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ARIST ÓTELE S
ÉTI CA A NIC ÔM AC O
EDSON BINI
1
30 A VIRTUDE TEM A VER com paixões e ações, e o louvor e a censura
são conferidos somente às voluntárias; as que são involuntárias são
objeto de perdão 282 e, por vezes, até de compaixão. 283 Por conseguin-
te, provavelmente seja indispensável ao escudante da virtude discer-
nir entre o voluntário e o involuntário, 284 o que também será útil ao
35 legislador quando for sua tarefa distribuir recompensas e punições.
Afirma-se geralmente que as [paixões e ações] são involuntá-
111oa1 rias se ocorrem sob compulsão ou causadas pela ignorância, e que
são compulsórias quando seu princípio é externo, sendo de tal na-
tureza que o agente ou o paciente nada contribui para ele - por
exemplo, quando se é levado a algum lugar pela força do vento ou
por pessoas que nos têm sob o seu poder. Mas paira alguma dúvida
com respeito ao que fazemos pelo medo de algo pior, ou tendo em
vista algum objeto nobre - como, por exemplo, na situação em que
um tirano, que tem os pais e os filhos de alguém em suas mãos, o
força a cometer uma vileza, tendo os entes queridos poupados se
a cometer, ou mortos se negar-se a cometê-la. É discutível se cais
ações são voluntárias ou involuntárias. Uma situação que guarda
alguma semelhança com essa ocorre quando, durante uma tempes-
tade [no mar], joga-se a carga ao mesmo; com efeito, em condições
normais, ninguém voluntariamente se privaria assim de seus bens;
10 mas o faria, contudo, qualquer indivíduo sensato visando a própria
salvação e a de seus companheiros a bordo. Ações dessa espécie são,
portanto, mistas. Todavia, assemelham-se mais às voluntárias, pois
excessivas sobre a natureza humana, insuportáveis para qualquer responsabilizar os objetos do prazer pelas ações vis. Parece, portan-
um. Entretanto, talvez haja alguns atos para cuja realização não se to, que se trata de compulsório quando seu princípio é externo e a
pode obrigar alguém, sendo a mais dolorosa e terrível das mortes pessoa forçada em nada contribui para ele.
preferível a realizá-los. Por exemplo, parece risível que Alcmeon na Todo ato executado por ignorância é em todos os casos não vo-
peça de Eurípides285 seja compelido por certos motivos a assassinar luntário, sendo involuntário 289 somente o ato que causa aflição e ar-
30 sua mãe. Mas é, às vezes, difícil decidir o que escolher : se a realiza- rependimento a quem o praticou. De fato, de alguém que agiu por
ção de um certo ato ou o sofrimento de uma certa pena. E é ainda 20 ignorância e não sente qualquer arrependimento por sua ação não
mais difícil ser fiel à nossa decisão; de faro, na maioria dos casos a se pode dizer que agiu voluntariamente considerando-se que não es-
expectativa é dolorosa e a ação que nos forçam a realizar é desonro- cava ciente de sua ação e, no entanto, também não é o caso de dizer
sa, razão pela qual o louvor e a censura são conferidos em função de que tenha agido involuntariamente, considerando-se que náo sofre
11106 1 cedermos ou não ao que somos forçados.
~e tipo de ações, então, devem ser classificadas como compul- 287.... rJ arrÀwç ~11:v, orro, a v ri a ma 1:v 101ç êKTOÇ ri Kat o rcpanwv ~1riõ1:v
6 Sem uma qua t•fi.
sórias?28 - f , · · · d crnµpaÀÀri,m;... (e ap!os men, opot an e aitia en tois ektos e kai o pmtton 111eda1 ,ym-
__________ 1 caçao, compu sorzo se aphcana a quan o bal!etai;). O u traduzindo, numa interrogativa (como no original) e m:iis próximo à li te-
285. Erífile, esposa do rei de Ar os Anfi , ralidade: Seria o caso de dizermos não qualificadamente que a ação o é quando a c1us1
convença O m 'd .g ' iarau, e subornada (ao preço de um colar) p ara que
mesmo rempo co
°
an a pamc1par do ataque d S
.d d
rb
os ete contra ie as. Indu zido a fazê-lo e, ao
está nas coisas ex ternas e o agente em nada contribui ?
, nvenc1 o e que perecer"1 288 ....Kat ri apxri 1:v ,w rrpanov-n, ... (kai e arkhe en ro prattomi).
(entre eles Alcmeon) . ª nesse ataque, o rei o rdenou que seus filhos
vingassem sua morre marand 0 E 'fiil b . ' - d 289. Aristóteles distingue os dois conceitos. AKoucnov (11kopion - involundrio) qualifica
so bedecerem, ameaçou-o d . n e e, para o nga-los a nao o e-
- s e invocar os deuses p d a ação realizada sem a presença da vontad e conscienre do agente ; oux i:;11:oucr10v (ukh
de nao poderem ter fi lhos. ara que pa ecessem fome e a infelicid ade
286 - ---~lata ... (biaia ). ekoysion - não voluntário) qualifica a açáo realizada circuns ranci:1lmenre na ignorância
de consequências e, portanto, não dererminadJ pefa vonradc: no sentido pleno.
IIVRO Ili 11 1
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l l2 I ITICA r\ NICÓMACO
LIVRO Il i 1 113
\
concebemos um só agente como causador desses atos? Seria, con-
Aqueles que identificam a prévia escolha com O deseio3oo 0
30 cudo, certamente estranho falar de atos cuja meta é correta como -102 :; ' U
com a ira301 ou c~m a vontad_e- ou com alguma espécie de opi-
involuntários, além do acerto de experimentar ira diante de cerras
nião3o3 parecem dizer algo eqmvocado.
coisas e também sentir desejo por certas coisas, por exemplo pela
De fato, os [animais] irracionais não fazem prévia escolha, po-
saúde e o aprendizado. Ademais, pensamos que o involuntário é
rém experimentam desejo, bem como ira. E um indivíduo humano
doloroso e o que gratifica os apetites, prazeroso. E, por outro lado
que não cem autocontrole age em função de desejo, não em funcão
qual diferença há no que tange ao seu caráter involuntário encr~ 15 de prévia escolha. Ao contrário, aquele detentor de aurocontr~le
297
erros cometidos conforme a razão e aqueles cometidos na ira? Ca- age em função de prévia escolha e não de desejo. Por outro lado, 0
298
111161 be-nos evitar ambos, porém as paixões irracionais são tão htuna- desejo se opõe à prévia escolha, mas não o desejo ao desejo. Ade-
nas quanto a razão, de sorte que as ações realizadas por motivo de mais, o desejo tem ligação com o prazeroso e com o doloroso, en-
ira ou de desejo também são ações humanas. É, portanto, estranho quanto a prévia escolha com nenhum dos dois.
classificá-las como involuntárias. Menos ainda se identifica ela com a ira. Com efeito, atos realiza-
dos a partir da ira não parecem, de modo algum, ser determinados
pela prévia escolha.
2 20 Certamente não é, tampouco vontade, embora pareçam intima-
mente aparentadas. A prévia escolha não pode ser de impossibili-
UMA VEZ DEFINIDOS o VOLUNTÁRIO e o involuntário, nos dades: se alguém dissesse que escolheu algo impossível, seria dado
cumpre em seguida sondar o que é a escolha. 299 Esta, com efeito, como um insano. É possível, entretanto, que aspiremos (tenhamos
vontade de) a coisas impossíveis, por exemplo, imortalidade. °" Tam-
3
parece estar estreitamente vinculada à virtude e propiciar uma me-
lhor discriminação [da variedade do] caráter do que a propiciada bém podemos aspirar àquilo que não pode ser produzido por nossa
pelas ações. 25 própria ação, por exemplo, que um cerco ator ou atleta vença [uma
competição]. Entretanto, ninguém escolhe o que não depende de
A prévia escolha é evidentemente voluntária, mas não se trata
si, restringindo-se ao que pensa estar ao alcance de suas próprias
de coisa_s íd~nticas, o voluntário sendo mais amplo. De fato, crian-
ações. Acrescente-se que a vontade (aspiração) visa, de preferência,
ças e a~imais distintos [do ser humano] participam do voluntário,
a fins, ao passo que a prévia escolha visa ao que contribuí para a
• po d em ser qua l 1ºfi ca-
10 mas nao da prévia escolha , e atos repenemos
· d os por prévia escolha.
- d e rea1iza consecução do fim; por exemplo, remos vontade de ter saúde, mas
dos de voluntários ' ma s nao
escolhemos o que nos coma saudáveis, e remos a vontade de ser
feli zes, e assim o dizemos, mas não seria apropriado dizer que o es-
297 ....Kma Àoytcrµ ov (k , , .
··· a,a wgismon ). 30 colhemos visto que, em geral, a prévia escolha parece dizer respeito
298 . ...a),oya rra 817 ,... (afoga pathe).
a coisas que controlamos.
299 . ... rrpompecrewc; 1~ · )
., ... \J'roaireseos , termo de tradu - .
Jª que é uma palavra composta d çao complicada; se u significado literal,
, Lh ebatpemc; (aireSis. )'esco,,,ha e do prefixo npo (pro), seria
pre-esco a ou prévia escolha. E
exp - d m ora passemos a ad orar na sequência a segunda dessas 300 .... em0wttav ... (epithymian), ou apetite.
ressoes, a mi rimos que não d I
cnoca a go m · 1 30 1. ... 0uµov ... (thymon), ou animosidade.
q,~e se trata da escolha que pressup - mto c aro em nossa língua. Assim, diremos
oe necessariamente uma pr()erenaa
ª moraLconsciente e del'b
SeJa, é a escOIh .r, , .
d d quanto a ação, ou 302 .... pouÀT]crt v... (bufesin) .
d a - .
pa amente açao que vaz realiza~ n - 1
era a o agente qu · d' .
fi _ e, por assim izer, avalia antec1- 303 . ...õol;a v... (doxan ).
dela mesma ' ªº em unçao de seu 0 b'}etwo
· · ou eféito, mas em fanção
·
304. ...o tov a0avam ac; .... (oion 11thant1sim-).
LI VRO/li 1 11 5
114 1 ÉTICA A N /CÓMAC O
e, com efei-
Tampouco pode a prévia escolh a ser opiniã o. _P~~ec
ode opina r sobre tudo. Forma mos opmrab o sobre O que 3
ro, que se p
re o que está
é eterno, e sobre O que é impossível, tanto quant o so todas as coisas obje-
guimo s a opiniã o por sua DELIB ERAM AS PESSO AS SOBR E TUDO? ... São
no âmbito de nosso poder. Adem ais, distin 310
impossível no
a prévia es- tos possív eis de delibe ração .. : ou será a deliberação
falsidade ou verdade, não por ser boa ou má, ao pass~ que são objeto
E, portan to, pro- que range a algum as coisas ? E de se presu mir que a expres
colha é distinguida, ao contrá rio, por ser boa ou má. um
m realme nte a ident'.fi~_ue con:1 a opiniã o em ~eral. 20 de deliberação não deva ser empre gada no que respeita ao que
1J J2al vável que ningué
Mas tampouco é idênti ca a algum a opmra o pamc ular.
De fato, e nos- colo ou um insano poder iam deliberar, deven do ser reservada ao
idores de que um indiví duo sensat o delibe raria.
sa prévia escolha do bem ou do mal que nos torna possu
tomar ou Ningu ém delibe ra sobre coisas eterna s, como o univers
o or-
um caráter e não nossa opiniã o acerca deles. E escolh emos
de um
evitar 30s alguma coisa boa ou má, ao passo que opina mos
sobre o denado, 3 11 e a incom ensur abilid ade da diagon al e do lado
: nã? é o caso
· f.
qua dra do; tampo uco so bre coisas mu avezs,
' · 312 mas que ocorrem se-
que ela é, ou para quem é, ou como o é para _alguém
idade, pela
de formar uma opiniã o quant o a tomar ou evitar uma
corsa. E lou- gundo invari ável regula ridade determ inada pela necess
e não por 25 nature za ou por algum a outra causa, por
exemplo, os solscícios e
va-se a prévia escolha por sua relação com o objeto certo
de caráter
estar corretamente
306 relacio nada a ele, enqua nto a opiniã o por estar o nascer do sol; nem també m a respei to de ocorrências
ram] so-
verdadeiramente 307 relacionada ao seu objeto . E nós elegem os
(esco- variável, cais como secas e chuva s; [igual mente não delibe
tesour o. Com efeito,
lhemos) somente coisas que sabemos, do melho r modo , que são boas, bre os produ tos do acaso, como desco brir um
desco nhece mos compl eta- 30 nossa ação é incapa z de produ zir quaisq
uer dessas coisas . Delibera-
10 ao passo que opinam os so bre coisas que
na esfera de
mente. Tampouco são as mesm as pessoas as aurora s
das melho res mos sobre aquilo que está sob nosso contro le e que está
ainda resta
prévias escolhas e as forma doras das melho res opiniõ es,
uma vez que nossa ação ( aquilo que é, efetiv ament e, a única coisa que
313
es, e no en- para ser consid erada, já que natureza, necessidade e acaso, com
parece que alguns indivíduos forma m as melho res opiniõ
constituem
a inclus ão da inteligência e do agir huma no total,
escolh a é 31 4
tanto escolhem o indevido impeli dos pelo vício. Se a prévia
delibe ramos,
precedida ou acompanhada p ela opiniã o não nos impor
ta aqui, por- o elenco de causas admit ido geralm ente). Mas não
os human os
que não constitui o ponto que estam os exami nando , que é, nomea - tampo uco, indisc rimin adame nte sobre rodos os assunt
31 5 delibe ra sobre a melho r
d e opiniã o.
damente, se a prévia escolh a é idêntic a a algum a esp écie - por exemp lo: nenhu m lacede mônio
to parr~cu~ar
O que é então, ou que gênero de coisa é [e o qu e a caract
eriza] , forma de gover no para a Cícia. Mas qualqu er conjun
ad as? É eviden te 111 261 de pessoa s delibe ra a respei to do
que é realizável por su~s P:~pr'.as
já que não é nenhu ma das coisas acima menc ion
as ciencias
15
que é voluntária, mas nem tudo que é volun tário é escolh
ido. É ações. Adem ais, não existe delibe ração no que roca
e 1 - é o caso da orto-
e~tão definido mediante prévia deliberação ? º Com
O 3 8 efeito , a pré- q u e possu em exaci dão e p1ena rormu açao, como
via escolha não pre sem - e d e cerco proce sso menta1• De
· d e d e razao
fato , a prévia escolha parece ser sugen'd a pelo propn, . nome , que e'
. . . o 310.... ~OUÀ.l] ... (bule).
md1Cat1vo de alg uma coisa · . antes de outras. 309
lh ida . . ( .
esco 311. ... rnu Kocrµo u, ... (toykosmoy).
:30-: - =S-....-~ - - - -- . eJygem
ÀU~Etv ,, "'uye1v (Labem r:. . ) . 312 ....7tEpt TúlV EV Kt Vl]O'EL, ...
. ·)
(,peri ton en kmeset , so
b r e aqw·1 0 que implica mudan~ a mo
·, '+' ...
306 -... op0úlç... (orthos). vimenro).
313 .... ~ucr 1c; Kat avayK l] Kat tUXl], ... {jjsis kai anagke
kai tykhe).
307 .... UÀT)0úlç... (afethos).
314 ....vouc; ... (noys).
308. ...un upu YE t o rrpo~E0ou),wµ E vov·
309 ....rrpo Et Epúlv Utp (p ,... (afl ara ge to probebufeymenon;). 315. Espartano.
to a como uma
LIVRO I ft / 117
grafia,316 (com efeito, não ali~e ntam os dúvida~ quan investigar e anali sar como se e~tivesse analisando
uma figura geo-
s nas quais a nossa
palavra deva ser escrita). Delib eram os sobre coisa métr ica - de fato, parec~ que ~m~a que nem toda
investigação seja
ment e os mesmos re- deliberação
ação opera, não produ zindo , contu do, invar iavel deliberação , como na rn~est1gaçao matemática, toda
321
para ele e id enti·f·1eave] egaçao, m e icin a, escu tura, o qu~ 323. ...ou vam ... (dynata). .J • . eil11zi arkhe ton praxeon).
( o,
320 ....Ol)t El!OÀtnKoç El Wvoµ1av 7C~Ll1 324 · ... av0pwrroç e t vm apx·ri twv rrpal;Ecov, ... ,mtmop
· ,crEt,... ., ez· eynom ian poiesei) .
(utepo!it IR.Os
r
11 8 1 ÉTICA A N JCôMACO
/ 11 9
LI VRO Ili
tinha também que ser bom , quando no caso talvez acontecesse de ele co ncorre o objeto de deliberação e prévia escolha, segue-se que
alguém aspirar a alguma coisa má. E aqueles, por outro lado, que as ações que dizem respeito a esse meio são realizadas por prévia
5
20 afirmam que o que parece ser bem é o objeto da vontade são força- escolha e voluntárias. As atividades que veiculam as virtudes têm
dos a admitir que não existe naturalmente tal objeto, mas ap enas o a ver com os meios e, por conseguinte, a virtude também está na
' · Com efei. ·
que parece ser isso para cada indivíduo. Ora, coisas diferentes são esfera de nosso poder, o mesmo suce d en d o com o vicro. _
aparentes a indivíduos diferentes e se assim acontece aí estão in- to, onde somos livres para agir também somos livres para nao agir,
cluídas as coisas contrárias. ' .
e d 1zer nao '
- ou d 1zer • se, portan to , depende de nós realizar ale:o
sim; ..,
32 5, ...apxaiwv 7tOÀttEl ú)V ( kl · t . 329 .... a n Àwç µ Ev Kat Kat aÃ.ri0i::1av ... (aplos men kai kat alethei,m). . _
,... ar: Jazon P0 ztewn ), ou fo rmas de gove rn o antigas.
A i::a (omoios de kat pzkra
326. ... ot ya p ~UcrtÀEtç a rrpOEÀ
to aneggeLLon to demo).
.
otvt o UYTJYYEÀ.Àov t w OY]µw . ... (oi gar basileis a proelozn-
e
330 ....o µ o tü)Ç oE Kat mKpa Kat yÀuKW Kat i::pµ a Kat f-'ap ...
kai glykea kai therma kai barea) . ( .
327. ·--~OIJÀEIJttKT] OpE~tr (b l 'k . ' . ~ 1 r K<X KOV ~i::uyou cn v . ... a1-
-., .,... u eytz e orexzs) J3 1. ... mpouvrm ouv to ri ou wc; aya0o v, n1 v ui:: /\,unri v w.,
328 ....t QI) $atvoµEVOI) 0 .
aya OIJ ... (toy fainomenoy agathoy ). royntai tm to edy os agathon, tende lypen os kakon Jeygoysin ).
r LI VRO Ili / 121
120 1 ÉTI CA A N1CôMACO
o. Há
nobre, também depend e de nós não realiza r algo vil, e se
depend e gar-se, o que foi a causa da ignorâ ncia do que estava fazend
10
r gue també m puniçã o quanto à iono
a atos realiza dos devido b ranc1a , · de
de nós não realizar o gue é nobre, també m depen de realiza O .
333 am
é vil. Mas se depend er de nós realiza r e não realiza r o nobre 0
e algo presen te nas leis q~e as pessoa s deviam conhec er e poderi
outros
vil e se, como vimos, ser bom ou mau é realiza r o nobre
ou O vil 111 4ª 1 conhe cer sem qualqu er dificul dade; e assim por diante em
endo-
conseq uentem ente depend e de nós sermo s virtuo sos ou
viciosos'. casos nos quais a ignorâ ncia é atribuí da à negligê ncia, entend
que lhe
-se que não se justific ava a ignorâ ncia do indivíd uo uma vez
Afirmar gue ... cuidad o.
era possív el empen har-se no sentido de tomar o devido
ninguém é voluntariamente mau, como não é involuntariamente
15
É de se objeta r que calvez esse indivíd uo não seja O tipo de ho-
bem-aventurado o. Bem,
dizer: mem que se empen he no sentido de tomar o devido cuidad
... parece ser meio falso, ainda gu e meio verdad eiro, quer de
não é 0 mas se os própri os indivíd uos se tornam negligentes em função
ninguém, com efeito, hesita em ser bem -avent urado , mas dos como
2 5 uma vida neglig ente, devem ser por isso responsabiliza
caso de a maldade ser involun tária;-'-' se assim fo sse, teríam os gue atos
huma- o são por serem injusto s ou desregrados sempre que realizam
contradizer o qu e acabam os de declara r e afirma r que o ser coisas semelh antes. Adqui-
como oé maus ou passam o tempo em bebede iras e
no não é princípio -fundamento e gerado r d e suas ações, as
nossas rem um caráter particu lar devido a atividades constantes realizad
de filho s. Sendo eviden te, p orém , que somos os autore s de pela forma na qual in-
de uma maneir a particu lar. Isso é eviden ciado
20 própria s ações e incapa zes de fazê-las remon
tar a quaisq uer outros 334 ou seja,
di vídu os treinam para alguma compe tição de luta ou ação,
mes-
princípios-fun damen tos que não sej am aquele s dentro de nós praticam contin uamen te. Somen te uma pessoa inteira mente
desti-
ios-
mos, estamos autorizados a con cl uir qu e as ações cuj os princíp que são nossas atividades
10 tuíd a de percep ção é incapa z de perceb er
d ep end em de nós e
-fundamentos resid em em nós, elas própri as, em relação a coisas particu lares que geram nossa disposição
moral;
são voluntárias. o torna
p o rém, se um indivíd uo cientem ente age de um modo que
Isso parece ser arestado tanto p elas p essoas n a vid a privada injusto, é imperi oso dele dizer que é volunt ariame nte injusto .
ção
quanto pelos legislad ores; de fato , estes p un em e exigem retifica Além di sso, é ilraciona/3 afirma r que inexiste, da parte de
35 um
sob
daquele s que perpetr am o mal (excero qu and o é p erp etrado h o m em que ;1ge inj usta ou desreg radame nte uma vontad
e de ser
em o perpet rou não
compul são ou devido à ignorân cia, pelo q ue qu injusto o u d es regrad o. Isso, entreta nto, de modo algum signific a
25 é ~esponsável ); por outro lado, honram aquele s que reali zam ações e smente
qu e ele po de deixar de ser injusto e se tornar justo simple
ir os
fei_tos nobres, no propósito de estim ular estes últim os e reprim 15 po r aspirar a fazê- lo, não m ais do que o enferm o pode recupe rar a
pnme1 _ros· Ninguém , rod avia,
·
· tenra nos esnmu l ar a rea 1zar aqui•jo
l ·
possível
- e, vo j untari, a; co m ere1- e · saú de m ov id o pela vo ntade; neste último caso, porém , é
e de nós mesmos e qu e nao
que nao_ depend . qu e sua en fe rmidad e seja volunt ária, no sentido de ser devida a uma
to , nao parece haver pro \,eito· a1gum em ser persua d id o a não sennr médi-
vid a se m auroco ntrole e ao não acatam ento das orientações
calor, dor, fome ou coisa semelh an te, uma vez que não deixar emos , mas se desprez ou
[ b
30 em ª soluto] de semi-lo É d · , . cas. Ini cialmenre poderia ter evitado a doença
d . s. a m1ss1vel q ue algu ém seja p uni- sua chan ce, não é m ais possível, como quando jogais ao ar uma
pe-
. ,
o por sua ignorância nos ca sos nos qu ais e co n sid erad o respon -
, 1 . sois respons ável por a ter
dra, é imp ossível retomá -la, apesar do que
save por sua ignorân cia. or e ,
estava embriao d ' P _xemplo , a penalid ade é d o brada se ap anh ad o e arrojad o [ao ar], uma vez que o princíp io-fund amento
prio indivídu
ºªo, porque a on 0oem d 0 aro orens1v
d'
e .
o escava no p ro-
,
o, na me ida em qu e eIe po d eria ter evitad o emb ria- 331 ...e\' TO !(; voµo1ç,... (en tois nomois) .
332 ' 31.
. "•11 fü; µox817p1a êKOUcrt ov ( d -' , . .. a.yw vta.v TJ rrpa.çt v... (agonian epraxin).
,.
maldade é v0 luntaria... ... e emokhrhn i ek · )
11
oyszon : o u, al ternativa m en rc:, ...mas a
. 335- ... aJ .oyov ... (alogon).
~ mc;ANICôMACO LI VRO Ili / 123
desde que consciéntes das particulari dades em_ cada etapa do pro. Há quem, todavia, o chame de corajoso figurativa-
15 um impudente .
cedimento. Todavia, no que coca aos estados (disposiçõe s) ' emb ora
mente, porque ele é um pouco semelhante ao corajoso no sentido
ossamos controlar seu começo, cada etapa de seu desenvolvim ·
P . ento de que o corajoso também é destemido (não experimenta medo).
11 l Sal é imperceptível, como ocorre no desenvolv imento de uma doen Por outro lado, talvez não seja o caso de temer a pobreza ou a
· l '· 'd d d ça,
isso ainda que sepm vo untanos no senti o e que e nós depende doença ou, em geral, qualquer coisa não resultante do vício e que
utilizar nossas capacidades de uma forma ou de outra. não tenha nós mesmos como causa. Mas também não é corajoso 0
•
Mas retomemos [a discussão geral], considera ndo as várias vir- indivíduo destemido nessas coisas ( ainda que assim o chamemos
tudes, apontando a natureza de cada uma, qual a sua vinculação e 20 também, por analogia); com efeito, alguns homens que são covar-
qual a maneira em que esta ocorre. Ao procederm os a isso, deixare- des na guerra mostram-s e generosos quando se trata de dinheiro e
351
mos evidente, inclusive, quantas existem. encaram a perda da fortuna com firmeza; tampouco é um homem
covarde ao temer o insulto aosfilhos e aesposa, ou a inveja, ou coisas
353
do mesmo género; 352 nem corajoso se exibir autoconfiança na imi-
6 nência de suportar um açoitamen to.
~ais são, então, as coisas temíveis com as quais tem a ver o co-
354
f PRINCIPIEMOS PELA CORAGEM. Já foi mostrado que esta é a
346 25 rajoso? Será que com as maiores? Com efeito, sua firmeza diante
m~diania no tocante ao medo e a autoconfiança. 347 Está claro que as do perigo supera a de todos. A morte é o mais temível de tudo, por-
c~isas de que temos medo são coisas temíveis, o que significa dizer quanto é o desfecho, bem ou mal, passando a ser indiferentes para
simplesmente que sa·o 1 348 d
e mo d o que o me d o e,, me
maies,
·
· 1us1ve, o morto. Mas, mesmo a morte, não oferece em todas as circunstân-
. ·
io definido como expectativa do mal. 349 Portanto, temos medo de to- cias um a oportunid ade para a postura do corajoso - por exemplo,
, da ma, reputaçao,
das as coisas más - po r exempw, - da pobreza, da não qualificamos de corajoso o homem que encarou a morte num
doença, da falta de amiuo d 3so E naufrágio ou na doença.355 ~al a situação, então? Será a mais nobre
. ó s, a morte. ntretanco, não se pensa que
to das essas coisas dig . 30 delas? Ora, a mais nobre situação fatal é a da morte em batalha,
. am respeito ao corajoso; com efeito, há algu-
mas coisas que é certo e b [.
no re temer e mdusive] vil não temer, pois é encarada em meio ao maior e mais nobre dos perigos. E isso é
d ,
o que e exemplo a má re - . ' corroborad o pela prática segundo a qual honras são conferidas nas
um hom h d putaçao ou 1gnommia. Temê-la distingue
em onra o e que tem senso d e pudor; não temê-la reve1a democracias 356 e monarquia s [aos mortos em batalha].
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346.... Ka11tPúltov 1tEp1 avõpEta<;.... kai . 351. ... w0apcrcoç ... (eytharsos).
347.... $o~oç KUt 0a II' ( proton peri andreias).
Ed [ PPTJ, ... vobos kai tharr ) E 352 ....ouõE õ17 t: Lnç uPptv n t: pt nmõaç Kat yuvmKa ~0PE1w1, lJ ~eovov 'ln rwv
ui emo doravante mencionada p E eE... ]. mretamo, na sua famosa tabela da Ética ·a Wtou,wv, ôt: tÀoç s crnv... (ude de ei tis ybrin peri paidas kai gynaikaJobeit,zi, efihonon
no ogia distint or · · , 1220640 A · ,
, nstoteles emprega tan co term1-
(de 1tta ), covardiª guanto conceitos nã O exatamente ·d· · e ti ton toiuton, dei/os estin ).
essencial a; para 8app17 (thm-re) 0 i enncos : para ~o~oç (jobos ), ôt:tÀW
rnenre a rnesrn . , pacru,l]ç (th ) d d · ' 353 ....0appt:t... (tharrei). Mas essa nossa expressão parece não traduzir bem, pois a ideia aqui
vício (KUKta [k k· a, pois o sencimenc ( rasytes , temeri ade. A i eia e O
0 é de algo que cem a rigor peso negativo e não positivo (que é o que rransmire rermo
responde ao , .ª dza]) da covardia e aguei ºd 1ta oç ÍPathos]) do medo co rrespo nde ao
vicio a tern ·d e a aucoconfi' ( autoconfianç-a) . A ideia é mais de pura e simples ousadia ou temeridade.
348 .... KaKa (k en ade. iança excesso de confiança) cor-
... aka) 354.... ,a µ sytcr,a ... (ta megista), quer dizer, as mais remíveis.
34 9 .
, ... rrpocrooK 355 · ...Ev 0aÀanri TJ sv vocr0tç. ... (en thafatte e en nosois). Lireralmenrc: ...no mar 0 11 na
IUVKaKou r~
350 . ...01ov aoot .... v,rosdokian kak )
t -,1av llEv1a oy . doença ....
zan 1hanaton). VVocrov U$tÀ1a e v ava,ov ( . ,
356· ... EV ,aiç 1t011,t:cr1. . E ·j . Éd·fí 1 e·il rer cerreza aqui
,... oion adoxian penian noson aji- .. (en tais pofesi). LJteralmenre ... nos srat os...
se A · , 1 . .
,as c1dades-fara d os. d enrro (j0 1110 ddo greuo (como
n srore es alude genen camenre 1:>