Você está na página 1de 2

APOLOGIA

Defesa de um autor, ideia ou obra. No plural, fala-se de apologias na linguagem litúrgica,


para designar orações improvisadas em favor de si próprio, mas denunciando os pecados
cometidos, para obter a purificação espiritual. Em muitos casos, em especial na literatura, a
apologia assume a forma de um panegírico. Luís António de Verney escreve nestes termos uma
apologia de António Vieira: “Eu estimo muito este Religioso pelas suas virtudes e capacidade.
Vejo nas suas cartas retratado um ânimo grande, un desinteresse nobre, uma viva paixão pelos
aumentos do seu Reino e ardente desejo de se sacrificar por ele (. . .); e, se eu vivesse no seu
tempo, seria o seu maior amigo.” (Verdadeiro Método de Estudar, vol.II, Liv. Sá da Costa,
Lisboa, 1950, p.234).
A mais famosa das apologias, e também a primeira a fixar o género, é a obra inicial de
Platão Apologia de Sócrates. (Não se trata da primeira apologia escrita, pois diz-nos Xenofonte
(?) na sua obra com o mesmo título da de Platão, que vários autores anteriores haviam escrito
defesas de Sócrates perante a acusação do tribunal.) O texto de Platão é um género que coloca o
sujeito no centro da “questão”, porque se trata de um processo de auto-justificação perante a lei.
O facto é que muitas apologias que se seguiram nasceram também da necessidade de um
determinado indivíduo se justificar perante um auditório.
A apologia como género literário e não literário tem conhecido diversas formas de
expressão, partindo do pressuposto de que tem como objecto primeiro a defesa de alguma
posição. Podemos registar o género na poesia, desde os “cantares de loor” medievais até aos
longos poemas como “Bishop Blougram’s Apology” (inMen and Women, 1855), de Robert
Browning; na teoria literária, como em An Apology for Poetry (1595), de Sir Philip Sidney, que
disserta sobre poesia e drama renascentistas; na defesa histórica de um autor, como em
“Heidegger's Apology: Biography as Philosophy and Ideology”, de Theodore  Kisiel (in Tom
Rockmore e Joseph Margolis (eds.): The Heidegger Case on Philosophy and Politics, Temple
UP,  Philadelphia, 1992);  na sociolinguística, estudado como género autónomo, por exemplo, em
“Apology: A Speech Act Set”, de Elite Olshtain e Andrew D. Cohen (in Nessa Wolfson e Elliot
Judd (eds.): Sociolinguistics and Language Acquisition,Newbury House, Rowley, MA, 1983); no
ensaio especulativo, como na Apologie de Raimond Sebond (1580), de Montaigne, que serve de
pretexto ao ensaísta francês para expor as suas ideias sobre a futilidade da razão.
A tradição das grandes apologias de época ou de autor conhece, no século XX, o seu
contraponto, coincidência ou não, sobretudo a partir do momento em que se afirmam os estudos
sobre o pós-modernismo. Um bom exemplo é a antologia de ensaios de reflexão crítica e
descomprometida sobre uma época determinada: The 60s, Without Apology, ed. por Sohnya
Sayers, Anders Stephanson e Stanley Aronowitz (University of Minnesota Press, Minneapolis,
1984).
Devemos distinguir apologia de apologética, termo teológico que diz respeito
exclusivamente à defesa da religião. Geralmente, atribui-se a esta um carácter mais científico ou
demonstrativo, porém tal não está afastado da apologia como género literário, por exemplo,
quando assume a forma de ensaio especulativo ou teórico. Neste campo, a  mais famosa é
a Apologia pro Vita Sua (1864; mais tarde intituladaHistória das Minhas Opiniões Religiosas),
do cardeal Newman, uma apologia autobiográfica e espiritual.
Bibliografia
Adina Abadi: “The Speech Act of Apology in Political Life”, Journal of
Pragmatics: An Interdisciplinary Monthly of Language Studies, 14,3 (1990);
Anjana Basu: “The Apology of Jonathan Swift”, Journal of the Department of
English,  18,1 (Calcutá, 1982-1983); David R. Peck: “ 'The Orgy of Apology':
The Recent Reevaluation of Literature of the Thirties”, Science and
Society, 32 (1968); Don K. Pierstorff: “Poe as Satirist: An Apology”, Studies
in Contemporary Satire: A Creative and Critical Journal, 10 (Kearney, NE,
1983); Elite Olshtain: “Sociocultural Competence and Language Transfer:
The Case of Apology”, in Susan M. Gass e Larry Selinker (eds.): Language
Transfer in Language Learning (1983); Howard Baker: “An Apology for
Fiction”, Sewanee Review, 72 (1964); John G. Partridge: “ 'Sorry!' Remarks
on the Semantics and Pragmatics of Apology”, in Claudia Blank
(ed.): Language and Civilization: A Concerted Profusion of Essays and
Studies in Honor of Otto Hietsch, I & II, (1992); Julie B. Klein: “The Art of
Apology: 'An Epistle to Dr. Arbuthnot' and 'Verses on the Death of Dr.
Swift'”, Costerus: Essays in English and American Language and Literature, 8
(Blacksburg, VA, 1973); Leo Miller: “Milton's Apology”, Explicator, 44,2
(1986); Marina Frescura : “Exploring the Apology Speech Act: A
Comparative Study”, in Albert N. Mancini Paolo A. Giordano (eds.): Italiana
1987 (1989); Murray Krieger: “An Apology for Poetics”, in Ira Konigsberg
(ed.): American Criticism in the Poststructuralist Age  (1981);Nathan Cervo:
“Browning's 'Bishop Blougram's Apology' “, Explicator, 53, 2 (Washington,
1995); Noel Schraufnagel:   From Apology to Protest: The Black American
Novel(1973); Shunichi Saito: “The Apology of Chaucer”, in Bulletin of Daito
Bunka University: The Humanities, 21 (Tóquio, 1983).

Você também pode gostar