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Jamb Cultura

Este caderno é parte integrante do Jornal da Associação Médica Brasileira (AMB) – Coordenação: Hélio Barroso dos Reis
Bimestral Julho/Agosto de 2010 – Nº 4

Antonio Peticov (Assis, SP - 1946) trabalha com pintura,


desenho, gravura, escultura e ilustração. Sua formação ar-
tística se constitui a partir de suas pesquisas sistemáticas
em história da arte e pela sua integração aos movimentos
artísticos de vanguarda na segunda metade da década de
60. A sua produção é diversificada e segue tendências va-
riadas das vanguardas artísticas internacionais das últimas
décadas. Realiza vários trabalhos, dentre eles: o documen-
tário Homo Faber (1978); a instalação Balli Ballet (1982),
em Cloudwalk Farm, Connecticut (EUA) e a escultura The
Golden Wall (1988), em forma de grande espiral, em ho-
menagem à cidade de Aiuruoca (Minas Gerais). Peticov
participa de vários projetos e exposições no Brasil e no
exterior, desde 1960 aos dias atuais. Lança o livro Traba-
Foto: Divulgação

lhos Escolhidos com a exposição no Museu de Arte de São


Paulo - MASP (2003). Em suas pinturas trabalha frequen-
temente com séries temáticas como Cérebros e Mentes, a
Seção Áurea e Dia e Noite, utilizando conceitos da física e
da matemática, relacionados ao espectro de cores e à luz.

Série Cérebros
Energy, 2006
Acrílico sobre tela
Dimensões: 160 x 120 cm

Boa Leitura

O
alemão João Gutenberg, ou Johannes Gens- suplemento cultural, a despeito dos grandes avanços
fleisch zur Laden zum Gutenberg, nascido tecnológicos como o livro digital.
em Mainz, arcebispado de Mogúncia, por
Instrumento de real grandeza, a tipografia veio nos
volta de 1398, foi o responsável por dar início ao rela-
brindar tantos anos após o feito de Gutenberg, através
cionamento do ser humano com os livros impressos,
de um percurso vitorioso. É por isso que reforçamos o
como também jornais, nos idos do século XV, por
volta de 1439, em Estrasburgo, na França. Após essas convite aos médicos de todo o Brasil a participar deste
relações seculares de sucesso, ainda nos dias atuais meio de comunicação, enviando suas manifestações
comemoramos a impressão do JAMB Cultura, nosso culturais para a Associação Médica Brasileira.

Hélio Barroso dos Reis (Vitória/ES), Ortopedista, Diretor Cultural da AMB


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A importância da orelha de Van Gogh

N
a véspera da noite de Natal do ano de 1888 de pintar retratos, já que achava suas paisagens satura-
bate à porta do prostíbulo um pintor estranho das de tinta. Porém, encontrava inúmeras dificuldades
que morava no mesmo bas fond em Arles (sul para conseguir modelos, de modo especial prostitutas,
da França), na (hoje famosa) casa amarela, trazendo que temiam que as pessoas fossem rir dos retratos e
à mão uma pequena lembrança para uma das prosti- assim ficariam desacreditadas, ridicularizadas perante
tutas. Certamente quem recebeu o pacote deve ter se os seus clientes.
surpreendido muito ao encontrar dentro, ensanguen-
A bem ver, os retratos que Van Gogh pintava pare-
tado, um pedaço da orelha de Vincent Van Gogh que,
ciam feios e, portanto, enfeiadas estariam as pessoas
com esse propósito, acabara de seccioná-la.
por ele retratadas. À época não foram somente os incul-
O prostíbulo era o número 1, da Madame Chose, tos que esconderam nos cantos e nos porões das casas
ao qual fora na véspera com seu amigo Paul Gauguin. as telas de Van Gogh, mas até pessoas aparentemente
Naquela noite, Vincent disse a uma das moças que lá abertas para os avanços da arte o faziam. Ou seja, era
trabalhavam que gostaria de pintar o seu retrato, a cujo difícil alguém se sujeitar ao pós-impressionismo, pois
convite ela recusou e, em tom de pilheria, disse que um ainda imperava o clássico, há séculos.
presente muito melhor seria uma de suas orelhas, à
Então, na noite em que foi ridicularizado no caba-
qual dava puxõezinhos e piparotezinhos para o diver-
ré, quando a prostituta recusou-se a ser o seu modelo,
timento e riso desbragado dos frequentadores... naque-
Vincent chegou à superexitação mental. Assim, carre-
le momento.
gado de tensões e não querendo ser por elas domina-
O ato de cortar a orelha se explica pelos absintos do e cair em depressão, reagiu em valente exaltação
ingeridos ininterruptamente pelo gênio Van Gogh, a e automutilou-se, decepando um pedaço da orelha
gerar mais e mais inquietações àquela mente já inquie- esquerda, para presenteá-la àquela que troçara de sua
ta por natureza. genialidade.
À época, Vincent andava às voltas com os seus Tivesse Rachel — assim se chamava a destinatária
quadros e chegou a escrever ao irmão Theo que gostaria do presente — assentido ao convite para posar, hoje
estaria, certamente, imortalizada em importantíssimo
quadro. Entretanto, por outro lado, não teríamos os
dois lindos autorretratos pintados no dia 7 de janeiro
de 1889, ou seja, cerca de 15 dias após o fato, em que
Van Gogh aparece com a orelha vendada (um deta-
lhe: no quadro é a orelha direita, imagem invertida,
pois usara espelho para se retratar), nem o retrato do
psiquiatra que o atendeu, Felix Rey (1867-1932).
Sobre a atitude automutiladora as pessoas da cidade
de Arles não entenderam nada, e ficaram apavoradas e
Van Gogh rapidamente saiu de lá e internou-se (volun-
tariamente) no hospício da cidade de Saint-Rémy,
em uma cidadezinha próxima de Arles. Ali produziu
algumas de suas mais fantásticas obras, Pátio do hospí-
cio, Enfermeiro Trabuc e a famosa Noite estrelada, em
que as estrelas e a lua são cor de laranja e as pequenas
pinceladas evoluíram para curvas espiraladas.
A propósito, Van Gogh era epiléptico, psicose epilé-
tica, com certeza.

Autorretrato com a Orelha Enfaixada,


Vincent van Gogh, janeiro, 1889
Óleo sobre tela - 60 × 49 cm
Guido Arturo Palomba (São Paulo/SP)
Instituto Courtauld de Arte, Londres Psiquiatra Forense

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Uma fotografia histórica: Madame
Curie em Belo Horizonte
A
fotografia que ilustra este artigo eu a devo Adelmo Lodi, Baeta Viana e Carlos Pinheiro Chagas
à gentileza do Prof. João Amílcar Salga- (Carleto, era assim chamado o popularíssimo mestre
do, um dos mais notáveis historiadores da entre os alunos) estavam presentes à cerimônia, além
Medicina brasileira, mineiro que sabe cultuar, como de outros colegas não identificados. A fotografia
poucos, nossa tão amada profissão, através de uma retrata Madame Curie triste, mesmo após ter rece-
vida das mais belas, exemplo vivo para gerações bido dois prêmios Nobel, um de Física com o esposo
vindouras. Nela, notam-se retraídas, em roupas Pierre Curie e Antoine Henri Becquiel(1852-1908),
escuras, duas notáveis mulheres: Madame Curie em 1903, e outro de Química, em 1911. Passou a
(1867-1934), assim é ela universalmente conhecida famosa pesquisadora por grandes dissabores, quan-
e sua filha mais velha, Irène (1897-1956), que fora do o inevitável ocorreu. Ela se tornou amante de
casada com Frédéric Juliot (1900-1951), precisamen- Paul Langevin e a imprensa francesa atacando-a
te a 9 de outubro de 1926. Madame Curie visitava o vivamente, a mulher estrangeira que estava acaban-
Brasil em 1926, tendo sido recebida em São Paulo, na do com um lar francês. Mas, ao final, surpreenden-
Santa Casa de Misericórdia pelo saudoso Professor temente, a neta de Madame Curie e o neto de Paul
Raphael Penteado de Barros (1887-1964), titular de Langevin casaram-se mais tarde, sem que fosse feita
Física Médica e Radiologia da Faculdade de Medici- nenhuma alusão ao famoso escândalo de seus avós.
na de São Paulo. Madame Curie recebia de todo o mundo a consa-
gração de que era merecedora. Sarah Bernhardt leu,
No Rio de Janeiro, Miguel Couto saudou-a na na Ópera de Paris, antes de sua viajem aos Estados
Academia Nacional de Medicina, em primoroso Unidos, uma “Ode de Madame Curie”, referindo-se
discurso, concedendo o título de membro “honoris a ela como a irmã de Prometeu. A “mulher estran-
causa” à famosa pesquisadora e encerrando seu discur- geira” do escândalo Langevin fora esquecida: Marie
so com estas palavras: “C´est peu, Mme. Curie, c´est Curie era agora a Joana D´Arc francesa.
tres peu, mas c´est que nous avons a vous offrir”.
Segundo Bendiner & Bendiner (1990), as Curie –
Em Belo Horizonte, sempre em companhia da Marie e Pierre, a filha Irène e o genro Frédéric foram
médica Carlota Pereira de Queiroz (1892-1982) as descobridoras e as profetas da radiação atômica,
(de óculos, em pé), fora ela inaugurar o Instituto bem como suas primeiras vítimas.
do Radium, criado pelo saudoso Professor Eduar-
Em 1965, Eve Curie, a filha mais nova de Pierre e
do Ribeiro Borges da Costa. Os professores Luis
Marie, recebeu o prêmio Nobel da Paz. Jornalista e
museóloga, ela e seu esposo Pierre Labouisse desen-
volveram intenso trabalho na Unicef, famoso centro
de emergência para crianças, de caráter internacional.
Madame Curie faleceu de leucemia a 6 de julho de
1934. Seu caixão foi baixado sobre o de Pierre Curie,
no pequeno cemitério de Sceaux. Apenas os amigos
íntimos estavam presentes, entre eles, Langevin. De
Varsóvia, sua irmã Bronya trouxe um punhado de
terra polonesa, salpicada sobre seu caixão.
Poucas semanas antes de morrer, Marie Sklodo-
wska Curie escalava sozinha parte do Mont Blanc,
para ver o sol se pôr sobre as montanhas. Era um
grande cérebro, um pensamento vivo que desapare-
ceria entre as trevas, rumo à eternidade.

Carlos da Silva Lacaz, in memoriam (São Paulo/SP)


Médico e Cientista
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A Faculdade de Medicina de Ribeirão


Preto e o Primeiro Congresso da AMB
N
o alvorecer da década dos anos 50 São Paulo bastante incômodas para a época, mas que em certo
possuia apenas duas faculdades de Medicina, sentido continuam atuais. Como presidente de honra
ambas na capital. Muitos interioranos viam-se do Congresso, Alípio convidou o Prof. Bernardo Hous-
frustrados, pois como afirmou um brilhante professor, say, que nesta época havia retornado à sua catedra de
meu contemporâneo: “...se não houvesse a Faculdade Buenos Aires após a queda do ditador Perón. Instado a
de Ribeirão Preto, eu não teria condições de cursar a proferir aula de demonstração de suas teorias sobre o
medicina!” Atento, com sua argúcia, o professor Zefe- funcionamento da constelação hormonal, que havia lhe
rino Vaz, que fazia parte do Conselho Superior da valido a outorga do prêmio Nobel, conquistou a imensa
Universidade de São Paulo, resolveu “peitar” a ideia, plateia de mestres e alunos pela extrema simplicidade e
mais ou menos improvável na época, de levar o ensino simpatia. Posteriormente, concedeu entrevista exclusi-
médico para o interior. Muitos o tacharam de visio- va ao jornal “O Esteto”, órgão oficial do Centro Acadê-
nário, sonhador de olhos abertos e outras improprie- mico Rocha Lima da Faculdade de Medicina de Ribei-
dades. Mas não havia nenhum argumento que pudes- rão Preto, sentindo-se inteiramente à vontade entre os
se demovê-lo de sua ideia inovadora. Com seu gênio alunos, respondendo pacientemente todas indagações.
empreendedor, deu forma e vida à Faculdade de Medi-
cina de Ribeirão Preto, ligada à Universidade de São Aquele primeiro encontro dos médicos brasileiros,
Paulo, criando inovações que depois se esprairam pelas sob o comando de Alípio Corrêa Netto, constituiu-
demais faculdades. Naquele ano de 1955, a Faculdade se no grande ariete a impulsionar nossa Associação
vivia momentos de grande ebulição pela mudança radi- Médica Brasileira, que após a passagem de vários lumi-
cal na política paulista, com a subida ao poder do sr. nares, encontra seu verdadeiro papel nos dias de hoje
Jânio Quadros. Felizmente, seu secretario de Educação em defesa da classe médica brasileira.
- o eminente Professor Alípio Corrêa Netto, que ante Na presidência da AMB, ao sucedê-lo, o ilustre
as dúvidas que permeavam o novo governador, veio professor Hilton Rocha, catedrático de Oftalmologia da
pessoalmente a Ribeirão Preto, publicando a partir daí Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, vislumbrou
uma série de artigos em forma de reportagens em um em sua fala uma das assertivas de Alípio Corrêa Netto,
dos mais prestigiosos jornais da época – “ O Diario que ao escolher Ribeirão Preto como local de encontro
de São Paulo”, o que fez acalmar o trêfego governador, de seu primeiro certame, anteviu seu futuro promissor
que de crítico passou a um dos maiores entusiastas da ao afirmar : “ Os médicos do Brasil olham com atenção
Faculdade de Medicina. e entusiasmo para o que se passa nos arraiais da Facul-
Nesta ocasião, Alípio Corrêa Netto, com um grupo dade de Medicina de Ribeirão Preto. Sentem que aí se
de brilhantes médicos criou a Associação Médica plasma um organismo novo, em moldes que permiti-
Brasileira (AMB) que pretendia exercer um papel rão o ensino “científico” e integral da medicina.”
semelhante ao da Associação Médica Americana
(AMA). As comunicações da época eram precárias,
ao contrario de nossos irmãos do Norte, que com uma
simples ligação telefônica conseguiam arregimentar
toda a classe médica americana. Que ilusão. Uma liga-
ção telefônica entre São Paulo e Ribeirão Preto leva-
va em média algumas horas de espera! As estradas de
rodagem precárias só possuiam asfalto na via Anhan-
guera até Campinas. Mas os idealistas não veem difi-
culdades. E Alípio Corrêa Netto era um idealista. Por
isso escolheu Ribeirão Preto através de sua Faculdade
de Medicina para sede do Primeiro Congresso Médico
da Associação Médica Brasileira, em meados de 1956.
Rollemberg entrevista o Prof. Houssay na biblioteca do departamento de Fisiologia,
Para lá acorreram médicos e professores de todo o país. sob os olhares do Prof. Covian
Entre os que brilharam com suas exposições e ideias,
Josué de Castro, autor do livro “Geografia da Fome”, Manuel Ignácio Rollemberg (São Paulo/SP)
com seu discurso de verdadeiro tribuno, disse coisas Cirurgião de Tórax

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homenagem

EURYCLIDES DE JESUS ZERBINI


C
onsiderado um dos maiores nomes da medi-
cina contemporânea brasileira, Zerbini
nasceu em Guaratinguetá, em 1912, filho de
italianos que haviam migrado para o Brasil, como
tantos outros, para escapar à dramática situação de
seu país após as guerras da unificação.

Foi para fazer a vontade do pai que ingres-


sou na Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, mas quase desistiu do curso, conforme

Foto: AMB
declarou posteriormente em inúmeras entrevistas
concedidas à imprensa. As aulas eram desinteres-
santes e o cheiro de formol o deixava enjoado. O
grande responsável por sua permanência teria sido Já com renome internacional pelo seu trabalho
o médico italiano contratado para ministrar as aulas como pesquisador, cirurgião e professor, Zerbini
de Anatomia da Faculdade, Alfonso Bovero, cujo realizou o primeiro transplante cardíaco no Brasil,
brilhantismo acabou por cativar o jovem estudante. em 1968, com enorme repercussão. No ano seguin-
Zerbini formou-se em 1935, tendo como paraninfo te, com a aposentadoria de Alípio Corrêa Netto,
o grande benemérito Celestino Bourroul. A partir tornou-se titular da cadeira de Clínica Cirúrgica
desta data, passou a dedicar-se com afinco ao traba- da Faculdade de Medicina, onde desenvolvera sua
lho, estudo e ensino. brilhante carreira.

Ainda como acadêmico, iniciou seu aprendiza- Um dos grandes sonhos de Zerbini e de Luís
do junto à cadeira de Clínica Cirúrgica, orientada Décourt, seu companheiro dos tempos de estudan-
na época por João Alves de Lima e, mais tarde, por te, era formar um Instituto do Coração. O projeto
Alípio Corrêa Netto, seu grande mestre. Zerbini foi foi finalmente concretizado em 1978. Para garantir
então introduzido na prática da cirurgia torácica e, o funcionamento desse novo centro de cardiologia,
posteriormente, cardíaca, notabilizando-se entre Zerbini idealizou a criação de uma fundação, que
seus pares. hoje ostenta seu nome e é motivo de orgulho da clas-
se médica brasileira.
Em 1941, com a tese “O pneumotórax extrapleu-
ral”, conquistou o título de livre-docente da cadei- A morte do grande “mestre do coração”, como
ra, e procurou aperfeiçoar-se continuamente. Mais era conhecido, consternou a população brasileira,
tarde, na Escola Paulista de Medicina, orientou o em outubro de 1993. Sua obra, no entanto, é conti-
tratamento cirúrgico de pacientes com afecções do nuamente lembrada pelas famílias dos pacientes cuja
coração e dos grandes vasos, junto ao Departamento vida prolongou e, mais do que tudo, pelos discípu-
de Clínica Médica, dirigido por Jairo Ramos. los que, fiéis aos ensinamentos dele recebidos, não
cessam de aprimorá-los.
Casou-se em 1949 com a médica Dirce Costa,
que seria sua eterna companheira e colaboradora. Yvonne Capuano (São Paulo/SP),
Tiveram três filhos: Roberto, Eduardo e Ricardo. Médica Clínica
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Espaço poético

IMPORTÂNCIA SER MÉDICO


Importante É ter a mais sublime das vocações
é o que me traz E exercer a mais completa das profissões
prazer e tranquilidade. É demonstrar aptidão e habilidade
Paz. E praticá-las com ética e humildade
Importância
que não se mede É gostar de pessoas e com elas se identificar
por nenhum metro, Compreendendo seus anseios
não se pesa em balança
para poder ajudar
nem se avalia
É atualizar-se de forma consciente
por título ou moedas.
Para dar o melhor ao paciente

Importante
É com os pacientes a dor compartilhar
é ter alma que não se considera única
Chorando sem as lágrimas revelar
mas,
É dedicar-se a todos com prioridade
sim,
Relacionando-se com qualidade
parte de um todo maior
- natureza e humanos –
É exercê-la de maneira responsável
com o qual convive
e interage Dedicando-se ao próximo de forma incansável
de modo fraterno e constante. É sorrir e transmitir confiança
E dizer a verdade com esperança
Importância é levar,
ao longo dos anos, É comportar-se com responsabilidade
em permanente vivência, E no trato com os colegas ter dignidade
toda pureza, É nunca esquecer o dever para com os seus
alegrias e beleza, É, enfim, a melhor maneira de
vividas na infância. se aproximar de Deus

Hudson Hübner França (Sorocaba/SP), Murillo R. Capella (Florianópolis/SC),


Cardiologista Cirurgião Pediatra

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Crônica

Pavarotti e Caruso
Sou um ser predestinado – vejo e ouço todos os dias, terá cometido realmente alguma traição, ou será essa
Pavarotti e Caruso. Além deles, contemplo extasiado, a história contada pelos vencedores? Mata Hari, ou
a seus lados, duas figuras femininas redimidas – Mata seja, “o olho da madrugada”, a dançarina holandesa
Hari e Salomé. Caruso, só houve um – ninguém o de estilo hindu, Margareth Gertrude, seria uma heroína,
suplantou. Pavarotti, só existe um – ninguém o iguala no talvez até uma Joana d’Arc desvirginada, se o resultado
dó de peito. Mata Hari é imortal, assim como Salomé, da guerra fosse outro?” Fico com a dúvida, e a
duas mulheres que dois mil anos separam na vida e enterneço na minha gaiola.
na morte, e uma eternidade condena pela vilania, que
Salomé é outro caso; não me reporto a uma das
não sabemos ao certo se é verdade ou hipocrisia. Junto
três mulheres que ao lado de Madalena e de Maria,
assim, em duas belas gaiolas, pedaços eternos da arte,
a mãe de Tiago, surpreenderam vazio o túmulo de
da história, das religiões e das guerras, esses motores de
Jesus – refiro-me à filha de Herodíades, que ao bailar
civilização e cultura que acionam o meu modus vivendi.
elegantemente no banquete de aniversário do seu
Luciano Pavarotti é o maior tenor contemporâneo. ao padrasto, Herodes Antipas, agradou tanto que o
lado de José Carreras e Plácido Domingo, conseguiu tetrarca lhe disse: – “Pede-me o que bem quiseres e te
realizar algo impensável apenas umas poucas décadas darei”(Mc 6,22). Instigada por sua ardilosa mãe, ela
passadas – popularizar a música clássica, trazer o pediu a cabeça de João Batista, o profeta encarcerado
povo inculto à contemplação das mais belas óperas e nos calabouços do palácio real, justamente por haver
árias napolitanas, uma espécie de musicoterapia da condenado pública e tenazmente o casamento de
ignorância. Antipas com Herodíades, sua ex-cunhada: – “Não
Enrico Caruso, o maior intérpetre de óperas de todos os te é lícito possuir a mulher de teu irmão”(Mc 6,18);
tempos, morreu precocemente, aos 47 anos de idade, “Não te é permitido tê-la como mulher” (Mt 14,4).
ironicamente vitimado por uma afecção de garganta, O resultado dessa dança macabra, ou melhor, dessa
quando o mundo inteiro se prostrava aos pés da sua voz. trama diabólica, foi a decapitação daquele que mesmo
É por isto que me extasio quando os vejo transfigurados hoje, dois mil anos passados, ainda festejamos com
e os ouço, maviosos, na varanda da minha casa, fogueiras joaninas, fogos de artifício e animados forrós;
enclausurados, mas muito bem tratados, “a pão- e cuja cabeça jazeu sangrando, na bandeja de Salomé
de-ló com manteiga”, em dois amplos gaiolões de – mas é lícito supor – se a história é verdade inteira –
luxo. Pavarotti e Caruso são meus dois calafates Salomé, uma jovem talvez inexperiente, inebriada pela
machos, fogosos, cantores eméritos a cuja siringe corte como o demonstram seus régios casamentos
nenhum ornitólogo hesitaria conferir, talvez um tanto posteriores, foi certamente induzida e forçada pela
entusiasticamente, a abrangência de pelo menos perfídia de sua mãe, Herodíades. Até quando, e quanto,
seis oitavas. Sei que estou exagerando, mas que eles Salomé é realmente culpada?
cantam, cantam ... e muito bem. Pavarotti é alvo como Gosto de História. Como médico e literato, sou um
uma garça imaculada; Caruso, cinza brilhante, como amante das artes. Estudo religião – não como religioso,
uma salva de prata; contrastando ambos, a plumagem, teólogo, mas pela reverência à sacralidade do mundo
com o lacre dos bicos vermelhos próprios dos pardais em que vivemos. Quero a natureza dentro do meu
da Ilha de Java. Mata Hari é igual a Pavarotti; não espaço – assim, sou mais que um velho passarinheiro;
existe, casualmente, dimorfismo sexual entre eles. tornei-me um ornitólogo amador; os meus calafates,
Mas Salomé é colorida, como bem concerne a uma por isto mesmo, não podem ser simplesmente pardais
bailarina audaz e volátil. Não sei bem porque nominei de Java, munia oryzivora, aves passeriformes da
assim as minhas pardocas javanesas, especialmente família ploceidae. Eles são algo mais, concatenando
quando as casei com nomes altamente positivos das e coordenando as minhas ideias e pensamentos. São
referências históricas masculinas.
Pavarotti, Caruso, Mata Hari e Salomé.
A primeira, fuzilada em 1917, condenada por
espionagem em favor da Alemanha na Primeira Grande Ernane N. A. Gusmão (Salvador /BA),
Guerra. Era uma mulher bela, voluptuosa, sedutora – Clínico e Nefrologista
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Dicas culturais

PORTO ALEGRE
Theatro São Pedro Colaboração
A CANÇÃO BRASILEIRA O JAMB Cultura é um espaço aberto que estimula
18 de outubro de 2010, segunda-feira, às 21h a literatura e valoriza as manifestações culturais do
Villa-Lobos, Cláudio Santoro/ Vinícius de Moraes Brasil. Por isso, convidamos os médicos a enviar artigos,
Lorenzo Fernandez, Waldemar Henrique crônicas, poesias, textos sobre cultura e história da
Ronaldo Miranda e Paulo Guedes Medicina para o Conselho Editorial.
Solista: Céline Imbert (soprano) A/C Hélio Barroso dos Reis (Diretor Cultural): Rua São
Local: Pç. Marechal Deodoro, s/n° Theatro São Carlos do Pinhal, 324 – Bela Vista – São Paulo/SP - CEP:
Pedro, Centro - Porto Alegre – RS 01333-903 - ou pelo e-mail: heliobarrosoreis@gmail.com
Informações: www.orquestrasp.org.br, (51) 3226- e cultural@amb.org.br - Participe e colecione!
2005
Normas para publicação de artigo no Jamb Cultura
São Paulo 1) ser médico associado da Associação Médica Brasileira,
Hiroshima e Nagasaki: Um Agosto para Nunca através da Federada de sua região.
Esquecer! 2) texto de aproximadamente 1 lauda, em arial 12.
Até 30 de setembro de 2010 3) se houver fotografias, favor identificá-las, colocar o
Com o objetivo de provocar reflexões sobre esse crédito e enviar em 300 dpi, anexadas fora do texto
trágico momento da história mundial, que comple- (gip ou tip).
ta 65 anos em 2010, a mostra reúne 30 pôsteres 4) o material será apreciado pelos membros do Conselho
com imagens e textos informativos e DVDs com Editorial, antes de sua aprovação de publicação.
testemunhos dos sobreviventes, documentários e 5) ao enviar para ao Conselho, enviar autorização de
animações, todos vindos do Japão especialmente publicação.
para o evento. A exposição é direcionada principal-
6) Assinar o artigo: nome, especialidade, cidade, estado
mente aos mais jovens, no sentido de promover
e endereço para correspondência.
uma ação educativa pela paz entre os povos.
Local: Associação Paulista de Medicina (APM),
Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 278 - Bela Vista
Informações e agendamento de visitas: (11) JAMB CULTURA
Edição bimestral | julho e agosto de 2010
3188-4304 ou email pinacoteca@apm.org.br - www.amb.org.br | cultural@amb.org.br
Grátis, de segunda a sexta-feira, das 12h às 21h. Presidente: José Luiz Gomes do Amaral

Curadoria: Dr. Ruy Tanigawa (São Paulo/SP), Mé- Coordenador e Diretor Cultural: Hélio Barroso dos Reis
Diretor de Comunicação: Elias Fernando Miziara
dico Acupunturista. Conselho Editorial (2010-2011):
Armando José China Bezerra (Brasília/DF - região Centro-Oeste)
Carlos David Araújo Bichara (Belém/PA - região Norte)
Gilson Barreto (São Paulo/Campinas – região Sudeste)
Giovanni Guido Cerri (São Paulo/SP – região Sudeste)
Guido Arturo Palomba (São Paulo/SP – região Sudeste)
Hélio Barroso dos Reis (Vitória/ES – região Sudeste)
José Luiz Gomes do Amaral (São Paulo/SP – região Sudeste)
Murillo Ronald Capella (Florianópolis/SC – região Sul)
Roque Andrade (Salvador/BA – região Nordeste)
Yvonne Capuano (São Paulo/SP – região Sudeste)
Revisão: Natália Cesana
Apoio cultural: Departamentos de Comunicação e Marketing da AMB
Assessoria em Comunicação e Cultura: Flávia Negrão
Projeto Editorial: Sollo Comunicação
Foto: Luigi Beneduci

O Jamb Cultura somente publica matérias assinadas, as quais não são de responsabilidade
da Associação Médica Brasileira
Pôsteres na exposição Hiroshima e Nagasaki: Um Agosto para Nunca Esquecer!

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