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A chegada da Família Real e as transformações experimentadas no Brasil.

Quando observamos a situação da colônia brasileira no século XVIII, notamos


a presença de várias rebeliões que questionaram ou defenderam a extinção do
pacto colonial. Contudo, apesar das insatisfações, percebemos que o nosso
processo de independência aconteceu pela influência de fatores ligados às
relações políticas dos países europeus e o desenvolvimento do capitalismo
industrial.

No começo do século XIX, a França passava por um processo revolucionário


francamente combatido pelas demais monarquias da Europa. Além disso, o
governo francês, então liderado por Napoleão Bonaparte, enfrentava sérias
dificuldades econômicas que impediam a imposição do novo governo. Nesse
contexto, a Inglaterra era a principal adversária da França Revolucionária, seja
em âmbito político ou econômico.

Para superar as dificuldades vividas, Napoleão decidiu proibir que qualquer


nação do continente europeu realizasse comércio com os britânicos. Com isso,
enfraqueceria seus rivais e poderia conquistar novos mercados. No entanto,
várias nações da Europa dependiam enormemente da indústria inglesa e não
poderiam simplesmente esperar que os franceses assumissem o papel
econômico britânico da noite para o dia.

Em pouco tempo, alguns países descumpriram a exigência de Napoleão e


este, por sua vez, invadiu vários países da Europa. Integrando esse grupo de
insurretos, o governo português temia que Napoleão dominasse em um só
tempo o território lusitano e suas ricas possessões coloniais. Dessa forma, o
príncipe regente Dom João VI realizou a inusitada transferência da família real
para o Brasil com auxílio das tropas britânicas.

Mais do que uma simples mudança, tal fato promoveu profundas


transformações no cenário político e econômico brasileiro. Respondendo à
prontidão da ajuda dos ingleses, D. João VI estabeleceu a liberdade de
comércio dos portos brasileiros com as embarcações de qualquer parte do
mundo. Com isso, pagando um taxa alfandegária preferencial, as mercadorias
inglesas inundaram a economia nacional e impediram o desenvolvimento da
indústria local.

Os grandes proprietários da colônia foram amplamente beneficiados com a


ampliação das liberdades comerciais. Além de possibilitar o acesso a uma
maior gama de produtos industrializados, a abertura dos portos concedeu um
visível alargamento dos lucros obtidos com a comercialização dos gêneros
agrícolas com as nações da Europa. Nesse sentido, vemos que a
administração joanina ganhou uma relativa sustentação política.

No entanto, vemos que essa nova página da história brasileira não significava
apenas uma nova fase de benefícios. Em Pernambuco, uma revolta de
natureza republicana foi contra a elevação dos impostos promulgada por Dom
João VI. O aumento das tarifas foi um desdobramento da ampliação dos cargos
públicos e o envolvimento em guerras que prejudicavam o equilíbrio das
finanças governamentais.

Por fim, na década de 1820, uma revolução liberal em solo lusitano exigiu não
só o retorno de D. João VI para a Europa, bem como o fim das concessões
oferecidas ao Brasil. A partir desse momento, integrantes da elite local se
movimentaram em torno da possibilidade da independência. Para tanto,
valeram-se das ambições do jovem Dom Pedro I, que encerrou esse período
oficializando a autonomia do Brasil às margens do rio Ipiranga.

Administração Joanina no Brasil (1808-1821):


O processo de criação de um Estado independente
Francisco Luiz Teixeira Vinhosa

Escrever sobre d. Joao VI no Brasil e escrever a historia de um periodo


marcado
pelas contradicoes. Ora vemo-lo tomando posicoes importantes, decisivas,
em momentos
certos. Mas, por outro lado, vemos que manteve aqui um sistema
administrativo arcaico,
ultrapassado, com a criacao de algumas instituicoes, inuteis aqui,
simplesmente pelo fato de
existirem em Portugal; quase sempre criadas para dar um meio de
subsistencia ao grande
numero de reinois que embarcaram com a familia real, o que gerou muita
corrupcao.
Assim, a historiografia sobre o periodo, sejam os escritos dos cronistas, ou dos
historiadores daquele importante momento, e sempre marcada por essa
dicotomia: ora
cantam loas a obra do principe, depois rei, mais adiante fazem criticas acerbas.
O saldo, no
entanto, e sempre muito positivo para as medidas administrativas de d. Joao,
que quando
retornou a Portugal, em 1821, deixou aqui um Estado independente.
A transferencia da familia real para o Brasil em 1807, chegando o principe
regente a
Bahia em janeiro de 1808, nao foi o resultado de uma ideia nova. Desde o
seculo XVI
pensava-se nesta hipotese devido as dificuldades internas, lutas sucessorias,
guerras contra
os espanhois. Mas so em 1807 ela se concretizou devido ao agravamento dos
conflitos
internacionais, entre a Franca e a Inglaterra, como resultado da Revolucao
Francesa, que
tiveram profunda repercussao em Portugal, que conseguira manter a
neutralidade mediante
concessoes aos interesses ingleses e pela aceitacao de uma tutela virtual do
imperio frances
ate 1807, quando teve seu territorio invadido pelo exercito frances. Esta fuga
estrategica foi
o grande momento historico de d. Joao.
Ao estudarmos a administracao publica na epoca de d. Joao VI no Brasil,
observamos que a bordo da frota que trouxe a familia real para o Rio de
Janeiro, ja estavam
presentes os elementos essenciais de um Estado soberano: o alto escalao das
hierarquias
civil, militar e religiosa, membros da alta sociedade, da classe de profissionais e
de homens
 Professor Adjunto-Doutor do Departamento de Historia da UFMG. Socio
titular do IHGB. Academico
correspondente da Academia Portuguesa da Historia

1
de negocios e os apetrechos de governo. Conforme ressalta Alan Manchester,
“toda a
maquinaria do Estado estava sendo transportada, armas e bagagens, para
uma nova sede
alem-mar onde deveria criar raizes e prosseguir sua rotina costumeira”.
1
Alem dos membros da familia real e dos elementos que compunham a alta
hierarquia administrativa portuguesa, vinham tambem outros elementos, do
segundo
escalao, mas de grande destaque na administracao de um Estado soberano e
varios homens
de negocios que aqui exerceram grande influencia. A esses elementos, de
tanta utilidade
para a sociedade de entao, somavam-se outros que Otavio Tarquinio de Souza
classificou
como “um imenso sequito de fidalgos e funcionarios mais ou menos poltroes,
mais ou
menos parasitas”.
2
O ano de 1808 deu inicio a um processo que em 1815 definiu-se
juridicamente em
nivel internacional pela elevacao do Brasil a categoria de Reino Unido a
Portugal e
Algarves. Manchester, referindo-se a este periodo ressalta que
“a colonia se tinha transformado num estado autonomo, com suas
hierarquias politica, religiosa e
social proprias, e seu proprio mecanismo de governo, suas
caracteristicas sociais e educacionais, e o
direito de autodeterminacao na politica economica. A Mae-patria e a
colonia estavam unidas, mas no
curso dos acontecimentos a colonia se tornaria efetivamente a Mae-
patria”.
3
Era o processo da “inversao da metropole”. Ainda na Bahia, no dia 28 de
janeiro de
1808, o principe regente decretou a abertura dos portos as nacoes
amigas. Medida que
colocou fim ao pacto colonial.
Imediatamente apos o seu desembarque no Rio de Janeiro, d. Joao deu
continuidade
a obra que iniciara na Bahia, implantando um sistema administrativo que
marcaria
profundamente sua regencia e reinado em terras americanas. Dentre os mais
importantes
orgaos administrativos do estado portugues instalados no Rio de Janeiro
tivemos: os
1
MANCHESTER, Alan K. A transferencia da corte portuguesa para o Rio de
Janeiro. In: Revista do IHGB, v.
277, 1967. p. 18.
2 SOUSA, Otavio Tarquinio de. História dos fundadores do império do Brasil.
Rio de Janeiro: J.
Olympio, 1957. V. IX, p. 167.
3 MANCHESTER, Preeminência inglesa no Brasil. Sao Paulo: Brasiliense,
1973. Citado em BARBOSA,
Francisco de Assis. “O Brasil de D. Joao VI”. Comunicacao as primeiras
Jornadas de Historia Moderna,
Centro de Historia da Universidade de Lisboa. Lisboa, 1986. p. 15.
2
ministerios do Reino, da Guerra e Estrangeiros e o da Marinha e Ultramar. Em
1821 o
Erario Regio passou a ser o ministerio da Fazenda.
Instalaram-se ainda outros orgaos, como o Conselho de Estado o da Fazenda,
o
Supremo Militar, as Mesas do Desembargo do Paco e da Consciencia e
Ordens. A Relacao
do Rio e Janeiro foi transformada em Casa de Suplicacao, tendo funcoes de
tribunal
superior que julgava em ultima instancia. Instalou-se tambem a Intendencia
Geral dePolicia.
A abertura dos portos foi um ato de necessidade. A Coroa precisava de
um comercio
livre de cujas alfandegas pudesse arrecadar impostos, principal fonte de
renda publica da
epoca. Alem disso, com essa medida, legalizava o grande contrabando
existente entre a colonia e a Inglaterra e passava a recolher os tributos de
direito.
De inicio, os ingleses foram os principais beneficiados com a medida. O Rio de
Janeiro tornou-se um grande emporio dos manufaturados ingleses, destinados
nao apenas ao Brasil, mas tambem ao Rio da Prata e a costa do Pacifico. Ja
em agosto de 1808, o Rio de Janeiro contava com um nucleo de 150 a 200
comerciantes e agentes comerciais ingleses. Mas, a Inglaterra so assumiria a
hegemonia de fato sobre o mercado brasileiro a partir da assinatura, em
fevereiro de 1810, de um tratado de comercio e navegacao, “na forma e na
substancia o mais lesivo e o mais desigual que jamais se contraiu entre duas
nacoes independentes”, palavras textuais do diplomata e estadista portugues
duque de Palmela. O proprio Canning o considerou “odioso e impolitico”.
4
Por esse tratado, a tarifa a ser paga sobre as mercadorias inglesas exportadas
para o Brasil foi fixada em 15% ad valorem, o que deixava os produtos ingleses
em vantagem ate mesmo sobre os produtos portugueses, cuja taxa era de
16%, e a dos demais paises 24%. Quando posteriormente a tarifa portuguesa
foi igualada a inglesa, esta levava grande vantagem, uma vez que Portugal nao
tinha condicoes de competir em preco e variedade com os produtos ingleses.
5
Esse tratado frustara as tentativas de d. Joao de desenvolver a industria no
Brasil.
Um dos atos mais importantes de sua politica liberal, apos a abertura dos
portos, foi a
4 Apud BARBOSA, Francisco de Assis. Ob. cit., p. 18.
5 Para uma discussao mais pormenorizada sobre este tratado, ver: VINHOSA,
Francisco Luiz Teixeira.
Brasil sede da monarquia. Brasil reino. (2a parte). Brasilia: FUNDEP, 1984.
Cap. II. p. 23-34.
3
concessao as colonia portuguesas da liberdade de industria. O principe
regente, pelo alvará de 1o de abril de 1808, revogou o alvara de 1785, que
declarava extintas e abolidas asfabricas no Brasil, e “desejando promover e
adiantar a riqueza nacional”, tentou implantar
aqui manufaturas e industrias, o que promoveria o desenvolvimento
demografico e daria
ocupacao a uma parte da populacao que retiraria dai os meios de subsistencia
e nao se
entregaria “aos vicios da ociosidade”.6
Essa politica permitiu que a administracao joanina introduzisse a siderurgia no
Brasil. Ja em meados do seculo XVI tinham surgido engenhos de ferro em Sao
Paulo de
Piratininga. D. Joao, ciente da importancia da siderurgia, parte para retomar o
processo
interrompido apoiando-se em nomes de patriotas brasileiros, como Jose Vieira
Couto, Jose
Bonifacio de Andrada e Silva e Manuel Ferreira da Camara.
Em 1812, na fabrica Patriótica, em Congonhas do Campo, Minas Gerais, sob a
direcao do barao de Eschewege, utilizando fornos suecos, o ferro liquido correu
pela
primeira vez. No Distrito Diamantino, tendo comecado a funcionar em 1814, a
fabrica do
Morro do Gaspar Soares, do Intendente Camara, produziu, em alto forno, em
1820, 920
arrobas e meia de ferro gusa. Em 1818, em Sorocaba, Sao Paulo, o povo
carregou em
procissao tres cruzes de ferro fundido pelo coronel Varnhagen na Real Fábrica
de São
João de Ipanema.
Essas importantes iniciativas de d. Joao VI foram as mais significativas do
seculo
XIX para criar-se no Brasil a industria siderurgica. Com o retorno do rei a
Portugal, elas
praticamente desapareceram devido aos intricados problemas aqui existentes,
culminando
com a independencia em 07 de setembro de 1822; episodio que fez com que
retornassem a
Europa Eschwege e Varnhagen, praticamente os unicos capazes de dirigir o
desenvolvimento siderurgico no Brasil daquela epoca. Contudo, e inegavel a
importancia
das iniciativa de d. Joao VI. Calogeras ressalta que ate a decada de 1870,
quando da
instalacao da Escola de Minas (1876), a siderurgia no Brasil viveu “tao-somente
do impulso
adquirido sob a poderosa e inteligente acao de d. Joao VI e de seus
ministros”.7
Com o objetivo de formar novos quadros de pessoal no Brasil d. Joao abriu
varias
escolas de ensino superior: a Escola Medico-Cirurgica da Bahia (18/02/1808); a
Real
6 Ibidem. Cap. III. p. 43-51.
7 Apud VINHOSA, Francisco Luiz Teixeira. Ob. cit. p. 49. Ver tambem,
BARBOSA, Francisco de
Assis. Ob. cit., p. 20-1.
4
Academia dos Guardas-Marinha (transferida de Lisboa para o Rio de Janeiro a
05/05/1808); a Escola Anatomica Cirurgica e Medica do Rio de Janeiro
(05/11/1808); a
Academia de Artilharia e Fortificacoes (04/12/1810); a Real Academia Militar
(23/04/1811). Foram criados ainda, em 25 de junho de 1812 um curso de
agricultura na
Bahia e um laboratorio quimico no Rio de Janeiro. Finalmente, lembramos a
fundacao da
Escola Real de Ciencias, Artes e Oficio, depois Academia de Belas Artes
(12/08/1816),
com a celebre Missao Francesa.
Outra medida importante de d. Joao foi a instalacao da primeira tipografia no
Brasil,
a 13 de maio de 1808, quando inaugurou-se a Imprensa Regia, que a 10 de
setembro do
mesmo ano passou a imprimir a Gazeta do Rio de Janeiro, cujo aparecimento e
quase
simultaneo a Idade de Ouro do Brasil, na Bahia. Em materia de cultura, alem
da criacao
das escolas listadas e da Impressao Regia, a Mesa de Consciencia e Ordens
transfere-se de
Lisboa para o Rio de Janeiro, em 22 de abril de 1808; abre-se tambem a Real
Biblioteca
Publica em 29 de outubro de 1810.
D. Joao, buscando preencher o grande vazio demografico existente e
preparando-se
para por fim ao trafico de escravos, conforme exigencia da Inglaterra incentivou
a
imigracao estrangeira, de agricultores e artesaos, para isso fundando as
colonias de Santo
Agostinho, com Acorianos, no Espirito Santo, em 1812; as colonias alemas de
Leopoldina
de Sao Jorge dos Ilheus, na Bahia, em 1818; e a suica alema, em Nova
Friburgo, em 1819.
Outra grande medida foi a fundacao do Banco do Brasil, em 12 de outubro de
1808.
Mesmo levando-se em consideracao todos os beneficios conhecidos pelo
Brasil
entre 1808 e 1821, Oliveira Lima considera que a
“epoca de d. Joao VI estava contudo destinada a ser na historia brasileira, pelo
que diz respeito a
administracao, uma era de muita corrupcao e peculato, e, quanto aos costumes
privados, uma era de
muita depravacao e frouxidao, alimentadas pela escravidao e pela
ociosidade”.8
De fato, varias foram as medidas do principe regente para atender as
necessidades
de todos aqueles que precipitadamente deixaram as suas casas e bens e
emigraram para a
America. Assegurou pensoes num valor de mais de 164 contos de reis,
retirados do Erario
Regio, para que seus titulares e fidalgos pudessem subsistir decentemente, de
acordo com
8 LIMA, Manoel de Oliveira. D. João VI no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks,
1996. p. 84.
5
as suas posicoes. Os oficiais da Marinha e do Exercito foram promovidos. Os
eclesiasticos
receberam beneficios, ou empregos donde tiravam meios suficientes para
viverem. Alem
disso, “criou lugares e montou reparticoes para acomodar a todos que
careciam de meios de
subsistencia. Deu condecoracoes, postos, oficios e dignidades a uma grande
porcao de
habitantes da Bahia e do Rio de Janeiro”.9
De acordo com as palavras do conego Luis Goncalves dos Santos, o padre
Perereca,
“assim, nao houve uma so pessoa de tantas, que se expatriaram
voluntariamente pelo amor
de seu soberano que nao recebesse das suas liberais maos a recompensa de
tao grande
sacrificio, segundo a condicao, prestimo e capacidade das mesmas”.10
Segundo John
Luccock, em sua estatistica da populacao do Rio de Janeiro, nesta consta um
milhar de
empregados publicos e outro milhar de dependentes da Corte.11
Os habitantes do Rio de Janeiro sofreram ainda com a aplicacao do chamado
regime
das aposentadorias, que atingiu principalmente os mais abastados, isto e, os
alojados mais
comodamente, que tiveram de ceder suas habitacoes, atendendo exigencia
previa do vicerei,
conde dos Arcos, aos nobres, clerigos, militares e burocratas acompanhantes
da corte, e
foram procurar humildes residencias nos suburbios.
Tres dias apos a sua chegada ao Rio de Janeiro, a 10 de marco, d. Joao
demitiu o
ministerio que o acompanhara e nomeou imediatamente outro, assim
constituido: negocios
do Reino, d. Fernando Jose de Portugal e Castro, depois marques de Aguiar;
negocios do
Estrangeiro e da Guerra, d. Rodrigo de Sousa Coutinho, depois conde de
Linhares;
negocios da Marinha e Ultramar, d. Jose Rodrigues de Sa e Meneses, visconde
Anadia,
posteriormente conde. Todos os tres pertencentes em Portugal a faccao
anglofila.
Os quatro primeiros anos de d. Joao no Brasil, de 1808 a 1812, nos legou uma
obra
administrativa das mais ferteis e criadoras possiveis. O periodo foi inteiramente
dominado
pela personalidade do conde de Linhares e por sua incansavel acao
reformadora. Para
Oliveira Lima, “passava d. Rodrigo com razao pelo principal corifeu do partido
ingles”, e
sobre a sua incansavel atividade, ressaltou:
9 MORAIS, A J. de Melo. Corografia histórica, cronográfica, genealógica,
nobiliária e política do
Império do Brasil, contendo nocoes historicas e politicas etc. etc. Rio de
Janeiro: 1858-1863. p. 89.
10 SANTOS, Luis Goncalves dos (padre Perereca). Memórias para servir à
história do reino do Brasil.
Belo Horizonte: Itatiaia; Sao Paulo: USP, 1981. p. 184-5.
11 LUCCOCK, John. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do
Brasil. Belo Horizonte:
Itatiaia; Sao Paulo: USP, 1975. p. 29.
6
“d. Rodrigo nao so trabalhava como fazia os outros trabalharem, obrigando
todos os que o cercavam
a afeicoar-se em prol da regeneracao publica, e para isto repelindo os ociosos
e os corrompidos”. 12
Tracando um breve quadro cronologico do estado maior que assessorou d.
Joao VI
no Brasil, formando os seus reduzidos gabinetes de tres ministros para seis
pastas, Oliveira
Lima destacou a coincidencia entre as caracteristicas de cada fase com as
diferentes
influencias individuais que preponderaram nos treze anos de permanencia da
corte no Rio
de Janeiro. O periodo de 1808 a 1812 pertence a Linhares, inspirador e
responsavel por
muitas da maior parte das transformacoes vinculadas no Brasil ao nome
de d. Joao VI.13 A
esses primeiros quatro anos, seguiu-se dois anos de “relaxamento, de
descanso apos o lufalufa
das mudancas administrativas, judiciarias e sociais”.14
Entre 1814 e 1817, que na Europa assinalou a queda de Napoleao Bonaparte,
restauracao dos Bourbons e criacao da Santa Alianca, isto e, fatos que
demonstravam um
retrocesso nos principios revolucionarios, vigorou outro ministerio, onde
prevaleceu a
figura do conde da Barca, estigmatizado de pertencer ao “partido frances”. Em
1817, com a
morte do conde da Barca, d. Joao formou novo ministerio, que permaneceria
no poder ate
1821, quer dizer, durante os ultimos anos de seu governo no Brasil. 15
Oliveira Lima exalta a figura de d. Joao VI pela capacidade de governar com
assessores tao diversos e ressalta o seu valor para que,
“o progresso se mantivesse numa escala apreciavel, denunciando uma acao
mais ou menos
constante, mais ou menos vigorosa, porem, una e direta sobre a marcha que
tomava os
acontecimentos. Tal foi o papel do monarca que fundou a nacionalidade
brasileira: atraves dos
ministros agia a coroa, cuja direcao suprema apresentava as modalidades
diversas dos agentes que
encarnavam o impulso do movimento de transformacao contido na obra
administrativa”.16
Desde a chegada da Corte ao Brasil, coube papel importante na administracao
a d.
Fernando de Portugal e Castro, marques de Aguiar, responsavel pela Erario
Regio
(Fazenda) e Interior (Negocios do Reino). Entre os fidalgos que se
encontravam com o
12 LIMA, Oliveira. Ob. cit.. p. 124
13 Ibidem, p. 150.
14 Ibidem. p. 151
15 Ibidem.
16 Ibidem, p. 152.
7
principe regente, o marques de Aguiar era o que devia possuir melhores
conhecimentos
sobre o Brasil, uma vez que fora governador da Bahia e vice-rei no Rio de
Janeiro.
Se agindo conforme agiu d. Joao tinha um cuidado especial em implantar
no Brasil
instituicoes adequadas a sua nova realidade administrativa, essa sua
intencao nao foi bem
sucedida. Sofreu criticas inclusive do principal historiador da monarquia
no Brasil,
Francisco Adolfo Varnhagen, visconde de Porto Seguro, por ter entre os seus
colaboradores
o marques de Aguiar, que para o consagrado historiador era “prudente, integro
e sensato,
mas com todos os seus anos de mando no Brasil, desconhecia o pais em geral,
era pouco
instruido, e sobretudo nada tinha de grande pensador para ser o estadista da
fundacao do
novo imperio”.17
A critica que Hipolito da Costa fizera no Correio Braziliense de novembro de
1808,18 foi retomada por Varnhagen que considerou o marques de Aguiar
minguado de
faculdades criadoras, para retirar da propria cabeca e atraves de uma
imaginacao fecunda as
providencias que as necessidades do pais fossem ditando. Segundo Hipolito da
Costa, o
novo governo ia sendo arranjado de acordo com o Almanaque de Lisboa.19
Apenas
consultando o Almanaque, o marques de Aguiar parecia ter-se proposto a
satisfazer a
grande comissao que d. Joao lhe delegara,
“transpondo para o Brasil, com seus proprios nomes e empregados (para nao
falar de vicios e
abusos), todas as instituicoes que la havia, as quais se reduziam a muitas
juntas e tribunais, que
mais serviam de peias que de auxilio a administracao, sem meter em conta o
muito que aumentou
as despesas publicas, e o ter-se visto obrigado a empregar um sem-numero de
nulidades, pelas
exigencias da chusma de fidalgos que haviam emigrado da metropole, e que,
nao recebendo dali
recursos, nao tinham que comer”.20
Assim estabeleceu-se no Rio de Janeiro o Desembargo do Paco, o Conselho
de
Fazenda, a Junta de Comercio, pelo simples fato de existirem em Portugal.
Nao se
procurou, contudo, indagar se essas instituicoes seriam necessarias ao pais ou
se eram
perfeitamente dispensaveis. Para Hipolito da Costa, “precisava-se porem no
Brasil, pela
17 VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História Geral do Brasil. Sao Paulo:
Melhoramentos, 1948. 5 v.
Tomo V. p. 94
18 SOBRINHO, Barbosa Lima. Antologia do Correio Braziliense. Rio de
Janeiro: Catedra, 1977. p. 49-52.
19 Publicado na Revista do IHGB, apendice ao v. 190,1971.
20 VARNHAGEN, Francisco Adolfo. Ob. cit. p. 94.
8
natureza do pais, um conselho de minas, uma inspecao para a abertura de
estradas, uma
redacao de mapas, um exame da navegacao dos rios; e muitas outras medidas
proprias do
lugar”. Nada disto, no entanto, se procurou arranjar , por nao constarem do
Almanaque de
Lisboa, que servia de roteiro para a administracao portuguesa.21
Por outro lado, Hipolito da Costa reconhecia que o principe regente criara
instalacoes de grande valia para o desenvolvimento do pais, as quais
subsistiriam por terem
sido concebidas oportunamente. Entre estas merecem destaque, por exemplo:
a Academia
de Marinha, a de Artilharia e Fortificacao, o Arquivo Militar, a Tipografia Regia,
a Fabrica
de Polvora, o Jardim Botanico, a Biblioteca Nacional, a Academia de Belas
Artes, o Banco
do Brasil e os estabelecimentos ferriferos de Ipanema que sao instituicoes
“mais que
suficientes para que, para todo sempre, o Brasil bendiga a memoria do governo
de d.
Joao”.22
O governo de d. Joao, com a sua organizacao administrativa baseada num
mecanismo ja arcaico para a epoca, incapaz de produzir as riquezas
necessarias, ainda
permitia que os recursos existentes fossem revestidos em beneficio de uma
elite
privilegiada, a qual se constituia em verdadeira praga consumidora da
vitalidade economica
da nacao. Esses elementos dependentes da corte tinham a beneficia-los nao
apenas pensoes
e cargos rendosos, mas ainda se utilizavam da ucharia real, com abundantes
cotas diarias de
alimentacao , das quais nao abriam mao mesmo as pessoas ricas.
As rendas publicas, que cresciam constantemente pelo aumento dos impostos
e
sobretudo pelo desenvolvimento dos recursos e expansao da vida economica,
permitiam
tais despesas. Para termos uma ideia do crescimento dessas rendas publicas,
vemos que no
ano da chegada da corte a receita era de 2.258:172$499 reis; em 1820, era de
9.715:628$699 reis. Aumentara, portanto, mais de quatro vezes.23
A despesa, por sua vez, tambem crescera no mesmo periodo em proporcao
ainda
maior. Era ela orcada em 1808, em 2.297:904$099 reis e em 1820, em
9.771:110$875.24
De um modo geral, o governo de d. Joao VI tem sido muito criticado
principalmente
em sua ultima fase no Brasil. O monarca, com a sua atitude sempre timida e
demasiadamente cautelosa, era o principal responsavel por uma administracao
emperrada.
21 Apud SOBRINHO, Barbosa Lima. Ob. cit. p. 50.
22 Ibidem, p. 96.
23 LIMA, Oliveira. Ob. cit. p. 479.
24 Ibidem.
9
A monarquia degenerara em gerontocracia. Os ministros envelheciam,
adoeciam e morriam
nos cargos, onde permaneciam mesmo impossibilitados de qualquer
capacidade
administrativa. Luis Joaquim dos Santos Marrocos, secretario particular de d.
Joao, em uma
de suas cartas dirigidas ao pai, nos deixou a seguinte descricao sobre o estado
de varios
governantes, que segundo suas palavras ouvira do proprio principe regente,
que Antonio de
Araujo, conde da Barca, estava muito mal,
“que ele ja nao podia assinar, e que a sua letra de agora pela sua miudeza nao
parece ser feita pela
mesma mao de algum dia: ate hoje esta um pouco melhor, mas nao sao
melhoras de esperanca. O
marques de Aguiar ja tem enterrado tres secretarios de estado: Anadia,
Linhares e Galveas, e pareceme
esta abrindo a sepultura para o quarto. Joao Paulo Bezerra ainda se arrasta
muito, mas dizem que,
na falta daquele, e o que esta na bica; e ninguem fala em Pedro de Melo”.25
D. Joao, pelas informacoes que nos ficaram acerca de seu carater, tinha
verdadeiro
pavor de mudar seus auxiliares, razao por que tanto demorava a nomeacao de
um ministro,
o qual depois de tomar posse nao deixava mais o cargo. Emperrava-se assim a
maquina
administrativa, dando origem a acumulacao, sem despacho, de grande
quantidade de papeis
sobre as mesas dos ministerios, o que trazia consigo consequencias inevitaveis
ao regime: a
corrupcao dos funcionarios publicos e o surgimento de intermediarios
especializados em
advocacia administrativa.
Como exemplo dessa atitude do principe, em 1817, temos Tomas Antonio
Vilanova
Portugal, praticamente invalido, tendo sob sua responsabilidade todas as
pastas do governo.
Se bem que fosse uma situacao transitoria, era tarefa que estava muito alem
das
possibilidades do ministro. O que ainda permitia certa eficiencia administrativa
era a
relativa autonomia de certas instituicoes do governo que prestavam valioso
auxilio a Tomas
Antonio. Entre as quais podemos citar a Intendencia Geral de Policia,
Tesouraria-mor,
Senado Municipal, Relacao, Corregedor de Comarca, Fisico-mor do Reino e
outras, as
quais, secundarias aos ministerios, eram responsaveis por reparticoes de
grandes
responsabilidades administrativas.
O principe regente, por outro lado, tinha a assessora-lo elementos muito
suspeitos
nos meios populares. A escolha de Paulo Fernandes Viana para a Intendencia
de Policia,
25 Anais da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: 1939. LVI. p. 232.
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por exemplo, mais do que por seus meritos de magistrado, ocorrera em virtude
de pertencer
por afinidade a celebre familia Carneiro Leao, grandes comerciantes do Rio de
Janeiro ja
no inicio do seculo XIX. Esse parentesco permitia ao intendente adiantar certas
quantias
necessarias ao governo para cobrir despesas, quando o Erario estando em
apuros
financeiros nao era capaz de cobri-las.26
Tambem muito se falava nos meios populares do Rio de Janeiro daquela
epoca, na
situacao do chanceler do Erario Regio, Francisco Bento Maria Targini, que de
modesto
arrecadador de rendas no Ceara, galgou subitamente o alto posto de
tesoureiro-mor do
reino. Essa ascensao rapida deu origem a muitos mexericos em torno de seu
nome. A razao
de sua grande influencia, no entanto, segundo Almeida Prado,
“vinha dos tropecos infligidos ao governo por aperturas financeiras, tal qual
sucedia – em menor
escala naturalmente – com o Intendente de Policia. Atras do tesoureiro tambem
havia poderoso grupo
de negocistas, em mor parte ingleses, como Guilherme Young, Gustavo
Kickofer e outros, que
adiantavam as quantias necessarias a negocios urgentes”.27
O consul frances Maler, apesar de muito afeicoado ao principe, de quem
sempre
recebia provas de atencao e benevolencia, nem por isso deixou de ser tambem
um critico
acerbo da administracao joanina em sua correspondencia oficial. Em oficio de
13 de julho
de 1818, por exemplo, analisando a caotica situacao do Tesouro e da acao dos
ministros de
d. Joao, escrevia ao ministerio dos Negocios Estrangeiros de Franca:
“Os numerosos vicios da administracao parecem-me constituir os primeiros
motivos da penuria; por
causa de uma infinidade de abusos os rendimentos publicos escoam-se em
parte nos bolsos dos que
os percebem; a fraude, outrossim provocada pela elevacao dos direitos
aduaneiros mais prejudica a
cobranca; as despesas na realidade modicas sobem a somas consideraveis
gracas a improbidade dos
que se acham dela encarregados; a nobreza que acompanhou o principe e
pobre e vive do Tesouro,
que a chegada da arquiduquesa, o casamento do principe real e a coroacao de
S. M. acabaram de
esgotar. A simplicidade do monarca e sua familia, traduzindo-se em gastos da
sua casa porque a
desordem e ma fe sao analogas nas suas despesas particulares as que lavram
nas despesas gerais do
2 6 PRADO, J. F. de Almeida. D. João e o início da classe dirigente do Brasil.
Sao Paulo: Cia. Ed.
Nacional, 1968. p. 105.
2 7 Ibidem. p. Almeida Prado publica varias quadrinhas populares envolvendo
nomes como o de Targini
(visconde de Sao Lourenco), Tomas Antonio e Joaquim Azevedo (visconde do
Rio Seco) com a
corrupcao no governo de d. Joao VI. Veja a este respeito: Ibidem. p. 113-7.
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Estado. Tudo isso explica o fenomeno da geral situacao folgada dos
comerciantes e dos empregados
do governo, ao lado da pobreza do Estado e dos grandes. De resto, um
departamento que foi dirigido
provisoriamente durante anos pelos senhores de Aguiar, de Araujo e Bezerra,
nao pode senao
ressentir-se longamente do langor e enfermidades desses tres ministros, e
devo ajuntar que neste
instante os fundos se acham por forma tal hauridos que o Tesouro nao oferece
em pagamento mais
do que letras sobre a alfandega, a seis meses de prazo”.28
Apesar de todas essas criticas a que ate aqui nos referimos, devemos
ressaltar,
entretanto, que existia uma preocupacao de d. Joao sobre a necessidade de
inovacoes na
administracao do Brasil, e foi com essa finalidade que incumbiu da elaboracao
de um
plano de reformas, que foi bastante discutido principalmente em Portugal, a
Silvestre
Pinheiro Ferreira. Este, em sua correspondencia, nos mostra que d. Joao
solicitou a varias
outras pessoas estudos para a reorganizacao politico-administrativa do Brasil,
demonstrando assim sua insatisfacao pessoal com a arcaica organizacao
colonial, que se
tornava dia a dia mais indefensavel.29
Pouco realizou o soberano de positivo sobre a tao desejada reforma de sua
emperrada maquina administrativa. Contudo, melhoramentos palpaveis foram
introduzidos
na administracao brasileira nesse pouco que conseguiu realizar. A simples
presenca dele
aqui ja foi o suficiente para trazer numerosas vantagens ao pais. As
desigualdades, no
entanto, se acentuaram nesse periodo, como ressalta Oliveira Lima, “nunca foi
mais frisante
o contraste entre o que se realizava e o que se ideava, o que era e o que devia
ser, o que
se fazia e o que se descurava”.30
Esse era o aspecto que se oferecia em carater nacional. Jay, no prefacio da
edicao
francesa das Viagens de Koster, escreveu:
“Resulta dessa mistura de inacao e estupidez com orgulho e ganancia uma
serie de contrastes;
atividade num genero de industria, negligencia profunda em tudo mais; nudez e
porcaria no interior
das habitacoes, esplendor e fausto nos vestidos; amenidade, ou antes fraqueza
no carater, e cruel
indiferenca pela sorte dos indios. Assim foi o governo até estes últimos tempos,
inflexivel no que
28 Apud LIMA, Oliveira. Ob. cit. 483.
2 9 LOPES, Tomas de Vilanova Monteiro. D. Joao VI e a administracao publica
brasileira. In: Revista do
Serviço Público. V. 84, n. 1, 1959. p. 14.
30 LIMA, Oliveira. Ob. cit. p. 486.
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interessava o fisco, pouco atento ao que tocava a instrucao e aos costumes,
rico de diamantes e pobre
de armas, de canais e de tudo o que constitui a forca dos estados”.31
Apesar de todas as criticas que se possa fazer a administracao joanina aqui,
esta tem
um saldo muito favoravel. Sem duvida, a abertura dos portos as nacoes amigas
em 28 de
janeiro de 1808, foi o principio, e o apice, da politica de d. Joao VI no Brasil,
pois, como
ressalta Varnhagen, “com isso o emancipou de uma vez da condicao de
colonia, e o
constituiu nacao independente de Portugal”.32
Essa interpretacao de Varnhagen nao mereceu, ate hoje, qualquer correcao
dos
estudiosos. Livros de historia que marcaram no Colegio Pedro II, na area de
humanidades,
a formacao da juventude durante o imperio, como o de Joaquim Manoel de
Macedo,
seguidor fiel de Varnhagen em seu livro didatico, e enfatico ao ressaltar que
com a
assinatura da carta de 28 de janeiro, d. Joao escrevia a primeira palavra de
uma gloriosa
revolucao.33 E da relevo especial ao manifesto de guerra a Franca, de 1o de
maio do mesmo
ano, “no qual se lerao as seguintes notaveis palavras: a corte levantará a sua
voz do seio do
novo império que vai criar”.34
Ja na Republica, outro livro, tambem de um professor do Colegio Pedro II, que
teve
influencia fundamental na formacao da juventude brasileira foi a História do
Brasil, de
Joao Ribeiro, alias, dedicado ao grande historiador de d. Joao VI no Brasil,
Oliveira Lima,
primeira edicao de 1900, cujo conteudo, apesar das criticas acerbas que faz ao
periodo
joanino, nao deixa de reconhecer a importancia administrativa do governo de d.
Joao em
momentos decisivos como o da abertura dos portos do Brasil ao comercio
universal,
acabando assim e “instantaneamente, o regime colonial no que tinha de mais
odioso”; assim
como o importante ato de 1o de abril de 1808, que levantou a proibicao que
pesava sobre as
industrias, declarando-as livres.35
Finalmente, lembramos Caio Prado Jr., que influenciou decisivamente a
historiografia brasileira a partir dos anos 30, embora sua obra fundamental,
Formação do
Brasil contemporâneo, seja de 1942, mas que levanta problemas e questoes
inerentes a
31 Apud Ibidem.
32 VANHARGEN, Francisco Adolfo. Ob. cit., t.v. p.89-90.
33 MACEDO, Joaquim Manoel de. Lições de História do Brasil. Rio de Janeiro,
1861. p. 231.
34 Ibidem. p. 231-2.
35 RIBEIRO, Joao. História do Brasil. Curso superior segundo os programas do
Colegio Pedro II. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1960. 17a ed., p. 223.
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decada anterior, juntamente com Gilberto Freyre, com Casa Grande e Senzala,
de 1933 e
Sergio Buarque de Holanda, com Raízes do Brasil, de 1936. Em outro livro
importante, de
1933, Caio Prado denomina o periodo iniciado com a chegada de d. Joao ao
Brasil de A
Revolução. E ressalta:
“O certo e que se os marcos cronologicos com que os historiadores assinalam
a evolucao social e
politica dos povos se nao estribassem unicamente nos caracteres externo e
formais dos fatos, mas
refletissem a sua significacao intima, a independencia brasileira seria
antedatada de quatorze anos, e
se contaria justamente da transferencia da corte em 1808”.36
36 PRADO (Jr.) Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos. Sao Paulo:
Brasiliense, s/d., 4a ed., p. 44.
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