2º Ano
Turma A
Chimoio - 2020
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
Chimoio - 2020
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ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................................4
1.1. Objectivos....................................................................................................................................5
1.1.1. Objectivo Geral....................................................................................................................5
1.1.2. Objectivos Específicos.........................................................................................................5
1.2. Metodologia.................................................................................................................................6
2. OCORRÊNCIA DA MORFOLOGIA VERBAL NA LÍNGUA TEWE..............................................7
2.1. Conceptualização de Morfologia.................................................................................................7
2.2. Ciwute ou Língua Tewe...............................................................................................................8
2.3. Características Tipológicas Das Línguas Africanas Bantu...........................................................8
2.3.1. Primeira Característica.........................................................................................................8
2.3.2. Segunda Característica.......................................................................................................10
2.4. Os Morfemas Do Tempo Verbal Na Língua Tewe....................................................................11
2.4.1. Morfemas Do Tempo Futuro.............................................................................................12
2.4.2. Morfemas Do Tempo Passado...........................................................................................13
2.4.3. Morfemas Do Tempo Presente...........................................................................................15
2.4.4. Verbos auxiliares...............................................................................................................16
3. CONCLUSÃO...................................................................................................................................19
3.1. Referências bibliográficas..........................................................................................................20
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1. INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objectivo descrever a ocorrência da morfologia verbal nas línguas
bantu, em particular na minha língua bantu: tewe.
A morfologia verbal das línguas bantu desperta interesse para vários estudiosos (Guthrie, 1967-
71; Ngunga, 2004; Mutaka e Tamanji 2000; Mberi, 2002 citados por Quiraque, 2016). Serão
descritas as marcas do tempo na língua tewe, procurando mostrar as diferentes maneiras que esta
língua toma para representar os tempos gramaticais (passado, presente e futuro).
A língua tewe faz parte das línguas do grupo bantu, expandidas por quase toda parte sul do
equador de África e, hoje se estima em mais de 600 línguas distribuídos por mais de duzentos
milhões de falantes pertencentes a este grupo (Ngunga, 2014; Janson, 2015 citados por Quiraque,
2016).
Segundo Janson (2015) citado por Quiraque (2016), os falantes originais bantu, devem ter sido
relativamente poucos, mas, ao se moverem e difundirem, de um habitante original no oeste até
muitos milhares de quilómetros a leste às margens do lago vitória, adquiriram conhecimento da
agricultura e pecuária, provavelmente no norte, e mais tarde se expandiram em massa rumo ao
sul e sudoeste da África. Portanto, os povos bantu se tornaram mais numerosos do que os
habitantes originais nas áreas em que se estabeleceram e hoje são a maioria dominante na região
sul daquele continente.
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1.1. Objectivos
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1.2. Metodologia
Para a concretização dos objectivos específicos deste trabalho utilizamos como metodologia a
pesquisa bibliográfica, pois o presente trabalho de pesquisa foi meramente de revisão de
literatura. Esta pesquisa bibliográfica assentou-se também em manuais, artigos técnicos. O tipo
de pesquisa utilizado neste presente trabalho foi o descritivo, pois se pretende descrever a
Ocorrência da Morfologia Verbal na Língua Tewe. A técnica de pesquisa adoptada neste
trabalho foi a seguinte: efectuou-se uma pesquisa bibliográfica, através da consulta de manuais,
que abordam assuntos ligados a Gramática, Morfologia, Línguas bantu, Língua Tewe e
Morfologia da Língua Tewe, fez-se também a consulta de artigos científicos, teses, dissertações,
monografias, pesquisas científicas, mais algumas explanações e definições de conceitos
importantes utilizados durante a pesquisa desse trabalho, e por outro lado foi feita a pesquisa na
internet como forma de conhecer as actuais abordagens acerca da Ocorrência da Morfologia
Verbal na Língua Tewe.
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2. OCORRÊNCIA DA MORFOLOGIA VERBAL NA LÍNGUA TEWE
Em linguística, morfologia refere-se “à análise das formas que uma palavra de uma dada língua
pode assumir” (Faria et al, 1997, p. 215, apud Langa, 2013, p. 30 citado por Quiraque, 2016).
Para Azuaga, (1996, p. 216, grifo nosso) citado por Quiraque (2016),
A morfologia analisa, então, as formas das palavras, ou melhor, as
alterações sistemáticas, na forma destas unidades, alterações essas que
estão relacionadas com mudanças no sentido das mesmas, […]. É uma
disciplina linguística que tem a palavra por objecto, e que estuda, por um
lado, a sua estrutura interna, a organização dos constituintes e, por outro,
o modo como estas estruturas reflecte a relação com outras palavras, que
parecem estar associadas a ela de maneira especial.
Na perspectiva de Ngunga (2004, p. 99) citado por Quiraque (2016), “morfologia pode ser
definida como o estudo dos morfemas, das regras que regem a combinação na formação da
palavra e da sua função no sintagma e na frase”. Neste contexto, a morfologia tem como a sua
unidade mínima de análise o morfema, sendo este “a unidade linguística mínima, portadora de
significado - é o menor signo existente [...] (Coelho, 2011, p. 25 citado por Quiraque, 2016) ”.
De acordo com Azuaga, (1996, p. 224) citado por Quiraque (2016) “o morfema é, portanto,
realizado por algo de natureza diferente: não se pode ouvir ou pronunciar um morfema, só se
pode ouvir e pronunciar o que realiza este morfema, ou seja, o morfe” que é a forma física que
representa um morfema. Ou seja, enquanto “o morfema é uma unidade significativa abstracta da
língua que se realiza no morfe, unidade da fala, o morfe por sua vez, constitui o material físico
observável que nos permite a análise linguística das unidades significativas que são os morfemas
(Coelho, 2011, p. 34 citado por Quiraque, 2016) ”. As definições acima mostram que dentro de
uma palavra ou estrutura de forma verbal qualquer, primeiro identificamos o(s) morfe(s),
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unidades físicas, e só através destes é que identificamos o(s) tipo(s) de morfema(s), unidade(s)
abstrata(s), que estes morfes representam.
Diferente de algumas línguas bantu moçambicanas como Changana (no sul) e Makhuwa (no
norte do país), cujo nível de estudos é mais avançado, a língua tewe é uma das muitas línguas
daquele país que ainda carece de muitos estudos, tanto tipológicos assim como genealógicos
embora já se saiba através de estudos mais remotos, que é uma língua pertencente ao grupo (ou
subgrupo) linguístico Shona (Quiraque, 2016).
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Importa realçar que algumas das características da estrutura verbal e nominais apresentadas também podem se
encontrar em outras línguas aglutinantes do mundo como o Turco (Turquia), o Japonês (Japão) e o Húngaro
(Hungria), Finlandês (Finlândia), Zulu (África do Sul), Malaio (Malásia) Tupi-guarani (México), e em todas línguas
Bantu (faladas continente africano) (Quiraque, 2016).
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Nhantumbo, 2009 citado por Quiraque, 2016). A raiz possui uma estrutura verbal básica
de tipo -CVC- (consoante, vogal, consoante). Apesar de ter esta estrutura como básica,
existem, nestas línguas, verbos com estruturas mais extensas ou ainda mais reduzidas que
a estrutura básica. As outras raízes podem ser de tipo -C-, -CV-, -CVC-, -CVCVC-, ou
mais extensas, formadas por um prefixo verbal que marca a forma infinitiva (ku-), radical
verbal e a vogal final que geralmente é -a. Realça-se que para o caso de Moçambique o
prefixo verbal do infinitivo pode variar para Gu- e O-, dependendo de cada língua bantu
daquele país (Quiraque, 2016). Observemos os exemplos abaixo em tewe:
1 a) ku-d-a ‘querer’ b) ku-f-a ‘morrer’
PV-querer-VF· PV-morrer-VF
c) ku-ry-a ‘comer’ d) ku-zw-a ‘ouvir’
PV-comer-VF PV-ouvir-VF
e) ku-pond-a ‘bater’ f) ku-dad-a ‘gingar’
PV-bater-VF PV-gingar-VF
g) ku-gogom-a ‘correr ’ h) ku-tambarar-a ‘esticar os pés’
PV-correr-VF PV-esticar os pés-VF
Nos exemplos acima, encontramos em todos os verbos o prefixo da forma infinitiva do verbo
(ku-), uma raiz e a vogal final (-a). Em (1a-b) temos raízes de tipo -C-, em (1c-d) encontramos
raízes de tipo -CV-, em (1e-f) encontramos raízes de tipo -CVC-, em (1g) raízes de tipo
-CVCVC-, e em (1h) temos raízes mais extensos, de tipo -CVCVCVC-. O conjunto dessas
raízes é invariável e a maior parte de morfemas gramaticais afixa-se a eles (Ngunga, 2014 citado
por Quiraque, 2016). No geral, cada morfe de uma palavra indica um morfema (gramatical ou
lexical) diferente na sua estrutura de forma verbal ou nominal. Como referimos anteriormente,
entendemos morfe como a forma física que representa um morfema, forma abstracta (Quiraque,
2016).
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morfológica sintáctica e só ocorrem adjuntos aos morfemas livres (Langa, 2013 citado por
Quiraque, 2016). Observemos os exemplos abaixo na língua tewe:
Nos exemplos em (2) encontramos no morfema -ry- (‘comer’) a informação central (lexical), e
nos restantes morfemas encontramos a informação gramatical. Em (2a) encontramos o morfema
nd(i)- que indica a marca do sujeito, -a- marca do tempo, e -a como vogal final. Em (2b)
encontramos morfemas descontínuos a- e -i que marcam a negação, ndi- como a marca do
sujeito, -ca- marca do tempo (futuro), e finalmente, -a que é a vogal final. No entanto, nos dois
exemplos em (2), o morfema -ry- é o que chamamos de livre, porque não varia a sua forma e
constitui o núcleo das duas palavras, e os restantes são morfemas presos e podem variar.
Portanto, os exemplos (2) provam que são línguas aglutinantes, em que os restantes morfemas
gramaticas afixam-se a raiz ou radical verbal (Quiraque, 2016);
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c) i-bvi ‘joelho’ vs ma-bvi ‘joelhos’
PN5-TN PN6-TN
d) ci-tiki ‘banco’ vs zvi-tiki ‘bancos’
PN7-TN PN8-TN
Observando os exemplos em (3) teremos o seguinte: os morfemas mu- e a- dos exemplos 3a);
mu- e mi- dos exemplos 3b); i- e ma- dos exemplos de 3c); ci- e zvi- dos exemplos 3d) opõem-
se pela ideia de singular/plural nos exemplos em causa. Portanto, são os prefixos que marcam o
género das classes daqueles nomes. Neste sentido, os prefixos mu- e a- são das classes 1 e 2,
respectivamente; os prefixos mu - e mi- indicam nomes das classes 3 e 4, os prefixos i- e ma-
indicam nomes das classes 5 e 6; e os prefixos ci- e zvi- indicam nomes das classes 7 e 8. Ainda
nestes exemplos, os temas nominais -nhu; -ti; -bvi; e -tiki são os morfemas que indicam a ideia
de pessoa, árvore, joelho e banco respectivamente (Quiraque, 2016).
Para além destes géneros de duas classes, existem géneros de uma classe, isto é, em que não se
verifica a oposição singular/plural e o prefixo da classe pode ser idêntico ou não a um dos
prefixos (do singular ou do plural) de um género de duas classes (Ngunga, 2014 citado por
Quiraque, 2016). Por exemplo, nomes como u-sunzi ‘formiga’; u-saru ‘linha’; u-kama ‘família’
fazem o seu plural com mesmo prefixo (u-) da classe 14 (u-sunzi ‘formigas’; u-saru ‘linhas’, u-
kama ‘famílias’, respectivamente) (Quiraque, 2016).
Na perspectiva de Coelho (2013, p. 89 citado por Quiraque, 2016), “verbo é a palavra variável
com a qual se expressa uma ocorrência, seja ela processo, evento, actividade ou estado, marcada
no tempo”. O que caracteriza, de facto, um verbo, distinguindo-o das demais classes de palavras
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É a palavra variável em tempo e modo que exprime basicamente o que se passa, isto é, é o acontecimento
representado no tempo (acção, estado ou fenómeno). Sintacticamente o verbo não possui um papel exclusivo, mas
possui função obrigatória de predicado, mesmo que não seja seu núcleo
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é a sua perspectiva de marcação temporal, ou seja, todas as outras palavras variáveis flexionam
em género e número, e alguns pronomes como os pessoais indicam as pessoas do acto
comunicativo. No entanto, a flexão de tempo e de modo são privilégios exclusivos do verbo
(Coelho, 2013 citado por Quiraque, 2016). É nessa exclusividade do verbo que o nosso estudo se
centra, procurando olhar para as variações que o tempo verbal traz na língua tewe (Quiraque,
2016).
Na opinião de Ngunga (2004, p. 159) citado por Quiraque (2016) “tempo é um fenómeno que
reflecte a natureza de um povo”. O mesmo autor sublinha que, as marcas do tempo nas formas
verbais constituem tentativas de representação nas línguas do mundo dessa categoria filosófica
com que os homens coexistem ao longo da vida. Essas marcas variam de língua para língua
porque os falantes das diferentes línguas transportam marcas variáveis de acordo com a sua
maneira de ser e estar no mundo.
Cunha e Cintra (2002, p. 379) citados por Quiraque (2016), nos lembram com muita prioridade
de que o “tempo é a variação que indica o momento em que se dá o facto expresso pelo verbo”.
Para estes autores, os três tempos naturais são: “presente”, que designa um facto ocorrido no
momento em que se fala, “pretérito” ou “passado”, que designa um facto ocorrido antes do
momento em que se fala, e o “futuro” que designa um facto ocorrido após o momento em que se
fala.
Em muitas línguas bantu o tempo é lexicalizado e pode compreender várias divisões que podem
ser expressas através de diferentes morfemas independentes (Mutaka e Tamanji, 2000 citado por
Quiraque, 2016). Mais do que exprimir o tempo (passado, presente, e futuro), em que a acção
expressa pelo verbo se realiza, tal como a língua portuguesa e algumas línguas bantu (como
Makhuwa, Sena, Tonga, etc.), a língua tewe também divide a linha do tempo de forma
diferenciada, dependendo do momento em que uma determina acção decorre, resultando, assim,
em diferentes números e morfemas que marcam o tempo em causa, como veremos na descrição a
seguir.
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2.4.1. Morfemas Do Tempo Futuro
Um dos momentos em que uma acção pode ocorrer referenciado por Cunha e Cintra, (2002)
citados por Quiraque (2016) é o futuro. Na língua tewe o futuro pode ser marcado de duas
formas diferentes, como podemos observar nos seguintes exemplos:
4. a) inini ndi-ca-won-a ‘eu verei (hoje, amanhã)’
eu MS-F.Prox.-ver-VF
b) inini ndi-ca-ry-a ‘eu comerei (hoje, amanhã)’
eu MS-F.Prox.-comer-VF
c) inini ndi-ca-rim-a ‘eu cultivarei (hoje, amanhã)’
eu MS-F.Prox.-cultivar-VF
d) inini ndi-cazo-won-a ‘eu hei-de ver (próxima semana ou mês)’
eu MS-F.Dist.-ver-VF
e) inini ndi-cazo-ry-a ‘eu hei-de comer (próxima semana ou mês)’
eu MS-F.Dist.-comer-VF
f) inini ndi-cazo-rim-a ‘eu hei-de cultivar (próxima semana ou mês)’
eu MS-F.Dist.-cultivar-VF
Os exemplos em (4) demonstram que a acção ocorrerá após o momento em que se fala. Em (4a-
c), o morfema que indica a marca do tempo futuro é o -ca- e em (4d-f), o morfema que também
indica a marca do mesmo tempo é -cazo- (Quiraque, 2016).
Repare-se que, nesta língua, para indicar o futuro distante, mantém-se o morfema da marca do
futuro próximo -ca- e a ele é acrescentado um outro elemento (-zo-), ficando -cazo- para indicar
que esta acção será realizada num futuro mais distante ainda (Quiraque, 2016).
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2.4.2. Morfemas do Tempo Passado
O outro tempo em que uma acção pode ocorrer, referenciado por Cunha e Cintra, (2002) citados
por Quiraque (2016) é o passado. Este indica um facto ocorrido antes do momento em que se
fala. O passado na língua tewe pode ser marcado de três formas. Consideremos os seguintes
exemplos:
Em (5a-c) estamos perante um “passado recente”, que é marcado pelo morfema -a- antecedido
do morfema nd(i)- que indica a marca do sujeito e precedido pelos radicais verbais -won- (‘ver’),
-ry- (‘comer’) e -rim- (‘cultivar’). A afixação da marca do passado é resultado da aplicação de
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uma regra fonológica para resolução de hiatos, visto que em alguns casos, nestas línguas não é
aceite a sequência de vogais. Neste caso, a marca de sujeito é o morfema nd(i)- onde o /i/ sofreu
elisão, para evitar o hiato que forma quando se acrescenta à estrutura da forma verbal marca de
tempo recente, -a- (Quiraque, 2016).
Nos exemplos (5d-f), estamos perante um “passado médio” onde a acção é realizada no
momento não muito recente em relação ao momento da fala, mas também não se refere a um
momento remoto. Este passado é marcado pelo morfema -aka- que aparece logo depois da marca
de sujeito ndi- e precedido pelos radicais verbais (Quiraque, 2016).
Por fim, nos exemplos (5g-i) estamos perante o “passado remoto” marcado pelo morfema
-akazo-. Este morfema também aparece logo depois da marca de sujeito nd(i)- e precedido pelos
radicais verbais. Quando pronunciado este enunciado, o ouvinte percebe que se trata de uma
acção que aconteceu há muito tempo em relação ao momento da fala. E, em alguns momentos,
este passado deixa impressão de que o acontecimento já não é muito importante por ter passado
muito tempo depois da sua realização.
Portanto, na língua tewe, o passado é dividido em três momentos, a saber: “recente” (-a-),
“médio” (-aka-) e “remoto” (-akazo-) (Quiraque, 2016).
Até então abordamos os tempos: passado e futuro. Importa salientar que na análise dos nossos
dados da língua tewe, não constatamos casos de simetria na repartição destes tempos, pois,
enquanto o futuro é repartido em dois (2) momentos em que a acção ocorre (próximo e distante),
o passado é repartido em três (3) (recente, médio e remoto) (Quiraque, 2016).
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facilmente se deixa confundir com o aspecto 3 [...]”. Ainda na perspectiva deste autor, quando
pronunciamos uma sentença onde as formas verbais estão flexionadas no presente, não tem nada
a ver com o facto de os actos referidos eventos estarem a decorrer agora ou no momento de fala.
Nesta perspectiva, tal como em outras línguas bantu, a língua tewe não é uma excepção do
fenómeno acima. Contudo, apesar do tempo presente ser marcado de diferentes momentos
aspectuais, cada língua vai ter suas estratégias de como marcar este fenómeno, e
consequentemente a sua posição na estrutura de forma verbal vai variar de língua para língua
(Quiraque, 2016). Atentemos aos seguintes exemplos:
6.a) inini ndi-no-won-a ‘eu vejo’
eu MS-Asp.Hab.-ver-VF
b) inini ndi-no-ry-a ‘eu como’
eu MS-Asp.Hab.-comer-VF
c) inini ndi-no-rim-a ‘eu cultivo’
eu MS-Asp.Hab.-cultivar-VF
d) inini ndi-ri ku-won-a ‘eu estou a ver’
eu MS-V.Aux./Asp.Dur. PV-ver-VF
e) inini ndi-ri ku-ry-a ‘eu estou a comer’
eu MS-V.Aux./Asp.Dur. PV-comer-VF
f) inini ndi-ri ku-rim-a ‘eu estou a cultivar’
eu MS-V.Aux./Asp.Dur. PV-cultivar-VF
Nos exemplos (6a-c) estamos perante o “aspecto habitual ou factual”. Este momento de
ocorrência de uma ação dentro um determinado tempo (presente) é marcado pelo morfema -no-
que se encontra na posição central entre as marcas do sujeito ndi- e os radicais verbais -won-
(ver’), -ry- (‘comer’), -rim- (‘cultivar’) (Quiraque, 2016).
Nos exemplos (6d-f), estamos perante o “aspecto durativo”. Este aspecto é marcado pelo “verbo
auxiliar defectivo” (-ri) o qual se afixa a marca do sujeito ndi- precedendo os verbos principais
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Segundo Ngunga (2014, p. 182) citado por Quiraque (2016), o “aspecto indica a maneira como os factos referidos
pelo verbo acontecem num determinado tempo [...]. [...] o aspecto caracteriza a forma como os acontecimentos se
dão no interior de uma unidade de tempo, seja no passado presente ou futuro, podendo perceber-se como um acto
completo (aspecto perfectivo) ou não completo (aspecto imperfectivo)”.
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no infinitivo (kuwona ‘ver’, kurya ‘comer’, kurima ‘cultivar’) marcado por ku- e a vogal final –a
(Quiraque, 2016).
Segundo Mberi (2002) citado por Quiraque) 2016), o estudo dos verbos auxiliares nas línguas
bantu tem merecido especial atenção para vários autores (Cole 1955; Mkhatshwa 1991; Paulo
1999; Slattery 1981, entre outros citados por Quiraque, 2016). Estes autores afirmam que o mais
importante nos verbos auxiliares é que estes devem ser seguidos por outra forma verbal (verbo
principal), que carrega consigo o significado lexical das frases.
Para Dembembe (1987) citado por Mberi (2002, p. 5) citado por Quiraque, 2016, “na língua
shona4, podemos identificar dois tipos de verbos auxiliares”. Os primeiros são “verbos auxiliares
defectivos” (que têm uma estrutura constituída por uma consoante e uma vogal (CV)), e os
segundos tipos de “verbos auxiliares deficientes” (Doke1990, Hannsn’s 1984 citado por Quiraque,
2016). De acordo com Jefferies et al (1994) apud Mberi op. Cit citado por Quiraque, 2016, estes
últimos aparecem de forma congelada (aglutinada) a forma verbal, ocorrem no interior da forma
verbal e geralmente seguem qualquer marca de tempo, aspecto ou modo.
Uma das características importantes que distingue verbos auxiliares defectivos dos lexicais, é
que os primeiros não podem conter consigo nenhum afixo derivacional. A outra característica
que os distingue é que os verbos auxiliares defectivos não carregam, na sua estrutura, o prefixo
do objecto como afixos flexionais (Mberi, 2002, p. 36 citado por Quiraque, 2016).
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Shona é o nome dado a um grupo de línguas africanas (chamadas de línguas bantu) faladas principalmente na
metade norte do Zimbabwe (províncias de Mashonaland Central, Este e Oeste,), no leste da Zâmbia e no centro de
Moçambique. A língua Shona propriamente dita é dominante no Zimbabwe e ensinada nas escolas. As línguas deste
grupo faladas em Moçambique são: ciWutee, ciManyika (faladas nas províncias de Manica), e ciNdau, (falada nas
províncias de Manica e de Sofala).
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Portanto porque a língua em estudo faz parte de línguas do grupo Shona (S.10, na classificação
de Guthrie 1967-71), os verbos auxiliares também ocorrem, como podemos ver nos exemplos
(6d-f) e (7a-i). Para além do verbo auxiliar defectivo -ri ‘ser’ e/ou ‘estar’ (no presente)
mencionado por Mberi (2002) citado por Quiraque (2016), também encontramos nas línguas
pertencentes a este grupo, outros verbos auxiliares defectivos5. Observemos os exemplos abaixo:
Em (7) encontramos exemplos de alguns verbos auxiliares defectivos na língua tewe. Em (7a-c)
temos o verbo auxiliar defectivo -nga ‘ser’ e/ou ‘estar’ (no passado); em (7d-f), encontramos o
5
A noção de verbos auxiliares defectivos acima não deve ser confundida com os verbos defectivos da língua
portuguesa, pois, segundo Coelho (2013, p. 94-95) citado por Quiraque (2016), em Português diz se defectivos aos
verbos que, na conjugação, não apresentam algumas das formas. Exemplo: O verbo doer só se conjuga nas terceiras
pessoas, em todos os tempos (dói e doem no presente do indicativo e doa e doam no imperativo); o verbo prazer
possui apenas as formas correspondentes as terceiras pessoas (praz, prazem (presente do indicativo) e prazerá e
prazerão (futuro)); o verbo computar faltam as primeira, segunda e terceira pessoas do singular no presente do
indicativo, (só se usa computamos, computais e computam).
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verbo auxiliar defectivo -bva ‘acabar de’ e, finalmente, em (7g-i), encontramos o verbo auxiliar
defectivo -ti ‘dizer’ (passado) ‘, etc. Uma das informações importantes a tecer nestes exemplos, é
que diferente do que acontece nos exemplos (6d-f), onde o verbo auxiliar defectivo -ri carrega
consigo a informação de aspecto durativo, nos exemplos (7a-i), a marca do tempo aparece
isolada a do verbo auxiliar (Quiraque, 2016).
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3. CONCLUSÃO
Para responder os objectivos específicos do estudo apresentado no desenvolvimento, concluo
que: morfemas versais são as palavras variáveis em tempo e modo que exprime basicamente o que se
passa, isto é, é o acontecimento representado no tempo (acção, estado ou fenómeno). Pois,
sintacticamente o verbo não possui um papel exclusivo, mas possui função obrigatória de predicado,
mesmo que não seja seu núcleo.
Na Morfologia Verbal, a Língua Tewe ocorre em três tempos, que são respectivamente: passado,
presente e futuro. Ainda incluem-se os verbos auxiliares.
As Línguas Africanas Bantu possuem duas características que evidenciam a sua total ou parcial
distinção com as outras línguas não bantu: primeiro, são línguas aglutinantes, isto é, a palavra é
formada por afixação de morfema ou afixos presos a outro morfema (raiz) que constituem o
núcleo da palavra. A raiz possui uma estrutura verbal básica de tipo consoante, vogal, consoante.
E, apesar de ter esta estrutura como básica, existem, nestas línguas, verbos com estruturas mais
extensas ou ainda mais reduzidas que a estrutura básica. As outras raízes podem ser formadas por
um prefixo verbal que marca a forma infinitiva (ku-), radical verbal e a vogal final que
geralmente é -a. Realça-se que para o caso de Moçambique o prefixo verbal do infinitivo pode
variar para Gu- e O-, dependendo de cada língua bantu do país.
Segundo é o indicador do género dos nomes. Isto é, nestas línguas, os indicadores de género,
devem ser prefixos, através dos quais os nomes podem ser distribuídos em classes cujo número
geralmente varia entre 10 e 20. Salienta-se que, nas línguas bantu o conceito de género não se
refere ao que na língua portuguesa entende-se como a escolha ou opção pelos papéis sociais
preferenciais de pertença que o indivíduo de sexo, característica biológica, masculino ou
feminino pode ter, ou ainda a distinção de género humano, animal e objecto como é considerado
nas línguas de sinais, mas sim ao número dos elementos nominais (singular e plural)
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3.1. Referências bibliográficas
Quiraque, Z. A. S. e Paula, M. H. (2017). Morfemas de marcação do tempo verbal na língua
tewe. Acessado no dia 04-06-202, pelas 20:45. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/314078513_MORFEMAS_DE_MARCACAO_DO_T
EMPO_VERBAL_NA_LINGUA_TEWE
Quiraque, Z. A. S. (2016). Morfologia da Língua Africana Tewe: Estudo dos Morfemas – AKA
– Na Estrutura da Forma Verbal. Acessado no dia 04-06-202, pelas 20:40. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/314078603_MORFOLOGIA_DA_LINGUA_AFRICA
NA_TEWE_Estudo_Dos_Morfemas_-AKA-_na_Estrutura_da_Forma_Verbal
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