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JORGE DE SENA

BIOGRAFIA
Quem a tem…

Não hei de morrer sem saber


qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser


desta terra em que nasci.
5 Embora ao mundo pertença Nasceu em Lisboa, em 1919 e morreu em 1978,
e sempre a verdade vença, em Santa Bárbara, Califórnia. Llicenciou-se em
qual será ser livre aqui, Engenharia no Porto, mas desde logo revelou
não hei de morrer sem saber. uma grande vocação para a escrita literária e
para o estudo da literatura. Participou na
coordenação da revista Cadernos de Poesia e,
Trocaram tudo em maldade. em 1959, exilou-se voluntariamente no Brasil,
10 é quase um crime viver. por se opor ao regime salazarista. Adquiriu a
Mas, embora escondam tudo cidadania brasileira e desenvolveu uma intensa
e me queiram cego e mudo, atividade académica na área da literatura
não hei de morrer sem saber portuguesa.
Em 1965 muda-se para os EUA, para ser
qual a cor da liberdade.
professor universitário em Wisconsin e
posteriormente na Califórnia, onde morreu, em
9/12/1956 1977.

JORGE DE SENA, Poesia II, Lisboa, Edições 70, 1988.

1. No poema, o eu lírico mostra-se preocupado com a falta de liberdade no seu país.


1.1 Explicite as situações referidas no poema que são responsáveis por um ambiente repressivo.

2. Interprete a frase «Eu não posso senão ser / desta terra em que nasci.» (vv. 3 e 4).

3. Atente na ocorrência da conjunção subordinada concessiva «embora» (v. 5).


3.1 Considerando os contextos em que ocorre essa conjunção, caracterize psicologicamente o eu
lírico.

4. Refira a expressividade da repetição em cada estrofe do verso «não hei de morrer sem saber».

5. Tendo em conta o ano em que o poema foi escrito (1956), explicite a realidade política que será
responsável pela falta de liberdade referida no poema.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana


Os trabalhos e os dias

Sento-me à mesa como se a mesa fosse o mundo inteiro


e principio a escrever como se escrever fosse respirar
o amor que não se esvai enquanto os corpos sabem
de um caminho sem nada para o regresso da vida.

5 À medida que escrevo, vou ficando espantado


com a convicção que a mínima coisa põe em não ser nada.
Na mínima coisa que sou, pôde a poesia ser hábito.
Vem, teimosa, com a alegria de eu ficar alegre,
quando fico triste por serem palavras já ditas
10 estas que vêm, lembradas, doutros poemas velhos.

Uma corrente me prende à mesa em que os homens comem.


E os convivas que chegam intencionalmente sorriem
e só eu sei porque principiei a escrever no princípio do mundo
e desenhei uma rena para a caçar melhor
15 e falo da verdade, essa iguaria rara:
este papel, esta mesa, eu apreendendo o que escrevo.

JORGE DE SENA, Poesia I, Lisboa, Edições 70, 1988.

1. O tema do texto é a poesia e a criação poética.


1.1 Comprove a ideia mencionada nesta afirmação com referências ao poema.

2. Interprete o primeiro verso, tendo em conta todo o poema.

3. Caracterize o papel que a poesia desempenha na vida do eu lírico segundo as duas primeiras estrofes.
3.1 Indique um recurso estilístico presente nos versos 8 a 10 e comente a sua expressividade.

4. Comente os dois primeiros versos da terceira estrofe.

5. Interprete o verso final do poema.

6. A partir da globalidade do poema, caracterize a relação que a poesia estabelece com o mundo.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana


Camões dirige-se aos seus contemporâneos

Podereis roubar-me tudo:


As ideias, as palavras, as imagens,
E também as metáforas, os temas, os motivos,
Os símbolos, e a primazia
5 Nas dores sofridas de uma língua nova,
No entendimento de outros, na coragem
De combater, julgar, de penetrar
Em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
10 Suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
Outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
Será terrível. Não só quando
Vossos netos não souberem já quem sois
15 Terão de me saber melhor ainda
Do que fingis que não sabeis,
Como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
Reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
Tido por meu, contado como meu,
20 Até mesmo aquele pouco e miserável
Que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
Que um vosso esqueleto há de ser buscado,
para passar por meu, E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

JORGE DE SENA, Poesia II, Lisboa, Edições 70, 1988.

1. Divida o poema em dois momentos e explicite a ideia central de cada um deles.

2. Na primeira parte da composição, o eu lírico sente-se vítima de furto.


2.1 Identifique o que, segundo ele, lhe é roubado.

3. Identifique um recurso estilístico presente nos versos 2 a 4 e comente a sua expressividade.

4. Interprete a frase «Suprimir-me, ignorar-me, aclamar até / Outros ladrões mais felizes» (vv. 10 e 11).

5. Caracterize o destinatário do poema, o «vós» de que aqui se fala.


5.1 Explique de que forma eles serão um dia castigados.

6. O sujeito poético vaticina que, no futuro, voltará a ser alvo de furto.


6.1 Explique o modo como o eu será assaltado no futuro.

7. Caracterize o estado de espírito do eu lírico e transcreva expressões que ilustrem os aspetos que indicou.
7.1 Explicite motivos que conduzem o eu poético a esse estado de espírito.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana


Independência

Recuso-me a aceitar o que me derem.


Recuso-me às verdades acabadas;
recuso-me, também, às que tiverem
pousadas no sem-fim as sete espadas.

5 Recuso-me às espadas que não ferem


e às que ferem por não serem dadas.
Recuso-me aos eus-próprios que vierem
e às almas que já foram conquistadas.

Recuso-me a estar lúcido ou comprado


10 e a estar sozinho ou estar acompanhado.
Recuso-me a morrer. Recuso a vida.

Recuso-me à inocência e ao pecado


como a ser livre ou ser predestinado.
Recuso tudo, ó Terra dividida!

JORGE DE SENA, Poesia I, Lisboa, Edições 70, 1988.

1. Identifique a atitude do sujeito lírico e explique o que a motiva.

2. Comente a expressividade do uso anafórico da expressão «Recuso-me».

3. Explique três realidades que o eu poético «recusa».


3.1 Interprete o motivo geral dessa rejeição.

4. Comente o terceto final do poema.

5. Interprete o título do poema.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana

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