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BRASÍLIA/VARGINHA
JUNHO/2010
1. Introdução
§5º tem a seguinte redação: “A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos
praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário,
Pouco mais de vinte anos depois, ao examinar uma controvérsia entre um ex-
Lewandowski, é a única da Suprema Corte até o momento sobre tema. (BRASIL, 2008)
Não obstante, o precedente tem sido observado de modo bastante estrito pelas
consolidada e definitiva sobre o tema. Assim, por exemplo, o Tribunal Regional Federal
não obstante o ajuizamento da ação respectiva tenha se dado mais de vinte anos depois
do seu vencimento.
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Para isso, propomo-nos a um exame casuístico dos demais casos de
discutida.
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Relendo o texto doutrinário invocado pelo Ministro Relator em seu voto no
mandado de segurança, vemos que o próprio José Afonso da Silva expressa sua
com Justiça
dois ou mais processos, um dos quais é padronizado para servir como quadro de
uma instituição social (ELIAS, 1998. p. 17), que ata os laços sociais e oferece aos
indivíduos as marcas necessárias para sua identidade e autonomia (OST, 2005. p. 13),
sucessivamente (SPENGLER, 2008. p. 12). Para que alcance este sentido instituinte e
configure todas essas funções ele se liga necessariamente ao Direito, elemento que vai
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estabilizar o passado e ser o guia de comportamento do futuro (LUHMAN, Niklas Apud
François Ost (2005. p. 17) nos afirma que o Direito pode “ligar e desligar o
tempo passado” por meio da memória e do perdão, respectivamente. Sem dúvida, neste
par o elemento primordial é a memória, pois a partir de seus critérios será definido o
terreno que lhe garante identidade e estabilidade (OST, 2005. p. 40), garantindo-se a
seja, a negação, a recusa do tempo pelo direito. “a primeira forma de recusa do tempo
perfeição absoluta.
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No entanto, tudo ter na memória é, ao mesmo tempo, insuportável e
memória:
Esta triagem dar-se-á por meio do ato de desligar parte do passado, o que se
consuma no perdão:
ultrapassá-lo, trazê-lo à tona, liberar a capacidade de agir daquele que errou, até então
encerrada num ato único, do qual não poderia se libertar sem este gesto, instituído
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Reconhecê-la no direito não é um gesto gracioso, mas sim o reconhecimento
de que, quanto maior o tempo entre os fatos e o momento do julgamento, mais corroídos
estarão as provas, mais perto de se extinguir o escândalo social causado pela infração,
“como se o passado se cristalizasse progressivamente num bloco cada vez mais duro e
181).
que o fato desperta, o direito se alinha na situação fática contrária que se consolidou no
2008. p. 35).
apenas a prática de ilícito, por agente público ou não, que cause prejuízo ao erário,
patrimônio estatal causada por qualquer cidadão que teve relação com o Estado
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a teor da previsão expressa de prescrição para estas, a teor do artigo 146, III, “b” da
Estado e particulares. Virtualmente, poderão estar no pólo passivo dessas ações o total
dos cidadãos brasileiros, não importando quão remota é sua relação com o Estado.
Submetidos a escrutínio perpétuo, poderão ser trazidos a Juízo a qualquer tempo de sua
indefinidamente a toda a incomensurável massa documental originada por este sem fim
de relações que mantém com os cidadãos, de modo a permitir que estes últimos tenham
momento futuro.
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À medida que 05 de outubro de 1988 vai ficando distante, o número de
não deve ser tabu no Direito, sob pena de transformá-lo em mero conjunto de dogmas e
cânones, senão metafísica e teologia (POSNER, 2009. p. 7): Por que? Em que será
ajudado o próprio erário público com esta interpretação (que está longe de ser a única
5. Conclusão
inegável que o mesmo é ambíguo, mal redigido mesmo. E ainda que, nesta
ambigüidade, permite deveras a interpretação literal e estrita que lhe foi dada pelo
prejuízo ao erário seja feita em Juízo pela própria advocacia pública da pessoa jurídica
escrutínio, em qualquer tempo futuro, qualquer cidadão que tenha mantido qualquer tipo
Tamanha facilidade e escopo aberto aos poderes executivos de cada ente federado
(União, Estados e Municípios) não permite nenhuma ilusão sobre as suas conseqüências
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para o jogo político de construção e destruição de reputações sob o manto da defesa do
patrimônio público.
Estado de acionar os cidadãos em qualquer tempo futuro, o mínimo que se pode esperar
Outrossim, este arquivo também deverá estar à disposição do Ministério Público, para
que este possa cumprir em qualquer momento futuro sua obrigação de fiscalizar a
Administração.
de qualquer de suas milhões de transações diárias, com todos os custos daí evidentes.
uma decisão isolada e extremamente sintética (não mais que três páginas de
condição que nossa Constituição somente reserva a dois outros ilícitos, consumados em
atentados aos magnos princípios da igualdade (crime de racismo) e da paz social (ação
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estatal - a ser mitigada apenas pela construção de uma gigantesca estrutura
fruição de quem detém o poder estatal, sem nenhuma evidência empírica que isto eleve
a moralidade pública.
Supremo Tribunal Federal da interpretação que deu ao artigo 37, §5º da Constituição, de
modo que ele seja compreendido apenas como a demanda de uma lei que lhe fosse
bem como seus respectivos prazos prescricionais (missão cumprida pela Lei 8.429/92).
Constituição, podendo tal ensejo ser buscado desde a promulgação da Carta, com o
prazo prescricional larguíssimo (mas definido) previsto no artigo 177 do Código Civil
então vigente: - 20 anos para as ações pessoais, contados do ilícito (hoje 10 anos –
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Constituicao/Constituiçao.htm>.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>.
26210. Tânia Costa Tribe versus Tribunal de Contas da União. Relator: Ricardo
<http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=553769>.
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liquidez da CDA - Ressarcimento ao erário: Prescrição inocorrente - Citação da
pessoa jurídica no seu endereço por pessoa que não a represente: Possibilidade -
200901000682085>.
6. ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1998.
9. POSNER, Richard A. Para além do direito. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2009.
10. ROCHA, Leonel Severo. Tempo. In: BARRETO, Vicente de Paulo (coord.).
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