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Tutelas Provisórias

1- Noções gerais

Tutelas provisórias
Espécies Tutelas de urgência Tutela cautelar Incidental e
antecedente

Tutela antecipada Incidental e


antecedente
Tutelas de Direito evidente
evidência
Abuso de direito de
defesa ou prática
protelatória

1.1- Ponto de diferença entre as tutelas de urgência e evidência


- Tutela de evidência se funda na densidade da prova e a tutela de urgência, por sua
vez, no perigo da demora.
- Requisitos das tutelas de urgência são o periculum in mora e o fumus boni iuris, e
da tutela de evidência, basta a plausibilidade do direito pleiteado, não sendo
necessário o perigo de risco causado pela demora do processo.
-Em regra, as tutelas de evidência não podem ser utilizadas de forma antecedente.

1.2- Ponto em comum entre as tutelas de urgência e evidência:

- técnicas de acelerar a solução da lide com decisões provisórias, que não fazem
coisa julgada, mediante uma cognição sumária;
- visam distribuir o ônus do processo de forma equânime;
- as decisões sobre elas desafiam recurso de agravo de instrumento.
- em regra, não podem ser concedidas de ofício, pois não há previsão legal para
tanto, salvo os casos que o NCPC consagra expressamente, como no caso de
arresto do artigo 830 e no caso de reserva de bens no inventário, do artigo 643
NCPC.

2- Tutelas de urgência

2.1- Regras gerais

- Espécies: Tutelas de urgência cautelares ou conservativas e tutelas de urgência


antecipadas ou satisfativas
- Poder geral de cautela- o juiz poderá determinar qualquer medida assecuratória, não
existindo medidas típicas e atípicas. (artigo 297 e 301 do NCPC)
-Requisitos: periculum in mora: perigo de dano para a utilidade do processo (cautelar)
ou para o direito subjetivo da parte (antecipada) em face da duração do processo
fumus boni iuris ou probabilidade ou plausibilidade do direito: indicar o
direito que pretende pleitear e a causa de pedir (mera descrição demonstrando a
credibilidade do direito, que será reconhecida prima facie e em cognição sumária)
reversibilidade: artigo 300, §3º NCPC- ou seja, deve ser possível a
reconstituição do estado de coisas, não bastando ser indenizável. Este requisito deve ser
analisado dentro do processo e tendo em vista a urgência da medida e a verossimilhança
da alegação, que se forem fortes, podem relativizar o requisito da reversibilidade,
usando, para tanto, o princípio da proporcionalidade.
-Fungibilidade: tendo em vista a unificação dos requisitos, apesar das medidas de
urgência terem finalidades diferentes, o juiz pode receber uma tutela como se outra
fosse (artigo 305 do NCPC), dependendo da especificidade do caso concreto.
- Contracautela: quando existir riscos para o requerido o juiz pode determinar a
caução (artigo 300 § 1º), de ofício ou a requerimento da parte, caso o magistrado se
omita.

2.2 Tutelas de urgência cautelares ou conservativas

- Artigos 305 a 310 NCPC


- Finalidade: assegurar utilidade do processo, conservando bens, pessoas ou provas
contra lesão ou ameaça de lesão causada pela duração do processo
- Espécies: antecedente ou incidental (no curso da demanda)
- Requisitos: fumus boni iuris e o periculum in mora (maior peso)
a) Tutela cautelar antecedente

- Será pleiteada por meio de uma petição inicial, dirigida ao juízo competente para a
ação principal;
- a petição inicial não inaugura uma demanda;
- Requisitos da Petição Inicial: artigo 319 e 305 do NCPC: indicar a lide e seu
fundamento (apenas de forma superficial, para que se perceba o interesse de agir e a
viabilidade jurídica do pedido), indicar o direito que visa assegurar (fumus boni iuris) e
o perigo que a demora do processo pode causar, que deve estar totalmente comprovado;
- Se o processo principal for inviável, impossível, a tutela será indeferida;
- pedido de cautela;
- pode pedir liminar inaudita altera partes com ou sem justificação prévia (art. 300, §
2º)
- valor da causa: o do pedido principal
- pagamento de custas.
- Legitimados: autor ou réu
- Contestação: citado para contestar em 05 dias ( após o deferimento da liminar ou do
despacho da inicial), após segue o procedimento comum (art. 307, p. único)
- Decisão: é uma decisão interlocutória, provisória que desafia o recurso de agravo de
instrumento (art.1015, I NCPC);
- Decisão que deferir a cautelar: a parte tem 30 dias para promover a ação principal, nos
mesmos autos e sem novas custas, sob pena da cautelar perder seus efeitos (art. 308,
caput).
Contagem do prazo de 30 dias: contados da intimação da concretização da medida
cautelar
- Ação principal:
- Na ação principal o réu e o autor serão intimados para comparecer à audiência de
conciliação, sem precisar de nova citação do réu (art. 308, § 3º);
- A parte pode aditar a causa de pedir (fatos e fundamentos jurídicos) na petição inicial
da demanda principal (art. 308, § 2º).

- Se não houver acordo, o requerido será intimado para contestar


- Decisão que indefere a cautelar:
- extingue o processo sem julgamento de mérito e cessa a cautelar que porventura tenha
sido concedida liminarmente;
- a parte poderá, mesmo assim, propor nova demanda, salvo se for caso de decadência
ou prescrição da demanda principal, pois se trata de decisão de mérito, fazendo coisa
julgada; (art. 310)
- não poderá formular novamente o pedido cautelar, salvo com nova causa de pedir.

Art. 309.  Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente, se:

I - o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal;

II - não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias;

III - o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou


extinguir o processo sem resolução de mérito.

Parágrafo único.  Se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é
vedado à parte renovar o pedido, salvo sob novo fundamento.

b) Tutela cautelar incidente e liminar (art. 308, § 1º)


- pleiteada junto com a petição inicial (ou em qualquer momento do processo)
- será impugnada com a contestação da demanda inicial (ou, quando em outro momento,
o juiz dará oportunidade ao contraditório antes de decidir);
- não possui um procedimento próprio, seguindo toda a demanda o procedimento
comum.

2.3 Tutelas de urgência antecipadas ou satisfativas


- Art. 303 e 304 do NCPC
- Finalidade: garantir o direito material da parte;
- Conteúdo: antecipam os efeitos que se espera da procedência do pedido da demanda
principal;
- Requisitos: fumus boni iuris (pedido principal deve ser plausível e possível; é o
requisito mais forte) e o perigo da demora do processo ao direito subjetivo da parte;
- Espécies: antecedente e incidental
a) Tutela antecipada antecedente
- Espécies: estabilizável e não estabilizável

a.1) Tutela antecipada antecedente estabilizável

- Motivo: O Novo CPC criou um procedimento de cognição sumária, rápido que


permita que uma medida antecipatória do pedido possa se estabilizar no tempo, sem que
haja necessidade de um procedimento comum, fundado na plausibilidade do direito da
parte e na não resistência do requerido em cumprir a medida (sem recurso). Se isso
ocorrer, a medida fica estável, sem necessidade de propositura da demanda principal
(não faz coisa julgada).
- Objetivo: celeridade, garantindo que uma liminar que foi cumprida e não resistida
possa produzir efeitos sem precisar do processo principal, quando as partes se dão por
satisfeitas com o cumprimento da tutela, uma vez que ela nem sempre coincide com o
pedido principal.
- CPC de 1973: a parte que obtivesse uma liminar que a satisfizesse, deveria continuar
com o processo principal para ver a liminar de tutela antecipada confirmada. No NOVO
CPC, se a parte se der por satisfeita com o cumprimento da liminar, não precisa entrar
com a demanda principal, a tutela produzirá efeitos.

- Requisitos da Petição Inicial: fumus boni iuris e periculum in mora e indicar na


petição inicial que irá seguir o rito do artigo 303 (artigo 303, § 5º), para que se possa ter
a estabilização da tutela antecipada antecedente, além dos requisitos do art. 319. Deve
ser proposta no juízo competente para a demanda principal.

-Após a propositura do pedido de tutela antecipada, juiz pode:

- Emendar a inicial (artigo 303 § 6º): se não houver elementos para a concessão da
tutela antecipada o juiz mandará o autor emendá-la em 5 dias sob pena de
indeferimento;
- Indeferir o pedido: o processo é extinto sem julgamento de mérito, desafiando o
recurso de agravo de instrumento, sem citação do réu, que será intimado para o recurso.
Não impede que seja proposta a demanda principal;
- Deferimento: o requerido é intimado para cumprir a decisão; abre-se prazo para ele
recorrer (ag. Instrumento em 15 dias)
OBS.: Não existe um momento para a contestação do requerido, que somente poderá
impugnar a tutela concedida em sede de agravo de instrumento e se não quiser cumpri-
la deverá solicitar o efeito suspensivo ao relator
- Se não houver recurso: a tutela antecipada se estabilizará (mas não fará coisa julgada);
qualquer das partes pode propor a demanda principal nos próximos 2 anos. Após este
prazo decadencial, a tutela antecipada se estabiliza definitivamente, não podendo ser
mais modificada ou revogada (art. 304)
- Se houver recurso: a tutela antecipada não se estabilizará, devendo a parte autora
propor a demanda principal no prazo de 15 dias.

- Contagem do prazo de 15 dias para propor a demanda principal: Para Humberto


Theodoro após findo o prazo para o recurso; Arruda Alvin, no entanto, destaca a
confusão da redação do artigo, uma vez que deve ser contado da concessão da tutela,
cuja data é anterior ao fim do prazo para o réu recorrer. Assim, o autor pode se ver
obrigado a entrar com a ação principal, antes de terminar o prazo para o réu recorrer e,
portanto, antes de saber se a tutela se estabilizará, o que pode tornar desnecessária a
ação principal proposta.
- Demanda principal: o autor irá aditar a inicial para complementar a sua argumentação,
juntar novos documentos e requerer a confirmação da tutela final (art. 303, §1º, I)
- Procedimento: o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação ou mediação
e se não houver composição, deverá apresentar contestação, seguindo o processo o
procedimento comum.
- Sentença: irá confirmar, revogar ou reformar a tutela antecipada e julgar o pedido
principal (caso a tutela concedida tenha sido mantida na decisão sobre o agravo o juiz
não pode modificá-la ou revogá-la antes da sentença, art. 304, § 3º)

a.2) Tutela antecipada não estabilizável


- Não tem previsão expressa, interpretação sistêmica e analógica;
- segue o mesmo procedimento da cautelar.
- pode ser antecipatória: ou seja, antes da demanda principal, e nesse caso a parte deve
indicar que não seguirá o rito do art. 303 do CPC, devendo propor a ação principal em
30 dias, sob pena de sessar a medida; o réu será citado para contestar em 5 dias.
-pode ser incidental: segue o procedimento comum.

OBS.: Em nenhum dos casos da tutela não estabilizável, a tutela deferida terá seus
efeitos estabilizados, devendo ser confirmada na decisão final.

3- Tutela de evidência (art. 311 do NCPC)

- Finalidade: proteger o direito material da parte, sem que haja perigo a ele em razão do
tempo do processo. Funda-se na robusteza do direito da parte, ou seja, na evidência do
direito da parte, que não deve ser frustrada de fruir dos efeitos de seu direito que é
evidente, em razão do tempo do processo.
- Requisitos: juízo de liquidez e certeza do direito da parte e existência de uma das
hipóteses legais
- Provisória: não faz coisa julgada material, por isso é diferente do julgamento
antecipado do mérito (onde a causa já está madura, não precisando de uma fase
probatória mais extensa)
- Pontos em comum com a tutela de urgência: são provisórias, visam distribuir melhor o
ônus da duração do processo, seja em razão do risco (urgência) seja em razão da
evidência do direito (evidência);
- Diferenças com a tutela de urgência: exigem prova mais robusta do direito, são
hipóteses específicas, não figurando o poder geral de cautela; não há necessidade de
perigo; não podem ser, em regra, concedidas antecipadamente (a doutrina, em sua
maioria, entende que para os casos que se admite a concessão liminar, pode existir a
tutela de evidência antecedente)
- Exemplo: processo para devolver taxa em que já existe recurso repetitivo entendendo
que ela deva ser devolvida.
-Hipóteses:
I- Abuso do direito de defesa ou propósito protelatório
- No caso do abuso do direito de defesa, a tutela só pode ser requerida pelo autor, e o
propósito protelatório pelas duas partes;
- Não basta provar a ocorrência da hipótese, o direito da parte deve ser evidente,
demonstrando a injustiça da demora do processo de forma indevida, pois não se trata de
mera sanção à parte que age com dolo processual.
II- Alegação de fato comprovado apenas por documento e com precedente em
julgamento de caso repetitivo ou súmula vinculante;
- só pode ser usada quando em liminar, do contrário, já existindo contestação, o juiz, em
não precisando de outras provas, prolatará julgamento antecipado do mérito;

III- Contrato de depósito


- o Novo CPC extinguiu a ação de depósito, que não era mais usada para fazer cumprir
contrato de depósito desde que o STF sumulou ser inconstitucional a prisão do
depositário infiel; passou-se então a fazer uso da execução de contrato (título
extrajudicial);
- agora, quando o depositário não devolver o bem, a depositante pode entrar com uma
demanda pelo procedimento comum e pede liminarmente a tutela de evidência a
entrega do bem, sob pena de multa (astreinte) fixada pela juiz.
- fundamento: existência de prova do direito em função do contrato de depósito
IV- Prova documental suficiente, sem prova do réu que gere dúvida razoável

- só pode ser concedida de forma incidental, mas a prova não pode ser cabal, precisando
ainda de outras provas

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