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TEORIA SOCIOLÓGICA CONTEMPORANEA: autores e perspectivas.

Book · January 2017

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CARLOS EDUARDO SELL E
CARLOS BENEDITO MARTINS.
TEORIA SOCIOLÓGICA
CONTEMPORÂNEA
(ANNABLUME, 2017)
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setembro 8, 2017 por blogdosociofilo
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Por
Carlos Eduardo Sell (UFSC)
Carlos Benedito Martins (UNB)
Clique aqui para pdf
Introdução
O Que é Teoria Sociológica Contemporânea?
De volta aos manuais[1]! Consciente de seu valor e tendo em vista a
lacuna de materiais produzidos no Brasil[2], a Sociedade Brasileira de
Sociologia (SBS) patrocina a elaboração do livro Teoria sociológica
contemporânea: autores e perspectivas. O livro reúne textos inéditos
de pesquisadores de diferentes gerações que têm se consagrado de
forma especializada ao aprofundamento e estudos de autores e
correntes do pensamento sociológico. Tal empreendimento revela o
quanto a pesquisa sobre a teoria sociológica per se constitui
atualmente uma sólida área de investigação da sociologia brasileira;
como mostra, por sinal, o longo histórico dos Grupos de Trabalho de
Teoria Sociológica da SBS e de Teoria Social da ANPOCS
(Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
Sociais). É importante ressaltar esta novidade: trata-se da primeira
publicação brasileira que, de forma coletiva, visa apresentar, de modo
amplo e sistemático, o conjunto das teorias sociológicas atuais,
fornecendo a estudantes de graduação e pós-graduação de ciências
humanas, e ao público em geral, uma visão atualizada, crítica e
abrangente das discussões sobre a natureza da ciência sociológica e de
suas principais perspectivas e abordagens teóricas contemporâneas[3].
Em função deste objetivo, levanta-se logo o problema de determinar o
que devemos entender (para os fins desta coletânea) pelo objeto em
questão: afinal, do que trata a teoria sociológica contemporânea?
Desdobrando os termos e levando em consideração o caráter
multiparadigmático da sociologia, vale perguntar: 1) o que significa
“teoria”, 2) o que entendemos pelo adjetivo “sociológica” e, por fim,
3) como determinar o que é “contemporâneo”?
O lugar da teoria na atividade sociológica, como em qualquer ciência,
é objeto de inúmeros debates no campo da epistemologia. Mas,
independente da concepção professada, está correto Jeffrey Alexander
(1987) quando chama a atenção para o fato de que entre a “teoria” de
um lado e a “empiria” de outro temos diferentes níveis de abstração
que começam no terreno das observações  factuais até chegar ao plano
mais vasto das pressuposições gerais, onde ele localiza, de fato, a
chamada “teoria sociológica” (em sentido estrito)[4]:


    
Consequentemente, que a teoria (em seus diferentes modelos, graus de
abrangência e complexidade) é um elemento intrínseco da atividade
sociológica e, nesta medida, concerne a qualquer profissional desta
ciência (mesmo aquele que não é especialista na teoria em si mesma e
tem vocação eminentemente empírica), não é o que está em questão
aqui (SWEDBERG, 2014a; 2014b). É claro que toda investigação
sociológica é, a seu modo, além de empírica, intrinsecamente teórica.
Portanto, não é neste sentido que utilizamos aqui a expressão teoria
sociológica, mas no sentido dado a ela por Alexander, quer dizer,
enquanto conjunto de pressupostos gerais sobre a vida social e sobre a
sociedade que não são resultado direto ou necessário da indução a
partir do empírico (generalização).
Tendo respondido – em linhas gerais – o que entendemos por “teoria”,
vejamos o que significa o segundo termo da questão, ou seja, o que é
uma teoria sociológica. Embora, neste aspecto, a influente proposta de
Giddens (2003: XVII) tenha deitado profundas raízes no léxico
contemporâneo, não seguimos aqui a distinção que ele propõe entre
“teoria social” e “teoria da modernidade”. Nos termos do autor, a
teoria social seria uma atividade interdisciplinar que trata
primordialmente das relações entre agência e estrutura, definindo-se a
sociologia a partir do tema mais específico da modernidade. Ou, para
dizê-lo em termos simples e diretos: para Giddens, teoria sociológica
= teoria da modernidade. Nossa definição engloba as duas dimensões,
portanto, ao nos referirmos à teoria sociológica apontamos para
aquelas concepções gerais (produzidas no interior ou incorporadas à
disciplina de sociologia) que dizem respeito a natureza das ações,
relações, processos e estruturas sociais em sentido amplo e da
sociedade moderna em particular. Na acepção aqui adotada a teoria é
um âmbito próprio da sociologia que se ocupa tanto do social (em
sentido abstrato ou amplo) quanto da sociedade moderna (em sentido
concreto ou restrito) e nessa medida ela compreende tanto a “teoria do
social” [Sozialtheorie] quanto a “teoria da
sociedade” [Gesellschaftstheorie]. A teoria da sociedade moderna, por
sua vez, distingue-se da diagnose social ou dos “diagnósticos de
época” [Sozialdiagnose] que possuem um acento primordialmente
crítico ou normativo. Neste caso podemos falar também da “crítica da
sociedade” [Gesellschaftskritik].
É a partir desta concepção que as correntes e autores apresentados
neste livro foram selecionados, pois trata-se de nos remetermos
àquelas:
(1) teorizações abrangentes que nos fornecem um retrato das
propriedades gerais da atividade humano-social e;
(2) uma definição ou diagnose crítica da vida social em suas condições
atuais.
Para dizê-lo novamente: a teoria sociológica é o ramo da sociologia
que se ocupa tanto da teoria do social (em nível abstrato) quanto da
teoria da sociedade moderna (em sentido concreto). Em função desse
entendimento ficaram de fora problemáticas particulares e
determinadas da sociologia (como classe social, gênero, poder, arte,
direito, raça, Estado, ciência, etc.) que, se não deixam de ser
fundamentais em si mesmas, e mesmo que intimamente relacionadas
com o eixo de muitas das teorias sociológicas atuais, quando tomadas
isoladamente nos arrastariam para um sem número de campos
aplicados ou específicos da investigação sociológica, como a
sociologia política, a sociologia da religião, a sociologia do direito, a
sociologia da ciência, a estratificação social, gênero, etc.
Quanto ao período contemporâneo que, diferente do “clássico”, não se
organiza em torno de um cânon de autores consensualmente
estabelecido (Marx, Durkheim, Simmel, Weber), adotamos como
critério geral (ainda que não de forma rígida) um corte temporal que
contemplas às grandes teorias [grand theories] que marcaram o
discurso sociológico especialmente no contexto do Pós-Segunda
Guerra Mundial até a atualidade. Embora não tenhamos a pretensão da
exaustividade, procuramos oferecer um panorama tão amplo e plural
quanto possível (e também levando em consideração as dificuldades
operacionais que tal empreitada comporta em termos de expertise),
incluindo na discussão aquelas que nos pareceram as correntes mais
influentes e ainda atuais das últimas décadas. Isso não significa que
todas as linhas de pensamento estejam presentes (se é que isso é
possível).
O leitor poderá sentir falta, por exemplo, do funcionalismo (na versão
de Robert Merton) ou mesmo  de certas correntes do marxismo (ainda
que a Escola de Frankfurt e as novas teorias críticas estejam bem
representadas), mas nosso entendimento foi que estes já são temas
bem trabalhados (pelos menos em seus pressupostos básicos) nos
textos de teoria social clássica. Há ainda quem possa lamentar a
ausência da sociobiologia, da sociologia histórica, da sociologia
estrutural (Peter Blau), dos estudos culturais (Raymond Williams,
Stuart Hall), do behaviorismo social (de George Homans), da teoria
das redes (Harrison White), da sociologia cultural (Alexander), do
estruturalismo (Lévi-Strauss), da teoria da complexidade (Edgar
Morin), do neo-institucionalismo e de tantas outras vertentes ou
autores do pensamento social contemporâneo. Sem deixar de
reconhecer a inevitável seletividade de um empreendimento complexo
como este, buscamos, de todo modo, fugir tanto da tendência
documental quanto vanguardista. Evita-se tanto o mero registro
histórico-descritivo, por um lado, quanto a fixação em modismos que
proclamando solenemente suas viradas (turns) parecem esquecer as
correntes de longe alcance que informam a discussão teórica em
sociologia, por outro.
O estudo da teoria sociológica comporta diferentes estratégias
analíticas que podemos classificar, grosso modo, da seguinte
maneira[5]:
• A primeira estratégia, mais complexa, é de cunho histórico-
sociológico e busca reconstruir as condições intelectuais e sociais
que presidem à elaboração das teorias sociológicas[6].
Parte-se do pressuposto de que os discursos teóricos produzidos pelos
sociólogos são, também eles, produtos sociais e o que se faz, neste
caso, é uma sociologia da sociologia ou uma sociologia dos
sociólogos (PIRIOU, 1999)[7].
• A segunda, de tipo sistemático, intenta, em direção diferente,
elaborar um corpo cumulativo e integrado de temas, problemas
ou questões, que são constitutivos da matéria ou conteúdo da
teoria sociológica (ou da sociologia geral, para retomar uma
terminologia mais antiga[8]).
O que se pratica, neste segundo caso, é a chamada meta-teoria (a
reflexão teórica sobre a teoria (RITZER, 1991)). Por este ângulo são
critérios analíticos estruturados a priori que informam a análise. Nesta
segunda estratégia os caminhos novamente se bifurcam, pois a
elaboração de uma teoria sistemática também pode seguir a via
histórica (organizando tais temas a partir da sequência cronológica de
autores, correntes ou escolas que estabelecem certas tradições de
pensamento em cujo núcleo reside um conjunto de problemas inter-
relacionados) ou a via sistemática (lógico-conceitual), neste caso
privilegiando questões e problemas estruturantes e fundamentais do
discurso sociológico[9].
Como esta coletânea não se pretende um estudo crítico que visa
discutir, no âmbito da pesquisa avançada, issues da teoria
sociológica[10], mas também não uma mera descrição ou elenco
histórico-descritivo, optamos pela segunda estratégia, o que nos levou
a organizar os capítulos em torno de quatro problemáticas chaves do
âmbito teórico em sociologia. Elas podem ser sintetizadas nos
seguintes termos:
• epistemologia (que contempla o debate entre realismo x anti-
realismo)[11];
• metodologia (que contempla o debate micro x macro)[12];
• modernidade (que diz respeito as características da sociedade
moderna);
• normatividade (que se situa no nível do dever-ser)[13].
 
Os primeiros dois tópicos dizem respeito a chamada “teoria do social”
[Sozialtheorie], o terceiro nos remete à “teoria da
sociedade” [Gesellschaftstheorie] e a quarta problemática aos
“diagnóstico críticos sobre nossa época” [Sozialdiagnose]. Estes
quatro eixos organizam a coletânea, ainda que, por razões didáticas, o
tópico da metodologia, dedicado a apresentação das abordagens
holistas (macro), individualistas (micro) e sintéticas (macro e micro),
e dada a sua centralidade na teoria sociológica, tenha sido desdobrado
em três partes. Isto não implica, contudo, que cada uma destas
problemáticas não volte a ser eventualmente discutida no interior das
outras seções e capítulos do livro, a depender do pensador, teoria ou
assunto em pauta. A organização na forma de partes não deve induzir a
uma leitura estanque do livro, menosprezando-se a imbricação destas
quatro questões nos diferentes capítulos que compõe a coletânea. Nas
linhas seguintes vamos detalhar melhor cada uma destas
problemáticas.
Para acessar o sumário, clique aqui.
Notas
[1] Um levantamento abrangente está fora do escopo desta introdução,

mas alguns exemplos merecem ser destacados. No caso da literatura


em inglês, por exemplo, Jonathan Turner (2010; 2013 e 2014) e
Jeffrey Alexander (1982a; 1982b; 1983a e 1983b) são autores bastante
prolíficos. Charles Lemert (1993), Charles Lemert e Anthony Elliott
(2014), Craig Calhoun et al. (2008), George Ritter (2008) e John Scott
(1995) também oferecem um panorama bastante elucidativo. No
cenário francês temos livros bem elaborados como os de Berthelot
(2000), Béraud e Coulmont (2008), Jacquemain e Frére (2008) e
Bronner e Keucheyan (2012). Em língua alemã foram publicados
recentemente, entre outros, o Handbuch soziologische Theorien
[Manual de teorias sociológicas) de Kneer e Schroer (2009), a trilogia
(por autores) organizada por Dirk Käsler (2005) e o estudo sistemático
de Wolfgang Schluchter (2015).
[2]Dentre as exceções, destaca-se o escrito de Domingues (2003). Os

demais e poucos materiais existente são, em geral, traduções, tais


como em Lallement (2008), Corcouff (2001), Giddens   e Turner
(1999) e Kumar (1997). 
[3] Um interessante precursor deste modelo é a coleção Grandes

Cientistas Sociais (coordenada por Florestan Fernandes) que em seus


60 volumes apresentou uma antologia de alguns dos principais
pensadores do conjunto das ciências humanas (incluindo clássicos e
contemporâneos) com excelente introduções explicativas.
[4] Mouzelis (1995: 01), de forma mais simples, adota a distinção entre

teoria como recurso (meio) ou como fim, ou nas suas próprias


palavras: “(i)teoria como um conjunto de enunciados substantivos
interrelacionados que tenta nos dizer algo novo, algo que não
conhecemos sobre o mundo social, quais enunciados podem ser
condicionalmente provados ou refutados através da investigação
empírica; e (ii) teoria como um conjunto de ferramentas que
simplesmente facilitam, ou preparam o terreno, para a construção de
teoria substantivas”.
[5] Seguindo-se a célebre distinção proposta por Robert Merton (1970)

entre história e sistemática.


[6] O influente estudo de Fritz Ringer (2000) sobre os “mandarins

alemães” e de Wolf Lepenies (As três culturas de 1996), ambos


tratando da sociologia clássica, são modelares neste sentido.
[7] Peter (2015) distingue entre três modalidades de análise da teoria

sociológica: a “cognitiva” (que pode ser histórica ou paradigmática), a


“discursiva” (que analisa as propriedades do discurso e seus efeitos) e
a social que, por sua vez, pode estar centrada nos atores sociais ou nas
instituições sociais.
[8] O termo “sociologia sistemática” era de uso bastante generalizado
no pós-guerra, mas veio ser tornar pouco usual. Dentre alguns
exemplos podemos lembrar de Georg Simmel (2006) que já
diferenciava entre sociologia geral (histórica), sociologia formal (ou
pura) e sociologia filosófica. Karl Mannheim (1971: 38) propõe a
distinção entre sociologia geral e sistemática, de um lado e a
sociologia histórica, de outro (esta última dividida entre sociologia
histórica e sociologia comparada). Por fim, Florestan Fernandes
(1970: 57-73) diferencia entre a sociologia sistemática (ou formal), a
sociologia descritiva, a sociologia histórica e a sociologia comparada.
[9] A perspectiva era bastante comum nos primórdios da sociologia

acadêmica no Brasil (vide-se FERNANDES (1970) ou mesmo


MANNHEIM, 1971). No campo internacional não custa lembrar dos
célebres textos de Pitirim Sorokin (1969) e de Talcott Parsons (1969).
[10] Um balanço crítico da produção brasileira em teoria sociológica é

realizado por Costa (2010).


[11] O que não dizer, é claro, que a chamada “filosofia das ciências

sociais” (ou mesmo a filosofia da sociologia) restringe-se a este ponto.


Para uma panorama global veja-se Rosenberg (1995).
[12] Nos termos de Joas e Knöbl (2004), além do tema da

“ação” (micro) e da “ordem” (macro), não podemos esquecer ainda do


tema da “mudança”. Para um retrato desse último tema veja-se Jäger
(2003).
[13] Uma explicitação mais ampla do âmbito e natureza desses

problemas pode ser encontrada em Vandenbergue (2009) e em Knöbl e


Joas (2004). A posição realista encontra-se representada em Searle
(1997) e o construtivismo em Iacking (2001). O estado da arte do
debate micro-macro (ou holismo versus individualismo) está bem
retratado em Zahle e Collin (2014). Um acervo dos diferentes
diagnósticos do tempo presente pode ser encontrado em Kron (2010) e
Dimbath (2016). Para o tema da normatividade em teoria social, o que
inclui a chamada “filosofia social”, confira-se Jaeggi (2009).

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