Maria de Lourdes Silva Marques Ferreira1

Giselle Dupas2

The impact of a breast
cancer diagnosis on the | Repercussão do diagnóstico do
patient’s family câncer de mama no contexto familiar

ABSTRACT| Introduction: RESUMO| Introdução: O Câncer de mama é um importante problema de

Breast cancer is a public health problem saúde pública em todo o mundo. Objetivo: Compreender a repercussão do
around the world. Objective: To assess
the impact of a breast cancer diagnosis in diagnóstico do câncer de mama no contexto familiar. Métodos: Estudo qualitativo,
the patient’s family. Methods: This is desenvolvido com cinco famílias de pacientes atendidas no Hospital das Clínicas
a qualitative study involving five families em Botucatu/SP. A coleta de dados foi por meio de entrevista, seguida da análise de
of patients treated at a University
Hospital in Botucatu/SP. Data were conteúdo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição. Resultados:
collected by means of interviews followed Foram entrevistados 17 familiares, incluindo as mulheres. O diagnóstico de
by content analysis. Seventeen family câncer de mama representa para a família uma ocorrência de forma inesperada
members were interviewed. The project
com dificuldades na aceitação, e desperta sentimentos de impotência, ansiedade
was approved by the institution’s Ethics
Committee. Results: Families find e inconformismo. Negar ou aceitar e viver o estigma como doença fatal e com
it difficult to come to terms with the sofrimento. Conclusão: A repercussão do diagnóstico do câncer de mama gera
diagnosis, since it evokes feelings of sofrimento e angústias e requer uma reorganização na estrutura familiar.
helplessness, anxiety and non-acceptance.
Family members may be in denial or may Palavras-chave| Neoplasias da mama; Família; Diagnóstico; Pesquisa qualitativa;
accept it, or may experience the stigma
of a fatal disease and the suffering.
Oncologia.
Conclusion: Breast cancer diagnosis
causes suffering and distress and requires
reorganization of the family structure.
Keywords| Breast Cancer; Family;
Diagnosis; Qualitative research; Faculdade de Medicina de Botucatu, Botucatu/SP, Brasil. 
1

Oncology. Universidade de São Carlos, São Carlos/SP, Brasil.

2

84| Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 18(4): 84-92, out-dez, 2016
Repercussão do diagnóstico do câncer de mama no contexto familiar | Ferreira e Dupas
INTRODUÇÃO|
O câncer de mama se configura como um problema de
saúde pública em todo o mundo. É o tipo que possui maior
incidência e mortalidade na população feminina em todo
o mundo, tanto nos países em desenvolvimento quanto
naqueles desenvolvidos. Foram esperados, para o ano de
2012, aproximadamente 1,67 milhão de casos novos dessa
neoplasia em todo o mundo. Para o Brasil, em 2016, a
estimativa é de 57.960 casos novos de câncer de mama1.
Até o ano de 2030, estima-se que haverá 22,2 milhões de
casos novos de câncer, e em 12,7 milhões estará relacionado
à morte em todo o mundo2.
No Brasil, as taxas de mortalidade por câncer de mama
continuam elevadas, muito provavelmente porque a doença
ainda é diagnosticada em estádios avançados3.
A confirmação do diagnóstico de câncer de mama
tem impacto capaz de mudar de forma considerável
o relacionamento entre os membros da família. Pelo
estresse associado, a maioria dos pacientes demonstra
uma resiliência física e psicológica notável. Alguns dos
fatores importantes na adaptação ao tratamento do câncer
incluem: acesso à informação, percepção de um certo grau
de controle sobre o tratamento e capacidade de expressar
emoções enquanto se sente apoiado por outras pessoas4.
Sabe-se que uma das principais consequências em receber
o diagnóstico de câncer é o sentimento de incerteza
relacionado aos problemas e às mudanças que as famílias
vão vivenciar5.
O objetivo deste estudo foi compreender a repercussão do
diagnóstico do câncer de mama no contexto familiar.
MÉTODOS|
Trata-se de um estudo descritivo de análise qualitativa
e utilizou-se do referencial teórico do Interacionismo
Simbólico (IS), que concebe o ser humano como ativo, pois
interage no contexto social e atribui significados por meio
da interação da pessoa com o outro e consigo própria6.
O IS pauta-se em compreender como os seres humanos
agem em relação às coisas com base em sua significação.
Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 18(4): 84-92, out-dez, 2016 |85
“Coisas” são consideradas tudo o que podem observar em
seu mundo, como os objetos físicos, outros seres humanos
e atividades, bem como a situação da vida cotidiana6.
Foi realizado estudo em profundidade com cinco famílias
de pacientes, atendidas na Faculdade de Medicina de
Botucatu, no ambulatório de Mastologia do Hospital das
Clínicas. A divulgação do local da pesquisa foi autorizada.
O município situa-se no Sudoeste do Estado de São Paulo,
a 230 km da capital, Brasil.
A concepção de família adotada compreende um grupo
social, cujos membros mantêm um sistema de relações
significativas entre si7. Nesta concepção, os laços efetivos
e afetivos são mais valorizados do que a condição de
consanguinidade. Portanto, foram considerados familiares
àqueles referidos pela mulher, indicando vínculo biológico,
afetivo ou de conjugalidade, independentemente de existir
vínculo jurídico.
As participantes obedeceram aos seguintes critérios de
inclusão: diagnóstico de câncer de mama, estar ou ter
realizado algum tipo de tratamento, tempo decorrido entre
o diagnóstico e a realização do estudo de até dois anos. Esse
período foi determinado por acreditar que as descrições
reveladas pelas famílias seriam mais fiéis à vivência do
diagnóstico. Não houve uma predeterminação de núcleo
familiar básico para participação no estudo. O tempo
decorrido entre o diagnóstico e a realização do estudo foi
de: 16 meses; 24 meses; 20 meses; 18 meses; 22 meses.
O contato com as mulheres foi efetivado por meio telefônico
de uma lista de agendamento de consulta do ambulatório, e a
mulher, ao receber o convite, comunicava à família sua decisão.
Para participação na pesquisa, foi agendada uma entrevista
com a mulher e sua família no local e horário que facilitasse a
presença de todos. Quatro famílias optaram por realização da
entrevista no domicílio e no período noturno. Somente uma
família preferiu a realização no ambulatório, em um dia de
retorno da mulher. Nesta ocasião, o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido era lido e assinado por todos, e para os
filhos e netos menores, além do termo assinado pelos pais e
avós, assinaram ainda o termo de assentimento.
Para o desenvolvimento do projeto de pesquisa respeitou-
se a resolução nº 466/2012, que trata de pesquisas e testes
em seres humanos. Assim, o estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa na data de 07/04/2014 sob o
número de parecer 607.254.
Repercussão do diagnóstico do câncer de mama no contexto familiar | Ferreira e Dupas

Ainda, em relação às questões éticas para assegurar o
anonimato dos participantes, a identificação foi realizada
pela enumeração conforme a ordem de realização das
entrevistas, e com a letra F de família, e as iniciais - MM
para mulher, M - marido, FM - filho, FF - filha e N - neto,
membros da família que participaram do estudo.
A coleta de dados foi realizada no período de junho a
outubro de 2015, e os instrumentos foram:
Ficha de caraterização (componentes da família, idade dos
membros familiares, tempo decorrido entre o diagnóstico
e a realização do estudo, escolaridade e tratamento
realizados ou em andamento); Entrevista semiestruturada
e Questionário Critério Brasil8,9: escala que divide a
população em sete classes sociais: A – 45-100 pontos, B1-
38-44 pontos, B2 – 29-37 pontos, C1 – 23-28 pontos, C2
– 17-22 pontos, C2 – 17 a 22 pontos D e E – 0-16 pontos.
Essa avaliação é por meio do poder aquisitivo familiar,
baseando-se na quantidade de posse de bens de consumo
duráveis, grau de instrução do chefe da família e em alguns
outros fatores, como a presença de empregada doméstica.
Assim, a classificação “A” é atribuída às pessoas com maior
poder aquisitivo pela maior pontuação, e “E” às pessoas
com menor poder aquisitivo (menor pontuação).
determinado de acordo com o conteúdo e consistência dos
dados oriundos dos depoimentos10.
As entrevistas tiveram uma duração entre 40 e 80 minutos,
com a participação de todos os membros familiares, foram
gravadas, transcritas na íntegra e sistematizadas, segundo o
método da Análise de Conteúdo na modalidade Temática,
proposta por Bardin11.
Esse método constitui-se em um conjunto de técnicas
utilizadas para o entendimento dos significados implícitos
nas mensagens. A análise preconiza que a transcrição das
entrevistas seja feita na íntegra, lida com detalhamento
e profundidade, para apreender como a família vive essa
experiência. Essa fase é denominada pré-análise. As leituras
posteriores têm a finalidade de explorar o material, que
passa pelo processo de desmembramento e reagrupamento,
denominado sistematização dos dados. Na sequência, os
dados, que já foram inicialmente separados por temas,
recebem uma releitura, cujo processo de reflexão e análise
dos resultados produz a interpretação das descrições11.
RESULTADOS|

À luz de tais conhecimentos, as famílias (pessoas que
residiam com a mulher na ocasião da pesquisa) foram
instigadas a discorrer sobre suas experiências, por uma
questão norteadora: Como foi para vocês a (nome da
mulher) ter tido câncer de mama?; Participaram do estudo
cinco famílias, totalizando 17 membros familiares, incluindo
a mulher, número que indicou a saturação teórica, que é
Foram entrevistadas 17 pessoas das cinco famílias
participantes do estudo, com duração da entrevista entre
40 a 90 minutos. Entre as mulheres acometidas por câncer,
a faixa etária ficou entre 38 e 50 anos. O tempo decorrido
entre o diagnóstico e a realização do estudo variou de 16 a
24 meses, e o tempo máximo, de dois anos, foi estabelecido
como critério de inclusão (Tabela 1).

Tabela 1 - Características das famílias participantes do estudo, Botucatu/SP, 2016

Tempo entre
Participantes Duração da Participantes/ Estratificação
Família diagnóstico e
por família entrevista idade Socioeconômica/consumo
realização do estudo
MM(39),M42),
F1 16 meses 04 40 min Classe D- 13 pontos
FM(21), FF(05)
MM(39), M
F2 24 meses 03 60 min Classe C1- 25 pontos
(45),FF(07)
MM(38), M(30),
F3 20 meses 04 90 min Classe E- 07 pontos
FM (10), FM(06)

MM(40),M(43),
F4 18 meses 03 80 min Classe B2- 29 pontos
FM(14)
MM(50), M(62),
F5 22 meses 03 45 min Classe B2- 30 pontos
N (08)
*F 1 a 5: família, MM: mulher, M: marido, FM: filho, FF: filha, N: neto, Min: minutos.

86| Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 18(4): 84-92, out-dez, 2016
Repercussão do diagnóstico do câncer de mama no contexto familiar | Ferreira e Dupas
Segundo o Critério de Classificação Econômica – Brasil,
as famílias foram classificadas em: F1 – D (13 Pontos), F2
–C1 (25 pontos), F3 – E (07 pontos), F4 e F5 – B2 (29 e 30
pontos) (Tabela 1).
Assim, duas famílias estão na estratificação mais baixa,
segundo o poder econômico, que são os últimos cortes
do critério Brasil, D e E. As demais famílias obtiveram a
classificação mediana, estando uma na C1 e duas na B2.
Todas as famílias possuem um padrão socioeconômico
baixo. Associado ao poder econômico está o grau de
instrução do chefe da família, dois deles tinham ensino
fundamental I incompleto, um fundamental II incompleto,
e dois com ensino médio incompleto. Quanto às mulheres,
todas possuíam escolaridade entre ensino fundamental II
incompleto ao médio incompleto. Todas as crianças das
famílias estudavam em escolas municipais.
Assim os participantes deste estudo possuem baixa
escolaridade, o que reflete no poder econômico e também
no conhecimento em saúde.
Diante do fenômeno da repercussão do diagnóstico do
câncer de mama no contexto familiar, iniciou-se a análise dos
dados, por meio da leitura exaustiva das transcrições. Como
sustentação da análise, utilizou-se o referencial teórico
do IS para interpretação das descrições. Isso possibilitou
conhecer a repercussão do diagnóstico de câncer de mama
no contexto familiar por meio das categorias: Receber o
diagnóstico de câncer de mama em família, enfrentar o
diagnóstico e viver o estigma do câncer como doença fatal.
O diagnóstico de câncer de mama repercute na família em
todos os momentos do processo de adoecimento, sendo
relembrado e permeado por dificuldades. Inicia-se com o
momento em que é divulgado. Os demais momentos estão
associados ao início do tratamento, quer seja cirúrgico, ou
não, bem como às complicações terapêuticas.
Diante da possibilidade de estarem com diagnóstico de
câncer de mama, as mulheres demonstraram-se ansiosas
para a confirmação do resultado. Os relatos abaixo
evidenciam essa ansiedade em saber o resultado do exame:
Eu me lembro de quando fui pegar os exames, que a moça,
eu cheguei lá e não estava ainda no envelope e a hora que ela
foi envelopar eu vi BIRADS 6 e aí eu fiquei mal, mal [...]
(F2,MM).
Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 18(4): 84-92, out-dez, 2016 |87
Eu não conseguia pensar... não dava conta de fazer nada,
minhas mãos tremiam [...] (F3,MM).
Pode-se apreender que, de forma geral, as pessoas não
esperam ser, tampouco que algum familiar seja acometido
por uma doença grave como o câncer de mama. Assim,
vivenciam a revelação do diagnóstico de forma inesperada.
Fiquei chocado, angustiado, foi do nada, para mim ela não
tinha nada [...] (F1,M).
Você trombou com ele [o câncer], foi ver uma coisa, que doía,
dava pontada [...] foi atrás de uma coisa e encontrou outra
(F2,M).
Eu fiquei chocada quando recebi o diagnóstico de câncer, eu
não esperava [...] (F1,MM).
No dia do diagnóstico, fiquei transtornada, angustiada, não
sabia nem o que pensar, não esperava (F2,M).
Foi desesperador saber que minha mãe estava com câncer,
porque uma coisa dessa ninguém espera, principalmente sendo
uma pessoa que a gente ama (F4,FM).
O período do diagnóstico foi descrito pelos familiares
como uma fase muito difícil por defrontar-se com o
estigma da doença. Passam assim a enfrentar aflições diante
da confirmação do diagnóstico de câncer de mama:
Eu não me conformava de minha mulher ter câncer, uma
doença tão grave (F5,M).
Quando ela [a mulher] recebeu o diagnóstico, foi o momento
mais difícil da família, eu não vi o caminho para vir para
casa, fiquei sem chão (F4,M).
O desespero é grande, é difícil porque ter um diagnóstico de
câncer é um... terremoto, a própria palavra detona, explode
no organismo. A gente logo pensa na morte, sofrimento, é
desesperador [...] (F4,M).
Eu fiquei muito nervosa, abalada, queria fingir que não
estava acontecendo nada, que não era realidade [...] (F1,FF).
A gente se pega para pensar, já tem que sair... se distrair, não
pode pensar no câncer, porque senão o sistema nervoso ataca
[...] (F5,M).
Repercussão do diagnóstico do câncer de mama no contexto familiar | Ferreira e Dupas
Com o diagnóstico, você passa a conviver com o fantasma do
câncer [...] (F2,M).
A preocupação se era maligno ou não, e graças a Deus não
era... a gente tem a nossa luta, e não sei até hoje se era maligno
ou não [...] (F5,M);
É uma doença muito dura de enfrentar [...] (F5,MM).
Também foi desvelada a necessidade de um apoio familiar
no recebimento do diagnóstico:
Foi dado apoio para minha esposa, mas sentimos a
necessidade de ajuda para a família toda, pois, perdemos o
chão [...] (F1,M).
A confirmação do diagnóstico de câncer é um dos momentos
mais difíceis da vida das mulheres e de suas famílias, pois,
quando recebem a notícia, defrontam-se com uma doença
que carrega uma carga emocional negativa para a mulher,
a sua família e a sociedade e, assim, surgem sentimentos
de impotência, ansiedade, desesperança, dificuldade para
aceitar, e necessidade de utilizar-se de estratégias, como se
acalmar e se informar.
É duro você ver a pessoa passar por tudo aquilo e saber que,
o que a gente pode fazer é segurar na mão, porque se sente
impotente para resolver [...] (F2,M).
Mas vai fazer o que! Tem que conviver, porque a hora que
chega o resultado não tem como voltar atrás... eu fiquei sem
esperança [...] (F5,MM).
Após realizar os exames ocorre uma espera permeada de
ansiedade e expectativa sobre a hipótese diagnóstica, e,
com a confirmação, vem a necessidade de informar-se mais
sobre a doença. Esta informação sobre o câncer de mama
surge como estratégia de enfrentamento para a família.
Eu pesquisei na internet (F2,MM).
Conversei com as mulheres que estavam no dia que fui à
consulta, e fiquei sabendo algumas coisas sobre o câncer que
eu não sabia (F3,MM).
Eu me orientava, lia, para poder orientar minha mãe (F4,FM).
Durante o período de espera da confirmação do diagnóstico,
a mulher com a ajuda da família, busca estratégias de
88| Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 18(4): 84-92, out-dez, 2016
enfrentamento, uma vez que, com a confirmação, é fato, é
real. Diante da realidade, as descrições revelam várias ações:
[...] fui à farmácia, comprei um calmante natural, tomei na
rua mesmo, eu estava no consultório, e eu pensava: ai meu
Deus, não vou aguentar receber o diagnóstico [...] (F2,MM).
Eu precisei de força para enfrentar... e meu marido me ajudou
muito (F3,MM).
Tentei me preparar para o que estava para acontecer, que é
receber um diagnóstico de câncer de mama. O final de semana
parecia uma eternidade, pois tinha que esperar a segunda-
feira para ver o resultado (F4,MM).
Tentei me preparar para receber o diagnóstico, quando estava
esperando o resultado da biópsia (F2,MM).
Eu já tinha feito várias biópsias, tirei vários nódulos e
acho que estava meio preparada para saber de coisa ruim
(F5,MM).
Na hora falei: calma, vamos buscar tratamento, vamos fazer
os exames que faltam, hoje em dia tem muitos recursos, calma,
vamos sofrendo aos poucos, porque, quem sabe, lá no final a
gente não sofre tanto [...] (F4,M).
As dificuldades enfrentadas ao receber o diagnóstico
relacionam-se ao estigma que o câncer carrega de ser uma
doença que leva à morte e ao sofrimento. Assim, abala a
estrutura familiar.
Ao receber o diagnóstico, a família passou por momentos
difíceis (Marido 3).
Vida familiar atribulada após o diagnóstico da doença.
(F1,MM).
Familiares sofrendo com diagnóstico (F1,MM).
A hora que soube que minha mãe tinha isso, pensei que eu ia
perder minha mãe. Eu achei muito difícil (chora muito, e neste
momento todos choram) (F3,FM).
Eu acho, acho que o diagnóstico é muito negativo para a família,
até hoje me recordo do dia que fui pegar o exame [...] (F2,MM).
Para a família, foi difícil receber o diagnóstico de câncer de
mama (F4,FM).
Repercussão do diagnóstico do câncer de mama no contexto familiar | Ferreira e Dupas
Normalmente, as pessoas imaginam um acontecimento
desta natureza para outras pessoas, não para sua família.
Quando a gente ficou sabendo que ela estava com a doença,
nós ficamos abalados, porque, na verdade, nós assistimos a
isso na televisão, e nunca achava, pensava, que ia passar por
isso na família, então, foi para ficar muito abalado mesmo,
ficamos com um medo danado (F3,M).
Então, quando vi a possibilidade de estar com câncer, pensei
quando ouvia que alguém estava com câncer, eu não imaginava
que um dia eu pudesse estar nesta situação (F2,MM).
O estigma que o câncer possui de ser uma doença que leva
à morte repercutiu nas descrições dos membros da família.
Também foi observada a preocupação de ser uma doença
que provoca sofrimento.
O câncer é uma doença, que eu não gostava nem de falar, para
mim, era sinônimo de morte, quando ouvia falar que alguém
estava com câncer, eu já associava, vai morrer (F2,MM).
A gente pensa que vai morrer, quando é diagnosticada. A
primeira coisa que vem é que você vai morrer. Você tá passando
por tudo aquilo, mas não vai chegar ao fim (F4,MM).
Eu só pensava que ela ia sofrer e morrer, isso me desesperava
a cada dia que passava [...] (F4,FM).
No sofrimento descrito, as famílias referem-se não somente
ao físico, mas também ao emocional.
Com o diagnóstico do câncer, a gente pensa em sofrimento e
morte [...] (F4,M).
Quando falo em câncer, me arrepio, vejo sofrimento pela dor,
e, por pensar que posso passar por isso e estar lúcida, e sentir
sofrimento na alma (F3,MM).
Desvelaram ainda que, diante do estigma de morte e
sofrimento, a vulnerabilidade do ser humano é percebida e
suscita reflexões sobre a vida.
Então, o ser humano é frágil, a gente fica muito vulnerável a
tudo... e, diante de uma doença dessas, o que fazer? Pensar na
morte, no sofrimento... é muito ruim [...] (F1,M).
Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 18(4): 84-92, out-dez, 2016 |89
DISCUSSÃO|
A comprovação de estar com câncer é a primeira etapa
vivenciada e percebida pela mulher e sua família.
Repercutiu na família revelada pela categoria “Receber
o diagnóstico de câncer de mama”, que, ao descobrir-
se portadora desta doença, a mulher e seus familiares
depararam-se com esse momento de forma inesperada.
E é nesse momento que a família passa por experiências
nunca vivenciadas anteriormente, o que desencadeia uma
nova rotina na estrutura familiar12. O câncer de mama
causa impacto nas mulheres e em seus familiares, pois
vivenciam, nesse momento, um acontecimento inesperado,
que afeta a vida deles. A neoplasia comumente coloca a
pessoa acometida e seus familiares diante da perspectiva
da morte13. Esses estudos corroboraram com nossos
achados, pois as famílias participantes não tinham ainda
casos de câncer, o momento do diagnóstico é visto como
inesperado, e a ideia de morte é associada.
O impacto psicológico do diagnóstico na família é alto
e é imperativo que todos recebam atenção precoce para
melhor compreensão de sua experiência, proporcionando,
assim, orientação para intervenções de apoio com a mulher
diagnosticada com câncer de mama14-15. No momento
do diagnóstico recebido pela família, a angústia é um
sentimento vivenciado de forma coletiva. O significado de
estar com câncer de mama, as concepções sobre a doença e
incertezas para viver com o diagnóstico conduzem a família
a um processo de compreensão das mudanças ocorridas,
pautadas nas experiências vividas por outras mulheres16.
Na categoria “Enfrentar o diagnóstico” deste estudo,
a mulher e sua família evidenciaram sentimentos de
impotência e desesperança, que vem a corroborar com
o estudo de Albarello, Laber Dalegrave, Franciscatto e
Argenta17, que avaliou as percepções e enfrentamento de
mulheres que vivenciaram diagnóstico de câncer de mama.
A ansiedade para o enfrentamento dos resultados positivos
dos exames é sintoma comum nas mulheres. Em nosso
estudo evidenciou-se entre as mulheres o estado ansioso.
As descrições das mulheres vêm ao encontro do estudo que
acredita se, a ansiedade for a nível elevado, pode provocar
percepções negativas quanto às habilidades motoras
e intelectuais do indivíduo. Isso, por sua vez, interfere
na atenção seletiva e na codificação de informações na
memória, bloqueando a compreensão e o raciocínio (18). Em
Repercussão do diagnóstico do câncer de mama no contexto familiar | Ferreira e Dupas
busca por respostas a muitos questionamentos, a mulher e
sua família iniciam uma investigação sobre a doença, com
a finalidade de informar-se para melhor compreender o
processo de adoecimento. Nesse sentido ainda as famílias
revelaram que vivenciaram a fase de procurar por equilíbrio,
pois uma doença pode provocar a ruptura do equilíbrio
familiar19.
As preocupações sobre a ameaça à vida e à saúde, o medo
da modificação da imagem corporal, a invalidez e a angústia,
associados ao tratamento, tornam-se motivadores de luto e
são comuns às mulheres e suas famílias que enfrentam o
diagnóstico de câncer de mama20.
O medo da doença passa a ser uma barreira para a sua
aceitação, bem como para o tratamento e descrença quanto
à possibilidade de cura21. Assim, a família revela em seus
depoimentos dificuldade na aceitação do diagnóstico.
No processo de enfrentamento do câncer, a mulher e sua
família necessitam de tempo para trabalhar suas emoções
e tecer novas perspectivas de vida, pois os sentimentos
confrontados no momento do diagnóstico são difíceis de
serem elaborados de imediato22. No entanto, os familiares
podem enfrentá-lo de várias maneiras, uns aceitam mais
rápido e enfrentam o tratamento de maneira positiva,
outros demoram um pouco mais, tendo ainda aqueles que
negam a doença e não aceitam a sua nova condição23.
Receber o diagnóstico de câncer de mama suscita reflexões
na família, uma vez que apontam para uma situação não
imaginada. Nesse momento, a mulher e seus familiares
lidam com o inconformismo e associação da doença com
a morte.
Os familiares, na maioria das vezes, se sentem despreparados
para lidar com a gama de emoções intensas referentes
à doença15. Assim, na categoria “Vivenciar o estigma
do câncer como doença fatal e de muito sofrimento”,
apreende-se essa compreensão como uma realidade que já
é vivenciada com o diagnóstico, historicidade de morte e
sofrimento que se remete a esta doença.
O período do diagnóstico pode ser traumático,
principalmente se é prolongado ou termina com a
confirmação de uma doença ameaçadora da vida. Estar
com diagnóstico de câncer expõe ao ser humano sua
vulnerabilidade e se alia a várias questões sobre a vida e
seu significado. Este estudo corrobora com essa pesquisa
90| Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 18(4): 84-92, out-dez, 2016
de Salimena et al.24, pois as descrições dos familiares
abordaram reflexões sobre a vida e o quão vulnerável se
percebem como ser humano.
Os familiares referem ainda que, ao mesmo tempo em
que a vida foi ameaçada pelo diagnóstico de câncer,
eles não sabiam o que fazer para apoiar as mulheres em
suas dificuldades22. Por isso, os familiares reconhecem a
importância dos profissionais de saúde para o acolhimento
das necessidades e orientação durante o enfrentamento do
câncer de mama, mesmo que sejam realizados encontros
breves, muitas vezes intermediados pela própria mulher23.
É imperativo que os familiares recebam atenção precoce e a
oportunidade de expressar suas percepções e necessidades,
pois isso pode levar a uma melhor compreensão de sua
experiência, fornecendo orientação para intervenções de
apoio(13). Nosso estudo corroborou com essas pesquisas, por
meio das descrições dos membros da família, a necessidade
de apoio familiar no recebimento do diagnóstico.
CONCLUSÃO|
O objetivo proposto desta investigação foi alcançado, pois
pudemos compreender como o diagnóstico do câncer de
mama repercute no contexto familiar, no momento de
receber, enfrentar e vivenciar a doença.
Esta investigação pode contribuir para maior conhecimento
dos profissionais no âmbito assistencial acerca da
abordagem e oferecimento de apoio social às famílias
de pacientes com câncer de mama. Soma-se à produção
nacional que enfoca a família de adultos com câncer como
sujeito coletivo, cuja veiculação em formato de artigo ainda
é insuficiente, considerando-se a elevada incidência desta
doença na população feminina brasileira.
Os limites dos resultados deste estudo referem-se ao
desenho da pesquisa, que trata de uma exploração profunda
dos dados, por ser qualitativa, no entanto, não se pode
chegar à generalização dos dados.
Compreender a repercussão do diagnóstico do câncer de
mama no contexto familiar possibilita ao profissional de
saúde um aporte teórico das vivências e viabiliza, assim,
oferecer suporte adequado e auxiliar no enfrentamento da
doença, por meio de esclarecer dúvidas e inquietações que
possam vir a aparecer. Salienta-se ainda que este estudo
Repercussão do diagnóstico do câncer de mama no contexto familiar | Ferreira e Dupas
contribui com conhecimentos importantes por meio das
descrições desveladas pelas famílias.
A repercussão do diagnóstico do câncer de mama no
contexto familiar gera sofrimento e angústias e requer uma
reorganização na estrutura familiar.
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Correspondência para/Reprint request to:

Giselle Dupas
Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Biológicas e
da Saúde da UFSCAR, Departamento de Enfermagem
Rodovia Washington Luis, Km 235,
13565-905 - São Carlos/SP, Brasil
Tel.: (16) 3351-8334
E-mail: gdupas@ufscar.br

Submetido em: 15/07/2016

Aceito em: 19/12/2016

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