou
convocar novas eleições para o preenchimento do cargo vago.

VACÂNCIA DO TRONO

Art. 7º - A vacatura do cargo de Imperatriz será preenchida em


votação secreta do Conselho, em Sessão Extraordinária, por
maioria mínima de votos de dois terços, em sessão plenária composta
dos descendentes natos dos 1º e 2º graus.

1º - o Conselho da Família Imperial, em caráter


provisório, exercerá os Poderes de Chefe de Estado e de
Moderador e indicará o seu Presidente.

2º - o Presidente do Conselho convocará uma


Sessão Plenária Extraordinária para deliberar sobre a sucessão
imediata da Imperatriz e otimizar a rotina dos atos de posse e
entronização.
3º - A sucessora da Imperatriz deverá ser indicada,
em escala de descendência feminina do 1º grau, sendo a
designada a primeira a figurar na hierarquia familiar.

4º - Serão obedecidos os ritos tradicionais, em toda


sua plenitude, para a posse e coroação da Imperatriz.

HIERARQUIA FAMILIAR

Art. 8º - O Título de Imperatriz, “in memoriam”, será conferida de


maneira irrevogável e perpétua a Matriarca da Família Esmeralda
Medina Abitbol.

Art. 9º - Os descendentes da Família ABITBOL ficam autorizados a


usar os brasões da nobreza imperial bem como todos seus títulos
honoríficos.

1º - aos seus membros serão concedidos, em graus


19 de hierarquia à Imperatriz Matriarcal, os Títulos pertinentes da
Nobreza da Família.

2º - Os outorgados da nobreza são:

I - Natural de 1° grau, os filhos Ruy, Rubem, Ruth,


Ruymar e Rucimar.

II - Natural de 2ºgrau, os netos Elisabeth, Ruy Filho,


David, Rubem Jr, Eurico, Daniel, Ticiane, Tatiana, Yuri, Rafael,
Marcelo, Rachel, Thirza e Fanny,

III - natural de 3° grau, os bisnetos Yago, (os filhos do


David), Clarissa, José Lucas, Emanuel, Maria Clara, Davi, Lara,
André, Victor, Lucas Arthur e Maria Claudia. (FALTAM ALGUNS)

IV - Aos Cônjuges, em quaisquer graus, também


serão concedidos os Títulos de seus pares.
TÍTULOS DE NOBREZA

Art. 10º – Serão agraciados com os Títulos de Nobreza:

1º - Duque (sa) os descendentes naturais em 1° grau.

2º - Marquês(sa) os descendentes naturais em 2º grau

3º - Conde(sa) os descendentes naturais em 3° grau.

Art. 11º - Aos correspondentes Títulos de Nobreza serão


acrescentados, por escolha do outorgado, o nome de sua Cidade
natal ou local representativo de seus feudos ou o lugar que lhe
mereça uma homenagem de preferência intimamente ligado a Pátria
Mãe, o Estado de Israel ou a Matriarca do Império.

1º – Deverão ser observados os tratamentos sociais


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personalizados de forma a inserir o prenome Dom para os
Cavalheiros e Dona para as damas e aos seus cônjuges os seus
respectivos títulos.

HONRARIAS:

Art. 12º - Simbologia, Comendas, Medalhas e outros Títulos


Imperiais poderão ser conferidos aos membros da Família ou, a
outros, por atos de expressões humanitárias, culturais, desportivas,
bravuras e que tenham grandes afinidades com a Família Imperial.

Art. 13º - A Estrela de Davi, Símbolo Máximo do Judaísmo,


significa o escudo supremo do seu povo e como tal deve ser
usada por todos os descendentes da Família Abitbol.
1º - cabe ao Conselho da Família Imperial outorgar
a cada descendente natural, em todos os graus, o Símbolo da
Estrela de Davi por ocasião de seu Batismo.

2º - aos ainda não batizados, o Conselho Imperial


marcará data para proceder o Batismo, em Cerimônia coletiva.

Art.14º - As Medalhas serão cunhadas com a efígie de uma figura


ilustre e reconhecida como benemérita da humanidade, de origem
judaica, que agregou notáveis valores religiosos, científicos,
filosóficos, políticos ou humanitários ao mundo.

- Messias, o Salvador Prometido.

- Apóstolo Jesus Cristo.


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- Theodor Hertz, escritor e Pai do Sionismo.

- David Ben Gurion, Primeiro Ministro.

- Émile Zola, Escritor e Ativista Sionista

- Golda Meier, Primeira Ministra de Israel.

- Moshe Dayan, Herói da guerra dos Seis Dias.

- Hain Weizmann, 1º Presidente de Israel

- Albert Einstein, Físico.

- Sigmund Freud, Pai da Psicologia.

- Oskar Schindler, Industrial e herói do Holocausto.

- Karl Marx, Filósofo e Sociólogo

- Euclides Osvaldo de Sousa Aranha.


PERSONALIDADE:

Art. 15º - O brasileiro Euclides Osvaldo de Sousa Aranha, pelos


notáveis trabalhos desenvolvidos durante a Presidência da ONU, para
a aprovação da Resolução UNGA 181, de 14.05.1948, que partilhou a
Palestina e concedeu a Israel o estabelecimento de um Estado
milenarmente esperado:

1º - considerando, ainda, a eterna gratidão e reconhecido


apoio a causa do povo Judaico e Sionista de Israel, externado em
várias homenagens circunscritas ao Estado, ser-lhe-á concedida à
exceção de nominar uma medalha com a sua efígie.

2º - As Medalhas dos Patronos dos homenageados,


22 devidamente denominadas pelo Conselho, serão acompanhadas dos
respectivos Diplomas e poderão receber a quaisquer um dos nomes
abaixo:

HONRARIAS E RECONHECIMENTO

Art. 16º - Além dos descendentes naturais são ainda passíveis de


recepção de honras ou privilégios os plebeus agregados e
amigos:

1º - AGREGADOS são os cônjuges não nominados


Abitbol que, por proposição dos descendentes naturais do 1º grau
em sua unanimidade, poderão grafar Abitbol aos seus respectivos
nomes, o galardão máximo do Império.
2º – São eles Ivan Régis de Arruda Frota, Haroldo de Morais
Rolim, Paulo Filho, Ohara Yumi, Francisco Jório Bezerra Martins e
Roberto Cisne Júnior.

3º - AMIGO(A) é aquele que já mantendo relações de


reconhecida amizade e benquerença à Família poderá ser agraciado
com o título honorífico de “Nobre Amigo da Família Imperial
Abitbol”.

Art. 17º - O Conselho da Família Imperial receberá a propositura


disposta no Art.18º, item 1º, 2º e 3º, de um membro descendente em
1º grau ou, em conjunto com outros, embasada com justificativas
plausíveis.

1º - o Conselho nomeará os relatores dos processos para


expor suas análises e apreciação do Colegiado.

2º - marcará a data da Sessão Extraordinária para avaliar as


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relatorias e deliberar sobre sua aprovação ou não.

III – deferidas, far-se-ão ciências aos homenageados


certificando-os, com cópia da Ata da Sessão, e a data para a
recepção e homenagens.

Art. 18º - Os atos administrativos decorrentes das reuniões do


Conselho, constam em Atas específicas das Sessões ordinárias ou
Extraordinárias no Livro Imperial de Registro Nobiliárquicos.

TESOURO IMPERIAL:

Art. 19º - O tesouro é composto de:

1º - peças dos mais diversos tipos de metais, pedras


preciosas, obras de artes, comendas, símbolos, medalhas e brasões
representativos da Riqueza da Família Imperial.
2º - Ativo Financeiro em moedas de ouro e de
mercado, estão guardados no Banco do Brasil, em caixa forte com
senhas criptografadas em segurança máxima e custodiadas pelo
Banco Mundial de Seguros.

3º - Poucas joias, como coroas, brincos, colares,


tiaras, anéis, broches todas resgatadas do Antigo Império da Família
Abitbol, em Marrocos Espanhol, encontram-se em confiança no atual
Castelo Imperial, bem como algumas insígnias da nobreza.

ETIQUETAS:

Art. 20º - Na sociedade imperial há dê-se cumprir em toda a essência


da nobreza um conjunto de ritos sociais, em harmonia com a
hierarquia e congêneres.

24 1º - Esses preceitos deverão ser observados levando-se em


consideração os aspectos sociais que lhes se apresentam, podendo
ser Formais ou Casuais.,

Art. 21º- As convenções Formais são aquelas que a nobreza da


Família Abitbol, em Cerimonias Oficiais do Império, reúne-se para
atividades honoríficas ou comemorativas de fatos relevantes da Coroa

1º - os atos formais exponenciais são os que se referem à


Imperatriz, devendo ser cumpridos rigidamente o que preceitua:

I - O Cônjuge ao acompanhá-la deverá guardar a


distância mínima de 1(hum) metro de distância atrás de sua Alteza.

II - Os nobres deverão reverenciá-la com a curvatura do


tronco para baixo, e ato contínuo tirando sua cartola no mesmo
sentido e colocando o braço esquerdo para as suas costas.
III - beijarão as mãos da imperatriz em sinal de respeito e
subserviência.

IV - Os membros do império em ambientes de


solenidades, de quaisquer naturezas, deverão darem-se as mãos em
cumprimentos amigáveis.

V - Nos eventos sociais de Gala serão exigidas


vestimentas a rigor como fraques, smokers, ou Fardamentos Militares
com suas principais condecorações postadas ao lado esquerdo
superior da Indumentária.

Art. 22º - As condições Casuais são os encontros fortuitos que se


dão no dia a dia, no Castelo Imperial ou em qualquer local se
caracterizando, sempre, pela imprevisibilidade do ocorrido.

1º – os atos casuais acontecerão com os membros


da família, sem a presença da Imperatriz, manifestando-se pela
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informalidade.

I – Ao depararem-se os membros familiares deverão


inclinar a cabeça respeitosamente em saudação.

II - Ao tratar-se de familiares mais íntimos poderão dar-


se as mãos em cordial saudação.

Art. 23º – As Etiquetas Imperiais são matérias obrigatórias no


Currículo escolar da nobreza.

1º - as aulas de etiquetas conterão em seu conteúdo


todos os aspectos relacionados a burguesia imperial.

2º - serão objetos de estudos, dentre outros, os manejos


de talheres, copos, taças e indumentárias.

3º - compete a família a obrigação de acompanhar,


incentivar e aconselhar a sua disciplina e manipulação
EVENTOS:

Art. 24º - o Conselho do Império, mediante o Chefe do Cerimonial e


assessores são obrigados a promover festas, reuniões sociais,
culturais, serões, saraus, sessões de vídeos ou cinemas para
homenagear, cultuar, ou confraternizar com a sociedade imperial.

1º - Essas festividades dar-se-ão, principalmente, por


ocasião de fatos históricos da Nobreza, datas efemérides ou do
Calendário Gregoriano tidas como relevantes para o Império e
congraçamento de sua comunidade.

SOLENIDADES:

Art. 25º - As Festas de Gala, são as solenidades comemorativas


ligadas a Coroa Imperial e deverão ser efetuadas no Salão Nobre
26 Imperial, na parte superior do Castelo chamada de Boate.

ENCONTROS COLOQUIAIS:

Art. 26º - As Celebrações Coloquiais serão realizadas no Paço do


Castelo, em seu primeiro piso denominado Garagem.

1º - Os congraçamentos poderão, preferencialmente, convergir


para único evento quando se tratar de objetivos com perfis de
similaridades nos encontros programados.

2º- Todos os custos e ônus das festividades e reuniões


deverão ser compartilhados entre todos os participantes para
demonstrar a austeridade do Império e criar relações harmoniosas e
justas entre todos.
Art. 27º – Todos os atos administrativos e as festividades de Gala ou
as de cunho coloquial do Calendário Oficial do Império estão
registradas na Agenda Social do Castelo Imperial.

APROVAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO:

Art. 28º - A Assembleia Geral do Conselho Imperial, reunir-se-á, no


segundo sábado do mês de outubro, às 19:00 horas, no Paço do
Castelo, no Salão da Garagem, para deliberar sobre a aprovação
desta Constituição:

1º - o Conselho, em sessão Extraordinária com as


presenças dos descendentes dos 1º e 2º graus, iniciará os
27 trabalhos submetendo a apreciação e votação a Constituição, ora
apresentada, cujo teor já é do conhecimento de todos os seus
participantes.

2º - Apurados os votos a Constituição serão declarados


aprovada, se acolhida por maioria mínima de dois terços dos
participantes.

3º - negada a aprovação, as emendas constitucionais


apresentadas, serão submetidas e analisadas em segundo escrutínio,
com ele “quórum”, para a sua aceitação e inserção no seu texto.

4º - Aprovada a Constituição por todos os pares da mesa


deliberativa, será, então, encaminhada ao Senhor Secretário da
Sessão Plenária para a transcrição do texto e exarar um despacho da
sua conformidade.
À Secretaria Geral do Conselho Imperial para o despacho.

DESPACHO:

1. A presente Constituição, submetida em Sessão Plenária e


Extraordinária, ao Conselho Imperial da Família Abitbol, realizada no
Paço Imperial a Garagem do Castelo, nesta Cidade de Fortaleza (Ce),
em 24, de dezembro de 2020, resultou:

2. Na sua aprovação unânime, e entrará em vigência após a coleta


das assinaturas dos Duques signatários.

3. Atesto, à luz das bênçãos de Deus e submisso ao Juramento a sua


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Alteza Imperatriz Esmeralda Abitbol, “in memoriam”, que o teor do
texto Constitucional é verdadeiro, íntegro, sem rasuras e nada que
ofereça periculosidades aos preceitos da Corte, a religiosidade e aos
bons costumes.

Dou fé e firmo o coevo documento dentro dos princípios legais para


que seja inscrito no Livro Imperial de Registro Nobiliárquico.

Rubem Abitbol Júnior


Marquês de Mulungu
Secretário Geral do Conselho Imperial.

Ruy Abitbol Rubem Abibol


Duque da Prainha Duque do Xodó
Ruth Abitbol Ruymar Abitbol
Guaramiranga Duque Codajás

RucimarAbitbol
Duquesa de Crateús

PROCLAMAÇÃO

Os membros partícipes e signatários aprovam o Despacho desta


Constituição, cuja vigência dar-se-á após a sua proclamação.

Publicada no Diário Oficial nº 1, Seção dos Atos Administrativos da


Agenda do Castelo, e assim tornando-a pública, está Proclamado o
Estado de Direito do Matriarcado da Família Imperial Hebraica
Esmeralda Medina Abitbol, com todos os direitos, deveres e nobreza
29 que lhe foram resguardados.

CAPÍTULO Nº 03

INSTALAÇÃO E O CERIMONIAL DA CORTE IMPERIAL

Cumprido fielmente o que preceitua a Constituição no seu Art. 7º,


itens 1º, 2º, 3º e 4º e determinada a data para o seu estabelecimento,
procederemos o Protocolo Cerimonial:

1º - da outorga do Título de Imperatriz, “in Memoriam”, a


Matriarca Esmeralda Medina Abitbol, na forma do Art. 8º, da
Constituição.

2º - Concessão dos Títulos Imperiais aos descendentes da


Imperatriz, in memoriam, consoante Art. 9º, itens 1º e 2º, incisos I, II,
III e IV.
3º - Entronização e Coroação da Imperatriz conforme estatui os
art. 10º, 1º e Art. 11º, 1º

4º - Serão cumpridos, fidedignamente, todos os rituais cerimoniais


preconizados.

OUTORGA DE INSÍGNIAS: -

II – OUTORGA DE INSÍGNIAS DA NOBREZA –

- Na solenidade os nobres serão tratados, antecipadamente, como


cita a hierarquia descendente “In Memoriam” do Matriarcado, com os
Títulos que lhes serão concedidos.

- O Chefe do Cerimonial, Marquês de Oxalá Dom Eurico Jucá Abitbol


30 obedecendo o protocolo convidará hierarquicamente Sua Alteza a
Imperatriz Ruth Abitbol e seu consorte o Duque de Guaramiranga
Dom Ivan Regis de Arruda Frota, a tomarem assentos no centro da
Mesa Cerimonial.

- em seguida também chamará o Presidente do Conselho do


Império o Duque da Prainha Dom Ruy Abitbol a posicionar-se na
Mesa em lide a direita da futura Imperatriz.

- O Presidente do Conselho fará a abertura da Sessão Plenária,


falando a respeito da importância da retomada oficial do Império
Abitbol e o significado dessa data histórica para a Família,
restaurando sua nobreza e auto estima da família.

- A seguir o Chefe do Cerimonial passará a chamar de per si, os


homenageados com as honrarias dos Títulos que lhes serão
destinados, em seus graus e ordem natural de descendência.
- As Condecorações e Diplomas de Duque, Marquês e Conde
serão outorgadas aos membros naturais de 1º, 2º e 3º graus da
hierarquia imperial e aos seus cônjuges respectivamente. (Art. 9º,
itens 1º e 2º e incisos I, II e III.

– E aos Cônjuges Agregados, o Certificado Imperial que lhes darão


o direito de grafar Abitbol, “in fine”, aos seus correspondentes
nomes. (Art.16º itens 1º e 2º).

– Aos outorgados dos Títulos honoríficos de “Nobre Amigo da


Família Imperial Abitbol”, aos que foram conferidos com essa
homenagem. (Art. 16º, item 3º).

– Far-se-ão, em seguida, a entrega das Medalhas Nominadas e


Cunhadas com a efígie, e seus correspondentes Diplomas, aos
eminentes detentores de currículos reconhecidos pelo Conselho
Imperial como merecedores dessa honraria. (Art. 14º e Art. 15, itens
31 1º e 2º)

- Cabe ao Duque da Prainha, Dom Ruy Abitbol atribuir aos membros


da nobreza os Broches de honra e colocá-los na lapela dos seus
conferidos.

- O Duque do Xodó, Dom Rubem Abitbol entregará os Diplomas

- As Medalhas Nominadas Cunhadas com a Efígie serão entregues


pelo Duque de Codajás, Dom Ruymar Abitbol.

- Igualmente, a Duquesa de Crateús, Dona Rucimar Abitbol outorgará


os Certificados.

- COROAÇÃO E ENTRONIZAÇÃO

A – Ao som das cornetas que metalizam no ar um tom marcial


anunciando o início das Solenidades, pontualmente no horário
aprazado, o Presidente do Conselho Imperial, o Duque da Prainha
Dom Ruy Abitbol, abrirá a Sessão de Coroação e entronização da
Imperatriz, cumprindo todos ritos preconizados na Hierarquia Imperial.

B - Convocará à Mesa Cerimonial o Duque do Xodó Dom Rubem


Abitbol, o Duque de Codajás Dom Ruymar Abitbol, a Duquesa de
Crateús Dona Rucimar abitbol e seus cônjuges.

C - Anunciará oficialmente a sucessora da nova era da Família


Imperial, consoante o que preceitua a Constituição em seu art. 9º,
Incisos I e II.

D - Sucederá, a Imperatriz “in memoriam” Esmeralda Medina


Abitbol, a Duquesa de Guaramiranga Dona Ruth Abitbol com
todos os poderes que lhe estão conferidos pela Constituição em vigor.

E – Convocará o Arcebispo da Abadia dos Mosteiros, Dom Moisés


Westauschitz (pensei no Yuri) para proceder os rituais da
32
Cerimônia.

F – O Arcebispo da Abadia solicitará aos membros do Conselho


que se perfilem à frente da mesa, em posição lateral a essa, uns
defronte aos outros, para recepcionarem a Imperatriz

G – Esta subirá os degraus do anfiteatro do Salão Nobre da


Garagem para o solene Juramento, posicionando-se a frente dos
seus receptores, ficando frontal aos convidados.

H -Em sequência, com as mãos em cima da Torá, a Bíblia hebraica,


a sucessora do trono lerá em voz alta o Tradicional Juramento, que
lhe está sendo apresentado pelo Arcebispo da Abadia:

I - “Juro cumprir em toda a sua plenitude a Constituição do


Império da Família Abitbol, invocando a Deus os preceitos da
Torá, Justiça e devotando-me a Família e ao Povo com amor,
devoção, e fé e tudo fazer para o bem-estar de todos”
J - O Arcebispo colocará o óleo sagrado em suas mãos, peito e
cabeça e essa consagração é o que garante que a Imperatriz está
apta a cumprir a sua função de soberana.

L – Sua Alteza dirigir-se-á a Cadeira do Trono e sentada receberá do


Arcebispo Dom Moysés o Cetro de David, símbolo do poder e da
perseverança.

M– Logo após, o Arcebispo da Abadia de Westauschitz fará a


coroação da Imperatriz colocando a Coroa Matriarcal na cabeça da
Soberana.

N – A Monarca será aclamada por todos os seus súditos que entoam


“Salve a Imperatriz” enquanto as Cornetas imperiais ecoam o som
épico da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

33

CUMPRIMENTOS

O – O primeiro cumprimento será dado pelo Arcebispo do


Mosteiro que se curvará ante a Imperatriz desejando-lhe que seja
feita a vontade de Deus.

P – Igualmente, o Presidente do Conselho, demais membros e o


Duque de Guaramiranga, consorte da Imperatriz, farão as mesmas
reverências à Soberana, como todos os demais participantes da
Nobreza e Convidados.

Q – Depois dos cumprimentos oficiais o Cônjuge Duque de


Guaramiranga acompanhará a Imperatriz, guardando a distância
mínima de um metro atrás de sua Alteza e se encaminharão para o
Salão Nobre de Refeições. -
JANTAR COMEMORATIVO – BRINDE

A – O Chefe do Cerimonial Marquês de Oxalá Dom Eurico Jucá


Abitbol convidará a todos a sentarem-se à mesa de refeições, em
suas cadeiras protocolarmente registradas.

B - A Imperatriz solicitará um brinde a união de todos e que elevem


suas taças de champanhe, e incontinenti, busquem as dos demais
nobres para batê-las entre si, e ouvirem a sonoridade harmoniosa
dos cristais, repetindo esse gesto em até três vezes.

O BAILE –

- O Marquês de Oxalá anunciará a Orquestra Sinfônica do Palácio


Imperial que tocará no Baile de Comemoração, inicialmente, a
34 Valsa do Imperador, do compositor Johann Strauss, para que o
Duque de Guaramiranga solenemente convide sua Alteza imperial a
dançá-la.

B – Em dado momento, solicitará aos demais participantes do Baile


que tomem aos seus braços seus cônjuges e passem a bailar.
35
CAPÍTULO Nº 04

HISTÓRIA IMPERIAL DA FAMÍLIA ABITBOL, EM MARROCOS

I – FICÇÃO

Contextualizando a Constituição aprovada e proclamada, voltemos ao


passado não muito distante, sob a ótica de minha geração.

No âmbito da família brasileira Abitbol sempre existiu um arrazoado


clima de alegria e de pura sensação de ilusões, sonhos e brincadeiras

Quando crianças e adolescentes fazíamos graças e gozações


contando histórias espetaculosas a respeito de nossa família Abitbol,
suas origens nobres e vidas em castelos marroquinos.
Tudo pela excentricidade e imponência que o nome representava ante
a bisbilhotice despertada por nossos enigmáticos antepassados e seu
viés até chegarem ao Ceará.

Curtíamos essa ficção com seriedade, em quaisquer ambientes ou


circunstâncias.

O efeito causado era o de incredulidade ou de inafiançável confiança,


na inverídica narração familiar, sobretudo por motivos jocosos de
amigos, pela originalidade do sobrenome e o despertar de
curiosidades.

Dizíamos, então, que pertencíamos a uma família nobre oriunda do


império de Marrocos Espanhol, onde nasceram nossos bisavôs,
Abrahão Medina, Marquês de Marrakesh e Lola Abitbol sua consorte,
Marquesa de Marrakesh.

O casal tivera uma única filha desse matrimônio, Messody Medina


36
Abitbol, nascida em Marrocos, em 1894, que transcendia a beleza
helênica de Afrodite, e era considerada na Corte, a sua
personificação. Encantava a todos.

Messody casa-se com o Duque Ayesch Medina Abitbol em 1907,


aos treze anos de idade, com seu primo e tio, irmão de sua mãe, e
vão residir no Castelo Medieval de Oldbridges, uma das suas
propriedades na famosa cidade de Casablanca,

Nascem seus filhos marroquinos Aarão, Isa, Alegria, Esmeralda,


David e Alia Medina Abitbol.

A origem judaica é prevalecente pela arraigada fidelidade e crença na


religião Israelita. São fervorosos devotos e cumpridores de todas as
simbologias e liturgias.
Os nomes dos familiares e a religião são verdadeiros, para dar uma
complexidade entre o real e o imaginário, bem como os dados a eles
aferidos.

As ilações continuam historiando antigas conjunções sociais,


políticas e familiares, no século XIX, onde participavam da nobreza
do Império daquele País.

Falávamos das regalias e o deslumbramento que as sociedades


Imperiais lhes proporcionavam enquanto desfrutavam de uma vida
gloriosa e rica.

Os feudos forneciam mantimentos e produção agrícolas altamente


competitivas no mercado e os negócios transitavam entre os
melhores da corte.

37
Viviam encastelados nos mais bonitos e confortáveis da época, todos
em estilos severamente marcados pelos tempos medievais, num
acinte rigoroso a uma modernidade precoce.

Era o luxo, o despojamento de uma família sábia que conquistava a


cada dia o domínio maior entre seus pares imperiais.
Suas montarias equestres eram as melhores do império e as
crianças eram também as grandes vencedoras das competições
aguerridas entre as famílias nobres.

Desfrutavam da amizade e apreço do Imperador que lhes distinguiam


com presentes e recíprocas e fartas arrobas de mercadorias das
melhores do império.
Nas festas comemorativas de importantes celebrações ou encontros
diplomáticos, marcavam presença com as essências mais admiradas
e perquiridas no mercado europeu.

Os trajes eram objeto de singulares olhares tais a confecção


manuseada pelas melhores artesãs do Império, quiçá do continente.

O Duque Ayesh Abitbol era um hábil articulador da corte e suas


ideias e projetos eram sempre acatados pelo Imperador que não lhe
deixava de regatear enormes elogios a sua capacidade
empreendedora.

Seus rebentos sempre recatados e preservados pela educação dos


melhores mestres eram solicitados a apresentar, em recitais
coloquiais o virtuose de um violino ou piano.

38
A língua que se falava correntemente era o espanhol, mas
corriqueiramente, conversavam em francês como o costume da
Corte.

Contudo, era essencial não se descuidar das normas e etiquetas


sócio convencionais dedicando-se, em sua primazia, aos estudos
gramaticais, da ciência ou dos números.

A inveja, entretanto, inquietava os seus supostos amigos enquanto


galgavam frutos de um trabalho honesto, produtivo e cada vez mais
promissor.

Era o paraíso que cada ser humano sonhava.


Mas, a Corte vivia tempos nebulosos onde predominavam
desavenças, o poder nefasto de alguns incompetentes e
desprestigiados, ante a confiança do Imperador.

Estes, buscavam os modos e os umbrais da cidade para vilipendiar a


honra e levar intrigas para a Corte.

E, senão os mais vitoriosos e confiáveis pelo Imperador, seriam os


alvos certeiros desses atiradores inescrupulosos, falsos e obcecados
pela ganância e pragmatismo viral da sociedade.

O motivo, não poderia ser outro, a não ser os feudos enormes de


glebas que giravam a economia da cidade e que despertavam a
intolerância da marginalidade imperial.

Ousaram atingir a honorabilidade do Duque Ayesh Abitbol, utilizando-


39
se da pseudo amizade entre si e o Imperador, para impregnar
mentiras desoladoras contra o fiel e honesto servo da Corte.

O Duque que pagara religiosamente em dia seus compromissos


tributários, alfandegários e fiscais, teve levantadas maquiavélicas e
infundadas suspeitas de inadimplências feudais em detrimento das
finanças imperiais.

A manipulação e a orquestração de tráfico de influência estavam


patenteadas na cumplicidade com servidores públicos dessas
repartições.
Conseguiram seu intento com a obscenidade da natureza humana,
sempre conveniente aos seus próprios benefícios pessoais.

O Duque fora atingido frontalmente em sua honra e buscou o


Imperador para resolver a querela.
Mas Ele já infectado e contaminado por seus amigos conservadores
e oportunistas da Corte, sedentos nos feudos da família Abitbol
resolveu promover os sequestros dos seus bens.

Inconformado, e apoiado por vasta casta da nobreza, promove


encontros e ponderações com o Imperador buscando uma solução
tangível aos interesses mútuos.

O Imperador estava absolutamente envaidecido com os feudos e


perigosamente comprometido com os detratores da honra e da
dignidade do Duque, e apropriar-se dessas terras férteis e
exemplares no cultivo e produtividade, era o seu objetivo maior.

Era natural que desentendimentos entre os membros da Família


Abitbol e o Imperador, sobre a disputa dessas grandes áreas feudais,
40
contestadas pelas partes, acirrassem os ânimos.

A Família Abitbol e alguns aliados passaram a tramar a queda do


Imperador, e atentaram na hierarquia Imperial resguardar seus bens
e interesses particulares.

A dissidência ao Trono por parte da Família, culminou com a perda


da nobreza e, consequentemente, cassados todos os feudos, títulos,
insígnias e a derrocada foi inevitável.

Mas a honra e a dignidade da Família ficaram gravadas na


posteridade e na Corte estarrecida pela ingerência desprezível e sem
precedentes contra um homem de bem que honrou e enalteceu a
Corte.
Teve reconhecimentos de outros países pelas suas precocidades
administrativas e competência no trato das coisas negociais.

Perseguidos, foram submetidos a uma situação inusitada e vexatória


e só lhes restavam fugir dos seus cruéis algozes.

O País escolhido foi o Brasil, pela tradição judaica já disseminada no


norte do País e por seus contornos geográficos, que naquele
momento se apresentava, com expectativas alvissareiras no mercado
da borracha.

Apesar da distância e das dificuldades naturais nos meios da


comunicação, seus familiares nunca foram esquecidos pela Corte
que, frequentemente, trocavam mensagens de solidariedades,
amizades e saudades dos tempos vividos.

41

CAPÍTULO Nº 05

A VERDADEIRA HISTÓRIA PLEBLEIA DA FAMÍLIA ABITBOL

1. TRANSIÇÃO ENTRE A FANTASIA E A REALIDADE

A diferença entre a Nobreza e a Pobreza é imensa no poder e na


vaidade humana, na gramática uma só letra e na morte nenhuma.
O incontroverso não se discute, não suscita dúvidas.

Nossos antepassados, mais antigos, não tinham nem vaidades,


menos ainda poderes, tão escassos eram as condições aquisitivas
e dificuldades de subsistências.

Viviam num Gueto na periferia de Rabbat.

Na ficção da vida, tamanha é a ilusão e o poder que do alto do


pedestal das hipocrisias, a leva sempre a uma realidade permeável
que lhe conduz a um futuro incerto.

Sem muitas nuvens alvissareiras que caíssem como bênçãos divinas


em águas, só o trabalho duro e cruel, honesto e a família verdadeira
são as opções para uma realidade promissora.

42
Mentiras não são sonhos, por vezes, brincadeiras alegres que de
tão intensas brilham como o sol ou a luminosidade da lua. É preciso
sonhar.

Ficção, é mentira ou devaneios irreais, mas é, também, a


ausência de coragem, muitas vezes, com medo de torná-la real,
nem sempre possível. É verdade.
A falta de reconhecimento de uma realidade e de fatos, de forma a
não criar uma verdade por si só, já eclipsa de vez a integração à
comunidade.

Nada fica impune quando se finge e as utopias se tornam reais. Não


é preciso simular.

Antes, ironicamente usei a falsidade para ilustrar uma vida surreal,


porque se a vida se faz de sonhos e ideais, há de se conviver,
também, com o objeto da parcialidade do ser etéreo e gozador de um
brasileiro. É preciso brincar.

Nasce aqui uma nova era para a Família Abitbol, verdadeira, sem
fingimento, nem títulos, plebeia, com muito orgulho, caráter e
determinação que estava pronta a manter a dignidade da família e a
honradez, outrora ditas apenas com ironias.

O passado tem raízes profundas, que mal nos dá o direito de


olhar o alvorecer ou o anoitecer sem que possamos sair de todo
desses embustes e desenvencilharmos para poder viver com altivez.
É preciso ter fibra.

É preciso ultrapassar o passado, com saudades e lembranças.


Não se vive, só com esses sentimentos.

43
Mas, uma vez alcançados os galhos do presente, os horizontes
se abrem amplamente à visão, mostrando todos os caminhos que
se oferecem para se cumprir os reais objetivos da vida.

A escolha, é sempre sua, embasada em princípios morais, éticos,


socioeconômicos ou culturais, independendo de sua formação
familiar.

Por vezes, dois irmãos, almas gêmeas, tomam caminhos tão


distintos e diferentes que suas origens e princípios parecem não vir
do mesmo seio familiar. É preciso aprender a andar só e pelo lado
direito.
Talvez, ade-se perguntar, enfim, o que a Família Abitbol tem a ver
com esses supostos ensinamentos de vida. Tudo, é a resposta.
44

2 – NARRATIVA HISTÓRICA

Qual o significado de Abitbol? Literalmente, Abi quer dizer pai e tbol


tambor, pai do tambor. Em expressão corriqueira, fabricante de
tambores.
Nos últimos anos, o sobrenome da mulher, no casamento tem se
alterado, elas nem sempre adotam o sobrenome do marido e assim,
os filhos não recebem necessariamente o do pai.

É a preservação pura da raça judaica e da sua cultura. Em, sua


generalidade, mantém, penas, o nome e um sobrenome.

A propósito é pertinente reportar que só se considera judeu


descendente, o filho de mãe judia, pois esta não poderá negar a sua
maternidade.

Enquanto os filhos de um casal só com o marido judeu, o rebento


não é hebraico por origem, mas, poderá sê-lo judeu, se esta for a
opção do filho em se converter e professar a religião, é a chamada
herança cultural.
45

Deverá participar de um curso sobre o conteúdo doutrinário da Torá,


suas liturgias e mandamentos. Após, em cerimônia na Sinagoga
conduzida por um rabino fará a expiação de seus pecados e com a
alma límpida e pura se converterá em judeu,

Se assim, não o ocorrer será considerado um judeu, apenas, de


identidade e não genuíno.

Meus trisavôs, Samuel Abitbol, faleceu 105 anos, e Hannah


Abitbol eram realmente de Marrocos Espanhol, nasceram no
Gueto de Mellah, que designa o bairro dos judeus, em Rabat,
amargurando uma vida de dificuldades.

Seus filhos Lolla, a primogênita, Sara, Ayesch, Fortunato e Ester,


todos marroquinos.
Mercantilizavam nas vias públicas, a pé, pequenos objetos artesanais
e, tudo o mais que lhe fossem permitidos ganhar honestamente
algumas moedas para a manutenção da família.

De origem hebraica, eram fervorosos adeptos da religião que


professavam com crença e uma fé inabalável.

Comiam o que lhes eram possíveis trazer das feiras resultante do


trabalho do dia, mas nunca deixaram de prover uma educação filial
de moral ortodoxa.

Nem sempre os melhores percursos na vida, são aqueles que nos


trazem a riqueza material e força, mas, aqueles que nos antepomos
como os mais honestos e criteriosos dentro dos princípios da Torá.

46
Era essa a sua filosofia de vida.

Os filhos crescem e seguem os caminhos de uma vida predestinada


ao judaísmo e aos enlaces matrimoniais.

Lolla, nascida em 1871, nome de menina, ascendência espanhola é


a forma reduzida de Dolores, àquela que entende de nossas dores,
ensina o dicionário.

Lolla Medina Abitbol casa-se com Abrahão Medina, em Marrocos


Espanhol.

Abrahão trabalhava com instrumentos musicais e sua especialidade


era a fabricação de tambores, muito apreciados na época. E os
vendia. Era comerciante desses manufaturados e de outros similares,
artesanais ou não.
Ela era chapeleira, modista, confeccionava chapéus. Boa negociante.
Falava muito e convicentemente, era o seu jeito de ser. Ainda bem.
Ganhava bom dinheiro.

Era comum a família Abitbol falar hebraico, árabe, espanhol,


francês e o dialeto iídche, e o português, naturalmente.

Entre eles prevaleciam o hebraico ou o árabe.

Viviam bem, com as finanças equilibradas e suficientes para todos os


gastos da casa.

O que lhes faltavam e importunavam muito, eram as perseguições


mesquinhas, punitivas, às reações discricionárias contra um
47 povo que luta desde as suas origens, por uma se assentarem,
para viverem em paz com a sua religião, com suas liturgias,
simbologias e crença em Deus.

A par dessa realidade, resolveram em 1890, tentar a sorte em


Buenos Aires. Exerceram suas profissões com relativo sucesso.

Lolla, como estilista de moda de chapéus e de outros utensílios


femininos, teve acesso as damas e as alcoviteiras das noites
boêmias da capital do tango.

Falava-se que, transitando com peripécias na sociedade portenha,


obsequiava companhias amigas a cavalheiros que agradecidos lhe
regateava dinheiro e presentes generosos.

Fatos esses discordantes entre as pessoas que tinham


conhecimentos para expressar ou endossar afirmações acerca do
assunto. Uns acharam críveis, outros, em sua maioria, por hipóteses
nenhuma. Ficaram celeumas. Opiniões.

Não fico em dúvida. Pelo que a mamãe falou, e eu ouvi, me parece


clara e cristalina a personalidade de Lola Abitbol, e disse ela sobre a
Mãe Lola, que era a mais fervorosa hebraica de toda a família e
cumpria, religiosamente, todos os preceitos da seita.

Vivia para ser judia. Se não a pudesse ser, seria hebraica.


Mesmo, se não a pudesse ser, seria israelita. O amor a Deus era
maior que tudo e não seriam as crises mundanas, por maiores que
fossem, fazer dessa mulher forte e guerreira, trair e sujar honra e a
de seu marido.

Não digo que tenho a certeza, do que escrevi. Digo, totalmente mais,
que é a verdade. E quando se usa a palavra verdade, não se
48
precisa adverbiar, indubitavelmente. Às vezes é preciso
adverbias as sentenças.

Ademais, sua manutenção e sustentabilidades financeiras eram


boas, haja vista as viagens constantes em buscas de um lugar
tranquilo onde pudessem trabalhar e professar com dignidade a sua
religião.

Essa procura insensata e desnaturada era por conta de perseguições


culturais e religiosas contra a comunidade hebraica, principalmente,
na Europa, e em Marrocos.

O certo é que o casal tinha, também, o espírito errante e de


aventureiro, em seu sangue.
Retornam ao Marrocos, em 1892, para trabalharem naquilo que
sabiam e faziam acontecer com seus bons jeitos de negócios e,
afamados ficaram, os judeus, por suas habilidades e excelentes
negociantes que eram.

Em 1894, vão Buenos Aires, não demoram muito tempo e voltam à


Rabat, e meses depois, por problemas do visto de permanência no
país, que expirara, são obrigados a deixarem o país, e retornam à
Marrocos Espanhol.

E, com uma novidade, uma relíquia, nascera em território sul


americano, em 24 de julho de 1894, sua única herdeira, Messody
Medina Abitbol, em Buenos Aires, segundo a mamãe.

Contrariando a si mesma, afirma agora, categoricamente, que a


tia Alita lhe dissera, em ditos anteriores, e, incisivamente, que
49
sua mãe, Messody, é argentina.

A tia Alita, era quem mais tinha informações seguras, pois


sempre morou com sua mãe, mesmo depois de casada.

A tia Alita, acredita ser o nome solteira de sua mãe, Messody


Abrahão Medina, mas acredito que não esteja correta pois
Abrahão não é sobrenome e o seu pai chamava-se Abrahão.
Acho que foi um erro de escrita em uma carta.

A vida segue sem grandes turbulências, mas a saga da família, era


mesmo continuar a trilhar caminhos diferentes, e dessa vez,
Abrahão Medina, Lola e Messody, viajam para o Brasil, onde a
comunidade hebraica era benquista e já tinha alguns parentes.
Em 1897, já na capital federal, o Rio de Janeiro, que era sua
antiga pretensão, instalam-se, começam a trabalhar e impetram
nesse ano, um pedido de naturalidade brasileira, alegando ser
mãe de Messody, uma criança nascida no Brasil, então com 3
anos e se declara modista profissionalmente, com residência fixa no
País.

O Processo de naturalização é demorado e as suas demandas fazem


da ação judicial um pleito litigioso com a Lolla postergando e
embaralhando as causas em favor de sua permanência.

Em 1905, oito anos depois, o Processo é transitado em julgado e


Lolla ver indeferido o seu pedido.

Ao final do processo, a família cansada de se manter ilegal perante a


50
legislação de imigração do país, a que se submetia e as dificuldades
inerentes a própria idade da filha, onze anos, resolve voltar para
Marrocos.

Lola, reencontra, então, seu irmão caçula Ayesch, após 8 anos.

No ano seguinte, 1906, todavia, Abrahão Medina, falece,


supostamente, em Belém, onde, talvez, tenha sido sepultado no
Cemitério Judaico de Guamá, em cujo jazigo consta a lápide, de
18.10.1906.

Essa informação me foi passada pelo inteligentíssimo, pesquisador e


sobrinho, Ruy Filho, e hoje, o maior e melhor conhecedor da
história e da genealogia da família Abitbol. Talvez, o único.
Ele tem fotos do jazigo, judaico de Belém, com nome Abrahão
Medina e a data de perecimento. Mas, não tem outras provas mais
concretas, para identificá-lo legalmente, com totais
possibilidades de êxito, por ausências de documentos cartoriais
pertinentes.

Ele mesmo, disse, que a dedução é a lógica, e eu concordei, mas,


facilmente, poderia ser um homônimo, pois, era um nome comum
na sociedade hebraica. Bastava uma homonímia, para se tornar
inverossímil.

E acrescentou, o pesquisador não trabalha com raciocínio


coerente e menos, ainda, com coerência ou congruência, mas,
quem sabe, digo, eu, um leigo, escrevendo, é muita coincidência
ser Belém, antro de judeus marroquinos e de seus parentes, o
ano 1906, e o nome.
51

Essas coincidências, não podem ser levadas em consideração e


merecer fé pública.

O Ruy, estuda e pesquisa a família Abitbol, seguramente, a pelo


menos, trinta anos. Não lhe perguntei, se fora de forma contínua e
determinada.
52

Encomendou trabalhos de genealogia da família com o Sr. Jeovah


Lemos, falecido a pouco, circunstanciada pela contaminação da
covit19, um dos expoentes nessa área, no Ceará.

Viajou, e fez levantamentos preciosos em cidades, como Belém,


Manaus, Casablanca, Fortaleza Rio de Janeiro, São Paulo, e, países
como, a França, Marrocos e França.

Trabalho difícil pelas circunstâncias, das épocas antigas, com


pequenos acervos de documentos inerentes a esses tipos de casos e
por ineficiências de velhos registros, daqueles distantes anos do
século XX.
Agora, penso diferente. Acho que não era o pai de Messody, era
seu xará. Outros fatos contribuem para esse meu novo
posicionamento.

Mas, independentemente dessa querela, Lola Abitbol e sua filha


Messody, em Marrocos, continuam a desenvolver suas atividades
peculiares, particularmente àquelas que preconizam as liturgias e a
Torá.

Abrahão e Lola trabalham, sempre com liderança e espírito


batalhador, mas as dificuldades financeiras se fazem sentir, e eles
procuram sanar essas inquietudes.

Para Messody, em 1906, chega o dia mais ansioso e aguardado. O


Bat Mitzvah, aos doze anos de idade, na Sinagoga em Cerimônia
litúrgica das mais expressivas do judaísmo, ela assume a
53 responsabilidade da maioridade religiosa.

O tempo voou como um pássaro sibilante e com maestria


pousou nos ombros de quem tem amor para dar.

Os casamentos com idades precoces, faziam partes dos hábitos


sociais, muito instigados por familiares e a emancipação espiritual.
Lolla tricota a renda de agulha, que vai unir Messody com Ayesch.

Em 1907, com treze anos de idade, Messody, pressente que existe


um sentimento diferente, de amor, entre ela e o seu tio, Ayesch,
irmão de sua mãe.

O casamento acontece em breve espaço de tempo, em 1907, ela


com treze anos e ele com 22 anos, e curiosamente, mantém, pelos
laços de parentescos o mesmo nome de solteira – Messody Medina
Abitbol.
Ayesch passa a residir na casa de Lolla, agora como irmão e sogra, e
a esposa Messody, e confere à família uma vida honrosa onde o
trabalho e a perseverança dão luzes e luminosidades, mais
próximas de uma nova e diferente geração.

Conhecedor da extração do látex na américa do Sul, principalmente,


na Amazônia brasileira e seu estrondoso êxito mundial, o novo ouro
branco do mundo, empolgou e aguçou o fio de sua mente privilegiada
de ideias e sonhos.

Em 1908, os casais, Ayesch e Messody, e, Abrahão Medina e


Lolla, logo transformaram o desejo em realidade, o ímpeto e a
vontade de vencer fizeram-lhes embarcar para o norte do território
brasileiro.

54
Terão laços afetuosamente estreitos com o Brasil. Seu sobrenome
Abitbol, permanece indelével, até hoje, em nossa pátria,
irretorquivelmente, como outrora, com os mesmos valores de ética,
caráter e sobriedades.

E, seus descendentes também, orgulhosamente mantém essa


marca, com muito amor.

Instalaram-se em Manaus onde havia uma comunidade marroquina


na cidade. Inclusive parentes, entre os quais, os primos Saul, este o
primeiro Abitbol a pisar em solo Amazonense no ciclo da borracha,,
para se inserir no trabalho, do novo ouro mundial, o látex. e Moysés,
conhecido também como Moysésinho.
Uma das primeiras providências adotadas, para não ser discriminado
pela difícil pronúncia de Ayesch, foi aportuguesá-lo grafando
doravante, Luiz Abitbol.

Passou a viver, com muito trabalho, mas regiamente recompensados


pelos valores financeiras.

Em pouco tempo, Luiz e Messody, por conjunturas favoráveis e


pretensões comerciais, fincaram moradia no município amazonense
de Humaitá, limítrofe com Rondônia, as margens do Rio Madeira a
600,0 Km de Manaus.

Lola os acompanhara, veio para ajudar a filha, pois, Luiz viajava


muito, constantemente, e ela se fazia presente, nessas horas
importantes de uma família.

55
E, começou a negociar juta e outros agregados, montando o que se
chamava na época, um comércio de “secos” e molhados”. Abrahão
ficara em Manaus.

As negociações e o comércio em geral davam-se em Porto Velho,


capital do estado de Rondônia.

Porto Velho, Capital de Rondônia, em plena efervescência de


desenvolvimento e crescimento social, cultural e comercial, com bom
Porto para as estratégias de armazenamentos e embarques da
produção de látex e seu produto, a borracha, foi o escolhido por Luiz
para exercer essas atividades.

O ciclo da borracha era um momento exponencial da história


econômica e social do Brasil, com a extração do látex da seringueira
e comercialização do seu produto.
Esse era o ouro do país nesse período e o seu seio no centro da
região amazônica proporcionou a expansão da colonização, e acima
de tudo, a atração de riquezas pessoais e estatais.

Passou a desenvolver, também, atividades ligadas aos transportes


para escoamento da produção dos seringais amazonenses.
Adquiriu lanchas, gaiolas e navios, típicos e adequados para esses
tipos de navegação.

Em pouco tempo criou uma trajetória de sucesso no empreendimento


a que se propôs e prosperou em seu ramo de negócio. Seu principal
negócio era o setor de transporte e investia nele o seu capital.

Desde que chegou a Humaitá amparava financeiramente, seus


irmãos que ficaram em Marrocos.
56

Em 1909 nasce seu primogênito Aarão Luiz e a vida continua a


fluir acumulando êxitos e crescimentos em sua frota de cargas e,
agora, com alguns seringais de sua propriedade.

Era realmente uma oportunidade ímpar na economia nacional,


dinheiro farto para quem trabalhava com afinco e destemor. A
Amazônia é sacudida por notáveis transformações culturais, sociais,
arquitetônicas e grande impulso ao crescimento.

A seguir sempre com impetuosidade e desassombro despede-se de


Humaitá e vai residir, com a família, no município de Codajás.
Nessa peregrinação ausculta com invejável perspicácia maiores
possibilidades de crescimento.
Foi uma tacada certeira em suas pretensões. Alavanca suas
propriedades de seringais, mas seu principal objetivo continua
sendo o comércio e a navegação fluvial.

Adquire, mais barcos, balsas, catamarãs (pequenas embarcações a


motor ou a vela, numa espécie de jangada) e as famosas gaiolas
(pequenos vapores fluviais), e prossegue com o mesmo empenho.

Este é o anverso da história, a capa ilustrada bonita e bem


elaborada de uma vida próspera. Cintilante. Fica Rico.

Em Codajás, nascem os demais filhos do casal, em períodos


curtíssimos.

Em 1910, Isa. Em 1912, Alegria. Em 1913, Esmeralda. Em 1914,


David. Em 1916, Alia.
57

E Lola era peça importante, nessa família, pois, o patrimônio


filial de seis filhos, era grande demais para uma jovem de 22
anos, no nascimento da caçula.

Lola, era imprescindível, dava-se muito bem com o irmão Luíz e mais
ainda, com sua filha Messody. Seu espírito maternal, aflora e dá um
suporte pessoal de experiência, vivência e colaboração.

Mas sente, também, vontade de trabalhar em seus próprios


negócios, sempre, em planos adiados. As idas e vindas à Manaus
eram corriqueiras e estava sempre em contato com seu marido
Abrahão Medina.

O casal, Medina Abitbol, resolveu, então, investir seu talento e


trabalho na fronteira tríplice do Brasil, Peru e Colômbia, na Cidade de
Fonte Boa, município do estado do Amazonas, cujo comércio era
considerado bom e forte.

Colocaram um mercadinho, intensamente diversificado, com


produtos que os caracterizavam, bons comerciantes, como os
judeus, em geral os são.

Abrahão, ajudava, fazia bolos deliciosos, dizia a mamãe, e certa vez,


mandou uma pequena quantidade para a venda durante uma viagem
– ida e volta – a Manaus e os guris atravessadores da negociação,
ao retornarem, estavam sem o dinheiro da venda e os produtos.

Conta a mamãe rindo, que Abrahão deu uma sova nos garotos, em
contrapartida ao prejuízo.

Lola, foi assistir o nascimento de Esmeralda, que, com tenra


58
idade, tivera sarampo, e seu quadro de saúde inspirava cuidados e
a iminência de contágio com os demais irmãos, era grande.

Messody, já com quatro filhos, pediu a Lolla que a levasse para


tratamento na cidade, de Fonte Boa, onde morava e tinha negócios
comerciais.

Mamãe, recuperou-se, totalmente e permaneceu sob os seus


cuidados, nesse município, por sete anos. Mas, frequentemente ia a
Codajás com Lola, para visitar sua mãe e irmãos.

Entre, 1890 e 1920, Manaus, Belém e Porto Velho eram as capitais


brasileiras mais desenvolvidas em infra estruturas, museus e
cinemas.
Manaus era conhecida, no mundo, como a Paris dos Trópicos.
Tal, a riqueza, o desenvolvimento social, urbanístico e cultural, e
Belém seguia o seu exemplo.

A infraestrutura, águas encanadas e belíssimos cinemas e


Museus eram os seus cartéis mais comentados.

O ouro branco, como era conhecido o látex, era o transformador


dessa metamorfose, da capital da borracha.

O verso, era a contracapa da difícil convivência com o ambiente


hostil das matas, dos rios e de dezenas e imensas quedas
d’águas nos rios Solimões e Madeira, as insalubridades, animais
selvagens, doenças endêmicas, longas e solitárias viagens.

O comércio de mercadorias, no bioma ambiental da Amazônia, a


59
maior reserva de floresta tropical do mundo, não era fácil. Tinha um
preço alto, de muitos suores, dificuldades e imprevistos.

Luiz, tinha presságio de acontecimentos infaustos.


É duro, é cruel viver no interior das matas, marginando os rios nem
que lhe custasse dias de atrasos. Mas, era mais seguro viajar assim,
por causa das grandes quedas de águas.

As casas flutuantes ribeirinhas e as palafitas compunham a


urbanização dessas margens fluviais. Era a outra face, dessa riqueza
e fartura.

Todos têm o seu preço, e as injustiças e ingratidões remuneram


sempre os mais pobres.
Era uma total desigualdade de riquezas. Uns flutuavam em
embarcações, outros sobreviviam para manter essas
embarcações em boas rotas e segurança.

O tempo, passa rápido, nos ponteiros dos relógios, em conluio da


prosperidade, mas cobra caro a passagem dos minutos “que não
correm” no território selvagem e íngreme dos seringais.

Luiz Abitbol, agora, Capitão da Guarda Nacional do Brasil, vivia


com a família de forma abastada com seringais, embarcações e um
mercado exportador em alta evolução.

Em um desses percursos, ele pisou em cima de um peixe


cartilaginoso, conhecido como arraia e seus ferrões serrilhados
na cauda, são cobertos por um muco onde fica o veneno,
encravaram-se no seu pé de tal forma que não foi possível retirá-
60
los de todo.

Continua a viagem, com o despropósito de andar com botas e


chinelas inadequadas para o tal ferimento, contribuindo com o
armazenamento de impurezas, sujeiras e bactérias, próprias
para a instalação de infecções.

Em casos assim, embora, a prudência mandasse retornar,


imediatamente a Manaus, obstinadamente, prosseguiu a viagem, a
despeito dos pedidos de seus acompanhantes que os aconselhara a
voltar de pronto.

Mas não se rendeu aos caprichos dos compromissos assumidos e


prosseguiu, pensando, simultaneamente, em ser medicado e
desembarcar a mercadoria.
Chegaram ao destino e apesar de dores intensas, febre e inchaços
em sua perna completou o desembarque das cargas e fez uma
assepsia.

Naquela época ainda não tinha penicilina.

No retorno, à Manaus, já dava sinais da gravidade da enfermidade e


tentou regressar, rapidamente, não obtendo êxito. Não chegou à
capital amazonense, faleceu, a bordo, por septicemia, aos 35
anos, em 23 de abril de 1920.

Esther, sua irmã mais nova, com 17 anos, soube dessa trágica e
infortunada notícia. Ficou desesperada, em Marrocos. Desejava
para si, o mesmo destino do irmão.

Comentaram, que entrou em crises de angústia e chegou a ir a


61
Sinagoga e pedir a Deus, que a levasse para o lugar em que
estivesse o seu irmão Ayesch.

Poucos meses depois, falece de morte natural em seu país. Foi


mais um duro golpe na família Abitbol.

Dias difíceis se projetaram para a Família, com a viúva Messody


tentando preservar, com segurança, os negócios dos seringais.

Com essa fatalidade, inesperada, mudou-se para Manaus e passou


a residir lá. Acompanhando, como podia, os negócios de seu marido.

Ela conhecia um advogado judeu, amigo de Luiz que a orientava e


ajudava na administração da herança, e quando necessário se fazia,
vender algum dos bens, ele providenciava os documentos legais para
a emissão do Alvará.
Mamãe, até então residia com a avó Lola, que a criara recém-
nascida, em Fonte Boa embora, fossem frequentes as visitas à mãe
Messody e irmãos, em Codajás.

Após a morte de seu pai, ela vai morar, definitivamente, em


Manaus, e complementar os estudos. Dessa vez, a mãe Lola, volta
sozinha, para em breve retornar, também, permanentemente, à
Manaus.

Os filhos, todos menores, o primogênito Aarão Luiz com 11 anos e


mais cinco, faziam o que podiam para cooperar nas tarefas que lhes
eram atribuídas na solidariedade familiar.

Luiz deixara a família bem amparada, com patrimônios em


seringais, inúmeras embarcações, dinheiro em caixa e muitas joias.
62
Uma boa casa, bem mobiliada, Eram ricos, nesse momento.
Faltava o Capitão da Guarda Nacional, o Chefe da família.

Concomitantemente, a essa boa situação, o preço do látex caía


vertiginosamente e já não era mais um expressivo mercado.

O ciclo da borracha que vivera seu ápice entre 1879 e 1912, agora
enfrentava uma concorrência no mínimo inusitada, pois a Levea
Brasiliensis fora contrabandeada do Brasil, pelos asiáticos,
décadas antes.

E estavam produzindo e exportando, já a algum tempo, a um custo


bem mais barato. Principalmente a Malásia e países vizinhos

Isso, deixava em todas muitas preocupações, pois na realidade


as receitas eram mínimas. Basicamente, só a herança.
Entre, 1890 e 1920, Manaus, Belém e Porto Velho eram as capitais
brasileiras mais desenvolvidas em infra estruturas, museus e
cinemas.

Após esse período, seguiram-se anos difíceis, pelas circunstâncias


naturais de criar os seis filhos, com idades variáveis de 4 a 11
anos, .

Messody, não era exceção nessa crise, que não mais gerava
empregos e estava com sua economia decadente.

Mas, Luiz deixara um patrimônio sólido capaz de garantir a


manutenção da família, na mesma classe social.

Era uma fortuna, em embarcações de todos os tipos usuais para o


transporte da produção dos derivados de látex, seringais, joias e
63
dinheiro.

Dava-se tempo ao tempo, para que as crianças se tornassem


adultas e, graças a Deus, todos casaram-se cedo, como era o
costume daquele tempo, aliviando assim, os ônus caseiros

Gradativamente, porém, iam-se consumindo partes dos seringais


e embarcações, objeto de transações à terceiros.

Os filhos, tiveram uma infância tranquila, muito amparada, também,


por sua avó Lola.

A mãe Messody, diz a mamãe, parecia uma criança maior,


contando-lhes as clássicas histórias do mundo infantil, como “Aladim
e a Lâmpada Maravilhosa”, “Alice, no País das Maravilhas”, “Peter
Pan”, “Branca de Neve” “As Mil e uma Noites.
Mamãe, ainda, tentou lembrar-se da história da “dama negra, que se
transforma numa pomba e gostava de um príncipe e a pomba
colocava numa vinha de ......”, mas se deu por vencida e não soube
concluir. Eu não conheço esta história. Quem já a ouviu contada?

Messody, era alegre, alta, clara, esbelta, de olhos e cabelos


castanhos. Tinha o primário, que estudara num colégio francês, de
Manaus. E ela sempre mostrava aos filhos, estudei aqui, e apontava
para o referido centro educacional.

Os filhos estudavam nos melhores colégios e na sociedade


manauara, pertenciam a casta dos assíduos frequentadnres dos
clubes sociais mais importantes.

Uma juventude dentro dos altos padrões da sociedade, adorava


64
dançar e se reconhecia como um “pé de ouro” no salão.

E, cada um foi encontrando, na rua dos amores, o seu destino, o


seu companheiro para prosseguir a caminhada da vida e dar
continuidade às novas gerações dos Abitbol.

Abrahão Coiffmann que contrai núpcias com Alegria, segue para


Recife, para o exercício do trabalho e por lá passa alguns anos.

Depois, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde obtém sucesso


em sua indústria de tecidos, a Tecelagem Harvey. Tiveram dois
filhos, a Fanny e o Samuel.

Homem rico e bom negociador, fez jus a lenda de que todo judeu é
bom comerciante. Morava na Rua Figueiredo Magalhães, em
Copacabana num amplo e luxuoso apartamento e possuía uma casa
de veraneio em Petrópolis.

Abrahão Coiffman, russo, ultra conservador em seu judaísmo,


patrocinou um episódio inusitado, para nós cristãos, mas não tanto
para os judeus, ao não permitir e impedir mesmo, o casamento de
sua filha Fanny com um brasileiro cristão. Um goi.

Isso a deixou amargurada e frustrada pelo resto de sua vida, morreu


solteira. Trabalhou, como funcionária da embaixada dos Estados
Unidos, no Rio de Janeiro, e por várias vezes esteve naquele país.

Samuel, enquanto o pai era vivo, trabalhava como seu auxiliar, mas
na realidade, era um “bon vivant”, e não adquirira a experiência
administrativa do pai. Quando seu pai faleceu, assumiu a
organização da empresa como seu chefe maior.
65

Casado, com dois filhos Sandro e,,,,,,,,,,,,,,

Mas, nessa época, as tecelagens sofriam uma concorrência em


grandes escalas entre si, e ele não soube ultrapassar essa crise de
mercado, e com o tempo a empresa foi perdendo prestígio e o
espírito empreendedor, que tivera como um prenúncio de bons
negócios.

A empresa ficou decadente, e acabou fechando, mas o patrimônio


acumulado era grande e não tiveram dificuldades em suas vidas.

Aarão Luiz casa com Mircedes, recebe convite de seu cunhado,


Abrahão Coiffmann para trabalhar em sua empresa industrial, no
Rio de Janeiro, na Tecelagem de sua propriedade.
E Aarão Luiz, não titubeia e vai para a capital da República com
todos os traquejos de um negociante judeu,

Aarão Luiz, extremamente afável e curtidor de umas cervejas e


gurias, logo se adapta às condições do mercado e visualiza
excelentes empreendimentos, tarefa que lhe foi atribuída em viagens.
buscando alavancar os pedidos de compra para a Tecelagem, na
região nordeste.

Esteve em Fortaleza, duas vezes hospedado em nossa casa. Na


primeira vez, lembro-me bem, chegou tarde da noite, por volta
das 23:00 horas e bateu na porta, Não tinha campainha.

O papai foi o primeiro a inquirir de quem se tratava e uma


desconhecida voz responde, “Carlos, abre a porta, Nessa altura
todos em casa acordados acompanhando os fatos,
66

Mamãe já estava no front da questão, e tomou a palavra, e entre


gracejos e ansiedade, cobrou a sua identidade. Ele respondeu
abra a porta Esmeralda.

O clima ficou mais tranquilo e dava para imaginar que alguma


surpresa poderia acontecer, pelo conhecimento e insuspeita
intimidade da insolente visita,

Papai tomou a iniciativa, tirou a tranca da porta que, ainda era


objeto de um pino que inseria na trava e no ferro que a
segurava, não a deixando correr.

Era impossível sacá-la, até de dentro da casa se não tirasse o


referido pino.
Essa segurança toda era contra os roubos, de gatunos que se
utilizando de pé de cabra levantavam os ferrolhos para adentrar
em casas.

Abre-se a porta. Um suspense geral. E uma figura, simpática, de


cor avermelhada, careca, de óculos escuros e graus avançados,
se projetou na sala e falou:

Sou eu Esmeralda, seu irmão Aarão. Mamãe ficou emocionada


e, reconhecendo-o abraçou-o demoradamente. O papai também
ficou alegre após essa comédia.

O papo foi longo e ele contou que viera a serviço da Tecelagem


para visitar o mercado de tecidos e negociar alguns acordos de
compras.

67
Veio a Fortaleza duas vezes com a mesma presunção. E a rotina,
era sair cedo, voltava para o almoço e a tarde complementava as
visitas de representante da Tecelagem Harvey.

Ao pôr do sol, voltava, e as vezes saia com o Ruy para tomar


umas cervejas geladinhas, na Mercearia do Cavalcante, sempre
apreciando as meninas e fazendo comentários. O Ruy
conversava mais que bebia.

irmã Isa casa-se com o judeu francês, Sr. Joseph Tapiero e vão
morar em Casablanca, Marrocos. Ele era viúvo, bem mais velho que
ela, tinha dois filhos, Mioon e Alberto, do primeiro matrimônio.
A propósito, nessa época Casablanca era anexada à Paris, no
domínio francês no país, por isso ela colocava nos seus postais de
retratos, como residente de Paris.

Enquanto, viúvo, Tapiero, teve um relacionamento eventual com uma


marroquina, culminando com o nascimento de uma menina, de nome
Frida, que a registrou e a levou para o seu lar.

Quando conheceu a tia Isa e com ela casou-se, portanto, tinha três
filhos em sua companhia.

Isa, também, teve uma filha com Tapiero, mas faleceu aos três anos.
Ajudou a criar os três enteados. Morreu em Casablanca.

Alia (Alita) caçula da família casou-se com o amazonense Olindo, um


goi, cristão e sempre residiu em Manaus.
68

Os nubentes, passaram a morar com a mãe Messody e acumulou


muitas histórias da família. Não tiveram filhos e ela trabalhava na
Secretaria de Administração, do estado do Amazonas.

David, morava em São Paulo. Casara-se com a judia Sudeta, e,


nesse matrimônio, teve uma filha que morreria aos dois de anos
idade. Faleceu, precocemente, ao verdor das primaveras, aos 24
anos.

Entretanto, na sua juventude conhecera uma brasileira cristã,


Suely, e desse relacionamento nasceu um menino que lhe foi dado o
nome de Luís Guilherme.

Ele recebeu o sobrenome Abitbol, por aquiescência da viúva de


David, a pedido da mãe da criança.
Esmeralda Medina Abitbol, nasceu em Codajás, em 09 de fevereiro
de 1913,

Seu pai, Luiz, era quem dava nomes aos filhos, tivera a intenção
de colocar Safira no da tia Alegria, mas conhecera uma outra
pessoa com igual nome, de quem não gostava, isso o fez mudar de
ideia e a nomeou Alegria.

A mamãe era, a oportunidade, seguinte de colocar uma pedra


preciosa na família, e escolheu o verde das cores mais bonitas e a
deu a ela. Que brilhou mais que o mineral original.

Seu significado, como nome, remete, a um forte sentimento de


afeto, que se dirige a alguém muito valioso e por quem se tenha
muito amor.

69 E para aqueles que não sabiam, era, também uma dança popular
no século XIX, semelhante à polca. Agora, está explicada, porque
a Esmeralda era uma exímia dançarina e considerada pé de valsa.

Além disso, quem não se lembra do livro, do novelista francês Victor


Hugo, onde narra a história de amor do sineiro Quasímodo pela
cigana Esmeralda. Popularizou-se no mundo.

A Esmeralda é o mais belo dos berilos, formada com o silicato de


alumínio.

No dicionário, original do espanhol, “movida pela razão, não gosta


de ser contrariada. Ágil, sintonizada com o mundo. Vive o presente.
Dinâmica”.

Muito coerente, diria eu. Acertou precisamente.

Mas, faltou o mais importante, a falar, a Esmeralda é a nossa


mãe!!!!!
Estudou, em Fonte Boa, sob a anuência da avó Lola e, a partir de
1920, em Manaus, nos cursos primário e ginasial.

Tocava bem piano e falava um francês incipiente, até então a língua


comercial globalizada e o espanhol, que aprendera em sua
passagem nas fronteiras, tri-continentais, do Brasil, Bolívia e Peru.

Quando queria dizer algo mais grotesco ou um nome feio, usava o


iídiche, como narrativa picante. Esse dialeto foi adotado pelas
comunidades judias na Europa, principalmente, na Alemanha e
Espanha.

E nos encontros e desencontros das vias antigas de Manaus com as


belas avenidas patrocinadas pelo ciclo da borracha, conhece um belo
rapaz, elegante e filho de tradicional e rica família de Belém.

Sofreram, porém, os mesmos impactos econômico e financeiro,


resultantes dos debacles da economia generalizada na Amazônia,
70
pós ciclo da borracha.

O cavalheiro apresentava-se, como Carlos Ramos de Menezes,


natural de Belém (Pa), nascido em 11 de junho de 1912 e, morava
em Manaus desde o início da década de 1930. Trabalhava em
drogarias.

Sua ancestralidade, é oriunda de conhecida família cearense, dos


troncos dos Ramos de Menezes Frota, do norte do estado do Ceará.

Seu pai, Antônio Frota, mantinha alguns dos maiores e melhores


seringais no começo do século. Era rico e apequenou-se no rol dos
seringueiros angustiados, após esse lapso pequeno de riqueza.

Todavia, essa fase do ouro branco, no norte do Brasil, se por um


lado, proporcionou um extraordinário desenvolvimento, em todos os
segmentos da economia, urbanismo, cultura e o social, quando se
encerrou, criou um espaço vazio, de estagnação e uma depressão
econômica nos estados da Amazônia Brasileira.

Em seus áureos períodos conhecidos, como a “Belle Époque


Amazônicas”, 1890 a 1920, cidades como Manaus, Porto Velho e
Belém, tornaram-se as capitais brasileiras mais desenvolvidas com
eletricidade, sistema de água encanada e esgotos, museus e
cinemas, construídos sob influências europeias.

O tempo corria como se apressado estivesse para marcar um


encontro com o destino que lhes foram reservados.

Frequentavam às Sinagogas, com fervor, e cumpriam os


ensinamentos religiosos da Torá, suas liturgias e utilizavam-se de
seus símbolos mais importantes, para obsequiarem as bençãos de
Deus.
71
Viviam em paz com a família e com Deus. Eram felizes e levavam
uma vida, se não abastarda, pelo menos uma de classe alta com
muitas juventude e amor aos próximos.

Sua avó Lola, morava em Manaus, em

O Shabbat, o sábado judaico, é um dia sagrado e não se marca


compromissos que não sejam da maior relevância, por sua
excepcionalidade religiosa.

Os clubes, sociais e esportivos, estavam presentes na vida das


pessoas como a primeira forma de organização leiga da sociedade.
Era de uma vital para a sociedade amazonense.
Pertencer a um clube era a inclusão à sociedade amazonense,
especialmente, por unir a convivência, as recepções dançantes com
a prática esportiva
Todos os irmãos Abitbol frequentavam e praticavam algum tipo de
modalidade esportiva. Tio Davi chegou a ganhar medalhas na
natação.

Nas festas, nas convivências de irmãos e amigos viveram bons


momentos de diversão e lazer. Adoravam as matinés .

Os Clubes Sociais de maiores prestígios e frequentados pela


sociedade manauara eram o Nacional Clube, Fast Club e o Rio
Negro.

Nesse trânsito da vida, entre um flerte e um piscar de olhos, um par


72
dançante no salão, nos encantos e nos sonhos nossos pais, se
conheceram. Meus pais os frequentavam

Ele arranhando as sandálias da dançarina, pisando seus pés de


ouro, com os seus de chumbo puro. Mas, quando se tem uma
pedra preciosa nas mãos, se faz sucesso de qualquer jeito.

E entre um pisão e outro, certamente, um abraço mais apertado


para não sair do ritmo. E nesse diapasão e na harmonia musical
vão indicando as notas que irão compor a melodia.

Esmeralda cede o sobrenome Medina no Registro Cartorial de


Casamento, passando a assinar-se Esmeralda Abitbol de Menezes,
fazendo par, doravante, ao farmacêutico competente, Carlos Ramos
de Menezes.
E foram para Belém onde as chances de empregos eram bem mais
fáceis pelo conhecimento que o papai tinha no meio farmacêutico de
sua terra natal.

Realmente a expectativa de um emprego, não foi coisa que o


mercado não o convidasse para gerenciar uma farmácia. Pelo
contrário, acenaram-lhe com propostas bem razoáveis para o
momento econômico da região.

Logo começou a trabalhar.

Moraram algum tempo, com a minha avó Elisa Ramos Frota, e a


mamãe só tem elogios a ela, e diz, nos ajudou muito e gosto dela.

Depois desse tempo programado, foram residir na Rua Ó de


Almeida, 35, no Centro e levaram uma vida, onde o
73 contingenciamento e o controle orçamentário faziam parte de
suas preocupações.

Principalmente, após os nascimentos do Ruy, o primogênito, em 25


de fevereiro de 1935 e do Rubem em 23 de agosto de 1936.

A avó Messody, foi a Belém visitar a mamãe, demorou-se poucos


dias e retornou. A mamãe se recorda que ela acariciava os netos,
beijava-os e os acolhia ao colo.

Apesar de sua restrição ao casamento com o Carlos, por ser um


goi, nunca motivou nenhum ressentimento de desapreço ou qualquer
outro, pelo contrário, gostava do seu jeito.

Papai, estava inquieto com o impacto da derrocada do ciclo da


borracha, que deixara marcas e cicatrizes indeléveis na economia
regional, fortemente, incrustadas de uns descalabros empresariais.
Ele não se sentia confortável, na ambição profissional com o
mercado de Belém que pouco lhe podia acrescentar em
reconhecimento aos seus trabalhos farmacológicos.

Mantinha continuadas correspondências com seus parentes do


Ceará, o irmão Idálio e o Ramos, ambos nos setores de farmácias.
Era uma índole familiar.

A convite de seu primo Raimundo Freitas Ramos, sócio do


conglomerado de drogarias Pasteur, em Fortaleza, e endossado por
outros parentes, papai resolve tentar a sorte em terras de seus
ancestrais.

Viaja sozinho, em princípio do ano de 1938, para Fortaleza.

74 Logo em seguida, Vovó Messody faz-lhe uma nova visita, estava


embarcada, no Porto de Belém, no navio que a levaria, ao Rio de
Janeiro, para o apartamento da tia Alegria, pois estava seriamente
enferma com um câncer no útero.

Faz tratamento intensivo naquela cidade, e cirurgia do útero, e


enquanto pode, manteve-se na residência de sua filha, Alegria.
Quando seu estado de saúde se agravou, foi internada, novamente,
no Hospital.

Segundo a tia Alegria, que convivia com ela no hospital, no dia a


dia, seu avô e pai de sua mãe Messody, Abrahão Medina, a
visitou interna no hospital, e com ela conversara.

Ela comentou esse fato, várias vezes, com a mamãe. Nesse


interregno, mamãe já estava morando em Fortaleza.
Para dirimir quaisquer dúvidas a respeito, da pressuposta morte, de
Abrahão Medina, em Belém, em 1906, conclui-se, que
efetivamente, se tratara de uma singular homonímia.

Claro está, que nesse instante, em 1938, estava no Rio de Janeiro.

A malignidade do câncer lhe foi cruel e a levou a óbito, em 27 de


julho de 1938. Foi sepultada no Cemitério do Caju, na antiga
capital Federal.

Falecera, praticamente, com 44 anos, pois nascera em 17 de


julho de 1894, em casa na rua .

Nesse momento de dor, da morte de Messody Medina Abitbol,


em 17 de julho de 1938, filha única, encerra uma geração da
75
Família Abitbol.

Ano emblemático para a família, Meus pais se mudam para


Fortaleza.
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81
H O LO C AU S T O

E omundo

Em 7 de novembro, quando Herschel Grynszpan,jovem


refugiado judeu que vivia em Paris, entrou armadona embaixada
alemã e atirouemErnst von Rath,terceiro secreta\rio,

Ele estava transtornado pela notícia de que seus e milhares de


outros judeus havia sido sumariamente expulsos da Alemanha e
abandonados em terra de ninguém, na fronteira alemã-polonesa.

Eem de novembro, A Noitedos Cristais,marcou o inicio da


segunda fase da perseguição judaica, mais brutal, violenta, e
82
mais mortal.

Façamos, na medida em que as gerações se nos aproximam, uma


singela reverência, e o preito a marcar com saudades os entes que
nos antecederam é consagrando, uma parte deste compêndio à
sua história religiosa hebraica.
Nas primeiras décadas do século XX, os judeus alemães
eram os mais cultos, ricos e poderosos dentre os seus
irmãos de outras nacionalidades, exercendo profunda
influência no mundo judaico. Em Berlim, eles atingiram seu
ponto mais alto.

Os judeus participavam de seu florescimento, prosperaram.


Metade dos bancos privados estavam em mãos de judeus,
tendo os empreendedores da comunidade fundado
indústrias inovadoras e cadeias de lojas de departamentos.

O nacioinalismo alemão ressurgia de forma maisacentuada


83
no antissemitismo, conservador, e xenofóbico, embora
variasse a intensidade e sua virulêrncia.

Na primeira guerra mundial, na medida emque se


prenuncia a derrota alemã que projetara uma vit´poria em
poucos meses, começaram a peocurar os culpados.

% dos soldados na frente de combate alemã eram de


judeus..

Elesse engajaram na reconstru~ção do país. Esua


participação na vida econômica, política e cultural
alcsançou proporções sem precedentes.

Nãohavia quem amasse mais as arte, o teatro, e amúsica


mais do queum judeualemão, e os mais ricos patronos e
colecionadores de arte pertenciam `aburguesia judaico-
alemã.
Eles tiveram um papel de destaque nas ciências,
pontificando AlbertEionsterin,quemudfou radicalmente
nossa visão do universo e Paul Ehrlich descobriu a
quimiotgerapioa.

Os azntigoa preconceitos.porém, estavam vivos, e a estes


foram adicionados acusações, na guerra, os
judeusesfaquearam a Alemanha pelas costas.

Naépoca, preso e condenadopor alta traição, Hitler


escrfeve seu livro famoso, Minha çluta, .Seu ódio contrsa
os judes transbordam pelas páginad dolivro.

Paraeledcois pergos ameaçavam destruí -os judeus e os


bolchevismo. E chegou a declaraer que sealgum
84 diachegasseaopoder, seria uma Alemanha livredos judeus,
edasua prioridade o extermínio dos judceus. aAlemanha

Em , foi nomeado chanceler e vai raspidamente


trasnsformara frágil democracia além]a em uma ditadura
unipartidária\baseado emum nacionalismo e autotitaeismo
e uma ideologia racista e antisemita.
Mas, no início da década de 1930, desabou sobre sua
tranquilidade e prosperidade uma sombra que aumentava
assustadoramente.

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

O ano 1933, é o divisor de águas em sua história, o início


da guerra que Hitler declarou conta os judeus.

Oprocesso antissemiktismo prossegue e Hitler continua a


afirmar que todososmalesda Alemanha osjudeus sãoos
culpados.

´~E intensificafo oprocessode ariazação,um eufemismo


pazra o sequestro e roubo de propriedadwss judaicas. O
confisco do capital judaico e a venda forçada dw empresas
controladas por judeus se torna pr´~zatica diária.
85
Holocausto é o nome que se dá para o genocídio
cometido pelos nazistas ao longo da Segunda Guerra
Mundial e que vitimou aproximadamente seis milhões de
pessoas
entre judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de
Jeová, deficientes físicos e mentais, opositores
políticos etc. De toda forma, o grupo mais foi vitimado no
Holocausto foi o dos judeus. Estes, por sua vez, preferem
referir-se a esse genocídio como Shoah, que em hebraico
significa “catástrofe”.

Antissemitismo nazista
O Holocausto foi o resultado final de um processo de
construção do ódio de uma nação contra um grupo
específico que vivia na Europa. O antissemitismo na
Alemanha não surgiu com o nazismo e remonta a
meados do século XIX, em movimentos nacionalistas,
além de ter sido manifestado por personalidades alemãs da
época, como Hermann Ahlwardt e Wilhelm Marr.
Quando o partido nazista surgiu, em 1920, o
antissemitismo era um elemento que já fazia parte da
plataforma do partido, e os historiadores acreditam que
Adolf Hitler tornou-se antissemita em algum momento de
sua juventude, quando vivia em Viena, capital da Áustria.
A presença do antissemitismo no Nazismo, durante sua
fundação, era perceptível no programa do partido, que
afirmava que nenhum judeu poderia ser considerado
cidadão alemão.
O antissemitismo alemão ia do pressuposto de que a raça
alemã era superior e de que os judeus eram
responsáveis por todos os males da sociedade alemã.

86 Hitler e os nazistas começaram por colocar nos judeus a


culpa da derrota alemã na Primeira Guerra Mundial por
meio da “teoria da punhalada nas costas”.
Os nazistas falavam que os judeus possuíam um plano de
dominação mundial e criticavam contundentemente o
liberalismo econômico e o capitalismo financeiro, pois
afirmavam que ambos eram dominados pelos judeus.
Um dos exemplos claros dessa ideia (situada na época das
teorias da conspiração utilizadas para acusar os judeus) foi
um livro de origem russa e autor desconhecido que foi
sucesso de vendas na Alemanha: “Os protocolos dos
sábios de Sião”.
Quando os nazistas assumiram o poder na Alemanha,
em 1933, o processo de exclusão e de violência contra os
judeus foi iniciado de maneira progressiva. O discurso
nazista, aliado à doutrinação realizada na sociedade alemã,
tornou os judeus bodes expiatórios e vítimas de
perseguição intensa, não só por parte do governo, mas
também pelos civis.

87 Durante os anos do Holocausto, os nazistas obrigavam os


judeus a usarem uma estrela costurada na roupa como
forma de identificação.**

Uma das primeiras ações tomadas pelos nazistas contra os


judeus foi uma lei, aprovada em 7 de abril de 1933,
chamada Berufsbeamtengesetz, traduzida para o
português como Lei para Restauração do Serviço
Público Profissional. Essa lei proibia definitivamente os
judeus de atuarem em cargos públicos.

Outras leis do tipo foram aprovadas para outros ofícios,


como médicos e advogados. Além das leis, os judeus eram
alvos de ataques promovidos pelas tropas de assalto
nazistas (SA) e tinham suas lojas boicotadas a nível
nacional.
Com o passar do tempo, novas ações contra os judeus
foram sendo organizadas na Alemanha. Essa perseguição
forçou milhares de judeus a fugirem do país, mas muitos
outros não conseguiram, pois nenhum país estava disposto
a recebê-los.

Na década de 1930, duas medidas tomadas por Hitler 


simbolizaram o reforço do antissemitismo na Alemanha:
as Leis de Nuremberg e a Noite dos Cristais.

 Leis de Nuremberg

As Leis de Nuremberg foram um conjunto de três leis,


aprovadas no ano de 1935, que legislavam sobre
a miscigenação, a bandeira e a cidadania alemã. As
duas leis que se relacionavam diretamente com o
88
antissemitismo na Alemanha eram a Lei de Proteção do
Sangue e da Honra Alemã e a Lei de Cidadania do
Reich.

A primeira lei tratava a respeito da miscigenação, proibindo


que judeus e não judeus casassem-se, além de proibir
também que não judeus tivessem relações sexuais com
judeus. Essa lei também falava que judeus não poderiam
ter empregadas domésticas com idade inferior a 45 anos
nem

portar as cores do Reich (preto, vermelho e branco).

A segunda tratava a respeito da cidadania, basicamente definindo


quem era cidadão e quem não era. Segundo essa lei, todas as pessoas
que tivessem ¾ de sangue judeu ou fossem praticantes do judaísmo
seriam consideradas judias e automaticamente não teriam direito à
cidadania. Com isso, os judeus eram considerados apenas “sujeitos de
Estado” e eram pessoas que tinham de cumprir suas obrigações, mas
não tinham direito a receber nada do que um cidadão receberia.
 Noite dos Cristais
A Noite dos Cristais foi um marco na história do antissemitismo
porque oficializou um ponto de partida para o aumento da violência
contra os judeus na Alemanha. Esse acontecimento passou-se
em 1938 e é definido como um pogrom, isto é, um ataque violento
que é organizado contra um grupo específico.
Esse ataque aconteceu em represália ao assassinato de Ernst vom
Rath, um diplomata alemão, por um estudante judeu de 17 anos que
queria vingar-se da expulsão de seus pais da Alemanha. Dias após o
diplomata alemão ser atacado em Paris, uma ordem foi emitida por
Hitler e Goebbels para que ações de violência fossem organizadas
como forma de intimidar os judeus.
89 Os ataques da Noite de Cristal iniciaram-se na noite de 9 de
novembro de 1930 e estenderam-se até a metade do dia seguinte.
Membros do partidonazista, a maioria à paisana, partiram para um ato
de violência inédita na Alemanha. Casas, estabelecimentos, orfanatos
e sinagogas foram atacadas com os agressores destruindo o que
encontravam pela frente, agredindo as pessoas que estavam nesses
locais e, por fim, incendiando as construções.
Ao fim do pogrom, milhares de estabelecimentos foram destruídos, e,
apesar do número oficial de mortos ser 91, especula-se que os mortos
nesse ataque possam ter chegado à casa dos milhares. A Noite dos
Cristais também inaugurou o aprisionamento de judeus em campos de
concentração, pois, durante o pogrom, 30 mil judeus foram presos e
encaminhados para Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen.

As cristãs mantivrtam-se em total silencio ,com exceção dodre


cayógólico bernhaed lichtenberg que pagou com a vida por suas
manifestações públicas em favor dos judeus.a grande maioria havia
empobtrecido dependendo das organizações sociais para soreviver,
apenas 16por cento dos chefes de família tinham algum tipo de
emprego…

Não foram criados guetos na Alemanha mas severas leis de moradia


forçavam os judeus fisicamente aptos eram obrigados a trabalhos
foeçados compulsório, Mas foram somando restrições

Solução Final

90

Na imagem estão Heinrich Himmler (à esquerda) e Reinhard Heydrich (no centro), os dois arquitetos
da Solução Final.*
Com o início da Segunda Guerra, em 1939, a cúpula do partido nazista
começou a discutir “soluções” sobre como tratar a “questão judia” na
Europa. Como mencionado, o aprisionamento de judeus em campos
de concentração foi iniciado ainda na década de 1930. Esses locais, no
entanto, não haviam sido preparados para serem locais de extermínio
como aconteceu durante a guerra.
Quando a guerra começou, os judeus no Leste da Europa começaram a
ser agrupados em guetos, um local específico da cidade que era
cercado pelas tropas nazistas e separado especificamente para o abrigo
de judeus. Os guetos agrupavam-nos para que mais tarde fossem
enviados para os campos de concentração e extermínio.
Além disso, os nazistas debatiam soluções a serem colocadas em
prática para lidar com a “questão judia”, e duas dessas foram
amplamente debatidas. Na primeira, os nazistas tentaram obter
autorização para deportar os judeus para a União Soviética, mas Stalin
não aceitou recebê-los. Outro plano ficou conhecido
como Plano Madagascar, em que os nazistas cogitaram deportar os
judeus da Europa para a ilha de Madagascar, na África.

91

Por toda a Europa, os judeus eram aglomerados e transportados, para os guetos e campos de
concentração, em vagões de trem.
De toda forma, o plano de exterminar todos os judeus após a
guerra é classificado pelo historiador Timothy Snyder como
uma utopia de Hitler que foi reformulada por dois membros do
Partido Nazista à medida que a guerra foi tomando o rumo que não era
desejado pelos nazistas.|1| Os reformuladores do plano de extermínio
dos judeus foram Reinhard Heydrich e Heinrich Himmler e, por
isso, ambos são considerados arquitetos do Holocausto.
 Grupos extermínio
Quando a Solução Final foi elaborada, o que estava na mente de
Heydrich e Himmler era: “os judeus que não pudessem trabalhar
teriam que sumir, e os fisicamente capazes de trabalhar seriam usados
como mão de obra em algum lugar na União Soviética conquistada até
que morressem.” |2| Os primeiros judeus vítimas desse plano foram
alvo dos Einsatzgruppen, os grupos de extermínio.
Esses grupos de extermínio atuaram na Polônia, nos países bálticos e
na parte do território soviético que os nazistas estavam ocupando. A
atuação deles era simples: promover a limpeza sistemática de judeus
dessas áreas por meio de fuzilamentos. Os judeus dessas localidades
eram reunidos em um local específico, posicionados nus em frente a
92 uma vala comum e fuzilados um a um até que toda a população judia
desses locais estivesse morta.
A atuação dos grupos de extermínio nos locais citados, como os países
bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia), levou à morte por fuzilamento
milhares de pessoas. Na Lituânia, 114.856 judeus foram mortos; na
Letônia, 69.750 judeus foram executados; e na Estônia, foram
encontrados 963 judeus e todos eles foram executados. Durante esses
fuzilamentos, os grupos de extermínio também executaram outras
pessoas, como as que tinham colaborado com os soviéticos.|3|
O fuzilamento organizado pelo Einsatzgruppen que mais ficou
conhecido recebeu o nome de Massacre de Babi Yar, quando os
judeus de Kiev foram reunidos em um ponto da cidade e fuzilados
durante um período de 36 horas. Desse massacre resultaram as mortes
de 33.761 pessoas, que foram depositadas em uma vala comum.|4|
A atuação dos grupos de extermínio, no entanto, tinha limites
sensíveis aos objetivos nazistas. Primeiro, por mais eficiente que fosse
o Einsatzgruppen, a velocidade com que faziam a limpeza étnica era
abaixo do que os nazistas desejam. Segundo, o envolvimento dos
soldados em uma quantidade assombrosa de execuções trazia-lhes
graves problemas psicológicos. Isso forçou os nazistas a pensarem em
uma alternativa que fizesse o genocídio de judeus acontecer de
maneira mais ágil e impessoal.
Acesse também: Conheça a história do massacre de poloneses
realizado pela União Soviética em 1940
 Campos de concentração
ATENÇÃO: Esta imagem possui um conteúdo forte

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Cadáveres de judeus encontrados no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945.*

A solução encontrada pelos nazistas foi a de promover a execução de


judeus em câmaras de gás, que foram sendo instaladas nos campos de
concentração. Além disso, foram construídos seis campos de
extermínio cujo intuito era unicamente promover a execução de
93
judeus. A diferença é que, nos campos de concentração, os judeus,
além de executados, também tinham sua mão de obra explorada ao
máximo.
As câmaras de gás para a execução de judeus foi uma ideia exportada
do Programa de Eutanásia, também conhecido como Aktion T4.
Nesse programa, os nazistas executavam os que eram considerados
inválidos, ou seja, aqueles que possuíam algum tipo de distúrbio
mental ou deficiência física.
Entrada de Auschwitz, campo de extermínio responsável pela morte de 1,2 milhão de pessoas. No
portal está escrito “o trabalho liberta”.***
94 Os campos de extermínio, construídos pelos nazistas a partir do
segundo semestre de 1941,
foram: Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz e Majdan
ek. Todos esses campos localizavam-se na Polônia, e o primeiro deles
a ser construído foi o de Belzec — local no qual foi desenvolvida uma
câmara de gás à base de monóxido de carbono e que matava suas
vítimas por asfixia. Depois, outros campos foram construídos, e os
nazistas começaram a utilizar Zyklon-B para assassinar os
prisioneiros.
Dos campos de extermínio citados, a quantidade de mortos foi a
seguinte:

 Auschwitz-Birkenau: aproximadamente 1,2 milhão de mortos.


 Treblinka: aproximadamente 900 mil mortos.
 Belzec: aproximadamente 400 mil mortos.
 Sobibor: aproximadamente 170 mil mortos.
 Chelmno: aproximadamente 150 mil mortos.
 Majdanek: aproximadamente 80 mil mortos.
Dentre os horrores cometidos nos campos de concentração,
destacaram-se a jornada de trabalho extenuante, os maus-tratos diários
e as péssimas condições de higiene. Os prisioneiros ficavam em
alojamentos abarrotados de pessoas e eram mal alimentados.
Execuções sumárias sem motivação aparente aconteciam como forma
de tortura psicológica aos prisioneiros, além das execuções nas
câmaras de gás.

ATENÇÃO: Esta imagem possui um conteúdo forte

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Duas crianças judias que morreram de inanição e foram encontradas no campo de concentração de
Bergen-Belsen em 1945.*

Os prisioneiros recebiam roupas insuficientes para o inverno, e, na


maioria das vezes, elas eram recolhidas em abril (principalmente no
95 caso de Auschwitz) independentemente se o frio tivesse passado ou
não. Eles eram obrigados a suportar a enorme quantidade de
percevejos e pulgas nos alojamentos. Quando adoeciam, o tratamento
oferecido era sempre insuficiente. Na questão médica, também há
registros de testes realizados em cobaias humanas por médicos
nazistas em diversos campos de concentração.
Os prisioneiros dos campos de concentração foram sendo libertados à
medida que os nazistas foram perdendo a Segunda Guerra Mundial.
No decorrer em que suas posições no Leste Europeu eram ameaçadas,
os nazistas intensificaram a velocidade das execuções de judeus nas
câmaras de gás, além de terem tentado ocultar os indícios do
genocídio, seja com a destruição de documentos, seja com a exumação
dos corpos.

Acesse também: Veja que país além da Alemanha construiu campos


de concentração durante a 2ª Guerra.
 Julgamentos em Nuremberg
Depois que os nazistas renderam-se em maio de 1945, muitos deles e
seus colaboradores, que atuaram diretamente no Holocausto, foram
presos e levados a julgamento no Tribunal Militar Internacional de
Nuremberg. Os julgamentos em Nuremberg estenderam-se durante
nove meses e condenaram alguns nazistas à morte por enforcamento,
enquanto outros receberam penas de prisão perpétua ou por certa
quantidade de tempo.
Entre os condenados à morte por enforcamento,
estavam Hermann Göring, chefe da Luftwaffe (força aérea),
e Joachim von Ribbentrop, ministro das Relações Exteriores da
Alemanha. Entre os condenados à prisão perpétua,
estavam Rudolf Hess, vice-líder do partido nazista, e Erich Raeder,
comandante da Kriegsmarine (marinha alemã).
Filmes
O Holocausto é um dos acontecimentos mais marcantes do século XX.
Os relatos dos sobreviventes até hoje chocam o mundo, e a cada dia
96 que se passa novas informações são descobertas. Por ser um assunto
tão relevante para a história recente do mundo, o Holocausto é um
assunto que chama grande atenção do cinema e, por isso, grandes
obras foram produzidas. Destacamos algumas delas abaixo:

1. “O pianista” (The Pianist), filme de 2002 dirigido por Roman


Polanski.
2. “A lista de Schindler” (Schindlers List), filme de 1993 dirigido
por Steven Spielberg.
3. “A vida é bela” (La Vita è Bella), filme de 1997 dirigido por
Roberto Benigni.
4. “O filho de Saul” (Saul fia), filme de 2015 dirigido por László
Nemes.
5. “Amém” (Amen), filme de 2002 dirigido por Constantin Costa-
Gavras.
|1| SNYDER, Timothy. Terras de Sangue: a Europa entre Hitler e Stalin. Rio de Janeiro: Record,
2012, p. 235-236.
|2| Idem, p. 236.
|3| Idem, p.241-243.
|4| Idem, p. 253.
*Créditos da imagem: Everett Historical e Shutterstock
**Créditos da imagem: Chameleons Eye e Shutterstock
***Créditos da imagem: Bondvit e Shutterstock

Por Daniel Neves


Graduado em História

97
98
99
Antigo campo de extermínio nazista, em Oswiecim, na Polônia. Esse foi o maior campo de
concentração nazista na Europa.*

100

Prisioneiros judeus que estavam instalados no campo de concentração


de Buchenwald.*
3. ISRAEL: A Pátria e a Religião C

ISRAEL – A PÁTRIA DOS JUDEUS


1.SÍMBOLOS NACIONAIS
101 1.1. - BANDEIRA DO ESTADO DE ISRAEL
102

A BANDEIRA DE ISRAEL ADOTADA EM 28.10.1948

- Oficializada cinco meses após a assinatura da Declaração de


Independência do Estado, em 28 de outubro de 1948,

Ela mostra uma Estrela de David azul em um fundo branco,


entre duas faixas azuis horizontais.

O desenho básico remete ao Talit, o xale ritual de oração


judaica, que é branco com listras azuis.
1.2.- BRASÃO DO ESTADO DE ISRAEL

103

BRASÃO – é composto, por uma Menorá, tendo em volta um


Ramo de Oliveira, e embaixo, escrito “Israel” que significa a
principal religião do Estado, o Judaísmo.

É um dos seus principais símbolos. A imagem usada no Brasão


de Armas é baseada na Menorá do Arco de Titto. O Ramo de
Oliveira significa a Paz.

1.3. - PARTITURA DO HINO DO ESTADO DE ISRAEL

- NOSSA ESPERANÇA -

104
105
1.4. - LETRA DO HINO DO ESTADO DE ISRAEL

- NOSSA ESPERANÇA -

Enquanto no fundo do coração


Palpitar uma alma judaica
E em direção ao oriente
Olhar voltar-se a Sião. (2x)

Nossa esperança ainda não está perdida


Esperança de dois mil anos:

De ser um povo livre em nossa terra


Terra de Sião e Jerusalém (2x)
106

1877, o poeta Naftali Herz Imber, nascido em 1856, hebraico


judeu, sionista, lançou em livro o poema “Nossa Esperança”, e
logo foi considerado como Hino do Movimento Sionista para
a libertação de Israel.

1882, o músico Samuel Cohen teve acesso a poesia e


colocou a melodia.

Foi oficializado como Hino Nacional de Israel, 14,05.1948,


quando cantado durante a cerimônia de assinatura da
Declaração da Independência do Estado de Israel.
.

2. MANDAMENTOS

2.1. - A TORÁ * VELHO TESTAMENTO

107

A BÍBLIA HEBRÁICA - ESCRITURAS DA TORÁ

TORÁ - É a Bíblia Hebraica, a Lei Mosaica.

Livros que contém as Escrituras Religiosas Judaicas e


conhecidos como Pentateuco.

A coleção dos cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica,


contempla o Antigo Testamento e conta a história do povo
hebreu dividido em capítulos:

- Gênesis,

- Êxodo

- Levítico
- Números - Deuteronômio

3. LUGAR DE CULTO

3.1. – SINAGOGA

Foto da principal Sinagoga, recuperada da Alemanha

108

Sinagoga, é o lugar de culto dos judeus para ler a Torá, os


cinco Livros de Moises, e tambem, os profetas do antigo
Testamento.

Tem como objeto central a Arca da Torá. Algumas vezes, o


culto envolve leituras da Torá, cujos rolos são retirados da
Arca e transportados até o púlpito da Sinagoga,

O rosto, do judeu deve estar voltado para a cidade de


Jerusalém.

Em seu significado grego, Sinagoga é o lugar de culto.


O termo grego eclesia, Igreja, se aplica, na Bblia,
especialmente, a congregação de pessoas que se reunem
para adorar a Deus e a Jesus.

Com o passar dos tempos, assumiu, o conceito de ambas,


serem o lugar, de uma congregação de pessoas para
adorar a Deus e a Jesus.

Hoje, o consenso é que as Igrejas são a continuação das


Sinagogas, não havendo, portanto, nas suas praticidades,
diferenças básicas, relativamente ao local, mas apenas em
suas liturgias e simbologias.

O mesmo Deus e Jesus Cristo, que no israelismo, é o profeta,


o Messias, o prometido por Deus. Enquanto no Cristianismo
Católico é o proprio Deus,

O termo Sinagoga tem origem no grego nas palavras “com,


109
junto”, e “conduta, educação,” cujo significado seria

Existem, também, casas de orações, em cidadades, que


geralmente, não tenham Sinagoga.

discípulo em casa...sao as maes das igrejas


católicas.escrituras sagradas uma casa de orações greja
congregação, de pessoa para cultuar Jesus
3.2. CASA DE ORAÇÕES

110

MORÈSHET YESHUA –

É uma congregação, cujo nome significa “a Herança de


Jesus”, e é, sem dúvida, o principal símbolo judaico e o mais
difundido devido a sua origem.

É a continuação das pregações de Cristos aos seus discípulos.


CAPÍTULO 6 – AS DATAS RELIGIOSAS

1. YOM KIPPUR –

O dia do perdão eterno, realizada uma vez a cada ano, é a mais


importante data da religião judaica.

Celebrada no décimo dia de Tishrei – entre setembro e outubro-, é


dedicado à contrição, às orações e ao jejum, como demonstração de
arrependimento e expiação, em busca do perdão divino e de
felicidade no ano que se inicia.

2. TISHREI –
111
Primeiro mês do ano civil hebraico.

3. ROSH HASHANÁ –

È o Ano Novo Judaico, é uma festa que ocorre no primeiro dia do


primeiro mês do Calendário Judaico.

É o aniversário do Universo, o dia em que Deus criou Adam e Eva.


Começa, no pôr do sol na véspera do Tishrei e termina após o
anoitecer, no 2º dia de Tishrei.
4. ANO HEBRAICO 5780 –

Seu início, correspondeu ao dia 30 de setembro de 2019, do


Calendário Apostólico Romano.
É uma data Fixa no Calendário Judaico, mas variável em relação
ao Calendário Gregoriano que é o do Cristianismo Católico.

No Calendário Judaico o mês começa a cada Lua Nova, tem 12


(doze) meses, mas estes têm um número diferente de dias,
variando entre 29 e 30.

5. CALENDÁRIO GREGORIANO –

É um calendário de origem europeia, utilizado oficialmente pela


maioria dos países. Foi promulgado pelo Papa Gregório III a 24 de
fevereiro do ano de 1582 através da “Bula Inter Gravíssima” em
substituição ao Calendário Juliano implantado pelo líder romano Júlio
César em 46 a.c.

112 6. HOLOCAUSTO – MUSEU DA MEMÓRIA

Yom haShoá - o dia da lembrança das vítimas do Holocausto. É


feriado nacional. Este ano aconteceu em 21.04.2020.
113

4. LITURGIAS RELIGIOSAS
4.1. BATISMO

114

Para o povo judeu o batismo é um ato litúrgico, de


arrependimento e inserção: e de limpeza das impurezas
espirituais:

- Ritualmente, a circuncisão é o ato e o sinal de inserir


o Cristão na comunidade judaica.

- O batismo nas águas, por imersão total, é o meio de


embutir o Cristão no Corpo de Cristo, através da
purificação da alma.

É possível, imergir tantas vezes quantas forem as


impurezas praticadas. O judeu não pode ser impuro. É
chamado de batism,o do arrependimento.
Por analogia, relativamente ao cristianismo praticado
pela Igreja Católica Apostólica Romana, é a Eucaristia. A
consagração ao Senhor, pelo banho para a purificação
do espírito. Tinham seu passadop e seus pecados
apaados ou absolvidos

As liturgias enfatizam a necessidade de o povo de Deus


ser limpo, em sentido espiritual e físico, que tiram a
impureza da carne.

115

4.2. BAR MITZVAZ – BAT MITZVAZ


Na religião judaica, o ato litúrgico em que, os adolescentes
116
atingem a maioridade religiosa, passando a ter obrigação de
cumprir os preceitos religiosos.

O masculino no 13º aniversário. A feminina com 12 anos.

Para marcar esta passagem uma cerimônia é realizada, para


denotar a importância de cada um dos judeus, na corrente
ancestral.

A cerimônia é comemorada na Sinagoga, na segunda ou quinta


feira mais próxima da data do aniversário do jovem, segundo o
calendário judaico.

E, diante da comunidade lê a Torá, no seu primeiro segmento


de Gênese, - e a porção semanal da Lei será lida, por inteira,
no shabat – sábado - seguinte.

5. SIMBOLOGIA HEBRAICA
5.1. ESTRELA DE DAVI DE SEIS PONTAS.

117

Conhecida, também, como Escudo da Torá, ou de Davi, é um


símbolo de realeza e antigamente os guerreiros do povo de
Israel a usava em seus combates e batalhas.

Formada por dois triângulos equiláteros sobrepostos, é dos


símbolos judaicos o mais difundido.

5.2. MEZUZAH
118

MEZUZAH – “Pergaminho que as escreverá nos umbrais


de tua casa e nas tua portas e em teus portões.
Deuteronônio, 6 a 9”. Contém 22 linhas escritas com uma
pena de ave.

Apontada para dentro da casa ou estabelecimento a 7


palmos de altura da porta, com extremidade de cima do
lado direito de quem entra e Inclinada a 45º para dentro
do recinto.

Pergaminho – Oração – Deus, seja meu protetor e minha


sombra, a minha direita. Deus guarda a saída e a minha
entrada, agora e sempre.
Todas as bençãos apóstólicas são colocadas dentro do
Mezuzah, do lado de fora uma palavra hebraica trinôma,
vida, paz e prosperidade. Que tem o poder de afastar o
anjo da morte.

119

5.3. MENORAH
120

É um candelabro de sete braços, e um dos principais e mais


difundidos símbolos do judaísmo.

São longas velas que devem permanecer acessas durante 24


horas – um dia – para dar luz a todos, iluminar o indivíduo e a
nação durante esse período e acessas diariamente.

Hoje é muito lembrada, como símbolo do parlamento, que


tem o leiaute de suas cadeiras em formato de uma menorah.

5.4. CHANUKIAH
121

É um candelabro de nove braços, a ser usado durante oito


dias do feriado judaico de chanukiá, também chamada Festa
das Luzes.

Nesta celebração os judeus de todo o mundo comemoram a


libertação do templo de Jerusalém do domínio dos gregos
otomanos.

5.5. TALIT
É um Xale com franjas nas pontas e usado pelos homens
durante a oração na Sinagoga.
122
O seu objetivo é criar um ambiente de igualdade entre os que
estão orando.

Isola do mundo quem está orando, e facilita sua concentração


durante a prece.

5.6. KIPÁ
123

Solidéu usado na cabeça, como touca, utilizado pelos judeus


como símbolo da religião e de temor a Deus.

Significa arco, lembrando-lhe, constantemente, que existe


alguém acima dele e que há um Deus maior que ele.

5.7. SHOFAR
124

Nos tempos antigos, eram tocados em ocasiões solenes, como


na Revelação Divina no Monte Sinai.

Lembrar a aceitação da Torá e nossas obrigações decorrentes


de suas leis.

Nas guerras contra inimigos perigosos, suas trombetas de


chifre curvado de carneiro, serviam como um grito de
guerra, bem como no âmago dos judeus aos impulsos maus
e paixões.

5.8. HAMSÁ
125

Literalmente, referindo-se aos cinco dedos estendidos da


mão, trata-se de um símbolo da fé judaica e islâmica, cujo
objeto tem aparência da palma da mão.

Também, conhecido como Mão de Deus, ou mão de hameshh,


é considerado um amuleto contra o mau-olhado para os
adeptos do judaísmo e do islamismo.

6. SHALOM
126

Shalom – Literalmente, a paz esteja convosco. Fique em Paz.


Cumprimentar alguém ao entrar ou sair. Como saudação,
expressões como, oi, olá e adeus.

Feriados em Israel
 início /
 perguntas mais frequentes /
 feriados em israel
Os feriados judaicos são celebrados em Israel oficialmente e nacionalmente
e dias de férias são definidos de acordo com eles.
O judaísmo tem seu próprio calendário, o calendário judaico, que tem 12
meses lunares baseados no ciclo da Lua. Os meses hebráicos começam
com a primeira aparição da Lua nova, no décimo quinto dia do mês é
quando a Lua está cheia e o mês termina quando a Lua desaparece (antes
de seu reaparecimento).
Grid
View as 

Hanucá
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O festival das luzes, o feriado que dura 8 dias: O Hanucá é pleno de alegria para
crianças e adultos
127

Dia da Memória do Holocausto


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O Yom Hashoá, Dia de Recordação do Holocausto e Heroísmo de Israel, é dedicado à


memória dos seis milhões de judeus mortos pelos nazistas e ao heroísmo da
resistência judaica ao Holocausto.
Dia da Independência
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O Dia da Independência marca a Declaração de Independência de Israel com o fim do


mandato britânico.

Dia de Jerusalém
128
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O Dia de Jerusalém é um feriado nacional que marca a libertação da cidade e sua


reunificação após a Guerra dos Seis Dias.

Lag Baômer
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O Lag Baômer é o 33º dia da contagem do Ômer, um ritual que remonta aos tempos
antigos

Pessach
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129

O Pessach dura sete dias e é celebrado para comemorar o êxodo do Egito - uma das
principais narrativas da história do povo judeu e da cultura ocidental em geral.

Purim
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Vestindo fantasias e sendo feliz: Os preceitos religiosos do Purim incluem até mesmo
ficar bêbado.

Rosh Hashaná
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130

O Rosh Hashaná marca o começo do ano judaico

Shavuot
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Um feriado fundamentalmente agrícola, Shavuot comemora o costume de trazer ao
Templo Sagrado os primeiros frutos da colheita e os primeiros animais nascidos dos
rebanhos com oferendas.

Yom Kipur
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131

Simhat Torah celebrates the conclusion of the annual cycle of public Torah readings

Sucot
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O Sucot se origina na Torá e celebra as cabanas nas quais os israelitas viviam no
deserto após o êxodo do Egito

Tishá Beav
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132

É um dia de luto que marca a destruição do Primeiro Templo, destruído em 586 a.C.
por Nabucodonosor, rei da Babilônia; e a destruição do Segundo Templo, destruída
em 70 d.C. por Tito, imperador de Roma. Esta data também marca o início da expulsão
dos judeus da Espanha em 1492, por ordem da monarquia espanhola. Tudo isto
tornou este dia o principal dia de luto entre os outros dias de luto no calendário
judaico. Há mais três dias de luto associados à destruição do Primeiro e do Segundo
Templos, mas Tishá Beav é a mais importante de todas.
Tu Bishvat
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O feriado de árvores e frutos secos: O Tu BiShvat simboliza a conexão entre o povo


judeu e a terra.

Yom Hazikaron (Dia da Memória)


133
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Yom Hazikaron é o dia que homenageia aqueles que tombaram nas guerras de Israel e
aqueles que foram vítimas do terrorismo

Yom Kipur
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O Yom Kipur, o Dia da Expiação, é o feriado mais sagrado e importante do judaísmo.

134

7. FERIADO NACIONAL

YOM HASHOÁ – MUSEU DA MEMÓRIA


135

Yom haShoá - o dia da lembrança das vítimas do Holocausto. É


feriado nacional. Este ano aconteceu em 21.04.2020.

Dia da recordação das vitimas doholocaust,sebdo feriado


naciomal

8. YOM HAATZMAUT

Dia da independência da Iscrael


Cujo feriado feriado ocorre em 14 de maio de 1948,-
correspondeu - dia no qual declarou o fim do Mandato Britânico
da Palestinae a fundação do estado de israel.
.Bem Gurion

Precede a este dia o dia de yom hazikaron, dia da lembrança


dossoldados mortos de israelme dsas víyimas do terrorismo

6. HOLOCAUSTO – MUSEU DA MEMÓRIA


136

Yom haShoá - o dia da lembrança das vítimas do Holocausto. É


feriado nacional. Este ano aconteceu em 21.04.2020.
9. yom hazikaron

dia da memória pelos soldados

e precedea comemoração da independenciade israel véspera dia


da independencia

é um feriado nacional deisrael em memória dos soldados


tombados emortos e víyimas deatentados terrorista.

137
10. yom Yerushalayim

Dia de Jerusalém

É um feriado nacional israelense que comemoraa reunificaçõa


138
da cidade de jerusalem, e o estabelecimento definitivo do
controle oilítico e militarsobrea totalidade da cidadw santa, a
partir de 07 de junho de6, pelo calendário gregoriano, DATA É
CELEBRADAS ANUALMENTE NO DIA DOMES HEBRAICO DE
IYAR.

O DIA É MARCADO POR CERIMONIAS OFICIAIS DO


ESTADO,SERVIÇOS RELIGIOSOS EMMEMÓRIADOSSOLDADOS
QUE TOMBARAM EM BATALHAS NA DEFESADA CIDADE,
DESFILES MILITARES, EA RECITAÇÃO DE BENÇÃOS
ESPECIAIS NAS SINAGOGAS.
HÁ TAMBEM FESTIVIDADES POPULARES,COM ESPETACULOS
DE MUSICAS EDANÇAS.
11. ROSH HASHANAH
OANONOVO JUDAICO

1. TISHREI –
Primeiro mês do ano civil hebraico.

139
2. ROSH HASHANÁ –

È o Ano Novo Judaico, é uma festa que ocorre no primeiro dia do


primeiro mês do Calendário Judaico.

É o aniversário do Universo, o dia em que Deus criou Adam e Eva.


Começa, no pôr do sol na véspera do Tishrei e termina após o
anoitecer, no 2º dia de Tishrei.
12. YOM KIPPUR

DIA DO PERDAO

YOM KIPPUR –

O dia do perdão eterno, realizada uma vez a cada ano, é a mais


importante data da religião judaica.

Celebrada no décimo dia de Tishrei – entre setembro e outubro-, é


dedicado à contrição, às orações e ao jejum, como demonstração de
arrependimento e expiação, em busca do perdão divino e de
felicidade no ano que se inicia.
140

13. ASERET YEMEI TESHUVA

DEZ DIAS DEARREPENDIMENTO

São os dez primeiros dez dias do ano judaico, que inicia-sed com a
ferstividadw de rosh hasshanae encerra-se com o kippur
141
14. SUCOT -pessach

FESTA DOS TABERNÁCULOS ou festa das cabanasou festa das


tendasou ainda l, no começo de outybro. 40anos de deserto
Peregrinação cabanas expulso doegito e passou q40 anos no
deserto
dias
15 SHEMINI ATZERET E SIMCHAT TORÁ- chanuca

É uma fersta judaicaz, também conhecida como o ferstival das luzesé


uma palavra hebraicaz que significa dedicação ou inauguração. A
ptimrira noite de chanucá começa ap´pos o põr do sol do 24° dia do
mesz dekisleve as festa e comemorada por oito dias.É ooitavo dia de
assembleiadeacordo com o judaísmo. Depois de complrta 7 dias, o
oitavo dia significa que ojudeu quer permanecer mais um dia na
presença divina - sucot

Simchat torá é o nome da festividaded que ocorre nodiaapos


142
sucot;nestedia encerra-se e reinicia a leitura anual da torá,
comolembrança dasua eternidadws. do oitavo dia
16. CHANUCÁ

FESTIVAL DA LUZES OU FESTA DA DEDICAÇÃO

1. êv – Lute com luz

A Festa das Luzes. Acontece no inverno e na aridez desse


deserto frio e escuro acendemos nossas 9 velas de Chanucá.
Ensina a mensagem da esperança para enfrentar as
dificuldades. NADA NOS DEVE OBSTACULAR.
143
????????

Festa judaic conhecida como festa das luzesz da consagraçlão ou


das luzes, com 8 diasdeduraçãso próxima ao natal, que comemoraa
vitória da revolta dos macazbeus,em 165 a.c. contra a dominação
sírio-helenica da judeiasob o selêucida antíoco.

O dia10 de tevet no calendariojudaico marca o inicio do cerco de


jerusalem, de refletir sobre o significado dos trágicos eventosda
historia judaicaz
17. DEZ DE TEVET - pessach

É um dfia de jejum, e de luto nacional para opovo judeumarca o sitio


a jerusalempor nabucodonozot,no ano 485 a.c., esubsequente
destruição do primeiro templio sagrado . essa data é cosideradao
inicio da dispersão de nosso povo e de todas as provações e
tragédias que se seguiram

144
18. TU BISHVAT
NOVO ANO DAS ÁRVORES

É a festividade do ano novo das arvores no calendário judaico. Ele


marca o dia em que os dízimos da fruta são contados em cada ano.

Nos tempos modernos,é comemorado comendfo vários frutose nozes


associadas á terra de israel.
145

Não é feriado

3. ANO HEBRAICO 5780 –


Seu início, correspondeu ao dia 30 de setembro de 2019, do
Calendário Apostólico Romano.

É uma data Fixa no Calendário Judaico, mas variável em relação


ao Calendário Gregoriano que é o do Cristianismo Católico.

No Calendário Judaico o mês começa a cada Lua Nova, tem 12


(doze) meses, mas estes têm um número diferente de dias,
variando entre 29 e 30.

5. CALENDÁRIO GREGORIANO –

É um calendário de origem europeia, utilizado oficialmente pela


maioria dos países. Foi promulgado pelo Papa Gregório III a 24 de
fevereiro do ano de 1582 através da “Bula Inter Gravíssima” em
substituição ao Calendário Juliano implantado pelo líder romano Júlio
146 César em 46 a.c.
.

CAPÍTULO XI – CALENDÁRIO JUDAICO

147

Luach, é o nome do Calendário Hebraico, com suas


singularidades. Seus dias são contados a partir da criação
de Adão, segundo a crença israelita.
O calendário teria contornos, na sua origem, em histórias
religiosas ocorridas a 2448 anos depois de Adam.

Na lua nova do mês de Nissan (março/abril) quando Deus


apontou a Moisés a saída dos escravos hebreus do Egito.

Os meses judaicos correspondem aos seguintes meses no


Calendário Gregoriano:

Calendário
Gregoriano
Calendário Judaico

Tishrei 1 – JANEIRO setembro/outubro

outubro/novembro
Chesvan 2 – FEVEREIRO

148 novembro/dezembro
Kislev 3 – MARÇO

Tevet 4-ABRIL dezembro/janeiro

janeiro/fevereiro
Shevat 5 – MAIO
fevereiro/março
Adar 6-JUNHO

março/abril

Nissan 7 -JULHO
abril/maio
Lyar 8-AGOSTO

maio/junho
Sivan 9 -SETEMBRO
Calendário
Gregoriano
Calendário Judaico

junho/julho
Tamuz 10 – OUTUBRO

julho/agosto
Av 11- NOVEMBRO

Elul 12 – DEZEMBRPO
agosto/setembro

l l
*) Adar2 (13º mês nos
anos
149 março/abril março/abril
bissextos)
Calendário
Gregoriano
Calendário Judaico

SIGNIFICADO DOS NOMES


DOS MESES JUDAICOS

150

DIAS DO Calendário Judaico


No calendário judaico, os dias da semana também são
diferentes:

Semana
Semana no Calendário Gregoriano
Judaica
Semana
Semana no Calendário Gregoriano
Judaica

 Para o povo judeu o sábado (shabat) é considerado um


dia sagrado, sendo, portanto, reservado para o descanso.
 Diferente de outras culturas, os domingos são dias
produtivos de trabalho.
 Também é comum que as tardes das sextas-feiras sejam
livres.

151

Significado dos nomes dos meses do ano:

1. TISHREI – Aperfeiçoe a si mesmo


Todo Rosh Hassan começa com o mandamento para a
introspecção pessoal. É o Ano Novo, momento para pensar
em si, na família e no mundo. Deus exige essa reflexão
para identificarmos as falhas e começar um processo de
arrependimento, confissão e contrição. É o momento para
orarmos pelo mundo e para nós mesmos. Este mês tem
muitos feriados.

2. Cheshvan – Faça cada dia se importante

No Judaísmo não tem um dia sequer para homenagens


exclusivas, tais como, mãe, pai, estudante, mas o importante é
mostrarmos dia a dia a nossa gratidão, amor e esse sentimento
perpetuar e não ficar restrito a uma só data. Todo dia é dia de
reverencia., dia de agradecer. Nos aniversários ofertar um
presente é natural, mas o importante é mostrar a relação de
carinho e expressar a preciosidade dessa relação. Não existe
152
culto de personagens marcados simbolicamente por dia e sim
os seus feitos sempre recompensados pela espiritualidade.

3. êv – Lute com luz

A Festa das Luzes. Acontece no inverno e na aridez desse


deserto frio e escuro acendemos nossas 9 velas de Chanucá.
Ensina a mensagem da esperança para enfrentar as
dificuldades. NADA NOS DEVE OBSTACULAR.

4. Tevet – Quebrando as Muralhas

O 10ºdia de Tevet é um dia de jejum e lamúrias. O sentimento


é de tristeza e dor pela quebra das Muralhas a cidade de
Jerusalém levando a destruição do Primeiro Templo.
5. Shevat – Novos começos silentes

O 15] dia desse mês celebra-se a primavera quando ainda se


está no invern0,Deseja “nos lembrar que a semente dos frutos
do versão enraízam muito mais cedo – é nos antecipando que
lograremos chegar primeiro e as dificuldades se tornarão mais
impotentes quando se cuida com bom adubo, semeia-se com
pelo necessário e certo para colher os m melhores frutos.

6. Adar – Milagres ocultos

Os vêm em formatos diferentes. Não é preciso ter a visibilidade


do acontecimento divino para o seu merecimento. Ele acontece
a cada dia e Deus em permanente sintonia com seus devotos
leva suas dádivas a quem as pede, aqueles que oram e
praticam o bem cristão. Por ocaso pensamos, muitas vezes em
153 coincidência ou sorte, mas deveríamos agradecer a Deus pelas
benesses. se ocorreu na escuridão não foi obra do acaso é
Deus que permanece em seu anonimato. E todo dia, hoje,
amanhã, no próximo mês luzes preciosas tocam as nossas
feridas ou

nossos desejos são necessários entendê-las a sua origem e


reconhecer a magnanimidade do Senhor.

7. Nissan – centralidade das famílias

A nossa história começa sempre com uma celebração no lar ou


na família, sempre no seu aconchego. Ser livre é ter tempo
para disponibilizar os nossos melhores momentos com a
família, com os filhos, netos e entes queridos. Cada pai deve
ser um mestre e cada lar um santuário. Respeito é que mais se
necessita no momento.

8. Lyar – Centralidade de Israel

Lyar em nos tempos contemporâneos concentra-se nos


milagres dos judeus retornarem as suas origens terrenas, a
ocuparem a terra dos judeus, aquela prometida por Deus. M
Falta ainda a redenção, a libertação dessa sinistra e
assombroso ódios que ainda se tem dos hebraicos, como se
não bastasse o holocausto. Falta ainda a compreensão da
importância do povo judeu para o resgate dos ensinamentos
bíblicos e orar forte e firmemente contra as ameaças que ainda
nos atormenta. É inaceitável esse preconceito, esse racismo,
154
essa intolerância.

9. Sivan – Centralidade da Torá

É inquestionável que a nossa existência está escrita na Torá. E


que devemos perseverar na fé para que a nossa missão
contida nos mandamentos floresce e resplandeçam, como
como o sinal de permanente aleta para comunidade mundial.
Recebemos a Torá e teremos que oferecê-la como mais
significativa ofertas que podemos dar. E assim teremos a
felicidade, as benções divinas e, a guarda e a proteção eterna.

10. Tamuz – Tábuas Quebradas


Em 17 de Tamuz Moshê desceu as montanhas com aas
Tábuas recebidas com os ensinamentos de Deus mostrando-
nos ao mundo como devemos proceder em nossas vidas, em
nossas comunidades com carinho, solidariedade e afinidades
pessoais. Qual não foi a indignação ao ver o povo judaico
adorando um bezerro de ouro materializado como se fosse um
ser divino. Quebrou as Tábuas para mostrar ao povo judeu que
ele não merecia o ensinamento do Criador contendo Decálogo.
Neste dia jejua-se para que a lição seja sempre a
representatividade de Deus e não repetir os pecados dos
antepassados.

11. Av – Deus é nosso Pai

É o dia da tragédia esse dia é marcado pelas atrocidades


desde a destruição de dois templos como o dia em que
começou a primeira guerra mundial. Deus trouxe a fúria
155
consigo pelos nossos pecados. Como consolo é o mês que
significa Pai, mostra-nos que apesar de todas essas tormentas
destruidoras avassaladoras, Deus é Deus e a Ele que devemos
pedir perdão de nossos pecados. E retomarmos o caminho
certo.

12. Elul – Amor Divino


Antecede o Rosh Hashaná e essa proximidade com o Ano
novo mostra-nos que temos um vínculo muito grande com
Deus e que nenhuma distância nos impede de nos arrepender
e dar uma retornada. Elul nos garante que não existe barreira e
percursos imensos que nos afaste do Senhor, é só dar o
primeiro passo.

156

E omundo

Em 7 de novembro, quando Herschel Grynszpan,jovem


refugiado judeu que vivia em Paris, entrou armadona embaixada
alemã e atirouemErnst von Rath,terceiro secreta\rio,

Ele estava transtornado pela notícia de que seus e milhares de


outros judeus havia sido sumariamente expulsos da Alemanha e
abandonados em terra de ninguém, na fronteira alemã-polonesa.
Eem de novembro, A Noitedos Cristais,marcou o inicio da
segunda fase da perseguição judaica, mais brutal, violenta, e
mais mortal.

Façamos, na medida em que as gerações se nos aproximam, uma


singela reverência, e o preito a marcar com saudades os entes que
nos antecederam é consagrando, uma parte deste compêndio à
sua história religiosa hebraica.

Nas primeiras décadas do século XX, os judeus alemães


eram os mais cultos, ricos e poderosos dentre os seus
157
irmãos de outras nacionalidades, exercendo profunda
influência no mundo judaico. Em Berlim, eles atingiram seu
ponto mais alto.

Os judeus participavam de seu florescimento, prosperaram.


Metade dos bancos privados estavam em mãos de judeus,
tendo os empreendedores da comunidade fundado
indústrias inovadoras e cadeias de lojas de departamentos.

O nacioinalismo alemão ressurgia de forma maisacentuada


no antissemitismo, conservador, e xenofóbico, embora
variasse a intensidade e sua virulêrncia.

Na primeira guerra mundial, na medida emque se


prenuncia a derrota alemã que projetara uma vit´poria em
poucos meses, começaram a peocurar os culpados.
% dos soldados na frente de combate alemã eram de
judeus..

Elesse engajaram na reconstru~ção do país. Esua


participação na vida econômica, política e cultural
alcsançou proporções sem precedentes.

Nãohavia quem amasse mais as arte, o teatro, e amúsica


mais do queum judeualemão, e os mais ricos patronos e
colecionadores de arte pertenciam `aburguesia judaico-
alemã.

Eles tiveram um papel de destaque nas ciências,


pontificando AlbertEionsterin,quemudfou radicalmente
nossa visão do universo e Paul Ehrlich descobriu a
quimiotgerapioa.
158 Os azntigoa preconceitos.porém, estavam vivos, e a estes
foram adicionados acusações, na guerra, os
judeusesfaquearam a Alemanha pelas costas.

Naépoca, preso e condenadopor alta traição, Hitler


escrfeve seu livro famoso, Minha çluta, .Seu ódio contrsa
os judes transbordam pelas páginad dolivro.

Paraeledcois pergos ameaçavam destruí -os judeus e os


bolchevismo. E chegou a declaraer que sealgum
diachegasseaopoder, seria uma Alemanha livredos judeus,
edasua prioridade o extermínio dos judceus. aAlemanha

Em , foi nomeado chanceler e vai raspidamente


trasnsformara frágil democracia além]a em uma ditadura
unipartidária\baseado emum nacionalismo e autotitaeismo
e uma ideologia racista e antisemita.

Mas, no início da década de 1930, desabou sobre sua


tranquilidade e prosperidade uma sombra que aumentava
assustadoramente.

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

O ano 1933, é o divisor de águas em sua história, o início


da guerra que Hitler declarou conta os judeus.

Oprocesso antissemiktismo prossegue e Hitler continua a


afirmar que todososmalesda Alemanha osjudeus sãoos
culpados.

´~E intensificafo oprocessode ariazação,um eufemismo


159
pazra o sequestro e roubo de propriedadwss judaicas. O
confisco do capital judaico e a venda forçada dw empresas
controladas por judeus se torna pr´~zatica diária.

Holocausto é o nome que se dá para o genocídio


cometido pelos nazistas ao longo da Segunda Guerra
Mundial e que vitimou aproximadamente seis milhões de
pessoas
entre judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de
Jeová, deficientes físicos e mentais, opositores
políticos etc. De toda forma, o grupo mais foi vitimado no
Holocausto foi o dos judeus. Estes, por sua vez, preferem
referir-se a esse genocídio como Shoah, que em hebraico
significa “catástrofe”.
Antissemitismo nazista
O Holocausto foi o resultado final de um processo de
construção do ódio de uma nação contra um grupo
específico que vivia na Europa. O antissemitismo na
Alemanha não surgiu com o nazismo e remonta a
meados do século XIX, em movimentos nacionalistas,
além de ter sido manifestado por personalidades alemãs da
época, como Hermann Ahlwardt e Wilhelm Marr.
Quando o partido nazista surgiu, em 1920, o
antissemitismo era um elemento que já fazia parte da
plataforma do partido, e os historiadores acreditam que
Adolf Hitler tornou-se antissemita em algum momento de
sua juventude, quando vivia em Viena, capital da Áustria.
A presença do antissemitismo no Nazismo, durante sua
fundação, era perceptível no programa do partido, que
afirmava que nenhum judeu poderia ser considerado
160 cidadão alemão.
O antissemitismo alemão ia do pressuposto de que a raça
alemã era superior e de que os judeus eram
responsáveis por todos os males da sociedade alemã.

Hitler e os nazistas começaram por colocar nos judeus a


culpa da derrota alemã na Primeira Guerra Mundial por
meio da “teoria da punhalada nas costas”.
Os nazistas falavam que os judeus possuíam um plano de
dominação mundial e criticavam contundentemente o
liberalismo econômico e o capitalismo financeiro, pois
afirmavam que ambos eram dominados pelos judeus.
Um dos exemplos claros dessa ideia (situada na época das
teorias da conspiração utilizadas para acusar os judeus) foi
um livro de origem russa e autor desconhecido que foi
sucesso de vendas na Alemanha: “Os protocolos dos
sábios de Sião”.
Quando os nazistas assumiram o poder na Alemanha,
em 1933, o processo de exclusão e de violência contra os
judeus foi iniciado de maneira progressiva. O discurso
nazista, aliado à doutrinação realizada na sociedade alemã,
tornou os judeus bodes expiatórios e vítimas de
perseguição intensa, não só por parte do governo, mas
também pelos civis.

161

Durante os anos do Holocausto, os nazistas obrigavam os


judeus a usarem uma estrela costurada na roupa como
forma de identificação.**

Uma das primeiras ações tomadas pelos nazistas contra os


judeus foi uma lei, aprovada em 7 de abril de 1933,
chamada Berufsbeamtengesetz, traduzida para o
português como Lei para Restauração do Serviço
Público Profissional. Essa lei proibia definitivamente os
judeus de atuarem em cargos públicos.
Outras leis do tipo foram aprovadas para outros ofícios,
como médicos e advogados. Além das leis, os judeus eram
alvos de ataques promovidos pelas tropas de assalto
nazistas (SA) e tinham suas lojas boicotadas a nível
nacional.

Com o passar do tempo, novas ações contra os judeus


foram sendo organizadas na Alemanha. Essa perseguição
forçou milhares de judeus a fugirem do país, mas muitos
outros não conseguiram, pois nenhum país estava disposto
a recebê-los.

Na década de 1930, duas medidas tomadas por Hitler 


simbolizaram o reforço do antissemitismo na Alemanha:
as Leis de Nuremberg e a Noite dos Cristais.

162  Leis de Nuremberg

As Leis de Nuremberg foram um conjunto de três leis,


aprovadas no ano de 1935, que legislavam sobre
a miscigenação, a bandeira e a cidadania alemã. As
duas leis que se relacionavam diretamente com o
antissemitismo na Alemanha eram a Lei de Proteção do
Sangue e da Honra Alemã e a Lei de Cidadania do
Reich.

A primeira lei tratava a respeito da miscigenação, proibindo


que judeus e não judeus casassem-se, além de proibir
também que não judeus tivessem relações sexuais com
judeus. Essa lei também falava que judeus não poderiam
ter empregadas domésticas com idade inferior a 45 anos
nem
portar as cores do Reich (preto, vermelho e branco).

A segunda tratava a respeito da cidadania, basicamente definindo


quem era cidadão e quem não era. Segundo essa lei, todas as pessoas
que tivessem ¾ de sangue judeu ou fossem praticantes do judaísmo
seriam consideradas judias e automaticamente não teriam direito à
cidadania. Com isso, os judeus eram considerados apenas “sujeitos de
Estado” e eram pessoas que tinham de cumprir suas obrigações, mas
não tinham direito a receber nada do que um cidadão receberia.
 Noite dos Cristais
A Noite dos Cristais foi um marco na história do antissemitismo
porque oficializou um ponto de partida para o aumento da violência
contra os judeus na Alemanha. Esse acontecimento passou-se
em 1938 e é definido como um pogrom, isto é, um ataque violento
que é organizado contra um grupo específico.
163 Esse ataque aconteceu em represália ao assassinato de Ernst vom
Rath, um diplomata alemão, por um estudante judeu de 17 anos que
queria vingar-se da expulsão de seus pais da Alemanha. Dias após o
diplomata alemão ser atacado em Paris, uma ordem foi emitida por
Hitler e Goebbels para que ações de violência fossem organizadas
como forma de intimidar os judeus.
Os ataques da Noite de Cristal iniciaram-se na noite de 9 de
novembro de 1930 e estenderam-se até a metade do dia seguinte.
Membros do partidonazista, a maioria à paisana, partiram para um ato
de violência inédita na Alemanha. Casas, estabelecimentos, orfanatos
e sinagogas foram atacadas com os agressores destruindo o que
encontravam pela frente, agredindo as pessoas que estavam nesses
locais e, por fim, incendiando as construções.
Ao fim do pogrom, milhares de estabelecimentos foram destruídos, e,
apesar do número oficial de mortos ser 91, especula-se que os mortos
nesse ataque possam ter chegado à casa dos milhares. A Noite dos
Cristais também inaugurou o aprisionamento de judeus em campos de
concentração, pois, durante o pogrom, 30 mil judeus foram presos e
encaminhados para Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen.

As cristãs mantivrtam-se em total silencio ,com exceção dodre


cayógólico bernhaed lichtenberg que pagou com a vida por suas
manifestações públicas em favor dos judeus.a grande maioria havia
empobtrecido dependendo das organizações sociais para soreviver,
apenas 16por cento dos chefes de família tinham algum tipo de
emprego…

Não foram criados guetos na Alemanha mas severas leis de moradia


forçavam os judeus fisicamente aptos eram obrigados a trabalhos
foeçados compulsório, Mas foram somando restrições

Solução Final

164

Na imagem estão Heinrich Himmler (à esquerda) e Reinhard Heydrich (no centro), os dois arquitetos
da Solução Final.*
Com o início da Segunda Guerra, em 1939, a cúpula do partido nazista
começou a discutir “soluções” sobre como tratar a “questão judia” na
Europa. Como mencionado, o aprisionamento de judeus em campos
de concentração foi iniciado ainda na década de 1930. Esses locais, no
entanto, não haviam sido preparados para serem locais de extermínio
como aconteceu durante a guerra.
Quando a guerra começou, os judeus no Leste da Europa começaram a
ser agrupados em guetos, um local específico da cidade que era
cercado pelas tropas nazistas e separado especificamente para o abrigo
de judeus. Os guetos agrupavam-nos para que mais tarde fossem
enviados para os campos de concentração e extermínio.
Além disso, os nazistas debatiam soluções a serem colocadas em
prática para lidar com a “questão judia”, e duas dessas foram
amplamente debatidas. Na primeira, os nazistas tentaram obter
autorização para deportar os judeus para a União Soviética, mas Stalin
não aceitou recebê-los. Outro plano ficou conhecido
165 como Plano Madagascar, em que os nazistas cogitaram deportar os
judeus da Europa para a ilha de Madagascar, na África.
166
Por toda a Europa, os judeus eram aglomerados e transportados, para os guetos e campos de
concentração, em vagões de trem.
De toda forma, o plano de exterminar todos os judeus após a
guerra é classificado pelo historiador Timothy Snyder como
uma utopia de Hitler que foi reformulada por dois membros do
Partido Nazista à medida que a guerra foi tomando o rumo que não era
desejado pelos nazistas.|1| Os reformuladores do plano de extermínio
dos judeus foram Reinhard Heydrich e Heinrich Himmler e, por
isso, ambos são considerados arquitetos do Holocausto.
 Grupos extermínio
Quando a Solução Final foi elaborada, o que estava na mente de
Heydrich e Himmler era: “os judeus que não pudessem trabalhar
teriam que sumir, e os fisicamente capazes de trabalhar seriam usados
como mão de obra em algum lugar na União Soviética conquistada até
que morressem.” |2| Os primeiros judeus vítimas desse plano foram
alvo dos Einsatzgruppen, os grupos de extermínio.
Esses grupos de extermínio atuaram na Polônia, nos países bálticos e
na parte do território soviético que os nazistas estavam ocupando. A
atuação deles era simples: promover a limpeza sistemática de judeus
dessas áreas por meio de fuzilamentos. Os judeus dessas localidades
eram reunidos em um local específico, posicionados nus em frente a
uma vala comum e fuzilados um a um até que toda a população judia
desses locais estivesse morta.
A atuação dos grupos de extermínio nos locais citados, como os países
bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia), levou à morte por fuzilamento
milhares de pessoas. Na Lituânia, 114.856 judeus foram mortos; na
Letônia, 69.750 judeus foram executados; e na Estônia, foram
encontrados 963 judeus e todos eles foram executados. Durante esses
fuzilamentos, os grupos de extermínio também executaram outras
pessoas, como as que tinham colaborado com os soviéticos.|3|
O fuzilamento organizado pelo Einsatzgruppen que mais ficou
conhecido recebeu o nome de Massacre de Babi Yar, quando os
167 judeus de Kiev foram reunidos em um ponto da cidade e fuzilados
durante um período de 36 horas. Desse massacre resultaram as mortes
de 33.761 pessoas, que foram depositadas em uma vala comum.|4|
A atuação dos grupos de extermínio, no entanto, tinha limites
sensíveis aos objetivos nazistas. Primeiro, por mais eficiente que fosse
o Einsatzgruppen, a velocidade com que faziam a limpeza étnica era
abaixo do que os nazistas desejam. Segundo, o envolvimento dos
soldados em uma quantidade assombrosa de execuções trazia-lhes
graves problemas psicológicos. Isso forçou os nazistas a pensarem em
uma alternativa que fizesse o genocídio de judeus acontecer de
maneira mais ágil e impessoal.
Acesse também: Conheça a história do massacre de poloneses
realizado pela União Soviética em 1940
 Campos de concentração
ATENÇÃO: Esta imagem possui um conteúdo forte

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Cadáveres de judeus encontrados no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945.*

A solução encontrada pelos nazistas foi a de promover a execução de


judeus em câmaras de gás, que foram sendo instaladas nos campos de
concentração. Além disso, foram construídos seis campos de
extermínio cujo intuito era unicamente promover a execução de
judeus. A diferença é que, nos campos de concentração, os judeus,
além de executados, também tinham sua mão de obra explorada ao
máximo.
As câmaras de gás para a execução de judeus foi uma ideia exportada
do Programa de Eutanásia, também conhecido como Aktion T4.
Nesse programa, os nazistas executavam os que eram considerados
inválidos, ou seja, aqueles que possuíam algum tipo de distúrbio
mental ou deficiência física.

168

Entrada de Auschwitz, campo de extermínio responsável pela morte de 1,2 milhão de pessoas. No
portal está escrito “o trabalho liberta”.***
Os campos de extermínio, construídos pelos nazistas a partir do
segundo semestre de 1941,
foram: Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz e Majdan
ek. Todos esses campos localizavam-se na Polônia, e o primeiro deles
a ser construído foi o de Belzec — local no qual foi desenvolvida uma
câmara de gás à base de monóxido de carbono e que matava suas
vítimas por asfixia. Depois, outros campos foram construídos, e os
nazistas começaram a utilizar Zyklon-B para assassinar os
prisioneiros.
Dos campos de extermínio citados, a quantidade de mortos foi a
seguinte:

 Auschwitz-Birkenau: aproximadamente 1,2 milhão de mortos.


 Treblinka: aproximadamente 900 mil mortos.
 Belzec: aproximadamente 400 mil mortos.
 Sobibor: aproximadamente 170 mil mortos.
 Chelmno: aproximadamente 150 mil mortos.
 Majdanek: aproximadamente 80 mil mortos.
Dentre os horrores cometidos nos campos de concentração,
169
destacaram-se a jornada de trabalho extenuante, os maus-tratos diários
e as péssimas condições de higiene. Os prisioneiros ficavam em
alojamentos abarrotados de pessoas e eram mal alimentados.
Execuções sumárias sem motivação aparente aconteciam como forma
de tortura psicológica aos prisioneiros, além das execuções nas
câmaras de gás.

ATENÇÃO: Esta imagem possui um conteúdo forte

 Revelar Imagem

Duas crianças judias que morreram de inanição e foram encontradas no campo de concentração de
Bergen-Belsen em 1945.*

Os prisioneiros recebiam roupas insuficientes para o inverno, e, na


maioria das vezes, elas eram recolhidas em abril (principalmente no
caso de Auschwitz) independentemente se o frio tivesse passado ou
não. Eles eram obrigados a suportar a enorme quantidade de
percevejos e pulgas nos alojamentos. Quando adoeciam, o tratamento
oferecido era sempre insuficiente. Na questão médica, também há
registros de testes realizados em cobaias humanas por médicos
nazistas em diversos campos de concentração.
Os prisioneiros dos campos de concentração foram sendo libertados à
medida que os nazistas foram perdendo a Segunda Guerra Mundial.
No decorrer em que suas posições no Leste Europeu eram ameaçadas,
os nazistas intensificaram a velocidade das execuções de judeus nas
câmaras de gás, além de terem tentado ocultar os indícios do
genocídio, seja com a destruição de documentos, seja com a exumação
dos corpos.

Acesse também: Veja que país além da Alemanha construiu campos


de concentração durante a 2ª Guerra.
 Julgamentos em Nuremberg
Depois que os nazistas renderam-se em maio de 1945, muitos deles e
seus colaboradores, que atuaram diretamente no Holocausto, foram
170
presos e levados a julgamento no Tribunal Militar Internacional de
Nuremberg. Os julgamentos em Nuremberg estenderam-se durante
nove meses e condenaram alguns nazistas à morte por enforcamento,
enquanto outros receberam penas de prisão perpétua ou por certa
quantidade de tempo.
Entre os condenados à morte por enforcamento,
estavam Hermann Göring, chefe da Luftwaffe (força aérea),
e Joachim von Ribbentrop, ministro das Relações Exteriores da
Alemanha. Entre os condenados à prisão perpétua,
estavam Rudolf Hess, vice-líder do partido nazista, e Erich Raeder,
comandante da Kriegsmarine (marinha alemã).
Filmes
O Holocausto é um dos acontecimentos mais marcantes do século XX.
Os relatos dos sobreviventes até hoje chocam o mundo, e a cada dia
que se passa novas informações são descobertas. Por ser um assunto
tão relevante para a história recente do mundo, o Holocausto é um
assunto que chama grande atenção do cinema e, por isso, grandes
obras foram produzidas. Destacamos algumas delas abaixo:

6. “O pianista” (The Pianist), filme de 2002 dirigido por Roman


Polanski.
7. “A lista de Schindler” (Schindlers List), filme de 1993 dirigido
por Steven Spielberg.
8. “A vida é bela” (La Vita è Bella), filme de 1997 dirigido por
Roberto Benigni.
9. “O filho de Saul” (Saul fia), filme de 2015 dirigido por László
Nemes.
10. “Amém” (Amen), filme de 2002 dirigido por Constantin Costa-
Gavras.
|1| SNYDER, Timothy. Terras de Sangue: a Europa entre Hitler e Stalin. Rio de Janeiro: Record,
2012, p. 235-236.
|2| Idem, p. 236.

171 |3| Idem, p.241-243.


|4| Idem, p. 253.
*Créditos da imagem: Everett Historical e Shutterstock
**Créditos da imagem: Chameleons Eye e Shutterstock
***Créditos da imagem: Bondvit e Shutterstock

Por Daniel Neves


Graduado em História
172
173
174

Antigo campo de extermínio nazista, em Oswiecim, na Polônia. Esse foi o maior campo de
concentração nazista na Europa.*
Prisioneiros judeus que estavam instalados no campo de concentração
175
de Buchenwald.*

Holocausto

Holocausto é o nome que se dá para o genocídio cometido pelos


nazistas ao longo da Segunda Guerra Mundial e que vitimou
aproximadamente seis milhões de pessoas
entre judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de
Jeová, deficientes físicos e mentais, opositores políticos etc. De toda
forma, o grupo mais foi vitimado no Holocausto foi o dos judeus.
Estes, por sua vez, preferem referir-se a esse genocídio como Shoah,
que em hebraico significa “catástrofe”.
Antissemitismo nazista
O Holocausto foi o resultado final de um processo de construção do
ódio de uma nação contra um grupo específico que vivia na Europa.
O antissemitismo na Alemanha não surgiu com o nazismo e remonta
a meados do século XIX, em movimentos nacionalistas, além de ter
sido manifestado por personalidades alemãs da época, como Hermann
Ahlwardt e Wilhelm Marr.
Quando o partido nazista surgiu, em 1920, o antissemitismo era um
elemento que já fazia parte da plataforma do partido, e os
historiadores acreditam que Adolf Hitler tornou-se antissemita em
algum momento de sua juventude, quando vivia em Viena, capital da
Áustria. A presença do antissemitismo no Nazismo, durante sua
fundação, era perceptível no programa do partido, que afirmava que
nenhum judeu poderia ser considerado cidadão alemão.
O antissemitismo alemão partia do pressuposto de que a raça
alemã era superior e de que os judeus eram responsáveis por todos
176 os males da sociedade alemã. Hitler e os nazistas começaram por
colocar nos judeus a culpa da derrota alemã na Primeira Guerra
Mundial por meio da “teoria da punhalada nas costas”.
Os nazistas falavam que os judeus possuíam um plano de dominação
mundial e criticavam contundentemente o liberalismo econômico e o
capitalismo financeiro, pois afirmavam que ambos eram dominados
pelos judeus. Um dos exemplos claros dessa ideia (situada na época
das teorias da conspiração utilizadas para acusar os judeus) foi um
livro de origem russa e autor desconhecido que foi sucesso de vendas
na Alemanha: “Os protocolos dos sábios de Sião”.
Quando os nazistas assumiram o poder na Alemanha, em 1933, o
processo de exclusão e de violência contra os judeus foi iniciado de
maneira progressiva. O discurso nazista, aliado à doutrinação
realizada na sociedade alemã, tornou os judeus bodes expiatórios e
vítimas de perseguição intensa, não só por parte do governo, mas
também pelos civis.
Durante os anos do Holocausto, os nazistas obrigavam os judeus a usarem uma estrela costurada na
roupa como forma de identificação.**
177 Uma das primeiras ações tomadas pelos nazistas contra os judeus foi
uma lei, aprovada em 7 de abril de 1933,
chamada Berufsbeamtengesetz, traduzida para o português como Lei
para Restauração do Serviço Público Profissional. Essa lei proibia
definitivamente os judeus de atuarem em cargos públicos. Outras leis
do tipo foram aprovadas para outros ofícios, como médicos e
advogados. Além das leis, os judeus eram alvos de ataques
promovidos pelas tropas de assalto nazistas (SA) e tinham suas lojas
boicotadas a nível nacional.
Com o passar do tempo, novas ações contra os judeus foram sendo
organizadas na Alemanha. Essa perseguição forçou milhares de judeus
a fugirem do país, mas muitos outros não conseguiram, pois nenhum
país estava disposto a recebê-los. Na década de 1930, duas medidas
tomadas por Hitler  simbolizaram o reforço do antissemitismo na
Alemanha: as Leis de Nuremberg e a Noite dos Cristais.

178
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Acesse também: Entenda de uma vez por todas do que se trata o


fascismo
 Leis de Nuremberg
As Leis de Nuremberg foram um conjunto de três leis, aprovadas no
ano de 1935, que legislavam sobre a miscigenação, a bandeira e
a cidadania alemã. As duas leis que se relacionavam diretamente
com o antissemitismo na Alemanha eram a Lei de Proteção do
Sangue e da Honra Alemã e a Lei de Cidadania do Reich.
A primeira lei tratava a respeito da miscigenação, proibindo que
judeus e não judeus casassem-se, além de proibir também que não
judeus tivessem relações sexuais com judeus. Essa lei também falava
que judeus não poderiam ter empregadas domésticas com idade
inferior a 45 anos nem portar as cores do Reich (preto, vermelho e
branco).
A segunda tratava a respeito da cidadania, basicamente definindo
quem era cidadão e quem não era. Segundo essa lei, todas as pessoas
que tivessem ¾ de sangue judeu ou fossem praticantes do judaísmo
seriam consideradas judias e automaticamente não teriam direito à
cidadania. Com isso, os judeus eram considerados apenas “sujeitos de
Estado” e eram pessoas que tinham de cumprir suas obrigações, mas
não tinham direito a receber nada do que um cidadão receberia.
 Noite dos Cristais
A Noite dos Cristais foi um marco na história do antissemitismo
porque oficializou um ponto de partida para o aumento da violência
contra os judeus na Alemanha. Esse acontecimento passou-se
em 1938 e é definido como um pogrom, isto é, um ataque violento
que é organizado contra um grupo específico.
Esse ataque aconteceu em represália ao assassinato de Ernst vom
Rath, um diplomata alemão, por um estudante judeu de 17 anos que
queria vingar-se da expulsão de seus pais da Alemanha. Dias após o
179 diplomata alemão ser atacado em Paris, uma ordem foi emitida por
Hitler e Goebbels para que ações de violência fossem organizadas
como forma de intimidar os judeus.
Os ataques da Noite de Cristal iniciaram-se na noite de 9 de
novembro de 1930 e estenderam-se até a metade do dia seguinte.
Membros do partidonazista, a maioria à paisana, partiram para um ato
de violência inédita na Alemanha. Casas, estabelecimentos, orfanatos
e sinagogas foram atacadas com os agressores destruindo o que
encontravam pela frente, agredindo as pessoas que estavam nesses
locais e, por fim, incendiando as construções.
Ao fim do pogrom, milhares de estabelecimentos foram destruídos, e,
apesar do número oficial de mortos ser 91, especula-se que os mortos
nesse ataque possam ter chegado à casa dos milhares. A Noite dos
Cristais também inaugurou o aprisionamento de judeus em campos de
concentração, pois, durante o pogrom, 30 mil judeus foram presos e
encaminhados para Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen.
Solução Final

180

Na imagem estão Heinrich Himmler (à esquerda) e Reinhard Heydrich (no centro), os dois arquitetos
da Solução Final.*
Com o início da Segunda Guerra, em 1939, a cúpula do partido nazista
começou a discutir “soluções” sobre como tratar a “questão judia” na
Europa. Como mencionado, o aprisionamento de judeus em campos
de concentração foi iniciado ainda na década de 1930. Esses locais, no
entanto, não haviam sido preparados para serem locais de extermínio
como aconteceu durante a guerra.

Quando a guerra começou, os judeus no Leste da Europa começaram a ser


agrupados em guetos, um local específico da cidade que era cercado pelas
tropas nazistas e separado especificamente para o abrigo de judeus. Os
guetos agrupavam-nos para que mais tarde fossem enviados para os campos
de concentração e extermínio.

181
Além disso, os nazistas debatiam soluções a serem colocadas em
182 prática para lidar com a “questão judia”, e duas dessas foram
amplamente debatidas. Na primeira, os nazistas tentaram obter
autorização para deportar os judeus para a União Soviética, mas Stalin
não aceitou recebê-los. Outro plano ficou conhecido
como Plano Madagascar, em que os nazistas cogitaram deportar os
judeus da Europa para a ilha de Madagascar, na África.
183
Por toda a Europa, os judeus eram aglomerados e transportados, para os guetos e campos de
concentração, em vagões de trem.
De toda forma, o plano de exterminar todos os judeus após a
guerra é classificado pelo historiador Timothy Snyder como
uma utopia de Hitler que foi reformulada por dois membros do
Partido Nazista à medida que a guerra foi tomando o rumo que não era
desejado pelos nazistas.|1| Os reformuladores do plano de extermínio
dos judeus foram Reinhard Heydrich e Heinrich Himmler e, por
isso, ambos são considerados arquitetos do Holocausto.
 Grupos extermínio
Quando a Solução Final foi elaborada, o que estava na mente de
Heydrich e Himmler era: “os judeus que não pudessem trabalhar
teriam que sumir, e os fisicamente capazes de trabalhar seriam usados
como mão de obra em algum lugar na União Soviética conquistada até
que morressem.” |2| Os primeiros judeus vítimas desse plano foram
alvo dos Einsatzgruppen, os grupos de extermínio.
Esses grupos de extermínio atuaram na Polônia, nos países bálticos e
na parte do território soviético que os nazistas estavam ocupando. A
atuação deles era simples: promover a limpeza sistemática de judeus
dessas áreas por meio de fuzilamentos. Os judeus dessas localidades
eram reunidos em um local específico, posicionados nus em frente a
uma vala comum e fuzilados um a um até que toda a população judia
desses locais estivesse morta.
A atuação dos grupos de extermínio nos locais citados, como os países
bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia), levou à morte por fuzilamento
milhares de pessoas. Na Lituânia, 114.856 judeus foram mortos; na
Letônia, 69.750 judeus foram executados; e na Estônia, foram
encontrados 963 judeus e todos eles foram executados. Durante esses
fuzilamentos, os grupos de extermínio também executaram outras
184 pessoas, como as que tinham colaborado com os soviéticos.|3|
O fuzilamento organizado pelo Einsatzgruppen que mais ficou
conhecido recebeu o nome de Massacre de Babi Yar, quando os
judeus de Kiev foram reunidos em um ponto da cidade e fuzilados
durante um período de 36 horas. Desse massacre resultaram as mortes
de 33.761 pessoas, que foram depositadas em uma vala comum.|4|
A atuação dos grupos de extermínio, no entanto, tinha limites
sensíveis aos objetivos nazistas. Primeiro, por mais eficiente que fosse
o Einsatzgruppen, a velocidade com que faziam a limpeza étnica era
abaixo do que os nazistas desejam. Segundo, o envolvimento dos
soldados em uma quantidade assombrosa de execuções trazia-lhes
graves problemas psicológicos. Isso forçou os nazistas a pensarem em
uma alternativa que fizesse o genocídio de judeus acontecer de
maneira mais ágil e impessoal.
ampos de concentração

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Cadáveres de judeus encontrados no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945.*

A solução encontrada pelos nazistas foi a de promover a execução de judeus


em câmaras de gás, que foram sendo instaladas nos campos de
concentração. Além disso, foram construídos seis campos de extermínio cujo
intuito era unicamente promover a execução de judeus. A diferença é que,
nos campos de concentração, os judeus, além de executados, também tinham
sua mão de obra explorada ao máximo.
As câmaras de gás para a execução de judeus foi uma ideia exportada
do Programa de Eutanásia, também conhecido como Aktion T4.
Nesse programa, os nazistas executavam os que eram considerados
inválidos, ou seja, aqueles que possuíam algum tipo de distúrbio
mental ou deficiência física.

187

Entrada de Auschwitz, campo de extermínio responsável pela morte de 1,2 milhão de pessoas. No
portal está escrito “o trabalho liberta”.***
Os campos de extermínio, construídos pelos nazistas a partir do
segundo semestre de 1941,
foram: Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz e Majdan
ek. Todos esses campos localizavam-se na Polônia, e o primeiro deles
a ser construído foi o de Belzec — local no qual foi desenvolvida uma
câmara de gás à base de monóxido de carbono e que matava suas
vítimas por asfixia. Depois, outros campos foram construídos, e os
nazistas começaram a utilizar Zyklon-B para assassinar os
prisioneiros.
Dos campos de extermínio citados, a quantidade de mortos foi a
seguinte:
188  Auschwitz-Birkenau: aproximadamente 1,2 milhão de mortos.
 Treblinka: aproximadamente 900 mil mortos.
 Belzec: aproximadamente 400 mil mortos.
 Sobibor: aproximadamente 170 mil mortos.
 Chelmno: aproximadamente 150 mil mortos.
 Majdanek: aproximadamente 80 mil mortos.
Dentre os horrores cometidos nos campos de concentração,
destacaram-se a jornada de trabalho extenuante, os maus-tratos diários
e as péssimas condições de higiene. Os prisioneiros ficavam em
alojamentos abarrotados de pessoas e eram mal alimentados.
Execuções sumárias sem motivação aparente aconteciam como forma
de tortura psicológica aos prisioneiros, além das execuções nas
câmaras de gás.

Os prisioneiros recebiam roupas insuficientes para o inverno, e, na


maioria das vezes, elas eram recolhidas em abril (principalmente no
caso de Auschwitz) independentemente se o frio tivesse passado ou
não. Eles eram obrigados a suportar a enorme quantidade de
percevejos e pulgas nos alojamentos. Quando adoeciam, o tratamento
oferecido era sempre insuficiente. Na questão médica, também há
registros de testes realizados em cobaias humanas por médicos
nazistas em diversos campos de concentração.
Os prisioneiros dos campos de concentração foram sendo libertados à
medida que os nazistas foram perdendo a Segunda Guerra Mundial.

189

No decorrer em que suas posições no Leste Europeu eram ameaçadas,


os nazistas intensificaram a velocidade das execuções de judeus nas
câmaras de gás, além de terem tentado ocultar os indícios do
genocídio, seja com a destruição de documentos, seja com a exumação
dos corpos.
 Julgamentos em Nuremberg
Depois que os nazistas renderam-se em maio de 1945, muitos deles e
seus colaboradores, que atuaram diretamente no Holocausto, foram
presos e levados a julgamento no Tribunal Militar Internacional de
Nuremberg. Os julgamentos em Nuremberg estenderam-se durante
nove meses e condenaram alguns nazistas à morte por enforcamento,
enquanto outros receberam penas de prisão perpétua ou por certa
quantidade de tempo.
Entre os condenados à morte por enforcamento,
estavam Hermann Göring, chefe da Luftwaffe (força aérea),
e Joachim von Ribbentrop, ministro das Relações Exteriores da
Alemanha. Entre os condenados à prisão perpétua,
estavam Rudolf Hess, vice-líder do partido nazista, e Erich Raeder,
comandante da Kriegsmarine (marinha alemã).
O Holocausto é um dos acontecimentos mais marcantes do século XX.
Os relatos dos sobreviventes até hoje chocam o mundo, e a cada dia
190 que se passa novas informações são descobertas.
Antigo campo de extermínio nazista, em Oswiecim, na Polônia. Esse foi o maior campo de
concentração nazista na Europa.*

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Prisioneiros judeus que estavam instalados no campo de concentração


de Buchenwald.*
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ESTADO DE ISRAEL
196
1. FATOS HISTÓRICOS

29.11.1947– o brasileiro Osvaldo Aranha presidiu a sessão


da Organização das Nações Unidas que aprovou a
Resolução da ONU, em Assembleia Geral, recomendando a
adesão e implementação do Plano de Partilha da Palestina.

14.05.1948 – a Declaração da Independência do Estado de


Israel, do Mandato Britânico, foi lida por David Ben-Gurion,
Presidente da Agência Judaica para a Palestina que declarou o
estabelecimento de um Estado Judeu, em Eretz, Israel.

O Estado de Israel, proclamou-se como um estado judeu e


democrático, no regime de República Parlamentarista, tendo
uma área pequena de 20.770 km2, com clima seco e uma
população atual de 9.069.960 habitantes.
O Estado de Israel é 7 (sete) vezes menor que o Estado do
Ceará e sua população é equivalente à desse Estado. ital. de
Israel é Jerusalém embora não reconhecida pela ONU, é o
local sagrado das três principais religiões monoteístas –
Cristianismo, Islamismo e Judaísmo.

Telavive, por vezes, é referida como a capital de fato de Israel


e reconhecida internacionalmente e pela ONU.A Moeda
nacional é o Shekel klocal, e sua unidade é equivalente no
Câmbio de Mercado Comercial e do Turismo, em relação à
moeda Brasileira, tem a paridade de R$ 1,74 reais.

O IDH - índice de Desenvolvimento Humano é de 0,906,


considerado um dos mais altos do mundo.

97% (noventa e sete por cento) dos israelenses são


alfabetizados.
197
A expectativa de vida é de 81 anos.

POTENCIAL HÍDRICO

O seu potencial hidráulico era extremamente insuficiente para o


abastecimento de sua população inicial, que daria em extensão
415,40 h/km2 do seu território, o equivalente a 2% dois por
cento)

O Estado adotou severas políticas de contenção de consumo


de água ao tempo que desenvolvia projetos de irrigação de
águas para as suas necessidades básicas, principalmente,
para a agricultura e indústria.

Em 1964, a Mekorot, a Transportadora Nacional de Águas de


Israel, concluía o traslado de água doce do extenso Lago
Kineret, do Norte até o Sul, cujo clima é muito seco.
Esse Lago, conhecido como Mar da Galileia transbordou no
dia 13.04.2020, devido a uma forte ondulação. O fenômeno
não acontecia há cerca de 300 anos.

De acordo com a tradição judaica é o lugar onde vários


discípulos de jesus pescavam e local onde Cristo acalmou
a tempestade e onde ele andou sobre as águas.

3. INDICADORES DO SETOR

1.170 mcm – água disponível naturalmente (chuvas)

2.030 mcm – demanda de água.

91% - esgoto coletado de águas residuais

80% - reuso

54% - água de agricultura é reciclada.


198
11% - média de perda de água no país.

70% - água de uso doméstico vem de dessalinização.

2.030 mcm – demanda de água

As águas do saneamento básico são destinadas para as


residências fato que reflete a baixa taxa de mortalidade de 5
(cinco) para cada 1.000 (mil) nascidos vivos.

Segundo o Coordenador do Mekorot- Companhia Nacional de


Água, o problema em Israel é cultural, e no Brasil é de uma
cultura de abundância. E, quando você dessalinizada, você
está reconhecendo o fracasso da gestão hídrica no País.

4. SEGURANÇA NACIONAL.
MOSSAD –

O serviço secreto israelense é considerado o mais terrível do


mundo e ficou conhecido por suas operações especiais durante
a Guerra dos Seis dias. Criado por sugestão de Bem Gurion,
em 13.09.1949.

199 MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

PERSONALIDADE HISTÓRICA PARA O ESTADO DE


ISRAEL

Osvaldo Euclides de Sousa Aranha, nasceu em Alegrete


(RS), Brasil, em 15.02.1894 e faleceu no Rio de Janeiro em
27.01.1960. Foi uma figura extraordinária no cenário político e
diplomático do Brasil e do mundo.

Sua trajetória no cenário internacional foi marcada por sua luta


pela criação do Estado de Israel, ao fazer “lobby” pela criação
do Estado como Chefe da Delegação Brasileira à ONU e
Presidente da Assembleia Geral, em 1947.

Ele foi Presidente da Primeira Sessão Especial da ONU


durante a votação da UNGA, Resolução 181 sobre o “Plano de
Partição das Nações Unidas para a Palestina” na qual adiou a
votação por três dias para garantir a sua aprovação.

Em Israel o clima era tenso e toda a população ouvia a


transmissão da Sessão através dos rádios, nem sempre com
sons audíveis, acompanhando as eleições que foi lida voto a
voto por Aranha.

Ao final totalizando 33 (trinta e três) votos a favor, 13 (treze)


contra, 10 (dez) abstenções e 1 (um) país ausente, a votação
foi encerrada e proclamada a Partilha da Palestina na forma da
Resolução 181 da UNGA.

Fato que rendeu a Osvaldo Aranha eternas gratidões dos


Judeus e Sionistas por sua atuação.

Entre as homenagens que os Judeus lhe atribuíram estão os


200
nomes de Ruas em Telvive, em Besebá localizada no Campus
da Universidade Ben-Gurionn e uma Avenida na cidade de
Ramal Gan. Em Jerusalém uma Praça central e uma Placa “in
memoriam”.

Por seus esforços na situação Palestina, foi indicado para o


Prêmio Nobel da Paz em 1948.

Foi embaixador do Brasil nos EEUU, em Washington e amigo


do Presidente Franklin Delano Roosevelt.

Na Segunda Guerra Mundial, defendeu a Aliança com os


Estados Unidos em oposição aos Chefes Militares brasileiros,
capitaneados pelo Ministro da Guerra Marechal Eurico Gaspar
Dutra, que eram partidários de uma aproximação com a
Alemanha.

Em 1960, quando do seu falecimento o féretro foi


acompanhado por milhares de pessoas e teve o Presidente
Juscelino Kubitscheck de Oliveira como um dos que seguraram
as alças de seu esquife mortuário.

Entrou no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”, do Brasil,


pela Lei nº 13.991, de 17.04.2020.

Abriu a tradição do Brasil para presidir às sessões inaugurais


da Assembleia Geral da ONU, anualmente, e foi um tributo em
sua homenagem e uma honraria ao Brasil.

Amigo fiel de Getúlio Dornelles Vargas exerceu os mais


diversos e importantes cargos públicos sempre com o apoio
incondicional do Presidente.

201
A HISTÓRIA VERDADEIRA DA FAMÍLIA ABITBOL NO
CEARÁ

– Preâmbulo histórico e os primeiros anos

chega a Fortaleza, sozinho, a terra de seus ascendentes.


Esteve em Fortaleza, por três vezes, hospedando-se na residência
da irmã Esmeralda Abitbol, na Av. Dom Manuel, 1093, pertinho de
um galpão de fardos de algodão da empresa Costa Lima Myrtil, de
Aracati, sendo hoje, neste local, o Banco Central do Brasil.

Isa, também, teve uma filha com Tapiero, mas falecera aos três anos.
Ajudou a cuidar dos enteados. Faleceu, em Casablanca.

202 Alberto, esteve em Fortaleza, em visita a mamãe e, ainda hoje


guardo uma foto sua, com a Ruth. Ele de chapéu e muito simpático.
Demorou pouco tempo, estava em trânsito, e o navio ancorado no
porto.

A Ruth quando esteve no Rio, hospedada na residência da tia


Alegria, conheceu o Luís Guilherme e chamou-lhe atenção a beleza
do primo.

Fica hospedado na residência da sua tia Dindinha, mãe do Seu


Ramos, da Farmácia Pasteur. Ela morava com seus irmãos, Bento,
Dondom, Eduardo e a Conceição

A expectativa era trabalhar no segmento farmacêutico que já lhe era


peculiar na artimanha de produzir, em manipulação, substâncias
medicamentosas.
Papai veio só, para tomar as necessárias providências para a
instalação da família e suas acomodações, o que aconteceria, em
uma Vila, pertinho do Colégio das Dorothéias, na avenida Visconde
do Rio Branco. Nome da vila

Quando o papai estava aqui em Fortaleza, mamãe passou a


morar com a Alita em Manaus. E de lá pegou o navio vapor em
direção à Fortaleza.

Por uns três meses e veio a Fortaleza partindo de Belem com os dois
guris, Ruy e o Rubem, num vapor de classe especial, mas viera no
da segunda classe, que era ótimo.

Fez boa viagem, até as proximidades de Fortaleza quando uma


tempestade assolou o Navio a vapor e este ficou à deriva por
algumas horas, para retomar o seu rumo, já perto da capital
203
cearense.

O único a esperá-los na Praia de Iracema, na Ponte Metálica, foi o


papai, e descem em terras cearenses, em lanchas.

Não era fácil contingenciar a situação com soluções que


independiam de seus esforços ou da perseverança incansável que
não lhe faltavam.

Papai veio só, para tomar as necessárias providências para a


instalação da família e suas acomodações, o que aconteceria, em
uma Vila, pertinho do Colégio das Dorothéias, na avenida Visconde
do Rio Branco. Nome da vila
Quando o papai estava aqui em Fortaleza, mamãe passou a
morar com a Alita em Manaus. E de lá pegou o navio vapor em
direção à Fortaleza.

Por uns três meses e veio a Fortaleza partindo de Belem com os dois
guris, Ruy e o Rubem, num vapor de classe especial, mas viera no
da segunda classe, que era ótimo.

Fez boa viagem, até as proximidades de Fortaleza quando uma


tempestade assolou o Navio a vapor e este ficou à deriva por
algumas horas, para retomar o seu rumo, já perto da capital
cearense.

O único a esperá-los na Praia de Iracema, na Ponte Metálica, foi o


papai, e descem em terras cearenses, em lanchas.

204
Não era fácil contingenciar a situação com soluções que
independiam de seus esforços ou da perseverança incansável que
não lhe faltavam.

Estiveram, também, em Fortaleza na casa da Esmeralda por diversas


vezes. (tia Alita)

Carlos Ramos de Menezes, natural de Belém (Pa), nascido em 11


de junho de 1912, morava em Manaus desde o início da década de
1930. Trabalhava em drogarias.

Filho de tradicional família de ancestrais cearenses oriundas dos


troncos dos Ramos de Menezes Frota.
Seu pai, Antônio Frota, mantinha alguns dos maiores e melhores
seringais no começo do século. Só que essa mina teve um ciclo
pequeno de riqueza.

Período conhecido como “Belle Époque Amazônicas”, 1890 a


1920, cidades como Manaus, Porto Velho e Belém, tornaram-se
as capitais brasileiras mais desenvolvidas com eletricidade, sistema
de água encanada e esgotos, museus e cinemas, construídos sob
influências europeias.

Esmeralda Medina Abitbol, nascida em Codajás (Am), em 09 de


fevereiro de 1913, residia em Manaus desde o falecimento de seu
pai Luiz Abitbol, em 1920.

Foi nessa cidade de Fonte Boa, fronteiriça tri continental, que


Esmeralda foi criada até os sete anos de idade pela avó, a quem
205
chamava de mãe Lolla.

Seu pai, Ayesch era quem dava nomes aos filhos, tivera a intenção
de colocar Safira no da tia Alegria, mas conhecera uma outra pessoa
com igual nome, isso o fez mudar de ideia e a nomeou Alegria.

A mamãe era, a oportunidade, seguinte de colocar uma pedra


preciosa na família, e escolheu o verde das cores mais bonitas e a
deu a mamãe. Que brilhou mais que o mineral original.

Seu significado, como nome, remete, à um forte sentimento de


afeto, que se dirige a alguém muito valioso e por quem se tenha
muito amor.

Muito coerente, diria eu. Acertou em cheio. Se soubesse antes, teria


colocado o nome da Rachel, de Esmeralda.
E para aqueles que não sabiam, era uma dança popular no século
XIX, semelhante à polca. Agora, está explicada, porque a
Esmeralda era uma exímia dançarina e considerada um pé de valsa.

O papai o pé de chumbo. Mas, quando se tem uma pedra


preciosa nas mãos, se faz sucesso de qualquer jeito.

Alem disso, quem não se lembra do livro, do novelista francês Victor


Hugo, onde narra a história de amor do sineiro Quasímodo pela
cigana Esmeralda. Popularizou-se no mundo.

A Esmeralda é o mais belo dos berilos, formada com o silicato de


alumínio.

No dicionário, original do espanhol, movida pela razão, não gosta


de ser contrariada. Ágil, sintonizada com o mundo. Vive o presente.
Dinâmica.

206 Mas, faltou o mais importante, a falar, a Esmeralda é a nossa


mãe!!!!!

Voltaram à Manaus, em 1920, onde Esmeralda, estudou para


concluir os cursos primário e ginasiais.

Tocava bem piano e falava um francês incipiente, até então a língua


comercial globalizada e o espanhol, que aprendera em sua
passagem nas fronteiras do Brasil, do Brasil, Bolívia e Peru.

Quando queria dizer algo mais grotesco ou um nome feio, usava o


iídiche, como narrativa picante. Esse dialeto foi adotado pelas
comunidades judias na Europa, principalmente, na Alemanha e
Espanha.

Tinha uma vida social amparada nas boas condições financeiras.

O tempo corria como se apressado estivesse para marcar um


encontro com o destino que lhe fora reservado.
Os clubes estavam presentes na vida das pessoas como a primeira
forma de organização leiga da sociedade.

Pertencer a um clube era a inclusão à sociedade amazonense,


especialmente, por unir a convivência, as recepções dançantes com
a prática esportiva

Os Clubes Sociais de maiores prestígios e frequentados pela


sociedade manauara eram o Nacional Clube, Fast Club e o Rio
Negro. Meus pais os frequentavam.

Nesse trânsito da vida entre os encontros, os encantos e os sonhos


nossos pais se conheceram.

Esmeralda cede o sobrenome Medina no Registro Cartorial de


Casamento, passando a assinar-se Esmeralda Abitbol de Menezes,
fazendo par doravante ao farmacêutico competente, Carlos Ramos
207
de Menezes.

E foram para Belém onde as chances de empregos eram bem mais


fáceis pelo conhecimento que o papai tinha no meio farmacêutico de
sua terra natal.

Realmente a expectativa de um emprego, não foi coisa que o


mercado não o convidasse para gerenciar uma farmácia. Pelo
contrário, acenaram-lhe com propostas bem razoáveis para o
momento econômico da região.

Logo começou a trabalhar.

Residiam na Rua Ó de Almeida, 35, no Centro e levavam uma vida


onde o contingenciamento e o controle orçamentário faziam parte de
suas preocupações, principalmente após os nascimentos do Ruy, o
primogênito, em 25 de fevereiro de 1935 e do Rubem em 23 de
agosto de 1936.

Mas o impacto da derrocada do ciclo da borracha deixara marcas e


cicatrizes indeléveis na economia regional fortemente incrustadas de
uns descalabros empresariais.

Ele não se sentia confortável, na ambição profissional com o


mercado de Belém que pouco lhe podia oferecer em reconhecimento
aos seus trabalhos farmacológicos.

Mantinha continuadas correspondências com seus parentes do


Ceará, o irmão Idálio e o Ramos, ambos na seção de farmácias. Era
uma índole familiar.

A convite de seu primo Raimundo Freitas Ramos, sócio de um


208 conglomerado de drogarias em Fortaleza e endossado por outros
parentes, papai e família chegam ao Ceará, a terra de seus
ascendentes.

A expectativa era trabalhar no segmento farmacêutico que já lhe era


peculiar na artimanha de produzir, em manipulação, substâncias
medicamentosas.

Aportaram em 1938, em um tipo de embarcação comum na época,


um navio a vapor, do Lloyd Brasileiro, que chegou em Fortaleza no
Porto do Mucuripe.

O casal, Carlos Ramos de Menezes e Esmeralda Abitbol de


Menezes, os filhos Ruy e Rubem Abitbol de Menezes.

Acompanharam-lhes na viagem a Zita, uma doméstica paraense.


Incumbida do exercício da prática caseira.
O papai já alugara uma casa, numa vila próxima ao Colégio das
Dorotheias, na Visconde do Rio Branco. Mas, permaneceram, pouco
tempo ali,

A casa, agora alugada, era a da Rua 25 de Março, 1001, frontal a


mansão do Sr. Ramos, mais conhecido como Raminho.

A propósito a Zita não se demorou muito em suas companhias.

Após uns dois anos em Fortaleza, encantada com a cidade e mais


ainda com um namorado cearense que lhe arrebatara o coração
fugiu ardilosamente às escondidas deixando uma enorme
preocupação em nossa casa, pois não se sabia de seu paradeiro.

Momentos de buscas e apreensões.

Mas logo tudo foi esclarecido pela jovem que os “visitou” e contou o
acontecido, agradecendo a acolhida que recebera nesse ínterim.
209 Apareceu em outras oportunidades e depois nunca mais.

Esses fatos da Zita são apenas registros que a memória nos guardou
como lembranças e exige que o reportemo-nos.

O emprego também, objeto de sua vinda, foi cumprido à risca e logo


estava trabalhando na Farmácia Pasteur, a matriz, do grupo.

Tudo transcorria como planejado, com as dificuldades intrínsecas das


adaptações, e um promissor e generoso trabalho numa organização
muito conceituada e com totais condições de ascensão profissional.

De pronto, com a sua habilidade no trato pessoal e profissional foi


amealhando fregueses fiéis, que lhe deram uma força com
indicações e apresentações de médicos e representantes
laboratoriais

Eram visíveis a prosperidade e o alvissareiro lucro que se avizinhava


com um crescimento na receita pelas suas políticas gerenciais.
Não tardou e foi promovido a gerenciar uma farmácia de maior porte,
confiando na sua capacidade de conquistar mais clientes,
crescimento e lucro mais fartos.

Era a Farmácia Globo, em frente a Coluna da Hora, na Praça do


Ferreira, Centro de Fortaleza.

Era um novo desafio e ele começou a instilar suas gotas de


conhecimento e de relacionamento social para cumprir o ansiado
aumento no volume das vendas, obtendo êxito e boas receitas.

Isso influíam favoravelmente em seus salário e comissão sobre as


vendas.

O tempo urgia afoito navegando contra as marés e açoitando os


ventos fortes e tudo fazendo para não perder a sua dimensão eterna.
Corria como um veleiro na busca de seu destino.

210 E nós insignificantes e ínfimos ante a esse vendaval, resistíamos aos


seus ímpetos e, com tranquilidade levava-se uma vida paciente,
pacata, controlada e regrada. Sob controle.

Ruy e o Rubem começaram a aprender as primeiras letras e sílabas


com a mamãe, mas a vida doméstica lhe tomava muito tempo nos
múltiplos afazeres. Cuidava de tudo e normalmente só.

Após esse interregno de esforços educativos era evidente que uma


professora os complementasse nas etapas subsequentes para o
investimento no exame de admissão ao ginásio.

O escolhido foi o Externato Santa Teresinha, dirigido pela Dona


Ernestina de Castro, irmã do Monsenhor Otávio de Castro, cego e
que nos recebia sentado na sua cadeira de balanço, ao perceber
nossos primeiros passos, adentrando em casa.

Preenchidos os requisitos escolares e com os saberes adquiridos


estavam aptos a matricularem-se no Colégio Castelo Branco, na
Avenida Dom Manuel, 300, um dos melhores educandários de
Fortaleza.

O Ruy passou a integrar a turma matinal do terceiro ano primário e o


Rubem o segundo, coerentes com as idades e os excelentes
aprendizados adquiridos.

A luz volta a clarear e a engrandecer a família com seus novos


rebentos, nascidos, ainda, na rua 25 de março, 1001, conduzidas sob
às mãos hábeis e experientes da parteira dona Glorinha, uma das
renomadas da cidade e indicada por amigos da classe médica.

A senhora que a acompanhou e fez a limpeza e os asseios


subsequentes para a quarentena do parto, o resguardo, nem sempre
obedecidos nessa quantidade de dias, foi a senhora Júlia, já íntima
da família e que sempre passava lá por casa.

211
Mamãe, já antecipara as compras com o enxoval da criança, bem
como no tratamento adequado ao seu restabelecimento, com
vitaminas, ferro e, diariamente, uma dose de aguardente alemã e
uma taça de vinho moscatel, da fábrica Moséle.

Ruth, em 18 de abril de 1942, a amarela, e o nego véi, Ruymar em


04 de maio de 1943, com um espaçamento de 7 anos entre o
primogênito e a primeira filha do casal, sendo o caçula
masculino o mais inteligente, bonito e orgulho da família. (rs).

Nossos pais batizavam as crianças, relativamente cedo, após oito


meses, já se preparavam para efetivar a inserção na Igreja Católica
Apostólica Romana.
Éramos felizes, numa vida recatada com o conforto necessário, e
um objetivo luminoso de tornarem seus filhos doutores e pessoas de
índole e caráter irretratáveis.

Era assim que nossos pais pensavam e nos ensinavam a encarar a


vida e seus percalços, com otimismo e equilíbrio. Colhendo proveitos
positivos daquilo que imaginavam fora apenas o azedume

Todo amargor tem uma doçura, não há um revés que não lhe traga,
uma recompensa sábia, uma vitória ou um sorriso saboroso.

Todavia, é preciso enxergá-lo com a racionalidade dos olhos da


compreensão, coragem e o destemor de Cristo. É preciso ter fé.

No dito popular, todas as topadas nos levam à frente. Tiremos


proveito do espaço que elas nos legaram. É necessário enfrentar a
212
vida.

No Colégio, o Ruy, o Caga Baixinho, aluno exemplar, sempre com


ótimas notas conquistava os primeiros lugares da turma.

O Rubem, o Neném, era malandro nos estudos e encontrava


dificuldades nas passagens de ano e, por vezes, ficava em,” segunda
época”.

Mas conseguia desenvencilhar-se dos problemas das provas, e


galgava sempre a aprovação. Voltava com a pesca às mãos, peixes
grandes.

A mamãe estava extenuada com tantos trabalhos a serem


desenvolvidos na manutenção da casa, ajudava nas tarefas
escolares, na alimentação da família, desvelo com as roupas e
especificamente com o zelo e esmero com os filhos.

Era uma guerreira incansável, lutava com todas as suas forças


objetivando o bem-estar da família. O seu lazer pessoal e preferido
era a leitura e, por vezes, a flagrávamos a noite já dormida e ela com
o livro às mãos e o sono dominante prevalecendo sobre as suas
forças já debilitada pelo dia exaustivo.

Resolveu, então, contratar uma doméstica bem recomendada pela


dona Lisete.

Chegou a Emília, uma moreninha franzina, esperta, cuidadosa e


cooperativa. Com tantos referenciais positivos, para ser perfeita só
lhe faltava soltar a língua, literalmente. Ela, realmente, tinha um falar
dificultoso que a fazia dizer coisas que se tornavam hilárias.
213

Quando preparava o leite matinal com Toddy, pão e manteiga para


os meninos irem ao colégio, ela chamava o Ruy e gritava,
solenemente, em sua linguagem e fonemas poucos e inaudíveis: Luy
vem tumá toleeete. Ríamos todos. Ela não se incomodava. Era uma
pessoa boa.

Dedicada e muito carinhosa, com todos nós, foi ela com seus mimos
e dengos para eu dormir que me apelidou de Babá. Cravando e
grafando para sempre essa minha alcunha que até hoje é o carrinho
chefe em nossa família.

Entre as muitas voltas da vida, a Emília foi embora, não sei se


despedida ou por vontade própria, mas deixou indelével sua
passagem na 1093, da Dom Manuel.
Em viagem à Ipueiras, de trem, 13 horas de percurso em velocidade
uniformemente acelerado, como diria o físico, chegamos à cidade.
Fomos recebidos na estação pela comitiva de primos e tios.

Passamos uma semana diferente, interiorana, um modo de viver


diferente, acolhedor, que desconhecíamos. Gostamos e voltamos
outras vezes.

A tia Isaurinha, aproveitou a oportunidade surgida e conseguiu uma


doméstica para nós, a Maria Aparecida, também chamada de Lili.
Não demorou muito e voltou à sua terra.

Tivemos, também, como doméstica a Estela que se efetivou no cargo


deu conta do recado e passou alguns anos. conosco.

Casou-se e deligou-se lá de casa, mas, frequentemente, nos visitava,


214
trazia galinha que mandávamos para o chiqueiro da Lisete.

Ultimamente já nos visitava ornadas, de joias e relógios um pouco


duvidosos em suas qualidades, mas representava um nível bom de
vida.

Ela, então, contou a mamãe que era descendente desses oxuns, do


baixo espiritismo e que faturava bem nessas atividades e, vidente.
Mas, usava óculos. Eu era pequeno e não conseguia entender.

Com o decorrer dos anos, nascendo seus filhos amiudaram-se as


visitas até que parou.

Usava uma dentadura postiça bastante singela.


Por volta de 1946, resolveram alugar uma outra moradia num local
com disponibilidade para garantir a privacidade do casal e acolher os
quatros filhos.de forma mais confortável.

O Ruy com 11 anos, o Rubem 10, e as crianças menores com 3 e 4


anos.

Após pequeno lapso de tempo, alugamos uma casa à dona Francina


Gurgel, proprietária da Imobiliária Gervásio Gurgel, na Rua Pero
Coelho e ficamos aguardando a conclusão das novas moradias na
avenida Dom Manuel, da mesma proprietária.

Estávamos ansiosos, para habitá-las. Sentíamo-nos encantados com


esses imóveis da Av. Dom Manuel.

A Imobiliária completava com esse empreendimento a propriedade


215
de 110 casas nas ruas circunscritas. Todas alugadas.

Bem superior à anterior, com duas salas, dois quartos e as


dependências de refeições, cozinha, banheiro e quintal. Marginando
os quartos uma área a céu aberto para o recebimento das águas
pluviais e ventilação da casa.

Essas residências eram conhecidas como os bangalôs da Dom


Manuel, uma das principais e mais largas avenidas de
paralelepípedos, em Fortaleza.

E assim, acertados o Contrato de Aluguer e a mudança,


transportamos nossas mobílias e pertences para a de nº 1093 e, por
lá ficamos até 1976, quarenta anos de inesquecíveis momentos.
Logo estávamos entrosados com os novos parceiros e as mercearias
de abastecimentos domésticos. Era um local agradável e de boas
referências.

Casa nova, ânimos redobrados na manutenção e na sua


ornamentação. Sempre absolutamente limpa, mamãe não
dispensava umas flores no jarro da mesa na sala de jantar.

O Neném ia com frequência comprar flores, sorrisos e margaridas, e


poucas rosas com o seu Manuel, no Riacho do Pajeú. Quando elas
começavam a murchar era hora de trocá-las. Simples, como nós
todos. O importante era tê-las colorindo nossa sala.

A Avenida Dom Manuel era uma das vias principais da cidade e seus
eventos tradicionais por lá passavam, como o Carnaval, com o seu
Rei Momo Luizão primeiro e único, sua Corte Real, Corso, Blocos e
216
Maracatus.

A irmã do Rei, dona Dagmar, era nossa vizinha e no período


carnavalesco, sua mãe e do Rei passava esse tríduo com ela.

Quando o cortejo real passava com sua comitiva em frente das


nossas casas, ele descia do carro acompanhado da Princesa e
dirigia-se a residência de seus familiares para abraçá-los.

Vê-los de perto era um privilégio para nós. O Rei saudando seus


súditos carnavalescos e o público retribuindo com palmas e acenos,
recíprocos.

Com a aproximação da quadra carnavalesca, a gente já estava em


ação para participar efetivamente, da folia.
Comercialmente, disputando o mercado.
Fazíamos óculos de cartolina, em tons diversos, moldava-os e
formatávamos o seu modelo e estava pronto a parte essencial da
máscara.

A seguir com o espaço dos olhos abertos na cartolina, colávamos o


papel transparente xenefone, em cores diferenciadas, e dava,
esteticamente, uma visão colorida.

Concluíamos com o elástico amarrado nos óculos para a sua


sustentação na cabeça.

A mamãe providenciava os produtos, e nós todos, tratávamos de


vende-los aos amigos. Sucesso total. Também usávamos.

Mamãe não se descuidava de nossas fantasias. Simples, baratas e


217
costuradas por ela com muito amor.

Lembro-me bem, eu fantasiado de chinês, maquiado pela mamãe


com os olhos puxados com cosméticos e bigode numa calça amarela
brilhosa de elástico na cintura e uma faixa preta em suas laterais.
O mesmo acontecia com o blusão de mangas compridas na mesma
tonalidade compondo o conjunto para chinês ver.

Na cabeça um cone de papelão salpicado de areias prateadas e


brilhantes, com um elástico ao queijo para segurá-lo. Achava-me o
máximo naquela fantasia.

Agora sei por que os chineses são, também, chamados de amarelos.


Mamãe tinha razão. E eu amarelei. Sorridente e feliz.
A Ruth premiada com uma fantasia de dama antiga cuja estilista
caprichara em seus detalhes, com tecido de crepom e suas
ondulações irregulares e nervuras produzidas na máquina de
costura. As tranças escorriam por sobre o rosto para marcar as
origens de sua realeza.

E assim brincamos mais um carnaval feliz e inesquecível graças a


dona Esmeralda, com confetes, traques, estrelinhas, serpentinas,
lança-perfumes fabricados na Argentina, pela Rhodia, com os nomes
Rodo e Rodouro.

O último era o de nossa preferência, metálico da cor de ouro. O


importante era chiringar uns nos outros. Ou, lançar o jato ao chão
acender o palito de fósforo e ver o clarão do fogo.

Isso tanto é verdade, dona Esmeralda, que, após passados 70 anos,


218
me tenho na retina com uma visão absoluta de suas belezas e mais
ainda de seu carinho.
Em 1961, o Presidente Jânio Quadros proibiu o uso desses produtos
no País. Medida sem efeito práticos, pois ele vinha para carnaval
contrabandeados do Paraguai ou da Argentina.

Mas o presidente vesgo do Brasil, tinha razão em proibi-lo. Era muito


nocivo, causava sensações de euforia, desinibição, perturbações
auditivas, visuais e equilíbrio.

Por isso, certa vez, demos “corda” no Fernando, o mais ingênuo da


turma agudamente esperta, e fizemo-lo aspirar o lança e ele deu uma
cheirada prolongada suficiente para nocauteá-lo.

Por alguns segundos, quando retornava do etéreo, amparado pelos


amigos, assustado e sorrindo, disse: “estou totalmente fora de si”.
A risada foi geral e ele ainda desnorteado, perguntava o que houvera
e respondemos, Fernando ai de você se não fora o si.

Nossa avenida era a vedete da cidade. Assistíamos os principais e


marcantes eventos citadinos.

As Procissões religiosas da Igreja Católica, saiam normalmente da


Igreja da Prainha, marco inicial da Av. Dom Manuel, cumprindo em
seu trajeto todo o percurso de seus paralelepípedos.

Os fiéis postados às calçadas aguardavam horas para acompanhar


a passagem de todo o ritual. Era sempre um momento de fé e
reflexão sentidos nos exemplos que nos davam os acompanhantes
da procissão.

219
Seus rostos iluminados pela crença divina não sentiam o suor descer
e banharem seus rostos já cansados, mas obstinados a seguir nas
convicções, doutrinas e dogmas. É a fé.

Chega setembro, dia 7. No dia nacional da Pátria, em que se


comemora a independência do Brasil do jugo português. O povo
comparecia a parada cívica com um sentimento festivo e grato por
essa terra abençoada.

Sentia-se o cheiro do suor do povo e os cotovelos nos cutucando em


busca de lugares melhores para assistir ao desfile militar, com seus
belíssimos hinos bélicos e de amor ao Brasil.

Era uma atitude espontânea e natural, que transbordava os


brasileiros homenageando a sua pátria. Hoje a coisa já não é bem
assim. Com televisões transmitindo essa magnífica festa cívica o
povo sequer liga o seu receptor para assisti-la.

Mudou alguma coisa? Sim, a tecnologia evoluiu de forma


inimaginável a pensarmos no futuro, em anos atrás.

Mas, a maior metamorfose é a de que o povo cansou de esperar


pelos seus representantes constituintes dos três poderes da
república e de seus propósitos honestos perante a nação e a seu
povo.

A brasilidade continua a sua agonia em busca de homens sérios,


propostas e atitudes verdadeiramente patrióticas.

E hoje o 7 de setembro, é apenas, um feriado a mais no calendário


brasileiro, incrementado de outras tristes homenagens a
220
personalidades esgotadas de honra e dignidade para as merecer.

O sentimento patriótico a cada dia vai-se esvaindo.

Depois desse desabafo, Abitbol, cumpre-me dizer que vivíamos


tranquilos e seguros em todas as nossas diversões,
independentemente, dos locais das festas, tertúlias ou na
mobilização que se fazia, normalmente à pés, nos ônibus azuis da
família Otoch ou em carros de aluguéis.

Todas as noites após o jantar papai e o vizinho. Manuel Uchoa, o


Manezinho, sentavam-se, invariavelmente, em suas cadeiras de
balanço de vime e começavam a conversar até, aproximadamente,
às 20:30horas, quando davam-se boas noites para dormir.

Papai preparava-se para cochilar, num ritual imutável, fumando seus


dois ou no máximo três cigarros Continental, como se fora deliciando
a vida, fazendo uma reflexão do dia ou o planejamento para o
amanhã.

E filosofava, de maneira irreverente, quando sentia alguns odores


perto de si, e dizia: aonde tem cachorro e menino, gente grande
não peida. Sobrava para o Tostão.

A mamãe não esquecia e perguntava, generalizando a quem tivesse


a melhor vontade na hora, botaram as trancas nas portas?

Imediatamente, um de nós tomava a iniciativa e fechávamos todas


as portas exteriores, de acesso à casa, com uma trava de madeira,
forte e resistente cruzada em direção horizontal ao umbral, como
segurança contra um incômodo amigo da onça.

221
A família contígua, era a que mais privava da intimidade e do nosso
dia a dia. Mas, mantínhamos os mais cordiais laços de amizades e
respeito com toda a comunidade local.
Dona Lisete, esposa do Sr. Manuel era uma pessoa muito gentil,
vendia labirintos de seus familiares da cidade de Aracati, e sabia
enlaçar as linhas e confeccionar belos trabalhos desse artesanato
regional, em seus bastidores circulares e telas quadradas.

Eram os pais do Fernando, filho único e meu grande amigo de


peraltices e que até hoje reside à mesma casa.

Tinha uma servidora doméstica, a Ana, que administrava todos e


quaisquer eventos da casa. “Era pau para toda a obra”, como se diz
na gíria.
Mamãe até pelas suas raízes cultural e religiosa não matava galinha
para o almoço. E se, por acaso, ganhasse uma de presente, teria que
ser criada longe de seus olhos, pois tinha dó da ave.

Também, lá em casa não se comia carnes de porco, nem de animais


de criação como bode, carneiro, cabra e menos ainda seus pratos
especiais de buchadas, moelas, sarrabulho, rabada e panelada.

Aí entra a Ana na história como algoz dos frangos e com suas


rápidas e experientes mãos, rapidamente, praticava o ato de
extinção, através da decapitação.

Por princípios religiosos mamãe, e nós todos, não nos


alimentávamos com comidas que tivesse resquícios de sangue.
Neste caso, a Ana segurava a ave pelos pés, levantando-a e
esperava esvair a última gota das suas artérias.
222

Colocava a extinta na panela com água fervendo, para em seguida,


depenar. Limpava e entregava à mamãe para tempero e cozimento.

Era um dia da família de passar bem. Gostávamos muito do frango


cozido. Papai empanturrava-se. E após o almoço, formalizava, a sua
tradicional sobremesa, banana machucada com farinha e açúcar.

Não dispensava, antes do almoço, uma dose de conhaque mesmo


considerando-se quase um abstêmio.

A Ana também era exímia passadeira de roupas, principalmente


aquelas que necessitavam ser engomadas, obviamente, a base de
goma e água, fazendo um grude, apenas, umedecido num tecido de
chita.
Passava as vestimentas com o “ferro de engomar a carvão”, pesado
e fumegando no ar o cheiro ativo e peculiar das fogueiras juninas.

Não era fácil essa prática. Além, de efetivamente fazê-lo passear por
sobre a roupa, tinha que alimentá-lo com um pano umedecido para
não engelhar a rouparia.,

Ademais, deveria estar sempre atenta a quantidade de carvão em


brasas, em seu interior, pois a sua combustão era rápida e
necessitava, de quando em quando, da manutenção de oxigenação.

O abano de folhas de bananeiras, tradicional no nordeste brasileiro,


era utilizado para esse fim balançando-o, em velocidade, atrás do
ferro para manter acessas as suas brasas.

Recorria-se, por vezes, até o sopro bucal como forma alternativa de


223
precaução para não deixar o “fogo morrer”.

Masinha gostava de vê-la engomar e elogiosa as suas habilidades.


Ela apenas, sorria. Grata.

Suas Irmã Dorinha e Maria, esta tinha problemas de varizes e estava


sempre em tratamento, ficavam na casa dona Lisete.

Papai ajudava com as amostras grátis de remédios, na época muito


generosas e no apadrinhamento para a internação.

Os dois filhos intermediários, Ruth e Ruymar, ainda crianças, eram


alfabetizados na “Cartilha de Ensino Rápido”, em aulas
particulares como era o costume de então.
Passamos pelas melhores mestras como a dona Ernestina de
Castro, mulher vigorosa que amedrontava os alunos ao bater seus
sapatos abotinados de forma raivosa, no tablado de sua mesa
professoral.

A respeito, lembro-me muito bem de um episódio inesquecível. Era o


meu primeiro dia de aula. Sentado na cadeira de madeira pesada e
rude da sala de aula, quando Dona Ernestina trovejou convidando-
me a uma arguição de leitura.

Tremi dos pés à cabeça. Em segundos estava gelado e suava frio.


Subi ao cadafalso do tablado e postei-me com a Cartilha às mãos. Só
enxergava um grau, no máximo.

Na página de leitura uma asa de penas coloridas e exuberantes e


embaixo a separação das sílabas: a–sa. Ela grotescamente clamou,
224
diga o que representa essa junção.

Eu não sabia nem o que era junção.


.
E eu, pobre coitado, vendo Jesus de cabeça pra baixo, por detrás
dela, criei coragem e falei: a-sa é pena. Qual não foi o impacto
quando sua voz tonitruante claramente disse, então a+sa é pena? Eu
disse é. Nota zero. A+sa é asa.

Foi um alívio descer do palanque “em condições normais de


temperatura e pressão” e sair dali, independentemente da nota.

Com o tempo aprendemos a lidar com a fera, seus urros e uivos já


não mais nos atormentavam. Faziam parte de seu gênero dúbio e
mal resolvido, do qual não tínhamos nenhuma influência ou culpa.
Mas, sobrou para gente.
Era uma grande e inolvidável professora e os alucinantes lances de
terror era uma forma de impor a vontade férrea de nos ensinar mais e
melhor. Sou-lhe muito grato. Hoje eu a entendo. Ontem, quase
morri...

Passada a fase de alfabetização e aprendizado da leitura, eu e a


Ruth, sempre juntos, fomos matriculados na escolinha da professora
Dona Nídia. Ótima educadora e galgamos excelentes aprendizados.

Tínhamos como companheiros de sala a Yolanda e o Petrúcio. Um


dia chovia, e a menina se resguardando dos chuviscos foi puxada
pelo garoto para a chuva, molhando a sua roupa.

Está arrancando um galho do pé de benjamim ficus aplicou-lhe várias


e boas pauladas, uma das quais no supercílio que sangrou.
225

O dia seguinte foi de festa e comentários mil, envolvendo familiares e


os guris. Foi muito divertido!!!

Dona Helena, foi a próxima docente a nos encaminhar para o exame


de admissão ao ginásio. Mestra de gabarito, utilizava muito a
psicologia e fatores positivos na preparação para essa empreitada.

Pessoa amável e inteligente que nos levou fácil as condições de


aprovação desse “vestibular” infantil.

Para nós, o tempo continuava soprando os ventos das sensibilidades


humanas e de suas inexplicáveis perfeições da humanidade

A criação do ser humano é um fato corriqueiro, mas de um profundo


contexto imbuído de amor e divindade.
Em 10.04.1951, nasce a Rucimar, completando o time famoso, das
cinco estrelas. Brolhou em casa, na Av. Dom Manuel, veio ao mundo
pelas mãos da competente e experiente parteira dona Glorinha, mãe
do eterno ídolo do Ceará Sporting Club, Alexandre Nepomuceno, o
Filé de jia. Notável jogador.

Ela, na época já fizera mais três mil partos, dentro dos preceitos
básicos da obstetrícia e ginecologia. Também as suas mãos
receberam a Ruth e o Babá, há quase uma década atrás.

Era muita responsabilidade receber um trio de ouro dessa espécie,


na natureza humana.

A senhora Júlia a acompanhou no parto e fez a limpeza e os asseios


226
subsequentes da quarentena que na maioria das vezes, eram
atenuadas e findadas, antes do previsto.

A presença da Glorinha, a quem a mamãe muito confiava, se fazia


imprescindível, naquele momento.

A imprevisibilidade da hora da chegada é sempre uma incógnita até


hoje. Cesárea, naqueles tempos era para os ricos e casos
iminentemente de riscos.

O Rubem, aos primeiros sinais da madrugada, entrara em plantão de


emergência. E, as duas 2 horas, foi liberado para pegar a parteira
Glorinha em sua casa.
Voltaram rápidos, o nascimento de uma criança não tem precisão
horária e tinham que chegar com as antecedências necessárias para
os primeiros procedimentos.

Em seguida, ele, as cinco horas já buscara a senhora Júlia, ajudante,


de eventuais partos caseiros e mestra na limpeza e nos asseios da
quarentena, o resguardo.

Lembro-me bem, da Aguardente Alemã e do vinho suave Moscatel,


da Moséle, que os comprava na farmácia e na mercearia.

Dona Júlia e, por vezes, dona Lisete fazia uma canja ou caldo de
galinha ou outros alimentos leves para a parturiente. O descanso e o
retorno eram feitos de formas lenta e gradativa, no quarto.

Nas primeiras vinte e quatro horas só podia mexer com os olhos, de


227
soslaios e rir, como faço agora para ilustrar outras realidades.

Eu e a Ruth, desde as primeiras horas do dia, quando começou o


alvoroço, ficamos confinados na casa da dona Lisete, vizinha e
amiga da família, onde aguardávamos os primeiros sinais do
nascimento, com grande expectativa.

Ela nasceu pela manhã. Quando a fumaça branca da chaminé do


fogão lá de casa soltou, visivelmente, nuvens de fumaças brancas
indicativas de que o acontecido já era um fato. “Soror habemus”. Nós
temos irmã.

E, fomos anunciar o evento aos amigos e vizinhos da rua.

Saímos em correria divulgando o acontecimento como se a cegonha


tivesse pousada depois de um longo voo de 270 dias. Nossa
inocência ou ingenuidade ainda se fazia presente a exemplo do velho
e bom amigo, Papai Noel.

Esperávamos a autorização de liberação para conhecer e sermos


apresentados a nova integrante da família Abitbol.

Foi logo mimada por todos os irmãos como dádiva esperada e uma
experiência a acrescentar no currículo de cada um. Ficamos no
quarto, depois de tomarmos banho e lá aguardamos até a hora do
almoço, na casa da dona Lisete.

Era uma criança linda e desde logo chamava atenção. Em casa tinha
foto dela batida na Aba Film, com seis meses, que ficava em lugar de
destaque na sala.

Hoje já não mais se vê esse amor exposto e explícito, nas paredes


228
das memórias das famílias, como se fosse uma galeria.

Passei o cetro de caçula da família para a nova princesa da casa,


que era de uma soberania a parte no ciclo familiar que ali se
encerrava.

Usufruiu por muito tempo dessa condição de bibelô e os seus dengos


não retidos e nem proibidos perduraram por alguns anos. A chupeta,
o bico como se falava antigamente, foi um acompanhante fiel e
consolador. Ela o adorava.

Mamãe a levava sempre ao centro, para compras rápidas e


femininas. Ali, pela Praça do Ferreira, nas Lojas de Variedades, a
Flama ou até mesmo nas Lojas quatro e quatrocentos.
Dessa vez suas necessidades prendiam-se aos cremes de beleza e
rejuvenescimento, e não titubeava ao comprar os produtos Ponds
que eram os seus preferidos.

Mas, enquanto isso, sorrateiramente a menina ambicionava seus


bicos e, em sua inocência os pegava na loja e escondiam, na
sabedoria, em sua pequena bolsa. Três ou quatro eram suficientes.

Em casa já com o novo apetrecho na boca, desfilava com a malícia


de quem tinha cometido uma infração e esperava um solene carão
da dona Esmeralda.

Assim, caminha a humanidade com passos de enfrentamentos e


lutas de vida, desde os seus princípios, sabendo que o tempo é a
essência da vida, e marca ou emoldura o seu nascimento, mas o
torna decisivamente imprevisto o seu fenecer.
229

A Masinha gozava de todas as regalias possíveis, e tinha o nosso


mundo a seus pés.

Um paraíso para ela foi criado pela imaginação do Ruy, o Jabaculê,


que lhe proporcionava todas as maravilhas pensadas e sabidamente
inexistentes, ele não as prometia dar, mas apenas levá-la para
conhecer.

Mas, perguntava o que você quer ver?

Pela originalidade do nome, tomou-se chavão para outras coisas.


Você está precisando é de um jabaculè.

O jabaculê tinha a sua periculosidade. E não era de boa qualidade,


significava dinheiro que serviria para corrupção.
No Brasil ninguém sabe o que é, mas os políticos os usam
cotidianamente, juntamente com empresários inescrupulosos.

Era a famosa Turma do Jabaculê. Que, ainda, está cada vez mais
forte.

A dupla Jackson do Pandeiro e Almira gravou, a música “tem


jabaculê”, e que começa assim,.. ela é babá de babá e de babalaô
de orixá...ela é babá de baba e de babalaô.....

Pelo amor de Deus, sou inocente e provarei na justiça, pois ainda


não tive acesso aos autos....kkkkk Como é que pode, Ruy?

Mas, ficou a marca registrada e patenteada na família, na ira do


jabaculê. As excentricidades do Ruydoso, como se fora um Monteiro
230
Lobato.

À noite, papai saciava seu amor com o adorno da família e a


colocava no colo enquanto deslanchava as conversas atrasadas,
sentado em sua cadeira de vime, com uma das pernas em cima da
palha e a outra no chão.

O Ruy, cooperava com a sua voz melodiosa ao ninar as noites,


balançando a rede até que o sono a vencesse.

Não dispensava em seu repertório, as canções da música popular


brasileira onde os maiores nomes desfilavam como imortais. Eram
verdadeiros hinos em poesias e melodias.

Mamãe cantava muito bem e passava o dia todo entoando, com voz
afinada e vivenciando as de suas preferências.
Tudo isso fruto de um fenômeno que determinava o andamento da
cidade e formava opiniões públicas, diferenciadas.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Rádio.
O Rádio.

Sua proposição, como difusora sonora, era a de entretenimento,


esporte e jornalismo, como podemos definir, em síntese, a sua
funcionalidade.

Tínhamos em Fortaleza, a Ceará Rádio Clube-PRE9, a pioneira,


fundada em 30.05.1934, pelo empresário libanês João Dummar e
231
negociada em 1944, para os Diários e Rádios Associados do Brasil.

Com amplo auditório, capitaneado pelo excêntrico embaixador,


escritor e senador, Assis Chateaubriand, com uma incrível
perspicácia para negócios. Era, a de maior popularidade e audiência.

A rádio Iracema, pertencente ao grupo cearense José Pessoa de


Araujo, com menos popularidade e auditório. Boa programação.

Rádio Dragão, de propriedade do empresário e político Moysés


Pimentel, só com a difusão sonora e com grande penetração no
estado.

A Rádio Assunção, ligada, em princípio, a Arquidiocese de Fortaleza


e caçula, entre elas.
Só num futuro longínquo surgiu a Verdes Mares, do Grupo das
Emissoras Associadas e depois adquirida pelo Industrial Edson
Queiroz, grande empreendedor lhe que deu novas envergaduras e
após, outros tantos anos, fundou a TV Verdes Mares.

A importância das rádios naqueles tempos era fenomenal.

Numa mera comparação, com o mundo de hoje, sem grandezas


mensuráveis de alcance, mas, orbitando em nossa cidade, com
faixas de frequências moduladas, as rádios representavam e
abrangiam todos os contextos temáticos abordados hoje, com
as tecnologias da internet e televisão.

Sem visualizações.

O rádio enorme, seu emissor, alimentado internamente, com


232
válvulas imensas, duas a quatro e ações extraordinárias,
somente com audição, supria os anseios da comunidade local,
que desconheciam, obviamente, a modernidade do universo
contemporâneo.

Eram aparelhos importados, em sua maioria da Holanda ou da


Inglaterra. Marcas eram disputadas, Telefunken, Zenith e Phillips
eram as mais conhecidas do mercado consumidor.

Mudavam os comportamentos sociais e eram os formadores de


opiniões políticas e do cotidiano, com crônica diárias e ditas por
locutores afamados e cultos.

Cito Cid Carvalho, em suas crônicas “Doa a quem doer”, sempre


causticantes e valentes em suas locuções.
Programas musicais, de grandes espectadores eram o matinal
“Bazar de Músicas”, e o decenário de eternas melodias antigas, já
naquela época, “a Hora da Saudade”, tarde da noite, às 21:00
horas, comandados por José Lima Verde.

Pai, de outros dois astros da radiofonia cearense, Narcélio e Paulo


Lima Verde, que também fizeram sucessos, por longos anos.

As rádios monopolizavam a cidade inteira, com músicas, transmissão


de jogos de futebol, rádionovelas encenadas ao vivo, em capítulos
curtos e diários, geralmente nos horários da tarde ou noturno.

Programas de auditórios, de diversos segmentos, em sua maioria de


calouros ao estrelado no mundo dos cantores, dos quais saíram
inúmeros que brilharam intensamente no cenário nacional.

233 O trio nagô, formado por Evaldo Gouveia, Epaminondas e o alfaiate


Mário Alves. E outros muitos. Gilberto Silva.

Todos os homens de rádio, que se qualificavam pela beleza das


vozes, locutores, cantores ou instrumentistas eram artistas. Dois
deles, moravam pertinho lá de casa o Augusto Borges, que
privávamos da amizade de seus familiares, o pai Ubirajara e esposa
dona Ritinha e seus filhos Ubiratan Uirassu, Uirandé, Irapuan e José.
Augusto Borges eram os sobrenomes da família.

O outro, estrela de primeira grandeza, era o João Ramos que


morava, onde hoje está instalado o Hospital Infantil Luís de França,
na Av. Heráclito Graças.

O rádio era de suma importância no cotidiano da cidade. A novela “O


Direito de Nascer”, teve uma audiência extraordinária. Marcou
época, os encontros ou reuniões, mesmos as de trabalhos, eram
realizados em função do horário da novela.

A mamãe chorava todos os dias nos momentos de maiores


sofrimentos e dores, do folhetim. À noite os comentários eram
generalizados e exclusivos, cujo tema, era unicamente a novela.
Quanta convergência em relação à mãe e discordância ao pai.

A Paixão de Cristos, todos os anos era encenada pelos rádioatores


da história bíblica. A gente se reunia, sentados em volta do
telefunken, na sexta-feira santa, às 15:00 horas, e ficávamos
silentes, emocionados e comovidos com o dolorido episódio e o
padecimento de Jesus.

Uns choravam, outros lacrimejavam e os demais contritos e


tocados. Hoje, assiste-se, ao vivo, essa mesma encenação, em
234
Nova Jerusalém, como se fora apenas uma peça teatral, brilhante.
Sem sentimentos externados. Por quê? O que mudou? Por que
mudou?

Não sei, responder. Fica a critério de cada um leitor. Momento, para


a reflexão, da Paixão e dos sentimentos a ela inerente.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Cheguei a ser artista de rádio, coadjuvante, ao me inserir a convite
do Padre Paixão, que apresentava o programa, na “Hora do
Pobre”, de 45 minutos, na Rádio Iracema, diariamente, as 18:00
horas.

235
Eu participava, às quartas-feiras, atendendo os telefones, anotando o
nome, telefone e o valor da contribuição dos ouvintes e subia um
lance de escada, para entregá-lo ao padre que leria a contribuição.
Outro colega fazia o mesmo enquanto eu descia.

O padre, gracejando de nossos esforços de tanto subir e descer


escadas, pedíamo-nos que respirasse fundo e lesse a
contribuição, que eu a fazia trêmulo, esfuziante de alegria.

Ele, citava nossos nomes na programação e agradecia a colaboração


e a nós.

O Padre era reconhecidamente um franciscano, uma pessoa divina,


na difícil missão de ajudar aos carentes. Era, também, Meu Professor
de latim no Colégio Castelo.
Ia a pé até a Praça José de Alencar, exercia as atribuições e voltava
no mesmo ritmo, morto de cansado e satisfeito. Logo, recuperado
saía para as minhas rotinas. Era incansável!!

Hoje, certamente, o nome do programa não teria mais razão de ser a


Hora do Pobre, pelo menos O Dia dos Pobres, todos os dias. Era
preciso peder a colaboração dia inteiro

Pois a miséria, a pobreza esquelética dos carentes do pais, reflete a


corrupção dos políticos e empresários inescrupulosos e insensiceis a
essas realidade. Saímos da pobreza total e retornamos, pois a sina e
saga desses brasileiros são insanas.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Os auditórios das Rádios PRE9 e Iracema, aos finais de semana,
sempre, apresentavam uma programação a ser cumprida, com os
ingressos esgotados para as cadeiras e os extras para assistirem,
236
em pé nas laterais, nos corredores.

O ambiente lotado dessa forma acontecia quando, atrações de


cantores de renome nacional, ou artistas de outras artes, contratados
do Rio de Janeiro ou São Paulo, apresentavam-se para os
espetáculos.

O Fato, também, era repetido, em ocorrências similares, quando se


tratava de eventos de grande chamamento local. Era o caso do
Pastoril.

Cum um auditório lotado, era uma interação espetacular entre as


pastoras e a plateia do partido de seu coração. A rivalidade, ficava só
no auditório com aplauso os ou vaias. Tudo, dentro da normalidade
democrática.
Dois locutores, torciam e comandavam esse entrosamento,
incentivando o seu partido à vitória, um, defendendo o da cor Azul e
o outro, naturalmente, o do Encarnado.

O Partido Azul e o Encarnado, sempre litigantes nas conquistas de


donativos para as obras de caridades ligadas à Igreja católica.

A disputa, torna-se acirrada, pois a cotação de cada cordão vai


subindo de acordo com as doações pecuniárias de seus torcedores.

Nas proximidades do natal, as pastorinhas formavam dois cordões, o


encarnado liderado pela mestra e o azul, pela contramestra.

Na Ceará Rádio Clube, a mestra do cordão vermelho era a Ayla


Maria e a contramestra do Azul era a Fátima ......

237
O pastoril é uma louvação ao Jesus menino, e os seus confrontos
partidários são para determinar quem, também, deve honrar e o
louvar, e para isso, usam blusas brancas, saias de xadrezes,
cestinhas de flores e dançam uma coreografia específica para cada
apresentação. Sapatilhas e na cabeça tiara com fitas e flores.

Sempre os partidos multicoloridos em suas dualidades, usavam uma


bandeira como se fora um porta bandeira carnavalesca,
Os trajes, marcadamente decorados em suas vestimentas com a cor
do partido a que pertence, sempre acompanhadas por um conjunto
de percussão e sopro. e em suas mãos pandeiros e maracás,
alternados, para casar-se, com a cantoria e dar som a apresentação.

Torcíamos, a Ruth e eu, entusiasticamente pelo partido Azul, da


Fátima de ....A mamãe, por consequência, agregava-se a essa
vibração. Tudo muito interessante, de bom gosto e sadia.
E agora, voltemos aos tempos de crianças, como se, agora, o
presente fosse o passado, na ilusão da vida, para ser feliz, e
vivamos um pouco dessa saudade de meninice e já, cantemos o
pastoril:
Borboleta

Borboleta pequenina sai fora do rosal


Já nasceu Jesus menino hoje é noite de natal
Eu sou uma borboleta pequenina e feiticeira
Ando no meio das flores
Procurando quem me queira

Outra,

Meu São José


238

Meu São José, dá-me licença


Para o pastoril dançar
Viemos para adorar
Jesus nasceu para nos salvar

Boa noite, meus senhores todos


Boa noite senhoras também
Somos pastoras, pastorinhas belas
Que alegremente vamos à Belém
Boa a noite a todos, pela nossa chegada
A nossa diana foi quem deu a entrada
Mestra e contramestra beleza elas são
Com as pastorinhas de cada cordão

Outra,
Boa noite, meus senhores

Boa noite, meus senhores todos


E boa noite, senhoras também
Somos pastoras, pastorinhas belas
Que alegremente vamos à Belém (2X)

A gentileza tão formosa e bela


Eu não sou lírio e nem também jasmim
Das Pastorinhas sou a mestra bela
E dentre as flores, sou o bugarim

A contramestra, sou nessa lapinha


Eu não sou lírio e nem jasmim também
Alegre vamos nossas pastorinhas
239
Para ver o novo, ficar em Belém

Eta, que saudade. Fiquemos por aqui.

Tem dias que faltam gavetas para guardar tantas saudades!!!

Em síntese, o rádio passava o dia todo ligado. E nós, também,


ligados nas rádios, o dia todo, para ouvir as melhores atrações.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Dona Esmeralda, vaidosa, levava a Ruth não só a esse amor-próprio,


como ao Salão de Beleza da moda para frisar os cabelos de ambas,
com o conhecido “coiffeur” Abel.
Na volta, quando adentravam em casa já sabíamos que tinham
chegado, tal o cheiro forte de cabelos queimados temperados com
vinagre. Só muita altivez.

Os cacheados revelavam uma nova beleza, realçados pelos cabelos


encrespado e encaracolados, com ferro quente. Chegadinhos,
ficavam bons e bonitos que lhes assentavam muito bem.

E, chega a hora da Masinha começar a pensar em ser doutora,


objetivo, sempre repetido, de nossos pais. É matriculada na
escolinha da dona Mariah, a cem metros de casa. Excelente
professora e rigorosa em seus ensinamentos e disciplina em aulas.

Ela sentiu a diferença de tratamento, de princesa a uma reles plebeia


igual as demais alunas. Estudava em casa as obrigações escolares e
quando solicitada, na escola, a prestar contas de seu aprendizado,
240
tremia como se fora vara verde.

Por isso captara a mania da professora que se entregava,


antecipadamente, nos dias de arguições individuais.

Quando Dona Mariah colocava o lápis entre as mãos deslizando-o e


esfregando nas palmas das mãos, gerando um atrito com a sua
grossa aliança e produzindo um som característico desse rolamento,
na simetria do tempo, não mais restava dúvidas. Esse dia tinha
questionamento pessoal.

Ao perceber o fato, a Masinha já ficava trêmula, e ao tentar lembrar-


se do que estudara não se recordava de nada. O problema passou a
ser outro, como escapar com dignidade dessa insinuosa curva.
Levanta-se, agilmente, da cadeira e já andando em direção à porta
vai concluindo sua fala, Dona Mariah vou buscar meu livro que
esqueci.

Ao ouvir tais palavras, olha para trás e nota, na sua equipe de alunos
a ausência da Masinha. Comunica-se, então, com a mamãe que
alivia o ocorrido dissimulando tratar-se de uma desinteria intestinal.
Ela assim entendeu e desejou-lhe melhoras.

O tempo é a sensação que temos da sanidade da vida, na luta


pela existência e sobrevivência contra um mito divino, sutil e,
absolutamente, isento de suas obrigações e verdadeiramente
democrático.

A Masinha dá sequência, agora, aos estudos sem estresses e


medos, até com muita aplicação, com a dona Helena, outrora nossa
241
mestra, agora na Rua dona Leopoldina em frente ao campo de jogos
da Escola Preparatória de Oficiais do Exército.

Um pouco mais distante onde morávamos e eu a levava e buscava,


aos fins das aulas. No começo, ainda, no período de adaptação
tinha que ficar esperando por ela sem afastar-se da escola, pois de
vez em vez, olhava para ver se eu estava lá, como se fora um cão
de guarda. Haja paciência.

Todavia, perdendo minhas brincadeiras particulares e cansado de


esperar, um dia sem planejamentos nem projetos, mas
inusitadamente, próprio do instinto momentâneo, eu disse a ela,
agora vamos caminhando e nos divertindo de “cobra cega”.

Fechas os olhos que eu vou te guiando. Certo? Sim, ok, disse ela.
Ficou feliz com a novidade.
Assim andamos um quarteirão e ríamos da novidade, quando me
deu na telha fazer algo diferente e maligno, mas na minha
ingenuidade sem nenhum risco, por apenas, um leve susto, a
encaminhei, com tranquilidade, para um poste de iluminação e
esperei o encontro.

Nada foi agradável na ideia, julgada brilhante, por um susto, mas


rendeu muito mais que isso. Foi chorando até lá em casa onde levei
um cagaço da dona Esmeralda que no fundo entendia a minha
situação de criança, também.

Mas, eu era uma pessoa do bem e arrependido, compreendi a minha


insensatez e fiz de tudo para a recompensar dessa maliciosa
encrenca.

242
Juntei os dedinhos indicadores colados um no outro, na posição
horizontal, e ela os separou, com seu dedo num toque simples e
gentil, rompendo as mágoas, como se tudo doravante, continuasse
como sempre fora e do passado nada mais restasse. Cumprido o
ritual, fizemos as pazes.

Em 1952, a Ruth e eu, concorremos as vagas escolares, ao exame


de admissão ao curso ginasial. Tínhamos concluído o quinto ano
primário.

A Ruth no Colégio, feminino, da Imaculada Conceição e eu, no


masculino Castelo Branco, onde me classifiquei em primeiro lugar.

A mamãe preocupava-se muito com a nossa religiosidade e a fé em


um Deus bíblico e Supremo. Por isso nos matriculou em colégios
religiosos.
Era judia tradicional, de crença inabalável e quando chegou ao
Ceará não encontrou uma sociedade hebraica.

Os poucos descendentes de Israel professavam suas liturgias em


casa ou entre parentes nas festividades hebraicas, mas era difícil
exteriorizar os movimentos sionistas.

Na cidade não havia Sinagoga, e a colônia judaica muito pequena


inviabilizava a possibilidade prática de sua vontade que adotássemos
o Judaísmo, pela tradição familiar.

Em paralelo, praticava como podia a sua religião tão amada e


querida.

Recordo-me bem do Yom Kippur, o jejum de um dia, vivido só a água


pela expiação dos pecados, limpeza e purificação da alma e do
corpo.
243
E nós os filhos sem conhecimento ou meios outros que não fora o
caseiro, pouco sabíamos de suas doutrinas e mandamentos.

Ela tinha a convicção de um Deus Superior a tudo, e que outras


religiões mantinham a concepção divina.

Sabia, também, da impossibilidade prática de vir a ser a nossa


religião e optou pela Religião Católica Apostólica Romana.

O importante era ter a dimensão de um Ser divino e a crença para


que professássemos com temor e fé a um Deus que nos levaria a
guarida segura de uma vida eterna em paz.

Hoje somos católicos.

Temos um respeito profundo ao judaísmo e suas causas e sempre


tivemos orgulho de ostentar o sobrenome hebraico Abitbol.
O Ruy e o Rubem já se tinham consagrado à Igreja Católica anos
atrás. E são adeptos presenciais e fiéis da Igreja que escolheram
como a nossa pátria divina e ancoradouro na vida eterna.

Nossos descendentes também professam com a mesma intensidade


a religião católica e com respeito silente aos irmãos cristãos de
Israel.

Apêndice 1

Nesse mesmo ano, reportado a pouco, em 25 de dezembro, na Igreja


do Coração de Jesus, eu e a Ruth, fizemos a nossa primeira
comunhão.
244
Tivemos a preparação religiosa no Catecismo, de aproximadas 120
perguntas e respostas, para a celebração da eucaristia em Cristo.

Esses ensinamentos e todas as partes atinentes ao relacionamento


com a Igreja foi efetuada pela missionária que morava na Rua 25 de
março e paroquiana da Igreja.

Bolos, comidas, salgadinhos, fotos, santinhos, roupas brancas de


seda para a Ruth e para mim um paletó e calças curtas, com
braceleira e vela de cristão fizeram partes dessa festa religiosa que
ainda hoje,

Lembro-me nitidamente, em perfeito estado de conservação. toda


a cerimônia de nossas inserções através da liturgia católica à
condição de cristão.

Com o fito de aumentar essas saudades, ainda hoje, guardo


carinhosamente dois santinhos dessa festa da eucaristia, que foram
confeccionados em modelos diferenciados, um para cada
comungante. Tenho os dois.

As fotos oficiais foram batidas no Stúdio da Aba Film, a rua Barão do


Rio Branco, 1000, a melhor cidade. Ficaram muito boas e a mamãe
confeccionou um álbum como registro desse ato religioso.

flexibilidades.

Os filhos estudavam muito. Todos disciplinadamente. Em


compensação, brincavam ainda mais e não perdiam tempo para
exercitar essas atividades tão diversificadas.

Alguns meses após, apareceu lá em casa um galego que


representava um Studio Fotográfico e de Pintura de Montevidéu, o
Studio Surena, que oferecia, em seu portfólio a opção de um afresco
refinado.

245 A partir de um retrato, de boa qualidade, e moldura trabalhada em


madeira com resíduos de ouro em seu amarelo cintilante e a tela de
vidro inquebrável.

Mostrou algumas fotos com os correspondentes trabalhos pintados,


como descrito e nos deixou alvoroçados. O retrato era grande, talvez
50,0 cm por 30cm.

A princípio mamãe relutou na aquisição, mas foi convencida pelas


garantias oferecidas e o parcelamento em quatro vezes.

Foi o suficiente, foto escolhida para o trabalho, adiantamento da


primeira parcela e um prazo de 60 dias para a entrega. Tudo
acertado e concretizado. Agora, era só acreditar e aguardar o
vendedor.

Ficamos alegres pela encomenda ao tempo que dúvidas pairavam


sobre o fato e a sua realização.
Na data aprazada lá estava em casa, o senhor ambulante, com fala
da galícia para a entrega do quadro.

Ficamos todos encantados com a tela, e até surpresos pela


promessa cumprida com fidelidade pelo empresário. Os artistas da
foto também valorizaram sobremaneira a peça. Pensou-se até em
colocá-lo a exposições de artes, bienais etc.

Mas, o imprevisível sempre acompanha o inusitado e a euforia. Corri


à casa do Fernando, meu vizinho, para lhe mostrar a pintura.

Ao promover o quadro e mostrar-lhe os detalhes da confecção


exagerei um pouco e ao provar o seu inquebrável vidro bati com a
mão contra ele, e o “cristal” estilhaçou-se bem na vela.

Levei um carão daqueles, mas na realidade minha consciência ainda


hoje me dá razão, a pancada fora sutil e não deveria ter
proporcionado o ocorrido.
246
Imediatamente, a mamãe entrou em contato com o senhor
representante do Studio Surena e este a garantiu que estava dentro
da garantia e faria a reposição do vidro sem ônus.

Passou em casa, levou o quadro e após um meado de mês o trouxe


de volta recuperado. Hoje já não existe mais galegos como os de
outrora.

E a obra prima do acervo familiar está sob a custódia da Ruth, tal


qual como chegara, sem danos que nem o tempo foi capaz de punir.
Talvez, em homenagem a honestidade do galego.

Continuávamos a vida como a monotonia dos dias fossem


transformados em ardentes e sedentos momentos de emoções.
Fazíamos por onde, com nossas travessuras diárias. Na contramão
dos brinquedos e jogos, estudávamos e líamos.
Por vezes, a mamãe fornecia os livros e nos cobrava o retorno da
história e a sua compreensão.

O Ruy, sempre o mais determinado e compenetrado no papel de


mocinho das novelas. Aquele homem bom, sério, honesto e de
palavra afiançada pelos exemplos, nem sempre seguidos com os
mesmos rigores pelos manos, eram muito radicais.

O pai no corre-corre de atendimentos receitados e soluções a


produzir na manipulação, e nas gentilezas deferidas aos seus
clientes que já faziam parte de seu magnetismo pessoal.

Em casa a labuta era uma constante, e a mão de obra a serviço da


família conduzida por Dona Esmeralda, contava com a assistência e
a colaboração de todos os membros da congregação Abitbol de
Menezes.

Nossa mãe cuidava da casa, nem sempre com uma ajudante


247
doméstica, cozinhando o básico e fazendo a sua limpeza.

Por vezes, comprávamos, diariamente, marmitas para o almoço


fornecidas de forma caseira e pertinho onde residíamos. Era uma
forma de “desenfastiar” e aliviar um pouco essa dura diária.

Não tínhamos empregada doméstica, em algumas fases, não que


nos faltassem ânimos para o trabalho sedento da vida cotidiana, mas
porque mesmos com o dinheiro controlado, não era o suficiente para
a nossa manutenção, na estrutura social que levávamos.

Então, encarávamos a situação com realidade e na convivência


aprendemos o significado da palavra solidariedade.

Um por todos, todos por um. E rezávamos a cartilha conforme o ritmo


financeiro ocasional.
A nossa permanência em Fortaleza era definitiva e, a expectativa a
médio prazo, era de recuperação das finanças.

Mas tivemos momentos difíceis.

O piano da mamãe que o diga, lá em Manaus, querido, embora


isolado e desolado por sua ausência, foi fiel e aceitou a sua venda
para auxiliar a manutenção da família.

Ajudávamos nos mais diversos afazeres subsidiários.

Principalmente eu, porque os mais velhos tinham a prerrogativa de


seus 18 anos, a Ruth era menina e sobrava para mim. Tinha dez
anos. Ia “num pé e noutro” fazer compras, tantas vezes quanto
preciso fosse, como dizia a mamãe.
248

Sábado à tarde, por volta das duas da tarde, era sagrado lá ia eu na


Padaria Duas Nações, na Av. Senador Pompeu esquina com a
Castro Silva, adquirir as deliciosas bolachinhas Ceci.

Voava no pedalar equilibrado e rápido dos meninos lépidos, cortando


o parque da Cidade das Crianças fazendo a diagonal da Praça do
Ferreira e logo estava alcançando o objetivo. Ainda queria jogar bola
na calçada.

A Ruth, por vezes, varria a casa, ajudava a lavar e enxugar os pratos


e as panelas.
A Rucimar tinha dois anos e tomava muito tempo da mamãe. A Ruth
também ajudava neste mister. A Masinha a recompensaria anos
depois fazendo parceria e segurando a vela nas paqueras.

Eu só entrava na cozinha para fazer o fogo, pois ali não era lugar
para homens. Inda bem, que existia essa filosofia preconceituosa.

Colocava o carvão na grelha, amassava os jornais em pedaços


pequenos e depositava-os na boca do fogareiro, punha um pouco de
querosene para umedecê-los e acendia com palitos de fósforos
riscando a sua caixa e ficava abanando até o fogo pegar.

As compras pessoais ou serviços eram efetuados no Centro, nas


“trincheiras” confluência das ruas Liberato Barroso com a Major
Facundo.

249 Essa área era o melhor local para as aquisições de aviamentos,


utensílios usuais caseiros e lojas de consertos de panelas, afiar
facas, tesourinhas, alicates e outros utilitários para as unhas.

No setor de armarinhos, A Rainha da Moda e o Dedal de ouro,


monopolizavam outros apetrechos de costuras. Tecidos no Armazém
do Povo, Esplanada, Casablanca e Casas Nova.

Não esquecíamos o caldo de cana e o pastel na Leão do Sul ou


Miscelânea, ali pertinho.

O Centro de Fortaleza, tinha como marco inequívoco a Praça do


Ferreira e a sua imponente Coluna da Hora, que ainda hoje
permanece, mas de forma arquitetônica estilizado em madeira. Sem
expressão e histórias ao contrário da original.
Seus bancos de madeiras, longos, pintados de verdes, serviam para
os aposentados trocarem as farpas dos dias e os comentários a ser
atualizados.

Não eram vagabundos, eram pessoa decentes de diversas


categorias profissionais de alta relevância, e a essência era o passar
o tempo, manter as amizades e depois seduzidos pelo almoço ou
jantar de casa, voltavam.

Transeuntes, vendedores ambulantes e pessoas esbaforidas,


correndo na luta pelo pão de cada dia. Bancas de jornais, quiosques
no meio da praça eram o seu ambiente predominante.

O Abrigo Central, construído para servir a finalidades de terminais de


ônibus, concentrava-os, de quase toda a cidade. No seu interior,
inúmeros boxes de miudezas, cantinas, cafés, pontos de sopas e
250
caldos, lanchonetes, tabacarias, engraxates de sapatos, manicures e
ambulantes, circulavam aos milhares, diariamente.

Alguns se destacavam, obviamente, por suas características


diferenciadas de mercadorias ou por suas inusitadas atitudes ou
paixões clubísticas.

O Pedrão da bananada, torcedor doente do Ceará era muito


festejado e suas iguarias, não se restringiam a esse carro chefe, e
dominava esse setor de vendas no local, assim como a torcida do
mais querido.

Já ao alvorecer, lá estavam os comensais contumazes e festeiros


inveterados que, ali buscavam alguns sanduíches, caldos ou
similares em troca das cédulas que ainda lhe restassem nos bolsos,
e roupas maus cheirosas de bebidas alcoólicas.
Alguns, talvez a maioria dos jovens, vinham a pé numa permuta da
passagem do ônibus pela avidez de um petisco que lhe enchesse a
pança, como uma boa panelada e umas tripas, de quebra. Tinha que
rebater a ressaca.

Por outro lado, em sua banca de jornais e revistas, o Bodinho,


alcunha carinhosa desse torcedor do Fortaleza, vendia ingressos
do clube para os seus jogos e de tudo fazia para o crescimento do
tricolor de aço.

Era efervescente e concentrava uma clientela de todas as idades e


sexos. Do alvorecer ao anoitecer, quase o dia a todo, a serviços da
população, e a si.

251 Ponto de encontros de todas as naturezas, até por sua localização de


terminal e a principalmente, a Praça e o melhor mercado de todos os
produtos e cines

Ao final dos expedientes de trabalho, era comum, a rapaziada fazer


ponto a fim de trocar olhares com as comerciárias em buscas de uma
camaradagem, de um papo gostoso nos ônibus ou mesmo uma
amizade colorida. Descompromissada, para ambos.

Na esquina da Rua Guilherme Rocha com a Major Facundo, os


ventos são intensos e fortes, em épocas do ano, e as meninas um
pouco mais ousadas, usavam saias a altura dos joelhos.

Não se davam bem quando, distraídas, passavam por ali, e eram


surpreendidas por essa rajada que levantavam suas saias e só
faltavam carregá-la paras os braços dos galãs, a postos para essas
cenas de pura alegria dos marmanjos. Outros tempos. Outras
saias. Outros moçoilos.

Mas, residia uma pergunta que ninguém sabia responder ao certo,


seriam essas moçoilas tão avoadas, assim, ou vinham de outras
cidades, mas isso já não importava mais. O ar vitorioso de uns e as
raivas de outras, talvez, não sei.....

Eu sei que esses rapazes indecentes, foram apelidados de rabo de


saia. Não, só por esse fato, em si, mas porque não sabiam apreciar a
beleza de uma jovem na maciez de sua juventude, sem que lhe
segue os passos atrás de uma prosa.

A área circunscrita da Praça do Ferreira, é de um valor histórico e


cultural da maior relevância. Sobressaem-se, O Hotel Excelsior, o
prédio do Cine Majestic, que foi destruído por incêndio, o da Caixa
252
Econômica, o do Cine São Luís, o da Seguradora Sul América e,
um mais recente em relação àqueles, o Savanah Hotel.

Para ilustrar, e denotar a sua importância, o Excelsior Hotel,


construído por Natali Rossi, no período 1928 a 1931, possui 7
andares, foi o primeiro “arranha-céu” de Fortaleza, e utilizava em sua
estrutura alvenaria de tijolos e trilhos de trens – sem cimento – e é
considerado o maior edifício da espécie no mundo.

Este era o panorama do centro da cidade, diuturnamente. Com os


Guardas Civis fazendo a segurança. Mas, não sei nem para que,
pois naquela época, se gritassem pega o ladrão, quem corria era
ele.

Ademais, descobriram, em sigilosas investigações que os gatunos,


normalmente, são mais rápidos do que os Guardas, alguns até, com
validade vencida, para a tarefa, e criaram uma segurança máxima
para dar apoio as Rádios Patrulhas que circulavam na cidade, em
nossa segurança.

Agora seriam, caminhar a pé, nos trechos de maiores


periculosidades, em dupla e armados de cassetetes. Fortaleza
adorou, muito mais pela novidade que seria acrescentada, em termos
de garantias, e logo os apelidaram de “Cosme e Damião”.

Não sei se o pensamento da população era o de homenagear os


Santos, ou aos Guardas por suas irmandades ou pela dupla
ingenuidade do Chefe da Polícia.

Só, o Ivan, rabo de burro, atazanava a vida desses guardiões da


corporação paramilitar.
O Bill, filho de um pai americano remanescente da segunda
253
guerra, com sua moto louca e acrobacias fazia a felicidade de uns e
o medo de muitos.

Era o reduto comercial, cinematográfico, hoteleiro e financeiro.


Quase tudo se resolvia no Centro. Afora, os Clubes e as praias que
roubaram o circuito de turismo e pousadas.

Nas compras caseiras diárias, ia diversas vezes às Bodegas do


Cavalcante, do Alírio ou mesmo a do Vicente ou a do Abílio adquirir
mantimentos como feijão, arroz, macarrão café, açúcar, ingredientes
de limpezas ou de cozimentos.

No Cavalcante aproveitava o troco, adquiria, também, um cubo de


morango feito na caixinha de gelo da “Frigidaire”.
Sua esposa, dona Maria também procedia o atendimento aos
clientes e enquanto pesava num saquinho de papel mais resistente, a
farinha, o arroz ou feijão, ia cantarolando músicas antigas, sem
letras, só na parte musical com la-la-la-um-um-um....

Não se podia nem negar o gelado, pois os beiços estavam coloridos


de grená pelo pó da fruta. Mas, era bom. Fazia sucesso. Quase
sempre em falta pela demanda. A gente esperava que congelasse.

Verduras e frutas, eram vendidas pelo Abdon que em seu


jumentinho vagaroso e abaulado por duas caixas de madeiras,
amparadas entre si no dorso do animal, diariamente, percorria toda a
avenida da Dom Manuel.

Era muito gentil e quando solicitado a nos colocar no jegue, e o fazia


de forma carinhosa. Boas lembranças.
254

O leite, também vendido na porta, chegava cedo, sempre gorduroso


e grosso, realmente “in natura”. Quando afinava já sabíamos, era
água colocada como suporte para aumentar o seu volume.
Trocávamos os vendedores. Mas, já éramos fregueses do Seu Chico
a muitos anos.

Mamãe tinha um cuidado especial no trato com o leite, por suas


impurezas, quando da ordenha sem os seus devidos requintes
sanitários.

Precavida, fervia o leite em uma panela até subir uma espuma


cremosa. Retirava a panela do fogo e esperava baixá-la, nesse
esquema por até três vezes.
Quando nós o fervíamos, dizíamos, mamãe o leite já ferveu e ela
retrucava, quantas vezes?

Não sei se esse é o motivo, mas a sua nata era densa, espessa e
seu sabor purificado com um pão quentinho que ainda hoje sinto
falta.

Hoje tomo leite desnatado e zero lactose. Qual é a graça?

O mel de cana-caiana, que saudade!

Límpido, grosso, brilhante e saboroso. Era o que se tinha de melhor


na qualidade, puro.

O botijão cônico, feito de zinco, com um pescoço que servia de


descanso ao caneco medidor da venda.
255

Lembro-me que gritava, com voz forte, o homem do mel, mel, e as


donas de casa apareciam em suas varandas esperando a sua vez de
encontrá-lo e fazer o pedido.

Se fora só mel já era o bastante, mas fazíamos acompanhá-lo o


queijo e a farinha de mandioca. Não existe nem caviar parecido
com o sabor néctar dos deuses.

Sabido, o homem do mel de engenho nos oferecia à venda os


roletes de cana, enfiados num pedaço pequeno da vara desfiada em
galhos, como se fora um mini arbusto, um cacho.

Os tradicionais alfenins do Ceará, são oriundos da rapadura.


Coloque-a com água numa panela até atingir a temperatura de
aproximados 45 graus. Aguarde um pouco na fervura, até tornar-se
num melaço.

Retire-o do fogão e bote em cima de uma mesa. Espere esfriar um


pouco e, em seguida comece a torcê-lo até a sua textura ficar bem
maleável e clara. As suas tranças são uma soberba, um pecado. O
sabor é incrível. Ô coisa boa.

É o famoso puxa-puxa.

Existem outros alfenins que não derivam da rapadura e sim de uma


mistura água, açúcar e gotas de limão. A calda, sinonimamente, o
melaço, tem a partir daí a mesma elaboração.

Só que fica bem mais fina, requintada e extremamente branca. Os


vendedores costumam vendê-los trabalhados e agregando-lhes
256
ornamentações, como aves, flores, coraçóes, peixes e o que a
imaginação ditar.

Nós cearenses, na nossa matutagem interiorana, comemos e


adoramos sem adornos e os chamamos de suspiros. São suspiros
de sabor, de saudades.

Já os quebra-queixos são da mesma família dos méis, com um


detalhe pertinente e altamente constrangedor, eram grudentos e se
os mastigavam, eram vezeiros em solidificarem-se nos dentes que
não saíam com um simples passear da língua.

Por vezes, eram necessários tirá-los com as unhas. Todavia, muito


bons, para a garotada de sete anos na troca dos dentes de leite por
definitivos, quando os quebra-queixos encarregavam disso. Vinham
juntos, pregados.
Bater fotos de passeios, praia, aniversário, era um filme similar
dirigido por Alfred Hitckoch, tal o suspense gerado desde a aquisição
do filme Kodak ou Fujifilm, os melhores, como a sua colocação na
máquina.

Os efeitos especiais eram proporcionados pelos cuidados ao colocar


a película dentro da objetiva, de tal sorte que a luz solar, não a
queimasse pelos raios ultravioletas.
Ademais, enfiá-la no carretel e, ajustá-la corretamente e fechá-la,
imediatamente, eram precauções constantes para o êxito do intento.

Sempre na Aba Film ou Foto Sales.

Em compensação, pertinho estava A Cabana, sorveteria de sucesso,


que aproveitávamos para refrescar, com sorvetes ou refrescos de
257
frutas.

O pão, não tinha outro, era na Padaria Lisboa, vizinha a casa dos
idosos Bento e suas irmãs Dindinha, Dondon e Conceição, parentes
do papai que mantinham um pombal em casa e era a primeira coisa
a ser mostrada ou falada quando lá se ia visitá-los.

A carne no Açougue do seu Zé e do Chico, na Pero Coelho. E já


sabiam o tipo de carne desejado e quando se tratava de
fornecimento para uma boa sopa tinha que ter osso com carne
entornada.

Os ovos era uma briga para comprá-los, negociados pela dona


Mariinha mais conhecida na vizinhança por barbada, apelido dado
pelos vizinhos devido aos fortes traços de barba à sua pele. Ela tinha
ódio a quem lhe assim a chamasse.
Mas os garotos eram travessos. Passavam em frente à sua casa e
correndo gritavam “Barbaaaaaaaaaaada” e ela furiosa, quando os
identificava ia às nossas casas “enredar” e queixar-se das
traquinagens. E haja carões e algumas vezes umas chineladas nas
canelas.

Um detalhe revelava a experiencia e a vivência de uma dona de


casa, ao receber os ovos, colocava-os numa panela grande com
água, aqueles que subiam e boiassem, estavam estragados eram
devolvidos, os que estavam sentados no fundo, eram os bons,
saudáveis.

Nossas roupas eram lavadas pela Dona Maria da Glória que trazia e
levava na cabeça, em equilíbrio circense, as trouxas enormes de
roupas e redes sujas da semana.
258

A mamãe listava o rol das roupas, minunciosamente, conferia com a


lavadeira na entrega e no recebimento.
Contavam-se, então, as peças lavadas e engomadas, uma por uma,
a cada preço de per si, e no final efetuadas as contas tinha-se o seu
custo final para pagamento.

O cotidiano de alimentos, frutas, cerais, carnes e outros itens eram


adquiridos com conhecimentos de suas procedências.

Esse era o âmbito de sustentação alimentar e manutenção da vida


simples e caseira da família.

O Natal de 1953 foi inesquecível. Eu e a Ruth pedimos, em carta,


bicicletas, na qual ainda não sabíamos dirigir e fomos atendidos pelo
viajante do trenó puxado por renas.
O Bom Velhinho sempre nos trouxe os presentes que pedíamos,
induzida pela mamãe que levava em consideração o seu preço.

Para garantir, total segurança na entrega, sem correr riscos de


imbróglios ou causas similares, fazíamos uns banquinhos
diferenciados, um de cada cor, com os respectivos sapatinhos e
colocava-os perto de nossas camas.

Quantas vezes acordávamos, durante a noite e olhava se tinha algo


para nós, nos tamboretes. Mas, a mamãe sabida só punha os
presentes ao amanhecer para que pudéssemos dormir mais e a
todos.

Papai Noel nunca faltou com a sua lealdade e amizade a essas


crianças que o amava.

259
As cinco da manhã, acordamos ansiosos e, buscamos com os olhos
sonolentos, algo por acaso colocados ao lado de nossas camas.

A minha era uma Centrum, marrom clara, masculina. A da Ruth uma


vermelha fermina, da mesma marca.

Foi uma sensação incrível de alegria, um momento que até hoje


me emociona ao entender que a felicidade custa pouco e que
maior que ela é a eternidade de seu fruto.

Acordamos o Ruy e o Rubem e fomos para a rua aprender o


equilíbrio e a malícia de uma bicicleta.

O Neném foi o meu instrutor. Começamos os ensinamentos com o


Rubem me segurando no selim e empurrando a bicicleta de uma
esquina a outra. A metodologia do Ruy era a mesma com a Amarela.
Com pouco tempo, a evolução já se fazia sentir no equilíbrio dos
alunos que começavam a dominar a magrela com velocidade
acrescida. Os manos nessas alturas estavam exaustos. Mas não
podiam parar.

Mamãe na porta da casa olhava com um sorriso enigmático que só


seus filhos conseguiam entendê-lo e defini-lo com a segurança e a
certeza de uma unidade bilateral.

Em consequência, o Ruy ficava fixo numa esquina e o Rubem na


outra. Nos pegava na chegada e nos devolvia para o outro. Várias
vezes. E, assim estávamos cumprindo mais uma etapa do
treinamento.

Daí, para uma volta no quarteirão, foi um pulo. Os aplausos aos


estreantes nos orgulhavam. E, como um risco de um raio, já
260
estávamos aptos a colocar a Masinha no varão ou atrás da sela, na
garupa. Para maior segurança preferíamos levá-la à frente.

E assim, antes do almoço conseguimos nossa carteira de habilitação


veicular de bicicletário.
Andava muito bem de bicicleta. Lembro-me de proezas que hoje rio
sozinho a lembrar-me. As casas da Pero Coelho, afora sua fachada
tinha um batente de acesso, sacado uns 40 cm, era difícil você
conseguir nessa dimensão estreita do degrau e a parede subir a
bicicleta com as duas rodas e descê-las normalmente.

Uma vez, ao transitar na calçada da Pero Coelho, na minha bike


voadora, quando, de repente, o saltitante Célio, filho do vaqueiro da
rua, Seu Oliveira, que gostava de cavalgar no perímetro, pulou da
residência inopinadamente à rua, onde eu passava no mesmo
instante, o impacto foi inevitável.
De quem era a culpa? Nessa hora era o que menos importava. Eu
fiquei apavorado, deixei a bicicleta no local do acidente e corri para a
casa a socorrer-me com a minha mãe.

Imediatamente, fomos ao local, mamãe e eu, ela à frente eu atrás, e


vi, de pronto, os colegas amontoados em redor do Célio, já em pé.
Suspirei ao deparar-me com a cena favorável. Agradeci a Deus e
seguimos até o local.

A Mãe do Célio contemporizou o acidente e dona Esmeralda,


também. Ela voltou sozinha e eu fiquei a conversar com ele sobre os
riscos impostos a ambos, o que concordamos. E saímos juntos,
como se nada tivesse acontecido.

Na Dom Manuel, no lado da sombra, esquina com a Pero Coelho,


261
morava a família Furtado. Eram diferenciados em tudo.

A começar nos fundos longos de sua residência tinha uma vacaria.


Naquela época não era permitida essa criação leiteira numa rua de
elite, mas ele tinha influências nas lides municipais.

Por outro lado, o seu Furtado era de um incrível mau humor e corria
atrás das bicicletas voadoras da gurizada, para derrubá-la. Éramos
hábeis e com maestria esquivávamos desses ataques
inconsequentes.

Subíamos à sua calçada só para implicar e ver o idoso enfurecido


regatear insultuosos elogios as nossas travessuras.
Em férias, passávamos o dia arrodeando os quarteirões, com a bola
na traseira, chamando os colegas para as brincadeiras, enquanto
isso tínhamos ao nosso lado o espírito do menino travesso.

Oh, meu Deus, hoje sinto-me arrependido, mas o Seu Furtado era
intolerante e grosso. Fatos que marcaram e que são motivos de risos
faciais, apenas, sem emissão de sons. Um sorriso condenatório,
somente.

Suas filhas, Nazira, Silvandira, Alzira, Jandira, Aldenira e outras,


diziam: livrai-vos das iras da família, algo assim. Repetiam,
veementemente, em um chavão bem representativo de seus
pensamentos.

Só um filho homem, entre tantas iras, o Zé Furtado. Malandro.


Embuanceiro. Boêmio e irresponsável.
262

Com tantos adjetivos não agradáveis, não seria justo só incriminá-lo,


se somos capazes de elogiar, com toda a sinceridade, a amizade e o
carinho que tratava a todos os seus amigos Manuelitos que, nada
tinham a ver com seus erros.
.
Certa vez, sem dinheiro para dar uma saída, levou o relógio da
parede, do tipo cuco, e o vendeu ou deixou em garantias para a sua
curtição.

Retornou de manhazinha e o velho Furtado reclamando do seu


horário mandou-lhe tomar banho e curar a ressaca.

Qual não foi o espanto do Zé ao levantar-se e ser questionado, que


horas são? Olha o relógio do pulso e disse-lhe, já é meio dia.
E o Seu Furtado pergunta-lhe, então, como? Se o relógio da parede,
não badalou e nem o pêndulo instigou o seu som característico, o
qual o Zé retrucou, também percebi, é que ele está parado.

Quando o pai ao verificar a falta do relógio pergunta-lhe o seu


destino, ele responde, não sou eu quem acerta o relógio e nem dele
tomo de conta. Não sei de nada, talvez os gatunos saibam e acho
que o senhor deveria cuidar mais da casa e fechar as portas
corretamente.

Na fachada de sua casa, tinha uma placa com as Letras CCVF, que
significava que ele pagava a Corporação Civil da Vigilância de
Fortaleza para a sua residência, mas, odos na Dom Manuel sabiam
de cor e salteado os verdadeiros significados pejorativos daquela
placa azul e letras brancas. Você se lembra. Rs.
263

Eu era muito feliz.

Via-me no poema de Vinicius de Morais, “quem já passou por essa


vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu.”

Ser feliz é a condição essencial da vida, é a sua razão de ser. Temos


que buscá-la obstinadamente. O ontem a gente recorda, o presente
se vive e o amanhã se tenta. Que tudo, então, sejam no tempo, de
amplas e duradouras felicidades.

Mas, sabiamente a idade me ensinou que não somos felizes, em


todos os momentos. Isso é bom. Valoriza a persistência e nos dá
ânimo em perquirir.
Por vezes, é o resultado de opção ao dizer um não ou sim. Isso é
muito importante na educação das crianças. Quando se envelhece,
as coisas ficam mais claras e nada como dar uns conselhos
familiares para as nossas alegrias.

Permitam-me. Por favor.

Os sonhos de crianças, foram feitos para serem ouvidos e atendidos


nas suas satisfações. Quando possíveis. É preciso aprender a dizer
não, que educa muito mais que o sim.

Estes devaneios, invariavelmente, para os pais consumistas são


válvulas de escapes para contornar ou coadunar, por vezes, uma
retórica de trabalho, sem muita atenção aos guris.

264
E a tudo compram, quando solicitados, para amenizar e conciliar sua
consciência com outras atividades paralelas e alheias a educação da
criança.

O consumismo, por outro ângulo, é absolutamente revoltante quando


atendido para exteriorizar suas posses em competividades com
vizinhos e amigos escolares.
E por que digo isso? Existem outros lazeres mais importantes e
acessíveis.

Os miúdos precisam conhecer o Universo, desfrutar de tudo o que


temos de mais belo, nas águas, nas terras planas e altas e no ar
essencial da vida.
A natureza nos oferece os melhores entretenimentos e locais,
absolutamente gratuitos, acompanhados de substâncias vitais e
embelezamento solar.

A sombra de uma árvore só os sábios dela se apossam, quando lhes


batem qualquer sentimento. É um refresco. É uma reflexão mais
tranquila.

É uma visão panorâmica da vida saudável dos campos. Os seus


frutos são inimagináveis em quantidades, diversidades, sabores ou
ingredientes medicamentosos.

A subida íngreme entre galhos forte e quebradiços só os meninos


espertos e corajosos o fazem. Isso é muito importante para a sua
educação futura, dar-lhe-ão a segurança, ousadia e astúcia sadias
que as escolas em currículos só enxergam nas nuvens. Só
265
conhecem as dos computadores.

Na praia não são necessárias as melhores vestimentas, um simples


calção ou um biquini tradicional e já estamos na era da concorrência
com os nossos melhores produtos, que devem ser os valores morais,
éticos e caráter.

Eu o fazia. Não lembro outro amigo que fizesse. Mas, tive reveses.
Coisas da vida, de ousadia ou imprudência. Talvez, confiança demais
ou desleixo na segurança pessoal.
Fui de bicicleta jogar bola. Ia voando.

Uma pelada no “Suja Pés”, nosso campo mais assíduo. O nome lhe
foi dado por nós, pois suas areias brilhavam ao sol, que tinham,
certamente, algum tipo de metal enrustido nelas.
Esse metal, segundo nossa crença, produzia uma lâmina preta
colorindo nossos pés e canelas, até a altura das pernas onde
tivéssemos disputado a bola, nas areias fofas e soltas do campo.
Voltávamos muito suados, já sem a claridade da tarde,
frequentemente, porque, não mais encontrava a bola nas brenhas de
seu redor e não fora possível localizá-la.

Terminava o jogo. A perda da bola não nos preocupava, pois no dia


seguinte no lumiar do sol íamos pegá-la certos de achá-la,
rapidamente. Até porque, antes de deixar o campo, determinava-se a
área de localização da pelota. Não fugiu à regra.
Como narrei antes, voava na minha magrela no trajeto do campo. Ao
dobrar na Rua Dona Leopoldina, logo após a casa do Seu ...........,já
sabia dos cuidados que deveria ter em relação aos arames farpados
que se cruzavam na minha altura, das cercas as estacas de
madeiras.
266

Estava acostumado, baixava a cabeça ultrapassava o obstáculo e já


encontrava outro para fazer o mesmo procedimento, várias vezes.
Todavia, desta vez foi diferente, no quinto ou sexto entraves, ao
levantar a cabeça a fiz em cima do arame.

Cravou uma farpa de ferro na cabeça que ralou e rasgou o couro


cabeludo, abrindo espaço ao sangue para o seu “desabafo”.

Ao me ver suando vermelho, voltei imediatamente para casa e na


medida que me aproximava da residência, os amigos que me viam
alegoricamente tingido de vermelho, ensanguentado, iam correndo
atrás da bicicleta em solidariedade e curiosidade.

Cheguei, e logo deixei a bicicleta no chão ainda girando suas rodas,


e entrei. Quando a mamãe me viu assim entrou em pânico pensando
que algo mais sério teria acontecido. Os irmãos, também aflitos,
queriam ciência do ocorrido, em mínimos detalhes.

O primeiro socorro foi tomar banho e já saindo do banheiro com


algodão ensopado de água oxigenada, pressionando o local ferido.

Depois, um mercúrio cromo e iodo. E nada mais. Apenas, fui


suspenso das atividades futebolísticas por três ou quatro dias. Não
mais que isso.

Mas tudo é motivo de reflexão. Os exemplos da vida são avisos, é


bom lembrar-se disso. Se você quiser ser honesto, consigo
mesmo, nãos se engane. E foi o que fiz naquela idade. Passei a ter
cuidados redobrados na minha bike.

Não são só as coisas bonitas que marcam nossas vidas, mas sim as
267
pessoas que tenham o dom de jamais serem esquecidas.

Tristes e lamentáveis foram os acidentes aéreos que sinistraram


nossos amigos Simonides, filho do enfermeiro Seu Zil e irmão de
nossas amigas Sione, Gracinha. e Francisco. Era Oficial da
Aeronáutica e faleceu em voo como copiloto da aeronave.

Igualmente, o Florival, filho da dona Flora e Seu Horácio e irmão do


Juarí. Era uma família de parcos recursos e tomavam conta de um
sítio na esquina da Pero Coelho com a dona Leopoldina.

Rapaz esforçado, estudioso, um vencedor. Trabalhou quando


meninote como ajudante do almoxarifado do Laboratório Biotônico
Fontoura.
Estudava a noite até altas horas para o concurso de sargento
mecânico da Aeronáutica. E para a felicidades de todos foi aprovado
e ingressou na vida militar.

Concluído o curso passou a servir como sargento mecânico quando,


em um dos voos, substituindo um colega, sobrevoando a Amazônia
em direção à Belém o avião acidentou-se e caiu.

Momentos depois a Aeronáutica informou o fato à família do


acidentado. Foi um trauma terrível e impressionantemente
desesperador.

A espera da urna funerária demorou alguns dias de mais angústia.


Quando colocada em velório, em sua residência dezenas de pessoas
da redondeza compareceram para lhe prestar a homenagem justa a
um cidadão do bem.
268

Eu e colegas da rua estávamos lá. Desconsolados. Ele já jogara


conosco. Dona Flora em pleno desalento e exasperação,
inconformada, dava gritos de uma mãe doída.

Muito triste. Seu Horácio, mais calmo tentava conter a esposa. E o


Juarí, desempregado e ocioso, no canto da sala imóvel, perdido no
espaço.

Qual não foi a reação dos presentes, quando em dado momento de


loucura, Dona Flora olha para o Juari, e clama por justiça.

Com o dedo em riste, apontando-o para o filho, deu-lhe um golpe


verbal, só perdoável, nesta situação, e falou: Juari, quem deveria ter
morrido era você, que não trabalha, não estuda e não faz nada.
Florival era o nosso sustento, estudioso e continuou a deflagrar
impropérios inconsequentes.

Fomos consolar nosso amigo de jogo, Juari, já não mais pela perda
do irmão, mas pela sentença cruel que recebera da própria e
angustiada mãe.

Se não fora sinistro e trágico, teria de ser cômico e hilária aquela


cena.

Ainda hoje, tenho presente com a luminosidade solar, essa


lembrança infausta que marcou nossas vidas na região que
morávamos.
Mas, o Juari realmente era uma figura interessante e invulgar. Não
era nada inteligente, pelo contrário. Dono de um forte chute a um
custo duro de treinamento com as bolas de meias preenchidas com
269
retalhos de tecidos e areia para dar maior potência.

Até poderia ter razão, mas era o único a fazê-lo assim. Quando em
campo, jogando conosco, não “soltava a bola” aos seus colegas de
time e dizia, ante a nossa reclamação, só ganha quem chuta forte.

Ou, então, com essa pérola, ninguém se desloca!!!

Só que chutava mal e dificilmente marcava gol.

Era um menino bom, calado, amigo e nos gostávamos muito, apesar


de nos fazer raivas nos jogos.

Ainda, sobre o casal, perguntava-se à dona Flora, por que o nome


Florival, ela respondia convicta e célere, ora meu filho, é de Flora
mais Horácio!!!
Nada a ver, mas a história seguia adiante e ela sempre confirmava
orgulhosa a origem do nome do filho querido.

No sítio em que moravam tinha um cachorro imenso, valente que


latia muito e forte, diante da nossa presença nos muros, em busca da
bola de borracha “embarcada” dentro do terreno.

Mas, sabíamos como recuperá-la antes dele aproximar-se da esfera,


e cravar seus afiados dentes naquela que era o nosso símbolo de
juventude e esportista.
Era uma operação sincronizada e assumida, por todos, tão logo
pressentíssemos que em voo ela iria cair no quintal. Incontinente,
quem chutara a bola já começava a correr para subir no muro para ir
pegá-la

270
Enquanto isso, distante do local em que a bola estivesse o resto
dos atletas corria, simultaneamente, e já trepados no muro ficava
grunhindo e gritando chamando a atenção do cão que em
desabalada carreira ia ao seu encontro.

Era hora de o mal chutador pular, procurar e resgatar a bola. Quando


se desfazia dela, devolvendo-a à nossa calçada, aí tirávamos um
saro com ele e gritávamos para o cachorro, pega, pega, pega. Ele
voltava louco a procura do indigitado pulador.

Mas a nossa equipe era bem treinada e nunca perdemos uma bola
com essa estratégia. Apenas, um susto grande a quem pulara, vendo
o cachorro dele se aproximar.

E o jogo recomeça no calçamento íngreme e pontiagudos de pedras


toscas e ferinas.
A praia para nós, era relativamente próxima e quando criança,
na esquina.

É um paraíso natural, vetor mais importante que Deus criou na


manutenção do equilíbrio atmosférico, na harmonia entre países e
diversão inigualável pata todas as idades e todos os esportes,

Amo o Mar.

Nasci no mar. Suas águas salgadas, tem a gostosura do mais puro


suco e o seu sol a degustação de um picolé à beira-mar, ou doce
gelado. É diferenciado. O seu sabor é proporcional a sensação
térmica de uma praia ensolarada.

Nadar, é vencer o oceano em suas travessias, na contramão das


271
marés. Jogar bola, em suas areias esbranquiçadas e brilhantes, que
a natureza nos ofertou eram as nossas predileções aos domingos,
quiçá de todos os dias, se fora possível.

A família Abitbol, unida tinha o mesmo pensamento e amor ao mar.

Surfar numa madeira ou cruzar os mares em uma prancha de isopor,


barata e simples, era tudo o que queríamos como bens de consumo,
para ficarmos felizes.

Se não bastasse a habilidade, a posição correta em relação a onda,


ser maior ou menor, sabíamos como dominar essa fúria.

E jogávamo-nos à frente dela como se estivéssemos conduzindo-a


nas costas, rindo e pensando que ela estava nos perseguindo.
Éramos adestrados, cuidadosos e dificilmente sofríamos reveses de
uma ressaca no mar.

Em troca de nossa zombaria, quando ela nos pegava tínhamos que


relaxar o corpo inteiro e entregar-se a nossa algoz para que se
deliciasse com suas correntezas e quebradiços até nos devolver
desconectados nas brumas matinais que nos socorriam, com tempo
ainda, para respirar e verificar o estrago.

Era uma cacetada.

O Ruy como perfeccionista nadava muito bem e boiava horas se


necessário fosse para pegar, um bronze e voltar um mercúrio. Vinha
metalizado.

Pois assim o fizera comigo e o Fernando, no dia em que nos levou à


272
Praia de Iracema, ele falou-nos, vou cair na água e volto logo.
Recomendou-nos, a não entrar na água.

Esperamos tanto tempo que, de castelo em castelo, construímos nas


areias da praia uma vila. E o vilão Ruy, nada, nada, nada.
Há muito tempo o deixamos de vê-lo e o Fernando perguntava, Babá,
cadê o Ruy. Sim cadê, né, respondia eu.

O objeto da praia que era tomar banho nas águas quentes de


Iracema ou jogar uma bolinha, foi ficando para trás e caminhando a
nossa frente a preocupação, o medo e a ansiedade.

Duas horas depois, ele aparece, vermelho que só um pimentão e nos


dizia, totalmente tranquilo, estava boiando e nós ofegantes pelo
transe, ainda, ficamos felizes pelo seu retorno.
Já era meio dia, hora da nossa boia lá em casa, e assim, um tanto
desapontados voltamos os três “boiando” para casa.

Mas a pelota era verdadeiramente a grande paixão de todos os


brasileiros e nós não poderíamos ser diferentes, pois além desse
amor demasiado praticávamos com mestria o futebol e o voleibol.

O futebol, na esfera desportiva, circulava como o grande monopólio


que congregava a comunidade numa unânime sedução e fascínio.

Antigamente, jogava-se o esporte em quaisquer locais, praças,


calçadas, praias, ruas, vargens, e por último nos campos
semioficiais, pois tinham poucos, para tantos os adeptos.
Hoje o futebol é mais social, tecnológico, televisivo parece até que a
paixão mudou para o time ao invés do sentimento individual do
atleta como futebolista.
273
Prefere-se aplaudir os craques das telas do que sentir-se
envaidecido mesmo que reles e esforçado jogador.

O amor pelo futebol não está na qualidade do atleta, mas, no prazer


de praticá-lo da melhor maneira.

Os dois mais velhos, entraram na história da comunidade como


excelentes jogadores de futebol e voleibol, respectivamente.

O Rubem jogava voleibol na Seleção do Colégio nas olimpíadas


intercolegiais e pelos melhores clubes sociais de Fortaleza, o
Náutico, Líbano, Maguari e outros. Foi campeão cearense várias
vezes.
O esporte fê-lo trocar de colégio preferindo o Colégio São João, cujo
diretor-proprietário era o renomado professor Odilon Braveza que
participava muito dos eventos esportivos amadores e intercolegiais.
Como tratava-se de um Colégio misto é bem provável que não só o
esporte lhe tenha feito tomar essa medida, mas apenas seduzi-lo no
engajamento mais estreito com a sua galera feminina.

O Ruy, conservadoramente, continuou no Colégio Castelo que


sabidamente era uma Instituição mais exigente com as disciplinas e
rigoroso em suas provas.

Podemos definir jocosamente essa dupla sempre unida, mas de


comportamentos diferenciados, como o Ruy de sonso, e o Rubem de
galinha.

Mas essa diversidade do Neném na troca de colégio e clubes era


pela qualidade do atleta que lhe ensejava a oportunidade de escolher
a quem defender as cores no ano, junto com tantos craques da
época como o Duílio, Zé fuzil, Lima, Liminha, Zé Urbano, Roberto
274
Bastos, Humberto etc Era uma elite de peso no esporte regional.

Lembrando que o São João lhe dera um desconto nas mensalidades


“pelo passe do atleta”.

Defendeu a seleção cearense em vários torneios nacionais sempre


com ótimos resultados.

Atleta consagrado, acadêmico de direito, era conhecido como galã,


apelido que lhe fora atribuído por suas conquistas esportivas aliadas
as inquestionáveis paqueras e namoradas assumidas ou não, mas,
sempre requisitado às festas por suas versatilidades na arte de
dançar. Um pé de ouro. O outro, ainda, não foi nominado!!!

Rosto colado e o suor maquiador das meninas respingando


impregnando-lhe a face e o céu de estrelas cadentes aos seus pés.
Era assim que se imaginava, na sua crestomatia. Sedutor,
galanteador, conquistador, cortejador, gato, mulherengo e pegador.
Não era bem assim, mas deixávamos o sentimento indexador de
filósofo enlouquecer o narcisista.

No meu dicionário, o seu sucesso era bem menor, talvez, menos


generoso, aquele que conquista facilmente as moças desavisadas,
incautas ou inconsequentes.

E, no glossário fofo do espirituoso reflete, a capacidade de


conquistas do cobiçado Dom Juan, como ele próprio se auto
nominava, de Dom Rubem, numa analogia ao galã cinematográfico,
mas ainda lhe faltavam a capa e a espada.

275
O Ruy, representava a família no futebol, onde era mestre em
complementar as jogadas aéreas com bicicletas e obtinha muito
sucesso nas suas conclusões. Era um atleta de elite apesar da baixa
estatura para o futebol.

Era embuanceiro, fazia da bola um prato de comida na briga pela


melhor disputa, corajoso, arisco e técnico. Tinha prestígio com os
aficionados do esporte pela categoria e amor a sua prática. Era o
craque do time.

Jogava, igualmente como o Rubem, nas Olímpiadas entre os


colégios e nos times criados por amigos das cercanias de nossa
residência.
Costumeiramente alugavam ônibus para transportá-los para as
disputas entre os bairros, onde o pau comia, tal a ferocidade dos
embates e dos acirramentos entre as comunidades.

Messejana, Vila União, Manuel Sátiro eram os mais objetivados


Após os jogos voltavam-se as amizades e o direito a uma revanche
em campo neutro.
Enquanto isso, o Rubem, no futebol, era um acessório do time,
acompanhava a delegação aos jogos com a iminência de entrar no
segundo tempo como opção na ponta esquerda.

Porém, em uma partida decisiva já no seu final, jogando no Campo


do Vila União, fez um gol Olímpico, que o consagraria como herói
face a rivalidade entre as duas esquadras e o troféu em disputa.

Um a zero foi o resultado do jogo. Foram campeões do torneio. E o


276
Neném não sorriu sozinho. Nem a Taça que era ofertada pela
agremiação vencida e promotora do certame.

Eu os acompanhava a todos os jogos, de futebol em qualquer campo


ou de voleibol nas quadras sociais das agremiações citadinas.
Também tinha cadeira cativa nos ônibus da delegação.

A bola estava na minha veia contaminada pelo esporte.

Desde cedo fui vocacionada para a prática de esportes e sem


dúvidas o que mais me apetecia era o futebol que na torcida pelos
manos ruía unhas, sofria com placares adversos e emocionado
ficava quando as refregas assumiam ares de excitação e ansiedade.
Logo o Babá, era um nome conhecido pela corriola e sobressaía-se
em relação aos demais meninos, no toque de bola e nas habilidades
inerentes a um futebolista de qualidade.
Jogava inicialmente com bolas de meias confeccionadas por mim
mesmo, e as preferidas eram as femininas compridas de sedas.

Na dificuldade de sua obtenção, partia para uma solução paliativa de


meias masculinas, mas o importante é que ficassem durinhas e
redondinhas.

Enchia-se a meia com retalhos de tecidos, sobras de vestidos


desusados, roupas diversas e costurava as suas bordas para finalizar
o último nó da fabricação.

As calçadas eram os locais dos jogos, e praticamente o pequeno


tráfego dos veículos nunca foi obstáculo para uma pelada suada e
277
disputada.

Por vezes, em ruas desertas, mas próximas de casa, jogávamos no


calçamento de pedras toscas e pontiagudas como era o caso da
avenida Dona Leopoldina.

Hoje certamente, nem andar por cima dessas pedras seria capaz de
fazê-lo. Tal o desnível das pedras como a sua decrepitude.

Quando tinham só dois ou três garotos aguardando os demais,


brincávamos de "gol a gol “que consistia em improvisar duas traves,
uma delas, geralmente, utilizando-se o poste de energia e a outra
com pedras toscas demarcando, igualmente, a mesma largura, a
uma distância de 20 metros.
Fato curioso, certa vez, jogávamos na Rodrigues Júnior, quando de
repente um dos jogadores entra sozinho para fazer o gol e um
defensor do time grita para o goleiro Ozanam sair da trave.
Pensando, que ele ia de encontro ao atacante, mas qual a supressa
proporcionada pelo Ozanam quando abandona a trave e a deixa
desguarnecida e livre para o atacante marcar o gol.

Risadas generalizadas e gozações que até hoje rendem chacotas.


Tempo bom, que jamais nos passou despercebidos. Fomos todos
muitos felizes, apesar de algumas dificuldades ocorridas. Naturais e
consequentes.

Éramos saudáveis dentro de nossa estrutura física franzina, peculiar


a quem não ficava na ociosidade, ocupando todos os espaços com
estudos, esportes e tertúlias, os menores Ruth e o Babá em casa de
amigos, o Ruy e o Neném, em clubes sociais.
278
Mesmos sadios nossos pais não se descuidavam de antever
prioridades nas vacinas, vitaminas e fortificantes.

Compartilhando, também, o leque de amigos da família, nosso


Médico era o conservador e figura impoluta do Dr. José Paracampos,
formado em Paris, na França.

Quando chegava em nossa casa de automóvel, com motorista


particular, seu Nozinho, nos entregava a bengala e o chapéu para
colocá-los na Chapeleira da sala. Vinha aparatado de colete e relógio
de algibeira.

Numa consulta eventual de uma gripe, tosse ou de uma virose


temporal do inverno, receitava Bromil, Vick Vap Rub, um antitérmico
Melhoral, Emulsão de Sotch ou Biotômico Fontoura.
No prontuário, jamais esquecia de lembrar às mães a importância
de purgar os meninos com óleo de Rícino, por semestre, às cinco
horas da manhã.

Era o dia nacional da tristeza pois o referido purgante tinha um


odor fossilizado e era difícil ingeri-lo sem umas chineladas nas mãos.

Isto é, Dona Esmeralda com as duas mãos ocupadas. Em uma a


chinela, noutra o remédio e a colher. Era uma acrobacia no nascer do
sol e nós ainda vendo estrelinhas. Abra a boca. Mais.

E o Ruy, o diferenciado, adorava essa delícia delinquente que, para


nós irmãos, era o inferno sem passagem pelo “purgatório”

Em uma enfermidade mais aguda, se necessária fosse a aplicação


de injeções de penicilina, por exemplo, tínhamos disponíveis dois
279
enfermeiros da redondeza.

Seu Benedito e Seu Zil, prontos para aplicarem as injeções, cujas


seringas e agulhas eram desinfetadas, na própria caixa inoxidável
que as armazenava, com o álcool servindo de combustível.

Mas desses resfriados estávamos longe e o resumo de nossas vidas


era a “felicidade de ser feliz”, essa sim era, a nossa grande
brincadeira.

As crianças são quase sempre felizes, porque não pensam na


felicidade.

E pensando assim instintivamente ainda com a pureza imaculada


que nos Deus, até que a profanássemos queríamos era nos divertir.
Com todos os direitos da infância querida, sem nenhuma
preocupação.

Dessa forma, qualquer lugar era o melhor e não existia nada mais
adequado para nós, meninos da Av. Dom Manuel, senão a calçada
do galpão dos fardos de algodão (fábrica), cujos postes de
iluminação postados em torno de 20 m de distância já eram o
suficiente para uma pelada.

Afora, o empilhamento desses fardos na calçada que nos impedia de


jogar, mas dava-nos a esplêndida oportunidade de nos divertir nos
esconderijos proporcionados pelos seus desalinhamentos quando
descarregados. Era maravilhoso.

Por vezes, passávamos cerca de 20 minutos procurando um garoto


entre os entrelaçados e enviesados fardos. Chegávamos a subir,
280
com toda a segurança, e esquivar-se de nossos inimigos em alturas
de 4 a 5 metros.

Perambulávamos pelas ruas onde amigos e companhias, eram o que


não faltavam. Todos de boas índoles e formações irrepreensíveis.

Repentinamente, como um turbilhão, mil ideias de jogos e


brincadeiras apareciam, umas e outras querendo a opção e o lugar
da vez.
Era só escolher qual delas deveríamos reiniciar, mais uma etapa da
vida em nossas diversões infantis.

Vamos brincar de bola? Agora não, questionavam uns. Sem


problemas. Então, vamos jogar cabeçulinha. Boa ideia. Ok. Estava
combinado e as bilas, logo apareciam para começar o jogo. O das
estrelas ou o dos buracos? Sim, o dos buracos.
Procurávamos, a seguir, o lugar mais adequado para jogar,
geralmente, na própria avenida, nas coxias, onde no dia anterior e
ao amanhecer chovera e as areias nos ofereciam o campo de jogo.

Quantos buracos, três ou cinco? Sacava um. Cinco, porque somos


três. Beleza. E tem o seu início.

Hummm, cuidado prá não bilar, se ao menos triscar perde a vez,


era a pressão que fazíamos com o adversário.

O colega, retrucava, temeroso de erro, e dizia: qual é o pò? Nós,


entendíamos, muito bem, o que ele dizia, diferente do sentido de
hoje, era uma gíria, somente, para audaciar o momento, neste caso.

Em outros, usávamos também, como se quisesse perguntar, o que


281
vamos fazer?

Os esnobes costumavam chamar bola de gude. Mas nós gostávamos


mesmo era da bila, da cabeçulinha e essas ideias estranhas não
vingaram Queríamos sempre o mais simples, o original.

E os arcos de flechas. Ah, este sim, era muito legal. A começar pelo
trabalho artesanal, na pesquisa aos mamoeiros procurando os
melhores talos, mais grossos e sem curvaturas para endereçar
certeiramente as nossas setas.

Estas, poderiam ser feitas com uma agulha grossa ou um prego bem
fininho, abarcando-as com enxertos de penas e agregando-as ao seu
pico.
O alvo, uma simples madeira frágil, leve e perfurável, ou um tipo de
Eucatex qualquer. Desenhava-se em círculos com esparsos ou
tampas de latas de pequeno porte. E centralizávamos o alvo para o
tiro imbatível, infalível.

Pronto, agora vamos colocá-los n porta e começar a disputa.

Foi numa brincadeira, desta que meu primo Marcos Frota perdeu a
visão, parcialmente. Ainda criança de pouca idade, lançou ao alto
esta lança, a seta subiu e ele foi olhar pra cima, para ver aonde ela ia
cair e lamentavelmente acertou-lhe o olho em sua pupila.

Ficou muito deficiente, e o prejudicou para sempre.

Era muito legal.

282 Em dado momento, quatro ou cinco garotos estavam a nos pilhar


com palpites ou querendo disputar alguns lances de raias ou pipas.

Empinadas as raias, o cuidado maior era não se enroscar com os


fios elétricos, mas isso, tirávamos de letra, pois conhecíamos o
traquejo e a soltura da linha no instante certo.

Entre os “vais e vens” braçais, com a linha na mão e a outra um


pouco mais acima, e o contorcionismo do tronco, era só esperar um
vento e alçá-la aos ares. Subindo numa dança, qual uma bailarina,
com seus gingados, de cabeça erguida.

Tinha um glossário específico de palavras e frases, na condução e


suas manobras, tais como debicar, entrar por cima, entrar por baixo,
empinar, relada do brinquedo, linha chilena, cortar e aparar, saiu
boiando, rabiola, enfim dezenas.
Brincávamos de cortar uma na outra, ganhando pontos, mas nunca
usamos o “cerol” que talhava a linha com seus vidros estilhaçados,
moídos ao mínimo e cola passada na linha com cola de sapateiro ou
goma arábica.

Mas outros meninos, o faziam e ficávamos, apenas, esperando


quando a vencida despencava e caía, por vezes, nos telhados das
casas ou em seus quintais.

Quem a encontrasse ou buscasse era o seu proprietário, mas a


maioria devolvia ao dono por coleguismo.

Subir aos telhados era quase uma profissão nossa, adorávamos ver
a cidade, lá de cima. Quem não gostava era a mamãe que,
reclamava dizendo: menino, desce daí, tu vais fazer goteiras e
quebrar as telhas.
283

O Vencido, irritado e ferido, em seu orgulho, gritava: Pinóia, pinóia.


Isso é uma pinóia, dizia inconformado.

Se, a pedida fora uma bolinha para jogar na calçada, em lapsos de


minutos, já se tinham organizados os times para uma pelada, na rua
Pero Coelho.

Os atletas, Carlos Alberto, Nilton, Paulo Brasil, Nilson, Nelson,


Fernando, João, Deca, Duaran, Nego, Gato, Manfredo, Tarcísio
Miranda, Lúcio Flávio, Helder, Zé, Ozanam, Marcílio e Marcelo já
estavam à postos para o seu início. Rapidamente tirando, par ou
ímpar, para a formação de seus elencos.

Esses nomes compunham 4 times que, que noutra decisão


consoante a anterior, indicava os dois que fariam o primeiro jogo, e
os demais aguardariam o seu. Depois, os finalistas decidiam a
rodada. Simples assim.

Não existe sorte ou azar, o que prevalece é a sua razoabilidade. Elas


são ocasionais e desculpas para os acontecimentos a eles inerentes.

Os nomes não citados, não os foram por esquecimento ou motivos


distinguidos, pois igualmente, são meus grandes amigos e me
desculpem, mas paro aqui para não cometer uma indelicadeza
individual, mas o faça coletivamente, generalizando os inesquecíveis
momentos que convivemos.

A Masinha sempre perturbava e atrapalhava os jogos.

Quase sempre, vinha faceira, como nada querendo, e ficava olhando


o jogo e de repente, falava Babá eu quero coca-cola, mariola ou um
284
gelo de morango, do Cavalcante.

Eu a princípio renitente, mas os colegas pediam o cumprimento da


solicitação, principalmente, o “Caoberto” que rindo dizia, atenda a
Bazuca, como também era conhecida a maninha.

O certo é que eu ia alegre e mimando a menina, colocando-a nos


braços para não perder tempo e chegando na Bodega do
Cavalcante, pondo-a no balcão e satisfazendo-a com o pedido.

Voltávamos, ligeirinho para não perder o resto do jogo e deixá-la em


casa, satisfeita.

Brincavam meninos e meninas sem preconceitos ou quaisquer tipos


de atitudes que não fossem as mais distintas e sociais,
respeitosamente.
Pulávamos “corda”, individualmente, ou amparada por dois amigos
que a sustentava em suas pontas. haja a girá-la, ininterruptamente,
por horas infatigáveis. Depois o revezamento entre os parceiros.

A Fátima de Oliveira Pontes era perita nos jogos ao ar com as


pedrinhas esbranquiçadas de mármores, sem triscar ou bilar, e
geralmente, cumpria todo o jogo sem erros. Era o objetivo.
Mas também tínhamos os nossos méritos e por vezes batíamos a
adversária. Inquestionavelmente.

Quaisquer jogos ou brincadeiras que desconhecêssemos, ou em


desuso na temporada, logo procurávamos nos atualizar e a começar
a praticá-lo. O yô-yõ, jogo antigo, mas quando entrou na moda, em
determinada época, virou a cabeça da gurizada.

285
Foi uma pandemia. Só que saudável e salutar, estávamos todos
juntos, numa aglomeração lançando os yos-yôs, amarado no dedo.

Tinha toda uma técnica desenvolvida desde o enrolar a linha na


abertura central de seu círculo, com o nylon acochado, mas, não
muito para poder desenrolar com desenvoltura. Este era um dos
segredos.

O outro, bem mais importante, era o lançamento, com um giro na


munheca e uma força moderada e puxando-o, como se o
quiséssemos segurá-lo, para deslanchar e deixá-lo rolar.

Mas ele, desalinhava a linha e dançava em nossas mãos como se


fora um dançarino marionete.
A onda passava e chegava outra. O bambolê, um sucesso mundial.
Homens e mulheres, de todas as idades, em quaisquer hora ou lugar,
lá se via um, em movimentos giratórios e circulantes, se contorcendo
num balanço insinuante e com sabedoria e maestria fazia-o subir e
descer a sua mercê.

Das pernas e quase ao pescoço, os melhores bamboleios. Eu tinha


dificuldades nesse remelexo todo. Mas a Ruth e a Masinha se davam
bemnesse requebro do item mais desejado do momento. Foi
impressionante o seu sucesso.

E as gordinhas passaram a utilizá-lo, por mais tempo, horas e horas,


na brincadeira, também, com a expectativa de perder alguns gramas
de calorias, para não dizer com ofensividade às gurias, as gorduras.
O elástico, esticado com dois metros e amarrado em suas pontas,
fazendo um círculo, era a arena para dois gladiadores, que dentro
286
dele se exprimem para não tocar no outro e com um objetivo estético
e de uma beleza ímpar.

Subir e descer o elástico, e fazê-lo percorrer nos corpos de ambos,


numa simetria perfeita de seus corpos e deixar o pessoal do
“anfiteatro” envaidecido com as façanhas dos seus exibidores.

O Ivan e Ruth, lembro-me, faziam razoavelmente bem essa arte


circense levada as ruas da cidade.

O mundo dos sonhos, dos divertimentos são eternos e perduram


enquanto houver uma criança com pensamentos infantis e adultos
com saudades das crianças.
Segure um cordão, daqueles que antigamente, após o padeiro
embrulhar os pães, deslizava sobre o papel para lhes amarrar e não
os deixava cair ao relento do chão.

Amarre as suas pontas e as mantenha seguras com seus dedos


polegares. Distanciem esses dedos até o fio ficar esticado. Com os
dedos mindinhos faça-os penetrar no âmbito desse cordão e com os
quatro dedos estique-os, novamente, com as mão abertas e faça um
retângulo.

Agora você vai rendar ou estrelar, em diversos modelos, o seu


objetivo. É só alinhavar os demais dedos com a linha deixando-a
sempre nas suas aberturas entre os dedos. E nesses entrelaçados,
de formas diferenciadas, você terá o seu desenho. A sua renda, a
sua estrela.

287
Como exponencial desse divertimento, você pode passar a renda,
para as mãos de outra pessoa transferindo o cordão de seus dedos
para as dela
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Jogávamos tudo. Éramos um extensor dos divertimentos, inclusive os
mais seletos e difíceis.

O xadrez era um dos nossos jogos prediletos, claro que sabemos


que nunca o jogamos bem, com técnica e conhecimentos profundos
dos grandes enxadristas, mas, por vezes, reconhecíamos nossa
capacidade de memorização e criatividade.

Para nós, isso já era o bastante. Cheguei até iniciar algumas


aberturas de jogadas, mas fiquei por aí.
A dificuldade de jogá-lo bem, foi maior que a minha boa vontade. Os
manos, também, fizeram o mesmo e existia uma equidade entre nós,
e os jogos eram imprevisíveis e não tinha favorito, qualquer um
poderia deitar o rei.

O gamão é de uma saudade ao cubo, como se fossem os dados os


donos do jogo, quando na realidade ele, apenas, opina a sorte de um
dos jogadores, pois se um a tem, ao outro lhe falta. Não existe azar.

Por outro lado, há bons jogadores e a mamãe se sentia orgulhosa


por fazer parte desse rol de vencedores. Dava boas gargalhadas
quando nos via correr com as pedras, para não levar um gamão.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Nossa mente, sempre, bem treinada nas tarefas escolares, também,
era exercida nos encontros em nossa varanda, quando a testávamos
mais uma vez, no chamado jogo da memória.
288

Fácil de jogar, mais ainda de rememorar, quando na distribuição dos


trinta retângulos de papel acartonado, com duas figuras iguais, eram
jogados ao chão. Quinze pares.

O revezamento era o natural, e se não o fora aventurado, passava a


vez para o outro. E assim, em seguimento até o final dos
acartonados.

Ganhava aquele que no decorrer da partida juntasse o maior número


de acertos, buscado no chão com as figurinhas idênticas.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Se existe algum brilho neste livro é porque foi lustrado pelos irmãos
que abriram suas gavetas de recordações e foram escacaviar por
todas as suas ranhuras, todas as encarquilhadas lembranças que o
tempo nos guardou.

Desfilamos, agora, várias e inquestionáveis horas de alegrias


decorridas no tempo. As da infância, umas histórias e brincadeiras
de pureza e doçura invejáveis da idade.

A da adolescência, com maior vigor e ímpeto, amor e talvez, menos


pureza, que a da inocência dos miúdos de tenra idade. O tempo é
outro em relação as suas primaveras.

Quero, agora mostrar a importância do tempo em nossas vidas e


convidá-los a participar da ideologia de que podemos domá-lo com a
educação e o privilégio de quem vem retornando aos poucos, em
passos lentos e curtos à casa do pai.
289

Aliás, todos nós, e esperemos que a caminhada seja longa por isso,
vou devagar, sem pressa.

É preciso saber ler o tempo, compreendê-lo e assimilar suas


mensagens e apregoar o que nos trouxe de bom, mesmo depois de
fortes ventanias. Sempre sobram causas e objetos invioláveis, mas
ciente de nossa força de mentaaaal

Não podemos deixá-lo passar incólume, com a velocidade que queira


imprimir. Sem tomar nenhuma atitude.

O tempo definiu muitas vezes a opção de nossas brincadeiras, com a


suas intempéries. E aprendemos fazer as melhores escolhas.
É, necessário desacelerar tempo com valiosas, pertinentes e
importantes atividades de trabalho e lazer, e assim, viveremos
integralmente o tempo e ele não nos roubará o nosso melhor
produto: a vida.

Todos os homens, são ricos, para assim serem designados são


precisos qualificar, declarar e mostrar essas riquezas que, poderão
ser, espiritual, cultural, financeira, astúcia, beleza, amor, crueldade,
enfim, o escambau, que podem ser temporal e efêmero, e
constituídos de ilegítimos caminhos que nos acabem abominá-los.

Hoje rico, amanhã pobre, incontroverso. Ou o inverso. Não nos


devemos arvorar dos valores materiais e efêmeros, mas somente
daqueles que são invisíveis, perceptíveis por afetos, e de clareza
cristalina nos sentimentos.

290
Amor é para se dar gratuitamente a quem se tornou dono de
nosso coração.

É o segredo de quem percorreu o caminho da felicidade, com


reflexões e pensamentos voltados ao aprimoramento da vivência.

Nós podemos induzi-los ou extinguirmos o ócio e a desocupação. É


um grande canmnho.
Vamos devagar, na estrada, pois se o tempo passa rápido, com
vagar aproveitaremos mais e melhor.

Devemos amar o tempo. Ele é sábio. É a solução para quase


todos os problemas intrigantes e passageiros desse percurso.

Simultaneamente, acontecem fatos desiguais e genéricos, quando


quatro galhos genealógicos da família, intercalados pelo tempo,
praticam atividades diferentes, nossos pais, Ruy e Rubem, Ruth e eu,
e a Rucimar.

O tempo entra numa metamorfose diametricamente reservado aos


quadrantes de cada período da vida,

Tudo na vida passa. Mas, nem tudo se esquece. Principalmente, as


que fizeram residência em nosso coração.

É difícil falar desses quadrantes diferenciados pelo tempo, pois eles


mudaram o curso de suas culturas, tecnologias e outros valores,
morais éticos que se enfraquecem e são aceitas gerações
subsequentes.

Recentemente, conversando com o Rafael, 43 anos, diz-lhe, meu


filho você já sabe o suficiente da vida, passou pelos pontos mais
291
nevrálgicos e importantes de vida.

Mas, ainda estás na metade desse caminho, é hora de retornar ao


ponto de partida, pois é nesse regresso, em que caminhamos com o
conhecimento adquirido da ida,
zzzzzzzzzzzzz na sua está na metade racional de enossa existência,
ms eu sei muito mis que você,
s,

292

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Para deleite dos assistentes da televisão embrionária no Ceará, com
programações ao vivo, e apresentação de Augusto Borges, a TV
Ceará, Canal 2, exibia o espetáculo, “Legionários Toddy”.

A Masinha, não o perdia por nada, era animado, dinâmico e sempre


utilizando o márquete, deitavam e rolavam as suas latas
achocolatadas.

Ofereciam brindes interessantes e o principal deles era uma roupa de


legionário Toddy, como se fora um vaqueiro americano. Roupas
tradicionais, chapéu, cinto, cartucheira e revolver. Para os meninos e
as meninas.
Para concorrer aos brindes, você recortava dos jornais os formulários
próprios e os remetiam preenchidos com seus dados, para o sorteio,
ao vivo.

Ela sempre mandava esses cupons para a emissora de televisão. E


nada.

Mas, um belo dia, sentadinha no seu lugar preferido e nervosa na


hora do sorteio, quase teve um troço ao se ver contemplada com o
prêmio e a repetição, várias vezes de seu nome como ganhadora.

A Ruth foi com ela receber os trajes da nova legionária e a mamãe,


por extensão, uma panela de pressão Ironte. Por coincidência a
fábrica da Ironte era pertinho de onde morávamos, quase vizinha ao
seu Augusto Guabiraba.

293 Chegou eufórica e logo vestiu a roupa e foi cumprir suas novas
obrigações de legionária.

A Masinha amava a dança, o ballet. Dona Esmeralda jamais a


deixaria, com sentimentos de frustações, e providenciou a sua
matrícula na Academia de Ballet Regina Passos, cuja filhas Claudia e
Ana Cristina, ...., eram dançarinas talentosas.

Era a mais tradicional de Fortaleza e possuía um corpo de


dançarinas de alto nível. Ela não perdia uma aula sequer e
esforçava-se ao máximo em competitividade com as colegas de
turma. Sem arranhões.

Ao final do ano, o Festival era ansiosamente aguardado. Definida a


história, um tema ou uma atmosfera, o bailado lhe exigia as
vestimentas condizentes.
Treinos e ensaios no aprimoramento da dança, tomavam longas e
cansativas horas para levá-la à Rua Pedro Pereira, esquina com a
Floriano Peixoto e retornar. Normalmente a mamãe fazia esse trajeto.

Tudo pronto, roupas cintilantes, sapatilhas novas e a bailarina estava


pronta e apta para galgar o sucesso e aplausos, pelo menos os
nossos.

Enfim, o Festival, em temporada de três noites, no Theatro José de


Alencar, ou no Centro de Convenções do Município, e íamos
prestigiar a dançarina, em todos os dias.

Fotos capturadas pelas mães, que chegavam à proximidade do


palco, procurando melhor ângulo em detrimento daqueles
espectadores que sabiam reconhecer os talentos das meninas.

294
Estudou e frequentou as aulas de balés por vários anos, cumprindo
todo o ritual citado, sendo os últimos festivais com a filha Cláudia,
que as preparava em sua nova academia, instalada em outro
ambiente, de melhor e maior qualidades.

Em 1954, a Masinha deixa as escolas particulares e ingressa no


Colégio da Imaculada Conceição.

Num colégio grande, com enormes possibilidades de crescimentos


pessoal e curricular, capta uma visão de vida e futuro diferentes do
que vivera até então.

A religiosidade ergue-se em seus sentimentos de crença como não


esperava, assim. E, a fé inabalável em Cristo e em seus
mandamentos bíblicos passaram a dominar seu comportamento.
As colegas de turmas e outras, logo se afeiçoaram a ela, por sua
meiguice e amizade e passaram a compartilhar pequenas histórias
de flertes, namorados platônicos ou verdadeiros. Era a adolescência
em efervescência natural.

Ela, também, tinha sonhos como todas as adolescentes. O colégio


sempre fora o centro de partilha silenciosa, entre elas, de suas
ambições e fantasias que já se começavam a enveredar e a
desenhar um novo sentido para vida.

Conversavam sobre os olhares insinuantes e provocadores dos


garotos que conheciam, seus gostos e preferências. Cada uma, com
seus pensamentos de vida, de ideias formados para a contemplação
de uma vida futura.

Não fora diferente. Aparece em cena um novo ator, que marcaria a


295
sua vida para sempre. Menino bom, morava na esquina da nossa
casa.

Precocemente, aos treze anos diante do assédio e dos olhares


trocados e encabulados, de ambas as partes, começaram a
conversar, miudamente, trocar ideias como se não quisessem nada
entre si.

Foram ao encontro de vida, nos pensamentos, nos gostos e na


amizade.

E, combinaram ir para os colégios, juntos, que eram na mesma


direção, e marcaram horários precisos e pontuais para essa aventura
inusitada e sigilosa.
Pela manhã, antes das sete horas, início das aulas, iam conversando
para os colégios, ela na Imaculada Conceição e ele no Castelo
Branco.

Ao chegarem na Rua Costa Barros, o Haroldo já estava na escola e


ela a um quarteirão. Despediam-se.

Um dia foram como amigos e nas proximidades do riacho do Pajeú,


na baixa, uniram-se às mãos e sem oficialização verbal começaram a
namorar. O Haroldo, então com 15 anos. Hoje está velho.

Mas, gostariam, também, de se encontrar e conversar sem o peso


dos livros, e logo chega à indagação natural: onde, aonde e quando?

Com segurança e segredo, além dessa caminhada, foi uma equação


fácil de ser resolvida.
296

Na casa da dona Maria Clotildes, na Pero coelho, 345, nossa parente


e pertinho de ambas as residências, as primas alcoviteiras, por
excelências, mas, acima de tudo, nossas confiáveis amigas, logo
acolheram o casal e patrocinaram o desejável.

Com a anuência dos nossos parentes, lá ia ela para lá e dizia a


mamãe que ia conversar com as meninas, a Rocicler, Romilda,
Rocilda, Regina e as demais irmãs, que não dividiam conosco essas
informações.

O Haroldo já naquela época era fanático por cinema, de bola só


sabia que era o objeto central do futebol.
Era, o mais assíduo frequentador de filmes da galera, ia ou dizia que
ia, diariamente, para os cines e quando voltava, se lhe perguntasse
se o filme era bom, respondia:

Com a autoridade subsidiada, tentando demonstrar assim, que


pertencia ao círculo dos cinéfilos, o que o é, dizia, a direção pecara
ali, a atriz coadjuvante ficava a desejar e o diretor um pouco inseguro
nos momentos de maior tensão.

A direção e a produção são boas. E nós que, queríamos saber,


apenas, se o filme era bom!

Acabava não respondendo, objetivamente. aos leigos, mas amantes


da sétima arte.

O pensamento maior ainda era o Colégio.


297

A sua turma continuou a mesma e unida por vários anos e fizeram-se


entre elas, amizades duradouras que até hoje rendem bons frutos e
alegrias memoriais.
Colégio tradicional não só para a sociedade, mas, também, para
nossa família. Segue os caminhos da Ruth, na educação e cultura
em um colégio centenário de freiras de caridades.

A diretora do Colégio, Irmã Cola, era rígida em sua autoridade com


as alunas e nem sempre nos seus exemplos, por vezes, obscuros.

A Lisete, nossa vizinha tinha uma sobrinha, a Taís Costa Lima Porto
vocacionada a religiosidade e irmandade aos pobres e carentes, era
uma das catequistas e professora. Assumira o nome de Irmã Rosa,
na oportunidade de sua consagração.
Matrículas efetuadas, data para o início das aulas já aprazado e ante
a expectativa do seu começo letivo, os diários e rádios cearenses
amanhecem com manchetes inexplicáveis, imprevisíveis e quase
inacreditáveis.

A diretora do colégio da Imaculada, Irmã Cola e mais três outras


irmãs, desaparecem fugindo do Lar Educacional com o dinheiro de
milhares de alunos.

Escândalo na capital, a polícia, acionada às buscas, na tentativa de


capturá-las. O Egrégio conselho das demais freiras tentam abafar o
caso, mas tomam as medidas cabíveis para a recuperação do
numerário.

Esse clima permaneceu nebuloso por alguns dias, quando se soube


de um acordo “efetuado pelas partes” para a definição do caso.
298

O colégio com o nome a zelar e as irmãs infracionárias tiveram suas


reputações registradas na polícia, mas sem nenhum ato de punição
judicial.

Tudo continuou normal e a crença no colégio permaneceu intocável.


Era uma unanimidade a sua pedagogia educacional.

E aí, principiaram-se as aulas sem nenhum percalço.

A Masinha adorava o colégio, as colegas e as freiras caridosas e


evangelizadora das doutrinas católica apostólica Romana. Ela ficou
muito arraigada em suas raízes de cristã durante essa permanência
no centro educativo.
A sua turma continuou a mesma e unida por vários anos e fizeram-
se entre elas, amizades duradouras que até hoje rendem bons frutos
e alegrias memoriais.

Encontram-se, em jantares, almoços, ou em lanchonetes de bons


gostos, quase sempre, mensalmente, o “grupo das imaculadas
colegas “Maria Coelho, Heloísa, Maria Irene, Auxiliadora, Lúcia, Ana
Amélia, Valquíria, Regina e outras de iguais carinhos e amizades.

A pouco, em 08 de dezembro de 2019, comemoraram no Colégio,


praticamente, com toda a classe reunida, a boda de ouro dos seus
primeiros encontros patrocinados pelo colégio, em 1959.

Essa turma, fazia o Curso Clássico, e perdurou consolidada,


299 praticamente, por todos esses anos, com algumas mutações em
1968, por opção de escolha dos seguimentos profissionais a serem
conquistados.

Este tipo de preparação aos vestibulares, foi então, segmentado,


reestruturado e o Clássico acabou. A alternativa, fora o Normal, que
ganhou a grade curricular do colégio.

Aquelas estudantes que iam tentar alçar as faculdades ligadas as


ciências exatas foram para o Curso Científico em outros colégios.,
principalmente para o Colégio Batista.

Quem ia aderir às práticas das áreas financeiras e similares


procuravam, em sua maioria, o Colégio Castelo Branco.
A Masinha foi uma delas. Não tinha grandes pretensões
profissionais. Julgava-se inteligente, mas não se enganava, o que
queria era uma vida tranquila, do lar, pensava ela.

Mas concordava que uma formatura era importante, nos dias de hoje,
não só pelos conhecimentos adquiridos, mas, para a manutenção
social e financeira de uma improvável e premente necessidade.

Faz, então, o cursinho no colégio Castelo, do grande e emérito


coordenador, Professor Américo. Como, ela mesmo reconhecia, as
matérias “decorebas” não tinham o menor problema, até o número
das páginas entravam no seu RAM de memórias.

Porém, as que diziam respeito a uma luta e entreveros com o


raciocínio lógico trigonométrico, algébrico, quântico, mistura ou
substância, não lhes cabiam bem no béquer, do laboratório pessoal
300
de suas pesquisas e anseios.

Era estudiosa e prestando exames vestibulares para a Faculdade de


Economia, da Universidade Federal do Ceará, classificou-se em
nono lugar.

Estudou o suficiente para um aprendizado tranquilo na Faculdade.


Embora, tenha méritos reconhecidos por seus colegas de turma, que
comentavam a sua coragem e audácia nas pesquisas às provas dos
colegas.

Certa vez, numa prova, exagerou ao esperar minutos ansiosos de


trocas de informações com o Ferreirinha e dele não depreender
nada.
Inconformada, com o tempo desmilinguido, antecipou-se e a resgatou
do colega, apreensivo e nervoso. Transcreveu à sua prova,
devolvendo-a, em seguida, aos seus destinatários, o aluno e a sua
ao professor.

Por coincidência tiraram a mesma nota. Agradeceu e desculpou-se


com o Ferreirinha que já se acostumara a esses ímpetos e lampejos
de astúcia e coragem.

Em quatro anos, na Turma de 1973 concluiu com louvor seu curso de


formação acadêmica.

Parabéns Masinha pelo êxito, comemoramos todos nós da família


Abitbol.

E agora? O que fazer?


301

Se este efetivamente não era o seu objetivo principal.

Namorava com o então formando em Medicina Haroldo Carneiro


Morais Rolim, que concluía, juntamente com a Regina Claudia Lima
Oliveira, namorados, dos irmãos Abitbol, Rucimar e Ruymar que
eram seus apaixonados e enamorados.

Durante o curso de formação econômica arranjou um estágio na


Companhia de Habitação do Ceara- COHAB.

Não era afeita ao trabalho, mas, a ajudaria na Faculdade qualquer


tipo de experiência, pensava ela. Deu sorte.
Tinha um servidor que trabalhava ininterruptamente, inclusive,
absorvendo serviços de colegas, os quais a Masinha, se incluía e
sempre os entregava com o maior prazer.

Era o Baraúnas, que com a correção de seu caráter no dia seguinte


fazia a gentileza de devolvê-la na íntegra, as solicitações de
responsabilidade dela que, as repassava para o Chefe como se fora
a executante. Ganhava até elogios.

Saiu satisfeita, cumprindo uma obrigação, e não lamentou o seu


término. E nem sentiu saudades.

O Neném, nessa época trabalhava no serviço público estadual, como


Chefe de Gabinete da Secretaria de Educação, do então Coronel
Murilo Serpa.

302
No final do mandato governamental, em período de
desincompatibilização, assumiu a Pasta até posse do novo
Governador.

Ela, após a conclusão do Curso, e já casada com o felizardo Dr.


Haroldo, e o Rubem, sempre prestigiado, boa praça, de muitos
amigos influentes, consegue colocá-la juntamente com o Bita, Rúbio
Lima Oliveira, meu futuro cunhado, no Instituto de Previdência do
Estado do Ceará-IPÈC.

Ela não queria e nem gostava de trabalhar, e quando surgia uma


oportunidade factual, assinava o ponto e ia passear no comércio
conferindo as últimas novidades da moda, nas Lojas Americanas e
demais casas do ramo.
Conversava com o Haroldo sobre a saída do emprego, como
presente, e chegaram a um consenso razoável, faltavam poucos
meses para a alternância de poder no Estado e depois desse período
ela retornava, exclusivamente, ao lar.

Estou envelhecendo, argumentava ela. Chegara a chorar por


desagrado ao comparecimento ao trabalho. Mas resistiu e aquietou-
se no fim do ano.

Terminado o mandato governamental, como é de costume, cedeu


seu assento ao novo postulante, de outros partidos.

Não lamentou a exoneração. Pelo contrário saiu lépida e orgulhosa


do tempo que lá passara, já o Bita que gostava do labor e dos
passeios preferia ter ficado.
303

Após essas atividades, de dois anos, abandonou os trabalhos


profissionais que, na realidade, nunca estiveram presentes em suas
metas de vida.

Em 1974, a história é outra. Mais séria e duradoura até os dias


remanescentes de hoje.

Sua passagem pelo Colégio da Imaculada Conceição, não foi


somente de uma Instrução curricular, de estudos para os vestibulares
e à Faculdade, alcançou-lhe, também, a consciência entre o dever
divino e a postura de seus fiéis, aqui na terra.

A sua percepção de vida mudou, ainda, muito cedo, e foi florescendo


a cada passo dado em que fazia a leitura da Bíblia e se aprofundava
na teologia.
Mas, o mais importante disso tudo, foi que a prática dessas verdades
bíblicas, passou a dirigir seus esforços para os pobres como se fora
uma Franciscana.

Uma evangelizadora iluminada, pela glória de Deus, sem se


descuidar um milímetro de suas obrigações em casa, com a sua
família.

Criou em torno de si, uma áurea comportamental em que não induzia


às pessoas com promessas, mas acreditava mudar o sentimento
dessas pessoas com as veracidade e exemplos bíblicos, para o
caminho dos donativos aos mais necessitados.

Apesar dessas minhas palavras veementes, nada lhe afetou nos


relacionamentos familiares ou amigos quando, não normalmente são
304
referidas essas doutrinações.

Quando falto às missas ou a Ruth, fica calada e não nos perturba,


mas ela sabe de nossas crenças e fés.

O objetivo repercute nas leituras de salmos e evangelhos na missa,


onde seus comentários são esclarecedores e bem avaliados.

Todavia, a humanização aos seus irmãos carentes de fome e da


pobreza, são os princípios básicos de sua religiosidade. E, não se
perdeu no oásis da imensidão das áreas áridas e doloridas do
nordeste brasileiro.

E, não poderia perder-se, pois o País sempre teve desigualdades


imensas, onde os pretos e os pobres foram subjugados a
preconceitos inaceitáveis, comprometidas com falsas políticas
assistencialistas, muito mais voltadas aos interesses políticos dos
que os, realmente, objetos da questão.

Sentiu que a solidariedade é uma palavra plural e procurou amigas


de iguais pensamentos e vontades. As mensagens cristãs que fazem
de nossas vidas, as parceiras que faltam para somar e formar, uma
condizente partilha entre amigas, encontrou eco e se formalizou num
segmento de respeito ao próximo, agregador socialmente, na cor e
financeiramente a ambos, se necessário fosse.

A anomia irrazoável, fizeram-lhes agregar mais a Igreja e com esse


suporte eclesiástico puderam desenvolver a contento,
a parte lateral das missionárias e das caridades voluntariosas.
Encontrou uma disponibilidade de tempo e conseguiu reservar esses
momentos aos famintos e pedintes.
305

Entre as colegas de sua turma colegial, muitas comungavam com


esse mesmo espírito de evangelização e socialização das paroquias,
com enfrentamento dos problemas, visitando as unidades carentes
para se restabelecer as palavras de Cristo e fazer prevalecer a
missão católica neste mister.

Hoje, é respeitada pela paróquia por sua dedicação, amor e devoção


a essa causa que abraçou com denodo.

Além disso, as liturgias da Igreja, as missas dominicais tiveram a sua


presença no púlpito, para ler o Evangelho, ou falar a voz po pular
oferecendo a homilia com uma de ensinamento e pensamento de
Deus.
Sempre as quartas-feiras, a muito anos, uma comissão de senhoras
de todas as idades e classes sociais, de Fortaleza compartilham
desse trabalho, na distribuição de sopas, noturnas.

Pode ser pouco, mas se todos fizessem a sua parte cristã,


certamente, sobrariam para outrosm, igualmente, necessitados.

Em casa, ainda, não convenceu o marido e nem as filhas, em iguais


parcerias, e nem a nós irmãos, que a aplaudimos e esperamos que
ela faça por todos nós.

A vida é assim mesmo. Mas, todos louvam o Senhor em suas


orações diárias e solitárias.

A sua turma continuou a mesma e unida por vários anos e fizeram-se


entre elas, amizades duradouras que até hoje rendem bons frutos e
306
alegrias memoriais.

Meus pais gostavam muito de sair. O cinema era uma de suas


predileções. Cines tinham muitos, Diogo, Majestic, Samburá, Arte,
Araçanga, Rex, Jangaga eram os de suas preferências, até a
inauguração do monumental São Luís.

Até um, fora do eixo central de Fortaleza, e considerado de bairro,


mas muito bom, o Atapu, no bairro do Joaquim Távora, na Avenida
Pontes Vieira.
O interessante na época era que os filmes passavam por
temporadas, dependendo do sucesso de bilheteria, podiam demorar
até quinze dias, com a unicidade daquele filme.

O Teatro também fazia parte de seus repertórios, até porque em


suas cidades natais eles estavam acostumados a frequentar os
fabulosamente ricos e atrativos palcos construídos no ciclo da
borracha.

Os circos itinerantes que frequentavam nossa capital,


intermitentemente, eram sempre bem-vindos ao casal. Os mais
conhecidos e assíduos eram o Garcia e o Nerino.

Tinham quase sempre as companhias do Dr. Paracampos e sua


eterna amiga Maria José nos eventos noturnos. Levavam-nos,
também, com assiduidade aos circos e aos filmes condizentes com
307
as nossas idades.

As nossas infâncias e adolescências, foram fortemente


impregnadas pela Praia de Iracema, que foi o nosso palco de sol e
mar, e o cenário inesquecível das memórias plantadas com amor e
amizades, lotadas de acontecimentos e divertimentos realmente
fantásticos.

O espigão adentrando ao mar, as piscininhas formadas pela euforia


do mar que sobrepujavam as pedras, as pontes metálicas e a dos
Ingleses são lembradas por servirem de plataformas aos saltos de
habilidade e coragem da meninada.

À sombra dessas pontes, embaixo de suas estruturas enferrujadas e


de concretos corrompidos pelas maresias salgadas eram, os nossos
esconderijos para descanso.
Porém, essa regalia custava caro e, deveríamos passar, por uma
ampla prova sabedoria e risco ao transitar por baixo das longarinas
ferinas e afiadas como navalhas, insinuando cortar-nos a todo
momento.

O Estoril, restaurante e ambiente dançante, famoso no tempo da


segunda guerra mundial por concentrar os militares americanos, em
confraternização com a sociedade fortalezense.

Dizem que desses encontros nasceu o “for all”, o forró.

O tombado San Pedro Hotel, imponente e luxuoso, foi cedendo o seu


espaço a outros mais modernos de arrojadas arquiteturas,
modernidades e conforto.

308
Igualmente, a Iracema foi se isolando e deixando a saudade tomar
conta de nós e passarmos a frequentar outras e belíssimas praias
vizinhas que davam seguimento ao leste de Fortaleza, à medida que
a cidade crescia em todo o seu litoral.

O nosso Norte era o leste, e seguiram-se ao seu alongamento as


praias com denominações de clubes que, se assentaram na
continuidade como o Clube dos Diários, a Associação dos
Aposentados do Banco do Brasil-AABB, Náutico Atlético Cearense e
o Iate Clube do Ceará

Com o Náutico, tem início verdadeiramente, a chamada Av. Beira-


Mar, em conflito nominal com a Avenida Presidente Kennedy, com
seus calçadões imensos.
Suas centenas de lojinhas de artesanatos, pinturas, redes, rendas,
bordadas a bilros, labirinto, em colchas, toalhas de mesas e outras
diversas peças, rendas de tricôs, restaurantes regionais de peixes e
outros pratos famosos, com requintes de luxo.

Os hotéis acompanharam a cidade ao longo de toda a sua praia,


numa multidão de prédios que sediam inúmeros hotéis e
apartamentos com a vista ao mar.

Deus, não contemporizou, nos deu também um pôr do sol


melancólico, sumindo por suas alvas dunas e crescendo no mar,
querendo encontrar a terra na risca do mar.

Em nossa visão parece que estão infinitamente longes e se


encontram numa linha imaginária e constante, que se esvai com o
pôr do sol e reaparece ao amanhecer ao nascer, mais um dia.
Por tudo isso, e muito mais Fortaleza hoje, é um dos principais polos
de acessos internacionais de turismo e o mercado interno,
309
igualmente, entre os primeiros do ranking brasileiro.

A praia era uma opção compartilhada pela família reiteradas vezes,


e de preferência a do Náutico Atlético Cearense, principalmente,
após a inauguração de sua espetacular sede praiana, hoje tombada
pelo patrimônio público.

Lembro-me, perfeitamente, em tempos anteriores, quando essa praia


era deserta e nós já a frequentávamos, geralmente, com seu Uchoa,
pai do Fernando, nosso vizinho.

Pegávamos o ônibus e descíamos à beira-mar a margem do clube.


Vestidos de calça, camisa e chinela. O calção nas mãos. O protetor
solar nunca nos acompanhou, pois na realidade, dele nunca
ouvíramos falar.
A troca das roupas era feita nas areias da praia, onde particulares,
instalaram, em vulneráveis madeiras os vestiários que guardavam
nossas roupas e pertences.

Depositávamos numa gaveta e levávamos a chave. Após essa


efetivação, descíamos às areias, absolutamente, tranquilos com
relação a segurança e, na volta pagávamos alguns trocados
insignificantes.

Não se tinham barracas, com cadeiras e mesas, nem improvisadas e


nos mantínhamos com os doces gelados de frutas do célebre e
inolvidável Figueiredo, com suas caixas brancas e laterais
amarelas.

Alguns pontos de frutas, expostas em mesas que, também, vendiam


os tradicionais pirulitos de mel queimados, cônicos e envolvidos num
310
papel de cor de fragilidade ímpar.

Ou, industrializados como os de hoje. Só com uma diferença, os


manufaturados eram, inegavelmente, muito melhores.

Ambulantes percorriam as areias cristalinas, limpas e traziam


consigo, nas costas o tambor metálico responsável pela preservação
das chegadinhas.

Com o triangulo, nas mãos, tocava insistentemente o mesmo tom e


harmonia, com um som estridente e, notoriamente, frenético que
mexia com as crianças e incomodavam aqueles mais idosos que
buscavam o silêncio.
Recorriam, porém, as recordações e acabavam chamando os netos e
levando-os prazerosamente aos encontros dos vendedores,
comendo, inclusive algumas, com saudades de priscas eras.

Feitas essencialmente de água, farinha de trigo, goma e açúcar. Fina


e crocante, na forma de uma concha submarina.

Às vezes passavam, vendedores com tabuleiro, com as formas em


madeiras na cabeça vendendo os tijolinhos de coco, emoldurados
como se fora uma concha submarina. Uma delícia. Saborosos,
quando se tinham bastantes cocos...

Os carrinhos de pipocas, passeavam rotineiramente, nas calçadas de


toda a cidade, e permaneciam parados nos pontos de lazeres da
gurizada, nos cines, circo e outros tantos locais.

311
Nenhum menino, com alguns trocados nos bolsos ousaria a
desperdiçar a oportunidade de comer umas pipocas quentes e
crocantes.

Aliás, tudo que é oriundo do milho é bom. E a sua diversidade


como comestível é muito ampla. Desde o fruto natural, assado ou
cozido até aos mais refinados quitutes das artes culinárias e sua
utilização em dezenas de outras atividades de mercado.

Comíamos tudo, pois era uma alimentação saudável, vitaminada.

A mamãe fazia uma terrina imensa cheia de canjica, com canela


encimada. Pamonhas, para a Ruth ou a Masinha, costurarem as
palhas com agulhas manuais e linhas grossas.
Cuscuz, pamonha, canjicas, mungunzá, pé de moleque, bolo de
milho, pão, fubá, biscoitos, bolachas, azeites, cervejas, bebidas,
combustível e outros, fazem parte dessa extraordinária riqueza
natural, afora as rações para animais.

Mas, esse pikles satisfazia a todos os gostos da família. Era


exclusividade da casa, de origem israelita. Papai, trazia da Farmácia
alguns vidros para colocar mantimentos, mas, existia um, que era
especial. O do Laboratório Squibb.

Na farmácia guardava as pílulas de vitaminas, vendidas a granel. Era


grande e largo. O ideal para esse tipo de molho. Compravam-se
pimentões, cebolas e pimentas malaguetas e vinagre de maçã.

Lavava os ingredientes, tirava a parte interna dos pimentões e os


cortavam em grandes pedaços. As cebolas também eram fatiadas
312
em partes graúdas. As pimentas esmigalhadas, mas não totalmente,
deixando algumas películas vermelharem o conteúdo.

A seguir, untava todos os seus componentes e colocava no


recipiente juntamente com o vinagre. Cheio até a tampa. Numa
referência visual, um vidro de uns 30cm de altura e de circunferência
15 cm. Era muito molho.

Deixava-os dormirem por uns sete a dez dias enquanto nós


acordados e atentos para o seu faturamento. Quando dele se retirava
a tampa, o odor incendiava a casa com um odor extremamente
fascinante, cheiroso e convidativo.

Passávamos o dia todo, nos revezando com pães às mãos para


degustar aquela preciosidade. Inesquecível.
A famosa salada de pimentão, que até hoje é obrigatória nos
nossos lares, principalmente, quando o cardápio tem um baião de
dois com bastante queijo. Assim é querer muito.

Muito fácil de fazê-la. Queimam-se no bico do fogão os pimentões e


os tomates. Em seguida, retiram-se as películas que lhes envolvem e
as sementes do seu interior. Corta-os em pedaços pequenos.

Da cebola crua é retirada o seu invólucro e após fatia-a. Os


ingredientes estão prontos para serem temperados. Coloca-se todos
juntos numa vasilha de vidro com um pouco de água e muito limão
até ficar azedinha e sal a gosto. Agora é viajar no mundo das coisas
simples e boas. Imperdível, essa receita secular.

Mamãe fazia licores deliciosos com jenipapo ou café. O primeiro,


lembro vagamente sua feitura, mas sei que levava, jenipapo com
313
álcool, dormitava por três dias e depois levava-os ao fogo. Depurava-
os num pano de coar e pronto. É mais ou menos, assim.

O de café, só sei que o papel do filtro era especial. Mas, se não


acertares fazê-lo, tome um cafezinho preto, mesmo!!! Se possível,
ainda, da Serra de Baturité.

Mas, a mamãe mesmo reconhecia, não ser das melhores Chefe de


Cozinha, mas o que sabia fazer, era muito bem feito. O trivial era o
nosso dia a dia.

A merenda às três da tarde, era conhecida, tinha até fregueses, o


Heleno irmão do Haroldo era uma criança, seu queixo ficava à altura
da mesa, e mais novo que a Masinha, adorava conversar com ela e
tomar um cafezinho quente, feito na hora, com um pão quentinho,
com manteiga Itacolomy ou Patrícia. A mamãe não gostava muito
da Lírio. Quantas saudades.

Eu ia, religiosamente, comprar os pães, diariamente, pela manhã e a


tarde. As vezes estava jogando bola, lá no Suja pés, mas ia correndo
pegar o dinheiro, voltava, merendava rapidinho e retornava ao jogo.
Quanto gás. É por isso, talvez, que o meu tanque de gás, hoje, está
quase vazio, penso eu.

O Antônio Frota era um emérito participante. O Aderbal, se por


acaso, passasse pertinho, não ia esquecer. A mamãe ficava alegre
vendo a corriola toda sentadinha na mesa lanchando.
A praia do Náutico passou a ser a da moda, e o Clube socialmente, o
mais estruturado em Fortaleza, com piscinas olímpicas, quadras de
tênis, voleibol, basquete e um salão de festas que enchia de furor a
juventude.
314

Era um clube rigoroso e seus diretores circulavam em torno do salão


vigiando os dançarinos que se animavam demais, ou em posições
irregulares de impedimento.

Aí, era outra história, convidado a sair do salão ou até da sede,


dependendo da gravidade da falta, era gentilmente obrigado a deixar
a companhia, naquela noitada. Depois tinha mais.

Mas, quase sempre os diretores sociais, se aproximavam dos


infratores e baixinho aos ouvidos, sob olhares vizinhos e curiosos,
davam-lhes o cartão amarelo, verbalmente.

Saíam airosamente e voltavam depois, procurando refugiar-se no


círculo central do salão. Ali, dificilmente sofreriam impedimentos.
E o bailinho prosseguia, cada um querendo demonstrar mais
capacidade e arte no dançar.

Foi nesse Clube que aprendi, aos cinquenta anos a jogar tênis, na
realidade, ainda tinha muito gás, disposição, filhos e amigos
solidários. Mas, entre os coroas era requisitado, para a formação das
duplas. Mel de cana

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
Visitas a parentes e amigos também contavam com a nossa
participação. Era chato, mas o seu lado social era importante. E
nossos pais valorizavam as amizades seletivas que tinham.

Passeios de ônibus, numa circular ao centro contornando a praia


eram daqueles giros que demandava pouco tempo e servia muito
mais como antepasto ao almoço.
315

Mas, tinha um com tempero especial, um azulzinho que contornava o


centro e nos trazia de volta, e nós acenando para os todos os
transeuntes, principalmente, os da Dom Manuel e especificamente os
residentes na 1093, que na sua varanda correspondiam aos nossos
abanos agitados.

Viagens de trens para Sobral ou Ipueiras, onde residia o tio Idálio,


também constava entre os itinerários. Eram esporádicas. Mas seu
irmão vinha com muita regularidade à Fortaleza tratar com os
representantes laboratoriais de pedidos para a sua farmácia.

Hospedava-se lá em casa. Quando chegava já nos dava um frenesi.


É que cumpridas as obrigações comerciais, ele bebedor inveterado e
mulherengo ia visitar suas amigas das noites libertinas e prazerosas.
Passava dois ou mais dias sem aparecer lá em casa e nem mantinha
nenhum contato a respeito do seu desaparecimento.

Para nós, isso era uma rotina e não nos preocupava muito. Papai,
entretanto, logo começava as diligências para dar o flagrante e fazê-
lo retornar à nossa casa.

Ele era bom no jogo do esconde-esconde. E o papai penava, e por


vezes, só o descobria após cinco dias.

Encontrado, era-lhe dada a Ordem de Recolhimento e ele sem


apresentar desculpas, logo deixava os braços de sua Afrodite para
entregar-se aos domínios de sua esposa, que acompanhava o
cunhado na perseguição ao foragido, nas subidas das escadas de
madeiras dos velhos sobrados da Av. Senador Pompeu.

316
Incontinenti, a tia Isaurinha, mulher destemida e que monitorava o
tempo do Idálio na capital já estava de passagem comprada para
levá-lo de volta à Ipueiras, de trem.

E aí começava o destempero verbal e consequente. Ele apenas


ouvia. Esses episódios não foram raros. E nós lamentávamos o
ocorrido enquanto aguardávamos o próximo capítulo.

Depois passamos a hospedar seu filho Chico Frota, que se mudou


para a casa do Rubson Ramos enquanto o Antônio Frota nos trazia a
alegria de sua presença.

Por pouco tempo, pois tio Idálio alugou uma casa para eles na
Henrique Rabelo, agora acrescidos do Marcos e Raimundo.
317

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Corria o ano de 1954, ano histórico para o Brasil, marcado por
violentas crises políticas travadas, essencialmente, pelos
trabalhistas, partidários e defensores do governo Getúlio Vargas e os
udenistas tidos como entreguistas ao governo imperialista e industrial
dos EEUU, liderados por Carlos Lacerda.

Papai era fervoroso e apaixonado pelas causas trabalhistas


defendidas por Vargas que trouxeram inequívocas e inesquecíveis
conquistas aos trabalhadores brasileiros.

Assinava os jornais matutino Unitário e o vespertino Correio do


Ceará, ambos dos Diários Associados, capitaneados por Francisco
de Assis Chateaubriand, mais favoráveis as políticas internas e
externas de Vargas.

Não lia o jornal udenista “O Povo”, de propriedade da família


Demócrito Rocha, sogro de Paulo Sarasate Ferreira Lopes, candidato
do partido ao governo estadual.
318

Mas, ouvia diariamente a “Hora do Brasil”, comunicação oficial do


governo federal, onde Getúlio detentor de um carisma
impressionante falava à Nação e a seus seguidores, sempre
iniciando sua fala com voz embargada e emocionada:
“Trabalhadores do Brasil”.

Papai não comentava suas posições políticas tradicionais, mas como


getulista era arraigado nas forças trabalhistas do PTB. Não gostava
de discutir sobre política, em nenhuma instância.

Em casa, no lugar de destaque da sala, tinha um busto de Getúlio


Vargas, de gesso pintado numa cor esverdeada escura que era o
símbolo da adesão às causas sociais e trabalhistas.
Mas sabe lá o que o Presidente promulgou ou vetou, de tão grande
insensatez à luz da concepção do papai que ele jogou, na contramão
de sua ideologia, o busto da janela lá de casa para a calçada da Av.
Dom Manuel.

Espatifou-se todo. Imediatamente, comovido ou arrependido, teve o


cuidado de buscá-lo e regatar os restos para que as cicatrizes do seu
ídolo não fossem flagrantes para chacotas.

Eu a tudo assistia.

Lia jornais, ouvia as rádios PRE9, Dragão do Mar e acompanhava a


política nacional e do estado. Era getulista declarado e na disputa
pela governança do estado já tinha a minha posição.

Eu adorava esses movimentos, a ponto de me lembrar


319
detalhadamente, hoje, de quase todos os detalhes ocorridos nessa
época histórica do país. Era Getulista, também. Tinha onze anos.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Esse ano, também, aconteciam eleições para o governo estadual e
senadores.

O nosso candidato era Paulo Sarasate Ferreira Lopes, da UDN em


coligação com o PTB. Foi eleito. Mas, eleições nesses tempos eram
brincadeiras. As fraudes sempre foram os maiores vencedores.

O voto impresso em um papel, a chapa eleitoral, 15cmx10cm, era,


também material de propagandas dos candidatos e os meios de
comunicação e de transportes das urnas, de cidades interioranas
para Fortaleza, para processamento, eram totalmente obscuros.

320
O resultado só era promulgado meses depois. E as pendengas
políticas de roubos nos escrutínios só eram decididos após o término
do mandato.

As chapas eram distribuídas como propaganda e nós garotos


juntávamos montanhas dessas papeis nas hierarquias dos cargos
eletivos em disputa naquele ano.

Muito parecido, ainda, com os de hoje em algumas circunstâncias. A


diferença maior é apenas tecnológica, pois os partidos são criados
sem ideologias e sem programas definidos e os políticos continuam
com o mesmo espírito de corrupção.
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O Ruy e o Rubem, peritos em jogar tudo, os faziam também, com as
pedras daquelas da construção civil, pequenas e utilizadas para o
preenchimento na elaboração do concreto, em alvos que não
deveriam ser objeto dessas especialidades.

O certo é que zunindo nos ventos, com aceleração e velocidade


acentuadas, projetaram-se na porta da casa da esquina, do dr, Júlio
Rodrigues.

Quando elas as impactaram, a esposa do proprietário flagrando-os,


tratou-os com impropérios merecidos, inclusive de moleques, e a
frente da comitiva, com os dois atrás, foi reclamar à dona Esmeralda.

321
Esta, por sua vez, pediu desculpas, prometeu que o fato não se
repetiria e colocou ambos de castigo.

Nós, os seus irmãos menores, obviamente, porque não convivemos


com eles, imaginávamos isentos dessas práticas tão comuns em
meus tempos

A conclusão que chego, é que essas traquinagens e travessuras, são


naturais, fazem parte da perspicácia, da vivacidade das crianças, a
sua intuição, lógica, por motivos jocosos, para eles.

Essa é marca, da infantilidade, da criancice. Não é sinônimo de


tolice, nem de besteira, mas de crianças peraltas e danadas.
Isso é que é bom.
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Só uma coisa não para na humanidade.

O tempo, que acelera sua velocidade para vencer as intempéries da


vida, trazendo fel e doçura, alternadamente, sem preservar a nossa
juventude nem os patrimônios culturais e religiosos.

No começo da tarde do dia 13 de março de 1957, almoçávamos, por


volta do meio dia, quando ouvimos um estrondo ensurdecedor e,
perplexos levantamo-nos, todos, para identificar o acontecido.

Qualquer visão da rua buscávamos, entre as 3 janelinhas da sala, a


da direita que era a que oferecia locais mais longes, e com surpresa
322
e perplexidade ficamos incrédulos, pois não víamos mais a Igreja do
Coração de Jesus.

Sumiu. A paisagem mudou. O relógio da Igreja não estava lá.

Atônicos, percebemos a movimentação dos moradores em correrias


desabaladas em direção à Rua Heráclito Graça que dava acesso à
Igreja e gritavam que ela caíra, ruíra.

A torre da Igreja e o grande relógio desapareceram nas nuvens de


poeiras. As bases da torre primitivas não resistiram as procelas do
tempo e do seu peso e desabou sobre o corpo do templo.

Foi difícil assimilar esse fato. Alguns segundos se passaram para que
a regressão do tempo nos favorecesse, `a enfrentar a realidade.
Triste. A nossa Igreja. De tantas histórias em seus três turnos, das
missas mal assistidas e cultuadas. À fé e lazeres na subida íngreme
da rampa que nos dava acesso a plataforma do piso, sem utilizar os
seus degraus. As crianças assim o faziam.
Houve uma comoção generalizada e logo surgiram as primeiras
versões relacionando o acidente aos números de mortes.

Nesse horário era comum que pedintes e comerciários,


sobremaneira, pegassem os ônibus nos seus pontos terminais
próximos a Igreja e lá procurassem descansar e deliciar-se um pouco
da sombra produzida.

Mas, não houve falecidos no acidente, fato que se creditou a um


milagre pois, realmente era comum ver-se, diariamente, naquele
horário várias pessoas ali tirando sua sesta.

323
Imediatamente, as Rádios PRE9, Iracema e Dragão do Mar iniciaram
a cobertura dos acontecimentos, entrevistando franciscanos,
autoridades e populares que se mobilizaram, de pronto, para uma
campanha a fim de soerguer a Igreja.

A Conefor, sucessora da Light, logo disponibilizou seus boletos de


cobranças para que fossem adicionados valores na reconstrução da
Igreja, cuja empreitada, após anos de contribuições dos fiéis, foi um
sucesso e o povo religioso do estado pode através de doações
reerguer a sua Igreja
324
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
As quermesses, tradicionalmente no mês de junho, eram esperadas
ansiosamente pela população que já se acostumara a esse
entretenimento, herança ainda do movimento pró soerguimento da
Igreja.

Tornou-se um ambiente sadio, divertido e propício para os rapazolas


paquerarem suas garotas e nos escondidinhos da noite, trocarem
abraços e beijos enamorados.

A par dessa alegria junina, para uns, nem tudo transcorreu como
esperado nessa quermesse, para a dona Dindinha, tia afim do papai
que ajudava na efetivação desses eventos.
Passou mal ao comer umas guloseimas e foi para casa,
sintomaticamente, adoecida pelos ingredientes que nem sempre
eram preparados no mesmo dia.

Foi acometida de uma infecção intestinal grave e o médico receitou-


lhe enteroviofórmio as mais populares e eficientes pílulas para
problemas intestinais.

Na receita o indicativo eram tomar quatro comprimidos por dia, ou


seja, um comprimido a cada seis horas. Mas, lamentavelmente, ela
tomou quatro comprimidos de “hora em hora”. Faleceu, não sei se foi
pela desinteria ou pelo remédio.

Foi realmente uma ocorrência lamentável. Mas, a vida continuou


inexoravelmente.

325 Receberam a indenização da Aeronáutica e com os soldos do


amado filho, que continuou ajudando-os, compraram uma casa e
foram para outros ares.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
De quando em quando, dependendo das caronas de automóvel
conseguidas, as irmãs da dona Lisete vinham à Fortaleza passar
temporadas.
Dona Alda, trazia seus filhos, Dione, Maria Helena. Dona Elza,
Armando, Elsie, Maria, Margarida e o Chiquinho. Eram de Aracati, e
lá não tinham muito o que fazer.

Eram pessoas muito agradáveis, todos tocavam violão,


sobressaindo-se o divino Armando e a Maria Helena em plano
inferior.

Adoravam jogar baralho, buraco e gamão. Tocar violão e cantar eram


predileções marcantes em suas vidas. Armando na infância teve
poliomielite e dependia de muletas para a sua locomoção.

Mas nada o impedia de movimentar-se e rapidamente alcançar o


objeto desejado. Era ferino em suas ironias e “linguarudo” ao falar de
outras pessoas em comentários insólitos e impertinentes. Usava
óculos de graus bem acentuados.
326

Mas era uma figura ímpar, de humor inseparável, um sorriso perene


em seus lábios, um mágico em seu violão, traduzindo
melodiosamente um Dilermando Reis nas músicas de outrora.

Nossa casa também eram a deles, tal a amizade e estima que se


tinha. A família Abitbol toda jogava gamão e canastra e dona
Esmeralda era quase sempre a parceira da Lisete.

A Arisa, sua sobrinha, passava longas temporadas em sua casa, era


alucinada pelos jogos. Tinha uma personalidade alegre, expansiva,
avançada e muito moderna para a época.

Servidora pública, funcionária do estado perambulava nas casas das


tias onde era muito querida.
O cassino imperava e seus súditos éramos todos nós, mas o papai
não jogava.

Quando a mamãe gritava, na área, com seu muro separando as


casas, Lisete já estava dada a senha para o convite do jogo, buraco
ou gamão. Ela, sem pestanejar, respondia “muié, eu já vou” e
dirigia-se à pia perto da cozinha, para molhar o pente flamengo e
passar em seus cabelos.

Repetia, esse procedimento várias vezes, até os cabelos ficarem


parecidos aqueles de quem toma banho e os higieniza. Um pouco de
água no rosto, aguado com suas mãos, e pronto, ia correndo entrar
no buraco.

327
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amoros e a consequência inusitada ARISA

Era uma parceira agradável e engraçada com seus trejeitos e risadas


longas.
Ela tinha um namorado, da alta sociedade e seu carro chamava a
atenção, porque não era tão comum jovens possuírem automóveis.

A frota de carros brasileira ainda era pequena e, a sua propriedade


significava, muito mais, uma ostentação que uma necessidade
premente de uso.

Saía a noite com ele, para os barzinhos em moda e passeios que,


normalmente, terminavam nos aconchegos de locais sigilosos e
proibidos para menores de dezoito anos.
328

Mas, isso não era problema. Nem para nós.

Era apaixonada pelo parceiro que retribuía essa amizade com muito
carinho e atenção. Tinham maturidades suficientes para esses
procedimentos.

Viviam felizes e separados em suas casas. Outro amor grande era o


baralho. Quando estava, em temporada, na casa da Lisete, vivia lá
em casa, aperreando por um joguinho de canastra.

Era prevenida e tomava anticoncepcionais às escondidas da tia.


Não precisava dessa autorização. Mantinha-os escondidos para
evitar curiosidades.
Dona Lisete, por outro lado, para dormir ingeria comprimidos
ansiolíticos parecidos, em formatos e cores com os da Arisa.
Ficavam pertinho, um do outro, na Caixa da Farmácia.

Quando consumidos os comprimidos, a Lisete mantinha os seus


potes vazios na caixa, para utilizações diversas. A Arisa aproveitou-
os para colocar os seus remédios.

No auge de sua leseira, Lisete, passou a tomá-los e quando a Arisa


viu seus novos potinhos vazios, indagou o fato.

Ela, simplesmente respondeu, nada sei, apenas, tomo meus


comprimidos normalmente, isso é, uma senhora octogenária
tomando os anticoncepcionais a mais de dois meses.

E Arisa ria até a sua loucura, quando contou para a mamãe esse
329
acidente.

Jamais a Lisete tomou conhecimento. E a Arisa, agora, ainda mais


prevenida, até com os recipientes de seus remédios.
330

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Apendice
1. Cantores

Cantores Não dispensava em seu repertório, o Cantor das Multidões,


Orlando Silva, o Rei da Voz, Francisco (Chico) Alves, o Caboclinho
Querido, Silvio Caldas ou Nelson Gonçalves, o boêmio, fora o ébrio
Vicente Celestino.

Entre as cantoras dava preferência a Dalva de Oliveira, a Edith Piaff


brasileira, Dolores Duran, Emilinha Borba a Rainha da Marinha ou
Marlene, a Rainha do Rádio.

São muitos, os grandes e notáveis cantores e compositores da


época. Ainda são tocados nos rádios e lembrados como eternos
cancioneiros da música popular brasileira, digamos erudita, pois hoje
está decadente e nebulosa.

331
Interessante notar, as duas facetas das músicas do passado, onde
os poetas eram os compositores, e raramente gravavam suas
composições.

Os cantores, por méritos em sua vocacionada voz, timbre, harmonia,


afinação interpretavam as canções dos mestres e autores literatos.

Não se faz música, hoje, como as da velha guarda, da Vila Isabel,


Mangueira, Salgueiro e da Lapa onde predominavam os bares e as
casas de shows mais tradicionais. O bairro dos boêmios.

Nomes como Pixinguinha, Adoniram Barbosa, Orestes Barbosa, Noel


Rosa, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, Paulinho da viola, Cartola,
David Nasser, Assis Valente, Ary Barroso, Orestes Barbosa e
infinitamente outros. Um universo de estrelas brilhantes de primeira
Classe.
Outra lenda, Herivelto Martins, casado com a Dalva de Oliveira, cuja
separação envolveu o Brasil inteiro, inclusive, musicalmente,
trocando farpas reagentes, com Batista de Oliveira contrapondo, em
favor da mulher.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
2. Morre Mãe Lola

Um fato notoriamente, imprevisível, aconteceu em 1957, sabíamos


que a Vó Lola estava enferma a alguns meses, em Manaus.
Recebíamos correntemente informações a respeito.

332
Certa tarde, anoitecendo na sombra de um azul, marcantemente,
escuro e nublado, estavam conversando, na cozinha a mamãe e o
Ruy, enquanto eu e a Ruth, passeávamos de velocípedes pela casa.

Não mais que de repente, faltou luz, isto é, aconteceu algo no


sistema elétrico de abastecimento da capital.

Inopinadamente, mamãe exclama com uma veracidade autêntica,


como se a espiritualidade houvesse cochichado aos seus ouvidos
uma notícia fatal: Mãe Lola, morreu!!!!!

No escuro, com aquela notícia o Ruy tremeu nas bases e suas


pernas tremularam de medo e ansiedade.
Mamãe, corre atrás de uma lamparina ou candieiro, o que
estivesse mais próximo e acende-o para dar um pouco de
luminosidade na casa.

Retrocedendo, em suas palavras, desconversou e disse foi nada não,


apenas, um pressentimento de amor.

Eu e a Amarela ficamos juntinhos a mamãe, aguardando que a luz


retornasse. Demorou um pouco e voltou. E com ela o aparente
sentimento de tranquilidade.

Anoiteceu e fomos dormir, normalmente. Tudo passara, como o


tempo, sem parar.

No dia seguinte recebíamos, via telegrama, a notícia do falecimento


da Mãe Lola, na véspera e no mesmo horário, por volta das dezoito
333
horas.

Para a mamãe, uma confirmação de sua premonição. Para nós, a


inquietude de uma ocorrência que o Ruy, até hoje, reflexo e
pensativo ainda não conseguiu entender.

Foi um adeus, um sorriso de partida ou um abraço maternal? Fica


sem resposta, porém, ficou a certeza de que a saudade e a
lembrança nunca os deixaram esquecer.

Observando as liturgias judaicas, em luto, cobrimos os espelhos da


casa de preferência com panos roxos, por sete dias, é o shivá, para
evitar a vaidade pessoal durante momentos de dor e diminuir a
preocupação usual com a aparência.
O tempo se mede em horas, e a vida passa sutil com emoções, na
vivência e convivência.

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334
3. Coleções
Por falar em colecionar, uma das manias entre os garotos da época
era acumular grandes quantidades das carteiras de cigarros. Abria-
se cuidadosamente o invólucro e o desdobrava até torná-lo
semelhante a uma cédula monetária.

E quaisquer marcas eram bem-vindas. O patamar de cotação era


regido pelas locais de fabricação ou dificuldades na sua aquisição.
Em Fortaleza, tinha uma fábrica centenária, a Manufatureira de
Tabacos Araquém, na Av. 24 de maio, no Centro.

Seus cigarros e embalagens, eram de qualidades inferiores às do


mercado competitivo e buscavam, justamente, as classes menos
favorecidas. Seus produtos principais eram os das marcas BB,
Globo, Asa e Senador. Eram fortes e de odor marcante.
Os cigarros mais vendidos eram os da multinacional brasileira Sousa
Cruz, e os seus cigarros mais comercializados eram o Continental,
Hollywood, Charm, Free, Kennel Club e Astória.

Este último, tinha uma novidade, quando molhada a sua carteira, da


cor original amarela transformava-se na cor rósea. Não sei se o
material era de menos qualidade ou se tratava de um efeito
promocional. Marketing.

Entre os importados, os mais conhecidos eram o Marlboro, Camelm,


Lucky Stryke, Chesterfield e Philip Morris.

Juntávamos centenas de rótulos. Sua cotação no mercado era


variável e marginalizada na proporção designada pela dificuldade em
sua obtenção.

335
A paridade oscilava de uma cartela até 10 vezes, em sua troca.

Cada um com seus cacoetes.

O Neném adorava juntar as estampas que acompanhavam os


sabonetes Phebo, em promoções de vendas, figuras com ilustrações
das mitologias romana e grega. No verso, a história pertinente
contava o seu significado. Muito interessante.

Mas não ficava só nesse hábito, guardava em caixinhas de charutos


Suerdieck, dezenas de lápis coloridos, diversificados pelas ofertas
distributivas de empresas para com seus consumidores.

Os irmãos davam as suas contribuições tentando adquirir essas


peças colecionadas com objetivos meramente participativos.
336
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4. Botões
Outra opção de lazer bastante difundida e de muito sucesso era o
jogo de futebol com botões de costura, utilizados normalmente para
quaisquer indumentárias.
Tínhamos uma preferência especial nesse jogo, até pela sua
analogia com a realidade. No princípio, tudo artesanal, as traves de
madeiras que fazíamos fixando-as com tachinhas ou pregos
pequenininhos para não as ferir ou trincá-las.

O goleiro era uma caixa de fósforo com peso dentro dela, para dar
sustentação ao seu equilíbrio. Chegava-se até a colocar barrinha de
chumbo para dar maior segurança e estabilidade.
Os jogadores eram botões de roupas, de tamanhos grandes de osso
ou de material similar. Não existia plástico nesses tempos. Qualquer
cor, com furos de dois a quatro, nada importava. A sua categoria
técnica estava no aprimoramento básico de sua preparação para os
embates.

Os botões abaulados tinham que ser raspados em suas bordas, de


tal sorte, que a angulação definitiva oferecesse a melhor potência e
posicionamento para a palheta.

Passava-se cera de carnaúba para dar brilho e beleza aos atletas


bem como, proporcionar-lhes melhor deslizamento no campo de
futebol, uma simples mesa e na utilização da palheta na condução do
botão.

A bola era, geralmente, a tampinha da pasta dentária Kolynos, de cor


verde, que merecia também um trabalho de artista experiente para a
produção de uma pelota de qualidade.
337

A palheta mais usual era a ficha da passagem do ônibus circular Av.


Dom Manuel ao Centro, com parada final na Barão do Rio Branco em
frente a Aba Film e, tinha cores variadas as de estudante e as
inteiras para os demais pagantes.

Era circular, e mais grossa que a espessura dos botões, e submetida


a tratamento especializado para o desenvolvimento e peculiaridades
de cada usuário.

O campo improvisado era qualquer mesa retangular, mas, existia


algumas feitas por marceneiros que eram adquiridas com as
demarcações similares e proporcionais ao campo oficial de jogo.
Como todo bom esporte existia o rei dos botões, como o Pelé, o
máximo no futebol, que era o Paulo Caminha. Na realidade, seu
nome prendia-se ao armarinho que os vendia.
Era um estilo médio, de baixa altura e com um deslizamento e uma
cola nas suas bordas que o diferenciava dos demais. O Ruy tinha
alguns.

O time do usuário levava o nome, preferencialmente, do Clube que


torcia. Em casa, todos nós éramos adeptos do Vasco da Gama e o
Ruy arvorou-se dessa identidade.

Chegava a desenhar o escudo, a Cruz de Malta, em seus elegantes


botões de jarina, cujo líquido ao endurecer, dá o marfim-vegetal,
usado nas confecções de botões, dados e pequenos objetos.

O Ceará era, por vezes a nossa segunda opção. Mas o futebol


carioca monopolizava as torcidas brasileiras.

338
Assim o meu time era o Fluminense e o do Rubem, Botafogo.
Jogávamos na mesa da sala ou de refeições.
Cada um dos usuários tinha pelo menos dois ou três times
compostos, e em eventuais trocas de botões eram comuns nesses
mercados a utilização do parâmetro de paridade. Seu valor,
geralmente, tinha uma equivalência de um a três outros botões.

O mestre Ruy era incomparável no perfeccionismo da elaboração do


botão, mas as disputas eram sempre duras e difíceis.

Todos jogavam bem e conheciam as manhas e as malícias de seus


jogadores e os dos adversários. Sabiam posicionar o goleiro
dependendo da distância e da obliquidade do posicionamento.

Agora, era esperar “a gol” e aguardar o adversário colocar seu


goleiro corretamente na linha de mira do chute.
339

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Não perdíamos tempo. Quando se estava ocioso,
momentaneamente, apostava-se nas placas dos carros, ímpares ou
pares. Ou nas suas cores. Cada um dos jogadores escolhia uma cor.

Só não ficávamos olhando para o céu. ter o que fazer. Mas, se


olhássemos era para fazer a previsão de chuva. E tem uma história
irresponsável pela sua periculosidade e perigo iminente, até de
morte.

Se chovia forte corríamos à rua onde meninos e meninas se


misturavam em correrias, em bandos se empurrando ou buscando
um ao outro disputando a posse de uma bola.
Mas, o poste da esquina com a Av. Heráclito Graça dava choque
quando ocorria eventos pluviais. E nós tínhamos o cuidado,
orientados por nossos pais, de não nos aproximarmos dele.

A esperteza e a traquinagem dos guris as vezes sobressaíam a


essas cautelas e quando estávamos abraçados e pulando na mãe
“alguém” se acercava do poste e postava a sua mão.

A corrente elétrica percorria por nossos corpos e castigava o último


com o seu choque.

Graças a Deus nunca houve um problema. Mas corríamos sério risco


de um acidente. Gerava uma intriga instigante e a seguir estávamos
a correr de novo e o castigado forçando uma oportunidade para a
desforra.

340
Só se fosse noutro dia, porque todos já estavam “acessos”.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Eu sempre exerci forte atração, era seduzido pela eletricidade,


principalmente, dos antigos postes de ferro da capital. Certa vez, fui
com o Ruy ao centro da cidade, cortar os cachos e ele as trunfas
melenas.

Ao voltarmos, na esquina da Liberato Barroso, frontal a Sapataria


Esquisita, à rua Major Facundo perpendicular àquela, tinha um
trânsito de veículos que nos obrigava a aguardar alguns segundos
por precauções acidentais. Chovia fino, garoava no modelo
nordestino
Não tinham semáforos na cidade, só prevenção e poucos carros.

Em cronômetros, não mais que dez segundos de espera eu já me


abraçava ao poste. Não sentia nada e assim permaneci. Imóvel. O
Ruy atento para aproveitar o melhor momento para atravessar a rua,
falou, Babá vamos.

Tentei me liberar do poste, mas não consegui. Fiquei preso


abraçadinho a ele. Colado. Desesperei-me e gritei alto, Ruy, tô
pregado. Ele já estava no meio da rua.

O Ruy desmancha suas trunfas recém penteadas e voa para tirar-me


daquela situação emergencial.

Demorou alguns segundos e puxou-me de leve e não desgrudei, um


341
mais forte e arrebatador salvou-me dessa experiência que poderia
não ter terminado bem.

Sentido o peso da responsabilidade pela minha condução, ele fica


mais nervoso que eu e até em casa via-me dando sermões e
achincalhes. Mas Graças a Deus, escapei.

Também, já ouvira falar que o choque elétrico era bom para os


nervos, por isso, talvez, estivesse tão calmo.
342

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Eventualmente, aconteciam fatos que não nos diziam respeito, mas
sendo de nosso saber e ricos de hilaridades não fugiam de nossos
comentários.

Dr. Paracampos, nosso médico, era conhecido por suas formalidades


e enorme aversão a sujeira.
Certa vez, ao efetuar uma consulta na casa do Sr. Uchoa, nosso
vizinho, não encontrou um ambiente muito saudável: quarto fechado,
escuro e aparências não limpas. Na realidade um quadro lúgubre,
mofado e nojento.

Fernando, o enfermo, já estava de cama a mais de uma semana e


somada a uma virose associou-se umas coceiras insistentes e
renitentes, inclusive na cabeça. Durante esse tempo não tomava
banho porque a água era fria.

Adentrando ao quarto, cumprimentou a Dona Lisete, mãe do garoto,


e falou, “Madame, de que a criança se queixa” e antes mesmo que
esta pronunciasse algo, percebendo o quadro geral da sujeira no
dormitório, complementou, primeiro vamos tratar da limpeza, arejar
o ambiente e abrir essa clausura e passar remédios para as
corubos, piolhos e coceiras.
343

A madame me avise quando tomar essas providências que estarei de


volta depois de amanhã, às nove horas, pontualmente para concluir a
consulta com o menino higienizado.
Amanhã às nove, pontualmente, retornarei para complementar a
consulta.

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Mantinham relações de amizades e visitas frequentes com Fidélis
Silva e dona Zenaide. Ele Advogado e Delegado da Polícia Federal e
ela prima do papai, que apoiaram muito nossos pais quando recém
chegados a Fortaleza. Moravam na Visconde do Rio Branco.
Igualmente, o casal Raimundo e Odília Vieira Freitas Ramos que
residiam na Rua 25 de março em um bangalô de dois pavimentos e
seus filho Chico Vieira, Éber, Wagner, Vinicius, Eider, Ivan, Susana,
Paulo de Tarso, Maria Inês e Vera eram muito amigos do Ruy e do
Rubem.

As passagens das gerações Abitbol no Ceará, foram tão curtas e


longas, rápidas e brilhantes, sadias e alegres, trabalhadoras e
ousadas que, quando nos despedirmos teremos a certeza de
que cumprimos a promessa de honrar e manter a sua dignidade.

Sentimos tanta altivez e humildade que os raios iluminarão os


céus num clarão lindo a clarear a terra, e os trovões soarão
como aplausos ensurdecedores pelas nossas conquistas e fé
inabalável em Deus único e salvador da terra.

344
Viva os cristãos. Hebraicos e Católicos, num bravo abraço
fraternal, único e comovente.

Moravam em frente a casa do Seu Raminho, nossos pais e os dois


mais velhos, conversavam bastante com os filhos deles, e brincavam
com os de idades paritárias entre eles.

A mamãe gostava muito de conversar com o Chico Vieira, porque ele


era um literato, amava as leituras principalmente as de maior verve
mundial, igualmente a ela, que não mais se dedicava ao mister por
falta de tempo.
Mas, era comum após todos deitados para o descanso noturno,
sentar-se à cadeira de balanço e ler seus livros até adormecer. Dava-
se por vencida e recolhia-se aos seus aposentos.

Lia até três livros por semana. Gostava de romances, de M. Delly a


autora mais difundida e lida naquela época, dramas, suspense, mas
não regateava ao tratar-se de obras primas como O Vento Levou, ou
de autores do porte de um Dostoievsk, Leon Tolstoi ou Agatha
Christie.

Mas, quem a abastecia com tamanha quantidade de livros? Que


livraria era essa? Fácil, a mãe da dona Maria José, a senhora Jovina
Soares, residente à rua da Assunção, 86, vizinha à casa do deputado
Paulo Sarasate Ferreira Lopes era o grande segredo.

345
Essa ledora compulsiva de livros, possuía uma biblioteca invejável de
grandes nomes da literatura nacional e mundial, percorrendo pelos
mais diversos tipos de enredos possíveis. Era uma literata nata e
obsequiosa a mamãe.

O Ruy era o mensageiro preferido no trânsito indefectível de nossas


casas. Mamãe lia o lote semanal e o retornava em troca de outros de
iguais quilates.

Dona Jovina, sabia das preferências da mamãe e variava os títulos


na maneabilidade de nomes e temas, conforme os seus gostos.

Conversavam sempre e trocavam opiniões abalizadas a respeito das


produções literárias e os seus lançamentos, sempre atualizadas.
Ele também gostava de cumprir essa obrigação pois, os livros já os
apeteciam e já iniciaram a carreira compulsiva pelos autores de
nomeada.

A cedente, percebendo seu interesse pelos livros, o estimulava nessa


construção da fábrica de conhecimentos de expressões e lazer
notavelmente importante para o ser humano.

Chico Vieira compunha o tríduo literário que envolvia a família Abitbol


e seus amigos, mais cultos.

Outro vício do Chico era o álcool, a bebida ingrata, inoperante e


malfazeja da natureza humana quando ingerida em quantidade não
saudável.

Pois, o agradável na bebida é saber apreciá-la, degustá-la com os


346
olhos fechados como se quisesse buscar um ar odoroso ofertado
pelo Deus Baco.

Isso à parte, o Chico não dar-se-ia ao direito de ingerir a primeira


taça de vinho, pois muitas, em seguida, lhes correriam nas veias
proporcionando descontroles emocionais.

Certa vez, já inebriado e em atritos com familiares, deixou-os em


polvorosas reações ante a sua decisão de quebrar a casa.

Entrou no quarto para satisfazer suas necessidades fisiológicas


inerentes a bebida e de repente viu-se enclausurado, fechado no seu
interior.

Enraivecido, e tomado de súbita ira, num momento de fúria


incontrolável passou a cumprir a promessa que fizera.
Começou a bater na porta com os pés e as mãos, em selvagem
maluquice e desequilíbrio, com chutes e socos, alternando-os até
que a porta cede o seu espaço à visão do amplo salão de jantar.

Arrancou a porta.

E arvorando-o proprietário, a trata como se lixo fora e erguendo-a


acima da cabeça, carrega-a até a varanda e num uivo de felicidade a
joga do pavimento superior, ao lírico e insuspeito gramado social da
residência. Foi um espetáculo!

347
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O Èber, casado com a Maria Regina, sem filhos, era gerente da
Farmácia Faladroga, do grupo da família. Morava vizinho aos seus
pais, pela Pero Coelho. E a sua esposa, sozinha, praticamente
passava o dia tricotando entre as casas.

O Ruy em suas peraltices e amizades com eles, também frequentava


essas casas. Certa vez, a procura de um dos meninos, deparou-se
com uma cena, que até hoje fala baixo, tal a surpreendente cena
que se lhe passou aos olhos.

Deparou-se com a Regina aos beijos e abraços com a cunhada, a


Maria Inês, na cama de casal. Ele fixou bem a imagem, pois
esperava ali, a presença do Éber.
348

Ficou tão aflito, atordoado e desnorteado que saiu em desabalada


carreira passando de sua casa, em três quarteirões. Ai, sentou-se
para respirar.

Acho que, ainda hoje, esfrega os olhos com as mãos, para


desobstruir as imagens como quem não queira acreditar.

Naqueles anos, isso era um escândalo e que os tempos amenizaram


e ajudaram a entender melhor a personalidade humana. Não era
crime. Talvez, um desejo, ou uma mulher mal amada. Cada um que
cuide de sua vida. E está tudo certo.

Eu não estou, nem aí, diz a como um subterfúgio evasivo.


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Alternando, aos finais de semana visitas aos amigos e parentes, um
dos frequentados era o Senhor Rubson Ramos, seu primo, casado
com a dona Maria Clotilde Barreto Ramos, moravam na Rua Pero
Coelho 390, pertinho de nossa casa.

Os filhos do casal Ruth, Rubson, Roseli, coincidentes com as idades


do Ruy e Rubem eram de seu ciclo de amizade, mais que nós os
menores que tínhamos como companhias inseparáveis os demais.
Éramos seus grandes amigos. E como exímias dançarinas as
meninas brilhavam nas festinhas caseiras e sociais.

Outro par que gozava da amizade, era Seu Luizão e Dona Helena
349
pais do Guilherme Galinha, igualmente íntimos de nossa família e
com constantes visitas entre as famílias, atos corriqueiros da época.

Dona Maria José Soares, funcionária de elite da Farmácia Pasteur,


de esmerada educação e cultura, era grande amiga da mamãe,
madrinha de batismo da Ruth e parceira inseparável do dr.
Paracampos, nos eventos artísticos da cidade.

Ambos adeptos da literatura e de músicas clássicas de autores e


compositores de obras eternas, que muito os uniam.

Chamava atenção a amizade e o carinho que o médico nutria por


dona Maria José, iam frequentemente aos cinemas e teatros. Os
Circos Garcia e Nerino, quando em temporadas pela cidade,
contavam com suas presenças assíduas, por vezes,
acompanhados de nossos pais
Comentava-se, à boca miúda, que o Dr. Paracampos tinha um nível
de constrangimento que não lhe era ético e nem moral casar-se
com a sua idolatrada.

Pois tratando-se de uma figura, totalmente, convicta na vitaliciedade


era comprometedor, no seu condicionamento, subjugar-se as duas
formas conflitantes em sua personalidade.

Sua escolha foi continuar vitalino, já o fora tarde na sua idade


encontrar a amada, assim, continuavam grandes e harmônicos
amigos.

350
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
KKKKK
Não precisávamos sair de casa para ter um amigo próximo para nos
fazer companhia, rir ou abraçá-lo com carinhos. Refiro-me, aos
inúmeros e pequenos animais que nos fizeram companhia e
trouxeram tantas felicidades.

Criamos papagaio, cachorros, jabutis e saguim. Adorávamos a


convivência com esses animais queridos que nos deixaram
saudades.

O Louro não era poliglota, mas falava, correntemente, sua língua


com poucos substantivos e verbos. Entendíamos, por “oi louro”, um
repeteco da pergunta que o cumprimentava.
351

Vivia no seu poleiro, trepado numa alça, com suas patas atípicas,
com 4 dedos – dois virados para trás e dois para frente, que a
natureza o atribuiu para coçar, agarrar objetos e se equilibrar. Tem
uma mobilidade incrível.

Beliscava e se mexia, inquietamente, quando por ele, passávamos.

A mamãe quando ia varrer a casa colocava o Louro perto da


vassoura. E, tranquilamente, passava a deslanchar suas
vassouradas no chão e o Louro tentando segurar as piaçabas
dançava ao som da limpeza, reclamando: Louro quer café.

Rodava em si e circulando a vassoura. Isso era uma festa. Motivo de


comemoração e graças. Risos.
Após o almoço, papai sentava-se na cadeira de balanço de vime,
tirando uma pequena sesta para retornar ao trabalho. E o Louro
passeando na casa, ia até a cadeira subia em suas palhas até
alcançar o seu topo e postava-se atrás da cabeça do seu Carlos.

Ficava beliscando de leve e fazendo a assepsia de seu nariz. O


papai dizia que era cafuné. Acho que estava dormindo nesse
momento.

Um papagaio, ao contrário do que que pensa popularmente, tem uma


expectativa de vida de até 60 anos. O nosso Louro morreu criança.
Foi dormir, no poleiro, como normalmente fazia e amanheceu morto.
Durinho.

Ficamos chocados. Era a alegria da casa. Entre tantos comentários


ouvidos e lamentações, prevaleceu a hipótese de que teria sido
352
objeto de uma mordida de rato, cobra, arranha.

No seu atestado de óbito não constou a causa da morte, pmas,


registrou toda a nossa saudade e carinho por quem sempre nos
alegrou.
vvvvvvvvvVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV

O tempo corria, passava rápido qual um raio, sem dar


importância as consequências assustadoras do trovão.

Os quatro filhos estudavam para cumprir no futuro suas missões de


doutores. Tinham a consciência e a responsabilidade da necessidade
desse aprendizado, que era o passo firme para alcançar a meta de
ingressar da Universidade Federal.

353
Nessa contemporaneidade o Ruy concluía o curso colegial para
enfrentar o vestibular de economia na Universidade Federal do Ceará
e o Rubem no último ano para finalizar o mesmo ciclo estudantil.

Eram sempre muito vaidosos com seus cabelos trunfados e


vaselinados, bem ao estilo dos penteados da moda.

Faziam sucessos com as garotas socialmente de níveis, bem


como, nas empreitadas ofuscantes das domésticas circunvizinhas

Eram pesquisas e buscas diárias, em passeios noturnos com os


amigos que iam em grupos, caçar as interioranas desavisadas. Os
tempos eram outros e prevaleciam o respeito e a moralidade
escrupulosa, e que na verdade eram só “casquinhas”.
Todavia, não só as meninas os deixavam pensativos, as obrigações
e deveres com a Pátria, também, os levavam a sonhar ou a
despertar insone, com o serviço militar obrigatório, conforme o
alistamento já efetuado. O Ruy dormitava e o Neném sonambulava.

Tinham que se apresentar na 25ª Circunscrição de Recrutamento


Militar, nas proximidades do prédio da Telefônica e da PRE9.

Não se possuía muitas opções ou, escondia-se atrás de uma


muralha verde oliva e com amizade ficar no excesso de contingente
ou engajar-se e enfrentar os treinamentos bélicos.

A dupla Ruy e Rubem, um a cada ano, resolveram incorporar-se ao


Centro de Preparação de Oficiais da Reserva-CPOR, pois tinham
completado o ciclo colegial.

354 O primogênito, empolgado com a responsabilidade assumida, era o


sonhador, ingressa entusiasmado na formação dessa elite da
Reserva do Exército Brasileiro, escolhendo a Infantaria, uma das
armas militares construída por unidades treinadas em combate a pé.

Adorava participar dos exercícios simulados de guerra efetuadas, no


primeiro ano na Serra da Meruoca, em Sobral, submetido as alturas e
penhascos íngremes nas manobras áridas com subidas exaustivas,
carregando seus equipamentos de batalha.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Os cágados, eram dois, um amarelado e o outro mais escurinho.
Historicamente, o primeiro era o da Ruth e, consequentemente, o
mulatinho era o meu.

Tinham uma singularidade, tiravam férias e desapareciam nas


entranhas das terras, voltando meses depois de maneiras
desopiladas.

355 Ficamos, uma vez, terrivelmente sofridos e chocados, quando papai


mandou limpar a fossa do quintal e nas enxadadas retirando as
areias buscando sua abertura, o meu escurinho foi atingido no meio
por uma dessas atrozes ironias da vida. Foi muito triste.

O amarelinho nunca mais voltou, talvez sentindo falta do


companheiro, ou em busca de outro, encontrara o par cujos destinos
eram outros.

O saguim, um macaquinho, cerca de 30 cm, de cor cinza e cauda da


mesma tonalidade com listras envoltas ao seu final. Fofo. Arisco.
Ágil. Lépido, pulava e saltitava o dia inteiro.

Era mansinho, mas traiçoeiro, eu o colocava no ombro em nossas


andanças nas ruas, com corrente aos seus pés como segurança de
suas traquinagens.
Todos adoravam o saguim, com a especialidade a franciscana
Masinha que não o queria soltar e o tempo queria ficar com ele.

Sentia-me o máximo seguido da corriola enaltecendo suas


acrobacias. Até parecia ser eu, o autor dessas instigantes e ousadas
cambalhotas.

Seu contato conosco foi efêmero, pois a vontade em tê-lo foi vencida
por motivos alegados por nossos pais, que a criação caseira não era
condizente com os hábitos saudáveis para sua criação.

Assim o véi Carlos, foi à Cidade da Criança, também, conhecido


como o Parque da Liberdade, em frente à Igreja do Sagrado Coração
De Jesus, e o entregou ao Sr. Onélio, coordenador do então,
pequeno zoo que lá existia para deleite das criançadas.
356

A propósito, o Onélio era também, professor de Português em


cursinhos e a cara do Jânio Quadros, e posteriormente vereador, em
Fortaleza.

O mesmo ocorreu com um periquito, a Masinha era a sua dona. Para


cima e para baixo, lá ia ela, tergiversando, para não dar
oportunidades aos manos de usufruírem a companhia de tão doce e
meiga ave.

Era muito engraçado. Queria dormir com ele e passava o dia todo na
cama brincando, divertindo-se e o acariciando.

Mas, as vezes o destino não se ilude com carinhos e maltrata os


corações daqueles que amam. Assim, foi com o periquito. Um dia,
efêmero em sua idade, amanheceu morto como o seu parceiro
Louro.

Mas, o papai não era muito adepto dessas propriedades, por medo
de contaminação de doenças transmitidas por esses nossos
excelentes amigos.

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
O Parque da Criança, era um amplo espaço de entretenimento com
junção de área escolar, em uma geometria ovalada, com um grande
lago, salas de aulas para os alunos infantis da prefeitura, e os
357
brinquedos tradicionais dos parquinhos, animais selvagens e muitas
aves.

Uma torre de pedras toscas e grandes compunham um patrimônio


que chamávamos de Castelo. Talvez, porque uma escada em sua
estrutura atingisse a sua altura máxima, e no patamar, no pico com
um pequeno espaço para desfrutarmos, com uma visão mais ampla a
grandeza daquele parque.

A noite diziam que era mau assombrado, que apareciam fantasmas e


outros extras-terrestres, mas precisávamos saber quem eram os que
isso diziam, pois os espertos estavam todos lá com suas paqueras.

No lado contrário da escada, uma fenda pequena e cúbica, nos


levava a um acesso pequeno, ao interior de sua espécie a qual
denominávamos a porta do castelo.
Muitas árvores frondosas, quiçá, centenárias arborizavam o
ambiente.

Com seus longos passeios, feitos em ruas largas, percorríamos todos


esses campuses, arrodeando o lago. Por várias vezes. Isso, quando
realizavam quermesses ou festas similares comemorativas de
eventos com todos os jogos já bastantes conhecidos de todos nós.

Mas, o importante da quermesse, na realidade, para os adolescentes


não era a sua efetivação, em si, mas, a oportunidade que se oferecia
de paquerar e trocar olhares e até uma abordagem segura e tranquila
como se fora um barco indo ao seu ancoradouro. Lentamente.
Sugeria o lago.

E lá ficávamos encostados, na mureta que circunscrevia o lago, a


358
conversar ou a passear, de novo, pelas ruas intermináveis do
Parque, e que as vezes nos levava, sem querer a visitar o Castelo,
em seu alto, o púlpito.

Já de mãos dadas com a paquera ou mesmos em seus ombros, já


era um grande avanço, para o dia seguinte.

Pois, normalmente, cumpríamos a clássica estratégia, para o


andamento do namoro, que não haveria retrocesso ao que
alcançáramos no dia anterior, e a partir daí, em sequência um
aconchego mais apertado. Dizia um ditado da época, devagar e
sempre. Éramos seu adepto e a corroila acompanhava os fatos para
depois digerirmos.

Tínhamos uma devoção imensa por cachorros, e usufruímos das


amizades e carinhos que eles nos proporcionaram. A mamãe,
também, gostava e adorava conversar e trocar ideias com eles
quando, geralmente, estava só. Era uma companhia agradável sentir-
se o seu amor deitado aos seus pés.

Foram muitos, nessa larga existência familiar. Alguns se tornaram


inesquecíveis.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
359
Lembro-me de alguns deles, aqueles que o tempo deixaram
indeléveis em todos nós, o Nick, o Tozinho e o Tostão. Faço
essas referências, como se o tivesse fazendo uma reverência,
um agradecimento a tudo e por todas as alegria que nos
causaram e só deixaram saudades. Obrigados, amigos. Vocês
foram demais.

Mas na indecisão, não querendo insatisfazer a caçulinha da


dona Esmeralda, o tempo escoou e passou rápido, mas não para
os Cachorros nilk, tozinho, tostão, eram os amores e partícipes
da família em seus sociais e em casa.

Em outra oportunidade, nas areias então distantes, na Praia do


Futuro, onde os armamentos de combates brasileiros eram sujeitos
as adversidades dos jovens integrantes da turma de 1955.
Ruy, a cabo de dois anos de intensos treinamentos e sujeito as
duras provas vê, seu cantil de água que lhe matava a sede,
transformar-se no vinho purificado em comemoração à sua
declaração de aspirante a Oficial do Exército Brasileiro, na patente de
1°Tenente da Reserva na 2ª categoria.

Bate, então, uma foto antológica com o uniforme emblemático de


tenente, onde sobressaíam o bigode e o brilho do gumex em seus
fios capilares.

Mas, por que memorável?

Tido como sósia do Tenente Bandeira, do Rio de Janeiro, que


assassinou sua jovem namorada Aída Curi, no famoso crime da
Ladeira do Sacopã.

360
O Casal era muito bonito e pertencia a sociedade carioca.

Este homicídio permaneceu nas manchetes dos principais jornais e


revistas brasileiras, por longo tempo, especulando na mídia do Brasil
sua defesa, principalmente, “O Cruzeiro” com repercussão e enormes
enigmas para a maior venda de seus exemplares.
361

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
No ano subsequente é a vez do Rubem apresentar-se ao Exército
Brasileiro. Já que não conseguira a excedência no contingente
quando tentou sem sucesso escapulir e obter o Certificado de
Reservista de 2ª categoria. Sem servir.

Essa pretensão do Neném era usual entre aqueles que se


apresentavam para o serviço militar. Pois, habitualmente coincidia
com o período preparatório aos exames vestibulares das Faculdades.

Mas, foi chamado a servir a Pátria, para seus treinamentos militares.


Ele não era muito afeito a patentes ou a quaisquer vaidades que lhe
importunasse a vida de galã e de seleção de voleibol. Isso era o que
lhe interessava.
Tanto é que, chamado ao CPOR, escolheu a arma da Intendência,
curso de menores exigências físicas e estudantis.

Ao final do ano com dificuldades de não dar seguimento ao Curso e


para não perder o ano, passou para a arma da Saúde, só doze
meses, de menor hierarquia e de afazeres administrativos
consagrados as atividadesi de suprimento (alimentos, fardamentos,
equipamentos reembolsáveis, mantimentos de campanha). Apoio
logístico.

Concluiu o ciclo militar com desenvoltura ante tantas astúcias e foi


declarado aspirante no galardão de Sargento da Reserva de 2ª
Classe, amadrinhado pela Masinha que coloca em seu peito a
Medalha, que ainda hoje, conta a história com júbilos por essa
deferência fraternal.

362
Subordinado ao Ruy. Mas, no cômputo geral até a de Soldado lhe
era conveniente, desde que atendesse as suas imunidades aos
exercícios militares.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Nesse ínterim, o Pai Carlos trabalhava como gerente de importantes
farmácias, no conglomerado do Grupo Assis e Moacir Bezerra, no
centro da capital, tornando-se bastante conhecido e amigo de
importantes figuras da política e da sociedade local.

Sua trajetória de sucesso no gerenciamento desses


empreendimentos fê-lo alvo de objetivos contatos para a
concretização e instalação da Farmácia Nossa Senhora de Nazareth,
em parceria com o Sr. Waldemar França, na Rua Barão do Rio
Branco, 990, vizinho a Aba Film.
Sociedade bem administrada, dava frutos rentáveis e resolveram
constituir uma filial, também denominada Nª Srª de Nazareth cujos
pilares eram o Chico e o Genésio, antigos funcionários do papai e de
sua irrestrita confiança e conhecimento farmacêuticos.

Localizada na Av. Senador Pompeu, na Galeria Pedro Jorge.


Correspondeu às expectativas e os negócios transcorriam sob as
medidas precisas.

Ruy e o Rubem quando adultos passaram a auxiliar nas farmácias


nos dias de plantão e colocavam na fachada do prédio a “Placa
Plantão” obrigatória pela legislação.

Dormiam dentro da farmácia fechada. Quando algum consumidor


batia à porta eles abriam e diziam que o remédio solicitado estava
em falta. Nenhum risco de assaltos ou fatos similares os
363
incomodavam, nada era temerário nesse aspecto.

Bem-conceituado e relacionado, prosperava nos negócios e nos


amigos, mas nunca utilizou dessa confraria para favores ou negócios
escusos.
As seletas lideranças, que frequentavam a Farmácia para conversar
e tratarem de política detinham poderes, para obsequiar benefícios
ou subtrair vantagens.

Ao contrário de outros, papai era de um caráter reto e até ingênuo,


unicamente prestativo para atender solicitações diversas desde a
marcação de encontros políticos a pagamento de contas de luz e
água, através de seus “entregadores “

Jamais utilizou a sua amizade em benefício próprio ou de familiares,


o que até era um contrassenso no país, onde essas facilidades são
absolutamente aceitáveis dentro de padrões éticos, porque queria
manter a sua absoluta isenção nos seus relacionamentos.

Tinha um “escritório improvisado”, com mais cadeiras que mesas


na ampla área do almoxarifado da Farmácia, local conhecido como o
Consulado de Sobral, pois era desse município seus ascendentes e
a maioria dos frequentadores.

Isso na era da ditadura era prato cheio e o papai jejuou no


vintenário poder dos militares e políticos da Arena.

Os consulares eram parentes e amigos de longas datas e entre os


que estavam em maiores evidências políticas na época eram os
familiares do Sr. Vicente Antenor Ferreira Gomes e seus filhos
Nozinho e esposa Ione, José Euclides e esposa Maria José, (estes
pais dos futuros ex-governadores Ciro Gomes e Cid Gomes, e irmãos
364
dos deputados Ivo Gomes e Lúcio).

Os aparentados mais próximos eram os General Josias Ferreira


Gomes e esposa (deputado federal), General Euclides Wiccar
(deputado federal), o deputado Estadual João Frederico Ferreira
Gomes, (presidente da Assembleia Legislativa).

Willebado Aguiar Frota, (deputado estadual) e dona Maria, padrinhos


de batismo do Ruymar, íntimo da família e pai do Aderbal, maior e
melhor amigo do Neném. Também seu associado no escritório de
advocacia e padrinho da Ticiane.

Além desses, outros gozavam ainda mais, da intimidade e estima


como Waldemar França, seu sócio, Coronel Weber Parente e o Cel.
Josias Parente Frota e esposa Eunice Arruda Pinto Frota,
posteriormente, sogros de minha irmã Ruth, casada com o
economista e funcionário da Receita Federal Ivan Régis de Arruda
Frota.

Deu sorte esse economista, pois o papai já detonara alguns


pretendentes de uma das estrelas da família.

365

WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW

A propósito, a realidade da vida nos aproxima com a ficção do


dramaturgo William Shakespeare, onde Hamlet personaliza uma das
importantes criações desse gênio da literatura. Um louco subjetivo.
“O resto é silêncio” (sic).
E dentro desse panorama, existiam duas histórias que se
complementavam de maneira conflituosa com os fatos narrados.

Uma delas, silente, vivia na obscuridade perante esses amigos e


essa sociedade de que uns a desconheciam e outros compartilhavam
de uma faceta da personalidade de nosso pai.

A mamãe parceira do amor, que tudo fez por amor, desde o


momento que conhecera seu amado Carlos, cristão. O outro tudo
fizera pelo crescimento pessoal e por metas subjetivas.

Amou a tudo e a todos, indistintamente. Sofrera por amor do início


ao fim desse agastadiço enlace.

A sua mãe Messody não apoiava o casamento. Não era o que dela
esperava por se tratar de um goi, entre os judeus indivíduo não é de
366
origem judaica.

Brigou com seus familiares, mas impôs o seu amor como condição
para vencer a relutância de seus entes. Foi a única dos filhos a
quebrar essa tradição hebraica

Casou-se só no Civil. Em casa, com cerimônia íntima para os


familiares e poucos amigos, mas vestida de noiva, com véu e buquês
de rosas brancas. Linda.

Em seguida, vão residir em Belém, o papai era de naturalidade


belenense e lá, certamente, teria mais e melhores condições de
empregabilidade. E foi o que aconteceu. Passavam algumas
dificuldades, mas o amor prevalecia.
Nasceriam o Ruy e o Rubem, mas a convite de parentes e as boas
condições de trabalho chegaram ao Ceará em 1938. Conforme o
prometido empregou-se na Farmácia Pasteur,a matriz do
conglomerado de farmácias importantes e assumiu a sua gerência,

Viviam bem, embora com dificuldades financeiras naturais próprias


das circunstâncias, de recém chegados. E, fora ganhando a simpatia
e amizade dos diretores do grupo empresarial que amealhou mais
alguns cruzeiros.

Em abril de1942, nasce a Ruth e no ano seguinte, em maio, eu, o


famoso Ruymar.

Obviamente o orçamento ficou mais oneroso e os cruzeiros teriam


que ser, regiamente, controlados com a presunção de quem fora um
economista ou um mísero que gasta tudo o que tem. Porque não tem
367
o suficiente. O resto, falta.

Mas, a situação do papai, na farmácia, ia melhorando e a nossa não


acompanhava essa ascensão, e parecia até uma curva sinusoidal
onde na subida era o pai e na descida a mãe, nós.

A convivência era pacífica e os lampejos de atritos eram os normais,


sempre a mamãe insistindo nos cuidados maternais.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXX
Parecia um livro, onde os capítulos, marcadamente, posicionavam-se
em favor um em detrimentos de outros. Já não mais aconteciam as
frases de M. Delly, que a mamãe tanto lia, por mais que alguém te
ame, eu te amo, muito mais.
Em, 1951, nasce a Masinha e o amor desvelados por todos. Foi um
aquieta leão. As aparências se tornaram ares de verdade e coisas
boas, acontecem a cada dia.

A mamãe sempre muito alegre em todos os momentos. Cantarolando


no fogão, varrendo as salas e em outros afazeres. Músicas de
carnavais, e as imortais como Velho Realejo, “Risque”, “Jura”,
“Sertaneja”, “Adeus, cinco letras que choram”, “Carinhoso”, “Lábios
que eu beijei” e tantas outras de seu interminável repertório que
repercutia em seus filhos que cantavam, igualmente. Todos. O mais
convincente era o Ruy.

Era o seu temperamento, melodioso. Cantava tudo e todos.

Segundo, o Ruy, a música preferida do papai era a Pequenina Cruz


368
do Teu Rosário, e, em sua memória, presto-lhe essa homenagem,
de peito aberto, coração exposto, sem ressentimentos e nem
mágoas, talvez, lembranças de pequenas frustações, que se
instalaram e ficaram para contar uma história que poderia ter sido tão
diferente, mas, assim não quis o destino.

Não sou eu que devo julgar os motivos de tantas desavenças, Mas


Deus, na certa, o julgou e a sentença só saberemos quando lá
chegarmos.

Já percorri longos caminhos, tortuosos e benevolentes, aprendi


muitas coisas, como diz o samba, “o coração tem razões, que a
própria razão desconhece”, pois, é, os enigmas espiritual e
circunstancial da vida deles, não me pertence.
A mamãe ganhou, o meu amor, e a moradia infinita no meu coração,
e do papai, restaram ainda, saudades, reconhecimentos, união ao
seu final e o perdão eterno. Era uma boa pessoa, mas não foi
igualmente um pai.

A Pequenina Cruz do Teu Rosário

Composição de:
Fernando da Costa Weyne,/
e, Roberto Xavier de Castro

Intéprete: Carlos Galhardo

Agora que eu não te vejo ao meu lado,


369 A segredar apaixonadas juras,
Busco, às vezes, o nosso amor de outrora
A recordar nossas intimas loucuras
Faz tanto tempo, nem me lembro quando,
A vida é longa e o pensamento é vário,
Tu me mostravas, vil e no idílio Santo!
A pequenina Cruz do teu Rosário,
E sempre que eu a via, recordava
Do nosso amor a fantasia louca,
Todas as vezes que a pequena Cruz beijava,
Eu beijava febril, a tua boca
Mas o tempo passou, triste eu seguir
Da minha vida, um longo itinerário
E nunca mais, nunca mais eu vi
A pequenina, a pequenina cruz do teu rosário

Mas minha vida, passou


E o tempo a pequenina cruz de
Já vou trilhando a estrada da amargura
Antes, porém, que chegue o meu calvário.
Dá-me a beijar, ó Santa criatura
A pequenina Cruz do teu Rosário!

Esse lapso, estava devendo e queria fazê-lo com a coragem de


quem não se omite e tem a consciência tranquila de que fui um
grande e presente pai. Dei a todos os meus filhos e esposa, o amor
para isso. Fui correspondido. Sigo em paz e feliz.

A mamãe era romântica. Acreditava tanto no amor que renegou a


tradição judaica e familiar e casou-se com um “goi”, um cristão. A
primeira da família a romper esse preceito.

370
A música para ela, era de singular transcendência pois envolvia um
rol imenso no seu repertório. Mas, escolhida por mim, está mais a
frente, por propiciar um história de lindos envolvimentos.

Você saberá, na hora certa.

Ela não saía de casa para fofocar em casa nenhuma, mas gostava
de as ouvir com gostosas gargalhadas.

Vaidosa, era o perfil estético que governava a sua vida. Em


quaisquer atos, lá estava ela com vestidos adequados e de bom
gosto, dos poucos que tinha para sair, mas com seus inseparáveis
sapatos de saltos altos, altura quinze e com suas cutículas e unhas
devidamente aparadas e pintadas na cor da moda.
E somente a Marlene, a manicure, que morava numa Vila na
Heráclito Graça, satisfazia a mamãe na arte de lhe fazer as unhas.

Era absolutamente discreta e confiável. Respeitada e elogiada por


toda a comunidade pela educação que imprimia aos seus filhos.
A vida não espera que as soluções se antecipem aos problemas
se, não tomamos as medidas que delas se esperam.

O tempo evolui e as realizações pessoais, ou quaisquer outras,


acontecem indiferentes as suas naturezas ou a sua revelia
.

371

VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
Ser feliz é a razão de viver. Construir um lar e dar seguimento a
humanidade, também é um pilar desse pensamento.
O Ruy cumprindo o destino, por ele traçado e amparado no amor,
casa-se em 1965, com a senhorita Maria de Fátima Guabiraba.

De tradicional família, e residente próximo a nossa casa não foi difícil


se encontrarem e na convergência despertar uma paixão.

Deixa-nos, e passa a morar na rua Cel Alves Teixeira, 745, onde,


correntemente, íamos visitá-los ou eles a nós.

Ficamos sem a presença física de um soldado que, certamente, faria


muita falta nos tempos vindouros.

A mamãe era uma mulher culta, inteligente e na sua sapiência sabia,


reconhecer e pressentir, com segurança quando uma flecha acertaria
o seu alvo. Principalmente, quando essa poderia sangrar seu
372
coração.

Sentia-se arredada dos amigos do papai. Ele nunca os apresentava


ou combinara encontros sociais para conversar ou jantar uma boa
peixada. E nem a nós, filhos.

Mamãe comentava e ele dizia que era subjetiva a questão. Não era
o seu pensamento tal procedimento. Falácias são falácias. O que
impera é a razão, e a mamãe tinha toda ela, consigo.

A presença dele era oblíqua nos sentimentos e na postura de um


chefe de família disposto a tudo fazer em prol da família. Mamãe via
isso, com a clareza da limpidez.
Papai, andava de carteira cheia de dinheiro e não o repassava,
suficientemente, o bastante para nós. Ela, ficava indignada e não
aceitava essa situação vexatória e desprezível com a família.

Não era justo que ficássemos na dependência da boa vontade


daquele que tinha obrigações a cumprir com seus filhos e
esposa. E não o fazia, para espezinhar as nossas raízes de união.
Mamãe reclamava muito e com razão, e ele começou a replicar
insultuosamente as afirmações convictas e solidamente
consistentes.

Tinha dinheiro para tudo e faltava em casa, dizia ela. Iniciaram-


se atritos, cada vez mais crescentes, sem mudar o cenário.

Nós, totalmente solidários com a nossa guerreira e defensora, a


apoiávamos, mas, nos princípios dessas desavenças, evitávamos
373
intervir para não crescer a amplitude desse barraco, e muito menos
no relacionamento conjugal.

Acreditávamos, ainda, numa solução pacífica cujo bom senso


prevalecesse, em nome da harmonia.

Mas o problema não éramos nós, mas a covardia destemperada de


quem perdeu a sensatez e, errante nas casas das noites mal
iluminadas e perfumadas com odor da indecência, trazia o
sofrimento para nós.

Logo entendemos ser infrutíferas essa postura, pois dona Esmeralda


acuada, em dependência financeira, esperneava em vão sem um
apoio mais consistente e vigoroso.
O Neném era sempre aquele que tomava as dores da família de
forma mais compensadora para desequilibrar e formar uma
dupla de combate a essas, infames situações. O Ruy era casado
e os demais menores.

Parece-me, que ganhou um certo ressentimento, do Cabra Velho,


como dizia a mamãe, pois certo dia ao chegar tarde da noite de uma
festa, o papai queria jogar o penico de mijo em sua cara.

E era provável que o fizesse, pois o urinol de suas necessidades


noturnas dormia, embaixo de sua rede, junto com ele. Mas, a dona
Esmeralda foi rápida e ágil e evitou a “desinfecção” do Neném, a
base de ureia, ácido úrico, sal e outros mínimas substâncias de
ácidos.

Trocamos de estratégia, não agredíamos à toa, mas aprendêramos a


374
nos defender com as mesmas armas da batalha.

Acompanhávamos contritos, preocupados, reconhecendo as


verdadeiras condições insatisfatórias de abastecimentos alimentares,
roupas e sapatos para um quarteto, ainda, carentes de recursos
próprios.
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
Mas, chegamos juntos a um ponto, na encruzilhada da esperança
tardia com a verdade cruel e opinamos agir na obtenção de valores
que nos subsidiassem melhores conjuntura de vivência.

Dormia, em rede, na sala da frente, com a carteira recheadas de


notas. Ficávamos só olhando. Fumava seu último cigarro e cochilava.
Às vezes, incomodado pela bolsa, colocava-a no piso.

E, nós, só cubando. Sem maldades e nem remorsos, passamos a


buscar notas retiradas, sorrateiramente, dessa guarda ambiciosa.
Chegava para o almoço e não reclamava nada a respeito, não
porque não o quisesse, mas por absoluto descontrole nos seus
numerários.

375
O pai era pouco rico, e nós pobres, mas nem tanto.

Mamãe sabia que frequentava os “melhores cabarés”, como se


isso fosse um elogio e não um incremento ao desrespeito a uma
família honesta que lutava por dias melhores.

Cercava-se de amigos, igualmente vis, e iam para as farras em


detrimento a compostura de um lar exemplar.

Mamãe fazia dessa aquisição desdenhável, os melhoramentos


necessários para o dia a dia. Fardas escolares, por exemplo

E nesse mesmo diapasão, paquerávamos a sua rede de nossas


camas, para vê-la caída e encolhida no chão. Mamãe balançava a
cabeça, afirmativamente, e dávamos um jeito de pescar mais uns
peixes graúdos.
Minorava a quebradeira. E mantínhamos em pé, sorridentes e
tranquilos como, se aquele mau feito fosse um lícito, mas colocado
na balança do Senhor, nossa mercadoria nada pesava. Nem na
nossa consciência.

Viver não é esperar a tempestade passar, é aprender a dançar na


chuva.

Dona Esmeralda não tinha muitas expectativas no quadro dessa


realidade desgastante e cruel. Isso a importunava muito.

Principalmente, no seu orgulho, de não puder tomar uma iniciativa


que atendesse aos anseios de felicidade com os seus entes
queridos.
E dizia como se fora um chavão, eu não mais escolho a quem
376
encontrei, mas, escolho, agora, o que vai ficar.

Ela falava isso, mas sabia de sua real impossibilidade para cumprir a
promessa.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Apesar de cartas trocadas com familiares a respeito da conjuntura, e
sua aceitação por todos os familiares, compreensivos com a
situação, não ousou aventurar-se no mar da escuridão, das
incertezas.

Poderia ter voltado para Manaus com a compreensão de suas irmãs,


pois não lhes faltaram apoio nesse momento angustiante e doloroso
da vida acasalada.

Mas o orgulho, prevaleceu, foi maior e não esquecera o fato que a


377
Mãe Messody não aprovara o seu casamento.

Recebera convite para voltar à Manaus, mas suas raízes fincadas


aqui no estado, eram fortes e robustas para segurar os trancos e
solavancos que viesse a sofrer.

Ademais tinha, sabiamente, noção que a impossibilidade era maior


que a vontade e o imponderável de uma natureza, sem alforrias do
cabra velho, era ilusão, pois lhe faltaria as condições financeiras para
a manutenção caseira.

Preocupava-se, em amplos segmentos, quando atinava os filhos e


temerosa que esse dilema conflituoso pudesse influir nos estudos, na
segurança ou nos destrates do pai, com eles.
Fato que não aprovava, pois assumia a responsabilidade do
combate, nesse evento cáustico da vida pregressa do esposo. A
confusão é comigo, dizia ela, mas jamais a deixaríamos a sós na
luta por direitos equânimes.

Não gostava de nos ver ofendidos, e replicava que merecíamos mais


respeito que ele. As farpas não deveriam existir, para não influenciar
psicologicamente os adolescentes, em sua formação cidadã.

Separou-se de corpo e alma e entregou-se inteiramente aos filhos.


Em conversas reservadas relatava, que ele achara até bom!

DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD

O auge da periculosidade foi a funcionária da farmácia, Ruth, filha do


seu Rubson Ramos, seu primo. Ela deu-lhe resposta categórica
378
pelas insinuantes e despudoradas propostas.

Passou, então, a insultar o namorado dela quando este ia ao seu


encontro, para levá-la à casa. O Walmick, era um homem brilhante e
de um futuro promissor que não tardou a chegar, quando, entre
outras funções foi coordenador dos cursos da Universidade de
Fortaleza-UNIFOR.

Era de cor preta, mas essa preconceituosa atitude era fruto de uma
mente estagnada na ignorância, na derrota ante uma digna
subalterna e na supremacia a mais de uns trocados que lhes viraram
a mente, outrora tão saudável.

Era queridíssima de nós todos, que ficamos indignados com essa


cafajestada própria dos inebriados boêmios das noites faceiras.
Mamãe foi a sua casa, levar a nossa solidariedade e apoio pelo
acontecido. Entre nós, tudo bem.

Seu amigo, Nilo, proprietário da Farmácia Santa Helena, homem


íntegro e sério, dava-lhe conselhos pertinentes, sem sucessos. Por
fim, dizia, Carlos não faz isso, não!

Banalizaram-se as discussões que se tornaram cotidianas e


insuportáveis. Certo dia, em 1967, o pai, resolveu abandonar a casa.
Sabíamos qual o sentimento prevalecente. A calma voltou a reinar e
a tranquilidade se fez morada na 1093. Porém, ficamos
condolentes.

Foi em busca de uma mulher que não a conhecíamos e apenas,


deduzíamos pela insolência do seu caráter. Nunca nos passou
pela mente tomar atitudes contrárias que, não fossem o melhor
379 para a nossa guarda-mor.
xXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Algum tempo depois, relativamente não muito, voltou arrependido e
disposto a reconciliar-se e a refazer a vida que um dia foi um sonho e
depois virou pesadelo.

Mas, tinham restado muitas rusgas e feridas que em tempo curto não
380
se dão conta de curarem. Ficaram as cicatrizes, como prova de um
passado recente.

O tempo não conseguiu reverter os sentimentos daquele que só


trocara de residência e se esquecera de mudar o endereço da
vergonha e da hombridade familiar.

Mamãe, também, não dava muitas tréguas, já esquadrinhadas pelas


dores e o amor que já não mais existia, pois se esvaíra como uma
demão de tinta esticada até o seu descolore.

Não sei se o desbotar atingiu a sua plenitude ou talvez tenha


deixado em seu rastro alguns sinais da cor original.

Reincidente, voltaram-se os presságios, antecipadamente,


sabidos por todos.
Foram tentando conciliarem-se e harmonizarem-se em nosso favor,
pois algo muito forte marcara nossas vidas e as suas. Bons filhos,
carinhosos, educados, estudiosos, tementes a Deus e de futuros
promissores. Pais em conflitos de desenlace.

Voltara mais agressivo, consistentemente, contrário ao que


preconizara em sua fala de reconciliação. Parece não saber
conjugar o verbo em sua prática, pois a verme da fantasiosa vida
pregressa já o contaminara de vez.

Nos intimidava verbalmente, com atitudes afrontosas. Ao chegar,


deparávamos com “batidas fortes” na porta e gritos ousados, como,
“vim para bagunçar”, ou “cadê o nego véi” que não vem abrir a
porta.

381
Quando reclamávamos de sua insolência, replicava, os
“incomodados que se mudem”. Mamãe já nem mais falava com
ele, tal o desgaste do relacionamento.

À Ruth, adolescente, certa vez disse, “minha namorada é mais


nova e bonita que você”. Mas, não ficou de graça, o revide foi
instantâneo, e destemperado.

O amontoado de cinismo impregnava nosso lar decente, ao cúmulo


de manterem contatos telefônicos em nossa casa!

O Rubem sempre tomara a si, as nossas dores e brigava feio com


ele. A mamãe estava muito cansada, esgotada com tudo isso.

Quando nos aproximávamos mais um pouco, repicava insólito e


rudemente, “opa, olha as intimidades. Não gosto delas”.
Certa vez, não sei o que disse ou fiz, correu com a tranca da porta
ao meu encalço.

Só me tratava de nego velho, acredito de forma pejorativa e não


simulação de carinho como era esperado. Eu não sou de bater,
gritar, mas as palavras por mim ditas de formas ferinas, baixas,
calmas doem muito mais e surtem, geralmente, efeitos
transformadores. Mas não, para os insensíveis.

Os despautérios continuavam cada vez mais frequentes e sempre a


mamãe revidando as suas grotescas, acabava, também, ingressando
no rol das brigas generalizadas.

Sua presença já nos incomodava nessa fase, principalmente, quando


dizia, cheguei no inferno.
382

Vivia como um hóspede, garantindo sua permanência, mostrando a


carteira de notas e nos humilhando de forma aviltada, clamava,
mostrando a bolsa, está cheia de notas de mil cruzeiros.

Caminhava para o descontrole total e era difícil prever como tudo


finalizaria. Tínhamos uma certeza, todavia, chegara o momento
crucial de uma decisão definitiva e urgente.

Na vida tudo é finito. Às vezes, envelhece, perde o sabor ou o odor,


mas se finda. Quando bem cuidado, dura mais e morre deixando
saudades, porque fora semeado e cultivado com carinho.
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
A Ruth namorava o renomado funcionário da Receita Federal, Ivan
383
Régis de arruda Frota, que se apaixonara por uma das pedras
preciosas da Esmeralda. Pedras idênticas em quilates e nos dotes
de encanto que eram peculiares na família.

Resolveram noivar. A criação desse vínculo, exige a permissão ou


conhecimento desse compromisso à família da moça.

E era benfazeja, uma reunião simples para a sua celebração. Pois


foi, o que não aconteceu. Foi simples demais, para a seriedade do
ato que foi objeto de nosso regozijo. Ele era, um boa praça.

O Bem, nome que lhe foi atribuído pela mana, chegou em nossa
casa com o par de alianças. A Ruth o esperava no batente da janela
olhando a varanda, que nem flores tinha. Mas estava ansiosa.
Certamente, não encontrando oportunidade adequada, por desvelo
ou para não o ver, ele as entregou ali mesmo na noite enluarada.
Para a Ruth, um momento sublime para a sua vida, sentiu-se na
obrigação de comunicar a ocorrência, ao pai.

Qual não foi a sua perplexidade, quando ouviu em bom som e tom, a
exclamação genial: “com aquele abestado, filho do Josias”, e
permaneceu deitado. E nada mais disse. Nem precisava.

Representava ali, induvidosamente, a figura de um pai omisso e


minimamente interessado na família que construíra.

Chegávamos à década,1970, sem nenhum alento para reverter as


dolorosas cenas, desse palco escuro e sombrio.

384

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Esperamos em vão que acendessem as luzes de nosso lar, para
almejarmos uma vida tranquila, em paz.

Em setembro, um raio dual surgiu aos céus e nos apaziguou,


serenando os dias e as noites.

Ficamos muito felizes, mas seria oxidar um passado se não


reconhecêssemos que alguns fiapos de raízes ou um resquício de
saudades, também ficaram. Apesar de tudo.

Era o justo, fazendo a justiça descer a nós. Mamãe aliviada em seus


pesadelos, desdobrou-se em mil opções de vida para recriar uma
unidade que voltou a sentir o real amor de uma família sólida,
equilibrada e digna.
E os tempos rolaram como um peão, quando envolto numa linha
grande e forte, puxado com maestria, mantém-se equilibrado por
algum tempo, gira muito e vai cedendo espaço e rodopiando cada
vez menos, até quedar-se e parar firme e inerte no chão.

Este é o resumo do futuro do nosso pai.

Juntou-se a sua parceira, mas, certamente, continuou ereto e sem


balanços por bom tempo, frequentando as orgias que nos
amarguraram.

E, aposentado, sem extras e nem comissões, os cruzeiros passaram


a minguar nas suas mãos, em favor de suas conquistas
obcecadas.

Já não mais possuía as propriedades das Farmácias Nossa Senhora


385
de Nazareth, cujo amigo e socio, Waldemar França, era o parceiro
das sociedades comerciais e o incentivador das farras virulentas e
inconcebíveis,

A obsessão é uma ideia desarrazoada, cujo fim é previsível e,


somente, invisível aos olhos de quem a é subjugada. Foi
envelhecendo, gastando os últimos tostões que lhe restava no
mealheiro.

Na sua vida extra conjugal, tivera dois filhos que não respondem por
suas patifarias anteriores. Pelo contrário, são tão inocentes como
nós, filhos.

Dedicou-se, nessa nova empreitada, como se a vida não tivesse


fim. Mas os ventos que iam ao sul, retornavam pelos mesmos
caminhos da vida.
Com uma diferença, emblemática, eles foram por impulsão da
juventude, da vaidade, dos arroubos do dinheiro e da
irresponsabilidade e quando voltavam, longos tempos depois, os
ventos não traziam nenhum desses valores, apenas os
desvarios de um reflexo, ou espelho de uma nova realidade,
dura,

Sucederam-se os anos, mudaram-se as direções dos ventos,


chegaram a velhice, a simplicidade, a modéstia e os reais, então,
foram os primeiros a voarem para outras mãos.

Era um mísero, como nós fôramos dantes.

E nós, com uma vida sustentável financeiramente, consistente em


nossos valores, indissociáveis no caráter, honestidade e atitudes
familiares, acima de tudo, víamos a história da vida reverter fatos
386
que não gostaríamos, sinceramente, que tivesse acontecido.

Já tínhamos colocado o ponto final, quando nos sugeriram


apenas vírgulas, para prosseguirmos com novos capítulos.
387
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

O passado, às vezes, é para não ter saudades.

Enganam-se aqueles que pensam que as lembranças advindas do


tempo são, apenas, aquelas boas e felizes. Não o são. Saudade
dói, fere e, também, nos faz sorrir, chorar de tristeza e
amarguras.

O Ruy, contatado foi benevolente e de bom coração, achegou-se a


ele em visita domiciliar.

Avaliou as condições precárias e sofridas de uma conjuntura, sem


confrontos, que, conhecêramos tempos atrás, com as mais sórdidas
proficiências.
Reiterou as idas e criou vínculos de simpatias e piedades. Esquecera
o passado em prol de um futuro com a consciência tranquila
daqueles que só fazem o bem.

Éramos bem recebidos pela senhora e seus filhos, nossos irmãos


apenas, paternal, o Carlos Filho e a Renata.

O sentimento, agora, era de dó por si e pela família que criara.


Compartilhou

Contribuía com dinheiro para a manutenção de sua casa, ao


contrário do que acontecera, anteriormente. Agradecido
lacrimejava, em seus sentimentos desconhecidos.

O Ruy, então, compartilhava esses fatos conosco. E nos incentiva a


388
fazer o mesmo. O Rubem e eu, compadecidos e sem mágoas,
acolhemos fortemente essa ação que, julgamos missionária.

Principalmente, eu e o Ruy, mas todos ajudavam, pois o sentimento,


agora, era de dó por si e pela família que criara.

Passamos a visitá-lo e ajudá-lo da melhor forma possível. Com


carinho até, estimulando sua vida já quase eneagenária e
confortando-o nos reclamos da carestia.

Um dia, na Receita Federal, não sei se fora resolver algum problema,


ou se, lá estava intencionalmente com um objetivo determinado, mas
procurou o Ivan Régis e pediu-lhe uma quantia para as suas
necessidades caseiras.
O cunhado, seu parente ainda, prontamente o atendeu como
colocou-se a ajudá-lo tanto na Receita como em ou em outras
ocasiões, porventura, aflitas.

É triste. Mas, não é vergonhoso, pois o fazia certamente com o


espírito devotado a uma causa de necessidades prementes para a
sobrevivência da família.

Vivia de duas aposentadorias mínimas que realmente não davam,


adequadamente, para a sustentabilidade familiar.

389

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxx
Mamãe, não sabia que nós o ajudávamos, pois não imaginávamos a
sua reação depois de tantos anos, se incitaria a forra como uma
revanche, nos incriminaria ou, se aprovava nossas atitudes com base
em sua sólida crença em Deus e na bondade de seu coração que se,
tinha alguma grande mágoa, era uma só.

Ponderávamos, entre nós, que o tempo longo poderia ter atenuado


os sofrimentos, em nome de sua grandeza de espírito e amores
universais.
E de um passado, ainda mais passado, em que viveram um grande
amor.

Chegamos a uma conclusão. Nós não tínhamos essa resposta,


obviamente. Não poderíamos supor nada, nesse livro já concluído.

Não era bom arriscar ou correr o risco de retroagir a um ponto que, já


deixáramos em nós de pescadores. Atados, sem retornos nenhum.

Continuamos a ampará-lo e sentíamos que um desfecho fatal não


estava longe nos meses. Prosseguimos com a nossa assistência.

Após uma queda, fratura a cabeça do fêmur e sofre uma cirurgia,


com sucesso. Volta a andar, mas logo em seguida, fez-se necessário
um aparador, que comprei, mas os anos e as boemias lhe pesavam
muito e fica acamado.
390

Somos honestos o suficiente para dizer com convicção, que a


dedicação, o carinho e o desvelo da senhora e dos filhos nos
sensibilizavam muito.

E isso foi um fator muito positivo em nossas aquiescências.


Quando, por exemplo pedia-nos, por amor a Deus, que não
desamparasse sua família. Isso pesou firme forte.

E o carinho com que nos tratava. Certamente, com muito


arrependimento, mas em nenhum momento nos pediu perdão ou
desculpas ou coisas semelhantes que nos voltassem a pensar
naqueles idos tempos.
Mas, esse não era o nosso objetivo. Pelo contrário, era um
sentimento de paz, de ajuda humanitária, a um homem que era
nosso pai.

Continuamos as visitas e ajudas financeiras. Com o tempo, e a


convivência aprendemos a respeitá-los. Ele chorava quando nos via,
e nunca tratamos de fatos passados e sofrimentos antigos.

Fomos altivos, sem rancores, nem com interesses subjetivos de


ir as forras, desforras ou vinganças. Jamais nos passou na mente
essas insensatezes.

A Ruth e a Masinha nunca tinham ido ao seu encontro, desde sua


saída de casa, cada uma com sua postura, apoiava em nossas
iniciativas.

391
Mas, compareceram ao funeral e outros compromissos religiosos e
se confraternizaram, filialmente, no adeus final.

Fizemos tudo o que nos fora possível fazer, nos limites das
possibilidades e da religiosidade.

Mas, sempre, o ocaso da vida, não, por acaso, é o fim da vida.

Em, 08 de setembro de 2003, faleceu cercado pela nova família e


conosco que participamos de todos os serviços funerários para o
sepultamento e acompanhamento para o seu eterno sossego.

O Ruy cedeu uma porta de seu jazigo. E, morará com ele para
sempre.
Até hoje não tive a coragem de lhe perguntar o conteúdo, os termos
de seu bilhete, envelopado, e colocado na urna mortuária do papai.

Poucos viram, mas conversando sobre o tema com irmãos


testemunhas da ocorrência, concluímos, seja o que for, não é de
nossa conta.

Cada um tem a sua consciência e dela faz o que quer. Portanto, ele
tem suas razões. Se nunca dele falou, não cabe a nós perguntar.

Lamento, pois gostaria de incluir esses sentimentos, sejam quais


forem, neste compêndio.

Para nós, finalmente encerrara um capítulo, agitado, tenebroso, mas,


também, de muitas lembranças que a mente, nossa incrível
protagonista da vida, preserva para não esquecermos de tudo, pois
392
geralmente o que tem anverso gera verso.

Ficaram cicatrizes, hoje, porém, curadas pelo tempo e a maturidade,


restaram definitivamente ferimentos, e paradoxalmente, outros e
poucos momentos que nos fazem bem, guardá-los.

PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPP
Para a outra família, deixara a casa como única herança.

As aposentadorias, de pequenos valores, mas substancialmente,


importantes na vida que ultimamente levara, não beneficiaria a
senhora Creusa.

Pois, esses proventos previdenciários do I.N.S.S, em seu


falecimento, eram da mamãe, legalmente casada em Cartório, em
Belém.

Não existia nem questionamento suscetível, pois a figura da


Jurisdição de “união estável” é coisa mais recente a essas
ocorrências.

Reconhecemos o drama da família, a dona da casa com dois filhos,


393
recém maiores de idade, um deles com emprego de salário mínimo.

Iriam ter grandes dificuldades na manutenção dos gastos, com todos


os itens que garantissem uma subsistência razoável de vida. Os
salários das aposentadorias do papai eram fundamentais para isso, e
nós enxergávamos claramente essa situação.

Para nós, esses reais já não fariam tanta falta. Resolvemos


conversar entre nós, o quinteto dos filhos, com a ausência da
matriarca.

Foi uma decisão rápida e absolutamente correta para fechar com


honra e dignidade, definitivamente, a passagem de nosso pai para o
plano superior.
Pensamos numa estratégia para efetivar essa transferência do
benefício. Entramos em contato com a senhora e os filhos. Eles nos
entregaram os documentos, com que entraram no INSS, para a
obtenção do benefício e lhes foram negados.

O Rubem encarregou-se da parte burocrática em parceria, com os


outros familiares, e preparados os papéis para o requerimento da
pensão, só faltava a assinatura da dona Esmeralda.

Disso cuido eu, disse-lhes. Armei uma situação que eu mesmo, achei
muito interessante e gostei. Não foi um golpe. Nós ganhamos nada e
faríamos um bem formidável. Aquilo que nos faltara um dia. Todos
os filhos concordaram com a cessão da aposentadoria.

Simples assim. Trouxe do bnb, dois conjuntos modelos, de um


empréstimo consignado em folha salarial. Cada um deles com cinco
394
folhas.

No primeiro grampeei-os, em sua integridade. No segundo, retirei as


folhas 3 e 4 e substituí pelos documentos a serem assinados.

Na mão direita, os documentos completos do empréstimo. E, na


esquerda, o bloco que continha os papeis a serem assinados.
Diariamente, bem cedo, passava por lá antes de ir ao trabalho,
sempre cedo e demorava pouco, disse-lhe que ia fazer um
empréstimo no bnb e precisava da assinatura de testemunha e pedi-
lhe que assinasse.

Entreguei para ela ler os documentos completos, fiz questão de


mostrar-lhe todas as páginas para a sua leitura. E ela, nem leu,
levantou-se a procura da caneta enquanto, eu trocava o conjunto
que estava na mesa pelo o da minha mão esquerda.
Assinou, perguntou se era só isso, disse-lhe que sim.

Ainda conversamos um pouco, enquanto chegava o ônibus da


Gertaxi que nos levava ao Banco, eu, Fernando e o Sobrinho,

Entreguei os papéis assinados e o Neném deu entrada no benefício e


acompanhou seu trâmite. No tempo regulamentar o pedido foi
deferido e até hoje recebido.

395

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG
Concomitantemente, a mamãe tinha a “vida que pediu a Deus”,
num ambiente predial de dois apartamentos, um de cada filha, e em
sua parte de piso, uma quitinete simples de quarto, suíte, sala de
estar, cozinha, na lateral um corredor com plantas e em sua frente
um pátio que servia de garagem e lazer.

O abastecimento alimentar era fornecido pelas “meninas” e nada lhe


faltava. Também, os filhos, contribuíam, mensalmente com as
finanças complementares.

Ela era independente, queria a sua liberdade a qualquer preço e não


negociava subserviência. Preferia morar só, ou as vezes
acompanhada de uma doméstica e só, por vezes, e nos últimos anos
cedera a essa tentação.

Jamais quis depender de alguém, como também, igualmente, nunca


396
deixou o seu lugarzinho na quitinete que amava e que era dela.

Nada, absolutamente nada, lhe faltava, além das presenças diárias


da Ruth, Masinha e do Babá, que morava vizinho em uma casa
contígua a delas. O Rubem vinha sempre e o Ruy morando distante,
em Messejana, ia semanalmente.

O seu Kit era muito bem mobiliado com todos os utensílios


domésticos habituais e necessários para uma família.

A mamãe não queria ser hóspede de nenhum filho, só exigia suas


presenças constantes que, inexoravelmente aconteciam.

Era feliz e transmitia essa felicidade que, também, era a nossa.


Tomava o café da manhã, assistia a tv, seus noticiários e novelas,
subia aos apartamentos da Ruth e da Masinha para de lá voltar ao
pôr do sol, para tomar banho e preparar o seu ninho para dormir.

Era uma rotina, sem precedente, mas era o que queria, gostava.

O seu amor pela família transcendia aos limites padrões, externava


constantemente com afagos, mimos e beijinhos nos filhos e netos.

Nunca deixou de frequentar, com vaidade e elegância as festinhas de


aniversários, casamentos e outros eventos da família, sempre
levando “uma lembrancinha” e entregando com um característico
sorriso aos lábios que para nós tinha um valor inigualável.

Após tantas histórias, todos feridos e sem nenhum vencedor, os


vencidos tornaram a lutar, agora, para reabastecer suas energias e
397
enfrentar novos desfechos que a vida, sempre se nos apresenta,
como caminhos longos e permeáveis.
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Aí, com certeza, dessa, fomos vencedores de nós mesmos,


lutamos, por nós, contra as dificuldades naturais impostas pelas
dinastias da vida, e não contra a pessoa, e vencemos.

Continuei ajudando, em oportunidades da vida, que surgiram e que


me propiciaram, sem ônus, fazer benefícios do qual ainda hoje sou
reconhecido.

Mas os fiz, sem pensar nesse retorno, e sim porque depois dos
episódios caseiros, idos e vividos, comecei a trabalhar em mim a
noção e a repercussão da solidariedade e da mágoa.

Uma é para se cumprir e a outra para se esquecer. Não é fácil.


398

Aparentemente controvertidas, mas ao contrário, são de uma


convergência alada, a qual uma não subsiste sem a outra. Podem
ser até consequências.

Entendo, hoje, toda a grandeza e profundidade dessas palavras,


seus verdadeiros e sentimentais significados.

A solidariedade convive comigo, a cada instante, e a mágoa, não


existe no meu dicionário, somente um sinônimo parecido, e
minimamente doído.
FFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF

Tudo na vida passa. Mas, nem tudo se esquece, mas podemos


esvaecê-lo, como um ato findante.

Quando me aposentei do Banco do Nordeste, ainda muito novo aos


cinquenta anos, para esse fato, fui convidado para trabalhar na
Secretaria de Planejamento Municipal.

E aceitei-o, para não ficar na ociosidade e porque compreendo que


uma das coisas mais importantes da vida é trabalhar. Qualquer
atividade é digna. Era uma função, razoavelmente significante, na
reestruturação do plano social da cidade.

399
Trabalhamos em conjunto com outros técnicos da Secretaria e, entre
outros, preparamos um projeto amplo de geração de emprego e
renda, para os carentes, em parceria com o Banco do Brasil.

Fui o escolhido para ser o Coordenador do Programa. Pedi “carta


branca” para montar a equipe e qualificá-la para o trabalho, sem a
interferência a política.

Escolhemos. dezenas de funcionários da Prefeitura, e poucos fora


desse contexto. Chamei a Renata, filha do papai, para esse ofício.

Tornaram-se técnicos de campo para o processo de avaliação e


acompanhamento dos projetos, cuja elaboração dos projetos era da
PMF e financiados pelo Banco do Brasil.
O Programa era um sucesso e o BB um forte aliado para o
alheamento político, porque a liberação dos recursos dependia
também do Banco. Percorríamos todos os bairros, em veículos da
prefeitura.

Administramos o Programa e quando da alternância de poderes


municipais, para nova e opositora gestão, fui convidado a
permanecer no cargo, por solicitação do BB, por mais um quadriênio.

Ela era técnica de campo, com cursos próprios da Secretaria e do


SEBRAE, como todos. E ficou assalariada por todos esses anos.

Não tínhamos, no trabalho, a intimidade familiar, tanto é que a


maioria dos componentes a imaginavam apenas parentes pelo
Menezes. Foi uma condição que lhe pedi. E cumprida.

400
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Depois fui descansar, e quando surgiram os primeiros sinais de um


sono tranquilo, apareceram os sonhos, de tirar o sono, de um
torcedor alvinegro, apaixonado desde criança, a pelo menos 70 anos.

Convidado a integrar, uma chapa na diretoria do clube do coração,


Ceará Sporting, aceitei o cargo de Diretor administrativo, e
vencemos o pleito.

O Rafael, como diretor de Patrimônio do Clube. Trabalhamos muito,


demos início, sem dúvidas, a e o crescimento e potência do Clube de
401
hoje.

Fizemos muitas coisas, sem dinheiro, ainda era a época que,


praticamente, o patrocínio e as rendas variáveis dos jogos, teriam
que fazer toda a manutenção do Clube, e os fardos das folhas de
pagamento, dos funcionários, atletas e comissão técnica.

Pela primeira vez na vida, andei com o pires nas mãos atrás de
recursos para pagarmos a energia, com ameaças de corte iminente e
os telefones devidos e exigíveis, nas próximas horas.

Os cardeais de prestígios do Clube, levavam nas boas conversas


essas premências, e diziam que eles não teriam coragem de cortar.

Sei que não têm obrigação de ajudar financeiramente o Clube, mas


se gostam e incentivam o márquete da imprensa, em seu favor
perante a torcida, em cima desses fatos, não era justo, também, que
não cooperasse, numa hora tão difícil.

Socorreu-me o ilustre amigo, e o maior dirigente do Ceará, sem


nunca ter sido seu presidente, por sua opção, o Juiz do Trabalho,
Humberto Castelo Camurça. figura ímpar e um dos maiores
alvinegros de sua história.

Eu vivia, me locomovendo à Agência do Bradesco, Avenida Barão do


Rio Branco, antiga sede do BEC, conhecida, como a Agência dos
Peixinhos, confabulando com o Castelinho que me ensinava todos os
caminhos para as soluções mais complicadas e vulneráveis.

Rafael foi o grande destaque dessa administração, ousado e


empreendedor, na área patrimonial, imprimiu uma filosofia visionária,
à época de valorizar a sede do Clube, e disponibilizando ao Clube,
402
suas necessidades básicas.

A rigor, nenhum dos membros da Diretoria, tivera cargos


administrativos no Clube, e o sangue novo chegou com figuras que
ainda hoje marcam a sua história.

Como torcedores e presidente do Clube como o Evandro Leitão,


Eudes Bringel, Irazer Gadelçha, eu, Rafael, Jocélio, Mazinho, . O
lourinho, Gilmário, Eugenio Rabelo,

Acho que só a histórica personagem, do advogado trabalhista do


clube, Clark Leitão.

A sede era caótica. n o verdeiriro e único, n liderança de sua


recintrução conyandi com a colaboração massiva da diretoria e de
novos membros qye intrgravam a diretoria ou canonhavam conosco
oaassi a oassob oara inicia o que o Cera ope hpjr rn rstrutyra física m
esicam.....

Levei comigo uma pessoa de ótima qualidade técnica, do programa


da Prefeitura, a Ângela, e a Renata, que passaram a integrar o
quadro de funcionários do clube ainda carente na reestruturação que
estávamos promovendo.

Na função administrativa, amigo pessoal do Presidente, ele


comentou ter sido consultado sobre a cessão noturna do
estacionamento da dependência alvinegra para a FAC-Faculdade
Cearense.

Mantive contato com essa faculdade privada, a cem metros do Clube,


e em reunião, impus uma condição para o convênio, a cessão de três
bolsas de estudos no curso de contabilidade a quem eu já saberia a
403
quem dar.

Solicitaram, por sua vez, a participação no vestibular da Faculdade e


ora aprovados os candidatos às admissões, seriam a eles fornecidas
as bolsas de estudos integrais. Claro, certíssimo. Acordo fechado.

Inscrevemos seis concorrentes. Quatro passaram.

Indiquei a Ângela, a Renata e a filha do Joel, amigo e fanático


torcedor que, diariamente, convivia conosco na sede alvinegra.
Ainda, tentei mais uma bolsa para o quarto aprovado, mas estava
fora do acordo, realmente.

Saí do Ceara. Por minha opção, cansado, das longas idas e vindas
diárias, de manhã e à tarde, preocupações e sem muitas condições
de estruturais para amenizar.
A Renata já deixara o Clube em troca de um estágio em escritório de
contabilidade. A Ângela, teve salários acrescidos após a sua
formatura, e até hoje permanece no Clube, como uma fera alvinegra
na Secretaria do Ceará.

A Renata concluiu o curso e trabalha, como contadora, num escritório


do ramo.

Hoje, os Abitbol, são todos doutores, cumprindo o sonho e a


persistência de nossa mãe. Pela obstinação e pela luta incessante
para esse acontecimento.

Nós, apenas, fizemos a nossa parte.

404

ÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇÇ

Tivemos nossos heróis, aliás, todos. Mas, um merece a comenda


que lhe é oferecida pelos irmãos Abitbol.

Um registro especial o faça agora, com emoção e um sentimento


de irmandade que me comove, e não só a mim, tenho a certeza de
que digo em nome de todos, pois assim me foi dito, foi a postura
heroica, brava e o comportamento sereno e corajoso do Rubem, o
nosso Neném.
Nunca é tarde, por mais que se alonguem os anos e se distanciem
de uma realidade passada, o reconhecimento se faz presente,
cada vez mais.

Talvez, ele não tenha ciência ou consciência plena de seu exemplo,


de sua importância, por sua simplicidade e pela leveza com que trata
a vida. Mas, nós temos.

Quem nos protegeu nos ápices das crises, além da mamãe, e se


preocupou em contemporizar os problemas levando as meninas,
Ruth e a Masinha, aos passeios, e as festinhas.

Noivo da Lurdinha, em companhia dela, levava a Ruth para os cines,


tertúlias e outras diversões. Enquanto papai tinha vergonha da
família, ele tinha orgulho em nos levar.
405

Nunca deixei de acompanhar os jogos de futebol, nos campos da


periferia ou de voleibol nos clubes sociais. Ia com ele.

Quem orientou, como homem, o sentido e a direção da vida em


parceria com a nossa querida e saudosa mãe. Cuidou da família.

Nos casamentos da Ruth e da Masinha, lá estava ele conduzindo as


nubentes como se fora o chefe da família, mas foi mais que isso.

Empregado, ganhando um dinheirinho razoável, sempre participou


e cooperou nas horas certas, dos momentos incertos.

No aniversário de quinze anos da Masinha, onde as dificuldades


financeiras, adversas, orbitavam nosso íntimo universo, o
Rubem patrocinou no Iate Clube, a comemoração oficial e
inesquecível para a debutante cercada de amigas colegiais e outras.
E nós lá.

Era uma referência continuada da mamãe, nas horas de apertos e


nosso pilar juntamente com ela.

Era o guardião da família, definia a Ruth, lembro-me.

Agora, é hora, se não tardiamente, melhor que nunca, dizer:

Obrigado Rubem, por tudo! A emoção, nos comove ao relatar


tais fatos.

Não sabíamos, ao certo, qual o sentimento prevalecente. A calma


voltou a reinar e a tranquilidade se fez moradia na 1093. Porém,
ficamos condolentes.
406

O amor e a devoção à nossa mãe estavam em nossos corações,


machucados e doídos. Até hoje é a personalidade que nos ilumina
quando nos falta a coragem ou a determinação. Foi um exemplo de
vida. Realmente inesquecível.

Não era uma santa, mas fazia milagres.

A vida continuou proficuamente. Corríamos, mas não precisávamos


resgatar o tempo porque, não o fora perdido, só os sofrimentos.

Marchamos unidos. apesar de todos os imbróglios, éramos muito


felizes e não deixáramos escapulir as oportunidades que nos foram
reservadas para uma vida normal, efetiva e afetiva.
Nossos afazeres foram cumpridos, rigorosamente, sob os auspícios
de dona Esmeralda e a nossa cooperação, absolutamente,
enquadrada na realidade do momento.

Não era uma incoerência essa realidade, mas a certeza e confiança


que tínhamos nos nossos futuros, guiados com autonomia e vidência
de quem conhece todos os caminhos do bem e essencialmente
aqueles que nos levam a religião e ao encontro de Deus.

PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPP

A Amarela saía ocasionalmente, à noite, para compromissos


sociais. Sempre acompanhada, pela Bolotinha, Babá ou o
Neném. Dependia da formalidade ou o grau de dificuldades. O
Caga Baixinho já era casado.
407
Nasceu um drama coloquial na família Abitbol. A Ruth fora a uma
festa com o Rubem e a sua namorada Maria de Lurdes Brasileiro
Alcântara, na casa do seu primo e aniversariante Lúcio, acadêmico
de medicina.

Conversas, prosas e danças rolavam entre os convidados. Mas, de


maneira mais fortemente prestimoso, um jovem colega acadêmico,
chamou-lhe a atenção pela sua educação e simpatia. A propósito
uma empatia.

Ficaram então de manter novos contatos para se conhecerem


melhor. Começaram a namorar e ele passou a frequentar com
assiduidade nossa residência. Era o Edvard. Foi muito bem recebido
por nossos familiares que lhe dedicavam uma amizade respeitosa.
Tomava água geladinha produzida pela geladeira Prosdócimo que
o Ruy adquirira para o enxoval de seu casamento. Foi muito claro,
quando casar vou ter que levar. Tudo bem.

O problema é que nos acostumamos mau com esse vício delicioso e,


o Edvard, também. Na época marcada o Ruy se casa e, conforme o
combinado, a geladeira entra no rol dos pertences no baú da
Transportadora Confiança. E lá se vai ela.

Ficamos sem essa companhia fria, mas gostosa. Um dia, o Edvard


chega cansado, esbaforido e pede a Ruth um copo de água
geladinha.

A amarela se viu numa encruzilhada, inesperada, mas soube


contornar a contento. Entrou pela cozinha, chegou ao quintal trepou-
se numa cadeira e pediu um copo de água friíssima a dona Lisete
408
que prontamente a atendeu.

Entregou o copo ao namorado que agradecido suspirou satisfeito,


mas a Ruth ainda continuava apreensiva, e se ele pedisse outro
copo geladíssimo?

Saudade boa é quando você se lembra de pessoa ou caso e fica


rindo à toa. Esse é um. Ai. ai, meu Deus!

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

As nuvens cinzentas nem sempre conduzem boas notícias, mas, nos


oferecem oportunidades dela nos apropriar, para torná-las uteis e
obter esclarecimentos que nos conduzam a clarear o seu semblante
e o nosso.
Dr. Wilson Jucá, médico conceituado, e pai da Maria Alice Monte
Jucá, então namorada do Rubem, contou a nosso irmão que o jovem
pretendente e apaixonado pela Ruth frequentador de sigilosos
bailes, duvidosos e efeminados.

Deu o recado e saiu de cena. O Rubem, chegando em nossa


residência, preocupado, convocou uma Sessão Plenária, em caráter
de urgência, para apreciar a pauta em questão.

Colocados o fato, houve pronunciamentos diversos e quase uma


unanimidade em favor do inditoso réu. Ninguém acreditou com
segurança na veracidade do acontecimento. Não se tinha motivos
aparentes para tal.

O que prevaleceu, para a sua autenticidade foi a fonte da informação,


pessoa absolutamente confiável e sem propósitos outros que não o
409
foram de ajudar.

Pairavam dúvidas no ar. Todos pronunciaram-se em favor da


Amarela no sentido de esclarecer o mais rápido possível a
enigmática trama amorosa.

A Ruth foi a mais incisiva e, talvez, a mais pertinente, para um


deslinde rápido a fim de tomar uma decisão, imediata e definitiva.

Assim, como era muito amiga da Deonita, esposa do Vitoriano


Antunes Barbosa, colega de classe do Edvard e grande amigo,
tomou a iniciativa e foi à casa deles, ali perto do Mercado São
Sebastião, narrou o fato e ela, quando inquirida disse que
desconhecia o assunto.
Mas, a convidou para almoçar uma boa galinha a cabidela enquanto
aguardavam o Vitoriano chegar. E assim foi cumprido.

Ficaram atualizando outros temas peculiares do momento, quando,


Vitoriano adentra e cumprimenta surpreso a Ruth que já se
conheciam a bastante tempo.

A amarela decidida a resolver de pronto esse imbróglio, antes


mesmo que o Edvard que estava no Rio de Janeiro voltasse. Contou,
a estória em seus mínimos detalhes e o Vitoriano calado e pasmo
ouvia atentamente a esses fatos.

Ele, absolutamente absorto e silente. Quando terminou o monólogo,


a Ruth, alegou ainda, para uma resposta concreta e objetiva, os
laços de amizade que nos uniam a ele.

410
Vitoriano, enfim, resolveu pronunciar-se e disse, simplesmente:
“Ruth, acabe esse namoro”. E nada mais foi dito sobre o tema. Era
o suficiente, o bastante para se tomar uma decisão embasada numa
verdade apurada e clara.

Chegando em casa, todos a aguardava, ansiosamente, pelo


resultado da diligência. Com uma aprovação e muita renitência a
Ruth debruçou-se sobre um bloco de papeis e começou a escrever.
Foi na hora!

Foram duas folhas de palavras emotivas e declaradamente


decepcionadas com a atitude calhorda, pulha e traiçoeira com que
fora tratada durante esse noivado. Desmanchou todos os vínculos e
compromissos assumidos e tornando irreversível e irretratável tal
medida.
Mandou a carta para o Rio de Janeiro, onde o deflagrador se
encontrava, através dos Correios.

Ao ler a missiva Edvard ficou louco, desesperado. Telefonou para a


Ruth, imediatamente. Em prantos jurava que era mentira. Pedia
reconsideração para que pudesse apresentar seus argumentos e
defesa. Uma oportunidade pessoal para esclarecimentos. Nada foi
concedido.

A amarela reiterou tudo que dissera na carta e ainda desejou-lhe boa


sorte e desligou o telefone.

Ele ligou para Teresina, sua cidade natal e pediu a sua tia para vir
conversar com a Ruth, a qual já se conheciam. Nós a recebemos
respeitosamente e acolhemos em nossa casa. Na melhor cama da
casa.
411

Ela passou três dias, e foram três noites roncando tão alto que nós
todos não conseguíamos dormir. Só ela, E nós subservientes
ficamos insones nessas madrugadas em que o dia não amanhece.

Não convenceu a irredutível Ruth que convicta de seu


posicionamento agradeceu a sua intercessão.

O irmão do Edvard, capitão da aeronáutica sediado em Belém,


também se deslocou à Fortaleza para conversar e convencer a Ruth
a dar-lhe uma nova oportunidade para que ele pudesse oferecer seus
óbices e desenvencilhasse desses embustes. Também negado o
pedido.

Aí, então, ele já tresloucado, apelou para outros sentimentos e


fórmulas mágicas. Foi quando a Amarela atendeu telefone 6625, lá
de casa e uma pessoa, com voz inaudível no início do papo, indagou
é a Ruth? E esta respondeu, é sim. E bastante intrigada questionou,
quem fala?

A voz rouca, mas notoriamente efeminada, sem identificar-se


nominalmente, acrescentou, eu soube que você acabou o namoro
com o Edvard, eu sou capaz de lhe ajudar.

Eu sou a amante dele. A lésbica, prosseguiu argumentando, eu lhe


garanto que ele é homem. A Ruth eletrificada com tantas energias
perdidas durante esses confrontos, rispidamente encerrou: passar
bem e desligou o pretinho fixo da Dom Manuel.

Eis o drama. Como lembrança, agradável porque dar para rir, ou


chorar, no o caso da geladeira.

412
xxxxxxxxXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Um fato que demonstra o cuidado exagerado, falta de polimento e
acidez do nosso pai foi a sua conduta ante a presença, na calçada de
nossa residência, num dia 7 de setembro, na boca da noite, de um
recém acadêmico de medicina, de cabeça raspada pelo trote.

Viera para conversar com a Ruth e era uma paquera, ainda


inconsistente, em trânsito ao namoro. Estava em uma Lambreta
exuberante e vaporizando ruidosos e tonitruantes sons de
embevecimento.

Ele parado na moto, pé apoiado no meio fio e a Amarela na calçada


num papo bem animado. Ela percebeu, de repente, um certo
desconforto e inquietação por parte da paquera.
413

E, intuitivamente olha para trás de si e ver o “Cabra Véio”, assistindo


de camarote a cena.

Foi o suficiente, para rapidamente alcançá-la pelo braço e puxando-a


com lampejos irados, esbravejava o motociclista afagando-o a estima
com palavras das estirpes de “rabo de burro”, carequinha, cafajeste e
pediu a sua retirada, imediata.

Foi lamentável o episódio pois o motoqueiro era um jovem brilhante e


promissor em sua carreira, o hoje conhecido Dr. Walter Justa, dos
mais conceituados oftalmologista da capital.

Mamãe ficou revoltada com o ocorrido, e foi motivo para uma briga e
arengas de parte a parte.
Com essa “renúncia” da Ruth, tempos depois, Walter Justa casar-
se-ia, com a grande amiga Elba Gondim Barbosa.

414
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL

É preciso antecipar as ocorrências boas, agradáveis e depois esperar


que a saudade tome conta delas. Agora, fiquemos só com as
lembranças. Já é muito. Contentemo-nos.

Meses antes do aniversário de 15 anos da Ruth, mamãe começa a


tomar todas as providências imagináveis, para uma comemoração
digna do tamanho do seu amor.

Tudo pensado e planejado em sua determinada época, com a


antecedência prudente para não ser colhida por eventual atraso em
alguns dos seus itens.

Entre elas, a aquisição de uma eletrola em substituição a radiola que


415
já estava findando em nossa sala. Esta é, originalmente, um simples
toca-discos de Vinil.

A eletrola, mais moderna, continha um amplificador munido de alto-


falante. Uma novidade. Mais qualidade. Já tínhamos alguns discos,
essencialmente aqueles que em divulgação pelas rádios, alcançavam
os maiores sucessos. Inclusive internacionais.

Foi adquirida, e processada, também, ao longo do tempo, discos de


músicas dançantes como Ray Conniff, The Beatles, Elvis Presley,
Glenn Miller, Trio Irakitan, contendo boleros inesquecíveis que
marcaram nossa geração, Besame Mucho, Perfídia, La Barca,
Ronda, Quizás e tantos outros.

Cantores nacionais como Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto


Gil, Chico Buarque, Belchior, Gonzagão e Gonzaguinha, Gal Costa,
Maria Bethânia, Elis Regina e diversos outros faziam os corações
emocionarem-se na ardência de uma juventude privilegiada. Não dá
para esquecer.

Tínhamos todo o cuidado com a eletrola e, substancialmente, com os


discos quando de sua colocação manual para não os arranhar com a
ponta da agulha que assimilava os sons.

Isto acontecendo, a leitura ficava marcada no ponto ferido e a agulha


ultrapassava emitindo sons distorcidos. Mas, era aceitável. Era
corriqueiro.

Entretanto, cruel era quando, por um lapso qualquer, ocasionava a


queda do disco quebrando-o. Só outro. E outras atividades e
preparativos já começavam a ser efetuados, rotineiramente.

416
RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR

Às vésperas, mamãe chama Seu Domingos, um homem duvidoso


em sua masculinidade, mas, encerava como ninguém os assoalhos
que revestiam nossos pisos das salas e quartos.

Só se comprava cera vermelha, se fosse da marca Cachopa ou


Parquetina. Umas estopas de pano envolvidas na cera, passadas
com força contra as madeiras do piso eram, o suficiente para deixá-
las encarnadas, após a última quinzena.

Era preciso ter muito cuidado para não deixar secar a cera no
assoalho, pois isso impediria o sucesso final do brilho. Portanto, era
necessário, sempre, estar atento as últimas demãos.
417

Em seguida, pegava o escovão, simplesmente uma enceradeira


manual, pesada, com escovas novas para lustrar o máximo possível,
como era o desejo da dona da casa.

Era muito bom dançar num assoalho encerado, facilitando o deslizar


dos bailarinos em tertúlias ocasionais, em casa, acrescentando
requintes de limpeza, socialmente agradáveis.
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
E o tempo zarpava como se fora uma abelha trazendo suas
ferroadas, mas deixando seu mel encrespado para a nossa
coleta saborosa e salutar.

Não cabe a nós controlar o tempo, o que nos cabe é amar


enquanto há vida. É fazer acontecer o que queremos e quando
podemos fazê-lo.

Isso dito, parecia que o tempo soprado pelos ventos, nos conduziam
rápidos ao dia dez de abril de 1957, ansiosamente esperado.

Era a festa de debutante em suas quinze primaveras. Não existia


418
bifês de eventos, sequer uma casa de recepções.

Nada, porém, que o amor não se sobressaia a qualquer ambiente. O


recinto é físico e a festa é de amor. E amor daquela residência
purificava todos os espaços.

E esses quinze anos, foram festejados em casa, com todo décor e


desvelo da mamãe que primava pelo carinho e regalo aos
convidados.

Foi uma comemoração exuberante, simples e aconchegante, alegre


e dançante, num só encontro marcado pelo amor e amizades,
atraindo a atenção dos vizinhos, transeuntes e penetras.

Algo, porém, teria que ocorrer para induzir fatos que se levariam
como recordação, dessa inesquecível celebração.
Na esquina, residiam alguns rapazes recém-chegados, que alugaram
uma casa para transformá-la em república de acadêmicos da
Faculdade de Medicina, e ousaram entrar na festa como convidados.

A Ruth não os conhecia, apenas os reconhecia por tê-los vistos


alguma vezes. Sabia de suas procedências estudantis, mas não
foram convidados.

A casa estava com lotação esgotada e por mais que os acadêmicos


tentassem convencer seu Carlos de obsequiar seus intentos, o pai
em viés rápido e definitivo fechou a porta da casa cortando suas
vozes que, foram definhando com o som das músicas de Ray
Conniff.

A festa só acabou ao amanhecer, numa deferência especial de


419
nossos amigos e vizinhos que partilhavam conosco da
comemoração. Foram dias seguidos amealhando comentários
elogiosos a festa dessa debutante.
BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBbbb

O tempo rege os destinos das pessoas na medida que evoluem as


tecnologias, a sociedade respingada de valores remanescentemente
diferentes, talvez, por avanços, mudam seus comportamentos não só
na parte social, mas na própria concepção de vida e da vida.

Essa alternância resgata um pouco a razoabilidade


comportamental das famílias, seus lazeres e comemorações.
420

Mas, esse não foi o motivo da comemoração dos quinze anos da


Masinha em nossa residência, muito menos aquinhoada do que
a Ruth.

1966, era um dos anos, em que os momentos infelizes que


vivíamos, responderam por essas alterações de procedimentos.

Dinheiro curtíssimo e um festival de brigas e desarmonias


imperavam em nossa casa, entre nossos pais, tendo-nos, os filhos,
como participantes coadjuvantes desse drama real.

Ela foi, de uma simplicidade franciscana, mas sem nenhuma


dúvida, com os mesmos sentimentos de amor de toda a família,
ou mais, pelas circunstâncias emocionais e sentimentais do
ensejo.
Eu não diria festa, mas uma pequena comemoração, para não
passar em branco essa data metafórica, porque a mamãe jamais
deixaria de marcar esse instante com um sinal imemorável para a
debutante.

Da Bolotinha, como eu a chamava, ou Bolota, consoante o senso de


carinho merecedor na oportunidade.

Foi em casa, realmente só a família, dona Lisete, sua madrinha e


vizinha, e o Fernando, para abraçá-la, beijá-la e lhe passar o enorme
amor que tínhamos pela aniversariante.

Foi uma comemoração solidária, carinhosa, meiga e inesquecível.


Enfim, ela merecia muito mais.

421

Assim mesmo, o ambiente foi contagiado por esse clima, com as


músicas da atualidade, assumindo salutarmente os ares de uma
festividade.

O clima era de alegria. Apesar de tudo.

Na hora aprazada, reunimo-nos em torno da mesa ornada com


uma toalha de labirinto branco, ante um bolo fofo, de confecção
caseira.

E, cantamos o tradicional, “parabéns para você”, em sua


homenagem,
Então, a par dessa particularidade, ele, o Neném, diretor de uma
estatal estadual, Seproce, promove um novo encontro como se
aquele anterior, não fora o suficiente para a importância da data.

Foi no Iate Clube de Fortaleza, clube seleto da alta sociedade de


Fortaleza, um jantar burguês, contando com as presenças das
amigas mais chegadas da aniversariante do colégio e familiares.

A vista panorâmica do mar, a sua quietude e o vento silente naquela


noite, quebrada somente quando ondas de pequenas ousadias se
esvaiam delicadamente na areia, foi motivo de comentários e até
untadas como homenagem à debutante.
A noite estava linda.

Pouquíssimos amigos do Neném compareceram, só aqueles ultras,


porque o objetivo era celebrar, com um grupo de amigas para,
422 depois, arredondarem os comentários finais que sempre levam a
tipos de gozações, gerando harmonia e contentamento.
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

Um deles, o Aderbal Magalhães Aguiar, queridíssimo amigo da


família e, maior ainda para o Rubem.
423

Companheiro inseparável onde a confiança e a lealdade, se


revezavam no maior ritmo de integridade e dignidade.

Conversavam e discutiam os problemas familiares mais


particulares e privados, dos casais e suas convivências.

O Aderbal tinha problemas de relacionamento com a esposa e


sempre o Neném era os ouvidos para os seus desabafos e
soluções domiciliares.

Ainda, era nosso parente e o seu pai Wilebaldo Aguiar, meu


padrinho de batismo. Sua esposa, dona Maria uma angélica
pessoa.
Existem momentos que precisamos de um ombro amigo, confiável,
que seja duro nas afirmações e resoluções viáveis e não aqueles que
sempre tentam contemporizar o inadiável e invisíveis aos olhos.

Eram partícipes da mesma banca de advocacia que perdura até hoje


com os trabalhos jurídicos dos filhos Rubem, o Eurico e Daniel
Abitbol.

424
FFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF

A folia terminou, mas o festival de ingenuidade do Seu Carlos, não.


Paraense, não era muito habituado as lides esportivas, mas levado
pelo entusiasmo de um jogo do Clube do Remo, de Belém, seu time
de coração com o Ceará Sporting levou-me ao Presidente Vargas
para assisti-lo.

No ardor das emoções e dos embates travados pelos atletas


litigantes, inesperadamente, o Remo abre o placar com um gol do
centroavante Quiba.

Ele afoita e incontinenti levantou-se, ergueu os braços e gritou,


exclusivamente, goolllll. e levou sonora, mas educada vaia. Eu, o
garoto, já mais maduro que o pai em futebol, só fiz sorrir e,
envergonhado, esperei pela virada do alvinegro que aconteceu.
Essa foi a sua despedida dos estádios. Nunca mais foi a um jogo.
Mas os filhos que herdaram a brasilidade do futebol e o amor aos
esportes, sucederam-no de forma inequívoca e avassaladora
fazendo história nas redondezas e periferias de Fortaleza.

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

Pelo visto a casa já tinha sido comprada pelo casal já a alguns anos,
e sua venda deu-se quando perdemos a esperança de aquisição por
parte do Banco Central do Brasil, que construía sua sede na equina
com a Dom Manuel,

O Banco chegara a adquirir por um bom valor de mercado os dois


imóveis contíguos a seu prédio. e a nossa passou a ser seu vizinho.
425 Mas não houve ofertas.

Os filhos, então, alugam uma excelente casa na Rua Ana Bilhar, no


bairro do Meireles, nas proximidades do Náutico Atlético Cearense e
da Beira Mar. E não esqueceu de levar o cachorrinho chamado de
Tozinho ou Tostão, não me recordo qual deles. Mas era chato, por
vezes.

Mas o longo percurso de vida que faço, e do alto dessa prerrogativa,


compreendo bem, os momentos difíceis que a família superou,
averbando situações que jamais as esqueceremos.

A família fechou questão em apoio incondicional, em torno de


nossa mãe, mas, também, nunca procurou obstaculizar ou opor a
quaisquer benesses que de alguma maneira viesse a prejudicar a
sua nova vida
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
LLLLL

Hoje, vizinho ao prédio do Banco Central do Brasil, onde aconteceu


um dos maiores assaltos a Banco no Brasil, em ......, e
conseguiram subtrair dos cofres bancários aproximadamente R$
168.000.000,00, em notas com vivencia no mercado..

Saliente-se o grau de tecnologia e ousadia desses bandidos ao


perfurarem um túnel de uma casa na Av. 25 de Março e interiorizar-
se num túnel elaborado argamassado e cimento, luzes e ar
condicionado. Atravessando a av. Dom Manuel.

Posicionando-se ao seu final exatamente onde estava o principal


426 Blindado dos numerários guardados em artes e reservas bancários.

As filmadoras desligadas não detectam nada. Alarme não nenhum foi


acionado. E, num final de semana entre a n noite de sexta feira e
meio dia de domingo conseguiram seu objetivo com louvores.

As polícias civis, militar do estado e federal foram assim acionadas,


mas muito pouco desse monte foi recuperado como assim também o
número de seus chefes e mentores. É um breve histórico, apenas,
para ilustrar um m mundialmente relatado. acionada

DIA A DIA
FARMÁCIA

Isso na era da ditadura era prato cheio e o papai jejuou n


vintenário poder dos militares e políticos da Arena.

427

WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
ESTADO DE ISRAEL

1. FATOS HISTÓRICOS

29.11.1947– o brasileiro Osvaldo Aranha presidiu a sessão


da Organização das Nações Unidas que aprovou a
Resolução da ONU, em Assembleia Geral, recomendando a
adesão e implementação do Plano de Partilha da Palestina.

14.05.1948 – a Declaração da Independência do Estado de


Israel, do Mandato Britânico, foi lida por David Ben-Gurion,
Presidente da Agência Judaica para a Palestina que declarou o
estabelecimento de um Estado Judeu, em Eretz, Israel.
O Estado de Israel, proclamou-se como um estado judeu e
democrático, no regime de República Parlamentarista, tendo
uma área pequena de 20.770 km2, com clima seco e uma
população atual de 9.069.960 habitantes.

O Estado de Israel é 7 (sete) vezes menor que o Estado do


Ceará e sua população é equivalente à desse Estado. ital. de
Israel é Jerusalém embora não reconhecida pela ONU, é o
local sagrado das três principais religiões monoteístas –
Cristianismo, Islamismo e Judaísmo.

Telavive, por vezes, é referida como a capital de fato de Israel


e reconhecida internacionalmente e pela ONU.A Moeda
nacional é o Shekel klocal, e sua unidade é equivalente no
Câmbio de Mercado Comercial e do Turismo, em relação à
moeda Brasileira, tem a paridade de R$ 1,74 reais.

428 O IDH - índice de Desenvolvimento Humano é de 0,906,


considerado um dos mais altos do mundo.

97% (noventa e sete por cento) dos israelenses são


alfabetizados.

A expectativa de vida é de 81 anos.

POTENCIAL HÍDRICO

O seu potencial hidráulico era extremamente insuficiente para o


abastecimento de sua população inicial, que daria em extensão
415,40 h/km2 do seu território, o equivalente a 2% dois por
cento)

O Estado adotou severas políticas de contenção de consumo


de água ao tempo que desenvolvia projetos de irrigação de
águas para as suas necessidades básicas, principalmente,
para a agricultura e indústria.
Em 1964, a Mekorot, a Transportadora Nacional de Águas de
Israel, concluía o traslado de água doce do extenso Lago
Kineret, do Norte até o Sul, cujo clima é muito seco.

Esse Lago, conhecido como Mar da Galileia transbordou no


dia 13.04.2020, devido a uma forte ondulação. O fenômeno
não acontecia há cerca de 300 anos.

De acordo com a tradição judaica é o lugar onde vários


discípulos de jesus pescavam e local onde Cristo acalmou
a tempestade e onde ele andou sobre as águas.

3. INDICADORES DO SETOR

1.170 mcm – água disponível naturalmente (chuvas)

2.030 mcm – demanda de água.

429 91% - esgoto coletado de águas residuais

80% - reuso

54% - água de agricultura é reciclada.

11% - média de perda de água no país.

70% - água de uso doméstico vem de dessalinização.

2.030 mcm – demanda de água

As águas do saneamento básico são destinadas para as


residências fato que reflete a baixa taxa de mortalidade de 5
(cinco) para cada 1.000 (mil) nascidos vivos.

Segundo o Coordenador do Mekorot- Companhia Nacional de


Água, o problema em Israel é cultural, e no Brasil é de uma
cultura de abundância. E, quando você dessalinizada, você
está reconhecendo o fracasso da gestão hídrica no País.
4. SEGURANÇA NACIONAL.

MOSSAD –

O serviço secreto israelense é considerado o mais terrível do


mundo e ficou conhecido por suas operações especiais durante
a Guerra dos Seis dias. Criado por sugestão de Bem Gurion,
em 13.09.1949.

430

MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

PERSONALIDADE HISTÓRICA PARA O ESTADO DE


ISRAEL

Osvaldo Euclides de Sousa Aranha, nasceu em Alegrete


(RS), Brasil, em 15.02.1894 e faleceu no Rio de Janeiro em
27.01.1960. Foi uma figura extraordinária no cenário político e
diplomático do Brasil e do mundo.

Sua trajetória no cenário internacional foi marcada por sua luta


pela criação do Estado de Israel, ao fazer “lobby” pela criação
do Estado como Chefe da Delegação Brasileira à ONU e
Presidente da Assembleia Geral, em 1947.

Ele foi Presidente da Primeira Sessão Especial da ONU


durante a votação da UNGA, Resolução 181 sobre o “Plano de
Partição das Nações Unidas para a Palestina” na qual adiou a
votação por três dias para garantir a sua aprovação.

Em Israel o clima era tenso e toda a população ouvia a


transmissão da Sessão através dos rádios, nem sempre com
sons audíveis, acompanhando as eleições que foi lida voto a
voto por Aranha.

Ao final totalizando 33 (trinta e três) votos a favor, 13 (treze)


contra, 10 (dez) abstenções e 1 (um) país ausente, a votação
foi encerrada e proclamada a Partilha da Palestina na forma da
Resolução 181 da UNGA.
431
Fato que rendeu a Osvaldo Aranha eternas gratidões dos
Judeus e Sionistas por sua atuação.

Entre as homenagens que os Judeus lhe atribuíram estão os


nomes de Ruas em Telvive, em Besebá localizada no Campus
da Universidade Ben-Gurionn e uma Avenida na cidade de
Ramal Gan. Em Jerusalém uma Praça central e uma Placa “in
memoriam”.

Por seus esforços na situação Palestina, foi indicado para o


Prêmio Nobel da Paz em 1948.

Foi embaixador do Brasil nos EEUU, em Washington e amigo


do Presidente Franklin Delano Roosevelt.

Na Segunda Guerra Mundial, defendeu a Aliança com os


Estados Unidos em oposição aos Chefes Militares brasileiros,
capitaneados pelo Ministro da Guerra Marechal Eurico Gaspar
Dutra, que eram partidários de uma aproximação com a
Alemanha.

Em 1960, quando do seu falecimento o féretro foi


acompanhado por milhares de pessoas e teve o Presidente
Juscelino Kubitscheck de Oliveira como um dos que seguraram
as alças de seu esquife mortuário.

Entrou no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”, do Brasil,


pela Lei nº 13.991, de 17.04.2020.

Abriu a tradição do Brasil para presidir às sessões inaugurais


da Assembleia Geral da ONU, anualmente, e foi um tributo em
sua homenagem e uma honraria ao Brasil.

Amigo fiel de Getúlio Dornelles Vargas exerceu os mais


diversos e importantes cargos públicos sempre com o apoio
432
incondicional do Presidente.

UUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU

A personalidade, assim como as digitais, tem raízes profundas


nascidas de berço e subjugadas à majestade do tempo, o
senhor do universo.

A mamãe era uma pessoa brilhante em tudo que fazia.

Seu amor era o maior do mundo, os seus cuidados e carinhos


não poderiam existir iguais, sua vaidade era tão feminina e
perfeccionista que as deusas mitológicas, certamente ousariam
pedi-la emprestada essa virtude.
Sua energia não dava descanso ao cansaço, e persistia até a
exaustão. Seus erros eram assumidos como reflexões para um
futuro próximo, mas não aceitava por nenhuma hipótese, a
traição. Não era vulnerável nesse aspecto.

Era eterna em tudo que fazia.

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmMMMMMMMMM

Certa vez, já eneagenária saíra à pracinha para dar uma


caminhada, angariar um sol e movimentar suas pernas. As
filhas, Ruth e Masinha a acompanhava,

mais lépidas mantinham distância a sua frente e ela,


solenemente, com pose de atleta experiente caminhava
devagar no trote que lhe convinha a idade.
433
De repente, uma cerâmica alçada da calçada deu-lhe um
tombo que a levou ao chão.

Não teve forças para se levantar sozinha. Não titubeou,


esgueirando-se suavemente no chão alcançou rápida uma fro

ndosa árvore com uma sombra iluminada a socorrê-la dessa


maldita situação.

O que lhe atormentava naquele momento não era, certamente,


seus joelhos feridos, mas o seu orgulho mais golpeado que a
patela.

A sua vaidade fala mais alta. E ela permanece sentada na


sombra refrescante a esperar, tranquilamente, que as meninas
por lá passassem.
Aí travou-se, mais ou menos o diálogo, fácil de ser trilhado. A
Ruth, pasma, pergunta, mamãe o que foi isso?

E as duas filhas já alçando-a, quando ela pediu calma, e dando


suas mãos ao encontro das mãos das meninas, só em pé,
responde: levei um tombo e caí.

Preferi, então, dar uma descansada aqui na sombra. E


sorrindo, questionou, podemos continuar?

Simples assim.

SSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

A Ruth e a Masinha ficaram preocupadas, mas logo entenderam que


tudo estava bem.

A Amarela é que estava inquieta, por conta de sintomáticos sinais de


434
pediculoses na Tatiana e Yuri.

Nada, porém, grave, apenas intolerantes, chatos e sugadores de


sangue e da paciência de seus detentores. Ela já sabia como tratar
essa enfermidade, na época uma calamidade pública no Brasil.

Já lhes ocorreram antes, mas pelo visto não os foram tratados


adequadamente. O Haroldo sugeriu, então, um Kwell nº1, este era o
da última terapia que não surtira efeito. A seguir, a Claudia opinou
pelo Keltrina, mais popular e eficiente, segundo ela, mas já sido
objeto de uso.

A Masinha, sempre atenciosa, propôs o Deltalab loção, incrivelmente


este, também, não resolvera o caso. Os três reuniram-se, em equipe
para sanar definitivamente essa enfermidade. Optaram por um
produto novo no mercado e revolucionário, como diziam outros, a
Ivermectina.

Melhorou muito, mas não o suficiente para acabar com essa raça
intolerante de pastores capilares. Novamente, o grupo encontra-se e,
comenta, não estarem entendendo essa condição tão resistente, pois
este remédio acaba até com a corona vírus, disse um cientista amigo
quando consultado.

A Ruth já desesperada e o Ivan destemperado com esses piolhos e


lêndeas, achava que os matava com gritos. Não é bem assim. Os
meninos é que ficaram assustados pensando que era com eles.

Todos os dias a Amarela e o Ivan se revezavam na passagem do


pente fino nas lindas madeixas dos seus filhos. Caíam à vontade, nos
colos de seus pais.
435

E eram mortos sequiosamente e com justas e inauditas raivas, com


as unhas dos dedos polegares, e algumas habilidades e
experiências. Para uns era importante, ouvir o estalar dos
indesejáveis parasitários de peles e coros cabeludos, para outros
nem tanto. Só acreditavam vendo.

Uma colega da Faculdade, deu a Ruth uma dica boa e insuperável,


afirmando, que outra amiga, amiga dos seus filhos e colegas dos
filhos na escola, lhe dissera, que realizara um tratamento com
Detefon, de preferência à noite, em três ou quatro barifadas, e
alcançara grandes êxitos, com desvios para melhoras em 3 pontos
percentuais e para excelentes performances, em 4 pontos.
Ela e o Ivan analisaram a sugestão da colega, amparados em dados
estimados e estatísticos, de fontes fidedignas e aprovaram o seu
tratamento, por 30 dias.

O Ivan comprou logo dois barifadores, um para o Yuri e outro para a


Tatiana, que por precaução, reversavam com ele e a Amarela. As
toucas que se faziam necessárias para o acobertamento capilar,
foram logo adquiridas, no Mercantil São José.

O Detefon entra em ação. Os dias passam e os pais cumpriam


religiosamente a terapêutica planejada. Todos os dias procediam a
uma análise da evolução da terapia.

Não estavam muito satisfeitos com os resultados, obtidos até então.


Um ponderou com o outro, agora que só são onze dias e tu já
esperas que tenham morridos todos eles? Não, não é assim, vamos
436
prosseguir.

Com vinte dias ainda encontravam resistências desses parasitas.

A Ruth totalmente desnorteada falou, agora é comigo, pegou os


meninos pelos cabelos, que nada tinham a ver com isso, e enfiou a
cabeça dos dois na banheira da casa, com bastante água e por
vários momentos, lavando e esfregando com sabão pavão.

Depois temperou os cabelos das crianças, com bastante vinagre,


esfregava bastante e deixava escorrer na banheira, uma, duas até
três vezes e a seguir teve o cuidado e o carinho de lhes colocar a
touca.

Colocou-os para dormir, o que os fizeram, rapidamente, pois,


estavam tontos com o cheiro embriagador dos ácidos,
acompanhados de odores fumegantes de uns carvões
queimados, como se estivessem nas fogueiras de São João.

O Ivan e a Ruth passaram a noite insones, se virando e se


mexendo, talvez pensando nos piolhos, igualmente, inebriados e
dançantes esperando as suas fatalidades.

Realmente e graças a Deus, o sucesso foi absoluto, e quando, ainda


ao alvorecer do dia ela foi, apressada, aos quartos dos meninos e
juntinhos, lhes tirou as toucas.

O Chão ficou totalmente decorado como se tivesse sido colocado um


tapete persa, preto, aveludado e mau cheiroso

Quando encaminhados aos banheiros, para um reconfortante e


merecedor banho, com shampoos e condicionadores, foram correndo
437
e viram nas passagens milhares de amigos capilares se despedindo
e despencando ao piso negritude de suas façanhas.

A alegria foi contagiante e comunicada de imediato aos médicos e


amigos. O Ivan até pensou em patentear a fórmula e o modo de usar,
mas reconsiderando, com bom senso, ele utilizaria marcas já
registradas como o sabão e o vinagre,

Mas foi um emérito propagador dessa sensacional fórmula da família


Abitbol.

Nunca mais tiveram essas amizades parasitárias, de cafunés e


coceirinhas gostosas, e houve quem dissesse que os seus filhos,
vizinhos, só com o odor exarado pela fórmula detectou e finalizou
muitos parasitas chatos.
Essa história aparentemente fantasiosa é absolutamente verídica, em
seus fatos e pessoas, o que fizemos foi dar uma roupagem nova,
numa direção competente de um enredo interessante que me
lembra o cineasta Haroldo Rolim.

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmMMMMM

Mas, esse não foi o único caso de pediculose na família, e que nos
trouxe vexames. A Masinha quando esteve no Rio de Janeiro, em
conluios com a Ruth e o Ivan ficaram hospedados no belo
apartamento da tia Alegria.

Estava sentada na confortável cama do quarto, muito à vontade e a


Ruth passando o pente fino nos seus cabelos, antes, ornados
como se fora um rabo de cavalo, de tão bem feito e bonito que se
julgava uma crina original.
438

A Ruth ao lado, espantada e temerosa que alguém aparecesse e


flagrasse a constrangedora cena.

Parasitários capilares caíam, em demasia, sendo em sua maioria


lêndeas e uns piolhos de estimações A Ruth sem dó, nem a isso
respeitava, era só os estalando nas unhas dos polegares, mostrando
as cores encarnadas do pastoril.

A toalha sobre as pernas da Masinha já guardava alguns exemplares


de boa linhagem e engorda. O pano estava de cor mulata.

Por isso, talvez, ao adentrar no quarto, a tia Alegria, pasma e


assustada, exclamou, sem maldades, mas com uma perplexidade
inusitada, meu Deus, que foi isso, pelo amor de Deus!
A Ruth, com mais maturidade explicou-lhe que ela estava em
tratamento final dessa doença e por isso a safra era farta. A tia
orientou-a continuar o tratamento por mais alguns dias até o final da
colheita.

Ideia aceita, aliviadamente. Passou a tomar três banhos diários, para


não ser reincidente em público, pois assim, ficava na privada.

Único receio que a preocupava, agora, era o cachorrinho querido da


tia, que se manifestava em vários movimentos buscando o rabo
para coçá-lo. E lambia as patinhas tratadas e alvejadas com
cremes e loções perfumados.

Mas, irreverente, a tia sugeriu-lhe usar cabelos curtinhos, bem a


moda na temporada calorenta no Sudeste.

439
Mas dava tempo para voltar e chegar em Fortaleza, sem maiores
problemas. Não tivemos retorno desse histórico, e nem
perguntamos.

A viagem, em si foi rica, também, em passeios, divertimentos e de


um real acontecimento mundial, assistiram o 1º Rock in Rio, com a
apresentação impressionante e inesquecível, dos Quens, e sua lenda
maior, Fred Mercury.

Foram à Petrópolis, na chácara da família, um espetáculo e


desfrutaram dos passeios às praias, Pão de Açúcar e o Cristo
Redentor.

São com os erros que se aprendem a viver, diz o ditado popular, e


é a pura verdade. Mas, tenha cuidado, não contribua e nem os
apague de sua memória, pois assim, deletaria toda a sabedoria
adquirida, e em uso no seu presente.

Não que as meninas tivessem errados, nas narrativas acima, mas foi
uma lembrança que surgiu e que acredito piamente, termo, este,
que a mamãe gostava de utilizar, frequentemente.

RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR

Na semana santa, do ano de 1975, estava em casa, na avenida


Desembargador Moreira, num Edifício de quatro andares, sem
elevador, e estudava para umas provas sequenciadas a partir da
segunda-feira.

Estava aproveitando esses dias para me preparar a esses exames.


Comendo, um saboroso milho cozido. Levantei-me para descansar,
440
um pouco, desses exaustivos estudos e me dirigi a janela da sala
que dava para a rua, e consequentemente a calçada onde guardava
o carro. Era a minha garagem. Não tinha outra.

Ao deparar-me, com o semblante da avenida percebi, que alguém


me parecia estar dentro do meu automóvel, o sol tirava um pouco da
nitidez, pois seu foco atingia em cheio o para-brisa e obstaculizava a
total visibilidade de seu interior.

Chamei a Claudia que confirmou o que imaginara, furioso e


inexplicavelmente, joguei o sabugo com milhos, ainda, com toda a
minha força contra o para-brisa. E danei-me a descer as escadas
numa carreira desenfreada.

O ladrão alertado pelo sabugo, naturalmente, começou a dar marcha


à ré, no carro até ir a contra mão, do outro lado da avenida, num
grande risco em colidir, em outros. Ainda toquei no veículo, sem
nexo.

E sob gritos, apupos e palavrões liberei minha raiva pelo acontecido.


Mas, deu sorte e fugiu dobrando na Avenida Antônio Sales, e
rumando em sentido da UNIFOR.

Fiquei desarvorado, subia as escadas do prédio quando me deparei


com meu amigo e vizinho, José Leite Jucá, irmão do Joaquim, colega
de colégio.
Ao tomar conhecimento, ele radialista de amplos amizades no meio,
telefonou para todas as rádios, citandos os fatos e solicitando
informações, e fornecia o número do telefone para contato.

Já fizera muito, mas resolveu-me chamar para, no seu fusquinha


imos atrás dos ladrões, ainda refutei, lembrando-lhe que não
441 sabíamos por onde eles andavam.

Mas ele estava decidido, e fui. O Zé era quase cego, e usava uns
óculos de graus de fundo de garrafas, dobrou a Antônio Sales e
saiu voando como soubesse que, os larápios estivessem bem
pertinho e tivéssemos pressa, em surpreendê-los e dar-lhes um
flagrante.

Quanto mais andava, maior a velocidade imprimida e curvas,


efetuadas a direita e a esquerda, e o meu medo aumentava a cada
segundo, na medida que encostava os óculos e a cara, no para-brisa,
abraçado na direção.

Dizia, Zé, vamos para a casa e ligar para a Polícia, fazer um B.O., e
nada. Continuava, era iminente um acidente, juro por Deus, que só
não aconteceu porque o dia era feriado e na época eram poucos os
carros, em Fortaleza.
Lamentei muito mais ter ido com o Zé, do que o próprio roubo da
Belina. Depois de quase uma hora de rondas infrutíferas, reconheceu
a inviabilidade de procurar o veículo e seus gatunos.

Chegamos em paz e agradecido fiquei por seu empenho e amizade.


No dia seguinte uns policiais, me ligaram e disseram tê-lo encontrado
no Bairro do Planalto Alvorada.

Pegamos, eu e a Claudia, um táxi e fomos até casa de seu Waldir,


seu pai que nos emprestou um carro. E fomos perguntando, a um e a
outros e depois de algum tempo, encontramos o carro e os dois
guarda que disseram estar ali para garantir a sua entrega.

Estava com as quatro portas abertas, e de nossos pertences, apenas


a toca fita, estava ausente, que comprara a poucos dias. Sem
442
importância, no momento.

Não esqueci de gratificá-los bem, e agradecidos nos ensinaram um


caminho mais fácil para voltar.

Após, a semana santa e o término das provas, convidei o José Leite


e esposa para jantarmos, uma peixada, na Peixada do Meio, onde o
eterno sobralense, Zé Maria nos conhecia de longas datas e nos
oferecia todo o conforto, agilidade, presteza. e seu doce e fraterno
sorriso.

Saudades, do tempo que comíamos muito e barato e ainda bebíamos


um caldo grosso e saboroso do peixe, como antepasto, de graça e a
vontade.
Conversando, contei-lhe da minha covardia a seu lado, no fusquinha,
ele riu muito. Era amigo de longas datas, pois morou na Dom
Manuel, vizinho da dona Nídia, minha professora de alfabetização.
YYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY

O Ivan Régis sempre foi uma figura diferente, no trabalho, em casa,


onde estivesse. Tinha uma sina que lhe floreavam os pés, que aonde
andava ou passava deixava suas marcas. Seu rastro eficiente. Não
estou tratando de odores, e sim de trabalho.

Coisa séria, a fiscalização da Receita Federal, em Manaus, onde é


focada a Zona Franca. É verdade, que se foram os tempos das suas
gloriosas importâncias para os consumidores, pessoas físicas. Na
aquisição de importados fabricados no Brasil.

As vigilâncias fiscais eram severas, exatamente por sua atuação em


443
pontos estratégicos contra os descaminhos de mercadorias ou
truques e enganações para vencer a Receita.

Dessa vez, ela respondeu com o Ivan, para Manaus. Quando ele
soube de sua indicação, com a antecedência de 20 dias, investiu em
estudos sigilosos e outros pormenores importantes. Era um
funcionário exemplar e tido como durão.

Na sua presunção um bom investigador ou fiscal teria que ter uma


cara de mau, compatível a função, faz sentido, mas isso, ele não
tinha. Mas nem por isso, o fez desanimar, da ideia que ia lhe
favorecer, disse-me ele um dia.

Deixou o cabelo, bigode a barba crescerem e não os penteou até


retornar à Fortaleza. Banho só de três em três dias e as roupas
teriam que ser limpas, mas amassadas e grandes.
Era uma jura e ia cumprir com dignidade, como sempre o fizera, mais
essa missão.

E lá estava, na capital marajoara, de supetão, feito um pittybull, feio,


mas simpático, nas suas autoritárias e honestas medidas. Sabia que
a austeridade e o cão de guarda da Receita, andavam sempre juntos,
e paralelos.

Criou fama na fiscalização no Aeroporto ......., não por excessos, mas


pelo cumprimento fiel de suas normas e preceitos, que as conhecia
muito bem.

Via gente quando se aproximava dele passar para a outra fila, e não
entendia bem o porquê dessas alternativas. Mas, isso era permitido.

444
Cansado daqueles pelos e com a temperatura alta da cidade,
resolvera fazer a limpeza geral. Raspou tudo e cortou os cabelos na
moda. Os colegas logo notaram e falaram, que elegância, bonito e
brincando diziam, “parece até ceroto”, suores que escorriam
pelos pescoços.

Estava na fiscalização quando chegaram, duas madames e uma


comentava com a outra, tivemos sorte, hoje aquele terror barbudo,
deve estar de folga, não o vi.

O Ivan sacara a conversa delas e foi, solenemente, proceder a


fiscalização, quando complementaram, “Graças a Deus, que
pegamos o senhor, pois nos falaram tanto de um terror, um
barbudo”.
Ele ficou sério e perguntou-lhes o que levavam no pacote,
razoavelmente, grande e disseram no mesmo lapso de tempo, um
jogo de porcelana, tradicional, de 12 peças, ao todo.

Pediu, para abri-lo, como contumaz se faz e verificou o engano, das


senhoras, ao contar exatamente, o dobro, 24 itens dos
conjuntos.

Deu-lhes, então, duas opções, pagar o imposto da segunda unidade


do conjunto ou deixá-lo, para apreensão e posterior leilão.

Resolveram pagar o tributo, e dialogaram, entre si, diminuiu muito o


lucro, mas dá para ganhar, ainda, alguma coisa.

A enganação, a corrupção, no Brasil, generalizada, está impregnada


na sua cultura, e quase sempre começam com a de seus princípios.
445

Para sermos honestos, primeiro, não nos enganemos, a si mesmo.


Porque, os outros não se enganarão com você.

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

A mamãe dizia que o Ruy era sonso, pelo fato de seus planos e sua
vida pregressa e social, só dizerem respeito a ele, não compartilhava
com os de casa, só tomávamos conhecimento de suas
consequências.

Desde criança. Fazia as coisas

. Era o seu jeito.


A traquinagem, astúcias e ousadias estavam na verve da família.
Ele era o primogênito e sinalizou cedo o grau dessa periculosidade,
por vezes.

Aos aproximados, doze anos já olhava as meninas, como aqueles


conquistadores bandeirantes, desbravadores dos tempos modernos.

E disso não dava satisfação, só motivos para proezas, nem sempre


as melhores. Ia e voltava a pé, com o Nenem, para as aulas na dona
Ernestina de Castro. Senhora até demais, diziam uns.

Conhecedor profundo e sempre minucioso, detalhista, calculista e


pesquisador, de todos os obscurantismos de um bonde, sua
velocidade, diâmetros de suas rodas, horários e os condutores. Até
hoje é assim.

446
Com essas metodologias e a tendência generalizada de se
apresentar as meninas, se sobressaía, ante os demais colegas, mais
cautelosos e assanhava as gurias estudantis.

Ele era cri-cri, ou cricri, como queira, mas era de qualquer jeito.
Para as pessoas que não são do meu tempo, nem sei se consta no
dicionário, mas fazia parte do nosso, diariamente, era a pessoa que
dava importância exagerada a tudo, perfeccionista e minucioso. Às
vezes, pluralizava, cri-cris. Ele. era demais.

Era um assíduo e irresponsável, bochecheiro de bondes. As


meninas o via com visões diferenciadas dos demais, como se fora
um circense embrionário.

Porém, cada um tem seu dia, e naquele era o seu. Ao tentar


dependurar-se no bonde elétrico, acionado por alças aéreas que
eram conectadas aos cabos dos bondes, tropeçou nos seus
esguichos e foi deportado dele. Caiu na rua, nua e crua

Queda feia, mas não se machucou o suficiente para levantar-se ,


rapidamente. Situação vexatória, mas contornável pela dificuldade do
número.

Todos em silêncio, respeitaram a caída e lhe foram apresentar


solidariedades. Agradeceu, disse que estava bom para outra. Quase
se lascou, essa é realidade, daqueles que pegavam, bochechas.

Mesmo, assim, as alunas, em frente da sua escola, cuja professora


era a dona Diva, igualmente competente, que dividia as opiniões dos
pais circunvizinhos, sobre a melhor alfabetizadora, lhe foram também
desejar boa sorte.

447
Não era bem assim, que esperava do feito, mas de todo não foi tão
mau. E procurou, convergir seus olhares, distribuindo-os, igualmente,
a todas, para suas apreciações.

Há uns dez anos atrás, falando sobre esse fato, complementou-me


dizendo, que todas as linhas de bondes elétricos, em Fortaleza,
foram fechadas em 19.05.1947, pela Light, sua administradora e
proprietária da concessão, por problemas energéticos, ocorridos no
norte e nordeste do país.

As linhas que nos serviam como transportes, vinham de Parangaba,


passavam pela Visconde do Rio Branco, e iam até a Pessoa Anta e
voltavam.

A outra linha, que utilizávamos, concluía o percurso, da anterior,


prosseguindo pela mesma rua até a praia de Iracema. Existiam,
outras, porém, para bairros periféricos e o Centro, na Praça do
Ferreira.

YYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY

Intercalando histórias, pensei, não há arrependimento na vida,


apenas lições a aprender e pôr em práticas. A vida, na sua
cristalina obsessão pelo tempo, não nos dá o direito do
arrependimento, ao que for praticado de forma consciente e brutal.

A não ser, se houver uma compreensão excepcional em


espiritualidade, no perdão. Nem assim, retrocedo. Não é o dinheiro,
bens patrimoniais ou indenizações morais ou penalidades a cumprir
em presídios, que apague, supra esses arrependimentos, porque
neste caso o indiciado fora beneficiado por outros meios, mesmo
penando, e não pela sua consciência.
448

O prejuízo, é sempre irreversível. E o arrependimento não o


repara. Pois, se fora acidental, não precisa nem de arrependimento,
mas, apenas, de lamentos e misericórdias. Nada há de voltar a ser
o mesmo, no futuro.

Não sei se ela, a vida, está certa ou mesmo eu, no que disse, se
estou. Fica, para cada um, a sua razoabilidade, no seu
arrazoado.
Acidentes ou crimes, para as vítimas, são inesperados e indesejados,
mas fazem parte de nossas vidas. Não há céu sem tempestades,
nem caminhos sem acidentes, ou percursos sem acontecimentos,
vacos.
Vou narrar um dos fatos mais chocantes de minha infância, cotidiana,
vivaz e bela. Mas triste em momentos que chorei de dor e tristeza,
revoltado.

Era ainda criança, mas esses sentimentos nascem com a gente,


junto com o caráter e a ética, não se adquirem e muito menos se
compram. É como o amor, se conquista.

Não existem pessoas feias, essa avaliação presencial é pura vaidade


estética ou escultural, o que devemos amar é o invisível. O oculto,
que só na convivência, no retrospecto histórico de sua personalidade
nos permitem ajuizar a sua beleza interna.

É o que mais importa.

O resto, é querer soltar linhas para a freguesia, que não tem nada
449
a fazer. A vida é sua e para ela deve ser vivida, junta ou só. Não
faz muita diferença. A maior importância e razão da vida, É SER
FELIZ.

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

E, o Moysés, o Moita era um menino pretinho, pobre, mas de uma


nobreza ímpar. Nosso amigo de coração, jogava conosco nas
peladas de rua da Dom Manuel. Bola de meia, ainda.

Vadio, danado, ousado, como nós todos. A desigualdade, se é que


fôssemos vasculhar as hipóteses, só poderiam estar bem escondidas
num saco vazio de mantimentos em sua casa. Passavam
necessidades.
Mas conosco dividíamos, igualmente, quaisquer iguarias. Era querido
por todos. Nós “pesquisávamos” o sítio da dona Francina, por dentro
de nossas casas, pulando o muro contíguo para pegar algumas
frutas, com especialidades as seriguelas.

O Moita, já gostava das mangas e cajus do Sítio do Capitão Paulo,


na vinte de cinco de março, onde hoje é a CDL. Este senhor, era um
idoso, católico praticante e todos os dias frequentava as missas, na
Igreja do Coração de Jesus.

Nós só o conhecíamos de nome, não estava no nosso percurso de


traquinagens. Sua propriedade era enorme, com boa casa, muitas
fruteiras e o Rio Pajeú margeando e correndo fino nas sombras
enormes dos cajueiros e mangueiras.

Uma delícia. Era só pular o muro baixo, da rua, longe da casa e


450
pronto a natureza oferecia o que tinha de melhor nessas frutas. O
Moita, era freguês e conhecedor das manias e histórias do Capitão.

Era irredutível, as mangas e cajus apodreciam em seu terreno, mas


não fazia uma doação e não permitia que alguém levasse algumas
para saciar a sua fome.

É, certo de que o Moysés já fora flagrado em altos galhos das


mangueiras, mas era uma ou duas mangas a serem merendadas.

E o capitão passava o dia todo vigiando seu sítio, que além do que a
natureza lhe dera não tinha mais nada. Mas, já era muito, para outras
pessoas.

Ao meio dia, o Moita estava venerando em altíssimos garranchos e já


quase na fronde da árvore, as mangas que lhe serviam de almoço,
quando o capitão aparece como bom atirador do exército executou o
menino com a manga na mão. Ele chegou primeiro ao chão e a
manga sobre seu corpo.

A notícia correu logo. Formaram-se aglomerações, inacreditáveis. Só


não apareceu o apavorado, autor do tiro fatal, que se escafedeu, não
sei aonde, com medo, glória dos covardes.

Nós, seus amigos estávamos lá, presentes, hipotecando as nossas


homenagens e revivendo todos os nossos convívios com els, eram
muitos, os meninos e as histórias. Talvez mais que os adultos,
questão de sentimento, quiçá.

Acobertado, pela patente e por suas posses, foi indiciado, penalizado


anos depois, mas, nunca ficara um dia preso. A justiça, cega voltou a
enxergar, não é para todos, igualitariamente, no Brasil. Ficou,
451
impune.

Diziam, anos posteriores, que morrera também com esse crime


premeditado, por uma manga. Um ser humano, parecido com gente,
disseram outros.

Comentaram, ainda, que abalado com esse triste acontecimento, o


capitão Paulo, a partir de então, começara a morrer, também, entrara
em sucessivas crises de depressões e nunca mais tivera saúde.

Não sei. Era muito pequeno, de grande, mesmo, ficaram a saudade,


a sua figura risonha, querida, preta, com dentes branquinhos e
sorrisos permanentes.
Eu sempre fui metido a fazer as coisas, no futebol como na escrita
me dei razoavelmente bem no colégio, onde aprendi a jogar com os
pés e as mãos.

Inclusive, colocando a bola, como uma caneta entre as pernas do


adversário e recebendo chutes tão fortes, que a bola vinha
diminuindo de tamanho. que parecia uma caneta.

Hoje, penso, entre a bola e a caneta, prefiro guardar os dois. Ficam


as lembranças e saudades.

PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPP

Eu tinha um sonho, plagiando Martin Luther King, ganhar um


realejo e no natal, tornou-se realidade. Já sabia manejá-lo, de outros
colegas, sem soberba e nem sobejos.
452

Tocava algumas melodias curtas e improvisadas, que a mim


satisfazia. Achava lindo. Gostava muito.

Acho que foi influência da música que a mamãe cantava, todo o dia,
e eu a acompanhava assobiando baixinho, querendo, pôr a música,
na letra que cantava. Ela ria e repetia.

Ganhei um. Era um realejo, prateado, simples, mas de uma fluência


sonora que me apetecia. Soprei demais. Treinei muito e não saía
dos meus bolsos. Carregava para todos os cantos. Em breve, já
tocava as melodias de sucessos, do momento.

Não é difícil tirar-lhe um som bonito e harmonioso, mas, porque eu


amo músicas e quando se gosta, tudo fica mais fácil. A imposição é
coisa para ser repensada, nem todos tem o mesmo gosto ou
aptidões. Mas, o importante, acima de tudo é gostar de fazê-lo e
praticar.

Por lembranças e para matar a saudade do passado, pesquisei e


ouvi Orlando Silva, cantando “Velho Realejo”, de Custódio Mesquita
e Sadi Cabral. Essa era a música, que me encantava tanto.

Confesso que chorei. Não sei bem por quê. Lacrimejei, em prantos
contidos, rolando as lágrimas, continuei a escrever e pensei em
minha mãe, pai e irmãos, nos familiares, e me deu vontade de dizer-
lhe, caro leitor, que este livro, não tem nenhum valor literário, para
mim.

Mas em seu caráter de lembranças e saudades, é tudo, e não


deve ser só lido, não vale a pena só isso, mas ser sentido.

453
Porque saudades não significam tristezas, mas um sentimento
inesquecível de alegria, principalmente, quando se associam as
lembranças de um realejo e uma música que marcou a minha
relação com a minha mãe, e cantávamos juntos, o

Velho Realejo.

Naquele bairro afastado


Onde em criança vivias
A remoer melodias
De uma ternura sem par,

Passava todas as tardes


Um realejo risonho...
Passava como meu sonho
O realejo a cantar....
Depois tu partiste
Ficou triste a rua deserta
Na tarde fria e calma
Ouço ainda o realejo a tocar
Ficou a saudade comigo a morar
Tu cantas alegre e o realejo
Parece que chora
Com pena de ti

Ai, que saudade tenho.

TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT

A música marcou fortemente a nossa família. A sua relevância


nos induziu a cantar e a ouvir, diariamente, as rádios e a assistir
454
as maiores expressões de nossos país.

Foi um capítulo, muito importante, entre nós. Passávamos o dia


cantando, junto com a mamãe e amávamos fazê-lo.

A música é a exposição da alma transformada em melodia, com


versos sentimentais, alegres, nostálgicos, de ninar, românticos,
ou até esfuziantes frevos.

Não significa dizer que gostar de uma música seja a sua


realidade, mas nela reconhecer belezas, sonoridades infinitos
desejos, afinidades poéticas, ou alegrias externadas.

Não podemos viver sem a música. Ela, nos acompanha em


todos os momentos, definindo o nosso estado de espírito. No
natal o encantamento é de uma perfeição divina.
Não existem, natais, sem as harpas, humanidades,
fraternidades, e ensejos propícios, para desfazer enganos ou
desavenças. Ela toca fundo o coração de alguém.

Mas, a música no natal é uma constante, a marca mais


impregnada pela beleza da comemoração, porque ela tem
sentimento. Emoção. Mexe com a gente. Nos aproxima de
Cristo, num clima sonoro e divino.

Pode até faltar um presente, mas isso não é a razão de suas


celebrações. O que se comemora nesse dia é o natalício de
Jesus.
O nosso Senhor.

O presente, é importante pelo lado afetivo e da demonstração de


455
apreço, quando se tem condições para tal, agora, não podem
faltar, até porque não tèm custos, o espírito natalino da festa.

Eu sou a favor do presente, já cristalilzado pelo comércio, mas


não é o seu preço que denota ser o amor maior, que outros
ínfimos em sua qualidade.

Mas eles ajudam a perpertuar os sonhos infantis, as


ingenuidades e sonhos das crianças, isso é lindo. Eu sei.

É difícil, identificar a sua música preferida.

É preciso, relembrar no tempo, as suas circunstâncias e se


essas mudaram, então, ficam só na saudade do passado. Sem
som!
Todavia, são amplamente aguardadas, nas comemorações, do
dia das mães é de uma fecundidade ímpar, lírica.

No dia dos namorados, são os amores que se entrelaçam e


fortalecem esse ambiente subjugado a si próprio, pela imensa
satisfação da parceria ou pela compreensão de uma solidão que
ficou, só na lembrança.

A música deveria ser a extensão mais próxima dos vínculos


espirituais, que a torna inesquecível, nos instantes marcantes de
nossas vidas.

A sua parceria nos seduz. Os instrumentos afinados e virtuoses


nos levam ao suspiro, num momento ímpar, que nos atraem.

Se dançadas, na coreografia da vida, traz a encenação de nosso


456
viver, naquela oportunidade. Um tango, um bolero romântico.
uma valsa vienense ou mesma seresteira, é inolvidável, na
imensidão de nossos prazeres.

Se cantadas, refletem sentimentos da vida ou o seu próprio, que


tirados do seu âmago mais interno, os expõem para os ares.
Mexem conosco, inevitavelmente, ninguém fica imune ou isento
desses etéreos instrumentos, vozes e letras que se perpetuam.

FFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF

AI IOIÔ (LINDA FLOR)


Maeques Porto?-Cândido
Costa/Luiz Peixoto-Henrique Vogeler

Ai, ioiô
Eu nasci pra sofrer
Foi olhar pra você
Meus zoinhos fechou
E quando os óio eu abri

Quis gritar, quis fugir


Mas você
Eu não sei por que
Você me chamou

457
Ai ioiô
Tenha pena de mim
Meu Senhor do Bonfim
Pode inté se zangar
E se ele um dia souber
Que você é que é
O ioiô de iaiá

Chorei toda noite, pensei


Nos beijos de amor que te dei
Ioiô, meu benzinho do meu coração
Me leva para casa, me deixa mais não
Chorei toda noite pensei
Nos beijos de amor que te dei
ioiô meu benzinho do meu coração
Me leva para casa, me deixa mais não
ai oi

PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPP
Eu morava vizinho a minha mãe, todo dia bem cedo, ia lá antes
do trabalho. No domingo, levava os meninos e a Claudia.
458
Enquanto, conversávamos os garotos brincavam ou subiam
para a casa do Yuri.

A Rachel, sempre foi bisbilhoteira e nessa manhã, ela procurava


o que fazer na casa da dona Esmeralda. A mamãe nem
imaginava que ela estava a mexer nas suas caixas, bem
guardadas.

Daqui a pouco lá vem ela com um retrato da família, sem a


cabeça do papai. Ela perguntou, vovó cadê a cabeça dele. A
mamãe riu e respondeu, a barata roeu. Vá levar isso e coloque
no mesmo lugar.

Demorou, um tempo e voltou com outra foto também degolada,


e disse, vovó foi a mesma barata???
Foi um barato. Todos riram e entenderam, e ela ficou com a
resposta, apenas, afirmativa e nada mais que isso.

QQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQ
É comum perder-se o bom, a saúde, por querer ser o melhor.
Aconteceu comigo, esse parafraseado, estava de férias do BNB,
459
em Fortaleza e precisei ir à Caixa de Previdência do Banco, a
CAPEF, então no Edifício Santa Lúcia, no Centro.

Saímos de casa, eu e a Claudia, os meninos e os deixei, na casa


da minha sogra, dona Cleny. E segui para a Capef. Parei o carro
no estacionamento, vizinho a Mesbla, onde era mensalista.

Dois quarteirões e já estava subindo ao nono andar do prédio.


Roupa simples e sandálias e solados de couro, estes bem
lisinhos, as chamadas “franciscanas”.

Foi rápido o atendimento, sanei a exigência, e tinha pressa por


algum motivo e a Claudia me esperava. Nesse horário comercial,
das 15,00 horas, naquele Edifício velho, era um eterno problema,
os dois pequenos elevadores não davam conta da demanda.
Resolvi, descer a pé pelas escadas, e à medida que se
aproximava do piso, acelerava mais a velocidade das
franciscanas. Eu era disposto, rápido, mas isso não foi
suficiente para impedir um sobrevõo nos últimos quatro
degraus.

Quando percebí estava nos ares levado pelas franciscanas de


solas lisas que deslizaram, e jogaram-me pra acima e em frente.
Caí sentado no primeiro degrau e o braço que se atrasara no
võo, no segundo, amparando o cotovelo.

Em consequência, desse cenário, na queda o degrau arrancou o


braço da cabeça do ombro. Rolei no chão com uma dor,
estonteante. O meu primeiro raciocínio foi de que quebrara o
braço e não sabia exatamente o local.

460
Fiquei pálido, suava frio, mas permanecia, aparentemente calmo
e com dores incríveis. Fui socorrido pela plateia que a tudo
assistiu e esperava os elevadores, em fila. Perguntaram-me,
estás bem, sentindo alguma coisa?

Naquela hora, esse questionamento, era imbecil, pois a dor não


passava e eu procurava aonde tinha quebrado o braço,
apalpando-o, quando de repente quase, na altura do ombro, os
dedos entraram numa musculara como se estivesse perfurando
um bolo. Macio. Compreendi, o degrau sacou o braço do..............
Era uma luxação. Tinha que colocar o braço no lugar.

Nessas horas, sempre aparece um anjo, um rapaz, novo,


indagou-me o que posso fazer por você, agora. Era coreente, na
assistência. Tomou a iniciativa, sentou-me numa cadeira, pegou
água gelada e deu-me para bebê-la.
Vi que não tinha morrido e que tudo poderia voltar a
normalidade. Falei, leve-me ao estacionamento da Mesbla, é o
suficiente, pois lá o Waldemar, o gerente, levava-me para a casa
da minha sogra.
E a Claudia resolvia a questão.

Ele amparou-me e na esquina ainda comprou uma água mineral


e derramou sobre a minha cabeça. Melhorei. Criei ânimos. Fez o
que prometera. E desapareceu. Não tive nem tempo para
agradecê-lo.

Contei a história para o Lourinho Waldemar e ele me levou à


casa da sogra. De dentro do carro gritei, Claudia, Claudia e ela
vem chegando e falando, poque não desces, ora. Contei-lhe
tudo.
461

As providências foram imediatas e em vinte minutos já estávamos em


atendimento de emergência, com o gratíssimo Dr. Kleper Gaspar,
hoje meu amigo.

Bateu as radiografias, chamou uma anestesista que me aplicou uma


injeção e em segundos a dor desaparecera, até olhei para saber se o
braço ainda estava por lá

Ai, o doutor começou a brincar com meu braço tentando colocá-lo,


meticulosamente, no exato lugar, que dantes ocupara. Engessou-me
até a metade da barriga e braço, com uma carga de peso razoável.

Com vinte dias voltei à Clínica, tudo bem e aliviou-me no peso do


gesso, inclusive fazendo umas entradas de ar quadradinhas, e
disse-me ele, rindo. Ficou bonito, agora.
Agora, aguardar mais uns 10 dias e fazer fisioterapias e voltar a
trabalhar. Fiquei totalmente sarado, sem nenhuma sequela, nem
dores e cheguei a jogar tênis quando me aposentei do Banco.
Um grande médico. Atendeu-me em outras oportunidades, em
tendinites oriundas do tênis, na munheca. Gostava muito de jogar
tênis, corria feito um menino com mais de 55 nos, fazia inveja a
garotos. Fiz boas amizades. Disputei a minha classe, nos torneios
abertos da Federação e apenas uma vez, cheguei a terceira rodada.
E perdi.

462

QQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQ
Sempre viajei pelos estados nordestinos. Todos. Eram férias e
aproveitávamos, do jeito que podíamos. Não faltavam coragem e
nem disposição. Tranquilidade tinha muito.

O que nos faltava era a condição financeira, de levar a família com


mais conforto. A dificuldade maior era realmente a viagem.

Fazíamos o planejamento, reservávamos os hotéis e lá vai a


comitiva. Não importava, o tamanho do carro, se dava ou não para
todos. Encontrávamos uma maneira criativa.
Tinha uma Belina verde, com bagageiro fixado na cobertura, do
veículo. Dessa vez, a programação era ir direto a Recife e na volta,
outros dias em João Pessoa.

A lotação estava completa, eu dirigia o carro, ao meu lado a Claudia


e no banco traseiro Rafael, Marcelo, Rachel e a minha cunhada
Clênia.

A exceção dos meus pés, todos os demais sentiam, o peso da


bagagem de 6 pessoas, com suas trouxas, e acessórios alimentares
para o transcurso da viagem.

O bagageiro, com as malas e outros pertences, aumentava a altura


do carro em pelo menos 60cm, acobertados com lonas e amarrados
com cordas.

463
O carro, ainda era daquele que tinha uma entrada de ar pela
janelinha oblíqua aos assentos. Não entrava ar nenhum. Vidros
abertos e o calor incrível era o tema da viagem. Ar condicionado em
veículo, não sabia, nem, como era possível.

Direção mecânica dura, pesada e eu voando pelas estradas, o vento


querendo frear o veículo, pelo à altura do bagageiro e o peso do
carro.

Mas, nada nos inviabilizava e íamos felizes com os meninos


cantando, a Clênia reclamando dos apertos e dos pulos dos meninos,
mas essa era a condição imposta.

Já tínhamos realizadas iguais proezas e estávamos acostumados.


Sabíamos os postos de combustíveis onde deveríamos parar, o local
das merendas dos meninos, e esticar as pernas, para almoçar em
Natal.

Corríamos contra o tempo, não só o do horário, como o climático e


suas chuvas.

Não descansávamos o suficiente e já estávamos na estrada para


Recife com chegada prevista para à tardinha, por causa dos
engarrafamentos e estradas maus cuidadas.

E chegamos na capital do frevo, com o nosso Waze falador, ou seja,


perguntando aos transeuntes onde ficava a praia de Boa Viagem, e
posteriormente, a rua Sousa Leão, onde ficava o Hotel.

Penamos, mas no começo da noite chegamos nos Navegantes.


Olhamos e gostamos. Desci com a Claudia e fomos checar as
464
reservas.

O jovem balconista não reconheceu a nossa solicitação antecipada


de estadia de acomodação e, esses papeis estavam dentro de uma
mala no bagageiro. Não tinha a menor chance de procurá-los,
naquelas circunstâncias.

Os meninos, cansados e já enfezados, o balconista nos sugeriu


pesquisar em outro Hotel, a cem metros, com o nome, também
marítimo. Pareceu-nos razoável, e fomos até lá.

Quando avistamos o Hotel, de logo, vimos que deveria ter umas dez
estrelas, não poderia ser aquele, falei. Mas, os apuros já nos subiam
à cabeça cansada e suores umedecendo a camisa.
Foi o jeito encarar. Percebi que a entrada era de uma circularidade
linda e paramos em frente, ao recepcionista. Um senhor de fraque e
luvas brancas, nos recebeu e abriu a porta do veículo imundo.
Houvera chovido um pouco.

Ainda tentei fechá-la, numa repentina indecisão, para voltar, ao vê-lo


com essa indumentária, com vergonha da bagagem comprimida e
amarrada no veículo todo sujo de poeira.

Um verdadeiro pau de arara, num ambiente de luxo e sofisticação.


Imaginei, sem comentários, parecemo-nos, uma galinha pedrês e um
galo carijó, num galinheiro doméstico, caseiro. Diferente.

Eu disse Claudia, vamos lá, já estamos aqui. E entramos no Hotel


maravilhoso, todo restaurado e reinaugurado há dez dias, soubemos
depois. Em seus áureos tempos dominantes, na capital maurícia.
465

Era o Mar Hotel, e nos pegou em cheio, as reservas estavam nos


esperando. Coçei a cabeça e falei baixinho, é o jeito, né? É,
respondeu.

E o lorde, do hotel, o recepcionista, pediu a chave e disse-nos para


aguardar nos quartos. A Clênia, desceu e foi logo dizendo, vocês
estão loucos.

Os meninos estavam encantados com tudo aquilo e as piscinas.


Ainda tentamos ajustar para uns cômodos mais baratos, mas
estavam todos ocupados.

Enfim, subimos. Tomamos banhos e fomos logo contabilizar as


diferenças. Estava tranquilo dentro do nosso orçamento de turismo.
Mudamos até o conceito, de nós mesmos, ali seríamos turistas ao
invés de viajantes.

Foi um espetáculo de viagem, essa furada foi sensacionalmente


favorável, para nos aproveitarmos, como nunca fizemos dos
usufrutos de hotéis, em todas as circunstâncias.

As crianças não saíam da piscina, e Recife, cidade que já


conhecíamos por várias vezes, desta, ficou nos aguardando, pois
não nos viu, o Hotel supriu a contento todos os nossos anseios,
principalmente da criançada.

É claro que saímos, mas por poucos tempos e coisas, apenas


necessárias.

Ficamos tristes, no momento do check-out, mas era o acertado.


466
Combinamos ainda, com a gerente, permanecermos, ainda, algumas
horas pós o almoço, e os últimos desfrutes dos guris.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB

Vida boa é de rico, pensei erradamente, pois me referia ao vil mertal


quando exites milionários em outros valores bem mais importantes.

E seguimos para o Tambaú, do paraibano Ariano Suassuna.


Pegamos muito engarrafamento, tanto na saída da cidade, como um
trânsito intenso e vagaroso, na estrada, nesse final de expediente de
trabalho.

Mas João Pessoa era pertinho e lá pelas oito da noite, estávamos na


sua porta.

Entramos na capital, utilizando os mesmos serviços da população


prestativa dos nordestinos, ajudando no encaminhamento à praia de
Tambaú. Já a conhecíamos de outras paragens. Bom Hotel.

Descemos e fomos à Recepção providenciar o check-in. Disseram


que nossos reservas estavam em espera, mas não foram
confirmadas em tempos hábeis.

Lorota do Hotel. A verdade é que a cidade estava cheia de turistas e


de um evento nacional relativo a direitos humanos. Logo no Brasil,
467
vejam.

Nesse horário, e a gente desabrigado. Foi como sair do Céu e estar


no purgatório. No inferno, não, ainda, pois tínhamos a esperança de
encontrar um outro condizente. Fomos orientados pelo recepcionista
e corremos atrás de outro.

Um, dois e tantos outros, todos abarrotados. Promessas para o dia


seguinte. Mas, tínhamos uma noite pela frente e as horas avançaram
rápidas. Voltamos ao Tambaú e nada. Aconselharam-nos procurar
uma Pousadas e deram dicas.

Naquele instante, ainda, uma boa ideia. E fomos atrás desses


alojamentos. Todos, repletos. Estávamos numa enrascada danada.
Preocupados, voltamos ao Tambaú. Implorar, baseado nas reservas
que fizemos e questionamos a lisura do Hotel.
Era o desespero que estava, perto. Incentivaram-nos, então, a
perquirir um bom Motel, tem desses muito melhores que hotéis,
disseram, eles.

Gostei da opinião, pareceu-me um absurdo, entrar, com os meninos,


mas sei lá, no Brasil, naquela situação, era provável. Conversamos
entre nós, os meninos já dormiam no carro.

A Clênia deu escândalo, com essa possibilidade realmente


perceptível, viável, muito mais provável que as anteriores. Mas foi
irredutível, em seu conceito patriarcal, dessa modalidade.

A Claudia e eu tentamos persuadi-la, em vão. Aí é que ficava mais


irritadiça. E insistimos, vamos ficar na rua? No carro ou sentado
numas cadeiras ao relento?
468

Mas nada a demovia desse conceito de motel, mesmo numa situação


crítica, como essa. É só a dormida para descansarmos, amanhã,
teríamos chance no próprio, Tambaú, falara o rapaz.

Dizia, podem ir, fico aqui sozinha, sentada, nem que seja no meio fio,
esperando vocês, mas entrar naquela prostituição, não vou. E ponto
final disse, enraivecida.

Arrependida, de ter dito só isso, complementou, e se eu pegar a


AIDS, o que vou dizer, acreditarão na minha história, e rindo,
terminou, só se eu disser que foi o RUYMAR.

Era o máximo!!!
O que parecia a solução clara, tornou-se quase impossível pelas
suas convicções medievais e cristãs. Aí, complicou, pensei.

Então, entrei no Tambaú e expliquei todos os reveses sofridos, na


noite que já se aproximava do dia seguinte. Ele refletiu, coçou a
cabeça, entrou numa sala e voltou, falando, Oh! o Doutor Paulo
Brossard, Ministro da Justiça na época, do presidente Sarney, saíra
do Hotel, de forma antecipada, a pouco minutos.

Mas, disse ele, o problema é que estava alojado na suíte presidencial


do Hotel, pois até a limpeza é rápida, quase não a usara em virtude,
de suas atividades na programação oficial.

Nessas alturas eu deixava até o carro como garantia e voltávamos de


ônibus se fosse o caso, para banhar os meninos e colocá-los a
dormir. Depois nós. Estávamos exaustos.
469

A Clênia ria, demasiadamente, como se fosse uma vencedora, cuja


persistência e renitência tivessem sido a melhor solução. Deixa para
lá, vamos cair na cama.

Sei nem, que horas acordamos e fomos conhecer direito o


apartamento presidencial. Claro, não poderia ser um quarto comum
de hotel, mas era um exagero, na minha concepção.

Era uma quitinete completa, grande, dois quartos, um para casal,


ambos com suíte e enorme banheira, cozinha, um pequeno escritório
e as naturais varandas para o lindo mar. Bem decorado.

Lembrei-me, ainda bem, que fechamos um acordo, com um bom


desconto para aquela noite, e os outros quatro dias, ao preço de
tabela do Hotel.
Mas, o Rafael amanhecera com febre alta, acho que das estrepolias
de Recife, e passava o tempo todo, praticamente, na banheira do
casal, parecendo-me, tomar banho de piscina, como se assim a
fosse. Doente, mas não perdia tempo. Logo recuperou-se a tempo de
desfrutar da cidade.

Foi um sufoco essa viagem, mas uma das melhores que fizemos por
seus suspenses impressionantes e desfechos espetaculares. Ai, se
todas fossem iguais ....

470

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

Coisa boa é viajar, conhecer coisa novas, costumes diferentes,


culturas interesanres, e a própria natureza trocando de estações, que
não acontecem, na prática, no nordeste, brasileiro.
Fortaleza é uma cidade plana e praticamente ao nível do mar, tem,
normalmente, temperaturas altas e ventiladas por vezes, Pelos
aracatís que nos propiciam algum conforto.

471

VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
Na década de 80, nas férias colegiais de julho, resolvemos aproveitá-
las, em Garanhuns, cidade serrana, de boa altitude, no agreste
pernambucano, em um hotel fazenda, por demais conhecido e
indicados pelos colegas do Banco.
Era o Hotel Tavares Correia, fizemos nossas pesquisas e
consultamos, agentes de viagens para nosso conhecimento, isso,
realmente, era o que queríamos, naquela oportunidade, descanso
para os adultos e entretenimento diferentes para os guris.

Preparamos o Monza, azul metálico, 2.0, e os preparativos de


viagem, os de sempre. A caravana de paus-de-arara, seguia o seu
destino. O time composto pelo casal, os três filhos e a cuidadora
deles, a Célia, interiorana do Ceará.

Chegamos a noitinha, era longa a viagem. Tínhamos reservado as


acomodações, com todo o cuidado, aprende-se, no dia a dia.
Verificamos as dependências do Hotel, novo, simples, mas gostamos
muito. Não esperávamos melhor.

472
Ao lado, um suntuoso, mais antigo prédio, dando sinais de cansaço e
já guardava lembranças do passado, mas ainda em atividade,
pareceu-me.

Fomos fazer a entrada ao Hotel. Tudo cheirando a novo. Ótimo,


percebemos. E qual não foi a nossa surpresa, quando, nos
colocaram no velho edifício da lateral, e alternativo do novo Hotel.

Protestamos, mas, eles disseram que em tempos de lotações plenas,


era normal, para atender a demanda que ficássemos aguardando, a
saída de outros do novo prédio para o acesso daqueles, em “stand-
bye”.

Só, por essa noite e amanhã faremos os remanejamentos de


aposentos, disseram. Cansados. Concordamos. Tudo bem.
Levaram as malas, apetrechos, trouxas e o escambau que
trouxéramos.

Quando entramos, de pronto, um mau cheiro de mofo nos


impregnou. As tábuas do piso longas e soltas faziam uma ruideira
tremenda, e o aspecto geral era de um mundo fantasmagórico,
sinistro.

Os meninos não gostaram e até pediram para voltar. Mas


explicamos-lhe que era só aquela noite.

Os quartos nos passavam a ideia de sujeira e o odor permanente de


mofo nos incomodava, além do aspecto sombrio. Procuramos um
banho e fomos dormir.

A noite foi complicada, esse ambiente lúgubre nos levava aos


473
seriados de fantasmas e os garotos se associaram às essas ideias.

Acordavam e iam para o nosso quarto, de um em um, de quando em


quando. E anoite que espeavamos curta para descanso acabou
transformando-se numa infindável espera para amanhecer o dia.

Todos na cama com a Claudia e eu na rede. Levantamo-nos, cedo,


para o café, mais pregados do que chegáramos. Os garotos também.

E fomos logo conversar com os recepcionistas a postos, no outro


prédio. Ainda bem, estavam atentos para o fato. Entrgamos as
chaves para a remoção das bagagens.

E, agora vamos iniciar essa semana de férias, nos matos e nas


alturas. O mundo mudou a partir desse momento. Fomos passear
pela imensidão territorial que se nos apresentava como lazer.
Ficamos, obviamente, ao derredor próximo do hotel, na piscina que
os garotos amavam. Água fria,muito fria, mas eles quentes demais
para isso.

A Célia passa, então, a ser a protagonista da temporada no hotel.


Com o maiô novo que a Claudia lhe dera, aos seus quatorze anos,
cuidava dos meninos com muitas acuidades e se divertia ainda mais.

Alegre e solícita cuidava de todas as garotadas hospedadas no hotel


e colocava os nossos meninos a brincarem com os outros. E nós só
acompanhando, vendo.
Lembrava-se da hora da merenda dos guris que estava conosco e
dava a cada um o seu o lanche, inclusive o seu. Tinha muita energia,
jogava bola com eles e os demais. Todos os pais estavam gostando
da Célia e a chamavam pelo nome.
474

Não dava nem cartaz para os cuidadores do hotel. Ia ao haras e


pegava os cavalos, trazia-os e colocava os meninos para andarem
em cima do cavalo, as vezes com ela nas rédeas. Os cavalos eram
muitos tranquilos, mais que ela.

Nas charretes, comandava o condutor à direção que queria. Foi um


sucesso. E nós, eu e a Claudia, caminhávamos pelas árvores
frondosas, entre os seus caminhos demarcados pela natureza, face
as pisadas dos hóspedes, em areias limpas e bem cuidadas.

Só faltou ser convidada para trabalhar no hotel, com bom salário.


Foram umas férias frias e cobertas de agasalhos, mas muito quentes
em saudades e lembranças.
VVVVVVVVXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

São tantas as lembranças que Deus me prestigiou com essa idade,


que agradeço todos os dias, rememorando, como se estivesse
vivendo, uma vida, paralela, distinta pela visão da atual realidade.

A anterior, a minha vida verdadeira, foi muito melhor que a sua


reprise, virtual. Viver é melhor que sonhar, canta o genial Belchior,
que conheci, pois fora colega de turma da Claudia e do Haroldo, na
Faculdade de Medicina, do vestibular de 1967.

De Fortaleza, onde nasci e vivi, agradeço, a minha infância invejável,


adolescência e juventude nos anos mais importantes e dourados, do
século passado.

Fluindo pelo rádio, a televisão, o homem pisando à lua e eu quase


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chegando lá, também. De tantas alegrias permanentemente
vivenciadas e de sofrimentos superados.

Alô alô, meu passado, minha cidade era chique, na Lobrás, subia e
descia, na primeira escada rolante da cidade, para deleite e
esperava, para cruzá-la no meio das rolantes, com as meninas
paqueras, equidistantes e colaterais.

As cocotas faziam a nossa festa, com a blusa frente única, roupas


saco, tubinhos, tomara que caia e elastex, cabelos a rabos de
cavalos, crinantes, ou curtinhos como preferisse, e uma meiguice
sem par.

Acompanhávamos a moda, com conhecimentos covardes que


pescávamos, de minhas irmãs e ficava fácil. Calça boca de sino.
Algumas, tão exageradas, que davam para fazer duas apertadinhas,
como eram mais bonitas, diziam os colegas.

Mas, à época e a hipocrisia não permitiam. Contentávamos.

Fazíamos, a Fortaleza. Uma cidade se constrói, com uma juventude


unida e politizada. Conhecíamos tudo, sabíamos aonde moravam as
andorinhas.

Coisas para comprar, quando a mamãe pedia, eram nas


Pernambucanas, Romcy, Mesbla e até nas Esmeralda. Se, clçados,
Sapatarias, Casas Pio, Esquisita, Esquisitinha, Belém. Se roupas.
Ocapana, Abarama, Milano, enfim, o escambau.

Passear no Center Um, o primeiro shopping da cidade, e estudando,


muito, por prazer e obrigação, conjugados. Até o latim.
476

Recreio Clube de Campo era uma viagem com muito verde e salinas
pelo caminho. Mas, ali, onde é hoje, Avenida Sebastião de Abreu
inúmeras salinas da família Diogo, sobressaíam às demais, o sal
brilhava tanto no sol, que a vista escurecia.

Era algo inesquecível, periculoso, insalubre, mas lindo, qual as


pirâmides do Egito, a maior delas, Queops. As de Quefren e
Miquerino, também, eram possíveis, vê-las, sem ir ao Egito.

Cofeco e Sesc, eram colônias de férias, optativas e de bom proveito.


Comidas, as melhores estavam, nas praias, de Iracema e Beira mar,
em seu final, principalmente.

O Bar do Anísio, frequentado pelo grande amigo e cadeirante Claudio


Pereira, Fagner, Fausto Nilo, Belchior, Tetê, Rodger, Ednardo, era o
centro da boemia e dos jovens músicos cearenses que iriam brilhar,
no país inteiro.

O Cirandinha, à noite, na volta das festas, era o ponto preferido, a


Toca do Coelho, no almoço e o jantar no Alfredo, o rei da peixada.

Se, bem que na peixada, eu era consumidor, da vizinha, Peixada do


Meio, cujo garçom, o sobralense, Zé Maria, “soltava” a bandeja para
nos receber. Não se falava inglês, mas se atendia, divinamente.

Às tardes eram preenchidas, em quaisquer dias, nos cines, o filme,


em cartaz, demorava em temporada, mas tínhamos o cuidado de
chegar atrasado, e ainda, comprar mentex ou bombons para as
paqueras e, agradecíamos a gentileza da lanterninha. Era escuro,
mesmo!

477
Os juvenis preferiam, sempre assistir, na parte alta das cadeiras do
cinema, cujas escadarias escuras, causavam tropeços, propositais
ou não, e dizíamos, cuidado para não cair. Era muito interessante.

Não valia um um cibazol, esses frequentadores do Cine São Luís.

Sorvetes aos sábados, à noite na Kibon, era de uma assiduidade


impressionante, onde os meninos, Rafael, Marcelo e Rachel e as
vezes colegas, certamente encontrariam o PJ, Paulo Grdvohl, e seus
pais, nossos amigos.

Aos domingos, geralmente, às tardes íamos à Praça do Vaqueiro, em


frente ao antigo Aeroporto Pinto Martins, e aproveitávamos para
assistir as decolagens e pousos dos aviões da Pannair, da Varig, da
Cruzeiro do Sul ou da Sadia.
Na realidade, a minha linda e querida cidade, sempre ofereceu tudo
com o melhor carinho e segurança para nós. Um abraço, arrochado e
arrodeado, Fortaleza. Obrigado.

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XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Lembro-me da Escola normal, as estudantes de fardas, com saias


vermelhas listradas de branco, em duas faixas, ao seu final, blusas
brancas com o escudo do colégio ao seu bolso, esquerdo.

Ficávamos, no Bangu, próximo ao Colégio a espreita da saída das


colegiais, e, aí nos apresentávamos na frente do estabelecimento,
como não querendo nada e querendo todo nada, que aparecesse.

A nossa turma, dispersa, estava toda lá, e mal nos conhecíamos,


aparentemente. Todos fumando, cigarros entre os dedos e soltando a
fumaça com a tranquilidade de quem pulveriza uma rosa.

Para nós, o cigarro não era um vício, era muito mais que isso, era a
479
afirmação de uma maturidade, de uma característica dos rapazes da
época.

Comprávamos, os cigarros a retalho, em qualquer mercearia, dois ou


três, não poderíamos rertormar com eles para casa. Às vezes, ao
entrar, escondíamos os restantes na varanda para pegá-los na
próxima saída.

Olhávamos as meninas como se fora um galã de hollywood, tal o


convencimento embutido em nossa personalidade de beleza.

Aqueles menos favorecidos nesse critério de estética, não se


entregavam e nem se despiam dessa competição interessante.
Depois as avaliações e os comentários pertinentes.
Chegávamos a dizer, não existe homem feio, o que existe era a
cantada fraca, !!!!!!!!!!

As colegiais correspondiam com sorrisos marotos e os livros e


cadernos presos ao seu encontro, com os braços cruzados.

Era uma estratégia, nossa, a ser seguida, a assiduidade e a


constância desses sorrisos, se repetidos e com olhares brejeiros,
criávamos coragem e a abordava de forma delicada e referenciando
algum elogio.

E o papo continuava, no seu caminho até, praticamente, deixá-la em


casa. Pois, assim, já sabíamos onde morava.

Despedíamo-nos, agradecíamos a sua atenção, desculpávamos por


nossa ousadia, e perguntávamos se no dia seguinte poderíamos
480
voltar a se comunicar, já que encontráramos muitas afinidades entre
nós.

Era da Cartilha de todos nós, esses procedimentos. Com essas


cautelas assumidas, o índice de acerto era de 90%. Os 10%
restantes, mentiam e diziam que já tinham namorados.

Dizíamos, então, muito convictos, não perca essa oportunidade, ela


poderá lhe fazer falta depois.

Éramos, tremendo cara de pau.

E o cigarros acesos com isqueiros zippo ou , fazendo aquele


estalar característico ao fechá-lo, era algo estudado e da moda.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Certa vez, utilizando todas essas técnicas e um pouco de sabedoria
ao falar, sempre cauteloso no respeito, acabei marcando um
encontro com uma colegial, em sua casa, na Rua Dona Leopoldina.

O respeito dá credibilidade e um papo agradável e convincente eram


as de chaves ouro de toda essa tática de abordagem e seguimento
ao planejado.

Nenhum medo externo nos afligia, andávamos tranquilos pela cidade


e aquela área era de nossa jurisdição.

O temor era sempre a expectativa da recepção pelos familiares e a


481
nossa timidez. Eu era muito tímido, mas comecei a trabalhar esse
sentimento retraído, de depreciação de minha imagem.

Com resultados favoráveis foi mais fácil, conter essa ansiedade


temente.

Era conhecido, pelo lero-lero irrefutável e agradável. Audácia e


confiança no taco, são as armas mais precisas para se atingir o alvo.

Mas quem sou eu para falar disso tudo. Sabia disso tudo, mas tinha
pouco munição. Tive que ralar muito. Faz parte da paquera.

E compareci, no horário certo, toquei a campainha. Ela veio, muito


sorridente.
Morava com o tio. Era do interior, da cidade de Umirim e deixei-a a
falar de sua cidade, açude, igrejas, pracinhas, missas e de estudos.

Também, falei de mim, disse que a pouco tempo estava trabalhando


no Banco do Nordeste.

E ela, emendou, dizendo que seu tio também era servidor do BNB.

Não me disse o nome e nem perguntei. Não queria nem saber quem
era. Mas, isso, me inquietou, será o meu chefe? pensei. Não tem
nada a ver, refleti, comigo mesmo. O que dirá, sei lá, não me
agradou muito esse fato.

Cadeiras no jardim da casa, pequena, em sentido inversos, olho no


olho, como antigamente. Estava para chegar, disse-me ela. E isso,
tão simples e corriqueiro, mexeu comigo, talvez por ainda ser novato
482
no BNB.

Daqui a pouco para uma camioneta. Ela disse, tranquila, é meu tio.
E, eu, é agora. Abre-se o portãoinho, da casa e eu de costa, quando
o famoso tio chega e dirige-se a nós, pressenti isso, fiquei
apavorado, não sei por quê.

Ele achegou-se e quando virei o rosto, instintivamente, ele gritou, és


tu, Ruyma Abitbol...

Suspirei de alívio, era o Adauto Leitão, nosso funcionário e contínuo


concursado, que trabalhava na nossa sala. Era o maior gozador de
todos nós, do Banco.
Brincou, fez hora comigo e disse ser um prazer ter-me em sua casa,
mas, falou, olhe que ela é a minha sobrinha e eu sou o responsável
por ela e saiu rindo.

Foi um namoro semanal. Acho que ela entrara em férias. Mas, o


Adauto, todos os dias no Banco, tirava sarro comigo, e perguntava ao
Assis, sabes quem estava lá em casa ontem, aboletado nas minhas
cadeiras, com a minha sobrinha?? Ria e olhava para mim apontando
o indicador.

Grande figura o Adauto, gente muito fina e um ser precioso como


amigo.

Desse fato, me lembro muito mais pelo Adauto e as circunstâncias


temerosas que me afligiram, sem nenhuma razão.

483
Se não tens nada a temer, tens medo de quê?
SSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
Anos depois, não muitos, a Amarela se preparava para se casar.
Expressivamente detalhista, e com um gosto acurado, foi a própria
decoradora do apartamento que alugaram, na avenida
Desembargador Moreira, frontal, a Igreja de São Vicente de Paula.

Comprara uma geladeira de cor vermelha, a predominante na


ornamentação da cozinha. Acertara a sua entrega com o vendedor
da loja e lá estava, na hora aprazada para recebê-la. Enfim, chegou.

Subiram as escadas, não tinha elevador, e a colocara no lugar que


484
lhe fora designada. O fretista desincumbindo-se de sua obrigação,
desceu rapidinho e foi embora.

A Ruth ao examiná-la, avermelhou-se, e ficou instigada pela dúvida


de que o rapaz não instalara a geladeira. Ficou chateada e
prontamente achegou-se ao Orelhão da esquina e ligou para o
vendedor, explicando-lhe a situação e mostrando seu desagrado pelo
não funcionamento.

Este, ouviu atenciosamente a reclamação e perguntou-lhe, na


parede, atrás da geladeira, tem uma tomada, ela respondeu, sim. E o
refrigerador tem um fio preto, longo e na sua ponta tem uma tomada
elétrica para encaixe, sim, tem.
Até então ela não estava entendo nada, e nem o motivo de tantas
perguntas bestas e sem nexos, foi quando ele disse, senhora
segure o fio e enfie na tomada.

A geladeira fez aquele barulhinho característico de funcionamento e


ela acordou do sonho que estava prestes a casar-se. Só assim é
possível compreender tal lapso de memória, de uma catedrática da
Universidade Federal do Ceará.

Acho que nem chegou a agradecer ao nobre e atencioso funcionário


da loja, estava morrendo de vergonha!!
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

Felicidade é achar que todos tem razão, independentemente da


sua.

485
A vida segue e nós é que corremos atrás dela, se não ficamos.

O Ivan, também pensa assim até hoje e acertadamente. Não se


importa com comentários que só a ele interessa e produz efeitos.
Não devemos dar muitos créditos a outros, que não sabem a real
situação de um vexame trágico e cômico.

Isso aconteceu. Quando o papai faleceu, a família uniu-se em forças


e em Deus para reverenciar a sua memória sem considerar a razão
de fatos.

O Ivan, prestativo, compareceu ao velório e auxiliou a preparação do


corpo do seu sogro. Em velório, a família contrita, orava e rezava por
sua alma. Mãos postas. Dedos entrelaçados. Flores e aquele odor de
ternura e dor, um pouco ativo.
Permaneceu em pé, calado, olhando firmemente e
condescendentemente, importunado pelo cheiro das rosas, a sua
alergia crônica se fez presente de tal forma que não deu tempo
para colocar sua mão à boca para impedir um espirro forte e
estridente.

Imediatamente, percebeu que junto, também, lhe fora o pivô


central de seus dentes e caíra sobre o corpo do sogro. Sentiu a
falta do dente incisivo, e a abertura que deixara.

Pensou célere e decidiu que, assim não podia ficar, perder um


dente e ganhar uma brecha. Não era justo.

Passou segundos a procurá-lo, visualmente, quando, alçando seus


olhos as mãos do falecido o viram entre os seus dedos. Não teve
dúvidas, não iria perdê-lo e respeitosamente curvando-se em sinal
486
de respeito pegou o dente e o trouxe em suas mãos.

Mas, alguém lhe perguntara sobre o que estava acontecendo e ele


respondeu, prontamente que ajustara melhor os dedos.

Saiu silente, foi ao banheiro e reposto o dente em seu lugar original


e apropriado, voltou sorridente.
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

487
Temos que enfrentar conjunturas inesperadas e sabê-las
solucionar com racionalidade.

O mundo tem dessas coisas. Mas, o importante é ser feliz, e uma


festa entre amigos sempre é de bom alvitre. Principalmente, quando
se trata em casa de familiares. Era o aniversário do sogro da Tatiana,
filha de olhos verdes do Ivan.

O aniversariante, personagem imponente na sociedade agregava na


oportunidade, inúmeros convidados, em sua bela residência, onde
destacava-se o gramado verde e esfuziante.

O Ivan e a Ruth, naturalmente, compareceram para prestigiar o genro


e compartilhar dessa amizade familiar. Todos sentados à mesa no
gramado, ao som de belas melodias que soavam, divinamente, aos
ouvidos solícitos dos presentes,
O Ivan, sempre cheio de amigos, já juntara sua mesa à dos colegas e
brindavam o aniversariante com muitas conversas e boas bebidas.
Cercados de garçons por todos os lados, era realmente uma noite
muita festiva.

Mas, nem tudo sai a contento como desejamos. Muito por culpa do
próprio que não tomara as providencias e as previdências
necessárias e oportunas.

Em um, momento, de muitas conversas, risos e alegrias o velho


instinto da alergia, nessas horas, volta a atacá-lo. E, ao ouvir uma
premente e inesperada jocosidade, deu uma gargalhada acima dos
decibéis, permitidos em celebrações da estirpe, mais uma vez, a
porteira abriu-se e o dente pivô voou longe.

488
Este mesmo que já fora o pivô de outras ocorrências e vexames,
volta a importuná-lo com a mesma ousadia.

Situação aflitiva e, circunstancialmente, de difícil resgate face as


embrenhas e entranhas das gramas e a pouca luminosidade da lua.
Mas, isso não eram, o suficiente para fazê-lo desistir de seu intento,
de buscar o dente voador.

Se usasse máscara, não teria sido contaminado por esses ares


infestados e compartilhados pelo gramado, levando-o a espirros
alérgicos e dramaticamente, em horas inconvenientes.

Olhou triste para o gramado e agora é que notara que estava escuro
e neblinada, era o orvalho da noite.
Fechou-se em ouros, e imaginou procurar uma suposta medalhinha
do metal, que caíra ocasionalmente do pulso, pensara, se alguém lhe
peguntasse algo. E, não teve conversa, ajoelhou-se na grama e
começou a perquirir a santinha.

Os demais mesários, intrigados e curiosos perguntaram-lhe o que


procurava,

Assim ajoelhado, respondeu, Nossa Senhora de Aparecida, quero


dizer, uma medalhinha dela que sumiu do meu pulso.

Os amigos, em solidariedade, se posicionaram da mesma forma,


mas, o sortudo foi mesmo o Ivan que, quando viu o dente, gritou,
achei a medalhinha.

Houve amigos, que exclamaram foi um milagre, que o Ivan


489
concordou, pelas vissicitudes.

Depois ficou com medo, pois, nessas horas, tem sempre um “espírito
de porco”, curioso que diz, cadê,... mostra,.. como se quisesse
avaliar o prejuízo.

Passado o susto desse entrevero, foi ao banheiro e lembrando-se de


um passado recente, lavou com sabonete e o colocou no lugar que,
habitualmente, já se acostumara a fazer.

Pôs o pivô no local central, dos dentes incisos e, saiu mais uma rindo
e cantando: meu Deus do o Ceu que palpite infeliz, salve, salve...
490

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
Essa é uma das minhas músicas preferidas, do meu companheiro de
sempre, o Noel. Não teve uma vida fácil desde o nascimento, mas
colocou em cena um talento que o tornou gênio. Não pelas suas
dificuldades, mas pelas suas superações. E trabalho.

Todas as coisas da vida são difíceis, antes de se tornarem fáceis.


A essência disso tudo, em sua maioria, é o trabalho incessante, o
talento e a devoção.

O que me faz transitar nesse caminho filosófico é que não sendo


escritor, essa minha dedicação, insistência, em recordar esses fatos
de um passado longo, entremeados de dissabores, bem ou maus
resolvidos, mas, com racionalidade.
Muitas alegrias e emoções sentidas, dá-me a felicidade de trazer
de volta e compartilhar com os nossos atores familiares uma
vida que transcendeu, certamente, as nossas expectativas.

Superamos os problemas adversos que nos deixaram cicatrizes,


mas, curadas abrimos as portas da felicidade, que ainda prospera.

Aqui não existem coisas boas ou más, bobas ou facetas literalmente


importantes, o que há na realidade, são lembranças de todos,
saudades de tudo, que uma união familiar nos deu.

Então, continuemos a passear nas vias da recordação.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
A Masinha, não sei se pela criação adocicada por nós, tornou-se uma
celebridade em nossos meios, por seus voos de pensamento onde
491
mentalizava uma coisa, e de tão contrita ou emocionada profanava a
ideia e a transformava numa insensatez.

Ela tomara conhecimento do falecimento do pai, de uma de suas


melhores amigas do colégio. Reuniram-se, as amigas, após as aulas
e foram até o velório do genitor da colega.

Entraram, muita gente na sala, já famintas esperaram o momento


adequado para lhe prestar, a solidariedade merecida. O ombro amigo
da amizade.

A garota enlutada reconhecendo as meninas, a elas se dirigiu e foi


abraçada demoradamente por cada uma delas. A Masinha, de uma
sensibilidade grande e já emocionada, com os olhos lacrimejante
abraçou a querida colega e disse-lhe, Parabéns.
A sua locução não tinha a marcha à ré, e teve mesmo que se
desculpar da colega que entendeu a sua distração, enquanto as
demais amigas não puderam conter-se e, riram em altos sons, de
diferentes frequências.

Agora, penso eu, qual o dano maior o dela ou das amigas, quando
os presentes voltaram os olhos às elas reprovando o ato,
tacitamente.

Ela chegou em casa apreensiva, e comentou o fato com a mamãe,


que pensativa ficou, sem lhe responder de pronto, aconselhando-a
logo a seguir, dizendo que achava melhor esquecer o assunto.

Enquanto a mamãe ficou condoída, nós os ouvintes morríamos de


rir. Vejam só que interessante, a mesma história com um final de
492
consequências totalmente diferentes.

Não foi bem assim a interpretação da cena, na verdade, a mamãe


ficou dolorida da Masinha e nós caçoamos do enredo.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
A dona Esmeralda estava em todas, com suas expressões faciais
que a levariam com certeza ao estrelato. O seu sorriso, variava entre
o cômico e o sério. O posicionamento bucal lateral com a cabeça
balançando, uma repreensão severa.

Seus olhos, não tinham limites em parceria com suas sobrancelhas,


seus olhares de soslaios eram um sorriso visual e seus olhos fixos
encimados, pelos sobre cílios arqueados, eram sintomas de uma
falta grave que merecia punição.
Fomos todos comemorar seu aniversário, no Sítio Xodó, do Neném.
Local aprazível, agradável em sua simplicidade e espumante em
chopes e iguarias festivas. Tira gosto a vontade.

O trivial era o nosso prato preferido, resquício de uma singeleza do


qual nunca nos dissociara o paladar do seu preço, do que é bom e
do que é caro. Eram apenas modestos, sem nomes franceses, mas
gostosos como os de nossos passados.

O dia estava assim. Sempre foi assim. Simples, alegre, brejeiro e


espirituoso. A mamãe adorava muito mais a nossa presença coletiva
e massiva, do que a celebração em si. Ficava acanhada no momento
dos Parabéns.

Mas, ficava feliz, muito feliz, com seus olhos irradiando a


luminosidade de uma felicidade. E nós, mais ainda.
493

Era um almoço, e desde cedo estávamos lá para aproveitar o que


temos de melhor, a nossa unidade fraternal e um amor materno que
nunca esquecemos.

Feijão, arroz, macarrão, saladas, sobremesas, um churrasco ardendo


em fogo os seus carvões e o tempo escoando para o seu término.
Pelas duas da tarde, pediu para voltar ao seu cantinho, como
costumava se referir a sua casa.

Vontade satisfeita na hora, o Ivan, a Ruth e as crianças a levaram.


Ela não gostava de dar trabalho ou de incomodar ninguém, era uma
presunção de vida. Por menor que fosse, foi no banco traseiro para
manter o casal a frente.
Prestativa e cooperativa, prontificou-se a segurar no colo o R.O.,
que coube ao Ivan. Ficou entulhada de marmitas maus fechadas.
Mas, em quarenta e cinco minutos, estaria em casa desfrutando de
uma rede fresquinha do nordeste.

Tudo transcorria normalmente e já se cronometrava em um minuto a


sua chegada ao ninho. Faltava só uma curva, como se diz na
Fórmula 1. Sinal verde, dando-lhe a preferência da curva que dá
acesso à Av. Dom Manuel.

Eis que de repente, inopinadamente, um distraído ou irresponsável,


avançou o sinal e colidiu violentamente com a lateral do veículo do
Ivan.

Ele não sabe até hoje se o carro rodopiou em si mesmo ou se girou


em círculos maiores ou menores. Essa não era mais a dúvida. O
494
carro parara.

Com o impacto gritos angustiantes foram ouvidos, enquanto as


marmitas voavam em profusão devolvendo aos assentos e a mamãe
toda a sua carga alimentícia.

A mamãe ficou coberta de comida e o macarrão lhe deu a


preferência de seus cabelos, talvez por acharem similares.

A mamãe agitada, gritava com os macarrões nas mãos pensando


que eram seus miolos, Oh, meu Deus, os meus miolos estão
saindo pela cabeça, atordoada que só um rato quans ver um gto
saltando-le em cima.
Foi difícil convencê-la de que se tratava, apenas, do macarrão
talharim, da fábrica Fortaleza. Pensei que o mundo ia se acabar.
Ainda estou rodando.

O Ivan e a Ruth desceram irados e se dirigiram ao agressor, que os


golpeara com tamanho violência, e de imediato, o motorista interveio
e foi pedindo desculpas e, se justificando, com os velhos chavões
característicos desses momentos, foi uma distração, não se bate de
propósitos e outros.

A Ruth, falou, ainda, que tinha uma senhora idosa, dentro do carro
em referência a mamãe e ele retrucou, eu não vi nem o carro quanto
menos a senhora que estava dentro.

O infrator, pediu-lhes desculpas e acionou o seguro para cobrir os


danos do veículo sinistrado.
495

E tudo acabou bem, dos males o menor.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

O Ivan sempre se imaginou guia turístico. Vez ou outra, organizava


excursões familiares as mais insípidas, mas para os turistas era o
melhor passeio do mundo. Nesta, seu planejamento e estruturação
vararam os dois meses.
Assim, os manos Neném, Ruth e Masinha acompanhados, como
sempre da mamãe, dos cônjuges e filhos, lá estavam para um
passeio à cidade de Maracanaú, distante de Fortaleza, 21 km.

Iam de trem.

O terminal, Prof. João Felipe, na Praça da Estação, logo às 7,00 h da


manhã, conforme a programação, já recebia os entusiasmados
viajantes excursionistas.

Comprados os tíquetes de passagem, cada um, inclusive as


crianças, fizeram questão de o apresentar ao recepcionista para que
ele perfurasse, danificando com um círculo furado pela autenticadora
manual do profissional.

496
Entraram, naquelas Maria Fumaça que agonizavam suas máquinas
nos trilhos, movidos pela força energética de seus vapores. A
garotada acessou correndo os seus corredores e, logo, se sentou
nas poltronas de madeira, do lado da janela.

O transporte era comercial, e passagem de segunda classe para não


onerar os custos do final de semana, era um domingo. Poucos
operários e os caravaneiros.

Como bagagem, gêneros alimentícios, diferentes dos que levava


diariamente, agora, apenas, frutas, farofa, baião de dois, e um frango
assado e refrigerantes a vontade.

A gurizada empolgada não sabia exatamente o que fazer, gritava e


corria dentro do trem ou subia nos bancos reversos do trem,
posicionando-se ao inverso, sob os olhares alegres de seus pais,
Pelas janelas, colocavam seus rostos para sentir o frescor de um
vento a uma velocidade média de 25 Km/h. Aquele harmonioso som,
permanentemente igual, era predominante, no rolamento de suas
rodas nos trilhos e de uma musicalidade inexplicável.

Para alguns irritantes, outros dormiam aos tons dessa teimosa


parcimônia e idênticas clavas.

A mamãe não perdia um lance das crianças e permanentemente, os


olhava, como cuidando de seus filhos. Eram os netos, Tatiana, Yuri,
Rubem Jr, Eurico, Daniel, Ticiane, Thirza e a Fanny.

O trem percorria seus últimos quilômetros e as mães resolveram dar


um lanche para diminuir a fome do almoço. Uma beleza, ficaram
todos contentes.
497

Começou a emitir um som de frenagem e uns espirros intermitentes,


até parar.

Todos levantaram-se e foram passear, conhecer a cidade.


Compraram logo os ingressos de volta e comeram o resto que
sobrara dos lanches.
Andaram para lá, para cá e logo não tinham mais nada para fazer.
Então, foram conhecer o nada, consoante o informativo turístico.

O Guia turístico tinha razão o objetivo era o passeio do trem e não a


cidade.

Retornaram ao trem que já os esperava, chegara um pouco


adiantado, coisa que não acontecia a alguns meses, segundo o
maquinista. Deu sorte.
A volta, sempre, nos parece ser mais rápida e já nos
aproximávamos de Messejana, com uma precisão inestimável.
Salientou o guia, o Ivan. A meninada com o mesmo embalo da ida.
Uma maravilha de passeio.

Eis que de repente, o trem começou a balançar e a tropeçar em


seus próprios trilhos, e seguindo em frente, com a frenagem ligada
provocou um clima de pânico em todos os passageiros que torciam
e gritavam para que não virasse.

Demorou, talvez um minuto, nesse barulho infernal e gerou uma


tensão em que todos se contorciam num equilíbrio admirável.
Mas, parou.

Todos queriam sair ao mesmo tempo, pela mesma porta e


498
procurando seus meninos apavorados. Cada mãe e pai
apossados de seus filhos, desceram aliviados. Graças a Deus,
suspiraram.

E Chegaram a iniciar um papo sobre a probabilidade de um


acidente de maiores proporções quando, sentiram a falta da
dona Esmeralda.

Cadê mamãe, quem viu e ninguém, respondia.

Outro sufoco. Mas, faz parte, por vezes de animado e bem


organizado programa de passeio tornar-se, um interessante e
inesquecível momento de angústias.

Cada um olhava para o outro e perguntava, cadê a mamãe??


Voltaram ao trem, no vagão em que estavam e em outros,
gritando em alto e bom som, dona Esmeralda, ..mamãe.. e nada.
O que fazer, chegaram a olhar embaixo do trem, quem sabe,
nesses instantes...

Procuraram na pracinha e nem sabia dela.

Mas, aí a clarividência de um guia turístico, competente e


experiente faz a diferença: olha pela janela e vê um vulto azul
escuro, parecendo andar bastante apressado, em caminho
paralelo aos trilhos, no sentido de Fortaleza.

A mamãe estava com um vestido dessa tonalidade, era uma boa


pista, desceram do trem e saíram em carreira para ganhar
espaço e se aproximar do alvo.

À medida que corriam, mais se tinha confiança que era um bom


499
rastro a ser seguido. Em determinado, momento, tiveram a
certeza de que era ela, sim, e gritaram, unissonantes, todos,
coisa rara, nessas ocasiões.

Parecia mais um foguete azul em direção a capital.

E passaram a gritar mais, pelo nome da mamãe que dava sinais


que nada ouvia e ficavam cada vez mais perto, até que ela olhou
pra trás sem parar, talvez medindo a distância, mas aí foi
alcançada.

Todos esbaforidos perguntaram, simultaneamente, o que ela


fazia ali e pra onde ia, ela explicou que se viu, só, saíra pela
porta que dava acesso aos entremeios dos trilhos e seguia em
frente para Fortaleza, sua casa.
Os manos, explicara, ali mesmo, que o trem, apenas
descarilhara e que voltariam, no próximo em quarenta minutos.
A mamãe refugou a ideia e disse que preferia ir a pé que retornar
a esse andarilho monótono, e inconsequente e que já estava
chegando em Fortaleza em meia hora.

Estava renitente e chegaram a um acordo, para regressar de


taxi.
Sob o comando ilustrado do Guia, a vinda foi tranquila e
animada na rememoração desse passeio que lhes tornaram
histórico.

500

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
A Ruth, e o Ivan com sua experiência turística, fazia a diferença
numa viagem a New York, pois conhecia minimamente todos os
segredos de um passeio, a segurança do casal e de seus pertences.
Era bom viajar com ele.

Estavam num hotel, perto da Broadway, onde se apresentava uma


teatral que gostariam muito de assisti-la. Tinha seu início marcado
para às 21:00 horas.

Lá pelas quatro da tarde, aprontou-se e foi a pé à bilheteria do Teatro


para fazer as aquisições dos ingressos. Dólares à mão, numa cédula
de U$ 100,00. Dava o suficiente.

Não encontrou fila e encaminhou-se ao guichê. Foi informado que os


ingressos estavam esgotados, mas em outros locais de eventuais
vendas, talvez, pudesse encontrar, ainda.
501

Ao sair do teatro, foi abordado por vendedores ambulantes e por


outros ofertadores de peças, que lhe entregavam os papéis de outras
encenações, que estavam em cartaz, também, nas proximidades.
Recebeu e ficou com oitos dessas oferendas para a escolha.

Mas não desistira de sua preferida.

A sua decisão, em princípio, era buscar os da peça que escolhera


com a Ruth. Andou mais alguns quarteirões e chegou ao local
desejado.

Dirigiu-se a bilheteria e lá, estavam à venda os tíquetes do


espetáculo. Pediu dois e procurou a nota de cem dólares que levara,
para pagá-los.
Revirou os bolsos, procurou na pochete que estava na altura do tórax
e nada, e foi-se aperreando, levantou a blusa, nada, balançou as
pernas esperando um milagre, enfim, conscientizou-se que a
perdera.

Explicou com gestos a situação, pediu com os dedos a reserva


desses. ingressos, enquanto ia pegar o dinheiro. Ok? exclamou. A
funcionária, em português, reponde, está certo. Espero. O Ivan
saiu rindo, de si, mesmo, enfim uma alegria entre as tristezas.

Saiu cabisbaixo, mas não vencido, ia voltar ao hotel, mas, não antes,
todavia, verificar nas lixeiras que passara na ida e jogara os
pedacinhos dos papéis que lhes tinham sido entregues.

Sei lá, tudo pode acontecer, e deu uma de gari visitando e metendo
as mãos e a cara, em cada uma delas. Eram altas e tinham que se
502
alçar o corpo e nela ficar pendurado para ir até o fundo.

Duas, três e quatro foram escracaviadas e zero acerto. A cada uma,


nova esperança, parece até que estava adivinhando.

Em frente, a quinta lixeira a ser vistoriada, uma multidão de negros,


pulavam, dançavam, mostravam cartazes e exibiam de formas
acintosas cartazes com dizeres relativas a essa magnitude festeiras,
numa frenética explosão de alegria e energia contagiante. O
ambiente era convidativo.

Mas esse não era o seu o objetivo, já vendo a verdinha em seus


sonhos. Repetiu a triagem, já com a vivência das anteriores
revistadas.
Pulou na lixeira como um gato, e com a ânsia de um alimento
financeiro e as mãos ágeis começaram a debulhar todos os papeis ali
depositados. Sob os olhares curiosos da plateia fumegante e muita
alegria. Nem isso percebeu.

Em dado momento, visualizou uma bola de papeis parecida com as


que tinha em mãos a pouco tempo atrás, saltitou ainda mais e
esforçou-se para pegá-la no fundo da lixeira. Foi uma posição
profissional em matéria de garis. Teve sucesso, alcançou-a e a
trouxe, para si.

Conseguindo retirar sua cabeça que estava a meio metro na lixeira,


retornou ao frescor e ao cheiro da civilização e rapidamente teve a
certeza quedos boletos de propaganda eram aqueles, mas não viu
de pronto, a protagonista da história.

503
Milésimos de segundos entre a apreensão e a provável felicidade,
investiu com garra para desatarraxar os papeis bastantes amassados
e ligeiramente úmidos, em função de algum produto difuso nela
colocada como lixo.

Abriu o pacote. Era um presente de Noel, a verdinha lhe aguardava


escondidinha no meio dos papeis de segurança. Vibrou
intensamente, deu urros de vitória, e merecidos, diga-se de
passagem.

Mas, isso não passara despercebidos pelos carnavalescos


esfuziantes do movimento, e agora, a Ruth e o Ivan se aproximaram
deles e entraram na folia com todo gás e movimentos carnavalescos.
Ambos, pressentiram alguma novidade, em um momento, é que as
câmeras de televisões se postaram, adequadamente, para registrar
aquele acontecimento.

E não tiveram dúvidas, aumentaram a pressão do gás e partiram


para cima dos cinegrafistas e mostraram como se dança um frevo
pernambucano.

Fez sucesso e as câmeras os focaram com preferência e ai, foi que


eles se empolgaram, levantavam os dedos polegares,
afirmativamente e o V da vitória foi bastante comemorativo e
apreciado pelos cinegrafistas.

Já satisfeitos com o clipe, e com hora marcado para as nove no


teatro, iam retornar ao apartamento, quando o Ivan teve uma ideia
infeliz, e a curiosidade nem sempre é benéfica e perguntaram o
504
motivo de tantas euforias, e muitos responderam, prontamente, é
segunda Parada Gay, de New York e vamos sair na Tv.

Bons conhecedores de músicas internacionais e brasileiras, mas não


se deram conta que, constantemente, quando a onda de efeminação
minorava, tocava “I will survive”, o hino internacional dos gays e,
nessa passaram em branco, e preferiram ver a coisa preta, mesmo.

Estavam muito satisfeitos para se preocuparem, com essa


repercussão. Foi até bom, balançaram os esqueletos, encontraram a
verdinha de George Washington, saíram nas televisões como
expoentes máximos do movimento, e ainda, iam ao teatro, na peça
que queriam. Uma tarde consagradora, fora do planejamento do guia
turístico.
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
A imaginação do Ivan Régis é muito fértil, principalmente, quando se
diz respeito a passeios, brincadeiras e divertimentos. Para isso não
mede consequências e deixa rolar.

Uma excursão as dunas do Cocó, o Nenem, Haroldo ele e os


familiares, dessa vez a dona Esmeralda, esperta e astuta não se
505
inscreveu para escalar as dunas.

Sol abrasador e toda a criançada fantasiada de “heróis do sertão”,


Peter Pan, Mulher Maravilha, Homem Aranha, Batman, Superman e
a corriola deles. Subiriam as dunas e chegaria as margens do Rio
Cocó. Realmente uma ideia brilhante. Nem sempre é assim, mas
dessa vez todos lhe deram esse crédito.

E lá se foram, a pés, era pertinho de casa o início das dunas


alcançaram o pico das areias, que não era tão alto e alegres,
suspiraram o ar puro das altitudes e das nascentes fluviais. Uma
beleza. Começavam bem.

Todos com seus cantis, bebendo água, para não se desidratarem, o


Haroldo é que reclamava do sol, pois estava avermelhando. Antes,
tivesse vindo de Batman, pensara ele, em silêncio.
Começaram a descer o relevo e foi estonteante com a lei da
gravidade fazendo-os correr sem querer. Uma delícia.

Todos nós, que morávamos nas circunvizinhanças conhecíamos bem


o Rio do Cocó, pelo outro lado de suas margens, onde hoje é a Av.
Sebastião de Abreu.

Era tudo areia carroçável, barro vermelho, mata e nada de ponte, a


não ser as improvisadas pelos pescadores em diversão.

Mas, o Ivan queria ser o novo Cristóvão Colombo, contornar as


dunas e chegar ao Rio pelas margens desconhecidas da civilização.

Alguns mais afoitos e ansiosos se lançaram a frente como se fossem


os bandeirantes, desbravando as matas e dançando ligeiramente nos
506
barros enlameados pelo fiapo de água que por ali corria.

Era bonita a natureza, só restava saber se a nossa natureza,


também, pensava igualmente.

E todos, corajosamente, segurando as mãos das crianças


avançavam como heróis em cenas de guerra. Uns escorregando por
ali. Outros se enroscando com galhos derivados de plantas altas.

Estava ficando perigoso, mas o cuidado era grande e prosseguiram.

O Ivan Régis, a frente comandando tudo e dando ordens frequentes.


Talvez, tivesse a patente de general, tal a moral imposta e cumprida.
Filho de militar, você sabe como é que é.
Já tinham percorrido, pelos mapas geográficos e topográficos, mais
de dois terços do caminho. assinalou o comandante, com voz
estimulante para os já combalidos companheiros de jornada.

Em determinado, momento sentiram-se numa selva. Folhagens por


todos os lados, o barro totalmente encharcado não dava sustentação
para o equilíbrio exigido pela situação, que era crítica.

As formigas apareceram e logo foram atacando com estratégias


especiais e atingindo a todos indistintamente e os calombos e as
coceiras começaram a vingar a cada segundo.

Nesta hora, todos arrependidos da aventura pensaram em voltar,


confabulavam entre si os adultos.

E concluíram que era melhor continuar acreditavam que quando o rio


507
aparecesse de todo as coisas iam melhorar de vez e já estavam
seguros em terras planas e enxutas.

A Ruth quase morreu de susto quando um arbusto saliente, em todos


os sentidos, embrenhou-se em seus longos cabelos e quase lhe
arrancava o couro cabeludo, quando ela quis correr, pensando que
era uma alma.

Os espinhos penetravam nos braços, nas pernas e nas cabeças


arranhando e ferindo leve os seus integrantes. As urtigas também se
acharam com direito de defenderem seus territórios e atacaram com
vontade.

Todos praticamente em pânico, muito por causa das crianças que


choravam e soluçavam. Uma tristeza generalizada.
As queimaduras começaram a doer, as coceiras ficavam cada vez
mais irritadiças, o calor com a umidade alta deixava a todos
molhados de suores. Outros já com suores frios.

O Rubem sofreu uma queimadura na canela, promovida, certamente


pela urtiga chefe, que até hoje não lhes nasceram pelos na região da
perna. Verdade pura. Juro. Parece até que acrescentando detalhes
que nada adiantariam, não fugiria de meu compromisso que é ditar a
verdade.

Enfim, com bravura e destemor chegaram às margens do Rio Cocó,


na área civilizada da cidade e pararam para contabilizar os gravames
do passeio. Naquela hora, não havia clima, para isso.

Todos desejosos de irem para casa, urgentemente. E o pior, tiveram


que voltar a pés, conforme começaram, pois ali não passavam
508
carros. Mas, em breve relato entre eles, ainda, se deram por
satisfeitos, não se depararam com nenhuma cobra, muito venenosa.
Obra de Deus.

Passaram na Farmácia para comprar os medicamentos de urgência


e foram agradecer a Deus, pela compaixão e compreensão com, as
crianças.

E o Ivan, ainda disse, que na próxima ia pesquisar melhor.


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
509
Esse Ivan é danado, gosta de viajar e acumula em suas gav etas
souvenrs de situações vexatória s quie as simples lembranças que
traz comno recordação da vigem.

Foram a Rússia, O Haroldo, com sua cultura de última hora, achava


que falava russo e um dialeto paralelo, para não ter problemas de
comunicação, Masinha, Fanny, Ivan e a Ruth. O royal street flash, do
turismo familiar.

Chegaram ao Hotel, fizeram a sua avaliação natural e gostaram, bom


e antigo ou bucólico, como queira. O Haroldo da mesma forma e
pensaram iguais em suas análises.

Todavia, algo deixou o Ivan, o experiente guia turístico das dunas do


Cocó, cioso de suas responsabilidades deu as últimas diligências,
para enfim sentirem-se seguro, como em casa.
Qual, não foi a surpresa, ao encontrar, escondida, atrás da bonita
cortina vermelha escura, uma aparente mochila, como se fora uma
mangueira, enrolada em si mesma em círculos, mas imensa em seu
diâmetro. Ficou intrigado.

A mana Ruth, disse, Bem, não pode ser uma mangueira porque não
tem por onde sair a água. Lógico, certo. Criou-se um mistério entre
eles. Ficaram tensos, pensaram até em bombas relógios, mas afora
os seus, também não tinha relógio.

Mas não tinha sentido, eles não eram autoridades de nada para
merecerem receber uma bomba gratuita no quarto. Eram, apenas,
simples cidadãos brasileiros.

Foram ao quarto do Haroldo, vizinho, e verificaram a mesma


510
marmota, no local do deles. Idêntica. E agora?
O Haroldo, consultado, também, teve dificuldade em dar seu
diagnóstico, e falou, aqui só um especialista. Cada um na sua
especialidade e não havia nenhuma criança. Mas, pelos sintomas
pode ser mesmo uma bomba, Ivan.

Ficaram preocupados, decidiram partir para o tudo ou nada. Se


preciso, até deixar o Hotel, se a resposta da portaria não lhes
convencesse, satisfatoriamente.

E decididos, em grupo, foram até a portaria e lá conseguiram colocar


para o atendente entre gestos e simulações da mochila, o se
problema. Não falaram que era uma bomba. Mas, rindo, como se fora
um piada de mau gosto, insinuou, pode ser uma bomba?
O gerente do Hotel e o seu ajudante, agora, ficaram intrigados com
essa hipótese, mas subiram os andares e entraram no apartamento.
O Ivan , na frente foi logo arregaçando a cortina para o destino
desejado e mostrou a coisa, que tanto lhes afligiam.

O gerente e o assistente de logo começaram a rir, chega ficaram


vermelhos, o que motivou a eles também a rirem, ainda sem saber a
resposta do que se tratava.

Aí, o responsável pelo Hotel, falou e disse-lhes, desculpem-me


senhores pelos risos, mas isso é exatamente o contrário de seus
pensamentos, é um instrumento de segurança para ser acionado
num eventual incêndio.

E mostrando-lhes um gancho, esclareceu que quando demandado,


esse invólucro jogado pela janela, transformar-se-ia em uma escada
511
isolante contra fogo que lhes permitiriam descer por fora do prédio ou
o inverso, os bombeiros irem buscá-los, se fosse o caso.

Ah, ficaram boquiabertos, com caras de abestados e rindo,


alegremente, agradeceram a gentileza e o empenho dos funcionários
e foram dormir tranquilos.

O Ivan tem sempre umas presunções cujos prognósticos são sempre


interessantes. Mas o que tinha que ser feito, fora bem feito.
Parabéns!
512

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Estamos muito longe do Brasil, do nosso querido Ceará, da gloriosa


Fortaleza, da amada Avenida Dom Manuel, totalmente arborizada no
meio dos seus calçamentos e nas calçadas, com Benjamnm fícus.

Eram lindas, e exatamente em frente a nossa casa tinha uma.


Frondosa, e a densidade de sua copa, nos dava a guarita necessária
para um descanso ou receber o refrescante sabor dos ventos.
Alguns, as usavam como plantas ornamentais ornando-as em forma
cilíndrica, cônicas ou de trapézio.

Registrávamos em seu caule nossos nomes ou um coração flechado


com o nome da namorada, mas eu assim, não procedia na sua
totalidade, tatuava apenas a simbologia, para não comprometer
outras possíveis paqueras.

Fazia questão de grafar Babá, como eu era conhecido nas


redondezas e em outras plagas de bairros interessantes e boêmios,
como na Rua Lauro Maia.

eM sua generalidade, foram atingidos em cheio por uma praga que


mudou as suas histórias. Insetos voadores fizeram moradia exclusiva
nessas plantas em todo o Brasil, era uma tripe mundial.

Foram infestadas por esses ardilosos voadores que residiam em


nossa planta querida. A ironia popular dos brasileiros, não poupou o
político que atazava os mais pobres em detrimento ao entreguíssimo
americano, dos Estados Unidos.

513
E foram registradas em cartório por toda a população nacional,
lacerdinha era o seu nome. Em citação ao político e governador do
Rio de Janeiro, Carlos Lacerda.

Em nuvens invadiam os olhos dos pedestres, causando profunda


irritação. Quando caíam em nossos olhos ardiam que só uma
pimenta malagueta bem vermelhinha.

Tentávamo-nos proteger com óculos, mas não surtia muito efeito.


Sua dor era intensa e tínhamos que correr em busca de água para
lavar os olhos para que sua carcava saísse de nossa propriedade.

Principiamos a entendê-las no decorrer dos tempos. Mas isso


significava pouco. Sabíamos que nas horas de maior calor, sol
quente, elas dançavam carnaval e nessa folia pegavam a todos. No
cair da tarde, cansadas de tanto bailar iniciavam a sua vida
hospedeira na árvore.

Quando chovia, mesmo uma neblina fina ou com o tempo


predisposto a isso, elas covardemente permaneciam escondidas.
Ainda bem.

A noite era uma tranquilidade. Sentávamo-nos na coxia e nos


escorava nela, quase que tirando um sarro com elas. Não havia
inseticidas no mundo que acabasse com aquela peste.

Não havia solução, e num julgamento duvidoso e questionado foram


condenadas à morte em todo o Brasil. Para o sossego e a paz dos
brasileiros que assim mesmo preferiam as suas queridas árvores.

Mas, enfim era uma solução que nos agradava, também. Não havia
514
como conviver nessa desarmonia, com essas agressões às vítimas
indefesas e sem prioridades em seus ataques. Nem os idosos ou
grávidas escapavam.

Era uma democracia nascente e fortemente consolidada em seus


argumentos violentos. Enquanto isso, vivíamos um período ditatorial.

Começaram os assassinatos. Uma a uma foram caindo e deixando


saudades. Vimos a nossa desaparecer e fizemos questão de
homenageá-la, assistindo até o fim a sua derrocada e só entramos
em casa, quando já não mais a víamos, no carro funerário.

Ficamos tristes, sentíamos um vazio real em nossas visões, não só


pela sua ausência e benefícios como o apego amoroso que a ela
tínhamos.
515

MMMMM

Fui contemporâneo, juntamente com o Carlos Alberto, dos cantores e


compositores de expressão nacional, Fagner e Ednardo que ali
moravam pertinho.

Conhecíamo-nos, conversávamos, mas não éramos íntimos em suas


amizades. Seus amigos maiores eram os ligados a músicas e não
aos da Rua. Mas, cheguei a acompanhá-los, em serestas junto com
o Nerício e o Carlos Alberto.
Fui visitar o Ednardo, em sua casa, quando ele sofreu um acidente
de carro e seu rosto colidiu violentamente com o para-brisa do
veículo, estilhaçando o vidro dianteiro, e lhe perfurando em dezenas
de micros pedaços que foram, necessários, tirá-los com anestesia e
enfaixar-lhe a cabeça.

Ficou psicologicamente abalado, pois era um perfeccionista e quase


um narcisista e as meninas marcavam coladas a sua presença. Mas,
ficou tudo bem e logo voltou a sua normalidade.

O acidente foi na Avenida Monsenhor Tabosa, nas proximidades da


Igreja da Prainha e ele voltava de uma noitada boêmia na praia de
Iracema, celeiros de encontros rotineiros dos músicos jovens do
Ceará.

516
Corria a década de ouro da Música Popular Brasileira, dos anos
dourados de 60, e o nosso Benjamin fícus, talvez, inconformado com
os destinos políticos e ditatoriais do Brasil, sofrera, também, um
revés impiedoso, para todos.

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

A vida nos ensina a mudar de trilhos para que possamos persuadir e


conhecer outras vias. O Carlos Alberto, a noite cedo, falou, Babá,
vamos “dar uma volta” pela Lauro Maia. Sem fazer nada, nós,
naquele momento, nos sintonizamos e fomos até lá.

Não se perguntava de que? Qual o veículo ou condutor. Era sempre


a pé, mesmo. Disposição nunca nos faltou. E fomos conversando,
alegremente, para encurtar o caminho.
Quando chegamos, era uma constante todos os amigos do bairro
estarem conversando, sobre futebol, meninas ou festas. Matérias que
sabíamos e dominávamos o suficiente para entrar na roda e
sustentar um bom papo.
.
Sempre, acontece quando novatos em terrenos alheios, serem mais
notados que aqueles já vencidos em suas validades. E a nossa
patente era recente e com um bom prazo para o seu final.

Conhecíamos muito bem o Evaldo, o Jacksion e o Nerício. Este, com


uma voz espetacular, idêntica ao astro maior daquele momento que
era o Altemar Dutra, com a vantagem que tocava um violão de fazer
inveja a vários idolatrados. A seguir, aperfeiçoou-se no teclado e
dava shows permanentes.

517
E o melhor, era um grande jogador de futebol e maior ainda, como
amigo. Para completar, tinha umas irmãs lindas. Amizade igual não
existia.

Naquela noite desprovida de quaisquer interesses subjetivos que não


fora o de passar o tempo e conhecer as novidades, selaria um
destino, com um enredo final feliz.

Conversamos com os amigos e quando nos demos conta estávamos


diante de um grupo de meninas familiares dos colegas. A Sandra e a
Helena, irmãs do Evaldo, a Socorro e ......., do Nerício e namorada do
Jackson.

O pessoal, saiu de fininho, e nos deixaram bedelhando com a


Socorro e a Sandra, que logo nos convidaram a “sair do meio da
rua” e se dirigir à casa da Sandra, onde entraram para a varanda
alta e nos ficaram olhando de cima para baixo, na calçada.

Batemos um papo interessante, generalizado e ficamos até tarde,


nove e meia da noite. Nos deram boa noite e adentraram. Fomos
embora, em seguida para chegarmos antes das dez horas, em casa.

Na volta, no caminho, era comum fazermos uma avaliação da


noitada. Trocamos ideias, suposições, interesses, simpatias e
paqueras, tudo numa cesta de improvisações e afinidades.
Realmente, a noite fora agradável sobre todos os aspectos,
concordamos.

E as variantes começaram a surgir de formas coerentes, sutis e


verdadeiras, em cada pensamento pessoal. Era inegável que tinha
sido uma noite diferente.
518

O Carlos Alberto, falava objetivamente de sua empatia


desconcertante com a Socorro, ficara realmente encantado e eu para
lhe fazer a companhia de sempre, disse, então, vou focar na Sandra.

Também, o esperado, já sabíamos, era ficar a par das conversas, do


outro lado, das meninas sobre as nossas performances e simpatias.
Algum amigo de lá, nos antecipara que, não sei se é verdade ou não,
que a princípio, conversa entre as duas tinha sido o inverso do que
supúnhamos.

Mas, eram sempre assim, analisadas as voltas que nossa corriola


procedia, depois das noites enluaradas, muitas vezes em festinhas
familiares ou de clubes mesmo. Nenhuma novidade até o momento.
Tinha que ir lá e checar, e o mais provável, era sempre em dar em
nada, e ficávamos apenas lamentando as simpatias que viravam
automaticamente em boas amizades.

Isso era uma rotina de todos nós. E partilhamos com os amigos


esses detalhes.

A Lauro Maia, tinha novidade em particular, era uma rua com muitos
jovens amigos, futebolistas, dançarinos e gostavam de músicas.
Assim como nós,

Fundaram um Clube social, Os Lordes, numa casa alugada e era


celeiro de bons colóquios, bate-papos, e entre alguns senões e
outros, davam um cavaco danado. Um bate-boca. Era muito
legal.

519
O Carlos Alberto, namorou a Socorro, casou-se com ela, tem três
filhos e são muitos felizes. Faço parte dessa história. Eu nunca a vi,
séria, sisuda, fechada, é sempre com um sorriso, aberto e franco.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXX
O mundo dá muitas voltas, realmente, em rotações e translações e
nós giramos em rotas, apenas. Do trabalho, casa e universidades. É
assim que convivemos sintonizados, sintetizando uma realidade.

Até então, minha preocupação maior tivera sido com estudos, como
a mamãe falava, estude para ser doutor, mas não basta só isso.

Esse é o alicerce, a argamassa e sua estrutura firme e consolidada,


vem com o trabalho e consequentemente, na disputa pelos bens
financeiros, para a nossa sobrevivência.

Era universitário, do IBUC, da Universidade Federa do Ceará, que


nos levaria até a conclusão do curso de engenharia química com
duas formaturas a de Químico Industrial e, posteriormente, o de
engenheiro Químico.

520
Não me sentia apetecido, nesses estudos pois a química sempre foi
a matéria mais chata que achava. Mas estudava e aprendia.

Precisava ganhar dinheiro para me auto sustentar e fazer a minha


vida correr como eu queria, a meu gosto, sob a minha
responsabilidade, de sucesso ou não, eu responderia por isso.

Era estagiário, na Secretaria de Planejamento do Estado, e fui


admitido por portaria publicada no Diário Oficial do Estado, na função
esquisita de Conferente de Balancete R-14. Nunca li ou analisara um
balanço.

Assumi a função, cujo Chefe era o Sr. Laércio figura competente e


compreensiva com seus auxiliares. Na maioria, senhoras casadas e
socialmente conhecidas, em Fortaleza. E a filha dele, uma linda
garota loira, muito simpática e alegre. Boas amigas, todas.
Conquistei logo a todos, não com a minha contabilidade, pois não
entendia nada daqueles balanços de letras bem miudinhas, mas as
custas de meus conhecimentos da faculdade e dos cursinhos pré-
vestibulares

O detalhe da questão, era que as coroas, quase todas faziam


faculdades particulares, no curso de contabilidade e traziam suas
tarefas para que eu, desenrolassem os problemas de cálculo I,
matemática e no segmento financeiro e outras coisas, inclusive
redações.

Resumindo, elas trabalhavam para a Secretaria e eu para elas, sob


os olhares complacentes e concedentes do Chefe. Até a filha, tirava
as dúvidas comigo. Era o funcionário mais querido da sala.

521
Quando, faltava, dificilmente, ficavam preocupadas em saber em
quantos dias voltaria. Mas ganhava, pouco e tinha rotina dura. Pela
manhã. A Faculdade, a tarde o estágio, ia e voltava a pé, na Tristão
Gonçalves e a noite estudava em casa.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O Ruy já era funcionário do BNB, por alguns anos, ganhava muito
bem e falou-me que haveria um concurso para escriturário, naquele
estabelecimento bancário com o inicial de .............. Era um grande
começo, pensei.

Eu tinha cinco meses para aprender a contabilidade do concurso e


escrever na máquina de datilografia, que só a conhecia de vista.
Baseada numa apostila adquirida para concursos bancários e
matriculado num curso de datilografia, corri contra o tempo que era
exíguo, para a empreitada, esforcei-me e dei o melhor de mim.

Estudei e passei no concurso do Banco Nordeste do Brasil. Fiquei


em 28º lugar na classificação de 270 aprovados, num rol de 2 mil
candidatos. Isso, foi uma lembrança, momentânea, que escorregou
do plano e caiu no teclado.

Mas a coincidência tem fatos inexplicáveis que nos deixam


perplexos. Fui chamado a apresentar-me no Departamento de
Pessoal, do BNB, na Rua Major Facundo, 500.

Quando lá cheguei, satisfeito, encontrei um jovem como eu, sentado


nas cadeiras que nos aguardavam. Sentei-me perto, o suficiente,
para entabular um papo natural e consequente. Aí perguntei-lhe, se
522
já entrara alguém na sala do Chefe de Pessoal. Não, respondeu-me
ele. Acho que fui o primeiro a chegar.

Na realidade, chegáramos cedo demais. E a conversa rolou,


principalmente, envolvendo o Banco e nossas aprovações. Entre
outras coisas conversadas gravei que se classificara em 27º lugar,
juntinhos a mim, à frente.

E rimos quando falamos que chegáramos, também, juntos na sala.


Notei, de pronto tratar-se de uma pessoa especial, fiquei alegre em
conhecê-lo.

Fomos atendidos, nos despedimos desejando, entre si, boa sorte, em


nossos futuros bancários. Não sabíamos, por certo o que poderíamos
esperar, apenas uma certeza, pela classificação, que seriamos
acolhidos aqui, em Fortaleza.
Recebi a minha Carta de Apresentação ao Chefe do Departamento
Financeiro, no Edifício São Luís, na Praça do Ferreira. Fiquei muito
contente.

Na próxima segunda feira, dia 27 de dezembro de 1967, deveríamos


comparecer ao local. Quando lá cheguei, entrei na Sala de Recepção
e quem estava lá era o amigo que conhecera a pouco.

Continuamos o papo e referenciamos o fato dessa empatia


organizacional. Conversamos com o agora, nosso chefe maior que
me destinou ao Setor de Ações, dentre outras áreas financeiras
existentes.

Fui apresentar-me a esse chefe, hierarquicamente, inferior e lá o


encontrei de novo, sentado sozinho.
523

Aí dissemos que o destino estava nos levando ao mesmo


ancoradouro, mas ainda não era certo, pois esse Setor tinha quatro
seções financeiras, falamos.

Por fim, só faltava essa indicação da Seção. E quando entrei na sala


da Seção Ações e Dividendos lá estava sentado começando a
trabalhar. Rimos, discretamente com aquele sorriso similar da
Monalisa.

Foi, sem dúvida, um dos maiores amigos e colegas do Banco.


Solteiros, fizemos uma dobradinha perfeita.

Seu nome é Antônio Moreira Colaço, nascido e criado em Beberibe,


com raízes profundas e interioranas. Outros grandes amigos, como o
Francisco de Assis Paula Filho, alcunhado por nós de Maguim. É um
cara também excepcional.

O Epá, Epaminondas Gomes Rolim e vou parar por aqui porque são
tantos os amigos que fiz nessa rotina de trabalho que seria injusto
não os citar. Apenas, nomeei esses, pelo LONGO tempo que
passamos juntos, fomos do mesmo concurso.

A Claudia conheceu e conviveu com eles e familiares, por longos


tempos, e com outros também.

524
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Estava no período carnavalesco, o Colaço me arranjara uma casa


desocupada de sua tia, em Beberibe, pertinho das lindas e
encantadoras, Praia das Fontes e Morro Branco. Na época era o
máximo em turismo no Ceará.

Casa grande, com alpendres laterais na casa. Estávamos, após o


almoço, deitados nas redes, uns tirando a sesta e outros
conversando animadamente.

Eu, a Cláudia, Rubem, Maria Alice, Ivan, Ruth, Masinha e o Haroldo.


525
A Maria Alice estava grávida de seu primeiro filho, o Rubem Júnior,
do qual tive a honra e o prazer de ser seu padrinho de batismo.

Quando de repente, a Lilica levanta-se instintivamente e de imediato


agarra uma madeira que servia de trava à porta como segurança e
com determinação, gira em cima de uma enorme cobra que se lhe
aparecera, inopinadamente, sem os demais percebessem a sua
presença.

Foi tudo muito rápido e fomos olhar de pertinho a cobra abatida, pela
sagacidade e agilidade no manuseio de sua arma. Tinha pelo, menos
uns dois metros. Uma jiboia. Um susto que nos inquietou pra
momentos futuros.

Mas, estávamos dispostos a desfrutar desse paraíso e continuamos


atentos para outras iguais novidades.
Conversei com o Colaço, a respeito da cobra e ele definiu bem o seu
aparecimento, inoportuno. Explicou, que para nos receber a contento,
mandara limpar todo o terreno circunscrito da casa que tinha altos
matos.

E, certamente, naquele horário fazia moradia lá e procurava outra


residência para ficar. Mas, não era comum surgir essas cobras.

Foi um susto grande, maior que a cobra, e a Lilica ficara nervosa e


nos preocupamos. Nada demais, porém. Tudo sob controle.

Prosseguimos em nosso sossego, frequentando a Praia do Morro


Branco, as demais praias e passeando de buggy, revendo a
emblemática beleza e arquitetura do labirinto das falésias, a Lagoa
526
de Uruaú e as mesinhas que ficam dentro da água nas barracas,
caiaques, jet ski ou lancha, nas areias cristalinas das praias.

A Praia das Fontes, espetáculo que a natureza e seus ventos


mantêm airosamente para deleite de seus, frequentadores,
apreciando as falésias coloridas com diversos tons e arte com muitas
cores feita na região.

Suas dunas em seu redor e alguns recifes fazem parte dessa praia
conhecida mundialmente. Os cearenses, parecem que cansaram, de
ver tantas vezes essas belezas, e hoje já não mais são tão visitadas
como antigamente, mas os turistas internacionais e brasileiros não as
esqueceram.

O artesanato, as garrafas coloridas com areias da praias e falésias,


desenhadas com jangadas, mar, areias, coqueiros, céu e mar,em
muitas cores são objeto de reconhecimento internacional de uma arte
primitiva e de muita habilidade.

Até novela da rede Globo, foi gerada e de grande sucesso em todo


território nacional pelo enredo coadunado com esses adornos que a
natureza nos ofereceu.

Se falei tudo isso, a respeito de Beberibe e suas praias, é porque


elas foram muito importantes em nossas vidas familiares. Lá
deixamos vínculos familiares com a dos Colaço e trouxemos muitas
saudades, histórias e alegrias para nós. Fomos muitas vezes a essa
cidade perto de Fortaleza. A família toda.

O Rubem, enquanto Secretário de Educação do Estado, em caráter


interino, colocou duas pedagogas irmãs desse amigo e dele também,
como professoras em sua cidade natal. Sempre foram muitas gratas
527
a mim e ao Nenem, por essas oportunidades, inclusive repetida pelo
Colaço a um mês atrás, coincidentemente, em conversa telefônica.

E, para finalizar as convergências com o colega em lide, acrescento


que além das citadas sincronias, passamos todo o período bancário
trabalhando, dia a dia, lado a lado, e nos aposentamos no mesmo dia
em, em 27 de dezembro de 1993, com uma concorrida e memorável
despedida.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Foi demais. Deixamos dezenas de amigos que gostaríamos de estar


aos seus lados, hoje, amanhã e sempre.

Fomos todos, eu, a Claudia, Rafael, Marcelo e Rachel, e se sentiram


a vontade na celebração da minha aposentadoria, cujos amigos
528
presentes, eles já os conheciam de outras oportunidades, em
aniversários e convivências no BNB Clube.

Preparei-me para esse momento importante de minha vida, e ia


agradecer verbalmente, em improviso treinado, mas as palavras
afetuosas que me dirigiram deixou-me tão comovido que não tive
condições de agradecer da forma que esperava fazê-lo.

O clima ficou emocionante, as lágrimas marejavam meu rosto e eu


recorri, então, a um texto que preparara, caso não conseguisse falar.
Tinha um plano B. Sabia que isso poderia acontecer, tal o grau de
benquerenças fraternais existentes no grupo.

Peguei o papel, e comecei a lê-lo, com recordações, saudades e


lembranças. Não aguentei. Parei, e pedi ao garboso e especial amigo
Geraldo Gadelha que o fizesse por mim.
Findara a celebração ainda fomos jantar, num ambiente
aconchegante e saudável, onde o aquário e alguns animais silvestres
faziam a alegria da garotada, o Parque Recreio.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
AInda, hoje vivo, com essa aposentaria, já excepcionalmente,
defasada em correções monetárias pelos reajustes ínfimos em
relação as inflações grandes e onerosas.

E os ganhos em plantões, na maioria das vezes, dados pela Claudia,


a noite inteira, hoje, num sufoco gritante e infernal de crianças
chorando e de mães aperreadas.
529

Essa é a minha ótica, pois eu nunca ouvi, sequer um comentário a


respeito, o que mais me incomodava, esperava que para ela
também, era inexistente.

Nasceu, realmente para ser uma pediatra, gosta do ofício, e trabalha


como Chefe de equipe assumindo, responsabilidades que deveria
deixar de lado, para as mais novas, mas é ela que tem a experiência
e a vivência das Unidades pediátricas.

Reclama. Por vezes das atitudes administrativas dos Credenciadores


dos Planos de Saúde e também, das ordens dos hospitais.

Cada um, puxando o lençol para si, como se os três tivessem


acobertados, pelo mesmo lenço. O Agente Credenciador, O Hospital
Credenciado e os Associados dos Planos. Todos têm, alguma razão,
mas não entram em harmonia.

Cada um, quer usufruir da melhor forma, as virtudes desse trio


maravilhoso e cai sempre no colo do médico da Emergencia ou da
Urgência.

A Claudia, é pediatra, das boas, referenciada e prestigiada na Classe


médica, é uma das Fundadoras da Cooperativa dos Médicos
Credenciados do Ceará, a COPED, conforme Ata da sua Fundação,
assinadas por eles e publicada, no Diário Oficial.

Trabalhou muito para isso, mas não foi a sua líder maior, apenas
uma daquela que deram duro para essa conquista.

Escrevo, o que penso e não conversei com ela sobre isso, talvez até
530
pedisse para não colocar nada a respeito, mas é uma Bitbol er
merece.

Nós, os membros da família, na área médica estamos muito bem


representados. Cada um sobressaindo-se mais que os outros.

Aqueles que apadrinhei, em batismo, conseguiram seu intento e são


médicos, A Thirza e o Rubem Júnior, também fisioterapeuta.
Conquistaram seus espaços com denodo e competência e estão
lustrando os nossos nomes.

O Yuri, o inusitado e imprevisto, sucessor do pai, nas artes cênicas e


cômicas, casou-se com uma japinha para encrencar, ainda mais os
sobrenomes da família, a médica Yumi Ohara, que gosta de umas
homeopatias e que também desfruta de amplos conceitos,
embasados em pesquisas e muito estudos.

Quando olho o whatasapp, do Yuri, essa figura ímpar, com seu


bigode à lá antiga, lembro-me de um dos maiores astros de
Hollywood, Errol Flynn, que já fazia sucesso e eu ainda não era
nascido.

Fez tanto sucesso que me deu tempo de nascer e apreciá-lo, em


suas representações. Mas, quando, dito em aparência, ressalto que é
só no bigode.

O Marcelo e a Ticiane, são graduados com louvores e cursos de


extensões e especialização em área da Odontologia. Já sabem, se
chegar com um sorriso bonito, talvez falte algum para contar a
história.
531
Brincar é bom, eu adoro, meu filho e sobrinha.

Dos bons. Seguem, o caminho da fama profissional, porque o do


dinheiro, o mais importante para eles, é apenas famoso em trocados.

A Tatiana, com os olhos verdes da mãe Lola, é a enfermeira heroica


da família que em luta contra o vírus corona, o pegou em pleno
exercício das atividades profissionais e curada foi designada, para a
UTI. Tambem, graduou-se em Nutrção, mas engordou e trocou de
profissão em tempo hábil.

Deu certo, perdeu os quilos necessários.

Na arte da construção civil, dos cálculos de segurança e dando asas


aos sonhos dos arquitetos em seus traços modernista ou de outra
natureza, o Rafael.
Quando estudava, ainda no colégio Christus, em ano pré-
vestibulando, coincidiu com o jubileu de ouro do Colégio, que em
suas celebrações homenageou os alunos partícipes desse sucesso
e, em out-door, espalhados pela cidade, ele foi o representante do
Curso de Engenharia.

Com 17 anos, era a glória. Eu e a família, nos enchemos de orgulho


e sentimos o paladar desse sucesso. Ainda hoje, guardo fotos dessa
arte de publicidade.

O Davi, optou por outro especialização da engenharia, a


mecatrônica, área de muitas tecnologias e renovações constantes.
Trabalha, voltado ao atendimento assistencial aos equipamentos
hospitalares mais sofisticados. O mais requisitado, para manutenção
e consertos na cidade. Muito inteligente. Brilhante.
532

Sucedendo ao pai, os irmãos Eurico e Daniel, advogados, a muito


frequentam o Escritório de Advocacia, como estagiários, do Rubem
que os colocou na fornalha, cozinhou e colheu bons e efetivas
colheitas.

Toda a família dele é muito vocacionada à religião católica, nas


chamadas Comunidade Novas, sendo oWS
Hxx
Hhalom um dos exponenciais, fundada rm Fortaleaza e
oartivularizadavnas naiorescaoitais do Pais e do exterio firma um
conceito de abnegação impressuinante de abnegação.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

533
A praia, definidamente, é a nossa praia. Desde criança quando
nossos pais nos levavam a conhecer outras marés ou mesmo as de
sempre, de Iracema ou a do Náutico.,

Dessa feita fomos ao Caça e Pesca. Local aprazível, no encontro do


Rio Cocó com o Mar, em continuação próxima da Praia do Futuro.

Sabíamos dos perigos dessa junção, entre rio e o mar. Águas


revoltas se formavam e seguiam seus cursos naturais, numa vala de
uns 20 metros de largura.

Ali as águas corriam com mais tranquilidade, sem ondas e nem


espumas, mas tinham uma velocidade acima do normal.

Geravam uns redemoinhos perigosos em locais visíveis. Escolhemos


para ficar onde nos pareceu o mais tranquilo. Um encontro bonito
entre o doce e o salgado, temperado sob um sol abrasador e um
banho gostoso.

Os ventos começaram a soprar com mais violência aumentando o


frescor natural dos banhistas, mas criando situações embaraçosas
para os nadadores, vez que as espirais formadas eram maiores e
mais fortes.

Acautelaram-se todos, menos o Ruy, bom nadador, experiente no


mar onde dormia em alto mar, boiando. Mergulhou nas águas, não
para pegar a correnteza, mas ultrapassá-la em sua lateral para
chegar ao outro lado da margem.

Estávamos acompanhando suas peripécias e conhecíamos a sua


teimosia e sentimos claramente que enfrentava dificuldades em seu
intento. Não avançava na largura do rio e fluía levado pela
534
correnteza.

Ficamos apavorados quando vimos afastando-se de nós e puxado


pela correnteza que vencia o embate com ele. Começamos a gritar
por socorro e apontando-o como o nosso alvo.

Dezenas de banhistas mais experientes da redondeza também


caíram em águas e conseguiram detê-lo e trazê-lo de volta as
margens. Chegara ofegante e cansado.

Dona Esmeralda, trêmula, nervosa e arrependida da praia escolhida,


emendou um sonoro cagaço no primogênito que se aquietou e ficou
calado e pensativo.
Foi um desânimo e retornamos para a casa ouvindo recomendações
específicas e especiais sobre o mar até em casa. Sobrou para todo o
mundo.

É importante na vida, de quando em quando, passarmos momentos


aflitivos para que possamos proceder reflexões e saber que a lâmina
da vida é de um fio de milésimo de segundo, para nos ferir
fatalmente.

535

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Já no Pacheco, praia no oeste da cidade, eu tinha uma casa de
veraneio, de uma simplicidade ímpar contradizendo o conforto e os
divertimentos que nela incrementamos.

E dentro dos programas mais ousados e divertidos que achávamos


era passear de buggy, comigo na direção e subir as altas dunas,
localizadas depois da Tabuba.

Sempre que estávamos em veraneio, era sagrado essa ousadia.


Enchia o veículo com os adolescentes, amigos, dos meus filhos
Rafael, Marcelo e Rachel e lá subíamos as dunas.
Ganhei experiência subindo devagarinho, indo e voltando, e sempre
subindo mais até um dia chegamos ao seu cume. A Cláudia também
me acompanhava e demonstrava confiança no condutor do Buggy.

A Vista lá de cima era impressionantemente linda, a sua visão


panorâmica alcançava uma longitude bastante grande, e lá os ventos
e as matas rasteirinhas cavaram um buraco imenso, num diâmetro,
talvez de uns 70 metros e uma profundidade de 20 metros,
aproximadamente.

Os bugueiros, da área e profissionais no volante desses buggyes


desciam o seu cálice até o seu afunilamento total, por isso era
conhecido como Funil das dunas.

Eu tinha medo de descer, mas estava ali sempre analisando as


manobras e a segurança dessa empreitada nada fácil. Outros
536
bugueiros particulares iniciaram, também, suas primeiras manobras
no Funil. Eu a tudo assistia, atentamente, em seus mínimos detalhes.

A criançada eufórica e irresponsável, pedia para descermos o que eu


explicava que era difícil e não ia arriscar-me, ou submeter-me a
correr um perigo, meramente, por diversão impetuosa.

Um dia dia, criei coragem e fui como passageiro de um bugueiro


turístico. Sentei-me, no banco dianteiro e coloquei o cinto de
segurança e ele perguntou-me, com ou sem emoções, rapidinho
respondi, sem. E vamos com toda a calma, ressaltei, ele riu.

Fomos descendo e conversando como descer e ele foi me dando


dicas, algumas que eiu já sacara como olheiro. Sempte circulando, e
descendo vagarosamente encurtando a distância com o chão. A
velocidade é constante e não se preocupe que ele não atola.
Em determinado, momento explicou-me qui, essa disrância é o limite
máximo da descida sem problemas. Isso para um passeio totalmente
seguro. A volta, a mesma coisa.

E gracejando comigo, brincou é mesmo que andar no plano e descer


uma ladeira e subir. Sem problemas, mas entendi que ele queria se
auto valorizar e não dei muito crédito a sessas afirmações.

Mas, aprendi muito, gostei e achei que não tinha bichos de sete
cabeças. Não era fácil, mas precisava de mais experiência nas
dunas, nas areias altas.

Fiquei fascinado e obstinado. Estávamos de férias e todos os dias


subíamos as dunas e descíamos com tranquilidade, com os meninos
dentro pedindo emoções. E eu fazia algumas besteiras, em amplos
537
sentidos.

Já me sentia muito seguro nesses percursos. E um dia resolvi descer


o funil e contratei o bugueiro para ir ao meu lado. E pedi para ele
comentar o meu desempenho no volante. Ao voltar, deu-me umas
dicas e falou agora só falta a coragem para encarar sozinho.

Peguei o embalo das férias e fui sozinho as dunas. Estava me


sentindo seguro, e pensava, agora ou nunca. Desci o funil
tranquilamente e voltei assoviando a música do Chico, apesar de
você, amanhã há de ser outro dia, como se fora endereçada as
dunas e eu vitorioso nessa querela.

A partir daí, tornei-me craque. Levava o buggy lotado com a Claudia,


à frente, o Rafael, Marcelo, a Rachel e o Yuri, o novo irmão deles
desde que nascera. Eles cantavam e se agarravam no São
Francisco do veículo.

Tempo. Inesquecível para mim e as crianças. Impagável uma alegria


dessa. Voltávamos à praia para comer caranguejos, disputados aos
empurrões pelos quatro, queriam os maiores. Eu e a Claudia
ficávamos com os que sobravam da disputa.

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XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Mas, nem tudo é de paz, nesta terra. Pelo menos esforcei-me em dar
bons exemplos, depois dos vinte anos. Não bebia e nem fumava,
como um vício. Tinha o controle total dessas drogas boas, nada
saudáveis.

Alguns, porém, não pensaram como eu. No nosso quadrilátero tinha


um time de inveterados bebedores alcoólicos, de cachaça mesmo e
um cigarrinho pendurado nos lábios, o dia todo como se fora para
afugentar as muriçocas ou outros pernilongos.
Senhores, pais de amigos queridos, respeitados e respeitáveis
cidadãos, que nunca, jamais, em tempo algum, como se dizia na
época, alguém ousara dirigir-lhes uma palavra que não fosse de
carinho e de amizade.

Tarcísio, Manuel Cândido, Milton, Neguim, Antonio Lesco-Lesco e


Rubson. Eram muito religiosos em seus cumprimentos e todos os
dias às 6:00 da noite encontravam-se na Bodega do Seu Vicente,
para conversar e beber.

Se algum faltasse era melhor perguntar se tinha morrido. Não


faltavam por nada. Sempre pontuais ao chegar e ao sair. Apenas,
gostavam muito de beber.

Mas trabalhavam duro para sustentar as famílias que se derem bem


539
em tudo. Seu Miltom, pai de criação da Norma Capibaribe, que
tocava piano, sanfona e dançava balé. Hoje seria filha adotiva. Mas
os amores mútuos entre ele, a filha e a esposa dona Liquinha eram
invejáveis.

Os desvelos com que tratavam seu Milton eram comoventes, ao vê-lo


caído no chão encharcado de bebida e amparados pelos braços
carinhosos de seus entes queridos. Um exemplo essa dedicação.

Eu e outros amigos da rua, cansamos de ajudar a dona Liquinha ou a


Norma ao retorno de seu lar. Honrado.
A Norma casou-se com o hoje coronel do exército, o bom praça
Cel.Antônio de Pádua.

Seu Rubson, oito filhos, estudaram em excelentes colégios e se


graduaram, na Universidade, todos eles. Realmente, um milagre
divino, pois seu trabalho era forte e cansativo numa bodega, na
esquina da Visconde do Rio Branco. Uma mulher forte, estava por
trás dessa admirável perfeição.

Seu Cândido, três filhos, o Manfried, reformou-se como coronel do


exército, o Manfredo, aposentou-se como Juiz, na esfera estadual. A
menina, faleceu cedo.

Seu Cândido teve um final triste, ao ser atropelado na av. Dom


Manuel, em torno das sete da noite quando retornava do Vicente,
bodegueiro, depois de uma enxurrada de combustível alcoolizado.

Seus amigos de rua e companheiros de vício, e todos, enfim, que o


conhecia ficaram bastante chocados e tristes com seu falecimento.
Era uma pessoa agradável.

540
Seu filho, Manfredo, uma vez, falou-me, relembrando os velhos
tempos difíceis e o sucesso dos irmãos, que “apesar dos pesares,
fomos felizes porque fomos o que fomos, e nunca negamos as
nossas raízes”, disse o juiz. Achei bonito, isso.

O Lesco, morreu na própria bodega, debruçado sobre o balcão e


dizendo, repetitivamente, o Lesco vai morrer, o Lesco vai morrer... e
morreu. Ninguém acreditou no Lesco. Grande marceneiro e nós
éramos seu cliente.

Os demais alcoólatras tiveram sucesso em suas vidas profissional e


familiar.

Conto essas histórias, para lhes mostrar duas coisas, a primeira, a de


menor importância, é que essas páginas são escritas pelos fatos que
marcaram o seu autor ou familiares Abitbol. Entre risos de uma e
tristezas, de outras histórias. É a vida. Não é uma pretensão
humorística.

A outra, é para exemplificar que os desgarrados dos padrões naturais


da vida, nem sempre merecem o desprezo e a desqualificação, pois
ao avaliarmos os frutos que geraram, vimos que são das melhores
qualidades.

Seus esforços em parceria com a companheira indomada, valente e


defensora de seus direitos e dos filhos, prevalecem, acima de uma
sociedade hipócrita em conceitos e avaliações precoces e
descabidas.

Fico satisfeito em ter me rebelado com parte dessa sociedade.

541

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O Dr. José Alcyr Leitão, era um engenheiro renomado em Fortaleza,
por seus conhecimentos na área da sua especialidade e dela
professor catedrático, na Universidade Federal do Ceará.

Mas, era tido como louco, por suas ousadias e extravagâncias na


arte da construção civil e de seus cálculos. Parecia mesmo ter um
parafuso solto em sua mente prodigiosa e impetrante com as ideias
naturais, divergentes dos demais profissionais.

Resolveu construir a sua casa na avenida Dom Manuel, perto lá de


casa, numa baixa topográfica inundada por leves camadas de água.
Esse terreno era conhecido por nós, como a Baixa.

Quando manifestou essa ideia aos seus companheiros de classe, o


consagraram como doido e tentaram dissuadi-lo da obra
predestinada ao desabamento, mesmo antes de sua conclusão.
542

Era um determinado, cioso de seus conhecimentos e “louco” por uma


coisa intrigante. A construção de sua casa foi acompanhada por seus
pares, como se fosse uma novela, em capítulos.

Era uma casa ampla, com dois pavimentos e cercada por uma área
verde de belíssimo gosto. Esse era o objetivo final. Para esse
alcance muitas águas iam rolar, diziam seus opositores.

E cortando caminhos, desviando correntezas, drenando o solo com a


maestria de uma luz solar, focada em sua residência foi enxugando
seus problemas elementares e passou a levantar seus alicerces.

O tempo vai corroendo as obstinações de seus opositores, ante uma


realidade visível e imponente aos olhos de todos. Concluiu a
residência, uma das mais bonitas da avenida e foi residir em seu
novo ninho.

Ele fechou-se em ouros, e não deu tréguas aos blefes de seus


colegas. Não caiu nos truques dos amigos. Nada o segurou nessa
jornada.

Seus filhos logo, tornaram-se nossos amigos e passamos a conviver


com eles, inclusive em sua bela casa. Chegara o período junino e as
quadrilhas era uma das nossas tradições.

Ensaiávamos normalmente, no América, clube social e de futebol,


nosso vizinho, e dançávamos entre outras quadrilhas que lá se
apresentavam na Festa de São João. A corriola todinha esperando o
dia da fogueira.

543
Chegamos a ir de ônibus fretado, dançá-la em sítios nunca vistos por
nós. A Norma era uma das expoentes, com a Neide, a Gracinha e a
Cristina.
A, Maria Teresa, filha do Dr, Alcir foi convidada a participar dos
ensaios e aceitou. Fazia parte do grupo foguetório. Um dia, todos
reunidos para ensaiar no Clube, mas um imprevisto nos impediu de
fazê-lo.

A Tetê, prontificou a falar com a mãe para autorizar o evento. Ele


estava lá, estudando um projeto. A mãe, consultou o marido sobre
essa possibilidade o que não satisfez o mestre da engenharia.

Mas, enfim cedeu, impondo uma condição, música baixa para não
atrapalhar suas pesquisas. Naquele momento, aceitaríamos
quaisquer imposições. E entramos na casa.
Efetuados os preparativos, posicionaram-se os integrantes da
quadrilha e a música baixinha começou a tocar. Mas, não era uma
boa ideia, dizia uns. Não existe quadrilha sem alegrias, gritos e som
alto, diziam outros. Alguns, mais comedidos ponderavam um meio
termo.

Nesse instante, Dr. Alcir desceu as escadas e falou para nós, se não
reduzir o som e a zoada vou acabar com a festinha. As chefes da
organização criminosa, prontificou-se, em nome de todos, que seriam
cumpridas as solicitações.

Perfeito. Correto. Ok. Vamos reiniciar o ensaio. Depois de uns cinco


minutos de treinos, a empolgação voltou a reinar e a alegria dominou
o ambiente, de forma que ninguém segurava aquele bacorejo.

No meio do Túnel, todos abaixando-se para ultrapassá-lo, sem triscar


544
em suas alças, formadas pelas mãos dos quadrilheiros, ouviram-se
dois tiros, para o alto, partindo do segundo pavimento.

E, apareceu a figura impoluta do cientista, que cumpria o que


prometera, pois nesse segundo, todos petrificados, inicialmente,
correram com o coração na boca, querendo sair e encontrar o portão
da casa.

Já na rua em milésimos de segundos, os comentários angustiantes


contrastavam com os risos da esculhambação. Houve choros,
gargalhadas, tremedeiras, falta de ar e calafrios.

A filha e mãe vieram em nossos socorros e justificaram a atitude do


mestre como um incômodo natural de quem precisava de silêncio
para desenvolver um trabalho de alto nível.
E nós, agitados dizíamos, então, porque deixou....

No dia seguinte a Tetê, pediu-nos desculpas pelo ocorrido e passado


o grande susto para nós, o passado já tinha sido esquecido e ela
ainda falou que o Dr, Alcir desejava falar com alguém da quadrilha
para se desculpar, pessoalmente. Mas, ninguém, atreveu-se a ser o
porta voz do grupo e seu conciliador.

Mas a amizade com a Maria Teresa, só aumentou, depois desse fato.

Agora é refletir, qual a ala dos engenheiros tinha razão, a do Alcir ou


a de seus oponentes?

Respondemos, nós, o homem é doido mesmo, mas é um gênio.

545
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
WWWWWWW

Ele era um homem muito culto, sobressaindo-se em obras clássicas


literárias, musicais e cinematográficas. Numa noite, como
combinado, levou a esposa ao Cine São Luís, onde passava um filme
melancólico.

Um amor desenfreado, que tão cedo teve fim, as lágrimas rolavam


nos olhos femininos e o Alcyr já incomodado, com esses detalhes,
disse a esposa que a esperaria na sala belíssima da recepção do
Cine.
546

Ao terminar o filme ele não estava lá. Ela, o aguardou por alguns
minutos e procurou a secretaria do cine para uma ligação para a
casa. Quem atendeu o telefone foi o próprio, em sua sala de
trabalho, e ele indagou à esposa, aonde estás, a uma hora
dessas???

Qual não foi seu espanto quando ela lhe lembrou do compromisso
que tinha de esperá-la, na sala. Ele riu muito, gargalhou e lhe disse,
me esqueci, oh!!!! Mas vou buscá-la agora, mesmo.

Era assim, altamente concentrado em alguns assuntos, que lhes


preenchia o cérebro e não se lembrava de detalhes pequeninos,
mínimos, mas tremendamente importantes.

Mas, a convivência impõe a solidariedade, e partiu rápido.


Ela voltava, tranquila, como se nada tivesse acontecido, pois
compreendia muito bem o Alcyr, e isto, entendia, não era um acinte e
muito menos uma repreensão, pois nada mudaria a personalidade
dele quando imbuída em afazeres particulares de trabalho.

Ele gostava dela, dos filhos, mas a seu jeito, talvez, quem sabe nas
obscuras lembranças familiares, guardasse um amor maior que o de
todos.

Na vida a compreensão é maior que a intenção, é um sentimento


forte, só a tem quem ama.

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XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
No dia seguinte, já em sala de aula, explicava os cálculos de uma
construção civil, seus ferros em proporções a carga recebida e outros
fatores colaterais e naquela época não se tinha calculadora, era
mesmo na munheca e os dedos trocando posições com o lápis no
papel.

O Quadro Negro, estava completamente lotado de contas, dados


reservados e circulados, e outras ainda por terminar, já no final da
548
exposição, e como não quis perder todo o colossal desenvolvimento
do problema, terminou o trabalho escrevendo na parede e
terminando na porta da classe.!!!!!!!

É incrível, mas é verdade. Os alunos o adoravam pela competência e


humanidade, em troca faziam gozações extremamente sutis e
galhofeiras.

O Alcir, ao contrário de Jesus não andou sobre águas e nem abriu o


mar para os seus judeus, mas construiu uma casa de dois andares,
em cima das águas e as drenou até fazer uma vala.

Não morreu crucificado, mas foi muito crucificado pelos seus


colegas engenheiros e calculistas ao fazer a sua residência.

Não fez milagre, mas criou fama.


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Em sua casa, vez por outra a Tetê promovia umas tertúlias, com
poucos amigos para descontrair, em tempo de aulas. O Haroldo e
Masinha, eram eternos convidados, e lá compareciam para dançar
uns boleros.
O filho mais novo, do dono da casa, o alcyr Filho, ainda pequeno se
engraçou pela camisa branca de tricô do Haroldo, confeccionada por
Maria Albertina, estilista e tricrotista das melhores em lãs.
549

O menino abraçava e puxava sua camisa para baixo, era pequeno.


E, já incomodado pelo assédio da criança, que se pendurava,
enquanto dava uns passes rápidos demonstrando toda a sua
versatilidade como dançarino, com o menino agarrado e os amigos
rindo de sua proeza.

E ele retribuía, com sorrisos falsos.

Quando terminou a música o Haroldo, abraçou a criança passou-lhe


as mãos na cabecinha do garoto querendo demonstrar sensibilidade
e compreensão pelo ocorrido, mas definitivamente não gostou.

Quando viu sua camisa nova espichada e enviesado, até quase seus
pés. Riu, um sorriso amarelo, e tentou ajeitar-se, mas não foi muito
feliz. Continuou na diagonal da calça.
Ao chegar em casa, dirigiu-se à mãe e mostrou a camisa toda torta,
esfarrapada em algumas partes e dona Maria, com a autoridade de
mestra, foi logo dizendo, em tom, incisivo e nordestino, tem jeito
não, por mais que se conserte não vai mais prestar.

Reclamou, não sei de quem, e disse, três meses de trabalho perdido


para na primeira vez, colocar tudo a perder.

Passou a usá-la nas brincadeiras matutinas.


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Dessa vez, a turma não tinha nada a ver com isso. No dia seguinte,
eu tinha aula no Instituto Básico e Tecnológico da Universidade
Federal do Ceará-IBUC, na especialidade de engenharia química,
área que não me apetecia, tentara na Civil, fiquei muito perto, mas,
não deu.

550
O Professor de Cálculo II, era o insigne e notável Professor
Cavalcante, cuja identidade e similaridade com o engenheiro Alcir
Leitão, guardavam mínimas distâncias.

Sua aula era às 13:00 horas e o aguardávamos, depois do almoço,


embaixo de uma frondosa e centenária mangueira.

Já sabíamos que o professor tinha chegado, pois seu carro verde,


velho, Studebaker, com o filho com Síndrome de Down, o
esperava, tranquilamente, até o final do expediente.

E lá vem o Professor Cavalcante, apressado atravessando a via


destinada aos carros, em linha reta, e aproximando-se de nós,
perguntou-nos, indeciso e claudicante, “eu vim por ali ou foi por
lá”, mostrando com o dedo indicador, e todos, uníssonos,
respondemos, por ali, professor. E ele, acrescentou, ah!!, então eu
já almocei. !!!!!!!!!

São assim os gênios, as pequenas embriaguezes da vida como os


comestíveis, para ele, se não fossem obrigatórios para a vida, não
lhe faziam falta

Andava de paletó e gravata, por obrigação, mas os ternos de linho


eram intensamente amassados, enrustidos e sua gravata de tão mal
colocada parecia, realmente, querer enforcá-lo com um nó de
marinheiro sobre uma camisa branca, sempre suada.

A modéstia e a simplicidade desse monstro matemático, não lhe


ofuscaram na vida, onde teve reconhecidos seus conhecimentos e a
benquerença de todos os seus alunos e pares de sua profissão.

551 O tempo é o melhor professor da vida, mesmo, se você não fizer


nenhuma pergunta ele, te dará as melhores respostas. Por isso,
comenta-se que o envelhecer é frutífero na sapiência, porém, se
nessa caminhada não tiveres guardado todos os aprendizados, essa
maturidade não será de bom alcance.
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O Ivan cresceu e aprendeu. Fora convidado à um casamento e não


se fizera de rogado, seu terno estava velho e surrado para esse
552
evento tão nobre.

Fora na loja adequada, de bom gosto e alugou um novo e belo terno,


cinza escuro, totalmente compatível com a festa. Prudentemente,
depois do almoço estava prestes a iniciar uma sesta aprazível,
quando lhe deu na telha testar, de novo, a indumentária. Tiraria,
assim, todas as suas dúvidas, se bem que não as tinha, pensava.

Colocou a calça, o cinto, meia, sapato, camisa e o paletó, queria se


ver, antecipadamente, como se apresentaria na festa. Olhou no
espelho e ficou satisfeito com o que viu, e se vendo com os olhos no
canto direito, foi direto nos bolsos para a pose, como se o espelho
fosse o seu fotógrafo.
Qual não foi a sua surpresa quando suas mãos enfiadas na boca da
calça desceram-lhe, escorregando pelos bolsos e foram parar quase
nos joelhos.

Estarrecido, gritou, Nega, a calça não tem bolso. Como vou alojar
meus pertences, carteiras, dinheiro e celular. Por curiosidade fez a
mesma verificação no paletó, e também não tinha os forros.

Olhou no relógio, quase duas da tarde. Correu para a loja e indagou


irritado, qual o motivo de tanta irresponsabilidade. O dono da loja,
experiente, lhe disse, o senhor queria um terno que nunca fora
usado, nesses casos ocorrem imprevistos.

Pôs a mão na massa e prometeu para cinco e meia da tarde, mas ele
preferiu esperar até recebê-lo, pois essa cerimônia era muito
importante.
553

Chegou quase em cima da hora, sorte sua é que era um casamento


e a noiva sempre atrasa. Mas, no final, tudo deu certo.

Foi com os bolsos abarrotados de nada e voltaram cheios de


docinhos e salgados gostosos. Valeu a pena, os forros.
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A família Abitbol sempre teve a predileção pelo futebol. E os nossos


554
filhos nos acompanharam, nessa arte habilidosa da bola onde se vê
claramente quem são os craques.

Na atualidade os meninos de então e futuros herdeiros de nossas


raízes apreciavam muito o futsal, sem desprezar o futebol dos
gramados. Era mais uma facilidade das quadras acessíveis nos
colégios e em todos os clubes sociais.

Rafael e o Marcelo jogavam pelo BNB Clube e disputavam, por


vários anos, como titulares as modalidades mutantes das categorias,
em razão da idade. Foram campeões cearenses, em alguns e quase
sempre chegavam as finais dos campeonatos.

Eu e a Claúdia não perdíamos um jogo, enturmados com as galeras


de outros pais de atletas. Fizemos histórias com a nossa assiduidade
e torcida vibrante, e nos xingamentos aos juízes.
Éramos conhecidos dos juízes, dos treinadores, nossos e de outros
clubes, tal a nossa euforia. Eu, até aos treinos comparecia, no banco
de reservas.

No Colégio Christus, igualmente, jogaram por suas respectivas


classes nos jogos internos e nos intercolegiais defendendo as cores
da Instituição educacional.

Ficamos íntimos, também dos atletas, pais, treinadores e


formávamos a torcida gritando o jogo inteiro pela vitória. Foram
campeões várias vezes. Era empolgante, como aficionado, como eu,
participar dessa forma interagindo com tudo e com todos.

Tínhamos o reconhecimento, por onde passaram. Jogaram, pela


AABB, que montara um super time e foram vencedores. Enfim, foram
555
vitoriosos nesse esporte.

Os adversários não davam moleza, principalmente, no Rafael, mais


ardiloso e goleador emérito do clube. Um zagueiro adversário entrou
maldosamente numa bola dividida e foi de encontro, maldosa e
propositadamente, no peito do pé do Rafael, que caiu contorcendo-se
em dores.

Entramos em campo, exigimos a expulsão do faltoso e criamos o


maior fuzuê na quadra. Empurra para lá, empurra pra cá, e
esquentamos o ambiente, eu, a Claudia e o resto do nosso time. A
Claudia era a mais inconformada com a atitude do jogador desleal.

Levamos o Menino para uma clínica especializada e foi


diagnosticado com uma ruptura de ligamento. Procedeu-se a um
tratamento, especializado e algum tempo depois voltara às quadras.
No último jogo do torneio estávamos lá, eu ea Claudia e outros pais,
vibrando e torcendo pelo colégio, e em particular, cada um , po rseus
filhos.

Na final do torneio intercolegial, onde o Christus foi campeão,


tive um reconhecimento e fui o homenageado, nada fora de
improviso, e imperou a amizade. Estava rouco ao agradecer.

Mal sabiam eles que, torcer era uma das minhas profissões, pelo
Ceará, e pelo Christus. Tinha doutorado. Jantamos de graça.

Pela Comissão Técnica de Esportes do Colégio como O Torcedor


Símbolo, com um jantar patrocinado por eles e atletas de futsal,
colegas dos meninos. Tudo com muita simplicidade, mas com muita
amizade, respeito e acima de tudo como um exemplo a seguir.
556

O Cocão, coordenador de esportes do colégio, o Moacyr, o treinador


do time, e outros auxiliares e assistentes estavam todos lá. Falaram.
Conhecia todos.

Eles já tinham esse intuito, o os pais de dois jogadores fizeram


questão de ir, ao jantar e pagaram as suas contas, o pai do
Érico,....m.... e pai Renatinho, um dos artilheiros ................,
557

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O Marcelo era zagueiro, duro e pesado na marcação e esquentado


quando levava uma porrada. Não deixava por menos, ia para o
revide e não levava desaforo para casa.

Foi expulso, algumas vezes, sob nossos protestos insidiosos e


distribuidores de sinônimos ao juiz, ladrão, gatuno, larápio e
desonesto.

Nosso dicionário, era maior que os do Aurélio ou Houaiss, juntos,


aprendemos com eles e o ambiente da rua, ainda contemplava com
outros adjetivos do gênero.
Algumas tempestades servem para testar a força de nossas
raízes. E nós mostramos, suficientemente, fortes para prosseguirmos
nos esportes.

Entra quem quer, depois não se arrependa. Mas a vida nos


ensina a não temer e nem desistir daquilo ou daquele que
amamos. E continuamos, no mesmo diapasão, dançando a toada no
mesmo ritmo que inspirou seu músico, com amor e dedicação.

E, novamente os desleais, são assim por consequência de um


caráter mau formado e sinuoso. Querem lutar com armas desiguais,
enquanto nós visávamos, apenas, a bola, no esporte rei do mundo.

O Rafael, entra na área e rodopia um drible no adversário e este


maliciosamente, de maneira cruel dá-lhe, uma cotovelada nos dentes
que quebrou o inciso central e o deixou separado e pendurado, em
558
sua boca, banhada de sangue.

Outra confusão, ânimos exaltados, jogador expulso, bate boca pra lá


e pra cá. Quadra lotada de torcedores e a turma dos verdadeiros
desportistas consegue apaziguar os ânimos e dar sequência ao jogo,
enquanto o Rafael, recrudesce em dores, em caminho a uma Clínica
Especializada de Emergência Odontológica.

Foi um golpe duro em nossos bolsos monetários e até hoje, ele sofre
com a consequência, dessa inconsequência.

Tudo na vida passa. Mas nem tudo se esquece. Até porque é um


fato latente. Voltou às quadras com um novo sorriso e continuou a
jogar,
Era o queria e gostava. Seja feita a sua vontade, enquanto der para
resistir, aí entram as nossas raízes profundas de sentimentos e
amores.

Não se discute o inquestionável, o incontroverso. A razão deve


prevalecer nas atitudes frontais e colaterais de nossas
personalidades. Tudo resolvido com racionalidade é bem decidido.

559

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXxxx
Afora esses jogos dos campeonatos cearenses e colegiais era, o
Yuri, o amigo inseparável dos meninos. Era um irmão, para eles, com
todos os direitos e benefícios dos demais.

Era, também, um filho para nós. Mas fazia, por onde.

Sua tranquilidade, intranquilizava os demais companheiros de bola e


carnavais. Preferia, por vezes, a televisão em troca dos chafurdos na
praia do Icaraí. Mas, ia também pendurado junto, com os outros
amigos, disputando com todos os melhores lugares do buggy.

Não se pensávamos, em ir a um passeio que não se contasse com a


sua presença certa. Nas praias, aos domingos, chegava cedo para
irmos comer caranguejos, que eram disputados por eles pelos seus
tamanhos. Um dia, o Marcelo se antecipando a chegada dos
crustáceos, esperou o rapaz da bandeja e retirou logo os seus.

Ficou manjada essa sabedoria. Eu ficava feliz em ver as crianças


sadias brincando na s areias e o cuidado que tínhamos era iguais
para todos. Na comida, nas águas e nas pedras.

Eles, sim, têm muitas histórias para nos contar. Foram e são felizes,
graças a Deus.

No BNB, os três eram figuras marcadas para as peladas e banhos na


piscina. No Campeonato, interno do Departamento do BNB, jogavam
em times como filho de sócio, o Yuri era um deles.

Os jogos erram duros, difíceis com os funcionários veteranos que


não gostavam de perder para as meninadas e tomem cassete e eram
560
respondidos. Mas só fizeram amigos.

No Castelão, lá estava o Yuri e o Daniel com as camisas do Ceará


contrariando as opções paternas e por decisão deles. Eu procurava
não interferir, mas era um pouco maledicente com o tricolor e a
bandeira desfraldada do Ceará no carro fazia a diferença.

Hoje são torcedores convictos das cores alvinegras. Vibravam com


os gols do time glorioso, eu achava bom e bonito. Ia pegá-los e levá-
los e as vezes, o inverso.

Essa era uma das minhas piadas secretas e sigilosas dessa


singela brochura, que sei, farão os manos rirem. Esse, é um dos
objetivos, pois guardadas com muitas saudades.
561

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Lá em casa, principalmente, nos fins das tardes tinha um futebol
combativo, vigoroso, mas leal no gramado da casa. As traves eram
duas Palmeiras Imperiais, de cada lateral da residência, plantadas
por mim e hoje com mais de quarenta anos.

Eu, Rafael, Marcelo, Yuri, Walmri, Célia, e outro candidato, se


aparecesse, o jogo era cacete. Campo pequeno e eu me prevalecia
disso, para competir, em igualdade de condições, há pouco
cinquentenário.

O Walmir, rapaz que trabalhava lá em casa, era um dos participantes


que completava os times. Descontava conosco todos os dissabores,
por acaso sofrido, era um acerto de conta. Porreteiro,
Mas, isso é só brincadeira. Era um interiorano, do campo mesmo e
gente boa. Gostávamos muito dele e ele a nós, também.

Porreteiro? sim, isso mesmo, por que não, se o Guimarães Rosa, em


Grande Sertão: Veredas, usa esse termo, então, devo fazê-lo para
homenagear o meu amigo, Rosa.

O Noel, era também, meu grande amigo, e andávamos juntos a pés,


eu cantado ou assobiando suas músicas, e ele na minha cabeça
iluminava os meus dias. Grandes amigos. Ele não era poreteiro, ao
contrário, amoroso, criativo, lírico, satírico, cachaceiro, boêmio,
seresteiro. Gênio.

Hoje, tenho como companheiro preferido de tods as horas, o Chico, o


Buarque, sinônimo do Noel. Dever-se-ia chamar de Chico Noel. É
562
assim, que o trato.

Mas, a bola rolava quente no pequenino Estádio Iluminado


Ruymar Abitbol.

Jogávamos até o escurecer, saímos cansados, água geladinha era


frequente e quando pensávamos que estava bom de terminar por
aquele dia, apaecia um gaiato, que desafiava para um jogo jogimho
até não dá mais.

Coloquei uns refletores no gramado e tínhamos, portanto, campo


iluminado. Melhorou muito. A qualidade, porém, continuou a mesma,
o que imperava era a saúde, a boa vontade, a raça.
O Campo era pequeno demais e a isso favorecia, em detrimento a
estilos ou o classicismo e, se tentássemos levava uma cebolada,
pois ardia e doía a canela, fedia a cão.

Era duro e difícil o jogo, sem prognósticos, mas era leal, risonho e
fresco. Vez por outra abria-se a a chave da torneira, da mangueira de
agoar a grama e se molhava, da cabeça aos pés, como dizia a
propaganda do Aseptol, mas conhecido, em Fortaleza, que a própria
cidade. Inda, hoje, uso. Adoro seu cheiro, cheio de saudade.

Eu jogava sempre contra o Walmir. O Rafael de um lado e o Marcelo


do outro. O lado Yuri sempre desequilibrava o time, para melhor, era
caceteiro e risonho.

A Célia era aguerrida, brigava pela bola como um carrapato, e


quando a bola se escondia atrás das plantinhas laterais do muro,
563
tinha pena delas, pois eram despeladas e os gravetos quebrados,
voavam. Os pés traziam o estrume e cultivavam a grama.

Era muito bom. Como esquecer e não ter saudades, dessas


oportunidades vividas e preciosamente guardadas nas malas
enfaixadas de saudades.
564

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXxxXX

E aos poucos, nos caminhos impertinentes da vida, deparamo-nos


com todos os valores suscetíveis que a vida nos apresenta.

Uns passam despercebidos, pois não são representativos, são


cotidianos efêmeros, outros nos marcam pela singeleza tocante de
seu ato.

As coisas mais óbvias, mostraram-me que a vida é de simplicidade,


e o mais importante na sua realidade, é o sentimento.
Nem todos, sabem apreciar ou usufruir com fluidez e alegria esse
valor. Alguns esquecem ou desconhecem a importância desse
significado para a humanidade, para a família e para si.

É preciso sentir, para se ter sentimentos verdadeiros.

O Natal, nos traz um valor sentimental, quando comemorado em


referência ao aniversário, do Senhor. Ele morreu, crucificado, por
nós, para nos salvar e oportunizar a sentar-se à sua direita na vida
eterna. É a fé, que deve prevalecer nesse momento.

Os presentes, entre os terceiros, são acessórios, tradição que


deveriam ser objeto, apenas, de rememoração da história de Noel,
o nosso Papai.

O bom velhinho, representa o altruísmo e os sentimentos de


565
bondade e gratidão que invade nossos corações nessa altura
festiva.

Em épocas antigas, vestia-se e mantinha a aparência de forma


diferenciada, com que se apresenta hoje.

Somente, em 1931, através de uma campanha publicitária da


Coca Cola, foi que o Papai Noel, ganhou nova roupa, deixou
crescer a barba e a usar óculos, e assim o conhecemos hoje. O trenó
e as renas não sei que as doou. As lendas são seculares.

O velhinho bondoso e caridoso, foi inspirado em Nicolau que


costumava, anonimamente, ajudar quem estivesse em dificuldade
financeira.
Diz a ficção que usava um saco, com moedas de ouro, a ser
colocada nas chaminés das casas dos carentes.

Foi santificado depois que muitos milagres lhe foram atribuídos.

O natal de Papai Noel, deveria, sim, se associar nessa celebração,


como coadjuvante, da festividade. Guardados os sentimentos de
tal forma, que os acessórios não sejam mais importantes que o
principal.

Existem uma inversão de valores.

Nessas alturas, hão de dizer, que estou tresvariando, não é bem


assim, só tive a intenção de valorizar um ato tradicional da família
Abitbol, impressionantemente, marcante nas nossas relações
familiares.
566

Para registrar o fato, da comemoração do Natal, na área de lazer


dos apartamentos da Ruth e Masinha, era preciso, suscitar, a
ambiguidade dessa comemoração, penso, eu, pois, sinto
sentimentos diferentes que são inerentes na confraternização do
Natal de Família e na sua adequação formal.

Ele não passa indiferente a quem dele participar, mesmo não


sendo, da família, é simples, mas não menos imponente e belo o
espetáculo.

E se toca no coração, é porque os sentimentos são verossímeis.

Todos têm pleno conhecimento da razão da Festa maior, feitas com


as orações e liturgias, pela Masinha, a missionária da fé da família,
que lê os trechos bíblicos que determinam a relevância e a reflexão
do natalício de Cristo.

A alegria é contagiante, a disponibilidade da família na participação


da família é algo que emociona ao se ver avós, pais e netos, em
trenzinhos, cantando músicas natalinas com empolgação,
voluntariamente.

A indumentária, a toca de Noel, para todos os participantes,


simbolizando o natal de Cristo, sem descriminação, demonstrando
em sua unidade, que a família é maior que tudo, aqui na terra.

As coreografias, planejadas e organizadas pelo Ivan Régis, Eurico


e Yuri, dão o toque mágico e a demonstração inequívoca de uma
família cristã.

567
A ceia é farta, a rigor não tem patrocinadores, todos colaboram com
os pratos ou salgados, sem solicitações prévias, mas o perú e as
bebidas são dos donos dos apartamentos.

Na realidade, não existe um cardápio, antecipadamente


combinado, mas um conjunto de iguarias, que por si só, nos
apresenta, um único sabor: come-se o que tiver, pois a qualidade
está garantida pelos chefes das famílias.

A alegria impera, as músicas natalinas ecoam no salão e na


descontração, entra na roda quem quer e canta até quem não
sabe, para se harmonizarem na fé.

O Papai Noel, em sua democracia, já foi o Ivan, o Yuri e o atual é o


Eurico. Este sim, veio em traje completo. E comanda a sua festa da
qual, anteriormente, era um dos partícipes.
As trocas de presentes, entre todos, são meramente simbólicas,
pois na verdade sua essência está no bem-fazer, despertando na
criançada a prática e a maneira de um natal feliz. Conjugando, assim,
a imagem de Cristo com esse apreço aos familiares.

Essa tradição, veio para ficar. Foi fecundada e semeada com tanto
amor pelos familiares Abitbol que, no porvir, sem nenhuma dúvida,
teremos nossos netos com seus filhos e netos, contando esta história
e se confraternizando, da mesma maneira.

São mais de vinte e cinco anos que repetimos os mesmos caminhos,


músicas, coreografias, cenários, todos iluminados por uma ideia
posta em prática pelo idealizador Ivan Régis (Abitbol).

568

.
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW

Quando as chuvas do nosso inverno, começam a espaçar nos céus e


nuvens nebulosas a locomoverem-se para voltar, somente no ano
seguinte, é hora de pensar em festividades.

Estamos em junho, certamente, a nossa preocupação, agora, é


esperar a safra de milho e festejar os dias dedicados em
homenagens a Santo Antônio, São João e São Pedro.

É a festa junina.

O Neném e Maria Alice são muitos religiosos, mas não pensem que
569
celebravam as festas juninas por essas fés cristãs, mas, sim, porque
têm um Xodó. Juntinhos.

E, também, muitos amigos e familiares, cobradores profissionais em


suas essências, e de origens sertanejas e nordestinas. Dizem até,
que a Capela do Sítio foi construída em junho, para homenagear
Santo Antônio, São João e São Pedro.

Cada um, dos Santos, com o seu cartaz exposto.

Santo Antônio é o de maior apelo popular, é casamenteiro, basta


pedir uma simpatia; é o Santos dos Pobres, pois conseguia os dotes
para as moças carentes entrelaçarem-se o seu noivo. O dia dos
namorados precede a sua data de morte, de 13 de junho.
São João Batista, era o mais festeiro. Tomava banhos nas águas do
Rio Jordão e batizava os novos cristãos. Foi o precursor de Jesus. E
relatou as profecias do Messias. Gostava de uma boa colheita para
saciar sua fome, por isso, ainda, hoje é solicitado para dar uma
ajudinha nessas horas difíceis.

Sâo Pedro, pescador de primeira linha, foi o primeiro a ser chamado


por Jesus a lhe seguir e a professar a fé cristã. Pescava no mar da
Galiléia. E Cristo, falou para ele, Pedro, sobre essa pedra edificarei o
meu reino e entregou-lhe as chaves do Céu.

O Xodó era um lugar privilegiado e perfeito para esse tipo de evento


festeiro.

O Rubem, instado por seus pedintes, resolve promover a Festa


Junina, no Xodó de sua família e amigos.
570

Dava um trabalho danado, confessava ao final da festa, morto de


satisfeito e agradecido referenciava as pessoas que lhe ajudaram
nas atividades e montagens do evento.

Um arraial construído a gosto para a satisfação de todos, com os


ingredientes peculiares. Na decoração as Bandeirolas enfeitavam
toda a área, balões multicoloridos ornavam os seus principais pontos,
a fogueira já acesa.

As barraquinhas com as tradicionais comidas sertanejas, paçoca,


milho cozido canjica, tapioca, pamonha, pé de moleque, bolo de
milho e mais as bebidas e refrigerantes, tudo isso emoldurado por
bandeirinhas, balões e traques.
As barracas estavam prontas com seus jogos de tiro alvo à
espingarda e setas ao escudo para quem tiver mais pontaria. E
outros divertimentos.

Mas, tinha um ponto nevrálgico, a churrasqueira não dava


vencimento para os churrasquinhos de frangos ou carne. Tudo no
ponto.

A música sertaneja autêntica, pé de serra, tocava alto enquanto o trio


se armava com seus instrumentos característicos da festa para dar
início ao arrasta-pés.

E chegam, acanhados e confiantes no talento, o sanfoneiro, o


triângulo e o zabumba. E um macho para cantar as músicas do
nosso Gonzagão. Era baião, xaxado, forró, xote e o escambau.

571
Seus convidados, estilizados nos seus trajes harmônicos com as
vestimentas dos sertanejos, camisas xadrezes coloridas, chapéus de
palha, bigodes e cavanhaques pintados a lápis.

Suas parceiras, a caráter, com vestidos de chita colorida, maquiada


ao gosto da matuta, tranças estendidas pelo seu colo ou marias-
chiquinhas infantis, em uma beleza brejeira, sem sofisticação.

Os participantes da festa, agrupados se candidatavam a quadrilheiro


e já postados, aguardavam o momento certo, para se inferir como
protagonistas da noite dançante, coletiva e com seus pares. Era a
quadrilha do Dr. Rubem....

Agora, no terreiro da roça, o ambiente era das mais autênticas


músicas de Forró de Serra. O fole do sanfoneiro sofria com as
arranhadas do seu mestre, enquanto o triangulo e o zabumba se
aquartelavam para manter incólume o “conjunto da ópera”.

Os dançantes procuravam mostrar, ainda, algumas das habilidades


que praticara com louvor em outros tempos, mas não
decepcionavam, porque tudo era alegria.

O Neném, velho conhecido das antigas danças e músicas, desse


naipe, a tudo assistia com a ironia dos bons tempos. Os amigos e
familiares se achegavam e se confraternizavam com todos.

Alguns já tinham até permanentes, como o inesquecível Aderbal,


Eliano, sua esposa Helena, o gordinho marquinho (??) e outros já
habituados. Os Augusto Borges, sempre marcavam presença,
Uirandé e Ubiratan. E a família Abitbol, representada em sua
unanimidade.
572

Em dado instante é anunciado o assalto da quadrilha e já estava no


caminho da roça, e tudo que combinaram, deveriam ser
concretizada.
O improviso, falava mais alto, mas foram escolhidos os integrantes
formais, o noivo, a noiva, o padre, o pai da noiva e o delegado.

O Ivan, Yuri, Eurico e o Daniel, eram considerados efetivos no time


principal dos quadrilheiros. Muito mais pela ousadia do que,
propriamente, como dançarino de forró. Só pé de chumbo.

Mas, a disposição era a maior credencial. Executavam a coreografia,


os passos marcados e tradicionais da dança, corriam alegres com
seus pares, cumprimentando os compadres, e no balancê
esforçavam-se para mexer os quadris e ficavam felizes quando,
solicitados a voltarem aos seus lugares de origens.
Avançar, e lá iam eles, passar por um túnel e entortando suas
colunas conseguiram vencer esse obstáculo, e na sua saída, quando
se ergueram, a surpresa do padre, convocando os noivos para se
acasalarem.

Aí a confusão foi grande, o noivo fugindo, a noiva chorando, o pai


dela puxando o revólver e o delegado correndo atrás de todos.

Se saltaram as brasas da fogueira de São João, não sei, o certo é


que ninguém se queimou.

Despediram-se, dos convidados, airosamente, pois cumpriram com


as destrezas naturais dos tempos, o objetivo maior: Serem felizes.

É uma tradição familiar que esperamos ver continuada por seus


573
filhos, netos e familiares. Tudo que resta como lembrança e nos dá a
vontade e a saudade de reviver, merece ser perenizada, onde
serão, ainda, maiores esses sentimentos.

,
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Essa era uma das minhas piadas secretas e sigilosas dessa


singela brochura, que sei, farão os manos rirem. Esse, é um dos
574
objetivos, pois guardadas com muitas saudades.

Mas, deixemos a bola rolar e vamos ao Estádio Castelão.


Lotadíssimo. Ceará e Fortaleza, decidindo, mais uma vez, o
campeonato cearense. Como sempre, sem prognóstico seguro,
quando se encontram, o Leão fica ferido e o Vozão vai para cima,
encarar o bicho.

Fomos todos da gandaia alvinegra. Eu, Cláudia, Patrícia, Marcelo,


Rafael e o Yuri, festivamente engalanados com as camisas listradas
em preta e branca.

Possuíamos as carteiras cativas, permanentes, por dez anos. No


acesso à portaria do estádio, uma confusão generalizada e os
cavalos da Polícia avançaram sobre a multidão, que se afastava de
maneira inamistosas e temerosas dos animais. Ficamos com medo.
Não reconhecíamos, exatamente, quem era o cavalo abrupto, se
estava realmente na montaria ou se o conduzido, pois carregava a
todos, como se nós, torcedores, fôssemos os animais, ou se tudo era
a mesma coisa.

Foram de uma brutalidade afrontosa. Tumultuo geral, o ambiente


antes familiar e tranquilo na entrada, virara um faroeste premiado em
Hollywood. Bombas de gás lacrimogêneos enfeitavam os céus e o ar
puro de antes, era de um odor fumegante de pólvora.

A torcida respondia com rojões ensurdecedores. Parecia estar no


Vietnã. Pensei, mas eu vim assistir um jogo, e não a um filme. Mas,
já estava acostumado a essas selvagerias, mas os outros não. Como
todo enredo feito para mocinhos galanteadores, tivemos um final feliz
nessa guerra, momentânea e desnecessária.
575

Conseguiram, impor a moral e colocaram ordem na casa e todos ao


entrarem eram vistoriados. Vi claramente, com meus olhos azulados
pelas cataratas alvissareiras, os bagunceiros da Ceará Amor, torcida
Organizada, estirar ao chão o seu bandeirão enorme, por
determinação dos militares.

A Polícia a esticou e passou a passear em cima dela, vasculhando


alguns objetos periculosos, ou bebidas alcóolicas e na medida que os
policiais passavam, os membros da torcida vinham atrás, colocando
embaixo das cores alvinegras as coisas que os militares imaginavam
encontrar.

Iam pondo seus celulares de cachaça, paus e acessórios e enrolando


a bandeira imensa. Não localizaram nada, mas a torcida levou para
dentro do estádio tudo o que trouxera.
E nós, segurando as mãos dos meninos e colocando a outra mão
no nariz, na tentativa de impedir que o poeiral da bandeira suja e
fedorenta, mas linda, nos levassem a uma gripe ou alergias.

Nas cadeiras o ambiente era familiar, conhecíamos todos os vizinhos


e trocávamos palpites sobre o jogo animadamente.

O Ceará venceu o jogo, por um a zero, o que aumentou o volume de


nossos entusiasmos em detrimentos aos adversários, cabisbaixos e
conformados. Mas o esporte é assim, um dia é da caça outro, do
caçador.

E fomos campeões num sofrimento incrível, mas ganhamos. Era o


mais importante. Campeão, é campeão, o grito de guerra. O clima
era outro.
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Tem que gostar muito de futebol para enfrentar essas barras
577
pesadas que sobrepõem a civilização, a educação e a cultura de um
povo. Mas, não é só no Brasil que acontecem esses “eventos”
arruaceiros.

Em outros polos como na Europa, é a mesma coisa, a diferença só


está na língua. E dessa vez, mais recente, íamos mais uma vez, para
um jogo do campeonato cearense do qual não perdia nenhum, mas
era um Ceará e Fortaleza. Sempre é diferente.

No Presidente Vargas, no velho e querido PV., estádios de memórias


imorredouras vividas com sentimentos de grandes emoções de
contentamento, euforias e tristezas. `e o espírito espóprtivo. A alegria
de uns, senpre é a tristeza do outro

Chegávamos cedo, colocava o carro no estacionamento, na rua ou


onde fosse possível, e ia para a Pracinha da Gentilândia rever
amigos e comer uns churrasquinhos de carnes deliciosas da Dona
Francisca e refrigerante porque ninguém é de ferro. Eu não bebo,
principalmente, nesses instantes de responsabilidades.

Dessa vez, como quase o sempre, o time estava formado comigo,


Rafael, Marcelo e o Yuri. Para esse tipo de clássico, para mim, com
cuidados especiais, a lotação estava completa.

Todos fazendo e repetindo uma boa merenda. Sabia a hora de entrar


no estádio, que dependia do adversário a ser enfrentado. Esse era
aquele jogo que me exigia o máximo em atenção, segurança e ia
logo, andando, aguardar o início do jogo nas cadeiras ou
arquibancadas.

E nos encaminhamos para ingressar no PV, lotado, já enrolado em


filas coloridas alvinegras, pelas portarias destinadas ao Clube. No
578
percurso, sentimos algo diferente da tranquilidade que, tínha
sentido contrário, ao nosso, como se estivesse voltando.

Não demorou muito e foram chegando às nossas proximidades, em


posição de confronto, correndo com a cavalaria da polícia aos seus
alcances. Isso tudo em uma rua estreita. Peguei nas mãos dos
meninos e tentamos retornar ao nosso ponto de saída.

Impossível, essa marcha à ré, era muita gente e os cavalos


tumultuando a situação dos pedestres que se esquivavam dos
animais, com cotoveladas em seus pedestres mais pertos.

Saímos esgueirando pelas calçadas liberando as pistas para os mais


afoitos e de repente tiros de borrachas foram ouvidos. Aceleramos os
passos, mas o Rafael, foi premiado como alvo de um desses
disparos.
Perfurou, minimamente as costas e o sangue começaram a escorrer
devagarinho. Ardia, dizia ele. O Marcelo levou uma pancada nas
costelas que lhe doeu a semana inteira. Quis desistir do jogo, por
causa dos meninos, mas eles não aceitaram.

O Rafael, ainda hoje está cicatrizado com essa marca registrada.


Conseguimos entrar, eu abraçado com eles, pedindo licença, como
pretexto e empurrando também.

Assistimos ao jogo e o Ceará venceu por dois a um gol. Mas, se me


perguntarem, só o Ceará que ganha, eu respondo, no meu livro só
mas é verdade, todos sabem que o Alvinegro já perdeu, também, e
os resultados efetivamente foram esses, coincidentemente.

Histórias de futebol, valem ouro.


579

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Eu que o diga. Veterano no esporte. Sempre, adentrando no
Castelão, a noite, pouca iluminação, dei bobeira. Um cordão de ouro,
grosso, bonito e valioso com a cruz do Senhor pregada no meu
pescoço, mas assim mesmo passou um larápio correndo, com a
camisa do tricolor de aço, puxou meu cordão e continuou a carreira.

O Marcelo pressentira, segundos antes, ao vê-lo correr em nossas


direções, mas não teve tempo de impedi-lo e, ainda levou azar,
quando quis correr tropeçou num pé mau colocado e caiu, todo
ralado mas, assim mesmo foi atrás e não viu mais nada, nem o vulto.

Depois, em frente ao Bom Preço, estava em ligação com a Rachel e


achei por bem parar o carro e continuar a conversa com o carro
parado. Tive a precaução com a segurança do veículo, subi uma
calçada baixinha.

Enquanto falava, com os vidros abertos, acho que não tinha ar-
condicionado um ladrão, desses asquerosos, invadiu a minha
privacidade e enfiou a cara objetivando levar o meu celular. Aquele
tijolão. Agarrado nele, não cedi.

Pelo contrário, fiz tanta força para livrar-me do vagabundo que já


sentado no freio de mão para escapar, e o cão viu meu cordão de
ouro igualmente lindo como o do Castelão. Ai ficou fácil para ele,
soltou o celular, pensei que ganhara a luta, mas na realidade perdi o
cordão para o cretino gatuno.

Foram uns dois minutos de luta, menos que um round, saí do carro e
vi umas dez pessoas apreciando a cena como se fora um filme. Nada
580
fizeram por mim. O que mais me ajudou, disse-me o que já sabia, ele
dobrou ali e foi embora.

Olhei para a cara deles e pensei, não custava nada me ajudarem, o


bandido estava entregues a eles, pois dava-lhe as costas. Mas, a
solidariedade foi menor que a curiosidade e preferiram assistir o
filme até o fim. Dessa vez, o mocinho levou a pior.

E o pior, de tanto trocar forças com o larápio, ainda entortei o freio de


mão que se sentara em cima, para melhor me posicionar. Fiquei no
prego, mas logo resolvido.

Mudei de clima, fui para a praia do futuro. Com a família toda. Em


dado momento, resolvi dar uma caminhada no sentido do Hotel
Fortaleza, do nosso colega de Banco, Rômulo. Caminhando sozinho,
lépido, sol abrasador, pensando nessa saudável prática. Estava
acostumado a fazer esse percurso e sabia o local, onde deveria
voltar.

Já retornando, tranquilo, subindo e descendo pequenos morros de


areias para dar maiores suportes a musculatura das pernas, quando
pressentir, ao meu lado uma figura clara, correndo em paralelo e tão
rápido quanto raio, passou a mão no cordão de ouro que levava no
pescoço, que nem triscou no pescoço, tal a destreza e agilidade
desse felino ladrão e salafrário.

Cheguei na barraca e contei o fato. Recriminaram-me pelo fato de


sair com o cordão, tão exposto. Verdade, concordei. Fora
esquecimento. Mas, o que mais chamou-se a atenção foi a sua
precisão no golpe certeiro, no alvo sem beliscar. Pensei, em
atividades sociais têm os amadores e profissionais, este na certa
581
tinha um doutorado e mestrado em sua arte.

Mais um cordão roubado e Graças a Deus, saí ileso. A partir daí,


passei a usar um cordão bonito, trancelim rotundo que brilhava ao
sol, belo, mas só metálico, fajuta, mas, o que me conforta é o Senhor
na Cruz, benzido e não o ouro dos antigos. Mas, aí no dia de meu
aniversário, ganhei um de ouro. Ando com ele. Mas, mais blindado
do que eu na pandemia. Já passou dos sete anos de propriedade.
582

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Mãe é mãe. Mas, tem horas que Pai é pai. Sem preconceitos,
admitamos que existem fatos que só as mulheres resolvem pela
meiguice e facilidades translúcidas de comunicações de amores.

Mas, também, outras situações o pai tem melhores condições de


resolvê-las, quando se trata dos filhos.
Essa história de que a cozinha não é lugar para homens, bem como
jogar bola não é esporte para as mulheres são, lorotas e estão
ultrapassadas e socialmente admitidas.

Os meninos, nossos filhos nunca crescem em nossos carinhos,


tinham ido a um show dos Chicletes com Banana, lá no Água
Parque, no Beach Park. Foram no meu carro, uma Belina verde.

Os garotos, eram os vestibulandos Rafael, Tatiana, Marcelo, Patrícia,


Rachel e Hugo, dançaram para valer e se divertiam no Tobogã,
roucos cansados e, ainda assim, foram para as últimas cervejas e
saltos nas altitudes do escorregador aquático.

O Marcelo era o condutor do veículo e com muito cuidado, nessa


hora, resolveu tirar a chave do carro do bolso para evitar uma
eventual perda, o que seria o máximo a essas horas do amanhecer.
583
E colocou na boca, bem apertada pelos dentes.

A Patrícia, prudentemente, falou que não ia dar certo, pois até


arriscado, era de se engasgar, com aquela preciosidade, por causa
das circunstâncias diversas do momento.

Ele concordou e a levou na mão, apertando-a com força que, era só


o que não lhe faltava, era conhecido nesse mister. E desceu rolante
com a consciência e o domínio dos mestres.

Mas, as águas têm as suas forças propulsoras nesse entretenimento


e nessa disputa o Marcelo abriu a mão, literalmente, e a chave fugiu
entre seus dedos, e desapareceu entre as límpidas e claras águas,
mas escuras e sujas para os passageiros do carro.
Começaram a procurar a chave, mas era difícil. Amigos e outros
brincantes solidários, com o grupo também juntaram suas forças em
busca dessa peça chave, no retângulo das águas. E nada, passaram
minutos preciosos.

Foram à gerência e esta lhes deu todo o apoio, destinando cinco


mergulhadores do Parque, para entrarem em ação, numa tarefa
quase impossível. Infrutíferas foram todas as diligências. Outras
pessoas cooperavam em catar em áreas diferentes. Na realidade, já
era mutirão.

Mas, um filósofo, dentre eles, vendo tanta gente compreensiva


ajudando, sopra um bafo de cerveja gelada que até o ar saiu frio,
e disse, isso é que é bom. É melhor um bêbado, do que um
alcóolatra anônimo!!!!!!!!

584
Já pressionados pelos seguranças e trabalhadores do Parque, que
queriam retornar aos seus lares, e começaram a lhes desestimular
na pesquisa arqueóloga. Pensaram.

E, chegaram a uma conclusão unânime, encerrar as atividades


aquáticas e objetivar os fatos, para uma solução plausível.
Telefonaram, lá para a casa por voltas das quatro da manhã.
Estávamos dormindo, eu e a Claudia.

Atendi a ligação, entendi o problema e sabendo de sua urgência


prontifiquei-me a ir imediatamente. Peguei as chaves dos carros, e ia
no veículo da Cláudia, um azul escuro, metálico, 2.0. Bonito.

E lá fui eu, voando pegar os meninos. Naquela época a maior parte


da avenida era estreita e depois da curva a direita, totalmente
carroçável. Mas, demorei-me pouco a chegar e fui saudado como
salvador da pátria.

O mistério, presumivelmente, acabara ali com as chaves em minhas


mãos. Fiquei no Monza e o Marcelo segurou a chave e perguntou,
papai cadê a chave. Respondi-lhe, está na sua mão. Ele replicou e
disse essa é a cópia do Monza, do carro da mamãe que o senhor
está dirigindo.

Viemos na sua Belina. E a chave não é essa. Aí o redentor,


compreendeu que só resgataria as mulheres, que voltariam com ele,
até em casa. Os homens teriam que entender a boa vontade do pai
que, novamente, viria pegá-los.

Voltei, despachei as garotas em casa, peguei a chave certa, agora, e


retornei pelo mesmo percurso. Ida e retorno, mais de uma hora de
585
trânsito. Por volta das 7:00 horas, subi as escadas para deitar-me
mais um pouco e eles dormiram até as duas da tarde.

As vezes as pressas, nos atrasam muito mais que, se fizéssemos


tudo com alguma rapidez e calma, a urgência, não sobrepõe a
racionalidade dos momentos difíceis e, ocasionalmente, simples.

A lembrança, a saudade também nos marca com episódios


incoerentes e tolos, que ainda, hoje nos fazem rir.
586

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O Rafael e o Marcelo, tinham um quarto em separado na casa.
Nessa noite o Rafael dormia e o Marcelo com a Patrícia assistiam,
pela madrugada, um filme.

Ele, de repente senta-se na cama, nervoso e inquieto, diz, Tô cego,


não enxergo, e o Marcelo vendo a cena logo resolveu o problema,
abre os olhos abestado.
Ai, é...é ..., retrucou o sonolento e foi dormir.

Outra história, entre os dois, dormindo. Em cima, das camas


paralelas, tinha um aparador de livros e outros objetos que se
guardavam, para lhes facilitar a vida na correria do dia a dia.

Pela noite adentro, sonos profundos, o Rafael levanta-se para ir ao


banheiro e passa a mão na prateleira de vidro e derruba o
microsystem, tamanho médio, exatamente na cabeça do Marcelo,
que acordou alvoraçado, sem entender nada, pensando que o mundo
ia se acabar.

Quando viu a realidade dos fatos, ficou irado e a confusão entre a dor
da pancada e o susto, gerou uma confusão que nos acordou
também, sem entender nada do que estava acontecendo.
587

Serenados os ânimos, todos retornaram ao sono, restando apenas o


galo que ficou em sua testa, roxa e inchada.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O NOSSO FUTURO É A VIDA, E NÃO A MORTE, esta é, apenas um
induzimento que valorizamos muito. Nascemos para viver e não para
morrer.

O fenecer, é uma consequência natural, fatal e ocasional. Então, não


vamos nos preocupar com ela, em demasia, nem nela pensar.
Quando chegar, entregue-se, é a hora de finalizar as atividades
terrestres instantaneamente, em que momento da vida estiver. Não
adiantar resistir nesse instante, ela sempre vencerá.

Nós lutamos, bravamente é pela vida, por nossas saúdes. Não as


entreguemos, em tempo algum, e acredite, o futuro, esse é nosso,
vamos fazê-lo acontecer, e ainda, continuadamente, construí-lo a
cada dia, sem se importar com o dia seguinte.

Enquanto amadurecemos, devemos, sim, nos preparar para a


velhice, pois ela é, apenas, a continuidade do nosso tempo e, talvez
já estejamos a nos espreguiçar.

Mesmo, assim, a questione, igualmente, pergunte de frente porque


estás a vir tão, precocemente, pois, este, não fora o combinado, se
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antecipa a índole da nossa sobrevivência.

Cadê os abonos e bônus que nos prometestes pelos cuidados que


com ti tivemos, oh, vida??

Ponderamos, não são os anos que marcam as nossas temporadas


vitais e sim, a sua qualidade, a nossa consciência, a mente boa e
livre de ascos, as saudades e as lembranças, as mais recentes ainda
plenas de luzes a iluminar a nossa vivência. .
A ansiedade de vivenciá-la e um porvir que nos resta, poderá ser tão
longo e duradouro, que riremos quando a velhice, realmente nos
chegar.

Enquanto dissermos, com discernimento da nossa realidade que


queremos prosseguir, deveríamos aguardar os acenos da juventude
de que tudo era muito longo, mas logo chegara, por mais que tenham
passados tantos anos.

Sabemos, que um dia seremos derrotados e baixaremos as armas,


mas talvez, quando chegar esse momento incerto, iremos continuar a
vida com os nossos familiares, amigos e parceiros que se
anteciparam, e se foram, antes, cedo demais, quando menos deles
isso se esperava.

A incerteza, ou a certeza que tenho, não é a VERDADE da vida, é


apenas, a sua presunção.

Acho que, ainda, viveremos bons tempos, meus irmãos e depois


cada um esperará pelo outro, para continuarmos unidos e
protagonizarmos outras histórias, em lugares diferentes, com as
graças e as bençãos, do Senhor, meu Deus.
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VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
Irmão é irmão, do mesmo sangue.
O Neném, me obsequiou emprestar sua casa de veraneio, em
Mulungu, pertinho de Guaramiranga. A corriola toda preparou-se,
qual uma caravana de mochileiros, dirigia o carro com as malas
dentro e as trouxas em cima do veículo.

Eu, a Claudia, Rafael, Marcelo, Patricia e o meu neto, primogênito,


André com seis meses, eram os passageiros maus acomodados nos
assentos.

À tardinha, estávamos a jogar baralho, um buraco duro de sair,


atenções dobradas, quando passa em voo rasante uma barata,
sobre nossos meios.

A Patrícia é alucinadamente medrosa em relação a esses insetos.


Solta grito de horrores ao vê-la, e tomei um susto tão grande,
levantando os braços que as cartas também foram no rumo da
590
barata.

Nesse gesto intempestivo e brusco, desloquei a cabeça do ombro.


Uma dor incrível. O buraco acabou, mas fiquei na vala do destino de
uma emergência.

Depois, constatou-se que se tratava de uma borboleta travestida de


barata, o que não fez diferença porque o estrago já estava feito.

Procuramos, o dr. Nilo Dourado, amigo e vizinho, ortopedista dos


melhores da cidade. Atendeu-nos prontamente, numa clínica e fiz
infiltrações e tratamento, posteriormente, com remédios e o braço na
tipoia por um ou dois dias. De castigo a Patricia pela presepada me
levou.
Mas voltei ao Sítio e continuei esburacando e mexendo com a
realeza, agora no tabuleiro do xadrez. Foi muito boa essa passagem,
apesar do mau jeito. Mas, logo recuperei-me e a vida continuou como
anteriormente.

591
ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
ORAR NÃO É O SUFICIENTE, É PRECISO TER FÉ E FAZER

Estávamos em uma cerimônia de casamento de um dos


nossos netos afins, família toda reunida, em um buffet decorado e
ornado com os mais belos amores dos pais, indumentárias de gala
para os homens e vestidos lindos nas mulheres, isso, aliás, na
realidade, não era mais nenhuma inovação.

Acontecia sempre em todos os eventos sociais. A família, prestigiava


com o mais fino bom gosto. Somos alegres e temos essas
qualidades, que não são o dinheiro que opina, mas um toque de
originalidade.

Em tudo, principalmente, o Ivan Régis, com seu rosto bonachão, e


suas manias pesquisadoras de guerras, filmes e músicas. Pesquisa
592
tudo, as vezes encontra.

Foi o caso. Em pé, atrás da cadeira, apreciando os dançarinos


bailarem foi passeando a mão na poltrona, distraidamente, quando
de repente, sem querer e nem ousar, mas por puro descuido, meteu
o dedo indicador em uma saliência e encontrou um buraco e quis
medir a sua profundidade e o dedo fazendo o seu querer.

Satisfeito pela destreza e já conhecedor da extensão do orifício quis


retornar o dedo, e aí, parece que a poltrona não gostou da ideia, pois
estava adorando essas carícias.

E fê-lo provar de sua malignidade, segurou o dedo e prensou em sua


madeira. Ele então, sozinho, tentou tirá-lo, dignamente, desse
imbróglio vexante, numa festa de tal gabarito.
Mexeu, puxou, contorceu, enfiou mais, e começou a sentir dores e a
senti-lo quente e vermelho, mas não o suficiente para não se resolver
com tranquilidade e invisibilidade com os vizinhos.

Falou com o Haroldo que fez o que pode, e na realidade de tanto


cutucar começou a doer mais. O Ivan incomodado, começou a suar
pois não enxergava uma solução clara e definitiva para o problema.

Chamaram, o Rubem, jovem médico, impetuoso, meu afilhado, e ele


de pronto, deu uma alternativa razoável, tio vamos ao banheiro, só
nós dois para não chamar atenção, e vou passar bem sabão para
escorregar o dedo e tirá-lo desse insultuoso buraco.

Não tinha outro jeito. O senhor vai na frente com o braço e os dedos
para trás que eu, mais novo, levo a cadeira. O Ivan anda lembrou,
mas discretamente, claro respondeu o doutor.
593

E lá se foram enfileirados, desviando-se dos convidados que a tudo


assistiam e pensavam tratar-se de um show ou de uma mágica a ser
exibida pelos atores. Ficaram pensando se tratar de um segredo
das comemorações. Ficaram aguardando.

Só não compreenderam por que, o Ivan a cada convidado que


ultrapassava balançava a cabeça e pisca os olhos com ares
magoados, um aberto e outro fechado, característico, de uma
simpatia com a plateia que o retribuía com outros piscados de olhos.

É que nos desvios dos convidados, o Rubem Jr inclinava cadeira


para passarem e, nesse remelexo, afetava o dedo com uma dor
insuportável e refletia no rosto com o jeito peculiar de fechar o olho
doído e o outro para enxergar o caminho.
Ele, no caminho do calvário, orava e rezava pedindo piedade. Mas,
até então o espírita não demonstrava aquela fé, vigorosa e
veemente, o que talvez tenha retardado suas dores. Não basta orar,
é preciso ter fé, repito.

Foi um sucesso na passarela. e adentraram no banheiro. o doutor,


emérito também na fisioterapia tinha a prática necessária para
ensaboar o dedo. e o fez com técnica e exagero.

Dedo limpo, ensoado com aseptol e para dar mais liseira, viu um
álcool em gel e complementou a fase preparatória. Agora era só
retirar o dedo da cadeira. Simples assim, o pior já passara, pensaram
ambos.

E delicadamente, tentou retirá-lo da poltrona, mas não viu muito


sucesso no intento. Posicionou-se melhor e usou um pouco mais de
594
força e nada. Perguntou ao Ivan, se doera, sim, claro, disse nervoso.

Ficou preocupado e num instinto impulsivo, puxou a cadeira pro um


lado e o dedo pro outro e ele deu às caras. Num misto de alegria e
dor o Ivan olhou para a mão, para cientificar se o dedo ainda
estava lá ou se o fora arrancado. Para ter certeza, ainda olhou a
cadeira e não o viu. Respirou aliviado.

Voltou contente e disse alto, tirei o dedo do buraco e feliz riu muito.
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW

A VITÓRIA MAIS BELA QUE PODEMOS ALCANÇAR É A VITÓRIA


SOBRE SI MESMO.

Tenho procurado inserir na mente do leitor, que estas páginas são


essencialmente, de saudades e lembranças.

De tudo e de todos. Não guardam conotações diferentes, nem que


se pareçam, com outras afinidades. Por mais simples e tolas que
sejam, o seu enredo tem a mesma importância para nós, porque são
saudades e lembranças.

595
E se ficaram, guardadas e gravadas, em nossas consciências, são
porque marcaram um tempo, um fato, uma coisa qualquer relevante.
Por, mais simples que sejam. Quando as lembranças nos vêm,
certamente, as saudades as acompanham. Doídas ou não.

Aí, me questiono, existe saudade dolorosa? Que achas?

Nunca pensei que tivesse vivido, tanto, em tão pouco tempo. Fui
tecendo a vida, bordando caminhos e no final o que valeu mesmo
foram, o coração que toquei, os amigos que fiz, os percursos que
conheci, as músicas que cantei, o futebol que joguei, a humanidade
que demonstrei e o amor infinito que conquistei de minha esposa,
filhos, netos e de minha ampla família Abitbol. Amo a todos.
Isso não tem preço, tem muito afeto envolvido nisso tudo. E a
minha mãe querida, foi a indutora nesses simples ensinamentos
de vida.

Foi preciso recordar o passado. Juntar todos os fragmentos das


nossas histórias vividas e convividas, sempre unidos, não é a
distância ocasional que tira esse mérito, mas a importância valiosa
da presença certa nas horas mais incertas e difíceis.

Filosofando, comigo mesmo, nos dias de nuvens escuros e céus


fechados, pensei, o impossível só é impossível, realmente, se você
achar que ele não é possível, o impossível para uns, é possível
para outros. basta trabalhar a força de vontade.

E fiquei a meditar, achei bonito o trocadilho e acreditei piamente no


que minha consciência dissera.
596
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW

Lembrei-me de um caso que acontecera comigo, a muitos anos


atrás. Vinha dirigindo a Belina e rebocando meu buggy, com aquela
tranca que lhe é peculiar.

Tudo acontece, assim, de repente, deparo-me com um louco do


volante guiando um caminhão, em sentido contrário, em alta
velocidade, na contra mão para uma ultrapassagem e ei-lo,
597
praticamente, em cima do meu veículo.

Fiz tanta força na frenagem, que o instinto rápido fez com que o carro
parasse quase, imediatamente, e vi o doido passando e tirando fina
no meu carro.

Graças a Deus, estava ainda dizendo quando, a Belina balançando e


girando, virou em lateral e serenamente. Eu dentro do carro, agora
sinistrado não sabia exatamente o que acontecera ´pois vi
claramente o caminhão não me batera.

Procurei desenvencilhar-se do volante, freio de mão e liberar as


pernas para tentar sair. Foquei em pé, na largura do carro e olhei por
onde sair e já vi gente metendo a cabeça dentro carro para ver o
acontecimento “in loco”.
Ajudaram-me a sair, puxando-me pelos braços e consegui a
almejada liberdade, em segurança, ileso. O carro parado, de lado,
quieto não me preocupava pois não tinha sintomas de arranhões
visíveis, apenas a parte deitada no calçamento.

Foi na Rua Rogaciano Leite, ainda estreita e perigosa. Os curiosos


foram muitos gentis, perguntando-me como estava e como
acontecera. E colocaram a pè, em posição sua normal.

Um deles, solidariamente, entrou no carro acionou a chave, ligou


motor e avaliou, tudo ok, perfeito. O senhor está em condições de
dirigir, disse-lhe que dentro de momentos iria fazê-lo.

Tudo tranquilo, até agora. Foi aí, que me dei conta do buggy, que
trazia em reboque. Cadê ele, sumira. Perguntei aos aficcionados
do espetáculo, se o vira ou se alguém o levara, ninguém viu nada.
598

Intrigado, olhei a traseira do veículo e notei algumas partes


batidas, pensei ele veio comigo até aqui, porque essas marcas
não tinham.

O momento ficou Sherlockiano. Pensei, no Arthur Conan Doyle.


Como encontrar, o ladrão? Até num momento desse, não é
possível, é covardia, falta de respeito, mesmo.

Relatei para o público, o inacreditável furto que, supostamente,


acontecera. Ficaram indignados e começaram a se movimenta no
sentido de alçando seus olhares, achá-lo em algum lugar.

Eu já tinha feito isso. E o tempo passava e eu disse vou comunicar o


fato à Polícia. Tenho esse direito constitucional, mesmo no Brasil.
Não é só porque era um Buggy, mas porque era o meu. Estava
atordoado e incompreendido pelos fatos.
O pessoal foi-se dispersando, sem mais novidades. Em poucos
minutos, um deles vinha correndo ao meu encontro e perguntou, é
um prateado? Respondi, sim, era e, daí?

Bem ali tem um, dobrando a direita, relatou o interiorano, de


chapéu.

Todos fomos seguindo, o meu caro, Dr Watson, que relatava as


façanhas incríveis do seu amigo, Sherlock. E ele então, explicou,
quando do freio, forte e firme, em sucessivas batidas entre o Buggy e
a traseira da Belina, saíra da alça de segurança e passando reto pelo
seu puxador.

Por inércia da minha velocidade e seu pouco peso andou, em


599
alinhamento de rodas perfeitas, uns e cento cinquenta,
inacreditáveis, metros e foi quedando à direita, onde parou, por falta
da velocidade que lhe foi roubada pelo espaço, tempo e atrito no
calçamento.

Detalhou num fôlego único, o genial auxiliar do magistral detetive e


investigador Sherlock Holmes. Mas, este não gostara de todo, do
conteúdo descrito pelo médico, Dr. Watson.

Tomando-lhe as palavras, disse, faltaram as avaliações e citações


iminentes de desastres que poderiam ter causado acidentes de todas
as formas e sortes.

Quando o Buggy, passou a se dirigir, em si mesmo, sozinho, no


tempo e espaço com velocidade decadente poderia, ter-se inclinado
à esquerda e entrar na mão viária contrária e chocar-se com diversos
carros e até subir as calçadas, permanentemente, transitadas por
dezenas de pessoas, por minuto.

Esclareceu o gênio, da arte difícil de descobrir as incógnitas dos


crimes e assaltos. Caí, em mim, mesmo. Pura verdade. Graças a
Deus, por isso, digo sempre, sou abençoado por Deus. Sempre fui e
tento fazê-lo, por onde.

WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
Sempre gostei de pensar na vida como um todo e, principalmente, na
minha família, ousei pensar em futuros quando as saudades tendem
aumentar, pois saudade, passado e lembranças, andam sempre
juntinhas.
600

Basta encontrarmo-nos, um amigo que alguns não vimos, e lá se vão


histórias a serem contadas, como se fossem um demonstrativo
contábil, que se precisava atualizar diariamente. As amizades são
mútuas e como débito e o crédito, devem registrar, sempre o mesmo
saldo.

Lembro-me, à noite no meu quarto, cama de casal grande, a Claudia,


filhos e eu sentado no janelão do ambiente, com as pernas
encolhidas nas madeiras de maçarandubas e fumando um cigarrinho
noturno, pensativo e sob protestos da família que não gostavam
daquela inalação insalubre, que sobravam para eles. Deixei de
fumar, um dia para nunca mais fazê-lo, definitivamente.
Exemplifica, pensamentos meus, já citados, do impossível e possível,
quando se faz prevalecer a força da vontade. Mas, é preciso ter uma
sustentação básica, neste caso a família

O meu vício nessa época, aguardado, ansiosamente, eram as


corridas do maior ídolo do esporte brasileiro, Ayrton Senna, do Brasil.
O primeiro de maio de 1994, foi um dos mais tristes dias da minha
vida esportiva.

Cenas inesquecíveis que o mundo automobilístico assistiu e não


esquece. Em São Paulo, o povo brasileiro de forma inequívoca,
agradeceu e, homenageou a memória desse herói do esporte. Foi o
féretro mais sentimental e imponente que assisti, dentre outros como
o do Presidente Kennedy, em novembro de 1963.

A família reunida com a bandeira do Brasil, demonstrando amor à


601
pátria e incentivando-o às vitórias, tinha um sentimento, diferenciado
de hoje, quando os políticos desse País a UTILIZAM como
esconderijo de suas corrupções eleitoreiras e preconceituosas.

O meu sangue é vermelho, do social humanitário, defensor das


classes oprimidas e contra os empresários preconceituosos do Brasil,
que são muitos.

Sou político, como cidadão brasileiro e tenho nojo de todos os


partidos que nem ideologias ou propostas sensatas têm.

Só os fracos, oportunistas e ignorantes têm a coragem de segurarem


a Bandeira Nacional como se fosse um instrumento de satisfação
pessoal.
Salvo os enganados em sua boa brasilidade e que já voltaram com
seus salvos condutas, assim, que a carne do povo exalou os
espíritos malignos de seus governantes, têm o meu apoio.

602
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
Voltemos à praia, aos lazeres de finais da semana cansativa e
laboriosa, como ir ao Beach Park, recém inaugurado. Um espetáculo.
Um tobogã, ainda pequeno, comparado com os de hoje, fazia a festa
das gurizadas e de seus pais.

Rachel, Marcelo, Yuri e Rafael, sob rigorosa atenção minha e da


Claudia saltavam seguida e alegremente, nessa infestada
brincadeira.

A Claudia e eu, nos aventuramos também. Dei-me bem, estava


acostumado com as águas marítimas e suas revoltas ondas. A
Claudia subiu e eu fiquei aguardando a sua chegada, juntos dos
mergulhadores do parque. E lá vem ela, descendo com os dedos
apertando o nariz para não lhe entrar água.
Chegou na reta final, foi lançada nas águas da piscina, como era o
costume, e desapareceu. Vimos umas águas se debatendo, criando
umas frementes e esguichos de baleias, agitadas por espumas.

Mergulhamos todos, e a pegamos juntos e a levantamos, totalmente


aturdida e atordoada. Não sabia onde estava. Mas, foi rápido o susto
sem nenhuns problemas e como os bons aviadores, quando um se
acidenta, todos em seguida voam.

Disse-lhe isso, para não ficar marcada pelo medo, custou, mas foi a
seguir com sucesso, depois, ela e os meninos não queriam sair mais.

Depois uns caranguejos, camarões e uma cervejinha gelada. Parecia


gente rica, depois, contávamos o prejuízo para economizar o
equivalente na semana vindoura. Tudo lá era muito caro. Mas, uma
“vezinha”, só, faz bem, até aos bolsos que ficam livres das moedas
603
pesadas.

WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW

Voltamos, à casa, para descansar enquanto seu Francisco, o nosso


jardineiro, terminava a última etapa de manutenção do gramado,
colocando, o estrume.

Os quatro meninos, não descansavam e foram ao gramado ver o


velho Chico e seu eteno cigarro dependurado na boca, jogando as
bolas de estrumes na grama.

Um deles, teve a infeliz ideia e genial para eles, de entrarem em


guerra com as balas de estrumos, cada um jogando nos demais, e foi
um negócio sério, era um fedor generalizado nos corpos das
crianças.

E de tantos esforços, para atirá-los longe, para não serem atingidos,


se esquivavam e jogavam nos demais. Podemos definir, como uma
brincadeira que, predominava, a sujeira.

Acabaram por embarcar, distraidamente, várias balas, também, por


cima do muro, comum, e caíra no apartamento do Haroldo, que lhe
melou toda a cozinha.

A Masinha telefonou e pediu paz, na beligerância, e eles a meu


pedido, ergueram a bandeira branca.

Comemoraram o final da batalha, independentemente, do motivo, e o


que importava era a alegria das crianças que receberam de
604
presentes, as munições, em centenas de fatias de bolos com
ingredientes, fedorentos, catinguentos e podres, que lhes foram
oferecidos por um jardineiro ambulante, que um dia foi criança, e ria.

Tal a era a importância, para os garotos, desse fato, que passaram


a discutir que ganhara a guerra e cada bolada recebida era um ponto
o para o vencedor.
605

bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb

Principalmente, se lhe tivesse sido oferecido por um menino rico,


com todos os ingredientes potenciais de opulências e patrimônios.
Não são os valores, caráter ou anseios que fazem a diferença nesse
momento, pois ainda não estão viciados pela vida pelo darão, a
eles, na maioria das vezes, futuros diferentes.

Não são as notas e contas bancárias que identificam as melhores


pessoas, e sim a sua ética, formação de amor caseiro, solidariedade,
amor, que lhes acompanharam igualmente ao nascerem.
Gosto de tresvariar nos assuntos que me chocam
profundamente.

WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW

A gratidão é um dos sentimentos mais pragmáticos de uma pessoa,


pois reflete um estado de agradecimento que não se esquecerá, por
certo, daquele episódio.

Quando no meu cinquentenário, em 04 de maio de 1993, fui


acordado, abruptamente, às cinco horas da manhã, por rojões
ensurdecedores e festivos pelos familiares e desagradáveis para a
maioria dos vizinhos amigos e compreensivos.

A primeira reação foi de júbilo, reconhecimento aos meus e enquanto


606
tocavam os Patinhos, cantadores oficiais dos parabéns, em nossos
aniversários, que até hoje não esquecem e virou uma tradição
familiar, abraçava e beijava a todos os meus entes mais queridos.

Concomitantemente, pedia e insistia a pararem a música dos


Patinhos em suas locuções estridentes, por causa dos vizinhos e em
seus respeitos, mas fui convencido que só faria 50 anos uma vez.
Nesse dia, os Patinhos estavam demais.

Ainda hoje sinto esse momento emocionante. À noite, uma festa


surpresa, em um buffet da cidade, guardada a sete chaves, pela
família e amigos, todos convidados. Fiquei muito satisfeito, feliz e
esperançoso de fechar outro ciclo cinquentenário. Estou rindo.

Como sempre, os aniversários lá de casa, começavam,


tradicionalmente, com os originais Patinhos cantando, bem cedo, por
causa dos colégios dos meninos e a todo vapor, com os parabéns
para você.

Depois, já corríamos a esperar o telefonema da mamãe, que não


esquecia os aniversários, mas aguardava o sinal da hora para
comemorar junto.

Em algumas vezes, levávamos o disco dos Patinhos, nossos


heróis, par festejar e celebrar natalícios de irmãos e sobrinhos.

Gostaia, que esses Patinhos que fizeram tantos sucessos e fazem


ainda a alegria de filhos e netos fossem convidados a dar o ponta pé
inicial de cada natalício, dos membros da família Abitbol, resgatando
tempos idos e vividos por todos nós.

A mamãe nunca faltou a nenhum aniversário dos filhos, netos e


607
bisneto, era uma presença certa, sempre cordial, alegre e amiga de
todos os nossos convidados.

Reservava, especial atenção, principalmente, as donas Cleny e


Carmen, a quem tinha especial admiração pelas presenças em
nossas vidas pelas assistências e trabalhos com os meninos,
principalmente. Aquelas, que nos honravam com suas presenças.

Tinha algo nobre nos seus comportamentos sóbrios, mas de uma


alegria contagiante, não fugia das fotografias e nem dos cinegrafistas
de plantão, cruzava as pernas como manda a etiqueta imperial e
tinha um exemplar atenção, a todos, lhes distribuindo carinhos em
nome da família,

Em todos os eventos sociais que participávamos, de formaturas e


festas, lá estava enobrecendo com suas passagens absolutas e
fidalgas, inegavelmente, elegante, na sua simplicidade e vaidade,
por vezes, com vestidos novos e feitos com especialmente para
esses eventos.

Foi uma grande dama. Merecia um título de nobreza, depois de


passar por tantas e dificuldades e vencê-las por, unanimidade, com o
integral de seus filhos queridos.

Não pela vitória, em si, mas pelo porte altruístico, magnânimo de sua
personalidade maternal. Agora, entretanto, lhe foi concedida em
história preliminar, dessa brochura, o maior deles.

Que é singular, em sua história, mas representa o sentimento,


desejo, e o amor filial de todos. A nossa matriarca imperial, da família
Abitbol.

608
A nossa eterna Imperatriz.

Gostava de estar entre nós, sentia a nossa ausência, por dois ou três
dias sem a convivência, e olhava, com desdém, quando achava que
a desculpa não era pertinente ou convincente, por ela avaliada.

A dona Cleny, minha querida sogra e cunhados, Regina, Clênia, Bita


compartilhavam na elaboração e planejamento de todas as festas de
minha família, em particular. Foram e serão sempre, todos, muito,
lembrados por tudo que fizeram por nós.

A essas alturas, alguém mais atento, está a me cobrar referências ao


meu sogro. Era um temperamento, diferente, não menos amoroso,
mas austero e brincalhão, ao mesmo tempo.
Cooperativo e sempre pronto, a nos ajudar, não nos planejamentos
sociais, mas, com seu comparecimento importante em todos os
nossos eventos, onde fizera amizade com os meus irmãos, sobrinhos
e amigos.

Gostava de nossa família e conversava com meus irmãos e minha


mãe. Eles, também, sentiam prazer pela sua amizade.

Gostava de fazer brincadeiras e colocar apelidos naqueles que lhe


era caro, assim o fora com o irmão do caseiro, no Pacheco, o
Rogério que foi alcunhado de Goiabinha e frutificou.

Talvez, fosse menos rígido nas opiniões e hábitos e muito mais


flexível do que seu rosto sisudo e de poucas palavras. Ao contrário,
quando tinha amizade, era muito sincera e direta.

609
Era uma figura ímpar de lisura, seriedade e caráter. Um abraço de
gratidão aonde estiver. E pronto para ajudar, quando preciso.

Não foi pouco. O que, por nós fez essa família, não esquecemos.
Mas, não dá para relatar tudo nessas páginas. Já demonstramos em
todos os momentos pertinentes a nossa gratidão, pelos inestimáveis
favores e saudades dos serviços prestados.

Quem ia pegar os meninos no colégio quando criança, diariamente e


lhes davam banhos e alimentação nas suas faixas etárias, com um
sabor e dedicação sem igual. A dona Cleny e o Bita.

Quem os colocava a dormir, os mesmos e ainda a Regina e a Clênia,


que também os ensinava e cobrava as suas tarefas, todos dias.
Quem faziam os bolos e docinhos mais caseiros e tremendamente
gostosos, Regina e a mãe. As roupas mais simples, do a dia eram
prazerosamente oferecidas com o maior amor pela sogra.

Em outros, momentos particulares e nos lugares certos voltaremos a


tratar do assunto, com mais autenticidade.

A matriarca, personalidade marcante por seus posicionamentos


individuais e inflexíveis nas práticas que lhe trouxesse o bem e o
melhor para os seus.

A família Vilela era conhecida por esse temperamento


exaustivamente controversos por vezes chegavam a divergir em seus
pontos de vistas. Já os Oliveira, aparentemente mais pacatos er
acolhedores em outras propostas, também não era fácil de
retroceder.
610

E olha aí, aonde fui me meter. Eu, tido pelos amigos, como
comedido, fala mansa, insinuante, mas de uma leveza infiltrante,
acabei me dando muito bem com todos.

A Claudia foi a escolhida entre as Reginas, mas a rainha da casa era


a matriarca, sem dúvidas, elas até poderiam ser da realeza, mas
seriam, no máximo, as princesas.

A conheci no dia 06 de junho de 1965, apresentado pelo amigo


comum, Lúcio Flávio, uma pessoa encantadora, fina, sempre risonha
e agradável, em suas conversas.

Foi no América, local comum e assíduo para ambos e perto de


nossas residências. Era uma matinal dominical e, já a tinha visto em
outras oportunidades, e senti a sensação de atenções, recíprocas e
especiais.

O Lúcio, dentre os meus amigos presentes era o único que a


conhecia, e por isso fizemos uso dessa interação. Para ele, isso era
um prazer, servir aos dois momentâneamente.

As princesas, todas, estavam lá. A festinha estava animada, com


“Canhoto e seu Conjunto”, fazendo a parte musical soar
vibrantemente entre a juventude ambiciosa e dançantes por
natureza.

Foi nesse dia, que o Capitão Chiquinho, Diretor social do Clube,


gente boa, mas insolente, parou a música, sem necessidade, pois
haveria o inevitável intervalo, e após cumprir sua mensagem,
atrapalhou-se e disse, ante, apupos, e “com vocês, de volta,
611
“Conjunto e seus Canhotos”.

A gozação foi imediata e ele retornou para contornar e justificar o


dito. Minha turma, até hoje, ri da besteira e acha que essa
exposição excessiva dele, mereceu-lhe essa mancada.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXX
A vida é plural, comunitária e devemos nos socializar para termos
uma convivência educada e pacífica.

Nessa sociedade, instintivamente diferenciada, e


psicologicamente sofrida, em suas essências, têm na proliferação
de problemas e alegrias, os componentes do dia a dia.

É difícil afinidades tão frequentes. Tivemos muita sorte com as


nossas amizades, colegas e servidores de casa.

Temos uma figura emblemática e exemplar em nossa família. A


Francisca. Nossa doméstica por mais de trinta anos. E, ainda, hoje,
requisitada de seu lar, para preparar almoços ou confraternizações
do gênero.

É a sua maior satisfação, diz ela. Nos acompanha nas redes


612
sociais. Não esquece nenhum aniversário da família. Fica
aguardando ser chamada para enfrentar o fogão e a cozinha, como
nos velhos tempos.

É uma máquina, na agilidade e no bem fazer, no contar histórias


hilárias e gostosas nas convivências com nossos filhos. Adora a
todos, mas a preferência pelo Rafael, de quem cuidou, também, é
inegável.

E ele não deixa por menos e satisfaz as suas ansiedades com


implicâncias e piadas que a fazem rir e dizer “esse é louco”.

O mais importante, disso tudo, é a presteza e a euforia que nos traz,


quando passa um dia conosco, dividindo os laços de carinhos e
benquerer. É recíproco.
Acompanhamos toda a sua trajetória de Reriutaba à Fortaleza.
Nunca tinha viajado de trem. E a fez, tomando a rota de Fortaleza,
para a nossa casa. Só tinha duas informações fornecidas por seus
familiares.

A primeira, que aguardasse o trem parar, e se permanecesse,


assim, por bom tempo, esperasse, e quando todos descessem,
ela, então, faria o mesmo. Era o fim da viagem.

E não se preocupasse que alguém a identificaria e a levaria para a


casa da dona Claudia, era a outra.

Sabia que o percurso era longo. E a cada estação entrava mais


gente do que saía. Na próxima, a mesma coisa. Continuava tranquila.
Ia esperar, a vez que o trem vagasse todo.

613
O tempo em sua marcha constante e o trem, intermitente, pelas
paradas nas estações. E a Francisca, calada e sentada, só
esperando que os dois chegassem a um acordo e parassem
definitivamente.

Em Caucaia, com o céu apagado, sem luminosidade indicava a


proximidade da reta final. Os passageiros começaram a descer em
profusão, ela aguardou por uns momentos e pensou, não vou ficar
só aqui, não.

Pegou a mala de papelão amarelo, capa dura, e entrou na fila, para


descer, dava dois passos para frente e um para trás, indecisa,
fazendo acontecer. Esperando todos descessem.

Queria ser a última, mas coladinha no penúltimo. Quando olha para


trás e vê no vagão, poucos passageiros ainda sentados, pensou em
descer, pois achara que poderiam ser os ajudantes de bordo, mas
resolveu encadeirar-se na primeira fila, na porta da descida do
trem.

Ficou inquieta. Olhava para trás, o pessoal lá. O trem parado. E,


agora? Nesse transe por alguns minutos, o trem partiu para a capital.
Ela suspirou. No terminal, desceram todos e ela, a última.
Estávamos a aguardá-la.

Nesse ínterim, conosco, seu pai adoeceu gravemente e veio à


Fortaleza, para se tratar. Ficou lá em casa. Providenciamos as
consultas e exames e foi diagnosticado com um câncer no estômago.

Como trabalhador interiorano, não tinha a carteira profissional de


trabalho assinada por empregadores. O INAMPS exigia contribuição
mínima de três anos para efetuar a cirurgia.
614

Era uma questão de operar e tentar a sua sobrevivência ou deixá-lo


morrer à míngua.

Fomos a Direção do Instituto e colocamos o caso, de forma


dramática como o fato estava a exigir, e graças a Deus fizemos um
acordo, pagaríamos a quantia pertinente aos três anuários, em seis
parcelas.

Liberado para a cirurgia, tratamos dos papeis exigidos e foi operado


com sucesso. Ficou lá em casa até a “alta do médico”. Com
recomendações periódicas de retorno para acompanhamento. E nós
estávamos a sua disposição.
Quase seis depois, a famigerada doença voltou. Cuidamos de tudo e
foi operado de novo, mas a reincidência lhe fora fatal. Meses depois,
em Reriutaba, faleceu.
Quem o operou, nas duas vezes, foi um dos melhores cirurgiões de
Fortaleza, o nosso amigo, Dr. Marcos , cuja esposa Dra.
Welbane, também, colega de turma da Claudia, na Faculdade de
Medicina.

Suas irmãs, trabalharam conosco como a Socorro, babá da Rachel, e


Alzenir, a Silvana, na casa da minha sogra Cleny Maria e a Maria na
casa do Romildo

O José Wilson, é o seu grande amor. Homem polido, de um caráter


ilibado e trabalhador em mercadinhos. Conheceu a Francisca quando
morávamos na Desembargador Moreira, 2222, pertinho do Super
Mercado, O Varejão.
615

Era o encarregado do Setor de frutas e verduras. Nunca comemos


hortaliças e frutas de tão boas qualidades. Namoravam na Pracinha
da Imprensa, em frente ao trabalho.

Montou, depois, em sua casa, já casado com a Francisca, um


mercadinho, mas o que rendia melhor era uma cervejinha gelada
para os vizinhos do Lagamar. Demos-lhe uma geladeira.

Em épocas difíceis, dei-lhe a ideia de colocar umas mesinhas na sala


para os amigos e as vizinhas bebedeiras se divertirem. Estava de
férias na época e gravei, no Nero, certa mais de duzentos cd e4 dvd
para animar as bebedeiras.

A Francisca era valente e o Zé Wilson conciliador. Ela era quem


colocava moral na casa. Ficava na porta do banheiro, e como hoje,
cada um ficava em isolamento, só entrava outro quando este saía.
Foram experiências adquiridas.

O Zé Wilson, estava acompanhando a Francisca, a passar a ponte


sobre o canal do Lagamar, as cinco horas da manhã, britanicamente
no horário, e prestes a alcançar o seu final, os traficantes de plantão
se envolveram numa confusão e atiraram para cima, aí a Francisca
procura o amparo do Zé e dele nem notícia.

Em casa, explicou-se que antevera a situação e voltara correndo. Ela


malhou forte o companheiro, mas estava acostumada a esses
procedimentos. Conta rindo, e dizendo o Zé Wilson é muito frouxo.
Oh, bicho frouxo, replica.

Noutra vez, um frequentador embriagado, o Rosca, insinuou-se a ela


com dizeres inconsequentes, ela não titubeou, meteu mão na cara
dele que saiu procurando onde amparar-se e encontrou os braços do
616 Zé
Wilson.

Ela ficou mais revoltado com o Zé do que com o Rosca, achando,


com justas razões que merecia apoio naquela hora, e não o veado do
Rosca, que era gay.

É uma personagem ímpar, uma lealdade impressionante. Em seu


caráter, penso eu, era capaz até de matar por causas nobres, mas
mentir, caluniar, injuriar, trair, furtar, jamais.

Só dormia quatro horas por dia. A meia noite deitava-se e às quatro


horas da manhã, o relógio tocava o alarme. Todos os dias da
semana.

Deixou o trabalho cotidiano, para cuidar do neto primogênito, mas


nunca nos deixou. E nem nós a ela.
Saudades contemporâneas e lembranças, a nossa guerreira.
Querida e amiga.

617

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Pedras nos caminhos, guardo-as todas, não para mim, não pretendo
fazer um castelo, mas somente tirar do caminho aqueles objetos que
nos são perigosos quando não os vimos, em momentos distraídos.

A mamãe, foi quem me ensinou isso, tinha todo o cuidado nesse


aspecto, por vezes, as pressas e as peças colocadas, em lugares
incertos, nos levam a outros ares.

A mamãe sofreu dessas inadequadas situações quando, no


apartamento, tropeçou no fio da televisão e foi esbarrar-se
beijando o chão e por conta disso cortou os lábios e doeu-lhe a
boca. Coitada, tão cautelosa e acontece fatos dessa espécie.

É procurando que se encontram as coisas, mas não era isso o seu


caso naquele instante, ficou irritada até com os atores da novela e
lhes falou no dialeto judaico iídche, o seu predileto, nessas horas.
618

A tia Alita, estava lá, não naquele instante, mas, hospedada no


Mercado Central onde ia todos os dias, quando na casa da
Esmeralda, sorria ela.

Não era um dia bom para conversas fiadas, discutiam de formas


carinhosas, sem máculas, e terminavam sempre rindo e uma dizendo
para a outra, tu, vais morrer primeiro que eu,.... eu mesma não,
vai tu primeiro. E ficavam nessa disputa fatal, até chegar alguém
para conversar e cortar os seus baratos.
ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Os adolescentes, Rachel, Yuri, Marcelo e Rafael, brincavam na
Boate do prédio, da Almeida Prado, 1045, de tintas e pincéis por
lá encontrados de algumas limpezas de áreas dos apartamentos.

Nada que fosse engraçado, se não estivessem pintando um nos


outros, como se todos fossem paredes ambulantes e corressem,
escondendo-se e voltando a contra atacar.

No final todos coloridos de várias tonalidades, compunham uma


aquarela de fazer inveja a qualquer pintor abstracionista ou
surrealista, se é que não fossem premiados na Bienal, em, São
Paulo.

Como sempre, sobram para os pais as consequências desses


episódios bonitos, mas fedorentos porque tiveram que ser asseados
619
e lavados com querosene e contraíram outro cheiro.

Tomaram, por fim, para lavagem completa, um banho com sabonete


cheiroso que a Claudia ganhara de presente no dia de seu
aniversário.
Como disse antes, se mãe é mãe. Se pai é pai. Nas acepções
perfeitas de seus, rigorosos significados, ser amigo é ser amigo.
NNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNn
Nós, em nossa turma da Dom Manuel, éramos tão unidos,
convencidos de nossas lealdades e intimamente ligados por laços
fraternais, que se hoje, por acaso e exemplo, o Haroldo ligasse para
o Carlos Alberto e, entre outros assuntos falasse que estou
escrevendo um livro, com mais de quinhentas páginas, ele ria,
marotamente e diria, o nego velho, tá ficando é louco, doido.

Se a comunicação fosse com o Paulo Brasil, ele deixaria o telefone


cair de tanto rir, não pela minha, suposta, inabilidade de escrever o
livro, mas pela inesperada e inusitada proposta de escritor.

Se fosse o Nilson o interlocutor, daria um sorriso aberto,


620
desconfiado, ficaria calado e apostava para ver. Mas, se
ocorresse ser, o Nelson, este me apoiaria de pronto. Seriamente.

Mas, se fosse eu que ligasse para cada um, individualmente,


todos aprovariam imediata e entusiasticamente a ideia e
complementariam dizendo, conte comigo, sei de algumas histórias
e posso contribuir. Não tenho medo nenhum, de errar no que
disse.

Cada um, com a mesma amizade, benquerença e, diversas formas


de encarar o tema. Isso se chama de amizade. Tenho a certeza, que
seria assim. “Diga-me com que andas e te direi quem tu és”.

Só um registro.
Hoje não sei, se vivêssemos nas mesmas casas e condições, se
seriam assim. As pessoas não mudaram, mas a tecnologia e as
circunstâncias periféricas mudaram muito o conceito de sociedade
e amizade, talvez.

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Sempre fui assim reflexivo, e como disse o ilustre o político brasileiro,
Ulysses Guimarães, “Segredo é para duas pessoas, se passar
disso, vira comício”.

O mundo, na sua globalização civilizatória, guardou lembranças e


saudades, de simples manias ou costumes, não supersticiosos para
uns e o inverso temerosos para outros. E assim ele sempre foi
controvertido em seus milênios.

E chegou a nós, que fazíamos correntemente, uso desse ato


621
instintivo de proteção e pedido peculiar de clara e incisiva alusão de
boa sorte e afugentamento dos azares do cotidiano.

Com a nossa mão direita, reflexa, os ossos falanges e os seus


vizinhos metacarpos, dobrados, dávamos três pancadinhas,
características, nas madeiras da mesa ou da porta, quando nos
eram faladas coisas desagradáveis que iam de encontros aos
nossos anseios.

Esse fato é milenar e cheio de controvertidas explicações dadas


pelos pagãos, cristão, espíritas e judeus.

Só uma unanimidade, entre eles, a invocação de Deus ou dos


espíritos do bem, para atrair os bons destinos em detrimentos de
percursos tortuosos.
Os cristãos mais fervorosos fazem ilações associando as madeiras
à Cruz do Calvário, de Nosso Senhor Jesus Cristo para suplicar
suas bençãos.

Os judeus, que em seus passados milenares e sofridos, perseguidos


e maus tratados, se escondiam em casas e as mantinham
fechadas, não era fácil abrir a porta para um intruso.
Criaram, então, um código entre eles, e as três batidinhas na
porta de madeira, serviam como reconhecimento de amigos.

Apesar dos milhares de anos, esse pragmatismo, chegou a nós


idosos, mas não vejo mais essa prática usual daquela época, nos
dias de hoje.

Quero dizer, percorreu esses anos todos e desapareceu em poucas


décadas. Como o tempo e os costumes, se alternam.
622

Eu, quando lembro, dou minhas batidinhas pedintes e clementes.

A mamãe era useira e vezeira nessa obediência judaica e quando


as coisas ficavam pretas, ela batia três vezes na madeira mais
perto, em socorro divino.
ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

Quando se estuda filosofia aprende-se que se deve buscar a verdade


e não a certeza. Esta é sempre suspeita e envoltas em fatos
subjetivos nem sempre ao alcance dos interessados para a a
constatação de sua veracidade.

Pode ser verdadeira, mas pode não ser. Verdade é pura e cristalina.
623
É verossímil.

Procuro sempre a verdade dos dados e coleto dos melhores


informadores, na fonte de meus irmãos e na minha memória que
pensara que não estivesse tão boa, mas está me surpreendendo
positivamente.

E é a verdade, não é certeza. Se bem, penso eu, a certeza não


merece ser discriminada sem comprovação efetiva. Tem a sua
importância, conhecendo-se a fonte.

Estou mexendo num negócio que não é o meu prato preferido, mas
como de tudo, e questiono, quando é verdade ou é certeza. Não sei.
Mas, um conselho, desconfie da certeza. Acredite, sempre na
verdade.
A VITÓRIA MAIS BELA QUE ALCANÇAR É A VITÓRIA SOBRE
.
O instinto, é o do espírito. O era espírita. Eu não sou, mas
devo dizer consciência que em reflexões duradouras eu
nunvaentedó porque não processa, pois tenho convicções ns
suas veracidaes e que induzem auma situação e de .

Fatos , ,, que me deixam erplexos e sem entend_Pe-los e que


levm o procedi mento ao bem natural ds pessoa. Como é que
num qvi~qo sinistrados com 199 pessoa a bordo só uma rscapa
. Como se
operam enfermidades sem nenhum instrumental médico
hospitar e o paciente fica brm .

quando se ptecisa de sal, não adiant ter açúcar,provrtbio iídiche


Percebeu, de logo, o contecido. Fechou a boca e ficou calado
624
estudando uma estratégis para não perddê-lo ou encintrá-lo de
quakquer jeito.

Olhou para o gramado e agora e que notara que estava escuro e


neblinadoa, era o orvalho da .
nnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn
Não precisávamos sair de casa para ter um amigo próximo para nos
fazer companhia, rir ou abraçá-lo com carinhos. Refiro-me, a
inúmeros e pequenos animais que nos fizeram companhia e
625
trouxeram, tantas alegrias.
Criamos papagaio, cachorros, jabutis e saguim. Adorávamos a
convivência com esses animais queridos que nos deixaram
saudades.

O Louro não era poliglota, mas falava, correntemente, sua língua


com poucos substantivos e verbos. Entendíamos, por “oi louro”, um
repeteco da pergunta que o cumprimentava. “Louro quer café”.
Repetia diversas vezes, em sequência, Louro, louro...

Vivia no seu poleiro, trepado numa alça, com suas patas atípicas,
com 4 dedos – dois virados para trás e dois para frente, que a
natureza o atribuiu para coçar, agarrar objetos e se equilibrar. Tem
uma mobilidade incrível.
Beliscava e se mexia, inquietamente, quando por ele, passávamos.
A mamãe quando ia varrer a casa colocava o Louro perto da
vassoura. E, tranquilamente, passava a deslanchar suas
vassouradas no chão e o Louro tentando segurar as piaçabas
dançava ao som da limpeza, reclamando: Louro quer café.

Rodava em si e circulando a vassoura. Isso era uma festa. Motivo de


comemoração e graças. Risos.

Após o almoço, papai sentava-se na cadeira de balanço de vime,


tirando uma pequena sesta para retornar ao trabalho. E o Louro
passeando na casa, ia até a cadeira subia em suas palhas até
alcançar o seu topo e postava-se atrás da cabeça do seu Carlos.

Ficava beliscando de leve e fazendo a assepsia de seu nariz. O


papai dizia que era cafuné. Acho que estava dormindo nesse
momento.
626

Um papagaio, ao contrário do que que pensa popularmente, tem uma


expectativa de vida de até 60 anos. O nosso Louro morreu criança.
Foi dormir, no poleiro, como normalmente fazia e amanheceu morto.
Durinho.

Ficamos chocados. Era a alegria da casa. Entre tantos comentários


ouvidos e lamentações, prevaleceu a hipótese de que teria sido
objeto de uma mordida de rato, cobra, arranha.

No seu atestado de óbito não constou a causa da morte, mas,


registrou toda a nossa saudade e carinho por quem sempre nos
alegrou.

Merecia uma láurea, uma coroa, uns louros por tudo que fizera!
627
ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Na Bento Albuquerque, 1499, onde morávamos, criávamos um
periquito brasileira, que era de propriedade da Rachel, quase
exclusiva, tal a sua afinidade com ele.

Vivia o dia todo em seus ombros. era a seu grande amigo e talvez
confidente quando criança. Um amor sem precedentes. Piquitita, era
o seu nome. Quando falávamos piquitita ela cantava o seu trinado
peculiar, insistentes vezes.

Andava na casa com toda a liberdade, subia nas plantas encostadas


aos muros da rua e quando chamado, respondia com seu canto. Era
uma graça. Fora de série.

Certo dia, por volta do meio dia ele desapareceu. A Rachel quando
chegou do Colégio foi chamando, Piquitita, Piquitita e nada. Ficou
apreensiva. Percorreu todos os lugares da casa, chamando-o e ele
não respondeu. Canto mudo.

Chorou, mas não perdeu a esperança. À tardinha, no gramado lá de


casa ela voltou a insistir e qual não fora a surpresa quando do
lado de fora da residência, ouviu o canto da Piquitita.

Correu para o portão, e gritando piquitita, piquitinta e ela


respondendo de dentro de uma sacola de um operário, que estava
voltando do seu trabalho.

Ela agarrou-se ao homem e chamando Piquitita e ela respondendo,


quando todos nós de casa chegamos, o rapaz, explicou que na ida
ao trabalho, viu o pássaro andando na calçada e o levou na sacola.

Entregou a ave querida e amada por todos.


628

Essa circunstância, merece uma reflexão. Não acredito que seja só


uma histórica coincidência, horas depois de seu
desaparecimento, na vez que o operário passava, em frente a nossa
casa.

Nesse exato momento, ela o chamava, e ele responde de dentro da


sacola, é demais para mim. Tem outra história mais divina como
resposta, acredito eu.

O amor é lindo!!!!

Acreditem na verdade. Não tenham a certeza.

Ainda hoje, estou refletindo, agradecido.


Não quero nem saber como ou por que, qual o fato que nos levou a
essa extrema coincidência, penso só no resultado, para não me
defrontar com outros questionamentos.

Para mim indizíveis, e injustificáveis, entre nós os terrestres, e os


irretratáveis que assisti pela televisão, do Zé Arigó e outros
mediúnicos.

Mas, é melhor assim, cada um, no seu quadrado. O meu parece um


ambiente de uma arena de boxer ou vale tudo. Todo rodeado de
cordas de sustentação.

Para proteção diferenciadas, porque a de Deus eu já a tenho, sou


abençoado, sempre fui, digo isso todo dia, e repito, diariamente, a
várias décadas.

629

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

Nós tínhamos um gato, na realidade não é bem assim, o gato é


que nos tinha. Pois foi ele que se achegou lá em casa e plantou
moradia.

Dávamos o que comer e colocávamos água para si. Estava de


mordomo, pois nunca fomos apegados a gatos. Cachorros, sim.

Quando as crianças procuravam brincar com ele, não sei de que


jeito, voltavam sempre arranhadas e chorando. Tinha dó, do pobre
felino, mas resolvi, dar as suas contas, despedi-lo.
Conversei, com o Seu Francisco, nosso vigia noturno que morava em
Messejana num sítio, para levá-lo ao alvorecer, quando terminado o
seu expediente.

No dia seguinte, ele nos confirmou que levara o gato, dentro de um


saco daqueles de farinha de trigo, grande e arejado, segurando a
boca do saco para ele não fugir, antes da hora aprazada, que
seria no local que residia. Tudo ok.

As histórias, têm sempre um, mas, ele retornou inacreditavelmente.


Fora de ônibus, pagando passagem, e volta a pés, certamente,
em percursos aéreos, por cima dos muros.

Não dá para entender.

O segurança, foi reincidente e o carregou da mesma forma, com uns


630
detalhes, a mais, oferecidos por ele, dar umas voltas circulares, de
bicicletas, perto da casa dele, vai ficar atordoado sem saber para que
lado voltar. Dito e feito.

Não voltou. Gatos têm sete vidas, por isso tive a coragem de
mandá-lo, embora.

Esse gato, diante desse ato, para ele indigno da minha parte, deve
ter imaginado, aquela manjada frase de criança, quem ri por último,
ri melhor, e eu, ficaria imensamente feliz se isto, lhe tivesse
acontecido, pois ficara com o coração penado.

A vitória mais bela que se pode alcançar, é a vitória sobre si


mesmo. Ficara eu, pensando, condoído, mas estava ao lado da
razão, pela impetuosidade felina.
Estava ensejando que desse a volta sobre si mesmo, e conseguisse
ser mais uma vez vencedor. O tempo passou, esqueci o gato. Mas,
não de me lembrar, de quando em quando.

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ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
A Masinha e a Fernanda, nossa vizinha querida e sua amiga maior,
tinham o costume inapropriado e lastimável de telefonar para o Posto
de Carros de Aluguel, da Praça do Coração de Jesus.

Solicitavam o veículo, acertavam, antecipadamente o preço, como de


costume, e relatavam os destinos da residência e do objetivo que era
o comercial.

Davam sempre como o residencial, o da casa do Zanzão, em frente a


nossa e aguardavam nas janelinhas da sala, lá de casa, o veículo
e o Zanzão ou sua esposa dizer, ao chofer, que na certa fora um
trote.
Que não pediram o carro.

Que coisa chata, recriminava a dona Esmeralda e avaliando o


prejuízo do condutor do veículo, mostrava-lhes o desacerto, da ideia
maligna.

Pareciam tão santinhas, mas cheias de pecados veniais. Eram


crianças.

Crianças são crianças e assim devem ser entendidas em seus


afazeres inocentes, irresponsáveis, mas de uma ingenuidade e boa-
fé, cujo objetivo, único, era brincar com a vida alheia, sem medir as
suas consequências.

632
Cabe a nós os adultos, pais, não as criticar enraivecidos, mas
ensinar-las e explicar o verdadeiro sentido da brincadeira e orientá-
las, desde cedo, para o caminho certo.

Sabia-se que, apesar da malícia este não era o objetivo, mas apenas
brincar. Divertir-se.

Aí, entra o motorista e diz, mas logo comigo?


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
No milênio passado, quando garotos de tenras idades, e ainda
faltavam muitas décadas para o fim do último século, o pessoal do
interior do estado, as sobrinhas da dona Lisete, muitas católicas e
temerosas, só falavam que o mundo ia se acabar.

Maria Helena, Dione, Mari , Margarida e até o Armando.


Citavam a Bíblia, as profecias e muitas outras nuances que nos
causavam medo e nos impediam de dormir tranquilos. Ficávamos
com medo desse acontecimento.

Além disso, tinham umas histórias de cemitérios, almas e fantasmas


que nos apavoravam. Gostávamos de ouvir, eu e a Amarela. Mas ao
mesmo tempo, tínhamos pavor delas.

Citavam, sempre, as casas da sua cidade e seus sótãos, com as


pessoas das gerações passadas, que conheciam e contavam muitas
fábulas, ficções do imaginativo popular, geralmente, agregados a
fantasias sinistras e cheias de caveiras e medos.

Não as faziam por mal, mas era o papo e as conversas dos


interioranos, sempre impregnadas de superstições apocalípticas, em
relação ao ano 2.000. Juravam, que não passaríamos dele.
633

Elas tinham a certeza e já se preparavam para isso.

Elas, eu não, mas ficava pensativo, poxa, daqui uns cinquenta


anos e só? Acho que não.!!!!. Não era possível.

Mas, a noite, para permanecêramo-nos, acordados, submetíamos na


calçada da dona Lisete, a ouvir, esses vexames, essas premonições,
bem características, de Aracati.
E Entre uma e outra narração elas cantavam músicas, lindíssimas,
sertanejas e dos seresteiros da época, ainda em voga, em algumas
pequenas cidades.

Tocavam muito bem e cantavam, igualmente, por vezes faziam


dupla, e eu gostava imensamente dessas músicas que a mamãe
adorava. Ainda hoje sou capas de cantá-las, em improviso, quase
todas elas.

634

Mmmmmmmmmm

Na manhã do dia seguinte, como fazíamos diariamente, íamos


procurar os cágados, eram dois, um amarelado e o outro mais
escurinho. Historicamente o primeiro era o da Ruth, e o mulatinho era
o meu.

Tinham uma singularidade, tiravam férias e desapareciam nas


entranhas das terras, voltando meses depois de desopilados. Por
isso, fazíamos a checagem cedo.

Para nós, eram um brinquedo, cascudo e atrevido, pois mostrava sua


insatisfação recolhendo a cabeça à sua cobertura, casco.

Fazíamos buracos nas areias e os enterrava, em alguns minutos ou


horas, apareciam, ficávamos aguardando. Retornavam longe da
origem e fazia um túnel, para voltar.

Mas o destino lhe fora cruel, era necessária providenciar a limpeza


da fossa sanitária, no nosso quintal, e nas enxadadas, removendo as
635 terras e buscando a tampa de sua abertura, o escurinho, o meu, foi
atingido no meio por uma dessas atrozes ironias da vida.

Eu não o vi e nem a mamãe contou, mas o Ventura em comentário


posterior, contou a história. Foi muito triste, fiquei chocado. Preferia
não ter sabido.

O amarelinho nunca mais voltou, talvez sentindo falta do


companheiro, ou em busca de outro, encontrara o par, cujos destinos
eram outros.

Quando o Ventura esteve em casa para efetuar outros serviços, a


mamãe o repreendeu severamente, ele na sua ignorância, entendeu
e desculpou-se, até porque não tivera culpa com a sua enxada.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Para reparar a perda, ganhamos um saguim. Um macaquinho, de cor
cinza e cauda da mesma tonalidade com listras envoltas ao seu final.
Fofo. Arisco. Ágil. Lépido, pulava e saltitava o dia inteiro.

Era mansinho, mas traiçoeiro, eu o colocava no ombro em nossas


andanças nas ruas, com corrente aos seus pés como segurança de
suas traquinagens.

Todos adoravam o saguim, com a especialidade a pequenina


Masinha, que queria ficar com ele, o tempo inteiro.

Sentia-me o máximo seguido da corriola enaltecendo suas


acrobacias. Até parecia ser eu, o autor dessas instigantes e ousadas
cambalhotas.

Seu contato conosco foi efêmero, pois a vontade em tê-lo foi vencida
por motivos alegados por nossos pais, que a criação caseira não era
636
condizente com os hábitos saudáveis para sua criação.

Assim o papai, foi à Cidade da Criança, também, conhecido como o


Parque da Liberdade, em frente à Igreja do Sagrado Coração de
Jesus, e o entregou ao Sr. Onélio, coordenador do então, pequeno
zoo que lá existia para deleite das criançadas.

Ficávamos tristes e achávamos, até injustas essas medidas


cautelosas e preventivas, mas não as entendíamos assim.

O que que queríamos, na realidade era brincar, nos entretenimentos,


mas diferentes e ousados que fossem.

Não medíamos essas consequências e muito menos as decisões


acertadas e por eles tomadas.
ZZZZZXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

O mesmo ocorreu com um periquito, anos depois e, a Masinha era a


sua dona. Para cima e para baixo, lá ia ela, tergiversando, para não
dar oportunidades aos manos de usufruírem a companhia de tão
doce e meiga ave.

Era muito engraçado. Queria dormir com ele e passava o dia todo na
cama brincando, divertindo-se e o acariciando.

Mas, as vezes o destino não se ilude com carinhos e maltrata os


corações daqueles que amam. Assim, foi com o periquito. Um dia,
efêmero em sua idade, amanheceu morto como o seu parceiro
Louro.

O papai não era muito adepto dessas propriedades, por medo de


637
contaminação de doenças transmitidas por esses nossos excelentes
amigos.

Mas cedeu, em outra oportunidade, e a Masinha ganharia outro,


que marcou sua história com um inédito e enigmático enredo que
contarei, posteriormente. Era o piquitita.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

O Parque da Criança, era um amplo espaço de entretenimento com


junção de área escolar, em uma circunferência ovalada, com um
grande lago, salas de aulas infantis da prefeitura, e os brinquedos
tradicionais dos parquinhos, animais selvagens e muitas aves.

Uma torre de pedras toscas e grandes compunham um patrimônio


que chamávamos de Castelo. Talvez, porque uma escada em sua
estrutura atingisse a sua altura máxima, e no patamar, no pico com
um pequeno espaço para desfrutarmos, com uma visão mais ampla a
grandeza daquele parque.

A noite diziam que era mau assombrado, que apareciam fantasmas e


638
outros extras-terrestres, mas precisávamos saber quem eram os que
isso diziam, pois os espertos estavam todos lá com suas paqueras.

No lado contrário da escada, uma fenda pequena e cúbica, nos


levava a um acesso pequeno, ao interior de sua espécie a qual
denominávamos a porta do castelo. Muitas árvores frondosas, quiçá,
centenárias arborizavam o ambiente.

Com seus longos passeios, feitos em ruas largas, percorríamos todos


esses campuses, arrodeando o lago. Por várias vezes. Isso, quando
realizavam quermesses ou festas similares comemorativas de
eventos com todos os jogos já bastantes conhecidos de todos nós.

Mas, o importante da quermesse, na realidade, para os adolescentes


não era a sua efetivação, em si, mas, a oportunidade que se oferecia
de paquerar e trocar olhares e até uma abordagem segura e tranquila
como um barco indo ao seu ancoradouro. Lentamente. Sugeria o
lago.

E lá ficávamos encostados, na mureta que circunscrevia o lago, a


conversar ou a passear, de novo, pelas ruas intermináveis do
Parque, e que as vezes nos levava, sem querer a visitar o Castelo,
em seu alto, o púlpito.

Já de mãos dadas com a paquera ou mesmos em seus ombros, já


era um grande avanço, para o dia seguinte.

Pois, normalmente, cumpríamos a clássica estratégia, para o


andamento do namoro, que não haveria retrocesso ao que
alcançáramos no dia anterior, e a partir daí, em sequência um
aconchego mais apertado.

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Dizia um ditado da época, devagar e sempre. Éramos seu adepto e
a corriola acompanhava os fatos para depois digerirmos.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Tínhamos uma devoção imensa por cachorros, e usufruímos das
amizades e carinhos que eles nos proporcionaram.

A mamãe, também, gostava e adorava conversar e trocar ideias com


eles quando, geralmente, estava só. Era uma companhia agradável
sentir-se o seu amor deitado aos seus pés.

Foram muitos, nessa larga existência familiar. Alguns se tornaram


inesquecíveis.

Lembro-me de alguns deles, aqueles que o tempo deixaram


640
indeléveis em todos nós, o Nick, o Tozinho e o Tostão. Faço
essas referências, como se o tivesse fazendo uma reverência,
um agradecimento a tudo e por todas as alegria que nos
causaram e só deixaram saudades. Obrigados, amigos. Vocês
foram demais.

Mas na indecisão, não querendo insatisfazer a caçulinha da


dona Esmeralda, o tempo escoou e passou rápido, mas não para
os Cachorros nilk, tozinho, tostão, eram os amores e partícipes
da família em seus sociais e em casa.

........................... FALTA TERMINAR ..........................


ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Quando não estávamos correndo na rua em diversas modalidades
esportivas, ou descansando nos seus intervalos, sentávamo-nos, por
vezes com as meninas e juntos participávamos das brincadeiras.

Não se falava de gêneros, nessa época, não se tinha maldades e


muito menos preconceitos com isso. Nem entre os maiores, mais
crescidos.

Aliás, essa palavra acredito que se ausentara do dicionário e


permanecia, apenas, naquele que por vícios ou maldades cruéis
641
obstinavam, em suas desumanidades.

Com as nossas chegadas as meninas recomeçavam o jogo das


pedras. Eram cinco. Fátima Reis, era eximia, era a sua
exclusividade.

Iniciava, levantando uma - 1 - pedra ao ar e deixando cair, as


restantes 4 ao chão, apanhando-as uma a uma. A seguir,
igualmente, liberando as 4 pedras e arrastando-as, agora, de duas
em duas.

Novamente o mesmo procedimento inicial e pegando-as ao chão


uma e mais três pedras
Agora, “o troca”. Tudo igual ao seu princípio, soltam-se as 4 pedras e
começa a trocar uma a uma com as que tem à mão, e ao seu final as
arrasta de uma só vez.

Em sua última etapa, a paia”. Coloca-se o polegar ao chão


juntamente com dedos indicador e médio entrelaçando-os e fazendo
um arqueamento como se fora uma trave. sequência inicial igual.
Uma pedra na mão e 4 no chão.

Ergue uma pedra e enquanto ela está no ar coloca-se uma pedra de


cada vez na “trave” da mão de tal sorte que elas passem por dentro e
não fiquem embaixo da mão.

642
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
A tradicional macaca”, com céu e inferno, resiste até hoje como uma
brincadeira reflexa da inocência e dos bons tempos das crianças de
outrora, não marcadas pelos bens consumistas de hoje.

O cimentado da Fábrica era o lugar ideal pelo seu piso poroso.


643
Organizávamos a fila dos brincantes, objetivando ultrapassar o
inferno e ir para o Céu, passando ilesos pelo purgatório desenhado
com hachura.

Com os numerais de um a dez, escritos no chão com fragmentos de


carvão, tijolos ou telhas, em colunas de um e dois quadrados,
sequenciados e alternados.

O da vez, jogava uma casca de banana, em preferência às pedras ou


similares, porque afixavam-se melhor ao chão quando jogadas, no
seguimento ordinário de seus números.

Também éramos adeptos das tradicionais brincadeiras de roda, em


movimentos circulares a cantar “atirei o pau no gato” ou “O cravo
brigou com a Rosa” ou coisas parecidas como se faz no mundo
inteiro. Tudo com muitas alegrias e euforias, isso nas idades
menores de criança.

Na mesma época, o pega-pega ou o esconde-esconde eram


divertimentos indispensáveis e diários. Quantos risos e gritos ao
sermos descobertos ou pegos, numa dissimulada frustação pela
ocorrência.

Quando estávamos cansados das correrias bufantes e ofegantes,


sentávamo-nos nas soleiras dos batentes, mas, não parávamos as
brincadeiras, apenas, opcionalmente, trocava por outra.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Era a vez de um anel, passear de mão em mão, geralmente, em


círculo e no centro, em pé, aquele que detinha a posse do objeto.
644

Os sentados com as mãos postas e ungidas à sua frente,


aguardavam a passagem do guardião do anel que o cederia a um
dos postulantes.

Assim, de um em um, abriam-se às mãos para que ele deslizasse as


suas, por entre as dos colegas. Ao final em uma das mãos ficara o
anel.

Na mão de quem?

Era a pergunta que se fazia a cada um deles. Quem acertasse a


resposta, ganhava o jogo e o direito de inverter a sua posição com a
do amigo centrista que assumia seu assento. E assim, ia por longo
tempo.
A cobra cega fecha um ciclo de entretenimento, dessa época de
meninice. Reuniam-se os amigos e um deles teria vedados seus
olhos com um lenço ou pedaço de pano buscado, urgentemente, em
casa, entre os retalhos da mãe curiosa.

Os demais ao seu derredor, lhe cutucava em acinte a sua cegueira e


evitando um contato afastava-se, rapidamente, para não ser
agarrado. Até que um bobeasse e desse a chance de ser seguro.
Trocavam-se as situações. A cobra cega a ser achincalhado era o
que dera a babaquice ser preso.

FALTA ORGANIZAR

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com os tempos chegaram as inovações musicais dançantes
como o Rock-in-Roll, Twister, La Bamba e outras de iguais
popularidades e sucessos mundiais. E, nós lá, apropriando-nos
de todos os eventos para balançar o” esqueleto”.

A Cadeia Cinematográfica, do cearense Luís Severiano Ribeiro


difundida no Brasil como as melhores casas do ramo,
inaugurava mais um empreendimento na capital cearense, com
o filme Anastácia, em 1957, no auge de seu sucesso.

O espetacular e maravilhoso Cinema São Luís, que fez mudar os


costumes e as modas, principalmente, da juventude com as
exigências de paletó, luvas e solidéus para as meninas.
A juventude Fortalezense não estava preparada para tal
protocolo de ambiente e o jeito foi comprar um “blazer” para os
masculinos e as meninas adquiriram ou mandaram confeccionar
os citados agregados da moda estilosa.

O Quadrilátero Mágico era a área geométrica formada pela Av.


Dom Manuel e Ruas Pero Coelho, Rodrigues Júnior e Heráclito
Graça.
Era ali que aconteciam os mais mirabolantes episódios da
região protagonizados pelos moradores que se conheciam e
mantinham as mais cordiais relações de união e amizade.

Todos eram amigos. Imperava o sentimento do respeito entre


todos eles. Essa magia fazia com que conhecêssemos a todos
sem distinções ou preconceitos de quaisquer naturezas.

646

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E as brincadeiras e gozações se sucediam ininterruptamente. Sr.
Francisco Carlos Morais, Chefe da Coletoria Federal, no estado e
Maria Albertina, eram os pais do Haroldo, Carlos Alberto e Heleno.

Quando da implantação da indústria automobilística no Brasil,


adquiriu um automóvel Dauphinne, cor de rosa choque e era um dos
mais queridos da garotada pois, a cada final de tarde, ao voltar do
trabalho, enchia o carro com a meninada e dava um passeio no
quarteirão.

Mas também não escapava das gaiatices Muito cauteloso e tranquilo,


certa vez ao tentar dar uma carona para o filho, Carlos Alberto e o
Paulo Brasil que iam à Faculdade à pés, parou o veículo e falou:
quer uma carona para a Universidade, ao que o Paulo, ironicamente,
respondeu, obrigado Sr. Morais é que estamos com pressa,
vamos fazer uma prova.

Toda essa sutileza, singeleza da juventude estudantil do Brasil, que


mantinha as suas origens alegres, pacatas e sem agressividades,
acostumada a resolverem os problemas nacionais de forma,
democraticamente, bem ou mal, era sufocada por um golpe militar,
que feriu a Pátria e os cidadãos apartidários.

O que queríamos e amávamos, era a liberdade de ir e vir. A liberdade


de expressões com seriedades, sem censuras e subjetividades
ofensivas aos jovens da pátria.

A ditadura militar, era um assunto frequente e revoltantemente


desgastantes para nós, juventude brasileira. Sem entreguíssimos aos
647
Estados Unidos.

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Outro episódio, sem igual, aconteceu quando, eu, Carlos Alberto,
Paulo Brasil, Nilson, Nelson e o Erazinho fomos dar umas voltas pela
cidade, passando pela Rua Lauro Maia.

Vejam só, seis no pulguinha, Dauphine.

Buscávamos novidades, lugares diferentes, e o objetivo era um


barzinho, socialmente agradável, para tomarmos umas cervejinhas
geladas, enquanto jogávamos na lixeira da vida o que restava de
impurezas, em nossas concepções.
No auge dos muitos papos, e poucas bebidas, por vezes
discordantes, surge um senhor que esperando um carro de aluguel
na coxia, e sem muitas expectativas de consegui-lo, vendo o nosso
pulguinha parado:

Perguntou-nos, se era possível alguém, deixá-lo na Cidade dos


Funcionários, por um dinheiro razoável, para integralizar a conta do
bar.

Discutiu-se bastante essa possibilidade. Uns a favor pela cooperação


financeira, e outros contra pela segurança do motorista.

Combinou-se, então, uma estratégia que atendesse a ambos os


quesitos, ia um dos nossos na direção do veículo e um segundo, no
banco traseiro, dando guarida ao motorista.

648
Claro está que o passageiro anônimo ia lá frente, ao lado do
condutor.

Pagamento antecipado e à vista, foi acertado e efetuado, no ato. Na


hora. Democraticamente, houve uma unanimidade, em favor do
cumprimento do pedido solicitado.
Erazinho candidatou-se ao exercício da direção, já que era veterano
na direção de carros. O Paulo foi atrás.

Tudo. Ok. Os demais permaneceram no bar, aguardando o


desenrolar dos fatos. E o tempo foi passando e os confiantes,
ficavam inquietos e intranquilos na medida em que não os apareciam
em seu retorno.

Estávamos, realmente, muitos preocupados, já em pé e circulando


entre as mesas, objetivando vê-los chegar.
Em dado momento, o ar de apreensão evapora-se e vimos o carro
cor de rosa choque, chegar. Porém, amassado, engelhados, batido
mas os companheiros desceram rindo e já justificando o previsível
acontecimento.

Restaram aos que os aguardavam, apenas, os detalhes dos fatos. A


dupla acidentada, sem nenhum ferimento, contou que o referido
cidadão sem nenhum óbice, foi deixado no local a que solicitara.

O Erazinho, ao fazer uma manobra desastrada por cima dos trilhos,


para tomar o sentido de volta exagerou na angulação de suas rodas
e o carro capotou lentamente.

Dos males, o menor. O automóvel conserta-se e tem seguro. Seu


Morais vai compreender, ele é uma pessoa doce e muito
649
compreensiva. Comentávamos, todos, menos um.

Só não falou o Caôberto, o proprietário, o que tinha que se haver,


com o pai. Mudo. Branco. E aí, perguntamos-lhe, o que fazer? O que
dizer?

Demoramos minutos arquitetando uma defesa consistente e unânime


nas narrações do episódio, para não caracterizar uma peripécia
irresponsável.

O que houvera, são nuances da vida que surgem para testar o


caráter de cada um, em suas responsabilidades.

Resolvemos, em nossa totalidade averbar a verdade como definitiva


e esperar a instauração do inquérito para saber as punições do
grupo.
Se não fôssemos, absolvidos, era porque cometemos um delito,
mas o carão penal tranquilo, pausadamente, causou-nos uma
mudança de atitude e, fora o suficiente, para a melhor
compreensão da extensão da palavra responsabilidade.

O Carlos Alberto, ouvia tudo, pouco falava e nós, aparentemente,


tomávamos as dores, cada um, como se fosse ele, para resolver o
imbróglio da melhor forma possível.

Seu Morais merece o preito da gratidão e do reconhecimento por


tudo que nos ensinou na vida, sem pretensões acadêmicas, mas com
seus procedimentos de vida,

Neste caso, fora exemplar, do seu silêncio, ao sorriso irônico, crítico,


resignado, mas compreensivo, entendendo tudo, muito bem, a nossa
650
história e talvez, quem sabe, não se colocara no lugar, de cada
um.Tal, a sua lucidez na solução do problema que lhe presenteamos.

Também, um dia, décadas atrás, fora um seresteiro inveterado às


namoradas de outrora. Quem conhece a realidade, decide melhor.
Entendemos o seu sorriso.

E tudo, depois, continuou como era antes.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

A feiúra, é um negócio seríssimo para se comentar. Várias as


repercussões, se dizem respeito nessas horas. Ninguém é feio
porque quer.
Nessa alternativa, ninguém gostaria de sê-la. Mas, na realidade com
a mesma crítica, observamos as mulheres. Com olhares
diferenciados, verdade, e até os reflexos em nossos sorrisos não
são iguais.

Uma coisa é você apreciar a beleza estonteante de uma guria.


Outra é contentar-se em ver uma mulher menos aquinhoada neste
mister.

Sem preconceito, mas a própria realidade da vida, nos faz a opção


sem que precisemos nela intervir. De umas, tenho inveja, de outras
tenho pena, esse é um conceito totalmente, errado e funéreo. É para
matar mesmo, se assim o fosse.

As conjunções de vida favorecem a ambas, as lindas estão sujeitas,


inicialmente, como uma opção privilegiada a casar-se com pessoas
651
ricas, mas isso, não impede que as feias também, não as possam
fazê-las.

Ai, entra o mais importante da história. O seu interior. Mas, não falo
de município. Esse é o que tem que ser avaliado, o espiritual. Esse
sim, é o mais importante. A maioria das feias, é belíssima nos
seus interiores. Mas, a gente não vê o que está dentro, diz um
gaiato.

Carregar a beleza é fácil, segurar a feiura é pesada. Mas, essa é a


análise externa, que vale nada, na vida espiritual das pessoas.
Quantos não são os milagreiros. O aleijadinho, está a demonstrar em
nosso país, essa faceta. E tantos, tantos outros.
Ao lado direito, da casa do Haroldo, a Cecília uma senhora de 1,50m
de altura, calçando sapatos altos de 15 cm, feia que doía, com uma
testa que parecia uma careca de tão grande, reconhecendo a sua
falta de beleza, para todos ouvirem, ela, mesma, dizia, convicta: De
cara não, mas de corpo, eu abafo. É. Se ela disse, que posso
dizer.
Ela mesma se entregou, seu Babá, falou a minha sombra.

Diziam, na época, que o Haroldo fora contagiado por essa


doença, pois morava vizinho, muros contíguos, o que é realmente
satânico. Depois, de seríssimos tratamentos, ficara totalmente bom,
mas tem gente que diz que ficaram algumas sequelas.!!!

Tô fora, nessa, é da família e não quero confusão. Apresento, até a


minha solidariedade.

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Na rua Rodrigues Júnior, residiam uma senhora já bem idosa, e


suas três filhas que se sobressaíam pelas suas extremas ausências
de beleza e encantamento, que não passara despercebido por todos
“tal a gravidade da ocorrência”.

Merecidamente receberam as alcunhas de Sofrível, Horrível,


Incrível e. Terrível, em classificação ordenada de feiúra, e, tais
adjetivos generalizaram, a ponto de, nem seus vizinhos saberem os
verdadeiros nomes, dessas figuras fantasmagóricas.

Eram de seus conhecimentos, esses merecidos títulos que lhes


653
foram conferidos pela comunidade. E tinham ódio a quem as
olhavam de soslaios. Com o rabo do olho.

Era uma situação preocupante para ambos os lados. Pois, vizinhas


da casa do Paulo Brasil, nosso amigo querido, vivíamos em sua
casa e por lá, em frente, tinha uma Oficina Mecânica aonde os
alunos que iam tirar a Carteira de Motorista, de classe
profissional, teriam que passar, para aprender a conhecerem os
nomes das peças mecânicas, seus significados, e como lidar com
elas em casos de pane.

O Alderí era seu instrutor.

Eram inevitáveis os frequentes conflitos com essas majestosas


donzelas. Tínhamos, o maior respeito por elas. Pois, entendíamos
que já lhes eram grandes fardos sustentarem esses rostos
emoldurados por tamanhas e compactas feiuras.

Não tínhamos nada contra, pelo contrário, lamentávamos esses


fatos. Mas não as dispensávamos quando elas se intrometiam,
indevidamente, em nossas vidas.

Jogávamos bola a tarde inteira nas calçadas periféricas, ou mesmo


fazíamos o Alderi fechar a porta da Oficina, do tamanho de uma trave
e vê-lo guarnecendo a sua meta, como um gato felino e voador,
com todas as suas autenticidades.

O “bicho” era incrível, sua agilidade, destreza e mobilidade eram


impressionantes e tudo isso, fazia com seu cigarro aceso na sua
boca.!!!!!!!!!!!

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Era inacreditável, nos seus, talvez 18 anos e nós em média uns
doze. E quando jogávamos gol a gol, isto é, ambos chutavam e se
defendiam, entre si, era impossível que a bola lá na casa das
beldades não caísse.

E quando isso acontecia acidentalmente, é bom que se diga, o


Alderi corria e pulava o muro baixo, num võo rasante, pegava a bola
e voltava, antes delas, verem e falarem.

As vezes elas chegavam à porta, movidas por alguns barulhos, para


ver se a bola tinha caído lá, mas nós já estávamos jogando de novo.

Tínhamos recomeçado. Não reclamavam, pensavam que a bola nem


caíra lá. E nós, não tomávamos conhecimentos de suas figuras
nessas ocorrências bem sucedidas.
Uma vez, a bola de borracha, novinha em folha, caiu e ficou
impregnada nos espinhos de suas jardineiras, perdemos tempo em
encontrá-la e fomos flagrados em seu gramado, no jardim.

Ficamos estáticos, saímos pelo portão e ela ficou com a bola. Foi
uma sensação de grande perda. Uma frustação para nós e,
certamente. um valioso troféu ganho e a muito desejado e
perseguido.

Minutos depois elas, as Incrível, Sofrível, horrível e Terrível,


devolveram a bola, odientamente, cortada por algumas tesouradas.

Ficamos, calmos segurando os restos da nossa esfera, e ao


avaliarmos seus estragos o diagnóstico foi unânime. Não tinha
como consertar ou remendar ou até colocar fogo para tapar os
furos, se fossem uma garfada.
655

Em plenária, resolvemos que não tomaríamos nenhuma medida


em represália a essa brutal atitude, das senhoras com esses
meninos jogadores de futebol, como elas nos tratavam, e
mandávamo-nos a jogar nos gramados.

Dissemos, um dia, vamos aguardar, e surgirá uma oportunidade de


revide. E fomos para as nossas casas.

Era nosso costume, quase diário, sentarmo-nos na coxia da


mercearia do Seu Cavalcante, em frente à casa delas, porque ali era
equidistante a todos os meninos. Era o ponto central da
circunferência, onde dois diâmetros sempre se cruzariam.
Um encostado no poste de rua, outros a seu lado e alguns no
calçamento em frente e olhando para nós. Todos pertinho e não
criávamos problemas com ninguém. É verdade.

Às vezes, até as meninas paravam para conversar, comentar


algumas novidades ou até informar que no dia, seguinte, porventura,
estariam pensando em fazer uma tertuliazinha, na casa da Neide, por
exemplo.

Estávamos, pois, conversando e erguendo os olhos para o céu, sem


medo, felizes, quando apareceu um jumentinho cansado, pelas
coxias da rua, faminto e com sede, quem sabe, e o Chiá, assim
chamado o François, levanta-se e ri, gloriosamente.

Ficamos pasmos, sem entender nada, pois se estivesse falando


francês para nós, que não era o caso, pois ele era o mais carente de
656
todos nós e tinha poucas instruções escolares, e passava algumas
dificuldades com a mercearia desnutrida que a família tinha.

Era feliz, igualmente, a nós, loiro e olhos esverdeados como um


burguês, mas era só uma ilusão.

Pulou de alegria e nos mostrando o jumentinho, tranquilo,


cabisbaixo, disse, vamos à forra, continuamos a não o
compreender.

E finalmente, explicou, o jumentinho está com fome. Concordamos,


todos. Ele adora grama, começamos sentir o cheiro esverdeado.

Está em frente ao portãozinho das incríveis e eu, só vou abri-lo e


encaminhá-lo ao gramado, para a pastagem tão importante e vital
para ele.
Genial, Chiá, o que ele tinha naquele momento com seus
amarelecidos cabelos e olhos verdes não eram focos de
brasilidades, e sim de uma criatividade e simplicidade
espetacular,

Pulamos todos, era contagiante, não deixaríamos nenhum rastro ou


indício de nossas espertezas e periculosidades, afinal o jumentinho
entrara, porque encontrou o portão aberto e colheu a grama.

Empanturrado, certamente, ia embora e a grade guardiã, ficaria


aberta como antes, dissera ele, brilhantemente em sua astúcia
divina.

Dito e feito. O efeito, foi imediato e para não nos complicar pelos
mastigados do já querido amigo, nos despedimos para a análise do
657
dia seguinte.

Quando estávamos na varanda da casa do Seu Amintas, pai do


Paulo, elas nos indagaram a respeito, dissemos que nada sabíamos
e até nos prontificamos a tirar o jumentinho de lá. Agradeceram.

Ficamos na nossa. Elas também. Dessa vez, o plano foi perfeito.


Elas não digeriram muito bem essa história, mas não tinham
testemunhas e nem provas.

Concluímos, elas têm suas razões e nós temos as nossas.

Nada melhor que, um dia atrás de outro, diz o adágio popular.

O Chiá foi efusivamente abraçado pela estratégia perfeita.


658

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Dentre tantas as famílias, que nos acolheram com carinho e amor,
era inegável, a felicidade com que frequentávamos a casa dos Brasil.

A certeza de que as afinidades nos aproximavam, tanto, que,


julgamos fosse uma enorme família a morar na Rua Pero Coelho,
342, tal a intimidade e a benquerença que tínhamos com essa
família.
Vivi boa parte de minha adolescência e juventude convivendo com
eles, aprendendo histórias de vidas com o pai, Seu Amintas, e os
filhos, Abner(Bié), Chico, Mirinha, Paulo, Rita e Claudinho.

E a dona Maria, senhora de virtude incontestáveis, uma divina


criatura e mãe de nós todos, amigos do Paulo, a ponte entre nós.

Chegaram de Manaus e tive o privilégio, segundo ele, de ser o


primeiro amigo a ser conquistado em terras cearenses.

Desse momento, lembro-me bem, na bodega do Seu Cavalcante na


esquina diagonal com a sua residência. Eu estava lá e ele
aproximou-se e decidido, como sempre o fora, achegou-se.

Começamos a nos falar, como dois desconhecidos que quiséssemos


exercer o direito de uma amizade e uma confiança que o tempo
659
jamais ousou apagar.

Ele perguntou, que time tu torces? Eu respondi, Vasco da Gama. Ele


retrucou, eu Flamengo, o melhor. Ri. Mas complementei, não
começamos bem, e rimos alegremente

Ai, ele, em seguida indagou e aqui em Fortaleza, eu disse, o Ceará,


o mais querido. Ele disse tô contigo. Como se fosse compensar as
animosidades entre os clubes cariocas e seus torcedores. Somos
Ceará. E realmente marchamos unidos como torcedores desse
Clube.

Ficamos, ainda mais algum tempo, trocando em miúdos as notícias


esportivas, e foram chegando os amigos das cercanias e todos, se
tornaram amigos, desde logo.
Perguntei, aonde estás morando, ele apontando, disse, ali. E eu, na
segunda casa? Sim, respondeu ele. Estávamos todos nós
perfeitamente identificados para prosperar uma amizade que só a
morte nos separou.

Com ele ou na sua casa, diria melhor, a turma do Quadrilátero


Mágico dispunha de todos os ingredientes para um papo, um
cafezinho gostoso, ou um joguinho de baralho que variava entre um
buraco, e um pif-paf.

Não se jogava a dinheiro, era a lei do Seu Amintas, homem de


caráter e autoritário na educação de seus filhos.

Sempre de pijama, colocava as pernas sobre a cadeira enquanto


conversava e fumava seu cigarro preferido.

660
Nunca vi e ouvi um contrassenso maior do que lhe dizer autoritário e
brusco, às vezes, mas sempre amoroso conosco. Impunha respeito
e ensinava como se deveria obedecer. Mas não sabia perder. Isso
ele nunca aprendera. Era um eterno vencedor.

Um pouco excêntrico em suas comemorações no baralho e gamão.


Jogávamos também xadrez, menos. Era aposentado e o tempo
disponível era todo nosso para satisfazer suas ânsias de jogador
experiente e passar o tempo com a sobriedade dos grandes
apostadores, do pife-pafe.

Não aceitava bem os blefes de seus adversários, mas fazia gozação


e questão de mostrar o jogo blefado quando de sua autoria, para nos
subestimar.
Não se dava por vencido. Se isso acontecesse era azar, falta de
sorte. Se ganhava era o grande apostador, que o era, mesmo. E nós,
quando perdíamos, ouvíamos calado as gozações e quando
ganhávamos não tínhamos o direito as celebrações corriqueiras.
Ficávamos calados.

No gamão, era um mestre, com a mesma filosofia e postura quando


se alinhavam as cartas do baralho.

Nas batalhas das pedras brancas contra as pretas era um Deus nos
acuda quando estava a nos dar um gamão: dizia, corra, Corra.
Quem sabe, domina os dados.

Mas só ele tinha esse direito de falar, e nós, sabiamente, cabíamos a


ouvi-lo, sem contestações nem retribuições, cantar de galo. Gamão
cantado.
661

Amávamos aquele ambiente sadio, alegre, divertido e austero qual


um cassino honesto, se é que existe.

Falava o jogo todo, nos achincalhando quando a sorte lhe favorecia e


dela reclamando quando se via, em apuros. E não podíamos falar
muito, mas o fazíamos para criar um clima de combate que ele
também gostava, nem que fosse para nos azucrinar.

Os caroços de feijão, milho ou similares eram os tostões a serem


disputados.

Por vezes, estávamos vencendo, por alguns carochos, mas não nos
deixava abandonar o tabuleiro enquanto não recuperasse os seus
carochos deficitários.
Seria, também, uma injustiça ou ofensa, em detrimento ao nosso
caráter dizermos que entregávamos o jogo, não, isso não, pois essa
era a nossa chance de, alegremente, comemorarmos com
sentimentos internos e silentes.

Seu Amintas, foi uma figura marcante em nossas vidas e convívios.

Um ser notável por suas controvertidas identidades ante o espetáculo


da vida. Austero, vigoroso, carinhoso e afetuoso. Com seus cigarros
entre os dedos, baforava todas as essências da vida como se ele a
mantivesse sob seu controle, a sorte.

Não existe azar. A sorte de um, é a do vencedor e a sua falta, a do


vencido, penso eu. Ficou a admiração imensa e a gratidão pela
acolhida.

662
Seus filhos, todos, tinham uma obsessão amorosa por ele, era mais
que um pai, era um ídolo.

O Bié o mais característico de seus filhos, levava consigo até o


nome, impunha uma distância pequena, mas era de uma amizade a
toda prova.

Uma simples ocorrência, nos leva a guardar uma imagem perene em


razão de uma prodigiosa e expressiva inovação, inimaginável, na
época, e que ele simplesmente, nos mostrou entusiasmado.

Vindo de uma viagem em São Paulo, se encantara com um tecido e


uma calça já confeccionada, que tinha uma tecnologia avançada ao
não se amarrotar, engelhar ou encarquilhar-se. O Nylon. Fiquei
impressionado. Saudades Bié, o médico e os adolescentes.
Chico o mais alegre e desinteressado pela vida afortunada,
profissionalmente. Trabalhava na SECAM. Gostava de umas
cervejinhas e de mulheres bonitas. Tinha bom gosto e charme para
isso. Valeu Chico, gente boa.

Mirinha a expressão de feminilidade e um sorriso pleno de


solidariedade e leveza. O carinho caminhava sempre com ela, e nos
levava em conta. Obrigado, Mirinha.

Os olhos, agora, ficam rasos cheios de lágrimas, e umedecem, mas


vou continuar, no próximo capítulo. É especial para mim, amizade
não tem fim. dá um tempo, para o reencontro.

A Rita, a Ritinha, tocava piano e diplomou-se em medicina. Criaram


uma aura de paquera, entre nós, que me orgulhosa e ficava ansioso
por novidades. Éramos tímidos e podia ser que a turma estivesse
663
dando corda, entre nós.

O pessoal fazia hora e pedia para que tocasse piano. Ficava todo
errado, nessas ocasiões.

Todos brincavam com essas situações. Ficou como está. Beijos,


Rita.

O Amintas um dos mais inteligentes da casa, e mais novo que nós,


era astuto e competitivo nos jogos. É engenheiro. Brilhante.
Namorava uma menina da Dona Leopoldina, muita nossa amiga.
Fizeram um belo par. Felicidades.

O Claudinho, o caçula era um menino de ouro, tinha um pouco da


Síndrome de Down, mas era muito alegre, entendia tudo e a todos.
Quando me via chamava o Paulo. Com um andar característico,
reinava em sua casa como se fora o príncipe herdeiro da coroa.
Grato, por sua existência e companhia.

Dona Maria, uma santa, sem coroa, pois a humildade, a modéstia, e


a simplicidade, por certo a impediu de usá-la, mas nos induziu, em
nossa postura, uma retribuição merecida.

Parabéns, pela família.

Mas, não posso finalizar essa saudade sem citar a plêiade de


jogadores e amigos que compunham essa família generalizada de
sobrenomes entrelaçados: Duaran, Nilson, Nelson, Carlos Alberto e
outros com menos frequência.

Não cito os nomes de mais alguns, para não injustiçar outros.

664

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O Paulo, meu grande amigo de todas as horas. Depositávamo-nos,
uma confiança e confidências que ainda hoje lhe sou grato.

Lembranças de festinhas, nossas peladas de futebol, no Castelão


torcendo Ceará, nas paqueras, nas quermesses, nos papos furados
na esquina do Cavalcante.

Éramos recorrentes, nos momentos certos e incertos da vida e de


difíceis decisões, nas caminhadas ao Liceu do Ceará, nas praias,
jogando gamão, baralho, nas gargalhadas infindáveis de nossas
astúcias impermeáveis, enfim uma infinita saudade.

Quando vínhamos das festas dos clubes praianos, algumas


carnavalescas, a pés, acertados, democraticamente, após a
contabilização de nossos recursos financeiros, integralizados por
todos nós.

No alvorecer do dia, mortos de cansados e você dizendo que


estava com sono e andássemos rápidos. Já era o cúmulo da
ousadia para nós.

E, encontrava uma fórmula desumana, para que isso acontecesse,


saía chutando e correndo, várias portas da av. Dom Manuel e nós
atrás voando, numa aventura inigualável e já esgotados após
trezentos metros em desabalada carreira.
665

Caíamos ao chão, um a um, rindo e você nos esperando às


gargalhadas.

Descansávamos, apenas, o suficiente cronometrado por você, Paulo,


para seguirmos a viagem. E, nós pregados e molhados de suores,
clamávamos por complacências ou condescendências para irmos em
paz.

Agora, sim, caminhávamos devagar pela exaustiva fadiga e ele


brincando, dizia, vamos, como se as forças de Hércules lhe tivessem
baixadas nesses momentos.

Em breve, um novo chute nas portas e novas correrias, sempre


olhando para trás e vendo as cabeças dos proprietários das
residencias nos ver fugir, dessa irradiante juventude.
Impagáveis e inesquecíveis esses episódios. Chegávamos aos
pedaços, todos sorrindo. Isso era amizade e união, era como
entendíamos a brincadeira, independentemente, de ser de bom ou
mau gosto.

Certa vez, eu, magrinho e das canelas finas, mas, um emérito


driblador e arisco nas arrancadas ao gol adversário, levava muitas
cacetadas dos amigos do time adversário.

O Paulo Brasil, forte, corajoso e briguento tinha o sangue fervente,


enquanto o meu dormitava em águas marias, mas numa
oportunidade em que o Alísio me deu uma entrada violenta, ele
deixou a nossa zaga e foi as forras com o adversário que levou
umas porradas.

666
E eu dizia, tá bom, Paulo, tá bom. Não que estivesse gostando,
mas sabia que isso era coisa de futebol mesmo. E não queria briga.
Tinha medo do pior.

Saudades eternas, querido amigo.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
No quintal de nossa casa, a vista frontal, era panoramicamente bela.
Fruteiras eram apreciadas com facilidades e suas doçuras eram
nossas conhecidas, familiares e queridas a muito tempo, a despeito
das vigilâncias que nos eram impostas por servidores da proprietária.

Em cada casa, que formava o Quadrilátero Mágico, o cenário do sítio


era o mesmo. Não havia como nos segurar, diante de tantas
afrontas, contrastando com os nossos desejos de possuí-las.
De fato, pulávamos os muros e impunemente, apropriávamos das
frutas existentes. A nossa predileta era a Seriguela que se postava
bem à frente de nossos olhos.

Era um incentivo ao ato, verificarmos, pés lotados de frutas


vermelhinhas, doces e generosamente gostosas e, por vezes, caindo
e estragando-se ao chão.

Não queríamos que isso acontecesse. Fazíamos, então, essa


caridade, também, para estimular uma comida saudável e de bom
gosto, em sucos ou ao natural.

A estratégia era simples, alcançado o alto do muro, nele sentávamo-


nos e dávamos uma panorâmica em toda a sua área, até onde
pudéssemos ver, isso efetuado com acrobacias em buscas
667
frenéticas, para evitar um flagrante desonroso.

Em condições normais de colheita e analisada a safra disponível,


quaisquer dos irmãos solidários com a causa, jogava as panelas
grandes para a coleta.

Eu, às vezes o Rubem ou o Ruy, descíamos do muro e procedíamos


o recolhimento rápido e efetivo dessas frutas, sempre, com os olhos
voltados para os espaços obscuros, por onde poderiam,
eventualmente, chegar alguém indesejado.

Caso ocorresse, escondíamos no mais intacto silêncio do universo,


nas imediações da imensa caixa de água que abastecia os inquilinos.
Quando voltava a normalidade, continuava nosso trabalho
camponês.
Ademais contávamos, ainda, com o apoio logístico de algum irmão
que nos substituía no muro, na observância de eventuais servidores
do sítio, e sinalizava alguma presença suspeita.

Concluída a tarefa, era pegar as panelas cheias de preciosidades e


correr invertendo o caminho da ida.

Com a chegada das vasilhas em casa, ilesas, fazíamos a verificação


da bonança: seriguelas, pitombas, goiabas, carambolas, atas e
amoras.

Aguardávamos uma periodicidade de segurança, para o cumprimento


de novas arrecadações, enquanto saciávamos a boa safra
armazenada.

Nunca fomos pegos, mas se ocorresse já sabíamos o que dizer,


668
estávamos à procura da bola que, também, era lançada juntamente
com as panelas, só que com destino diferente.

E assim, era a nossa vingança à mesquinharia da dona Francina,


que as vendia a preços minguados e contava, por unidade quando de
nossas compras. Se, pairasse alguma dúvida a respeito das
quantidades, as recontava.

Sempre gostamos de frutas, plantas e verduras.


O problema, era quando a bola caía no sítio, a pretexto ou não, de
abocanhar algumas seriguelas cintilantes, vermelhas.

As goiabas, atas, pitombas, jacas, maracujás e outras frutas,


também, ali estavam presentes à nossa espera e à venda.
669

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
A dona Francina era mesquinha nos negócios, louca por dinheiro,
mas, talvez fosse um dos seus poucos defeitos.

Fazia questão de vender as frutas, ela mesma, e não cedia e nem


concedia nenhuma, como bônus ou extra, era exata como a
matemática, por hipótese alguma, frutas de quebra, como se fora
uma gorjeta, mesmo a pedido do cliente.

A Pepita, a mais imponente e importante das domésticas, a começar


pelo nome, era uma boa pessoa e compreendia os meninos que
pulavam o muro adentrando no sítio.

Foi para os Estados Unidos, virou cidadã americana e o casal que a


levara, voltou ao Brasil e ela permaneceu no território americano.

VInha passar as férias em Fortaleza, em particular com a família do


Seu Morais cujo filho, Heleno, o mais novo, ela o adorava.

Em seguida, fixou residência em Fortaleza.

A Hilda, cozinheira da dona Heloisa, cujo quintal também dava para


670
os fundos do sítio, fazia parte do clã de servidores, tendo em vista
que a dona da casa era filha da Francina.oA Cotinha, figura notável
em sua humildade e presteza, mais idosa que as demais, trabalhava
na residência da proprietária e ajudava na colheita das frutas e a
substituía nas vendas.

O protocolo de venda, passava por uma cabaça, uma cuia, cheia das
frutas e fazendo-as saltitarem quando lançadas ao alto, as seriguelas
iam se posicionando em locais diferenciados e ela separando as
melhores e maduras para a nossa aquisição.

A Cotinha por sua vez já era mais maleável. Por isso, sempre, a
procurávamos quando fazíamos nossas compras, após o almoço
quando a Francina tirava sua sesta.
O Aloísio, seu filho mais novo, era um solteirão inveterado. Morava
com a mãe e dela, merecia menos atenção do que as domésticas
trabalhadoras e auxiliares na construção de sua fortuna, herdada do
marido Gervásio Gurgel, no setor imobiliário.

Era comunista, bem listado nos meios marxistas, e conservador nos


hábitos de leitura, tinha sempre um livro nas axilas, que já deveriam
estar maus cheirosos. Mas era um leitor contumaz

Muito conhecido na cidade, por suas invariáveis histórias e críticas


mau fundamentadas e outras por suas hilárias conquistas amorosas.

Mas, casamento não era com ele. Não ia gastar dinheiro com
besteira. Mas, era comunista. Essas incoerências, o marcava
tremendamente.

671
Era uma figura popular, falava com todos. Nesse ponto, de agrupar
era comunista, só não o era na hora de dividir. Mas era comunista.
Gente boa, o Aloísio.

Teve um filho que lhe deu o nome, Aluisinho, que era o cão de
danado. Pequeno, ainda, aos sete ou oito anos era o terror da Dom
Manuel, com suas brincadeiras doidas e sem nexos.

De bicicleta voadora fazia loucuras, nas duas rodas e quem


quisessem dever-se-ia sair do seu percurso, pois ele, não estava,
nem aí.

Era inteligência e criatividade demais para uma pessoa só, diziam


seus familiares. Tinham alguma razão.
Realmente, era de uma inteligência excepcional. Formou-se em
direto e ascendeu a condição de juiz. Deve estar aposentado, mas a
poucos anos atrás, numa questão, simples da Rachel como
requerente de uns benefícios, após, a sentença, lembrou-se de mim
e perguntou, como vai o Babá, ainda joga bola. E riu.

672
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

No quintal de nossa casa, plantávamos com sucesso mamoeiros que


davam frutos bons e abundantes. Lembro-me de um,
especificamente, que de tão generoso quando pesado, constatou-se
mais de dois quilos.

As pimenteiras, malaguetas, não podiam faltar, tínhamos para


consumo em quantidades suficientes, bem como as “pimba de
macaco”, amareladas, que papai gostava muito.

A respeito, nossos pais antes de se servirem no almoço, preparavam,


em seus pratos, uma espécie de molho, com 5 a 6 pimentas
amassadas, com sal, limão e vinagre. Então começavam a refeição.

Aproveitávamos o máximo possível de nossa gleba caseira, com


673
flores, sorrisos e margaridas, cultivadas também em jarros.

O quintal era fértil, adubado com substâncias fecais, porque


aprisionava nossas excreções fétidas. As chamadas fossas, que em
determinado instante teria que ser esgotada para reuso.

Nessas ocasiões, o Ventura era chamado para desobstruí-la e secar


e o fazia de maneira manual, usando apenas, pá, enxada e um balde
com cordas para alçar o material oriundo dos vasos sanitários.

Trazia consigo um ajudante que o auxiliava na solução do problema.


Os dejetos eram lançados no sítio da dona Francina e utilizado como
fortificante da terra para semear e cultivar novos produtos para nós.
Esse dia era complicado, pois o cheiro ativo e característico se sentia
por toda a casa, inclusive as dos vizinhos que nada tinham a ver com
isso. Era o jeito.

Basicamente, todos os serviços caseiros de consertos hidráulicos,


elétricos, fossas e emergências, a presença do Ventura era a figura a
ser objetivada.

Mas, quando faltava água, por falta de energia, esquecimento do


Ventura de ligar o motor ou manutenção, era um recital de dezenas
de tenores e sopranos a vocalizarem, em tons altíssimos, uníssonos
ou intercalados, para serem ouvidos a distância, a ópera, “Ventura,
tá faltando água, liga o motor”.

674
Às vezes, ele consertando, respondia: Tá quebrado!!!!!!!!
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Um fato inusitado, me passou despercebido por muitos anos e


causou-me surpresa, quando no encaminhamento dos papéis para o
casamento religioso, lhe fora solicitado a Certidão de Batistério,
comprovando a sua crença na religião cristã.

Conversei com a mamãe e ela disse-me que todos os filhos


cearenses tinham sido batizados na Igreja do Carmo, em Fortaleza,
na confluência das ruas Duque de Caxias com Barão do Rio Branco.
675

Dirigi-me à Igreja e fiz o pedido de cópia do documento batismal.


Marcando o dia de entrega, compareci para recebê-lo e qual não foi
minha surpresa ao ouvir do pároco a informação de que não
constava nos anais da Paróquia, nenhum registro de batistério, com
esse nome.

Acostumado a ter embaraços por causa da escrita do nome, invulgar


e esquisito, ponderei que a grafia do nome era com “y” e que,
segundo informações o batismo ocorrera no final do ano do
nascimento.

Ficaram de fazer novas pesquisas, face os esclarecimentos


alinhados. Retornei para pegá-lo. O Secretário da Igreja confirma que
não existe nenhum relato batismal em meu nome.
Fiquei preocupado e repliquei o fato à mamãe. Ela foi clara e incisiva.
Foi lá, sim.

Não tinha outra forma de adquirir essa Certidão. Paguei adiantado


alguns cruzeiros extras para o pesquisador encontrar de qualquer
maneira. E forneci o número do telefone lá de casa, para
informações. Tinha pressa.

Certa tarde, dona Esmeralda dá-me um recado, o rapaz da Igreja


ligou. Dia seguinte, acordei cedo e logo fui à Igreja tomar
conhecimento do teor da informação que deveria dar.

Ao apresentar-me, ele disse, por que o senhor não me falou que


seu nome era José Ruymar. Porque não o é, respondi.

Trouxe-me, a seguir, a Certidão de Batismo e mostrou o imprevisível


676
acontecimento. Saí satisfeito, pelo menos tinha o documento e,
comigo mesmo, pensei, devo ser afilhado de São José. E agradeci.

Contando a história para a mamãe, ela lembrou-se, rindo, de um


episódio na pia batismal quando, o padre argumentou que aquele
nome não deveria ser dado a gente e consagrou-me José.

Novo constrangimento surgiu quando da sua entrega, na Paróquia da


Paz, pelo confronto distinto entre esta Certidão e a de Nascimento.

Contei a história ao padre, ele entendeu e ponderando afirmou, é


verdade, naquela época tinha dessas coisas.

Tenho a certeza de que nem todos os meus irmãos, lembrar-se-ão


desse fato. Mas, é a verdade.
A Claudia, não esqueceu, porém, dessa dificuldade.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Fortaleza, tinha alguns postos de carros para aluguéis, fazer a


corrida a serviços de seus usuários. Não eram muitos.

Na Praça do Ferreira, tinham dois, um perto do Abrigo Central e o


outro em frente a Rainha da Moda. Postos Nove e Mazine.
677

Em frente a Leão do Sul, casa de lanches que até hoje permanece


com o mesmo sucesso, cardápio e local, era o Posto Citröen..

Na Praça da Igreja do Coração de Jesus, mais um, com o nome do


logradouro.

Utilizávamos sempre os do Coração de Jesus, bem mais próximo de


nossa residência.

As marcas ou modelos, eram geralmente os mesmos. Ford Prefect, a


minha cara. O Citröen, dos mais solicitados. Não pedíamos o Belair,
da Chevrolet, e nem o Anglia, porque, mais caros.
Era besteira e luxo. A gente se apertava nos veículos menores. Era
até melhor, pois gostávamos de oportunidades, para implicarmos.
Uns com os outros.

E a baratinha era sempre uma boa opção. Existiam outros veículos


em disponibilidades, mas eram poucos e mais caros,

Todos esses carros eram importados.

Os Dodge, Studebaker, quando tinham, eram inacessíveis para os


nossos bolsos.
Não era difícil, solicitá-los. Seus telefones estavam sempre anotados,
entre os de urgência. Tal a sua importância e necessidades.

O telefone preto, modelo da Erickson, afixado na parede era o alvo


preferido da casa. O nosso número era 66-25. Recebíamos,
678 inúmeras ligações. O quinteto filial, era muito solicitado a instar a
falar.

Quando tocava, corria todo mundo. E, o destinatário atendia, os


outros lamentavam alguma chance de saírem.

Era muito bom passar trotes, para as pessoas de nossos círculos de


amizades. Encenávamos um enredo e passávamos a desempenhá-
los ao vivo. Éramos bons, neste teatro. Ingênuos e gozadores.

Mas, se quiséssemos solicitar um carro de aluguer, procedíamos a


ligação e já íamos, nos antecipando, e dizendo, onde morávamos,
local de busca e para onde íamos, fornecendo-lhe o endereço e
referências, do destino.

Aguardávamos, alguns segundos, enquanto o atendente nos


informava o carro e o valor da corrida. Sempre questionávamos o
custo, dizendo que no dia anterior fizéramos a mesma corrida por um
valor menor. Era tiro e queda. Era só aguardar.

Aquele que é feliz, espalha sempre a felicidade e apesar dos


pesares nunca o deixamos de ser. Sabíamos separar as coisas.

WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
BANGU
No Rio de Janeiro, no campeonato estadual tem um clube tradicional,
branco e vermelho, bancado na época, por um empresário muito rico,
679
Sr. Guilherme Silveira, proprietário da magnífica Tecelagem Bangu,
de tecidos finos, luxuosos.

Frequentemente, marcava presença nos principais desfiles de moda


brasileira e que vestia modelos e patrocinava também o “Miss Brasil.
Um sucesso nacional esperado, ano a ano.

Sucedendo, a querida Martha, a cerense Maria Emilia Correia Lima,


foi a escolhida, Miss Brasil. Representava o estado do Ceará e o
Maguari Esporte Clube.

Depois, dessa intrusa lembrança, o Ruy teve uma genial ideia,


escrever para o Bangu, dizendo-se ser torcedor e enaltecendo o
clube e suas belas camisas futebolísticas, solicitava dois conjuntos
de camisas para incrementar a torcida, dessa agremiação nesta
capital.
E qual não fora a surpresa da corriola, quando inopinadamente, as
camisas chegaram. Só um conjunto completo. Foi uma festa e a
notícia rapidamente, transitou por todo o pessoal que amava o
esporte.

Bom lembrar que naquele tempo não se vendiam camisas de times,


nem em lojas do gênero, sequer em piratarias, patenteadas.

Houve festas e comemorações pelo êxito do episódio culminando


com a estreia em partida disputada no Campo do Colégio Cearense,
na Rua Bárbara de Alencar.

Mas a empolgação era grande e se pensou em criar um Clube


Social, com sede, para a sua concretização e denominado,
obviamente, de Bangu, que abrigasse todos os amantes de escol das
680
famílias do Quadrilátero.

Vários senhores, vizinhos e circunscritos, aderiram ao projeto que foi


encampado pela comunidade em sua essência, inclusive as
“meninas e as moças” pela parte dançante que se projetava incluir.

A empreitada obteve o êxito esperado e foi alugado à dona Francina,


herdeira da imobiliário Gervásio Gurgel e proprietária de todas casas
da redondeza, num total de 110, um imóvel localizado a duas casas
dos Abitbol.

Foi eleito presidente do Clube o Sr. José de Holanda, figura de proa


na sociedade e que nos dava o aval do empreendimento, juntamente
com outros parceiros como os senhores Jobson, Tarcísio, Manuel
Cândido Maciel, Laércio, o carioca e outros.
O Zé de Holanda era contumaz em trocar as palavras, enganchar
outras, era só meio gago!

Suas tertúlias e matinais eram um sucesso e atraiam a juventude de


toda a periferia do bairro e logo se transformou em ponto de encontro
para bate-papos e jogos de ping-pong, gamão, baralho e dominós,
todos sem apostas,

Diversificar as atividades, era um atrativo a mais para o Bangu que


aderiu a modalidade febril no Brasil, o futebol de salão, sem deixar de
lado o glorioso time de futebol dos verdes e esburacados campos.

Mas, a sede era pequena e não comportava uma quadra desse


esporte similar à de Basquete e voley, que passaram também a
agregar essas atividades esportivas.
O sucesso do Clube era grande e a Diretoria resolvera imprimir uma
681
dinâmica no seu crescimento e para tanto alugaram uma nova sede
na Av, 25 de março.

Uma casa ampla, bastante recuada, que nos oferecia a oportunidade


de construir uma quadra de futsal, próxima do tamanho oficial e
implementar, predominantemente, os jogos de futebol de salão e em
determinadas ocasiões o voleibol, enquanto as festas dançantes
ganhavam mais pares.

E assim, o Bangu nos deixa muitas saudades e um histórico de


glórias, felicidades e ilusões que ali foram iniciadas e
vivenciadas.

A paternidade do Clube, nunca fora esquecida, mas ele cresceu


demais juntos com os rapazes, que se tornaram adultos e
começaram a assumir outras responsabilidades naturais de vida.
O clube floresceu no ardor da juventude, brilhou nas suas
primaveras e foi fenecendo em seus outonos, devagarinho,
deixando saudades e lembranças inesgotáveis.

682
WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW

Um dia adentrou, na Sede do Bangu, na Av. Dom Manuel, levado


pela fama do clube no bairro, um moreninho escuro, franzino, mas de
uma musculatura sarada.

Apresentando-se como, Baiano, dizia que lutava box e fazia


exibições da modalidade, e se oferecendo para tais eventos, para
incrementar as parcas rendas do Clube, e a sua cota, era fixa, e de
uma quantia bastante razoável para nós.

A diretoria reunida, planejou o tablado, o quadrilátero da luta, no final


da casa, onde teria espaço suficiente para a sua instalação e
aficionados. Nada a temer. Era só esperar o sucesso. Fechou o
Acordo.
Ficamos, todos, entusiasmado com a ideia. Só faltava um detalhe,
quem o iria enfrentar como adversário, nesse encontro amistoso.

Ocorreram muitos nomes, ideias e mil sugestões sempre rechaçadas


porque os indicados, na realidade não tinham conhecimento do
esporte e muito menos disposição para participar do encontro.

Aí, surgiu o nome do Coco, um rapaz forte, daquele tipo interiorano


e corajoso que a tudo aceitava por um trocado conveniente.

Mas o Coco nunca ouvira falar em box e nem assistira qualquer


evento da natureza. A única convergência era a sua amizade
com todos.

Conversam com o Baiano, sempre jeitoso e falastrão que se


dispôs a prepará-lo para o embate salientando, entretanto, que era
683
uma luta de exibição. Sem vencedores, obviamente.
E assim foi feito. Enquanto preparavam o quadrilátero, começou a
vender os ingressos para a luta sensacional entre Baiano e o
atleta do Bangu, o Coco.

Dia da luta. Expectativa generalizada em todos os detalhes, pela


segurança , pelo Coco e o desenrolar da técnica e do confronto em
si, dos competidores.

Lotação esgotada em pouco tempo e na hora da luta os vizinhos,


também, assistiam olhando pelos muros contíguos a Sede do
Clube. Sucesso total.

E nós, lá, no muro da casa da dona Lisete, olhando, vendo tudo


de camarote. Estávamos, realmente, ansiosos pelo ineditismo
do espetáculo.
Inicia a luta e o Baiano toma a iniciativa e dar uns toques
técnicos no corpo e no rosto do nosso atleta, insistentemente.

O Coco olha para nossos dirigentes em sinal de desaprovação e


continua na defensiva para não abrir a guarda.

Os banguenses, em sua totalidade, gritavam o nome do Coco. E se


manifestavam, a cada pequeno impacto promovido pelo atleta da
casa.

O Coco, é valente, continua e tenta revidar, sem êxito, a tocar no


rosto do Baiano, que se esquiava e acertava mais um, na cara do
Coco.

A gente percebia, claramente, pelos seus olhares em busca dos


684
diretores, que o Coco, não estava à vontade, com essa enxurrada
de toques em seu másculo rosto, como se a sua honra fosse,
também, atingida.

Foi perdendo a paciência e começou a trocar golpes fortes, como


se fosse um murro, com o Baiano que, agora, era quem olhava
com ar de apreensão.

Aumenta o suspense da plateia que, freneticamente, dizia


palavras de apoio e gritos de guerra ao Coco.

Mas, não surtia efeito, a cada tentativa era um golpe recebido. Já


era deslealdade, talvez, tenha pensado.
E, os dois cansados de olharem entre si e com os diretores, sem
nenhuma providência, partiram para guerra de socos e murros, a
técnica voara com os golpes.

Ainda bem, que terminou o primeiro round. Descansaram,


reclamaram da organização, receberam instruções da diretoria
para manterem a calma.

E o Baiano persistindo em bater leve no rosto do Coco, que


perdeu toda e total paciência e, agarrando o Baiano jogou-o ao
chão do tablado, enquanto os diretores do Clube subiam para
apartar a briga.

A plateia, dos muros, vibrava. O tablado balançava que só vara


verde. O público presente, pagante, amedrontado com o
desenrolar da luta corria célere pelo estreito corredor, de única
685
saída.

Agora, quem estava superlotado era o próprio ring.

Conseguiram, apaziguar os ânimos com os lutadores indignados,


cada um, contra a atuação do outro.

Visivelmente derrotado na briga de rua, pelo Coco, agora o Baiano


exigia do Juiz a vitória, que o Coco não aceita. E os ânimos ficam
novamente acirrados. Tensos. Mas, agora prevalece o bom senso e
um acordo de empate foi celebrado.

E os vizinhos dos muros, tranquilos, aplaudiam o desenrolar das


confusões gritando olé... Olé.ole..... Bangu, Bangu, Coco, Coco...
Pela algazarra acontecida os vitoriosos foram os diretores, que
saíram ilesos e o Coco, que ganhara longos períodos de comentários
e muitas gozações.

686

WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW
FUTEBOL
O futebol permaneceu, como até hoje, imperando em nossos
espíritos desportivos, sendo o Ceará Sporting Clube o preferido
oficial da família, a começar pela dona Esmeralda, em sua totalidade.
Só após os enlaçamentos matrimoniais, foram admitidos torcedores
de outras agremiações, em pequenos números, que criaram
rivalidades saudáveis que nos faziam comentar no verdadeiro
espírito desportistas, que se impõem, as diversidades e o respeito ao
próximo.

Efervesciam as torcidas nos jogos do campeonato Cearense e


Nordestão e os times locais começaram a mostrar suas
potencialidades e ganhar o respeito regional e no país.

A construção do Castelão, proporcionou um incremento fundamental


e social no esporte cearense. Deveu-se em parte pela introdução
das cadeiras cativas, pelo prazo de dez anos.

Frequentávamos assiduamente e na ausência de algum a carteira


desta era cedida para outro familiar. O ambiente era altamente
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salutar, as torcidas proeminentes de Ceará e Fortaleza assistiam,
aos jogos lado a lado. Cordialmente.

Conquistamos bons amigos. As nossas cadeiras ficavam no Setor “A,


Fila “C” e cadeiras de n°s 8, 10, 12 e 14, sendo as duas primeiras do
Ruymar, a 12 do Ivan e a última do Rubem.

O mais viciado era eu, que levava comigo os filhos Rafael, Marcelo, e
os sobrinhos Yuri e Daniel. Ia buscar e levá-los de volta às
residências de seus pais.

Ambos, se tornaram torcedores aguerridos do alvinegro, e seus pais


não interferiram em suas preferências, nem eu, era só uma questão
de bom gosto. E as camisas alvinegras, lindas, listradas, ganhavam
mais dois torcedores ilustres.
Mas eu merecia, isso, pelo esforço de levar os quatro, no meio da
multidão de um jogo decisivo entre alvinegros e tricolores. Haja
atenção, cuidado, mas nunca tivemos um obstáculo.

Quando, ainda namorava a Claudia e mesmo recém casados, ela


torcia, ardentemente pelo alvinegro. Iniciante, nos estádios de
futebol, trocava ironias com nossos amigos detrás e da frente de
nossas cadeiras, quando o alvinegro, marcava um gol. E sofria o
troco, quando o inverso.

Ao todo, um pessoa amiga e tudo se compreendia e a amizade


permanecia e despedíamos, dizendo, domingo tem jogo. De um ou
de outro, íamos.

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COPA DO MUNDO
Em 1958, o momento máximo do futebol brasileiro. O Brasil ganha a
Copa do Mundo. Foi uma festa memorável. Durante o jogo com
ouvidos num só rádio, um Philips holandês, novo, mas com uma
transmissão quase inaudível pela tecnologia arcaica dos tempos.
Na realidade, não dava para se ouvir a narração, pois além de não
ter qualidade, eram muitos os ouvidos tentando encostá-los no
aparelho radiofônico.

Os irmãos Abitbol, sem entender com quem estava a bola,


aguardavam a hora que o locutor gritava gol, e nesse transcorrer de
segundos, antes do término do grito e autoria do gol, ficavam num
silêncio sepulcral até que o radialista, narrava, é do Brasiiiiiill.

O entusiasmo era estrondoso, abraços, pulos e gritos ecoavam numa


alegria intensa e emocionada. O detalhe, desses segundos
subsequente, era saber quem o marcara.

Terminado o jogo, todos iam para a rua comemorar e a festa


contagiante dos amigos com bandeirinhas brasileiras e postes
ornamentados com faixas verdes e amarelas, criavam um ambiente
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antológico e inesquecível.

Foi um verdadeiro carnaval popular, sem bebidas, mas com espírito


patriótico. Era amor ao Brasil e ao futebol brilhante desenhado
pela equipe Canarinha.

Eu, ainda hoje, guardo como eterna lembrança, a réplica em bronze,


da Taça Jules Rimet, ganha definitivamente, pelo Brasil , em 1970,
que foi amplamente vendida no Brasil.

Em 1962 e 1970 foi uma reiteração da Copa de 1958. A do tri


campeonato, já transmitida pela televisão em baixo nível de
qualidade, mas foi uma evolução extraordinária. Nessa época já
assistíamos aos jogos uniformizados com a camisa da Seleção. opas
do mundo 1958, 1962, 1966 e 1970.
Assistimos a copa na tv cplorida. Com papel celafone.

QUADRILHA DE SÃO JOÂO


CARNAVAL

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i
suprimento

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