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Análise Dimensional

Basicamente, a análise dimensional é um método para se reduzir o número e a


complexidade de variáveis que afetam um dado fenômeno físico, pela aplicação de uma
espécie de técnica de compactação.

Além de reduzir e agrupar as variáveis em forma adimensional, a análise traz


benefícios adicionais como:

• Economia de tempo e dinheiro,

• Ajuda no planejamento de um experimento ou teoria (reduzindo variáveis que


podem ser descartadas),

• Fornecimento de leis de transposição, que permitem converter dados de um


modelo pequeno em informação de um projeto grande. Quando essa lei de
transposição é válida dizemos que existe uma relação de semelhança entre o
modelo e o protótipo.

O princípio da homogeneidade dimensional

“Se uma equação exprime realmente uma relação apropriada entre variáveis em
um processo físico, ela será dimensionalmente homogênea; isto é, cada um de seus
termos aditivos terá a mesma dimensão.”

Parâmetros adimensionais comuns na mecânica dos fluidos

Equações diferenciais Normalizadas

Quando não é possível integrar as equações de um dado problema, podemos usá-


las para achar quais as variáveis que devem ser agrupadas em uma equação que
represente a solução do problema.
Exemplo para equação de Navier-Stokes

Comecemos escrevendo a componente x das equações de Navier-Stokes para o


regime permanente.

∂u x ∂u x ∂u x 1 ∂p  ∂2u x ∂2 u x ∂2 u x 
ux +uy +uz = g cos β − +ν  + + (1)

∂u ∂y ∂z ρ ∂x  ∂x ² ∂y ² ∂z ² 

Esta equação é dimensionalmente homogênea, cada termo tem a dimensão


[L/T²] integrando a eq. (1) temos:

u² p vu
=g − + ( 2)
L ρL L ²

A eq. (2) apresenta igualdade dimensional, mas não é numérica. Dividindo cada
termo por u²/L;
gL p v
1= − + (3)
u² ρu ² uL
A eq.(3) é apenas uma relação funcional e pode ser escrita como:
p gL v
= f( , )( 4)
ρu ² u ² uL
Aplicação

Vamos ver como a relação (4) pode ser útil no estudo de um escoamento sobre
um cilindro infinito

F 'D p F 'D
p= Eu = =
D ρu ² Du ² ρ

Sendo

2F 'D C
CD = (coeficiente de resistência) têm-se : Eu = D
ρu ² D 2

Como não há superfície livre de líquido, os efeitos da gravidade não são


importantes nesse escoamento, logo a relação:
p
= f ( Fr , Re) ⇒ Eu = f (Re) ⇒ C D = f (Re)
ρu ²

Uma vez que tenhamos determinado experimentalmente a curva de CdxRe, pela


medida da força de atrito em função da velocidade para um dado fluido e um dado
cilindro, esta curva pode ser usada para estimar a força de atrito para outros cilindros e
outros fluidos.

Embora o uso da análise dimensional não tenha dado uma relação explícita entre
as variáveis, a forma da equação foi limitada de modo a fazer com que sejam
necessários apenas alguns dados experimentais para permitir a solução completa do
problema.
Teorema Pi de Buckingham

Para facilitar a compreensão deste método de análise dimensional, vamos


estudá-lo passo-a-passo aplicado a um exemplo.

Passo 1: relacionar as variáveis do problema;

Esse é o passo mais difícil, pois para saber quais variáveis estão envolvidas no
experimento é necessário ter conhecimento teórico.

∆P = f (V , ρ, µ, d )

Passo2: exprimir as variáveis em função das dimensões básicas;

As dimensões básicas utilizadas em mecânica dos fluidos são (M, L, T) massa,


comprimento e tempo.

∆ p1 = [MT-2L-2]

D = [L]
ρ = [ML-3]
µ = [ML-1T-1]

V = [LT-1]

Passo 3: determinar número necessário de termos PI;

(número de variáveis envolvidas no processo – número de dimensões básicas)

Nesse exemplo: 5 – 3 = 2 termos pi

Passo 4: escolha das variáveis repetidas;

O número de variáveis repetidas é igual ao número de dimensões de referência.Todas as


dimensões de referência precisam estar incluídas no grupo de variáveis repetidas e cada
variável repetida precisa ser dimensionalmente independente das outras (ou seja, a
dimensão de uma variável repetida não pode ser reproduzida por qualquer combinação
de produto das variáveis repetidas restantes elevadas a qualquer potência).Resumindo,
as variáveis repetidas não podem formar um produto adimensional e devem conter
todas as dimensões básicas.

Nesse exemplo são: D, V, ρ

Passo 5: formação dos termos pi ;

O termo PI é formado pela multiplicação de uma variável não repetida pelo produto das
variáveis repetidas elevadas a um expoente que torne a combinação adimensional.

Nesse exemplo: Π 1= ∆ p1DaVbρ c

Passo 6: repetir passo 5 para variáveis não repetidas restantes;


Nesse exemplo: Π 2= µ DaVbρ c

Passo 7: verificar se todos os termos pi são adimensionais;

Passo 8: expressar o resultado como uma relação entre os termos pi obtidos.

Π 1 = φ (Π 2, Π 3, ... ,Π k-r)

Teorema de Rayleigh

Neste método a função: p = f ( L, u , ρ, µ, g , C , σ) é escrita arbitrariamente na


forma:

p = A.La u b ρc µd g e C f σ g , onde A é um constante

Como esta equação deve ser homogênea nas dimensões [M], [L], [T] é possível
escrever três equações simultâneas das dimensões e resolver para três expoentes, em
função dos outros quatro e do expoente arbitrário 1,0 de p.

p Lu ρ −d u ² −e u − f ρu ² L −g
Eu = = A( ) ( ) ( ) ( )
ρu ² µ Lg C σ

Onde d, f e g podem ser quaisquer valores. (Podem ser encontrados por MMQ)

Para tornar o resultado mais genericamente válido, a equação pode ser escrita
como:

Essa equação é idêntica ao resultado obtido para esse problema pelo método de
Buckingham.

Bibliografia

MUNSON, B. R., YOUNG, D. F., OKIISHI, T. H. “Fundamentos da Mecânica dos


Fluidos”, Trad. 2ª ed., cap. 7 páginas 358 – 401. Edgard Blücher, São Paulo 1997.

Bennet, C.O., Myers, J.E. “Fenômenos de transporte, quantidade de movimento, calor e


massa”, Trad. 1ª Ed., cap 13 páginas 177-192. McGraw-Hill do Brasil LTDA,
SãoPaulo, 1978.

White, F.M. “Mecânica dos Fluidos”, Trad 4ªed., cap.5 páginas 195-217. McGraw-Hill
do Brasil LTDA. Rio de Janeiro, 2002.

Potter, M.C., Wiggert, D.C. “Mecânica dos fluidos”, Trad. 3ª Ed., cap 6 páginas 193-
213. Thomson. São Paulo, 2004.

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