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CONSTRUÇÕES INTELIGENTES
E SUSTENTÁVEIS
© 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A.
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Editorial
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Daniella Fernandes Haruze Manta
Flávia Mello Magrini
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Mendes, Maria Estela Ribeiro


M538c Construções inteligentes e sustentáveis/ Maria Estela
Ribeiro Mendes – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A. 2018.
110 p.
ISBN 978-85-522-1318-5
1. Sustentabilidade e meio ambiente. 2. Desenvolvimento
urbano sustentável. I. Mendes, Maria Estela Ribeiro.
II. Título.
CDD 610

Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
CONSTRUÇÕES INTELIGENTES
E SUSTENTÁVEIS

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina............................................................................. 4

Tema 01.............................................................................................................5
Introdução às Smart Cities

Tema 02.......................................................................................................... 20
Ecossistema de Inovação

Tema 03.......................................................................................................... 40
Sustentabilidade e soluções em cidades inteligentes

TEMA 04.......................................................................................................... 53
Propostas para habitações autossuficientes

Tema 05.......................................................................................................... 73
As indústrias no cenário inteligente

TEMA 06.......................................................................................................... 89
Jardins filtrantes: uma tecnologia baseada na natureza

Tema 07........................................................................................................ 111


Sustentabilidade, resiliência urbana e o caso do centro de operações do rio de
janeiro (cor)

Tema 08........................................................................................................ 131


Os desafios para a construção das cidades inteligentes

Construções Inteligentes e Sustentáveis 3


►- Apresentação da disciplina

As smart cities, ou cidades inteligentes, são ambientes urbanos que são


monitorados, controlados e conectados, de alguma forma, à uma rede
de dados compartilhados. Essa funcionalidade é combinada com senso-
res estacionários e dispositivos móveis capazes de coletar e armazenar
dados, transformar em informações por meio do processamento digital
e transmitir o conteúdo para os habitantes de maneira a influenciar na
dinâmica social, econômica e ambiental da cidade. Essa base de dados
vinculada à tecnologia da informação passa a ser determinante para seu
desenvolvimento, representando uma nova ferramenta de construção e
dinâmica urbana, vinculada aos fluxos de informação como principais im-
pulsionadores de mudança. As cidades inteligentes utilizam a tecnologia
da informação e comunicação com o objetivo de melhorar a qualidade
de vida, a eficiência da operação urbana, os serviços e a competitividade
dentro dos fundamentos da sustentabilidade, atendendo, assim, às ne-
cessidades das gerações presentes e futuras por meio da resiliência.

Nessa disciplina serão apresentados os fundamentos das smart cities, bem


como os conceitos derivativos dessa inovadora concepção urbana, como:
arquitetura da informação, modelagem e simulação urbana, internet das
coisas, construções inteligentes, cidades responsivas, cidades compac-
tas e sustentabilidade urbana. O conteúdo será desenvolvido com foco
no planejamento urbano de smart cities por meio de quatro principais
pilares: pessoas e inclusão social, infraestrutura, tecnologia e serviços, e
meio ambiente.

4 Construções Inteligentes e Sustentáveis


TEMA 01
INTRODUÇÃO ÀS SMART CITIES

Objetivos

• Entender o conceito básico de cidades inteligentes.

• Identificar os critérios de caracterização das cidades


inteligentes e como a tecnologia da informação atua
na transformação da dinâmica social.

• Desenvolver a capacidade de argumentação crítica


em torno do conceito de sustentabilidade urbana e
cidades inteligentes.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 5


Introdução

As cidades inteligentes têm como meta oferecer aos seus habitantes alto
nível de qualidade de vida, ao mesmo tempo em que possui extremo con-
trole quanto ao consumo de recursos naturais, por meio de uma base
de dados interconectada com a infraestrutura urbana. O mapeamento
digital de malhas urbanas como transporte, saneamento, educação e se-
gurança, permite uma visão holística do ambiente, otimizando a interação
entre espaço, serviços e usuários. Em paralelo, o planejamento e desenho
das cidades inteligentes incorporam os princípios da sustentabilidade am-
biental, a fim de que os ganhos na qualidade de vida das pessoas não te-
nham uma abordagem antropocêntrica, mas seja resultado das relações
de equilíbrio estabelecidas entre os elementos do meio ambiente, consi-
derando: uso e ocupação do solo; autossuficiência (ou capacidade supor-
te das cidades); inclusão social; manutenção do ciclo da água; governança
e cultura/ regionalidade. Nesse contexto, podemos dizer que as cidades
inteligentes são cidades resilientes, ou seja, o ecossistema que compõe
determinado ambiente urbano é capaz de resistir a situações de crise por
choques externos e reorganizar as mudanças para adaptação, a tempo de
manter suas funções, estruturas, identidade e conexões (Hopkins, 2009)1.
Entretanto, como os dados e informações coletados, armazenados e pro-
cessados podem ser aplicados como uma ferramenta de desenvolvimen-
to sustentável no planejamento da cidade inteligente?

Ao longo dessa leitura, você entenderá que a maior ferramenta prove-


niente desse banco de dados é o valor inteligente que a tecnologia pro-
move para a cidade, impactando em suas dinâmicas político-administrati-
vas e socioambientais.

1
HOPKINS, Rob. The transition handbook: from oil dependency to local resilience. White River Junction, Vt:
Chelsea Green Pub, 2009.

6 Construções Inteligentes e Sustentáveis


1. Definição de smart city e caracterização de tecnolo-
gias para a sua implantação

Smart sustainable city, ou cidade inteligente sustentável tem as bases de


sua definição, segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT)2,
apoiadas no seguinte conceito:

Uma cidade inteligente sustentável é uma cidade que aproveita a infraestrutu-


ra de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) de uma maneira adap-
tável, confiável, ajustável, acessível, segura e resiliente para: melhorar a quali-
dade de vida de seus cidadãos; assegurar um crescimento econômico tangível,
como padrões mais elevados de vida e oportunidades de emprego, melhorar
o bem-estar, incluindo assistência médica, segurança física e educação; esta-
belecer uma abordagem ambientalmente responsável e sustentável que ‘aten-
da às necessidades de hoje sem sacrificar as necessidades das gerações futu-
ras’; dinamizar os serviços baseados em infraestrutura física, como transporte
(mobilidade), água, serviços públicos (energia), telecomunicações e setores de
manufatura; reforçar programas de prevenção de desastres naturais e antró-
picos, incluindo a capacidade de lidar com os impactos das mudanças climáti-
cas; e, por fim, proporcionar mecanismos regulatórios, de conformidade e de
governança eficazes e bem equilibrados, com políticas e processos adequados
e equitativos, de maneira padronizada (SECTOR, 2014, p. 13).

Dessa maneira, as cidades inteligentes são ecossistemas urbanos ino-


vadores caracterizados pela aplicação generalizada de Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs) na gestão de seus recursos, a fim de
promover a melhoria da qualidade de vida e infraestrutura urbana den-
tro dos princípios da sustentabilidade. Nesse modelo, a conectividade em
rede é fonte de desenvolvimento.

O termo smart city surgiu no final dos anos 90, resultado de um movimen-
to acadêmico em favor de novas políticas de planejamento urbano. Na

2
SECTOR, TELECOMMUNICATION STANDARDIZATION. Smart sustainable cities: An analysis of definitions:
Smart Sustainable Cities. [s.l.] : International Telecommunication Union’s (ITU), 2014.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 7


virada para o século 21, a expressão passou a ser usada por empresas de
tecnologia para definir a aplicação de sistemas de informação à integra-
ção de infraestrutura e serviços urbanos (Benites, 2016)3.

O desenvolvimento sustentável, por sua vez, tem um conceito amplamen-


te difundido com base na teoria de John Elkington, a Triple Botton Line
(3BL), ou tripé da sustentabilidade, no qual três dimensões precisam inte-
ragir para que seja caracterizado o desenvolvimento sustentável: pesso-
as, planeta e lucros. Na visão de Sachs (2015)4, o desenvolvimento susten-
tável é a interseção entre o desenvolvimento econômico, inclusão social
e sustentabilidade ambiental, todos administrados por um bom governo.

Historicamente, o avanço tecnológico foi responsável por um salto no de-


senvolvimento econômico. Ao mesmo tempo, foi também grande propul-
sor da qualidade de vida da população urbana, aumentando a expectativa
de vida. O desenvolvimento é importante, porém é preciso assegurar que
ocorra de maneira socialmente inclusiva, e ambientalmente sustentável,
para que o progresso não resulte em impactos negativos. Nesse sentido,
as cidades se tornaram foco de ação na elaboração de soluções, trans-
formando a maneira de gerenciar e planejar o espaço urbano como, por
exemplo, o movimento tic (encolhimento inteligente das cidades), com o
objetivo de formar uma “rede estratégica de núcleos policêntricos com-
pactos e densos, otimizando infraestruturas e liberando territórios ver-
des.” (LEITE; AWAD, 2012, p.14)5.

PARA SABER MAIS


Smart Decline é um movimento de encolhimento inteligente
das cidades, Shrinking Cities Movement, muito relacionado à
recuperação de vazios urbanos, terrenos vagos usualmente

3
BENITES, Ana Jane. Análise das Cidades Inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade. 2016. Mes-
trado–Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.
4
SACHS, Jeffrey. The age of sustainable development. New York: Columbia University Press, 2015.
5
LEITE, Carlos; AWAD, Juliana di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvi-
mento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre, RS: Bookman, 2012.

8 Construções Inteligentes e Sustentáveis


resultantes do processo de desindustrialização metropolita-
na do final do século XX. Reincorporar esses territórios re-
presenta compactar e refazer a cidade em vez de expandi-
-la. Com isso, é possível otimizar a infraestrutura, uma vez
que o consumo dos recursos per capita diminui à medida
que a cidade adensa. metropolitana do final do século XX.
Reincorporar esses territórios representa compactar e refa-
zer a cidade em vez de expandi-la. Com isso, é possível oti-
mizar a infraestrutura, uma vez que o consumo dos recursos
per capita diminui à medida que a cidade adensa.

Então como as cidades inteligentes colaboram na construção de cidades sus-


tentáveis? A contribuição está no uso da tecnologia como provedora de va-
lor inteligente para a cidade, impactando positivamente na gestão política,
administração e percepção do território, participação social e conectividade.
Dessa forma, podemos dizer que as TICs impulsionam o desenvolvimento
interconectado da cidade em interseção com o tripé da sustentabilidade.

LINK
Cidades Inteligentes é um conceito explicado pela pesquisa-
dora Dra. Larissa Suzuki, com ênfase na conectividade, de-
monstrando o poder de transformação do nosso dia a-dia.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Kqko-
ghq0G4A>. Acesso em: 10 maio 2018.

1.1 Armazenamento de dados e fluxo de informações

Os últimos anos do século XX foram marcados por dois importantes fe-


nômenos emergentes: a urbanização e a Tecnologia da Informação e

Construções Inteligentes e Sustentáveis 9


Comunicação (TIC). De maneira complementar, para lidar com o expo-
nencial crescimento urbano, novas medidas de planejamento e gestão
urbana vem sendo adotadas com base na tecnologia. Nesse contexto, fo-
ram desenvolvidas as TICs, que correspondem a um conjunto de recursos
tecnológicos integrados para promover a automação entre processos ur-
banos por meio da comunicação e conectividade em todas as suas etapas,
ou seja, as TICs são tecnologias capazes de coletar, armazenar, processar
e compartilhar dados (Townsend, 2013)6.

Importantes tópicos derivam desse conceito como, por exemplo, a Internet


das Coisas, em inglês Internet of Things (IoT), Computação em Nuvem e
Big Data. A IoT funciona como uma ponte entre o mundo real e o mundo
digital, interligando entidades físicas com dados digitais e estabelecen-
do um meio necessário para a troca de informações entre eles. Com a
Internet das Coisas abriram-se as possibilidades de desenvolver proje-
tos que conectam diversos objetos do mundo físico às informações em
tempo real. Esse processo pode ocorrer por meio de monitoramento por
sensores, GPS e aplicativos vinculados à dispositivos móveis (Kameyama
e Brito, 2016)7.

Em uma cidade inteligente, o máximo de dados possível é obtido por


monitoramento, integrando as atividades urbanas por meio da internet
(Figura 1). No norte da Espanha, por exemplo, as vagas para estacio-
nar o carro são monitoradas com sensores urbanos para identificar as
ruas com vagas livres naquele momento. Ao serem direcionados para
as regiões assertivas, os motoristas otimizam o uso do tempo, combus-
tível e o índice de trânsito é reduzido. As instalações de sensores em
espaços públicos, primeiro modificam o comportamento dos cidadãos
e, consequentemente, levam a modificações nas dinâmicas e infraestru-
turas urbanas.
6
TOWNSEND, Anthony M. Smart cities: big data, civic hackers, and the quest for a new utopia. First edition
ed. New York: W.W. Norton & Company, 2013.
7
KAMEYAMA, Alexander; BRITO, José Marcos Câmara. Aplicações de Internet das Coisas para Cidades Inteli-
gentes. Seminário de redes e sistemas de telecomunicações. [s. l.], Seminário de redes e sistemas de tele-
comunicações, p. 10, 2016.

10 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Figura 1–Cidades inteligentes, cidades monitoradas

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Fonte: adaptado de MARQUES; OLIVEIRA (2017, p. 18).

Os dados coletados pelos sensores e demais dispositivos de monitora-


mento são enviados para um determinado local para serem armazena-
dos e analisados. Posteriormente, são processados por algoritmos de
análise avançada e convertidos em informação compartilhada pela in-
ternet até as plataformas de comunicação em interfaces gráficas. Isso
acontece muito rápido, em tempo real. Uma tecnologia que permite o
acesso instantâneo à essa grande quantidade de dados coletados é a
computação em nuvem. A nuvem (Cloud of Things) é o ambiente virtual
de armazenagem e processamento dos dados que permite acesso re-
moto aos arquivos por meio da internet (Figura 2), não sendo necessário
ter um servidor físico ou um gerenciador de banco de dados, infraes-
trutura de cabeamento e demais equipamentos da informática in loco
(Longo et al., 2018)8.

8
LONGO, Antonella et al. Cloud Infrastructures, Services, and IoT Systems for Smart Cities Second EAI
International Conference, IISSC 2017 and CN4IoT 2017, Brindisi, Italy, April 20–21, 2017, Proceedings.
Cham: Springer International Publishing : Imprint: Springer, 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 11


PARA SABER MAIS
Os dados continuam sendo guardados em computadores,
mas fisicamente distantes, centralizados em locais específi-
cos do mundo. Esses locais seguros são conhecidos como
data centers e operados por empresas especializadas, de-
nominadas “provedoras de nuvem”. Dentre elas, Microsoft,
Salesforce, Skytap, HP, IBM, Amazon e Google.

Os dados são como a menor entidade da informação, pois ao relacionar


diversos dados conseguem informação que pode ser utilizada para pro-
moção de modificações nas dinâmicas urbanas. A informação, por sua
vez, é um material virtual que, quando associada e compreendida junto
aos padrões, gera o conhecimento sobre alguma causa. A transformação
de dados em informação e, posteriormente, em conhecimento, é uma das
atividades mais importantes em todas as culturas e sociedades. Essa ativi-
dade é crucial para o progresso da sociedade, principalmente nas cidades
inteligentes, uma vez que esse modelo tem o ponto central na coleta, ar-
mazenamento e transformação de dados em informação e conhecimento
como ferramenta para o planejamento urbano e gestão pública (Schmitt
et al., 2017)9.

Gerenciar esse extenso volume de dados para coleta de informações,


que vão fundamentar determinadas tomadas de decisões estratégicas,
deu início ao fenômeno do Big Data. Esse termo faz referência ao gran-
de volume, variedade e velocidade de dados, conhecidos como 3 V’s, que
precisam de formas inovadoras de processamento de informação para
melhor percepção e tomada de decisão. Isso significa que ferramentas
da informática permanecem em constante mineração dos dados para
garantir eficiência na estruturação da informação e posterior processa-
mento de ações como, por exemplo, o monitoramento de interesses para
9
SCHMITT, Gerhard et al. Big Data-Informed Urban Design. In: CAIRNS, Stephen; DEVISARI, Tunas (Eds.). [s.l.]
: Lars Müller Publishers, 2017. p. 113.

12 Construções Inteligentes e Sustentáveis


formação de perfil e oferecimento de serviços e produtos personalizados
(Laney, 2018)10.

Figura 2–Fluxo de informações em uma cidade inteligente


conectada pela IoT

INTERNET DAS COISAS

Ctoud & Sen,fces

CIDADE FAllilUCM
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HOSPITAL
r:NTB.IGENlE
O~si'liw.!i
lrilie!ligl!ntes
da Me.dirina
s· alilac:Ao
Digital lnterigerite 5istema
dl!Carros
A.uto matiudos

Fonte: <https://dcomercio.com.br/categoria/tecnologia/internet-das-coisas-o-mundo-conectado>.
Acesso em: 06 dez. 2018.

A utilização de Big Data em cidades inteligentes funciona como uma fer-


ramenta para o reconhecimento e análise de padrões ou detecção de
problemas, por meio de dados históricos e dados monitorados em tem-
po real, que permitem gerar previsões para diversos tipos de demandas,
possibilitando o planejamento de ações tanto por parte do cidadão quan-
to por parte do governo.

A gestão urbana, que faz uso de TICs no gerenciamento urbano, é capaz


de controlar questões relacionadas a eficiência energética, captação, re-
aproveitamento e fornecimento de água, bem como coleta e tratamento
de esgoto e resíduos. A tecnologia de redes inteligentes de energia (smart
10
LANEY, Douglas B. Infonomics: how to monetize, manage, and measure information as an asset for compet-
itive advantage. New York, NY: Bibliomotion, 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 13


grids), por exemplo, já em implementação no Brasil, representa um novo
sistema de distribuição de energia elétrica, com elevado grau de automa-
ção, precisão, controle e eficiência operacional.

ASSIMILE
A Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é um con-
junto de recursos tecnológicos integrados capaz de coletar
dados por monitoramento do meio físico, armazenamento
em ambiente virtual com acesso remoto (Computação em
Nuvem), conexão e compartilhamento em tempo real por
meio da Internet das Coisas (IoT) e, por fim, processamento,
análise e planejamento de ações por Big Data.

EXEMPLIFICANDO
Os modelos emergentes de cidades inteligentes apresentam
significativos investimentos em tecnologia e plataformas inte-
rativas que permitem a coleta, armazenamento e comparti-
lhamento de informações relacionadas a mobilidade urbana,
saneamento, chuva, qualidade do ar, da água e demais indi-
cadores. O acesso à informação em tempo real, por meio da
conectividade, permite maior controle e ação sob as deman-
das urbanas. Em Singapura, foi implementado um sistema
eletrônico de precificação das estradas Electronic Road Pricing
System (ERP), com o objetivo de controle e gestão do tráfego.
Basicamente, os motoristas são automaticamente taxados de
acordo com o uso de cada via, sendo que o valor varia em
regiões, horários e condições de trânsito. Todos os dados são
compartilhados em tempo real, por aplicativos, possibilitando
que os motoristas experimentem diferentes rotas ou horários
de viagens ou ainda transportes alternativos.

14 Construções Inteligentes e Sustentáveis


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Como foi visto, o conceito de IoT utiliza tecnologia para auxiliar na
gestão dos recursos públicos em uma cidade inteligente. Reflita sobre
as possibilidades de aplicação das TICs para promover o aumento da
qualidade dos serviços e infraestruturas urbanas nas áreas de segu-
rança pública, mobilidade, poluição, clima, iluminação e saneamento.

2. Considerações Finais

• As cidades inteligentes (smart cities), fazem uso de tecnologias para


otimização da infraestrutura e serviços urbanos, controle de impac-
to ao meio ambiente e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

• O mapeamento digital de malhas urbanas, como transporte, sane-


amento, educação e segurança, permite uma visão holística do
ambiente, integrando espaço, serviços e usuários, o que otimiza a
gestão pública.

• As cidades inteligentes são cidades sustentáveis, pois a tecnologia


contribui com valor inteligente para gestão da cidade, fundamen-
talmente pautado no tripé da sustentabilidade, assegurando que o
desenvolvimento econômico ocorra de maneira socialmente inclu-
siva e ambientalmente equilibrada, a fim de que o progresso não
resulte em impactos negativos.

• O fluxo de dados na cidade inteligente ocorre por meio da Tecnologia


da Informação e Comunicação (TIC), que é um conjunto de recursos
tecnológicos integrados capaz de coletar dados a partir do moni-
toramento do meio físico, armazenamento em ambiente virtual
com acesso remoto (Computação em Nuvem), conexão e compar-
tilhamento em tempo real, pela Internet das Coisas (IoT) e, por fim,
processamento, análise e planejamento de ações por Big Data.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 15


►- Glossário

• Cidade Inteligente – Smart City: cidade inovadora, que utiliza


Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e outros meios
para melhorar a qualidade de vida, a eficiência da operação urba-
na, serviços e a competitividade, garantindo que sejam atendidas
as necessidades atuais e das futuras gerações, respeitando aspec-
tos econômicos, sociais e ambientais.

• Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC): conjunto de re-


cursos tecnológicos integrados para promover a automação entre
processos urbanos por meio da comunicação e conectividade em
todas as suas etapas.

• Internet das Coisas – Internet of Things (IoT): ferramenta de co-


nexão entre entidades físicas com dados digitais, estabelecendo
um meio necessário para a troca de informações entre eles.

• Computação em Nuvem – Cloud Computing: ambiente virtual de


armazenagem e processamento dos dados que permite acesso re-
moto aos arquivos por meio da internet.

• Big Data: ferramentas inovadoras de processamento da infor-


mação para selecionar e organizar o grande volume, variedade e
velocidade de dados, permitindo melhor percepção e tomada de
decisão.

• Mineração de dados – mining: é o processo de explorar grande


volume de dados à procura de padrões, regras ou sequenciais. O
objetivo desse processo é montar subconjuntos de dados, organi-
zando as informações e reduzindo seu volume.

16 Construções Inteligentes e Sustentáveis


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 1
1. Quais das características abaixo é essencial para a existên-
cia de uma smart city?
a) Melhoria da qualidade de vida da população.
b) Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e
Internet das Coisas (IoT).
c) Interação entre a população e a computação em
nuvem.
d) Adequação da gestão pública para atender a Triple
Botton Line, ou tripé da sustentabilidade.
e) Conversão de dados em informação e implementa-
ção de Big Data.

2. Qual das opções melhor descreve os objetivos de uma


smart city:
a) Desenvolvimento da infraestrutura urbana.
b) Oferecer aos cidadãos aplicativos nos dispositivos
móveis para controle dos serviços urbanos.
c) Otimizar a qualidade de vida na cidade, com o menor
impacto sob os recursos naturais.
d) Interconectar a infraestrutura urbana, de forma inte-
ligente, por meio de tecnologias.
e) Disponibilizar internet para todos os cidadãos.

3. Qual das afirmações abaixo sobre Big Data é falsa?


a) A implementação de Big Data pode otimizar a eficiên-
cia de processos relacionados à gestão pública.
b) Essa ferramenta dá suporte à complexidade do

Construções Inteligentes e Sustentáveis 17


planejamento urbano por meio de previsões, que
auxiliam na tomada de decisões.
c) A tecnologia de redes inteligentes de energia (smart
grids) é um exemplo da aplicação de Big Data.
d) Big data é uma ferramenta de gestão de dados.
e) Big data é capaz de prever, com exatidão, padrões da
dinâmica urbana.

Referências Bibliográficas

BENITES, ANA JANE. Análise das Cidades Inteligentes sob a perspectiva da susten-
tabilidade. 2016. Mestrado–Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.
HOPKINS, Rob. The transition handbook: from oil dependency to local resilience.
White River Junction, Vt: Chelsea Green Pub, 2009.
KAMEYAMA, Alexander; BRITO, José Marcos Câmara. Aplicações de Internet das Coisas
para Cidades Inteligentes. Seminário de redes e sistemas de telecomunicações. [s.
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LEITE, Carlos; AWAD, Juliana di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades in-
teligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre, RS:
Bookman, 2012.
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Cities Second EAI International Conference, IISSC 2017 and CN4IoT 2017, Brindisi,
Italy, April 20–21, 2017, Proceedings. Cham: Springer International Publishing :
Imprint: Springer, 2018.
MARQUES, Fabrício; OLIVEIRA, Vinícius Garcia De. O Brasil da Internet das Coisas.
Revista Pesquisa FAPESP, [s. l.], n. 259, p. 18–27, 2017.
SACHS, Jeffrey. The age of sustainable development. New York: Columbia University
Press, 2015.

18 Construções Inteligentes e Sustentáveis


SCHMITT, Gerhard et al. Big Data-Informed Urban Design. In: CAIRNS, Stephen;
DEVISARI, Tunas (Eds.). [s.l.] : Lars Müller Publishers, 2017. p. 113.
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ties: An analysis of definitions: Smart Sustainable Cities. [s.l.]: International
Telecommunication Union’s (ITU), 2014.
TOWNSEND, Anthony M. Smart cities: big data, civic hackers, and the quest for a new
utopia. First edition ed. New York: W.W. Norton & Company, 2013.

Gabarito – Tema 01

Questão 1 – alternativa B:

O essencial para existência de uma cidade inteligente é a utilização


de TICs, conectadas em tempo real pela IoT. As demais opções são
complementares ou consequências desse modelo.

Questão 2 – alternativa C:

Conforme visto na questão anterior, o que caracteriza a smart city é a


utilização da tecnologia, entretanto, o objetivo é otimizar a qualidade
de vida respeitando os preceitos da sustentabilidade.

Questão 3 – alternativa E:

Embora a ferramenta Big Data possua algoritmos de análise avança-


da para processamento de dados e melhor percepção de padrões,
não é possível afirmar que suas previsões não falham.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 19


TEMA 02
ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO

Objetivos

• Apresentar a evolução dos espaços urbanos vincula-


dos às suas transições econômicas em um ecossistema
de inovação.

• Apresentar centros urbanos inovadores


bem-sucedidos.

• Entender como as cidades inteligentes são continua-


mente alimentadas por inovação.

20 Construções Inteligentes e Sustentáveis


►- Introdução

Ao longo da história, as relações socioeconômicas foram determinantes


para a formação do espaço e organização de suas dinâmicas urbanas. A
revolução industrial foi um marco para esse processo, sendo que, na fase
pré-industrial, as atividades estavam muito mais voltadas à ocupação do
território e práticas agrícolas isoladas para estabelecer as fronteiras polí-
tico-administrativas das nações.

Já o período pós-industrial abriu possibilidades para um mercado muito


mais sólido e integrado, impulsionando a urbanização e o desenvolvimen-
to dos sistemas de transporte, comunicação e interrelações sociais. Com
a consolidação do sistema capitalista, a economia estreitou suas diretri-
zes na produção e consumo, sem controle do impacto ambiental conse-
quente dessas ações.

Os problemas urbanos relacionados à poluição, tráfego, saúde e seguran-


ça, cresceram à medida que o capitalismo não sustentável avançou, apon-
tando a necessidade de repensar o desenvolvimento das cidades. Dessa
forma, na virada do milênio, a temática do desenvolvimento sustentável
ganhou força e passou a se integrar ao planejamento das cidades por
meio do Pacto do Milênio e, posteriormente, a Agenda 2030.

As cidades inteligentes surgem, nesse contexto, como um ambiente ino-


vador e articulador das mazelas urbanas, sendo que os conhecimentos
resultantes de cada interação inovadora são constantemente retroali-
mentados, compondo um ecossistema de inovação que promove o cres-
cimento simultâneo da economia, resiliência do meio ambiente e intera-
ções sociais.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 21


1. Evolução e inovação: a transformação das cidades

1.1 Formação de território e urbanização

A estrutura socioterritorial de uma cidade é composta pela mobilidade


populacional por meio das migrações, um fenômeno dinâmico e com-
plexo. Na maioria dos países a imigração foi vista como um processo ci-
vilizatório e a forma mais racional de ocupação das terras vazias, sendo
de grande importância para a formação da população e desenvolvimen-
to da economia.

Ao longo da história, as relações socioeconômicas foram determinantes


para a formação do espaço e organização de suas dinâmicas urbanas.
O período pré-industrial, por exemplo, tem como referência a economia
de atividades agrícolas destinadas à exportação, pautada em uma eco-
nomia marcada pela fragmentação regional, que, por sua vez, caracteri-
za um vínculo com a metrópole sem interrelações, havendo o isolamen-
to das forças de trabalho (Martine, 1990)1.

No Brasil, o processo de abertura das fronteiras agrícolas, migração ru-


ral-urbana, ganhou destaque devido a significativa dispersão territorial
na ocupação do espaço urbano em paralelo ao processo de industria-
lização, principalmente na criação do mercado urbano, estimulando o
desenvolvimento das indústrias. Ao contrário do período colonial, quan-
do estava em andamento um processo muito mais relacionado com a
formação de cidades do que de urbanização (visto que essas cidades
representavam núcleos espalhados no território brasileiro, como um ar-
quipélago, com relações econômicas e sociais ainda fracas e inconsis-
tentes), a partir da segunda metade do século XX as relações internas
ao território brasileiro começam a mudar, devido a economia voltada ao
mercado interno, o que impulsionou o desenvolvimento dos sistemas
1
MARTINE, G. As migrações de origem rural no Brasil: uma perspectiva histórica. In: Fundação SEADE. His-
tória e População: estudos sobre a América Latina. São Paulo: Fundação Seade, 1990.

22 Construções Inteligentes e Sustentáveis


de transporte, comunicação e principalmente as interrelações sociais
(Santos, 2013)2.

Com a solidificação do sistema capitalista, a concentração econômica es-


tava cada vez mais ligada à grandes empresas, Santos (2013)3 denomina
esse fenômeno de “urbanização das cidades coorporativas”, na qual a ma-
nutenção do poder estava atrelada ao controle do território por meio da
produção e consumo. Esse modelo alimentou a especulação imobiliária
e fez as cidades expandirem para uma ocupação territorial espraiada, de
alto impacto ambiental, em coexistência com os vazios urbanos nas áreas
centrais. A rápida expansão das cidades dificulta a administração, contro-
le e fiscalização do uso do solo; dessa forma, por mais que as Áreas de
Proteção Ambiental (APP) tenham resguardo legal, as ocupações ocorrem
muitas vezes sem controle (Almeida et al., 2004; Leite; Awad, 2012)4. É im-
portante ressaltar que:

No plano da distribuição dos espaços, o capitalismo não sustentável carac-


teriza-se pela simultânea degradação do meio ambiente e pelo aprofunda-
mento da desigualdade econômica (FIGUEIREDO, 2005, p. 69).

Os interesses econômicos são determinantes das formas de apropriação


e exploração do espaço. Nas primeiras décadas após a consolidação da
urbanização em território brasileiro, observou-se o crescimento econômi-
co a qualquer custo, resultando em grandes impactos ambientais nega-
tivos. As primeiras correntes voltadas ao urbanismo sustentável tiveram
início nos Estados Unidos no final do século XX, a partir de três movimen-
tos de reforma sociopolítica ambiental:

1. Smart Growth (crescimento urbano inteligente): voltado ao controle


do uso do solo e limites de expansão das cidades.
2
SANTOS, Mílton. A urbanização brasileira. 5. ed., 2. reimpr ed. São Paulo. SP: EDUSP, Ed. da Univ. de São
Paulo, 2013.
3
SANTOS, Mílton. A urbanização brasileira. 5. ed., 2. reimpr ed. São Paulo. SP: EDUSP, Ed. da Univ. de São Pau-
lo, 2013.
4
ALMEIDA, J. R. de et al. Política e planejamento ambiental. 3a ed. ed. Rio de Janeiro: Thex Editora, 2004. LEI-
TE, Carlos; AWAD, Juliana di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento
sustentável num planeta urbano. Porto Alegre, RS: Bookman, 2012.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 23


2. The New Urbanism (Novo Urbanismo): comprometido com as
reformas humanistas (habitação, saneamento e saúde), com o repla-
nejamento dos meios de mobilidade e com estilos arquitetônicos
quanto a “soluções racionais”.

3. U.S. Green Building Council - USGBC (construções sustentáveis certifi-


cadas): movimento que propôs um sistema de pontuação de acordo
com o desempenho e eficiência de uma construção por meio de
diversos aspectos de análise, conhecido como programa LEED
(Leadership in Energy and Environmental Design).

Com o objetivo de combater esse cenário insustentável, a nível mundial,


foi assinado, em setembro de 2000, um conjunto de compromissos pe-
los Estados-membros da ONU durante a Assembleia do Milênio, em Nova
Iorque: as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDMs), que com oito
objetivos multidisciplinares visaram alinhar o progresso mundial rumo ao
desenvolvimento sustentável por quinze anos. A partir desse momento, o
crescimento capitalista passa a ser um elemento do tripé da sustentabilida-
de – Triple Bottom Line – modificando a dinâmica expansionista das cidades.

Após quinze anos, ao final do prazo estipulado para o cumprimento das


ações listadas, as intenções foram renovadas. No dia 25 de setembro de
2015 foi aprovada a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável,
com novos dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e
169 metas relacionadas até 2030.

Figura 1 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

~
08] ETIV',' S
~,.~ SUSTENTAVEL
DE DESENVOLVI_MENTO

1 OODICACAO
OAPOBIU2A
2 fOMEl[RO IIO,I SAÜOE
3 [B(N-!SIAII 4 llOIJAIIDAll
EOOOICAO

24 Construções Inteligentes e Sustentáveis


8 CCRCSCIMCNIO
EMPRCGOOIGNO 9 l!OVACAOI
to)SJRIA. 10 RCOOOIODAS
DISIGUALOADCS
11 CCMUNIOAllS
QIJAD!S[
!CONOMICO ll'IRA!liTRUTURA SUSTCNTAVCIS

ffl & @ Affl~w


13 OOMJAl(,\S 14 VDAGUA
IOAIIIOAIXO 15 VIJ.ISOORI 16 !PAtJUSTICA 17 I\IRC[RIAS

·~
AllCRACOCS
lllllATr.AS
AllRRA IIISITil.lCOCS
fORTIS
EM PROL
DASMílAS
<:.?)
OBJETIVOS
~ @ OE OESENVOlYIMENTO
1 - ~: SUSTENTAva

1
,M♦+t

Acobor com o fome, olconço r o seguronço olimentor e melhoria do nutriçóo e promover o


ogrkuhuro sustentóvel

3
4• . . .
4
IUJI

Garantir diaponibHklod11 e mu1111j0 ..ishlntówsl da 6g11U e ~ poro todos

<> Goronfir oce<iso à energia borato, confi6vel, sustentável e renovável poro todos

fil
-.COl'ltll\llr'~f:ial -~OII\Cliftll~~,$,J111--ei
IDmeôlblF"o ~ •

Tomar as cidodes e os ossentomentos humanos inc.lvsivosr seguros, resilientes e sustentáveis

Construções Inteligentes e Sustentáveis 25


Proteger, IKIIJl8Rlr• ~ - o uso sllllelilcMII dos ecossist,_ llllnistnis, glllll' de fonna
•enldffl ás lo.-as, Ql/nbalerà ~ . deter e .--.ero def,rodoç6o do temi e dele, o
.,.d.o ci. bwd;,,,,rsilble

16
"-'
-=-

Fonte: Website ONU Brasil, s/d, disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>.


Acesso em: 06 dez. 2018.

PARA SABER MAIS


A Agenda 2030 é um plano de ação rumo à prosperidade, que
reconhece os principais desafios globais para humanidade e
para o planeta. Mesmo diante de sua dificuldade, os objetivos
são caracterizados como indispensáveis para o desenvolvi-
mento sustentável, ou seja, para que todos os seres humanos
possam desfrutar de uma vida próspera e de plena realização
pessoal, e que o progresso econômico, social e tecnológico
ocorra em harmonia com a natureza. Talvez a grande evolu-
ção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) te-
nha sido a leitura das políticas e ações nos âmbitos regional e
local, assim, leva em conta as diferentes realidades nacionais,
as capacidades e níveis de desenvolvimento, respeita as políti-
cas, culturas e prioridades de cada país ao mesmo tempo em
que dialogam universalmente em sua aplicação.

26 Construções Inteligentes e Sustentáveis


A sustentabilidade é um conceito de difícil aceitação e disseminação, pois
envolve mudanças nos hábitos de vida. Segundo Farr (2013)5, existem
mais chances de absorção da sustentabilidade quando incorporada por
meio de Códigos, Convenções e Restrições (CCR) – que podem até ser liga-
das à planos diretores e legislações municipais; implementada em parale-
lo aos programas de conscientização popular. Dessa maneira, as práticas
sustentáveis não são abandonadas ao longo do tempo e se transformam
em herança para a prosperidade.

EXEMPLIFICANDO
Singapura é uma cidade-estado reconhecida como smart city,
marcada pelas severas leis e regras que punem e ou restrin-
gem, de maneira rígida, o que para a maioria do mundo é
“normal”. Essa rigidez, na maioria dos casos, é utilizada como
uma ferramenta para manter a ordem e limpeza da cidade, e
quem descumpre as regras é multado e pode até ser preso.
Algumas proibições são:

• Venda de chiclete, devido ao ciclo de vida desse produ-


to, que acaba poluindo o meio ambiente.
• Jogar lixo no chão.
• Atravessar fora da faixa de pedestres.
• Comer ou beber dentro de transportes públicos
ou estações.
• Andar de bicicleta e fumar em lugares proibidos.
• Não dar descarga em banheiros públicos.
• Vandalismo, punido com chibatadas.
• Consumo ou venda de drogas, punido com pena de morte

5
FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável - Desenho Urbano Com A Natureza. Trad. Alexandre Salvaterra.
Brasil: Bookman, 2013.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 27


A tecnologia e o conceito de sustentabilidade são fatores que impulsiona-
ram a reconfiguração dos cenários econômicos e relações intersociais. As
cidades inteligentes surgem, nesse contexto, como um ambiente inova-
dor e articulador das mazelas urbanas, uma vez que, durante o processo
de urbanização, as cidades se formaram da maneira que foi possível, e
agora estão se adaptando ao melhor modo de viver, em equilíbrio com o
pilar da sustentabilidade e dentro das dimensões de performance ilustra-
das na Figura 2.

Figura 2 - Dimensões de performance das Cidades Inteligentes

• Service lntegration
• Private-P\Jblic Partnership Service • Service Oiversity
• Cooperation lnnovallon

...,
... ...

City
Smart --- • Sma11 Gteen Servioo

• llvlng Labs whhln lhe Cliy


• Start-up & Eoo-system
Promotlon Programs ......
• Start·UP & .....
Eco-system Dênslty Urban
Openness • Open Data Platform
• Seivlce Design

• Smart City Leadership


• Smart City Strategy • Mu ttlple Devlce Platforms
, Measurement of Penormanoo , Merger of Data Pla n (IDC)
• Smart City Devel0i)men1 / • Nelwork lnfrnstructure
Operatk>ns Processes (capacity, traffic)
• Types oi Natwork
(cabia / wiral..ss / sensor)

Fonte: Yonsei University, ISi Lab. (2017, p. 5).

28 Construções Inteligentes e Sustentáveis


1.2 Ecossistema de inovação

A inovação é um fenômeno resultante de ações que tem como produto


algo novo. No ecossistema de inovação, os conhecimentos resultantes
de cada interação inovadora são constantemente retroalimentados, am-
pliando o poder de conhecimento e acesso às informações. A concepção
sistêmica de inovações cíclicas confere à governança o poder de modi-
ficar o cotidiano dos habitantes, introduzindo novos serviços e produ-
tos baseados no uso da tecnologia e com alta capacidade de difusão e
compartilhamento.

O conceito de ecossistemas de inovação é baseado em exemplos bem-su-


cedidos de aglomeração, seja em termos geográficos, econômicos, indus-
triais ou empresariais. Dessa maneira, podem ser considerados ecossis-
temas de inovação tanto o Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos,
por abrigar grandes empresas de alta tecnologia; quanto plataformas de
TICs, como Iphone ou Android, e ainda cidades inteligentes, como será
apresentado a seguir.

São diversas as cidades que vêm aumentando sua inteligência com base
na utilização das TICs para melhorar a infraestrutura urbana, promo-
ver melhoria na qualidade de vida da população e alcançar o desen-
volvimento econômico sustentável. Em 2017, Nova Iorque foi eleita a
cidade mais inteligente do mundo, pela IESE Center for Globalization and
Strategy, juntamente com uma das maiores empresas de tecnologia: a
Cisco. A cidade implementou uma plataforma interativa, LinkNYC, que
converteu sistemas telefônicos públicos antigos em pontos de acesso
gratuito à internet por wi-fi. A cidade também inovou nas medidas de
eficiência energética, instalando sensores de presença para controle de
acionamento de luz em ambientes, como escolas. O controle do tráfego
também conta com sensores, utilizados para projeção de estatísticas,
análise e modificação dos padrões dos semáforos, dando maior fluidez
às vias com potencial para trânsito.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 29


Figura 3 - Modelo da plataforma LinkNYC e sua implantação em pon-
tos da cidade

Fonte: LinkNYC.com

Já no continente europeu, uma das cidades de maior destaque por sua


inteligência é Amsterdã, na Holanda. A cidade tem como principal meio
de transporte as bicicletas, mas não é só na área de mobilidade que o es-
forço inteligente da cidade se manifesta, são diversas atividades, projetos
e parcerias envolvidas no programa público-privado Amsterdam Smart City
(ASC), que abrange: mobilidade inteligente, habitação inteligente, socie-
dade inteligente, espaços públicos inteligentes, economia inteligente, Big
Data, e laboratórios vivos.

Inicialmente, o ASC teve foco em iniciativas que deixassem a cidade


mais verde, muito atreladas ao conceito de cidades biofílicas, junta-
mente com as primeiras correntes ecológicas do urbanismo sustentá-
vel (Farr, 2013)6. Na primeira década do novo milênio, as cidades inteli-
gentes estavam muito vinculadas a cidades climaticamente eficientes,

6
FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável - Desenho Urbano Com A Natureza. Trad. Alexandre Salvaterra.
Brasil: Bookman, 2013.

30 Construções Inteligentes e Sustentáveis


ou seja, o controle das emissões de gás carbônico juntamente com a
economia no consumo de energia, tiveram destaque nas estratégias
vinculadas ao uso de informações, inovação e o gerenciamento eficien-
te dos recursos.

PARA SABER MAIS


O termo biofilia é empregado pela Universidade de Harvard
para definir o quão conectado estão os serem humanos com
a natureza e outras formas de vida, assim, quando falamos
em cidades biofílicas, nos referimos a cidades que possuem
um desenho urbano que deixa seus habitantes praticarem
atividades diárias em contato com a natureza, ao mesmo
tempo em que preserva os recursos naturais e o meio am-
biente. O projeto biofílico em edifícios busca integração com
características naturais, como: luz, ventilação e vegetação
(Beatley, 2010)7.

A Holanda, também conhecida como terra dos moinhos de ventos, tor-


nou-se um dos países líderes no desenvolvimento de energia eólica. No
início de 2017, todos os trens elétricos do país passaram a ser movidos
por energia eólica, segundo a DutchNews.nl, são 2.200 turbinas eólicas
distribuídas pelo país, capaz de gerar energia suficiente para sustentar 2,4
milhões de casas. Toda essa energia também é destinada às estações de
recarga gratuita de carros elétricos distribuídas pela cidade, denomina-
das oplaadpunt, sendo que uma das ambições da nação é atingir 100% da
frota de carros elétricos até 2030, de acordo com os anúncios do governo
no jornal local NLTimes.

7
BEATLEY, Timothy. Biophilic Cities: Integrating Nature into Urban Design and Planning. [s.l.] : Island
Press, 2010.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 31


Figura 4 - Estação oplaadpunt, em Amsterdam

Fonte: <http://noun.com/>. Acesso em: 06 dez. 2018.

Juntamente com as melhorias na infraestrutura, foram desenvolvidos di-


versos aplicativos de monitoramento que integram as ofertas e deman-
das da cidade, propiciando o melhor uso da infraestrutura e tecnologia.
Por exemplo, a tecnologia BikeScout, que possui sensores nos postes e
ciclovias, capazes de captar a velocidade e direção das bicicletas para aler-
tar o motorista por meio de LEDs na estrada, quando o ciclista está a 50
metros, proporcionando uma travessia mais segura.

LINK
Sistema inteligente de alerta BikeScout, o vídeo mostra o mo-
nitoramento constante da velocidade e distância dos ciclistas
prestes a cruzar rodovias, acionando luzes LED no chão para
alertar os motoristas e promover uma travessia mais segu-
ra. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-kYJ-
CE1W7co>. Acesso em: 18 maio 2018.

Amsterdam possui ainda o projeto Living labs, ou laboratórios vivos, que


são espaços abertos ao público atrelados a programas comunitários para
que os cidadãos possam participar ativamente de soluções para os pro-
blemas urbanos. Por exemplo, o Laboratório de Cidadãos Inteligentes de

32 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Amesterdam, onde há participação social para conceber novas soluções
relacionadas a problemas de poluição sonora, visual e ambiental, pelo
programa “Inovação iniciada pelos cidadãos”. O acesso ao hardware aber-
to e plataforma de dados on-line, permite que os cidadãos colaborem
com engenheiros, designers e cientistas, a fim de obter soluções práticas
para uma Amsterdam mais saudável.

O Relatório do Índice de Cidades Inteligentes8 desenvolvido pelo


Laboratório de Inteligência do Sistema de Informação (ISi Lab), em 2017,
analisou as dez principais cidades inteligentes globais, onde cada conti-
nente apresenta iniciativas mais agressivas em determinadas áreas de
desenvolvimento. Como vimos em Amsterdam, a Europa está direciona-
da aos fatores experimentais, implementando ferramentas estratégicas
para participação ativa dos cidadãos. Na América do Sul, por exemplo, os
projetos de maior destaque estão relacionados à área de gestão ambien-
tal, como: prevenção contra desastres naturais, manutenção dos recursos
naturais, planejamento e gestão colaborativa para tomada de ações inte-
ligentes. Na América do Norte, as iniciativas atuam em melhorias gerais
de atividades urbanas, smart grid, aprimoramento de informações, aces-
sibilidade e valorização de ideias privadas criativas. Na Ásia, foram anali-
sadas ações destinadas a eficiente manutenção e controle das cidades, da
mesma forma; na África, as iniciativas são voltadas à eficiência e controle,
principalmente em termos de revitalização econômica, governança e in-
fraestrutura (ISi Lab, 2017)9.

As dez cidades analisadas foram: Amsterdam, Barcelona, Busan, Helsinki,


Londres, Nova Iorque, Paris, São Francisco, Seul, Singapura. O resultado
dessa análise aponta que os serviços relacionados às TICs estão, princi-
palmente, distribuídos na área de transporte (28,3%), cultura, turismo e
recreação (18,5%) e saúde e serviços sociais (10,4%). Esses temas, juntos,

8
Smart Cities Index Report 2017 - Analysis of 10 Global Smart Cities, Information System Intelligence Lab (ISi
Lab), Graduate School of Information, Yonsei University, Republic of Korea.
9
INFORMATION SYSTEM INTELLIGENCE LAB (ISI LAB). Smart Cities Index Report 2017 - Analysis of 10 Global
Smart Cities: Smart Cities. Republic of Korea: Graduate School of Information, Yonsei University, 2017.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 33


representam 57,2% de todas as onze categorias estudadas e ilustradas
na Figura 3. Dessas cidades, Londres, Seul e Nova Iorque apresentaram
maior diversidade, oferecendo serviços em todas as categorias. Muitas
cidades inteligentes precisam integrar e diversificar os serviços da cidade
por meio do equilíbrio entre os serviços públicos e privados, aumentando
sua capacidade de inovação (ISi Lab, 2017)10.

Figura 5 - Distribuição de serviços oferecidos nas dez smart cities analisadas


pela Yonsei University, no Relatório do Índice de Cidades Inteligentes de 2017

4%

7%

29%

20%
54%
4%
10%

18%

INFORMATION SYSTEM INTELLIGENCE LAB (ISI LAB). Smart Cities Index Report 2017 - Analysis of 10 Global
10

Smart Cities: Smart Cities. Republic of Korea: Graduate School of Information, Yonsei University, 2017.

34 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Categorias

Transporte
Energia e Meio Ambiente
Saúde e Serviços Socia is
31% Segurança Pública
Cultura, Turismo e Recreação
Habitação e Desenvolv imento
Governança
Outros
Educação
Demografi a
Negócios, Economia e Empregos

Fonte: INFORMATION SYSTEM INTELLIGENCE LAB (ISI LAB). Smart Cities Index Report 2017 - Analysis of 10
Global Smart Cities: Smart Cities. Republic of Korea: Graduate School of Information, Yonsei University, 2017.

ASSIMILE
Uma das principais conclusões que podemos tirar dessa aná-
lise é a importância da característica diversificada das cidades
inteligentes para a construção de um ecossistema de cidade
inteligente sustentável, ou seja, cidades retroalimentadas por
tecnologias da informação e comunicação cada vez mais inte-
gradas à participação social por meio dos laboratórios vivos.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Como foi visto, a Agenda 2030 propõe 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), listados na Figura 1. Reflita e relacione como
as ações das cidades inteligentes, ilustradas nos exemplos desse
tema, colaboram para atingir esses objetivos, seguindo as catego-
rias do Relatório do Índice de Cidades Inteligentes de 2017, listados
na Figura 5.

2. Considerações Finais

• No passado, o crescimento econômico foi determinante para a for-


mação, ocupação e uso do solo, bem como para a formação das

Construções Inteligentes e Sustentáveis 35


dinâmicas sociais nos centros urbanos que estavam se formando.

• O crescimento a qualquer custo, durante e após a revolução industrial


até o início do século XX, causou grandes impactos socioambien-
tais e passou a ser visto como insustentável pelos líderes mundiais,
principalmente após as primeiras correntes ecológicas pelo desen-
volvimento sustentável ganharem força nos Estados Unidos. Desde
então, sob organização da ONU, muitos países aderiram às metas
de sustentabilidade traduzidas em Metas de Desenvolvimento do
Milênio (MDM), até 2015; e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), até 2030.

• Na atualidade, incorpora-se ao desenvolvimento sustentável à ofer-


ta de melhoria na qualidade de vida e infraestrutura urbana, por
meio de TICs, consolidando a inteligência, responsividade e resiliên-
cia das cidades.

• A inovação é um fenômeno que dever ser constantemente retro-


alimentado, formando um ecossistema que amplia o poder de
conhecimento e acesso às informações, como foi apresentado em
exemplos bem-sucedidos de aglomerações urbanas.

Glossário

• Concepção sistêmica: aborda uma visão pautada em uma teia


de relações e interconexões, considerando os fenômenos como
interdependentes.

• MDM: Metas de Desenvolvimento do Milênio, assinadas no pacto


do milênio (2000 – 2015).

• ODS: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assinados na


Agenda 30 (2015 – 2030).

36 Construções Inteligentes e Sustentáveis


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 2
1. O ecossistema de inovação é melhor caracterizado por
quais palavras?
a) Inovação e movimento cíclico.
b) Desenvolvimento e meio ambiente.
c) Inovação e meio ambiente.
d) Economia e inovação.
e) Movimento cíclico e meio ambiente.

2. Qual das afirmações sobre os Objetivos de Desenvolvimento


Sustentável (ODS) é falsa?
a) Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em
todos os lugares.
b) Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas
as mulheres e meninas.
c) Construir infraestruturas resilientes, promover a indus-
trialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
d) Incentivar padrões de produção e de consumo que
alavanquem a economia a qualquer custo.
e) Proteger, recuperar e promover o uso sustentável
dos ecossistemas terrestres.

3. Qual das afirmações abaixo é verdadeira, com base na


Figura 5?
a) Paris é uma das dez cidades inteligentes estudadas
que apresenta maior oferta em serviços das catego-
rias cultura, turismo e recreação.
b) Londres, Seul e Nova Iorque apresentaram maior

Construções Inteligentes e Sustentáveis 37


diversidade de serviços dentre as demais cidades
inteligentes estudadas.
c) Todas as cidades apresentam serviços destinados à
negócios, economia e empregos.
d) Nova Iorque, Busan e São Francisco possuem maior
oferta em serviços inteligentes na área de transporte.
e) Londres, Amsterdam e Singapura apresentam a
mesma porcentagem de investimentos em gover-
nança inteligente.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, J. R. de et al. Política e planejamento ambiental. 3a ed. ed. Rio de Janeiro:


Thex Editora, 2004.
BEATLEY, Timothy. Biophilic Cities: Integrating Nature into Urban Design and
Planning. [s.l.] : Island Press, 2010.
FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável - Desenho Urbano Com A Natureza.
Traducao Alexandre Salvaterra. Brasil: Bookman, 2013.
FIGUEIREDO, G. J. P. de. A propriedade no direito ambiental. 2a ed. ed. Rio de
Janeiro: Esplanada, 2005.
INFORMATION SYSTEM INTELLIGENCE LAB (ISI LAB). Smart Cities Index Report 2017
- Analysis of 10 Global Smart Cities: Smart Cities. Republic of Korea: Graduate
School of Information, Yonsei University, 2017.
LEITE, Carlos; AWAD, Juliana di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades in-
teligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre, RS:
Bookman, 2012.
MARTINE, G. As migrações de origem rural no Brasil: uma perspectiva histórica. In:
Fundação SEADE. História e População: estudos sobre a América Latina. São Paulo:
Fundação Seade, 1990.

38 Construções Inteligentes e Sustentáveis


ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>.
Acesso em: 10 jun. 2018
SANTOS, Mílton. A urbanização brasileira. 5. ed., 2. reimpr ed. São Paulo. SP: EDUSP,
Ed. da Univ. de São Paulo, 2013.

Gabarito – TEMA 02

Questão 1 – alternativa A:

No ecossistema de inovação, os conhecimentos resultantes de cada


interação inovadora são constantemente retroalimentados, amplian-
do o poder de conhecimento e acesso às informações.

Questão 2 – alternativa D:

O correto seria “assegurar padrões de produção e de consumo sus-


tentáveis (ODS 12)”.

Questão 3 – alternativa B:

Análise da figura para eliminar as alternativas falsas, que não corres-


pondem às informações dadas nos gráficos.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 39


TEMA 03
SUSTENTABILIDADE E SOLUÇÕES EM
CIDADES INTELIGENTES

Objetivos

• Apresentar uma contextualização geral acerca dos


debates sobre sustentabilidade e desenvolvimento
sustentável.

• Descrever os fundamentos do ecodesenvolvimento


enquadrados por Ignacy Sachs.

• Refletir acerca do conceito de cidades inteligentes.

40 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Introdução

Conforme colocado por Romeiro (2003) o primeiro conceito acerca de


desenvolvimento sustentável surgiu no início da década de 1970, com o
nome de ecodesenvolvimento, em meio a uma controvertida relação en-
tre crescimento econômico e meio ambiente.

PARA SABER MAIS


O conceito de ecodesenvolvimento nasceu durante os anos 70
e foi ampliado pelo economista Ignachy Sachs, que defendia,
além da preservação ambiental, questões culturais, sociais e
econômicas. O ecodesenvolvimento é o conjunto de práticas
que estimula o desenvolvimento global desses diversos as-
pectos e as transformações do meio com a ajuda de técnicas
ecologicamente prudentes e que evitam o desperdício.

Acreditava-se que o déficit de recursos naturais seria superado por avan-


ços na área tecnológica. Esse pensamento ficou conhecido como susten-
tabilidade fraca, por não entender que alguns recursos naturais não po-
dem ser substituídos pela ação humana.

Segundo a corrente neoclássica, a redução da degradação ambiental se-


ria sanada por meio de mecanismos de mercado. Assim, se uma determi-
nada matéria-prima correntemente comercializada está em falta, o preço
é elevado, forçando os fabricantes a inovar, reduzindo os seus custos,
sendo assim possível substituir o recurso natural escasso por outro abun-
dante (Kamogawa, 2003) 1.

1
KAMOGAWA, Luís Fernando Ohara. Crescimento econômico, uso dos recursos naturais e degradação am-
biental: uma aplicação do modelo EKC no Brasil. 2003. Mestrado - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 41


1. A Sustentabilidade no debate contemporâneo

Na década de 70, iniciou-se o debate sobre a questão ambiental. Em 1972,


a conferência da ONU, realizada na cidade de Estocolmo, na Suécia, foi o
marco inicial das problematizações globais sobre as mudanças climáticas
e seus efeitos implicados na humanidade. O foco do evento foi buscar a
cooperação dos agentes internacionais.

Anos mais tarde, em 1992, as Nações Unidas promoveram a Cúpula da


Terra, realizada na cidade do Rio de Janeiro, ficando conhecido como ECO
92 ou RIO 92, prolongando o debate iniciado duas décadas atrás. O pilar
da conferência foi a consolidação do termo desenvolvimento sustentável.

Com os crescentes desastres ambientais e a escassez de recursos sendo


divulgada pela mídia, ”uma nova conscientização ambiental aflorou na so-
ciedade“ (GUARNIERI, 2011, p. 21)2 e, esta passou a cobrar dos governos
e empresas um posicionamento quanto às questões ambientais. É impor-
tante ressaltar que:

As primeiras iniciativas na definição de soluções para o problema dos im-


pactos ambientais causados pelo homem começaram a surgir e impulsio-
naram as empresas a buscar medidas sustentáveis em sua produção, com
investimentos em ações para reduzir a poluição, a energia, os desperdícios,
substituir matéria prima não renovável por renovável, reaproveitamento de
resíduos gerados nos processos produtivos e comercializa-los (GUARNIERI,
2011, p.21 e 22).

De acordo com CAVALCANTI (1998, p. 165),3 o conceito de sustentabilida-


de significa a existência da “possibilidade de se obterem continuamente
condições iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus
sucessores em dado ecossistema”.
2
GUARNIERI, Patrícia. Logística Reversa em busca do equilíbrio econômico e ambiental. Recife: Ed. Clube
de Autores, 2011.
3
CAVALCANTI, C. Sustentabilidade da economia: paradigmas alternativos da realização econômica. In: CA-
VALCANTI, C. (org). Desenvolvimento e natureza: estudo para uma sociedade sustentável. 2a ed. São Paulo:
Cortez; Recife, PE: Fundação Joaquim Nabuco. 1998a.

42 Construções Inteligentes e Sustentáveis


A partir do entendimento de Sachs (2002), pode-se entender o conceito
de desenvolvimento sustentável como uma conjugação e articulação de
objetos sociais, ambientais e econômicos, com o objetivo de racionalizar
a utilização dos recursos naturais em prol da sociedade.

PARA SABER MAIS


Ignachy Sachs nasceu em 1927, na Polônia, e depois foi natu-
ralizado francês. Formou-se em Economia, pela Faculdade de
Ciências Econômicas e Políticas do Rio de Janeiro. Participou,
em 1972, da criação do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA). É autor de mais de vinte livros so-
bre desenvolvimento e meio ambiente e formulou o conceito
de ecodesenvolvimento, de onde surgiu a expressão desen-
volvimento sustentável.

1.1 As Oito Dimensões da Sustentabilidade

Ignacy Sachs foi um dos pioneiros nas investigações acerca da influência


tecnológica no âmbito da sustentabilidade. Sua obra fundamentou con-
ceitos amplamente utilizados como os de “tecnologias adaptadas” e “tec-
nologias desadaptadas”, por exemplo.

LINK
Artigo apresentado no projeto Simulação das Nações Unidas
para Secundaristas (SiNUS), da Universidade de Brasília (UnB),
em 2013, sob o tema: CIDADES SUSTENTÁVEIS: Lidando com
a urbanização de forma ambiental, social e economicamente
sustentável. Disponível em: <http://www.sinus.org.br/2013/
wp-content/uploads/2013/03/17.-PNUMA-Artigo.pdf>.
Acesso em: 05 jul 2018

Construções Inteligentes e Sustentáveis 43


Originalmente, esse estudioso formulou cinco dimensões a partir das
quais se pode compreender o fenômeno da sustentabilidade e formular
um plano de ecodesenvolvimento que possa contemplar os principais de-
safios esperados. Essa abordagem parte de um esforço de considerar o
desenvolvimento sustentável como uma realidade pluridimensional, que
integra e admite diferentes perspectivas e concepções. Com o desenvolvi-
mento de seu pensamento, entretanto, as cinco dimensões se desdobra-
ram em oito dimensões transcritas a seguir (SACHS, 2002, p. 85-89)4:

1. A dimensão social refere-se aos impactos advindos do desenvolvi-


mento econômico que reverberam na sociedade. Nesse paradigma
devem ser consideradas as possibilidades de desenvolvimento
humano dentro da sociedade, tais como a distribuição de renda,
condições laborais e homogeneidade social.

2. A dimensão cultural leva em consideração as dificuldades de se


implantar políticas e tecnologias ambientalmente conscientes em
sociedades que apresentem resistência à adoção das mesmas.
Assim, como colocado por Sachs, é importante salientar que a inova-
ção tecnológica adaptada às necessidades ambientais não significa,
necessariamente, uma destruição ou perda do ambiente cultural
vigente, constituindo-se apenas como um acréscimo ou agregação
de uma dimensão ambiental em tradições já consolidadas.

3. A dimensão ecológica volta-se, por sua vez, para a escassez dos


recursos naturais, em especial dos combustíveis fósseis. O autor
salienta a necessidade de operar uma substituição na utilização de
recursos naturais não renováveis para recursos renováveis (como a
biomassa, por exemplo).

4. A dimensão ambiental apresenta uma conexão profunda e funda-


mental com a dimensão ecológica, mas coloca em pauta questões
de amplitude mais abrangente. Assim, ao formular-se um plano de

4
SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

44 Construções Inteligentes e Sustentáveis


desenvolvimento que contemple a perspectiva ecológica, é necessá-
rio também abordar as consequências direcionadas aos ecossistemas
naturais, bem como os setores produtivos que precisam ser adapta-
dos ou reformulados em função da capacidade de recuperação dos
recursos envolvidos. Essas questões se enquadram na perspectiva
ambiental e são fundamentais para que o plano ecológico seja pen-
sado em um horizonte temporal mais distante e mais maduro.

5. A dimensão territorial contempla questões de planejamento urba-


no e rural, buscando o equilíbrio entre as duas estruturas por meio
de planejamento governamental. Na área rural, o autor defende o
aumento de investimento em infraestrutura; na área urbana, defen-
de a articulação para que os centros produtivos sejam alocados em
áreas de fácil recuperação dos recursos naturais.

6. A dimensão econômica é um dos aspectos mais fundamentais para


o desenvolvimento sustentável, uma vez que aborda uma realida-
de que afeta a vida da população de maneira intrínseca e imediata.
Sachs coloca que o desenvolvimento sustentável deve se estrutu-
rar economicamente sobre uma harmonização e coesão entre os
diversos setores produtivos, com foco em diminuir as consequên-
cias negativas da distribuição imperfeita de renda, e levando em
consideração as inovações tecnológicas a serem incorporadas nos
setores como forma de atingir um crescimento econômico inclusivo
e viável a longo prazo.

7. A dimensão da política interna diz respeito às políticas internas de


um país, estruturadas segundo suas necessidades específicas e cir-
cunstanciais, por meio de uma democracia participativa que pudesse
dar voz aos interesses da população.

8. A dimensão da política externa refere-se à atuação conjunta entre


países no sentido de garantir uma harmonia internacional em rela-
ção às políticas de desenvolvimento sustentável. Assim, a intenção

Construções Inteligentes e Sustentáveis 45


é formalizar acordos e planos de desenvolvimento que contemplem
a ajuda mútua entre países com diferentes níveis de infraestrutura.
Essa dimensão visualiza a questão da sustentabilidade como uma
herança global que capta o interesse de todas as nações, exigindo a
necessidade de tratados internacionais que garantam a cooperação
entre os países para a sua concretização.

1.2 Soluções Sustentáveis para as Demandas Urbanas

Sachs (2002)5 aponta que o planejamento urbano pautado em crescimen-


to econômico contradiz, fundamentalmente, a ideia mesma de desenvol-
vimento sustentável, sendo necessário operar uma mudança de perspec-
tiva e começar a pensar o crescimento urbano como uma variável deter-
minada pela disponibilidade de recursos naturais renováveis.

EXEMPLIFICANDO
A empresa Faber Castell é considerada modelo na utilização
sustentável de recursos. Além de ter certificação de manejo
florestal responsável, a empresa recebeu uma certificação
que garante sua neutralidade quanto à emissão de gás car-
bônico. Além disso, desenvolveu uma tecnologia de verniz à
base de água que não agride o meio ambiente e tem a políti-
ca de reutilizar os resíduos da madeira utilizada para a fabri-
cação de seus produtos, a fim de gerar energia na forma de
vapor. Possui também programas socioambientais próprios,
como o projeto Animalis, que há vinte e quatro anos moni-
tora e identifica os animais que vivem dentro dos parques
florestais da empresa.

5
SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

46 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Progressivamente, o crescimento urbano torna-se um problema com
consequências ambientais perceptíveis, como, por exemplo, o aumento
da emissão de CO2). Dessa forma, é necessário que as percepções com
base no planejamento das cidades sejam transformadas e produzam am-
bientes urbanos sustentáveis, com o objetivo de prover bons padrões de
vida para seus habitantes, sem prejudicar de maneira profunda os me-
canismos ambientais que a sustentam. Afinal, toda cidade tem por base
de sustentação os recursos da geografia natural e por isso mesmo deve
planejar e reformular sua utilização com parcimônia e ponderação.

ASSIMILE
Com o objetivo de promover a redução na emissão de gases,
causadores do efeito estufa, foi estabelecido em Kyoto, no
Japão, no ano de 1997, o chamado Protocolo de Kyoto, que é
definido como um acordo internacional entre os países inte-
grantes da Organização das Nações Unidas (ONU). O Protocolo
entrou em vigor a partir de 2004, sendo que o primeiro com-
promisso de metas não foi bem-sucedido entre 2005 e 2012.
Suas diretrizes tiveram o intuito de amenizar o impacto dos
problemas ambientais causados por indústrias e afins. No se-
gundo período do compromisso, entre 2013 e 2020, o plano
manteve o objetivo de enfrentar o aquecimento global.

No entanto, não se pode ignorar o fato de que essa responsabilidade não


recai apenas sobre os governos ou grandes corporações. Os esforços no
sentido de tornar as cidades mais inteligentes e sustentáveis partem de uma
visão de longo prazo, integrada na própria população, que será, em última
instância, a maior beneficiada com qualquer programa dessa natureza.
É essencial voltar às inovações tecnológicas para que o consumo dos recur-
sos na vida urbana seja reestruturado de forma a permitir um crescimen-
to que não provoque reverberações negativas para a mesma estrutura

Construções Inteligentes e Sustentáveis 47


que o sustenta. Para tanto, as cidades inteligentes devem utilizar fontes
alternativas de energia, priorizando a utilização de recursos renováveis.
Além disso, também devem prezar pelo uso do transporte coletivo, imple-
mentar campanhas de conscientização para promover a reciclagem, bem
como reduzir o desperdício e a poluição. Com a conjunção de um plane-
jamento urbano bem estruturado e as ferramentas tecnológicas disponí-
veis no mercado, deve-se buscar atingir uma sociedade que se desenvol-
ve sem comprometer o futuro de seus cidadãos.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Leia o texto abaixo:
O termo cidade inteligente surgiu na década de 90 para designar novas
políticas de planejamento urbano que emergiram com o avanço tecno-
lógico, sendo posteriormente adotado por empresas de base tecnológi-
ca para promover serviços e produtos com foco na gestão da infraestru-
tura urbana. Trata-se de um espaço urbano que utiliza a tecnologia para
melhorar a eficiência econômica e política e amparar o desenvolvimen-
to humano e social, aumentando a qualidade de vida de seus cidadãos.
Entretanto, sendo a cidade um sistema complexo e que se transforma
constantemente, é essencial definir parâmetros e indicadores com base
nesse conceito, os quais possam ajudar a avaliar as perspectivas para
desenvolvimento urbano inteligente de cada local (DEPINÉ, 2018, p. 1).

Nesse contexto, seria possível avaliar as cidades inteligentes sob as


oito dimensões da sustentabilidade apresentadas por Sachs?

2. Considerações Finais

• A sustentabilidade como ideal, tanto para as sociedades quanto


para as organizações, adquire um papel cada vez mais importante
na medida em que os recursos naturais são esgotados.

6
DEPINÉ, Ágatha. As dimensões de uma cidade inteligente. VIA - Estação Conhecimento, 2018. Disponível
em: <http://via.ufsc.br/as-dimensoes-cidade-inteligente/>. Acesso em: 18 jul 2018.

48 Construções Inteligentes e Sustentáveis


• O crescimento urbano desenfreado, aliado à falta de planejamen-
to e direcionamento para a sustentabilidade, cria mazelas sociais
profundas.

• A sustentabilidade, para ser encarada em toda a sua amplitude,


pode ser dimensionada em oito pontos de vista diferentes que lidam
com realidades distintas, porém possuem o mesmo direcionamen-
to em comum.

• É preciso reformular o planejamento urbano das cidades, a fim de que


essas oito dimensões possam ser contempladas de maneira equâ-
nime e com a minúcia necessária para produzir ambientes urbanos
menos agressivos aos ecossistemas dos quais dependem, além de
proporcionar uma qualidade de vida melhor aos seus habitantes.

Glossário

• Biomassa: a biomassa (massa biológica) é a quantidade de matéria


orgânica produzida pela decomposição de materiais como esterco,
madeira, resíduos agrícolas e restos de alimentos, numa determi-
nada área de um terreno. A biomassa é capaz de gerar gases que
são transformados em energia renovável e com baixa quantidade
de poluentes.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 3
1. O conceito de desenvolvimento sustentável é comumen-
te utilizado, de maneira generalizada, a fim de trans-
mitir as ideias de preservação dos recursos naturais.
Especificamente, entretanto, o conceito significa:

Construções Inteligentes e Sustentáveis 49


a) A ampliação das atividades econômicas como manei-
ra de conservar os elementos naturais.
b) Medidas para a diminuição do crescimento popu-
lacional e das áreas urbanas como maneira de
desacelerar a degradação da natureza.
c) A ampliação de campanhas de conscientização para
garantir o desenvolvimento econômico e urbano.
d) Relegar as atividades industriais e econômicas a
segundo plano, como forma de reconstruir a prima-
zia da natureza.
e) O planejamento do crescimento e desenvolvimen-
to econômico, de maneira que não comprometa os
recursos naturais para as gerações futuras.

2. Quais dessas alternativas NÃO demonstra uma promoção


correta do desenvolvimento sustentável:
a) Reduzir a utilização de combustíveis fósseis.
b) Optar sempre pela utilização de recursos naturais
renováveis, como a energia eólica ou solar.
c) Promover a agricultura orgânica.
d) Conservação das florestas e práticas de
reflorestamento.
e) Ampliar as áreas de cultivo em larga escala.

3. Com relação ao desenvolvimento sustentável, é possível


afirmar que:
a) É um conceito nascido em debates ideológicos, que
propõe um desenvolvimento social pautado na pre-
servação da natureza.
b) É um conceito pluridimensional que fornece uma

50 Construções Inteligentes e Sustentáveis


alternativa aos modelos antigos de desenvolvimento.
c) É um conceito nascido na área de biologia e, portan-
to, não deve ser inserido em debates nas áreas de
Economia e Sociologia.
d) É um conceito que traz discordância insuperável e
definitiva com o sistema capitalista.
e) É um conceito que evidencia incompatibilidade fun-
damental com o desenvolvimento econômico das
nações.

Referências Bibliográficas

CAVALCANTI, C. Sustentabilidade da economia: paradigmas alternativos da realiza-


ção econômica. In: CAVALCANTI, C. (org). Desenvolvimento e natureza: estudo para
uma sociedade sustentável. 2a ed. São Paulo: Cortez; Recife, PE: Fundação Joaquim
Nabuco. 1998a.
DEPINÉ, Ágatha. As dimensões de uma cidade inteligente. VIA - Estação
Conhecimento, 2018. Disponível em: <http://via.ufsc.br/as-dimensoes-cidade-inteli-
gente/>. Acesso em: 18 jul 2018.
GUARNIERI, Patrícia. Logística Reversa em busca do equilíbrio econômico e am-
biental. Recife: Ed. Clube de Autores, 2011.
KAMOGAWA, Luís Fernando Ohara. Crescimento econômico, uso dos recursos
naturais e degradação ambiental: uma aplicação do modelo EKC no Brasil. 2003.
Mestrado - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
ROMEIRO, A. R. Economia ou Economia Política da Sustentabilidade. In: Economia do
Meio Ambiente: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.  
SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro:
Garamond, 2002.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 51


►- Gabarito – Tema 03

Questão 1 – alternativa E:

O desenvolvimento sustentável não se opõe às atividades econômi-


cas que movimentam a vida financeira das pessoas, mas pretende
apenas torna-las menos agressivas aos recursos naturais.

Questão 2 – alternativa E:

A ampliação de áreas de cultivo agrícola se dá em função da destrui-


ção de regiões naturais. Assim, essa prática nem sempre pode ser
vista como sustentável.

Questão 3 – alternativa B:

Os ideais que embasam a ideia de desenvolvimento sustentável são


de caráter multidisciplinar e não podem ser reduzidos a apenas uma
disciplina ou área de conhecimento.

52 Construções Inteligentes e Sustentáveis


TEMA 04
PROPOSTAS PARA HABITAÇÕES
AUTOSSUFICIENTES

Objetivos

• Fundamentar o contexto relacionado a construções


sustentáveis.

• Apresentar alternativas sustentáveis para a constru-


ção civil de habitações verdes.

• Apresentar técnicas de tratamento e reuso de


águas in loco.

• Desenvolver conhecimento sobre meios para atingir


eficiência energética.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 53


Introdução

As sociedades contemporâneas apresentam uma visão de mundo frag-


mentada, sendo que os principais problemas urbanos tendem a ser tra-
tados de maneira isolada. No entanto, a maioria desses problemas es-
tão interligados, sendo necessária uma visão holística nas propostas de
solução. A sustentabilidade traz esse panorama abrangente, conectando
diversas dimensões para se chegar ao desenvolvimento por inteiro.

Os discursos acerca da habitação permeiam desde os aspectos físicos,


e uso do solo, até o déficit habitacional sob os aspectos sociais. O fato é
que na maioria dos países encontramos problemas relacionados a ques-
tão habitacional e falar sobre habitações sustentáveis inclui falar sobre as
diversas dimensões da sustentabilidade, considerando tanto a ecologia e
economia, quanto cultura, regionalidade, política, território etc.

As questões de moradia não podem se restringir apenas ao custo, buscan-


do o menor orçamento possível, devem também visar melhor qualidade
de vida, além de proteção ao meio ambiente e respeito às raízes culturais,
regionais e sociais. Desse modo, habitações sustentáveis englobam a par-
te humana e o meio construtivo de se atingir a moradia digna, tendo como
objetivo a inclusão social de forma econômica e ambientalmente correta.

Um dos segmentos que mais exploram a matéria-prima e os recursos


naturais do planeta é o da construção civil, que é o terceiro maior res-
ponsável pela emissão de gases do efeito estufa na atmosfera. Tal cadeia
é complexa e engloba diferentes atores, como fabricantes de materiais,
construtoras, projetistas e usuários finais (Ferreira, 2014).1

Desse modo, construir moradias de forma sustentável e de baixo impacto


ecológico é integrar toda a cadeia produtiva da construção civil. Isso in-
clui trabalhadores, legislações, governo, de forma a se trabalhar em um

1
FERREIRA, Antônio Domingos Dias. Habitação Autossuficiente - Interligação e integração de sistemas alter-
nativos. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2014.

54 Construções Inteligentes e Sustentáveis


modelo ecologicamente correto e sustentável nas demais dimensões, a
fim de reverter o quadro de degradação ambiental e poluição, preservar
os recursos naturais, bem como impulsionar a economia em paralelo à
reinserção social e cultural em sinergia com a política nacional.

1. Habitações sustentáveis

A busca por moradias de baixo custo, baixo impacto ambiental e conforto


para o usuário é antiga, porém, atualmente, emerge como um problema
complexo e urgente. É necessário pensar em uma arquitetura voltada a
questão ecológica e que atue com materiais alternativos para a constru-
ção, sem negligenciar os aspectos estéticos arquitetônicos e proporcio-
nando conforto aos usuários.

O problema do déficit habitacional atingiu dimensões grandiosas ao lon-


go das últimas duas décadas, junto com esse problema, questões correla-
tas à urbanização foram crescendo, como a falta de saneamento básico,
irregularidades dos assentamentos populares, falta de infraestrutura no
transporte, marginalização da população carente, falta de abastecimento
de água, energia, coleta de esgoto, resíduos sólidos e o aumento da po-
luição. Além das questões sociais, a degradação do meio ambiente vem
ocorrendo de maneira desenfreada, causando grandes danos para o pla-
neta como um todo. É importante ressaltar que:

Quanto mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais so-


mos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente.
São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são inter-
dependentes (CAPRA, 1996, p. 23).2

Nesse contexto, os projetos habitacionais sustentáveis surgiram para tra-


zer maior qualidade de vida para os moradores mediante o uso adequado
2
CAPRA, F. A Teia da Vida. Tradução de Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, p. 23, 1996.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 55


dos recursos naturais locais e uma abordagem holística da região, do
terreno, clima, características culturais e necessidades humanas, buscan-
do mitigar os efeitos colaterais da urbanização agressiva presenciada no
Brasil (Oktay, 1999)3.

PARA SABER MAIS


O Grupo de Pesquisa em Habitação (GHab) da Universidade
de São Paulo, campus de São Carlos, tem desenvolvido pes-
quisas inovadoras, focadas na ocupação consciente, uso de
materiais e soluções técnicas para a construção de habita-
ções. A proposta do GHab é dar maior flexibilidade aos espa-
ços, com definições por blocos de serviço, de lazer ou social,
e especificação de materiais com diversas aplicações. Além
disso, a inexistência de hierarquia na maioria dos ambientes
e a flexibilidade permanente de certos fechamentos internos
e externos viabilizam seus usos múltiplos: alternados, sobre-
postos ou simplesmente juntos (Tramontano, 2000).

1.1 Construção sustentável e habitações eficientes

Na área da construção civil, as diretrizes mais significativas para sustentabili-


dade ecológica contemplam medidas para a diminuição de impactos ambien-
tais relacionados a poluição, distúrbio dos ecossistemas, redução na geração
dos resíduos e implementação de tecnologias relacionadas a maior eficiên-
cia energética e térmica; captação, tratamento e reuso de água e, por fim,
melhor aproveitamento do terreno sob os aspectos sociais e culturais. Essas
diretrizes promovem diretamente alterações na metodologia de projeto dos
edifícios, construção e gerenciamento ao longo do tempo (FERREIRA, 2014).4

3
OKTAY, D. Sustainability of Housing Environments: assessments in cypriot settlements. In: Conference of the
Environmental Design Research Association, 30., 1999, Orlando, Proceedings. Orlando: Edra, 1999. v. 1, p. 147-158.
4
FERREIRA, Antônio Domingos Dias. Habitação Autossuficiente - Interligação e integração de sistemas alter-
nativos. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2014.

56 Construções Inteligentes e Sustentáveis


De acordo com dados da WBCSD (World Business Council Sustainable
Development) e IPCC (Intergovernmetal Panel on Climate Change), a ur-
banização das cidades e a construção civil representam (FURUKAWA;
CARVALHO, 2011, p.7)5:

• Atividade que consome 75% de todos os recursos naturais.

• 30% das emissões de gases de efeito estufa (oriundas da indústria


da construção).

• As edificações são responsáveis por mais de 40% da demanda de


energia mundial.

• Até 2025 está previsto aumento do consumo de materiais e recur-


sos de 45%, se comparado ao ano de 2000.

• Produção de grandes quantidades de entulho.

A construção sustentável, de qualquer porte, leva em conta o processo de


concepção do projeto, analisa sua vida útil, seleciona cuidadosamente o
tipo de material que será implementado e a possibilidade do seu reapro-
veitamento no futuro. Da mesma forma, essas construções se atentam
para quem será beneficiado direta e indiretamente pelo edifício, assim
como os impactos que causarão em seu entorno.

ASSIMILE
Quando se fala em material sustentável, não se fala apenas
em questões ecologicamente corretas. Não basta apenas ser
reciclável, é preciso que o fornecedor do material seja ambien-
talmente responsável na gestão do ciclo de vida do produto.
A responsabilidade social inclui todas as formalidades buro-
cráticas (ter CNPJ e contribuir com os devidos impostos), além

5
FURUKAWA, F. M.; CARVALHO, B. B. D. Técnicas Construtivas e Procedimentos Sustentáveis – Estudo de
Caso: edifício na cidade de São Paulo. Guaratinguetá-SP : Trabalho de Graduação em Engenharia Civil – Univer-
sidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2011.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 57


de iniciativas voltadas à formação e geração de empregos nas
comunidades próximas ao local de instalação do edifício, bem
como iniciativas para redução dos impactos ambientais.

Conforme WIECZYNSKI (2014, p. 5)6, o desenvolvimento sustentável na


construção demanda as seguintes ações:

a) A desmaterialização da economia e da construção – construir mais


usando menos materiais.
b) A substituição das matérias-primas naturais por resíduos reapro-
veitáveis, reduzindo a pressão sobre a natureza e o volume de
material nos aterros.
É preciso destacar que soluções ambientais que remetam a habitações
sustentáveis, não apresentam custo elevado quando implementadas du-
rante as fases de desenvolvimento do projeto. Em muitos casos, podem
até reduzir os custos de obra, pois oferecem menor desperdício de mate-
riais e gestão de resíduos.

Assim, os principais conceitos relacionados ao processo de construção


sustentável são (FURUKAWA; CARVALHO, 2011, p. 8): 7

• Eficiência energética das edificações.

• Gestão sustentável da água e resíduos.

• Reuso de materiais e elementos de construção.

• Uso de materiais e técnicas ambientalmente corretas.

• Conforto e qualidade interna dos ambientes.

• Gestão do canteiro de obras de baixo impacto ambiental.

6
WIECZYNSKI, V. J. Construções mais sustentáveis: alternativas para uma habitação de baixo custo econô-
mico. [S.l.]: UNIEDU, 2014.
7
FURUKAWA, F. M.; CARVALHO, B. B. D. Técnicas Construtivas e Procedimentos Sustentáveis – Estudo de
Caso: edifício na cidade de São Paulo. Guaratinguetá-SP : Trabalho de Graduação em Engenharia Civil – Univer-
sidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2011.

58 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Além disso, outro conceito muito importante a ser aplicado é o dos cinco
R’s da sustentabilidade, descritos pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA):

• Reduzir: diminuir ao máximo o consumo de qualquer coisa que seja.

• Reaproveitar: utilizar novamente, mesmo que para outro fim.

• Reciclar: fazer sempre a separação do material, coletá-lo


seletivamente para então reciclá-lo. A reciclagem envolve a trans-
formação física, química ou biológica do material, retornando-o
ao ciclo de uso.

• Repensar: agir com mais consciência e repensar os hábitos de vida.

• Recusar consumir produtos que gerem impactos socioambien-


tais significativos.

LINK
Artigo publicado na revista Téchne, Edição 131 - Fevereiro/
2008, que discorre sobre o tema habitações de baixo cus-
to mais sustentáveis, trazendo o caso do grupo do PPGEC-
UFRGS (Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que desenvolve
pesquisas para conjuntos habitacionais e habitações volta-
das a populações de baixa renda de maneira sustentável.
Disponível em: <http://techne17.pini.com.br/engenharia-ci-
vil/131/artigo287526-1.aspx>. Acesso em: 28 de jul. 2018.

2. Aplicação de materiais de baixo impacto ecológico,


no consumo de energia elétrica e água

Construções sustentáveis podem também ser chamadas de Construções


Verdes. Tais edificações são resultado de uma concepção focada no

Construções Inteligentes e Sustentáveis 59


“aumento da eficiência dos recursos naturais, como a água, energia e ma-
teriais em conjunto com medidas e procedimentos construtivos que não
afetem a saúde das pessoas e o meio ambiente, gerando possíveis econo-
mias” (CHAVES, 2014, p. 15).8

Cabe ainda ressaltar que a construção sustentável leva em consideração


a contratação de matérias-primas locais, garantindo a movimentação
financeira regional, geração de novos empregos e diminuição do gasto
em logística.

A redução do impacto ecológico, a economia de água e de energia elétrica


são resultado da união de diversas práticas e técnicas. A questão chave é
o aproveitamento dos recursos renováveis, como: o aproveitamento da
energia solar para aquecimento de água e para geração de energia elétri-
ca, o uso de telhados verdes e jardins para infiltração da água da chuva
no solo, a aplicação do cascalho no lugar do asfalto para melhorar a re-
posição das águas subterrâneas, a coleta e tratamento de esgoto in loco,
dentre outras práticas (FERREIRA, 2014)9.

O autor KAVA (2011, p.9)10 diz que os princípios básicos de uma habitação
sustentável são diversos, podendo ser destacado:

• Aproveitamento de condições naturais locais.

• Utilizar mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural.

• Implantação e análise do entorno.

• Não provocar ou reduzir impactos no entorno – paisagem, tempera-


turas e concentração de calor, sensação de bem-estar.

• Qualidade ambiental interna e externa.

8
CHAVES, H. D. O. Diretrizes Sustentáveis na Construção Civil: avaliação do ciclo de vida. Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014.
9
FERREIRA, Antônio Domingos Dias. Habitação Autossuficiente - Interligação e integração de sistemas alter-
nativos. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2014.
10
KAVA, C. M. A Construção Civil, a Construção Sustentável e a Educação Socioambiental: Um Estudo de
Caso de Aplicações nas Habitações de Interesses Sociais. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2011.

60 Construções Inteligentes e Sustentáveis


• Gestão sustentável da implantação da obra.

• Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários.

• Uso de matérias-primas que contribuam com a ecoeficiência


do processo.

• Redução do consumo energético.

• Redução do consumo de água.

• Reduzir, reutilizar, reciclar e dispor corretamente os resíduos sólidos.

• Introduzir inovações tecnológicas sempre que possível e viável.

• Educação socioambiental: conscientização dos envolvidos


no processo.

A indústria, nos últimos anos, passou a desenvolver diversos materiais


verdes e sustentáveis. Grande parte desses materiais podem ser prepa-
rados no próprio local da construção, por meio de técnicas simples, de
forma artesanal, mas capazes de gerar bons resultados. A vantagem em
utilizar esse tipo de material está na redução de gastos, na possibilidade
de remanufatura e redução do uso de outros materiais, como argamassa
e estruturas metálicas.

2.1 Consumo e Reaproveitamento Consciente da Água

Atualmente, se vê constatações de que o volume de água doce e limpa


disponível no planeta está reduzindo. O alto crescimento populacional,
além da poluição produzida pelo próprio homem, vem limitando a dis-
ponibilidade desse recurso, essencial para o desenvolvimento humano.
Segundo a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos da
metade da população mundial tem acesso à água potável, aspecto que é
agravado em virtude da desigualdade social, da falta de manejo e de usos
sustentáveis dos recursos naturais.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 61


Observando esse cenário, é possível perceber os esforços desprendidos
para conscientizar a população sobre os problemas relacionados à água
e, por isso, muito se discute sobre o reuso desse precioso recurso natural.

A reutilização de água ou o uso de águas residuárias não é um conceito


novo e tem sido praticado em todo o mundo há muitos anos. Existem re-
latos de sua prática na Grécia Antiga, com a disposição de esgotos e pos-
terior utilização na irrigação. A eficiência no reuso da água pode auxiliar
na resolução dos diversos problemas de escassez dos recursos hídricos,
que pode acontecer por fenômenos naturais ou ações antrópicas e é uma
importante pauta no cenário socioambiental atual. Todo aumento de uti-
lização de água limpa por ações antrópicas tem como consequência o
aumento da geração de efluentes, assim, a reciclagem desse efluente é de
suma importância para minimizar a retirada de água limpa do ambiente
ou até o lançamento de efluente não tratado.

Nas habitações existem dois tipos de águas residuais (ou esgotos): as


águas cinzas, que são as águas provenientes das banheiras, pias de ba-
nheiros, tanques, chuveiros e máquinas de lavar; e as águas negras origi-
nárias, provenientes das pias de cozinha e das bacias sanitárias Furukawa
e Carvalho (2011)11. Nesse contexto, o reuso da água é possível por meio
da separação dessas águas e implementação de um sistema de tratamen-
to das águas cinzas in loco, que pode ser desde um simples biodigestor
até um sistema de zona de raízes, que resulta em água própria para reuso
(fins não potáveis). A habitação sustentável deve, ainda, prever uma rede
hidráulica exclusiva para reuso, que retornará para alimentação de des-
cargas, irrigação de jardins, torneiras para lavagem de piso, telhados e,
até mesmo, para pequenas obras.

11
FURUKAWA, F. M.; CARVALHO, B. B. D. Técnicas Construtivas e Procedimentos Sustentáveis – Estudo de
Caso: edifício na cidade de São Paulo. Guaratinguetá-SP : Trabalho de Graduação em Engenharia Civil – Univer-
sidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2011.

62 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Figura 1 - Exemplo de sistema de águas tratadas e recicladas
em habitação

■ óguo de enxague
óguo ttàodo

l ~ ~ • ~ ..!,
águas negras águas cinzas

Fonte: Imagem cedida por AcquaControll para fins educacionais, São Paulo, 2018.

O reaproveitamento da água da chuva também deve ser feito e é uma


opção bastante viável, principalmente, quando consideramos os altos ín-
dices pluviométricos do Brasil. Um sistema de aproveitamento de águas
pluviais consiste nos processos de captação, condução, filtragem, arma-
zenamento e utilização da água para fins não potáveis, como o reuso das
águas cinzas.

Para tal captação, conforme a Figura 2, são instaladas calhas nas cobertu-
ras para que a água seja encaminhada por tubos até o sistema de filtra-
gem. Após essa etapa, a água fica armazenada em um reservatório pró-
prio, que, por meio de uma bomba, segue para a caixa d’água de reuso,
que distribuirá a água no interior da habitação.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 63


Figura 2 - Sistema de captação e reuso da água de chuva

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Fonte: AGÊNCIA SENADO (2018).

2.2 Consumo e eficiência energética

As crescentes emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera es-


tão contribuindo para as mudanças climáticas. Um importante avanço
nesse sentido foi o Acordo de Paris, em 2015, durante a Conferência das
Partes das Nações Unidas, sobre mudanças climáticas. Esse evento teve
por objetivo, reforçar o compromisso mundial quanto as ameaças rela-
cionadas às mudanças climáticas e estacionar o aumento da temperatura
em até 2°C.

O Brasil ratificou o Acordo de Paris em 21 de setembro de 2016, com-


prometendo-se a reduzir suas emissões de GEE em 37%, em relação aos
níveis de 2005 até 2025, e em 43% até 2030. Além disso, traçou metas
para expandir o uso doméstico de fontes renováveis de energia, em par-
ticular eólica, biomassa e solar (FEBRABAN – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE
BANCOS, 2017).12

12
FEBRABAN – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS. Edificações sustentáveis e eficiência energética: Cen-
tro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).

64 Construções Inteligentes e Sustentáveis


PARA SABER MAIS
A norma NBR 15.575 (2013), conhecida como a “norma de
desempenho” das edificações habitacionais, representa um
marco para a modernização tecnológica da construção bra-
sileira e estabelece padrões mínimos de desempenho em
diversos aspectos da obra, como desempenho acústico, de-
sempenho térmico, durabilidade dos materiais e vida útil
do imóvel.

É sabido que o sol pode ser um provedor de eletricidade por meio do uso
de células fotovoltaicas que, por sua vez, convertem a energia da luz em
energia elétrica. Quando a radiação solar incide sobre uma célula fotovol-
taica, ocorre a liberação de elétrons, gerando eletricidade. É importante
ressaltar que a radiação solar varia com a localização e com as condições
atmosféricas (nebulosidade e umidade relativa do ar). Os painéis fotovol-
taicos são resultantes do agrupamento de células fotovoltaicas e devem
ser fixados e posicionados de forma a maximizar a exposição aos raios
solares, um fator geralmente previsto em projeto.

EXEMPLIFICANDO
Essa fonte renovável ganhou grande impulso no Brasil a
partir das resoluções normativas da Aneel n. 482/2012 e
687/2015, que estabelecem as bases legais para a criação de
um Sistema de Compensação de Energia Elétrica, que per-
mite que o excedente gerado por pessoas físicas e jurídicas
seja convertido em crédito junto à distribuidora. Assim, uma
residência que tenha um sistema de placas fotovoltaicas ins-
talado e no fim do dia/ mês tenha um balanço positivo de
energia (gerou mais do que consumiu), pode vender energia

Construções Inteligentes e Sustentáveis 65


para a concessionária ou posteriormente abater de futuras
contas de energia.

O Brasil possui elevados índices de irradiação em grande parte de seu


território. Recebe-se entre 1.500 e 2.200 kWh/m² 13 de irradiação solar,
por ano, o que favorece muito o uso desse tipo de tecnologia (FEBRABAN
– FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS, 2017)14.

Assim como a energia solar, a energia eólica é uma fonte renovável de


energia, limpa e intermitente, mas que sofre variações de acordo com a
velocidade do vento. Essa técnica é muito utilizada na região Nordeste
do Brasil, devido a força dos ventos. O Rio Grande do Norte foi o estado
que mais produziu energia em 2017, segundo a Agência Brasil15. Foram
3.678,85 MW, impulsionando o Brasil para oitavo lugar no ranking mun-
dial em produção de energia eólica.

As coberturas, ou telhados, verdes também vêm sendo muito utilizadas


e têm se mostrado muito eficazes para minimizar os gastos de energia
com o aquecimento ou resfriamento interno das edificações. Além dis-
so, a adoção dessa técnica apresenta diversas vantagens, como: conforto
térmico; isolamento acústico; área verde de fotossíntese; redução do es-
coamento superficial, das impermeabilizações na cidade; diminuição da
poluição do ar e valorização imobiliária.

Segundo Salvaterra (2010, p. 20), as metas energéticas de projetos habita-


cionais se fundamentam, principalmente, nos seguintes elementos:

• O uso do projeto voltado ao clima, que incorpora técnicas passivas


para reduzir o consumo de energia associado à calefação, à refrige-
ração e ao aquecimento de água.
13
Empresa de Pesquisa Energética [EPE]. Balanço Energético Nacional 2016. Brasília: MME/EPE, 2016
14
FEBRABAN – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS. Edificações sustentáveis e eficiência energética: Cen-
tro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).
15
NASCIMENTO, Luciano. Brasil é o oitavo país do mundo em produção de energia eólica. Economia. 2018.
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-02/brasil-e-o-oitavo-pais-do-mundo-
-em-producao-de-energia-eolica>. Acesso em: 1 ago. 2018.

66 Construções Inteligentes e Sustentáveis


• A utilização de sistemas de vedação externa capazes de criar uma
separação térmica adequada entre o interior e o exterior por meio
de estanqueidade do ar, isolamento térmico, eliminação de pontes
térmicas, seleção de materiais de acabamento externos adequa-
dos, localização e uso de janelas e vidros de alto desempenho
apropriados.

• A possibilidade de controle da ventilação.

• Escolha de equipamentos e eletrodomésticos eficientes em energia.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Usualmente, a água tratada é lançada nos rios, ou infiltra nos lençóis
freáticos, para depois ser novamente captada e potabilizada antes
de seguir para a rede de abastecimento de água municipal. Nesse ce-
nário, identificamos duas principais problemáticas: (1) ineficiência de
muitas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), que lançam efluen-
tes fora dos padrões de diluição nos corpos d’água, provocando sua
contaminação; (2) os rios com acúmulo de poluição acabam contami-
nando ainda mais as águas lançadas, revelando uma dinâmica defi-
citária para captação de água nas Estações de Tratamento de Água
(ETAs). Dessa forma, além de implementar sistemas de tratamento
de esgotos mais eficientes dentro do atual panorama da sustentabi-
lidade, seria possível rever a prática cultural de lançamento da água
tratada em rios poluídos, sendo que a água tratada das ETEs poderia
ser diretamente conectada às ETAs (reuso direto)?

3. Considerações finais

• As habitações sustentáveis não são apenas focadas em aspectos eco-


lógicos e econômicos de uma construção. Representam o resultado

Construções Inteligentes e Sustentáveis 67


de uma visão holística que se preocupa com a sua integração social,
cultural, territorial e ambiental com o meio.

• Na área da construção civil, as diretrizes mais significativas para sus-


tentabilidade ecológica contemplam medidas para a diminuição de
impactos ambientais relacionados a poluição e distúrbio dos ecos-
sistemas, como: redução na geração dos resíduos e implementação
de tecnologias relacionadas a maior eficiência energética e térmica;
captação, tratamento e reuso de água.

• Faz parte da concepção de uma habitação sustentável todo o ciclo


de vida do projeto, incluindo a vida útil de seus materiais e o pós-
-uso, bem como a economia local, geração de empregos e logística
durante a obra.

• São técnicas sustentáveis de reuso da água: tratamento in loco de


águas cinzas e captação de águas pluviais, ambos para posterior
reuso. São técnicas sustentáveis de eficiência energética: energia
solar, energia eólica, telhados verdes, vedação externa, ventilação
natural e escolha de equipamentos econômicos.

Glossário

• Remanufatura: conceito muito utilizado na temática de “estratégias


de fim de vida”, que aborda o que fazer no pós-uso de determinados
materiais e equipamentos, garantindo um ciclo de vida adequado.
Nesse caso, a remanufatura é uma forma de recuperação do recur-
so em questão considerando diferentes níveis de reaproveitamento.

• Biodigestor: equipamento similar a um tanque, que permite o


acúmulo de dejetos orgânicos, permitindo que, por meio de um
processo natural de bactérias presentes nesses dejetos, ocorra a
decomposição da matéria orgânica.

68 Construções Inteligentes e Sustentáveis


• Zona de raízes: técnica de tratamento no rizoma das plantas por
meio do processo natural de fitorremediação, propriedade de in-
teração entre as bactérias localizadas nos rizomas das plantas e os
diferentes tipos de contaminantes (orgânicos e inorgânicos).

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 1
1. Atualmente, o setor da construção civil representa:
a) A atividade responsável por consumir cerca de 75%
da energia gerada no país.
b) A atividade que consome 75% de todos os recursos
naturais do país.
c) A atividade responsável por 30% do consumo de
água no país.
d) A atividade de maior produção de resíduos reciclá-
veis no país.
e) A atividade que reutiliza cerca de 75% dos materiais
residuais da própria obra.

2. A construção sustentável corresponde a algumas ações,


como:
a) Desmaterialização da economia e da construção, ou
seja, construir mais usando menos materiais.
b) Utilizar matérias-primas naturais no lugar de resídu-
os recicláveis.
c) Gestão sustentável da água e consumo deliberado
de energia elétrica.
d) Uso de materiais economicamente viáveis.
e) Gestão múltipla do canteiro de obras.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 69


3. Utilizar materiais “verdes” é uma das formas de construir
habitações sustentáveis, atuando nas escalas ambientais,
econômicas e sociais. Os princípios básicos desse tipo de
construção se destacam em:
a) Adaptação das condições naturais locais.
b) Qualidade ambiental externa apenas.
c) Utilização de matérias-primas de baixo custo.
d) Introduzir novas tecnologias, mesmo que consumam
mais materiais e energia.
e) Não provocar ou reduzir impactos no entorno –
paisagem, temperaturas e concentração de calor,
sensação de bem-estar.

Referências Bibliográficas

ACQUACONTROLL. Tratamento Físico-Químico - AcquaControll. 2018. Disponível


em: <http://www.acquacontroll.com.br/tratamento-fisico-quimico>. Acesso em: 31
jul. 2018.
SENADO FEDERAL. Sistema de captação de água da chuva pode se tornar obri-
gatório no Minha Casa, Minha Vida - INSA. Agência Senado. Notícias do governo.
2018. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/02/09/
sistema-de-captacao-de-agua-da-chuva-pode-ser-obrigatorio-no-minha-casa-minha-
-vida> Acesso em: 23 nov. 2018.
CAPRA, F.  A Teia da Vida. Tradução de Newton Roberval Eichemberg. São Paulo:
Cultrix, 1996.
CHAVES, H. D. O. Diretrizes Sustentáveis na Construção Civil: avaliação do ciclo de
vida. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014.
FEBRABAN – FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS. Edificações sustentáveis e efi-
ciência energética: Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação
Getúlio Vargas (FGV-EAESP).

70 Construções Inteligentes e Sustentáveis


FERREIRA, Antônio Domingos Dias. Habitação Autossuficiente - Interligação e inte-
gração de sistemas alternativos. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2014.
FURUKAWA, F. M.; CARVALHO, B. B. D. Técnicas Construtivas e Procedimentos
Sustentáveis – Estudo de Caso: edifício na cidade de São Paulo. Guaratinguetá-
SP. Trabalho de Graduação em Engenharia Civil – Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2011.
KAVA, C. M. A Construção Civil, a Construção Sustentável e a Educação
Socioambiental: um Estudo de Caso de Aplicações nas Habitações de Interesses
Sociais. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2011.
KELLER, M.; BURKE, B.; SALVATERRA, A. Fundamentos de Projeto de Edificações
Sustentáveis. São Paulo: Bookman, 2010.
OKTAY, D. Sustainability of Housing Environments: assessments in cypriot settle-
ments. In: Conference of the Environmental Design Research Association, 30., 1999,
Orlando, Proceedings. Orlando: Edra, 1999. v. 1, p. 147-158.
TRAMONTANO, Marcelo. Unidades experimentais de habitação. Projeto Design, n.
243, 2000.
WIECZYNSKI, V. J. Construções mais sustentáveis: alternativas para uma habitação
de baixo custo econômico. [S.l.]: UNIEDU, 2014.

Gabarito

Questão 1 – alternativa B:

Apesar de consumir cerca de 40% da demanda de energia mundial,


o maior impacto negativo da construção civil se dá pelo consumo de
75% de todos recursos naturais.

Questão 2 – alternativa A:

Para uma construção sustentável deve-se focar na construção com a


utilização de menos materiais, usando os chamados materiais verdes.

Questão 3 – alternativa E:

Construções Inteligentes e Sustentáveis 71


O entorno da construção é de suma importância, assim, deve-se
manter o mesmo intacto. A habitação deve se adaptar ao entorno
para manter as características e paisagem do local.

72 Construções Inteligentes e Sustentáveis


TEMA 05
AS INDÚSTRIAS NO CENÁRIO
INTELIGENTE

Objetivos

• Entender como o desenvolvimento industrial influen-


ciou os processos de ocupação do solo urbano e as
suas consequências ambientais.

• Entender como a tecnologia, sobretudo a partir da


Terceira Revolução Industrial, modificou as relações
entre a Indústria, a sociedade e o ambiente urbano.

• Conhecer o potencial do uso da Tecnologia da


Informação e Comunicação (TIC) para a resolução
de problemas ambientais, econômicos e sociais nas
cidades inteligentes.

73 Construções Inteligentes e Sustentáveis


►- Introdução

O desenvolvimento da indústria, a partir da segunda metade do sécu-


lo XVIII, por meio da Primeira Revolução Industrial, marcou a humanida-
de não apenas pelos aspectos técnicos relacionados aos novos meios de
produção, como as máquinas a vapor, mas também pela grande transfor-
mação social, econômica e espacial que provocou, sobretudo nas áreas
urbanas. Nos séculos seguintes, o desenvolvimento de outras formas de
geração de energia, especialmente a energia elétrica no século XIX e os
avanços tecnológicos na indústria, impactaram a sua escala de produção
e a velocidade de reinvenção, atingindo o seu ápice na sociedade mo-
derna. Atualmente, graças ao desenvolvimento tecnológico atingido pela
sociedade contemporânea, nos aproximamos de possibilidades que até
poucas décadas atrás eram temas de ficção científica, como, por exemplo,
as máquinas inteligentes, capazes de interagir com os seres humanos e
entre si. Os efeitos dessa revolução amplificam-se graças à expansão e a
democratização dos meios de comunicação, com a difusão da internet,
modificando drasticamente tanto a sociedade, como o meio ambiente,
exigindo uma postura mais dinâmica por parte das empresas e daqueles
que buscam soluções para os problemas enfrentados como indivíduos e
como sociedade. Nesse contexto, merecem destaque os avanços introdu-
zidos pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Essas tecno-
logias, que até muito tempo eram apenas aplicados à indústria, já podem
ser extrapolados e adotados em outras áreas, como no urbanismo e na
administração pública das cidades, por exemplo. As condicionantes e pro-
cessos para a aplicação dessas tecnologias, bem como os possíveis des-
dobramentos de sua implantação extensiva, ainda são objeto de estudo
e experimentação em todo o mundo, ganhando cada vez mais destaque
nas políticas públicas e na área de pesquisa.

74 Construções Inteligentes e Sustentáveis


1. Impactos da indústria sobre a ocupação do solo
urbano

Se analisar o processo de desenvolvimento urbano das grandes cidades


ao longo dos últimos dois séculos, nota-se o protagonismo das ações des-
dobradas para a construção das bases materiais necessárias ao desenvol-
vimento da indústria. A expansão do sistema rodoviário, das ferrovias e
da ocupação das várzeas, ilustra o esforço da administração pública para
a atração das grandes indústrias, principalmente, a partir da Segunda
Revolução Industrial.

Como efeito dessas ações tem-se os grandes problemas de mobilidade,


habitação e distribuição territorial da população urbana, cujas causas po-
dem ser identificadas a partir de uma leitura das mudanças nos padrões
de produção e consumo da própria sociedade. Já no final do século XX,
notava-se o desenvolvimento de novos eixos econômicos nas cidades e
o declínio das estruturas físicas, sociais e econômicas que moldaram as
cidades durante décadas.

Com a valorização da gestão da informação e a otimização da produção,


as áreas destinadas às fábricas e galpões para armazenamento de maté-
ria-prima e produtos reduziram drasticamente, deixando grandes entra-
ves urbanos, ou seja, áreas gigantescas com baixa densidade populacio-
nal e sérios problemas ambientais.

Sobretudo as áreas de várzea, ocupadas pelos parques industriais na


segunda metade do século XX, sofreram os efeitos da atividade indus-
trial e de seu posterior abandono. A situação dos terrenos naturalmen-
te alagáveis e com lençol freático elevado, agravou os resultados das
possíveis ocorrências de contaminação do solo e das águas urbanas
(Morinaga, 2013).1

1
MORINAGA, Carlos Minoru. Áreas contaminadas e a construção da paisagem pós-industrial na cidade
de São Paulo. – São Paulo, 2013. 201p. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/
tde-02072013-162822/pt-br.php>. Acesso em: 16 ago. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 75


EXEMPLIFICANDO
O protagonismo da economia voltada aos serviços e a trans-
ferência das fábricas para cidades menores, diminuíram o
aporte de capital público e privado para manutenção e ex-
pansão da infraestrutura nos antigos bairros industriais das
cidades, como é o caso da Mooca, Brás e Lapa, no município
de São Paulo, direcionando-se para as áreas onde as sedes
administrativas e operacionais destas empresas se fixaram,
como a Marginal Pinheiros/ Berrini.

O avanço tecnológico, a difusão da informação por meio das redes digitais


e a expansão do debate sobre a cultura urbana e as suas implicações na
vida dos habitantes das grandes cidades, anunciam uma nova revolução
urbana em direção às cidades mais democráticas, dinâmicas e sustentá-
veis, exigindo grandes esforços por parte dos agentes públicos e prova-
dos para a compreensão desses fenômenos. As indústrias, promotoras
do florescimento e do posterior declínio de tantas áreas, ressurgem nesse
debate como importante instrumento de renovação urbana.

A possível requalificação dos segmentos econômicos tradicionais, relacio-


nados ao abastecimento das cidades, e sua articulação com aqueles dire-
cionados aos novos requisitos da economia, baseada em conhecimento e
tecnologia, possibilitam a consolidação de um novo padrão de ocupação
territorial. Segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento
(SMDU) (Santos, 2017)2, nesse novo cenário será possível a dinamização
da plataforma produtiva, o reequilíbrio de funções nas cidades, levando a
uma transformação urbanística que proporcionará a base para a geração
de mais e melhores empregos, definindo assim mais oportunidades de
inclusão produtiva.

2
SANTOS, L. G. M. Escola de Design da Lapa- Projeto para uma Escola de Design na Lapa de Baixo- SP.
Campinas, 2017. 140p. Disponível em: <https://issuu.com/lucas_marinho/docs/tfg2017_unicamp_lucas_mari-
nho_escol_edc0c4aea32d2a>. Acesso em: 16 ago. 2018.

76 Construções Inteligentes e Sustentáveis


LINK
Um caso de estudo interessante para compreendermos me-
lhor os esforços e estratégias das administrações municipais
para a requalificação urbana, por meio da diversidade de usos
e de grupos sociais, é o Plano Arco Tietê, desenvolvido entre
2013 e 2016, pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Urbano de São Paulo (SMDU/SP), durante a gestão do prefei-
to Fernado Hadad. Disponível em: <http://gestaourbana.pre-
feitura.sp.gov.br/estruturacao-territorial/arcos/arco-tiete/>.
Acesso em: 18 de ago. 2018.

Segundo Morinaga, (MORINAGA, 2013)3, embora as tendências atuais


apontem para maior sinergia entre as diversas disciplinas e dimensões
envolvidas na construção de uma cidade, a abordagem das questões
ambientais tem se realizado de forma fragmentada, produzindo uma
compreensão distorcida da realidade e dando margem à políticas públi-
cas equivocadas.

Será necessário, portanto, uma abordagem mais específica para as ques-


tões locais, formulada a partir do diálogo entre os diferentes agentes
envolvidos e que demonstrem o compromisso com a requalificação dos
espaços públicos, com o meio ambiente e com a saúde, em busca do de-
senvolvimento sustentável.

Os principais objetivos de sustentabilidade para recuperação dessas áre-


as encontram-se no quadro abaixo e partem do princípio da colaboração
entre sociedade, indústria e setores públicos.

3
MORINAGA, Carlos Minoru. Áreas contaminadas e a construção da paisagem pós-industrial na cidade
de São Paulo. – São Paulo, 2013. 201p. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/
tde-02072013-162822/pt-br.php>. Acesso em: 16 ago. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 77


Quadro 1 | Objetivos de Sustentabilidade Rescue
Objetivos de sustentabilidade RESCUE (em termos de planeja-
mento do uso do solo e de desenho urbano sustentáveis, em
áreas de brownfields)
Promover usos do solo compatíveis com as demandas e
1
necessidades socioeconômicas regionais.
Integrar o reuso de áreas de brownfields na gestão regional
2
do território.
Integrar o reuso de áreas de brownfields no
3
desenvolvimento urbano.
Alcançar benefícios para a vizinhança, bem como prevenir
4
impactos adversos.
Gerar e salvaguardar emprego e desenvolvimento
5
econômico.
Promover usos do solo que se adaptem ao ambiente natural
6
e construído de sua área e sua vizinhança
7 Economizar recursos.
Permeabilidade (aumentar a possibilidade do público de
8
transitar por antigas áreas de brownfields).
9 Prover acessibilidade adequada.
10 Atingir alta qualidade de desenho urbano.
Fonte: adaptado de Regeneration of European Sites in Cities and Urban Environments- RESCUE. Guidance on
sustainable land use and urban design on brownfield sites, 2004, s/p.

1.1 Indústria 4.0 - Como a quarta revolução industrial pode alte-


rar as cidades e os principais desafios para a sua implantação

A Indústria 4.0, denominada por muitos como Quarta Revolução Industrial,


tem introduzido importantes modificações não somente nos processos
de produção, na formação e atividades de seus trabalhadores, mas tam-
bém na sociedade como um todo ao alterar os seus hábitos e relações
de consumo.

78 Construções Inteligentes e Sustentáveis


O desenvolvimento das tecnologias introduzidas pela Terceira Revolução
Industrial, iniciada após a segunda metade do século XX e considerada
por muitos especialistas como uma fase ainda não superada, se intensifi-
cou nas últimas décadas criando problemas e potencialidades totalmente
novas para a humanidade. A popularização dos computadores e a ex-
pansão das redes das TICs, como nas redes de comunicação digitais e na
internet, demonstram o potencial social e produtivo dessas tecnologias
quando aplicadas em larga escala.

PARA SABER MAIS


As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) corres-
pondem às tecnologias que interferem, direta ou indireta-
mente, na forma como ocorrem os processos informacionais
e comunicativos dos seres. Por meio de recursos integrados
entre si (hardware, software e telecomunicações) é propor-
cionada a automação e comunicação dos processos em di-
versas áreas da ação humana. Segundo o TotLab, as ideias
de colaboração e gestão do conhecimento serão cada vez
mais enfatizadas, já que somente a difusão dessa cultura co-
laborativa poderá permitir o sucesso de sua implantação.

Resumidamente, pode-se dizer que a indústria 4.0 foi e continua sendo


motivada por três principais mudanças no mundo industrial produtivo
(FOCCOERP, Indústria 4.0, Guia Completo)4:

• Avanço exponencial da capacidade dos computadores.

• Imensa quantidade de informação digitalizada.

• Novas estratégias de inovação (pessoas, pesquisa e tecnologia).

4
FOCCOERP. Indústria 4.0- Guia Completo da Indústria do Futuro. Disponível em: <https://www.foccoerp.
com.br/wp-content/uploads/2017/09/ebook-industria-4.0-ok-1.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 79


A ampliação e democratização das tecnologias, sobretudo na área da co-
municação por meio de meios digitais, são ao mesmo tempo sintoma e
mesmo instrumento propulsor da revolução que vivemos (basta pensar-
mos na importância que as redes sociais adquiriam em nossa sociedade).
Nesse cenário, de intensa competitividade, são fundamentais a inovação
e o direcionamento de investimentos para o desenvolvimento de solu-
ções mais inteligentes e sustentáveis, não somente para a produção das
grandes indústrias como também para a construção e adaptação de nos-
sas cidades.

Na indústria consolida-se cada vez mais a robótica, o acompanhamento


e planejamento da produção com o auxílio de softwares específicos, au-
mentando a sua produtividade e diminuindo a quantidade de resíduos
produzidos. Pode-se dizer que tanto as máquinas quanto os processos
produtivos são cada vez mais inteligentes e responsivos no cenário da
Indústria 4.0, graças à conectividade e à comunicação entre os diferentes
agentes envolvidos (máquinas, trabalhadores da indústria e a sociedade).
Mais do que soluções prontas, rotinas predeterminadas, esses sistemas
serão capazes de elaborar novas soluções com base nas informações en-
viadas em tempo real pelos componentes das próprias máquinas, preve-
nindo falhas e aumentando a sua produtividade.

ASSIMILE
Os quatro pilares que impulsionam e sustentam a evolução
da Indústria 4.0 são:

• Conectividade para acompanhar e analisar dados em


tempo real.

• Virtualização e monitoramento remoto dos processos


de produção.

• Descentralização das tomadas de decisões (análise de

80 Construções Inteligentes e Sustentáveis


dados automática).

• Modularização dos sistemas, que permite atender às


demandas de maneira individualizada.

Nesse cenário, conceitos como Big Data e Internet of Things - IoT (Internet
das Coisas) já não podem passar batido, constituindo ferramentas essen-
ciais para a implantação extensiva dos sistemas que tornarão as máquinas,
indústrias e cidades mais inteligentes do que são atualmente. Segundo a
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI):

No campo das CIDADES tem-se como objetivo do plano de IoT elevar a qua-
lidade de vida por meio da adoção de tecnologias e práticas que viabilizem
a gestão integrada dos serviços para o cidadão e a melhoria da mobilidade,
segurança pública e uso dos recursos (ABDI, 2007, p. 23).5

PARA SABER MAIS


A cada um ano e meio são gerados, atualmente, a mesma
quantidade de dados já criados pela humanidade em todos
os tempos. O Big Data tem como foco o armazenamento e
processamento desses dados, bem como as relações das des-
cobertas que podem surgir desses processos. Permite iden-
tificar padrões e prever novos caminhos em diversas áreas,
como negócios, entretenimento, educação, entre outras.

As tecnologias aplicadas às Smart Houses (ABDI, 2018), automatizaram


e otimizaram diversos processos, além de equipamentos aplicados ao
uso doméstico, como o ajuste automático dos níveis de iluminação, a
5
ABDI. Cidades Inteligentes. Documento de Referência - Ambiente de Demonstração de Tecnologias para
Cidades Inteligentes. 2007. Disponível em: <https://cidadesinteligentes.abdi.com.br/downloads/dl_documen-
to_de_referencia.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 81


temperatura, o acionamento de equipamentos eletrônicos e o agenda-
mento de tarefas. Podendo ser aplicadas às cidades, gerando melhoria
dos serviços públicos oferecidos e diminuindo o desperdício de recursos
(tempo, matéria-prima e dinheiro público).

Por meio de uma rede de sensores distribuídos pela cidade, serão cole-
tados dados sobre o trânsito, consumo de energia elétrica, consumo de
água e geração de resíduos sólidos, além de várias outras informações
ligadas à prevenção de catástrofes ambientais. Os dados coletados deve-
rão ser transmitidos para centros de processamento, onde, por meio do
trabalho de equipes multidisciplinares, se tornarão ferramentas auxilia-
res para tomada de decisões.

No esquema a seguir, é possível ver como as Smart Cities podem ser


estruturadas:

Figura 1 | Arquitetura de Tecnologias da Informação e Comunicação


(TIVCs) em Smart Cities, conforme a ITU
Camada de Governo eletrônico
Aplicação Transporte e Logística
Energia e recusos
Saúde Pública
Proteção ambiental
Segurança pública
Governança urbana
Alterações climáticas
Habitação - Moradia popular
Camadas de Serviços de suporte e servidor de Bases de dados das indústrias
Informação e suporte - capacidade do servidor
Suporte

Serviços de processamento de dados - Bases de dados urbanas: população,


nuvem de dados/ armazenamento empresas, meio academico científico
etc

Camada de Wi-fi
Redes
(conectividade) Dados móveis 4G

PLC

xDSL

82 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Camada de Sistemas primários da rede Supervisão e Aquisição de Dados
detecção e Rede de Sensores Sem Fio (RSSF)
monitoramento Protocolo de aplicação HART
WPAN, rede de área pessoal sem fio
Sistemas secundários da rede Cameras de vigilância
Sensores de monitoramento
Rastreamento por GPS

Infraestrutura Água encanada


física da cidade
Coleta de esgoto

Gestão de resíduos

Ruas

Construções

Fonte: adaptado de International Telecomunication Union- ITU

O potencial para aplicação das Tecnologias da Informação e Comunicação


(TICs) nas cidades é enorme, no entanto, ainda existem muitos desafios
a serem vencidos para que se torne uma realidade. Segundo o docu-
mento de deferência “Ambiente de Demonstração de Tecnologias para
Cidades Inteligentes”, lançado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial, em 2007, um dos pilares de sustentação para os sistemas de
inteligência, sobretudo no âmbito urbano, é a disponibilidade de redes de
telecomunicações e de conectividade adequada para que se obtenha a
eficiência nos serviços prestados. Quanto ao Big Data e à IoT pode-se di-
zer que, no contexto nacional, enfrentam a indisponibilidade de redes de
transmissão adequadas para os dados coletados pelos diversos sensores
que deverão ser distribuídos nas cidades.

No campo da educação profissional, observa-se a maior necessidade de


capacitação, relocação e adaptação dos trabalhadores da indústria, além
da conscientização quanto às novas competências e habilidades que lhes
serão necessários. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI),
no Brasil, os esforços relacionados à implantação da Indústria 4.0 se con-
centram na fase de processamentos industriais, onde o principal desafio
do país consiste na aproximação entre indústrias e especialistas buscando

Construções Inteligentes e Sustentáveis 83


o desenvolvimento de tecnologias e a produção de conhecimentos neces-
sários à sua implantação extensiva na indústria.

A questão da segurança cibernética constitui outro desafio a ser supera-


do para o funcionamento adequado dos sistemas que estruturam as cida-
des inteligentes. Muitos serviços fundamentais como os de saneamento
básico e atendimentos emergenciais podem ser afetados e até mesmo
inutilizados temporariamente por um ataque, causando grandes danos à
população e a infraestrutura urbana.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


O desenvolvimento industrial foi um fator determinante para o desen-
volvimento das cidades como são atualmente. Seu papel como atrati-
vo de investimentos em infraestrutura urbana e geração de riquezas,
contrasta com as consequências ambientais, as diferenças sociais e
consolida na ocupação do solo urbano. Reflita sobre como as novas
tecnologias e processos industriais podem moldar novas relações en-
tre indústria, sociedade e meio ambiente nas grandes cidades.

2. Considerações Finais

• O reequilíbrio de funções nas grandes cidades, visando a atração


da indústria criativa e de tecnologia, é uma das estratégias que as
administrações públicas têm adotado para a dinamização de seu
território, geração de empregos, investimentos em infraestruturas
e serviços públicos.

• A sinergia entre espaços produtivos, em habitação e em ensino,


deverá estimular a qualificação profissional, assim como a troca de
experiências entre os diferentes setores da população, contribuin-
do para o crescimento da economia criativa e para a inovação.

• As TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) são instrumentos

84 Construções Inteligentes e Sustentáveis


valiosos para a coleta, transmissão e análise dos dados referentes
ao funcionamento dos sistemas urbanos necessários para a conso-
lidação das cidades inteligentes.

Glossário

• Internet of Things: Traduzido para o português como “Internet


das Coisas”, foi mencionado pela primeira vez em 1999 por Kevin
Ashton, co-fundador do Auto-ID Center do MIT. Define um sistema
onde computadores, equipamentos mecânicos, digitais, objetos,
animais e pessoas são capazes de se comunicar e trocar informa-
ções através de uma rede independente da interação entre pes-
soas ou entre pessoas e computadores. Para mais informações a
respeito de IoT visitar: https://internetofthingsagenda.techtarget.
com/definition/Internet-of-Things-IoT

• Brownfield Sites: Termo de origem estadunidense que designa


“instalações industriais e comerciais abandonadas, ociosas ou su-
butilizadas cuja expansão ou revitalização é contaminada por con-
taminações ambientais reais ou percebidas”.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 1
1. Entre os fatores que proporcionaram a Quarta Revolução
Industrial ou Indústria 4.0, NÃO se encontra:
a) Rápido avanço da capacidade dos computadores.
b) Quantidade de informação digitalizada e facilidade
de acesso.
c) Diminuição da relação entre empresa e consumidor

Construções Inteligentes e Sustentáveis 85


devido à democratização as redes digitais de
comunicação.
d) Cenário de alta competividade entre as indústrias
concorrentes.
e) Necessidade de racionalização do uso de recursos
renováveis e redução dos resíduos industriais.

2. Sobre o processo de ocupação do solo urbano influencia-


do pela industrialização das cidades ao longo da Segunda
e Terceira Revoluções Industriais, pode-se afirmar:
a) Com a implantação das indústrias nas áreas de vár-
zea, na segunda metade do século XX, como ocorreu
na cidade de São Paulo, deu-se a construção de
moradias irregulares em áreas impróprias para a
habitação, permitindo a instalação da massa operá-
ria recém-chegada à cidade.
b) O investimento em programas de redução dos
impactos ambientais, sobretudo nas áreas de várzea,
acompanhou o desenvolvimento da indústria desde
o primeiro momento, quando foram implantadas.
c) A priorização do transporte rodoviário pelas admi-
nistrações públicas teve pouco impacto sobre a
organização das cidades.
d) A concentração territorial das indústrias em deter-
minadas áreas das cidades, sobretudo nas áreas de
várzea, pouco influenciou no processo de ocupa-
ção territorial das outras funções (habitação, lazer e
cultura).
e) Durante esse período, a administração pública das
cidades buscou equilibrar a distribuição territorial das

86 Construções Inteligentes e Sustentáveis


cidades por meio de políticas de habitação popular
nas áreas centrais da cidade e próximas às industrias,
evitando a ocupação de áreas de risco e impróprias
para a habitação.

3. Qual das alternativas abaixo NÃO representa um dos


desafios encontrados para a consolidação das cidades
inteligentes:
a) A distribuição irregular de redes de comunicação nos
territórios, quantitativamente e qualitativamente.
b) Falta de mão de obra qualificada para a fabricação,
implantação e gestão dos sistemas de controle no
caso de uso em larga escala.
c) Possíveis falhas de segurança cibernética, que podem
parar temporariamente os sistemas.
d) Dificuldade de aproximação entre as indústrias e os
especialistas das áreas de Informação e Comunicação.
e) Falta de interesse da sociedade e das indústrias na
troca de informações por meio das redes digitais de
comunicação.

Referências Bibliográficas

ABDI. Cidades Inteligentes. Documento de Referência - Ambiente de Demonstração


de Tecnologias para Cidades Inteligentes. 2007. Disponível em: <https://cidadesin-
teligentes.abdi.com.br/downloads/dl_documento_de_referencia.pdf>. Acesso em: 16
ago. 2018.
COLLABO. A Indústria 4.0 e a revolução digital. Disponível em: <http://universidade.hu-
mantech.com.br/industria-4-0-revolucao-industrial?__hstc=135408366.30b2a6fd11a-
f9a9810a1b0a1ae204b9b.1534468374571.1534468374571.1534468374571.1&__hss
c=135408366.3.1534468374571&__hsfp=1516439911>. Acesso em: 16 ago. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 87


FOCCOERP. Indústria 4.0- Guia Completo da Indústria do Futuro. Disponível em:
<https://www.foccoerp.com.br/wp-content/uploads/2017/09/ebook-industria-4.
0-ok-1.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2018.
MORINAGA, Carlos Minoru. Áreas contaminadas e a construção da paisagem pós-
-industrial na cidade de São Paulo. – São Paulo, 2013. 201p. Disponível em: <http://
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-02072013-162822/pt-br.php>.
Acesso em: 16 ago. 2018.
SANTOS, L. G. M. Escola de Design da Lapa- Projeto para uma Escola de Design na
Lapa de Baixo- SP. Campinas, 2017. 140p. Disponível em: <https://issuu.com/lucas_
marinho/docs/tfg2017_unicamp_lucas_marinho_escol_edc0c4aea32d2a>. Acesso
em: 16 ago. 2018.

Gabarito – Tema 05

Questão 1 - alternativa C:
A difusão e democratização do acesso às redes de comunicação (re-
des sociais, blogs, websites) aproximam o consumidor dos meios de
produção, facilitando a obtenção de informações a respeito de suas
preferências, necessidades e hábitos de consumo.

Questão 2 – alternativa A:
Os trabalhadores das primeiras indústrias instaladas na cidade bus-
caram os terrenos mais baratos e próximos às indústrias. Nessas áre-
as, a ocupação do solo se deu com pouco ou nenhum planejamento,
em cortiços e casas amontoadas sujeitas aos alagamentos dos rios
próximos e à poluição emitida pelas fábricas próximas.

Questão 3 – alternativa E:
A comunicação entre os diversos agentes envolvidos na cadeia pro-
dutiva e de consumo, bem como na construção das cidades, tem se
tornado cada vez mais intensa graças à difusão e democratização
das telecomunicações e das redes sociais.

88 Construções Inteligentes e Sustentáveis


TEMA 06
JARDINS FILTRANTES: UMA
TECNOLOGIA BASEADA NA NATUREZA

Objetivos

• Apresentar o cenário de poluição das águas


nas cidades.

• Discorrer sobre o funcionamento dos jardins filtrantes.

• Entender a estrutura dos jardins filtrantes e o meca-


nismo de despoluição.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 89


►- Introdução

O Jardim Filtrante é um sistema de tratamento natural de resíduos que


pode ser aplicado para despoluição de líquidos, sólidos, solos e ar. O prin-
cipal fator de tratamento se dá pelos processos naturais que acontecem
na zona de raízes, dentro dos substratos dos filtros plantados.

Como o próprio nome sugere, o sistema se configura como um jardim de


aparência natural com a capacidade de atrair a biodiversidade de fauna e
flora para sua área de instalação. Os Jardins Filtrantes são desenvolvidos
por meio de projetos de paisagismo multifuncional ,que integram diferen-
tes filtros plantados compostos por plantas nativas ou adaptadas capazes
de degradar poluentes a partir da fitorremediação.

Além de resilientes e de fácil gestão, esses jardins oferecem uma série de


benefícios frente a tratamentos convencionais, como a não utilização de
produtos químicos, nenhuma geração de lodo residual, baixo consumo
de energia e balanço de carbono com efeito positivo. Minimiza os riscos
ambientais por tratar-se de uma tecnologia baseada na própria natureza.

A ausência de odores desagradáveis e os devidos cuidados para não favo-


recer a proliferação de mosquitos proporcionam biotas favoráveis à con-
templação e valorização da área. Essa tecnologia integra ferramentas para
o desenvolvimento de cidades e construções sustentáveis, promovendo o
aumento de áreas verdes, parques e praças que influenciam diretamente
na melhoria da qualidade de vida da população.

1. Despoluição das águas

A água é o recurso natural mais importante do planeta. É vital para os se-


res vivos e constitui parte importante de todas as matérias do ambiente
natural ou antrópico. Além de sua importância para o consumo humano,

90 Construções Inteligentes e Sustentáveis


é essencial para o desenvolvimento de atividades industriais e agropecu-
árias, sendo responsável por aspectos ambientais, financeiros, econômi-
cos, sociais e de mercado nas cidades.

A água é considerada um recurso renovável devido à sua capacidade de


se recompor em quantidade, principalmente pelas chuvas e por sua ca-
pacidade de absorver poluentes. Entretanto, a classificação como recurso
renovável também é limitada pelo uso e tem sua disponibilidade diminu-
ída cada vez mais devido a quantidade existente e a qualidade apresen-
tada. Dada a sua utilidade para o ser humano, a água é considerada um
recurso finito, escasso e de valor econômico. É um recurso tão importante
que define o desenvolvimento que uma região, país ou sociedade pode
alcançar (Campana; Mendiondo; Tucci, 1995).1

A qualidade da água é determinada por suas condições naturais e pela


interferência das atividades humanas, ou seja, do uso e da ocupação da
bacia hidrográfica, sendo:

• Condições naturais: a qualidade é alterada devido ao escoamento


superficial e a infiltração no solo, incorporando sólidos suspensos
(oriundos dos solos e matéria orgânica) e sólidos dissolvidos (íons
presentes nas rochas).

• Uso e ocupação do solo: pode vir na forma de despejos domésticos


e industriais ou de produtos utilizados na agricultura, contaminan-
do as águas naturais.

Essas condicionantes dizem respeito à qualidade existente da água. Em


contraposição às características de seu meio, está a qualidade desejável da
água, que é a qualidade necessária para seu uso previsto. Portanto, o seu
estudo é essencial tanto para se caracterizar os impactos e consequências
das atividades humanas na água (em sua qualidade existente), quanto para
estabelecer meios de satisfazer determinado uso (qualidade desejável).

Entre os seus usos pelo ser humano, pode-se citar:


1
CAMPANA, Néstor A.; MENDIONDO, Eduardo M.; TUCCI, Carlos E. M. A multi-source approach to hydrologic
parameter estimation in urban basins. Water Science and Technology, [s. l.], v. 32, n. 1, 1995.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 91


• Abastecimento doméstico.

• Abastecimento industrial.

• Irrigação.

• Dessedentação animal.

• Preservação de fauna e flora.

• Recreação e lazer.

• Criação de espécies.

• Geração de energia elétrica.

• Navegação.

• Harmonia paisagística.

• Diluição e transporte de despejos.

Dentre esses usos, apenas os quatro primeiros exigem a retirada e o des-


locamento de água dos corpos hídricos e, geralmente, apenas abasteci-
mento doméstico e industrial necessitam de um tratamento prévio antes
do uso, uma vez que esses usos são mais exigentes quanto à demanda de
qualidade da água.

Diversos corpos hídricos apresentam múltiplos usos, como, por exemplo:


abastecimento, geração de energia, irrigação em uma mesma represa,
entre outros. Tanto a qualidade desejada para cada uso quanto a quanti-
dade de água extraída, quando houver, devem ser bem planejadas pelas
entidades competentes.

Considerando que existem requisitos de qualidade para cada tipo de uso,


foi necessário criar padrões para que esses requisitos sejam cumpridos
legalmente e de forma mais segura. Três tipos de padrões regem as dire-
trizes de qualidade da água: padrões de lançamento no corpo receptor,
de qualidade do corpo receptor e de qualidade para determinado uso do
efluente tratado (como para irrigação ou potabilidade, por exemplo).

92 Construções Inteligentes e Sustentáveis


PARA SABER MAIS
A nível nacional, os principais padrões relacionados são:

- Portaria Nº 2.914/2011, do Ministério da Saúde (padrão de


potabilidade).
“Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância
da qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade”. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>. Acesso
em: 26 nov. 2018.

- Resolução CONAMA 357/2005 (classificação dos cor-


pos hídricos)
“Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabe-
lece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e
dá outras providências”. Disponível em: <http://www2.mma.
gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459>. Acesso em:
26 nov. 2018.

- Resolução CONAMA 430/2011 (padrão de lançamento de


efluentes)
“Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de
efluentes, complementa e altera a Resolução no 357, de 17
de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-
CONAMA”. Disponível em: <http://www2.mma.gov.br/port/
conama/legiabre.cfm?codlegi=646>. Acesso em: 26 nov. 2018.

A definição apresentada pela Lei n. 6938/81, que dispõe sobre a Política


Nacional do Meio Ambiente, diz que poluição é “a degradação da qualida-
de ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

Construções Inteligentes e Sustentáveis 93


a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população.
b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas.
c) Afetem desfavoravelmente a biota.
d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente.
e) Lancem matérias ou energia em desacordo com padrões ambien-
tais estabelecidos.
Dentre os diversos tipos de poluição, destaca-se a poluição das águas, que
pode ser definida como a adição de substâncias ou de formas de energia
que, direta ou indiretamente, alterem a natureza do corpo hídrico de uma
forma que prejudique os legítimos usos que dele são feitos.

A poluição nas águas pode vir de forma difusa ou pontual. Na poluição


pontual, os poluentes chegam ao corpo hídrico de forma concentrada no
espaço. Um exemplo é o lançamento de uma rede coletora de drenagem,
que chega de forma encanada ao rio. Na poluição difusa, os poluentes
adentram o corpo hídrico ao longo de parte da sua extensão. Esse é o
caso da água utilizada em irrigação, que é transportada por escoamento
superficial ou infiltração no solo, chegando de forma distribuída na exten-
são do rio (Miguez; Veról; Rezende, 2016).2

A composição do esgoto doméstico é de aproximadamente 99,9% de


água e a fração restante inclui sólidos orgânicos, suspensos e dissolvidos,
bem como microrganismos. Portanto, é essa fração de 0,1% do esgoto
que deve ser tratada. A característica dos esgotos varia de acordo com
os usos aos quais a água foi submetida, considerando clima, situação so-
cial, econômica, e hábitos da população. Devido a essa variação, são uti-
lizados parâmetros de qualidade para facilitar a caracterização do esgo-
to, sendo divididos em parâmetros físicos, químicos e biológicos (Bastos;
Sperling, 2009).3

2
MIGUEZ, Marcelo Gomes; VERÓL, Aline Pires; REZENDE, Osvaldo Moura. Drenagem Urbana - do Projeto
Tradicional À Sustentabilidade. Brasil: Campus, 2016.
3
BASTOS, Francisco Suetônico; SPERLING, Marcos Von (EDS.). Nutrientes de esgoto sanitário: utilização e
remoção. 1a Edição ed. Rio de Janeiro: ABES, 2009. v. Tema 2.

94 Construções Inteligentes e Sustentáveis


O processo de tratamento do esgoto pode adotar diferentes tecnologias
para depuração do efluente. O tratamento biológico é a forma mais efi-
ciente de remoção da matéria orgânica dos esgotos. O próprio esgoto
contém grande variedade de bactérias e protozoários para compor as
culturas microbiais mistas que processam os poluentes orgânicos. O uso
desse processo requer o controle da vazão, a recirculação dos micror-
ganismos decantados, o fornecimento de oxigênio e outros fatores. Os
fatores que mais afetam o crescimento das culturas são a temperatura,
a disponibilidade de nutrientes, o fornecimento de oxigênio, o pH, a pre-
sença de elementos tóxicos e a insolação (no caso de plantas verdes).

A matéria orgânica do esgoto é decomposta pela ação das bactérias pre-


sentes no próprio efluente, transformando-se em substâncias estáveis,
ou seja, as substâncias orgânicas insolúveis dão origem a substâncias
inorgânicas solúveis. Havendo oxigênio livre (dissolvido), são as bactérias
aeróbias que promovem a decomposição. Na ausência do oxigênio, a de-
composição se dá pela ação das bactérias anaeróbias. A decomposição
aeróbia diferencia-se da anaeróbia pelo seu tempo de processamento e
pelos produtos resultantes. Em condições naturais, a decomposição ae-
róbia necessita três vezes menos tempo que a anaeróbia e dela resultam
gás carbônico, água, nitratos e sulfatos, substâncias inofensivas e úteis à
vida vegetal. O resultado da decomposição anaeróbia é a geração de ga-
ses como o gás sulfídrico, metano, nitrogênio, amoníaco e outros, muitos
dos quais apresentam mau odor (Bastos; Sperling, 2009).

A decomposição do esgoto é um processo que demanda vários dias,


iniciando-se com uma contagem elevada de Demanda Bioquímica de
Oxigênio (DBO), que vai decrescendo e atinge seu valor mínimo ao com-
pletar-se a estabilização. A determinação da DBO é importante para indi-
car o teor de matéria orgânica biodegradável e definir o grau de poluição
que o esgoto pode causar ou a quantidade de oxigênio necessária para
submeter o esgoto a um tratamento aeróbio.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 95


As tecnologias de tratamento de efluentes nada mais são que o aperfei-
çoamento do processo de depuração da natureza, buscando reduzir seu
tempo de duração e aumentar sua capacidade de absorção, com con-
sumo mínimo de recursos em instalações e operação, além do melhor
resultado em termos de qualidade do efluente lançado, sem deixar de
considerar a dimensão da população a ser atendida.

1.1 O tratamento por Jardins Filtrantes

O Jardim Filtrante (JF) é uma forma de “wetland construído”, ou seja, um


ecossistema planejado e controlado que recria de forma otimizada as
condições ideais para ocorrência de processos naturais depuradores, ao
mesmo tempo em que agrega valorização arquitetônica, paisagística e so-
cial (Herzog; Rosa, 2015).4

O tratamento de poluentes verificado nos Jardins Filtrantes ocorre por


vias físicas, como a retenção de sólidos no substrato do filtro; por vias
químicas e biológicas, a partir de reações e interações específicas da zona
de raízes das plantas. Essa técnica de tratamento recebe o nome de fitor-
remediação, que é uma técnica que explora a propriedade de interação
entre as bactérias localizadas nos rizomas das plantas, as próprias raízes,
o meio filtrante e os diferentes tipos de contaminantes (orgânicos e inor-
gânicos). Consiste basicamente no uso de plantas para remover, reduzir
ou imobilizar contaminantes presentes na água, no solo e no ar. Essa in-
teração promove transformações químicas nas moléculas que resultam
em formas assimiláveis e não tóxicas, ou seja, inofensivas ao ecossistema
(Mendes, 2018).5

4
HERZOG, Cecilia Polacow; ROSA, Lourdes Zunino. Infraestrutura verde: sustentabilidade e resiliência para a
paisagem urbana. Revista Labverde, [s. l.], p. 92–115, 2010.
5
MENDES, Maria Estela Ribeiro. A FITORREMEDIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE PROJETO PARA A SUSTENTA-
BILIDADE URBANA. 2018. Mestrado em Arquitetura - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.

96 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Os processos naturais por meio de sistemas fitorremediadores vem sen-
do aprimorados a fim de potencializar a capacidade que o meio ambiente
tem de controlar a poluição. Isso significar dizer que as interações físicas,
químicas e biológicas presentes entre solo, plantas e microrganismos são
otimizadas à um nível ótimo, suficiente para promover a redução de subs-
tâncias indicadoras de poluição.

Os Jardins Filtrantes são compostos por um sistema de wetlands de flu-


xo subsuperficial híbrido, no qual o filtro de fluxo vertical antecede o fil-
tro de fluxo horizontal, combinado com um wetland de fluxo superficial.
São três bacias sequenciadas denominadas de Filtro Vertical (FV), Filtro
Horizontal (FH) e Lagoa Plantada (LP), conforme ilustrado na Figura 1. O
tratamento acontece por meio de reações produzidas no substrato, es-
timuladas pela atividade das plantas e dos microrganismos simbiontes
nas raízes, eliminando os poluentes sem contaminação das plantas ou do
meio (Vymazal, 2008)6.

Figura 1 | Fluxograma da sequência de tratamento em um


Jardim Filtrante

e:>
fi tr·o I Ofi2!ot tal

•••••
ffID:o .gu para r cam nto

Fonte: adaptado de MENDES (2018, p. 107).7

O efluente bruto, assim que é gerado e colhido pela rede de esgotos, é


direcionado a um tanque de recebimento e aeração. Sua principal fun-
ção é o armazenamento temporário do efluente e promoção da aeração
do líquido, por meio de agitação com ar inserido (aerador Venturi sub-
mersível). A aeração constante é fundamental para manter o ambiente
6
VYMAZAL, Jan. Wastewater treatment in constructed wetlands with horizontal sub-surface flow. New
York: Springer, 2008.
7
MENDES, Maria Estela Ribeiro. A FITORREMEDIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE PROJETO PARA A SUSTENTA-
BILIDADE URBANA. 2018. Mestrado em Arquitetura - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 97


aeróbico, evitando odores, além de favorecer a suspensão de micropartí-
culas sólidas, evitando a sedimentação.

Em sequência, o filtro vertical recebe o esgoto bruto proveniente do tan-


que de aeração e dá início ao tratamento biológico em fase aeróbia. A
denominação desse filtro se dá pelo sentido do fluxo do efluente no filtro,
conforme mostra a Figura 2. Essa etapa tem como objetivo a remoção de
sólidos e materiais em suspensão por processos físicos e biológicos, bem
como retenção de óleos e graxas.

Figura 2 | Seção perspectivada de um filtro vertical

lll!ITAQI

Fonte: MENDES (2018, p. 140).8

Após passar pelos filtros verticais, o esgoto seguirá por gravidade para os
filtros horizontais (FH), que recebe esse nome devido ao fluxo do líquido
no seu interior, conforme mostra a Figura 3. Nessa etapa, acontece um
polimento da etapa anterior, ou seja, uma remoção adicional de sólidos,
8
MENDES, Maria Estela Ribeiro. A FITORREMEDIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE PROJETO PARA A SUSTENTA-
BILIDADE URBANA. 2018. Mestrado em Arquitetura - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.

98 Construções Inteligentes e Sustentáveis


materiais em suspensão e de óleos e graxas. Além disso, continua a nitrifi-
cação na parte superior do filtro, onde existe uma interface com oxigênio,
e na parte inferior, onde se forma um ambiente anóxico, ocorre a desnitri-
ficação, realizada pelas bactérias facultativas presentes neste ambiente,
que fazem a transformação do nitrito e nitrato em nitrogênio gasoso.

Figura 3 | Seção perspectivada de um filtro horizontal


YAIA Ci!W,.1,1,Cf
11rw1~ ACAaM!t TO
COM~J.

Fonte: MENDES (2018, p. 143).9

Por fim, após os filtros horizontais, o efluente seguirá ainda por gravidade
para a lagoa plantada (LP), apresentada na Figura 4. Na lagoa, ocorre a de-
posição de qualquer sólido que possa ter restado após as filtrações, além
de ser promovida uma desinfecção por meio da penetração dos raios UV
do sol e do tempo de detenção, deixando o efluente final livre de conta-
minações e patógenos. Além dessas funções, as plantas escolhidas para
essa etapa do tratamento têm a propriedade de introduzir uma grande
9
MENDES, Maria Estela Ribeiro. A FITORREMEDIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE PROJETO PARA A SUSTENTA-
BILIDADE URBANA. 2018. Mestrado em Arquitetura - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 99


quantidade de oxigênio na água, fazendo com que o efluente final devol-
vido ao meio ambiente seja rico em oxigênio dissolvido. Após essa etapa,
a água pode seguir para uma rede de reuso para fins não potáveis, con-
forme demonstrado na Figura 5 (MENDES, 2018).

Figura 4 | Seção perspectivada de uma lagoa plantada

WV, GIIAVAl:f. ilANCO Gl:QC01,'iP0510 !,Ot.O 'INA Dl l'WQ,O l)!i.


1 NNHIM LW'IRMU.JIIUV..'lTt íVAVAlll"l IMl'fR•J,hnJI 17.-t;Ml
~JZAiv. ,,.,..-"BMlol.NrO EI.EYNlô~
co~ -AAw. ~RlliA, TfliAA
OUAA t,,,

Fonte: MENDES (2018, p. 146).10

PARA SABER MAIS


Em 24 de maio de 2017, no Rio de Janeiro, foi publicada a pri-
meira lei que obriga o reuso de água em Indústrias. A Lei n.
7599/17 dispõe sobre a obrigatoriedade de indústrias, situ-
adas no estado do Rio de Janeiro, instalarem equipamentos
de tratamento e reutilização de água. Disponível em: <http://
www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?i-
dProposicao=2136623>.Acesso em: 26 nov. 2018.

10
MENDES, Maria Estela Ribeiro. A FITORREMEDIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE PROJETO PARA A SUSTENTA-
BILIDADE URBANA. 2018. Mestrado em Arquitetura - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.

100 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Figura 5 | Síntese do processo completo de tratamento por Jardins
Filtrantes

FILTIRO FILTRO, AGOA MEIO


A RAÇÃ O 1
MORIZONTA
VER ICA PLANTADA RECEPTOR
El,;t.a produpo de
m us Od:> $ .- T1r.1tamenl0 Aeról:!io
lleduçã.o ,de B:!>~,cng;a
lfratamento Ana1rró bio
ta~u !:aatiYO]
~õlmiento
d e 2"lii remoção de carl!la
Águ.i para REU!ID
L.i, -.in i:nw Riu
Al,)mento d,1 ehc1enei;l
d.i r~moção de 00.0 <!: . org;inica e 11utrientes.
Remoo' o d~ $iili cl~~
Redução de 11" ca rl!:a
argãi11ka e n utrlente1.. . orginka e sólidos..
□ e'ilnfe~o uv lllrll! fill
Lançamento rede
públic..i
111trlfic11ção..,
. lt "fic:ação
iO Cl'i'I pr,of un lfld:idP '
Re oção de sólidos
D ~ll iftffi('~(•"° . ,Ol(jgenação na~ural
.FIOl:m profun rfüfadP
lnfil tr ç:ão no solo
ZO .i, ,$UJTiidotiic; ~
2 horas
. 50cm ?rafundi dade
6 a hora
:! a 5,d ias e\l;lp0 nli iraç;;o

Fonte: MENDES (2018, p. 147).11

1.2 Plantas que despoluem

O tratamento por fitorremediação tem como sua característica mais percep-


tível a presença de macrófitas aquáticas, que nada mais são do que as plan-
tas que crescem na água, em solos cobertos por água ou em solos saturados.

As plantas utilizadas dentro do Jardim Filtrante são de porte arbustivo, do


tipo aquáticas, semiaquáticas, palustres ou marginais. As espécies man-
têm uma profunda relação com ambientes úmidos e, por meio dessa in-
teração, pode-se explorar sua capacidade depurativa.

A principal função das macrófitas no Jardim Filtrante é o estabelecimen-


to da zona de raízes, que atua melhorando a acomodação e desenvolvi-
mento da microbiota depuradora, aumentando a área de contato para
o tratamento, liberando exsudatos radiculares que participam das rea-
ções, reduzindo a ocorrência de colmatação e absorvendo uma parcela
importante dos nutrientes, utilizados em seu crescimento. Além disso, é
importante ressaltar sua importância paisagística e sua interação com o
ecossistema, atraindo biodiversidade (Mendes, 2018).12
11
MENDES, Maria Estela Ribeiro. A FITORREMEDIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE PROJETO PARA A SUSTENTA-
BILIDADE URBANA. 2018. Mestrado em Arquitetura - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.
12
MENDES, Maria Estela Ribeiro. A FITORREMEDIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE PROJETO PARA A SUSTENTA-

Construções Inteligentes e Sustentáveis 101


As plantas são os principais indicadores do funcionamento geral do sis-
tema. Se há algo errado com os parâmetros do efluente, sua quantidade,
com o fluxo d’água dentro do filtro ou com agentes externos que podem
estar influenciando nos processos, as plantas serão os primeiros compo-
nentes a mostrar anormalidades por meio de suas reações.
Além de conferir o acabamento estético da intervenção, as plantas, quan-
do cultivadas e cuidadas da maneira correta, se desenvolvem dentro de
seu máximo potencial, garantindo que o sistema sempre funcione em
plenas condições, em relação à capacidade depurativa dos vegetais.
Como a intenção do sistema é que as plantas se alimentem dos nutrien-
tes em excesso encontrados no esgoto, não são plantadas em solo (que
são ricos em matéria orgânica e nutrientes), mas sim em um meio filtran-
te (pobre em nutrientes), também conhecido como meio suporte ou subs-
trato. Além de servirem como um suporte para o plantio, atuam como um
filtro para reter as impurezas.
O substrato que forma o meio filtrante dos filtros verticais (FV) e filtros
horizontais (FH) é composto por britas de diferentes granulometrias. O FV
é composto por camadas horizontais de brita fina (Ø 9,5mm a 19,0mm),
média (Ø 19,0mm a 25,0mm) e grossa (Ø 25,0mm a 38,0mm), respecti-
vamente de cima para baixo. Já o FH é composto basicamente por brita
média, com brita grossa apenas na entrada e na saída do filtro, nas partes
onde se encontram as tubulações de alimentação e drenagem.

ASSIMILE
As britas têm como principal função a retenção física dos só-
lidos presentes no efluente, por meio de filtração. Os sóli-
dos retidos são ricos em nutrientes, que servem de alimento
para as plantas. Além disso, o substrato age como suporte
para o enraizamento das plantas e desenvolvimento dos mi-
crorganismos e contribui para a melhor distribuição do fluxo
de efluente no processo de tratamento.

BILIDADE URBANA. 2018. Mestrado em Arquitetura - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.

102 Construções Inteligentes e Sustentáveis


O controle do sistema implementado é feito por monitoramento analítico:
um monitoramento compulsório, estabelecido pela Licença de Operação
(LO) da unidade e pela Outorga de Lançamento de efluentes em corpos
hídricos; e um acompanhamento analítico operacional, que é importante
para o controle, gerenciamento e otimização do tratamento. Nenhum dos
monitoramentos elimina a necessidade de observação atenta do sistema
como um todo (saúde das plantas, coloração do efluente de entrada, as-
pecto da água da lagoa etc).

O principal processo de manutenção para as plantas dos Jardim Filtrantes


são as podas. Com objetivos e procedimentos variados, se dividem em
três tipos: (1) Poda de limpeza; (2) Poda de alinhamento; e (3) Poda total
sazonal. Além das podas, há os seguintes processos auxiliares que devem
ser considerados:

• Remoção de daninhas e pragas.

• Remoção de matéria orgânica acumulada.

• Divisão de touceiras.

• Replantio.

• Manejo de resíduos.

A poda de limpeza é caracterizada pela remoção das partes aéreas (folhas,


caules e flores) mortas, danificadas ou doentes. A poda de alinhamento é
caracterizada pela retirada parcial ou total de vegetais que estejam fora
dos canteiros que foram designados no plano de plantação original. A
poda de regeneração se caracteriza por uma remoção radical de quase
toda a parte aérea da planta, deixando de 5 a 10 cm de altura apenas, a
contar da superfície do substrato até a haste mais alta que ficar remanes-
cente (Mendes, 2018).13

13
MENDES, Maria Estela Ribeiro. A FITORREMEDIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE PROJETO PARA A SUSTENTA-
BILIDADE URBANA. 2018. Mestrado em Arquitetura - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 103


Tabela 1 | Resumo de Atividades de Manutenção Verde

Nome Atividade Período

Poda de limpeza Remover folhas, galhos, Diariamente


flores e outros que estejam (notar quantos
mortos ou danificados. dias são
necessários para
limpeza total do
Jardim Filtrante).
Poda de Remover plantas ou Observação diária.
alinhamento parte delas que estejam
invadindo outros maciços,
prejudicando o desenho.
Poda de Remoção de toda a parte Para cada espécie,
regeneração aérea da planta deixando seguir instruções
de 5 a 10 cm de caule com da tabela
algumas folhas. do item 4.
Remoção de Remover espécimes que, Diariamente
daninhas e pragas eventualmente, apareçam (notar quantos
nos jardins e nos taludes, dias são
sem que esteja definido necessários para
no projeto. limpeza total do
Jardim Filtrante).
Divisão Separar uma planta que Observação diária.
de touceiras possa ser dividida em
mudas e replantar em
espaços vazios do maciço.
Replantio Plantio de novas plantas Observação diária.
adquiridas de uma
espécie que esteja em
deficiência numérica.

104 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Nome Atividade Período

Manejo Destinação adequada dos Diariamente.


de resíduos resíduos orgânicos gerados
nos jardins durante as
atividades de manutenção
supracitadas.
Podas, remoção Atividades de manutenção Quinzenalmente,
de daninhas e de plantas depuradoras da sempre nas
pragas, divisão lagoa descritas em tópicos sextas-feiras.
de touceiras anteriores.
e replantio
dentro da lagoa.
Remoção de Remover com o pulsar Observação diária.
algas e macrófitas as algas e macrófitas
flutuantes. flutuantes que
surgirem na lagoa.
Fonte: adaptado de MENDES (2018, p. 189).

LINK
Premio Green Solutions Awards 2017 - Sustainable Infrastructures
GP. Os Jardins Filtrantes foram premiados como infraes-
trutura sustentável com o projeto no Centro de Pesquisa
e Inovação da L’Oréal, no Rio de Janeiro, Brasil. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=dwwbELoUDas>.
Acesso em: 25 jun. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 105


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Diante do conteúdo apresentado, refletir como a Tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC), característica das cidades inteligentes,
poderia ser aplicada ao sistema de tratamento por Jardins Filtrantes.

2. Considerações Finais
• Embora a água seja um recurso natural renovável sob os aspectos
do ciclo hidrológico, a intensidade das ações antrópicas pode tornar
a disponibilidade de água limpa finita, uma vez que a velocidade de
contaminação da água tem sido maior que a descontaminação da
mesma nos meios urbanos.

• Os esgotos domésticos são compostos de 99,9% água e apenas 0,1%


resíduos orgânicos, suspensos e dissolvidos, bem como microrganis-
mos. Esses resíduos elevam a taxa de nutrientes na água, que podem
ser consumidos como alimento por plantas macrófitas aquáticas,
permitindo o processo de despoluição das águas de maneira natural.

• O fenômeno que explora a propriedade de interação entre as bacté-


rias localizadas nos rizomas das plantas, as próprias raízes, o meio
filtrante e os diferentes tipos de contaminantes (orgânicos e inorgâ-
nicos) é denominada fitorremediação.

• Os Jardins Filtrantes representam uma tecnologia natural que faz


uso da fitorremediação para tratar águas contaminadas, resultando
como produto água de reuso para fins não potáveis.

Glossário

• Resiliência ambiental: capacidade de resistir à pressão, adaptar-se à


mudanças, superar crises e recuperar o equilíbrio por conta própria.

106 Construções Inteligentes e Sustentáveis


• Wetland Construído: sistemas de jardins alagados construídos e pro-
jetados pelo homem, prevendo um ambiente controlado e eficiente.

• Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO): representa a quanti-


dade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica pre-
sente na água por meio da decomposição microbiana aeróbia (que
consome oxigênio). Valores altos de DBO num corpo d’água são
provocados, geralmente, pelo lançamento de cargas orgânicas,
principalmente esgotos domésticos. A ocorrência de altos valores
desse parâmetro causa uma diminuição dos valores de oxigênio
dissolvido na água, o que pode provocar mortandades de peixes
e outros componentes da fauna aquática. Com a degradação da
matéria orgânica por meio dos processos anteriormente descritos
(envolvendo bactérias e plantas), a DBO vai automaticamente sen-
do corrigida no efluente à medida que os desequilíbrios entre os
processos naturais vão sendo sanados.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 6
1. Qual das afirmações abaixo, sobre fitorremediação, está
correta?
a) A fitorremediação é uma técnica natural que ocor-
re na zona de raízes das plantas conhecidas como
macrófitas aquáticas.
b) A fitorremediação é uma tecnologia baseada na natu-
reza, desenvolvida para evitar a escassez de água.
c) A fitorremediação é um jardim alagado construído
pelo homem, promovendo um ambiente controlado
para descontaminação da água.
d) A fitorremediação é uma estratégia para o

Construções Inteligentes e Sustentáveis 107


desenvolvimento de cidades inteligentes e sustentá-
veis, pois é uma tecnologia natural.
e) A fitorremediação é uma técnica natural que ocorre
em jardins filtrantes para o tratamento de esgoto.

2. Os filtros verticais:
a) Representam a primeira etapa dos jardins filtrantes,
responsável pela desnitrificação, realizada pelas bac-
térias facultativas presentes nesse ambiente, que
fazem a transformação do nitrito e nitrato em nitro-
gênio gasoso.
b) Representam a segunda etapa dos jardins filtrantes,
responsável pela aeração constante e manutenção
do ambiente aeróbico, evitando odores.
c) Representam a primeira etapa dos jardins filtrantes,
responsável pela remoção de sólidos e materiais em
suspensão por processos físicos e biológicos, bem
como retenção de óleos e graxas.
d) Representam a segunda etapa dos jardins filtrantes,
responsável pelo aumento do oxigênio dissolvido,
uma vez que é um ambiente aeróbico.
e) Representam a primeira etapa dos jardins filtrantes,
responsável pelo recebimento e armazenamento do
efluente bruto para sedimentação dos sólidos.

3. Faz parte da manutenção verde dos jardins filtrantes:


a) Poda de limpeza, replantio e irrigação.
b) Poda de alinhamento, remoção de daninhas e
adubação.
c) Poda de regeneração, divisão de touceiras e irrigação.

108 Construções Inteligentes e Sustentáveis


d) Poda de limpeza, divisão de touceiras e remoção de
algas.
e) Poda de regeneração, adubação e replantio.

Referências Bibliográficas

BASTOS, Francisco Suetônico; SPERLING, Marcos Von (EDS.). Nutrientes de esgoto


sanitário: utilização e remoção. 1a Edição ed. Rio de Janeiro: ABES, 2009. v. Tema 2.
CAMPANA, Néstor A.; MENDIONDO, Eduardo M.; TUCCI, Carlos E. M. A multi-source
approach to hydrologic parameter estimation in urban basins. Water Science and
Technology, [s. l.], v. 32, n. 1, 1995.
HERZOG, Cecilia Polacow; ROSA, Lourdes Zunino. Infraestrutura verde: sustentabili-
dade e resiliência para a paisagem urbana. Revista Labverde, [s. l.], 2010.
MENDES, Maria Estela Ribeiro. A FITORREMEDIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE
PROJETO PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA. 2018. Mestrado em Arquitetura -
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.
MIGUEZ, Marcelo Gomes; VERÓL, Aline Pires; REZENDE, Osvaldo Moura. Drenagem
Urbana - do Projeto Tradicional À Sustentabilidade. Brasil: Campus, 2016.
VYMAZAL, Jan. Wastewater treatment in constructed wetlands with horizontal
sub-surface flow. New York: Springer, 2008.

Gabarito – Tema 06

Questão 1 – alternativa A:

A fitorremediação é uma técnica natural que ocorre em qualquer am-


biente rico em nutrientes, de forma espontânea, nas raízes das plantas.

Questão 2 – alternativa C:

Construções Inteligentes e Sustentáveis 109


Os filtros verticais representam a primeira etapa dos jardins filtrantes,
conforme demonstrado na Figura 1, e são responsáveis pela remoção
de sólidos e materiais em suspensão por processos físicos e biológi-
cos, bem como retenção de óleos e graxas.

Questão 3 – alternativa D:

Os jardins filtrantes não são irrigados nem adubados, pois as plantas


se alimentam dos nutrientes presentes no esgoto.

110 Construções Inteligentes e Sustentáveis


TEMA 07
SUSTENTABILIDADE, RESILIÊNCIA
URBANA E O CASO DO CENTRO DE
OPERAÇÕES DO RIO DE JANEIRO
(COR)

Objetivos

• Conhecer a evolução histórica do termo e do conceito


de Smart Cities e seu estado atual de desenvolvimento
teórico/ prático.

• Conhecer a relação entre sustentabilidade, resiliên-


cia urbana e sua importância, a fim de que sejam
atingidos os objetivos de desenvolvimento susten-
tável urbano.

• Entender como o a experiência do Centro de


Operações do Rio de Janeiro (COR) pode contribuir
para a implantação de sistemas semelhantes em
outros municípios.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 111


Introdução

A sociedade urbana contemporânea tem enfrentado problemas em gê-


nero e escala nunca antes registrados. O crescimento da população das
grandes cidades, o aumento do consumo e da geração de resíduos, a de-
sigualdade social e a ineficiência das políticas públicas dos municípios têm
criado situações de alto risco em diversas cidades de nosso país. As ações
e políticas top-down, elaboradas pelos agentes e órgãos públicos distantes
da realidade da população, têm se demonstrado incapazes de antecipar,
corrigir ou ao menos reduzir os problemas ambientais, sociais e de ordem
econômica nesse complexo cenário.

Diante disso, as novas possibilidades de conectividade e comunicação, pro-


porcionadas pela evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TICs) ao longo das últimas décadas, evidenciaram a ruptura e as frag-
mentações persistentes nesses processos na esfera pública. O aumento
da capacidade de coleta, armazenamento e processamento de dados e a
Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0, bem como a alta competi-
tividade na indústria de tecnologia, levaram a extrapolação e a migração
das TICs para o contexto das grandes cidades. A implantação desses sis-
temas inteligentes, capazes de monitorar os diversos serviços e compo-
nentes sociais e ambientais em tempo real tem se mostrado importantes
ferramentas para a consolidação das Smart Cities, ou Cidades Inteligentes,
onde foram implantados.

Partindo de uma breve explanação sobre os conceitos de Smart Cities e de


um rápido histórico de sua terminologia, Benites (2016)1 apresenta alguns
dos principais fatores que influenciam a implantação, avaliação e gestão

1
BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: o caso do
Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224. Dissertação (Mestrado) - Universidade Es-
tadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em: <http://eds.a.ebscohost.com/eds/
detail/detail?vid=1&sid=0f3acbd5-30a2-4a63-a36b-3000150aa60e%40sessionmgr4009&bdata=Jmxhbmc9cH-
QtYnImc2l0ZT1lZHMtbGl2ZSZzY29wZT1zaXRl#AN=unicamp.000978589&db=cat04198a>. Acesso em: 26 out.
2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.

112 Construções Inteligentes e Sustentáveis


desses sistemas, tendo como objetivo a resiliência urbana e a sustentabi-
lidade em seus diversos aspectos (ambiental, social, econômica).

Em seguida, apresenta as condicionantes que culminaram na criação do


Centro de Operações do Rio de Janeiro (COR) e descreve algumas das es-
tratégias e tecnologias adotadas, discutindo sua pertinência com base
nos resultados obtidos após a implantação. Além de informar ao leitor a
respeito das terminologias, conceitos e desafios relacionados às Cidades
Inteligentes, a dissertação de Ana Jana Benites coloca-se como uma refe-
rência para situações semelhantes.

1. Sobre as cidades inteligentes

Surgido no meio acadêmico em meados dos anos 1990, o conceito de


Smart City pautava-se, inicialmente, no seu viés tecnológico, amparado so-
bretudo pela ampliação dos conhecimentos a respeito das redes. Segundo
Benites (2016)2a própria evolução do termo Smart, utilizado para as Smart
Cities, seguiu a evolução das tecnologias que ocorreram ao longo das úl-
timas décadas, sobretudo com a difusão da World Wide Web. Conceitos
como wired city, connected city, net city, cyber city ,digital city e ubiquitous
city, foram utilizados ao longo dessa evolução e refletem os paradigmas
de suas respectivas épocas.

Graças aos Sistemas de Inovação (SIs), surgidos no início dos anos 80,
multiplicaram-se as possibilidades de atendimento às demandas cada vez
mais exigentes das cidades no que diz respeito ao uso das tecnologias nos
processos de gestão. Além disso, pode-se dizer que o caráter competitivo
da inovação diante de um mercado cada vez mais diverso, e mais bem in-
formado, foi um dos principais fatores que sustentaram os investimentos

2
BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: o caso do
Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224. Dissertação (Mestrado) - Universidade
Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em:

Construções Inteligentes e Sustentáveis 113


e o interesse da indústria de tecnologia no desenvolvimento de soluções
voltadas às cidades inteligentes nas décadas seguintes.

Benites (2016)3 ressalta a importância da evolução dessas Tecnologias de


Informação e Comunicação modernas para a transição, das cidades digitais
para cidades inteligentes (sobretudo os ecossistemas de inovação aberta
em serviços), em um processo que passou a integrar cada vez mais os cida-
dãos e a pautar-se em questões de sustentabilidade e resiliência urbana.

Segundo Farias (2017)4, estão diretamente associados à resiliência urbana,


objetivos ecológicos: reduzir, reutilizar, reciclar; e outras interações, como
reparar, reconceber, reagrupar e repensar. A própria noção de resiliência
urbana passou por alterações ao longo do tempo, deixando de dizer res-
peito apenas às catástrofes naturais e expandindo-se para os efeitos da
ocupação inadequada do solo, problemas decorrentes das desigualdades
sociais e falhas nos sistemas urbanos, como segurança e transporte. Sua
utilidade para as reformas urbanas está diretamente ligada à escassez de
recursos e à necessidade de construção de um novo equilíbrio social e
ecológico. Entretanto, a relação entre sustentabilidade e resiliência não é
tão clara, adquirindo os matizes subjetivos das questões de seu tempo e
dos grupos envolvidos na discussão dessas mesmas relações:

É preciso considerar que a sustentabilidade é uma noção altamente antro-


pocêntrica e em parte subjetiva, cuja busca induz um julgamento de valor
moral quanto aos objetivos desejáveis, à escolha dos territórios e à escala
de tempo. Sendo assim, a dialética entre sustentabilidade e resiliência não
é óbvia quando se leva em consideração as escalas temporais a que elas
fazem referências e os valores que elas mobilizam (FARIAS, 2017, p. 05).

3
BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: o caso do
Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224. Dissertação (Mestrado) - Universidade Es-
tadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em: <http://eds.a.ebscohost.com/eds/
detail/detail?vid=1&sid=0f3acbd5-30a2-4a63-a36b-3000150aa60e%40sessionmgr4009&bdata=Jmxhbmc9cH-
QtYnImc2l0ZT1lZHMtbGl2ZSZzY29wZT1zaXRl#AN=unicamp.000978589&db=cat04198a>. Acesso em: 26 out.
2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.
4
FARIAS, José Almir. Resiliência: um bom conceito para o projeto e a reforma urbana?. ENAMPUR, 2017, São
Paulo. Disponível em: <http://anpur.org.br/xviienanpur/principal/publicacoes/XVII.ENANPUR_Anais/ST_Ses-
soes_Tematicas/ST%2010/ST%2010.6/ST%2010.6-05.pdf. Acesso em: 26 out. 2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.

114 Construções Inteligentes e Sustentáveis


No documento preparatório do Habitat III (2015), a Organização das
Nações Unidas (ONU) afirma que a resiliência é tanto o objetivo quanto o
método que serve para a base de intervenções e investimentos estratégi-
cos em um “sistema urbano”. Nesse sistema, relacionam-se as diferentes
escalas (organizacional, espacial, física e funcional) e os diversos riscos
(naturais, tecnológicos, econômicos, sociais e políticos) (Farias, 2017).5

Figura 1 | Modelo conceitual de abordagem de sistemas urbanos por


meio da resiliência

Resiliência Organizacional

Resiliência Espacial

Resiliênci,a Fís.i ca

Resiliência Funcional

Fonte: Organização das Nações Unidas (ONU), documento Habitat III (2015).

Inicialmente, as Cidades Inteligentes, na época designadas amplamente


como digital cities (atualmente conhecidas por Smart City 1.0), caracteriza-
vam-se pela soberania da tecnocracia diante das questões de sustentabi-
lidade econômica, social e ambiental. Nessa etapa de desenvolvimento, a
ideia de cidade inteligente moldava-se sobretudo de acordo com as tec-
nologias que despontavam rapidamente na área de informação e comu-
nicação e a partir dos interesses da indústria de tecnologia. Essa fase de
desenvolvimento das Smart Cities foi marcada pelas iniciativas top-down,
ou seja, formuladas e impostas pelas administrações locais e órgãos na-
cionais de planejamento dos respectivos governos.

5
FARIAS, José Almir. Resiliência: um bom conceito para o projeto e a reforma urbana?. ENAMPUR, 2017, São
Paulo. Disponível em: <http://anpur.org.br/xviienanpur/principal/publicacoes/XVII.ENANPUR_Anais/ST_Ses-
soes_Tematicas/ST%2010/ST%2010.6/ST%2010.6-05.pdf. Acesso em: 26 out. 2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 115


Atualmente, já se fala da Smart City 2.0 (Benites, 2016)6, uma cidade co-
participativa, planejada e liberta do reducionismo tecnocrático. Segundo
Schaffers (2011)7, o ponto de partida para o enquadramento de uma ci-
dade no conceito Smart são os investimentos no capital social e huma-
no, bem como o uso da estrutura moderna e tradicional de comunicação
para a geração de crescimento econômico e para a melhoria da qualidade
de vida, consolidados a partir de uma governança participativa.

Essas cidades diferenciam-se das Smart Cities 1.0 devido às seguintes


características:

• Foco no desenvolvimento sustentável.

• Valorização da participação dos cidadãos na rotina da cidade e nos


processos decisórios para elaboração das políticas públicas.

• Postura mais dinâmica pautada no aprendizado contínuo proporcio-


nado pelos algoritmos baseados na coleta, armazenamento, leitura
e análise de dados.

Segundo Nijkamp (2016, apud BENITES) as cidades tornam-se inteligentes


se as universidades e indústrias dão suporte ao governo no desenvolvi-
mento das infraestruturas necessárias, de forma que estimule a inovação
e o envolvimento da comunidade. Esse ainda é um desafio dado o distan-
ciamento entre o que se produz na academia e o que de fato é aplicado
nas cidades, não apenas no Brasil, mas em diversas nações.

No entanto, ainda que a dificuldade de integração entre os diversos agen-


tes persista em função de questões sociais e de interesse econômico e
político, vemos o crescimento do interesse sobre o tema por parte da

6
BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: o caso do
Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224. Dissertação (Mestrado) - Universidade Es-
tadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em: <http://eds.a.ebscohost.com/eds/
detail/detail?vid=1&sid=0f3acbd5-30a2-4a63-a36b-3000150aa60e%40sessionmgr4009&bdata=Jmxhbmc9cH-
QtYnImc2l0ZT1lZHMtbGl2ZSZzY29wZT1zaXRl#AN=unicamp.000978589&db=cat04198a>. Acesso em: 26 out.
2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.
7
Schaffers, H., Komninos, N., Pallot, M., Trousse, B., Nilsson, M., Oliveira, A. Smart Cities and the Future
Internet: Towards Copperation Frameworks for Open Innovation. 2011. Disponível em: <https://link.springer.
com/content/pdf/10.1007/978-3-642-20898-0_31.pdf. Acesso em: 26 out. 2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.

116 Construções Inteligentes e Sustentáveis


própria sociedade e o aumento de investimento das indústrias de tec-
nologia para o desenvolvimento de soluções para as smart cities. A crise
econômica de 2008 incentivou as empresas de TI a investir no desenvolvi-
mento e diversificação das tecnologias para as Smart Cities, diante da forte
concorrência e da possibilidade da aplicação ampla das tecnologias que
até então eram aplicadas às escalas menores, como os edifícios inteligen-
tes, por exemplo.

Entretanto, não há um consenso quanto as implicações da implantação


dessas tecnologias de forma mais ampla no contexto urbano. Ainda no
início de seu trabalho, Benites (2016) expõe algumas críticas, elaboradas
por especialistas internacionais, que expõem contradições sobretudo
quanto às questões sociais decorrentes desse processo. De forma geral,
destaca-se a superficialidade das soluções propostas (uma espécie de re-
ducionismo técnico), que interferem nas relações interpessoais, questões
de privacidade e segurança dos indivíduos, bem como nas relações de
poder entre as classes sociais.

A questão do desequilíbrio de poder entre as classes sociais nesse ce-


nário, certamente é um aspecto a ser considerado, sobretudo em paí-
ses em desenvolvimento como o Brasil, onde as discrepâncias sociais
tem enorme influência sobre o acesso aos serviços e bens tanto pú-
blicos (dada a má distribuição geográfica dos recursos nas cidades)
quanto privados.

É evidente a importância do envolvimento dos diversos atores sociais para


a implantação e o funcionamento adequado das TICs destinadas às Smart
Cities. A vontade política não é capaz, por si só, de abastecer e gerir os sis-
temas, necessitando da participação dos cidadãos nesses processos, in-
clusive na tomada de decisões. Nesse sentido, processos como o Governo
Eletrônico, ou e-gov, tem sido essenciais para a participação popular na
elaboração das políticas públicas.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 117


ASSIMILE
O governo eletrônico é uma forma instrumental de adminis-
tração das funções do Estado e de consolidação democrática.
Sua infraestrutura unificada de comunicação é compartilha-
da por diferentes órgãos públicos para a melhoria da gestão
pública e do atendimento ao cidadão.

É importante ressaltar que a questão da sustentabilidade não depende


exclusivamente das condições de implantação de tecnologias de ponta de
um município, já que mesmo cidades pequenas podem apresentar solu-
ções sustentáveis, incorporando o conhecimento e o envolvimento local.
O papel das iniciativas de inovação em sistemas “direcionados ao usuá-
rio” (que absorvem as demandas e conhecimentos locais), ou user-driven
information systems, extrapolam a mobilização da população dos centros
urbanos e atingem também as áreas rurais, em um processo citado por
Schaffers (2011) como “inovação democrática”.
Além dos benefícios econômicos proporcionados pela melhora técnico-
-operacional, intrínsecos ao uso das TICs, podemos elencar uma série de
medidores relacionados ao desenvolvimento sustentável em suas dimen-
sões social, ambiental, econômica e cultural) para a verificação da valida-
de desses sistemas numa Smart City.

PARA SABER MAIS


Em uma matéria recente, divulgada no dia 16 de agosto de
2018, a revista Época Negócios apresenta os planos do Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e
da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)
para a implantação de um projeto inédito no país: a cons-
trução do Ambiente de Demonstração de Tecnologias para
Cidades Inteligentes, chamado de Caminhos para o futuro.

118 Construções Inteligentes e Sustentáveis


O projeto, que deverá ocupar cerca de 2,5 milhões de m² no
campus do Inmetro, em Xerém, estado do Rio de Janeiro, sur-
giu em função da necessidade de divulgação das tecnologias
nacionais para os municípios, bem como da necessidade de
avaliação de suas capacidades técnicas de funcionamento e
de integração com outros sistemas.

A partir dessa avaliação, é possível verificarmos o nível de maturidade de


uma Smart City e delinearmos estratégias para sua consolidação de acor-
do com o modelo 2.0, apresentado anteriormente. Esse é um processo
contínuo que, de acordo com experiências nacionais e internacionais, de-
pende de uma componente prática operacional, ou seja, ocorre ao longo
do funcionamento desses mesmos sistemas em situações reais.
No gráfico a seguir, Benites (2016) relaciona o nível de desenvolvi-
mento das TICs utilizadas nas Smart Cities e o nível de maturidade em
Sustentabilidade, localizando as diferentes gerações de Smart City.

Figura 2 | Representação de Smart City pelo nível de inteligência da cidade


o
T, · oi.oa,i ,

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ci 0.1

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Fonte: adaptado de BENITES (2016, p. 43)8

8
BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: o caso do
Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224. Dissertação (Mestrado) - Universidade Es-
tadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em: <http://eds.a.ebscohost.com/eds/

Construções Inteligentes e Sustentáveis 119


1.1 O caso do Centro de Operações do Rio de Janeiro (COR)

Graças às suas características geológicas, bem como aos problemas de-


correntes da desigualdade social e da falta de acesso à moradia digna, o
que leva milhões de pessoas a habitarem áreas de risco, o Rio de Janeiro
tem se destacado no cenário nacional como palco de desastres naturais.
As políticas públicas ineficientes, desarticuladas da sociedade e o aparato
técnico inadequado, utilizado pelos órgãos de monitoramento dos servi-
ços urbanos, contribuiu para a criação desse cenário diante das enchen-
tes, deslizamentos de terra e desabamentos comuns na cidade.

Essa situação chegou ao seu ponto crítico em 2010, quando, sob a mais inten-
sa precipitação registrada na história do Município (Benites, 2016), diversos
soterramentos em áreas de risco habitadas por populações carentes causa-
ram sessenta e seis óbitos. Além das mortes e das centenas de desabrigados,
a tempestade causou a obstrução de vias públicas e a interrupção de diver-
sos serviços fundamentais, instaurando uma situação caótica na cidade.

Segundo Benites (2016)9, a concepção do COR foi uma resposta a esse


evento, que levou o governo a reconhecer nacional e internacionalmen-
te a fragilidade de sua capacidade de prevenção e tratamento de desas-
tres no município. Diante do gritante despreparo das políticas, sistemas
e atores responsáveis pela segurança de sua população, ficou evidente
a necessidade de desenvolvimento de maior resiliência da cidade peran-
te esses eventos. Nesse sentido, as possibilidades de uso de tecnologia
avançada para a construção de políticas públicas mais eficientes foram a
base para a posterior implantação de uma governança mais participativa.

detail/detail?vid=1&sid=0f3acbd5-30a2-4a63-a36b-3000150aa60e%40sessionmgr4009&bdata=Jmxhbmc9cH-
QtYnImc2l0ZT1lZHMtbGl2ZSZzY29wZT1zaXRl#AN=unicamp.000978589&db=cat04198a>. Acesso em: 26 out.
2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.
9
BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: o caso do
Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224. Dissertação (Mestrado) - Universidade Es-
tadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em: <http://eds.a.ebscohost.com/eds/
detail/detail?vid=1&sid=0f3acbd5-30a2-4a63-a36b-3000150aa60e%40sessionmgr4009&bdata=Jmxhbmc9cH-
QtYnImc2l0ZT1lZHMtbGl2ZSZzY29wZT1zaXRl#AN=unicamp.000978589&db=cat04198a>. Acesso em: 26 out.
2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.

120 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Foi tomada uma série de medidas emergenciais, mobilizando recursos públi-
cos e da iniciativa privada para a consolidação de uma realidade urbana mais
resiliente. Essas medidas envolveram desde mapeamentos e estudos técni-
cos, das áreas de risco da cidade, até projetos sociais de moradia e educação
para a sociedade mais carente, dada a importância da participação popular
para a manutenção da limpeza urbana, preservação das áreas verdes e do
patrimônio histórico e cultural da cidade. Dentre os projetos mais imedia-
tos, executados entre 2010 e 2011, encontra-se o COR, que é considerado o
primeiro equipamento olímpico entregue pela Prefeitura do Rio. Inaugurado
em 2010, seis anos antes dos jogos olímpicos realizados no Rio- Jogos, em
2016, o Centro de Operações do Rio criou dois times operacionais dedica-
dos a monitorar as atividades planejadas e a responder aos possíveis im-
previstos. Atualmente, mais de quatrocentos operadores, de cerca de trinta
órgãos, acompanham mais de oitenta monitores, identificando problemas
de mobilidade, segurança e de outros gêneros em tempo real.

Figura 3 | Imagens da sala de controle do Centro de Operações do Rio


de Janeiro- COR

Fonte: <http://cor.rio/>. Acesso em: 22 nov. 2018.

PARA SABER MAIS


Segundo uma reportagem, de 2012, do jornal Folha de São
Paulo, estimava-se que os ganhos desse mercado chegassem
a cerca de US$ 57 bilhões até 2014. O projeto do COR custou

Construções Inteligentes e Sustentáveis 121


ao Rio cerca de US$ 14 milhões, sendo liderado pela IBM,
que pretende dominar o mercado dos sistemas inteligentes
destinados às cidades.

A IBM administrou integralmente o projeto, atribuindo a em-


presas locais as atividades de construção e de telecomuni-
cações. A IBM incorporou hardware, software, capacidades
analíticas e de pesquisas. Uma plataforma de operações
virtuais atua como centro de coleta e distribuição de dados,
integrando as informações que chegam por telefone, rádio,
e-mail e mensagens de texto. Quando os funcionários da
prefeitura entram no sistema, podem carregar informações
de uma cena de acidente, por exemplo, e ver quantas ambu-
lâncias foram enviadas ao local.

Para a implantação do COR, a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro con-


tatou diversas empresas de tecnologia, dentre elas a IBM, que já havia tra-
balhado em projetos semelhantes em cidades como Madri e Nova Iorque.
A partir de um processo de intensa participação dos órgãos da cidade, foi
desenvolvida uma interface amigável e em constante melhora:

Dessa forma, a fase de instalação do COR coincide com a instituição de


um STI informal, suportando o modelo tecnológico de cidade inteligente,
em que essas interações entre os atores integrados por TICs emergentes
vão modificando elementos de sistema e gerando novos fatores de siste-
ma rumo a um círculo virtuoso que atrai novos atores e desencadeia alian-
ças entre eles, impulsionando processos inovadores sucessivos (BENITES,
2016, p. 124).10

10
BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: o caso do
Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224. Dissertação (Mestrado) - Universidade Es-
tadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em: <http://eds.a.ebscohost.com/eds/
detail/detail?vid=1&sid=0f3acbd5-30a2-4a63-a36b-3000150aa60e%40sessionmgr4009&bdata=Jmxhbmc9cH-
QtYnImc2l0ZT1lZHMtbGl2ZSZzY29wZT1zaXRl#AN=unicamp.000978589&db=cat04198a>. Acesso em: 26 out.
2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.

122 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Essa primeira fase caracterizou-se, principalmente, pela entrega de ser-
viços sustentáveis na dimensão social para atendimento das demandas
imediatas da população, com poucas ações relacionadas às questões am-
bientais e culturais. O sucesso dos serviços prestados, ainda que limita-
dos quanto à sua natureza, demonstrou o potencial do COR para outras
situações, como as respostas a acidentes, manifestações, epidemias, den-
tre outras.

A experiência do COR ilustra e demonstra como o uso das TICs pode contri-
buir para uma governança mais eficiente e para que sejam atingidas as me-
tas locais de resiliência e sustentabilidade. Atualmente, é considerado como
uma referência para a disseminação de soluções para cidades inteligentes
e para a criação de políticas e planos de desenvolvimento sustentável.

LINK
No site do COR podem ser encontrados boletins diários so-
bre as principais ocorrências do dia, bem como os links para
o acompanhamento do COR, por meio das redes sociais.
Para mais informações a respeito do COR, e visualização do
seu vídeo institucional, verificar em site disponível em: http://
cor.rio/. Acesso em: 31 ago. 2018.

EXEMPLIFICANDO
Experiências internacionais, como o Centro Inteligente de
Operações de Nova Iorque (CIO), demonstram a importân-
cia dos sistemas de inteligência não apenas para as metas
de sustentabilidade urbana, mas também para assuntos
relacionados à segurança. Assim como no caso do Centro
de Operações do Rio de Janeiro (COR), o CIO assumiu um

Construções Inteligentes e Sustentáveis 123


papel chave diante da necessidade de resiliência diante de
situações de risco, impactando os planos estratégicos des-
sas cidades.

Nesse sentido, embora haja semelhanças entre as duas ex-


periências (Nova Iorque e Rio de Janeiro), podemos ver clara-
mente a necessidade de uma abordagem específica que leve
em consideração os riscos e metas de cada local. Enquanto o
CIO enfatizou, incialmente, suas ações na prevenção de aten-
tados terroristas, motivado pelo atentado às torres gêmeas
em 2001, o COR concentrou seus esforços no sentido de re-
duzir os riscos de perdas materiais e, sobretudo, perdas hu-
manas decorrentes de desastres naturais.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


A experiência do COR demonstra como a vontade política e a partici-
pação conjunta dos diversos grupos envolvidos na construção e na vi-
vência de uma cidade (governo, iniciativa privada, população) podem
contribuir para a implementação de políticas públicas mais eficientes
e responsivas, ainda que estimuladas por situações críticas. É funda-
mental olharmos para experiências como essa e refletirmos a respei-
to das medidas que os nossos próprios municípios adotam e sobre
como podemos participar na construção das políticas públicas, como
cidadãos, profissionais e agentes da transformação urbana.

2. Considerações Finais

• O conceito de resiliência é transdisciplinar e passou a ser utilizado


pelas políticas públicas devido às ameaças globais, como a crise eco-
nômica e as mudanças climáticas. Risco e resiliência estão, portanto,

124 Construções Inteligentes e Sustentáveis


intimamente relacionados. Nesse sentido, não é surpreendente que,
no Brasil, muitas das ações para implantação das cidades inteligen-
tes em função da sustentabilidade e resiliência urbanas ocorram na
cidade do Rio de Janeiro, onde as questões de segurança (em todos
os sentidos) tem se mostrado graves e urgentes.

• A evolução do conceito de Smart Cities apresentada por Benites


(2016)11, demonstra que as TICs, seguindo às tendências atuais de
incorporação dos usuários finais no desenvolvimento dos sistemas
de informação, permitem a abordagem de problemas locais de for-
ma muito mais responsiva. A tecnologia não se sustenta e valida
por si só, portanto, é necessária a busca por uma visão holística dos
processos, que configura o que conhecemos por Smart City 2.0.

• Trabalhos de pesquisa como o desenvolvido por Benites (2016)12, a


respeito do Centro de Operações do Rio de Janeiro, tem importante
papel de difusão do uso das TICs para as Smart Cities. Os meca-
nismos apresentados pela autora podem auxiliar no processo de
tomada de decisões da rede de atores envolvidos em sua implanta-
ção e para o aprimoramento das cidades inteligentes no sentido de
uma sustentabilidade urbana.

Glossário

• Resiliência urbana: é a capacidade que uma cidade tem de resis-


tir, absorver, adaptar-se e recuperar-se da exposição às ameaças,
11
BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: o caso do
Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224. Dissertação (Mestrado) - Universidade Es-
tadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em: <http://eds.a.ebscohost.com/eds/
detail/detail?vid=1&sid=0f3acbd5-30a2-4a63-a36b-3000150aa60e%40sessionmgr4009&bdata=Jmxhbmc9cH-
QtYnImc2l0ZT1lZHMtbGl2ZSZzY29wZT1zaXRl#AN=unicamp.000978589&db=cat04198a>. Acesso em: 26 out.
2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.
12
BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: o caso do
Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224. Dissertação (Mestrado) - Universidade Es-
tadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP. Disponível em: <http://eds.a.ebscohost.com/eds/
detail/detail?vid=1&sid=0f3acbd5-30a2-4a63-a36b-3000150aa60e%40sessionmgr4009&bdata=Jmxhbmc9cH-
QtYnImc2l0ZT1lZHMtbGl2ZSZzY29wZT1zaXRl#AN=unicamp.000978589&db=cat04198a>. Acesso em: 26 out.
2018>. Acesso em: 27 nov. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 125


produzindo efeitos de maneira oportuna e eficiente, o que inclui a
preservação e restauração de suas estruturas e funções básicas.

• User-driven Information System (Sistema de Informação direcio-


nado ao usuário): são sistemas de informação que tem como pon-
to central de partida o input dos seus usuários. Isso significa di-
zer que durante o desenvolvimento desses sistemas, os potenciais
usuários finais podem fazer sugestões, modificar e determinar
questões de seu funcionamento, tornando esses sistemas muito
mais apropriados para seu uso.

• Sistemas urbanos: o sistema urbano de um país é constituído por


diferentes escalas e hierarquias de cidades, que podem ir desde
cidade global, metrópole nacional até médias e pequenas cidades.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 7
1. No que se refere às diferenças entre Smart City 1.0 e Smart
City 2.0, assinale a alternativa correta:
a) As Smart Cities 2.0 utilizam as TICs modernas orien-
tadas para o desenvolvimento sustentável, resiliente
e participativo; enquanto as cidades da geração 1.0
pautam-se sobretudo no viés tecnológico, com pou-
ca participação popular e pouca integração com as
questões de sustentabilidade.
b) A principal diferença entre as gerações 1.0 e 2.0 das
Smart Cities é o nível alcançado pelas TICs, que per-
mitem sua utilização pelas municipalidades para
a implantação de medidas que visam sobretudo o
avanço tecnológico das cidades.
c) A geração 2.0 pauta-se, sobretudo, nas questões de

126 Construções Inteligentes e Sustentáveis


desenvolvimento econômico enquanto a geração 1.0
busca a construção de uma realidade urbana mais
sustentável e resiliente.
d) A participação dos cidadãos foi mais intensa na fase
1.0, já que nesse período havia pouco interesse por
parte das indústrias e do governo na implantação
destas tecnologias.
e) O desenvolvimento sustentável sempre foi um dos
objetivos das Smart Cities, porém apenas na geração
2.0. Graças ao reducionismo tecnocrático, foi possí-
vel a incorporação das metas de sustentabilidade, já
que o desenvolvimento de soluções sustentáveis está
diretamente ligado ao uso de tecnologias avançadas.

2. Sobre resiliência urbana, podemos afirmar:


a) A noção atual de resiliência urbana diz respeito
somente à capacidade que as cidades possuem de
resistir e recuperar-se dos desastres naturais. Os
efeitos causados pela população e pelo mal funcio-
namento dos sistemas e políticas urbanas não são
tratados de forma independente desse conceito.
b) A resiliência urbana relaciona as diversas escalas e os
riscos de um sistema urbano. O entendimento atual
do termo extrapola as questões ligadas unicamen-
te aos desastres naturais, incorporando também os
efeitos da ação do homem, das políticas públicas,
entre outros.
c) A relação entre sustentabilidade e resiliência urbana
é uma relação que não incorpora fatores subjetivos,
alterando-se pouco desde as primeiras elaborações

Construções Inteligentes e Sustentáveis 127


práticas e teóricas sobre o assunto.
d) Resiliência urbana é a capacidade que os sistemas
e serviços urbanos possuem para promover inova-
ções tecnológicas a partir das diretrizes especificadas
pelas municipalidades e pela participação popular.
e) Resiliência urbana e sustentabilidade urbana são
conceitos da economia e dizem respeito somente a
capacidade que uma cidade/ sociedade possui de se
adaptar diante das flutuações da economia.

3. Sobre a implantação e funcionamento do Centro de


Operações do Rio de Janeiro (COR), não podemos afirmar:
a) As tragédias ocorridas na cidade do Rio de Janeiro
foram um importante fator para a urgência no
desenvolvimento de políticas públicas mais dinâmi-
cas e responsivas, que tem o COR como importante
instrumento.
b) A principal diferença entre as gerações 1.0 e 2.0
das Smart Cities é o nível alcançado pelas TICs, que
permite sua utilização pelas municipalidades para
a implantação de medidas que visam, sobretudo, o
avanço tecnológico das cidades.
c) O COR foi essencial para a realização dos Jogos
Olímpicos do Rio, em 2016, sendo considerado o pri-
meiro equipamento olímpico entregue à cidade.
d) O COR nasceu da necessidade de teste das novas tec-
nologias de TICs no contexto nacional, em um cenário
de baixa complexidade urbana que permitia sua
implantação com grande participação da sociedade.
e) O COR reúne diversos órgãos (secretarias municipais

128 Construções Inteligentes e Sustentáveis


e concessionárias de serviços públicos) que agem
de forma integrada para a monitoração da cidade e
minimização dos impactos de situações de emergên-
cia, como chuvas fortes e deslizamentos.

Referências Bibliográficas

BENITES, Ana Jane. Análise das cidades inteligentes sob a perspectiva da sustenta-
bilidade: o caso do Centro de Operações do Rio de Janeiro. 2016. Recurso on-line 9224.
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Gabarito – Tema 07

Questão 1 – alternativa A:

As Smart Cities 1.0 possuíam um viés tecnocrático, partindo de inicia-


tivas top-down, ou seja, elaborada pelas municipalidades com pouca
participação dos cidadãos. Ainda na fase 1.0, não havia a ênfase nas
questões de sustentabilidade e resiliência urbanas, preocupação que

Construções Inteligentes e Sustentáveis 129


surge a partir da abordagem participativa implantada pela geração
2.0 das Smart Cities.

Questão 2 – alternativa B:

A resiliência urbana perpassa diversas escalas e envolve diferentes


riscos (inerentes às próprias escalas que atinge). Nesse sentido, não
são considerados apenas os desastres naturais e os riscos a eles re-
lacionados, como também questões sociais, tecnológicas, funcionais,
entre outras.

Questão 3 - alternativa D:

O COR foi estruturado, inicialmente, a partir das novas possibilidades


oferecidas pelas TICs, passando a absorver a participação popular
somente com o transcorrer do tempo. Além disso, a sua concepção
e estruturação aconteceu em um momento crítico para a cidade do
Rio de Janeiro, no qual a alta complexidade dos problemas urbanos
exigia uma abordagem mais integrada e dinâmica entre os diversos
órgãos da cidade.

130 Construções Inteligentes e Sustentáveis


TEMA 08
OS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO
DAS CIDADES INTELIGENTES

Objetivos

• Familiarizar-se brevemente com as definições concei-


tuais correntes de Smart Cities, ou cidades inteligentes.

• Refletir a respeito dos efeitos, tanto os positivos quan-


to os negativos, do uso das Tecnologias de Informação
e Comunicação (TICs) na construção de um novo
modelo de gestão das cidades.

• Conhecer os principais desafios encontrados para a


construção das cidades inteligentes.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 131


►- Introdução

As cidades de médio porte, sobretudo dos países em desenvolvimento, têm


apresentado taxas de crescimento superiores aos grandes centros urbanos.
Com isso, novas questões de mobilidade, energia, habitação, segurança e de
outras naturezas se tornam urgentes. Junto a essas rápidas mudanças nas
dimensões e nos padrões de crescimento das cidades estão as novas rela-
ções e formas de comunicação entre os diversos agentes sociais urbanos,
transformadas pelos avanços tecnológicos das redes e telecomunicações.
Muitas preocupações ambientais e econômicas se intensificaram à medi-
da em que as mudanças no meio urbano ocorreram, principalmente, no
que se refere ao uso dos recursos não renováveis, levando à busca por
alternativas sustentáveis. Em um primeiro momento, para os edifícios, e
posteriormente para o restante das cidades, acompanhando a evolução
e consequente aumento do potencial das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs). Termos como Internet of Things (IoT) e Big Data pas-
sam a fazer parte do mundo cada vez mais conectado e digital, onde as
relações entre humanos e máquinas se modificam rapidamente, exigindo
novas interfaces e políticas.
A América Latina não está de fora desse processo e apresenta exemplos
positivos da implantação desses sistemas, embora as iniciativas ainda
sejam pontuais e experimentais. Essa apostila apresenta, resumidamen-
te, os conceitos, objetivos, estratégias e dificuldades de implantação das
Smart Cities (Cidades Inteligentes), partindo do estudo bibliográfico de ar-
tigos e publicações sobre o tema, sob o enfoque do desenvolvimento sus-
tentável e da resiliência urbana, objetivos de muitos planos de governo
construídos com a sociedade e para a sociedade.

1. A inteligência das cidades


O planeta está cada vez mais urbano, aumentando o grau de complexida-
de dos desafios e problemas das cidades, exigido uma nova postura de

132 Construções Inteligentes e Sustentáveis


seus habitantes e daqueles que pensam e executam as políticas públicas.
Amparados pelas novas possibilidades decorrentes do rápido avanço tec-
nológico das últimas décadas, os governos têm criado políticas mais par-
ticipativas voltadas para a construção de cidades inteligentes.
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)1, essas tecnolo-
gias devem ser vistas justamente como um meio de se realizar gestão inteli-
gente, e não como um fim. Isso significa que o uso das TICs será a ferramenta
utilizada para a compreensão da cidade e de suas questões como um todo,
culminando na criação de estratégias de desenvolvimento sustentável.
Espera-se que o processo evolutivo das TICs e das Smart Cities pautem-se
cada vez mais na participação popular e na integração dos diversos atores
que pensam, constroem, modificam e vivenciam as cidades inteligentes.
Essa concepção está alinhada ao conceito de Smart City 2.0, onde a tecno-
cracia cede espaço para as questões de sustentabilidade e para as ques-
tões sociais. Vale ressaltar que:

As Cidades Inteligentes favorecem o desenvolvimento integrado e susten-


tável, tornando-se mais inovadoras, competitivas, atrativas e resilientes.
Cuidam de seus desafios sob um enfoque multissetorial, analisam variáveis
distintas para um mesmo problema, e recorrem às novas tecnologias para
implantar e dar escala às ideias (BID, 2016, p. 07).2

ASSIMILE
É importante ressaltar que a evolução terminológica e con-
ceitual das cidades inteligentes se deu juntamente à evolu-
ção das ferramentas e processos envolvidos em sua implan-
tação. Termos como Wired City, Digital City, Green City, foram

1
BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento. Caminho para as Smart Cities - Da Gestão Tradicional
para a Cidade Inteligente. 2016. Disponível em: <https://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/7743/
Caminho-para-as-smart-cities-Da-gestao-tradicional-para-a-cidade-inteligente.pdf>. Acesso em: 03 de set. 2018.
2
BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento. Caminho para as Smart Cities - Da Gestão Tradicional
para a Cidade Inteligente. 2016. Disponível em: <https://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/7743/
Caminho-para-as-smart-cities-Da-gestao-tradicional-para-a-cidade-inteligente.pdf>. Acesso em: 03 de set. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 133


usados durante as últimas décadas, culminando nas Smart
Cities 1.0 e 2.0, suas versões mais recentes. As Smart Cities
2.0 se diferenciam de sua versão 1.0 por seus objetivos am-
bientais e sociais, afastando-se de uma visão tecnocrática, ou
seja, quando as ferramentas tecnológicas são desenvolvidas
com e para os seus habitantes, visando a resolução de pro-
blemas como a poluição, criminalidade, acidentes de trânsito
e congestionamentos.

O BID destaca a convergência de dois fenômenos: a aceleração da urba-


nização global e a revolução digital, como ponto de partida para a cons-
trução da problemática e das novas propostas para os grandes centros
urbanos. Muitos deles apresentam características de uso e ocupação do
solo ligadas aos processos e necessidades criados pela Segunda e Terceira
Revoluções Industriais, como a setorização do território urbano (segre-
gando as diferentes atividades) e o forte impacto sobre o Meio Ambiente.

Muitas cidades têm adotado políticas públicas que visam o reequilíbrio


funcional das cidades, como é o caso de São Paulo. Esse reequilíbrio de-
verá contribuir para a melhora da qualidade de vida de seus habitantes,
oferecendo mais oportunidades de trabalho, estudo e lazer em regiões
atualmente monofuncionais, além de contribuir para a construção de ci-
dades mais sustentáveis.

Segundo o BID:

Ela é atrativa para os cidadãos, empreendedores e trabalhadores, e gera um


espaço mais seguro, com melhores serviços e com um ambiente de inova-
ção que estimula soluções criativas, gerando empregos e reduzindo as desi-
gualdades. Com isso, ela promove um ciclo virtuoso que produz não apenas
bem-estar econômico e social, mas também garante um uso sustentável de
seus recursos e mais qualidade de vida a longo prazo (BID, 2016, p. 33).3

3
BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento. Caminho para as Smart Cities - Da Gestão Tradicional

134 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Nesse ambiente diverso e dinâmico deverão florescer de forma espon-
tânea soluções criativas e inovadoras, derivadas do convívio e da troca
de experiências de seus atores, característica denominada “serendipida-
de urbana”.

PARA SABER MAIS


O renomado arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl
tem se dedicado ao estudo dos impactos da qualidade do
espaço público das cidades para a vida de seus habitantes.
A partir desses estudos seria possível transformar a maneira
como se conformam, fazendo da vida pública um motor de
projeto, política e governança.

Em 2017, seu instituto lançou um guia direcionado às muni-


cipalidades, chamado “Guia da Vida Pública para Prefeitos”,
indicando as estratégias para a melhoria da vida nas cida-
des. A reportagem completa a respeito do guia e o link para
download estão disponíveis em: <https://www.archdaily.
com.br/br/878207/gehl-institute-lanca-guia-gratuito-sobre-
-como-as-prefeituras-podem-melhorar-a-vida-nas-cidades.
Acesso em: 26 out. 2018.>. Acesso em: 27 nov. 2018.

Segundo o BID, um dos aspectos comuns às gestões municipais é a frag-


mentação de sua estrutura administrativa. A divisão das tarefas e a falta
de colaboração entre os grupos diminui a produtividade, aumenta os cus-
tos operacionais e compromete a qualidade dos resultados obtidos. Esse
ainda é um grande desafio para muitas cidades, já que suas estruturas
governamentais e administrativas pouco se alteraram nas últimas déca-
das, na contramão das grandes mudanças ocorridas nas tecnologias e no
âmbito social.
para a Cidade Inteligente. 2016. Disponível em: <https://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/7743/
Caminho-para-as-smart-cities-Da-gestao-tradicional-para-a-cidade-inteligente.pdf>. Acesso em: 03 de set. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 135


As redes fixas e móveis de internet criaram condições de participação e
conexão inéditas em nossa sociedade. O serviço de internet móvel tem
multiplicado a quantidade de dados disponibilizados às pessoas, aproxi-
mando a população dos processos da cidade e alimentando seus siste-
mas de inteligência.

A inteligência não se dá apenas na gestão da cidade consolidada, como


também no planejamento de sua expansão, de forma que o transporte
público e o uso dos espaços públicos sejam valorizados. O bem-estar pro-
porcionado pela vivência mais democrática e digna na cidade deve criar
um ciclo e alimentar novas iniciativas dos governos e de seus cidadãos
para a melhoria contínua dos sistemas.

Esses sistemas de inteligência se estruturam em diversas camadas. A pri-


meira camada é composta pelos sensores espalhados pela cidade, incor-
porados em equipamentos públicos (postes de iluminação e lixeiras), res-
ponsáveis pela captação das informações. A quantidade de sensores uti-
lizados varia de acordo com as dimensões da cidade e com a capacidade
de transmissão, armazenamento e processamento de dados do sistema.

A segunda camada deve transmitir esses dados de forma eficiente por


meio de redes de comunicação, utilizando uma combinação de diferentes
tecnologias de redes de dados, como Wi-Fi e fibra óptica, por exemplo.
Atualmente, graças à evolução dos smartphones (que atuam como pe-
quenos computadores), as possibilidades de comunicação entre homem/
homem e homem/ máquina se multiplicaram e democratizaram.

Segundo o BID4, a tecnologia dos smartphones deve ser levada em conta


em qualquer plano de cidade inteligente que vise a participação ativa dos
cidadãos. Sua função não seria apenas a recepção e o envio de dados,
mas também funcionar como uma espécie de sensor integrado à rede de
monitoramento da cidade.

4
BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento. Caminho para as Smart Cities - Da Gestão Tradicional
para a Cidade Inteligente. 2016. Disponível em: <https://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/7743/
Caminho-para-as-smart-cities-Da-gestao-tradicional-para-a-cidade-inteligente.pdf>. Acesso em: 03 de set. 2018.

136 Construções Inteligentes e Sustentáveis


A terceira camada seria o Centro Integrado de Operação e Controle (CIOC).
Nesses centros estão reunidas a estrutura física, a infraestrutura de pro-
cessos e os funcionários. Um exemplo de CIOC é o Centro de Operações
do Rio de Janeiro (COR), onde mais de trinta órgãos estão reunidos para o
monitoramento da cidade.

Durante a fase inicial de operação de uma cidade inteligente, é comum que


um dos temas assuma certo protagonismo. No caso do COR, é muito clara
a grande importância que o monitoramento das condições climáticas e
das áreas de risco adquiriram em sua primeira fase de funcionamento, o
que é absolutamente justificável se considerarmos as tragédias ocorridas
em 2010 na cidade do Rio de Janeiro, em função das fortes chuvas.

Gradualmente, com o amadurecimento dos sistemas e das equipes en-


volvidas, ocorre a expansão das atividades, englobando outros assuntos,
como mobilidade, segurança e saúde, por exemplo.

A quarta e última camada desse sistema, a Interface de Comunicação,


estabelece o diálogo entre o usuário e as diferentes estruturas e departa-
mentos da cidade. É importante que essa interface seja construída a par-
tir das necessidades e capacidades de uso dos cidadãos e que permitam
a troca de informações nas duas direções.

EXEMPLIFICANDO
Em Bogotá, Colômbia, um site e um aplicativo móvel chamado
Moovit tem atraído cada vez mais usuários, diminuindo o nú-
mero de automóveis nas vias e os congestionamentos na cida-
de. Esse aplicativo permite que usuários planejem com ante-
cedência o percurso que farão ao longo do dia, combinando o
sistema de Bus Rapid Transit (BRT) às demais rotas integradas.

O sucesso atual do uso desses aplicativos se deve aos es-


forços que o governo da cidade tem empreendido, desde o

Construções Inteligentes e Sustentáveis 137


final dos anos 90, para a consolidação da rede de transpor-
te público e de modais ativos (pedestres e ciclistas), o que
levou a criação do Sistema Integrado de Transporte (SIT). O
uso de semáforos inteligentes, câmeras de monitoramento,
sinalização vertical e horizontal, melhorou significativamente
a mobilidade urbana na cidade.

Figura 1| Visualização das rotas do Sistema Integrado de Transporte


(SIT) de Bogotá através do Google Maps

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Fonte: Importmundo. Rutas del SITP y TransMilenio en Google Maps. Disponível em: <http://www.
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importmundo.com.co/blogs/158-rutas-del-sitp-y-transmilenio-en-google-maps.html>. Acesso em: 26 out. 2018.


-
A transformação das cidades certamente não ocorrerá no curso de ape-
nas uma gestão de determinado agente político, necessitando de um pla-
no de ação contínuo que priorize o bem-estar dos cidadãos. Embora con-
tínuo, esse plano deve ser flexível o bastante para incorporar as novas
tecnologias e variáveis que surgirem ao longo do tempo.

A construção e atualização das redes de transmissão, por exemplo, exi-


gem constantes esforços, sobretudo no caso de redes subterrâneas,

138 Construções Inteligentes e Sustentáveis


necessitando de um plano contínuo de ações nesse sentido. A viabi-
lização econômica da implantação desses sistemas, assim como dos
Centros Operacionais, depende não apenas do setor público, podendo
beneficiar-se de parcerias com entidades privadas engajadas na melhoria
das cidades.

Questões como a segurança cibernética e o comprometimento da privaci-


dade dos cidadãos constituem outros desafios a serem superados para o
funcionamento adequado e seguro dos sistemas que estruturam as cida-
des inteligentes. As propostas para resolução desses problemas tocam di-
retamente à sociedade e têm sido discutidas à medida em que exemplos
controversos despontam e são veiculados globalmente pela mídia.

PARA SABER MAIS


Tecnologias como o reconhecimento facial têm sido utiliza-
das com o intuito de aumentar a segurança nos grandes cen-
tros urbanos. Um exemplo disso é a utilização de óculos com
ferramentas de reconhecimento facial pelos policiais da cida-
de de Zhengzhou, no leste da China, para a identificação de
indivíduos foragidos e suspeitos. Diversos questionamentos
foram feitos a respeito desse monitoramento intensivo dos
cidadãos, que vai além do uso desses óculos, expandindo-
-se para câmeras incorporadas aos postes das cidades e no
transporte público, que já comprometem a privacidade dos
cidadãos, criando uma sensação permanente de que estão
sendo vigiados. Material disponível em: <https://www.bbc.
com/portuguese/geral-43011505>. Acesso em: 27 nov. 2018.

Finalmente, podemos citar a importância da construção de edifícios sus-


tentáveis para as cidades inteligentes, contemplando as três escalas de

Construções Inteligentes e Sustentáveis 139


sustentabilidade: ambiental, econômica e sociocultural (Pereira, 2009)5.
As finalidades do edifício devem ser consideradas durante todo seu ciclo
de vida, desde o projeto até a demolição.

Levando em consideração o protagonismo da indústria da Construção Civil


na geração de resíduos sólidos, bem como os impactos ambientais ine-
rentes à construção e funcionamento de um edifício, não se pode pensar
em uma cidade sustentável de forma dissociada dos edifícios que a com-
põem. Pereira (2009) ressalta que será necessário, portanto, que todos os
atores envolvidos (dos projetistas ao usuário final) sejam sensibilizados,
informados e mobilizados para que se cumpram as metas definidas.

1.1 Plataformas para as cidades inteligentes

O tipo e a complexidade das ferramentas necessárias aos sistemas das Smart


Cities são definidos a partir do diagnóstico prévio dos problemas da cidade e
de sua administração, levando-se em conta a viabilidade técnica e econômica
de sua implantação pelo município. Segundo o BID6, a escolha equivocada
de tecnologias que não conseguiram acompanhar a evolução das cidades,
tornando-se obsoletas rapidamente ou o superdimensionamento das tecno-
logias, causando problemas econômicos, foi a causa do fracasso de muitos
projetos para a implantação de cidades inteligentes.

Além dos requisitos funcionais (capacidade de processamento, armaze-


namento de dados), podemos elencar alguns requisitos mais subjetivos
como, por exemplo, a capacidade de envolvimento da comunidade nos
processos de planejamento, elaboração e gestão dos sistemas. Para que
sejam logrados os objetivos da Smart City, é preciso que um plano de ação
seja elaborado especificamente para a cidade em questão, levando-se em
consideração a flexibilidade necessária para ajustes futuros.

5
PEREIRA, Patrícia Isabel. Construção Sustentável: o desafio. 2009. Porto. Disponível em: <https://bdigital.
ufp.pt/bitstream/10284/2674/3/T_13485.pdf>. Acesso em: 03 de set. 2018.
6
BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento. Caminho para as Smart Cities - Da Gestão Tradicional
para a Cidade Inteligente. 2016. Disponível em: <https://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/7743/
Caminho-para-as-smart-cities-Da-gestao-tradicional-para-a-cidade-inteligente.pdf>. Acesso em: 03 de set. 2018.

140 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Esse plano de ação é descrito pelo BID de forma bastante simplificada na figura
abaixo, retirada do documento de sua autoria “Caminhos para as Smart Cities”:

Figura 2 | Desenvolvimento do Plano de Ação (para um ano) definido


para uma cidade inteligente

Fonte: BID, Caminho paras as Smart Cities. P. 26 e 27.

Segundo Kon e Santana (2016)7, o principal objetivo de uma plataforma para


cidades inteligentes é facilitar o desenvolvimento de aplicativos para a cida-
de. A clareza durante o planejamento, implantação e gestão desses siste-
mas são importantes aliados para o combate à corrupção graças ao aumen-
to da transparência nos gastos e ações dos administradores das cidades.

Essas plataformas podem ser testadas a partir de simuladores de cida-


des inteligentes que, orientados a um determinado aspecto (consumo de
energia elétrica, água, entre outros), geram dados artificiais. O uso des-
ses sistemas, como o Scallop 4SC, por exemplo, segundo Kon e Santana
(2016), pode auxiliar na detecção do desperdício de energia elétrica e no
desenvolvimento de medidas para sua redução.

As atividades das plataformas, cujo principal objetivo é o controle do ciclo


de vida dos dados da cidade, se estruturam da seguinte maneira:

1. Coletar os dados com a rede de sensores e atuadores.

7
KON, Fabio; SANTANA, Eduardo Felipe Zambom. (2016). Cidades Inteligentes: Conceitos, plataformas e
desafios. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/313793896_Cidades_Inteligentes_Concei-
tos_plataformas_e_desafios>. Acesso em: 03 de set. 2018.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 141


2. Gerenciar os dados na plataforma.

3. Processar os dados da cidade, utilizando seu modelo de dados.

4. Compartilhar os dados coletados e processados, permitindo acesso


externo a esses dados.

Infelizmente, os custos para a implantação desses sistemas em cidades de


grande porte, como São Paulo e Rio de Janeiro, ainda são altos, já que sua
extensão territorial e a complexidade das questões urbanas exigiriam a
implantação de centenas de milhares de sensores. No entanto, ainda que
muitos dos projetos implantados ao redor do mundo não tenham atingi-
do sua maturidade, vê-se claramente o potencial dessas tecnologias e os
desafios técnicos que ainda devem ser superados, o que deverá ocorrer à
medida em que essas tecnologias permearem cada vez mais as vidas dos
habitantes das grandes cidades e atraírem a atenção de mentes criativas
das mais diversas áreas.

LINK
No website do Toggle TV está disponível uma série de víde-
os sobre as Smart Cities 2.0. Nos vídeos são apresentadas
as soluções e tecnologias aplicadas à diversas cidades, como
Amsterdam, na Holanda e Shenzhen, na China. Disponível
em: <https://tv.toggle.sg/en/shows/smart-cities-2-0/episo-
des>. Acesso em: 10 set. 2018.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

Muitas cidades têm adotado políticas públicas que visam o reequi-


líbrio funcional das cidades, buscando a melhoria da qualidade de
vida de seus habitantes, oferecendo mais oportunidades de traba-
lho, estudo e lazer. As cidades devem ser atrativas para os cidadãos,
empreendedores e trabalhadores, promovendo um espaço seguro e

142 Construções Inteligentes e Sustentáveis


um ambiente de inovação, fonte de soluções criativas em um ciclo de
aprimoramento (ecossistema de inovação) que produz para além do
bem-estar econômico e social, mas também o uso sustentável dos
recursos, redução das desigualdades e resiliência a longo prazo.

Os espaços públicos estão sendo cada vez mais valorizados por seus
habitantes, de modo que a dinâmica dos acontecimentos nesses es-
paços são base para a construção da vida pública nas cidades. Nesse
contexto, o estudo da vida pública, termo definido como “interações
que ocorrem nos espaços abertos”, tem sido objetivo de pesquisa do
Gehl Institute, do reconhecido arquiteto e urbanista Gehl. Esses es-
tudos têm como meta transformar a base de construção das cidades
em uma ferramenta pautada na vida pública para o desenho urbano
mais eficiente e uma política pública mais indutiva.

Como resultado, em 2017, foi lançado um guia direcionado às munici-


palidades, chamado Guia da Vida Pública para Prefeitos, indicando as
estratégias para a melhoria da vida nas cidades. Embora a publicação
seja dirigida especialmente aos prefeitos e suas equipes de trabalho,
é um material muito útil para estudantes e formadores de opinião
envolvidos na temática da construção e desenvolvimento de cidades
pensadas para pessoas. O guia compartilha estratégias sobre como
fomentar a vida pública vibrante: medir, convidar, fazer, desenvolver
e formalizar.

Link: o guia do Instituto Gehl está, gratuitamente, disponível em: <ht-


tps://mayorsguide.gehlinstitute.org/MAYORS_GUIDE_Complete.pdf>.
Acesso em: 20 out. 2018.

Suponha que você seja o prefeito de sua cidade e receba esse guia
como um material complementar para auxiliar no desenvolvimento
dos projetos municipais. Você tem, portanto, a chance de desenvolver

Construções Inteligentes e Sustentáveis 143


um planejamento urbano inovador, pautado nas cinco estratégias
compartilhadas pelo Instituto Gehl. Para isso, reúne sua equipe de
trabalho a fim de estudar o material e aplica-lo à dinâmica da vida
pública de sua cidade.

Diante desse cenário, desenvolva uma reunião com sua equipe de


trabalho para refletir sobre as estratégias, do Guia da Vida Pública
para Prefeitos, listadas abaixo. Descreva, em forma de tópicos, ações
e resultados esperados para a incorporação dessas estratégias em
seu município.

1. Medir

a) Medir o que as pessoas fazer e exatamente onde fazem.


b) Entender a cidade por meio de métricas centradas nas pesso-
as, ou seja, métricas baseadas em como as pessoas usam e se
movem pelo espaço público.
2. Convidar

a) Fazer um convite para as pessoas participarem do processo.


b) Promover um ambiente convidativo e reduzir as barreiras.
3. Fazer

a) Desenvolver experimentos com projetos piloto de baixo custo


e baixo risco.
b) Construir com base no que já existe no local.
4. Desenvolver

a) Alocar recursos suficientes para desenvolver projetos em


cada interação.
b) Facilitar para que a contribuição do cidadão seja positiva, sig-
nificativa e construtiva.

144 Construções Inteligentes e Sustentáveis


5. Formalizar

a) Implementar uma cultura de abordagens centradas nas pessoas.


b) Encontrar um método de institucionalizar a mudança.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


O mundo está se tornando cada vez mais conectado, assim, as fer-
ramentas digitais de comunicação permitem acessar informações a
todo momento, disponibilizando conteúdos que antes eram acessí-
veis a poucos. No entanto, multiplicam-se os riscos e os crimes digi-
tais, ligados ao roubo de informações pessoais, como dados bancá-
rios, fotos, entre outros.

Utilizando esses dados, obtidos em tempo real por meio dos


Smartphones e outros dispositivos conectados à internet, as munici-
palidades podem obter informações valiosas para o acompanhamen-
to, gestão e melhoria de serviços públicos, como os transportes e os
serviços de saúde. É evidente o conflito entre as maravilhosas possi-
bilidades criadas por essas tecnologias e suas possíveis consequên-
cias para o bem-estar físico e emocional dos cidadãos. A questão é:
até onde podem chegar estas tecnologias? Até que ponto estamos
dispostos, como indivíduos, a compartilhar nossas informações? E
quais serão as consequências do uso intensivo a longo prazo?

2. Considerações Finais

• A consolidação das cidades inteligentes, no cenário mundial, não


será possibilitada apenas pela revolução tecnológica e pelo interesse

Construções Inteligentes e Sustentáveis 145


que a indústria de tecnologia possui em expandir seus mercados.
Para que seja efetivada, deverá ser adotada como ponto de partida
para a construção das políticas públicas como sua estrutura dorsal,
contínua e flexível.

• Muitos dos efeitos das cidades inteligentes sobre a vida dos seus
cidadãos ainda não são inteiramente compreendidos. A rápida
evolução das tecnologias e a consequente construção de novas
relações das pessoas entre si, com as diferentes ferramentas e
com seus governos, abre uma série de questionamentos a respei-
to de privacidade e segurança que ainda devem ser amplamente
discutidos.

• É fundamental o interesse dos agentes públicos, bem como da ini-


ciativa privada, para a construção de centros onde as tecnologias
voltadas às cidades inteligentes possam ser testadas. Dessa forma,
será possível antecipar problemas e potencialidades do uso das fer-
ramentas em um contexto específico.

Glossário

• Serendipidade: serendipidade, serendiptismo, ou ainda serendi-


pitia, é uma palavra que se refere às descobertas afortunadas fei-
tas, aparentemente, por acaso. Atualmente, é considerada como
uma forma especial de criatividade, ou uma das técnicas de desen-
volvimento do potencial criativo de uma pessoa adulta, inteligên-
cia e senso de observação. No contexto urbano, a serendipidade
surge quando, de forma espontânea, os encontros e vivências pro-
porcionados pelo espaço estimulam a troca de conhecimentos e a
criatividade.

146 Construções Inteligentes e Sustentáveis


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 8
1. Selecione a alternativa que NÃO representa um desafio
para a construção de cidades inteligentes:
a) Redes de comunicação com capacidade de transmis-
são de dados abaixo da necessária para suporte à
rede de sensores das cidades.
b) Superdimensionamento dos sistemas (redes de
comunicação, centros de operação), levando à custos
de implantação e operação não condizentes com as
condições econômicas do município.
c) Riscos relacionados à segurança cibernética, como
roubo de informações pessoais dos usuários e ata-
ques à rede, capazes de paralisar sistemas essenciais,
como os de atendimento emergenciais de saúde.
d) Mentalidade retrógrada de muitos setores da políti-
ca, dificultando a elaboração e aplicação de projetos
a longo prazo, priorizando políticas populistas e com
forte apelo autoral.
e) Falta de interesse da indústria de tecnologia na pro-
dução dos equipamentos necessários à implantação
das cidades inteligentes.

2. Sobre os conceitos de Smart City 1.0 e 2.0, é possível afirmar:


a) As cidades inteligentes da geração 2.0 destacam-
-se por seu apelo tecnológico, relegando a segundo
plano as questões ambientais, já que o avanço tec-
nológico por si só contribui para os avanços sociais e
para a sustentabilidade.

Construções Inteligentes e Sustentáveis 147


b) A participação dos cidadãos é um aspecto secundá-
rio nas Smart Cities das gerações 1.0 e 2.0. Nessas
cidades, os governos possuem poderes absolutos,
pois somente dessa forma é possível que a ordem e
o bom funcionamento dos sistemas sejam mantidos.
c) A evolução das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) pouco influenciou o desenvolvi-
mento das chamadas Smart Cities 2.0.
d) As Smart Cities 2.0 se diferenciam das gerações ante-
riores por seu foco na construção de cidades mais
resilientes e sustentáveis, bem como pela incorpo-
ração da participação popular na definição desses
planos.
e) Questões como a capacidade de processamento,
armazenamento e transmissão de dados são com-
pletamente secundárias para a consolidação dessas
cidades, já que, por meio da consulta popular e dos
meios tradicionais de participação da população em
suas políticas e rotinas, seria possível atingirmos o
mesmo nível de integração dos cidadãos na tomada
de decisões.

3. Assinale abaixo a alternativa que NÃO representa uma


das principais atividades das plataformas desenvolvidas
para o controle do ciclo de vida dos dados de uma cidade
inteligente.
a) A construção de um banco de dados de acesso exclu-
sivo aos órgãos administrativos do município.
b) Gerenciamento dos dados coletados por meio dos
diversos sensores (Smartphones, câmeras, sensores

148 Construções Inteligentes e Sustentáveis


no mobiliário urbano).
c) Compartilhamento dos dados coletados e processa-
dos por meio de interfaces acessíveis à população.
d) Processamento dos dados por meio de um modelo
definido pelas necessidades e pelo diagnóstico da
cidade.
e) Coleta de dados a partir da rede de sensores distri-
buídos pela cidade.

Referências Bibliográficas

BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento. Caminho para as Smart Cities - Da


Gestão Tradicional para a Cidade Inteligente. 2016. Disponível em: <https://pu-
blications.iadb.org/bitstream/handle/11319/7743/Caminho-para-as-smart-cities-Da-
gestao-tradicional-para-a-cidade-inteligente.pdf>. Acesso em: 03 de set. 2018.
KON, Fabio; SANTANA, Eduardo Felipe Zambom. (2016). Cidades Inteligentes:
Conceitos, plataformas e desafios. Disponível em: <https://www.researchgate.net/
publication/313793896_Cidades_Inteligentes_Conceitos_plataformas_e_desafios>.
Acesso em: 03 de set. 2018.
PEREIRA, Patrícia Isabel. Construção Sustentável: o desafio. 2009. Porto. Disponível
em: <https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/2674/3/T_13485.pdf>. Acesso em: 03 de
set. 2018.

Gabarito – Tema 08

Questão 1 - alternativa E:

Estimuladas pela grave crise econômica de 2008, muitas empresas


da área de Tecnologia da Informação e Comunicação, como a IBM,
por exemplo, voltaram sua atenção para as Smart Cities. Tecnologias

Construções Inteligentes e Sustentáveis 149


até então aplicadas em menor escala (nos edifícios inteligentes e na
indústria) passaram a figurar entre as estratégias de diversificação e
ampliação de seus mercados.

Questão 2 - alternativa D:

As gerações antecessoras das Smart Cities 1.0 e 2.0 caracterizaram-se


pela tecnocracia, com pouco apelo para as pautas ambientais e so-
ciais. Sobretudo a partir da geração 2.0, as cidades inteligentes pas-
saram a buscar a resiliência e a sustentabilidade urbanas.

Questão 3 - alternativa A:

Os dados coletados, transmitidos, armazenados e processados pelas


plataformas não devem servir apenas aos órgãos administrativos,
constituindo informações de utilidade pública, que podem tirar gran-
des benefícios do feedback de outros setores da sociedade.

150 Construções Inteligentes e Sustentáveis


Bons estudos!

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