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13.mai.2018 às 2h00
Mario Camera
“Eu fui levar as cópias até a galeria de um amigo perto da escola. Mas,
quando saí na rua, um grupo de estudantes me viu, arrancou os cartazes da
minha mão e foi colar nos muros. Naquele momento, vimos que era aquilo
que deveríamos fazer”, conta Fromanger.
A penúria causada pela greve era resolvida com a ajuda dos próprios
trabalhadores: papel e tinta eram confiscados de gráficas ocupadas.
Naquele ambiente anticapitalista, a autoria dos cartazes era vista como uma
aceitação da concepção burguesa da arte. A única forma de romper com isso
era pela produção coletiva. “Obras anônimas são fortes, pois elas dizem: não
somos importantes, o que é importante é nosso gesto de artista”, afirma
Artières.
Sete anos depois, repetiu a dose: “A eleição de Mitterrand nada mais é que o
espírito de 68 colocado em prática”, afirma.
Muitas das bandeiras usadas como motivo na arte de 1968 passaram a ser
adotadas por artistas diversos nas décadas que se seguiram: feminismo,
direitos dos homossexuais, igualdade para trabalhadores
imigrantes, liberdade sexual, crítica ao sistema capitalista e ao imperialismo
americano se tornaram temas recorrentes para artistas de todo o mundo e
testemunham a marca que o período deixou na sociedade.
“Nós mudamos o mundo, mas nunca quisemos o poder. Isso não nos
interessava, porque não mudaria nada. Poderíamos ter tomado o poder. Era
só entrar no Palácio do Eliseu, não havia ninguém lá. Nós preferíamos o
poder em todos os lugares, e não o poder central. Esse era o espírito de 68,
mudar o mundo em todos os cantos”, afirma Fromanger.
Cinquenta anos depois, no início deste mês, uma passeata reuniu milhares de
pessoas em Paris contra políticas econômicas e sociais do governo.
Não houve violência; nas mãos dos manifestantes e nos muros, surgiram
alguns dos cartazes mais emblemáticos produzidos pelo Ateliê Popular em
1968 —no lugar do general De Gaulle, o presidente Emmanuel Macron. Sinal
de que os anos passam, mas a luta continua.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/05/atelie-improvisado-em-paris-criou-
ate-1-milhao-de-cartazes-em-1968.shtml?
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