ENCONTRO DE PESQUISA E INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE POSITIVO

EPIC 2017

ESTUDO DO ASSOREAMENTO DE UM RESERVATÓRIO PARA ABASTECIMENTO DE ÁGUA

DE CURITIBA1
Matheus Galdino da Silva*, William Bonino Rauen**
*
galdinosmatheus@gmail.com, Aluno bolsista, Engenharia Civil, Universidade Positivo
**
wbr@up.edu.br, Professor orientador, Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental, Universidade Positivo
1. INTRODUÇÃO
Reservatórios de água têm papel crucial na
promoção da segurança hídrica e energética de uma
sociedade. Sua principal função é regularizar a
disponibilidade de água para usos antrópicos, face à
variabilidade hidrológica. Como tal, um reservatório
recebe as águas dos rios e da drenagem de parcelas
maginais de solo, além de eventuais fluxos
subterrâneos. A depender dos usos do solo na bacia
hidrográfica, com as águas são aportados sólidos e
diferentes contaminantes. A intensidade de tais
aportes depende das condições hidrológicas, com
destaque para a influência dominante de eventos
extremos de precipitação sobre aspectos como a
morfologia e a qualidade das águas de rios e
reservatórios (CARVALHO, 2008). Em um
reservatório, a principal alteração morfológica
costuma ser o assoreamento, que consiste da
deposição de sedimentos favorecida pelas baixas
velocidades de escoamento e leva à redução gradual
do volume reservado (SCHLEISS et al., 2016).
O reservatório Passaúna é um dos principais
mananciais do sistema de abastecimento de água de
Curitiba. Apenas um estudo anterior (SIQUEIRA,
2014) estimou o grau de assoreamento deste
reservatório, mas sem inferir sobre a distribuição
espacial dos depósitos, ou sobre a variação da
descarga sólida afluente em diferentes escalas e
condições hidrológicas. Neste contexto, este estudo
visou avançar na quantificação do aporte sólido ao
reservatório Passauna e no mapeamento do
assoreamento em seu interior.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente estudo foi desenvolvido em três
etapas. A primeira etapa envolveu coletas de dados e
amostras em campo para posterior análise
laboratorial. Foi amostrada a estação fluviométrica
“Rio Passauna BR-277”, situada a cerca de 1 km a
montante da confluência com o reservatório e para a
qual se dispõe de série consistida de dados
hidrológicos (RAUEN et al., 2017). As coletas de
campo deste projeto envolveram amostras de
sedimentos do leito com draga de Petersen, coletadas
em três pontos espaçados de modo a captar variações
granulométricas longitudinais e transversais no
trecho de rio; em suspensão com amostrador
integrador DH-48 e carga de fundo com amostrador
Helley-Smith (CARVALHO, 2008). A
granulometria do material do leito foi determinada
conforme a NBR 7181. A concentração de sólidos
na água e a massa seca associada à carga de fundo
foram obtidas por parceria em pesquisa (projeto
SeWaMa – Sediment Water Management).
A segunda etapa foi analítica e envolveu a
atualização da curva chave de sedimentos (CCS) de
Siqueira (2014) para a estação fluviométrica em
questão, com base em três métodos de cálculo da
descarga sólida total: (a) pelo método simplificado
de Colby, (b) com carga suspensa medida e carga de
fundo estimada pelo método de Van Rijn, e (c)
apenas carga suspensa medida. Além disto, com base
na CCS e na série de vazões diárias foi estimado o
aporte sólido ao reservatório durante o seu período
de operação (1990-2015).
A terceira etapa do projeto foi de modelagem
computacional e visou mapear o padrão de
assoreamento ao longo do reservatório. Para tanto,
foi utilizado o software HEC-RAS 4.1, um dos
modelos de hidráulica fluvial com transporte de
sedimentos mais utilizados mundialmente. Foi usado
o método de Laursen-Copeland da descarga sólida
total e as funções de Krone e Parthenaides para
cálculo da deposição e erosão de finos (BRUNNER,
2010). Foram simulados três cenários: 1. Evento de
cheia de 05 a 17/06/14; 2. Condição média de longo
período (MLP) pelo mesmo número de dias do
evento de cheia; e 3. Condição MLP por um período
de um mês, com análise de sensibilidade dos
resultados mediante variações de vazão (condições
de estiagem, MLP e de cheia), descarga sólida
(métodos acima) e granulometria do aporte sólido
(determinada no âmbito do projeto SeWaMa x
considerada por Siqueira, 2014).
A geometria do reservatório implementada no
HEC-RAS foi gerada a partir de dados batimétricos
obtidos em fevereiro de 2016 no projeto SeWaMa. O
software AutoCAD Civil foi usado para gerar 55
seções transversais distribuídas ao longo do
reservatório e da região de confluência com o rio
Passaúna, após um teste de malhas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Trabalho desenvolvido no Programa de Iniciação Científica da Universidade Positivo. O projeto foi contemplado
com uma bolsa de iniciação científica concedida pela Universidade Positivo.
 ENCONTRO DE PESQUISA E INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE POSITIVO
EPIC 2017
Entre os resultados das campanhas de campo e
análises de laboratório, destaca-se a primeira
medição da descarga sólida do leito de que se tem
notícia para o rio Passauna, de 0,026 kg.s-1, obtida
em 14/02/2017 sob a vazão de cheia (Q04) de 4,23
m3.s-1. Esta medição possibilitou a calibração do
método de Van Rijn, utilizado na segunda etapa do
estudo. Para outras condições de vazão (MLP e de
estiagem) não foi detectada carga de fundo.
A distribuição granulométrica das três amostras
do material do leito é mostrada na Tabela 1. Nota-se
que o leito é principalmente arenoso no trecho, com
variação apreciável apenas entre as proporções de
areia e pedregulho fora do talvegue do rio (Am. 3).
Tabela 1. Resultados granulométricos do material do leito
Composição Am. 1 Am. 2 Am. 3
Argila e Silte 3,12% 2,28% 3,15%
Areia 57,9% 73,4% 94,6%
Pedregulho 38,9% 24,3% 2,28%
As CCS geradas na segunda etapa do estudo são
mostradas na Figura 1, para as vazões específicas
líquida (q liq) e sólida (q sól). Os métodos “a” e “b”
foram contrastados em função da razão entre cargas
“suspensa/total”, de 55% e 87% respectivamente. O
método “b” foi, então, selecionado para uso na
modelagem computacional e estimativa do aporte
sólido ao reservatório por ser mais representativo de
condições fluviais típicas (CARVALHO, 2008). Já o
método “c” foi tomado como patamar inferior da
descarga sólida e aporte ao reservatório.
Figura 1. Curvas chave de sedimentos
A quantificação do aporte sólido ao reservatório
pelo rio Passauna indicou ordens de grandeza
referentes a diferentes condições hidrológicas e
períodos: 1 ton/dia sob baixas vazões; 1 a 10 ton/dia
sob vazões próximas à MLP; 10 a 100 ton/dia sob
vazões de cheia; 103 a 104 ton/ano; e aporte sólido
total (1990-2015) da ordem de 105 ton.
A modelagem computacional do evento de cheia
reproduziu os dados históricos, que indicam que
uma precipitação de 121 mm em dois dias gerou a
vazão de pico Q01 = 14 m3.s-1. Estimou-se que o
aporte sólido de sete dias deste evento correspondeu
a 140 dias sob a condição MLP. As simulações
computacionais indicaram que o aporte do rio
Passauna em cheia pode atingir o barramento, 11 km
a justante da confluência, como mostra a Figura 3. O
mapeamento do assoreamento indicou que a
retenção de sólidos é mais expressiva na região de
entrada do reservatório, a montante da ponte da
Ferraria, especialmente para a condição MLP. Com
base nos resultados deste estudo, e em consonância
com Siqueira (2014), o restante do reservatório não
parece estar comprometido por assoreamento. A
análise de sensibilidade indicou que a vazão e a
granulometria do aporte têm influência significativa
sobre o padrão de deposição no reservatório.
Figura 3. Padrão de retenção de sólidos ao longo do
reservatório Passauna para as condições de cheia e MLP
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo resultou no primeiro mapeamento do
padrão de assoreamento e na primeira quantificação
do aporte sólido ao reservatório Passaúna. Sugere-
se, para estudos futuros: (i) considerar os eventos de
cheia nas análises sedimentológicas de períodos de
interesse; e (ii) concentrar a análise do assoreamento
na região de entrada do reservatório, região mais
afetada por tal fenômeno.
REFERÊNCIAS
BRUNNER, G. HEC-RAS river analysis system:
user’s manual.U.S.Army Corps of Engineers, 2010.
CARVALHO,N.O. Hidrossedimentologia Prática.
2ª ed., Rio de Janeiro: Interciência, 2008.
RAUEN, W.B.; CASTRO, C.O.; SILVA, M.G.
Caracterização hidrossedimentológica do rio
Passaúna, PR, Brasil, a partir de dados
históricos. XX SBRH, 2017 (submetido).
SCHLEISS, A.; FRANCA, M.; JUEZ, C.; CESARE,
G. Resevoir sedimentation. Journal of Hydraulic
Research. 54:6, p.595-614, 2016.
SIQUEIRA, A. C. Avaliação do assoreamento do
reservatório de abastecimento de água do rio
Passaúna. TCC em Engenharia Civil, UP, 2014.