2. Administração Eclesiástica
3. Administração na Bíblia
O que é a Igreja
A palavra “Igreja” é uma tradução da palavra grega Ekklesia (εκκλησία). Este termo se refere
à reunião de um povo por convocação. Ekklesia é a soma da preposição ek (para fora) e do
verbo kalein (chamar). Assim, a tradução significa literalmente “chamar para fora” ou
“chamados para fora”, isto é, chamados para deixar o mundo1.
Quando analisado do ponto de vista do uso clássico da Septuaginta (conhecida também como
Versão dos Setenta) - versão bíblica que traduziu o texto sagrado do Antigo Testamento para
o grego popular koiné - o termo ekklesia tem a significação de “reunião”, “assembleia oficial”,
“congregação”, “grupo de soldados”, exilados ou “religiosos”2.
Para entender melhor o conceito de igreja, precisa-se conhecer a origem histórica do termo
Ekklesia, ou seja, a antiga nação grega. A Grécia era composta por várias pequenas cidades-
estado que tinham por costume reunir seus respectivos governantes, para as decisões
deliberativas. A essas reuniões era dado o nome de ekklesia, ou “ajuntamento popular”3.
Sabe-se que foram os gregos que instituíram as primeiras ideias de uma “organização
popular” por intermédio das cidades. Nesta organização havia um procedimento bastante
simples: os administradores da cidade, literalmente, deixavam o espaço físico onde estavam
e subiam a lugares altos de onde observavam a cidade, contemplavam suas demandas e
traçavam os objetivos a serem executados na vida e administração da cidade.
Simbolicamente, esta realidade cotidiana da civilização dos gregos deu origem àquilo que
conhecemos como igreja, ou seja, do ponto de vista simbólico nós também somos chamados
por Deus para sair do mundo. Deriva-se daí o entendimento da palavra “EKKLESIA”.
1
GABY, Eliel e GABY, Wagner. Planejamento e Gestão Eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
2
HORRELL, John Scott. Ultrapassando barreiras. São Paulo: Vida Nova, 1994.
3
História da Igreja – EETAD – Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus.
partir do viés empresarial. A igreja é composta por um grupo de pessoas que
confessam sua fé em Cristo, foram batizadas e se organizaram para fazer a vontade
de Deus.
2. Exige o batismo: o padrão do Novo Testamento não admite membro que não
seja batizado.
Aqueles que olham para a igreja como uma organização que deve ser administrada
como uma empresa cometem o erro gravíssimo de trazer pessoas do mundo
corporativo, sem nenhum conhecimento do significado espiritual e bíblico da igreja,
para administrar as suas questões. Confundindo a verdade da igreja com os conceitos
do mundo secular.
4
HORRELL, John Scott. Ultrapassando barreiras. São Paulo: Vida Nova, 1994.
As Funções da Igreja
Função é oriunda de functione, uma palavra de origem latina que significa “ação
natural” ou “missão”. Do ponto de vista sociológico, função é uma contribuição, o
exercício de uma atividade ou uma ação que contribui para o bem estar de outrem.
A igreja possui funções que refletem sua atuação e o seu propósito 5, pois foi
estabelecida por Deus para contribuir para seus membros e também para a
comunidade na qual está inserida.
a. Koinonia (comunhão): palavra que expressa a união que deve existir entre os
membros da igreja. Ao comunicar a beleza desta realidade, o salmista diz: “Oh!
Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união”
.
Biblicamente, a igreja precisa, para cumprir de fato a sua missão, promover a
comunhão entre os seus membros. Alguns autores têm defendido que a igreja
também precisa cultivar uma comunhão (não ideológica, mas de
relacionamento) com a comunidade onde está inserida para que possa
influenciá-la.
5
GABY, Eliel e GABY, Wagner. Planejamento e Gestão Eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
6
MUZIO, Rubens. O DNA da Igreja – Comunidades cristãs transformando a nação. Curitiba: Esperança, 2010.
Deverão entrar neste planejamento estratégico também os cultos nos lares,
reuniões de grupos etários e outras atividades da igreja. Este planejamento
deverá estar ao alcance não só da direção da igreja ou da liderança de algum
ministério, mas de todos os membros da igreja para que eles entendam, em
primeiro lugar, que a igreja têm uma missão: promover a comunhão entre os
seus membros.
Existem igrejas que, por exemplo, planejam os cultos e os temas que vão ser
abordados pelos pregadores nos próximos três meses ou mais. Isto para que
a igreja não fique sem um objetivo claro. É confortável para seus membros
saber que as ministrações que ouvirão serão direcionadas e fruto de um
trabalho elaborado e específico de seus líderes.
Quando um pastor executa assim a função “kerigma”, a igreja entende que ele
não trabalha no improviso, mas tem uma programação. A pregação é fruto de
um trabalho elaborado e não do improviso. Alguns pastores utilizam apenas
uma mensagem e a desdobram em várias para desenvolver na igreja por
vários cultos, o que desmotiva a igreja. Quando há um plano de Ensino da
Pregação e de educação para a igreja, esta torna-se mais motivante para seus
membros e para o próprio pastor.
Com o objetivo de atender bem as pessoas é preciso planejar como vai ser
desenvolvido o atendimento social e o que a igreja pode fazer pela comunidade
que está em volta. Se, por exemplo, constatarmos um grau elevado de
carência e decidirmos distribuir cestas básicas, precisaremos planejar quais
serão os dias de atendimento, quais serão os critérios para atender as famílias,
que alimentos são primordiais nestas cestas, com que periodicidade serão
entregues, etc…
Assim, planejamento e gestão estratégica para a igreja não busca tão somente
lucro financeiro, muito pelo contrário: a partir do momento que o conceito de
igreja e suas funções é compreendido, as ferramentas do planejamento e da
gestão estratégica clássica são auxiliaries ao cumprimento destas funções.
Esta é uma prática que, infelizmente, tem caído em desuso por parte dos
membros da igreja. Perdeu-se o hábito de testemunhar sobre aquilo que
estamos vivenciando no nosso relacionamento com Deus. O planejamento
pode ser também uma ferramenta poderosa para ajudar nesta função da igreja:
o testemunho.
É função da Igreja anunciar ao mundo o que Deus está fazendo nas vidas de
seus filhos. Para isso, precisamos nos planejar e estar organizados para colher
e divulgar estes testemunhos.
A partir dos três conceitos apresentados, pode-se perceber que administrar passa
necessariamente por entender os objetivos da instituição (no caso da igreja, qual sua
função) para então elaborar um planejamento que leve a concretização desses
objetivos. Quando não há planejamento, organização, liderança e controle os
objetivos dificilmente serão alcançados.
Um percepção clara dos objetivos da igreja e dos recursos que ela tem à disposição
para a execução do trabalho deve levar à elaboração de um planejamento com metas
claras e possíveis. Obviamente, não há aqui a pretensão de garantir que todas as
metas serão alcançadas, mas, um planejamento bem elaborado diminuirá
significativamente o nível de frustração dos gestores e dos membros.
7
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 6. ed. – Rio de Janeiro: Campus, 2000.
procedimentos, com a finalidade de cumprir seus objetivos biblicamente orientados”
(Gilson de Oliveira)8.
O conceito do pastor Gilson de Oliveira deixa muito claro que, quando fala-se em
administração eclesiástica, está implícito que esta é uma administração que tem a
finalidade ou o propósito de cumprir objetivos que são biblicamente orientados. Nesse
caso, a construção de objetivos e metas para a igreja tem o seu fundamento na Bíblia
Sagrada.
O pastor Gildásio Jesus Barbosa dos Reis vem corroborar com esta definição quando
afirma que “Em virtude de sua natureza, a Igreja não se confunde com nenhuma
sociedade ou grupos étnicos. A sua corporalidade, organicidade, fraternidade e
unicidade nascem, estruturam-se e se perpetuam na regeneração em Cristo Jesus, o
criador da comunhão dos santos. A missão da igreja é ser serva de Jesus Cristo pelo
culto permanente e exclusivo à Trindade; pelo amor interno, que confraterniza seus
membros; pela fidelidade às Escrituras; pela igualdade de seus componentes; pela
missão evangelizadora entre todos os povos, pelo incansável testemunho cristão”9.
Existe uma linha de pensamento dentro da administração eclesiástica que afirma que
a administração eclesiástica deve ser estabelecida olhando para figura do líder, ou
seja, ela trata basicamente uma linha de raciocínio de reflexão sobre o papel da
liderança a partir da pessoa do líder: quem é o líder, quais são as suas qualificações,
se a pessoa de fato tem condições de exercer uma liderança.
8
OLIVEIRA, Gilson de. Resistência ou indiferentismo à modernização administrativa? Obreiro Liderança Pentecostal,
CPAD. Rio de Janeiro, Ano 24 – no. 18 – Abril/2002, p. 36-43.
9
REIS, Gildásio Jesus Barbosa dos. Administração Eclesiástica. Disponível em
http://www.spn.br/index.php/downloads/cat_view/50-apostilas.
10
MONTOSA, Rodolfo Garcia. A boa gestão de uma igreja. Disponível em
http://www.institutojetro.com/Artigos/administracao-geral/a-boa-gestao-de-uma-igreja.html. Acesso: 04.11.2014.
Nessa perspectiva, tecermos um olhar reflexivo para a administração eclesiástica
buscando refletir sobre quais são os limites ou papéis do líder dentro da igreja, até
que momento um pastor deve ser administrador, quando ele deve delegar ou
terceirizar atividades, se ele deve distribuir essas atividades e se preocupar
essencialmente com as questões espirituais da igreja, etc...
O pastor Geremias Couto defende o que a maioria dos pensadores da área vêm
defendendo, ou seja, de que é responsabilidade do pastor da igreja ou do líder do
ministério/departamento a administração das atividades que estão sob sua
responsabilidade.
11
COUTO, Geremias. Princípios de liderança e administração eclesiástica. Disponível em
http://geremiasdocouto.blogspot.com.br/2009/08/administracao-lideranca-igreja-carater.html. Acesso: 07.04.18.
12
COUTO, Geremias. Princípios de liderança e administração eclesiástica. Disponível em
http://geremiasdocouto.blogspot.com.br/2009/08/administracao-lideranca-igreja-carater.html. Acesso: 07.04.18.
Há igrejas que já optaram por uma administração totalmente terceirizada. Embora não
haja evidências bíblicas para afirmarmos que tal prática seja pecaminosa, somos
alinhados com esta afirmação do pastor Geremias do Couto de que a administração
e o Pastoreio são, de fato, interdependentes e que o pastor da igreja, o pastor local
ou o dirigente de um ministério/departamento deve ter, além da responsabilidade
espiritual, a responsabilidade administrativa.
Cabe observar que ter a responsabilidade não significa “fazer tudo sozinho” ou não
delegar funções. Por exemplo, um pastor pode não ter um bom conhecimento na
área contábil, ele pode delegar esta função para alguém mais capacitado na área, no
entanto, precisará supervisionar, acompanhar, aprovar estar com a responsabilidade
final.
Steve Marr afirma que “A gestão eclesiástica preocupa-se com a dimensão bíblica,
teológica e pastoral da Igreja que se caracteriza por sua visão: missionária,
educacional e social. A administração eclesiástica nas organizações, em todos os
seus níveis, requer uma gestão participativa, relacionadas entre si, e que tem por
pressuposto a participação de ministérios com ações harmônicas fundamentadas no
espírito de servir com amor, segundo o ensino e a prática do Senhor Jesus” 13
Observe que neste clássico que trata da administração segundo a Bíblia, Steve deixa
bastante claro as três ações onde a igreja precisa estar focada, ou seja, a visão
missionária, de educação e social.
13
MARR, Steve. Administração segundo a Bíblia: métodos de gestão que não envelhecem. São Paulo: Mundo
Cristão, 2006. p.5.
ADMINISTRAÇÃO NA BÍBLIA
Olhando para estas passagens bíblicas e sua significação teológica, temos uma
primeira fundamentação de que é bíblica a ideia da administração, da organização e
do cuidado de uma casa. Devemos, portanto, cuidar com zelo da casa do Senhor, de
Seus negócios e do Seu reino.
Os despenseiros, chamados por Deus para esta responsabilidade, não são chamados
para olhar seus próprios negócios domésticos, mas são os mordomos dos bens a eles
confiados para prestar contas de sua administração (1Co 9.17; Ef 3.9). Nestas duas
referências bíblicas, a ênfase de Paulo é que o pastor é alguém que cuida das coisas
da casa de Deus.
O pastor tem uma responsabilidade no cuidado da casa de Deus e das coisas que a
compõem em todas as suas dimensões. Nesse cuidado, é preciso administrar
recursos que são materiais: contas de luz, água, aluguel, impostos, taxas, etc... Mas
também é necessário o cuidado dos recursos humanos: as pessoas. É preciso
atendê-las e aconselhá-las.
O que pode causar confusão e crítica por parte dos membros da igreja é quanto a
comunidade de fé observa que o líder está, em suas atividades diárias,
comprometendo-se apenas com a administração dos recursos materiais.
Existem pastores que, em sua gestão, dispensam um tempo muito grande (além
daquilo que deveria ser um tempo de equilíbrio) para cuidar de questões meramente
administrativas da igreja, esquecendo-se de outras áreas fundamentais.
Por exemplo, em uma igreja que está em processo de construção é natural que o
pastor entregue muito do seu tempo e dos seus esforços pensando em tijolos, pedras,
areia, grades, coberturas, enfim é natural que se dedique a estas questões. No
entanto, a evangelização e o cuidado pastoral não podem ficar relegadas a segundo
plano.
É preciso haver muito equilíbrio para que um pastor não dedique um tempo
desproporcional a questões secundárias. Não se pode menosprezar as questões
secundárias, mas aquilo que é espiritual deve ter o primeiro lugar. O que é secundário
tem menor valor quando comparado a questões espirituais: é mais importante
evangelizar do que construir. No entanto, é obviamente necessário empreender e
construir, mas não pode-se abandonar aspectos de evangelismo, missões e
atendimento individual.
É importante que a igreja seja informada de toda a base bíblica que respalda uma
administração estratégica. Os membros da igreja precisam ter convicção de que não
estão se submetendo a um homem ou mulher que vê a igreja apenas como uma
empresa, mas que estão diante de alguém que, com temor de Deus, pretende
organizar com zelo todos os recursos disponíveis para fazer Sua obra com
excelência.
Estamos vivendo dias em que uma falsa noção democrática está tomando conta do
coração dos membros das igrejas. Esta ideia de democratização eclesiástica está
trazendo muita confusão no meio da igreja. A bíblia é clara sobre o aspecto da
administração: submissão a uma cadeia de comando. Observe o seguinte quadro de
Eudes Lopes Cavalcanti:
Este pensador clássico está afirmando que, para que a administração exista, precisa
ser notada em sua prática. É plenamente possível trazermos conceitos da
administração secular para dentro da igreja sem confundí-la com o ambiente
corporativo.
Para tornar claro este conceito, podemos usar o exemplo das metas
estabelecidas em relação ao aumento da membresia: se uma igreja se propõe
a aumentar em dez por cento o seu número de membros em um ano, deve
haver, periodicamente, uma avaliação que determine se este número está de
fato sendo aumentado e, se não estiver, é necessário fazer-se as adaptações
necessárias.