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Ex: recurso ordinário contra decisão do TJ que negou habeas corpus a indivíduo que se
encontra preso em razão de dívida de alimentos.
STJ. 3ª Turma. RHC 109.330-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/04/2019 (Info 646).

Veja comentários em Direito Processual Civil.

DIREITO DO CONSUMIDOR

PLANO DE SAÚDE
É vedada à operadora de plano de saúde a resilição unilateral imotivada dos
contratos de planos coletivos empresariais com menos de trinta beneficiários

O art. 13, parágrafo único, II, da Lei nº 9.656/98, que veda a resilição unilateral dos contratos
de plano de saúde, não se aplica às modalidades coletivas, tendo incidência apenas nas
espécies individuais ou familiares.
No entanto, no caso de planos coletivos empresariais com menos de trinta usuários, em vista
da vulnerabilidade da empresa estipulante, dotada de escasso poder de barganha, não se
admite a simples rescisão unilateral pela operadora de plano de saúde, havendo necessidade
de motivação idônea.
STJ. 3ª Turma. REsp 1553013/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/03/2018.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.776.047-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/04/2019 (Info 646).

Imagine a seguinte situação hipotética:


CM Comércio Ltda., empresa de pequeno porte, mantinha, há alguns anos, contrato de plano de saúde
coletivo empresarial com a Unimed.
Determinado dia, a Unimed notificou a empresa dizendo que não tinha mais interesse em manter o
contrato, fazendo a rescisão unilateral do pacto.
Vale ressaltar que o contrato de plano de saúde coletivo beneficiava apenas cinco pessoas, sendo que
duas delas eram os sócios.

A conduta da operadora de plano de saúde foi lícita?


NÃO.

Modalidades de planos de saúde


O art. 16, VII, da Lei nº 9.656/98 prevê que existem três modalidades de planos de saúde:
a) individual ou familiar;
b) coletivo empresarial e
c) coletivo por adesão.

Plano de saúde individual


O plano de saúde individual é aquele em que a pessoa física contrata diretamente com a operadora ou
por intermédio de um corretor autorizado. A vinculação de beneficiários é livre, não havendo restrições
relacionadas ao emprego ou à profissão do usuário em potencial (art. 3º da RN n. 195/2009 da ANS).

Planos de saúde coletivo


O plano de saúde coletivo é aquele contratado por uma empresa, conselho, sindicato ou associação junto
à operadora de planos de saúde para oferecer assistência médica e/ou odontológica às pessoas vinculadas
às mencionadas entidades, bem como a seus dependentes.

Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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São dois os regimes de contratação de planos de saúde coletivos:


b) o coletivo empresarial, o qual garante a assistência à saúde dos funcionários da empresa contratante
em razão do vínculo empregatício ou estatutário (art. 5º da RN nº 195/2009 da ANS); e
c) o coletivo por adesão, contratado por pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial,
como conselhos, sindicatos, cooperativas e associações profissionais (art. 9º da RN nº 195/2009 da ANS).

Nos contratos de plano de saúde coletivo, portanto, a relação jurídica de direito material envolve uma
operadora e uma pessoa jurídica que atua em favor de uma classe (coletivo por adesão) ou em favor de
seus respectivos empregados (coletivo empresarial).

Estipulação em favor de terceiro


O contrato de plano de saúde coletivo caracteriza-se como uma estipulação em favor de terceiro, em que
a pessoa jurídica figura como intermediária da relação estabelecida substancialmente entre o indivíduo
integrante da classe/empresa e a operadora (art. 436, parágrafo único, do Código Civil). Isso porque a
estipulação do contrato de plano de saúde coletivo ocorre, naturalmente, em favor dos indivíduos que
compõem a classe/empresa, verdadeiros beneficiários finais do serviço de atenção à saúde.

Regulamentação da rescisão dos planos de saúde


O art. 17-A, § 6º da Lei nº 9.656/98 autorizou que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) editasse
normas regulamentando as hipóteses de rescisão dos contratos de plano de saúde.

Rescisão em caso de plano de saúde individual


No caso de plano de saúde individual, a própria Lei nº 9.656/98 reservou um tratamento mais restritivo
para eventual rescisão.
O art. 13, parágrafo único, II, da Lei previu o seguinte:
Art. 13. Os contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1º desta Lei têm
renovação automática a partir do vencimento do prazo inicial de vigência, não cabendo a cobrança
de taxas ou qualquer outro valor no ato da renovação.
Parágrafo único. Os produtos de que trata o caput, contratados individualmente, terão vigência
mínima de um ano, sendo vedadas:
(...)
II - a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por fraude ou não-pagamento da
mensalidade por período superior a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses
de vigência do contrato, desde que o consumidor seja comprovadamente notificado até o
quinquagésimo dia de inadimplência; e

Rescisão em caso de plano de saúde coletivo


Em se tratando de plano de saúde coletivo, a operadora somente pode fazer a rescisão unilateral e
imotivada do contrato coletivo se cumpridos três requisitos:
a) o contrato contenha cláusula expressa prevendo a possibilidade de rescisão unilateral;
b) o contrato esteja em vigência por período de pelo menos 12 meses;
c) haja a prévia notificação da rescisão com antecedência mínima de 60 dias.

Nesse sentido:
É possível a resilição unilateral do contrato coletivo de saúde, uma vez que a norma inserta no art. 13, II,
b, parágrafo único, da Lei 9.656/98 aplica-se exclusivamente a contratos individuais ou familiares.
STJ. 4ª Turma. AgInt nos Edcl no ARESP 1.197.972/SP, Min. Rel. Raul Araújo, DJ 20/3/2019.

A distinção entre os planos individuais ou familiares e as contratações de natureza coletiva concebida pela
Lei nº 9.566/98 teve por objetivo conferir maior proteção aos titulares de planos individuais, diante da
Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11
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posição de maior vulnerabilidade do consumidor singularmente considerado e, também, inserir


mecanismo destinado a permitir que, nos contratos coletivos, a pessoa jurídica contratante exerça o seu
poder de barganha na fase de formação do contrato, presumindo-se que o maior número de pessoas por
ela representadas desperte maior interesse da operadora do plano de saúde.

Planos coletivos empresariais com menos de 30 usuários


No tocante ao número de beneficiários, os planos coletivos são subdivididos em
a) planos com quantidade inferior a 30 usuários e
b) planos com quantidade igual ou superior a tal limite.

Os regramentos diferem um pouco, como a forma de reajuste e a não exigência de cumprimento de prazos
de carência para estes últimos (art. 6º da RN nº 195/2009 da ANS).
Nesse cenário, extrai-se que os planos coletivos com menos de 30 beneficiários apresentam características
híbridas, pois possuem alguns comportamentos dos contratos individuais ou familiares, apesar de serem
coletivos.
Diante disso, o STJ criou o seguinte raciocínio:
O art. 13, parágrafo único, II, da Lei nº 9.656/98, que veda a resilição unilateral dos contratos de plano
de saúde, não se aplica às modalidades coletivas, tendo incidência apenas nas espécies individuais ou
familiares.
No entanto, no caso de planos coletivos empresariais com menos de trinta usuários, em vista da
vulnerabilidade da empresa estipulante, dotada de escasso poder de barganha, não se admite a simples
rescisão unilateral pela operadora de plano de saúde, havendo necessidade de motivação idônea.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.776.047-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/04/2019 (Info 646).

No mesmo sentido:
Em vista das características dos contratos coletivos, a rescisão unilateral pela operadora é possível, pois
não se aplica a vedação do art. 13, parágrafo único, II, da Lei nº 9.656/1998, mas, ante a natureza híbrida
e a vulnerabilidade do grupo possuidor de menos de 30 (trinta) beneficiários, deve tal resilição conter
temperamentos, incidindo, no ponto, a legislação do consumidor para coibir abusividades, primando
também pela conservação contratual (princípio da conservação dos contratos).
STJ. 3ª Turma. REsp 1553013/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/03/2018.

DIREITO EMPRESARIAL

MARCA
A aquisição de distintividade de marca não gera como decorrência
lógica, direta e automática a exclusividade de seu uso

Marcas “fracas”, evocativas, descritivas ou sugestivas: são aquelas que apresentam baixo grau
de distintividade, por se constituírem a partir de expressões que remetem à finalidade,
natureza ou características do produto ou serviço por elas identificado. São formadas,
portanto, por expressões de uso comum, de pouca originalidade. Ex: “American Airlines”
(empresa de serviços de transporte aéreo).
Em caso de marcas evocativas ou sugestivas, a exclusividade conferida ao titular do registro
comporta mitigação, devendo ele suportar o ônus da convivência com outras marcas
semelhantes. Ex: “American Airlines” teve que aceitar outra marca registrada como “America
Informativo 646-STJ (10/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12

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