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Geociências
Jair C. Koppe
Prof. Dr. LPM/DEMIN/UFRGS. E-mail: jkoppe@ufrgs.br
Resumo Abstract
Diversas ocorrências de ouro estão localizadas na Several gold occurrences are located in the
Seqüência Campestre do Complexo Bossoroca no Escu- Campestre Sequence of the Bossoroca Complex in the
do Sul-Rio-Grandense. Nessa região foi realizado um le- Shield Sul-Rio-Grandense. In this region, a
vantamento aerogeofísico, onde mapas gamaespectromé- magnetometric and gamaspectrometric airborne
tricos (K, U, Th e contagem total) geraram informações geophysical survey (K, U, Th and total counting) was
sobre a geologia e possíveis alvos para futuras explora- carried out. Based on anomalous potassium and
ções minerais. Baseado nos métodos de potássio anôma- parameter F this work presents the mapping of
lo e parâmetro F, esse trabalho apresenta o mapeamento hydrothermal zones related to gold mineralization and
de zonas hidrotermais associadas a mineralizações aurí- the identification of new geological units for this
feras e a identificação de novas unidades geológicas para sequence, establishing prospective criteria for regional
essa seqüência, estabelecendo-se critérios prospectivos mineral exploration.
para a exploração mineral regional.
Keywords: aerogammaspectrometric processing data,
Palavras-chave: processamento de dados aerogama- gold mineral exploration, Bossoroca Complex.
espectrométricos, exploração mineral de ouro, Complexo
Bossoroca.
REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 57(1): 39-44, jan. mar. 2004 39
Interpretação das anomalias de potássio hidrotermal e parâmetro F da região do Complexo ...
1. Introdução Bossoroca do Bloco São Gabriel do Es- lização aurífera na Seqüência Campes-
cudo Sul-Rio-Grandense. O Bloco São tre favoreceu a formação de halos de al-
Os métodos gamaespectrométricos Gabriel (Almeida & Hasui, 1984), posi- teração hidrotermal, principalmente de
têm um papel relevante na pesquisa de ciona-se na Província Mantiqueira, que silicificação, carbonatização e cloritiza-
depósitos minerais auríferos associados corresponde ao Sistema Brasiliano Su- ção, que promoveram forte dispersão dos
a alterações hidrotermais. Para Forna- deste, estendendo-se desde o Uruguai até dados químicos e de alterações hidro-
zzari et al. (2001), a gamaespectrome- a Bahia, com idades do Arqueano ao termais e metamórficas, que provocaram
tria, aérea e terrestre, possibilita a iden- Eopaleozóico. modificações das características origi-
tificação de áreas alteradas hidrotermal- nais dos litotipos, afetando os elemen-
mente e exploração de suas relações com Diversas ocorrências auríferas
tos mais móveis como Na, K, Ca, Mg,
processos de mineralização de ouro e identificadas na área estão inseridas na
Fe e Si.
prata, além de metais base (Cu-Pb-Zn), Seqüência Campestre, tendo por encai-
em vários ambientes geológicos. xantes principais metatufos. Os litotipos, Em relação aos dados geocronoló-
constituintes dessa seqüência, podem ser gicos da Seqüência Campestre e Arroio
Os dados utilizados nessa pesquisa agrupados da seguinte forma: rochas Lajeadinho, Remus (1998) obteve valo-
são oriundos do Projeto Camaquã Área vulcanoclásticas, rochas epiclásticas e res que indicam idades, do método U-
I (Jackson et al., 1973), realizado pela rochas químicas. Pb em zircão via SHRIMP, de cristali-
Companhia de Pesquisa de Recursos zação de 756 ± 14 Ma para os metadaci-
Minerais (CPRM) e pelo Departamento A seqüência Arroio Lajeadinho é
tos da Formação Campestre, coincidin-
Nacional de Produção Mineral (DNPM) composta predominantemente por xistos
do com a idade obtida por Machado et
em convênio com a Texas Instruments magnesianos, serpentinitos, metabasal-
al., 1990, e cerca de 700 Ma para o me-
Inc. As características desse aerolevan- tos, metagabros, metacherts, formações
tamorfismo regional dinamotermal, que
tamento estão sumarizadas na Tabela 1. ferríferas bandadas, metatufos e outras
afetou essa seqüência. Dados recentes de
rochas metassedimentares, principal-
Dada a relevância e dado o poten- Sm/Nd para a Seqüência Arroio Lajea-
mente metargilitos. Essa seqüência faz
cial econômico da região, efetivaram-se dinho indicam idades modelo de extra-
contato com a Seqüência Campestre por
o processamento de dados aerogeofísi- ção do manto de cerca de 1,7 Ga, onde
meio de uma falha transcorrente com
cos gamaespectrométricos por meio de evidências geoquímicas e isotópicas co-
movimentação dextral associada a uma
mapas de potássio hidrotermal e potás- incidem na indicação da presença de
zona de cavalgamento.
sio anômalo, visando a elaborar mapas septos do embasamento transamazôni-
que trazem informações a cerca da quan- As características geoquímicas para co na região.
tificação e qualificação do Complexo o Complexo Bossoroca indicam baixos
Bossoroca em possíveis áreas com ha- teores de potássio nas litologias vulca-
los hidrotermais associados à minerali- noclásticas ácidas-intermediárias que 3. Potássio Anômalo
zação aurífera. compõem a Seqüência Campestre e a Considerando-se que o projeto Ca-
Seqüência Arroio Lajeadinho e baixos maquã foi realizado com espaçamento de
A combinação das informações teores nas razões K2O/Na2O. A minera-
aerogeofísicas com informações da ge- linhas de vôo de 1 km, foi estabelecida
ologia regional e local relacionadas di-
retamente com as ocorrências auríferas Tabela 1 - Características do aerolevantamento realizado na região do Escudo Sul-rio-
auxiliou na definição dos principais con- grandense.
troles dos depósitos auríferos, estabele-
cendo-se critérios prospectivos para a Métodos Magnetometria Gamaespectrometria
exploração mineral regional.
Contrato do período 06 a 05/73
Sepé
Unidades Estratigráficas
Sedimentos do Cenozóico
Formação Granito
Rio Bonito São Sepé
6650000
Rochas Sedimentares da Bacia do Paraná
Formação Granito
Au Formação Rio Bonito
Rio Bonito Rincão dos Coqueiros
Gabro Complexo
Au
Mata Grande Pedras Pretas Rochas Vulcanossedimentares da Bacia do Camaquã
dinho
Formação Hilário
52
61
Au CampestreAu 65
43
50
ê
BR-290 41
8
Au Granito São Sepé
Au
Granito 45
rl Cerro da Cria
Granito Cerro da Cria
25
rl rl 42 Granito Ramada
rl
40
48
rl
rl Formação Granitos Tardi-Pós Tectônicos
Granito Acampamento Velho
Ramada 57 Granito Rincão dos Coqueiros
rl
Formação
6625000 11 Hilário Supracrustais
Seqüência
Arroio Lajeadinho Complexo
Bossoroca
LEGENDA 225000
Seqüência Campestre
250000
Contatos 26
Foliação com Complexo Cambaí
mergulho medido Mapa Geológico da Região do Complexo Bossoroca
Contatos aproximados
diques 5 0
Escala
5 10 15 20km Complexo Estratiforme Máfico-ultramáfico
Contatos transicionais Ocorrência aurífera Gabro Mata Grande e Complexo Pedras Pretas
Falha ou fratura Cidade Formação Passo Feio
Falha ou Rodovia Federal
zona de cisalhamento
Falhas sinitrais Curso de água
transcorrentes contínuo
14 Camadas com
mergulho medido
Figura 1- Mapa geológico da região do Complexo Bossoroca, modificado da Carta de Cachoeira do Sul (Porcher, 2000).
REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 57(1): 39-44, jan. mar. 2004 41
Interpretação das anomalias de potássio hidrotermal e parâmetro F da região do Complexo ...
uma relação não linear (Figura 2). A dis- 1000
persão nos dados representa a variabili-
dade litológica na região do Complexo
Bossoroca (Tabela 2), sendo difícil a se-
paração entre zonas onde o potássio está
relacionado a fenômenos litológicos das 800
Potassio (cp2s)
enstone belts de Pilar de Goiás e Guari-
nos, respectivamente.
A equação que melhor se ajustou
aos dados regionais da Figura 2 é: 400
5. Parâmetro F
Ostrovskiy (1973) estudou o anta- 0
gonismo radioativo em paredes de ro-
0 40 80 120 160 200
chas alteradas por processos metassomá-
Torio (cp2s)
ticos. Esse autor salienta que, devido ao
alto poder de migração do potássio em Figura 2 - Relação potássio x tório para os dados da região do Complexo Bossoroca.
relação ao tório e ao urânio, é possível
acúmulo de potássio em zonas hidroter- Tabela 2 - Principais unidades litoestratigráficas da região do Complexo Bossoroca e
mais. Ao contrário do tório e do urânio, seus principais domínios.
o potássio está sempre na fase líquida
Unidades Litoestratigráficas Domínios Litoestratigráficos
da solução hidrotermal.
Prichystal e Gnojeck (1985), em Cobertura Sedimentar Bacia do Paraná 11 e 12
estudos na mineralização de zinco, na
República Tcheca, utilizaram o parâme- Coberturas Sedimentares e
tro F na identificação de encaixantes hi- Vulcanossedimentares Bacia do 10
drotermalmente alteradas por anomali- Camaquã
as potássicas. Efimov (apud Prichystal
Granito São Sepé 8
& Gnojeck, 1985) também quantificou
o parâmetro F, mostrando que valores Granito Cerro da Cria 6
acima de 1,2 ou 1,3 ppm são comuns em
rochas não alteradas, ao passo que, em Granito Ramada 7
rochas alteradas, ele pode ser 2 ou, ain-
Rincão dos Coqueiros 9
da, 5 ppm, excepcionalmente 10 ppm.
Um mapa com parâmetro F foi gerado Complexo Cambaí 3
para região do Complexo Bossoroca
(Figura 4), salientando regiões com pro- Seqüência Arroio Lajeadinho 2
váveis locais com potássio hidrotermal. Seqüência Campestre 1a, 1b e 1c
A equação para o parâmetro F é expres-
sa na relação: Complexo Pedras Pretas 4
42 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 57(1): 39-44, jan. mar. 2004
Márcio de Souza Soares et al.
onde eTh e eU correspondem aos isóto-
pos mais energéticos emitidos pelos seus
isótopos filhos tálio (208Tl) e bismuto
(214Bi), respectivamente (Dickson &
Scott, 1997).
Corpos magnéticos são original-
mente mais profundos na porção leste.
6. Interpretação dos
resultados
O potássio anômalo foi estimado
para toda área de estudo e foi compara-
do ao mapa de domínios a fim de se res-
saltarem e se correlacionarem as anoma-
lias com as unidades geológicas (Figura
3). Nota-se que todos os domínios que
representam as rochas graníticas (8, 6 e
7) apresentam valores baixos e que as
ocorrências auríferas, exceto a ocorrên-
cia encontrada na região do Granito São
Sepé, encontram-se nos valores elevados
de potássio anômalo. Algumas regiões
dos domínios 10 e 12, correspondentes à
Figura 3 - Potássio anômalo para os dados da região do Complexo Bossoroca. Os
bacia do Camaquã e Paraná, respectiva-
contornos indicam as unidades litoestratigráficas (ver Tabela 2). mente, também, possuem valores baixos,
bem como a região central do domínio
1a, pertencentes à Seqüência Campestre.
O parâmetro F é utilizado para de-
tectar regiões anômalas de potássio pelo
antagonismo entre o tório e o potássio,
o qual é típico de processos de alteração
acompanhado por enriquecimento se-
cundário de potássio. Os valores baixos
representam as anomalias de tório, en-
quanto que altos valores, anomalias de
potássio (Figura 4).
Estudos geoquímicos feitos por
Koppe (1990) indicam que as razões
K2O/Na2O têm valores menores do que
um, para os metatufos grossos, grafito-
sos, lapilíticos e finos da Seqüência
Campestre, onde a ocorrência aurífera
estaria associada a baixos valores de
potássio. Verifica-se a presença dessa
ocorrência tendendo à proximidade de
valores baixos e também de valores al-
tos, no domínio 1c, assim como a ocor-
rência Passo da Juliana, ao norte desse
domínio. Regiões com valores baixos
próximos de valores altos, portanto, nas
Figura 4 - Mapa do parâmetro F para os dados da região do Complexo Bossoroca. Os quebras de relevo, podem servir de guia
contornos indicam as unidades litoestratigráficas (ver Tabela 2). prospectivo para o domínio 1.
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Interpretação das anomalias de potássio hidrotermal e parâmetro F da região do Complexo ...
7. Conclusões e Esse problema poderá ser resolvi- Camaquã, Estado do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: Texas Instruments, DNPM/
do num futuro aerolevantamento dimi-
recomendações nuindo o espaçamento entre as linhas de
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KOPPE, J. C. Metalogênese do ouro da Mina da
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MACHADO, N., KOPPE, J. C., HARTMANN,
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44 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 57(1): 39-44, jan. mar. 2004