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QUESTÕES SOBRE A PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Publicado no Datagramazero em 2002 esta matéria sobre alguns temas da pós-graduação foram
respondidas, na época, pelos coordenadores dos Programas e agora nove anos passados são de uma
assustadora novidade. O Documento com autoria dos textos pode ser consultado na referência abaixo.

DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.3 n.5 out/02 COLUNAS

Os textos a segui surgiram de uma solicitação feita pela revista DataGramaZero a diversos coordenadores
de cursos de pós graduação em Ciência da Informação para que expressassem as suas reflexões sobre
diversos temas ligados à área. Estão sendo reproduzidos na íntegra, sem cortes ou adições. Na
oportunidade, a revista indicou a sua intenção de publicar, na sua próxima edição, em dezembro de 2002,
comentários, análises e críticas que os textos viessem a provocar, tendo em vista o enriquecimento daquelas
reflexões. Foram sugeridos os seguintes pontos para comentário:

1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ?

2 - Quais seriam os três principais objetivos de um programa de pós-graduação em Ciência da Informação?

3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares:
4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação?

5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área?


6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação?

7- Comente:

- o mestrado acadêmico acabou, com a introdução do profissionalizante?

- a interdisciplinaridade retira a identidade da área?

- existe um arcabouço teórico de consenso na Ciência da Informação?

- algumas disciplinas, tais como a bibliometria - e as medições dirigidas a artigos em periódicos


convencionais - envelheceram e devem ser reformuladas?

- medidas de avaliação baseadas na produtividade de linguagens controladas - tais como a relevância e a


precisão -, devem ser redefinidas no mundo atual da linguagem natural

- falar de "gestão do conhecimento" é uma impropriedade teórica, pois o conhecimento acontece na


consciência do indivíduo, à qual o gerente não tem acesso

USP
Coordenação da Área de Concentração em Ciência da Informação e Documentação do Programa de
Pós-graduação em Comunicação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo -
ECA/USP

Preliminar: atualmente constituímos uma área de concentração num programa em comunicação. Há estudos
em curso sobre a viabilidade de separação da área, tornando-a um programa autônomo em Ciência da
Informação. Estamos, conseqüentemente, passando por um momento de diagnóstico e discussão do futuro.
A resposta abaixo, que representa a visão da coordenação, tornar-se-á igualmente subsídio para as
discussões acerca do nosso futuro.

Respostas/comentários

1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [USP]

O Profissional da Informação trabalha com a informação... esta resposta parece lógica mas encerra uma
questão bastante controvertida e menos discutida do que seria desejável: o que é esta "informação" com a
qual este profissional trabalha? Se respondermos "qualquer informação" estaremos invadindo uma série de
outros campos de atuação profissional, tais como a Auditoria, Contabilidade, Jornalismo, Edição, etc. Na
realidade, atualmente, as perguntas relacionadas à delimitação da informação e às atividades realizadas pelo
Profissional da Informação são em boa parte escamoteadas à medida em que a formação de graduação tem
sua origem na biblioteconomia e ainda retira desta seus principais conceitos e procedimentos. A
terminologia está portanto mudando (de Biblioteconomia para Ciência da Informação) mas as discussões
necessárias para conferir a esta mudança a necessária profundidade e consistência ainda é embrionária. A
ABECIN (Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação) está instigando, norteando e
canalizando este debate de forma muita séria mas ainda há muita discussão por ser feita. Acreditamos que a
Pós-Graduação, justamente por que menos voltada, por princípio, para uma formação profissional (e mais
voltada para uma formação acadêmica do pesquisador) pode e deve sugerir uma agenda para colaborar na
realização deste debate.
De toda forma, independentemente do nome do profissional, o mesmo deve dominar competências básicas
de organização da informação e referencial para pensar como esta informação, uma vez organizada, pode ser
disponibilizada ao público, como é possível construir o acesso à mesma e em quais condições este acesso é
dificultado. Em resumo, este profissional deve ter uma competência organizacional e uma competência de
adequação de procedimentos a contextos específicos de busca e de recuperação da informação.

2 - Quais seriam os três principais objetivos de um programa de pós-graduação em Ciência da Informação?


[USP]

Um programa de pós-graduação, em qualquer área do conhecimento, tem por principal objetivo a construção
do conhecimento. Esta construção do conhecimento se faz de forma integrada pelos atores envolvidos nos
programas: o corpo docente, através de suas pesquisas, disciplinas ministradas e publicações (para tornar a
pesquisa de conhecimento público) e o corpo discente que, através da dissertação de mestrado ou tese de
doutorado, igualmente se propõe a realizar uma pesquisa e debatê-la publicamente diante de uma banca
julgadora.
Um programa de pós-graduação em Ciência da Informação deve ter, portanto, por principal objetivo a
construção do conhecimento em Ciência da Informação. Tendo em vista que a área caracteriza uma "ciência
aplicada", as pesquisas nela desenvolvidas são, em sua maior parte, aplicadas. Por outro lado, tendo em vista
a relação orgânica que se estabeleceu entre programas de pós-graduação e formação de graduação em
biblioteconomia no Brasil (excetuado o programa da UFRJ/IBICT, que nasceu num Instituto voltado para a
Informação Científica e Tecnológica, o IBICT), é natural que muita pesquisas levadas a efeito nos
programas de pós-graduação objetivam explicitamente propor soluções para problemas vivenciados no
contexto da atuação profissional em sistemas e unidades de informação. A Pós-Graduação em Ciência da
Informação no Brasil (e em outros países também, vale ressaltar) está desenvolvendo propostas de melhoria
para a atuação do profissional. Se esta reação é natural, e benéfica para o segmento profissional, é também
perigosa, pois a mesma tende a transformar a pesquisa na elaboração de propostas muito imediatistas e
localizadas em um tempo e espaço bastante reduzidos. Perde-se de vista, neste movimento, a necessidade de
uma pesquisa que sistematize e generalize conceitos e procedimentos para aplicação a muitos contextos
diferentes. Em outras palavras, a descrição de situações específicas e a proposta de soluções para estas
situações específicas tende a se sobrepor à construção do conhecimento.
Tendo em vista este diagnóstico, acreditamos que um programa de pós-graduação em Ciência da Informação
deve ter por principal objetivo a construção do conhecimento em Ciência da Informação, apresentando os
seguintes objetivos específicos:
- construção do conhecimento acerca da organização da informação;
- construção do conhecimento acerca dos contextos nos quais a informação é buscada e das variáveis que
influem neste processo.

3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares: [USP]

Em função da opinião que expressamos no itens 1 e 2 acima, detectamos 4 conteúdos que devem
obrigatoriamente ser tratados por um programa de pós-graduação. Estas temáticas podem ser organizadas
sob forma de disciplinas ou compor um elenco de disciplinas:

- A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, SEU ESTATUTO ENQUANTO CIÊNCIA. O que caracteriza uma


ciência na modernidade e na pós-modernidade, o que caracteriza a Ciência da Informação enquanto ciência,
seu objeto e métodos de trabalho. A pesquisa em Ciência da Informação.

- A INFORMAÇÃO COMO OBJETO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. As múltiplas conceituações de


"informação", a necessidade de proceder a recortes epistemológicos neste objeto para melhor caracterizar a
área do conhecimento. Características da "informação", sua função social, condições de sua produção e
circulação social enquanto bem simbólico.

- A ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO. Procedimentos e variáveis que interferem na organização da


informação. Procedimentos semânticos e sintáticos para representação e organização da informação. A
organização da informação como determinante do acesso à mesma.

- A INFORMAÇÃO EM DIFERENTES CONTEXTOS. A busca e o uso da informação em diferentes


contextos sociais ou institucionais. Fatores que facilitam ou impedem o uso social da informação. As
tecnologias da informação e da comunicação.

As disciplinas complementares devem propor, nesta ótica, detalhamentos das questões acima referidas:
discussões de váriáveis presentes em determinado contexto, a discussão da função das linguagens
documentárias na organização da informação, a bibliometria como corrente da Ciência da Informação, etc.
4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [USP]

Responder à pergunta significa propor um conceito para o objeto "informação". A "informação" se


caracteriza, enquanto objeto da Ciência da Informação, pela função que lhe é atribuída: utilidade
informacional em algum momento do futuro para algum segmento institucional ou social. Uma vez atribuída
uma "potencial utilidade informacional" ao objeto, em decorrência o mesmo deve ter sido registrado (caso
contrário sua utilização no futuro e em outros ambientes se vê comprometida) e acumulado de forma tal
(organizado) que possa efetivamente ser encontrado quando buscado. Esta definição é restritiva, mas nos
parece mais fértil verticalizar (construir conhecimento) neste sentido ao invés de adotarmos uma visão muito
abrangente e nada conseguirmos avançar num universo que se diluirá em diferentes áreas do conhecimento.
Sim, é desejável uma graduação em Ciência da Informação, notando-se no entanto que a discussão acerca da
denominação oficial que deve constar do diploma ainda deve ser amadurecida. É desejável caracterizar o
futuro profissional por sua inserção numa área do conhecimento, subordinando as competências que o
mesmo adquiriu na graduação a uma ciência e afirmando, desta maneira, que o mesmo domina conceitos e
procedimentos que podem ser utilizados em uma série de situações que pressupõem a necessidade da
organização e disponibilização da informação. Enfatizando o domínio de uma área do conhecimento o
espectro de atividades em que o profissional da informação pode atuar se amplia consideravelmente. As
denominações "bibliotecário", "arquivista" ou "museólogo" identificam espaços de atuação, e não
competências para atuação.

5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [USP]

Os núcleos temáticos devem desdobrar os 4 conjuntos temáticos que arrolamos na resposta à pergunta 3. A
questão que deve preocupar a comunidade de Ciência da Informação, a nosso ver, não se refere aos núcleos
temáticos da pesquisa, mas ao entendimento que esta comunidade vem demonstrando ter da pesquisa.
Pesquisa é construção do conhecimento, uma verticalização na investigação, o domínio de uma bibliografia
especializada e atualizada. A pesquisa em Ciência da Informação, para colaborar na consolidação da área,
deve se preocupar com a geração de conceitos e uma terminologia própria, distintiva da linguagem do senso
comum. Uma pesquisa aplicada e muito direcionada para a solução de problemas pontuais, como vem
ocorrendo na área com certa freqüência e já destacado anteriormente, não colabora para a construção da
área.

6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [USP]

Além da indefinição quanto à área da Ciência da Informação e de seu objeto (a "informação"), os programas
de pós-graduação enfrentam ainda outros problemas que podemos denominar de "culturais". Um destes
problemas foi apontado na resposta à pergunta 5: o entendimento que a área vem tendo do que seja a
atividade e a finalidade da pesquisa. Talvez como uma conseqüência deste entendimento, a área publica
pouco e ainda não incorporou uma efetiva cultura de discussão de idéias. A área apresenta resultados de
ações, dificilmente discute idéias ou conceitos, caracterizando assim por um outro ângulo a precariedade de
sua cultura de pesquisa. As discordâncias entre pesquisadores são interpretadas como diferenças entre
pessoas, brigas pelo poder (às vezes, este é efetivamente o caso): a memória não registra nenhum debate
público entre correntes divergentes baseado em conceitos e correntes teóricas. Por fim, como conseqüência
de uma auto-estima baixa da área (mas não dos pesquisadores) a área tem tendência a se auto-desculpar, a se
lamentar em razão de suas dificuldades. Curiosamente, esta reação é também compartilhada por muitos
pesquisadores da área. A auto-complacência, aliada à falta de uma cultura do debate público, enfraquecem a
área e minam nela uma energia mais positiva, mais afirmativa, mais concorrencial em relação às outras áreas
do conhecimento que, quer queiramos quer não, concorrem pela partilha das mesmas verbas públicas.
7- Comente:

- o mestrado acadêmico acabou, com a introdução do profissionalizante? [USP]


O mestrado acadêmico tende a perder um pouco de sua importância, mas não acreditamos que o mesmo
acabe tão cedo na área. De todo modo, se o mesmo tende a perder em importância, isto não se deve aos
mestrados profissionais mas à valorização do doutorado. Em relação ao mestrado profissional consideramos
que a área, tendo em vista o que já dissemos sobre o entendimento que a mesma vem veiculando sobre a
pesquisa, deveria analisar com muito cuidado o mestrado profissional pois este responde, em seus objetivos,
a uma evidente necessidade ressentida pelos sistemas e unidades de informação.

- a interdisciplinaridade retira a identidade da área? [USP]


Uma interdisicplinaridade exercida sem que haja um consenso sobre a disciplinaridade da área de fato vem
comprometendo sua identidade e impedindo que a mesma elabore uma base conceitual.

- existe um arcabouço teórico de consenso na Ciência da Informação? [USP]


Em função da decantada interdisciplinaridade da área, não há consenso sobre seu arcabouço teórico. Há, no
entanto, autores consensuais: Saracevic, Buckland, Lancaster, Otlet, Bush, Vakkari, Wersig, Machlup,
Shera, Foskett, Borko, Bradford, quem mais?

- medidas de avaliação baseadas na produtividade de linguagens controladas - tais como a relevância e a


precisão -, devem ser redefinidas no mundo atual da linguagem natural [USP]
De todo modo, torna-se necessário rever os critérios de avaliação que foram elaborados em relação ao
acervo ou ao estoque de informações. Torna-se agora imperioso integrar os estudos de recepção e avaliar o
produto dos sistemas de informação na ótica do usuário. Em relação à recuperação da informação em
linguagem natural temos legítimas dúvidas acerca da confiabilidade proporcionada por respostas fornecidas
por sistemas de busca em LN. Muita pesquisa deverá ser feita para melhor dimensionar esta questão para
além dos modismos da Internet.

- falar de "gestão do conhecimento" é uma impropriedade teórica, pois o conhecimento acontece na


consciência do indivíduo, à qual o gerente não tem acesso [USP]
Na ECA adotamos a distinção entre informação - socializada e objetivada - e conhecimento, na condição de
uma construção individual e intangível. Neste sentido, a expressão "gestão do conhecimento" é,
efetivamente, imprecisa. No entanto, há meios para transformar o conhecimento em informação e, portanto,
poder socializá-lo. De toda forma, há um constante diálogo entre informação e conhecimento e assim como
os dois fenômenos não podem ser assimilados como se fossem sinônimos, tampouco podem ser estudados
ignorando a outra face da moeda.

PUCCAMP
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação da
Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUCCAMP

1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [PUCCAMP]

a) Para aqueles que trabalham com informação, ou seja, que trabalham na operação de sistemas/unidades de
informação, considero que a denominação PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO é adequada. Não me
ocorre outro nome no momento.

b) quanto às competências do PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO: acompanho a opinião de Le Coadic


(1996) que identifica uma grande variedade de atividades próprias do campo:
- avaliar, planejar, vender e implantar locais de comunicação de informação em instituições;
- implantar programas de gerenciamento de informação e de informatização de unidades de informação
(bibliotecas, museus , arquivos, centros de informação, etc.)
- preparar, resumir e editar informações de natureza científica e técnica;
- administrar unidades de informação (bibliotecas, arquivos, centros de documentação, etc.)
- editar revistas científicas
- organizar (adquirir, registrar, recuperar) e distribuir informação em sua forma original ou como produtos
elaborados a partir dela.

c) faria ainda a distinção entre profissionais da informação e pesquisadores em Ciência da Informação. Neste
caso, recorro aos textos de Aldo Barreto e Le Coadic para caracterizar suas atribuições: a) analisar os
processos de construção, comunicação e uso da informação; b) conceber sistemas que permitam comunicar,
armazenar e usar informação, esta última entendida como estrutura que comporta elementos de sentido e
promovem, pelo seu fluxo, a construção do conhecimento.

2 - Quais seriam os três principais objetivos de um programa de pós-graduação em Ciência da Informação?


[PUCCAMP]

a) promover a produção do conhecimento na área através da pesquisa;


b) formar quadros para a pesquisa e o ensino;
c) promover a difusão e a transferência do conhecimento produzido.

3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares: [PUCCAMP]

Não saberia elencar disciplinas. Prefiro apresentar um conjunto de perspectivas, como segue:

a. Epistemologia da Ciência da Informação


Aspectos centrais: Abordagem do objeto e métodos do campo; abordagem das suas relações
interdisciplinares.

b. Planejamento e gestão de sistemas e serviços de informação


Aspectos centrais: Modelos de sistemas de informação; Unidades de informação: tipologia e funções;
Teorias e modelos de gestão.

c. Políticas de informação
Aspectos centrais: Esfera pública e informação, Direito à informação, Programas, Legislação, Fomento

d. Organização e fluxo da informação


Aspectos centrais: Teorias e modelos da produção e recepção da informação. Concepção de produtos
informacionais.

e. Economia da informação
Aspectos centrais: Economia política da informação e da comunicação. As condições de produção e
circulação da informação.

f. Tecnologias da informação e da Comunicação


Aspectos centrais: Meios, mediações e tecnologia.

4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [PUCCAMP]
a) quanto ao conceito: a área tem dificuldade para estabelecer os limites entre a Ciência da Informação e
outras áreas. Portanto, mesmo tendo consciência do caráter vago da definição, adoto o que segue, inspirada
em Gonzalo Abril (1997): a informação é objeto transacionado entre sujeitos comunicativos. A situação
comunicativa consiste em intervenções de negociação de sentidos. Desse modo, a informação não se
confunde com o conceito de informação da teoria matemática da transmissão de sinais elétricos e muito
menos com os processos biológicos de comunicação através de sinais químicos.

b) sobre a graduação: desdobro a resposta em dois aspectos: 1) a operação de sistemas de informação requer
profissionais formados para essa finalidade; os cursos de graduação cumprem basicamente essa função.
Considero, ainda, que esse grau de formação requer projetos pedagógicos que levem em conta os contextos
(inserção institucional do curso, região, composição do corpo docente, etc.). Um aspecto que gostaria de
destacar diz respeito ao corpo docente: sua composição requer diferentes formações, de modo a responder
adequadamente à natureza interdisciplinar do campo de conhecimento; 2) os programas de pós-graduação,
enquanto instâncias de produção de conhecimento e de formação de quadros para o ensino e a pesquisa,
requer pessoas com experiências variadas. Nesse sentido, é desejável que os programas sejam capazes de
atrair pessoas dos mais variados campos do conhecimento.

5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [PUCCAMP]

Gostaria de propor os mesmos grupos temáticos apresentados no item 3.

6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [PUCCAMP]

Creio que os problemas mais visíveis são:


a) a grave situação em que se encontram vários programas de pós-graduação da área. Em alguns casos, a
raiz do problema está na falta de sintonia entre o sistema nacional de pós-graduação e as políticas de
pesquisa e pós-graduação das universidades. Esse descompasso determina, em larga medida, as dificuldades
enfrentadas por muitos programas para constituir massa crítica adequada (tanto em quantidade quanto em
qualidade) para o ensino e a pesquisa.
b) outro problema igualmente grave: a dificuldade de se constituir grupos de pesquisa fortes em decorrência
dos estilos de atuação dos pesquisadores da área: em nossa área predomina o trabalho individual em
detrimento do trabalho coletivo. Considero também que muitos grupos têm vida curta porque foram
constituídos artificialmente ou de forma burocrática, isto é, não nasceram refletem objetivos de pesquisa
comuns, definidos através de diálogo e de práticas mínimas de trabalho conjunto anterior.

7- Comente:

- o mestrado acadêmico acabou, com a introdução do profissionalizante? [PUCCAMP]


Não creio. São espaços diferenciados. O mestrado acadêmico preocupa-se fundamentalmente com o ensino
e a pesquisa. O mestrado profissional, por sua vez, tem a função primordial de aprimorar a formação de
quadros para a operação de sistemas.

- a interdisciplinaridade retira a identidade da área? [PUCCAMP]


Não. O problema é estabelecer com clareza o objeto da área. A interdisciplinaridade é a característica
marcante da pesquisa no mundo contemporâneo. A informação, objeto complexo, requer o diálogo com
diversas disciplinas, ou seja, requer abordagem interdisciplinar.

- existe um arcabouço teórico de consenso na Ciência da Informação? [PUCCAMP]


O campo não está consolidado. Desse modo, existem consensos parciais. No campo da Organização da
informação, por exemplo, pode-se distinguir dois paradigmas: a abordagem lingüística (comunicacional ou
cognitiva) e a abordagem estatística. Os grupos de pesquisa desta área estão organizados em torno desses
dois marcos de referência.

- algumas disciplinas, tais como a bibliometria - e as medições dirigidas a artigos em periódicos


convencionais - envelheceram e devem ser reformuladas? [PUCCAMP]
Não conheço suficientemente esse campo.

- medidas de avaliação baseadas na produtividade de linguagens controladas - tais como a relevância e a


precisão -, devem ser redefinidas no mundo atual da linguagem natural [PUCCAMP]
Colocaria a questão da seguinte forma: 1) a relevância e a precisão são, tradicionalmente, parâmetros de
mensuração aplicados à eficiência do sistema, melhor dito, da lógica do sistema. Os sistemas de informação
lidam, então com o seguinte paradoxo: algo pode ser relevante para o sistema e não o ser para o usuário.
Portanto, as medidas, por serem aplicadas a aspectos específicos dos sistemas, não fornecem dados sobre a
recepção. 2) a discussão sobre o uso de vocabulários controlados ou de linguagem natural nos dispositivos
de informação tem por base as concepções de linguagem em jogo. Em resumo, critérios e parâmetros de
avaliação de dispositivos de informação é questão em aberto. Acho que é um problema de pesquisa
extremamente relevante. Espero que surjam propostas nessa área.

- falar de "gestão do conhecimento" é uma impropriedade teórica, pois o conhecimento acontece na


consciência do indivíduo, à qual o gerente não tem acesso [PUCCAMP]
Concordo inteiramente, já que o conhecimento é relação entre sujeito e objeto. No campo da Ciência da
informação faz-se gestão da informação, entendida esta última como algo tangível, (portanto forma), que
pode ser inscrita e colocada em circulação.

UnB
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília -
UnB

1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [UnB]

Não creio que a importância esteja na denominação do profissional. De nada adiantará, por exemplo, chamar
o graduado em Biblioteconomia de cientista da informação no lugar de bibliotecário, se o profissional
graduado não for preparado para atuar como um agente de transformação social, entendendo o seu papel
como profissional da informação, neste sentido. Entretanto, concordo que a denominação do profissional
deva ser discutida, para que não fique defasada com o decorrer do tempo e da evolução do conhecimento. O
entendimento do valor do profissional que trabalha com a informação pela sociedade dependerá do
desempenho deste profissional. Alguém questiona se o médico, o engenheiro ou o advogado deve mudar sua
designação profissional?

2 - Quais seriam os três principais objetivos de um programa de pós-graduação em Ciência da Informação?


[UnB]

a) Aprofundar os conhecimentos adquiridos por graduados e pós-graduados em qualquer curso superior


regulamentado pelos órgãos competentes, no Brasil e/ou no Exterior, com interesses afins com a Ciência da
Informação.
b) Desenvolver a capacidade profissional e criadora e a competência científica em Ciência da Informação.
c) Formar pesquisadores, professores e profissionais competentes com capacidade de desenvolver pesquisas
e realizar inovações em Ciência da Informação.
3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares: [UnB]

As disciplinas obrigatórias dos cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciência


da Informação (PPGCINF) da UnB podem ser consideradas como disciplinas básicas para ambos os cursos,
uma vez que atendem perfeitamente aos objetivos do Programa e estão intrinsicamente relacionadas com sua
área de concentração (Planejamento e Gestão da Informação e do Conhecimento), podendo-se afirmar que o
conteúdo programático desenvolvido para atender às ementas das referidas disciplinas permite que seja
acompanhada a evolução do conhecimento na área de Ciência da Informação.
O quadro a seguir mostra as disciplinas obrigatórias do PPGCINF.

Código DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS créditos M D


382272 Informação, Desenvolvimento e 06 x X
Sociedade
382299 Tecnologia da Informação 06 x X
382035 Metodologia da Pesquisa em Ciência da 04 x X
Informação
382281 Pesquisa em Ciência da Informação 06 X
382302 Seminário Avançado em Ciência da 08 X
Informação

As ementas das disciplinas estão relacionadas a seguir:


a). Informação, Desenvolvimento e Sociedade:
Relação entre a informação e o desenvolvimento da sociedade contemporânea sob aspectos diversos (sócio-
econômicos, científicos e técnicos e/ou ambientais). Dependência informacional e dependência econômica.
A informação com fator acelerador do desenvolvimento.
b) Pesquisa em Ciência da Informação:
Conceitos e visões da Ciência da Informação. Características e papel da pesquisa na área. Discussão sobre
rumos e necessidades da pesquisa.
c) Metodologia da pesquisa em Ciência da Informação:
Métodos e técnicas de pesquisa mais usados em Ciência da informação/Biblioteconomia e Documentação.
Identificação de problemas pesquisáveis. Elaboração do projeto de pesquisa em Ciência da Informação.
d) Tecnologia da Informação:
Impacto das novas tecnologias nos processos relativos ao processamento da informação. Transferência da
informação e transferência do conhecimento. Novas tecnologias de informação.
e) Seminário Avançado em Ciência da Informação:
Disciplina de conteúdo especifico não definido, cujo objetivo é permitir a discussão dos assuntos
relacionados com os interesses de cada aluno e com os desenvolvimentos da área e treinar para apresentação
pública de trabalhos.

4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [UnB]

A Ciência da Informação investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que


governam seu fluxo, e os meios de processá-la para otimizar sua acessibilidade e uso. Está ligada ao corpo
de conhecimentos relativos à origem, coleta, organização, estocagem, recuperação, interpretação,
transmissão, transformação e uso da informação. Tem um componente de ciência pura, através da pesquisa
dos fundamentos, sem atentar para sua aplicação, e um componente de ciência aplicada, ao desenvolver
produtos e serviços.
Por sua característica de ciência interdisciplinar, a Ciência da Informação deriva-se e associa-se a outras
áreas do conhecimento, como Ciência da Computação, Comunicação, Administração, Informática,
Matemática, Lógica, Lingüística, Psicologia, Pesquisa Operacional, Análise de Sistemas, Artes Gráficas,
Educação, Biblioteconomia, Arquivística, entre outras. Assim, a biblioteca tradicional e a documentação não
são mais do que aplicações particulares da Ciência da Informação. Entre um extremo e outro do processo de
produção/utilização da informação, situam-se técnicos e especialistas que processam a informação contida
nos diversos documentos, reunindo-a, canalizando-a, tratando-a, selecionado-a, difundindo-a, armazenando-
a e recuperando-a, facilitando, assim, o trabalho dos usuários, que podem ter acesso a informação de que
precisam, nos mais diferentes suportes e nas mais variadas formas de distribuição.

5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [UnB]

Os temas de pesquisa em Ciência da Informação não se restringem mais à informação científica, mas a todo
e qualquer tipo de informação, com diferentes abordagens, para todas as demais áreas do conhecimento. Os
limites da pesquisa na área da Ciência da Informação, portanto, apresentam-se bastante elásticos em
consequência disso.
Assim, as áreas de concentração de problemas para a pesquisa e prática profissional abrangem os enfoques
intelectual e profissional, nas fronteiras da Ciência da Informação com as demais ciências. As palavras-
chave são: gerência ou gestão da informação, comunicação humana, conhecimento, registro do
conhecimento, informação, necessidades de informação, usos da informação, contexto social, contexto
institucional, contexto individual, tecnologia da informação, entre muitas outras que poderiam ser citadas.

6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [UnB]

Com relação ao ensino de pós-graduação, entre os problemas enfrentados, o principal é a inadequada infra-
estrutura de apoio: quantidade insuficiente de equipamentos para apoio às aulas, como canhão de luz ou
data-show, laptop, impressoras e outros; desatualização do acervo de livros e periódicos da Biblioteca
Central na área do PPGCINF. A compra de equipamentos, uma vez que os mesmos são considerados como
bens de capital, sempre é dificultada, pois os recursos disponíveis para apoio ao Programa não permitem
esse tipo de aquisição.
Com relação à pesquisa, sobressaem os problemas referentes às dificuldades de comunicação interna entre
os diferentes órgãos da Universidade, uma vez que informações referentes às possibilidades de apresentação
de projetos a agências de fomento, ou disponibilidade de alocação de recursos financeiros não chegam aos
professores na ocasião oportuna, dificultando a participação mais expressiva do PPGCINF por
desconhecimento, ou muitas vezes, pelo conhecimento tardio de oportunidades para solicitações ou
encaminhamento de pedidos aos setores competentes.

7- Comente:

- o mestrado acadêmico acabou, com a introdução do profissionalizante? [UnB]


Não acredito no fim do mestrado acadêmico, uma vez que os propósitos entre os dois tipos de mestrado são
diferentes.

- a interdisciplinaridade retira a identidade da área? [UnB]


Não. Pelo contrário, aumenta o campo de atuação, o que pode ser considerado como maiores e melhores
condições para demonstrar competência e conquistar espaço profissional para valorização pela sociedade do
pápel desempenhado pelos profissionais que trabalham com a informação.

- existe um arcabouço teórico de consenso na Ciência da Informação? [UnB]


Não sei se existe consenso. Até porque não é necessário que exista consenso. A divergência de opiniões
pode ser enriquecedora. Entretanto, acredito que a área já evoluiu bastante. Precisa saber expressar melhor
esta evolução para a sociedade. Por enquanto, parece que a preocupação maior dos profissionais é insistir em
afirmar que a Ciência da Informação é uma área nova e que falta fundamentação teórica. Enquanto os
próprios profissionais da área se expressarem desta forma, a sociedade não conseguirá entender o verdadeiro
papel dos profissionais da informação.

- algumas disciplinas, tais como a bibliometria - e as medições dirigidas a artigos em periódicos


convencionais - envelheceram e devem ser reformuladas? [UnB]
Qualquer disciplina, de qualquer área do conhecimento, precisa estar em constante observação para
acompanhar a evolução do conhecimento e atualizar-se em função disso.

IBICT
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia- PPGCI/IBICT

Ciência da Informação: questões sobre formação, ensino e pesquisa

Pressupostos das idéias sobre Ciência da Informação


As questões enfocadas neste trabalho e sugeridas pelos editores do periódico Datagramazero serão
discutidas tendo por leitmotiv a Ciência da Informação, aqui compreendida como um campo do
conhecimento, com seu próprio estatuto científico e construção epistemológica e tendo por objeto a
informação em Ciência e Tecnologia, no sentido lato, em abordagem social e tecnológica e reconhecendo a
sua natureza interdisciplinar, nas relações com algumas áreas, principalmente a Biblioteconomia e a Ciência
da Computação, além da Lingüística, Psicologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, entre outras de menor
intensidade.
O entendimento da Ciência da Informação como disciplina toma por fundamento duas definições de
disciplinaridade, ambas de Japiassu (1976), a primeira mais ampla porque articula diferentes planos - de
ensino, formação, métodos e matérias:
"conjunto sistemático e organizado de conhecimentos que apresentam características próprias nos planos de
ensino, da formação, dos métodos e das matérias..."; e
"progressiva exploração científica especializada numa certa área ou domínio homogêneo de estudo"
No exterior, a produção científica é expressiva e somente numa fonte, o ARIST, foram publicadas cinco
extensas e densas revisões sobre a História e Epistemologia da Ciência da Informação (Shera e Cleveland,
em1977, Zunde e Ghel, em 1979, Boyce e Kraft, em 1985, Heilprin, em 1989 e Buckland e Liu, em 1995),
num total de 741 artigos analisados, além de recentes trabalhos de Buckland e Rayward.
Nessa extensa literatura, uma definição foi selecionada, por representar de forma mais completa a área, hoje,
e por ser originada de um dos mais produtivos e respeitados teóricos da Ciência da Informação, Tefko
Saracevic (1992) que, na década de 70, já elaborara uma definição e em 1992 apresentou nova concepção:
"... campo devotado à investigação científica e prática profissional que trata dos problemas de efetiva
comunicação de conhecimentos e de registro do conhecimento entre seres humanos, no contexto de usos e
necessidades sociais, institucionais e/ou individuais de informação. No tratamento desses problemas tem
interesse particular em usufruir, o mais possível, da moderna tecnologia de informação."

1. O profissional de informação em diferentes contextos e múltiplas competências [IBICT]


"Profissional de informação" é uma terminologia genérica que pode abrigar as mais diferentes atividades,
desde o bibliotecário que exerce funções numa biblioteca convencional ou tradicional, seja pública, escolar,
universitária, centro de informação/documentação, ao analista de sistemas e o cientista da informação que
gerenciam ou trabalham num sistema de informação, rede de bibliotecas ou base de dados, numa biblioteca
virtual ou digital, o arquivista que atua num arquivo nacional, histórico ou de empresa, o museólogo que
trabalha em museus ou centros culturais e o cientista de informação que desenvolve pesquisa e estuda os
princípios teóricos, as metodologias, as técnicas e tecnologias e as repercussões sociais, políticas,
educacionais e culturais da informação.
É um profissional que tanto pode prestar diferentes serviços (de referência, empréstimo, busca retrospectiva,
comutação) quanto planejar redes e sistemas de informação, executar a arquitetura de biblioteca digital etc.
Para entender a evolução das atividades do profissional de informação é preciso voltar à história das
bibliotecas, conhecer e acompanhar a evolução da Ciência e Tecnologia e repensar a cisão ocorrida entre
bibliotecários e documentalistas (Lasso de La Vega, 1969), os segundos, precursores dos cientistas da
informação, dos quais Paul Otlet foi pioneiro, no final do século 19, com sua monumental obra e idéias de
vanguarda, além do seu tempo.
É o momento da fragmentação da Ciência originando o surgimento de disciplinas especializadas que, por
sua vez, levaram à criação dos centros de documentação e informação. Nestes, as características principais
são a especialização do acervo numa determinada área, a diversidade documental (não apenas livros) e a
mudança do paradigma do armazenamento e preservação para o de disseminação, por meio da elaboração de
produtos de informação ou publicações secundárias (bibliografias, índices, resumos), que implicam na
seleção, análise e avaliação de conteúdos (Atherton, 1977), o que somente é possível ao especialista da área.
Daí o surgimento de profissionais de diferentes formações que passaram a atuar em centros de
documentação / informação. Ao bibliotecário, de formação mais humanista do que generalista, além de
técnica, o que não exclui a reflexão e a crítica, caberia o exercício da profissão em bibliotecas de acervos
gerais ou, quando especializado, sem a responsabilidade de avaliar conteúdos para elaboração de
bibliografias, estados-da-arte, resumos ("abstracts") etc.
Do armazenamento à disseminação o terceiro paradigma foi inaugurado, a partir de uma nova ordem
mundial, oriunda da globalização e das novas tecnologias da informação - a Sociedade da Informação. A
Internet é o fator determinante e a disponibilização de documentos e informação em rede eletrônica
caracteriza este terceiro momento, quando surgem novas atividades para o profissional de informação, entre
as quais as de webmaster e webdesigner.

2. Principais objetivos de programas de pós - graduação em Ciência da Informação [IBICT]


Um programa de pós-graduação, qualquer que seja a área, deve formar para o exercício da pesquisa e
geração de conhecimento, para a discussão e aprofundamento teórico e construção de espírito reflexivo e
crítico. No caso da Ciência da Informação, um programa de pós deve visar ao estudo da sua história, o
debate e aprofundamento teórico das questões da área, de tal forma a contribuir para a consolidação e
avanços de seus princípios, construtos, teorias e leis e manter um permanente exercício epistemológico. Por
outro lado, deve transmitir conhecimentos que permitam ao cientista da informação exercer a prática
profissional: a gerência e execução de atividades em centros de informação, bases de dados, redes e sistemas
de informação, bibliotecas digitais e virtuais, nas mais diferentes aplicações em organismos como
bibliotecas, arquivos, museus e centros culturais e em campos científicos os mais diversos:Medicina,
Química, Física, Sociologia , História e Geociências, entre outros.

3. Núcleo básico de disciplinas de Ciência da Informação [IBICT]


A autora deste texto vem, ao longo dos anos, desenvolvendo, a partir de estudos e pesquisas sobre História e
Epistemologia da Ciência da Informação, indicadores para definição das disciplinas constituintes da Ciência
da Informação, entre os quais os seguintes: elaboração de mandala com base em disciplinas do Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação, do IBICT e UFRJ, (Pinheiro e Loureiro, 1995), freqüência da
temática de artigos de revisão do ARIST, temas de pesquisas dos SIGs - Special Interest Group, da ASIST,
freqüência de citação de periódicos no ARIST (Pinheiro,1997; 2002) e freqüência de temas do periódico
Ciência da Informação (IBICT, 2000). Neste trabalho, pelos seus objetivos, são adotados os estudos de
freqüência de temas de artigos de revisão publicados no ARIST.
Assim, a constituição de um núcleo básico tem por fundamento a pesquisa empírica realizada em tese de
doutorado (Pinheiro, 1997), sobre Epistemologia e interdisciplinaridade da Ciência da Informação e
recentemente atualizada e apresentada em Seminário na UFPb sobre a constituição e tendências atuais da
Ciência da Informação (Pinheiro, 2002).
A fonte utilizada foi o ARIST, legitimado na área por um conjunto de qualidades:
- ser editado pela ASIST;
- publicar estudos financiados pela National Science Foundation;
- contar com editores reconhecidos, internacionalmente: Carlos Cuadra (1966-1975), Martha Williams
(1996-2001) e Blaise Cronin (2002- ); e
- publicar artigos sob encomenda a pesquisadores e especialistas da Ciência da Informação, de renome
internacional, em temas da atualidade.
Pode ser questionado o fato de ser uma publicação editada nos Estados Unidos, oriunda de uma sociedade
científica também norte-americana, a ASIST. No entanto, participam dessa entidade e lançam trabalhos em
suas publicações pesquisadores de diferentes países, embora, naturalmente, haja predominância de norte-
americanos, o que tem uma certa coerência, não somente geográfica, mas pelo fato de ser o país que
concentra a produção científica da área, secundado pela Grã Bretanha.
A pesquisa empírica abrangeu 38 volumes do ARIST (o de 2000 foi publicado juntamente com o de 2001),
em 39 anos, porque inclui análise dos anos 2003 e 2004, através de " print preview" disponível na Internet,
num total de 388 artigos de revisão, cuja análise é dividida em duas fases:
- 1966-1995: 38 volumes e 307 artigos de revisão (Pinheiro, 1977); e
- 1996- 2004: 8 volumes e 81 artigos de revisão (Pinheiro, 2002).
Os procedimentos metodológicos implicaram na leitura de cada artigo de revisão e o enquadramento de seu
conteúdo ou temática, em uma disciplina da Ciência da Informação ou subárea.
O confronto dos resultados das duas análises, com as respectivas freqüências, pode contribuir para a
definição de um núcleo básico de disciplinas em Ciência da Informação, conforme pode ser visto nos
quadros 1, 2 e 3.

Quadro 1: Disciplinas segundo artigos de revisão do ARIST, por ordem de freqüência ,1966-1995

TEMA/ASSUNTO ARTIGOS DE %
REVISÃO
1. Sistemas de informação 43 14
2. Tecnologia da informação 28 9,12
3. Disseminação da informação 27 8,79
4. Políticas de informação 23 7,49
5. Necessidades e usos de informação 22 7,16
6. Sistemas de recuperação da 20 6,51
informação
7. Computadores e programas 19 6,18
8. Representação da informação 16 5,21
9. Automação de bibliotecas 15 4,88
10.Redes de informação 14 4,56
11.Formação e aspectos profissionais 14 4,56
12.Bases de dados 13 4,23
13.Organização e processamento da 13 4,23
informação
14.Administração da informação 12 3,90
15.Teoria da Ciência da informação 11 3,58
16.Processamento automático de 9 2,93
linguagem
17.Economia da informação 8 2,60
Total 307 99,93

Fonte: PINHEIRO, Lena Vania R. A ciência da Informação entre sombra e luz... tese (1997)

Neste primeiro conjunto de resultados do quadro 1, pode-se observar a presença de disciplinas mais
abrangentes, entre as quais "Disseminação da informação" e "Organização e processamento da informação",
ou focadas nas tecnologias (Computadores e programas), que não constam dos resultados da atualização
mostrados no quadro 2. Esta mudança pode ter ocorrido por fragmentação em disciplina mais especializada,
pelo surgimento de uma nova disciplina originada da evolução da área ou da tecnologia, ou por adoção de
uma nova terminologia.
A exclusão da temática "Computadores e programas" faz lembrar a fase de surgimento do microfilme e a
concentração de estudos em reprodução de documentos, levando ao lançamento de um periódico, o Journal
of Documentary Reproduction, depois não mantido. Embora na ASIST permaneça um SIG - Special
Interest Group - de Automação de Bibliotecas e Redes, a não inclusão do tema Automação de bibliotecas
pode ter ocorrido pela natural evolução do estágio tecnológico, isto é, hoje as bibliotecas, já automatizadas,
estão voltadas à ação de tornar disponíveis as informações na Internet, daí a emergência das bibliotecas
digitais e virtuais.
A exclusão de Redes de informação deve ter ocorrido pelo desdobramento de algumas questões relativas ao
tema em bibliotecas digitais/ virtuais e comunicação científica eletrônica e, mesmo, em sistemas de
informação.

Quadro 2: Disciplinas segundo artigos de revisão do ARIST, por ordem de freqüência. 1996-2004

N.º %
1. Sistemas de recuperação da informação 15 18,51
2. Representação da informação 9 11,11
3. Tecnologia da informação 8 9,87
4. Sistemas de informação 6 7,40
5. Bibliometria 6 7,40
6. Inteligência competitiva e Gestão do 5 6,17
conhecimento
7. Mineração de dados ("data mining") 5 6,17
8. Política de informação 5 6,17
9. Teoria da Ciência da Informação 5 6,17
10.Comunicação científica eletrônica 3 3,70
11.Necessidades e usos da informação 3 3,70
12.Administração de informação 2 2.50
13.Bibliotecas digitais 2 2,50
14.Economia da informação 2 2.50
15.Formação e aspectos profissionais 2 2.50
16.Processamento automático de linguagem 2 2.50
17.Bases de dados 1 1,23
Total 81

Fonte: Pinheiro, Lena Vania R. Seminário. UFPB, 2002.

Uma constatação relevante em termos de expansão da área é o aparecimento, sobretudo em decorrência dos
avanços tecnológicos, de nova temática, como as já mencionadas bibliotecas virtuais/digitais e mineração de
dados, além de Inteligência competitiva e Gestão do conhecimento, a primeira, muito em função de
softwares apropriados a estudos quantitativos e estatísticos, daí a retomada também da Bibliometria, que na
primeira fase não chegou a constar do quadro porque foi objeto de apenas duas revisões, em 28 anos (1966-
1995), enquanto em 8 anos (1996-2004) foi tema de 6 artigos de revisão.
Outras observações a partir dos resultados são:
- a predominância de sistemas de recuperação de informação, ao invés de sistemas de informação, o que
parece ser decorrente do volume de informação na Internet;
- o surgimento da comunicação científica eletrônica, enquanto a comunicação científica convencional
anteriormente não aparece, ao contrário do Brasil, onde o tema é estudado a partir da década de 70, no
PPGCI do IBICT - UFRJ, desde a comunicação cientifica tradicional e, atualmente, inclusive enfocando a
eletrônica;
- a retomada de pesquisas em necessidade, busca e uso da informação, antes reunidas também sob a
denominação de estudos de usuários; e
- a emergência de "Inteligência Competitiva" e "Gestão do Conhecimento", além de "Mineração de Dados",
pela abordagem econômica e gerencial, conseqüência da globalização e das tecnologias de informação e
privilegiando o setor produtivo.
Se considerarmos a presença e permanência de disciplinas nos dois quadros e a soma de sua freqüência nos
quadros 1 e 2, o núcleo básico pode ser definido conforme demonstrado no quadro 3.

Quadro 3: Núcleo básico de disciplinas da Ciência da Informação, por resultado de estudo de freqüência de
artigos de revisão do ARIST

Disciplinas Freqüência
1. Sistemas de informação 49
2. Tecnologia da informação 36
3. Sistemas de recuperação da 35
informação
4. Políticas de informação 28
5. Necessidades e usos de 25
informação
6. Representação da 25
informação
7. Teoria da Ciência da 16
Informação
8. Formação e aspectos 16
profissionais
9. Administração da 14
informação
10.Bases de dados 14
11.Processamento automático 11
da linguagem
12.Economia da informação 10

No quadro 3, portanto, conforme foi explicitado, não fazem parte disciplinas que deixaram de ser tratadas
em artigos de revisão do ARIST, no período 1996-2004, pelos motivos também levantados :Disseminação
da informação, Computadores e programas, Automação de bibliotecas, Redes de informação e Organização
e processamento da informação.
Inversamente, foram incluídas as que somente constam neste período, porque podem representar novas
tendências da área: Inteligência Competitiva e Gestão do conhecimento, Mineração de dados, Comunicação
científica eletrônica e Bibliotecas digitais / virtuais ou novas aplicações como a
Bibliometria
As duas primeiras disciplinas parecem ter promovido, segundo a literatura e eventos da área, interfaces da
Ciência da Informação mais acentuadas, ultimamente, com a Administração e Economia.
É oportuno mencionar que o vínculo interdisciplinar entre Ciência da Informação e Ciência da Computação
sempre foi muito forte, até por ser a tecnologia da informação uma das origens da Ciência da Informação,
tanto que o ARIST- Annual Review of Information Science and Technology, desde o seu início incorporou
ao nome a tecnologia, enquanto a ASIS acrescentou o T de tecnologia a partir de 1999, passando a se
denominar ASIST, refletindo a ênfase da área nas tecnologias.

5. Núcleo temático para pesquisas em Ciência da Informação [IBICT]


A partir do que Pinheiro (1997) chamou domínio epistemológico, nas suas delimitações internas e externas,
foi possível categorizar as disciplinas constituintes da Ciência da Informação, segundo as suas
características, enfoques ou modalidades de conhecimento:
- Disciplinas estruturais;
- Disciplinas de representação ou instrumentais;
- Disciplinas gerenciais;
- Disciplinas tecnológicas; e
- Disciplinas sócio-culturais ou de transferência da Informação
Os núcleos de pesquisa poderiam contemplar o conjunto dessas modalidades do conhecimento, assim
descritas nos seus conteúdos:
- estruturais, reunindo pesquisas históricas, teóricas e epistemológicas sobre conceitos, metodologias,
princípios, leis e interdisciplinaridade da Ciência da Informação, Bibliometria ou Infometria ou, ainda,
Cientometria, comunicação científica e tecnológica;
- instrumentais ou de representação, abrangendo pesquisas sobre os processos de descrição e análise
(catalogação, classificação e indexação) para o sistema de recuperação da informação, instrumentos como
linguagens documentárias, vocabulários controlados e tesauros, normas e padrões nacionais e internacionais,
incluindo as específicas para Web, como o Dublin core etc.;
- gerenciais, com pesquisas voltadas ao planejamento e administração de bibliotecas especializadas, centros
de informação, serviços, redes e sistemas de informação, base de dados, organização e processamento da
informação, gestão da informação, economia da informação, inteligência competitiva e gestão do
conhecimento da empresa, sistemas gerenciais de informação, em abordagem mais de aspectos
administrativos e de recursos (humanos, bibliográficos, materiais, financeiros);
- tecnológicas, abordando a implantação, operação e avaliação de redes e sistemas, redes e serviços de
informação especializados, inclusive DSI e busca retrospectiva, com ênfase na abordagem dos aspectos
tecnológicos, de produção e acesso a bases de dados, arquitetura da informação, serviços e produtos de
informação na Web, bibliotecas digitais e virtuais, OPACs, arquivos abertos, mecanismos de buscas; e
- sócio-culturais ou de transferência da informação, entre a quais política de informação, necessidades,
acesso e uso da informação ou antigos estudos de usuários, informação em Arte e Cultura, divulgação
científica etc.
Quanto à evolução de áreas e linhas de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
do IBICT, em convênio com a UFRJ, desde o início do Mestrado, em 1970 até hoje (González de Gómez,
1982; Pinheiro,1977), observa-se:
- 1970 - duas áreas de concentração: Planejamento de sistemas e Processamento da informação;
- 1976 - três áreas: Usuários, Administração de sistemas de informação e Transferência de informação;
- em 1993/94 - criação do Doutorado, por iniciativa e empenho do Prof. Aldo Barreto, com as linhas de
pesquisa Informação, cultura e sociedade, Informação, tecnologia e sociedade e Epistemologia,
interdisciplinaridade e Ciência da Informação e, no Mestrado, Processamento da informação, Estrutura e
fluxo de informação e Informação, cultura e sociedade.
- 2000 - implantação de nova estrutura, com duas áreas de concentração tanto para Mestrado quanto para
Doutorado: Conhecimento, processos de comunicação e informação e Política e gestão da informação e as
seguintes linhas de pesquisa: Teoria, Epistemologia e interdisciplinaridade, Processamento e tecnologia da
informação, Configurações sociais e políticas da informação e Gestão da informação.

No processo constitutivo e evolutivo do Programa do IBICT há, desde o seu começo, permanente
preocupação com as disciplinas instrumentais e gerenciais, ampliadas pela abordagem sócio-cultural e
fundamentadas nas disciplinas estruturais, de caráter filosófico e teórico, além das tecnológicas e de políticas
de informação.
Marcos importantes no Programa foram a introdução da Bibliometria, no início do mestrado por Tefko
Saracevic; o início dos estudos de Comunicação científica, no final dos anos 70; em 1985, a introdução da
linha de pesquisa e depois área Informação, cultura e sociedade e o início de pesquisas sobre Internet, nos
meados dos anos 90. É oportuno ressaltar a preocupação e reflexão constante em relação à própria área
Ciência da Informação e sua interdisciplinaridade, o que se traduz em estudos epistemológicos e teóricos de
abordagem interdisciplinar, sobretudo com a Museologia, Arquivologia, Comunicação, Biblioteconomia e
aplicações novas como em Arte.

6. Abordagens de informação em Ciência da Informação e em diferentes disciplinas afins

Inicialmente, deve ser destacada a dificuldade em definir os campos do conhecimento que têm por objeto de
estudo a informação e, principalmente, como se concretiza a relação interdisciplinar entre essas áreas, o que
se sustenta em estudos teóricos, sobretudo epistemológicos.
É oportuno, ainda, chamar a atenção para uma questão aparentemente simples, mas não devidamente
esclarecida e que pode ser explicitada em três categorias de relações com a informação:
- daqueles que naturalmente precisam de informação, na condição de usuários, para o exercício de suas
tarefas profissionais e de cidadania, quaisquer que sejam, o que praticamente inclui todas as atividades
humanas;
- daqueles que são produtores de conhecimento, cientistas e pesquisadores e que também são usuários de
informação científica e tecnológica, num fluxo de auto-alimentação; e
- daqueles que têm na informação um triplo papel: 1. a informação é seu objeto de estudo e pesquisa; 2.
dela necessitam para o desempenho de suas atividades científicas e profissionais; e 3. ainda são
responsáveis pelos processos técnicos e tecnológicos relativos à informação,
os chamados profissionais de informação.

[IBICT]
Um dos diferenciais mais fortes da Ciência da Informação são os aspectos semânticos, sintáticos e
pragmáticos da informação (nessa ordem de relevância), apontados por inúmeros autores, entre os quais
Menou (1995) e uma grande preocupação com a recuperação da informação e usuários, daí o instrumental
disponível para tal. Além desse, a disseminação da informação, através de diferentes serviços e produtos,
primários, secundários, terciários e eletrônicos.
Outro viés forte da área, decorrente da sua própria origem, é a ênfase na informação científica e
tecnológica, até hoje predominante, que se desdobra em estudos de comunicação científica, desde a informal
até formal, incluindo a eletrônica, fundamentados na História e Sociologia da Ciência, os estudos
quantitativos e estatísticos de informação da Bibliometria, para gerar indicadores de C&T, de produtividade
de cientistas (Lotka) e análise de citação, de produtividade de periódicos (Bradford), de freqüência de
palavras (Zipf), de obsolescência e vida média da literatura, processo epidemiológico (Goffman), hoje
estendidos para o monitoramento tecnológico e setor produtivo, praticados na Inteligência Competitiva.
A tecnologia da informação, que muito contribuiu para o seu desenvolvimento e corresponde ao outro viés
da sua origem, sempre foi estudada em relação às suas repercussões nas comunidades científicas e
tecnológicas e na sociedade.
Enfim, a Ciência da Informação tem por foco central o processo de transferência da informação desde a sua
origem, a geração de conhecimento em comunidades cientificas ao seu processamento, até ao uso e
absorção.
Tanto a Biblioteconomia tem procurado abarcar as disciplinas estudadas na Ciência da Informação, o que é
complexo devido ao ambiente que esta privilegia, de C&T e P&D, quanto a Ciência da Computação está
estudando o que denominam ontologias, correspondendo aos aspectos semânticos da informação, bem como
as repercussões sociais, denominada Informática Social. Um exemplo atual é o Center for Social Informatics
(2002), fundado em 1996, para pesquisar questões como os fatores sociais que influenciam o uso da
tecnologia da informação e como transforma o ambiente de trabalho. Importante observar que o Centro foi
criado com o apoio de um pesquisador da Ciência da Informação, Blaise Cronin, decano da School of
Library and Information Science.
Não penso ser desejável uma graduação em Ciência da Informação, pelos inúmeros fatores explicitados ao
longo deste trabalho, pois creio ser difícil, em nível de graduação, responder ao escopo, conteúdos
disciplinares e objetivos da Ciência da Informação.

7. A "insustentável leveza" de algumas questões em Ciência da informação

7.1 Mestrado acadêmico e mestrado profissionalizante [IBICT]


Os objetivos de cada um são distintos, como todos sabem, portanto, principalmente na área de Ciência da
Informação, creio que são desejáveis mestrados profissionalizantes, principalmente considerando as
aplicações em área específicas, por exemplo, Medicina, Química, Geociências etc., voltados para as
operações e de caráter mais instrumental, o que não exclui o mestrado acadêmico, com suas preocupações
mais teóricas e de pesquisa.

7.2 A interdisciplinaridade tira a identidade da área? [IBICT]


Pelo contrário, a interdisciplinaridade pressupõe a disciplinaridade e a própria etimologia da palavra já assim
a traduz. O que ocorre é a falta de pesquisas e estudos teóricos em Ciência da Informação, no Brasil que,
juntamente com os de Filosofia da Ciência e de Epistemologia, isto é, conhecimento filosófico,
contribuiriam para fundamentar e clarificar conceitos próximos e muito confundidos como os já citados,
além de muldisciplinaridade, transdisciplinaridade e outros.
Mais uma vez, uma citação de Japiassu (1976) para reforçar estes argumentos " É indispensável que a
interdisciplinaridade seja fundida sobre a competência de cada especialista. O avanço da teorização
interdisciplinar exibe o domínio seguro das exigências epistemológicas e metodológicas comuns a todo
conhecimento, bem como dos aspectos específicos e particulares das disciplinas humanas... ". Sem esses
pressupostos, cabe a advertência de Boulding (apud Machlup; Mansfield,1983): "... É muito fácil a
interdisciplinaridade degenerar em indisciplinaridade"

7.3 Existe um arcabouço teórico de consenso na Ciência da Informação? [IBICT]


O termo não seria consenso, ou melhor, existe consenso, pelo menos no exterior, quanto ao núcleo básico,
cujas disciplinas foram identificadas anteriormente, neste trabalho, sem as quais não se pode afirmar que a
área é Ciência da Informação.
O que pode ocorrer é o predomínio de uma abordagem em determinado Programa de Ciência da Informação,
que em outro não tenha a mesma relevância e, certamente, uma flutuação nas disciplinas periféricas ou de
fronteira, que podem variar de acordo com o próprio Programa, a Universidade, o país, enfim, características
mais localizadas mas, na essência, como afirma Saracevic (1992), a Ciência da Informação tem caráter
universal, não existiria uma Ciência da informação brasileira, por exemplo, o que não exclui a sua
historicidade. Sobre este assunto, González de Gómez (2002, p.25) afirma que a construção do objeto da
área, a informação, "...deve equacionar oscilações e deslocamentos entre os diversos domínios: cultural,
econômico, político: do que se manifesta como processo (energeia) ao que é da ordem do produto (ergon);
do que possui referenciais ontológicos ao que se manifesta no modo da cognição".

7.4 Algumas disciplinas, como a Bibliometria, medindo o núcleo de artigos em periódicos convencionais
envelheceram, e têm que ser reformuladas? [IBICT]
Pelo contrário, a Bibliometria voltou fortalecida pela disponibilidade de softwares específicos como o Data
View e Matrisme do CRRM, da Université Aix Marseille III e o Vantage Point, de Allan Porter, do
GeorgiaTech e, sobretudo, por novas abordagens e aplicações.
Inicialmente a Bibliometria foi a metodologia adotada para indicadores de Ciência e hoje vem sendo muito
utilizada em Inteligência competitiva, sobretudo para monitoramento tecnológico no setor produtivo e,
ultimamente também para estudos na Web.
As interpretações também são adaptáveis à área ou setor, por exemplo, a zona de baixa freqüência,
denominada por Bradford, de dispersão, e que não era considerada para produtividade de periódicos, pode
ser indicador de surgimento de uma nova tecnologia, e assim tem sido interpretado no monitoramento de
novas tecnologias.
Finalmente, a trajetória de sucesso do ISI - Institute for Scientific Information, nos Estados Unidos, o seu
fundador, Garfield, hoje presidente da ASIST e os resultados da pesquisa empírica de Pinheiro (2002), onde
fica patente o ressurgimento da Bibliometria, bastam para mostrar que a Bibliometria está em plena
retomada.
Ainda que a Bibliometria seja metodologia quantitativa e estatística e, portanto, tenha limitações daí
advindas, desde que seja utilizada tendo por fundamento a História e a Sociologia da Ciência, os resultados
podem redundar em indicadores válidos e úteis. Enfim, apesar das críticas, até hoje são utilizados os dados
do ISI, o que parece traduzir que ainda não foi criada metodologia melhor para informação publicada ou
registrada, com esses propósitos.

7.5 Medidas de avaliação baseadas em linguagens controladas, como a relevância e precisão devem ser
redefinidas no mundo atual da linguagem natural? [IBICT]
Há que se fazer uma diferença fundamental nesta discussão: a linguagem natural pode até ser adequada à
recuperação da informação para um usuário não especializado ou, pensando na Internet, um navegante sem
roteiro de viagem, isto é, sem uma pergunta específica de informação, ou ainda quando um especialista faz,
na rede, o que antes fazia numa biblioteca e já era chamado "browse", o que é ocasional.
Para um pesquisador de uma comunidade científica ou qualquer outra especializada, entretanto, a rapidez e a
precisão na recuperação foram e continuam a ser essenciais. Assim, a linguagem natural provavelmente não
atenderá à precisão e rapidez desejada na busca à resposta a uma questão pontual.
Esta discussão sobre linguagem natural, no centro de grande polêmica de recuperação da informação na
Internet, tem algumas repostas:
- na pesquisa empírica de Pinheiro (1997 ; 2002), a recuperação da informação e representação da
informação ocupam o núcleo de disciplinas básicas da área, a primeira no topo da maior incidência, no
período 1996-2004; e
- na pesquisa de mestrado de Alencar (2001), sobre metodologias de avaliação de mecanismos de busca, na
qual adotou alguns parâmetros clássicos da Ciência da Informação para sistemas online, inclusive de
Lancaster, autoridade na área, foi comprovada a aplicabilidade, para Internet, de alguns critérios básicos,
sendo cinco os principais: precisão, cobertura, esforço do usuário, formato de saída e atualidade. A autora
ressalta, nas conclusões, a "... importância da base teórica da Ciência da Informação para os estudos de
tecnologias de informação de base digital".

7.6 Gestão do conhecimento é uma imprecisão teórica, pois o conhecimento acontece na consciência do
indivíduo, onde o gerente não tem acesso? [IBICT]
Gestão do conhecimento é um conceito incompleto e incorreto, no primeiro caso porque trata de gestão do
conhecimento nas (e das) organizações e, no segundo, porque informação não é sinônimo de conhecimento e
o correto, portanto, seria gestão da informação nas organizações ou empresas. Até porque o conhecimento é
objeto de estudo da Epistemologia, no território da Filosofia da Ciência. Informação e conhecimento, na
Ciência da Informação, são conceitos interligados e complementares, uma vez que, sobretudo para a
corrente cognitivista, há informação quando há "transformação de estruturas" (Belkin). Sobre esta distinção,
Barreto (2002, p.49) esclarece: "Agente mediador da produção do conhecimento, o conceito de assimilação
da informação é um processo de interação entre o indivíduo e uma determinada estrutura de informação, que
gera uma modificação em seu estado cognitivo, produzindo conhecimento, que se relaciona corretamente
com a informação recebida".
E esta é uma questão crucial da área, "medir" a absorção da informação, e o que se consegue são
aproximações, através de estudos de uso e de citação, entre outros. Como saber quanto uma informação
contribuiu para a produção de conhecimento de um pesquisador?
Gestão do conhecimento e inteligência competitiva são disciplinas emergentes e há necessidade de estudos
teóricos para tornar mais claros seus conceitos e campos de estudo. Na literatura da área de Inteligência
Competitiva, fica mais evidente que o monitoramento tecnológico toma como método a análise da
informação, principalmente por meio da Bibliometria (portanto, na Ciência da Informação), enquanto a
Gestão do Conhecimento tem sua base calcada no planejamento estratégico e na Administração, mas ambas
trabalham com fundamentos também da Economia.

UFBa
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Instituto de Ciência da
Informação da Universidade Federal da Bahia - ICI/UFBa

1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [UFBa]

1.1 Quanto à denominação:


As profissões de bibliotecário e de arquivista são clássicas e universais, com atribuições estabelecidas e
perenemente válidas, mas afetadas, significativamente, pela Telemática. Desde que essas instituições e seus
profissionais viram-se forçados a focar sua atuação na informação e não mais no documento, atendendo às
exigências da Sociedade que vem se baseando na Informação, essas nomenclaturas deixam de representar
etimologicamente o objeto agora focado: a informação, o que implica, naturalmente, em uma mudança de
denominação.
No entanto, e como também é natural, há resistências quanto à mudança das nomenclaturas dessas
profissões e profissionais. Se cabe repensar as nomenclaturas, e para isso muitas discussões deverão ocorrer
até se chegar a um consenso, cabe considerar nessas discussões, de maneira enfática, que as competências
tradicionais de organização da informação dessas profissões (registrar, controlar, recuperar e disseminar a
informação), não perderam o seu sentido. Ao contrário, são valiosas e continuam sendo fundamentais para a
recuperação da informação e do documento, além da importante tarefa de preservação da memória da
humanidade.
O que não deve ser perdido de vista é o conhecimento profundo dos fundamentos da documentação, bem
como da evolução das tecnologias que, ao longo da história da humanidade, vêm dando suporte à sua
organização e sua disseminação. Considerando que a atual dinâmica das organizações, sejam elas públicas
ou privadas, impõe a informação como seu diferencial competitivo, esses profissionais devem trabalhar, a
partir de suas competências essenciais, em equipes multi e interdisciplinares, de forma sinérgica,
constituindo um verdadeiro "time". Os profissionais tradicionais, aproveitando a experiência com técnicas
de gerenciamento da informação, associando-as a conhecimentos sobre as tecnologias da informação e
trabalhando em equipes multi e interdisciplinares, devem assumir, também agora, um importante papel de
"filtro", agregando valor aos seus produtos e serviços de informação.
Desse modo, a denominação poderia ser mesmo profissional da informação ou informata, que comporia a
equipe junto a outros profissionais com competências delimitadas, como por exemplo:profissionais da área
de Informática: analistas de sistemas, programadores, webdesigners, etc.; profissionais da área de marketing
entre outros.

1.2 Quanto às competências


Entende-se como desejáveis as propostas por Le Coadic (1996), que relaciona habilidades próprias dos
organizadores da informação, e de Davenport (1998), que relaciona habilidades de gestor informacional,
considerando o novo paradigma organizacional baseado na informação.
As citadas por Le Coadic (1996) enfatizam:
- avaliar, planejar, e implantar locais de comunicação de informação em instituições;
- implantar programas de gerenciamento de informação e de informatização de unidades de informação
(bibliotecas, museus, arquivos, centros de informação, etc.
- preparar, resumir e editar informações de natureza científica e técnica;
- administrar unidades de informação (bibliotecas, arquivos, centros de documentação, etc.)
- editar revistas científicas;
- organizar (adquirir, registrar, recuperar) e distribuir informação em sua forma original ou como produtos
elaborados a partir dela.
As citadas por Davenport (1998) necessariamente devem estar presentes em uma equipe informacional:
- compreensão abrangente da área de atuação e conhecimento da estrutura e da função da organização;
- conhecimento sobre as diferentes fontes de informações para a organização;
- facilidade de acesso a tecnologias de informação;
- entendimento político associado à habilidade para exercer liderança;
- fortes qualificações para relações interpessoais;
- expressiva orientação para o conjunto do desempenho do negócio, em vez de submissão a objetivos
funcionais da organização.
Deve haver uma distinção clara entre o profissional que "organiza e gerencia" e o que faz ciência na área, o
pesquisador, o profissional pós-graduado, isto é, aquele que tem os fenômenos que envolvem a informação
como objeto de estudo.

2 - Quais seriam os três principais objetivos de um programa de pós-graduação em Ciência da Informação?


[UFBa]

Sem preocupações formais, pensamos que há objetivos fundamentais da pós-graduação hoje: produzir um
corpo teórico com liberdade de abrangência; estabelecer novos limites conceituais e de investigação da área
e as interfaces possíveis, inevitáveis e desejáveis com campos de conhecimento afins; formar pesquisadores
e professores que desenvolvam a teoria gerada e conduzam a sedimentação acadêmica e social da área nos
seus novos limites e interfaces.

3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares: [UFBa]

Não se trata propriamente de disciplinas, mas de conteúdos necessários para que o pós-graduando em
Ciência da Informação possa conduzir-se, criticamente, na profissão, na docência ou na pesquisa. Num
primeiro plano estão conhecimentos que relacionam a informação à vida contemporânea, que dão sentido ao
estudo e à pesquisa, que permitem dimensionar, dialogicamente, valores e papéis sociais: Informação e
Sociedade; Informação e Cultura; Economia da Informação; Políticas e Regulação da Informação;
Informação e Desenvolvimento; Teorias da Informação. Num segundo plano, o programa deve permitir o
aprofundamento de conhecimentos que o bibliotecário e o arquivista obrigatoriamente adquirem na
graduação, tais como: Planejamento e Gestão de Sistemas e Serviços de Informação (modelos de sistemas;
unidades de informação: tipologia e funções; teorias e modelos de gestão); Organização e Fluxo da
Informação (teorias e modelos da produção e recepção da informação; concepção de produtos
informacionais); Tecnologias da informação e da Comunicação (impactos; meios e mediação); Evolução da
Documentação; Linguagens documentárias e TICs(como recursos de viabilização da recuperação e
disseminação da informação).

4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [UFBa]
Considerando a realidade nacional, de carência absoluta de serviços básicos de documentação e de
informação (a exemplo da quase inexistência de bibliotecas escolares e a insuficiência de bibliotecas
públicas), a formação ainda deve considerar esse aspecto, sem abrir mão do conceito de ponta da
informação, atrelada às tecnologias de informação e comunicação e seu uso pela sociedade. Portanto, a
graduação deve formar profissionais com competências pontuais. Assim poderíamos ter o profissional da
informação, ou informata, formado para:
1) monitorar informações sobre o ambiente social, cultural, político, econômico e de mercado; 2) exercitar
visão crítica sobre a produção, distribuição e consumo de informação, porque somente com esta visão
poderá produzir, selecionar, organizar e disseminar adequada e eficientemente a informação; 3) ter
competência de gerenciamento e tratamento de informações e domínio de uso das novas tecnologias de
informação e comunicação (NTICs); 4) ser capaz de reconhecer o valor social, cultural, econômico e
político da informação; 5) ser um estrategista, com capacidade de captação, compreensão, análise crítica e
interpretação da realidade, dentro de uma perspectiva histórica, apresente-se ela sob a forma de eventos,
notícias, idéias, dados, imagens, sons, mensagens ou documentos de qualquer tipo.

5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [UFBa]

Além de núcleos derivados das disciplinas indicadas na resposta 3, outros que impliquem na reflexão,
estudo, pesquisa e desenvolvimento da aplicação de tecnologias de informação à acumulação - lato sensu -
de conhecimento.

6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [UFBa]

Dificuldade em manter grupos de pesquisa fortes, em função de diversos fatores, entre os quais: (1) carga
horária excessiva de aulas e de administração acadêmica, que ocupa grande parte do tempo dos
professores/pesquisadores, quebrando o desejável equilíbrio entre ensino, pesquisa e extensão, que
caracteriza a Universidade; (2) insuficiente número de bolsas de pesquisador, no CNPq; (3) quase
inexistência de recursos para custeio de pesquisa; (4) grande dificuldade para comparecimento a eventos
científicos; (5) falta de infra-estrutura nas Universidades, sobretudo no que se refere a pessoal e
equipamentos; (6) existência de poucos programas de pós-graduação plenos (com mestrado e doutorado), o
que tem causado excessiva lentidão no processo de qualificação e titulação do corpo docente das escolas,
institutos e departamentos de Ciência da Informação.

7- Comente:

- o mestrado acadêmico acabou, com a introdução do profissionalizante? [UFBa]


- Não. São espaços diferenciados sendo que o mestrado acadêmico é voltado para o ensino e a pesquisa,
enquanto que o mestrado profissional é operacional, normalmente dirigido para soluções de interesses
organizacionais e atendimento de necessidades específicas do mercado de trabalho.

- a interdisciplinaridade retira a identidade da área? [UFBa]


- Não, na medida em que esta área tenha claro o seu objeto. O pluralismo da sociedade atual exige inter e
multidisciplinaridade. O que pode tirar a identidade de qualquer área - não apenas da nossa - é a ausência de
compreensão do mundo moderno, sua complexidade, sua dinâmica, suas redefinições. O vertiginoso
desenvolvimento científico e tecnológico que a humanidade vem alcançando, particularmente nos últimos
20 anos, impõe novos valores como convergência, compartilhamento, flexibilidade. O importante é estar
dentro do processo, refletindo sobre ele, influenciando-o, co-participando ativamente de qualquer
movimento de redivisão do trabalho.

- existe um arcabouço teórico de consenso na Ciência da Informação? [UFBa]


- É uma área nova, não consolidada e carecendo ainda estabelecer seus limites de forma clara. O que se
vislumbra são algumas tendências como, por exemplo, a forte influência da lingüística, que deve ser cada
vez mais considerada na organização da informação.

- algumas disciplinas, tais como a bibliometria - e as medições dirigidas a artigos em periódicos


convencionais - envelheceram e devem ser reformuladas? [UFBa]
- Não, ela está sendo renovada e enriquecida com as TICs, que apontam para outras ferramentas, que podem
ser apropriadas e que vêm emergindo nos estudos de uso de inteligência nas organizações, dando os
fundamentos para o surgimento de novos métodos e/ou técnicas de trabalho (datawarehousing, datamining,
cientometria, entre outros).

- medidas de avaliação baseadas na produtividade de linguagens controladas - tais como a relevância e a


precisão -, devem ser redefinidas no mundo atual da linguagem natural [UFBa]
- É uma área promissora e um campo aberto para pesquisa.

- falar de "gestão do conhecimento" é uma impropriedade teórica, pois o conhecimento acontece na


consciência do indivíduo, à qual o gerente não tem acesso [UFBa]
- Concordamos. O conhecimento é tácito e está nas mentes humanas, portanto não é possível gerenciar o
conhecimento. O conhecimento explícito, entenda-se informação, é que é possível gerenciar. Destaque-se,
no entanto, a visão de Armando Malheiro da Silva, sobre conhecimento, referindo-se ao que tem sido
acumulado em forma de registros (estoques) ao longo da história da humanidade.

N.B. - As questões colocadas merecem uma discussão mais ampla em algum dos eventos da área. Portanto,
as respostas aqui registradas devem ser consideradas indicadores para posterior discussão.

UNESP
Coordenação do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de
São Paulo - UNESP - Marília-SP

1 - Que nome deveria ter aquele que trabalha com informação na atualidade e quais as suas competências
básicas ? [UNESP]
A questão da(s) denominação (ões) profissional(is) parece-me algo bastante complexo que mereceria, a
priori, algumas reflexões acerca dos saberes e dos fazeres que caracterizam a grande área da Ciência da
Informação. Desse modo, uma discussão isolada nesse sentido poderia cair no sério risco da denominação
como um mero rótulo, sujeita a contigências mercadológicas ou mesmo a modismos. Prefiro, portanto,
pensar em um grande gênero que, a exemplo das lições de Abbot e de Mason, poderia ser denominado
Profissionais da Informação, no âmbito do qual abrigam-se distintos fazeres ligados a ambiências ou a
processos específicos (ex. Arquivologia, Biblioteconomia etc) a partir de um arcabouço teórico e
metodológico oriundo da Ciência da Informação.

2 - Quais seriam os três principais objetivos de um programa de pós-graduação em Ciência da Informação?


[UNESP]
Vejo como principais objetivos da pós-graduação na área: a) contribuir para a formação de massa crítica na
área; b) capacitar docentes para o ensino na área; c) gerar conhecimento (teórico e aplicado) na área.
3 -Indique cinco disciplinas do núcleo básico da área de Ciência da Informação (se possível, faça um
comentário, em uma ou duas linhas, sobre cada uma delas) ; qual a participação percentual desse núcleo
sobre o conjunto das demais disciplinas complementares: [UNESP]
Como disciplinas nucleares da área de Ciência da Informação, vislumbro as seguintes: a) Fundamentos de
Ciência da Informação (voltada para as discussões epistemológicas da área); b) Organização da informação;
c) Gestão da informação; d) Transferência da informação (abrangendo os recursos e serviços de informação)
e e) Tecnologias em informação. E é exatamente nessa concepção que o program ade mestrado da UNESP,
em virtude de sua própria trajetória acadêmica, vem investindo em duas linhas específicas, voltadas
respectivamente para a questão da Organização da Informação e para as Tecnologias em Informação.

4 - Qual o diferencial da Ciência da Informação sobre as demais disciplinas (ou áreas) que lidam com a
informação? É desejável uma graduação em Ciência da Informação? [UNESP]
Vejo como diferencial da Ciência da Informação exatamente o fato de constituir arcabouço teórico e
metodológico para os distintos fazeres da área informacional. Dessa forma, não a vejo como objeto da
graduação enquanto espaço de formação profissional básica, mas muito mais como um campo de reflexão e
de construção de conhecimento mais próprio da pós-graduação.

5 - Quais deveriam ser os principais núcleos temáticos para a pesquisa na área? [UNESP]
Os núcleos temáticos fundamentais de pesquisa na área acredito residirem exatamente nas disciplinas
elencadas na resposta à questão 3 (Nesse sentido, ressalto que a ANCIB vem discutindo essa questão, desde
o encontro de Valinhos, a partir da realidade e das necessidades de pesquisa do país).

6 - Sem considerar o aspecto financeiro, o fomento, bolsas de estudo das agências do Governo, quais os
principais problemas do ensino e da pesquisa na área de Ciência da Informação? [UNESP]
No tocante ao ensino, crieo que o maior problema resida na necessidade de políticas claras de incentivo à
pesquisa, mormente na graduação, de modo a que o aluno possa efetivamente vivenciar um processo de
formação com (e pela) pesquisa, como vem ressaltando já há alguns anos a Professora Mara Rodrigues, da
UFF. Para tanto, a questão da capacitação científica docente emerge como um elemento fundamental, de
modo a dar lastro a todo o processo. Nesse sentido, ressalto o importante trabalho que vem sendo
desenvolvido pela ABECIN, por meio de suas oficinas pedagógicas regionais e nacionais, visando ao
delineamento dos projetos pedagógicos dos 31 cursos de graduação em Biblioteconomia do país. Em termos
de pesquisa, sinto que ainda falta à área um maior investimento intelectual na pesquisa teórica, de modo a
propiciar a construção e o debate constante de seus próprios conceitos e metodologias (sua disciplinaridade)
assim como dos aportes interdisciplinares que vem sofrendo. Nesse sentido, o papel da ANCIB, ao buscar o
diálogo entre os pesquisadores, assim como em identificar as áreas temáticas de pesqusia na área, constitui-
se de fundamental importância.

- o mestrado acadêmico acabou, com a introdução do profissionalizante? [UNESP]


Vejo o mestrado acadêmico como aquele efetivamente voltado para a questão científica, em termos de
capacitação de pesquisadores para a área, estejam eles no âmbito da atuação docente no ensino superior
(convergindo com a concepção de ensino com pesquisa anteriormente referida), estejam em institutos de
pesquisa.Já o mestrado profissionalizante, dadas suas características, mais se assemelha a um pós-graduação
lato sensu, por responder a demandas específicas e diretas do mercado.

- a interdisciplinaridade retira a identidade da área? [UNESP]


No que tange à questão da interdisciplinaridade, sempre tão propalada na área, creio que somente tirará a
identidade da Ciência da Informação se essa não investir clara, séria e sistematicamente tanto na busca de
sua própria disciplinaridade quanto na identificação dos recortes que devem ser feitos a partir dos aportes
interdisciplinares.

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