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1
ARIST ÓTELE S

ÉTI CA A NIC ÔM AC O

TRADU ÇÃO, TEXTOS AD I CIONA I S E NOTA S

EDSON BINI

O Livro é a porta que se abre para a realização do homem.


edip(rài
JAIR LoT VIEIRA
D

1
30 A VIRTUDE TEM A VER com paixões e ações, e o louvor e a censura
são conferidos somente às voluntárias; as que são involuntárias são
objeto de perdão 282 e, por vezes, até de compaixão. 283 Por conseguin-
te, provavelmente seja indispensável ao escudante da virtude discer-
nir entre o voluntário e o involuntário, 284 o que também será útil ao
35 legislador quando for sua tarefa distribuir recompensas e punições.
Afirma-se geralmente que as [paixões e ações] são involuntá-
111oa1 rias se ocorrem sob compulsão ou causadas pela ignorância, e que
são compulsórias quando seu princípio é externo, sendo de tal na-
tureza que o agente ou o paciente nada contribui para ele - por
exemplo, quando se é levado a algum lugar pela força do vento ou
por pessoas que nos têm sob o seu poder. Mas paira alguma dúvida
com respeito ao que fazemos pelo medo de algo pior, ou tendo em
vista algum objeto nobre - como, por exemplo, na situação em que
um tirano, que tem os pais e os filhos de alguém em suas mãos, o
força a cometer uma vileza, tendo os entes queridos poupados se
a cometer, ou mortos se negar-se a cometê-la. É discutível se cais
ações são voluntárias ou involuntárias. Uma situação que guarda
alguma semelhança com essa ocorre quando, durante uma tempes-
tade [no mar], joga-se a carga ao mesmo; com efeito, em condições
normais, ninguém voluntariamente se privaria assim de seus bens;
10 mas o faria, contudo, qualquer indivíduo sensato visando a própria
salvação e a de seus companheiros a bordo. Ações dessa espécie são,
portanto, mistas. Todavia, assemelham-se mais às voluntárias, pois

282 .... crnyyvwµrii;,... (syggnomes).


283. ... EÀ.WU, ... (eleu) .
284 . ... TO EKOUcnov Kat rn aKoucnov... (to ekoysion kai to tlkoysion ).

HICA .\ t-: ICÓ.\ L\ CO LIVRO Il i / 109
ws
e . nto em que são realizadas, são eleitas; e a finalida-
no ereavo mome , . . a causa da ação está encerrada em coisas externas ao agente e para
- subordina-se à ocasião, e ·voluntano e involuntário as
287
quais este nada contribui, Mas quando ações, não obstante in-
15 e
d d e uma acao 5
. ' empreo-ados com referência ao momento da acão. A voluntárias, são, em dadas circunstâncias, eleitas, e seu princípio está
devenam ser ti '
- ·tuaco-es é voluntária. Com efeito, o princípio do mo- no agente, 288 imperioso declarar que essas ações são em si involun-
acao nessas sr ,
vimento das partes [do corpo] que atuam como instrumentos da tárias, mas circunstancialmentevoluntárias. Assemelham-se, contu-
acão reside no agente, e quando o princípio de uma ação encon- do, mais ao voluntário; de faro, a conduta está nas coisas particu-
c:a-se em si mesmo, sua realização ou omissão está sob o controle lares realizadas e estas nesse caso são voluntárias. Mas não é fácil
do ao-ente. Tais ações são, portanto, voluntárias, embora talvez in- estabelecer um critério para decidir qual alternativa deve ser eleita.
ti . . . ' .
voluntárias em circunstâncias normais, pois nmguem optana por Os casos particulares, com efeito, diferem largamente.
20 realizar quaisquer delas em função de si mesma. 10 Afirmar, contudo, que objetos de prazer e objetos de nobreza
Esse ripo de ações, a saber, quando as pessoas se submetem a são compulsórios, uma vez que nos forçam a uma origem externa,
alo-o vil ou doloroso em vista de algum objeto grandioso e nobre é tornar roda ação compulsória. Com efeito, esses objetos forne-
t,
atrai às vezes louvor para elas; se não for esse o contexto, são censu- cem os motivos para todas as ações. E agir sob compulsão e con-
radas, uma vez que é desprezível submeter-se a uma grande vileza tra a vontade é doloroso;ora, ações realizadas agradavelmente ou
sem proveito nobre algum ou somente visando a um proveito no- nobremente são realizadas com prazer. E é ridículo responsabilizar
bre irrisório. Em certos casos cal ação não é louvada, mas perdoa- as coisas externas em lugar de nós mesmos por sermos presa fácil
25 da, ou seja, quando alguém realiza o que não deve sob pressões 15 de suas atrações, ou tomar o crédito de nossas ações nobres, mas

excessivas sobre a natureza humana, insuportáveis para qualquer responsabilizar os objetos do prazer pelas ações vis. Parece, portan-
um. Entretanto, talvez haja alguns atos para cuja realização não se to, que se trata de compulsório quando seu princípio é externo e a
pode obrigar alguém, sendo a mais dolorosa e terrível das mortes pessoa forçada em nada contribui para ele.
preferível a realizá-los. Por exemplo, parece risível que Alcmeon na Todo ato executado por ignorância é em todos os casos não vo-
peça de Eurípides285 seja compelido por certos motivos a assassinar luntário, sendo involuntário 289 somente o ato que causa aflição e ar-
30 sua mãe. Mas é, às vezes, difícil decidir o que escolher : se a realiza- rependimento a quem o praticou. De fato, de alguém que agiu por
ção de um certo ato ou o sofrimento de uma certa pena. E é ainda 20 ignorância e não sente qualquer arrependimento por sua ação não
mais difícil ser fiel à nossa decisão; de faro, na maioria dos casos a se pode dizer que agiu voluntariamente considerando-se que não es-
expectativa é dolorosa e a ação que nos forçam a realizar é desonro- cava ciente de sua ação e, no entanto, também não é o caso de dizer
sa, razão pela qual o louvor e a censura são conferidos em função de que tenha agido involuntariamente, considerando-se que náo sofre
11106 1 cedermos ou não ao que somos forçados.

~e tipo de ações, então, devem ser classificadas como compul- 287.... rJ arrÀwç ~11:v, orro, a v ri a ma 1:v 101ç êKTOÇ ri Kat o rcpanwv ~1riõ1:v
6 Sem uma qua t•fi.
sórias?28 - f , · · · d crnµpaÀÀri,m;... (e ap!os men, opot an e aitia en tois ektos e kai o pmtton 111eda1 ,ym-
__________ 1 caçao, compu sorzo se aphcana a quan o bal!etai;). O u traduzindo, numa interrogativa (como no original) e m:iis próximo à li te-
285. Erífile, esposa do rei de Ar os Anfi , ralidade: Seria o caso de dizermos não qualificadamente que a ação o é quando a c1us1
convença O m 'd .g ' iarau, e subornada (ao preço de um colar) p ara que
mesmo rempo co
°
an a pamc1par do ataque d S
.d d
rb
os ete contra ie as. Indu zido a fazê-lo e, ao
está nas coisas ex ternas e o agente em nada contribui ?
, nvenc1 o e que perecer"1 288 ....Kat ri apxri 1:v ,w rrpanov-n, ... (kai e arkhe en ro prattomi).
(entre eles Alcmeon) . ª nesse ataque, o rei o rdenou que seus filhos
vingassem sua morre marand 0 E 'fiil b . ' - d 289. Aristóteles distingue os dois conceitos. AKoucnov (11kopion - involundrio) qualifica
so bedecerem, ameaçou-o d . n e e, para o nga-los a nao o e-
- s e invocar os deuses p d a ação realizada sem a presença da vontad e conscienre do agente ; oux i:;11:oucr10v (ukh
de nao poderem ter fi lhos. ara que pa ecessem fome e a infelicid ade
286 - ---~lata ... (biaia ). ekoysion - não voluntário) qualifica a açáo realizada circuns ranci:1lmenre na ignorância
de consequências e, portanto, não dererminadJ pefa vonradc: no sentido pleno.
IIVRO Ili 11 1
l ll1

. . '"\tos realizados por ignorância, portanto 293


1O ue tez.. ~anto aos ' . . , 10 um segredo", como disse Ésquilo dos lvlistérios, ou que "houve um
re 9 d do ato J·ulgamos ter agido mvolumaria-
~ O 3.rrente se- arrepen e , . dº . - disparo quando a intenção era so mente mostrar co mo fu ncionava"
·e ::- _ nde a fim de caractenzar a 1st1nçao, po- com referência a alguém na catapulta. Por ou tro lado, alguém po-
menre: se nao se arrepe , , . f ,
, 1 d agente não voluncano; de ato, posto que ha deria confundir o filho com um inimigo, como faz Merope,29-, o u
demos e hama- o e .
. . , que lhe atribuamos um. nome particular. .
Agir
. uma lança pontiaguda com uma de ponta embmada? ou urna pedra
dim nçao. convem
. 1 · , • . , eia contudo' parece ser diferente
, de. agir na zgno- com uma pedra-pomes, ou acontecer de alguém que embora visan-
dn •,n o a 1gnoran ,
- . o,l. :-"'º com er1ce 1·to , quando um homem esta embnagado ou num
rm do a salvação de um indivíduo administra-lhe um a poção capaz de
·
acesso d e ra1·va, na- 0 se pensa que age devido à ignorância mas devido 15 matá-lo, ou na luta livre golpear um h omem quando se pretendia
a wna ou outra das condições mencionadas, embora ele realmen- apenas tocá-lo. Sendo, portanto, a ignorância possível quanto a to -
te aja sem conhecimento, vale dizer, n~ ignor~ncia. Ora, t~dos os das essas circunstâncias do ato, classifica-se como agente involun-
indivíduos maus ignoram no que consiste a açao moral e a imoral, tário aquele que tenha agido na ignorância de urna ou outra delas e,
_:. o de que devem se abster, erro que gera a injustiça e o vício em ge- especialmente, em relação às mais importantes - e as mais im por-
ral. Mas O termo involuntário não é empregado usualmente numa tantes circunstâncias parecem ser o que é a própria ação real izada e
ação na qual o agente ignora seus interesses. A ignorância geradora a finalidade por ela visada.
de um ato involuntário não é a ignorância da prévia escolha (essa 20 Eis aí a natureza da ignorância que se coaduna com o que cha-
ignorância constitui maldade) - ou seja, não é uma ignorância uni- mamos de um ato involuntário, dada a condição do ageme sofrer e
1: i 1.1 versai (porque é esta a tida como sendo censurável), mas ignorância se arrepender por tê-lo cometido.
particular das circunstâncias do ato e das coisas [e indivíduos hu- Se a ação involuntária é aquela realizada sob comp ulsão ou de-
manos] abrangidos por ela. Com efeito, nesse caso o ato é objeto vido à ignorância, a voluntária pareceria ser aquda cujo principio
de compaixão e de perdão porque o ignorante de quaisquer dessas reside no agente, o qual conhece as circunstâncias particulares de
circunstâncias age involuntariamente. 29 1 sua ação. Com efeito, é provavelmente equivocado di:::tr que os .uo_,
Diante disso, talvez seja útil determinar a natureza e o número 25 ocasionados pela ira ou pelo desejo são involunt,irios.:"' 5 Em prim ei-
delas: quem realiza a ação (agente), o que realiza (ação, ato), sobre ro lugar, se assim o entendermos nenhum dos ,mim,zis irdo-iore_,.:-ic-
quem ou O que atua ao realizar a ação (paciente) e, às vezes, com agirá voluntariamente, e tampouco as crianças. Depois. quer-se
0
que realiza a ação (por exemplo, um instrumento), e em função com isso dizer que nós não realizamos vo lunca.ri:unence qu,zi.-quer
do que (finalidade), por exemplo a salvação, e como realiza a ação dos atos devidos ao desejo ou à ira ou que realiz:unos os nobres
(manei ra), por exemplo com suavidade ou violência. voluntariamente e os vis involuntariamente ? Nio e isso ridículo se
·
Ora, ninguém exceto um msano, d . d d
. . ' po ena ser ignorante e tu o
isso e, evidentemente - d . 293 .... wcrm;p AtcrX,UÀoç; ta ~tucrnKa .... (o.-p o · _{i.<kh y/o.., r.1 mvsti.k.1 ). 1..1 .:d ebré dranucur-
. 'nao po ena o ser do agente -pois como irmo-
rar a si mesmo?92 Ma d o go Ésquilo foi ac usado de ter desvelado os l\list<:riú, de D .:rnecer , m :tl,,;um.1s de sm s
d _ . s po e suceder de um indivíduo ser ignorante tragédias. Teria colocado o qu, ,1qui e': reprn,luz ido p,, r :\ risCL' telc:s n.\ b~c\ de um dos
a açao que reali za como
uescapou dura .' por exemplo quando as pessoas dizem perso nagens. Possivelmente fo i :tleg,mdo c:ssc· ripo de ipi1.n;i11ci.1 n.\ su.1ddes:i que obceve
nte sua conversa" "l d d a absolvição.
_ _ ou e es esconheciam tratar-se e
290 ....Etcpov ô Fü t K· " 294 . No Cm/rmtes de: Eurípidt:s.
. - •- KU.1 t o Ol (J"
eo,kl' k,li ' 0 d·1 . .yvo w.v nponc 1 I
ag11u11111 Jm.1.1/eir, tuy a · v t o u a yvoouv-ra not ctv... (eteron ~ 295 .... tcrrn ç; ya p nu i-.: aÀrnç Àt:yt: rc1.1 cti-.:l,um u St vo.t ra i)[ (.\ 8u f1 o v 11 cm 8uf11 a v. ···
29 1....U.Koucnúi r n p . gr,ooynta poiein) .
., u.n i; 1 ( 11ko . (isos g, 1r 11 /. : aios lrga,ti .1/..: ,~y.<i. 1â11.ii ,.1ili, 1th_vmun <' <'p iíh vmi. 111 ) .
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l l2 I ITICA r\ NICÓMACO
LIVRO Il i 1 113
\
concebemos um só agente como causador desses atos? Seria, con-
Aqueles que identificam a prévia escolha com O deseio3oo 0
30 cudo, certamente estranho falar de atos cuja meta é correta como -102 :; ' U
com a ira301 ou c~m a vontad_e- ou com alguma espécie de opi-
involuntários, além do acerto de experimentar ira diante de cerras
nião3o3 parecem dizer algo eqmvocado.
coisas e também sentir desejo por certas coisas, por exemplo pela
De fato, os [animais] irracionais não fazem prévia escolha, po-
saúde e o aprendizado. Ademais, pensamos que o involuntário é
rém experimentam desejo, bem como ira. E um indivíduo humano
doloroso e o que gratifica os apetites, prazeroso. E, por outro lado
que não cem autocontrole age em função de desejo, não em funcão
qual diferença há no que tange ao seu caráter involuntário encr~ 15 de prévia escolha. Ao contrário, aquele detentor de aurocontr~le
297
erros cometidos conforme a razão e aqueles cometidos na ira? Ca- age em função de prévia escolha e não de desejo. Por outro lado, 0
298
111161 be-nos evitar ambos, porém as paixões irracionais são tão htuna- desejo se opõe à prévia escolha, mas não o desejo ao desejo. Ade-
nas quanto a razão, de sorte que as ações realizadas por motivo de mais, o desejo tem ligação com o prazeroso e com o doloroso, en-
ira ou de desejo também são ações humanas. É, portanto, estranho quanto a prévia escolha com nenhum dos dois.
classificá-las como involuntárias. Menos ainda se identifica ela com a ira. Com efeito, atos realiza-
dos a partir da ira não parecem, de modo algum, ser determinados
pela prévia escolha.
2 20 Certamente não é, tampouco vontade, embora pareçam intima-
mente aparentadas. A prévia escolha não pode ser de impossibili-
UMA VEZ DEFINIDOS o VOLUNTÁRIO e o involuntário, nos dades: se alguém dissesse que escolheu algo impossível, seria dado
cumpre em seguida sondar o que é a escolha. 299 Esta, com efeito, como um insano. É possível, entretanto, que aspiremos (tenhamos
vontade de) a coisas impossíveis, por exemplo, imortalidade. °" Tam-
3
parece estar estreitamente vinculada à virtude e propiciar uma me-
lhor discriminação [da variedade do] caráter do que a propiciada bém podemos aspirar àquilo que não pode ser produzido por nossa
pelas ações. 25 própria ação, por exemplo, que um cerco ator ou atleta vença [uma
competição]. Entretanto, ninguém escolhe o que não depende de
A prévia escolha é evidentemente voluntária, mas não se trata
si, restringindo-se ao que pensa estar ao alcance de suas próprias
de coisa_s íd~nticas, o voluntário sendo mais amplo. De fato, crian-
ações. Acrescente-se que a vontade (aspiração) visa, de preferência,
ças e a~imais distintos [do ser humano] participam do voluntário,
a fins, ao passo que a prévia escolha visa ao que contribuí para a
• po d em ser qua l 1ºfi ca-
10 mas nao da prévia escolha , e atos repenemos
· d os por prévia escolha.
- d e rea1iza consecução do fim; por exemplo, remos vontade de ter saúde, mas
dos de voluntários ' ma s nao
escolhemos o que nos coma saudáveis, e remos a vontade de ser
feli zes, e assim o dizemos, mas não seria apropriado dizer que o es-
297 ....Kma Àoytcrµ ov (k , , .
··· a,a wgismon ). 30 colhemos visto que, em geral, a prévia escolha parece dizer respeito
298 . ...a),oya rra 817 ,... (afoga pathe).
a coisas que controlamos.
299 . ... rrpompecrewc; 1~ · )
., ... \J'roaireseos , termo de tradu - .
Jª que é uma palavra composta d çao complicada; se u significado literal,
, Lh ebatpemc; (aireSis. )'esco,,,ha e do prefixo npo (pro), seria
pre-esco a ou prévia escolha. E
exp - d m ora passemos a ad orar na sequência a segunda dessas 300 .... em0wttav ... (epithymian), ou apetite.
ressoes, a mi rimos que não d I
cnoca a go m · 1 30 1. ... 0uµov ... (thymon), ou animosidade.
q,~e se trata da escolha que pressup - mto c aro em nossa língua. Assim, diremos
oe necessariamente uma pr()erenaa
ª moraLconsciente e del'b
SeJa, é a escOIh .r, , .
d d quanto a ação, ou 302 .... pouÀT]crt v... (bufesin) .
d a - .
pa amente açao que vaz realiza~ n - 1
era a o agente qu · d' .
fi _ e, por assim izer, avalia antec1- 303 . ...õol;a v... (doxan ).
dela mesma ' ªº em unçao de seu 0 b'}etwo
· · ou eféito, mas em fanção
·
304. ...o tov a0avam ac; .... (oion 11thant1sim-).
LI VRO/li 1 11 5
114 1 ÉTICA A N /CÓMAC O

e, com efei-
Tampouco pode a prévia escolh a ser opiniã o. _P~~ec
ode opina r sobre tudo. Forma mos opmrab o sobre O que 3
ro, que se p
re o que está
é eterno, e sobre O que é impossível, tanto quant o so todas as coisas obje-
guimo s a opiniã o por sua DELIB ERAM AS PESSO AS SOBR E TUDO? ... São
no âmbito de nosso poder. Adem ais, distin 310
impossível no
a prévia es- tos possív eis de delibe ração .. : ou será a deliberação
falsidade ou verdade, não por ser boa ou má, ao pass~ que são objeto
E, portan to, pro- que range a algum as coisas ? E de se presu mir que a expres
colha é distinguida, ao contrá rio, por ser boa ou má. um
m realme nte a ident'.fi~_ue con:1 a opiniã o em ~eral. 20 de deliberação não deva ser empre gada no que respeita ao que
1J J2al vável que ningué
Mas tampouco é idênti ca a algum a opmra o pamc ular.
De fato, e nos- colo ou um insano poder iam deliberar, deven do ser reservada ao
idores de que um indiví duo sensat o delibe raria.
sa prévia escolha do bem ou do mal que nos torna possu
tomar ou Ningu ém delibe ra sobre coisas eterna s, como o univers
o or-
um caráter e não nossa opiniã o acerca deles. E escolh emos
de um
evitar 30s alguma coisa boa ou má, ao passo que opina mos
sobre o denado, 3 11 e a incom ensur abilid ade da diagon al e do lado
: nã? é o caso
· f.
qua dra do; tampo uco so bre coisas mu avezs,
' · 312 mas que ocorrem se-
que ela é, ou para quem é, ou como o é para _alguém
idade, pela
de formar uma opiniã o quant o a tomar ou evitar uma
corsa. E lou- gundo invari ável regula ridade determ inada pela necess
e não por 25 nature za ou por algum a outra causa, por
exemplo, os solscícios e
va-se a prévia escolha por sua relação com o objeto certo
de caráter
estar corretamente
306 relacio nada a ele, enqua nto a opiniã o por estar o nascer do sol; nem també m a respei to de ocorrências
ram] so-
verdadeiramente 307 relacionada ao seu objeto . E nós elegem os
(esco- variável, cais como secas e chuva s; [igual mente não delibe
tesour o. Com efeito,
lhemos) somente coisas que sabemos, do melho r modo , que são boas, bre os produ tos do acaso, como desco brir um
desco nhece mos compl eta- 30 nossa ação é incapa z de produ zir quaisq
uer dessas coisas . Delibera-
10 ao passo que opinam os so bre coisas que
na esfera de
mente. Tampouco são as mesm as pessoas as aurora s
das melho res mos sobre aquilo que está sob nosso contro le e que está
ainda resta
prévias escolhas e as forma doras das melho res opiniõ es,
uma vez que nossa ação ( aquilo que é, efetiv ament e, a única coisa que
313
es, e no en- para ser consid erada, já que natureza, necessidade e acaso, com
parece que alguns indivíduos forma m as melho res opiniõ
constituem
a inclus ão da inteligência e do agir huma no total,
escolh a é 31 4
tanto escolhem o indevido impeli dos pelo vício. Se a prévia
delibe ramos,
precedida ou acompanhada p ela opiniã o não nos impor
ta aqui, por- o elenco de causas admit ido geralm ente). Mas não
os human os
que não constitui o ponto que estam os exami nando , que é, nomea - tampo uco, indisc rimin adame nte sobre rodos os assunt
31 5 delibe ra sobre a melho r
d e opiniã o.
damente, se a prévia escolh a é idêntic a a algum a esp écie - por exemp lo: nenhu m lacede mônio
to parr~cu~ar
O que é então, ou que gênero de coisa é [e o qu e a caract
eriza] , forma de gover no para a Cícia. Mas qualqu er conjun
ad as? É eviden te 111 261 de pessoa s delibe ra a respei to do
que é realizável por su~s P:~pr'.as
já que não é nenhu ma das coisas acima menc ion
as ciencias
15
que é voluntária, mas nem tudo que é volun tário é escolh
ido. É ações. Adem ais, não existe delibe ração no que roca
e 1 - é o caso da orto-
e~tão definido mediante prévia deliberação ? º Com
O 3 8 efeito , a pré- q u e possu em exaci dão e p1ena rormu açao, como
via escolha não pre sem - e d e cerco proce sso menta1• De
· d e d e razao
fato , a prévia escolha parece ser sugen'd a pelo propn, . nome , que e'
. . . o 310.... ~OUÀ.l] ... (bule).
md1Cat1vo de alg uma coisa · . antes de outras. 309
lh ida . . ( .
esco 311. ... rnu Kocrµo u, ... (toykosmoy).
:30-: - =S-....-~ - - - -- . eJygem
ÀU~Etv ,, "'uye1v (Labem r:. . ) . 312 ....7tEpt TúlV EV Kt Vl]O'EL, ...
. ·)
(,peri ton en kmeset , so
b r e aqw·1 0 que implica mudan~ a mo
·, '+' ...
306 -... op0úlç... (orthos). vimenro).
313 .... ~ucr 1c; Kat avayK l] Kat tUXl], ... {jjsis kai anagke
kai tykhe).
307 .... UÀT)0úlç... (afethos).
314 ....vouc; ... (noys).
308. ...un upu YE t o rrpo~E0ou),wµ E vov·
309 ....rrpo Et Epúlv Utp (p ,... (afl ara ge to probebufeymenon;). 315. Espartano.

~ Etov... ro eteton aireton ). Ver nora 299.


r 116 / ÉTICA A NICÓMACO

to a como uma
LIVRO I ft / 117

grafia,316 (com efeito, não ali~e ntam os dúvida~ quan investigar e anali sar como se e~tivesse analisando
uma figura geo-
s nas quais a nossa
palavra deva ser escrita). Delib eram os sobre coisa métr ica - de fato, parec~ que ~m~a que nem toda
investigação seja
ment e os mesmos re- deliberação
ação opera, não produ zindo , contu do, invar iavel deliberação , como na rn~est1gaçao matemática, toda
321

da medicina e dos e ser a primeira


sultados, do que const ituem exemplos as ques tões é investigação - e a derrade1ra etapa na análise parec
negócios;3 17 e o fazemos mais na navegação do que na
ginástica, em · se e1es [o me'd·ICo, o orador, o chefe de Estado
~ ) 322 A ss1m,
25 na geraçao .
ira análoga, no que abandonarão a bus-
função da menor precisão da prim eira e, de mane etc. Jse defro ntare m com uma impossibilidade,
ito das artes do que iro não puder ser
roca a outras atividades. E deliberamos mais a respe ca - por exemplo, se esta exigir dinhe iro e o dinhe
elas.319 na ação. Por coi-
das ciências, 318 porqu e temos mais incer teza acerca daqu obtid o; se revelar-se algo possível, eles insistirão
acon tece de uma sas possíveis quer o dizer capazes de ser execu
323 tadas por nossa ação.
A deliberação envolve aquil o que via de regra sentido, coisas que
incer teza está pre- Com efeito, aqui estar iam incluídas, num certo
determinada maneira, mas em que uma certa que o princípio da
s que acon tecem de maneira fazemos através da ação de nossos amigos, visto
10 sente. Tem a ver tamb ém com coisa
de maté rias im- ação deles, nesse caso, reside em nós.
indeterminada; vale obser var que quan do se trata quais instrumen-
o em suspeita a A questão, no que toca ao investigar, ora é saber
portantes, recorremos ao auxílio de outre m, pond s; do mesmo modo, em outras esferas,
30 tos usar, ora saber como usá-lo
nossa própria capacidade de deliberar. egados, ora como
ilo que concor- é imperioso consi derar ora os meios a serem empr
Não deliberamos acerca de fins, mas acerc a daqu de obtê-los.
era se irá curar, certos meios devem ser empregados ou a maneira
re para os fins . Com efeito, um médi co não delib o ser humano éo
de Estado se irá Parece, porta nto, como tem sido afirmado, que
nem um orador se irá convencer, nem um chefe ração ocupar-
princípio-fundamento das ações e que cabe à delibe
324
320 como tamp ouco irá qualq uer outra
IS produzir um bom governo, e, estando cien-
ito - [essas pes- -se das ações a serem realizadas pelo própr io agent
pessoa deliberar a respeito do fim que lhe diz respe tes de que rodas nossas ações visam a fins que
são distintos delas
como e por quais
soas] tomam algum fim por cerro e cons idera m mesmas. Não delib eram os a respeito de fins, mas
a respeito do que
h á vários meios
meios ele pode ser atingido. Se lhes parec er que 1113al conc orre para os fins. Nem
tamp ouco deliberamos a respeito de
que o fim seja
disponíveis, passarão a apurar qual deles perm itirá faros p articulares - por exemplo, "se isto é pão
ou se foi bem as-
er apen as um meio
~tingido da maneira mais fácil e melh or; se houv sado." Com efeito, estas são matérias, simplesme
nte, de percepção
poderá ser atin-
q~e faculte o atingimento do fim , indag arão como senso rial. A perspectiva de deliberar sempre nos
lançaria numa ca-
ele próp rio ser
gi~o ~or esse meio e por qual meio esse meio pode minh ada ao infinito.
é a últim a na or-
atingido, até alcançarem a primeira causa, a qual • O objet o da deliberação e aquele da prévia escolh
a são o mes-
2º dem da descoberta com ere1to, a pessoa que delib era parece assim
( e ·
hido já foi determi-
mo, com a ressalva de que o previamente escol
-:- :-: --- --- decorren~~ da
316. .. :ypaµµ a t ú)V... (grammaton), letras. nado , uma vez que é aquilo que foi decidido como
. .
317....wtptKl']V Kat XPl']µ ancrn K l']V, ... (zatrtke
.
5 delib eraçã o que const itui o objet o
da prévia escolh Con~ ~foro,
a.
- n kaz khrematistiken).
318 de como aglfao no
.... µa.A1cOV OE KO.l 7!Ep t taç TE
xvaç 11 taç Emcrtl ']µaç... (mallon de kai perita
s tekhnas há, da parte de rodos , um cessar da indagação
e tas epistemas).
ri À 11' · 1cf,1id e men zetesis u
. . , , ... v1w
319. nuer dizer, q uanro ma10r
~ . o grau de d l'b
I
-
rigor ciendf ico. Ansto -
321 ....~m Vetm oTJ µEv ÇT]tT]CJLÇ ou rracra e t va 1,.,ou wcnç
· d . e eraçao, menor o grau de
teles hierarquiza as ciên . - .
pasa einai buleysis).
c1as o pnsma de sua precisa o e certeza : l O ciência s especulativas
( por exempl o, física mct f:' • , · ·) • b . . ~"JJc:cífict' ck cada um.
e polí · ) " . , ' produt ª ,s,ca, matem áticas) · 2° ·, · , .
cienc1as pratica s (por exemp lo, enca 322 · ... EV TTJ YEVECJE L... (ente geneJe1 , o u sc:p, na 1m:t ~,
tic~ ; 3 c1encias ivas ( •
, com as artes) por exemp • lo nav - d I p

para ele e id enti·f·1eave] egaçao, m e icin a, escu tura, o qu~ 323. ...ou vam ... (dynata). .J • . eil11zi arkhe ton praxeon).
( o,
320 ....Ol)t El!OÀtnKoç El Wvoµ1av 7C~Ll1 324 · ... av0pwrroç e t vm apx·ri twv rrpal;Ecov, ... ,mtmop
· ,crEt,... ., ez· eynom ian poiesei) .
(utepo!it IR.Os
r
11 8 1 ÉTICA A N JCôMACO
/ 11 9
LI VRO Ili

momento em que fazem o princípio-fund amento da ação retor-


Posto que nenhum desses pareceres se revela satisfatório, talvez
nar a si mesmos e para a parte dominante de si mesmos. De fato,
devêssemos dizer que simplesmente e conforme a verdade 329 0 bem
é esta que escolhe. Isso pode, inclusive, ser evidenci~do pelas anti- é o objeto da vontade, mas para cada pessoa o que parece O bem; e,
o-as Constituições 325 representadas por Homero: os reis anunciavam, 25 em conformidade com isso, que aquilo que é verdadeiramente um
o· h . lh ·d 326
com efeito, ao povo o que aviam esco i o. objeto de aspiração (vontade) o é para o indivíduo bom, enquanto
Tendo em mente que o objeto da prévia escolha é alguma coisa qualquer produto do acaso o pode ser para o indivíduo mau (como
10
sob nosso poder desejada depois da deliberação, a prévia escolha no caso dos corpos, aquilo que é verdadeiramente saudável o é para
327
será um desejo deliberado de coisas em nosso poder, pois delibe- corpos que se acham em condição satisfatória [e saudável], enquan-
ramos, em seguida selecionamos e então fixamos nosso desejo ins- to para aqueles que se acham [debilitados ou] enfermiços, outras
truídos por nossa deliberação. coisas se revelam saudáveis, o mesmo com relação a coisas amargas
Com isso descrevemos sumariamente o que é a prévia escolha, e doces, quentes e pesadas330 etc.). Com efeito, o indivíduo bom é
30 capaz de julgar corretamente cada classe de coisas, e a verdade se
a natureza de seus objetos e o fato de que ela se ocupa daquilo que
revela a ele em cada uma. Coisas peculiares são nobres e aprazíveis
concorre para os fins.
correspondente mente a cada disposição de caráter e, talvez, o que
distingue fundamentalme nte o indivíduo bom é o fato de ele con-
templar a verdade em cada disposição, como se ele próprio fosse a
4 regra e a medida. Parece ser o prazer o que induz o grosso da huma-
11 1361 nidade ao erro. De fato, a eles ( ao grosso da humanidade) ele se afi-
IS A VONTADE (ASPIRAÇÃO ), AO CONTRÁRIO, como foi dito ante- gura como um bem, embora não o seja. Consequentemente escolhem
riormente, tem a ver com fin s. Alguns sustentam que o que é aspira- 331
o prazeroso como bem e se esquivam da dor, como mal.
b 32s
do e, o bem, ao passo que outros ac ham que e, o queparece ser em.
Aqueles que afirmam que o que é aspirado é o bem [ou seja, que o
bem é o objeto da vontade] são obrigados a admitir, como conse- 5
quência, que o objeto de aspiração daquele que escolhe incorreta-
mente não é um objeto da vontade (aspiração) - p o rque se fos se S ENDO o FIM, ENTÃO, AO ~E ASPIRAMOS, e aquilo que para

tinha também que ser bom , quando no caso talvez acontecesse de ele co ncorre o objeto de deliberação e prévia escolha, segue-se que
alguém aspirar a alguma coisa má. E aqueles, por outro lado, que as ações que dizem respeito a esse meio são realizadas por prévia
5
20 afirmam que o que parece ser bem é o objeto da vontade são força- escolha e voluntárias. As atividades que veiculam as virtudes têm
dos a admitir que não existe naturalmente tal objeto, mas ap enas o a ver com os meios e, por conseguinte, a virtude também está na
' · Com efei. ·
que parece ser isso para cada indivíduo. Ora, coisas diferentes são esfera de nosso poder, o mesmo suce d en d o com o vicro. _
aparentes a indivíduos diferentes e se assim acontece aí estão in- to, onde somos livres para agir também somos livres para nao agir,
cluídas as coisas contrárias. ' .
e d 1zer nao '
- ou d 1zer • se, portan to , depende de nós realizar ale:o
sim; ..,
32 5, ...apxaiwv 7tOÀttEl ú)V ( kl · t . 329 .... a n Àwç µ Ev Kat Kat aÃ.ri0i::1av ... (aplos men kai kat alethei,m). . _
,... ar: Jazon P0 ztewn ), ou fo rmas de gove rn o antigas.
A i::a (omoios de kat pzkra
326. ... ot ya p ~UcrtÀEtç a rrpOEÀ
to aneggeLLon to demo).
.
otvt o UYTJYYEÀ.Àov t w OY]µw . ... (oi gar basileis a proelozn-
e
330 ....o µ o tü)Ç oE Kat mKpa Kat yÀuKW Kat i::pµ a Kat f-'ap ...
kai glykea kai therma kai barea) . ( .
327. ·--~OIJÀEIJttKT] OpE~tr (b l 'k . ' . ~ 1 r K<X KOV ~i::uyou cn v . ... a1-
-., .,... u eytz e orexzs) J3 1. ... mpouvrm ouv to ri ou wc; aya0o v, n1 v ui:: /\,unri v w.,
328 ....t QI) $atvoµEVOI) 0 .
aya OIJ ... (toy fainomenoy agathoy ). royntai tm to edy os agathon, tende lypen os kakon Jeygoysin ).
r LI VRO Ili / 121
120 1 ÉTI CA A N1CôMACO

o. Há
nobre, também depend e de nós não realiza r algo vil, e se
depend e gar-se, o que foi a causa da ignorâ ncia do que estava fazend
10
r gue també m puniçã o quanto à iono
a atos realiza dos devido b ranc1a , · de
de nós não realizar o gue é nobre, també m depen de realiza O .
333 am
é vil. Mas se depend er de nós realiza r e não realiza r o nobre 0
e algo presen te nas leis q~e as pessoa s deviam conhec er e poderi
outros
vil e se, como vimos, ser bom ou mau é realiza r o nobre
ou O vil 111 4ª 1 conhe cer sem qualqu er dificul dade; e assim por diante em
endo-
conseq uentem ente depend e de nós sermo s virtuo sos ou
viciosos'. casos nos quais a ignorâ ncia é atribuí da à negligê ncia, entend
que lhe
-se que não se justific ava a ignorâ ncia do indivíd uo uma vez
Afirmar gue ... cuidad o.
era possív el empen har-se no sentido de tomar o devido
ninguém é voluntariamente mau, como não é involuntariamente
15
É de se objeta r que calvez esse indivíd uo não seja O tipo de ho-
bem-aventurado o. Bem,
dizer: mem que se empen he no sentido de tomar o devido cuidad
... parece ser meio falso, ainda gu e meio verdad eiro, quer de
não é 0 mas se os própri os indivíd uos se tornam negligentes em função
ninguém, com efeito, hesita em ser bem -avent urado , mas dos como
2 5 uma vida neglig ente, devem ser por isso responsabiliza
caso de a maldade ser involun tária;-'-' se assim fo sse, teríam os gue atos
huma- o são por serem injusto s ou desregrados sempre que realizam
contradizer o qu e acabam os de declara r e afirma r que o ser coisas semelh antes. Adqui-
como oé maus ou passam o tempo em bebede iras e
no não é princípio -fundamento e gerado r d e suas ações, as
nossas rem um caráter particu lar devido a atividades constantes realizad
de filho s. Sendo eviden te, p orém , que somos os autore s de pela forma na qual in-
de uma maneir a particu lar. Isso é eviden ciado
20 própria s ações e incapa zes de fazê-las remon
tar a quaisq uer outros 334 ou seja,
di vídu os treinam para alguma compe tição de luta ou ação,
mes-
princípios-fun damen tos que não sej am aquele s dentro de nós praticam contin uamen te. Somen te uma pessoa inteira mente
desti-
ios-
mos, estamos autorizados a con cl uir qu e as ações cuj os princíp que são nossas atividades
10 tuíd a de percep ção é incapa z de perceb er
d ep end em de nós e
-fundamentos resid em em nós, elas própri as, em relação a coisas particu lares que geram nossa disposição
moral;
são voluntárias. o torna
p o rém, se um indivíd uo cientem ente age de um modo que
Isso parece ser arestado tanto p elas p essoas n a vid a privada injusto, é imperi oso dele dizer que é volunt ariame nte injusto .
ção
quanto pelos legislad ores; de fato , estes p un em e exigem retifica Além di sso, é ilraciona/3 afirma r que inexiste, da parte de
35 um
sob
daquele s que perpetr am o mal (excero qu and o é p erp etrado h o m em que ;1ge inj usta ou desreg radame nte uma vontad
e de ser
em o perpet rou não
compul são ou devido à ignorân cia, pelo q ue qu injusto o u d es regrad o. Isso, entreta nto, de modo algum signific a
25 é ~esponsável ); por outro lado, honram aquele s que reali zam ações e smente
qu e ele po de deixar de ser injusto e se tornar justo simple
ir os
fei_tos nobres, no propósito de estim ular estes últim os e reprim 15 po r aspirar a fazê- lo, não m ais do que o enferm o pode recupe rar a
pnme1 _ros· Ninguém , rod avia,
·
· tenra nos esnmu l ar a rea 1zar aqui•jo
l ·
possível
- e, vo j untari, a; co m ere1- e · saú de m ov id o pela vo ntade; neste último caso, porém , é
e de nós mesmos e qu e nao
que nao_ depend . qu e sua en fe rmidad e seja volunt ária, no sentido de ser devida a uma
to , nao parece haver pro \,eito· a1gum em ser persua d id o a não sennr médi-
vid a se m auroco ntrole e ao não acatam ento das orientações
calor, dor, fome ou coisa semelh an te, uma vez que não deixar emos , mas se desprez ou
[ b
30 em ª soluto] de semi-lo É d · , . cas. Ini cialmenre poderia ter evitado a doença
d . s. a m1ss1vel q ue algu ém seja p uni- sua chan ce, não é m ais possível, como quando jogais ao ar uma
pe-
. ,
o por sua ignorância nos ca sos nos qu ais e co n sid erad o respon -
, 1 . sois respons ável por a ter
dra, é imp ossível retomá -la, apesar do que
save por sua ignorân cia. or e ,
estava embriao d ' P _xemplo , a penalid ade é d o brada se ap anh ad o e arrojad o [ao ar], uma vez que o princíp io-fund amento
prio indivídu
ºªo, porque a on 0oem d 0 aro orens1v
d'
e .
o escava no p ro-
,

o, na me ida em qu e eIe po d eria ter evitad o emb ria- 331 ...e\' TO !(; voµo1ç,... (en tois nomois) .
332 ' 31.
. "•11 fü; µox817p1a êKOUcrt ov ( d -' , . .. a.yw vta.v TJ rrpa.çt v... (agonian epraxin).
,.
maldade é v0 luntaria... ... e emokhrhn i ek · )
11
oyszon : o u, al ternativa m en rc:, ...mas a
. 335- ... aJ .oyov ... (alogon).
~ mc;ANICôMACO LI VRO Ili / 123

va dentro de vós. O injusto e o desreg .


rado poderiani. .343
do ato es (a _
_' seu bem maior; e o bem a que ele visa não é de sua própria escolha
. , . ter evitado se converterem .no que sao e, portan to , o sa0 É preciso nascer, por assim dizer, com uma visão por meio da
qual
20 no m1c10, ,
·a1nente·, mas' agora, que assun se tornar am, é impo ss1ve] se possa discernir corretamente e eleger o que é verdadeirame
nte
volunran
é alguém bem dotado
para eles não serem o que são. - ' . bom. Uma pessoa de bons dotes naturais
alguns [defe·. nesse aspecto; com efeito, se algo é o mais grandioso e nobrr:3
44 dos
E não só os vícios da alma sao voluntanos, como 336 l
ido com ou-
ros] do corpo também, pelo que os censuramos. Embora
nin-
10
dons e é algo impossível de ser adquirido ou aprend
o que
o-uém censure alguém por ser naturalmente feio, censuramos
aquela trem, mas uma posse concedida por ocasião do nascimento,
e no-
disformidade causada por falta de exercícios e cuidad o. O mesmo constituirá um dote natural cabal e verdadeiro será uma boa
25 se diga das debilidades, deficiências
e mutilações. Com efeito, nin- bre dotação nesse sentido':
ária
guém condena, porém, ao contrário, se compadece de uma pessoa Ora, se isso for verdadeiro, como será a virtude mais volunt
mau- ,
337
cega de nascimento, ou devido a uma doença ou a um acidente; que O vício? Para ambos igualmente - o indivíduo bom e o
za
entretanto, por certo todos condenariam alguém que tivesse ficado seus fins, tais como se lhes afigura, são determinados pela nature
338
cego devido ao alcoolismo ou a outro tipo de deboch e. Consta
ta- 15 ou de algum
a outra forma ; e todas suas ações têm por referência
um
mos, assim, que defeitos corporais que estão sob nosso controle são esses fins determinados. Assim sendo, se a aparência que cada
par-
30 censuráveis, ao passo que aquele s que não estão
não o são. Diante tem de seu fim, seja qual for, não é oriunda da natureza, mas
fim é determ i-
disso, conclui-se que também estão sob nosso controle nas outras cialmente devida ao próprio indivíduo - ou se seu
volun-
situações os vícios censuráveis. 339 nado pela natureza - de uma maneira ou outra a virtude é
o de atingir seu
tária porque as ações do indivíduo bom no sentid
É o caso, todavia, de alguém dizer: "Todos almejam o que se lhes vício e virtude serão em
20 fun são voluntárias; e num caso ou outro
parece bom, mas não têm controle sobre essa aparên cia; mas o fim
II I4bl 340
o bom,
pé de igualdade, voluntários, pois o indivíduo mau, cal como
parece a cada indivíduo de uma forma determinada por seu cará- de
detém espontaneidade em suas ações, mesmo se não em função
cer.341Ainda assim, na hipótese de cada um ser, de uma certa manei- volunt árias (e, de
um fim. Se então, como é dito, as virtudes são
ra, respons ável por sua disposição [moral], será num certo sentido a causa
' · que tem [d o bem ]; em caso contra,no,
respons ável pela ap arenc1a
. fato, somos nós próprios, num certo sentido, parcialmente
caráter que nos faz
nenhum indivíd u0 ' , l de nossos estados morai s, e é termos um certo
e respon save por sua má conduta. Perpetra o,
342
m são
estabelecer um certo fim), conclui-se que nossos vícios també
. ,
mal devido a ignorân · d fi
~ - - - - - - - Cla
O
m, pensando que assim agindo obtera eles.
25 voluntários. Com efeito, o mesmo vale para
336 . ...ou µovov 8 ai n 1ç \Jlll em
Cfúlµü.TOÇ, OlÇKat E7lln XTJ Ç KUKlat êKOll(H Ol
Etcn V, a'),..),_ EVIO LÇ Kat at 't'OlJ
''! .. Efetuamos, assim, delineadamente a discussão das virrndes
(umonond '-h k s)
k - . µwµE v
..
...
ai ai toy somatos, ois kai•epitimomen)
'
1 t
ª
es psyr,: es akiai ekovsioi eisin ai, emots
., ' geral, indicando seu gênero (a saber, que são medianias e esrado
. as
337 ... :ru$),üi $ucn (t ,n jj ·)
338 º' . º ... J;,o ysei ' naturalm ente cega e sua faculd ade de nos capacitar a realizar ações idênticas àqu_e~
' _."" e
respon sáveis por sua produção e fazê-lo segundo ajustlz mz,io;
... ,cc, Ol VO$J,uyi aç 1"] a))
339 A ·st , 'cl"] ÇUKOÀacrtaç ( · 30
· n oteles refere-se aos d f, . ... ex omojlygi as e afies akolasias ).
340 .... nov e e1tos que afetam a alm . , . que estão sob nosso controle e são voluntárias.
· 'tEÇ E$1cv, o.1 , ou $o ª• ou sq a, os v1c10s morais.
(pantes eflentai to r. - -lVOµi:vou aya8ou Mas estados não são voluntários do mesmo modo que ações.
34! e '.Y;amomenoyagatho, t d fi ' <T] Ç OE ~avmc nac; ou Kllpto t,... ao fim
Temos, com efeito, o controle de nossas ações do começo
h
J' es e antasias u kyrioi) .
. ~;tos_ elenistas, como W. D
q obJeta Aristótel . f· . Ross, sugerem · ' no·
es inda aqu1.- que a palavra do personagem imagma
342... ,'tO\l K
C!.KO.1tütctV (
343. ... OllK au0aip i:rnc;... (uk aythairetos).
tra entre ou ,... toy kaka poiei ) 344.... µi::y1cr10v Kat KaÀÀ. 1cr10v, ... (megiston k(/i k(//li:-·1(111 ).
tras traduções aceitá .. n 'traduzin do literal
veis, porém não 1. I mente: ...por fazer o mal.... Ou- 345 · ... ap0oc; Àoyoc; ... (orthos logos) .
itera seria. . , .
~
· ... por incorrer em v1c1os....
124 I ÉTICA A NICÓMACO LIVRO f li 1 125

desde que consciéntes das particulari dades em_ cada etapa do pro. Há quem, todavia, o chame de corajoso figurativa-
15 um impudente .
cedimento. Todavia, no que coca aos estados (disposiçõe s) ' emb ora
mente, porque ele é um pouco semelhante ao corajoso no sentido
ossamos controlar seu começo, cada etapa de seu desenvolvim ·
P . ento de que o corajoso também é destemido (não experimenta medo).
11 l Sal é imperceptível, como ocorre no desenvolv imento de uma doen Por outro lado, talvez não seja o caso de temer a pobreza ou a
· l '· 'd d d ça,
isso ainda que sepm vo untanos no senti o e que e nós depende doença ou, em geral, qualquer coisa não resultante do vício e que
utilizar nossas capacidades de uma forma ou de outra. não tenha nós mesmos como causa. Mas também não é corajoso 0

Mas retomemos [a discussão geral], considera ndo as várias vir- indivíduo destemido nessas coisas ( ainda que assim o chamemos
tudes, apontando a natureza de cada uma, qual a sua vinculação e 20 também, por analogia); com efeito, alguns homens que são covar-
qual a maneira em que esta ocorre. Ao procederm os a isso, deixare- des na guerra mostram-s e generosos quando se trata de dinheiro e
351
mos evidente, inclusive, quantas existem. encaram a perda da fortuna com firmeza; tampouco é um homem
covarde ao temer o insulto aosfilhos e aesposa, ou a inveja, ou coisas
353
do mesmo género; 352 nem corajoso se exibir autoconfiança na imi-
6 nência de suportar um açoitamen to.
~ais são, então, as coisas temíveis com as quais tem a ver o co-
354
f PRINCIPIEMOS PELA CORAGEM. Já foi mostrado que esta é a
346 25 rajoso? Será que com as maiores? Com efeito, sua firmeza diante
m~diania no tocante ao medo e a autoconfiança. 347 Está claro que as do perigo supera a de todos. A morte é o mais temível de tudo, por-
c~isas de que temos medo são coisas temíveis, o que significa dizer quanto é o desfecho, bem ou mal, passando a ser indiferentes para
simplesmente que sa·o 1 348 d
e mo d o que o me d o e,, me
maies,
·
· 1us1ve, o morto. Mas, mesmo a morte, não oferece em todas as circunstân-
. ·
io definido como expectativa do mal. 349 Portanto, temos medo de to- cias um a oportunid ade para a postura do corajoso - por exemplo,
, da ma, reputaçao,
das as coisas más - po r exempw, - da pobreza, da não qualificamos de corajoso o homem que encarou a morte num
doença, da falta de amiuo d 3so E naufrágio ou na doença.355 ~al a situação, então? Será a mais nobre
. ó s, a morte. ntretanco, não se pensa que
to das essas coisas dig . 30 delas? Ora, a mais nobre situação fatal é a da morte em batalha,
. am respeito ao corajoso; com efeito, há algu-
mas coisas que é certo e b [.
no re temer e mdusive] vil não temer, pois é encarada em meio ao maior e mais nobre dos perigos. E isso é
d ,
o que e exemplo a má re - . ' corroborad o pela prática segundo a qual honras são conferidas nas
um hom h d putaçao ou 1gnommia. Temê-la distingue
em onra o e que tem senso d e pudor; não temê-la reve1a democracias 356 e monarquia s [aos mortos em batalha].
:;:;--- - - - -
346.... Ka11tPúltov 1tEp1 avõpEta<;.... kai . 351. ... w0apcrcoç ... (eytharsos).
347.... $o~oç KUt 0a II' ( proton peri andreias).
Ed [ PPTJ, ... vobos kai tharr ) E 352 ....ouõE õ17 t: Lnç uPptv n t: pt nmõaç Kat yuvmKa ~0PE1w1, lJ ~eovov 'ln rwv
ui emo doravante mencionada p E eE... ]. mretamo, na sua famosa tabela da Ética ·a Wtou,wv, ôt: tÀoç s crnv... (ude de ei tis ybrin peri paidas kai gynaikaJobeit,zi, efihonon
no ogia distint or · · , 1220640 A · ,
, nstoteles emprega tan co term1-
(de 1tta ), covardiª guanto conceitos nã O exatamente ·d· · e ti ton toiuton, dei/os estin ).
essencial a; para 8app17 (thm-re) 0 i enncos : para ~o~oç (jobos ), ôt:tÀW
rnenre a rnesrn . , pacru,l]ç (th ) d d · ' 353 ....0appt:t... (tharrei). Mas essa nossa expressão parece não traduzir bem, pois a ideia aqui
vício (KUKta [k k· a, pois o sencimenc ( rasytes , temeri ade. A i eia e O
0 é de algo que cem a rigor peso negativo e não positivo (que é o que rransmire rermo
responde ao , .ª dza]) da covardia e aguei ºd 1ta oç ÍPathos]) do medo co rrespo nde ao
vicio a tern ·d e a aucoconfi' ( autoconfianç-a) . A ideia é mais de pura e simples ousadia ou temeridade.
348 .... KaKa (k en ade. iança excesso de confiança) cor-
... aka) 354.... ,a µ sytcr,a ... (ta megista), quer dizer, as mais remíveis.
34 9 .
, ... rrpocrooK 355 · ...Ev 0aÀanri TJ sv vocr0tç. ... (en thafatte e en nosois). Lireralmenrc: ...no mar 0 11 na
IUVKaKou r~
350 . ...01ov aoot .... v,rosdokian kak )
t -,1av llEv1a oy . doença ....
zan 1hanaton). VVocrov U$tÀ1a e v ava,ov ( . ,
356· ... EV ,aiç 1t011,t:cr1. . E ·j . Éd·fí 1 e·il rer cerreza aqui
,... oion adoxian penian noson aji- .. (en tais pofesi). LJteralmenre ... nos srat os...
se A · , 1 . .
,as c1dades-fara d os. d enrro (j0 1110 ddo greuo (como
n srore es alude genen camenre 1:>

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