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Universidade Estadual do Ceará

Centro de Humanidades
Ciências Sociais

Relatório de
Sociologia

Nome:Marcos Paulo Abreu Rodrigues

Disciplina: Sociologia 1

Prof. Irapuan
1. Introdução

Thomas Hobbes nasceu em Malmesbury, Inglaterra, em 5 de abril 1588. Como ele


mesmo alegou em sua autobiografia, "ao nascer sua mãe teria dado a luz a gêmeos:
Hobbes e o medo", já que a mãe de Hobbes havia entrado em trabalho de parto
prematuro com medo da Armada Espanhola (a Invencível Armada) que estava prestes a
atacar a Inglaterra. Embora o tema do medo e do seu poder avassalador fossem aparecer
mais tarde em suas obras, os primeiros anos de vida de Hobbes foram em grande parte
livres da ansiedade. Seu pai era o vigário de Charlton e Westport, cidades próximas de
Malmesbury, mas uma disputa com outro vigário, o levou a se mudar para Londres.
Como resultado, aos sete anos de idade, Thomas Hobbes, ficou sob a tutela de seu tio
Francisco. Hobbes fez seus primeiros estudos em Malmesbury e mais tarde em
Westport, onde exibiu seus dotes intelectuais em estudos clássicos. Aos quatorze anos,
em 1603, seu tio Francisco financiou os seus estudos, entrando na Magdalen Hall,
Oxford, onde predominava o ensino da escolástica de inspiração aristotélica, mas a que
Hobbes não demonstrou grande interesse. Em 1610 ele empreendeu uma viagem à
Europa, acompanhando William Cavendish, indo para França, Itália e Alemanha. Pode
observar em primeira mão a pouca apreciação da escolástica na época - que já estava em
claro declínio. As muitas tentativas de abrir portas para desenvolvimento de outros
conhecimentos fez com que ele decidisse retornar à Inglaterra para aprofundar o estudo
dos clássicos. Nesse período, já de volta à Inglaterra, suas relações com Francis Bacon
irão reforçar a linha de seu próprio pensamento, bem fora do aristotelismo e da
escolástica. Em 1631 a família de nobres ingleses Cavendish novamente pede seus
serviços como guardião do terceiro Duque de Devonshire, e Hobbes irá ocupar este
cargo até 1642. Durante este período, faz outra viagem ao continente, lá permanecendo
de 1634 a 1637. Na França, entra em contato com o círculo intelectual do Padre
Mersenne, mentor de Descartes - com quem estabeleceu uma forte amizade. Em geral,
Hobbes era a favor da explicação mecanicista do universo (que predominava na época),
em oposição à teleológica defendida por Aristóteles e a escolástica. Também teve a
oportunidade de conhecer Galileu, durante uma viagem à Itália em 1636 (6 anos antes
de Galileu morrer), sob cuja influência Hobbes desenvolveu a sua filosofia social,
baseando-se nos princípios da geometria e ciências naturais. Em 1640, quando a
possibilidade de uma guerra civil na Inglaterra já era clara, Hobbes, temendo por sua
vida por ser um conhecido defensor da monarquia, viaja de volta para Paris, onde, mais
uma vez, foi recebido pelo círculo de intelectuais francês. Em 1646, ainda em Paris, vira
professor de matemática do Príncipe de Gales, o futuro Carlos II, que também se
encontrava exilado em Paris devido a Guerra Civil Inglesa. Em 1651, dois anos após a
decapitação do rei Carlos I, Hobbes decide voltar para a Inglaterra com o fim da Guerra
Civil e o começo da “Ditadura de Cromwell”. Neste ano também publica “Leviatã”, que
provoca o início de sua disputa com John Bramall, bispo de Derry, o principal acusador
de Hobbes como sendo um “materialista ateu”. A publicação do “De Corpore”, em
1665, irá resultar em uma polêmica com os principais membros da Royal Society, que
criticaram suas contribuições para a matemática bem como as posições ateístas
defendidas por Hobbes. Na Inglaterra, o "anti-Hobbismo" atingiu um pico em 1666
quando seus livros foram queimados na sua alma mater, Oxford. Hobbes manteve-se
um escritor extremamente produtivo na velhice, mesmo sendo prejudicado pela
oposição generalizada de seu trabalho. Ele viveu até os 91 anos durante uma época em
que a expectativa média de vida não era muito mais do que quarenta anos. Aos 80 anos
Hobbes produziu novas traduções para o inglês, tanto da Ilíada e da Odisseia e escreveu,
em 1672, uma autobiografia em latim. Apesar da polêmica que causou, ele foi uma
espécie de símbolo na Inglaterra até o final de sua vida. Seu ponto de vista pode ser
considerado abominável ou atraente; suas teorias brilhantemente articuladas são lidas
por pessoas de todos os espectros políticos.

2. Desenvolvimento

2.1. O Contexto do mundo na época da existência de Hobbes

Nascido em 1588, na Inglaterra dos Tudor, Thomas Hobbes foi influenciado pela
reforma anglicana que ocorrera cinco décadas antes. A cisão com a Igreja Católica fez
com que a Espanha interviesse nos assuntos ingleses enviando a Invencível Armada
(“Grande y Felicíssima Armada”) fato que mais tarde seria relatado por Hobbes em sua
autobiografia e terá grandes influências sobre sua obra. O século XVII foi de grande
importância para a Inglaterra pois marca o começo do expansionismo colonialista
ultramarino inglês, com a fundação de Jamestown, a primeira colônia inglesa nas
Américas, em 1607. É também no século XVII que são lançadas as bases do capitalismo
industrial na Inglaterra com a Revolução Gloriosa já na década de 80 do século XVII. É
durante esse período que a Marinha Inglesa irá se consolidar como a maior e mais bem
equipada marinha do mundo, só perdendo a posição para os EUA no pós-2a. Guerra
Mundial. A poderosa marinha irá contribuir para o acúmulo de capitais que irá financiar
o expansionismo colonial e, mais tarde, industrial inglês. Batalha de Marston Moor
(1644) marca uma vitória decisiva das forças parlamentares durante a guerra civil
inglesa.O século XVII na Europa continental é o marco do absolutismo monárquico,
tendo seu expoente máximo o Luis XIV, o Rei Sol que ficou famoso pela frase “L’État
c’est moi” (O Estado sou eu). O Barroco também marcou o período e tinha influência
da Contra-reforma (representado na Inglaterra pela revolução anglicana). A filosofia do
barroco se baseava no dualismo existente entre o hedonismo e o medo do pecado ou
fervor religioso – enquanto que a busca pelo essencialmente humano já havia começado
no Renascimento; havia o receio do divino sobrenatural que poderia punir o terreno e
transitório.Quando Hobbes tinha 30 anos e já havia visitado a Europa continental pela
primeira vez, uma revolta na Boêmia daria início à Guerra dos Trinta Anos, fato que irá
reforçar para Hobbes a sua própria visão pessimista acerca da natureza humana
destrutiva. Apenas 12 anos após o início da guerra no continente europeu, disputas
políticas entre o Parlamento e o Rei inglês dão início a uma guerra civil na Inglaterra
que perdurará por 10 anos.

2.2. O Pensamento de Hobbes

Hobbes foi bastante influenciado por seus comtemporâneos: Francis Bacon, empirista,
e René Descartes, racionalista. Bacon e Descartes marcaram suas épocas com o
antagonismo de suas filosofias. Bacon defendia a idéia de que a única fonte de
conhecimento é a experiência, já Descartes afirmava que o conhecimento só se dá
através da razão. Hobbes elaborou suas teorias utilizando essas duas correntes
antitéticas. Ele buscou investigar as causas e a propriedade das coisas.Outro importante
personagem para Hobbes foi Galileu, o pai da da ciência moderna, aquele que descobriu
a lei dos corpos e defendia o método impírico. Hobbes quis fundar a sua filosofia
política sobre uma construção racional da sociedade, que permitisse explicar o poder
absoluto dos soberanos. Mas as suas teses, publicadas ao longo dos anos, e apresentadas
na sua forma definitiva no Leviatã, de 1651, não foram bem aceitas, nem por aqueles
que, com Jaime I, o primeiro rei Stuart de Inglaterra, defendia que: “O que diz respeito
ao mistério do poder real não devia ser debatido”, nem pelo clero anglicano, que já em
1606 tinha condenado aqueles que defendiam que: “Os homens erravam pelas florestas
e nos campos até que a experiência lhes ensinou a necessidade do governo”. A
justificação de Hobbes para o poder absoluto é estritamente racional e friamente
utilitária, completamente livre de qualquer tipo de religiosidade e sentimentalismo,
negando implicitamente a origem divina do poder. O que Hobbes admite é a existência
do pacto social, esta é a sua originalidade e novidade. Hobbes não se contentou em
rejeitar o direito divino dos soberanos, fez tábua rasa de todo o edifício moral e político
da Idade Média. A soberania era em Hobbes a projeção no plano político de um
individualismo filosófico ligado ao nominalismo, que conferia um valor absoluto à
vontade individual. A conclusão das deduções rigorosas do  pensador inglês era o
gigante Leviatã, dominando sem concorrência a infinidade de indivíduos, de que tinha
feito parte inicialmente, e que tinham substituído as suas vontades individuais à dele,
para que, pagando o preço da sua dominação, obtivessem uma proteção eficaz.
Indivíduos que estavam completamente entregues a si mesmos nas suas atividades
normais do dia-a-dia. Hobbes se aproxima de Maquiavel e do seu empirismo radical, ao
partir de um método de pensar rigorosamente dedutivo. A humanidade no estado puro
ou natural era uma selva. A humanidade no estado social, constituído por sociedades
civis ou políticas distintas, por estados soberanos, não tinha que recear um regresso à
selva no relacionamento entre indivíduos, a partir do momento em que os benefícios
consentidos do poder absoluto, em princípio ilimitado, permitiam ao homem deixar de
ser um lobo para os outros homens. Aperfeiçoando a tese de Maquiavel, Hobbes
defende que o poder não é um simples fenômeno de força, mas uma força
institucionalizada canalizada para o direito (positivo), construindo assim a primeira
teoria moderna do Estado. Deste Estado, sua criação, os indivíduos não esperam a
felicidade, mas a paz, condição necessária à manutenção da felicidade. Paz que está
subordinada a um aumento considerável da autoridade do Soberano, a da lei que emana
dele. Mas, mesmo parecendo insaciável, esta invenção humana com o nome de um
monstro bíblico, não reclama o homem todo. De fato, em vários aspectos o absolutismo
político de Hobbes aparece como uma espécie de liberalismo moral. Hobbes mostra-se
favorável ao desenvolvimento, sob a autoridade ameaçadora da lei positiva, das
iniciativas individuais guiadas unicamente por um interesse individual bem calculado, e
por um instinto racional aquisitivo.

2.3. O Estado de natureza


Para Hobbes, na mais antiga destas realidades, ou seja, no estado natural, os homens
vivem sem qualquer espécie de poder segundo regras e normas, sendo absolutamente
livres para usufruir de todas as coisas do mundo, ou seja, cada homem tem direito a
todas as coisas. O problema, todavia, é que, segundo o caráter violentamente motivado
pela paixão da natureza humana, este direito a tudo acaba por significar direito a nada,
pois nenhum homem é obrigado a não ter algo, podendo utilizar todos os meios que
julgar necessário para se satisfazer através de qualquer bem disponível na natureza. Em
sua concepção, ele compreende o homem como uma máquina natural, tendo como
propriedades desejar e agir, em função do desejo, sendo os homens, no estado de
natureza, potências movidas pelo desejo. Contudo ele não vê o homem natural como
um selvagem, pois para Hobbes, a natureza humana não muda conforme o tempo, a
história ou a vida social. Na visão de Hobbes, a igualdade é geradora de conflitos entre
os homens. Para ele tanto a igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins,
provoca os conflitos, visto que se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo
tempo, sendo impossível compartilhá-la, eles se tornam inimigos e, na tentativa de
atingir seu fim, tentam subjugar um ao outro. Na natureza do homem, encontramos três
causas geradoras de conflito e discórdia: a competição, a desconfiança e a glória. A
primeira leva os homens a atacar os outros, visando lucros; a segunda visa à segurança;
e a terceira visa à reputação. Deduz-se então, que, no Estado de Natureza, os homens
seriam dotados de força igual (pois o fisicamente mais fraco pode matar o fisicamente
mais forte, lançando mão deste ou daquele recurso), e como as aptidões intelectuais
também se igualam o recurso à violência se generaliza. Todo homem possui
pensamentos que não podem ser esclarecidos pelos olhos de seu semelhante: “eu não
sei o que o outro deseja, e por isso tenho que supor qual será sua atitude mais razoável.
Como o outro também não sabe o que quero, também é ele forçado a supor o que farei.”
Dessas suposições decorre que cada um pensará ser mais razoável atacar o outro, para
vencê-lo ou prevenir algum ataque. Assim, o estado natural exige uma saída com base
no próprio instinto de conservação da vida. Deixado a si, o instinto de conservação é a
abertura para a violência que se insiste no homem e, ao mesmo tempo, para a paz tática
que prometa conservação. É esse o campo da lei natural.
2.4. O Pacto Social

A concepção que Hobbes tem do estado de natureza contraria a maior parte dos
filósofos políticos, que acreditavam haver no homem uma disposição natural para viver
em sociedade. Aristóteles (384-322 a.C.), por exemplo, acreditava que o homem é um
animal social e já está naturalmente incluído numa ordem ideal. O instinto de
conservação é básico na filosofia de Hobbes, para ele os indivíduos entram em
sociedade só quando a preservação da vida está ameaçada. Entretanto, os homens não
vivem em cooperação natural, como o fazem as abelhas ou as formigas, acordo entre
elas é natural; entre os homens, só pode ser artificial. Guiado pela razão, o instinto de
conservação ensina que é preciso procurar a paz quando se tem a esperança de obtê-la,
pois a vida de cada um estaria sempre ameaçada se cada qual tudo fizesse para exercer
seu poder sobre todas as coisas. Não sendo possível a paz, é preciso procurar em toda
parte os recursos para a guerra, sendo lícito empregá-los. De qualquer modo, a paz é a
dimensão mais compatível com instinto de conservação. Nesse sentido, os homens são
levados a estabelecer contratos entre si. O contrato “é uma transferência mútua de
direito”. O pacto, isto é, a promessa de cumprir o contrato, vale enquanto a conservação
da vida não estiver sendo ameaçada. Para que seja durável a paz obtida com o contrato
social, é necessário que a multidão dos associados seja tão grande que os adversários de
sua segurança não tenham a esperança de que a adesão de um pequeno número baste
para assegurar-lhes a vitória. Para que a vida seja viável, impõe-se, pois, uma sociedade
civil. Assim, a paz imprescindível à conservação da vida que a razão solicita cria o
pacto social e, através deste, o homem é introduzido em uma ordem moral. No nível das
relações morais, é preciso que cada um não faça aos outros, o que não gostaria que
fizessem a si. É preciso evitar a ingratidão, os insultos, o orgulho, enfim, tudo o que
prejudique a concórdia; que o mal seja vingado sem crueldade, que os bens sejam
distribuídos eqüitativamente e que haja uso comum daqueles que não possam ser
divididos; havendo disputas, que se recorra a um árbitro imparcial e desinteressado.
Essas leis não são deduzidas por Hobbes de um instinto natural, nem de um
consentimento universal, mas da razão que procura os meios de conservação do homem;
elas seriam imutáveis por constituírem conclusões tiradas por raciocínio.
2.5. O Estado Civil

O estado civil surge como a solução para os problemas do estado natural. Hobbes fala
que o homem que vive no estado natural vive em guerras e para que possa haver a paz é
necessário eleger um soberano aquele que esta acima das leis, pois já que ele foi eleito
pelo povo, o pecado do soberano e o pecado do povo, o povo não tem o direito de tirar o
soberano, pois é um cargo passado de pai para filho, pois Tomas Hobbes fala que se o
posto de soberano não fosse escolhido pelo próprio soberano poderia haver guerras e
tudo voltar a estaca zero no caso ao Estado Natural. A propriedade é também dividida
pelo soberano, ou seja, o soberano é o detentor de todo o poder com isso ele é
responsável por dividir as terras de acordo com o que ele acha certo, e ninguém pode
questionar o rei, pois ele é a representação do povo. Ele também é responsável por ditar
as leis, mas as leis são apenas palavras por isso é necessário do uso da espada para que
elas possam ser cumpridas, pois o respeito é imposto pelo estado através da força. O
soberano para Hobbes é: “Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante
pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a
ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente,
para assegurar a paz e a defesa comum.”

Hobbes fala que o homem precisa viver no estado civil devido a sua enorme crença no
coração, ou seja, o homem liga mais para os sentimentos de tomar ou mesmo a inveja
com isso torna-se necessário instaurar o Estado Civil. As questões sobre justiça ou
injustiça não cabe ao soberano, pois ele esta acima da lei. A lei é desrespeitada pelos
súditos quando eles descumprem o pacto. Podemos ver que para Hobbes a Monarquia
absolutista é responsável pela garantia de país, pois ela traduz o real poder de soberania,
pois para Hobbes o rei é a figura responsável por todos os acordos e desacordos, ele é o
responsável por punir ou agradar, por fazer com que suas leis saiam do papel. Com isso
podemos ver que o papel do soberano é totalmente focado no poder dado a ele, ou seja,
as leis criadas por ele só diz conta a aqueles que são seus súditos, ninguém tem o direito
de tirar ele do poder a não ser a morte e quando isso acontece o filho do rei é
responsável pelo cargo. Hobbes fala que: “Entende-se que a obrigação dos súditos para
com o soberano dura enquanto, e apenas enquanto, dura também o poder mediante o
qual ele é capaz de protegê-los. Porque o direito que por natureza os homens têm de
defender-se a si mesmos não pode ser abandonado através de pacto algum.” (Hobbes.
1983)

2.6. O soberano e a religião no pensamento de Hobbes

Nesse aspecto Hobbes afirma que grande parte dos dogmas dizia respeito não à entrada
no reino dos céus, mas a disputas pela “soberania humana”, ao “ganho e ao lucro” e à
“glória de espíritos engenhosos”.

Dessa forma, Hobbes reduz as questões de obediência ao desejo de acreditar, não à fé


interna; ao indivíduo bastava fazer apenas uma profissão externa de uma crença em tudo
o que fosse proposto pela Igreja. Isso significa que o cidadão não precisava acreditar
internamente em todos os dogmas da Igreja, mas, se o quisesse, poderia afirmar aceitá-
los publicamente, sem necessariamente neles crer.
Hobbes afirma ainda que “a discussão sobre a propriedade da Igreja é uma discussão
sobre o direito de soberania”.

Sobre a pretensão papal a respeito da infalibilidade, Hobbes afirma que alguém que não
errasse teria “assegurado um domínio pelo sobre o gênero humano nos planos tanto
temporal quanto espiritual”. Portanto, esse dogma era de caráter político. Na mesma
linha, argumentando a respeito do privilégio da Igreja de interpretar as Escrituras,
Hobbes afirma que dele decorreria “autoridade simples e absoluta para por termo a toda
espécie de controvérsia”. E, por conseguinte, quem tivesse esse privilégio teria não só o
poder sobre todos que a reconhecessem como Palavra de Deus, mas também poder para
perdoar, reter pecados e excomungar, para instituir sociedades religiosas, às quais os
monges obedeceriam, mesmo estando num Estado inimigo, o que levaria ao conceito de
um Estado dentro do Estado, poder de julgar sobre a validade de um matrimônio e, por
conseqüência, sobre a “herança e sucessão de todos os bens e direitos”, tanto de
particulares quanto de príncipes e soberanos.

Em relação ao celibato, também era uma forma de controle, pois, por um lado, “os
solteiros são menos compatíveis com a vida civil do que os casados”, e por outro lado,
como o sacerdócio exige o celibato, os príncipes deveriam abrir mão, por causa dele, ou
do sacerdócio, ou do principado hereditário.

Quanto à canonização dos santos também era uma forma de controle, e herdada do
paganismo, pois no império romano costumavam-se considerar deuses os ex-
imperadores, o que depois passou a ser feito em sua própria vida, numa forma de honra
e prestígio político, e a igreja fez o mesmo, porém de forma ainda mais perjura, pois
tomou o nome de Deus em vão, por questões meramente humanas, e assim, o humano
foi divinizado.

No Cap. XII do De Cive, intitulado “Das causas internas que tendem à dissolução dos
governos”, Hobbes argumenta, com base no princípio de que antes de haver o poder
soberano não havia ordens a obedecer e que, portanto, não havia justiça ou injustiça,
que os particulares não podem julgar sobre o que é justo ou injusto, pois ao
reivindicarem o conhecimento do bem e do mal, “desejam igualar-se aos reis, o que não
é compatível com a segurança da república”. (De Cive, Cap. XII, p. 204). Para justificar
seu argumento com base nas Escrituras, cita o texto de I Reis que fala da oração de
Salomão, no qual o jovem rei assim pede a Deus: “... um coração entendido para julgar
o teu povo, para que prudentemente possa discernir ente o bem e o mal”.

2.7. Hobbes: a religião e seus usos na política

No Cap. XII do Leviatã Hobbes afirma que a religião é uma característica natural do
homem, das religiões dos gentios, baseadas no medo, e de seu uso na política de forma
oportunista, como se a vontade das autoridades civis fosse a vontade de Deus, bem
como da religião daqueles que buscam as causas das coisas, chegando à concepção de
uma causa não causada, à qual “os homens dão o nome de Deus”, o que foi reconhecido
mesmo entre os pagãos, afirma o filósofo, mas nestes não havia necessariamente a
adoração do Deus único, a qual, apesar de presente antes de Abraão, como em Abel e
Noé, foi revelada a Abraão e aos seus descendentes, e selada através de um pacto, sob
Moisés, que tanto era um líder político quanto sacerdotal, a respeito do que o filósofo
tratará mais pormenorizadamente no Leviatã (Parte III), mostrando como, com a
instauração da monarquia em Israel, o povo rejeitou o pacto com Deus e fez um pacto
de obediência ao poder civil, comandado por Saul, que tinha um poder absoluto, dato
pelo próprio Deus, donde o filósofo corroborará sua tese da obediência em primeiro
lugar ao poder civil, o que já trabalhara antes em sua obra Do Cidadão.
Sobre natureza religiosa do homem, Hobbes afirma:

“Verificando que só no homem encontramos sinais, ou frutos da religião, não há motivo


para duvidar que a semente da religião se encontra também apenas no homem, e
consiste em alguma qualidade peculiar, ou pelo menos em algum grau eminente dessa
qualidade, que não se encontra nas outras criaturas vivas”.

Ele relaciona o desejo do conhecimento das causas com o reconhecimento de um único


Deus eterno, como podemos verificar nas afirmações seguintes:

“O reconhecimento de um único Deus eterno, infinito e onipotente pode ser derivado do


desejo que os homens sentem de conhecer as causas dos corpos naturais, e suas diversas
virtudes e operações, mais facilmente que do medo do que possa vir a acontecer-lhes
nos tempos vindouros. Aquele que de qualquer efeito que vê ocorrer mergulhe
profundamente na investigação das causas, deverá concluir que necessariamente existe
um primeiro motor. Isto é, uma primeira e eterna causa de todas as coisas, que é o que
os homens significam com o nome Deus.

Para Hobbes, porém, a rigor, Deus, devido à sua natureza, não é um objeto de estudo da
Filosofia. Ele definira isso bem antes, Em Os Elementos da Lei Natural e Política
(1640), ao afirmar:

“Assim como Deus Todo-Poderoso é incompreensível, segue-se que nós não podemos
ter uma concepção ou imagem da Divindade, e conseqüentemente todos os seus
atributos significam a nossa inabilidade e impotência para conceber qualquer coisa
concernente à sua natureza, e não alguma concepção sua, excetuando-se apenas esta,
que existe Deus. Afinal, os efeitos que naturalmente reconhecemos envolvem uma
potência que os produziu antes que eles tivessem sido produzidos; e essa potência
pressupõe alguma coisa existente que a tenha enquanto potência. E a coisa que assim
existe como potência para produzir, se não fosse eterna, deveria ter sido produzida por
alguma outra anterior a ela, e esta novamente por outra anterior a ela, até que
chegássemos a uma eterna, ou seja, à potência primeira de todas as potências, e causa
primeira de todas as causas. E esta é aquela que todos os homens concebem pelo nome
de Deus, envolvendo eternidade, incompreensibilidade e onipotência. E então todos que
o considerarem poderão saber que Deus existe, mas não o que ele é. Mesmo num
homem que tenha nascido cego, embora não seja capaz de ter qualquer imaginação
acerca de que tipo de coisa é o fogo, ainda assim ele não pode deixar de saber que existe
alguma coisa a que os homens dão o nome de fogo, porque ela o esquenta”.

Também na obra Sobre o Corpo Hobbes afirma que Deus é “eterno, não-gerado,
incompreensível”. E na obra Do Cidadão explica que “eterno” significa fora do tempo.
Ora, isso só pode ser entendido como uma forma de demonstrar a veneração de Deus,
pois se tudo o que existe está no tempo, logo não existiria Deus, porém ao chamá-lo de
eterno, certamente o homem está querendo dizer que Ele, apesar de estar no tempo, não
tem uma existência limitada. Porém, explicar a sua natureza não é possível.

2.8. Sobre a obra de Hobbes, “Leviatã”

Em sua obra ― Leviatã, Thomas Hobbes reflete sobre a impossibilidade do retorno dos
homens ao estado de natureza, quando, entre outras coisas, afirma que os homens foram
feitos iguais. Argumenta que sua natureza leva à discórdia (competição, desconfiança e
desejo de glória). Sem um poder comum, os homens estarão sempre nesse estado de
natureza, ou seja, em constante estado de guerra uns contra os outros, havendo, assim, a
necessidade de um poder comum que os ordene, pois não existe um equilíbrio entre
atritos e a estabilidade sempre que não houver a paz, necessariamente se travará a
guerra. Nessa guerra de todos contra todos, nada pode ser injusto. Não existe distinção
entre bem e mal, justiça e injustiça. Onde não há bem comum, não há lei, e onde esta
não existe, certamente não haverá justiça. No estado de guerra, força e fraude são
consideradas virtudes. É de fundamental importância, também, destacar-se que nesse
estado não há definição de propriedade. Conseqüentemente, será de cada um o que seus
próprios esforços conceder adquirir e só clamará direitos sobre isso enquanto puder
mantê-lo. O medo constante leva os homens a entrar em guerra. Por isso, é também em
virtude do desejo de confronto e esperança de uma boa vida através do trabalho, o
homem tende à paz. Assim, surgiram às leis, as normas estabelecidas para chegar-se a
esse fim. Os homens renunciam aos seus direitos em troca de estabilidade e boas
condições de vida e, uma vez feita essa troca, em forma de pacto, encontram-se diante
da impossibilidade de voltar ao estado em que primeiramente se encontravam. Em uma
sociedade, não se disporá a renunciar a todas as suas regalias e voltar a um estado
primitivo de vida repleto de inseguranças.

2.6.1. Concepção do homem:

Sob a visão de Thomas Hobbes, o homem é uma máquina natural submetida a estrito
encadeamento de causas e efeitos, o qual envolve apetites e aversões. Seus desejos têm
objetos distintos, variam de intensidade, e são sujeitos a mudanças (podem perder sua
importância). Nesse contexto, subjetivizam-se os conceitos de bem e mal, afirmando-se
ser o bem o que satisfaz os apetites de glória, dinheiro e poder, e o mal, o que conteria
os apetites e geraria aversões. Faz parte da natureza humana agir deliberadamente, visar
sempre a satisfação de seus desejos, e a ganância. Devido à possibilidade de variação na
intensidade dos seus desejos, uns almeja porções maiores que os outros, o que não
interfere no propósito comum a todos: a busca do poder.

2.6.2. Visão no Estado de Natureza:

Estado de natureza é a condição em que se encontram os homens fora de uma


comunidade política (ou sociedade), em que os homens disputam todas as coisas por
direitos naturais e absolutos. Nesse estado, possuem o chamado direitos de natureza, o
qual consiste na liberdade dos homens de unirem-se a fim de preservar suas vidas e,
conseqüentemente, fazer tudo a quilo que seu julgamento e razão mostram adequar-se a
isso. Em outras palavras, é o direito à sobrevivência. Assim, o homem deve esforçar-se
para que exista a paz e que esta seja mantida, mas, no entanto, não deve renunciar aos
seus direitos em favor dos outros deve garantir a sua própria existência acima de
qualquer princípio. Se o estado de harmonia em que se encontrar for violado, é digno de
recorrer ao livre uso da força se não para aumentar seu poder, para impedir que ele seja
controlado. Uma conseqüência do que foi acima descrito é a dificuldade do homem em
gerar riquezas: ocupam-se primordialmente em atacar os outros ou proteger-se contra
ataques alheios. Na concepção de Thomas Hobbes, estado de natureza é sinônimo de
estado de guerra.

2.6.3. Características do Pacto:

A fim de estabelecerem-se a paz e a segurança Thomas Hobbes diz que os homens


devem, absoluta e simultaneamente, renunciar ao direito de natureza (uso individual e
privado da força) e transferi-lo a alguém externo ao pacto. Destaca-se, porém, que esse
―alguém‖ não poderia ser um ser humano, já que todos desta espécie são vinculados ao
pacto. O meio encontrado para concentrar esse pode central foi o estabelecimento do
Estado político, cujos interesses são defendido pelo soberano. É considerado um ser
artificial, de categoria divina. Ele não age de acordo com sua vontade; sua autoridade
foi consentida pelos membros de seu governo. Portanto, todos os seus atos constituem,
necessariamente, os desejos da coletividade. Como conseqüência, tem-se que contestar
a ele seria o mesmo que se opor a si mesmo.

2.6.4. Bases do poder absoluto:

Por ser externo ao pacto, o soberano possui poder ilimitado e não contrai, portanto,
obrigações. Concentra todas as forças a que renunciaram os homens. Sua função é fazer
valerem as leis da natureza. Mediante isso, podem ser destacar os direitos do soberano:
1: feito um pacto, qualquer fato ou contrato anterior que o contrarie deve ser suprimido;
2: nenhum súdito pode libertar-se da sujeição ao soberano o soberano representará a
vontade geral do início ao fim e renunciar a ele seria uma contradição;
3: se a maioria, por voto de consentimento, escolher um soberano, os que tiverem
discordado devem passar a consentir juntamente com os restantes;
4: nada que o soberano faça pode ser considerado injúria contra qualquer um de seus
súditos;
5: aquele que detém o poder do soberano não pode ser punido por seus súditos.
3. Conclusão

A condição de natureza apresentada por Thomas Hobbes mostra um homem


totalmente regido pelas paixões. No estado natural, os homens apresentam-se numa
condição de igualdade de capacidades, de esperança de atingir seus fins e de direito de
agir do modo que lhe convier para seu próprio bem. Nessas condições de igualdade, os
homens vivem numa constante discórdia, causadas pela ambição do lucro e pelos
desejos de segurança e de glória. Disso decorre que os homens, em tal estado, vivem
numa condição de guerra de todos contra todos, não luta real, mas disposição para tal.

Dentro do estado natural não são aplicáveis as noções de justiça e injustiça, pois
não há critérios que definam o que é e o que não é justo. Também não há propriedade,
só é de alguém aquilo do qual, por sua própria força e astúcia, conseguir se apoderar e
enquanto puder manter sob seu poder. Em tais condições, em que se apresenta uma
liberdade ilimitada dos indivíduos, não há, no entanto, nem paz nem segurança e o
homem deseja sair dessa condição, submetendo-se, para isso, a um poder soberano que
limita suas liberdades e dá regras do que pode ou não fazer. Tal poder é o Estado.

O Estado civil, com poder comum, soberano, dotado de espada e de leis civis,
capaz de obrigar os súditos a cumprirem tais leis, sob pena de punição para aqueles que
as descumprirem, é necessário para que os homens vivam socialmente. Dentro de tal
Estado, o qual foi formado por um ato voluntário dos indivíduos, a partir de uma
necessidade causada pelos desejos de paz e segurança, há um soberano, ao qual foram
transferidas as liberdades dos súditos. Este soberano é dotado de liberdade ilimitada,
ditador das leis, organizador da propriedade e detentor do poder de julgar tudo o que é
ou não justo dentro do Estado, com a finalidade de estabelecer a paz e manter a
segurança dentro da nação. Os súditos devem total obediência ao soberano e têm sua
liberdade restrita, no entanto, é preferível viver no Estado civil do que voltar à condição
natural, em que não há paz nem segurança e paira uma constante desconfiança e medo
da morte violenta.
4. Referências Bibliográficas

HOBBES, Thomas. Leviatã. Ed. Martin Claret, São Paulo, 2006.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes. Acessado em 08 de junho de


2010.

Filosofando, Introdução à Filosofia. Mara Lúcia de Arruda Aranha e Maria


Helena Pires Martins. 2ª edição revista e atualização. Editora Moderna. São
Paulo, 2002.

Os Clássicos da Política – Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau


e “O Federalista”. Organizador Francisco C. Weffort. Editora Ática. 1º volume,
13ª edição, 10ª impressão. Série Fundamentos, 62. São Paulo, 2004.

Monteiro, J. P. – “Estado e Ideologia em Thomas Hobbes”, Revista


Latinoamericana de Filosofia, vol. VI nº1, 1980, e Relações Internacionais, nº 5,
1980 (que em parte é uma primeira versão do presente texto);

 Ribeiro, R. J. - Ao Leitor sem Medo: Hobbes Escrevendo contra o seu Tempo,


Brasiliense, São Paulo, 1984.

Pombo, Olga – “Linguagem e Verdade em Hobbes”, in Filosofia (publicação da


Sociedade Portuguesa de Filosofia) 1, junho de 1985.
Santos, Lionel Ribeiro dos – “Hobbes e as Metáforas do Estado”, in Dinâmica
do Pensar (publicação do Departamento de Filosofia da Universidade de
Lisboa), 1991.

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