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Publicado no Datagramazero em 2002 esta matéria sobre alguns temas da pós-graduação foram
respondidas, na época, pelos coordenadores dos Programas e agora nove anos passados são de uma
assustadora novidade. O Documento com autoria dos textos pode ser consultado na referência abaixo.
Os textos a segui surgiram de uma solicitação feita pela revista DataGramaZero a diversos coordenadores
de cursos de pós graduação em Ciência da Informação para que expressassem as suas reflexões sobre
diversos temas ligados à área. Estão sendo reproduzidos na íntegra, sem cortes ou adições. Na
oportunidade, a revista indicou a sua intenção de publicar, na sua próxima edição, em dezembro de 2002,
comentários, análises e críticas que os textos viessem a provocar, tendo em vista o enriquecimento daquelas
reflexões. Foram sugeridos os seguintes pontos para comentário:
1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ?
3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares:
4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação?
7- Comente:
USP
Coordenação da Área de Concentração em Ciência da Informação e Documentação do Programa de
Pós-graduação em Comunicação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo -
ECA/USP
Preliminar: atualmente constituímos uma área de concentração num programa em comunicação. Há estudos
em curso sobre a viabilidade de separação da área, tornando-a um programa autônomo em Ciência da
Informação. Estamos, conseqüentemente, passando por um momento de diagnóstico e discussão do futuro.
A resposta abaixo, que representa a visão da coordenação, tornar-se-á igualmente subsídio para as
discussões acerca do nosso futuro.
Respostas/comentários
1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [USP]
O Profissional da Informação trabalha com a informação... esta resposta parece lógica mas encerra uma
questão bastante controvertida e menos discutida do que seria desejável: o que é esta "informação" com a
qual este profissional trabalha? Se respondermos "qualquer informação" estaremos invadindo uma série de
outros campos de atuação profissional, tais como a Auditoria, Contabilidade, Jornalismo, Edição, etc. Na
realidade, atualmente, as perguntas relacionadas à delimitação da informação e às atividades realizadas pelo
Profissional da Informação são em boa parte escamoteadas à medida em que a formação de graduação tem
sua origem na biblioteconomia e ainda retira desta seus principais conceitos e procedimentos. A
terminologia está portanto mudando (de Biblioteconomia para Ciência da Informação) mas as discussões
necessárias para conferir a esta mudança a necessária profundidade e consistência ainda é embrionária. A
ABECIN (Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação) está instigando, norteando e
canalizando este debate de forma muita séria mas ainda há muita discussão por ser feita. Acreditamos que a
Pós-Graduação, justamente por que menos voltada, por princípio, para uma formação profissional (e mais
voltada para uma formação acadêmica do pesquisador) pode e deve sugerir uma agenda para colaborar na
realização deste debate.
De toda forma, independentemente do nome do profissional, o mesmo deve dominar competências básicas
de organização da informação e referencial para pensar como esta informação, uma vez organizada, pode ser
disponibilizada ao público, como é possível construir o acesso à mesma e em quais condições este acesso é
dificultado. Em resumo, este profissional deve ter uma competência organizacional e uma competência de
adequação de procedimentos a contextos específicos de busca e de recuperação da informação.
Um programa de pós-graduação, em qualquer área do conhecimento, tem por principal objetivo a construção
do conhecimento. Esta construção do conhecimento se faz de forma integrada pelos atores envolvidos nos
programas: o corpo docente, através de suas pesquisas, disciplinas ministradas e publicações (para tornar a
pesquisa de conhecimento público) e o corpo discente que, através da dissertação de mestrado ou tese de
doutorado, igualmente se propõe a realizar uma pesquisa e debatê-la publicamente diante de uma banca
julgadora.
Um programa de pós-graduação em Ciência da Informação deve ter, portanto, por principal objetivo a
construção do conhecimento em Ciência da Informação. Tendo em vista que a área caracteriza uma "ciência
aplicada", as pesquisas nela desenvolvidas são, em sua maior parte, aplicadas. Por outro lado, tendo em vista
a relação orgânica que se estabeleceu entre programas de pós-graduação e formação de graduação em
biblioteconomia no Brasil (excetuado o programa da UFRJ/IBICT, que nasceu num Instituto voltado para a
Informação Científica e Tecnológica, o IBICT), é natural que muita pesquisas levadas a efeito nos
programas de pós-graduação objetivam explicitamente propor soluções para problemas vivenciados no
contexto da atuação profissional em sistemas e unidades de informação. A Pós-Graduação em Ciência da
Informação no Brasil (e em outros países também, vale ressaltar) está desenvolvendo propostas de melhoria
para a atuação do profissional. Se esta reação é natural, e benéfica para o segmento profissional, é também
perigosa, pois a mesma tende a transformar a pesquisa na elaboração de propostas muito imediatistas e
localizadas em um tempo e espaço bastante reduzidos. Perde-se de vista, neste movimento, a necessidade de
uma pesquisa que sistematize e generalize conceitos e procedimentos para aplicação a muitos contextos
diferentes. Em outras palavras, a descrição de situações específicas e a proposta de soluções para estas
situações específicas tende a se sobrepor à construção do conhecimento.
Tendo em vista este diagnóstico, acreditamos que um programa de pós-graduação em Ciência da Informação
deve ter por principal objetivo a construção do conhecimento em Ciência da Informação, apresentando os
seguintes objetivos específicos:
- construção do conhecimento acerca da organização da informação;
- construção do conhecimento acerca dos contextos nos quais a informação é buscada e das variáveis que
influem neste processo.
3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares: [USP]
Em função da opinião que expressamos no itens 1 e 2 acima, detectamos 4 conteúdos que devem
obrigatoriamente ser tratados por um programa de pós-graduação. Estas temáticas podem ser organizadas
sob forma de disciplinas ou compor um elenco de disciplinas:
As disciplinas complementares devem propor, nesta ótica, detalhamentos das questões acima referidas:
discussões de váriáveis presentes em determinado contexto, a discussão da função das linguagens
documentárias na organização da informação, a bibliometria como corrente da Ciência da Informação, etc.
4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [USP]
5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [USP]
Os núcleos temáticos devem desdobrar os 4 conjuntos temáticos que arrolamos na resposta à pergunta 3. A
questão que deve preocupar a comunidade de Ciência da Informação, a nosso ver, não se refere aos núcleos
temáticos da pesquisa, mas ao entendimento que esta comunidade vem demonstrando ter da pesquisa.
Pesquisa é construção do conhecimento, uma verticalização na investigação, o domínio de uma bibliografia
especializada e atualizada. A pesquisa em Ciência da Informação, para colaborar na consolidação da área,
deve se preocupar com a geração de conceitos e uma terminologia própria, distintiva da linguagem do senso
comum. Uma pesquisa aplicada e muito direcionada para a solução de problemas pontuais, como vem
ocorrendo na área com certa freqüência e já destacado anteriormente, não colabora para a construção da
área.
6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [USP]
Além da indefinição quanto à área da Ciência da Informação e de seu objeto (a "informação"), os programas
de pós-graduação enfrentam ainda outros problemas que podemos denominar de "culturais". Um destes
problemas foi apontado na resposta à pergunta 5: o entendimento que a área vem tendo do que seja a
atividade e a finalidade da pesquisa. Talvez como uma conseqüência deste entendimento, a área publica
pouco e ainda não incorporou uma efetiva cultura de discussão de idéias. A área apresenta resultados de
ações, dificilmente discute idéias ou conceitos, caracterizando assim por um outro ângulo a precariedade de
sua cultura de pesquisa. As discordâncias entre pesquisadores são interpretadas como diferenças entre
pessoas, brigas pelo poder (às vezes, este é efetivamente o caso): a memória não registra nenhum debate
público entre correntes divergentes baseado em conceitos e correntes teóricas. Por fim, como conseqüência
de uma auto-estima baixa da área (mas não dos pesquisadores) a área tem tendência a se auto-desculpar, a se
lamentar em razão de suas dificuldades. Curiosamente, esta reação é também compartilhada por muitos
pesquisadores da área. A auto-complacência, aliada à falta de uma cultura do debate público, enfraquecem a
área e minam nela uma energia mais positiva, mais afirmativa, mais concorrencial em relação às outras áreas
do conhecimento que, quer queiramos quer não, concorrem pela partilha das mesmas verbas públicas.
7- Comente:
PUCCAMP
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação da
Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUCCAMP
1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [PUCCAMP]
a) Para aqueles que trabalham com informação, ou seja, que trabalham na operação de sistemas/unidades de
informação, considero que a denominação PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO é adequada. Não me
ocorre outro nome no momento.
c) faria ainda a distinção entre profissionais da informação e pesquisadores em Ciência da Informação. Neste
caso, recorro aos textos de Aldo Barreto e Le Coadic para caracterizar suas atribuições: a) analisar os
processos de construção, comunicação e uso da informação; b) conceber sistemas que permitam comunicar,
armazenar e usar informação, esta última entendida como estrutura que comporta elementos de sentido e
promovem, pelo seu fluxo, a construção do conhecimento.
3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares: [PUCCAMP]
Não saberia elencar disciplinas. Prefiro apresentar um conjunto de perspectivas, como segue:
c. Políticas de informação
Aspectos centrais: Esfera pública e informação, Direito à informação, Programas, Legislação, Fomento
e. Economia da informação
Aspectos centrais: Economia política da informação e da comunicação. As condições de produção e
circulação da informação.
4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [PUCCAMP]
a) quanto ao conceito: a área tem dificuldade para estabelecer os limites entre a Ciência da Informação e
outras áreas. Portanto, mesmo tendo consciência do caráter vago da definição, adoto o que segue, inspirada
em Gonzalo Abril (1997): a informação é objeto transacionado entre sujeitos comunicativos. A situação
comunicativa consiste em intervenções de negociação de sentidos. Desse modo, a informação não se
confunde com o conceito de informação da teoria matemática da transmissão de sinais elétricos e muito
menos com os processos biológicos de comunicação através de sinais químicos.
b) sobre a graduação: desdobro a resposta em dois aspectos: 1) a operação de sistemas de informação requer
profissionais formados para essa finalidade; os cursos de graduação cumprem basicamente essa função.
Considero, ainda, que esse grau de formação requer projetos pedagógicos que levem em conta os contextos
(inserção institucional do curso, região, composição do corpo docente, etc.). Um aspecto que gostaria de
destacar diz respeito ao corpo docente: sua composição requer diferentes formações, de modo a responder
adequadamente à natureza interdisciplinar do campo de conhecimento; 2) os programas de pós-graduação,
enquanto instâncias de produção de conhecimento e de formação de quadros para o ensino e a pesquisa,
requer pessoas com experiências variadas. Nesse sentido, é desejável que os programas sejam capazes de
atrair pessoas dos mais variados campos do conhecimento.
5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [PUCCAMP]
6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [PUCCAMP]
7- Comente:
UnB
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília -
UnB
1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [UnB]
Não creio que a importância esteja na denominação do profissional. De nada adiantará, por exemplo, chamar
o graduado em Biblioteconomia de cientista da informação no lugar de bibliotecário, se o profissional
graduado não for preparado para atuar como um agente de transformação social, entendendo o seu papel
como profissional da informação, neste sentido. Entretanto, concordo que a denominação do profissional
deva ser discutida, para que não fique defasada com o decorrer do tempo e da evolução do conhecimento. O
entendimento do valor do profissional que trabalha com a informação pela sociedade dependerá do
desempenho deste profissional. Alguém questiona se o médico, o engenheiro ou o advogado deve mudar sua
designação profissional?
4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [UnB]
5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [UnB]
Os temas de pesquisa em Ciência da Informação não se restringem mais à informação científica, mas a todo
e qualquer tipo de informação, com diferentes abordagens, para todas as demais áreas do conhecimento. Os
limites da pesquisa na área da Ciência da Informação, portanto, apresentam-se bastante elásticos em
consequência disso.
Assim, as áreas de concentração de problemas para a pesquisa e prática profissional abrangem os enfoques
intelectual e profissional, nas fronteiras da Ciência da Informação com as demais ciências. As palavras-
chave são: gerência ou gestão da informação, comunicação humana, conhecimento, registro do
conhecimento, informação, necessidades de informação, usos da informação, contexto social, contexto
institucional, contexto individual, tecnologia da informação, entre muitas outras que poderiam ser citadas.
6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [UnB]
Com relação ao ensino de pós-graduação, entre os problemas enfrentados, o principal é a inadequada infra-
estrutura de apoio: quantidade insuficiente de equipamentos para apoio às aulas, como canhão de luz ou
data-show, laptop, impressoras e outros; desatualização do acervo de livros e periódicos da Biblioteca
Central na área do PPGCINF. A compra de equipamentos, uma vez que os mesmos são considerados como
bens de capital, sempre é dificultada, pois os recursos disponíveis para apoio ao Programa não permitem
esse tipo de aquisição.
Com relação à pesquisa, sobressaem os problemas referentes às dificuldades de comunicação interna entre
os diferentes órgãos da Universidade, uma vez que informações referentes às possibilidades de apresentação
de projetos a agências de fomento, ou disponibilidade de alocação de recursos financeiros não chegam aos
professores na ocasião oportuna, dificultando a participação mais expressiva do PPGCINF por
desconhecimento, ou muitas vezes, pelo conhecimento tardio de oportunidades para solicitações ou
encaminhamento de pedidos aos setores competentes.
7- Comente:
IBICT
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia- PPGCI/IBICT
Quadro 1: Disciplinas segundo artigos de revisão do ARIST, por ordem de freqüência ,1966-1995
TEMA/ASSUNTO ARTIGOS DE %
REVISÃO
1. Sistemas de informação 43 14
2. Tecnologia da informação 28 9,12
3. Disseminação da informação 27 8,79
4. Políticas de informação 23 7,49
5. Necessidades e usos de informação 22 7,16
6. Sistemas de recuperação da 20 6,51
informação
7. Computadores e programas 19 6,18
8. Representação da informação 16 5,21
9. Automação de bibliotecas 15 4,88
10.Redes de informação 14 4,56
11.Formação e aspectos profissionais 14 4,56
12.Bases de dados 13 4,23
13.Organização e processamento da 13 4,23
informação
14.Administração da informação 12 3,90
15.Teoria da Ciência da informação 11 3,58
16.Processamento automático de 9 2,93
linguagem
17.Economia da informação 8 2,60
Total 307 99,93
Fonte: PINHEIRO, Lena Vania R. A ciência da Informação entre sombra e luz... tese (1997)
Neste primeiro conjunto de resultados do quadro 1, pode-se observar a presença de disciplinas mais
abrangentes, entre as quais "Disseminação da informação" e "Organização e processamento da informação",
ou focadas nas tecnologias (Computadores e programas), que não constam dos resultados da atualização
mostrados no quadro 2. Esta mudança pode ter ocorrido por fragmentação em disciplina mais especializada,
pelo surgimento de uma nova disciplina originada da evolução da área ou da tecnologia, ou por adoção de
uma nova terminologia.
A exclusão da temática "Computadores e programas" faz lembrar a fase de surgimento do microfilme e a
concentração de estudos em reprodução de documentos, levando ao lançamento de um periódico, o Journal
of Documentary Reproduction, depois não mantido. Embora na ASIST permaneça um SIG - Special
Interest Group - de Automação de Bibliotecas e Redes, a não inclusão do tema Automação de bibliotecas
pode ter ocorrido pela natural evolução do estágio tecnológico, isto é, hoje as bibliotecas, já automatizadas,
estão voltadas à ação de tornar disponíveis as informações na Internet, daí a emergência das bibliotecas
digitais e virtuais.
A exclusão de Redes de informação deve ter ocorrido pelo desdobramento de algumas questões relativas ao
tema em bibliotecas digitais/ virtuais e comunicação científica eletrônica e, mesmo, em sistemas de
informação.
Quadro 2: Disciplinas segundo artigos de revisão do ARIST, por ordem de freqüência. 1996-2004
N.º %
1. Sistemas de recuperação da informação 15 18,51
2. Representação da informação 9 11,11
3. Tecnologia da informação 8 9,87
4. Sistemas de informação 6 7,40
5. Bibliometria 6 7,40
6. Inteligência competitiva e Gestão do 5 6,17
conhecimento
7. Mineração de dados ("data mining") 5 6,17
8. Política de informação 5 6,17
9. Teoria da Ciência da Informação 5 6,17
10.Comunicação científica eletrônica 3 3,70
11.Necessidades e usos da informação 3 3,70
12.Administração de informação 2 2.50
13.Bibliotecas digitais 2 2,50
14.Economia da informação 2 2.50
15.Formação e aspectos profissionais 2 2.50
16.Processamento automático de linguagem 2 2.50
17.Bases de dados 1 1,23
Total 81
Uma constatação relevante em termos de expansão da área é o aparecimento, sobretudo em decorrência dos
avanços tecnológicos, de nova temática, como as já mencionadas bibliotecas virtuais/digitais e mineração de
dados, além de Inteligência competitiva e Gestão do conhecimento, a primeira, muito em função de
softwares apropriados a estudos quantitativos e estatísticos, daí a retomada também da Bibliometria, que na
primeira fase não chegou a constar do quadro porque foi objeto de apenas duas revisões, em 28 anos (1966-
1995), enquanto em 8 anos (1996-2004) foi tema de 6 artigos de revisão.
Outras observações a partir dos resultados são:
- a predominância de sistemas de recuperação de informação, ao invés de sistemas de informação, o que
parece ser decorrente do volume de informação na Internet;
- o surgimento da comunicação científica eletrônica, enquanto a comunicação científica convencional
anteriormente não aparece, ao contrário do Brasil, onde o tema é estudado a partir da década de 70, no
PPGCI do IBICT - UFRJ, desde a comunicação cientifica tradicional e, atualmente, inclusive enfocando a
eletrônica;
- a retomada de pesquisas em necessidade, busca e uso da informação, antes reunidas também sob a
denominação de estudos de usuários; e
- a emergência de "Inteligência Competitiva" e "Gestão do Conhecimento", além de "Mineração de Dados",
pela abordagem econômica e gerencial, conseqüência da globalização e das tecnologias de informação e
privilegiando o setor produtivo.
Se considerarmos a presença e permanência de disciplinas nos dois quadros e a soma de sua freqüência nos
quadros 1 e 2, o núcleo básico pode ser definido conforme demonstrado no quadro 3.
Quadro 3: Núcleo básico de disciplinas da Ciência da Informação, por resultado de estudo de freqüência de
artigos de revisão do ARIST
Disciplinas Freqüência
1. Sistemas de informação 49
2. Tecnologia da informação 36
3. Sistemas de recuperação da 35
informação
4. Políticas de informação 28
5. Necessidades e usos de 25
informação
6. Representação da 25
informação
7. Teoria da Ciência da 16
Informação
8. Formação e aspectos 16
profissionais
9. Administração da 14
informação
10.Bases de dados 14
11.Processamento automático 11
da linguagem
12.Economia da informação 10
No quadro 3, portanto, conforme foi explicitado, não fazem parte disciplinas que deixaram de ser tratadas
em artigos de revisão do ARIST, no período 1996-2004, pelos motivos também levantados :Disseminação
da informação, Computadores e programas, Automação de bibliotecas, Redes de informação e Organização
e processamento da informação.
Inversamente, foram incluídas as que somente constam neste período, porque podem representar novas
tendências da área: Inteligência Competitiva e Gestão do conhecimento, Mineração de dados, Comunicação
científica eletrônica e Bibliotecas digitais / virtuais ou novas aplicações como a
Bibliometria
As duas primeiras disciplinas parecem ter promovido, segundo a literatura e eventos da área, interfaces da
Ciência da Informação mais acentuadas, ultimamente, com a Administração e Economia.
É oportuno mencionar que o vínculo interdisciplinar entre Ciência da Informação e Ciência da Computação
sempre foi muito forte, até por ser a tecnologia da informação uma das origens da Ciência da Informação,
tanto que o ARIST- Annual Review of Information Science and Technology, desde o seu início incorporou
ao nome a tecnologia, enquanto a ASIS acrescentou o T de tecnologia a partir de 1999, passando a se
denominar ASIST, refletindo a ênfase da área nas tecnologias.
No processo constitutivo e evolutivo do Programa do IBICT há, desde o seu começo, permanente
preocupação com as disciplinas instrumentais e gerenciais, ampliadas pela abordagem sócio-cultural e
fundamentadas nas disciplinas estruturais, de caráter filosófico e teórico, além das tecnológicas e de políticas
de informação.
Marcos importantes no Programa foram a introdução da Bibliometria, no início do mestrado por Tefko
Saracevic; o início dos estudos de Comunicação científica, no final dos anos 70; em 1985, a introdução da
linha de pesquisa e depois área Informação, cultura e sociedade e o início de pesquisas sobre Internet, nos
meados dos anos 90. É oportuno ressaltar a preocupação e reflexão constante em relação à própria área
Ciência da Informação e sua interdisciplinaridade, o que se traduz em estudos epistemológicos e teóricos de
abordagem interdisciplinar, sobretudo com a Museologia, Arquivologia, Comunicação, Biblioteconomia e
aplicações novas como em Arte.
Inicialmente, deve ser destacada a dificuldade em definir os campos do conhecimento que têm por objeto de
estudo a informação e, principalmente, como se concretiza a relação interdisciplinar entre essas áreas, o que
se sustenta em estudos teóricos, sobretudo epistemológicos.
É oportuno, ainda, chamar a atenção para uma questão aparentemente simples, mas não devidamente
esclarecida e que pode ser explicitada em três categorias de relações com a informação:
- daqueles que naturalmente precisam de informação, na condição de usuários, para o exercício de suas
tarefas profissionais e de cidadania, quaisquer que sejam, o que praticamente inclui todas as atividades
humanas;
- daqueles que são produtores de conhecimento, cientistas e pesquisadores e que também são usuários de
informação científica e tecnológica, num fluxo de auto-alimentação; e
- daqueles que têm na informação um triplo papel: 1. a informação é seu objeto de estudo e pesquisa; 2.
dela necessitam para o desempenho de suas atividades científicas e profissionais; e 3. ainda são
responsáveis pelos processos técnicos e tecnológicos relativos à informação,
os chamados profissionais de informação.
[IBICT]
Um dos diferenciais mais fortes da Ciência da Informação são os aspectos semânticos, sintáticos e
pragmáticos da informação (nessa ordem de relevância), apontados por inúmeros autores, entre os quais
Menou (1995) e uma grande preocupação com a recuperação da informação e usuários, daí o instrumental
disponível para tal. Além desse, a disseminação da informação, através de diferentes serviços e produtos,
primários, secundários, terciários e eletrônicos.
Outro viés forte da área, decorrente da sua própria origem, é a ênfase na informação científica e
tecnológica, até hoje predominante, que se desdobra em estudos de comunicação científica, desde a informal
até formal, incluindo a eletrônica, fundamentados na História e Sociologia da Ciência, os estudos
quantitativos e estatísticos de informação da Bibliometria, para gerar indicadores de C&T, de produtividade
de cientistas (Lotka) e análise de citação, de produtividade de periódicos (Bradford), de freqüência de
palavras (Zipf), de obsolescência e vida média da literatura, processo epidemiológico (Goffman), hoje
estendidos para o monitoramento tecnológico e setor produtivo, praticados na Inteligência Competitiva.
A tecnologia da informação, que muito contribuiu para o seu desenvolvimento e corresponde ao outro viés
da sua origem, sempre foi estudada em relação às suas repercussões nas comunidades científicas e
tecnológicas e na sociedade.
Enfim, a Ciência da Informação tem por foco central o processo de transferência da informação desde a sua
origem, a geração de conhecimento em comunidades cientificas ao seu processamento, até ao uso e
absorção.
Tanto a Biblioteconomia tem procurado abarcar as disciplinas estudadas na Ciência da Informação, o que é
complexo devido ao ambiente que esta privilegia, de C&T e P&D, quanto a Ciência da Computação está
estudando o que denominam ontologias, correspondendo aos aspectos semânticos da informação, bem como
as repercussões sociais, denominada Informática Social. Um exemplo atual é o Center for Social Informatics
(2002), fundado em 1996, para pesquisar questões como os fatores sociais que influenciam o uso da
tecnologia da informação e como transforma o ambiente de trabalho. Importante observar que o Centro foi
criado com o apoio de um pesquisador da Ciência da Informação, Blaise Cronin, decano da School of
Library and Information Science.
Não penso ser desejável uma graduação em Ciência da Informação, pelos inúmeros fatores explicitados ao
longo deste trabalho, pois creio ser difícil, em nível de graduação, responder ao escopo, conteúdos
disciplinares e objetivos da Ciência da Informação.
7.4 Algumas disciplinas, como a Bibliometria, medindo o núcleo de artigos em periódicos convencionais
envelheceram, e têm que ser reformuladas? [IBICT]
Pelo contrário, a Bibliometria voltou fortalecida pela disponibilidade de softwares específicos como o Data
View e Matrisme do CRRM, da Université Aix Marseille III e o Vantage Point, de Allan Porter, do
GeorgiaTech e, sobretudo, por novas abordagens e aplicações.
Inicialmente a Bibliometria foi a metodologia adotada para indicadores de Ciência e hoje vem sendo muito
utilizada em Inteligência competitiva, sobretudo para monitoramento tecnológico no setor produtivo e,
ultimamente também para estudos na Web.
As interpretações também são adaptáveis à área ou setor, por exemplo, a zona de baixa freqüência,
denominada por Bradford, de dispersão, e que não era considerada para produtividade de periódicos, pode
ser indicador de surgimento de uma nova tecnologia, e assim tem sido interpretado no monitoramento de
novas tecnologias.
Finalmente, a trajetória de sucesso do ISI - Institute for Scientific Information, nos Estados Unidos, o seu
fundador, Garfield, hoje presidente da ASIST e os resultados da pesquisa empírica de Pinheiro (2002), onde
fica patente o ressurgimento da Bibliometria, bastam para mostrar que a Bibliometria está em plena
retomada.
Ainda que a Bibliometria seja metodologia quantitativa e estatística e, portanto, tenha limitações daí
advindas, desde que seja utilizada tendo por fundamento a História e a Sociologia da Ciência, os resultados
podem redundar em indicadores válidos e úteis. Enfim, apesar das críticas, até hoje são utilizados os dados
do ISI, o que parece traduzir que ainda não foi criada metodologia melhor para informação publicada ou
registrada, com esses propósitos.
7.5 Medidas de avaliação baseadas em linguagens controladas, como a relevância e precisão devem ser
redefinidas no mundo atual da linguagem natural? [IBICT]
Há que se fazer uma diferença fundamental nesta discussão: a linguagem natural pode até ser adequada à
recuperação da informação para um usuário não especializado ou, pensando na Internet, um navegante sem
roteiro de viagem, isto é, sem uma pergunta específica de informação, ou ainda quando um especialista faz,
na rede, o que antes fazia numa biblioteca e já era chamado "browse", o que é ocasional.
Para um pesquisador de uma comunidade científica ou qualquer outra especializada, entretanto, a rapidez e a
precisão na recuperação foram e continuam a ser essenciais. Assim, a linguagem natural provavelmente não
atenderá à precisão e rapidez desejada na busca à resposta a uma questão pontual.
Esta discussão sobre linguagem natural, no centro de grande polêmica de recuperação da informação na
Internet, tem algumas repostas:
- na pesquisa empírica de Pinheiro (1997 ; 2002), a recuperação da informação e representação da
informação ocupam o núcleo de disciplinas básicas da área, a primeira no topo da maior incidência, no
período 1996-2004; e
- na pesquisa de mestrado de Alencar (2001), sobre metodologias de avaliação de mecanismos de busca, na
qual adotou alguns parâmetros clássicos da Ciência da Informação para sistemas online, inclusive de
Lancaster, autoridade na área, foi comprovada a aplicabilidade, para Internet, de alguns critérios básicos,
sendo cinco os principais: precisão, cobertura, esforço do usuário, formato de saída e atualidade. A autora
ressalta, nas conclusões, a "... importância da base teórica da Ciência da Informação para os estudos de
tecnologias de informação de base digital".
7.6 Gestão do conhecimento é uma imprecisão teórica, pois o conhecimento acontece na consciência do
indivíduo, onde o gerente não tem acesso? [IBICT]
Gestão do conhecimento é um conceito incompleto e incorreto, no primeiro caso porque trata de gestão do
conhecimento nas (e das) organizações e, no segundo, porque informação não é sinônimo de conhecimento e
o correto, portanto, seria gestão da informação nas organizações ou empresas. Até porque o conhecimento é
objeto de estudo da Epistemologia, no território da Filosofia da Ciência. Informação e conhecimento, na
Ciência da Informação, são conceitos interligados e complementares, uma vez que, sobretudo para a
corrente cognitivista, há informação quando há "transformação de estruturas" (Belkin). Sobre esta distinção,
Barreto (2002, p.49) esclarece: "Agente mediador da produção do conhecimento, o conceito de assimilação
da informação é um processo de interação entre o indivíduo e uma determinada estrutura de informação, que
gera uma modificação em seu estado cognitivo, produzindo conhecimento, que se relaciona corretamente
com a informação recebida".
E esta é uma questão crucial da área, "medir" a absorção da informação, e o que se consegue são
aproximações, através de estudos de uso e de citação, entre outros. Como saber quanto uma informação
contribuiu para a produção de conhecimento de um pesquisador?
Gestão do conhecimento e inteligência competitiva são disciplinas emergentes e há necessidade de estudos
teóricos para tornar mais claros seus conceitos e campos de estudo. Na literatura da área de Inteligência
Competitiva, fica mais evidente que o monitoramento tecnológico toma como método a análise da
informação, principalmente por meio da Bibliometria (portanto, na Ciência da Informação), enquanto a
Gestão do Conhecimento tem sua base calcada no planejamento estratégico e na Administração, mas ambas
trabalham com fundamentos também da Economia.
UFBa
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Instituto de Ciência da
Informação da Universidade Federal da Bahia - ICI/UFBa
1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [UFBa]
Sem preocupações formais, pensamos que há objetivos fundamentais da pós-graduação hoje: produzir um
corpo teórico com liberdade de abrangência; estabelecer novos limites conceituais e de investigação da área
e as interfaces possíveis, inevitáveis e desejáveis com campos de conhecimento afins; formar pesquisadores
e professores que desenvolvam a teoria gerada e conduzam a sedimentação acadêmica e social da área nos
seus novos limites e interfaces.
3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares: [UFBa]
Não se trata propriamente de disciplinas, mas de conteúdos necessários para que o pós-graduando em
Ciência da Informação possa conduzir-se, criticamente, na profissão, na docência ou na pesquisa. Num
primeiro plano estão conhecimentos que relacionam a informação à vida contemporânea, que dão sentido ao
estudo e à pesquisa, que permitem dimensionar, dialogicamente, valores e papéis sociais: Informação e
Sociedade; Informação e Cultura; Economia da Informação; Políticas e Regulação da Informação;
Informação e Desenvolvimento; Teorias da Informação. Num segundo plano, o programa deve permitir o
aprofundamento de conhecimentos que o bibliotecário e o arquivista obrigatoriamente adquirem na
graduação, tais como: Planejamento e Gestão de Sistemas e Serviços de Informação (modelos de sistemas;
unidades de informação: tipologia e funções; teorias e modelos de gestão); Organização e Fluxo da
Informação (teorias e modelos da produção e recepção da informação; concepção de produtos
informacionais); Tecnologias da informação e da Comunicação (impactos; meios e mediação); Evolução da
Documentação; Linguagens documentárias e TICs(como recursos de viabilização da recuperação e
disseminação da informação).
4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [UFBa]
Considerando a realidade nacional, de carência absoluta de serviços básicos de documentação e de
informação (a exemplo da quase inexistência de bibliotecas escolares e a insuficiência de bibliotecas
públicas), a formação ainda deve considerar esse aspecto, sem abrir mão do conceito de ponta da
informação, atrelada às tecnologias de informação e comunicação e seu uso pela sociedade. Portanto, a
graduação deve formar profissionais com competências pontuais. Assim poderíamos ter o profissional da
informação, ou informata, formado para:
1) monitorar informações sobre o ambiente social, cultural, político, econômico e de mercado; 2) exercitar
visão crítica sobre a produção, distribuição e consumo de informação, porque somente com esta visão
poderá produzir, selecionar, organizar e disseminar adequada e eficientemente a informação; 3) ter
competência de gerenciamento e tratamento de informações e domínio de uso das novas tecnologias de
informação e comunicação (NTICs); 4) ser capaz de reconhecer o valor social, cultural, econômico e
político da informação; 5) ser um estrategista, com capacidade de captação, compreensão, análise crítica e
interpretação da realidade, dentro de uma perspectiva histórica, apresente-se ela sob a forma de eventos,
notícias, idéias, dados, imagens, sons, mensagens ou documentos de qualquer tipo.
5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [UFBa]
Além de núcleos derivados das disciplinas indicadas na resposta 3, outros que impliquem na reflexão,
estudo, pesquisa e desenvolvimento da aplicação de tecnologias de informação à acumulação - lato sensu -
de conhecimento.
6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [UFBa]
Dificuldade em manter grupos de pesquisa fortes, em função de diversos fatores, entre os quais: (1) carga
horária excessiva de aulas e de administração acadêmica, que ocupa grande parte do tempo dos
professores/pesquisadores, quebrando o desejável equilíbrio entre ensino, pesquisa e extensão, que
caracteriza a Universidade; (2) insuficiente número de bolsas de pesquisador, no CNPq; (3) quase
inexistência de recursos para custeio de pesquisa; (4) grande dificuldade para comparecimento a eventos
científicos; (5) falta de infra-estrutura nas Universidades, sobretudo no que se refere a pessoal e
equipamentos; (6) existência de poucos programas de pós-graduação plenos (com mestrado e doutorado), o
que tem causado excessiva lentidão no processo de qualificação e titulação do corpo docente das escolas,
institutos e departamentos de Ciência da Informação.
7- Comente:
N.B. - As questões colocadas merecem uma discussão mais ampla em algum dos eventos da área. Portanto,
as respostas aqui registradas devem ser consideradas indicadores para posterior discussão.
UNESP
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de
São Paulo - UNESP - Marília-SP
1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [UNESP]
A questão da(s) denominação (ões) profissional(is) parece-me algo bastante complexo que mereceria, a
priori, algumas reflexões acerca dos saberes e dos fazeres que caracterizam a grande área da Ciência da
Informação. Desse modo, uma discussão isolada nesse sentido poderia cair no sério risco da denominação
como um mero rótulo, sujeita a contigências mercadológicas ou mesmo a modismos. Prefiro, portanto,
pensar em um grande gênero que, a exemplo das lições de Abbot e de Mason, poderia ser denominado
Profissionais da Informação, no âmbito do qual abrigam-se distintos fazeres ligados a ambiências ou a
processos específicos (ex. Arquivologia, Biblioteconomia etc) a partir de um arcabouço teórico e
metodológico oriundo da Ciência da Informação.
4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [UNESP]
Vejo como diferencial da Ciência da Informação exatamente o fato de constituir arcabouço teórico e
metodológico para os distintos fazeres da área informacional. Dessa forma, não a vejo como objeto da
graduação enquanto espaço de formação profissional básica, mas muito mais como um campo de reflexão e
de construção de conhecimento mais próprio da pós-graduação.
5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [UNESP]
Os núcleos temáticos fundamentais de pesquisa na área acredito residirem exatamente nas disciplinas
elencadas na resposta à questão 3 (Nesse sentido, ressalto que a ANCIB vem discutindo essa questão, desde
o encontro de Valinhos, a partir da realidade e das necessidades de pesquisa do país).
6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [UNESP]
No tocante ao ensino, crieo que o maior problema resida na necessidade de políticas claras de incentivo à
pesquisa, mormente na graduação, de modo a que o aluno possa efetivamente vivenciar um processo de
formação com (e pela) pesquisa, como vem ressaltando já há alguns anos a Professora Mara Rodrigues, da
UFF. Para tanto, a questão da capacitação científica docente emerge como um elemento fundamental, de
modo a dar lastro a todo o processo. Nesse sentido, ressalto o importante trabalho que vem sendo
desenvolvido pela ABECIN, por meio de suas oficinas pedagógicas regionais e nacionais, visando ao
delineamento dos projetos pedagógicos dos 31 cursos de graduação em Biblioteconomia do país. Em termos
de pesquisa, sinto que ainda falta à área um maior investimento intelectual na pesquisa teórica, de modo a
propiciar a construção e o debate constante de seus próprios conceitos e metodologias (sua disciplinaridade)
assim como dos aportes interdisciplinares que vem sofrendo. Nesse sentido, o papel da ANCIB, ao buscar o
diálogo entre os pesquisadores, assim como em identificar as áreas temáticas de pesqusia na área, constitui-
se de fundamental importância.