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GENTILI, Pablo. Neoliberalismo e educação: manual do usuário. In: SILVA, T.T.

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GENTILI, P. (orgs.) Escola S.A.: quem ganha e quem perde no mercado educacional do
neoliberalismo. Brasília: CNTE, 1996.

Neoliberalismo: complexo processo de construção hegemônica; estratégia de poder que


se implementa em dois sentidos articulados:
- através de um conjunto razoavelmente regular de reformas concretas no plano
econômico, político, jurídico, educacional, etc
- através de uma série de estratégias culturais orientadas a impor novos diagnósticos
acerca da crise e construir novos significados sociais a partir dos quais legitimar as
reformas neoliberais como sendo as únicas que podem e devem ser aplicadas no atual
contexto histórico de nossas sociedades.

O neoliberalismo como construção hegemônica

Alternativa de poder extremamente vigorosa, constituída de uma série de estratégias


políticas, econômicas, jurídicas, orientadas para buscar uma saída para a crise capitalista
que se inicia ao final dos anos 60 e se manifesta claramente nos 70.
Expressa e sintetiza um projeto ambicioso de reforma ideológica de nossa sociedade, a
construção e a difusão de um novo senso comum que forneça coerência, sentido e
legitimidade às propostas de reforma impulsionadas pelo bloco dominante com a
participação persuasiva do discurso dos intelectuais expoentes (intelectuais orgânicos,
segundo Gramsci).
“O êxito cultural – mediante a imposição de um novo discurso que explica a crise e
oferece um marco geral de respostas e estratégias para sair dela – se expressa na
capacidade que os neoliberais tiveram de impor suas verdades como aquelas que devem
ser defendidas por qualquer pessoa medianamente sensata e responsável. Os governos
neoliberais não só transformam materialmente a realidade econômica, política, jurídica e
social, também conseguem que esta transformação seja aceita como a única saída
possível (ainda que, às vezes, dolorosa) para a crise.”(p.11)
Novo senso comum, novo imaginário social – desafios para garantir a construção de uma
ordem social regulada pelos princípios do livre-mercado, sem a interferência estatal
- Hayek – toda forma de intervenção estatal é um sério risco para a liberdade individual –
regimes totalitários; “Se o homem comum não afirma na sua vida cotidiana o valor da
competição, se a sociedade não aceita as enormes possibilidades modernizadoras que o
mercado oferece quando pode atuar sem a prejudicial interferência do Estado, as
conseqüências - defendia o intelectual austríaco – são nefastas para a própria
democracia”(p.13) – totalitarismo aumentará, planificação centralizada tomará conta da
vida das pessoas, impedindo a expressão dos desejos individuais, de uma melhora
contínua, da liberdade de escolher

1985 – Margaret Thatcher, Ronald Reagan, Helmut Khol


...”o neoliberalismo se transformava em uma verdadeira alternativa de poder no interior
das principais potências do mundo capitalista.”(p.14)
Anos 80 – no contexto das democracias pós-ditatoriais da América latina, o
neoliberalismo chega ao poder pela via do voto popular

A retórica neoliberal em educação: elementos para o seu reconhecimento

- a crise
Para os neoliberais, os sistemas educacionais enfrentam, hoje, uma profunda crise de
eficiência, eficácia e produtividade, mais do que uma crise de quantidade, universalização
e extensão.
Crise de qualidade
Explica a exclusão e a discriminação como resultante da ineficácia da escola e da
profunda incompetência daqueles que nela trabalham – crise gerencial
A democratização da escola depende de uma profunda reforma administrativa do sistema
escolar, da introdução de mecanismos que regulem a eficiência, a produtividade, a
eficácia – a qualidade dos serviços
“A educação funciona mal porque foi marcadamente penetrada pela política, porque foi
profundamente estatizada”(p.19)
Para os neoliberais a democracia é um sistema político que deve permitir aos indivíduos
desenvolver sua inesgotável capacidade de livre escolha na única esfera que garante e
potencializa a referida capacidade individual: o mercado.
Crise = produto da difusão excessiva da noção de cidadania

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