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b. A amizade espiritual
Depois de nossos pais, os nossos amigos são os que mais nos influenciam, especialmente se são, de
algum modo, nossos professores. E Paulo era para Timóteo um mestre e amigo excepcional. Já vimos que
Paulo era o "pai espiritual" de Timóteo. Paulo o conduzira a Cristo, por isso não se esqueceu dele, nem o
abandonou. Paulo lembrava-se constantemente dele, como diz repetidamente nesta passagem. Também o
tomara consigo em suas viagens e o treinara como um aprendiz. Na última vez em que se separaram,
Timóteo foi incapaz de conter as lágrimas. E agora, recordando-se daquelas lágrimas, Paulo almejava "noite
e dia" tornar a vê-lo, "para que eu transborde de alegria" (v.4). O Rev. Handley Moule interpreta apipothön
como "ardente saudade".10 Entrementes, Paulo orava sem cessar por Timóteo (v.3) e, de tempos em tempos,
escrevia-lhe cartas de aconselhamento e encorajamento, tais como esta.
Tal amizade crista, incluindo o companheirismo, as cartas e as orações que a expressavam, certamente
teve um poderoso efeito na formação do jovem Timóteo, fortalecendo-o e sustentando-o em sua vida e no
serviço cristãos.
Eu agradeço a Deus pelo homem que me levou a Cristo e pela extraordinária devoção com que me
acompanhou nos primeiros anos da minha vida cristã. Ele me escrevia semanalmente, creio que por sete
anos. Também orava por mim todos os dias e creio que ainda o faça. Nem posso avaliar o quanto sou
devedor a Deus por esse fiel amigo e pastor.
c. O dom espiritual
Paulo deixa agora os meios indiretos usados por Deus para moldar o caráter cristão de Timóteo (seus
pais e amigos) para enfocar um dom diretamente dado por Deus a ele. "Por esta razão, pois, te admoesto que
reavives o dom de Deus, que há em ti pela imposição das minhas mãos" (v.6). Que dom (carisma) da graça
de Deus foi este, não sabemos nem de leve, pelo simples fato de não nos ter sido revelado. Não temos a
liberdade de ir além da Escritura. Contudo, podemos arriscar uma conjectura, desde que ressalvemos que se
trata de apenas uma suposição. O que está claro, tanto neste versículo como numa referência similar em 1
Timóteo 4: 14, é que o dom lhe fora conferido quando Paulo e certos "anciãos" (provavelmente da igreja em
Listra) lhe impuseram as mãos. Os dois versículos mencionam a imposição de mãos e parecem referir-se ao
que podemos chamar de sua "ordenação" ou "comissionamento". Sendo assim, então o dom em questão seria
um dom que Deus lhe dera relacionado com o seu ministério. É possível também que Paulo esteja se
referindo ao ministério em si, para o qual Timóteo fora separado, pela imposição de mãos. De fato, as
funções de pastor e de mestre, tal como as de apóstolo e de profeta, são apontadas como dons da graça de
Deus (Ef 4: 7-11). Desse modo, talvez Dean Alford tenha razão, ao dizer que "o dom espiritual é o de ensinar
e o de presidir a igreja".11 Ou então a referência pode ter sido ao dom de evangelização. Logo adiante Paulo
9
Calvino, p. 292. Cf. p. 242 de um comentário similar sobre 1 Tm 4: 6.
10
Moule, pp. 40 e 45.
11
Alford, p. 342, um comentário sobre 1 Tm 4:14.
6