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Neste ebook

1. Introdução

2. Audiência trabalhista

3. Princípios norteadores

4. Tipos de audiência trabalhista

5. Como se preparar para a audiência trabalhista

6. O que você deve observar durante a audiência?

7. Conclusão
Introdução
O trabalho é parte integrante na vida da maioria dos
cidadãos, seja o trabalho formal, em que há carteira
de trabalho assinada ou o trabalho informal, na forma
de prestação de serviços autônomos, por exemplo.

Por esse motivo, o trabalho e as relações trabalhistas


possuem relevância e tratamento diferenciado pela
Justiça. Salário, décimo terceiro, férias, dentre outras
verbas, possuem caráter alimentar, ou seja, são par-
celas que precisam ser pagas corretamente para que o
ser humano possa atender suas necessidades básicas,
como moradia e alimentação.

Quando não há o correto pagamento dessas parcelas


pelo empregador(a), o(a) trabalhador(a) pode recor-
rer à Justiça do Trabalho para reclamar seus direitos,
momento este que se inicia o processo trabalhista.

No processo do trabalho, a parte pode se valer de


recursos, petições, sustentação oral, testemunhas e
demais manifestações que entender necessárias para
garantia do seu Direito.

Em todos os casos, pode-se observar que um dos


atos mais relevantes para o processo é a audiência
trabalhista, pois é quando o julgador(a) se aproxima
da realidade dos fatos, o(a) trabalhador(a) e a empresa
podem expor verbalmente seus interesses e apresen-
tar as provas que pretendem produzir.

Por ser um ato processual relevante, o advogado ou


advogada deve ter muito conhecimento técnico so-
bre o que fazer para não prejudicar os interesses do
seu cliente.

No entanto, não basta a esses profissionais o co-


nhecimento sobre a lei, mas principalmente, preci-
sa saber como aplicá-la no momento da audiência.
Infelizmente, os cursos tradicionais de Direito não
ensinam a prática da audiência trabalhista, o que faz
com que o mercado tenha bons profissionais teóricos
e não práticos.
Neste material estão as principais dicas sobre audi-
ência trabalhista, inclusive, as questões práticas e co-
tidianas que te ajudarão a conseguir resultados favo-
ráveis para o seu cliente.
A audiência trabalhista é muito dinâmica e, por isso
mesmo, considerada por muitos profissionais como
uma atividade complexa. Nesse ato, existe a premissa
de que tudo pode acontecer, sendo assim, os(as) ad-
vogados(as) devem se preparar da melhor forma para
imprevistos.

É comum ouvirmos histórias de profissionais que


vão para uma audiência inicial, em que, geralmente,
não existe produção de prova oral, mas, ao chegar lá
o(a) julgador(a) resolve interrogar as partes sobre al-
gum ponto específico do processo.

Esse tipo de procedimento varia entre os Tribunais


e Varas do Trabalho e isso gera enorme inseguran-
ça jurídica em advogados(as), ou seja, uma audiência
inicial realizada no Tribunal Regional do Trabalho
da Oitava Região, como no Pará, não é igual a uma
audiência inicial realizada no Tribunal Regional do
Trabalho da Terceira Região, como em Minas Ge-
rais.

As regras para audiências costumam ser bastante fle-


xíveis, em razão do dinamismo comum à Justiça do
Trabalho mas, mesmo com toda diversidade, existem
princípios que devem ser observados por todos.

Por esses motivos é que o profissional deve com-


preender os princípios jurídicos que estabelecem di-
retrizes a serem seguidas durante a audiência, a fim
de garantir o bom senso e a preservação dos direitos
das partes durante o ato.

A seguir, listamos os princípios mais relevantes que


podem ser aplicados na audiência trabalhista. Cabe
esclarecer que existem outros princípios importan-
tes no Direito do Trabalho que, a depender do caso,
também podem ser aplicados durante a audiência.
A audiência trabalhista é o ato processual que ocor-
re sob a direção do juiz, a fim de ouvir as alegações
das partes e buscar a verdade real sobre o contrato de
trabalho.

O objetivo da audiência é colher as provas, ouvir


as partes e testemunhas, para que o juiz forme o seu
convencimento sobre aquele determinado processo
e dê a sentença.

Para tanto, existem alguns princípios que servem


para fazer com que a audiência cumpra sua finalida-
de e que devem ser observados. Nesse sentido, cabe
citar:

Princípio do devido processo

Previsto no artigo 5º, inciso LIV da Constitui-


ção Federal de 1988, e cita que o processo trabalhista
deve seguir as regras estabelecidas em lei, para que o
direito das partes seja preservado.

Isso significa que o juiz e as partes devem obedecer


ao procedimento legal, a fim de que não haja arbi-
trariedade e atos abusivos.

Um exemplo disso é que o artigo 844 da Conso-


lidação das Leis do Trabalho (CLT), afirma que se o
reclamante não comparecer à audiência inicial, sem
justo motivo, o processo deve ser arquivado. Assim,
suponhamos que você compareça em uma audiên-
cia em que o reclamante não compareceu e também
não apresentou justificativa. O magistrado não quer
arquivar o processo alegando que não pode prejudi-
car o direito do autor. Neste caso, o(a) juiz(a) viola
o princípio do devido processo legal, pois a própria
lei, citada neste parágrafo, estabelece o procedimen-
to a ser adotado no caso.

Princípio do contraditório e ampla defesa

Previsto no artigo 5º, inciso LV da Constituição


Federal de 1988. Este princípio garante que todas as
partes envolvidas em um processo podem apresentar
seus argumentos e provas, de forma igualitária. Ser-
ve para evitar que uma parte seja beneficiada em de-
trimento de outra.

Por exemplo, em uma audiência de instrução e


julgamento o advogado pede o depoimento pessoal
do preposto da empresa, mas o(a) magistrado(a) não
quer ouvir, por acreditar que o seu depoimento não
é importante para o processo. Neste caso há uma
clara violação ao devido processo legal e contraditó-
rio, pois os artigos 848 da CLT e 344 do Código de
Processo Civil (CPC), garantem que as partes po-
dem ser ouvidas em audiência de instrução e julga-
mento para provar os fatos necessários.

Princípio da oralidade

Este princípio prioriza a manifestação verbal, ou


seja, a palavra falada. Diferentemente de outras áreas
jurídicas, no processo do trabalho e, principalmente,
em audiências trabalhistas, a comunicação oral pos-
sui muita relevância para o resultado final do proces-
so.

Tanto que, nas audiências, podem ocorrer manifes-


tações orais em vários atos processuais, como: apre-
sentação de contestação, impugnação à contestação,
depoimentos das partes e testemunhas e, até mesmo,
sentença.
A oralidade serve para simplificar o trâmite da ação
trabalhista e assim conferir mais celeridade ao pro-
cesso e garantir a eficiência da jurisdição.

Princípio da concentração dos atos


processuais

Todas as questões relativas ao processo devem ser


resolvidas, preferencialmente, em audiência (art.
849 da CLT), a fim de que a tramitação do processo
seja mais rápida e efetiva.

Assim, na audiência o magistrado pode, além de ou-


vir as partes e testemunhas, expedir ofício para ór-
gãos auxiliares à Justiça, como por exemplo, ao
Ministério Público para apurar irregularidades na
empresa. Ou, em outros casos, determinar a realiza-
ção de perícia para apuração de pedidos como insa-
lubridade e periculosidade.

Princípio do ônus da prova

Este princípio rege a distribuição do ônus da pro-


va, sendo que, regra geral, cabe ao autor provar os
fatos constitutivos do seu direito e ao réu a prova
dos fatos extintivos, modificativos e impeditivos do
direito do autor.

Alguns casos podem fugir à regra acima, como por


exemplo, quando o trabalhador afirma que trabalha
em regime de horas extras. Se a empresa conta com
mais de vinte empregados, conforme artigo 74, §2º
da CLT, nesse caso, é ônus da reclamada demonstrar
por meio dos cartões de ponto que o(a) emprega-
do(a) cumpria jornada legal.

Este princípio é muito relevante na área trabalhis-


ta, pois é com base no ônus da prova que os advoga-
dos irão produzir suas provas em audiência, seja para
ouvir uma testemunha, apresentar um documento
ou ouvir a parte contrária.

Princípio da informalidade

Segundo este princípio, a audiência trabalhista


deve ser informal, ou seja, os atos praticados não de-
vem possuir formalidades ao ponto de inviabilizar
ou dificultar a prática dos mesmos.

Como exemplo, pode-se citar a linguagem sim-


ples adotada nas audiências, bem como a possibili-
dade de apresentar petição inicial e contestação ver-
bais (arts. 840 e 847 da CLT) e comparecimento das
testemunhas independentemente de intimação (art.
825 da CLT).

Princípio da conciliação

Segundo este princípio, as partes e o juiz devem


priorizar a conciliação em audiência trabalhista, a
fim de evitar processos morosos e custos para as par-
tes.

Na audiência trabalhista é obrigatória a proposta


de conciliação em dois momentos, sendo o primei-
ro após a abertura da audiência de instrução e julga-
mento (art. 846, CLT) e, após as razões finais (art.
850, CLT).
De acordo com o artigo 849 da CLT, todas as audi-
ências trabalhistas são unas, ou seja, todos os atos são
praticados em uma única audiência, desde o recebi-
mento da contestação até a produção de prova oral.

Entretanto, o tipo de audiência depende do rito do


processo. A saber, o processo trabalhista possui três
ritos diferentes que são determinados pelo valor da
causa, quais sejam:

Rito ordinário: Valor da causa ultrapassa 40 sa-


lários mínimos vigentes na data do ajuizamento da
ação.

Rito sumaríssimo: Valor da causa não ultrapassa


40 salários mínimos vigentes na data do ajuizamen-
to da ação e em que não for parte a Administração
Pública direta, autárquica e fundacional.

Rito sumário: Valor da causa não ultrapassa 2 sa-


lários mínimos vigentes na data do ajuizamento da
ação.
Nos processos de rito ordinário e, a depender da
complexidade da ação, as audiências costumam ser
fracionadas em audiência inicial, instrução e julga-
mento e encerramento. No rito sumaríssimo e su-
mário as audiências costumam ser contínuas ou una,
ou seja, ocasião em que todos os atos processuais são
praticados.

Na prática, a regra acima estabelecida pode variar, a


depender da complexidade da ação ou de outras pro-
vas a serem produzidas como a prova pericial. Então,
como saber qual o tipo de audiência irá ocorrer em
um processo? Normalmente, basta consultar a noti-
ficação da audiência, lá consta se a audiência será una
ou fracionada.

Independente do rito e do procedimento específico


de cada Vara ou Tribunal do Trabalho, o profissio-
nal precisa conhecer os tipos de audiência a fim de se
preparar para o ato.

Para tanto, segue abaixo as audiências traba-


lhistas que podem ocorrer em um processo:
Audiência inicial

Nesta audiência ocorre a tentativa de conciliação


entre as partes e, se não houver acordo, o julgador
recebe a contestação com os documentos e marca
audiência de instrução e julgamento, em data poste-
rior, para produção de provas.

Nesta audiência são realizados todos os requeri-


mentos para sanear o processo, como por exemplo,
marcação de perícia para apuração de insalubridade,
periculosidade ou doença ocupacional.

Audiência de instrução e julgamento

Também chamada de AIJ, é a audiência em que as


partes produzem as provas que entendem devidas.

Os atos ocorrem nesta ordem:

• Proposta de conciliação;
• Depoimento pessoal do reclamante;
• Depoimento pessoal do preposto da empresa;
• Oitiva das testemunhas do reclamante;
• Oitiva das testemunhas do reclamado;
• Oitiva de perito e assistes (se houver);
• Razões finais orais (caso haja necessidade e re-
querimento da parte);
• Renovação da proposta conciliatória;
• Encerramento e designação de audiência de en-
cerramento, onde ocorre a prolação da sentença,
sem o comparecimento das partes.

Audiência de encerramento

O magistrado designa essa audiência apenas para


proferir sentença. Não é necessário o compareci-
mento das partes.

Audiência de conciliação

Estas audiências podem ocorrer em qualquer fase


do processo, pois visam fazer com que as partes fa-
çam um acordo e coloquem fim ao processo judicial.

É comum que ocorram na fase de execução, pois é


o momento em que as partes apresentam os cálculos
de liquidação da sentença. Assim, se houver diver-
gência entre os cálculos apresentados, o magistrado
designa audiência de conciliação para que entrem
em composição.

As audiências de conciliação podem ocorrer na


Central de Conciliação do Tribunal, seja em pri-
meira ou segunda instância, ou na própria Vara do
Trabalho. O despacho que designa essa audiência
informa também hora e local para sua realização e se
é necessário o comparecimento de partes e procura-
dores.
Para realizar uma audiência trabalhista bem sucedi-
da é importante que o advogado ou advogada esteja
bem preparado.

Como a audiência trabalhista é complexa e dinâmi-


ca, não basta ao profissional conhecer a lei, os prin-
cípios e o procedimento que deve ser obedecido em
audiência. Ele precisará ter raciocínio rápido, para
agir quando preciso e se comunicar bem para apre-
sentar os seus argumentos.

Apesar disso, é com a prática que se adquire segu-


rança para realizar audiência trabalhista, pois com o
tempo e a vivência, o profissional começa a ter mais
familiaridade com o ato.

Sem dúvidas, é impossível se sair bem em uma au-


diência sem que o profissional tenha se preparado an-
teriormente quanto aos seguintes aspectos:

Ler a notificação e identificar qual o tipo


de audiência acontecerá:

Como já falamos, cada Tribunal ou Vara adota um pro-


cedimento específico quanto às audiências, seja para
realizar todos os atos em uma audiência única ou para
fracionar.

Seja qual for o procedimento, a notificação da audi-


ência irá informar como se dará o ato e se existe alguma
questão que foge à regra, como por exemplo, quando
há audiência inicial, mas o magistrado pede para que as
testemunhas compareçam.

Verificar se foi obedecido o quinquídio


legal

Segundo o artigo 841 da CLT, a audiência inicial


deve ser designada para depois de transcorridos cinco
dias da notificação do reclamado.

Assim, o reclamado deve observar se o prazo acima


foi respeitado, para que seja observado o princípio do
devido processo legal.

Estudar o processo

O advogado ou advogada deve conhecer todos os


detalhes do processo, mesmo que seja para comparecer
em uma audiência inicial.

O profissional precisa saber:


• Os pedidos da petição inicial;
• As principais teses de defesa;
• Os valores dos cálculos (caso o processo já esteja
em fase de liquidação de sentença);
• As principais decisões (sentença, acórdãos);
• Se houve pedido de liminar e qual a decisão;
• Resultado da perícia, se for o caso.

Durante a audiência, você pode ser questionado sobre


algum ponto que ficou obscuro e deve ter as respostas
certas e rápidas. Vale lembrar que você será observa-
do pelo cliente, que lhe acompanhará no ato, além do
magistrado e dos colegas que estarão assistindo, já que
a audiência é pública.

Preparar o seu cliente e testemunhas para


a audiência

Em relação ao cliente, é importante que você conver-


se com ele antes da audiência sobre o que irá aconte-
cer naquele ato, quais as possíveis estratégias que serão
adotadas e o que ele deve responder, se for questionado
pelo(a) advogado(a) da outra parte ou pelo juiz.

Caso a audiência seja inicial ou de conciliação, é de


praxe que essa conversa aconteça um pouco antes da
audiência. Assim, advogado(a) e cliente marcam de en-
contrar na Vara do Trabalho alguns minutos antes e,
assim, tratam sobre o que irá acontecer. Se a audiência
for de instrução e julgamento, é recomendável que o(a)
advogado(a) converse com o cliente alguns dias antes
da audiência, a fim de evitar imprevistos.

Em relação às testemunhas, cabe esclarecer que nos


processos com valor da causa até 40 salários mínimos,
as partes podem apresentar até 2 testemunhas e, quan-
do o valor da causa for superior a 40 salários mínimos,
podem ser ouvidas até três testemunhas para cada par-
te.

Quando há oitiva de testemunha a audiência é mais


complexa e, por isso, é melhor se preparar com antece-
dência para evitar surpresas e acontecimentos inespe-
rados.

A testemunha é uma das provas mais importantes na


audiência, por isso, o profissional deve se atentar às se-
guintes questões:

• A testemunha deve ter conhecimento sobre os fa-


tos;

• A testemunha tem compromisso com a verdade,


isso significa que, não pode mentir em juízo ou omitir
alguma situação para beneficiar alguém, sob pena de
multa de 1% a 10% sobre o valor da causa (Art. 793-
D, Lei nº 13.467/ 2017);

• A testemunha que prestar falso depoimento em


juízo pratica o crime de falso testemunho e pode ser
presa (Art. 342 do Código Penal);
• A testemunha deve ser contraditada após a sua qua-
lificação em juízo (nome, estado civil, endereço, etc.);

• A testemunha que for parente até o terceiro grau


civil, amigo íntimo ou inimigo de qualquer das par-
te pode ser considerada suspeita para depor (Art. 829,
CLT). Além disso, no caso concreto, podem existir ou-
tras situações em que a testemunha se mostra parcial
e com interesse em beneficiar ou prejudicar uma das
partes.

Nessas situações, a testemunha pode ser ouvida, apesar


da relação com a parte, contudo, não prestará compro-
misso com a verdade e seu depoimento valerá como in-
formante, com força probatória menor ao depoimento
prestado quando a testemunha é imparcial e está sob
compromisso (Art. 829, CLT).

Ainda, sobre o assunto, a Súmula 357 do Tribunal


Superior do Trabalho dispõe que a testemunha que
possui ação contra a mesma empresa não é suspeita.

Em resumo, a suspeição ou não de uma testemunha


será analisada pelo julgador no ato da audiência. Por
isso, é importante que o(a) advogado(a), verifique an-
tes qual a relação da testemunha com a parte a fim de
garantir um bom depoimento.
Analisar se existe possibilidade em
conciliar

Antes mesmo da audiência, você deverá analisar se é


possível fazer acordo no processo. Para isso, alguns as-
pectos devem ser considerados:

• Qual o risco do seu cliente ter êxito no processo;


• Qual o prejuízo financeiro que o seu cliente pode ter
com o processo;
• Se o seu cliente pode arcar com o pagamento do acor-
do e qual seria o valor e a forma de pagamento.

Se há alguma preliminar ou prejudicial de


mérito a ser alegada antes da instrução:

Antes da produção de provas, se houver alguma preli-


minar, prejudicial de mérito ou outra questão que con-
sidere relevante para o processo, devem ser alegadas
inicialmente.

Como por exemplo, a exceção de incompetência em


razão do lugar, quando a ação é distribuída em comarca
diversa. Assim, para que a ação seja julgada pelo juízo
competente, o profissional deve alegar a questão ini-
cialmente na audiência.

Ônus da prova

Antes de ir para a audiência de instrução e julgamen-


to, você deverá verificar qual seu ônus de prova no pro-
cesso.

Por exemplo, se no pedido inicial há alegação de re-


cebimento de salário extra-folha e a empresa nega que
havia pagamento desta forma, então o ônus da prova
em audiência é do reclamante, ou seja, ele que deverá
provar por meio de testemunha ou depoimento pessoal
que o autor da ação recebia salário fora do contrache-
que.

Ter ciência do ônus da prova irá direcionar o advoga-


do durante a audiência, para que ele aborde os aspectos
que são relevantes para os interesses do seu cliente.

Anotar as perguntas ou requerimentos es-


pecíficos que precisam ser feitos

Para não correr o risco do(a) advogado(a) se esquecer


de algo durante a audiência, vale anotar os pontos es-
pecíficos para usar como material de apoio.

Isso pode acontecer, por exemplo, quando ocorrer


uma audiência de instrução e julgamento com muitos
pedidos, muitas testemunhas a serem ouvidas, sendo
assim, o advogado pode ter todas as suas perguntas já
anotadas em uma folha, para que possa realizar a ins-
trução sem se perder ou deixar passar algum detalhe
importante.

Durante a audiência são praticados vários atos, assim,


para não se esquecer, o profissional também pode ano-
tar em seu material de apoio algo novo que precisará
ser alegado.
Durante a audiência você precisa se atentar para al-
guns procedimentos, a fim de preservar os interesses
do seu cliente, como por exemplo:

Ler a ata de audiência

Tudo que acontece em uma audiência e que é re-


levante para o processo deve estar registrado na ata
de audiência, pois é por meio do que está registrado
neste documento que o juiz profere sentença.

É muito importante que, durante o ato, o(a) ad-


vogado(a) se atente ao que o escrevente irá colocar
na ata, pois é muito comum que o nervosismo do
profissional, as discussões acaloradas e a rapidez com
que a audiência ocorre façam com que o advogado
se esqueça de pedir o Juiz para constar em ata uma
parte do depoimento, os protestos, dentre outros.

Se uma das partes não comparecer, o que


pode ser feito?

Regra geral, se o reclamante não comparecer à au-


diência, o processo deve ser arquivado e, se a ausên-
cia for da reclamada, ocorre a revelia e confissão fic-
ta, de acordo com o artigo 844 da CLT.
A revelia ocorre quando a reclamada não compa-
rece à audiência. A confissão ficta é um dos efeitos
da revelia, de modo que, se a reclamada não com-
parece à audiência (revelia), considera que todos os
fatos alegados pelo autor são verdadeiros (confissão
ficta). Essa presunção de veracidade é relativa, pois
pode ser impugnada por prova em contrário.

Existem algumas regras específicas sobre o assunto:

• O arquivamento do processo só ocorre se o re-


clamante não comparecer à audiência inicial, pois, se
a ausência do autor ocorrer em audiência de instru-
ção e julgamento, o processo não é arquivado, mas
ocorre confissão ficta (presumem-se verdadeiros os
fatos alegados pela outra parte);

• Se o reclamante se ausentar da audiência sem


motivo justificável, deverá pagar custas, ainda que
seja beneficiário da justiça gratuita;

• Se o reclamado se ausentar, mas o seu advoga-


do estiver presente, serão aceitos contestação e os
documentos eventualmente apresentados. Essa regra
foi introduzida pelo § 5 do artigo 844 da CLT, mo-
dificado pela Lei n 13.467/17, dispondo que ainda
que a parte não compareça a audiência, se o seu pro-
curador estiver presente, a defesa será recebida pelo
juiz e a parte poderá, então, se defender das alega-
ções do autor.

Cabe esclarecer que, na audiência trabalhista é fun-


damental a presença das partes e não apenas dos seus
procuradores, a fim de que o magistrado consiga es-
clarecer as questões fáticas que permeiam o contrato
de trabalho e, também, para tentar um acordo.

Protestos

Em regra, as decisões proferidas em audiência são


irrecorríveis. Isso significa que, não há possibilidade
de recorrer naquele exato momento em que o ma-
gistrado decide sobre algo em audiência.

O que pode ser feito pelo profissional é protestar


da decisão, mostrando ao juiz que o advogado não
concorda com o que foi decidido.

Sobre o protesto, resta esclarecer:

• Deve ser feito de forma imediata ao proferi-


mento da decisão, sob pena de preclusão;

• O protesto deve constar expresso na ata de au-


diência;

• Uma vez que o protesto está registrado na ata,


o advogado poderá recorrer da decisão em sede de
recurso ordinário;

• O protesto não precisa ser fundamentado.

E se as testemunhas não puderem com-


parecer?

A regra é que as testemunhas comparecem à audi-


ência independente de intimação. Caso alguma tes-
temunha não compareça, o advogado pode pedir o
adiamento da audiência.

Se o processo for do rito sumaríssimo, você pode


levar uma carta convite que é um documento
(e-mail, mensagem), que comprova que informou
àquela testemunha da audiência, o dia e hora da ses-
são. Nesse caso, o juiz adia a audiência.
Se o processo for do rito ordinário, não cabe car-
ta convite, contudo, basta pedir ao juiz que a teste-
munha seja intimada para comparecer, sob pena de
multa ou condução coercitiva. Só faça isso, caso te-
nha certeza que ela irá comparecer na próxima audi-
ência e se ela for fundamental para o processo.

Razões finais

Ao final da audiência, você pode fazer razões finais


orais, desde que não exceda a 10 minutos (art. 850,
CLT).

Não é um procedimento obrigatório, portanto, se


você não fizer não trará prejuízo ao seu cliente, só é
recomendável fazer quando você entender que al-
gum aspecto tratado na audiência ou no processo é
muito relevante e merece destaque na ata de audiên-
cia.
Conclusão
Saber conduzir uma boa audiência trabalhista é um
processo que exige estudo, muita atenção aos deta-
lhes, raciocínio rápido e boa comunicação.

Com a prática trabalhista muito se aprende, mas


a fim de facilitar o caminho é que preparamos este
conteúdo para você, pois as dicas que estão aqui são
muito práticas e podem ser usadas independente do
Tribunal ou Vara em que atue.

Quando tiver uma audiência trabalhista designada,


lembre-se sempre que você tem procedimentos pre-
paratórios, como: informar ao cliente, conferir a no-
tificação, se reunir com testemunhas e preposto, ve-
rificar o risco do processo e a possibilidade de acordo,
preparar perguntas para testemunhas e parte, etc.

Ao ir para o ato, lembre-se que é um ato solene,


onde as informações precisam estar registradas em
ata. A ata é o seu grande aliado, pois você pode fazer
ótimas intervenções, conseguir a confissão de uma
parte, mas se nada disso estiver registrado, é como se
não tivesse existido.

Além disso, saiba qual matéria você precisa provar


e qual matéria é da outra parte. Proteste quando for
preciso e conste este protesto em ata para que possa
recorrer em momento oportuno.

Houve algum imprevisto, situação nova, documen-


to novo, testemunha que não compareceu? Tente o
adiamento ou dilação de prazo para se manifestar e
argumente com o magistrado em seu favor.

Por fim, a sua comunicação deve ser implacável.


Tenha um tom conciliador, mas firme em seus ar-
gumentos e, principalmente, clareza ao expor suas
ideias.

O Juris disponibiliza uma série de materiais auxi-


liares como este que podem lhe ajudar, seja na esfera
trabalhista ou não. Acompanhar audiências reais pode
ser de grande ajuda. Já conhece o projeto Audiências
Online? Se não, clique aqui, conheça e tenha mais
experiência prática.

Nosso desejo é que suas audiências trabalhistas se-


jam aprimoradas e que você consiga excelentes re-
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