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Como se faz um jornal diário


De quando em vez, ao comprar um jornal, é natural que o leitor se interrogue sobre o modo
como é produzido aquele conjunto de páginas recheado de textos e de fotografias que nos põe
quotidianamente em contacto com o mundo. Para descodificar o processo de concepção e de
produção de um jornal diário, proponho-vos simular as etapas sucessivas que têm de ser
cumpridas nesse sentido — e se não será exactamente assim em todos os jornais, a verdade é
que todos os títulos de maior dimensão e com uma estrutura profissionalizada (tanto em
Portugal como no resto do mundo) têm necessariamente que seguir os passos que a seguir se
descrevem.

a) Tudo começa na antevéspera

São 18h00. Para quem não está familiarizado com a produção dos jornais diários, é capaz de
causar estranheza o facto de o jornal de quinta-feira, por exemplo, começar a ser preparado
na...terça-feira ao final da tarde. Com efeito, é por volta das seis da tarde que ficam alinhados,
no denominado sector da agenda, os principais serviços que os jornalistas irão cobrir no dia
seguinte (o que quer dizer, em bom rigor, que o trabalho deste sector começou muitas horas
antes, logo pela manhã, com o “carregamento” em computador das primeiras informações que
foram chegando à redacção). Ou seja, ainda estão os jornalistas a terminar os seus textos para
a edição do dia seguinte e já outros profissionais da casa — as pessoas da agenda, os editores
de secção, os chefes de redacção, o director — se preocupam com o jornal que há-de sair dois
dias depois...

b) O que fazer e como fazer

Como é fácil de supor, nem tudo o que está na agenda será objecto de cobertura jornalística —
sobretudo porque a edição de um jornal em papel tem limitações de espaço, pelo que há que
introduzir factores de selecção editorial. Assim, a partir das sugestões da agenda e da iniciativa
própria dos jornalistas e responsáveis de cada secção (os jornais têm essa “mania” de arrumar
o país e o mundo em “gavetas” ou áreas temáticas… naturalmente para nos facilitar a leitura)
segue-se o momento de definir as prioridades de cobertura de acontecimentos para o dia
seguinte. Neste aspecto, a Direcção Editorial ou estrutura de chefia tem um papel
preponderante, uma vez que é o director e quem o coadjuva os máximos garantes da
preservação da linha editorial que o jornal se propôs seguir. Mas as diferentes secções e
respectivos editores ou chefes dispõem normalmente de uma larga autonomia para definir o
que vai ser feito — num quadro de transversalidade que é uma das características
fundamentais dos jornais modernos. O que implica, já na véspera — entre as 19h00 e as 21h00
— que a redacção central, as delegações e os correspondentes se animem com conversas
cruzadas sobre “o que fazer” e “como fazer” no dia seguinte. Trata-se de um trabalho
preparatório em que se recorre habitualmente ao telefone, ao fax e ao e-mail.

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