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Síntese do capítulo 2 – A Evolução da Psicologia

O passado e o futuro sempre estão no presente, como base construtiva e como


projeto, logo, por trás de qualquer produção material ou espiritual, existe história. No caso
da Psicologia, há duas vertentes importantes: uma retoma à história grega, em um período
anterior à era cristã, e a outra retoma ao desenvolvimento da modernidade, a qual é
responsável pelo surgimento da psicologia como ciência.
Por serem os mais evoluídos da época, os gregos construíram as primeiras cidades-
estados e dessa forma, conquistaram novos territórios, adquirindo escravos e riqueza
(tributos). Assim, os cidadãos, em especial Sócrates, Platão e Aristóteles, se dedicaram a
estudar o ser humano e a sua alma. Sócrates foi o primeiro a introduzir as ideias acerca do
mundo psicológico na sociedade, e se dedicou a descobrir a diferença entre o ser humano e
os demais animais, e definiu a razão sendo a peculiaridade humana, pois permite que o
homem lute contra seus instintos. A descoberta de Sócrates instigou Platão, seu discípulo, a
descobrir o lugar da razão no nosso corpo, que ele definiu ser a cabeça, onde ele também
falava que se encontrava a alma humana. Dessa forma, a alma era considerada separada
do corpo, e após a morte, era livre para ocupar outro corpo.
Outro discípulo de Platão, Aristóteles, foi um dos mais importantes filósofos gregos,
pois postulava que a alma e o corpo não podem ser dissociados, e assim se dedicou a
estudar sobre a razão, a percepção e as sensações. Para ele, a "psyché" era o princípio da
vida, logo, tudo que tem vida (cresce, se reproduz e alimenta) possui uma, o que incluiu os
vegetais e animais no grupo de seres que possuem alma. Dessa forma, os vegetais teriam a
alma vegetativa, caracterizada pela função de alimentação e reprodução, enquanto os
animais, além da vegetativa, teriam a alma sensitiva também, pois têm a função de
percepção e movimento. Já o ser humano, além das duas já citadas, teria a alma racional,
proveniente da sua capacidade de pensamento.
Apesar de a psicologia surgir efetivamente no século XIX, os gregos se preocupavam
com a alma e a razão, de forma que o próprio termo psicologia vem do grego “psyché” que
significa alma e “logos” que representa a razão. Os filósofos gregos contribuíram com duas
teorias, sendo elas a platônica, que considerava a alma imortal e separada do corpo; e a
aristotélica, a qual afirmava que a alma era mortal e, portanto, pertencia ao corpo.
Com o surgimento do Império Romano e a ascensão do cristianismo, as discussões
acerca do mundo psicológico estão diretamente influenciadas pela religião, uma vez que a
igreja Católica monopolizava o saber. Dessa forma, dois filósofos desse período contribuem
para a evolução da psicologia, sendo eles Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. O
primeiro se inspirava em Platão e assim afirmava que a alma, além da sede da razão, era a
prova da manifestação divina no homem, logo, era imortal pois ligava o ser humano a Deus.
São Tomás de Aquino, devido ao período em que vivia - ruptura da Igreja Católica, o
aparecimento do protestantismo, revolução francesa e a revolução industrial na Inglaterra -
foi influenciado a questionar os conhecimentos produzidos pela igreja e assim encontrar
novas justificativas para a relação entre Deus e o homem. Devido a isso, e em sua
inspiração em Aristóteles, acreditava que o ser humano buscava, em sua essência, a
perfeição por meio da existência. Porém, de forma a introduzir a religião, afirmava que
somente Deus poderia igualar a essência e sua existência, de maneira que a busca pela
perfeição seria na verdade uma busca por Deus.
Durante o Renascimento, o mercantilismo provocou o surgimento de uma nova forma
de organização econômica e social, levando ao avanço da ciência, principalmente devido a
descoberta do heliocentrismo por Copérnico, refutando a ideia de que a Terra seria o centro
do universo, e da queda dos corpos por Galileu. Outro avanço foi a postulação de René
Descartes, a qual se referia a separação entre mente e corpo, afirmando que o corpo é
apenas uma máquina e consequentemente, possibilitando o estudo do corpo humano morto,
o que contribui para o avanço da anatomia, fisiologia e da própria psicologia.
Tais mudanças proporcionaram o início da sistematização do conhecimento científico
e assim se estabelece novas ideias dominantes para a construção da ciência moderna,
como o conhecimento sendo o fruto da razão e a possibilidade de desvendar as leis da
natureza por meio da observação. A partir disso, os problemas e temas psicológicos que
eram estudados pelos filósofos, começaram a ser investigados pela neurofisiologia, o que
mostrou um avanço significativo nessa área, formulando teorias acerca do sistema nervoso
central, demonstrando que o pensamento, as percepções e os sentimentos eram produtos
desse sistema.
Com a revolução industrial e a invenção da máquina, o universo passou a ser visto
como uma máquina também, o que possibilitava conhecer seu funcionamento e suas leis.
Assim, para conhecer mais sobre o psiquismo humano é necessário entender seus
mecanismos e como funciona a máquina de pensar do ser humano, o seu cérebro. Sendo
assim, o estudo dos fenômenos psicológicos como ciência passa a ser conhecido como a
Psicofísica, e influencia novas descobertas, como o fato de que a doença mental é resultado
da ação direta ou indireta de diversos fatores sobre as células cerebrais, a existência do
reflexo, a percepção das cores e a fisiologia do olho. Tendo em vista o desenvolvimento da
psicologia, duas contribuições foram de extrema importância, a primeira é a lei de Fechner-
Weber, a qual estabelece a relação entre estímulo e sensação, permitindo a sua
mensuração; e a segunda, é a criação do primeiro laboratório para realizar experimentos
psicológicos na Universidade de Leipzing, na Alemanha, por Wilhelm Wundt, o que o deixou
conhecido como pai da Psicologia moderna. Com a criação do laboratório, ele desenvolveu
a concepção do paralelismo psicofísico, segundo a qual os fenômenos mentais
correspondem aos fenômenos orgânicos e assim, para explorar a mente do indivíduo,
Wundt cria o método introspeccionismo, no qual o experimentador pergunta ao sujeito os
caminhos percorridos no seu interior por uma estimulação sensorial.
Com a mudança imposta pelo capitalismo, o ser humano passou a ser visto como
indivíduos livres, sendo capazes de escolher a trajetória da sua vida, de construir sua
própria identidade e de viver, pensar e sentir sua experiência como uma subjetividade
individualizada, o que é bastante diferente de como a igreja conduzia o pensamento na
idade média. Apesar de a individualidade em forma de pensamento ser uma evolução para
a sociedade, a promessa e a crença da liberdade logo produziram conflitos, uma vez que
cada um queria garantir a sua verdade, o que levou a subjetividade a entrar em crise. Assim,
surge a psicologia, como uma ciência para estudar e produzir visibilidade para a experiência
subjetiva, visto que é um fruto da junção da filosofia e da fisiologia, e foi nos Estados Unidos
que cresceu rapidamente, surgindo assim as primeiras abordagens da psicologia:
Funcionalismo, Estruturalismo e Associacionismo.
O funcionalismo é considerado como a primeira fundamentação americana dos
conhecimentos em psicologia, no qual W. James usou o pragmatismo para eleger a
consciência como o centro das preocupações e sua abordagem busca compreender o
funcionamento da mesma enquanto o homem a usa para adaptar-se ao meio. O
Estruturalismo também se preocupa com a compreensão da consciência, entretanto,
Titchener a estuda em seus aspectos naturais, ou seja, estuda os estados elementares da
consciência no sistema nervoso central a partir do introspeccionismo. O associacionismo foi
criado por Edward Thorndike, e se pautava na aprendizagem de uma ideia por meio da
associação de ideias, desde as mais simples às mais complexas. Seus estudos foram a
base para a Lei do Efeito que influenciou a Psicologia Comportamentalista, uma vez que
defendia que todo comportamento de um organismo vivo tende a se repetir se este for
recompensado.
Diante disso, os pioneiros da psicologia buscaram utilizar os critérios científicos e
formular teorias., e a partir de seus estudos, um novo método foi desenvolvido, no qual há a
separação da subjetividade e da objetividade, provocando uma dicotomia na psicologia. No
século XX, surgiu o materialismo histórico e dialético, unindo novamente a subjetividade e a
objetividade em um mesmo processo, o qual é caracterizado pelos pressupostos
materialistas, pela concepção dialética e histórica, desenvolvendo a subjetividade como um
movimento constante do ser humano em sua relação com o mundo material e social.
Analisando a evolução da psicologia, percebemos que ela se desenvolveu com
ideias inovadoras, de forma que suas teorias foram criadas com base em diferentes
pensamentos, podendo seguir um ou outro. Entretanto, todos eles se unificaram como forma
de dar visibilidade a uma experiência subjetiva, sendo ela o objeto das diversas teorias da
psicologia.

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