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Resumo
O Brasil, embora desponte como o terceiro país em número de empreendedores e tenha
parte significativa de sua economia alicerçada nos pequenos negócios, carece de políticas
públicas sólidas e programas que favoreçam o empreendedorismo. Ainda que
reconheçam a vulnerabilidade do setor, os agentes públicos pouco têm feito para melhorar
o ambiente dos negócios. As discussões não têm se traduzido em ações efetivas para
equacionar os obstáculos, de forma a estimular os investimentos. Em 2018, por conta da
eleição presidencial e do consenso de que o país precisa voltar a crescer, depois de um
período de crise e estagnação econômica, o papel do empreendedorismo esteve outra vez
no centro dos debates, permeando os programas de governo. Partindo da ideia de que o
fomento à atividade empreendedora passa pela definição e implantação de políticas
públicas, este artigo procurou analisar se as propostas dos candidatos estão coerentes com
os anseios manifestados pelos empreendedores na mais recente pesquisa GEM sobre
empreendedorismo no Brasil.
Palavras-chave
Empreendedorismo; políticas públicas; eleições 2018; programas de governo
Summary
Brazil, although it is the third country in terms of number of entrepreneurs and has a
significant part of its economy based on small businesses, lacks solid public policies and
programs that favor entrepreneurship. While recognizing the vulnerability of the industry,
public agents have done little to improve the business environment. The discussions have
not translated into effective actions to address the obstacles, in order to stimulate
investments. In 2018, due to the presidential election and the consensus that the country
needs to grow again, after a period of crisis and economic stagnation, the role of
entrepreneurship was again at the center of the debates, permeating government
programs. Based on the idea that the promotion of entrepreneurial activity involves the
definition and implementation of public policies, this article sought to analyze if the
candidates' proposals are consistent with the wishes expressed by the entrepreneurs in the
most recent GEM survey on entrepreneurship in Brazil.
Key words
Entrepreneurship; public policy; elections 2018; government programs
1. Introdução
Pela importância que exerce na economia, funcionando como um catalisador do
desenvolvimento econômico e da redução das desigualdades sociais, o
empreendedorismo passou a ser tema central nas discussões econômicas e merecido cada
vez mais a atenção dos políticos nas propostas e debates eleitorais.
Para se ter uma ideia da importância das iniciativas empreendedoras nos dias
atuais basta citar que as micro, pequenas e médias empresas representam atualmente
“mais de 98% do total de empresas, mais de 60% do emprego formal e aproximadamente
50% do Produto Interno Bruto nas economias desenvolvidas” (GOMES et al., 2013, p. 9-
10). A presença de menos empresas de pequeno e médio porte, por sua vez, é uma
característica de países menos desenvolvidos. Nestes, as MPMEs respondem por apenas
10% do PIB e 30% da força de trabalho. No Brasil, que pode ser classificada como uma
nação a meio caminho do estágio de desenvolvimento, estas já respondem por 27% do
PIB e 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado, e os números tendem a
crescer, visto que 80% dos novos empregos, nos últimos dois anos, foram gerados por
empresas dessa natureza.
Apesar do viés empreendedor e do crescente número de empresas de pequeno e
médio porte, o Brasil é um país que ainda tenta se encontrar em termos de políticas
públicas voltadas para o ambiente dos negócios. Reclama-se, entre outros fatores, da
elevada carga tributária, do excesso de burocracia, da falta de financiamento público e de
programas educativos e de capacitação para o empreendedorismo. Ou seja, embora a
temática venha recebendo uma atenção maior no campo das discussões, isso não tem se
traduzido em ações práticas de estímulo e fomento à atividade empreendedora, gerando
apreensão e insegurança aos que se arriscam em busca de novas oportunidades de geração
de renda.
Em 2018, após um período de crise e instabilidade econômica, o Brasil passou por
uma nova eleição presidencial. E a estagnação da economia associada ao crescente índice
de desemprego estiveram no centro dos debates. Os candidatos viram-se impelidos a
apresentar propostas para equacionar a crise e, fatalmente, os programas de governo
contemplaram pontos considerados como vitais ao desenvolvimento dos negócios.
Partindo do princípio de que a melhoria das condições para fomentar a atividade
empreendedora é um desafio a ser enfrentado pelos governantes, este artigo propôs-se a
analisar e discutir as propostas dos programas de governo direta ou indiretamente voltadas
ao empreendedorismo e verificar se elas estão de acordo com o anseio dos empresários e
especialistas no setor. Como parâmetro, recorreu-se à pesquisa GEM (2017), onde foram
explicitados os principais gargalos ao empreendedorismo no Brasil. Antes, porém,
procurou-se discutir a relevância e importância do que se entende como políticas públicas
nesse cenário.
Candidatos Propostas
1
Foram considerados os candidatos que marcaram pelo menos 4 (quatro) pontos percentuais na pesquisa
de intenção de voto do Ibope de três de outubro (última sondagem do instituto de pesquisa antes do primeiro
turno da eleição).
Jair Bolsonaro O candidato defende a criação de um ambiente favorável ao
(PSL) empreendedorismo, valorizando talentos nacionais e atraindo
outros do exterior para gerar novas tecnologias, emprego e
renda. Defende que o jovem saia da faculdade pensando em
abrir uma empresa e cita como exemplo países em que o
empreendedorismo foi vital para o crescimento econômico,
como Japão e Coreia do Sul. Especificamente, propõe:
- Criação de um ambiente favorável ao empreendedorismo no
Brasil, implementando o estudo do empreendedorismo nas
universidades, em todos os cursos, de modo que o jovem saia
da faculdade pensando em como transformar o conhecimento
obtido em produtos, negócios, riqueza e oportunidades e que
deixe de ter uma visão passiva sobre seu futuro.
Propõe:
- Inserir o empreendedorismo no aprendizado escolar desde o
ensino fundamental, apoiando a formação de empreendedores
pelo setor de ensino;
- Revisar peças legislativas que influenciam a inovação, como a
Lei de Informática e a Lei do Bem - que concede incentivos
fiscais às empresas que investem em pesquisa e
desenvolvimento de inovações tecnológicas;
- Instituir um Sistema Brasileiro de Inovação para modernizar o
processo de registro de patentes;
- Adoção de programas de apoio às startups no Brasil, visando
principalmente a melhora da administração pública.
Considerações finais
Até a entrada do século XXI um país onde iniciativas empreendedoras davam-se,
principalmente, de forma impulsiva diante da falta de empregos ou de melhores
perspectivas financeiras, o Brasil vem aos poucos firmando-se como uma nação convicta
de que o empreendedorismo pode, de fato, traduzir-se em uma fonte estável de geração
de renda, promovendo a ascensão econômica e social daqueles que ousam empreender.
Num período de 20 anos, o percentual de brasileiros que se lançam ao desafio
empreendedor por ver nessa iniciativa uma real oportunidade passou de 40 para 60%. Até
então, a maioria dos que se arriscavam nesse caminho o fazia por necessidade, muitas
vezes por desespero, sem qualquer conhecimento, preparo ou capacitação para lidar com
o empreendimento e, portanto, com chances menores de fazer disso uma escolha exitosa.
O Brasil, claro, ainda é um país de grandes incertezas, por conta, principalmente,
da instabilidade econômica. Empreender aqui continua sendo um desafio e mesmo os
empresários mais convictos de suas ideias e iniciativas vivem num estágio que se pode
dizer de vulnerabilidade. Todavia, é inegável o amadurecimento havido no campo
empreendedor, sobretudo a capacidade dos novos empreendedores para se adaptar e
driblar as adversidades, o que, em muito, deve-se a uma preocupação cada vez maior com
o preparo e qualificação para as atividades que exercem.
O mesmo não se pode dizer, porém, das medidas governamentais até então levadas
a efeito no sentido de favorecer e fomentar o empreendedorismo. Parte das poucas ações
desencadeadas deu-se no campo da experimentação, “de forma ainda a tentar descobrir o
que é mais adequado para a realidade brasileira”, como observam Gomes et al. (2013, p.
11). Entretanto, diante dos resultados que vem proporcionando em termos de
empregabilidade e geração de renda, é imperativo que o Brasil se veja forçoso a olhar
com maior atenção para o empreendedorismo, com políticas e programas mais efetivos e
consistentes, que não apenas deem mais segurança a quem já está estabelecido, mas
sirvam de estímulo ao surgimento de novos empreendedores.
É prematuro ainda afirmar que o Brasil vai adentrar à terceira década do novo
século convencido de que o desenvolvimento econômico passa por medidas que
efetivamente proporcionem um ambiente mais salutar e convidativo ao
empreendedorismo. Mas, a julgar pela última eleição presidencial, considerando os
programas de governo dos candidatos que disputaram o pleito, verifica-se a existência de
propostas, embora pouco detalhadas, que contemplam os principais gargalos a serem
superados para um cenário mais favorável aos negócios e que estão de acordo com os
anseios dos empreendedores, seja em termos de políticas regulatórias ou de programas de
incentivo e de promoção de uma cultura empreendedora.
Muito parecidos em suas prioridades, os programas abordam a necessidade de
reforma fiscal e tributária, redução da burocracia, simplificação e redução de impostos,
flexibilização das políticas de trabalho, disponibilização de recursos para investimento
com juros baixos, aumento de incentivos para a inovação, priorização à educação
empreendedora, melhoria da capacitação profissional, fomento à construção de
comunidades de startups e aglomerados produtivos locais.
Como se vê, portanto, os programas são bem intencionados. Resta saber se, de
fato, traduzir-se-ão em ações que melhorem o ambiente dos negócios, fazendo do Brasil
uma verdadeira pátria empreendedora.
Referências
WU, Xun et al. Guia de políticas públicas: gerenciando processos / Xun Wu, M.
Ramesh, Michael Howlett, Scott Fritzen; traduzido por Ricardo Avelar de Souza. –
Brasília: Enap, 2014.