Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
08/10/2001
DA CONSULTA
O Diretor Clínico do Hospital Antônio Prudente solicita deste
Conselho parecer quanto à legalidade de entrega do prontuário
médico a representante legal de paciente falecido, haja vista que a
Resolução CFM nº 1605/2000 não é esclarecedora neste sentido.
Solicitado o pronunciamento desta Assessoria Jurídica, passamos
a comentar:
Em processo consulta nº 001283/2000 recente, discorremos
sobre o tema que ora se nos apresenta, passando a adotá-lo em parte
:
DO PARECER
O segredo profissional tem bases em razões jurídicas, morais e
sociais. O sigilo é a regra, admitindo-se em casos especialíssimos a
sua quebra, na existência de um interesse realmente justificável.
O Código de Ética Médica define com clareza as hipóteses em
que se pode revelar segredo médico, e em seu art. 102, preconiza, "in
verbis":
Art. 102. É vedado ao médico revelar fato de que tenha
conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo
por justa causa, dever legal, ou autorização expressa do
paciente.
§ único- Permanece essa proibição:
a.Mesmo que o fato seja de conhecimento público ou que o
paciente tenha falecido.
Observa-se, à luz do texto ora transcrito, que o segredo médico
poderá ser revelado quando se apresentar uma das três alternativas
contidas no art. 102 do CEM.
O Consulente se direciona na condição de médico, com o firme
propósito de ser depositário fiel do segredo dos pacientes e
cumpridor das normas ético-legais vigentes.
A liberação de Prontuários Médicos, ou mesmo cópia destes, só
poderá ocorrer dentro das alternativas constantes no Código de Ética
Médica e art. 154 do Código Penal Brasileiro, que preconiza, "in
verbis":
"Art. 154 – Revelar alguém, sem justa causa, segredo de que
tem ciência em razão de função, ministério, oficio ou
profissão, e cuja revelação possa produzir dano a
outrem."( GRIFO).
A presente consulta traz a expressão "representante legal" de
paciente falecido, o que, na acepção jurídica, seria aquele que
representa alguém de conformidade com a lei.
Nossa lei substantiva Civil, embora não defina o sinônimo da
expressão, nomeia e define o representante legal em diversas
situações, tais como mandatário, procurador, curador, tutor,
inventariante, testamenteiro, etc.
No entanto, o que nos causa estranheza na consulta é a
"denominação de representante legal de falecido", hipótese esta que
a Lei Civil não prevê. Quando muito seria representante legal do
espólio deixado pelo de "cujus".
Diante disto, pergunto-me: A intimidade e a vida privada do
paciente, ou seja, as patologias e informações contidas em
prontuários, seriam transmitidas hereditariamente? A meu ver, a
resposta seria não, haja vista que se trata de direitos indisponíveis.
Analisando ainda o Art. 102, § único, "a", do CEM, o mesmo é
taxativo, não abrindo quaisquer outras exceções no tocante à quebra
do sigilo. Mesmo após a morte do paciente, o sigilo deverá ser
mantido.
No entanto, a norma supracitada nos leva a algumas reflexões,
dentre estas a possibilidade de entes familiares do paciente
requererem a cópia do prontuário para averiguação de suposto
cometimento de erro médico ou outras razões que se apresentem.
Diante de tal situação, normalmente a solicitação apresentada
ao hospital e/ou médico não seria esclarecedora no que diz respeito
aos verdadeiros interesses de cópias do prontuário.
Desta feita, surge o conflito, o hospital na condição de guardião
do prontuário médico, na dúvida sobre o verdadeiro interesse dos
solicitantes imbuídos de um propósito talvez honesto e justo ou não.
Nesta condição, a melhor saída para o hospital seria que
entregasse as cópias do prontuário apenas por força de decisão
judicial, resguardando-se de possível complicação por revelação do
segredo médico.
Isto, na verdade, traduz inovação nas hipóteses de quebra do
sigilo médico, como bem destaca nossa jurisprudência:
Ementa
MEDIDA CAUTELAR - Exibição de documentos - Ação principal
não ajuizada no prazo de trinta dias para o ajuizamento -
Caducidade - Inocorrência - Não incidência do artigo 808 do
Código de Processo Civil - Recurso provido.Não incide a regra
do artigo 808 do Código de Processo Civil em cautelares de
exibição de documentos.
Tipo da Ação: Apelação Cível n. 265.071-1 -
CampinasApelante: Maria de Fátima Resende Migliorini
Apelado: Hospital Santa Teresa.
Acórdão:
Ementa Oficial:
Exibição de Documentos - À medida cautelar de exibição de
documentos não cabe a caducidade pelo não ajuizamento da
ação principal em trinta dias - Provimento do recurso.
Voto:
Cuida-se de medida cautelar de exibição de documento,
aforada com a finalidade de obter junto à instituição
hospitalar o prontuário médico referente a paciente, esposo
da autora, que foi vítima fatal de choque anafilático, quando
se submetia a exame mielográfico.
É o relatório.
É o Parecer, s. m. j.
Fortaleza- Ce, 27 de agosto de 2001.